siqueiracastro - clipping sca...2020/05/04 · data de criação: 04/05/2020 criado por: biblioteca...
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Data de Criação: 04/05/2020
Criado por: Biblioteca
Clipping SCA
Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto
na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso
mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.
Sumário das
Matérias:
BNDES deve fazer aporte de US$ 1 bi para salvar Embraer
Valor ––04 de maio.............................................01
Crise vai levar à reconfiguração das concessões de infraestrutura
Valor ––04 de maio.............................................05
Governo planeja liquidar pelo menos duas estatais neste ano
Valor ––04 de maio.............................................07
Retomada de leilões em portos deixa de fora megaterminal em Santos
Valor ––04 de maio.............................................09
BC precisa colocar juros a zero
Valor ––04 de maio.............................................11
Privatização pode trazer flexibilidade à Nuclep, diz CEO
Valor ––04 de maio.............................................14
Movimento falimentar
Valor ––04 de maio.............................................16
Empresas reclamam de exigências da Cielo
Valor ––04 de maio.............................................18
Justiça nega maioria dos pedidos para troca de depósito judicial por seguro
Valor ––04 de maio.............................................20
Desembargadores analisam chances de empresas vencerem disputas
Valor ––04 de maio.............................................24
Negócios digitais e o conceito de insumo
Valor ––04 de maio.............................................26
Brasil quer mudar regra do Mercosul para viabilizar acordos sem Argentina
Valor ––04 de maio.............................................29
Surge uma criptomoeda governamental
Folha ––04 de maio.............................................32
Professores e pais acionam Justiça contra ensino remoto
Folha ––04 de maio.............................................34
Prefeitos e governadores pressionam deputados por fatia maior do pacote de socorro a estados e municípios
Globo ––04 de maio.............................................37
Comerciantes renegociam aluguéis, e Justiça já autoriza desconto de 70%
Globo ––04 de maio.............................................41
Divergências entre normas estaduais e municipais revelam novo atrito federativo
Conjur ––04 de maio.............................................44
Governo prorroga suspensão de tributos para exportadoras no regime de drawback
Conjur ––04 de maio.............................................47
Falta de clareza de MPs trabalhistas sobre epidemia gera alto número de ações
Conjur ––04 de maio.............................................48
Cobrança de energia de shopping será proporcional a efetivo consumo durante pandemia
Migalhas ––04 de maio..........................................50
Parcelamento e transação tributária: IGR e a situação fiscal em tempos de Covid-19
Jota ––04 de maio.................................................51
Valor Econômico
Caderno: Primeira Página, segunda-feira 04 de maio de 2020.
BNDES deve fazer aporte de US$ 1 bi para salvar Embraer
Vinte e seis anos depois da
privatização, a Embraer deve
passar a ter novamente uma
relevante participação estatal
Por Maria Cristina Fernandes —
De São Paulo
Vinte e seis anos depois da privatização,
a Embraer deve passar a ter novamente
uma relevante participação estatal. Em
ação semelhante à do governo
americano na crise de 2008 para salvar
a General Motors, o BNDES deverá
aportar pelo menos US$ 1 bilhão para
comprar ações a serem emitidas pela
empresa, o que diluirá participações
dos atuais sócios.
A resistência do Ministério da
Economia à operação foi vencida, em
grande parte, pela proximidade entre o
titular da pasta, Paulo Guedes, e o vice-
presidente do Conselho de
Administração da Embraer, Sergio
Eraldo Pinto. Eles foram sócios na
Bozano Investimentos, hoje Crescera.
Essa relação, que azeitou a decisão do
governo de não usar a ação preferencial
(“golden share”) para vetar a venda
para a Boeing, facilitará também o
desenlace agora no sentido inverso.
01
Uma emissão de ações para a venda no
mercado de capitais foi descartada em
razão da crise. Novas parcerias apenas
serão buscadas quando a pandemia
estiver superada. A ideia não é que a
União, que hoje tem, por meio da
BNDESPar, cerca de 5% da companhia,
volte a controlá-la. Isso a engessaria na
disputa de mercado. A busca é por
liquidez para atravessar o fundo do
poço da pandemia.
O passo seguinte ainda está em aberto.
O discurso oficial será o de que a
Embraer foi vítima de traição da Boeing
e precisa se recuperar para ser vendida.
É uma maneira de justificar a
contradição com o discurso de
campanha de Bolsonaro, que criticava a
“caixa preta” do BNDES.
Analistas acreditam que o vice-
presidente, Hamilton Mourão, depois
da pandemia, tentará buscar uma
parceria para a Embraer na China, que
teria viabilidade duvidosa. Primeiro
porque houve stress com o atual
governo por causa da covid-19. Depois,
porque uma aquisição da China
prejudicaria as vendas do cargueiro C-
390 Milllenium aos EUA.
Depois de 26 anos, Embraer deve voltar a ter aporte estatal
Vencida a resistência no governo,
analistas esperam participação de
US$ 1 bilhão do BNDES no capital
da companhia
Por Maria Cristina Fernandes —
De São Paulo
Pedro Celestino, presidente do Clube de
Engenharia: “Se o Brasil decidir vender agora,
não vai encontrar comprador" — Foto:
Divulgação
Vinte e seis anos depois da privatização,
o futuro da Embraer deve passar,
novamente, por participação estatal. O
aporte do BNDES deve se dar pela
emissão de, pelo menos, US$ 1 bilhão
em ações e diluição dos atuais sócios. A
ação, na baixa histórica, sinaliza que o
mercado já espera o desfecho.
A resistência do Ministério da
Economia à operação foi vencida, em
grande parte, pela proximidade entre o
titular da pasta, Paulo Guedes, e o vice-
presidente do Conselho de
Administração, Sergio Eraldo Pinto,
antigos sócios na Bozano
Investimentos, hoje Crescera. A relação,
que azeitou a decisão do governo Jair
Bolsonaro de não usar a ação
preferencial (“golden share”) para vetar
02
a venda para a Boeing, facilitará o
desenlace no sentido inverso.
"Operação seria parecida com
aquela que salvou a indústria
automobilística nos EUA na crise
de 2008"
Uma emissão para o mercado de
capitais foi descartada pela crise. Novas
parcerias apenas serão buscadas
quando a pandemia estiver superada. A
ideia não é que a União, que hoje tem,
por meio da BNDESPar, cerca de 5% da
companhia, volte a controlá-la. Isso a
engessaria na disputa de mercado. A
busca é por liquidez para atravessar o
fundo do poço da pandemia.
O passo seguinte ainda está em aberto.
O discurso oficial será o de que a
Embraer foi vítima de uma traição da
Boeing e precisa se recuperar para ser
novamente vendida. É uma maneira de
tentar contornar o discurso de
campanha do presidente Bolsonaro que
criticava a “caixa preta” do BNDES.
Quando o presidente diz que a União
busca um novo comprador já está
levando em consideração a posição
futura da BNDESPar, mas não é pra já.
O vice-presidente, Hamilton Mourão,
mais comedido, comentou que a
rescisão abre novas perspectivas para a
empresa e acenou para a busca de
parcerias depois da pandemia.
Analistas acreditam que o vice esteja
mais próximo da realidade, ainda que a
China, opção aventada por Mourão, seja
uma parceria de viabilidade duvidosa.
Primeiro porque não se acredita que os
chineses repitam, face ao stress com o
atual governo, decisões como a do leilão
do pré-sal, em que foram os únicos
estrangeiros presentes.
Depois, porque uma aquisição
majoritária da China prejudicaria o
mercado da Embraer para uma de suas
maiores apostas, o KC-390, rebatizado
de C-390 Milllenium, o cargueiro
desenvolvido para substituir o lendário
C-130 Hércules, da americana
Lockheed. O Pentágono, por exemplo,
veta aquisições de empresas com capital
majoritário chinês. E, finalmente, pesa
contra a associação com os chineses o
fracasso da operação iniciada pela
Embraer naquele país no início do
século.
A empresa foi para a China na
expectativa de que poderia por em pé
sua linha de produção do avião regional
num país que só fabricava turbo-hélice.
A produção local ficou limitada aos
jatos. No ano passado, já com a parceria
desfeita, a China não comprou um
único avião da Embraer, que passou a
competir diretamente com a Comac,
indústria local desenvolvida a partir do
know-how adquirido com a joint-
venture com a brasileira.
“A volta do BNDES à Embraer seria
parecida com a ação do governo
americano para a indústria
automobilística, especialmente a
General Motors, na crise de 2008.
Entra pra segurar e depois estrutura
uma saída com a revenda das ações”,
afirma o presidente do Clube de
Engenharia, Pedro Celestino. “Não há
comprador hoje para a Embraer num
mercado que teve sua atividade
reduzida em cerca de 90%”, destaca.
O dirigente da entidade centenária, que
congrega uma fatia importante da
comunidade técnica de fornecedores e
consultores do polo industrial do Vale
do Paraíba onde está instalada a
Embraer, não vê saída de longo prazo
para a Embraer sem uma parceria que
03
facilite a logística mundial de
manutenção das aeronaves, em função
da aquisição, pela Airbus, da maior
concorrente da Embraer na aviação
regional, a Bombardier.
A grande dúvida, entre analistas, é se o
fatiamento da Embraer em três
empresas será mantido. Quando a
operação, agora desfeita, foi firmada, a
Boeing ficaria com 80% da operação
comercial (sem conceder direito de voto
no conselho de administração aos 20%
da Embraer), e 49% de uma joint
venture criada com a empresa brasileira
para a comercialização do C-390
Millenium. Uma terceira empresa
abrigaria as linhas de defesa e dos jatos
executivos com capital 100% Embraer.
Só com essa cisão, a Embraer gastou R$
458 milhões, o que colaborou para o
prejuízo de R$, 1,3 bilhão em 2019. A
operação já havia sido aprovada pelos
órgãos de concentração no Brasil e nos
Estados Unidos mas carecia de
aprovação na Comunidade Europeia,
sede da Airbus. Ainda que não tenham
sido divulgados os resultados do
primeiro trimestre, espera-se que a
conta do fatiamento já tenha chegado a
R$ 600 milhões.
Avalia-se que, para reagrupá-la, os
gastos da Embraer (que não foram
divididos com a Boeing) cheguem a R$
1 bilhão. A alternativa, porém, é mais
custosa. A manutenção do fatiamento
traria um ônus tributário para a
operação, uma vez que a empresas
teriam que pagar ICMS e outras
obrigações nas transações internas.
A Boeing desfez a operação com a
Embraer, firmada em janeiro de 2019,
pela soma de duas crises: o fim da
operação do carro-chefe da empresa, o
737 Max, depois de dois graves
acidentes aéreos, e a pandemia da
covid-19. A empresa americana, que
fechou o primeiro trimestre do ano com
uma dívida de U$ 23 bilhões, busca
uma solução de mercado, com a oferta
de US$ 25 bilhões em títulos. Analistas
se mostram céticos sobre a capacidade
de a empresa lidar com um
endividamento que pode beirar os U$
50 bilhões num mercado de retomada
ainda incerta.
A europeia Airbus, maior empresa de
aviação do mundo, teve, no primeiro
trimestre de 2020 prejuízo de US$ 522
milhões, e, para analistas, não terá
como sair da crise sem aportes estatais.
As razões para o distrato só serão
apresentadas pela Boeing durante a
arbitragem. A dupla crise 737
Max/pandemia não está abrigada pelos
termos do contrato. A Embraer
esperava ter uma posição de caixa bem
superior ao endividamento de maneira
que seus acionistas, com a conclusão da
operação, fossem contemplados com
dividendos da ordem de US$ 1,6 bilhão.
É, sobretudo, a distribuição desses
dividendos que move a empresa na
briga judicial nos Estados Unidos, mas,
por ora, a única certeza é de que a
Embraer saia com os US$ 100 milhões
da multa contratual, o que não daria
para cobrir nem os gastos com o
fatiamento da empresa.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/05/0
4/depois-de-26-anos-embraer-deve-voltar-a-ter-
aporte-estatal.ghtml
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04
Valor Econômico
Caderno: Brasil, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Crise vai levar à reconfiguração das concessões de infraestrutura
Além do cronograma de leilões, as
premissas de demanda e
investimento precisarão ser
adequadas
Por Lu Aiko Otta — De Brasília
04/05/2020 05h00 Atualizado há 4
horas
A crise provocada pelo coronavírus
levará o governo a mudar a
configuração das concessões em
infraestrutura, disse ao Valor a
secretária especial do Programa de
Parcerias de Investimentos (PPI),
Martha Seillier. Além do cronograma de
leilões, as premissas de demanda e
investimento precisarão ser adequadas.
O governo deverá, ainda, facilitar a
entrada dos investidores financeiros
nas concessões. São os que hoje detêm
liquidez, enquanto os operadores de
infraestrutura enfrentam dificuldades
para pagar empregados e honrar
dívidas.
“A crise nos faz pensar na revisão de
regras editalícias e de contrato”,
afirmou. “Quanto mais os operadores
forem afetados em seus fluxos de caixa,
em sua capacidade de investimento,
05
mais será importante buscar o
investidor financeiro, o capital que está
em busca de retornos e bons projetos.”
A disputa por esse capital promete ser
acirrada no pós-pandemia. Esse é um
dos motivos que fez acender os sinais de
alerta na área econômica quando
começou a ganhar força uma discussão
sobre o reaquecimento da economia
pela via do investimento público, no
plano Pró-Brasil.
“É preciso tornar o ambiente de
negócios cada vez mais propício e
mostrar que somos uma nação que não
vai quebrar”, disse a secretária. A
manutenção do teto de gastos é um
importante sinal nessa direção,
afirmou.
As medidas de combate à pandemia vão
elevar a dívida pública brasileira para
perto de 90% do Produto Interno Bruto
(PIB). “Não temos condições fiscais
para abraçar um grande plano de
investimentos com recursos públicos.”
O programa de concessões ganha ainda
mais importância na retomada, avalia a
secretária. Só no Ministério da
Infraestrutura, estima-se que haja R$
250 bilhões em investimentos a serem
contratados com os leilões
programados até 2022.
Todo o esforço é para manter o
cronograma tal como estava antes do
início da crise, disse Martha. No
entanto, setores mais afetados poderão
precisar de mais tempo. Na área de
Minas e Energia, por exemplo, os leilões
de óleo e gás e os de geração e
transmissão de energia tiveram seu
calendário suspenso. A área de
telefonia, por outro lado, vive um
aumento de demanda e os preparativos
do leilão da internet 5G prosseguem.
Outro setor negativamente afetado é o
aéreo. O governo tem programado para
este ano o leilão de concessão de 22
aeroportos nas regiões Norte, Sul e
Centro-Oeste.
Já há clareza sobre algumas alterações
que serão necessárias. Por exemplo,
rever a exigência de participação
mínima de 15% dos operadores
aeroportuários nos consórcios. E alterar
a programação de investimentos
exigidos em contrato.
As regras das concessões exigem a
manutenção de um determinado nível
de serviço e conforto no aeroporto, o
que é definido pela quantidade de
passageiros. “A demanda projetada
para 2021, com certeza, está errada”,
afirmou a secretária. “O quanto, não
sabemos.”
Há muitas incertezas quanto ao uso dos
aeroportos após a pandemia. Não se
sabe em quanto tempo os voos serão
retomados, nem se eles voltarão à
quantidade de passageiros de antes da
crise. É possível que o uso de
tecnologias de comunicação imposto
pela pandemia reduza o fluxo de
passageiros em rotas como Rio-São
Paulo, por exemplo.
Por causa da queda na demanda, o
Tribunal de Contas da União (TCU)
orientou o governo a rever as projeções
de fluxo na rodovia BR-153 em Goiás e
Tocantins, a primeira concessão
rodoviária na fila de leilões. O mesmo
deverá ser feito com o trecho da BR-163
no Mato Grosso e no Pará. A
rentabilidade implícita nos preços
mínimos de pedágio poderá ser elevada,
para atrair o investidor financeiro.
06
O primeiro teste do apetite dos
investidores são os leilões de portos,
mais adiantados. Serão oferecidos, por
exemplo, três terminais de
combustíveis em Itaqui, no Maranhão,
um de veículos em Paranaguá, no
Paraná, e um celulose em Santos, em
São Paulo.
Os leilões de rodovias e aeroportos já
estavam programados para o segundo
semestre. A área técnica segue com os
preparativos para manter as condições
de realizá-los, se as condições de
mercado permitirem.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/05/04/c
rise-vai-levar-a-reconfiguracao-das-concessoes-de-
infraestrutura.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Governo planeja liquidar pelo menos duas estatais neste ano
Empresa Gestora de Ativos
(Emgea) e Agência Brasileira de
Fundos Garantidores e Garantias
(ABGF) devem ser liquidadas em
2020
Por Lu Aiko Otta — De Brasília
As privatizações do governo federal, que
já eram motivo de dúvida devido
obstáculos políticos antes da crise do
coronavírus, foram definitivamente
colocadas de lado em 2020. Mas o
processo de desestatização deve
prosseguir, com a liquidação de pelo
menos duas empresas neste ano:
Empresa Gestora de Ativos (Emgea) e
Agência Brasileira de Fundos
Garantidores e Garantias (ABGF). A
lista deve ser aumentada com a inclusão
da fabricante de chips Ceitec, informou
a secretária especial do Programa de
Parcerias de Investimentos (PPI),
Martha Seillier.
Emgea e ABGF foram incluídas no PPI
em agosto de 2019 para a realização de
estudos que indicariam o melhor
destino a ser dado a elas. No caso, o
governo já decidiu pela liquidação.
Outras seguem sob análise que poderá
indicar se o caminho é a privatização, a
liquidação ou outro. É o caso, por
07
exemplo, da Dataprev, da Companhia
Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e o
Ceagesp. Em geral, os processos estão
na etapa inicial, de contratação das
consultorias.
Na semana passada, o ministro da
Economia, Paulo Guedes, reuniu-se
com o ministro-chefe da Casa Civil,
Braga Netto, para discutir o destino da
Telebras. A empresa tornou-se
dependente do Tesouro Nacional no
ano passado, exigindo aporte de R$ 1,5
bilhão no ano passado. No entanto, o
ministro da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações, Marcos
Pontes, resiste à sua privatização.
Os estudos sugerindo o destino da
Telebras deverão ser entregues ao
governo em julho, disse Martha. Trata-
se de um caso delicado, pois a estatal
opera um satélite utilizado pelas forças
de defesa nacional. Fornece também
serviços de banda larga para escolas.
Segundo fonte da área técnica, outro
complicador é o fato de a estatal ser
uma empresa de capital aberto.
A liquidação da Emgea vem sendo
preparada desde o ano passado. Em
dezembro de 2019, o Valor informou
que a empresa pretende vender seus
ativos de forma “fatiada” em 2020 para
depois ser extinta. Na época, a previsão
era que a liquidação ocorreria em
meados deste ano.
A estatal foi criada em 2001 para
administrar os ativos “podres” da Caixa.
Sua carteira possui, por exemplo, 3.000
imóveis de mutuários inadimplentes.
Mas o principal ativo da Emgea são
valores do Fundo de Compensação das
Variações Salariais (FCVS), estimados
em R$ 13,1 bilhões em setembro
passado. A carteira total da Emgea era
de R$ 14,4 bilhões.
O FCVS não será colocado à venda, uma
vez que são créditos contra o Tesouro
Nacional. Esse foi o principal motivo
que fez o governo optar pela liquidação.
A ABGF, por sua vez, tem registrado
prejuízos operacionais recorrentes. A
principal fonte de receita da estatal é a
operação do Fundo de Garantia à
Exportação (FGE), mas desde o
segundo semestre de 2018 não há
arrecadação de prêmios para novas
operações.
Criada no governo de Luiz Inácio Lula
da Silva (2003-2010), a Ceitec tinha a
ambição de colocar o Brasil num novo
patamar tecnológico, com a fabricação
de chips e outros componentes
eletrônicos. Hoje, é conhecida como a
fabricante do “chip do boi”.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/05
/04/governo-planeja-liquidar-pelo-menos-duas-
estatais-neste-ano.ghtml
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08
Valor Econômico
Caderno: Brasil, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Retomada de leilões em portos deixa de fora megaterminal em Santos
Oferta do maior terminal de
combustíveis do país deve ficar
para o ano que vem
Por Rafael Bitencourt — De Brasília
O governo planeja leiloar 15 terminais
portuários até dezembro. O calendário é
parte do esforço do Ministério da
Infraestrutura para afastar a percepção
de que 2020 será um ano perdido para
o programa de concessões.
A lista de ativos não inclui, porém, a
oferta do maior terminal de
combustíveis do país, operado pela
Transpetro, no Porto de Santos. O
certame ficou para 2021, e servirá de
teste para medir o ânimo do investidor
após a fase crítica da pandemia. O
secretário nacional de portos do
ministério, Diogo Piloni, considera o
arrendamento do terminal como um
importante sinal de retomada do
programa de concessões.
A consulta pública sobre o novo modelo
de contrato para o Terminal de Granéis
Líquidos da Alemoa (STS08), que
envolve a etapa de preparação da
licitação, será iniciada nesta semana. As
09
contribuições do setor serão recebidas
até 17 de junho.
Apesar dos efeitos da crise, o presidente
do Porto de Santos, Fernando Biral,
afirmou ao Valor que o setor está
“bastante otimista” com os leilões de
arrendamento programados deste ano.
No caso do terminal operado pela
subsidiária da Petrobras, o executivo
avalia que a licitação chamará a atenção
de grupos de maior porte, capazes de
levantar recursos para cobrir o
investimento da ordem de R$ 1,2
bilhão, exigido no novo contrato.
“A área da Alemoa é uma das principais
do Porto de Santos, pela sua dimensão e
também por concentrar grande parte da
armazenagem e distribuição de
derivados de petróleo”, afirmou Biral,
que acaba de assumir a presidência da
administração do porto organizado, a
Santos Port Authority. Até então, ele
atuava como diretor de administração e
finanças da corporação e agora assume
o lugar do ex-presidente Casemiro
Carvalho.
Biral afirma que os efeitos da pandemia
não foram percebidos no Porto de
Santos até o fim de abril, com alguns
indicadores preliminares apontando
para o “melhor quadrimestre da
história” em movimentação. “A gente
não sentiu a crise até agora”, comentou.
Ele, porém, disse já ter recebido
informações de que o trânsito de navios
cairá a partir de maio, especialmente
aqueles com carga vinda da China.
Para dar uma ideia do porte do terminal
Alemoa, o diretor de desenvolvimento
de negócios do Porto de Santos, Bruno
Stupello, citou, em entrevista ao Valor,
que a Transpetro movimentou 6,5
milhões de toneladas de derivados de
petróleo em 2019. Isso equivale a 52%
de toda a movimentação desse tipo de
carga no Porto de Santos no período.
Entre os produtos movimentados em
operações de importação e exportação,
estão o diesel, a gasolina e o gás de
cozinha (GLP).
Stupello avalia que o arrendamento do
principal terminal de granéis líquidos
deve atrair grupos que atuam tanto em
cadeias verticalizadas do setor de
petróleo, a exemplo da Petrobras, como
os grandes operadores portuários com
ou sem presença no mercado brasileiro.
Para dar mais eficiência e ampliar a
concorrência no embarque de
combustíveis em Santos, o governo
decidiu fazer a oferta do terminal em
duas áreas separadas (STS08 e
STS08A). O custo mensal do
arrendamento deve sair por R$ 16
milhões para os novos operadores, em
contratos de 25 anos.
O terminal operado pela Transpetro
tem um área total de 443 mil metros
quadrados (m2), a ser dividida em 137,3
mil m2 para o STS08 e 305,6 mil m2
para STS08A. Hoje, o empreendimento
conta com uma capacidade de
tancagem de 345 mil metros cúbicos
(m3). Com a chegada do novo
investimento, isso deve ser ampliado
para 450 mil m3. O principal
investimento será a construção de dois
novos berços de atracação.
Stupello ressalta que a Transpetro
mantém a operação do terminal com os
sucessivos contratos de transição, em
caráter “precário”. Segundo ele, isso
permitiu a manutenção dos serviços
com um nível baixo de investimento.
10
O Ministério da Infraestrutura prevê
que, entre os 15 arrendamentos de áreas
programados para 2020, seis terão o
edital de leilão publicado ainda neste
mês - são dois terminais de celulose, em
Santos, e quatro de granéis líquidos, no
Porto de Itaqui (MA). Falta ainda o
Tribunal de Contas da União (TCU)
liberar os estudos de quatro terminais,
sendo dois de granéis minerais e
vegetais, em Aratu (BA), um de granéis
líquidos, especialmente ácido sulfúrico,
de Maceió, e outro de granéis vegetais,
em Santana (AP). Os demais passam
por ajustes finais para entrarem em
audiência pública.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/05/04/r
etomada-de-leiloes-em-portos-deixa-de-fora-
megaterminal-em-santos.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Opinião, segunda-feira 04 de maio de 2020.
BC precisa colocar juros a zero
Derrubar as taxas vai ajudar
famílias, empresas e governos a se
financiarem
Por Bernardo Guimarães
— Foto: Pixabay
Na quarta o Copom se reúne e o Banco
Central tem a chance de fazer o que já
deveria ter feito em sua última reunião:
colocar a taxa de juros Selic num nível
próximo de zero.
Os argumentos para derrubar a taxa de
juros são claros.
11
Custos de bem-estar da
desvalorização cambial são
desprezíveis perto dos ganhos
com juros mais baixos
Famílias estão precisando se endividar
para suprir suas necessidades.
Empresas estão precisando de crédito
para sobreviver. Derrubar os juros é
uma forma simples de ajudar.
O custo de bem-estar de famílias sem
renda e empresas quebrando é
altíssimo. Tanto que o governo está
programando um gasto de uns 4% do
PIB em resposta à crise para reduzir
esses custos. Uma expansão fiscal é de
fato necessária, mesmo sabendo que
boa parte do gasto não chegará onde
gostaríamos.
Com juros perto de zero, recursos que
iriam para o Banco Central financiarão
empresas ou pessoas que perderam
receitas e rendas. Essa realocação é
feita pelo mercado, sem as ineficiências
inevitáveis do pacote fiscal emergencial.
Juros mais baixos, aliás, melhoram a
situação fiscal, ainda mais deteriorada
com a crise e o aumento nos gastos.
O próprio Banco Central reconhece a
importância de prover mais liquidez e
quer poder comprar títulos privados.
Não faz sentido fazer isso sem antes
baixar os juros - e comprar os títulos
que ele mesmo emitiu.
A inflação, por seu lado, deverá ficar
abaixo da meta estabelecida pelo Banco
Central. O custo usual de baixar juros, a
inflação mais alta que o desejado, não
se aplica.
Por fim, como as expectativas de
inflação caíram bastante, uma queda de
1 ponto percentual na taxa Selic nem
compensa essa queda. Um pequeno
corte nos juros ainda implica um
aumento na taxa de juros real.
Juros baixos não vão acabar com a crise
(nenhuma medida econômica vai), mas
vão ajudar quem está sofrendo no
momento, sem efeitos colaterais
relevantes para a economia.
Os argumentos contra juros próximos
de zero são equivocados ou fracos.
Corre por aí que derrubar a taxa Selic
levaria a juros maiores no futuro e a
taxa de juros de longo prazo subiria.
Então, não ajudaria. Argumenta-se que
dados de decisões passadas mostram
isso.
Estranho, não? Até porque a evidência
empírica de outros países em geral
mostra que quando bancos centrais
reduzem os juros, as taxas longas caem.
Há alguma explicação para o efeito
contrário?
Sim, há. Quando uma redução na taxa
de juros passa a mensagem que o Banco
Central não está preocupado com a
inflação, espera-se uma inflação maior
no futuro. Assim, sobem as taxas de
juros nominais futuras. Vimos isso no
passado.
Essa lógica, contudo, não se aplica ao
cenário atual. Taxa de juros no nível
mais baixo possível é a resposta correta
de bancos centrais no mundo todo.
Então, esse efeito estranho não deve
ocorrer. Derrubar os juros vai ajudar
famílias, empresas e governos a se
financiarem nesse momento difícil.
12
Outro argumento é que derrubar os
juros levaria a uma desvalorização na
taxa de câmbio.
Investidores podem comprar títulos
brasileiros ou títulos indexados ao
dólar. Se a taxa Selic cai, os títulos
brasileiros passam a ficar menos
atrativos. Por um argumento de
arbitragem, isso leva a uma
desvalorização do real.
Quanto seria essa desvalorização?
Suponha que os juros caíssem para
0,5% ao ano agora e que em um ano
estivessem de volta ao esperado.
Digamos que os juros no período
fossem dois pontos percentuais abaixo
da trajetória esperada hoje.
Os títulos em reais renderiam 2% a
menos. Se a taxa de câmbio esperada
para o futuro não mudasse, o real se
desvalorizaria em 2% agora, para
compensar essa perda de rendimentos.
O dólar subiria 10 ou 12 centavos. Mas o
efeito dos juros no câmbio deve ser até
menor, em parte porque juros mais
baixos aliviam a situação fiscal do país e
os riscos de títulos em reais.
Seja lá como for, os custos de bem-estar
dessa desvalorização são desprezíveis
perto dos ganhos de juros muito baixos.
Outro argumento é que os bancos não
vão aumentar muito seus empréstimos
com uma taxa Selic mais baixa.
De fato, uma queda de 3% no custo do
crédito não faz tanta diferença em
operações com spread bancário alto.
Contudo, isso não é argumento para
não baixar os juros. É argumento para
derrubar o máximo possível. Se o efeito
no crédito não será grande, tampouco
será o efeito na inflação ou no produto.
Se a política monetária tem pouco
poder, as mudanças na taxa de juros
têm que ser maiores. Para baixo ou para
cima.
Por fim, a palavra credibilidade às vezes
entra no argumento.
Um Banco Central subordinado ao
governo teria, com frequência,
incentivos para estimular o produto,
ainda que isso levasse a um pouco mais
de inflação. O problema é que,
antecipando isso, as empresas
passariam a esperar inflação mais alta.
Essas expectativas acabariam se
traduzindo em preços maiores. Em
suma, a possibilidade de estimular a
economia gera um viés inflacionário.
Bancos Centrais no mundo todo
buscam arranjos institucionais para
evitar esse viés inflacionário.
No arranjo ideal, o Banco Central faz
exatamente o que gostaria de ter
prometido, para que as decisões sobre
preços e negociações salariais sejam
feitas com base em baixas expectativas
de inflação.
O plano ideal de um Banco Central
prevê aumentos de juros quando há
pressões inflacionárias. Mas também
determina que se o PIB despencar por
conta de um choque raro, e famílias e
empresas precisarem se endividar para
sobreviver, a política monetária fará o
possível para ajudar. Mesmo que isso
gere um pouco de inflação - o que nem é
o caso no momento.
No Brasil, nós temos um arranjo
institucional para lidar com o problema
do viés inflacionário: o regime de
metas. O Banco Central prometeu
inflação por volta de 4% em 2020, entre
2,5% e 5,5%. A inflação corre sério risco
13
de ficar abaixo do piso. Se a
preocupação é manter a credibilidade
cumprindo suas promessas, o Banco
Central deve fazer o possível para gerar
um pouco mais de inflação.
Bernardo Guimarães é professor
titular da EESP-FGV, com
doutorado em Economia em Yale,
e ex-professor da London School
of Economics.
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/bc-precisa-
colocar-juros-a-zero.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Privatização pode trazer flexibilidade à Nuclep, diz CEO
Estatal diversifica atividades e
inicia linha de montagem de
torres para instalações de
transmissão
Por Rodrigo Polito — Do Rio
Seixas, presidente: “Vejo duas vertentes
para Nuclep: o submarino de propulsão
nuclear da Marinha e torres de
transmissão — Foto: Divulgação
Incluída no Programa Nacional de
Desestatização (PND), a Nuclebrás
Equipamentos Pesados (Nuclep) teve
sua previsão de privatização adiada pelo
governo, de janeiro de 2021 para o
segundo trimestre do mesmo ano,
devido aos efeitos da crise. Para o
presidente da companhia, Carlos
Henrique Seixas, a depender do modelo
que for adotado pelo governo, o
processo pode ser benéfico à empresa,
cuja fábrica, localizada em Itaguaí, no
litoral Sul do Estado do Rio de Janeiro,
completará 40 anos de funcionamento
nesta semana.
14
“O PPI [Programa de Parcerias de
Investimentos] vai decidir qual será a
linha de ação a ser adotada. Ela poderá
ser muito favorável para a empresa”,
afirmou o executivo, ao Valor. “O
parceiro privado pode nos dar a
flexibilidade que não temos. O fato de
ter entrado no PND, dependendo do
estudo que for feito e da linha de ação
que for adotada, pode, sim, ser benéfico
para a empresa. Vejo com bons olhos
como algo que vai ajudar a empresa no
futuro”.
Principal fornecedora de componentes
para a indústria de energia nuclear do
país, a Nuclep aguarda a definição pelo
governo para a retomada das obras da
usina nuclear de Angra 3 e de outros
projetos do tipo no futuro. Enquanto
isso, a empresa diversificou sua atuação
e iniciou este mês a fabricação de torres
para o segmento de transmissão de
energia.
Seixas explica que a entrada no setor de
transmissão tem o objetivo de ampliar e
garantir maior previsibilidade ao
faturamento da estatal. A expectativa é
que o faturamento cresça dos R$ 146
milhões previstos para este ano, para
R$ 200 milhões em 2021 e R$ 300
milhões no ano seguinte, impulsionado
principalmente pelo mercado de torres
transmissão, que possui demanda
reprimida, fruto das concessões
contratadas nos leilões realizados pela
Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) nos últimos anos. A companhia
já possui encomendas da empreiteira
Tabocas e do grupo Neoenergia.
“As torres de transmissão vão dar o
faturamento mensal que precisamos
para manter a empresa capacitada para
construir os equipamentos para usinas
nucleares e o submarino de propulsão
nuclear da Marinha, que precisa de uma
tecnologia que nós temos”, completou
Seixas. Segundo ele, a Nuclep possui
uma certificação americana que a
credencia para fazer equipamentos e
soldas especiais para o segmento
nuclear.
As torres de transmissão serão
produzidas no parque fabril da
companhia, situado em uma área de 1
milhão de metros de quadrados. A
capacidade da linha de montagem de
torres, atualmente de 12 mil toneladas
ao ano, deverá crescer para 30 mil
toneladas por ano, em setembro, com a
chegada de novas máquinas. O
investimento na aquisição dos
equipamentos foi da ordem de R$ 9
milhões.
Em outra frente, a Nuclep está
construindo uma parte do reator do
protótipo do submarino de propulsão
nuclear em desenvolvimento pela
Marinha, cujo contrato foi assinado no
ano passado. A empresa também está
construindo uma máquina de
mineração de 1.600 toneladas para a
Thyssenkrupp, uma torre de processos
para a Petrobras e um condensador
para Angra 3.
Ele prevê tempos difíceis devido à crise.
“Vejo duas vertentes [para a Nuclep]: a
Marinha, com o submarino de
propulsão nuclear, e as torres de
transmissão. Para o restante, acredito
que haverá retração”.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/05/0
4/privatizacao-pode-trazer-flexibilidade-a-nuclep-diz-
ceo.ghtml
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15
Valor Econômico
Caderno: Empresas, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Movimento falimentar
Falências Requeridas
Requerido: Air Medic Serviços Médicos
Ltda. - CNPJ: 08.294.586/0004-07 -
Endereço: Rua Marechal Câmara, 160,
Grupos 231 e 233 Parte, Centro -
Requerente: Ariane Souza de Lima -
Vara/Comarca: 1a Vara Empresarial do
Rio de Janeiro/RJ
Requerido: Travel Roupas Ltda. -
CNPJ: 40.293.615/0001-78 - Endereço:
Av. Governador Roberto Silveira, 540,
Loja 316, Centro, Nova Iguaçu/rj -
Requerente: Daiene Preissler Gutierrez
- Vara/Comarca: 4a Vara Empresarial
do Rio de Janeiro/RJ
Falências Decretadas
Empresa: Comercial Rafael de São
Paulo Ltda. - CNPJ: 53.779.534/0001-
24 - Endereço: Rua José Casarini, 08,
Bairro Jardim Nilópolis -
Administrador Judicial: Brasil Trustee
Assessoria e Consultoria Ltda. -
Vara/Comarca: 7a Vara de
Campinas/SP
Empresa: One Distribuidora de
Medicamentos Ltda. - CNPJ:
00.006.010/0001-34 - Endereço: Av.
Cruzada Bandeirantes, 195, Bairro Vila
Jovina Ou Rua Santa Clara, 284,
Parque Industrial San José Ou Rua
16
Manuel de Carvalho, 159, Bairro Piqueri
- Administrador Judicial: A Própria
Administradora Judicial da
Recuperação Judicial Rescindida, Mga
Administração e Consultoria Ltda., Pelo
Dr. Maurício Galvão de Andrade -
Vara/Comarca: 1a Vara de Cotia/SP -
Observação: Recuperação Judicial
convolada em Falência.
Empresa: Prime Pharma Medicamentos
Eireli - CNPJ: 19.408.937/0001-29 -
Endereço: Rua Senador Caiado, S/nº,
Quadra 19, Lote 10, Sala 10, Bairro
Alvorada, Anápolis/go - Administrador
Judicial: Mga Administração e
Consultoria Ltda., Representada Pelo
Dr. Maurício Galvão de Andrade -
Vara/Comarca: 1a Vara de Cotia/SP -
Observação: Extensão dos efeitos da
falência da empresa One Distribuidora
de Medicamentos Eireli.
Empresa: Seven Pharma Distribuidora
de Medicamentos Ltda. - CNPJ:
11.361.605/0001-24 - Endereço: Rua
Tomaso Tomé, 350, Bairro Olímpico,
São Caetano do Sul/sp Ou Rua Minas
Gerais, 105, Loja 01, Centro, Ibiúna/sp -
Administrador Judicial: Mga
Administração e Consultoria Ltda.,
Representada Pelo Dr. Maurício Galvão
de Andrade - Vara/Comarca: 1a Vara de
Cotia/SP - Observação: Extensão dos
efeitos da falência da empresa One
Distribuidora de Medicamentos Eireli.
Empresa: Ton Mix Aluguel de
Máquinas e Equipamentos Para
Construção Ltda. ME - CNPJ:
09.476.695/0001-57 - Endereço: Rua
Damião Fernandes, 263, Bairro Vila
Sargento José - Administrador Judicial:
Brasil Trustee Assessoria e Consultoria
Ltda. - Vara/Comarca: 6a Vara de
Barueri/SP
Processos de Falência Extintos
Requerido: Aliança Construções Ltda. -
CNPJ: 45.944.782/0001-55 -
Requerente: Iesa Projetos,
Equipamentos e Montagens S/A -
Vara/Comarca: 2a Vara de Boituva/SP
Requerido: Gerson Loredo Me, Nome
Fantasia Estofagel - CNPJ:
01.160.496/0001-23 - Requerente:
Têxtil J. Serrano Ltda. - Vara/Comarca:
Vara Única de Muniz Freire/ES -
Observação: Desistência homologada.
Requerido: Metalúrgica Dalfer Ltda. -
Requerente: Globalcash Fundo de
Investimento em Direitos Creditórios
Multissetorial Lp - Vara/Comarca: 1a
Vara de Estrela Doeste/SP -
Observação: Homologado acordo
celebrado entre as partes.
Requerido: Omni International
Intermediação de Negócios Ltda. -
CNPJ: 08.154.483/0001-90 -
Endereço: Rua João Penteado, 1615,
Bairro do Jardim América -
Requerente: Felipe Gonçalves de
Cerqueira Lima - Vara/Comarca: 2a
Vara de Ribeirão Preto/SP -
Observação: Falta de interesse de agir.
Requerido: Serralheria Lagoinha Ltda.
ME - CNPJ: 03.573.593/0001-73 -
Requerente: Cda Comércio e Indústria
de Metais Ltda. - Vara/Comarca: 4a
Vara de Ribeirão Preto/SP -
Observação: Homologado acordo
celebrado entre as partes.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/05/0
4/b55f94a6-movimento-falimentar.ghtml
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17
Valor Econômico
Caderno: Finanças, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Empresas reclamam de exigências da Cielo
Queixas envolvem suspensão
unilateral da linha de aquisição de
recebíveis, exigência de
apresentação de informações
sensíveis dos clientes e pedido de
garantias
Por Flávia Furlan — De São Paulo
Empresas do setor de pagamentos
enviaram reclamação ao Banco Central
contra supostas práticas adotadas pela
líder, a credenciadora de cartões Cielo,
dos acionistas Banco do Brasil e
Bradesco, em meio à pandemia de
covid-19. As queixas envolvem
suspensão unilateral da linha de
aquisição de recebíveis de vendas,
chamada de “ARV”, exigência de
apresentação de informações sensíveis
dos clientes e pedido de garantias.
Consultada pelo Valor, a companhia
disse que ainda não tinha sido
notificada.
A manifestação foi encaminhada pela
Associação Brasileira Online to Offline
(ABO2O), que representa marketplaces
e subcredenciadoras, empresas que
usam o sistema das credenciadoras para
fazer suas transações, mediante o
pagamento de uma taxa. Segundo o
documento, as condições impostas pela
18
credenciadora podem trazer
“consequências severas na hipótese do
descumprimento de exigências
elaboradas unilateralmente”.
Em relação à aquisição de recebíveis, o
documento informa que o corte da linha
foi feito de forma imediata, sem
notificação prévia ou prazo que
permitisse comunicar aos
estabelecimentos comerciais para
ajustar seus fluxos de caixa.
Normalmente, estabelecimentos
comerciais recebem os recursos a cada
30 dias, mas é possível antecipar para
dois dias, com desconto. “A decisão está
em sentido diametralmente oposto ao
que vem sendo buscado pelo mercado,
devendo ser restabelecido no sentido de
permitir a liquidez imediata dos
estabelecimentos comerciais”, diz o
documento.
Em nota ao Valor, a Cielo disse que
trabalha com diversos setores e que a
relação com os estabelecimentos é
baseada em parâmetros negociais.
Ressalta que via de regra os contratos
não obrigam a Cielo a realizar as
operações de antecipação de recebíveis.
“Elas estão sempre sujeitas a análises
de risco.”
As empresas de pagamento reclamam
ainda que a credenciadora tem
solicitado informações sensíveis dos
clientes, um ponto que já foi alvo de
processo no Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade) no
passado. Outra queixa envolve a
exigência de garantia fiduciária, fiança
bancária ou seguro em valor suficiente
para assegurar a liquidação das
transações. Em 30 de março, o Banco
Central publicou a medida provisória
930, para reduzir os riscos na cadeia de
liquidação ao “blindar” o recebível dos
estabelecimentos comerciais, em caso
de recuperação judicial de algum elo da
cadeia.
“É evidente que a própria MP 930
buscou reduzir os riscos de liquidação
existentes no âmbito do SPB [Sistema
de Pagamentos Brasileiro], sem que
isso represente um incremento dos
custos aos participantes do arranjo de
pagamento”, diz o documento.
Em teleconferência na quinta, o
presidente da Cielo, Paulo Caffarelli,
disse que estão ocorrendo conversas do
setor com o BC para trazer mais
segurança e reduzir o risco sistêmico da
atividade das subcredenciadoras.
https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/05/04
/empresas-reclamam-de-exigencias-da-cielo.ghtml
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19
Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Justiça nega maioria dos pedidos para troca de depósito judicial por seguro
Nos tribunais federais, apenas
sete de 45 decisões foram
favoráveis aos contribuintes
Por Joice Bacelo e Beatriz
Olivon — De Brasília
Procurador Manoel Tavares Netto:
recursos estão incorporados ao
orçamento e são usados para políticas
públicas — Foto: Divulgação
Quatro em cada cinco decisões judiciais
sobre troca de depósitos judiciais por
seguro garantia são contrárias aos
contribuintes. Essa proporção tem base
em levantamento da Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional (PGFN) nos
cinco Tribunais Regionais Federais
(TRF) do país. Até quarta-feira haviam
20
sido registrados 45 pedidos - 38 tiveram
decisões de segunda instância
favoráveis à União e apenas sete
beneficiaram as empresas.
A questão é importante. Estão em jogo
R$ 167,5 bilhões. Esse dinheiro está
distribuído em cerca de oito mil
processos com depósitos no país. Se
houver permissão para mexer nessa
quantia, afirma a PGFN, o cofre público
será afetado e haverá impacto na
apuração do resultado primário da
União.
Isso ocorre porque o governo federal
utiliza esses recursos. Os valores dos
depósitos ficam disponíveis na Conta
Única do Tesouro Nacional e são
considerados como parte do orçamento.
É assim desde a edição da Lei nº 9.703,
de 1998.
“Está incorporado ao orçamento. É
usado, por exemplo, para a execução de
políticas públicas. Se for retirado, o
desfalque será gigantesco”, diz o
procurador Manoel Tavares Netto,
coordenador-geral da Representação
Judicial da Fazenda Nacional. “As
soluções têm que ser sistêmicas. Não
para um ou outro contribuinte. O
Executivo é quem está legitimado para
tratar da política econômica e tem
adotado medidas para proteger as
empresas”, acrescenta.
Antes da pandemia da covid-19,
pedidos de clientes para levantar os
depósitos eram vistos pelos advogados
como uma “missão impossível”. Há
jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) que beneficia a Fazenda
Nacional. Depois da crise, foram
proferidas pelo menos duas decisões
contrárias aos contribuintes, pelos
ministros Mauro Campbell Marques e
Assusete Magalhães.
As empresas passaram a enxergar esses
depósitos como uma possibilidade de
reforçar o caixa e os pedidos ao
Judiciário passaram a ser frequentes.
Especialmente depois de uma decisão
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
do dia 27 de março, que validou a
substituição dos depósitos em
julgamento de uma resolução do
Conselho Superior da Justiça do
Trabalho que dificultava o uso do
seguro garantia e da fiança bancária.
A maioria dos desembargadores, no
entanto, vem entendendo que o
posicionamento do CNJ não se aplica às
questões tributárias. Os magistrados se
apegam ao artigo 1º da Lei nº 9.703 - a
mesma norma que direcionou os
depósitos à Conta Única do Tesouro
Nacional. Nesse dispositivo consta que
os levantamentos só podem ser feitos
após o trânsito em julgado do processo,
ou seja, quando não houver mais a
possibilidade de recursos.
O procurador Manoel Tavares Netto
chama a atenção que essa norma foi
julgada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) no ano de 2010 e que os
ministros decidiram, de forma
unânime, pela constitucionalidade (ADI
1933).
“A Lei nº 9.703 é essencial em qualquer
conversa sobre levantamento de
depósito judicial, com ou sem covid-19”,
afirma James Siqueira, procurador-
chefe da Divisão de Acompanhamento
Especial da PGFN em São Paulo. No
Estado, há 18 decisões favoráveis à
União e duas desfavoráveis. A atuação
da procuradoria está concentrada na
segunda instância. “Nossa preocupação
21
é não deixar o dinheiro ser levantado”,
diz.
Segundo Juliana Furtado, procuradora-
adjunta de Defesa da 3ª Região, a
atuação de todos tem que ser
coordenada nesse momento, senão o
orçamento público não consegue
responder ao que está sendo exigido.
As empresas alegam dificuldade
financeira com a crise e tentam liberar
quantias volumosas. Um pedido da Sky
Brasil, por exemplo, envolve meio
bilhão de reais (processo nº 0009719-
73.2007.4.03.6100). A vice presidente
do TRF da 3ª Região (SP e MS),
Consuelo Yoshida, que julgou esse caso,
citou a Lei nº 9.703 e decisão do
ministro Mauro Campbell Marques que
negou pedido semelhante em março
(TP 2649). Ele também aplicou a lei e
nem entrou no mérito da pandemia,
diferentemente da ministra Assusete.
Ao negar pedido da Positivo Tecnologia,
a ministra disse que o levantamento de
depósitos sem decisões transitadas em
julgado pode comprometer o uso dos
valores pelo poder público em políticas
sociais e medidas econômicas. Ela
ainda considerou que, no site destinado
a investidores, a Positivo postou
mensagem indicando “posição de caixa
sólida” (REsp 1717330). Ela também se
baseou na Lei nº 9.703/98.
Para advogados, no entanto, essa lei
não é soberana, nem precisa ser
aplicada a qualquer custo e em
qualquer ocasião pelos juízes. Maurício
Faro, sócio do BMA Advogados, diz que
um dos fundamentos usados pelo STF
para declarar a constitucionalidade da
Lei nº 9.703 foi o de que a norma não
fere a autonomia do Judiciário.
“Então, não dá para vincular o juiz ao
trânsito em julgado para o
levantamento dos depósitos. Se
determinada essa vinculação,
consequentemente se estará dizendo
que ele não tem autonomia sobre esse
dinheiro e, por conclusão, se estará
indo contra o argumento que foi
fundamental para a declaração de
constitucionalidade da lei”, afirma Faro.
Para Cassio Gama Amaral, sócio do
escritório Mattos Filho, o argumento da
Fazenda Nacional sobre o desfalque no
orçamento não é o mais adequado
quando se pensa no direito do
contribuinte. A liberação dos valores,
diz, é relevante pela possibilidade de
auxiliar trabalhadores hipossuficientes.
”Quem precisa mais do dinheiro? O
trabalhador desempregado ou o
Tesouro, que tem solvabilidade por
natureza?”
Ele pondera que não são todas as
empresas que farão esse tipo de pedido
ao Judiciário. Para conseguir contratar
seguro garantia ou fiança bancária,
acrescenta, as companhias precisam
estar bem patrimonialmente ou ter boa
perspectiva para o futuro.
Mas, de fato, não tem sido fácil para o
contribuinte nos tribunais. Eduardo
Kiralyhegy, sócio do escritório NMK
Advogados, fez uma análise da
jurisprudência atual do TRF da 4ª
região, no sul do país, e diz que é
preciso separar esse tema em duas
discussões. Uma relacionada aos
processos que são ajuizados pelos
contribuintes para questionar
determinado tributo e a outra relativa
às execuções fiscais.
Na primeira situação, o contribuinte faz
depósitos mensais. Em vez de pagar o
tributo que considera indevido, ele
23
deposita tais valores em conta judicial.
Nesses casos, afirma Kiralyhegy, o veto
à substituição do dinheiro por seguro
tem sido unânime. O argumento dos
desembargadores é o de que não há
previsão legal - diferentemente dos
casos de execução e penhora.
Há brechas, diz, na segunda situação,
referente às execuções fiscais. “Temos
visto uma flexibilização da
jurisprudência quando há um motivo
forte, que não seja somente a situação
geral do país”, afirma Kiralyhegy. “Se
não houver comprovação da
incapacidade da empresa de honrar
com compromissos relevantes, como
folha de salários ou o pagamento de
fornecedores estratégicos, o pedido não
é deferido.”
O advogado cita decisões do
desembargador Roger Raupp Rios que
permitiram o levantamento dos
depósitos por empresas que
demonstraram estar enfrentando esse
tipo de dificuldade. Existem ao menos
duas (processos nº 5034000-
25.2019.4.04.0000 e nº 5014065-
62.2020.4.04.0000).
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/05/0
4/justica-nega-maioria-dos-pedidos-para-troca-de-
deposito-judicial-por-seguro.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Desembargadores analisam chances de empresas vencerem disputas
Critério pode ser visto nas
decisões proferidas por ao menos
dois magistrados
Por Joice Bacelo — De Brasília
Cesar Ciampolini: pedido negado por
empresa ter perdido em primeira
instância — Foto: Divulgação
Desembargadores têm levado em conta
as chances que o contribuinte tem de
vencer a ação para decidir sobre os
pedidos de liberação dos valores
depositados judicialmente. Esse critério
pode ser visto nas decisões proferidas
por ao menos dois magistrados: Cesar
24
Ciampolini, do Tribunal de Justiça de
São Paulo (TJ-SP), e Alexandre
Rossato, do Tribunal Regional Federal
(TRF) da 4ª Região, no Sul do país.
“A pretensão do contribuinte de
substituir o depósito por seguro
garantia, diante da excepcional situação
de crise provocada pelo coronavírus,
depende da análise da probabilidade do
direito material da discussão”, afirmou
Rossato em decisão de quinta-feira
passada, negando o pedido de uma
empresa.
Esse caso envolve uma companhia de
logística que discute com a União a sua
permanência no regime da
Contribuição Previdenciária sobre a
Receita Bruta (CPRB). A discussão se
dá em torno da Lei nº 13.670, de maio
de 2018, que reduziu de 28 para 17 o
número de setores que podem optar por
contribuir para a Previdência por meio
desse regime.
As empresas excluídas tiveram 90 dias
para se organizar e migrar da CPRB
para o regime que estabelece a alíquota
de 20% sobre a folha de salários. Muitas
companhias apresentaram ações
judiciais, na época, para tentar se
manter na CPRB pelo menos até o fim
daquele ano.
Foi o que aconteceu com a empresa de
logística. Ela depositou judicialmente os
valores referentes à contribuição sobre
a folha de salários de setembro a
dezembro de 2018. Obteve êxito na
primeira instância, mas o tribunal
revogou a decisão ao julgar recurso
apresentado pela Fazenda Nacional.
Alexandre Rossato entendeu, por esse
contexto, como “ausente a
probabilidade do direito material que
deu causa ao depósito” (apelação civil
nº 5033594-87.2018.4.04.7000).
Já o desembargador Cesar Ciampolini,
do TJ-SP, trata, nas suas decisões,
sobre a “aparência de bom direito”. Ele
proferiu ao menos duas nesse sentido.
Uma favorável à liberação dos recursos
e outra contrária. Ambas tratam de
casos entre particulares. Ciampolini
atua na 1ª Câmara Reservada de Direito
Empresarial.
Um dos casos julgados por ele envolve a
Volkswagen Brasil. O desembargador
permitiu à empresa levantar R$ 15,2
milhões que estavam depositados
judicialmente como garantia em um
processo de cobrança ajuizado pela
Keiper Tecnologia de Assentos, antiga
fornecedora da companhia.
A Volkswagen, que já tinha decisão de
mérito favorável em primeira instância,
alegou ao desembargador que a
liberação do dinheiro seria útil no “giro
empresarial”, em razão “dos notórios
malefícios à economia impostos pela
pandemia” (processo nº 1028183-
62.2016.8.26.0564).
“Por mais que as credoras ataquem a
sentença, o fato é que a Justiça, em
primeiro grau, disse ter bom direito à
devedora. Incontestável, assim, a
aparência de bom direito”, disse o
desembargador na decisão.
O julgador condicionou o levantamento
do depósito à apresentação, pela
Volkswagen, de seguro garantia ou
carta fiança, em valor 30% superior à
cobrança. “Na forma do parágrafo 2º do
artigo 835 do CPC [Código de Processo
Civil]”, frisou.
25
A mesma fundamentação serviu de base
para Ciampolini negar o pedido foi feito
por uma outra empresa. A discussão,
nesse caso, envolve a exigibilidade de
duplicatas sacadas em razão de um
contrato de fornecimento de
mercadorias (processo nº 1005159-
45.2016.8.26.0292). “Não vejo como
dar preferência às necessidades de caixa
da apelante, vencida em primeira
instância, em detrimento da apelada,
vencedora”, afirmou o desembargador
na decisão.
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/202
0/05/04/desembargadores-analisam-chances-
de-empresas-vencerem-disputas.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Negócios digitais e o conceito de insumo
Os insumos ficaram reduzidos aos
gastos diretamente utilizados na
prestação de serviços
Por Cassius Lobo
Questão de grandes controvérsias entre
os contribuintes, Judiciário e Fisco, e
que se encontra parcialmente definido
após o julgamento do Recuso Especial
n° 1.221.170/PR pelo Superior Tribunal
de Justiça (STJ), é o conceito de
insumos para o devido creditamento e
apuração das Contribuições PIS/Cofins,
seja qual for a atividade da pessoa
jurídica.
E o motivo decorre, de um lado, pelo
fato de a nossa legislação sobre o
conceito de insumos ser muito
conflitante e, de outro, pelo surgimento
de novas tecnologias que impactam
diretamente na forma como os negócios
acabam sendo estabelecidos. Uma das
recentes discussões gira em torno da
possibilidade de creditamento pelas
empresas que atuam digitalmente sobre
os valores despendidos à título de
publicidade/propaganda e sobre as
taxas cobradas pelas administradoras
de cartões.
26
Os insumos ficaram reduzidos aos
gastos diretamente utilizados na
prestação de serviços
Interessa-nos, nessa exposição jurídica,
versar acerca do adequado tratamento
tributário dos insumos pelas atividades
desenvolvidas nos negócios digitais.
Sabe-se que a economia digital é o
resultado de um processo
transformador trazido pela tecnologia
da comunicação e mudança nos padrões
de informação, modificando, assim, os
processos de negócios e promovendo a
inovação em todos os setores da
economia.
Como a economia digital - por meio de
e-commerce, aplicativos e outras
plataformas digitais - está se tornando
cada vez mais a própria economia, seria
incoerente que as normas tributárias
fossem interpretadas sem levar em
consideração as especificidades de tais
atividades, como a essencialidade e
relevância de suas despesas para efeitos
de creditamento das contribuições
PIS/Cofins.
Para uma melhor análise do tema,
principiemos rememorando que
legislador pátrio, ao tratar das
contribuições PIS/Cofins, possibilitou
que em algumas hipóteses os
respectivos tributos sejam apurados
pelo regime não cumulativo. Daí que,
para a concretização da não
cumulatividade das contribuições aqui
discutidas, adotou-se o método
subtrativo indireto ou também
conhecido como “base contra base”, em
que o crédito apurado deve ser
descontado sobre uma base de débito
(faturamento ou receita bruta).
Desrespeitando toda a lógica da não
cumulatividade, por meio das
Instruções normativas nº 247/02 e
404/04, a Receita Federal do Brasil
introduziu em nosso ordenamento
jurídico uma interpretação restritiva.
Vê-se, daí, que os insumos ficaram
reduzidos apenas aos gastos
diretamente utilizados/aplicados na
prestação de serviços. Ou seja, apenas
os bens e serviços aplicados ou
consumidos diretamente na atividade.
Todavia, após diversos
questionamentos dos contribuintes, o
Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do REsp n.°1.221.170 sob o
rito dos repetitivos, definiu que, para
efeitos de creditamento das
contribuições PIS/Cofins, o conceito de
insumo deve ser construído com base
em critérios de essencialidade ou
relevância. Ou seja, deve ser levado em
consideração a imprescindibilidade ou a
importância das despesas incorridas
para o desenvolvimento da atividade
econômica desempenhada. Em
consequência, e corretamente diga-se
de passagem, foi declarada a ilegalidade
das Instruções Normativas nº
247/2002 e nº 404/2004 da Receita
Federal.
Dentro deste contexto, não restam
dúvidas que as despesas decorrentes
das taxas cobradas pelas
administradoras de cartões de débito e
crédito, bem como dos valores
despendidos com marketing e
publicidade, são extremamente
essenciais e relevantes para o
desenvolvimento das atividades das
empresas digitais, as quais não
possuem presença física junto aos seus
clientes.
No primeiro caso, a essencialidade resta
caracterizada pelo fato de que a
27
inexistência de estrutura física para
contratação dos serviços ou aquisição
de mercadorias das empresas digitais
basicamente as obriga que os
pagamentos sejam realizados à
distância e processados de forma
instantânea, ocorrendo,
majoritariamente por cartões de débito
e crédito. Nessas operações, ocorrem
despesas decorrentes das taxas
cobradas pelas administradoras de
cartões de débito e crédito.
No segundo caso, as despesas
incorridas com os serviços de
publicidade e marketing também se
amoldam ao conceito de essencialidade
e relevância, visto que a inexistência de
presença física dos negócios digitais
traz a necessidade de divulgação de sua
empresa através da contratação de
serviços especializadas. Até porque,
uma loja virtual, diferentemente de
uma física, só teria suas atividades
conhecidas pela ampla publicidade.
Aqui, cumpre salientar que o Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais
(Carf) já possui decisões que reforçam
os argumentos defendidos neste
parágrafo.
Percebe-se, portanto, que em ambos os
casos os posicionamentos aplicados aos
negócios “tradicionais” não devem ser
replicados aos negócios digitais, ante as
especificidades de suas operações.
Deste modo, é primordial, neste
momento, aguardar os posicionamentos
jurisprudenciais e administrativos
acerca do adequado tratamento
tributário das despesas aqui debatidas.
Cassius Lobo é mestre em Direito
Tributário pela Universidade
Católica de Lisboa, Presidente da
Associação Brasileira de Estudos
Fiscais (ABREF) Professor de
Direito Tributário na Faculdade
de Pinhais (FAPI) e Sócio do
escritório Kuster Machado
Este artigo reflete as opiniões do
autor, e não do jornal Valor
Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas
informações acima ou por
prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas
informações
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/05/0
4/negocios-digitais-e-o-conceito-de-insumo.ghtml
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28
Caderno: Mercado, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Brasil quer mudar regra do Mercosul para viabilizar acordos sem Argentina
Ação viria diante do anúncio do país
vizinho de que abandonará negociações
de acordos da organização
Bernardo Caram
BRASÍLIA
Diante do anúncio da Argentina de que
abandonará negociações de acordos do
Mercosul, o governo brasileiro quer
sugerir mudanças nas regras de
funcionamento do bloco para viabilizar
tratativas comerciais sem a participação
do país vizinho.
Negociadores brasileiros argumentam
que regras vigentes hoje podem impedir
o andamento de acordos futuros se não
houver aval do governo argentino. A
ideia, segundo relato feito à Folha, é
retirar essas travas.
A preocupação diz respeito não apenas
a futuras iniciativas, mas também a
diálogos já iniciados formalmente nos
últimos anos com países como Canadá,
Coreia do Sul, Líbano e Singapura.
29
Alberto Fernández, presidente da Argentina;
país já havia anunciado que deixará de participar
das negociações de acordos comerciais do
Mercosul - Gonzalo Fuentes -
5.fev.2020/Reuters
Criado em 1991, o Mercosul tem como
membros fundadores Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai. A Venezuela aderiu
ao bloco em 2012, mas está suspensa
desde 2016.
Na sexta-feira (24), a Argentina
anunciou deixará de participar das
negociações de acordos comerciais do
Mercosul, com exceção dos dois mais
importantes em andamento, com a
União Europeia e a Associação
Europeia de Livre Comércio (Efta).
O país vizinho afirmou que a decisão se
deve ao fato de que a prioridade agora é
o combate ao coronavírus e as
emergências econômicas internas
causadas pela pandemia. No
comunicado, ponderou que “não será
obstáculo para que os demais países
prossigam com seus diversos processos
de negociação”.
O governo brasileiro viu como positivo
o comunicado dos argentinos porque
deixa claro que eles querem ficar de
fora do processo de abertura do bloco,
facilitando a ação dos outros
componentes. Entre os negociadores, a
avaliação é de que a mensagem foi um
presente dado aos outros membros, que
agora têm liberdade para reformatar o
bloco sem maiores tensões políticas.
Em outra linha de análise, membros do
governo afirmam que a “saída elegante”
da Argentina seria uma desculpa
encontrada porque o país não tem
consenso nas negociações e teme
a aproximação entre Brasil e Estados
Unidos.
Em resolução editada em 2000, os
países fundadores do Mercosul
firmaram o compromisso de negociar
acordos de natureza comercial e
tarifária sempre de forma conjunta.
Esse, portanto, seria o principal entrave
para o andamento dos trabalhos a
partir de agora.
O governo brasileiro aguarda uma
definição mais clara sobre o que a
Argentina fará para propor as
mudanças, mas a ideia é mudar as
regras para retirar o país das novas
tratativas e criar mecanismos de
proteção para o restante do grupo.
No caso de um novo acordo comercial,
por exemplo, a economia argentina
ficaria totalmente segregada dos termos
firmados. Seriam impostas regras para
impedir que o país vizinho se
beneficiasse do livre comércio ou de
tarifas mais favoráveis.
A avaliação entre membros do governo
é de que a mudança não significaria o
"início do fim" do Mercosul. Nas novas
regras, o Brasil quer que haja uma
cláusula para que a Argentina possa
retornar às negociações quando houver
uma mudança de governo ou de diretriz
da política externa.
30
O presidente da Argentina, Alberto
Fernández, tomou posse no fim do ano
passado. A campanha presidencial
argentina foi marcada por trocas de
farpas entre ele e o presidente Jair
Bolsonaro.
O presidente brasileiro não escondeu
que preferia ter visto o ex-presidente
Mauricio Macri reeleito e afirmou por
mais de uma vez que a volta do
peronismo ao poder na Argentina
poderia gerar uma “nova Venezuela” no
continente sul-americano.
Fernández, por sua vez, defendeu
durante a campanha a liberdade do ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e,
no dia de sua vitória eleitoral, posou
para fotos fazendo um “L” com as mãos,
símbolo do petista.
Após a campanha, porém, ambos os
governos passaram a dar sinais de que
pretendem trabalhar para melhorar a
relação entre os dois países.
Para membros do governo brasileiro, os
argentinos indicam que, ao menos na
atual gestão, seguirão um caminho de
maior fechamento e desintegração da
economia.
Atualmente, a Argentina é o terceiro
maior parceiro comercial do Brasil,
atrás de China e Estados Unidos.
Segundo dados do Ministério da
Economia, a corrente de comércio entre
os dois países somou US$ 4,4 bilhões
(R$ 23,9 bilhões) no primeiro trimestre
deste ano, mas o saldo da balança foi
negativo para o Brasil em US$ 69
milhões (R$ 374 milhões).
Formalmente, o Itamaraty informou
que a decisão do país vizinho de
suspender as negociações dá
transparência aos processos e facilitará
a busca por melhores resultados a todos
os membros do Mercosul que estão
interessados na abertura comercial com
o mundo.
“O governo brasileiro continuará, junto
com Paraguai e Uruguai, a perseguir o
objetivo de comércio aberto e livre com
outros países”, disse em nota.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/05/br
asil-quer-mudar-regra-do-mercosul-para-viabilizar-
acordos-sem-argentina.shtml
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31
Caderno: Mercado, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Surge uma criptomoeda governamental
e-RMB é vinculada à moeda chinesa e
operada pelo banco central do país
No meio da crise da Covid-19 surge a
primeira criptomoeda governamental, o
e-renminbi (e-RMB). Havia muito
tempo já se especulava se as moedas
virtuais não seriam mais cedo ou mais
tarde adotadas por Estados nacionais.
Esse momento chegou. A China lançou
na semana passada e está expandindo
testes com esse ativo virtual, vinculado
à moeda chinesa e operado pelo banco
central do país.
Cidades como Pequim, Chengdu e
Shenzhen são algumas das primeiras a
atuar no projeto. Por exemplo,
funcionários públicos dessas cidades
vão começar a receber salários na nova
moeda virtual a partir de maio. Um
aplicativo específico de carteira virtual é
utilizado para fazer transações.
No entanto, a facilidade de uso é total.
Isso ocorre porque na China a maioria
dos pagamentos já é hoje digital. Tudo
se paga pelo celular.
Moradores de rua, por exemplo,
carregam placas com seu código QR,
porque sabem que o celular é a única
forma de receberem um auxílio (quase
ninguém carrega dinheiro em papel). Só
que esses pagamentos digitais ainda
eram atrelados ao dinheiro
convencional. A ideia é que agora
32
possam funcionar também com base na
nova moeda virtual.
Tudo isso contrasta fortemente com a
situação do Brasil, país em que 1 de
cada 3 adultos não tem sequer conta
bancárias. As imagens de pessoas
dormindo nas ruas em longas filas na
porta de agências da Caixa para tentar
receber o auxílio emergencial dão conta
do tamanho da calamidade que a
exclusão financeira provoca.
Países como a Índia e a China
promoveram, nos últimos dez anos, um
processo de bancarização gigantesco. O
Brasil ignorou essa questão e agora
paga um preço enorme por isso,
cobrado em vidas.
Com a nova moeda virtual, a China
aprofunda a digitalização da sua
economia, com possíveis repercussões
globais.
É curioso notar que o que acelerou a
moeda virtual do país foi justamente
a publicação pelo Facebook do seu
projeto chamado Libra. No projeto, a
empresa propunha criar uma moeda
virtual global, que poderia servir de
alternativa monetária ao dólar.
Lançado com grandes expectativas, o
projeto do Facebook acabou paralisado.
Produz agora um efeito concreto, de ter
impulsionado a China a correr e tomar
uma iniciativa similar, não em nome de
uma empresa, mas sim de um país.
A medida é também um movimento
preventivo contra a crescente
politização do dólar. A moeda
americana vem sendo progressivamente
utilizada como instrumento de política
externa. Em 2019, empresas europeias
foram ameaçadas de exclusão do
sistema de compensação internacional
do dólar pela rede Swift por estarem
vendendo para o Irã.
Para se precaver desse movimento, a
expectativa é que o e-RMB seja um
passo na criação de outro sistema de
transações monetárias internacionais
que não precise da rede Swift (criada
em 1973) para serem completadas. Em
vez dessa rede, adota-se estrutura
baseada em blockchain, de aplicação
global. Só que, em vez de atrelar-se à
imprevisibilidade de várias
criptomoedas, vincula-se a uma moeda
fiduciária emitida por um Estado
nacional.
Esse pequeno passo pode ser o bater de
asas da borboleta capaz de influenciar o
curso natural das coisas e provocar um
furacão do outro lado do mundo.
READER
Já era Achar que criptomoeda é coisa
de maluco
Já é Explosão de criptomoedas
autônomas, como bitcoin, ether e
lumen
Já vem A corrida das criptomoedas
estatais, em que o vencedor leva tudo
Ronaldo Lemos
Advogado, diretor do Instituto de
Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldo
lemos/2020/05/surge-uma-criptomoeda-
governamental.shtml
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33
Caderno: Mercado, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Professores e pais acionam Justiça contra ensino remoto
Ações pedem que aulas a distância não
sejam contadas como horas
obrigatórias
Úrsula Passos
RIO DE JANEIRO
Mais de um mês após o fechamento das
escolas em todo o país por conta da
pandemia, começam a surgir
questionamentos quanto à eficácia de se
considerar que as aulas não presenciais
e atividades a distância possam
substituir o que o aluno aprende na
escola.
Sobretudo na rede pública, em que o
acesso dos estudantes e professores à
internet muitas vezes é inexistente ou
precário, teme-se o aprofundamento
das desigualdades no aprendizado.
É com essa preocupação que começam
a surgir ações do Ministério Público e
projetos de lei para impedir que o
ensino remoto na educação básica seja
contabilizado como parte das horas
letivas obrigatórias estipuladas pelo
Ministério da Educação.
O ministério permitiu a flexibilização
dos 200 dias obrigatórios no ano letivo,
mantendo, porém, a exigência das 800
horas. Nesta semana, o Conselho
Nacional de Educação recomendou que
as aulas não presenciais sejam contadas
na carga horária, abrindo a
possibilidade para que conselho
34
estaduais e municipais, que regulam
rede pública e privada, permitam a
prática.
Gabriella Orion Felix Benz com apostilas e
computador para o ensino à distância em
São Paulo - Rubens Cavallari -
27.abr.20/Folhapress
No Rio de Janeiro, vai a plenário para
discussão nesta quinta (30) na
Assembleia Legislativa projeto de lei
dos deputados Waldeck Carneiro (PT) e
Flávio Serafini (Psol) para a suspensão
do calendário letivo na rede estadual,
que tem mais de 700 mil alunos, não
interferindo na oferta de conteúdo
online e garantindo o término ainda em
2020 apenas para os alunos do último
ano do ensino médio, por conta dos
vestibulares.
No estado, aulas são transmitidas pela
televisão, salas virtuais foram criadas
em parceria com o Google Classroom e
material impresso e chips de internet
estão sendo distribuídos aos alunos.
Segundo a Pnad 2017, 65% dos
domicílios fluminenses têm acesso à
banda larga —o menor índice é o do
Pará, com 29%, e o maior, do Distrito
Federal, 78%.
“A principal preocupação no momento
deveria ser a oferta de atividades
educacionais emergenciais,
extraordinárias, online ou
encaminhadas aos alunos, mas a
preocupação com o calendário agora
não é relevante”, diz Carneiro.
Em Goiás, as aulas não presenciais
acontecem desde 23 de março por meio
de plataforma digital e atividades
televisionadas, além da distribuição de
material impresso em parceria com os
conselhos tutelares e a Polícia Militar.
No começo de abril, o Ministério
Público recomendou ao conselho de
educação goiano a suspensão das
atividades obrigatórias, mas o órgão
disse que não atenderia à
recomendação, apresentando razões
que não foram aceitas pela promotora
do caso, Maria Bernadete Ramos
Crispim. Ela então pede na Vara de
Fazenda uma liminar que suspenda a
resolução do conselho em validar as
horas do ensino remoto.
“Diante das reclamações de pais e
professores, eu fiz a recomendação para
que revogassem a decisão, uma vez que
não atendia à coletividade dos alunos e
aumentava a desigualdade entre rede
privada e pública”, diz Crispim. “Não é
o momento de implantar aulas dessa
maneira, pois parte dos estudantes não
têm acesso à internet, o que aumenta
ainda mais o fosso entre os alunos”,
completa a promotora.
A Secretaria de Educação de Goiás diz
estar cumprindo as determinações dos
conselhos estadual e nacional de
Educação. Ainda segundo a secretaria,
os alunos têm mostrado produtividade.
O Sindicato dos Trabalhadores em
Educação Pública do Paraná procurou o
Ministério Público Estadual e o do
Trabalho contra a educação a distância
proposta pelo governo do estado, com
plataforma online, aplicativo, aulas pela
35
televisão e distribuição de apostilas. O
conselho de educação paranaense,
porém, ainda não normatizou a
contagem das horas letivas.
A orientação do Ministério Público do
Paraná é de que as Promotorias de
Justiça que atuam na área de educação
acompanhem e fiscalizem as propostas
elaboradas e executadas no estado e nos
municípios para que se garanta a
qualidade e o acesso dos alunos às
atividades.
Em São Paulo, o ensino remoto com
carga horária obrigatória começou na
segunda (27). No começo de abril, a
Apeoesp, sindicato que representa os
professores da rede estadual de SP, já
havia procurado o Ministério Público
contra a medida.
No dia 20, o Ministério Público de
Sergipe emitiu recomendação para que
escolas públicas e particulares
antecipem férias de funcionários e
professores. No estado, o ensino remoto
está se dando por meio de plataforma
online e transmissão de aulas pela TV.
Em Pernambuco, o Sindicato dos
Trabalhadores em Educação formalizou
denúncia no Ministério Público para
que atividades não presenciais não
sejam consideradas como substituição
de aulas.
Foi também o que fizeram, no Ceará, os
membros da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, onde o ensino
remoto começou em 30 de março, além
de procurarem o Conselho Estadual de
Educação e as secretarias municipais e
a estadual. De acordo com dados do
Sistema Permanente de Avaliação da
Educação Básica, em 2018, um a cada
quatro estudantes da rede pública não
tinha acesso à internet.
A Campanha é uma rede de defesa do
direito à educação que reúne
organizações e entidades nacionais há
20 anos. O grupo organizou guias sobre
o ensino a distância na pandemia
destinados a profissionais de educação,
famílias e poder público nos quais são
apresentadas recomendações para
garantia do direito à educação, além de
dados.
“Claro que a escola precisa sugerir
atividades, promover debates sobre o
momento que estamos vivendo,
contextualizar, mas de forma
complementar, que não conte como dia
letivo e carga horária obrigatória”, diz
Andressa Pellanda, coordenadora da
Campanha. “Mesmo que houvesse
provisão de tablets e internet a todos,
não há condições de aprendizagem
porque muitos estão passando fome”,
diz.
Para Mary Guinn Delaney, assessora
regional da Unesco em educação para
saúde e bem-estar na América Latina e
Caribe, os estudantes sem acesso a
rádio, televisão e dispositivos online são
os mais desfavorecidos pelos programas
de educação a distância, e o uso apenas
de materiais impressos não oferece
suficiente interação com professores e
outros alunos.
Ela chama atenção ainda para a
necessidade de se garantir a equidade
de gênero nessa forma de ensino. "As
meninas podem estar em desvantagem
no acesso e uso de dispositivos, além de
terem menos tempo de aprendizagem
devido às tarefas desproporcionalmente
maiores do lar”, diz.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/
05/professores-e-pais-acionam-justica-contra-
ensino-remoto.shtml
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36
Caderno: Mercado, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Prefeitos e governadores pressionam deputados por fatia maior do pacote de socorro a estados e municípios
Representantes dos entes subnacionais
defendem mudanças na distribuição
dos recursos, mas cobram urgência na
aprovação
Pedro Capetti, Eliane Oliveira e
Amanda Almeida
03/05/2020 - 18:07 / Atualizado em
03/05/2020 - 20:43
Presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, e o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia Foto: Jorge
William / Agência O Globo
RIO - As mudanças nas regras de
divisão do pacote de socorro aos
estados e municípios, aprovado na noite
de sábado no Senado, gerou
insatisfação de prefeitos e
governadores, que agora lutam para
reverter as perdas e regras da
distribuição na Câmara. Entidades que
representam prefeitos e alguns estados,
como o Rio de Janeiro, iniciaram nos
bastidores as negociações para
mudança do projeto na Câmara.
37
A previsão é que o texto seja apreciado
pelos deputados nesta segunda, em
sessão remota.
Anteriormente, dos R$ 60 bilhões
destinados para repor a perda de
arrecadação de impostos e financiar
ações na área da saúde para o combate
ao novo coronavírus, R$ 28 bilhões
seriam destinados aos cofres das
cidades, enquanto os governos
estaduais ficariam com R$ 32 bilhões. A
divisão inclui tanto os recursos que
podem ser empregados de acordo com a
escolha do governo local, quanto os que
precisam ser aplicados em saúde.
O texto aprovado, no entanto, tirou R$
5 bilhões dos cofres municipais,
passando para as mãos dos
governadores. Com isso, prefeitos
ficariam com apenas R$ 23 bilhões da
distribuição, enquanto governadores
receberiam o restante, estimado em R$
37 bilhões.
A
divisão do recurso Foto: Arte
Prefeitos alegam que precisam ser
recompensados pela perda na
distribuição dos recursos, mas pedem
celeridade na aprovação da medida,
diante da frustração na arrecadação de
impostos e da necessidade em
investimentos em ações de saúde e
assistência social. Governadores e
secretários de Fazenda, por sua vez,
ressaltam que o pacote não recompõe
os prejuízos gerados pela pandemia.
As possibilidades de alterações, no
entanto, podem fazer com que o texto
retorne ao Senado, atrasando ainda
mais a sanção do socorro pelo
presidente Jair Bolsonaro (sem
partido). Isso faria com que os recursos
demorassem ainda mais para chegar
aos entes subnacionais.
Em nota técnica publicada neste
domingo, a Frente Nacional dos
Prefeitos afirmou que o rateio do
38
auxílio total aprovado pelo Senado ficou
desproporcional, favorecendo mais os
governos estaduais em detrimento dos
municípios. Segundo a FNP, a divisão
entre estados e municípios não foi na
proporção de 60% para estados e 40%
para municípios, conforme aventado
inicialmente.
Se considerado todo o pacote aprovado,
no total de R$ 120 bilhões, que inclui os
benefícios com a suspensão do
pagamento das dívidas dos entes
subnacionais com a União, o benefício
dos governos estaduais responde por
75% do total, cerca de R$ 89,2 bilhões.
"Será necessária uma nova rodada de
negociações para socorrer os
municípios, especialmente mais
populosos, que estão com suas receitas
derretendo", diz a Frente, que
representa os municípios com
população acima de 80 mil habitantes,
em documento publicado neste
domingo.
Diante da urgência e da necessidade de
mudança no texto, a Confederação
Nacional dos Municípios articula nos
bastidores uma forma de compensar os
municípios, sem que haja prejuízo na
aprovação da medida ainda esta
semana.
Uma possibilidade é o encaminhamento
de pontos pacíficos no texto para
sanção presidencial, como a suspensão
do pagamento da dívida, deixando a
discussão sobre a divisão do socorro de
R$ 60 bilhões em aberto.
- O ideal é trabalhar em cima do PL
(projeto de lei). Aquilo que se tem
acordo e entendimento, podemos
encaminhar para sanção e aquilo que
precisa ser alterado e modificado,
encaminhamos de volta para o Senado
na tentativa de buscar a aprovação -
explica Glademir Aroldi, presidente da
CNM.
Aroldi não descarta que outras formas
de recomposição do valor perdido no
Senado sejam discutidos nas próximas
horas, como a possibilidade e promessa
de um novo pacote no futuro. Ele
ressalta que os recursos farão falta aos
já combalidos cofres municipais.
- Não dá pra ficar esperando muito
tempo, tem que votar da melhor
maneira possível, construir algo que
possa compensar esse prejuízo que os
municípios tiveram. R$ 5 bilhões fazem
muito mais falta para os municípios do
que para os estados. No orçamento dos
estado brasileiros é insignificante, nos
municípios é muita coisa - ressalta.
Estados cobram celeridade
Na avaliação de representantes dos
estados, o texto aprovado permitirá a
reposição de apenas parte das receitas
frustradas.
Para Luiz Claudio Rodrigues de
Carvalho, secretário de Fazenda do
estado do Rio, o estado fluminense teria
direito efetivo a cerca de R$ 4,8 bilhões
do pacote, uma vez que já conta com o
pagamento da dívida com a União
suspenso em virtude do Regime de
Recuperação Fiscal. Já as perdas
estimadas somente com os efeitos da
Covid-19 na economia giram em torno
de R$ 15 bilhões.
- Isso não é uma recomposição de
perdas, está muito longe disso. Se fosse,
seria uma divisão dos recursos
diferentemente da aprovada. Alguns
estados terão auxílio maior que a perda,
enquanto outros, como o Rio, terão
39
ajuda muito inferior a perda de receita -
ressaltou.
Carvalho afirma que o estado articula
com a bancada de deputados do Rio
para que as regras de divisão dos
recursos levem em consideração a
proporção de perdas de arrecadação do
entes subnacionais, a mudança no
prazo de ajuda, de quatro para seis
meses, e o aumento do valor do pacote.
- É uma escolha de Sofia, aprovar um
projeto insuficiente dada a urgência ou
buscarmos os aperfeiçoamentos na
Câmara e termos um prazo maior para
aprovação. Entre os dois, eu talvez eu
defenda o aperfeiçoamento do projeto,
ainda que ele demore mais. Os valores
são infinitamente inferiores à
necessidade - explicou.
Uma vez sancionada pelo presidente da
República, a nova lei determinará o
repasse dos recursos a partir do
próximo dia 15 de maio. Este é o
capítulo mais esperado para os estados,
na avaliação do governador do Piauí,
Wellington Dias (PT).
- Teremos a vantagem da
previsibilidade - disse Dias.
Dias afirmou que pretende trabalhar
pela implementação da regra da
suspensão das parcelas e encargos da
dívida ainda na Câmara. Acrescentou
que, no Piauí, com a melhora da
proposta, será possível chegar a 80% do
que seria a receita, estimando uma
queda de 35% a 40% no período.
O secretário da Fazenda do Rio Grande
do Sul, Marco Aurélio Cardoso, também
considera importantes as mudanças
feitas no Senado, para garantir maior
peso às perdas de ICMS dos estados.
Ele afirmou que, no estado, a queda de
arrecadação está projetada em R$ 900
milhões, sendo que há havia, antes
disso, uma situação fiscal bastante
delicada, ainda que com um vigoroso
ajuste de receitas e despesas antes desta
crise.
- Embora acreditemos que as regiões
Sul e Sudeste estão recebendo um
suporte inferior ao necessário pelo
tamanho da crise, o mais importante
agora é garantir que esses recursos
cheguem de forma rápida - disse
Cardoso.
O governador de Minas Gerais, Romeu
Zema (Novo), não comentou o texto
aprovado no sábado pelo Senado. No
entanto, fez questão de reivindicar
algum tipo de compensação para a
perda de receita do estado com o ICMS
em uma rede social.
Ele afirmou que Minas Gerais deve
deixar de arrecadar, em ICMS, este ano,
em torno de R$ 7,5 bilhões. Para
manter o funcionamento do estado,
será necessário algum tipo de
compensação das perdas pela União.
"Não queremos recurso de graça.
Defendo contrapartida. Mas
necessitamos de um valor que se
aproxime do que perderemos", disse
Zema em uma rede social.
https://oglobo.globo.com/economia/prefeitos-
governadores-pressionam-deputados-por-fatia-maior-
do-pacote-de-socorro-estados-municipios-24408426
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Caderno: Mercado, segunda-feira 04 de maio de 2020.
Comerciantes renegociam aluguéis, e Justiça já autoriza desconto de 70%
Com grande parte do comércio de
portas fechadas há mais de 30 dias em
razão da pandemia, lojas buscam
diálogo ou judicializam a questão
Ana Carolina Diniz e Glauce
Cavalcanti
Comércio da Saara fechado, no Rio. Foto:
Hermes de Paula / Agência O Globo
RIO - Com grande parte
do comércio de portas fechadas há
mais de 30 dias em razão
da pandemia de coronavírus, lojistas
negociam a isenção do aluguel ou
descontos. Quando não há diálogo, o
caminho tem sido recorrer
à Justiça. No Rio, a primeira ação
deste tipo beneficiou uma franqueada
da rede de alimentação Giraffas, que
ganhou ação liminar contra o Bangu
Shopping, e conseguiu abatimento de
70% do valor do aluguel. Há casos de
renegociação amigável com desconto de
até 80%. Especialistas em Direito
41
Imobiliário relatam alta de até
300% nas consultas sobre o tema.
Dona da franquia desde 2004, Angélica
Cunha disse que a negociação proposta
pelo shopping, administrado pela
Aliansce Sonae, postergava as
cobranças de aluguel do mês de março,
enquanto ela pleiteava a isenção total
no período de pandemia — a loja está
fechada desde 18 de março. A decisão
do desembargador Fernando Cerqueira
Chagas, da 11ª Câmara Cível do TJRJ,
determina que os descontos devem ser
mantidos enquanto perdurarem os
efeitos da Covid-19 ou até o julgamento
do recurso pelo colegiado.
O Bangu Shopping afirmou que
suspendeu as cobranças enquanto as
atividades do empreendimento
estiverem suspensas, adiando o
pagamento referente a este período.
Concedeu isenção dos fundos de
promoção (despesa obrigatória para
quem tem loja em shopping) e redução
de 50% nos encargos condominiais para
pagamento em maio.
— O pagamento seria só postergado, e
esse adiamento não resolvia para mim.
Quando o shopping reabrir, não vai ter
fluxo de venda como antes. Vai demorar
para todo mundo conseguir se
recuperar financeiramente — diz
Angélica, que suspendeu o contrato de
trabalho dos 28 funcionários por 30
dias.
Monica Lee, diretora de Representação
de Ocupantes da consultoria JLL,
afirma que na maior parte dos casos
tem sido possível fechar acordos na
área de locação comercial, mas destaca
que há segmentos mais frágeis, em que
a receita perdida durante a pandemia
não é recuperável:
— Tem setores, como cinemas e
restaurantes, em que a receita perdida
não volta. Para muitos, o diferimento
dos pagamentos não é suficiente. Deve
haver esforço para negociar, antes de
partir para a judicialização — aponta
ela.
Para Rogério Chor, diretor da TGB, de
locação de espaços para comércio de
rua, as negociações têm de ser feitas
não apenas caso a caso, mas resolvendo
cada entrave que surge, pois não dá
para traçar cenários adiante:
— Em abril, no pagamento de março,
houve parte do mês trabalhado. Os
acordos foram feitos. O mês de maio é o
grande problema, porque abril foi um
mês inteiro sem operação. As
perspectivas de reabertura vão definir
os cenários de negociação, porque isso
interfere diretamente na confiança do
empresário — alerta.
As ações judiciais sobre redução ou
isenção de aluguel comercial começam
a chegar aos tribunais. Na maioria das
ações, o Judiciário tende a procurar
solução intermediária, com ganho de
causa ao lojista e redução do valor do
aluguel até o fim da pandemia, sem
isenção total do pagamento. Em alguns
casos, o lojista pagará a diferença a
partir da abertura do estabelecimento.
Inadimplência de até 20%
Especialista em Direito Imobiliário no
Rio, o advogado Renato Anet viu a
demanda por consultas sobre como
proceder em questão de pagamento de
aluguéis ao longo da pandemia ter alta
de 300%.
42
— Na maioria das vezes, as partes
envolvidas optaram por fazer um
acordo, alterando a forma de
pagamento e/ou concessão de
descontos.
Para Raphael Moreira Espírito Santo,
sócio da área Imobiliária do Veirano
Advogados, a alta do número de ações
deve se concentrar em maio:
— Em março, foi todo mundo
surpreendido e teve pouca discussão.
Em abril, as partes estavam
negociando. Mas, se não chegarem a
um acordo, em maio será uma
enxurrada (de ações).
Quando foi decretada a situação de
calamidade, os proprietários estavam
irredutíveis na negociação, mas com
algumas liminares em prol do inquilino,
já começam a negociar, explica Raquel
Laudanna, advogada sênior da área
Imobiliária de ASBZ Advogado:
— Se locatários com maior fragilidade
na operação não tiverem, do outro lado,
portas abertas para tratativas, devem
começar a judicializar. O Judiciário tem
sinalizado que a relação contratual deve
ser mantida, com flexibilizações
decorrentes da impossibilidade de uso
do imóvel.
À frente da Associação Brasileira de
Shopping Centers (Abrasce), Glauco
Humai avalia que é como se o setor
tivesse voltado ao momento em que foi
definido o fechamento do comércio em
razão do isolamento social daqueles que
podem ficar em casa num esforço para
combater a Covid-19:
— Existe uma falta de coordenação
entre municípios, estados e o governo
federal sobre se, quando e como pode
ser feita a abertura do comércio. Isso
gera falta de confiança e insegurança
jurídica.
Até a véspera do feriado, havia 60 dos
577 shoppings associados à entidade
reabertos no país. Humai afirma que
um conjunto de lojistas vinha com as
finanças fragilizadas em razão dos anos
de crise e que a piora do cenário pode
tirar negócios de cena:
— O número de lojas vazias vai subir,
mas a patamares administráveis. A
inadimplência pode passar de 7% para
entre 15% e 20%, mas já deve fechar
2020 em 10%.
Dos acordos fechados com lojistas, uma
parcela inferior a 10% dos shoppings
isentou a cobrança de aluguel pelo
período de fechamento. Outros 10%
adiaram o pagamento integral,
enquanto a maioria optou por fazer o
diferimento do valor da locação com
desconto, diz Humai. A depender das
condições de mercado na reabertura,
diz ele, esses descontos podem crescer.
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43
Segunda-feira, 04 de maio de 2020
COMBATE À COVID-19
Divergências entre normas estaduais e municipais revelam novo atrito federativo
4 de maio de 2020, 8h25
Por Tiago Angelo e André Boselli
TJs privilegiam decretos estaduais aos
municipais, conforme determina a CR MF Press Global
Enquanto especialistas em saúde
pública analisam se as curvas de
propagação do novo coronavírus já
permitem um abrandamento da
quarentena, um novo embate entre
entes federativos — estados e
municípios — se avizinha do Judiciário.
Até então, as fagulhas que mais vinham
iluminado a opinião pública diziam
respeito ao atrito entre o governo
federal e os governadores (veja abaixo).
Em vários estados, tribunais de Justiça
começam agora a apreciar se legislações
municipais que contrariam decretos
estaduais podem ou não ser admitidas.
Em geral, as cortes estaduais estão
solucionando a questão afastando as
normas municipais. A ConJur fez um
44
levantamento sobre as principais
decisões a respeito.
Texto maior
A questão de fundo reside basicamente
no artigo 24, XII, da Constituição:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e
ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
XII - previdência social, proteção e
defesa da saúde;
O artigo 30, I, complementa:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse
local;
No julgamento da ADPF 672, o ministro
Alexandre de Moraes afirmou: "(...) nos
termos do artigo 24, XII, o texto
constitucional prevê competência
concorrente entre União e
Estados/Distrito Federal para legislar
sobre proteção e defesa da saúde;
permitindo, ainda, aos Municípios, nos
termos do artigo 30, inciso II, a
possibilidade de suplementar a
legislação federal e a estadual no que
couber, desde que haja interesse local".
Casos
Nesta quinta-feira (30/4), ao julgar
pedido de suspensão liminar, o
presidente do Tribunal de Justiça de
São Paulo, desembargador Geraldo
Francisco Pinheiro Franco, manteve
decisão que obriga o município de
Sertãozinho a cumprir medidas
estabelecidas pelo Decreto Estadual
64.881/20, que institui quarentena em
SP em decorrência do avanço da Covid-
19.
O decreto determina a suspensão das
atividades em estabelecimentos
privados de serviços e atividades não
essenciais. A despeito disso, o decreto
municipal de Sertãozinho autorizava a
abertura parcial do "comércio em
geral" até esta segunda-feira (4/5).
No caso, o desembargador Pinheiro
Franco entendeu que a Constituição
estabelece que temas ligados à proteção
e defesa da saúde são de competência
da União, dos estados e do Distrito
Federal. Assim, decretos estaduais
prevalecem sobre normas editadas no
contexto municipal.
O TJ-SP também enfrentou os casos das
cidades de São José dos Campos,
Diadema e Cravinhos.
Macropolítica sanitária
Ao suspender decreto municipal de
Umuarama (PR), o desembargador
Leonel Cunha, do Tribunal de Justiça
do Paraná, ponderou que a normativa,
ao autorizar a abertura do comércio não
essencial, contraria a macropolítica que
foi adotada no estado para conter o
avanço da Covid-19.
"Reputo acertada a interpretação de
que o Decreto Estadual pretendeu
estabelecer a suspensão das atividades
não essenciais no âmbito do estado,
especialmente em razão do risco de
uma política pública municipal
divergente afetar a macropolítica. (...) O
retorno das atividades deve ser
capitaneado no âmbito estadual,
justamente para se evitar prejuízo à
macropolítica sanitária", afirma a
decisão, que também privilegiou
decreto estadual.
O magistrado também ressaltou a
decisão liminar de Moraes ao julgar a
ADPF 672. Segundo o desembargador,
45
foi chancelado o entendimento de que
há competência concorrente entre
União, estados e Distrito Federal para
legislar sobre a defesa da saúde,
enquanto os municípios, nos termos do
artigo 30, inciso II da CF, possuem
competência suplementar.
Ofensa às regras constitucionais
Uma disputa semelhante, também em
São Paulo, envolveu um decreto de São
José dos Campos. A normativa
municipal autorizava o funcionamento
parcial de serviços e atividades em
geral, como comércios, shoppings,
bares, restaurantes e salões de beleza,
além de implantar o isolamento social
seletivo.
Entretanto, segundo a desembargadora
Maria Olívia Alves, da 6ª Câmara de
Direito Público do TJ-SP, conforme a
Lei Federal 13.979/20, o decreto
estadual, ordenado por exigências
epidemiológicas e sanitárias, não pode
ser contrariado pela norma municipal,
sob pena de ofensa às regras
constitucionais de distribuição de
competência.
"Frise-se, ainda, que da leitura do texto
do Decreto Municipal 18.506/20, não
se vislumbra o alegado fundamento
técnico em que o agravante se embasa
para invocar a pretendida prevalência
de interesse local a fim de justificar o
afastamento da norma estadual, não
sendo demais acrescer que tampouco os
documentos carreados a este recurso
demonstram, de forma inconteste, a
probabilidade do direito invocado",
afirmou a desembargadora.
Direito à vida
Ao julgar pedido formulado por
associação de lojistas de Campina
Grande (PB) para que o comércio fosse
reaberto com base em decreto
municipal, o desembargador Oswaldo
Trigueiro do Valle Filho, do Tribunal de
Justiça da Paraíba, também decidiu
privilegiar normativa estadual.
"A competência material reservada para
os municípios no trato de questões
locais diz respeito aos serviços que lhe
são próprios, ou seja, aos assuntos que
dizem respeito unicamente a sua
comunidade em específico. Entretanto,
como é por demais sabido, o combate à
Covid-19 ultrapassa, e muito, os limites
de circunscrição do Município de
Campina Grande, a clamar medidas
gerais e unificadas", afirmou o
magistrado.
Ele também ressaltou que, segundo
linha norteada pelo STF, diante de
conflitos como esse, os direitos à vida e
à saúde coletiva se sobrepõem à
economia. Assim, o decreto estadual
atinge de forma mais eficaz a tarefa
determinada pela Constituição: garantir
a saúde.
"Se o objetivo maior da nação no
presente momento é zelar pela vida,
pela saúde e pelo combate à pandemia
do coronavírus, sendo essencial que
todos os entes trabalhem nesse sentido,
inclusive com a adoção de políticas
públicas, não é lídimo e aceitável que
algum ente se exima de implementá-las,
sob o risco do impacto recair sobre
todas as esferas do governo", afirmou.
Política dos governadores
Se os impasses entre municípios e
estados chegam agora ao Judiciário, os
46
atritos entre governadores e União já se
revelaram há algum tempo.
O caso mais emblemático talvez seja o
das disputas por respiradores artificiais,
com União e estados se digladiando
judicialmente pelos preciosos
aparelhos — e a iniciativa privada no
meio do fogo cruzado.
Governadores e governo central
também têm disputado a competência
para legislar sobre medidas de restrição
de transporte e atividades econômicas.
No Amazonas, um decreto estadual
proibiu o transporte fluvial de
passageiros, mas, até que houvesse uma
definição, as águas judiciais da AGU e
do governo amazonense se
desencontraram.
Outro embate, desta vez no campo
abstrato, ocorreu no STF, no
julgamento da ADI 6.341. De quem é a
competência administrativa sobre
saúde pública? A Corte entendeu que há
competência concorrente entre União,
estados e municípios.
Caso de Sertãozinho (SP):
2080564-34.2020.8.26.0000
Caso de São José dos Campos
(SP): 2076383-87.2020.8.26.0000
Caso de Campina Grande (PB):
0804938-16.2020.8.15.0000
Caso de Umuarama (PR):
0020002-72.2020.8.16.0000
Tiago Angelo é repórter da revista
Consultor Jurídico.
André Boselli é editor da
revista Consultor Jurídico.
Revista Consultor Jurídico, 4 de
maio de 2020, 8h25
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Segunda-feira, 04 de maio de 2020
MP 960
Governo prorroga suspensão de tributos para exportadoras no regime de drawback
O governo federal publicou nesta
segunda-feira (4/5) a Medida
Provisória 960, que prorroga os prazos
de suspensão do pagamento de tributos
previstos no regime especial de
drawback, que beneficia empresas
exportadoras.
Os prazos que tenham sido prorrogados por um
ano pela autoridade fiscal e que venceriam em
2020 poderão ser prorrogados, em caráter
excepcional, por mais um ano.
A medida vale para os tributos
abrangidos pelo artigo 12 da Lei
11.945/2009. O artigo trata da
suspensão do Imposto de Importação,
do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), da Contribuição
para o PIS/Pasep e da Cofins, da
Contribuição para o PIS/Pasep-
Importação e da Cofins-Importação
sobre a compra ou importação de
mercadoria para emprego ou consumo
na industrialização de produto a ser
exportado.
47
Revista Consultor Jurídico, 4 de
maio de 2020, 9h3
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Segunda-feira, 04 de maio de 2020
Falta de clareza de MPs trabalhistas sobre epidemia gera alto número de ações
De janeiro para cá, o número de
processos trabalhistas movidos por
consequência da epidemia do novo
coronavírus já passou a marca de 10 mil
ações e 9 mil demissões e afastamentos.
O valor total das causas também é
espantoso, beirando os R$ 600
milhões.
Os dados, colhidos pela ConJur, em
parceria com a instituição de educação
Finted e a startup Datalawyer Insights,
estão disponíveis na
plataforma Termômetro Covid-19 na
Justiça do Trabalho, lançado na última
sexta-feira (1º/5).
Segundo a plataforma, a maior parte
dos processos tem "Covid-19" como
assunto (classificação criada
recentemente pelo CNJ), sendo
seguidos por ações sobre aviso prévio e
multa de 40% do FGTS, que são temas
inerentes a casos sobre dispensas, mas
também no contexto da epidemia.
Para conter os efeitos da epidemia nas
empresas, o governo federal editou uma
série de medidas provisórias; entre
elas a MP 927, que permite a suspensão
de contratos e de salários por até quatro
meses; e a MP 936, que cria o Programa
Emergencial de Manutenção do
Emprego e da Renda.
48
As mudanças tiveram impacto
imediato: segundo o governo federal,
até 22/4, 3,5 milhões de trabalhadores
fizeram acordos com os patrões para
suspender ou cortar salários. Os dados
incluem acordos individuais e
coletivos.
A secretaria especial de Previdência do
Ministério da Economia diz que os
empregados afetados pelos cortes
receberão uma compensação —
conforme dispõe a MP 936 — em valor
proporcional ao do seguro-
desemprego.
Para o governo, as suspensões e cortes
possibilitam que os trabalhadores não
percam os empregos e sejam
reintegrados. De outro lado, permite
que as empresas se mantenham
funcionando durante a após a crise.
Especialistas, no entanto, afirmam que
as medidas provisórias não são claras,
deixando empregados e empregadores
confusos, o que gera conflitos e maior
número de ações trabalhistas.
Falta de clareza
Para Karen Badaró, especialista em
Direito do Trabalho empresarial e sócia
do Chiarottino e Nicoletti
Advogados, as MPs estão gerando
múltiplas interpretações, levando à
judicialização dos conflitos
trabalhistas.
"Entendo que as demandas
relacionadas à Covid-19 e,
consequentemente, demissões,
suspensões e reduções salariais se dão
diante da falta de clareza nos mais
diversos temas das MPs, bem como
pelos posicionamentos diversos dos
órgãos do Judiciário, trazendo
insegurança jurídica às empresas e
empregadores em geral", afirma.
A advogada diz haver falta de
orientação por falta das empresas, o
que acarreta na tomada de decisões
precipitadas e sem planejamento.
"O momento é delicado e muitas
empresas/empregadores estão sem
fluxo de caixa para manter as atividades
e honrar os compromissos, mas é
necessário ter cautela ao tomar decisões
e pensar a médio e longo prazo",
afirma.
Carlos Eduardo Dantas, sócio do
Peixoto & Cury Advogados, tem uma
posição parecida. Para ele, as MPs
deixaram de regulamentar uma série de
questões necessárias. "Assim, cada
empresa está aplicando da forma que
lhe parece mais razoável, o que, sem
dúvida vai gerar diversos
questionamentos e processos", explica.
Para Wilson Sales Belchior, sócio do
Rocha, Marinho e Sales Advogados e
conselheiro federal da OAB, "o
crescimento da judicialização no direito
trabalhista é reflexo da insegurança
jurídica provocada pela diversidade
interpretativa sobre as novas normas".
Assim, prossegue, é importante "o papel
exercido pelos tribunais superiores de
conferir estabilidade hermenêutica nas
relações de trabalho, considerando,
igualmente, a urgência desses
mecanismos jurídicos para a
preservação de empregos e da atividade
produtiva do país".
Termômetro Covid-19
O Termômetro Covid-19 na Justiça do
Trabalho avaliou toda a base de dados
abertos da Justiça Trabalhista, tendo
como fonte as publicações relacionadas
49
a esses processos, utilizando técnicas de
ciência de dados, metodologia de
pesquisa científica e tecnologia de
última geração.
Os números foram levantados a partir
da análise de todas as ações trabalhistas
distribuídas desde o início do ano, feita
pelo Termômetro Covid-19 na Justiça
do Trabalho, plataforma que permite a
visualização, em tempo real, dos dados
dos processos cujas petições iniciais
citam "Covid-19", "coronavírus" ou
"pandemia".
Revista Consultor Jurídico, 3 de
maio de 2020, 16h09
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Segunda-feira, 04 de maio de 2020
Cobrança de energia de shopping será proporcional a efetivo consumo durante pandemia
Juiz da PB destacou que o fechamento
repentino do estabelecimento constitui
um fator imprevisível e extraordinário,
tornando as prestações excessivamente
onerosas.
O juiz de Direito Manuel Maria Antunes
de Melo, da 12ª vara Cível da
Capital/PB, deferiu pedido para que a
empresa distribuidora de energia
elétrica local proceda com a cobrança
de energia de um shopping com base no
consumo efetivo, e não pela demanda
contratada, enquanto perdurar o
fechamento do local em razão da covid-
19.
De acordo com os autos, as partes
celebraram um contrato de uso de
energia elétrica, onde ficou ajustado o
fornecimento de energia na modalidade
demanda contratada. A parte autora
informou que a relação contratual
estava sendo religiosamente adimplida,
mas com a situação de calamidade
pública que se instalou no Brasil, por
conta do coronavírus, provocando a
50
paralisação das atividades comerciais
desde 23/3/2020, não foi possível
honrar os compromissos.
Na decisão, o juiz destacou que o
fechamento repentino do
estabelecimento comercial constitui um
fator imprevisível e extraordinário,
tornando as prestações excessivamente
onerosas.
“Neste contexto, enxerga-se,
claramente, um cenário imprevisível e
extraordinário, capaz de alterar o
equilíbrio contratual, afetando
drasticamente a equação financeira do
contrato celebrado.”
Ele acrescentou que no momento
anterior à pandemia advinda da covid-
19, a modalidade contratual atendia às
expectativas econômico-financeiras de
ambas as partes.
Sendo assim, determinou que a
agravada proceda com a cobrança da
energia elétrica com base na leitura do
medidor (consumo efetivo), e não pela
demanda contratada, enquanto
perdurar o fechamento do shopping em
razão da covid-19, com efeitos
retroativos a 23/3/2020, tudo sob pena
de incorrer em multa diária de R$ 500,
limitada a R$ 30 mil.
• Processo: 0824388-
53.2020.8.15.2001
Veja a íntegra da liminar.
Informações: TJ/PB.
https://migalhas.com.br/quentes/325977/cobranca-de-energia-de-
shopping-sera-proporcional-a-efetivo-consumo-durante-pandemia
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Segunda-feira, 04 de maio de 2020
Parcelamento e transação tributária: IGR e a situação fiscal em tempos de Covid-19
Os estímulos de autorregularização,
conformidade fiscal, redução da
litigiosidade e adequação de cobrança
• EDUARDO MUNIZ MACHADO
CAVALCANTI
Prédio da PGFN (Foto:
PGFN/Reprodução)
A MP 899 de 2019, conhecida como
“MP do contribuinte legal”, foi
convertida recentemente na lei nº
13.988 de 2020, regulamentando a
transação tributária originalmente
tratada nos arts. 156, III e 171, ambos
do CTN, que há mais de cinquenta
anos aguardava entrar na órbita
legiferante do Poder Público.
Já no primeiro momento, a
Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (PGFN) regulamentou, por
intermédio, da Portaria nº 11.956 de
2019, e, mais recentemente em 16 de
abril de 2020, pela Portaria nº 9.917
de 2020, o tratamento a ser dado às
hipóteses de transação tributária
federal, e um ponto salta aos olhos:
51
como fica o contribuinte com
parcelamento ativo!
Embora se reconheça o esforço para
que este tema, finalmente, tenha sido
objeto de tratamento pelo Fisco
federal, este ponto ainda levanta
dúvidas. Aos que estão atualmente
sujeitos a parcelamento especial
federal, sobretudo no PERT,
beneficiam-se, ou não, da existência
de parcelamentos ativos (em dia). E,
mais, para efeito de compreensão da
transação tributária, qualificam-se
como débitos de potencial
recuperabilidade? e, por isso, têm
menores chances de obter-se um
acordo no âmbito da transação
tributária?
Melhor explicando. A PGFN leva em
consideração o rating de seus
créditos tributários objeto de
cobrança judicial para efeito de
transação tributária.
O Ministério da Fazenda, à época,
editou a Portaria MF nº 293 de 12 de
junho de 2017, estabelecendo os
critérios para classificação dos
créditos inscritos em Dívida Ativa da
União (DAU). Além disso, a medida
instituiu o Grupo Permanente de
Classificação dos créditos inscritos
em DAU (GPCLAS), de competência
da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (PGFN).
A referida portaria trata de conceitos
de endividamento total, índice geral
de recuperabilidade (IGR), rating,
ativo contingente, ajustes para perdas
da DAU e sistema
de rating bidimensional.
Esse sistema de rating bidimensional
é composto por duas variáveis: uma
relativa aos créditos inscritos em
DAU (V-Deb), compreendendo a
suficiência e liquidez das garantias e
os parcelamentos ativos. E outra
relativa aos devedores inscritos em
DAU (V-Dev), composta pela
capacidade de pagamento, pelo
endividamento total e pelo histórico
de adimplemento.
A partir do resultado da análise
bidimensional das variáveis V-Deb e
V-Dev será calculado o índice geral de
recuperabilidade (IGR) do devedor.
Para ser calculado o IGR do grupo de
devedores será considerada a média
ponderada, em relação ao
endividamento total, dos valores
correspondentes à variável V-Dev de
cada devedor.
Feito isso, os créditos inscritos em
DAU são classificados em ordem
decrescente de recuperabilidade,
observando as seguintes classes: A:
créditos com alta perspectiva de
recuperação; B: créditos com média
perspectiva de recuperação; C:
créditos com baixa perspectiva de
recuperação; e D: créditos
considerados irrecuperáveis.
São classificados no grupo “D”,
independente do IGR, os créditos dos
devedores pessoa jurídica, cujos
débitos estão inscritos há mais de 15
anos, sem anotação atual de
parcelamento ou garantia; dívidas de
pessoas jurídicas com indicativo de
falência decretada ou recuperação
judicial deferida; débitos de pessoas
físicas com indicativo de óbito; e os
créditos com anotação de suspensão
de exigibilidade por decisão judicial.
52
Ora, a Portaria da PGFN nº 9.917, de
2020, editada neste momento,
estabelece que são dívidas tidas por
“transacionáveis” aquelas sujeitas a
parcelamentos ativos, e que serão
observados, além dessa situação, para
efeitos de aceitação da transação
individual ou por adesão, parâmetros
como o tempo de cobrança; a
suficiência e liquidez das garantias
associadas aos débitos inscritos; a
perspectiva de êxito das estratégias
administrativas e judiciais de
cobrança; o custo da cobrança
judicial; o histórico de parcelamentos
dos débitos inscritos; o tempo de
suspensão de exigibilidade por
decisão judicial; a situação econômica
e a capacidade de pagamento do
sujeito passivo.
A circunstância de o contribuinte
estar com parcelamento ativo, ou seja,
em dia, sujeita- o ao IGR com
potencial grau de recuperabilidade
entre rating A ou B, atrativo para a
PGFN porque assegura-lhe
cumprimento do acordado, revelando
sua capacidade de pagamento, porém,
ao que parece, visto com mais rigidez
ao fixar parâmetros de negociação.
Para além dos ratings, um fator
econômico adquiriu maior
relevância: a avaliação concreta
relacionada à análise das
informações econômico-fiscais
atuais, sobretudo em tempos de
Covid-19.
Muitas empresas que mantém o
parcelamento ativo, hoje, veem-se na
iminência de descumpri-lo, sobretudo
diante dos gravíssimos efeitos da
pandemia do coronavírus. Alguns
setores, em especial, estão sendo
severamente castigados com a crise
econômica, inclusive porque
submetidos ao lockdown horizontal,
ainda vigente em muitas regiões.
Da leitura do normativo atinente à
espécie, especialmente no que diz
respeito aos contribuintes com
parcelamento ativo, outro ponto
merece atenção. A Portaria nº 11.956
de 2019, e a mais recente, Portaria nº
9.917 de 16 de abril de 2020 deixam
um ar de dúvidas se a dívida
parcelada ao ser objeto da pretendida
transação seria considerada segundo
valor original ou de acordo com o
benefício econômico conferido pelo
parcelamento especial, v.g. REFIS,
PERT, etc.
A leitura do art. 14, §3º, da Portaria
nº 9.917 de 16 de abril de 2020, ao
vedar expressamente a acumulação
das reduções oferecidas pelo edital
com quaisquer outras asseguradas na
legislação em relação aos créditos
abrangidos pela proposta de
transação revela um sensível ponto de
insegurança, que também demanda
interpretação criteriosa.
Melhor seria, e mais seguro, um
pronunciamento oficial da PGFN a
este respeito, muito embora o exame
da exposição de motivos contida na
“MP do contribuinte legal” já nos
deixa entrever uma posição mais
favorável aos contribuintes,
especialmente porque acolhe-se como
premissa e objetivo principais do
instituto a redução de litigiosidade e a
maior efetividade na recuperação dos
créditos inscritos em Dívida Ativa da
União.
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Os contribuintes, portanto, com
parcelamento ativo junto à PGFN,
especialmente neste momento mais
agudo da grave crise econômica
instalada, devem priorizar a
formulação de planos de recuperação
fiscal expondo claramente o propósito
da pretensão da transação tributária,
fundamentados na redução de litígios
de natureza fiscal e, ainda, na
capacidade de honrar o parcelamento
ativo como efetividade da recuperação
dos créditos pelo Fisco.
É crível, e esperançoso pensar, que na
pretensão da transação tributária
deve-se garantir aos contribuintes
com parcelamento ativo a
manutenção do benefício conferido
pela lei especial, sob pena de
estimular um sentido inverso ao que
se pretende com a norma,
notadamente de recuperação dos
créditos públicos a partir da análise
econômico-fiscal do contribuinte.
Deve-se prestigiar os princípios do
estímulo de autorregularização e de
conformidade fiscal, de redução da
litigiosidade e da adequação dos
meios de cobrança à capacidade de
pagamento dos devedores inscritos
em dívida ativa da União, além, é
claro, de enaltecer os objetivos da
transação tributária, como: 1)
viabilizar a superação da situação
transitória de crise econômico-
financeira do sujeito passivo, a fim de
permitir a manutenção da fonte
produtora e do emprego dos
trabalhadores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função
social e estímulo à atividade
econômica; e 2) assegurar aos
contribuintes em dificuldades
financeiras nova chance para
retomada do cumprimento voluntário
das obrigações tributárias correntes,
como objetivos da transação
tributária.
EDUARDO MUNIZ MACHADO
CAVALCANTI – Mestre em Direito
Público pela Universidade Federal de
Pernambuco – UFPE. Advogado,
sócio da Bento Muniz Advocacia, e
Procurador do Distrito Federal.
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