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Data de Criação: 20/08/2019
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Sumário das
Matérias:
Empresas vão à Justiça anular acordos sobre terceirização
Valor – 20 de agosto.......................................01
Governo vai fiscalizar barragens em fazendas
Valor – 20 de agosto.......................................04
Dívida de 225 mil empregadores com FGTS chega a R$ 32,1 bilhões
Valor – 20 de agosto.......................................08
Entidades criticam proposta de fusão na AGU
Valor – 20 de agosto.......................................10
Coaf muda de nome e sai da Economia para o Banco Central
Valor – 20 de agosto.......................................12
Desmonte ambiental pode prejudicar exportações
Valor – 20 de agosto.......................................13
Dilema fiscal e alternativas
Valor – 20 de agosto.......................................15
Criação de mercado de carbono é desafio em negociação global
Valor – 20 de agosto.......................................18
MPF pede R$ 20,5 bi à Braskem por danos em Alagoas
Valor – 20 de agosto.......................................20
Inquérito da CVM investigará administradores da Vale
Valor – 20 de agosto.......................................22
Falta de licenças atrasa projetos em MG
Valor – 20 de agosto.......................................23
Movimento falimentar
Valor – 20 de agosto.......................................25
Falência do Banco Gerador leva ex-sócios à Justiça
Valor – 20 de agosto.......................................27
Mercado de criptoativos traz novo desafio à CVM
Valor – 20 de agosto.......................................30
Justiça do Trabalho anula acordos e condenações por terceirização ilegal
Valor – 20 de agosto.......................................32
A nova defesa criminal
Valor – 20 de agosto.......................................35
MP que cria novo Coaf abre brecha para que órgão receba indicações políticas
Folha – 20 de agosto.......................................37
Acordo comercial entre Brasil e EUA não prevê livre-comércio
Folha – 20 de agosto.......................................40
Privatização da Eletrobras terá novo projeto de lei
Globo – 20 de agosto.......................................43
Intimação da penhora inicia prazo para impugnar valor de execução
Conjur – 20 de agosto.......................................45
Parecer do ministério da Justiça critica projeto de lei de abuso de autoridade
Migalhas – 20 de agosto....................................47
Prazo para impugnar valor da execução só começa a contar após a garantia do juízo
Migalhas – 20 de agosto....................................49
Carf não aplica decisão do STF em casos sobre Zona Franca de Manaus
Jota – 20 de agosto............................................51
TJSP declara inconstitucionalidade de restrição à restituição do ICMS-ST
Jota – 20 de agosto............................................54
Valor Econômico
Caderno: Primeira Página, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Empresas vão à Justiça anular acordos sobre terceirização
Por Adriana Aguiar | De São Paulo
Empresas têm conseguido anular condenações judiciais e acordos firmados com o Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre terceirização. Os cancelamentos têm sido fundamentados no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou legal a terceirização de qualquer atividade, após a Lei da Terceirização (nº 13.429/17) e a Reforma Trabalhista (nº 13.467/2017).
Antes da nova legislação, as companhias eram frequentemente condenadas na Justiça do Trabalho, em valores milionários, por uso indiscriminado da terceirização. As condenações estavam amparadas na Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que proibia a terceirização da chamada "atividade fim" da empresa.
Recentemente, o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em Campinas (SP), anulou acordo firmado entre o MPT e uma usina sucroalcooleira que, para escapar de multa de R$ 1,3 milhão, assumiu o compromisso de não terceirizar a colheita de cana. Segundo o advogado da empresa, mesmo com a mudança na legislação, a companhia teve de recorrer à Justiça porque continuava vinculada ao acordo firmado com os procuradores do Trabalho e em
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situação de desvantagem perante seus concorrentes.
Justiça do Trabalho anula acordos e condenações por terceirização ilegal
Por Adriana Aguiar | De São Paulo
Advogado Renato Serafim: mesmo com reforma
trabalhista, empresas permaneciam impedidas
de terceirizar
Empresas têm conseguido na Justiça anular condenações e acordos firmados com o Ministério Público do Trabalho (MPT) que tratam de terceirização. As decisões têm como fundamento o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou lícita essa forma de contratação e as leis de terceirização (nº 13.429, de 2017) e da reforma trabalhista (nº 13.467, de 2017).
Antes das novas leis e da decisão do STF, as empresas eram frequentemente condenadas na Justiça do Trabalho, em valores milionários. Os juízes aplicavam aos casos a Súmula nº 331, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que proibia a terceirização da atividade-fim - a parte essencial do negócio.
Recentemente, porém, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas -15ª Região decidiu anular acordo judicial firmado entre o MPT e a Usina Santa Isabel e a Santa Luiza Agropecuária, situadas em Novo Horizonte, no interior de São Paulo (processo nº 0010488-92.2018.5.15. 0049). O acordo foi fechado depois de a empresa ser condenada a pagar R$ 1,3 milhão por terceirização considerada ilícita. As empresas assumiram o compromisso de não terceirizar a colheita de cana, bem como não reduzir o intervalo de refeição dos seus empregados para menos de uma hora.
O advogado da usina e da agropecuária, Renato Serafim, do Ilario Serafim Advogados, afirma que mesmo com o advento da reforma trabalhista, as empresas permaneciam impedidas de terceirizar suas atividades- fins ou de reduzir o intervalo de refeição, por conta do acordo firmado na ação civil pública com o MPT.
Enquanto suas concorrentes, submetidas às leis atuais podiam investir na terceirização, acrescenta, "a empresa [usina] estava engessada, perdendo competitividade no mercado". Com o fim do acordo, segundo o advogado, poderá terceirizar a colheita mecanizada, que exige equipamentos de alta tecnologia. "Agora, a empresa poderá expandir sua atividade principal de cultivo de cana de açúcar e gerar novas oportunidades de negócios e empregos na região."
Em tese, diz Serafim, todas as empresas que firmaram acordos com o MPT estão obrigadas a cumprir os termos previstos no texto, ainda que a legislação atual permita a terceirização ampla. A advogado afirma que, antes de recorrer à
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Justiça, entrou em contato com o procurador do caso em Araraquara, que se negou a rever o acordo.
Em Minas Gerais, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) já deu pelo menos quatro decisões para rever condenações praticamente definitivas, pouco antes da fase de pagamento (execução). Nesses casos, as companhias têm usado um instrumento processual previsto nos parágrafos 12 e 14 do artigo 525 do novo Código de Processo Civil (CPC), de 2015, chamado de exceção de pré-executividade, que possibilita a anulação de título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional.
Como na época em que o Supremo julgou o tema da terceirização (RE 958.252 e ADPF 324), em agosto de 2018, ainda não havia sido emitida a certidão de trânsito em julgado (quando não cabe mais recurso), os advogados decidiram entrar com pedidos para anular as condenações, o que tem sido confirmado pelo tribunal.
Em um dos casos, uma instituição financeira, ligada a um rede de supermercados, conseguiu se livrar do pagamento de R$ 175 mil a uma trabalhadora. O processo foi movido por uma ex-funcionária que oferecia o cartão de crédito do banco para os clientes da rede de supermercados. Ela alegou que era ilicitamente terceirizada e na verdade trabalhava para a instituição financeira como correspondente bancária.
Em primeira e segunda instâncias, a terceirização foi considerada ilícita. Foi reconhecido o vínculo de emprego com o banco e determinado o pagamento de horas extras pelo fato de a jornada de bancário ser menor, de cinco horas. Ela cumpria oito
horas. A decisão foi mantida no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Contudo, como o julgamento do Supremo ocorreu no dia 30 de agosto de 2018 e a certidão de transito em julgado (quando não cabe mais recurso) no caso só foi emitida no dia 22 de fevereiro deste ano, a 7ª Turma do TRT foi unânime ao entender pela anulação da condenação, mantendo o entendimento proferido pelo juiz Jésser Gonçalves Pacheco, da 5ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte (agravo de petição nº 0010226-84.2016.5.03.0005).
Na decisão, a relatora, desembargadora Cristiana Maria Valadares Fenelon, destaca que a jurisprudência no TRT mineiro tem caminhado neste sentido. Ela cita mais três decisões recentes que reverteram condenações.
Segundo os advogados que assessoram a instituição financeira no processo, Caio Madureira e Rodrigo Macedo, do Tortoro, Madureira e Ragazzi Advogados, "a decisão é de extrema importância" porque é de um tribunal que historicamente entendia pela ilicitude da terceirização. "Por isso, comemoramos a decisão", diz Madureira.
Procurado pelo Valor, o advogado da ex-funcionária, Wagner Santos Capanema, informou que ainda está analisando a decisão para avaliar se vai recorrer.
Na opinião do procurador Paulo Joarês, coordenador nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho do MPT, nas ações em que a sentença não transitou em julgado há aplicação imediata do entendimento do STF. Mas, acrescenta, é prudente que a Justiça do Trabalho aguarde a finalização do julgamento. "Até esse momento sequer ocorreu a publicação
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do acórdão", diz. Isso porque, em muitos casos, segundo Joarês, será necessário fazer a distinção entre o precedente do STF e as situações dos processos.
Sobre a revisão de acordos, o procurador afirma que é preciso avaliar com cuidado cada caso. "Em muitos deles poderá ser adequado substituir as obrigações previstas, para ajustá-los ao teor da nova lei", diz. Ele destaca que "é preciso observar tanto os limites da decisão do STF, que discutiu apenas possibilidade de terceirizar qualquer atividade, como prestação de serviços entre empresas, mas não legitimou fornecimento de mão de obra, bem como os requisitos da Lei nº 6019/74, que exige uma efetiva transferência de atividades de uma empresa para a outra, a qual deve ter autonomia operacional, capacidade econômica e dirigir o trabalho de seus empregados com exclusividade".
https://www.valor.com.br/legislacao/6397217/justica-do-
trabalho-anula-acordos-e-condenacoes-por-terceirizacao-
ilegal
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Governo vai fiscalizar barragens em fazendas
Por Cristiano Zaia e Marina Salles | De
Brasília e São Paulo
A rápida expansão da irrigação na produção agrícola disparou um alerta na Agência Nacional de Águas (ANA), que está mapeando pequenas barragens em fazendas. O objetivo é evitar disputas por água e calibrar licenças concedidas por órgãos ambientais dos Estados. Com o mapeamento, a ANA pretende coibir possíveis irregularidades, como o uso de volume de água superior ao outorgado.
Realizado desde o primeiro semestre por meio de imagens de satélites e visitas a fazendas com reservatórios, o levantamento vai verificar, até o fim do ano, cerca de 200 pequenos barramentos, de um total de 3.664 inseridos em duas das mais importantes bacias hidrográficas para o agronegócio: a do Paranapanema, em São Paulo e no Paraná, e a de São Marcos, em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.
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ANA passa a monitorar barragens em fazendas
Por Cristiano Zaia | De Brasília
Barragem em propriedade rural em Itaí, na bacia
do Alto Paranapanema
A acelerada expansão da irrigação para viabilizar ou otimizar a produção de culturas agrícolas no país na última década acendeu o sinal de alerta na Agência Nacional de Águas (ANA), que passou a mapear pequenas barragens de água - construídas dentro de fazendas - com o intuito de evitar disputas pelo recurso e calibrar melhor as licenças (outorgas) concedidas pelos órgãos ambientais nos Estados.
Com esse mapeamento em mãos, a agência reguladora poderá coibir possíveis irregularidades com o uso da água, como identificar produtores que estejam usando volumes superiores aos previstos em sua outorga. Ou poderá até ampliar a capacidade de água autorizada para armazenamento, explica o superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes.
Iniciado no primeiro semestre com o uso de imagens de satélites e visitas em fazendas que contam com esses reservatórios, o levantamento inédito tem a missão de radiografar, até dezembro, cerca de 200 pequenos barramentos de um universo total de 3.664 inseridos em duas das mais importantes bacias hidrográficas para o setor de agronegócios: a do Paranapanema, entre os Estados de São Paulo e Paraná, e a de São Marcos, que abrange parte de Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.
Ayrimoraes faz questão de enfatizar que, neste momento, o estudo tem caráter preventivo. E que a agência não chegou a receber denúncias formais de que existem produtores usando mais água do que preveem suas autorizações. Agora, a ideia é ter um diagnóstico e, a partir dele, orientar órgãos estaduais de meio ambiente e comitês regionais de bacias na mediação de conflitos pelo uso da água.
Esse tipo de conflito - tanto envolvendo produtores rurais como outros empreendimentos como hidrelétricas, por exemplo - poderão se tornar mais frequentes com o crescimento da irrigação no país. A área plantada com o uso de pivôs triplicou no Brasil na última década. Passaram a somar 1,5 milhão de hectares e a previsão da ANA é que a o ritmo de expansão alcance mais de 95 mil hectares por ano até 2030.
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"Começamos a identificar que estava tendo disputa por água, a partir de algumas queixas. Muitas vezes a gente não capta isso nas nossas estatísticas, mas queremos refinar o balanço hídrico nessas regiões produtoras para garantir segurança hídrica. Algumas vezes isso vai gerar mais disponibilidade de água, algumas vezes menos", diz Airymoraes.
"O crescimento do número de pequenas barragens tem a ver com a irrigação. Será que o setor [de agronegócios] topa crescer enfrentando um risco maior de faltar água? Isso ainda não aconteceu, mas queremos evitar que algum dia venha a acontecer", afirma.
A autorização para a implantação dessas barragens em propriedades rurais normalmente não é competência da ANA - a agência cuida somente da gestão de rios de domínio da União -, mas dos governos estaduais. Mas o possível efeito que esses reservatórios podem causar sobre o curso de grandes rios implica possível falta de água, inclusive para produção agropecuária no futuro, e essa possibilidade entrou no radar da agência federal.
O assessor técnico da Comissão Nacional de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gustavo Goretto, admite que há casos de disputa por água envolvendo demandas para irrigação. É o que ocorre, por exemplo, na região de Cristalina (GO), distante 130 quilômetros de Brasília e onde o cultivo irrigado de grãos e leguminosas tem crescido nos últimos anos.
"Mas é muito difícil ter produtor usando água fora da outorga. Pode até ter, mas se tiver é pontual. A principal
questão é a burocracia dos órgãos ambientais. Tem produtor desde 2014 pedindo outorga para levantar barragem que não teve o processo analisado até hoje", afirma. "Durante muito tempo o Poder Público não teve um olhar sobre a construção dessas barragens, e muitas foram feitas sem passar por órgãos ambientais. Mas agora a gente percebe que aumentou a preocupação", acrescenta.
Goretto diz que a burocracia para obtenção da outorga necessária para construção de pequenas barragens é tão grande que é comum produtores entrarem na Justiça exigindo que o órgão ambiental estadual analise seu pedido. Ele afirma que o atual Código Florestal, de 2012, abre margem para interpretar que é proibido construir barragens em fazendas, mas que, no entanto, o empreendimento causa menos impacto que o de uma barragem usada para mineração.
Caros, projetos podem significar a sobrevivência de uma propriedade
Por Marina Salles | De São Paulo
Projetos de construção de barragens exigem investimentos elevados, mas se justificam porque, em boa parte dos casos, podem significar a sobrevivência de uma atividade agropecuária. É o que diz o professor Luís César Dias Drumond, especialista em irrigação da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, que explica que os custos com barramento são muito variáveis e dependem da necessidade de escavação do terreno e de terraplanagem. Além disso, afirma, é preciso considerar os gastos com o sistema de irrigação. Os mais simples, de aspersão fixa automatizada,
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custam em torno de R$ 9 mil por hectare. Já os pivôs ficam na faixa de R$ 10 mil por hectare, enquanto um sistema de gotejamento enterrado para pasto pode chegar a custar R$ 20 mil por hectare.
Drummond explica, ainda, que, na esfera federal, qualquer intervenção em cursos d'água demanda autorização da Agência Nacional de Águas (ANA). "Eles levam em consideração basicamente dois critérios: o grau de intervenção, que pode ser mensurado por imagens via satélite, e o risco à jusante, isto é, o impacto na área que vai além da barragem caso ela estoure". Ainda que seja feita para acumular água da chuva, a construção de uma barragem não pode impedir a vazão normal da água para os rios. O volume de água que pode ser utilizado depende do índice pluviométrico de cada região e da sua bacia.
José Patrício da Silveira Neto, produtor no município de Pirapora (MG), conta que foi a possibilidade de acumular água da chuva que salvou seu negócio, tocado em uma propriedade de 89 hectares no semiárido do norte mineiro. Sua barragem foi construída dentro de um córrego efêmero, que desaparecia da paisagem no período seco e cujas margens são largas e altas, o que evitou a necessidade de inundação de áreas vizinhas, comum em projetos dessa natureza. "A barragem dá vazão para que a gente irrigue 42 hectares de capim e custou R$ 20 mil".
Segundo ele, em Pirapora começa a chover em outubro e somente em dezembro é que a água passa pelo ladrão. "É preciso três meses para poder encher a barragem, de tão pouco que chove". Antes da barragem, sua propriedade não abrigava sequer
30 vacas, mas agora passou a alimentar até 400 cabeças de gado.
Rodrigo Fockink, dono da consultoria Águia, de Sorriso (MT), afirma que 95% da água usada em projetos como o de Silveira Neto, volta para o ciclo hidrológico por meio da própria irrigação ou das chuvas. Em Mato Grosso, porém, está cada dia mais difícil construir novos barramentos. "Se você for pedir licença no órgão ambiental vão te dizer que não há roteiro, ou seja, regras, para a construção de barramentos no Estado, e isso está parado desde 2015".
Fockink afirmou que o assunto estava sendo discutido em audiência pública em Cuiabá (MT) no exato dia em que a barragem de Mariana estourou, e embora os projetos tenham características diferentes, "afastaram de vez o interesse pelo tema". "Hoje, em Mato Grosso, só tem barragem quem construiu antes de 2008, marco colocado pelo Código Florestal".
Procurada pela reportagem, a Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema) informou, em nota, que "para a construção de novas barragens é preciso que haja outorga de obra hidráulica, classificação quanto à segurança e, principalmente, licenciamento ambiental". A esse respeito, no entanto, a secretaria disse que "um projeto de lei está sendo elaborado", e que, de fato, somente há regras vigentes para barragens de mineração e hidrelétricas. Quanto à outorga de obra hidráulica, a Sema afirmou estar com os documentos referentes a esse exigência prontos para serem inseridos no seu site.
https://www.valor.com.br/agro/6397471/caros-projetos-
podem-significar-sobrevivencia-de-uma-propriedade
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Dívida de 225 mil empregadores com FGTS chega a R$ 32,1 bilhões
Por Edna Simão | De Brasília
Mais de 225 mil empregadores estão inscritos na dívida ativa da União por não terem realizados depósito nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores. Segundo dados repassados ao Valor pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), esse débito chegou a R$ 32,1 bilhões em junho, afetando 8 milhões de trabalhadores. A equipe econômica estuda formas para ganhar maior eficiência no recebimento de recursos do FGTS pelos empregadores e também na aplicação dos recursos.
O setor de atividades de atendimento hospitalar lidera o ranking dos que mais devem para o FGTS e estão inscritos na dívida ativa (R$ 1,601 bilhões), seguido por administração pública (R$ 1,545 bilhão) e fabricação de açúcar em bruto (R$ 1,122 bilhão). O valor médio da dívida das empresas é de R$ 143 mil.
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O levantamento mostra que nove devedores possuem mais de R$ 100 milhões em débitos; 190 têm débitos entre R$ 15 milhões e R$ 100 milhões, 4.463, entre R$ 1 milhão e R$ 15 milhões; 26.641, entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão; 55.713, entre R$ 20 mil e R$ 100 mil, e 137.427, até R$ 20 mil.
A dívida dos empregadores está concentrada no setor privado, mas, do total de devedores, 595 são da administração pública. Do débito total, 6,3% do valor inscrito referem-se à administração pública, incluindo todos os entes públicos.
Segundo dados da PGFN, do total da dívida ativa, 5,5% estão parcelados, o equivalente a R$ 1,7 bilhão. Os parcelamentos envolvem pouco mais de 6 mil devedores ou 2,7% do total de empresas com dívida a título do FGTS. Mais de 70% das empresas com débitos inscritos em dívida ativa a título de FGTS não possuem situação cadastral ativa junto à Receita Federal, sendo que a maior parte delas é considerada inapta ou baixada.
Em 2019, até maio, o total recuperado superou R$ 161 milhões, melhor resultado histórico para esse período parcial. No ano passado, esse valor, incluindo os resultados da PGFN e da Caixa Econômica Federal, superou R$ 343 milhões, tendo registrado quantia de R$ 1,5 bilhão de 2013 a 2018,
totalizando mais de 112 mil inscrições em dívida ativa pagas integral ou parcialmente.
Considerando somente os valores recuperados pela PGFN, foram R$ 213 milhões em 2018, um recorde - no período de 2013 a 2018, o total superou R$ 860 milhões. Em 2019, até maio, a PGFN registra R$ 98,6 milhões, maior patamar para o período e 26% acima do recorde anterior (2018).
Para facilitar a cobrança desses débitos, dentre as medidas implementadas pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, com o apoio da Caixa, estão: inclusão das empresas devedoras no chamado Cadin (banco de dados com nomes dos devedores), gerando repercussão negativa de contratação com a administração pública federal; inclusão dos débitos em situação irregular (não parcelados; não garantidos integralmente; não suspensos por decisão judicial) na lista de devedores do sítio da PGFN na internet e no site do FGTS.
A permanência da empresa com débitos inscritos em dívida ativa, em situação irregular, na condição de não possuir certificado de regularidade com o FGTS, implica, por exemplo, não habilitação em licitação promovida por órgão das administrações federal, estadual e municipal, direta, indireta ou fundacional ou por entidade controlada direta ou indiretamente por União, Estado e município; não obtenção de empréstimos ou financiamentos realizados com lastro em recursos públicos ou oriundos do FGTS perante quaisquer instituições de crédito; não obtenção de isenções, subsídios, auxílios, outorga ou concessão de serviços ou quaisquer outros benefícios concedidos por
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órgão das administrações federal, estadual e municipal, salvo quando destinados para saldar débitos para com o FGTS.
https://www.valor.com.br/brasil/6397667/divida-de-225-
mil-empregadores-com-fgts-chega-r-321-bilhoes
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Entidades criticam proposta de fusão na AGU
Por Andrea Jubé | De Brasília
A Associação Nacional dos Advogados da União (Anauni) e o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) contestam estudo elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) segundo o qual a fusão das quatro carreiras que integram a Advocacia-Geral da União (AGU) proporcionaria uma economia anual de quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos. A estimativa, publicada na edição de ontem do Valor, foi baseada em levantamento encomendado à FGV pela Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe).
A eventual fusão unificaria as carreiras de advogado da União, procurador da Fazenda Nacional, procurador do Banco Central e procurador federal. Em nota enviada ao Valor, a presidente da Anauni, Márcia Bezerra David, e o presidente do Sinprofaz, José Ernane de Souza Brito, afirmam que o estudo esconderia um "pleito corporativo antigo da carreira de procurador federal, que é o de ser admitido nos quadros da AGU sem concurso público".
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"Trata-se de uma carreira inchada e com pouco retorno para o Estado brasileiro. A unificação, para eles, é uma proposta que visa garantir sua sobrevivência, especialmente em razão da pressão do governo atual sobre os servidores públicos, demandando cada vez mais resultados e eficiência, sob pena de extinção", diz a nota das duas entidades.
Os presidentes das associações acrescentam que os dados da FGV seriam "exagerados", embora não apresentem outros números para rebatê-los. As duas entidades alegam que estão conduzindo um outro estudo próprio para contestar o levantamento da FGV. "A própria carreira de procurador federal veio de uma unificação que trouxe prejuízo ao erário. Eram várias carreiras menores, de procuradores autárquicos e fundacionais, com remunerações diferentes, mas que do dia pra noite viraram procuradores federais e começaram a ganhar o mesmo salário", complementa a nota.
O estudo da FGV foi entregue ao secretário de Gestão e Desempenho Pessoal, Wagner Lenhart, em resposta ao ofício encaminhado aos ministérios, há um mês, com instruções sobre as propostas de criação ou restruturação de planos de cargos e carreiras, no âmbito da reforma administrativa.
O presidente da Anafe, Marcelino Rodrigues, procurador da Fazenda Nacional, diz que o objetivo da entidade com o estudo da FGV é que o Ministério da Economia coloque a reforma da AGU como prioridade. Rodrigues ressalta que não haveria aumento de salário com a fusão: a remuneração inicial das quatro carreiras atualmente é de R$ 21 mil,
valendo para todos as mesmas regras de promoção e valores de honorários.
O levantamento da FGV diz que a AGU possui espaços físicos subutilizados, levando ao incremento de despesas com estrutura física. A fragmentação das carreiras também levaria a um conflito institucional, ocasionando a ausência de atuação colaborativa e comportamentos danosos, como deslocamentos desnecessários e atuação descoordenada. A partir de estudos de casos, o cenário mais favorável de economia para a AGU remete ao caso de uma parceria entre a Hungria e a OCDE, em que a reforma organizacional proporcionou economia de 15%. Na hipótese da AGU, a FGV estimou uma economia de R$ 993 milhões, projetada em um horizonte de reorganizações contínuas.
Segundo Rodrigues, no Amazonas, recentemente, frustrou-se a tentativa de reunir em um mesmo imóvel os procuradores da União e procuradores federais. De acordo com ele, se despachassem no mesmo imóvel, haveria uma economia de R$ 100 mil ao mês com aluguel de apenas um prédio.
https://www.valor.com.br/brasil/6397655/entidades-
criticam-proposta-de-fusao-na-agu
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Valor Econômico
Caderno: Politica, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Coaf muda de nome e sai da Economia para o Banco Central
Por Fabio Murakawa e Renan Truffi | De
Brasília
Uma medida provisória firmada pelo presidente Jair Bolsonaro transforma o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vinculado ao Ministério da Economia, em Unidade de Inteligência Financeira (UIF) do Banco Central. A medida foi uma saída encontrada pelo governo para conferir autonomia ao órgão, em meio à crise institucional provocada por pressões de Bolsonaro sobre o presidente do Coaf, Roberto Leonel, e a mudança do órgão da Justiça para a Economia, forçada pelo Congresso.
O Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, teve acesso ontem à MP que determina a alteração. Segundo o texto, a ser publicado hoje no "Diário Oficial da União", a UIF responderá à diretoria colegiada do BC.
O Ministério da Economia e o Ministério da Justiça prestarão apoio administrativo à UIF num período de transição, e continuará havendo um Conselho Deliberativo para definir diretrizes estratégicas e para julgar processos administrativos sancionadores.
O Conselho Deliberativo será composto por um presidente de Inteligência Financeira e terá entre 8 e 14 conselheiros designados pelo presidente do BC - o número de
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conselheiros será fixado pela diretoria do banco.
A UIF será responsável "por produzir e gerir informações de inteligência financeira para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro". A unidade será responsável também por informações de inteligência contra o financiamento do terrorismo e ao financiamento da proliferação de armas de destruição em massa.
Segundo a MP, o novo ente será responsável por "promover a interlocução institucional com órgãos e entidades nacionais, estrangeiros e internacionais que tenham conexão com a matéria".
Em comunicado, o BC disse ontem que propôs a medida junto com o Ministério da Economia "dentro de projeto amplo para o aperfeiçoamento institucional do sistema regulatório brasileiro".
Na nota, o BC faz também uma defesa da autonomia da instituição. "A autonomia do Banco Central, que se encontra em discussão no Congresso Nacional, confere respaldo à autonomia técnica e operacional da UIF, assegurando o foco de sua atuação na capacidade para a produção de inteligência financeira, com base em critérios técnicos e objetivos", afirmou.
Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu medida e disse que ela abre caminho para discutir a independência do BC. (Colaboraram Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro)
https://www.valor.com.br/politica/6397627/
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Valor Econômico
Caderno: Opinião, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Desmonte ambiental pode prejudicar exportações
O desmonte agressivo das instituições incumbidas de proteger o ambiente patrocinado pelo presidente Jair Bolsonaro ameaça as florestas e os negócios das empresas brasileiras. Bolsonaro brinca com fogo ao ironizar os governos da Noruega e da Alemanha - dos poucos que aplicaram recursos significativos em prol da Amazônia - e criticar suas políticas ambientais. Enquanto diz que o dinheiro que seu governo administra acabou, dispensa com provocações recursos que nada lhe custam, além de incentivar reações de governos que têm o poder de destruir o acordo com o Mercosul, como os da França e Alemanha, as maiores economias da zona do euro.
A reação dos empresários começa a se fazer ouvir. O presidente da Suzano, Walter Schalka, defendeu a preservação da floresta amazônica e lembrou que seu negócio é baseado em árvores 100% plantadas, originadas de reflorestamento. Schalka receia que o setor possa sofrer reflexos negativos das posições do governo. O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, endossa essa preocupação. Como diretor-executivo da Agropalma, maior produtora de óleo de palma, disse que "é só dar uma passadinha aqui na Amazônia, não precisa ir muito além de Belém ou de Manaus para assistir a isso de camarote", referindo-se ao desmatamento.
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Brito disse que a grande maioria dos empresários do agronegócio já entendeu que o setor depende da preservação do meio ambiente para ter terras de qualidade e água, e também pela exigência do mercado internacional de respeito à agenda ambiental. O ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, ganhador do prêmio "Motosserra de Ouro" do Greenpeace, afirmou recear que o discurso de Bolsonaro leve o agronegócio à "estaca zero", após anos de esforço para convencer o mercado internacional de que a produção brasileira é amigável ao meio ambiente.
O governo coleciona inúmeros embates na frente ambiental e não parece preocupado com as possíveis implicações econômicas da discussão. Já no início do ano combatia o projeto da Igreja Católica de eleger a Amazônia como tema do Sínodo deste ano. Na reunião do G-20, em junho, no Japão, Bolsonaro foi ostensivamente hostil a autoridades europeias como o presidente da França, Emmanoel Macron, e da Alemanha, Angela Merkel, pelas preocupações em relação ao ambiente.
As discussões com os dois principais patrocinadores do Fundo da Amazônia, a Alemanha e Noruega, que começaram com a reformulação do conselho e chegaram ao questionamento do destino dos recursos e insinuações de interferência na soberania nacional, tiveram o fim previsível na semana passada. A Noruega, que contribuía com mais de 90% dos recursos, suspendeu o envio de cerca de R$ 130 milhões; e a Alemanha, com uma fatia de quase 6%, congelou o equivalente a R$ 155 milhões. Bolsonaro zombou
das decisões, lembrando que a Noruega caça baleias e explora petróleo no Ártico, e acrescentou que o dinheiro poderia ajudar a Alemanha a recuperar suas florestas. Os governadores da região já pensam em negociar recursos diretamente com os europeus.
O estilo de Brasília tem seguidores. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), cancelou o apoio da Polícia Militar às operações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), depois da retirada do respaldo da Força Nacional pelo Ministério da Justiça, levando os fiscais a suspenderem suas incursões com receio de ataques de garimpeiros e posseiros. Fazendeiros do Estado comemoraram com um "dia do fogo", espécie de festa da queimada.
Após 30 anos usando o sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que engloba o Deter, provedor de informações diárias da situação nas florestas, e o Prodes, que consolida dados em 12 meses, o governo Bolsonaro quer mudar de fornecedor. Queixou-se de que os levantamentos do Deter seriam divulgados com estardalhaço. Mas os números é que são explosivos: em julho, o Deter apurou aumento de 278% do desmatamento em relação ao mesmo mês de 2018. É esperado para breve o resultado anual do Prodes.
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A ameaça de mudança de termômetro do desmatamento apenas amplifica as desconfianças, pois os levantamentos disponíveis, do Inpe e de Ongs, apontam aumento da destruição ambiental. O governo não o coíbe, não mostra preocupação, o que na prática é um incentivo velado ao ataque ambiental.
https://www.valor.com.br/opiniao/6397495/desmonte-
ambiental-pode-prejudicar-exportacoes
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Dilema fiscal e alternativas
Por Gilberto Borça Jr.
No final de julho, o governo federal publicou o relatório de avaliação de receitas e despesas, referente ao terceiro bimestre de 2019.
Essa publicação é realizada em consonância com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que determina que se façam avaliações sobre a evolução das receitas e despesas orçamentárias a cada 60 dias, de modo a controlar a obtenção da meta de resultado primário estabelecida. Em outras palavras, o relatório se destina a dar publicidade ao andamento e as necessidades de ajuste no orçamento do governo federal.
Publica-se, inicialmente, sua grade de parâmetros macroeconômicos - PIB, inflação, câmbio, juros etc - que são os balizadores das variáveis de arrecadação e despesas, denotando a necessidade (ou não) de um eventual contingenciamento de recursos pelos
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poderes da União, conforme determina a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Desde 2016, com a introdução do novo regime fiscal, há também o monitoramento periódico da margem fiscal relativa ao teto de gastos.
A mudança mais significativa nas projeções macroeconômicas da última publicação foi a redução da taxa de crescimento para 2019, que saiu de 1,6% para 0,8%, em linha com a mediana das projeções de mercado. O menor ritmo de crescimento, sem a devida compensação por outras fontes de arrecadação, leva a uma queda da projeção das receitas tributárias administradas pela Receita, as quais possuem relação direta com o desempenho da economia.
De fato, no detalhamento das receitas primárias, as maiores revisões baixistas se concentraram em Cofins/PIS-Pasep e Imposto de Renda (IR), que estão ligados à atividade econômica. A redução estimada para a arrecadação foi da ordem de R$ 5,3 bilhões. No lado das despesas, os destaques foram as revisões nas rubricas de Créditos Extraordinários - ajuste no valor de restos a pagar devido às menores despesas com o subsídio do diesel -, e Sentenças Judiciais e Precatórios. A redução total dos dispêndios foi de R$ 3,5 bilhões.
Considerando mais alguns ajustes (transferências para Estados e municípios e os resultados das estatais e dos subnacionais) e descontando as reservas de contingência, que são recursos à disposição do governo ainda sem alocação nos ministérios, o esforço adicional de recursos atingiu R$ 1,4 bilhão. Esse montante se soma às
necessidades de contingenciamento das reprogramações orçamentárias do 1º e do 2º bimestres do ano, que foram, respectivamente, de R$ 29,8 bilhões e R$ 2,2 bilhões, totalizando até agora um contingenciamento de R$ 33,4 bilhões.
A linha de argumentação do governo é de que tal montante não se constitui em corte de recursos orçamentários, mas sim em contingenciamento, o qual pode ser revertido com a recuperação da receita. Curiosamente, nos três relatórios bimestrais de reprogramação orçamentária de 2019, a folga do teto de gastos foi tornando-se mais elevada. Isso significa que, para 2019, a restrição fiscal é a meta de resultado primário, e não o teto de gastos.
Sem recursos advindos da
cessão onerosa, alcançar a
meta de déficit primário será
praticamente impossível
E quais as implicações desse ponto? É pouco provável que a recuperação da receita aconteça por uma retomada da economia. A esperança do governo parece residir no leilão de recursos provenientes da cessão onerosa de barris de petróleo, que podem entrar nos cofres da União no último trimestre do ano, com grande potencial de arrecadação. Se essa receita se confirmar, mesmo sendo objeto de grande incerteza, o descontingenciamento dos recursos até poderia ser realizado. Caso essa receita não se confirme, alcançar a meta de primário nesse ano seria praticamente impossível.
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Nesse interregno uma discussão relevante é o limite de compressão da despesa discricionária, que foi, até aqui, a rubrica mais afetada pelos recursos contingenciados. Há algumas estimativas acerca dos valores mínimos para o gasto discricionário, que poderia colocar em dificuldade a prestação de serviços públicos básicos. A Instituição Fiscal Independente (IFI), em relatório de agosto de 2018, estimou que o piso de valor dessa rubrica fosse da ordem de R$ 75-80 bilhões. Por outro lado, pesquisadores do Ibre/FGV, chegaram a um valor mais elevado, em torno de R$ 120 bilhões.
O gráfico mostra a trajetória das despesas discricionárias, a preços constantes, desde 2011, com os valores projetados para 2019 contidos na LOA e na mais recente reprogramação orçamentária. Se o valor de R$ 96 bilhões for confirmado (o qual inclui aportes de capital nas estatais), pela primeira vez o gasto discricionário cairá abaixo do teto de intervalo das estimativas. Isso tem algumas consequências importantes, como, por exemplo, a manutenção em níveis baixíssimos dos investimentos públicos.
A redução das despesas discricionárias se manifesta de várias formas no funcionamento dos serviços públicos, como, por exemplo: 1- restrição de recursos para Polícia Federal realizar a emissão de passaportes; 2- cortes de verbas no Censo 2020 do IBGE; 3- a possiblidade de suspensão dos financiamentos de pesquisadores com bolsas do CNPq, dentre outros.
O grande dilema, nesse sentido, parece ser o caráter pró-cíclico da meta de resultado primário. Em teoria o governo tem o controle sobre seus dispêndios, mas não possui ingerência direta sobre a arrecadação tributária, que depende do estado geral da economia. Em momentos de baixa do ciclo econômico, cria-se uma dinâmica perversa, em que a desaceleração da atividade reduz a receita tributária e leva a necessidade de contingenciamento de recursos, acentuando mais a baixa do ciclo, mesmo com aumento da folga no teto de gastos.
No entanto, há alternativas possíveis para a política fiscal, como, por exemplo: 1- a adoção de metas de resultado primário estrutural (que leva em conta a posição cíclica da economia); ou 2- de metas de primário mensuradas para além do ano-calendário; ou 3- bandas para o resultado primário. Todas essas medidas poderiam ser combinadas a um teto de gastos mais flexível, que exclua alguns investimentos públicos. Outra opção também factível e que parece mais pragmática, é simplesmente abandonar as metas de resultado primário e adotar apenas limite para as despesas, preservando e tirando da conta os investimentos públicos, que possuem maiores efeitos multiplicadores e atuam no sentido de estabilizar o ciclo econômico.
Gilberto Borça Jr. é mestre em Economia pela IE-UFRJ
https://www.valor.com.br/opiniao/6397491/dilema-fiscal-
e-alternativas
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Criação de mercado de carbono é desafio em negociação global
Por Daniela Chiaretti | De Salvador
Marcello Brito, da Abag: maior parte dos
produtos rurais desconhece o tema do mercado
de crédito de carbono
A criação de um mercado de carbono global que permita a participação de empresas garantindo reduções na emissão de gases estufa é o grande desafio das negociações climáticas internacionais em 2019. Contudo, não há consenso nas regras de criação do mecanismo que deve estimular a transação dos créditos de carbono.
Não é tarefa trivial. São muitas as dúvidas ao redor da regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris. É o ponto que emperrou a negociação das regras do acordo em dezembro, durante a conferência do clima da Polônia. Ficou como herança para a rodada deste ano, que será no Chile. O Brasil, ainda sob Michel Temer, levou a fama de ter travado o "Livro de Regras" do Acordo de Paris.
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"Engana-se quem acredita que esse é um embate legal", disse a advogada Amy Merrill Steen, do secretariado da Convenção do Clima da ONU ontem, em Salvador. "É um embate político."
O Acordo de Paris prevê que a transação de créditos de carbono pode acontecer entre países que conseguiram reduzir suas emissões (os vendedores) com mais facilidade e a custos menores que outros (os compradores). Os que vendem ganhariam créditos, e os que compram abateriam a redução de suas metas climáticas conhecidas pela sigla NDC.
O maior problema está na regulamentação do item 6.4, o único em que a participação do setor privado é explícita no acordo. Há interesses em jogo e visões diferentes. Trata-se de definir as regras do Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (MDS), que contemplaria as transações de empresas e governos locais.
Para beneficiar o combate à mudança do clima, a regra deveria estimular esforços adicionais aos que já estão nas metas voluntárias dos países. O Brasil tem meta de cortar as emissões em 37% em 2025, em toda a economia. Como definir o que seria adicional neste quadro?
Esse é um dos problemas. A fórmula imaginada pelo governo brasileiro é interpretada pelos europeus como um sistema que permite dupla contagem de emissões, o que seria desastroso para o clima. Eles querem que exista maior ambição na meta dos países. Os negociadores brasileiros discordam, dizem que essa é uma negociação entre empresas e que o país não pode ser penalizado tendo que fazer mais esforços.
O tema é importante e complexo. Marcello Britto, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), lembra que existem mais de 5 milhões de propriedades rurais e que 85% delas têm, no máximo, 50 hectares. "Mais de 90% desse público desconhece esse assunto e desconhece que o mundo evoluiu."
"Isso traz um risco. O setor [do agronegócio] é politicamente muito forte", afirma. "Caso se sinta inseguro, poderá fazer pressão negativa sobre o governo", continua o dirigente, dizendo que é preciso esclarecer o segmento.
O artigo 6 tem que ser negociado com três pilares, defendeu Roberto Castelo Branco Coelho de Souza, secretário de Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente. "Credibilidade, segurança judicial e responsabilidade", disse no encontro promovido pelo Cebds, o conselho empresarial que reúne mais de 60 grandes conglomerados no Brasil.
No "lastro de credibilidade", ele cobra a promessa dos países ricos de colocar US$ 100 bilhões ao ano para que os outros tenham tecnologia e preparem a infraestrutura para a nova economia.
"Somos todos a favor de mecanismos de mercado. Mas não pode ser às custas do sacrifício e do dia a dia das pessoas", seguiu. "Qual o impacto que isso terá na economia do planeta?" E seguiu: "Queremos que o brasileiro viva à luz de velas? Que o setor de energia pare de funcionar? Que os carros não andem mais?".
"Concordo com esses três pontos e assino em baixo", diz Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS). "Mas a posição do governo é contraditória. Como fala em credibilidade se deixa o
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desmatamento correr solto? Em responsabilidade se permite a invasão de terras indígenas?", questionou.
"O Brasil tem grande oportunidade de participar do mercado, vendendo créditos para capturar investimentos estrangeiros e financiar a economia de baixo carbono", diz Fábio Cirilo, coordenador de sustentabilidade na Votorantim Cimentos.
Ele chama a atenção para a sintonia fina que tem que ser atingida entre oferta e demanda. "Esses créditos precisam ter um valor reconhecido. Temos que garantir tanto a oferta, com um mecanismo simples o suficiente para as empresas colocarem à venda suas reduções de emissões, quanto a demanda, para garantir que os créditos tenham validade nos mercados compradores. Este é o ponto em discussão", continua. "O governo precisa garantir na negociação que a demanda exista. Ou geraremos um monte de créditos e não terá quem compre."
A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)
https://www.valor.com.br/brasil/6397653/criacao-de-
mercado-de-carbono-e-desafio-em-negociacao-global
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
MPF pede R$ 20,5 bi à Braskem por danos em Alagoas
Por Stella Fontes | De São Paulo
Em mais um capítulo do imbróglio judicial que envolve a mineração de sal-gema da Braskem em Alagoas, o Ministério Público Federal (MPF) está movendo uma nova ação civil pública contra a petroquímica, com pedido de reparação por danos socioambientais de pelo menos R$ 20,5 bilhões.
Desta vez, porém, a ação também foi proposta contra a Odebrecht e a Petrobras, principais acionistas da companhia, a União Federal, a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Estado de Alagoas, o Instituto de Meio Ambiente (IMA) de Alagoas e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), considerados responsáveis indiretos pelos estragos em imóveis e vias nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió.
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O órgão pede, em caráter liminar, que a Braskem seja condenada a depositar R$ 3,075 bilhões, ou 15% do valor de reparação inicial pretendido, em um fundo privado próprio em até 30 dias. No mesmo prazo, a petroquímica deve apresentar garantias para os R$ 20,5 bilhões da indenização mínima pleiteada.
Os dois pedidos são estendidos à Odebrecht e à Petrobras, que detêm 50,1% e 47%, respectivamente, das ações ON da companhia. "Caberá, ainda, às empresas manter capital de giro no fundo nunca inferior a R$ 2 bilhões ou, após definido o cronograma físico e financeiro da reparação, a 100% dos gastos previstos para os 12 meses subsequentes", informou o MPF em comunicado.
Além disso, o órgão federal pede na ação que a petroquímica contrate uma das quatro grandes firmas de auditoria independente - Deloitte, Ernst & Young (EY), KPMG ou PwC - para acompanhar o planejamento, gestão e execução dos trabalhos de reparação. Na documento de 307 páginas, o órgão apresenta mais de 80 pedidos à Justiça Federal em Alagoas, com responsabilização direta da Braskem pelos danos.
O novo processo pesou sobre as ações da petroquímica, em um dia negativo para o mercado acionário local. Os papéis PNA caíram 1,99%, para R$ 29,01, a pior cotação da Braskem na bolsa paulista em 2019 - e bem distante da máxima de R$ 56,03 no ano, alcançada em 26 de fevereiro, quando ainda havia expectativa de venda da companhia para a LyondellBasell. A holandesa acabou desistindo de levar adiante a transação e as incertezas relacionadas
à operação em Maceió contribuíram para essa decisão.
O pedido de liminar foi apresentado na sexta-feira, por meio do grupo de trabalho que acompanha o caso Pinheiro em Alagoas e toma como base as conclusões do relatório do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que associaram a extração de sal-gema da Braskem ao afundamento do solo nos três bairros da capital alagoana. A petroquímica está contestando judicialmente e espera, até o fim do ano, concluir os trabalhos de inspeção com sonares em mais de 30 poços de sal-gema em Maceió, para identificar se há de fato relação da exploração da matéria-prima usada na fabricação de cloro-soda e PVC com os eventos geológicos na região. A partir dos resultados, diz a companhia, será possível apresentar soluções efetivas para a área atingida e moradores.
As procuradoras da República que compõem o grupo de trabalho, Cinara Bueno Santos Pricladnitsky, Niedja Gorete de Almeida Rocha Kaspary, Raquel Teixeira Maciel Rodrigues e Roberta Lima Barbosa Bomfim, também pediram a aplicação da legislação ambiental contra a Braskem, "de modo que o BNDES suspenda os financiamentos e incentivos governamentais concedidos, decretando-se, imediatamente, o vencimento antecipado de todas as operações de crédito que contemplem tais benefícios".
"Os transtornos e problemas causados em razão das condutas das demandadas à população dos bairros atingidos pelos fenômenos, (...) causaram danos que transcenderam os valores ambientais passíveis de serem restaurados, mitigados ou
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compensados materialmente", dizem as procuradoras na ação.
Os problemas da Braskem na Justiça relativos à mineração de sal-gema tiveram início em abril, quando o Ministério Público Estadual (MPE) e a Defensoria Pública de Alagoas pediram o bloqueio de R$ 6,7 bilhões da companhia, para garantir indenizações. Nesse processo, a companhia teve R$ 100 milhões bloqueados. Depois, MPE e Defensoria conseguiram bloquear outros R$ 3,7 bilhões, mas há duas semanas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) liberou esses valores, sob a condição de apresentação de seguro-garantia pela Braskem.
Em outra ação civil pública, iniciada há menos de um mês, o Ministério Público do Trabalho (MPT-AL) de Alagoas pediu o bloqueio de R$ 2,5 bilhões das contas da companhia, com vistas a garantir eventuais indenizações por danos materiais aos trabalhadores atingidos pelos problemas em Maceió. À época, a Moody's disse que a ação elevava o risco de liquidez e era negativa para a nota de crédito da Braskem.
https://www.valor.com.br/empresas/6397601/mpf-pede-r-
205-bi-braskem-por-danos-em-alagoas
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Inquérito da CVM investigará administradores da Vale
Por Juliana Schincariol | Do Rio
A Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) abriu inquérito para apurar
eventuais irregularidades relativas à
possível não observância de deveres
fiduciários de administradores da Vale
pelos fatos relacionados ao rompimento
da barragem da mina Córrego do Feijão,
em Brumadinho (MG), informou o
regulador. A atuação da CVM não inclui
questões relativas à legislação ambiental.
O inquérito será conduzido pela
Superintendência de Processos
Sancionadores (SPS). O processo teve
início em 28 de janeiro, e as investigações
iniciais foram realizadas pela Gerência de
Acompanhamento de Empresas 4 (GEA-
4), da Superintendência de Relações com
Empresas (SEP). Por entender que há
necessidade de aprofundamento do caso,
o assunto foi encaminhado para a SPS.
Ainda não há mais detalhes
imediatamente disponíveis sobre o
assunto, como o nome dos investigados.
Em fevereiro, o Valor noticiou que o
regulador investigava a conduta
individual do ex-presidente da Vale,
Fabio Schvartsman, da diretoria
estatutária e dos 12 conselheiros da
empresa na época do acidente.
A autarquia vai avaliar se os executivos e
conselheiros foram diligentes com a
questão da barragem antes da catástrofe.
É a primeira vez que um possível crime
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ambiental, ainda em investigação pelo
Ministério Público, dará origem também a
um processo na autarquia sobre os
administradores como pessoas físicas.
Procurada, a Vale informou que tomou
conhecimento sobre a abertura do
inquérito. "Permanecemos à disposição e
manteremos a postura transparente e
colaborativa", disse em nota.
Em paralelo, a autarquia abriu dois
processos sancionadores - com acusação
já formulada - contra o diretor de relações
com investidores da Vale, Luciano Siani.
Os casos referem-se à divulgação de
informações ao mercado. A área técnica
entende que nos dois casos as
informações não foram divulgadas "de
forma ampla e imediata".
Um dos processos é referente à entrevista
da Vale concedida a jornalistas em
fevereiro, com o pregão aberto. A
acusação entendeu que foram divulgadas
informações relevantes e que caberia
divulgação de fato relevante. No outro
caso, a CVM analisa a publicação de
notícias sobre um comunicado interno da
mineradora que informava a interrupção
de parte das atividades na mina de
Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo
(MG).
https://www.valor.com.br/empresas/6397587/inquerito-
da-cvm-investigara-administradores-da-vale
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Falta de licenças atrasa projetos em MG
Por Ana Paula Machado | De São Paulo
Wilson Brumer, do Ibram, órgãos ambientais
estão mais rigorosos no país
Após o desastre de Brumadinho (MG)
com o rompimento da barragem da Mina
do Córrego do Feijão, as autoridades
ambientais do Estado de Minas Gerais
estão mais cautelosas em conceder
licenças para o setor. A Usiminas, por
exemplo, anunciou no mês passado que
postergou investimentos no projeto de
empilhamento a seco na Mina Leste,
dentro do complexo Serro Azul, em
Minas Gerais, por não ter conseguido a
licença ambiental para o início das obras.
"Tínhamos a expectativa grande de que os
investimentos seriam feitos a maior parte
neste ano, mas com a tragédia de
Brumadinho o licenciamento ficou mais
lento e todos os processos estão atrasados,
inclusive este", disse o presidente da
Usiminas, Sérgio Leite, em entrevista
recente ao Valor.
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A siderúrgica vai investir R$ 140 milhões
no projeto e a expectativa é que as
licenças sejam concedidas até o fim do
ano para que as obras sejam iniciadas em
2020. A Usiminas tem em Minas Gerais
três barragens, sendo duas a montante,
que estão desativadas, e uma a jusante,
que tem projeto para o seu
descomissionamento.
Outra empresa que aguarda a licença
ambiental para o início das obras de
alteamento de sua barragem a jusante em
Conceição do Mato Dentro (MG) é a
AngloAmerican. O projeto é para altear a
barragem em 20 metros, passando de 40
metros de altura para 60 metros de altura.
Hoje ela possui uma capacidade de 55
milhões de metros cúbicos de rejeito, que
passará para cerca de 167 milhões de
m3quando for alteada, em 2021. A
expectativa é que a companhia obtenha a
licença no fim deste ano.
A Gerdau Açominas também está com
projeto parado. A empresa aguarda
aprovação para o início das obras de nova
lavra localizada na Serra das Serrinhas,
em Itabirito (MG), distante cerca de 50
quilômetros da usina de Ouro Branco. A
expectativa da companhia é que a licença
para a nova mina seja concedida no fim
deste ano. A ampliação contará com
processamento a seco, sem uso de
barragens.
Segundo o presidente executivo do
Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram),
Wilson Brumer, os órgãos ambientais
estão mais criteriosos na avaliação dos
projetos minerários, principalmente em
Minas Gerais. "Há um temor no mercado
em conceder licenças. Mas, o problema
de concessão de licenças ambientais não é
sentido somente pelas empresas de
mineração, é em todos os setores da
economia", disse Brumer, ao Valor.
Thiago Rodrigues Maia, sócio do
Demarest Advogados, disse que após os
acidentes com as barragens em Mariana
(MG) e Brumadinho é natural que os
órgãos ambientais e de regulação sejam
mais rigorosos na concessão de licenças
para qualquer empreendimento. Dependo
do Estado, uma licença de operação
demora em média seis anos para sair,
segundo análise do escritório. Foi isso o
que aconteceu com a ArcelorMittal
quando entrou, em 2012, com pedido
junto à Secretaria de Estado de Meio
Ambiente para o descomissionamento e
início do projeto de processamento a seco
de sua mina de Serro Azul. A resposta
saiu em outubro de 2018. O projeto teria
início em fevereiro de 2019.
"Com Brumadinho, a licença foi suspensa
e agora estamos em processo de
desenvolvimento de novo projeto para o
descomissionamento. O risco econômico
faz parte do negócio, mas o que o setor
precisa é de mais previsibilidade", disse
Sebastião Costa Filho, presidente da
ArcelorMittal Mineração Brasil. A mina
de Serro Azul fica em Itatiaiuçu e a
barragem, a montante, está desativada
desde 2012, quando a companhia entrou
com o pedido de licenciamento.
Procurada, a Secretaria do Meio
Ambiente informou que, no caso da
Usiminas, a empresa "apresentou estudos
de fauna incompletos" e foram solicitadas
mais informações. Em relação à demora
na analise dos processos de forma geral,
ela informou que "cumpridas todas as
obrigações técnicas e normativas, o
andamento de licenças para
empreendimentos minerários encontra-se
em fluxo natural de análise pelo órgão
ambiental".
https://www.valor.com.br/empresas/6397599/falta-de-
licencas-atrasa-projetos-em-mg
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Movimento falimentar
Falências Requeridas Requerido: Drietto do Brasil Industrial Metálicos Ltda. - CNPJ: 07.826.565/0001-71 - Endereço: Rua Francisco Ceará Barbosa 261, Chácaras Campos Dos Amarais - Requerente: Rta Fomento Mercantil Ltda. - Vara/Comarca: 2a Vara de Campinas/SP
Requerido: Estação Engenharia e Telecomunicações Ltda. - Endereço: Não Consta - Requerente: Michel do Espírito Santo César - Vara/Comarca: 3a Vara Empresarial do Rio de Janeiro/RJ
Processos de Falência Extintos Requerido: Passarela Comércio e Indústria de Alimentos Ltda. - CNPJ: 01.021.187/0001-72 - Requerente: Passarela Comércio e Indústria de Alimentos Ltda. - Vara/Comarca: Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Distrito Federal, Brasília/DF - Observação: Desistência homologada.
Requerido: Rufolo Empresa de Serviços Técnicos e Construções Ltda. - CNPJ: 42.219.998/0001-60 - Endereço: Rua do Bispo, 221, Bairro Rio Comprido - Requerente: Renata Rocha de Brito - Vara/Comarca: 7a Vara Empresarial do Rio de Janeiro/RJ - Observação: Homologado acordo celebrado entre as partes.
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Requerido: S. B. A. Atacadista de Alimentos Ltda. - CNPJ: 19.666.612/0001-46 - Requerente: Frigorífico Frigoalpha Indústria e Comércio de Gêneros Alimentícios Ltda. Epp - Vara/Comarca: Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Distrito Federal, Brasília/DF - Observação: Petição inicial indeferida.
Requerido: Zito Pereira Indústria e Comércio de Peças e Acessórios Para Autos Ltda. - CNPJ: 43.846.328/0001-36 - Endereço: Av. Papa João Paulo I, 1200 A, Bairro Bonsucesso - Requerente: Pacific Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados - Vara/Comarca: 10a Vara de Guarulhos/SP - Observação: Homologado acordo celebrado entre as partes.
Recuperação Judicial Deferida Empresa: Estação Pantanal Administração de Imóveis e Participações Ltda. - CNPJ: 13.220.658/0001-50 - Endereço: Rua São Pedro, 815, Sala 24, Bairro Cavalhada - Administrador Judicial: Dr. Ricardo Ferreira de Andrade - Vara/Comarca: 2a Vara de Cáceres/MT
Empresa: Gce Comércio de Alimentos Eireli, Nome Fantasia Foletto Alimentos - CNPJ: 09.248.297/0001-83 - Endereço: Vila Sesmaria Rocha, S/nº, Acesso Sul - Administrador Judicial: Von Saltiel Advocacia & Consultoria Empresarial - Vara/Comarca: 2a Vara de Itaqui/RS
Empresa: Jacaré Assessoria Ltda. - CNPJ: 07.170.457/0001-93 - Endereço: Rua São Pedro, 815, Sala 50, Bairro Cavalhada - Administrador Judicial: Dr. Ricardo Ferreira de
Andrade - Vara/Comarca: 2a Vara de Cáceres/MT
Recuperações Judiciais Concedidas Empresa: Osni Ferreira de Sousa Me, Nome Fantasia Auto Mecânica Mustang - CNPJ: 01.332.717/0001-01 - Endereço: Rua Arnaldo Estevão de Figueiredo, 2220, Bairro Jardim Guanabara - Vara/Comarca: 4a Vara de Rondonópolis/MT - Observação: Face à homologação do plano pela assembleia geral dos credores.
Recuperações Judiciais Indeferidas Empresa: Danny & Anny Confecções Ltda. Me, Nome Fantasia Flor Dágua - CNPJ: 08.278.803/0001-14 - Endereço: Rua Professor Ricardo Buss, 188, Bairro Saguaçu - Vara/Comarca: 7a Vara de Joinville/SC - Observação: Face à não instrução do pedido com a documentação exigida.
https://www.valor.com.br/empresas/6397577/movimento-
falimentar
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Valor Econômico
Caderno: Finanças, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Falência do Banco Gerador leva ex-sócios à Justiça
Por Marina Falcão | Do Recife
Paulo Dalla Nora Macêdo, ex-presidente do
Gerador: família perdeu R$ 180 milhões
A falência do Banco Gerador, em 2014, transformou seus ex-sócios em inimigos na cena empresarial de Pernambuco. A família Macêdo, que diz ter perdido R$ 180 milhões com o banco, cobra uma suposta dívida de R$ 40 milhões do ex-sócio Antônio Lavareda, conhecido por sua atuação no marketing político. Lavareda, que afirma ter incorrido em um prejuízo de R$ 90 milhões no Gerador, tenta reunir provas para entrar com ação na Justiça acusando os ex-parceiros de gestão fraudulenta.
O episódio mais recente da briga entre os ex-sócios, que foram amigos íntimos por mais de 30 anos, foi um boletim de ocorrência sobre um tiro na janela do escritório do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômica (Ipespe), empresa de Lavareda, no Recife. O marqueteiro
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afirmou à polícia "ter fortes motivos para supor" que Paulo Dalla Nora Macêdo, ex-presidente do Gerador, Paulo Sérgio Freire Macêdo e Hilson de Brito Macêdo (pai e tio de Dalla Nora, respectivamente) seriam responsáveis por esse "atentado". Todos prestaram depoimento no início do mês.
O disparo foi dado no dia 1º de maio, quando não houve expediente no Ipespe. O exame de balística apontou que o tiro que veio de uma arma 38. Não há conclusão sobre as investigações.
O Gerador começou a operar em 2009, sob comando de Paulo Dalla Nora Macêdo, oferecendo crédito consignado para empresas pequenas e médias na região Nordeste com a marca Banorte. Antes mesmo da crise econômica eclodir, o Gerador faliu, alegando na época forte concorrência com os grandes bancos.
Os sócios decidiram vender a carteira de crédito de R$ 350 milhões para o Fundo Gerador de Crédito (FGC), quitaram os CDBs e, em 2016, venderam o Gerador para a financeira gaúcha Agiplan (atual Agibank), por R$ 1.
No processo de preparação do banco para a venda, os Macêdo teriam assumido as responsabilidades integrais de todos os sócios do Gerador e Rede Banorte "para preservar os nossos CPFs" e garantir que a transferência de controle fosse tranquila, sem risco de intervenção do Banco Central, nem problema com o comprador e nem com os clientes, diz Dalla Nora. Lavareda, que não teria assumido a sua parte, está sendo acionado pelos demais desde 2017.
Antônio Lavareda, marqueteiro: prejuízo de R$
90 milhões com o banco
São três ações de cobrança à Lavareda. A menor delas, de R$ 5 milhões, é referente a um empréstimo diretamente dos Macêdo ao marqueteiro (mútuo). A segunda, no valor de R$ 24 milhões, é referente a operações que os Macêdo assumiram com o Bradesco, em que Lavareda era avalista. A terceira ação, no valor de R$ 11 milhões, foi extinta porque o juiz entendeu que o endosso do título executivo não atendia às formalidades legais. Os Macêdo recorreram.
Ao Valor, o empresário Paulo Sergio Freire Macêdo diz que errou ao se associar à Lavareda. "O fato é que ele nos deve, o resto é factoide pela história como marqueteiro político, não é postura de empresário. Se achava que tinha algo errado no banco que entrasse com uma ação, não o fez", disse o empresário, que fez fortuna no setor de segurança privada com a Nordeste, empresa vendida em 2012 para a Prossegur.
Já Lavareda afirma que "foi traído na sua boa-fé" e que "sumiram no banco mais de R$ 90 milhões do seu patrimônio, fruto de muita esperteza e incompetência na administração de Paulo Dalla Nora". Conhecido por sua atuação no marketing dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, Lavareda não participava da gestão do Gerador.
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Semanas antes do episódio do tiro, a disputa entre os sócios estava quente. Os Macêdo dizem ter descoberto que Lavareda estava esvaziando o seu patrimônio para frustrar uma eventual execução da cobrança de R$ 24 milhões.
Ainda não há julgamento de mérito sobre a existência desse débito. No entanto, a juíza Virgínia Gondim Dantas Rodrigues identificou indícios de que o marqueteiro, "em conluio com sua filha Mônica, praticaram atos negociais com a intenção de prejudicar os ex-sócios". Como resultado, a juíza determinou a averbação de protesto em 29 imóveis da Lavareda. Significa que os imóveis estão com notificações de que estão envolvidos em possível execução judical, caso algum comprador tenha interesse em adquiri-los. A decisão, do ano passado, ainda está vigente.
Os Macêdo também fizeram uma denúncia criminal sobre Lavareda. O sigilo bancário de todos os ex-sócios foi aberto. Em relatório enviado a Polícia Civil, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou como "atípicas" movimentações de R$ 1,3 milhão de Lavareda e de R$ 71,2 milhões de dois membros família Macêdo. Segundo Dalla Nora, as movimentações financeiras da família Macêdo têm relação com o recebimento de parcela da venda da Nordeste.
A Polícia não indiciou Lavareda, mas o caso ainda está pendente de manifestação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), em caráter de sigilo.
Durante o funcionamento do banco, Lavareda não denunciou qualquer ato ilegal. No entanto, após as cobranças dos Macêdo, ele entrou com dois pedidos de produção de provas: uma na Rede Banorte e outro na Gerador Securitizadora, subsidiária que comprou por 3% do valor de face créditos vencidos do Gerador no valor total de R$ 4 milhões.
Dependendo do que for apontado por um perito judicial, Lavareda deverá entrar com uma ação na Justiça denunciando gestão fraudulenta, afirma o advogado Paulo Eduardo Moury Fernandes, que representa o marqueteiro.
O Ministério Público de São Paulo chegou a iniciar uma investigação contra os Macêdo por crime de estelionato e fraude processual, mas, por determinação da Justiça, a investigação foi transferida na semana passada para o MPPE.
Em paralelo à briga com Lavareda, os Macêdo estão em conflito com Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Para concretizar a venda do Gerador, o banco precisou de um empréstimo de R$ 29 milhões do FGC e deu garantia R$ 98 milhões, dos quais R$ 79 milhões em imóveis. A dívida venceu em fevereiro de 2018. Os Macêdo querem cumprir o rito da alienação fiduciária, dando as garantias como pagamento. O FGC, segundo Dalla Nora, não quer. O FGC não se manifestou, alegando que suas operações estão sob sigilo.
https://www.valor.com.br/financas/6397329/falencia-do-
banco-gerador-leva-ex-socios-justica
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Valor Econômico
Caderno: Finanças, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Mercado de criptoativos traz novo desafio à CVM
Por Graziella Valenti | De São Paulo
O mercado de criptomoedas ampliou os desafios da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), apesar de não ficar sob sua supervisão. A dificuldade de compreensão de novos ativos tecnológicos, misturada à disseminação da informação de que se trata de um mercado não regulado, fez disparar a oferta de aplicações em criptoativos com rentabilidade prefixada. Essas oportunidades exigem atenção redobrada dos investidores, pois nem sempre esses produtos estão dentro da lei. As criptomoedas não são reguladas, mas a oferta pública de produtos com esses ativos, para captação de recursos, fica, sim, sob supervisão da autarquia.
Em pouco mais de um mês, a xerife de mercado elevou de 250 para 300 o número de apurações, fruto de queixas de investidores, que espera realizar neste ano, relacionadas ao que chama de "mercado marginal", de produtos não regulados ou não registrados.
O superintendente de orientação e proteção ao investidor da CVM, José Alexandre Vasco, afirmou ao Valor que o total de casos apurados em 2014 foi de 47. Com a nova estimativa para este ano, significa que as queixas de produtos irregulares devem alcançar 32% de todo total de reclamações levadas até
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a autarquia em 2019, contra 10% há cinco anos.
Vasco explicou que não importa onde os recursos dos investidores serão aplicados nem se a captação é feita em dinheiro, criptomoedas ou qualquer outro bem. Desde que a oferta signifique, para o aplicador, o direito de participar do retorno obtido pelo esforço de um terceiro, a atuação deveria ser registrada na CVM e pode estar submetida às investigações do regulador, conforme o artigo 2º, inciso 9, da Lei 6.385, de 1976.
O superintendente afirmou que os novos desenhos estão exigindo a reavaliação do melhor entendimento do que é contrato de investimento coletivo (CIC), que é como a lei denomina tais produtos.
Quando um investidor aplica recursos em um banco, corretora ou outro intermediário regulado pela CVM e pelo Banco Central (BC), o cliente fica protegido pelas regras e atuações dessas entidades. Nos casos em que o produto não é regulado nem a instituição, a única alternativa é a fiscalização pelo próprio usuário. "Nessas situações, quando há problemas, são as partes privadas que devem resolver as questões no Judiciário", disse ele.
Na semana passada, a CVM determinou que a Atlas Quantum, que fazia anúncios em rede nacional de televisão, e seu sócio Rodrigo Marques do Santos, deixassem de fazer oferta de CIC - como classificou a oferta que prometia retorno com base na arbitragem de criptomoedas.
Não foi nem a primeira, nem a única alvo da autarquia. Outro caso recente envolvendo criptoativos foi da Unick Forex, que também apostava em contratos cambiais.
Vasco explicou que para fornecer parâmetros de funcionamento e ao mesmo tempo não coibir a inovação a CVM vai desenvolver e implantar um sistema de "sandbox" regulatório, em parceria com a Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da Economia, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e o BC. Quando implantado, permitirá licenças temporárias e criará um espaço sob supervisão dos reguladores para o teste de produtos e modelos de negócios com caráter inovador, sem incorrer inicialmente em todas as consequências da regulação vigente. O termo "sandbox" significa, em tradução livre, caixa de areia, como os locais em parques e praças nos quais os pais deixam as crianças brincarem livremente, mas dentro de um espaço delimitado.
valorinveste.com
Confira a reportagem completa no site www.valorinveste.com
https://www.valor.com.br/financas/6397313/mercado-de-
criptoativos-traz-novo-desafio-cvm
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Valor Econômico
Caderno: Legislação & Tributos, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Justiça do Trabalho anula acordos e condenações por terceirização ilegal
Por Adriana Aguiar | De São Paulo
Advogado Renato Serafim: mesmo com reforma
trabalhista, empresas permaneciam impedidas
de terceirizar
Empresas têm conseguido na Justiça anular condenações e acordos firmados com o Ministério Público do Trabalho (MPT) que tratam de terceirização. As decisões têm como fundamento o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou lícita essa forma de contratação e as leis de terceirização (nº 13.429, de 2017) e da reforma trabalhista (nº 13.467, de 2017).
Antes das novas leis e da decisão do STF, as empresas eram frequentemente condenadas na Justiça do Trabalho, em valores milionários. Os juízes aplicavam aos casos a Súmula nº 331, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que proibia a terceirização da atividade-fim - a parte essencial do negócio.
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Recentemente, porém, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas -15ª Região decidiu anular acordo judicial firmado entre o MPT e a Usina Santa Isabel e a Santa Luiza Agropecuária, situadas em Novo Horizonte, no interior de São Paulo (processo nº 0010488-92.2018.5.15. 0049). O acordo foi fechado depois de a empresa ser condenada a pagar R$ 1,3 milhão por terceirização considerada ilícita. As empresas assumiram o compromisso de não terceirizar a colheita de cana, bem como não reduzir o intervalo de refeição dos seus empregados para menos de uma hora.
O advogado da usina e da agropecuária, Renato Serafim, do Ilario Serafim Advogados, afirma que mesmo com o advento da reforma trabalhista, as empresas permaneciam impedidas de terceirizar suas atividades- fins ou de reduzir o intervalo de refeição, por conta do acordo firmado na ação civil pública com o MPT.
Enquanto suas concorrentes, submetidas às leis atuais podiam investir na terceirização, acrescenta, "a empresa [usina] estava engessada, perdendo competitividade no mercado". Com o fim do acordo, segundo o advogado, poderá terceirizar a colheita mecanizada, que exige equipamentos de alta tecnologia. "Agora, a empresa poderá expandir sua atividade principal de cultivo de cana de açúcar e gerar novas oportunidades de negócios e empregos na região."
Em tese, diz Serafim, todas as empresas que firmaram acordos com o MPT estão obrigadas a cumprir os termos previstos no texto, ainda que a legislação atual permita a
terceirização ampla. A advogado afirma que, antes de recorrer à Justiça, entrou em contato com o procurador do caso em Araraquara, que se negou a rever o acordo.
Em Minas Gerais, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) já deu pelo menos quatro decisões para rever condenações praticamente definitivas, pouco antes da fase de pagamento (execução). Nesses casos, as companhias têm usado um instrumento processual previsto nos parágrafos 12 e 14 do artigo 525 do novo Código de Processo Civil (CPC), de 2015, chamado de exceção de pré-executividade, que possibilita a anulação de título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional.
Como na época em que o Supremo julgou o tema da terceirização (RE 958.252 e ADPF 324), em agosto de 2018, ainda não havia sido emitida a certidão de trânsito em julgado (quando não cabe mais recurso), os advogados decidiram entrar com pedidos para anular as condenações, o que tem sido confirmado pelo tribunal.
Em um dos casos, uma instituição financeira, ligada a um rede de supermercados, conseguiu se livrar do pagamento de R$ 175 mil a uma trabalhadora. O processo foi movido por uma ex-funcionária que oferecia o cartão de crédito do banco para os clientes da rede de supermercados. Ela alegou que era ilicitamente terceirizada e na verdade trabalhava para a instituição financeira como correspondente bancária.
Em primeira e segunda instâncias, a terceirização foi considerada ilícita. Foi reconhecido o vínculo de emprego com o banco e determinado o pagamento de horas extras pelo fato
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de a jornada de bancário ser menor, de cinco horas. Ela cumpria oito horas. A decisão foi mantida no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Contudo, como o julgamento do Supremo ocorreu no dia 30 de agosto de 2018 e a certidão de transito em julgado (quando não cabe mais recurso) no caso só foi emitida no dia 22 de fevereiro deste ano, a 7ª Turma do TRT foi unânime ao entender pela anulação da condenação, mantendo o entendimento proferido pelo juiz Jésser Gonçalves Pacheco, da 5ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte (agravo de petição nº 0010226-84.2016.5.03.0005).
Na decisão, a relatora, desembargadora Cristiana Maria Valadares Fenelon, destaca que a jurisprudência no TRT mineiro tem caminhado neste sentido. Ela cita mais três decisões recentes que reverteram condenações.
Segundo os advogados que assessoram a instituição financeira no processo, Caio Madureira e Rodrigo Macedo, do Tortoro, Madureira e Ragazzi Advogados, "a decisão é de extrema importância" porque é de um tribunal que historicamente entendia pela ilicitude da terceirização. "Por isso, comemoramos a decisão", diz Madureira.
Procurado pelo Valor, o advogado da ex-funcionária, Wagner Santos Capanema, informou que ainda está analisando a decisão para avaliar se vai recorrer.
Na opinião do procurador Paulo Joarês, coordenador nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho do MPT, nas ações em que a sentença não transitou em julgado há aplicação imediata do entendimento do STF. Mas, acrescenta, é prudente que a Justiça do Trabalho aguarde a
finalização do julgamento. "Até esse momento sequer ocorreu a publicação do acórdão", diz. Isso porque, em muitos casos, segundo Joarês, será necessário fazer a distinção entre o precedente do STF e as situações dos processos.
Sobre a revisão de acordos, o procurador afirma que é preciso avaliar com cuidado cada caso. "Em muitos deles poderá ser adequado substituir as obrigações previstas, para ajustá-los ao teor da nova lei", diz. Ele destaca que "é preciso observar tanto os limites da decisão do STF, que discutiu apenas possibilidade de terceirizar qualquer atividade, como prestação de serviços entre empresas, mas não legitimou fornecimento de mão de obra, bem como os requisitos da Lei nº 6019/74, que exige uma efetiva transferência de atividades de uma empresa para a outra, a qual deve ter autonomia operacional, capacidade econômica e dirigir o trabalho de seus empregados com exclusividade".
https://www.valor.com.br/legislacao/6397217/justica-do-
trabalho-anula-acordos-e-condenacoes-por-terceirizacao-
ilegal
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Valor Econômico
Caderno: Legislação & Tributos, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
A nova defesa criminal
Por Daniel Zaclis
Imagine, caro leitor, receber um e-mail de um advogado desconhecido solicitando a sua presença no escritório dele para que seja ouvido como testemunha de um crime. À exceção de quem se habituou a assistir a seriados americanos, essa cena até pouco tempo atrás passaria longe de nossa realidade. Não mais.
A razão é que o sistema criminal brasileiro sofre um intenso processo de americanização. Se antes éramos importadores de legislações europeias continentais, hoje a tendência parece ser o emprego de institutos típicos dos EUA. Os acordos de não persecução, as colaborações premiadas e a tese da cegueira deliberada evidenciam essa nova cara do processo penal.
Ao nos espelharmos cada vez mais nos EUA, busca-se um modelo penal mais pragmático, que privilegia resultados quantitativos de demandas, afastando-se cada vez
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mais de um processo clássico, de ritos previamente definidos e quase sempre longos. O tradicional anseio por uma sentença conclusiva a respeito da inocência ou culpa do réu não guarda mais tanta relevância nesse sistema, dado que ele se baseia muito mais na resolução de conflito do que propriamente num ideal de justiça.
Tal como ocorre nos EUA, o
advogado brasileiro passa a
ter poderes para conduzir
depoimentos de testemunhas
e requerer dados a órgão
públicos
Nesse movimento, as partes (acusação e defesa) assumem maior protagonismo na busca por evidências dos fatos. Retira-se da autoridade policial e dos juízes o monopólio sobre a gestão das provas, permitindo que os reais interessados na solução da demanda tomem as rédeas do processo.
Não por acaso, em nosso país, o Ministério Público já conduz, há algum tempo, suas próprias diligências investigativas - mitigando a competência da polícia - com vistas a trazer elementos para embasar suas acusações. Faltava, no entanto, que a defesa tivesse esta mesma prerrogativa, proporcionando que as informações coletadas pelo acusado, mesmo antes de um eventual processo formal, pudessem ser levadas ao conhecimento do juiz.
A lacuna foi suprida com o recente Provimento nº 188/18, publicado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados, o qual trata - ainda que timidamente - da chamada "investigação defensiva". Tal como ocorre nos EUA, o advogado brasileiro passa a ter poderes para conduzir depoimentos de testemunhas, bem como requerer dados diretamente a órgão públicos, dentre outras medidas que anteriormente eram possíveis apenas mediante autorização das autoridades estatais. O advogado, assim como já ocorria com os representantes do Ministério Público, passa a deter poderes de investigação, sem a necessidade de autorização da polícia.
Com a investigação defensiva, entra em cena uma nova forma de atuação do advogado criminalista, que passa também a exercer um papel ativo na apuração dos fatos. O benefício para a busca da verdade é enorme, a qual sempre sairá ganhando com uma maior exposição dialética de posições.
Logicamente que ainda resta um caminho longo a se percorrer para que exista uma efetiva investigação defensiva em nosso sistema. Até porque, como é sabido, nossa realidade demonstra que a maioria dos réus são indivíduos que não podem arcar com advogados durante a fase processual, que dirá contar com um profissional para realizar investigações extraprocessuais por conta própria. Mas, se não é o ideal, ao menos já temos um começo.
Há quem questione a competência do Conselho da OAB para dispor sobre diligências investigativas no processo penal. É verdade que, em matéria penal, nunca é aconselhável estipular procedimentos por resoluções. Por incrível que pareça, porém, isso não tem sido um problema perante o
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Judiciário que tem, por exemplo, avalizado acordos de não persecução firmados pelo Ministério Público, com base exclusivamente em uma resolução editada por aquele órgão.
A possibilidade da investigação defensiva é uma pequena vitória para aqueles que veem na defesa criminal uma peça indispensável para o correto funcionamento de um Estado Democrático de Direito.
Em tempos nos quais toda resposta a problemas estruturais graves se dá por meio de uma maior repressão punitiva, e abusos do Estado são aplaudidos diariamente pela sociedade, é esperançoso ver que se concedeu à defesa um modo de proceder que, até recentemente, estava restrito à acusação. O desequilíbrio nunca é bom para a justiça.
Daniel Zaclis é advogado, mestre e doutorando em Processo Penal pela USP.
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações
https://www.valor.com.br/legislacao/6397215/nova-
defesa-criminal
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Caderno: Mercado, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
MP que cria novo Coaf abre brecha para que órgão receba indicações políticas
Texto não trouxe trava que limitava
pessoal a servidores técnicos do BC,
como planejava a equipe econômica
Talita Fernandes
BRASÍLIA
Assinada nesta segunda-feira (19) pelo
presidente Jair Bolsonaro (PSL), a
medida provisória que modifica o Coaf
não limitou a composição do órgão a
apenas servidores do Banco Central,
como planejava a equipe econômica.
Diferentemente do que é hoje, o texto
dá margem para indicações políticas.
A MP, que será publicada no Diário
Oficial da União nesta terça-feira (20),
transfere o órgão do Ministério da
Economia para o BC e altera o nome do
Coaf para (UIF) Unidade de
Inteligência Financeira.
Sede em Brasília do Banco Central, que
ficará responsável pelo novo Coaf - Ueslei
Marcelino - 16.mai.17/Reuters
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A mudança foi anunciada pelo governo
Bolsonaro com o objetivo de "tirar o
órgão do jogo político". Porém, o texto
assinado pelo presidente possibilita que
ocupantes de cargos comissionados,
que não necessariamente são servidores
públicos, integrem seu quadro técnico-
administrativo.
Além disso, o novo Coaf será integrado
também por um conselho deliberativo,
formado por "cidadãos brasileiros com
reputação ilibada e reconhecidos
conhecimentos".
Sem dar critérios objetivos de
comprovação de conhecimento, o texto
diz que os conselheiros devem saber
sobre "prevenção e combate à lavagem
de dinheiro, ao financiamento do
terrorismo ou ao financiamento da
proliferação de armas de destruição em
massa".
Atualmente, o Coaf era
composto exclusivamente por
servidores efetivos de órgãos como:
Banco Central, CVM (Comissão de
Valores Mobiliários), Susep
(Superintendência de Seguros
Privados), Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, Receita Federal,
Abin, Ministério das Relações
Exteriores, Ministério da Justiça e
Segurança Pública, Polícia Federal,
Superintendência Nacional de
Previdência Complementar e CGU
(Controladoria-Geral da União). As
designações eram feitas pelo Ministério
da Economia.
Agora, o conselho passará a
ser formado pelo presidente da UIF e
por entre oito e quatorze conselheiros.
As indicações serão feitas pelo
presidente do Banco Central, cargo
atualmente ocupado por Roberto
Campos Neto.
O texto traz ainda a possibilidade de
que militares componham o quadro
técnico-administrativo do órgão.
Diz ainda que essa estrutura poderá ser
integrada por ocupantes de cargos em
comissão e funções de confiança,
servidores, militares e empregados
cedidos ou requisitados e servidores
efetivos.
O governo argumentou que o órgão
teria mais independência alegando a
intenção da dar autonomia formal ao
BC, projeto ainda travado no
Congresso. Atualmente, Campos Neto
tem status de ministro e é subordinado
diretamente a Bolsonaro.
De acordo com a MP, o número de
conselheiros deve ser definido pela
diretoria colegiada da autoridade
monetária. O texto diz ainda que a
atuação dos conselheiros "será
considerada prestação de serviço
público relevante, não remunerada".
Passarão pelo crivo do colegiado
definições como a aprovação das
orientações e das diretrizes estratégicas
de atuação da UIF e o julgamento
de processos administrativos
sancionadores.
Caberá à diretoria colegiada do BC
aprovar um regimento interno da UIF,
que pode trazer mais especificações
sobre sua composição e atuação.
Técnicos ouvidos
pela Folha argumentam que o texto
deixou em aberto a possibilidade de que
não servidores integrem o novo Coaf, já
que o BC ainda irá definir o regimento.
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A MP entra em vigor imediatamente
após sua publicação e tem até 120 dias
para ser aprovada pelo Congresso, onde
pode ainda sofrer modificações.
O Coaf, agora rebatizado de UIF, foi
alvo de uma série de disputas desde o
início da gestão Bolsonaro.
Sob o argumento de que daria mais
força ao órgão, o presidente transferiu
em seu primeiro ato de governo o Coaf
para os cuidados do ministro Sergio
Moro (Justiça), ex-juiz da Lava Jato.
Em retaliação ao ministro, o Congresso
alterou a MP de reestruturação do
governo e devolveu a instituição à pasta
da Economia.
Diante de uma série de ataques, que
incluíram uma pressão do Palácio do
Planalto para substituição do
presidente do órgão, Roberto Leonel, o
governo passou a discutir nova
mudança.
A MP não trata de alterações no
comando da UIF, apenas determina que
cabe agora ao presidente do BC nomear
seu presidente. Porém, como antecipou
o Painel, Leonel deve ser substituído
por Ricardo Liáo, hoje diretor de
supervisão do Coaf.
Na semana passada, Bolsonaro
confirmou que pretendia transferir o
Coaf da Economia ao BC. "O que nós
pretendemos é tirar o Coaf do jogo
político, vincular ao Banco Central. Aí
acaba", afirmou.
A mudança já havia sido indicada por
Guedes.
O ministro vinha argumentando que
havia de um lado, uma pressão popular
pela investigação da classe política e
representantes dos demais Poderes. De
outro, uma reação das instituições,
manifestada por decisões recentes do
STF (Supremo Tribunal Federal) e por
parlamentares da "velha política" que se
queixam de perseguição.
Segundo auxiliares, Bolsonaro estava
incomodado com o comportamento do
comando do Coaf em relação à decisão
do presidente do STF, ministro Dias
Toffoli, de suspender investigações
criminais pelo país que usem dados
detalhados de órgãos de controle —
como Coaf, Receita Federal e Banco
Central— sem autorização judicial.
Toffoli atendeu a um pedido da defesa
do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ),
filho mais velho do presidente, alvo de
investigação realizada pelo Ministério
Público do Rio de Janeiro.
Em manifestação enviada à Folha, o
Coaf criticou a decisão de Toffoli sobre
o uso de seu material em investigações.
O órgão afirma que a medida prejudica
o combate à lavagem de dinheiro.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/mp-
que-cria-novo-coaf-abre-brecha-para-que-orgao-
receba-indicacoes-politicas.shtml
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Caderno: Mercado, terça-feira, 20 de agosto de 2019.
Acordo comercial entre Brasil e EUA não prevê livre-comércio
Avaliação é que relação bilateral
favorável é insuficiente para vencer
barreiras históricas, como a compra de
açúcar nacional
Marina Dias
WASHINGTON
O acordo comercial entre Brasil e
EUA não deve prever o livre-comércio
em sua definição econômica tradicional,
ou seja, eliminação total de tarifas e
outras barreiras entre os países.
Autoridades que participam das
negociações afirmam que as tratativas
envolvem taxas, mas também questões
não tarifárias e de investimentos, que
passam pela integração da cadeia
produtiva de aço e peças de aviação até
parcerias no setor do agronegócio.
A avaliação é que a boa sinergia entre os
dois governos não é suficiente para
romper interesses políticos em
barreiras históricas —como cotas
tarifárias impostas pelos EUA sobre a
compra de açúcar do Brasil— e que é
preciso trabalhar em resoluções que vão
além da liberalização comercial para
que a agenda bilateral avance de fato.
No fim de julho, o presidente Donald
Trump disse que sua administração
buscaria um acordo de livre-comércio
com o Brasil, gesto encarado com
otimismo pelo governo Jair Bolsonaro.
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O discurso foi visto por auxiliares do
líder brasileiro como um reforço da
vontade política do republicano em
estreitar relações com o Planalto e um
estímulo à burocracia americana para
destravar de vez as conversas.
O secretário de Comércio dos EUA,
Wilbur Ross, por sua vez, foi mais
cauteloso.
Um dia após a fala de Trump, ele viajou
ao Brasil e sinalizou que as
movimentações existem, mas há outras
pendências antes de bater o martelo.
“Nunca finalizamos um acordo bilateral
de investimento. Então há muito o que
fazer no diálogo comercial antes do
livre-comércio”,afirmou o secretário.
Ele acrescentou ainda esperar que
o acordo entre Mercosul e União
Europeia, assinado no fim de junho,
não crie obstáculos para um eventual
acerto comercial entre Brasil e EUA.
O governo brasileiro tem a avaliação de
que, se envolver tarifas, o acordo com
os americanos pode ter que ocorrer em
conjunto com o bloco sul-americano, já
que o Brasil faz parte da união
aduaneira.
Mas mesmo os mais otimistas
acreditam que uma aliança dessa
magnitude não deva sair do papel em
menos de cinco anos, apesar de
ponderarem que a imprevisibilidade de
Trump e Bolsonaro poderiam acelerar o
processo.
Duas reuniões estão marcadas até o fim
deste ano para definir a abrangência do
possível acordo comercial.
Entre 24 e 26 de setembro, as cúpulas
do Ministério da Economia do Brasil e
do Departamento de Comércio dos EUA
se reúnem em Brasília para tratar do
assunto.
Em seguida, o Itamaraty e outros
ministérios, como o de Agricultura e de
Ciência e Tecnologia, devem se unir a
membros do governo americano na
Atec, comissão sobre relações
econômicas e comerciais entre os países
que, segundo diplomatas, foi reativada
após a visita de Bolsonaro a
Washington, em março.
Uma das propostas do Brasil é a
suspensão de tarifas sobre produtos
finalizados nos EUA cujo insumo é
fornecido pelo mercado brasileiro,
como é o caso do aço.
A mesma regra valeria no sentido
contrário —dos americanos para o
território brasileiro—, com expectativa
de expansão para setores da indústria
de autopeças e aviação.
Os EUA hoje são o maior mercado
de exportação industrial do Brasil,
enquanto a China é líder na importação
de matéria-prima brasileira.
Outra frente pleiteada por Planalto e
Itamaraty está na área de
investimentos, citada pelo secretário de
Comércio americano como um impasse
a ser vencido.
Para fechar um acordo bilateral, os EUA
exigiam uma cláusula que permitiria a
um investidor processar o Estado caso
se sentisse lesado em qualquer
transação.
O Brasil nunca aceitou a proposta, mas,
sob a gestão de Trump, vê espaço para
tirar o item dos pré-requisitos, visto que
os EUA não fizeram uso do dispositivo
41
no acordo que fecharam com México e
Canadá, por exemplo.
Pessoas que participam dos diálogos
afirmam que ainda há espaço para
entendimentos do setor privado em
áreas em que Brasil e EUA são
competidores, como o agronegócio.
Um grupo dos cinco maiores
exportadores de produtos agrícolas do
ocidente —Brasil, EUA, Canadá, México
e Argentina— foi criado em maio e
poderia ser explorado nesse sentido.
Há dúvidas, porém, sobre até que ponto
os americanos topariam esse tipo de
entendimento, visto que o Brasil tem
pouco peso no mercado dos EUA e
ambos concorrem na exportação de
alimentos e petróleo.
Apesar de o ministro da
Economia, Paulo Guedes, ter dito que o
Brasil já começou a negociar com os
EUA, as tratativas oficiais do acordo
comercial ainda não foram lançadas.
Nos EUA, o Congresso precisa dar o
aval para que o USTr —representante
comercial americano— inicie a
negociação formal, enquanto no Brasil
o Legislativo chancela o trato somente
depois que ele foi firmado.
ALGUMAS PROPOSTAS QUE
ESTÃO EM DISCUSSÃO ENTRE
BRASIL E EUA
1. Suspensão de tarifas sobre
produtos finalizados nos
Estados Unidos cujo insumo é
fornecido pelo mercado
brasileiro, como é o caso do aço
2. Mesma regra valeria no sentido
contrário --dos americanos para
o território brasileiro--, com
expectativa de expansão para
setores da indústria de
autopeças e aviação
A burocracia desanima investidores nos
dois países. Eles reconhecem o bem-
estar promovido pelas declarações de
Trump e Guedes, mas estão céticos
quanto à efetivação de um acordo de
livre-comércio.
Segundo eles, a lista de prioridades
para suas apostas no curto e médio
prazo envolve privatizações e obras de
infraestrutura.
Consideram que um acordo como esse
pode levar décadas, usando como
parâmetro a aliança firmada
entre Mercosul e União Europeia, após
20 anos de negociação.
Diplomatas e investidores lembram
ainda que Trump não é afeito a acordos
de livre-comércio —em 2017, por
exemplo, tirou os EUA do TPP (Tratado
de Associação do Transpacífico, na sigla
em inglês)—, por isso o interesse em
levar as tratativas para outros âmbitos e
setores.
42
Em campanha para 2020, o americano
tem interesses eleitorais que se
sobrepõem às prioridades econômicas
com o Brasil, mas integrantes do
governo Bolsonaro dizem que é preciso
aproveitar esse período para avançar
nas tratativas comerciais, já que a
reeleição do republicano não está
garantida e a vitória do Partido
Democrata tornaria incerto o nível de
relação a ser estabelecido com o Brasil.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/aco
rdo-comercial-entre-brasil-e-eua-nao-preve-livre-
comercio.shtml
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Caderno: Mercado, terça-feira, 20 de agosto de 2019
Privatização da Eletrobras terá novo projeto de lei
Governo enviará ao Congresso outra
proposta para processo de venda da
estatal de energia, que só deve ocorrer
em 2020
Manoel Ventura
Governo enviará ao Congresso nova proposta de
projeto de lei para a venda da Eletrobras Foto:
Reprodução
BRASÍLIA - O governo decidiu
encaminhar ao Congresso um novo
projeto de lei para privatizar a
Eletrobras. A decisão foi tomada na
segunda-feira numa reunião entre o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e os ministros da Economia,
Paulo Guedes, e de Minas e Energia,
Bento Albuquerque. A privatização da
maior empresa de geração e
transmissão de energia elétrica do país
já havia sido encaminhada ao
Legislativo pelo ex-presidente Michel
Temer no início de 2018. O texto,
porém, não avançou, em meio a fortes
resistências políticas.
43
A estatal foi excluída do Programa
Nacional de Desestatização (PND) e
agora o governo precisa buscar
novamente o aval de deputados e
senadores para que uma nova lei para
que ela volte ao programa. Além disso,
o Supremo Tribunal Federal (STF)
definiu que a venda de controle de
estatais deve ser submetida ao
Legislativo.
O governo pretende concluir o processo
só no ano que vem, quando o dinheiro
da venda da empresa entrará na conta
do Tesouro. A equipe econômica ainda
não tem uma estimativa de quanto
deverá ser arrecadado com a
privatização, que o governo cogita fazer
nos mesmos nos moldes da recente
venda do controle da BR Distribuidora
pela Petrobras, por meio de oferta de
ações na Bolsa.
Modelo da gestão Temer
O projeto de lei de privatização da
Eletrobras do governo Jair Bolsonaro
deverá ser muito semelhante ao
apresentado no governo Temer. O
modelo prevê a emissão de novas ações
da Eletrobras a serem vendidas no
mercado. Nessa capitalização, a União
abriria mão do controle da empresa,
reduzindo sua participação de pouco
mais de 60% para algo inferior a 50%.
A proposta prevê ainda a opção de se
repassar o controle das subsidiárias
Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul
para a Eletropar, outra empresa do
grupo Eletrobras, para facilitar
operacionalmente a capitalização. Nos
dois casos, a intenção é que a empresa
se torne uma corporação privada, sem
controle definido, ainda que o governo
mantenha participação minoritária.
O projeto também prevê que a
Eletrobras irá assinar novos contratos
para hidrelétricas que hoje operam sob
remuneração pré-fixada. Essas usinas
passarão a receber valores a preço de
mercado. A empresa pagará uma
outorga à União pela mudança. É dessa
forma que será gerada arrecadação para
o Tesouro com a privatização.
O governo avalia que está conseguindo
limpar importantes entraves para atrair
investidores interessados na
privatização. Depois de vender as seis
distribuidoras deficitárias do Norte e
Nordeste, a estatal reduz as incertezas
com decisões do Superior Tribunal de
Justiça (STJ).
Integrantes da equipe econômica e
investidores interessados no processo
de desestatização avaliam que a
conclusão do julgamento de ações que
se arrastavam há anos definem um
passivo que envolve bilhões de reais.
O STJ finalizou, por exemplo, um caso
que durou dez anos e deixava dúvidas
sobre o pagamento pela Eletrobras de
juros sobre empréstimos compulsórios.
Foi definido que a estatal terá que pagar
6% ao ano.
- Por mais que alguns casos possam ser
desfavoráveis para a empresa, pelo
menos o investidor fica sabendo o
tamanho do passivo — avalia José
Thompson, diretor da área de fusões e
aquisições da consultoria Duff & Phelps
no Brasil.
Nos últimos dois anos, a Eletrobras saiu
de uma sequência de prejuízos
bilionários para um lucro líquido de R$
5,56 bilhões no segundo trimestre, um
salto de 305% em relação ao resultado
do mesmo trimestre do ano passado
impulsionado pela venda das
44
distribuidoras deficitárias,
particularmente a Amazonas Energia.
A venda selou a saída da estatal do
ramo de distribuição. Considerando
apenas as operações continuadas, o
lucro líquido foi de R$ 301 milhões.
- São movimentos positivos para
permitir uma melhor valoração da
empresa na ocorrência da privatização,
sobretudo se o modelo a ser seguido for
o da capitalização - disse Luiz Augusto
Barroso, presidente da consultoria PSR
e um dos formuladores do modelo de
privatização da estatal na gestão Temer.
Para João Carlos Mello, presidente da
Thymos Energia, a privatização da
Eletrobras é urgente e fará a empresa
voltar a investir:
- A Eletrobras, forte como é, vai ficar
mais forte ainda para investir no setor.
https://oglobo.globo.com/economia/privatizacao-da-
eletrobras-tera-novo-projeto-de-lei-23888470
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Terça-feira, 20 de agosto de 2019
Intimação da penhora inicia prazo para impugnar valor de execução
O prazo para o devedor alegar excesso
de execução só começa a correr após a
sua intimação acerca da penhora ou do
depósito do valor da condenação para a
garantia do juízo.
A decisão é da 3ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça ao reformar
acórdão do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal que havia definido não
seria possível alegar o excesso se não
houve qualquer insurgência aos
cálculos, nem recurso contra a decisão
de homologação.
Relatora, a ministra Nancy Andrighi,
explicou que, com base no Código de
Processo Civil de 1973, o envio dos
autos ao contador judicial para apurar a
quantia a ser paga "não é ato judicial
hábil a definir, necessariamente, o valor
da execução, representando, em
verdade, ato para definir o montante da
penhora, o que afastaria a necessidade
de qualquer alegação de excesso de
execução neste momento particular".
Segundo ela, nos termos do artigo 475-
B do CPC/1973, quando a determinação
do valor da condenação depender
apenas de cálculo aritmético, o credor
requererá o cumprimento da sentença,
instruindo o pedido com a memória
discriminada do cálculo.
45
A ministra ressaltou que, nos casos de
aparente excesso do valor calculado, o
contador do juízo poderá refazer os
cálculos. Caso o credor concorde com o
valor, prosseguirá o cumprimento da
sentença, com a intimação do devedor
em 15 dias; contudo, se discordar, a
execução prosseguirá pelo valor
originariamente pretendido, mas a
penhora terá por base o valor
encontrado pelo contador.
"Ora, o fato de, em não havendo
concordância do credor em relação aos
cálculos apresentados pelo contador, a
penhora ter por base o valor por este
encontrado, reforça, exatamente, o
argumento de que o envio dos autos ao
mesmo justifica-se para fixar
o quantum debeatur da penhora,
momento inadequado para o devedor
alegar excesso de execução", disse a
ministra.
A relatora lembrou que, nessa fase, não
há participação do devedor no
procedimento, a não ser que a
elaboração dos cálculos dependa de
dados existentes em seu poder, ocasião
em que o juiz, a requerimento do
credor, poderá requisitá-los.
Ao prosseguir com o cumprimento da
sentença, esclareceu a ministra, o
devedor condenado é intimado a
efetuar o pagamento em 15 dias; caso
contrário, o montante será acrescido de
multa no percentual de 10%. A relatora
observou também que, após pedido do
credor, poderá ser expedido o mandado
de penhora e avaliação, momento no
qual o executado é intimado a oferecer
impugnação no prazo de 15 dias.
"Pelo exposto, denota-se, então, que o
momento processual que o devedor
possui para alegar excesso de execução
é posteriormente à sua intimação
acerca da penhora ou do depósito do
valor da condenação para garantia do
juízo", concluiu Nancy Andrighi. Com
informações da assessoria de imprensa
do STJ.
REsp 1.538.235
Revista Consultor Jurídico, 20 de
agosto de 2019, 9h23
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46
Terça-feira, 20 de agosto de 2019
Parecer do ministério da Justiça critica projeto de lei de abuso de autoridade
Texto já foi aprovado no Congresso e
aguarda sanção ou veto presidencial.
Antes mesmo da aprovação do projeto
de lei do abuso de autoridade na
Câmara, no último dia 14, o Ministério
da Justiça emitiu parecer contrário à
aprovação do texto.
Em análise do PL 7.596/17, "é possível
identificar diversos elementos que
podem inviabilizar tanto a atividade
jurisdicional, do MP e da polícia,
quanto às investigações que lhe
precedem", é o que afirma o órgão no
documento.
O documento foi produzido pela
Assessoria Especial de Assuntos
Federativos e Parlamentares do
Ministério da Justiça.
Segundo o documento, o art. 9º do
projeto, sobre decretação de medida de
privação da liberdade em
desconformidade com as hipóteses
legais, “elimina a discricionariedade do
magistrado na exegese normativa".
47
“A limitação ao exercício da função
jurisdicional é acentuada em razão de
o dispositivo não trazer balizas para o
que se poderá considerar
“desconformidade com as hipóteses
legais.”
Pelo texto, o MJ ainda diz que "a
evolução do direito, dos costumes e,
portanto, a mudança do chamado
standard jurídico cria uma zona
cinzenta pela qual o magistrado deve
caminhar para viabilizar a
compatibilidade entre a norma e a
sociedade".
"Em última instância, o dispositivo
depõe contra a própria dinâmica e
evolução do direito pela via
jurisprudencial."
O parecer também afirma que os §§s do
art. 3º da futura lei apenas repetem o
que já existia no art. 29 do CPP.
O dispositivo, em seu art. 13, "é
marcado por uma forte carga
subjetiva que é capaz de prejudicar o
exercício da atividade policial", diz o
parecer da pasta da Justiça. O
documento também se manifesta pela
rejeição do artigo 16 do projeto, que
trata da necessidade de identificação,
por parte da autoridade para o preso,
no momento da captura ou durante a
detenção.
O artigo 17, que trata do uso de
algemas, também é analisado: pelo
documento, o texto ignora as nuances
dos diferentes casos em que o policial
avalia a necessidade do equipamento.
Situação de vexame
O parecer também critica o artigo 22,
que trata da atuação de autoridades,
sem determinação judicial ou demais
hipóteses previstas em lei. No caso, o
Ministério da Justiça pede a supressão
apenas do inciso II, que trata da
mobilização de veículos, pessoal ou
armamento de forma ostensiva e
desproporcional para expor o
investigado a situação de vexame.
"O inciso II carece de precisão e traz
muito conceitos indeterminados e
subjetivos como 'desproporcional' e
'situação de vexame' e não deve ser
mantido, sob pena de causar
insegurança no cumprimento dos
mandados judiciais com o receio de
incorrer nesses elementos abertos.
Assim, sua manutenção prejudicaria o
próprio objetivo do tipo penal, que é
zelar pela lisura da atuação nos casos
de busca e apreensão."
Advocacia
Por fim, o parecer aponta o art. 43, pelo
qual constitui crime violar direito ou
prerrogativa de advogado.
"Este artigo deve ser excluído, porque
gerará um fortalecimento extremo do
Ministério Público e um
enfraquecimento do juiz, que perderá a
sua imparcialidade."
Leia a íntegra do parecer.
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI3
09240,41046-
Parecer+do+ministerio+da+Justica+critica+proj
eto+de+lei+de+abuso+de
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48
Terça-feira, 20 de agosto de 2019
Prazo para impugnar valor da execução só começa a contar após a garantia do juízo
Decisão é da 3ª turma do STJ.
O prazo para o devedor alegar excesso
de execução só começa a correr após a
sua intimação acerca da penhora ou do
depósito do valor da condenação para a
garantia do juízo.
Assim entendeu a 3ª turma do STJ ao
definir que a falta de manifestação do
devedor sobre os cálculos do contador
judicial – os quais foram homologados
pelo juízo – não impede a posterior
alegação de excesso de execução em
impugnação ao cumprimento de
sentença.
Caso
O recurso teve origem em ação contra a
Caixa de Previdência do Banco da
Amazônia para restituição de valores
indevidamente recolhidos a título de
contribuição previdenciária. Na fase de
cumprimento da sentença, os cálculos
apresentados pelo credor foram refeitos
pela contadoria judicial, após o juiz
observar discrepâncias. Com a
49
concordância do credor sobre o novo
valor, a entidade previdenciária foi
intimada a se manifestar, mas, diante
da sua inércia, os cálculos foram
homologados.
A pedido do credor, o juiz determinou o
bloqueio da quantia executada via
BacenJud, ocasião em que foi
determinada a intimação do devedor.
Nesse momento, a instituição devedora
apresentou impugnação ao
cumprimento de sentença, alegando
excesso de execução. No entanto, o
TJ/DF entendeu que a oportunidade
para essa alegação estaria preclusa
diante da homologação dos cálculos.
Montante da penhora
Relatora, a ministra Nancy Andrighi
explicou que, com base nos dispositivos
que tratam da liquidação de sentença
no CPC/73, depreende-se que o envio
dos autos ao contador judicial para
apurar a quantia a ser paga "não é ato
judicial hábil a definir,
necessariamente, o valor da execução,
representando, em verdade, ato para
definir o montante da penhora, o que
afastaria a necessidade de qualquer
alegação de excesso de execução neste
momento particular".
Segundo ela, de acordo com
dispositivos do CPC, quando a
determinação do valor da condenação
depender apenas de cálculo aritmético,
o credor requererá o cumprimento da
sentença, instruindo o pedido com a
memória discriminada do cálculo.
A ministra ressaltou que, nos casos de
aparente excesso do valor calculado, o
contador do juízo poderá refazer os
cálculos. Caso o credor concorde com o
valor, prosseguirá o cumprimento da
sentença, com a intimação do devedor
em 15 dias; contudo, se discordar, a
execução prosseguirá pelo valor
originariamente pretendido, mas a
penhora terá por base o valor
encontrado pelo contador.
"Ora, o fato de, em não havendo
concordância do credor em relação aos
cálculos apresentados pelo contador, a
penhora ter por base o valor por este
encontrado, reforça, exatamente, o
argumento de que o envio dos autos ao
mesmo justifica-se para fixar
o quantum debeatur da penhora,
momento inadequado para o devedor
alegar excesso de execução."
Intimação do credor
Ao prosseguir com o cumprimento da
sentença – esclareceu a ministra –, o
devedor condenado é intimado a
efetuar o pagamento em 15 dias; caso
contrário, o montante será acrescido de
multa no percentual de 10%. A relatora
observou também que, após pedido do
credor, poderá ser expedido o mandado
de penhora e avaliação, momento no
qual o executado é intimado a oferecer
impugnação no prazo de 15 dias.
"Pelo exposto, denota-se, então, que o
momento processual que o devedor
possui para alegar excesso de execução
é posteriormente à sua intimação
acerca da penhora ou do depósito do
valor da condenação para garantia do
juízo."
50
Assim, segundo a relatora, o prazo para
que a Caixa de Previdência do Banco da
Amazônia pudesse alegar excesso de
execução começou a correr no
momento de sua intimação após o
bloqueio da quantia executada via
BacenJud.
• Processo: REsp 1.538.235
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI30
9231,31047-
Prazo+para+impugnar+valor+da+execucao+so+
comeca+a+contar+apos+a
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Terça-feira, 20 de agosto de 2019
Carf não aplica decisão do STF em casos sobre Zona Franca de Manaus
Mesmo com o precedente do STF, pelo
menos três casos foram julgados de
forma desfavorável às empresas
• GUILHERME MENDES
BRASÍLIA
(Foto: Dorivan Marinho/SCO/STF)
Quando o Supremo Tribunal Federal
(STF) referendou, em abril, o direito
dos contribuintes a apurar créditos de
Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) na aquisição de
insumos isentos vindos da Zona Franca
de Manaus, o sentimento de muitas
empresas foi de que a medida, além de
benéfica, traria resultados tributários
imediatos.
A vitória, porém, não chegou ao
Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (Carf): segundo levantamento
do JOTA, desde abril, quando o
Supremo decidiu de forma favorável aos
contribuintes, ao menos três cobranças
tributárias sobre o tema foram
mantidas pelo tribunal administrativo.
51
O motivo pelo qual as decisões se
deram demonstra que a vitória dos
contribuintes no Carf pode demorar:
regimentalmente os conselheiros são
obrigados a seguir apenas “decisões
definitivas” da corte. Como não há
acórdão ou trânsito em julgado da
decisão sobre a Zona Franca de
Manaus, parte dos julgadores entende
que o precedente, por enquanto, não
precisa ser adotado.
A situação não é inédita no Carf. O
tribunal passou a permitir a tomada de
créditos por insumos de PIS e Cofins
quase oito meses após o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) definir o
assunto de forma favorável às
empresas.
Tributaristas apontam que a postura
formalista pode prejudicar, além de
contribuintes, o próprio poder público.
“A Câmara Superior de Recursos Fiscais
entendeu, para nossa surpresa, que se
pode julgar os casos sem a decisão do
Supremo”, pontuou a sócia do Machado
Meyer em São Paulo, Daniella Zagari,
que completou: “esta interpretação
formal e estreita, a meu ver, é errada e
prejudicial tanto para Fisco quanto para
contribuintes”.
Histórico pró-Fazenda
O tema da utilização de créditos
relacionados a insumos vindos da zona
franca é recorrente no Carf, que vinha
se posicionando de forma contrária aos
contribuintes. Apesar de ao menos uma
turma ordinária já ter considerado por
aplicar a tese do STF sobre a Zona
Franca, a posição da Câmara Superior,
última instância do conselho, não se
alterou após a decisão do Supremo.
Exemplo disso ocorreu na última
quinta-feira (15/8): ao julgar recursos
da Ambev e da Spal, uma fabricante da
Coca-Cola, a Câmara Superior impediu
a tomada de créditos. A decisão foi dada
por voto de qualidade, que ocorre
quando há empate, e o voto do
presidente da turma, que representa a
Receita, é utilizado para resolver a
questão. Na mesma sessão a turma
começou a analisar um caso semelhante
envolvendo a Schincariol, mas o
julgamento foi suspenso por um pedido
de vista.
Nos casos da Ambev e da Spal, o Carf
resolveu não aguardar a decisão oficial
das cortes sobre a Zona Franca. Outra
empresa fabricante de Coca-Cola, a Rio
de Janeiro Refrescos, já havia perdido o
caso sobre o tema em julho, e um
recurso da LG só não foi julgado porque
a empresa conseguiu, no Judiciário,
impedir a análise do recurso na Câmara
Superior.
Outra via possível
O Carf é vinculado às decisões dos
tribunais superiores, e a conclusão
do STFdeverá ser aplicada aos seus
casos. O regimento, entretanto, apenas
obriga os conselheiros a seguir “as
decisões definitivas de mérito”
proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal em repercussões gerais e pelo
Superior Tribunal de Justiça em
recursos repetitivos.
Enquanto parte dos julgadores do Carf
considera uma publicação de acórdão
como válida para a aplicação de
precedentes, outros defendem o
trânsito em julgado da questão. Em
redações anteriores do regimento havia
a previsão de sobrestamento de casos
com a mesma tese de recursos em
52
análise nas cortes superiores, porém a
possibilidade não existe mais.
Não é a primeira vez que o Carf passa
por esta situação: entre a decisão
do STJque definiu o conceito de
essencialidade para insumos e a
aplicação pelo tribunal administrativo
passaram-se quase oito meses. O
mesmo descompasso é visto desde que
o STF começou a julgar a inclusão do
ICMS na base de cálculo do PIS e da
Cofins.
Isto preocupa empresas, segundo
advogados. “Esta decisão [do Carf] pode
gerar uma massa de contencioso
judicial”, afirmou a tributarista Flávia
Holanda Gaeta. A sócia-fundadora do
FH Advogados defende que a
prorrogação de uma questão que
poderia ser definida nas vias
administrativas é uma maneira de
mobilizar, de maneira inútil, o
Judiciário. “O prejuízo ao contribuinte é
de custo, tempo e economia processual.
Não faz sentido ficar brigando por algo
que está decidido, por uma questão de
lapso temporal.”
Flávia enxerga outra via como possível
para o tribunal. “Em uma demanda
assim, creio que o Carf teria obrigação
de suspender os processos com esta
matéria na pauta, em vez de agir por
conta própria porque está acobertado
pelo regimento interno”.
Perdas aos dois lados
Quando um contribuinte perde um
processo deste tipo no Carf, não apenas
a empresa passa a ter um problema.
Tributaristas apontam que até quem
ganha acaba sofrendo perdas.
Nos corredores do Carf, um advogado
exemplificou o cenário. “Quando eu
perco aqui [na Câmara Superior], eu
recorro ao Judiciário e, lá, e eu vencerei
a causa na primeira tacada”, explicou.
Como já há o conhecimento sobre a tese
do STF, o juiz de primeira instância
pode aplicar a tese em prol do
contribuinte, revertendo a decisão do
Carf.
A Fazenda Nacional, que se sagra
vencedora dos processos no Carf,
acabará, assim, por perder no final:
com a reversão do entendimento no
Judiciário, a Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN), que
representa a União em casos desta
natureza, é obrigada a arcar com os
honorários de sucumbência, conforme
determinação do Código de Processo
Civil (CPC).
Esta incerteza, concluem advogados, é
prejudicial aos dois lados, cada um a
seu tempo. “A curto prazo, há maiores
prejuízos ao contribuinte – que terá
toda a dor de cabeça de litigar, de pedir
uma tutela antecipada, ficando com o
ônus do litígio”, avalia Daniela. “A
médio e longo prazo, o prejuízo é da
Fazenda, porque estas causas serão
julgadas a favor do contribuinte”.
Procurada pelo JOTA, a PGFN afirmou
que “ainda aguarda a publicação do
acórdão do STF, que julgou o recurso
extraordinário, para concluir a
definição de sua estratégia em relação
ao tema”.
GUILHERME MENDES – Repórter
https://www.jota.info/tributos-e-
empresas/tributario/carf-stf-zona-franca-ipi-
20082019
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53
Terça-feira, 20 de agosto de 2019
TJSP declara inconstitucionalidade de restrição à restituição do ICMS-ST
Os contribuintes paulistas podem
pleitear o ressarcimento do ICMS-ST
pago a maior em períodos anteriores a
19/10/2016
• MARCELO MARQUES
RONCAGLIA
• PEDRO COLAROSSI JACOB
Crédito: Pixabay
Em 7 de agosto de 2019, o Órgão
Especial do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo declarou a
inconstitucionalidade do inciso II do
parágrafo 3º do artigo 66-B, da Lei
6.374/1989 (Lei do ICMS estadual), que
restringia o direito à restituição do
ICMS-ST pago a maior apenas para
casos de preço final fixado por
autoridade competente, os chamados
casos de pauta fiscal.
Tal declaração da inconstitucionalidade
não é uma novidade para contribuintes
paulistas, uma vez que, desde 13 de
dezembro de 2018, a Secretaria da
54
Fazenda do Estado de São Paulo –
SEFAZ/SP, por meio do Comunicado
CAT 14/2018, passou a autorizar a
admissão de pedido de ressarcimento
do ICMS-ST pago a maior. Contudo, um
trecho específico da decisão do Órgão
Especial reforça o entendimento de que
os contribuintes paulistas podem
buscar a restituição do ICMS-ST em
período maior do que aquele autorizado
pela legislação paulista.
Contextualizando a questão, em 15 de
março de 2018, transitou em julgado a
decisão do STF proferida no RE
593.849/MG, que reconheceu o direito
de todos os contribuintes brasileiros à
restituição do ICMS-ST pago a maior
nos casos em que a base de cálculo
efetiva for inferior à presumida.
Concomitantemente, o STF também
julgou a ADIn 2.777/SP, na qual foi
declarada a constitucionalidade da
antiga redação do artigo 66-B, que
autorizava os contribuintes paulistas a
restituir o ICMS-ST pago a maior.
Desse momento em diante, a
Administração Tributária paulista
editou atos legais contraditórios na
tentativa de se adequar ao
entendimento do STF. Inicialmente,
considerando que a atual redação
do artigo 66-B da Lei 6.374/1989
restringe o direito à restituição, foi
editado, em 22.5.2018, o Comunicado
CAT 6/2018 da SEFAZ/SP que, mesmo
considerando a decisão do STF no RE
593.849/MG e na ADIn 2.777/SP,
manteve a restrição ao direito de
restituição apenas para os casos
de preço final fixado por autoridade
competente (deixando de permitir a
restituição nos casos em que se aplica a
Margem de Valor Agregado – MVA).
Naquele momento, o entendimento do
Fisco Paulista, embasado no
Parecer PAT 3/2018 da Procuradoria
Geral do Estado de São Paulo, era o de
que o STF teria analisado apenas a
antiga redação do artigo 66-B e não
teria apreciado a redação vigente de tal
dispositivo na qual fora prevista a
restrição.
Posteriormente, ante a clara
contrariedade de tal entendimento
àquilo que foi decidido pelo STF, em
13.12.2018, foi editado novo ato pela
SEFAZ/SP, o Comunicado CAT
14/2018, que reconheceu o direito dos
contribuintes paulistas à restituição do
ICMS-ST pago a maior sem estabelecer
qualquer restrição naquilo que diz
respeito à modalidade de fixação do
preço final a partir de 19.10.2016.
Muito embora o direito à restituição
tenha sido reconhecido pelo
Administração Tributária do Estado de
São Paulo, os atos normativos paulistas
– assim como os de diversos outros
Estados –, estabeleceram uma série de
outras restrições cuja
constitucionalidade e legalidade são
passíveis de contestação pelos
contribuintes (a imposição de
recolhimento de ICMS-ST
complementar, a demonstração de não
repasse do ônus financeiro a terceiro
nos termos do 166 do CTN, a ausência
de prazo para análise do pedido de
restituição, entre outras).
Para o que interessa à presente, como
visto acima, no Comunicado CAT
14/2018, o Estado de São Paulo
estabeleceu que seus contribuintes
poderiam pleitear o ressarcimento do
ICMS-ST pago a maior a partir de
19.10.2016, data em que ocorreu o
julgamento RE 593.849/MG,
considerando que no julgamento desse
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recurso os Ministros do STF
determinaram que os efeitos da decisão
fossem aplicados somente para
períodos futuros.
Porém, a decisão proferida pelo Órgão
Especial do TJ/SP dá sustentação para
o argumento de que os contribuintes
paulistas podem pleitear o
ressarcimento do ICMS-ST pago a
maior em períodos anteriores a
19.10.2016.
Como visto acima, juntamente com o
RE 539.849/MG, foi julgada a
ADIn 2.777/SP, ação essa impetrada em
2003 pelo governo São Paulo para que
fosse declarada a inconstitucionalidade
da redação antiga do artigo 66-B, que
previa o direito ao ressarcimento do
ICMS-ST em caso de pagamento
antecipado a maior sem qualquer
restrição.
Ocorre que há uma sutileza quanto à
análise de tais ações e das decisões
nelas proferidas que impacta
diretamente o contribuinte de São
Paulo. No RE 539.849/MG, foi
reconhecido o direito à restituição e
declarada a inconstitucionalidade dos
dispositivos da legislação mineira que
vedavam a restituição. Por outro lado, a
ADIn de São Paulo foi julgada
improcedente e reconhecida a
constitucionalidade da redação antiga
do inciso II, do artigo 66-B da Lei
6.374/1989.
O primeiro parágrafo da ementa do
julgado da ADIn é claro: “com base no §
7° do art. 150 da Constituição Federal,
é constitucional exigir-se a restituição
de quantia cobrada a maior, nas
hipóteses de substituição tributária
para frente em que a operação final
resultou em valores inferiores àqueles
utilizados para efeito de incidência do
ICMS”
Assim, no caso de São Paulo, como a
redação antiga do 66-B, que já
reconhecia o direito à restituição, foi
julgada constitucional pelo STF, é
possível afirmar que tal dispositivo
permaneceu válido, ainda mais se
considerarmos a declaração da
inconstitucionalidade da atual redação
do artigo pelo Órgão Especial do TJ/SP,
motivo pelo qual não haveria razão de
se falar em modulação de seus efeitos
apenas para o futuro.
A análise de tal questão foi feita de
forma precisa pelo Ministro Luís
Roberto Barroso durante o julgamento
do RE 593.849/MG e da ADIn
2.777/SP. O Ministro reconheceu que
no caso de Pernambuco1 e São Paulo
não há efeitos a serem modulados uma
vez que foi reconhecida a
constitucionalidade da legislação local.
Nas palavras do próprio Ministro no
julgamento do RE 593.849/MG, “as
leis, nos casos de Pernambuco e de São
Paulo, já dão (a restituição no caso de
pagamento a maior), e eu não posso
declarar a constitucionalidade da lei e
modular os efeitos, ali não haveria
sentido.” Da mesma forma, no
julgamento da própria ADIn 2.777/SP,
o Ministro ressalta “até admito, em
doutrina, a excepcional possibilidade
de se modularem efeitos em uma ação
declaratória de constitucionalidade;
mas certamente este não é o caso.”
O entendimento manifestado pelo
Ministro Barroso a respeito da ausência
de prejudicialidade na declaração de
constitucionalidade acompanha
entendimento já consolidado no STF.
Em julgado de 2008, ao tratar da
modulação da eficácia de determinada
56
decisão, o ex-Ministro Eros Grau
consignou que tal instituto “visa a
minimizar eventuais efeitos perniciosos
decorrentes da retroatividade dos
efeitos de declaração de
inconstitucionalidade” e que
“declarações de constitucionalidade
não geram efeitos perniciosos ao
operarem retroativamente”. Por esse
motivo, o eminente Ministro concluiu
de forma muito característica que “Não
se modulam declarações de
constitucionalidade de leis ou atos
normativos – toda a gente sabe disso”2.
E é justamente nesse ponto que a
decisão proferida no último dia
7.8.2019 peloTJ/SP dá sustentação a
essa interpretação. O Órgão Especial,
no acórdão do julgado, além de atestar
a inconstitucionalidade do artigo
vigente, afirma expressamente que a
ADIn 2.777/SP declarou a
constitucionalidade da redação antiga
do inciso II, do artigo 66-B da Lei
Paulista do ICMS e que a restituição dos
valores recolhidos a maior não
configura despesa, mas cancelamento
de receita por ausência de legitimidade
constitucional para sua manutenção,
fato esse que demonstra a ausência de
impacto prejudicial a justificar qualquer
tipo de modulação.
Assim, tem-se como demonstrado
que existem argumentos, reforçados
pelo entendimento do TJ/SP, para que
os contribuintes paulistas busquem a
restituição dos valores pagos a maior do
ICMS-ST em período anterior ao
definido pela SEFAZ/SP (19.10.2016),
desde que (i) respeitado o prazo
prescricional e (ii) seja possível
comprovar documentalmente o
pagamento a maior.
___________________________
___________________________
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1 Pernambuco também previa a
restituição e ajuizou a ADIn 2.675/PE
contra sua própria legislação, da mesma
forma que São Paulo, ação essa que
também foi julgada improcedente pelo
STF.
2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal.
RE 353.657. Tribunal Pleno. Relator:
Ministro Marco Aurélio. Diário de
Justiça, Brasília, DF, 7.3.2008.
MARCELO MARQUES
RONCAGLIA – sócio do escritório
Pinheiro Neto Advogados
PEDRO COLAROSSI JACOB –
Advogado no Pinheiro Neto Advogados.
Aluno do Mestrado Profissional em
Direito Tributário da Escola de Direito
de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas.
Os artigos publicados pelo JOTA não
refletem necessariamente a opinião do
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debate sobre temas importantes para o
País, sempre prestigiando a pluralidade
de ideias.
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declara-inconstitucionalidade-de-restricao-a-
restituicao-do-icms-st-20082019
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