caracterizaÇÃo social, econÔmica e ambiental do...

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1 PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA LINHA DE PESQUISA: PRESERVAÇAO E USO RACIONAL DO MEIO AMBIENTE FABIANA FRANÇA DOS SANTOS CARACTERIZAÇÃO SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL DO ASSENTAMENTO VENEZA, PILÕES/PB Guarabira/PB 2016

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1

PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

LINHA DE PESQUISA:

PRESERVAAO E USO RACIONAL DO MEIO AMBIENTE

FABIANA FRANA DOS SANTOS

CARACTERIZAO SOCIAL, ECONMICA E AMBIENTAL

DO ASSENTAMENTO VENEZA, PILES/PB

Guarabira/PB

2016

2

FABIANA FRANA DOS SANTOS

CARACTERIZAO SOCIAL, ECONMICA E AMBIENTAL DO

ASSENTAMENTO VENEZA, PILES/PB

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura Plena

em Geografia da Universidade Estadual da Paraba,

Centro de Humanidades Campus-III Osmar de

Aquino, Departamento de Geografia, realizada para a

obteno do ttulo de licenciatura plena em geografia,

sob a orientao da Prof. Dra. Luciene Vieira de Arruda

(CH/UEPB).

Guarabira/PB

3

4

5

Ao meu Deus, que me deu o bem mais precioso: a VIDA, a

minha me Josefa Frana dos Santos, ao meu pai Fernando

dos Santos e amigos pelo incentivo, confiana e pela fora,

foram todos responsveis por mais esta conquista.

Eu dedico.

6

AGRADECIMENTOS

Um sonho de infncia que se tornou realidade, chegar a uma universidade! E ao chegar

o ano letivo de 2016 me deparo com a concluso do curso de licenciatura plena em Geografia,

pela UEPB de Guarabira, mais uma conquista, cheia de esforos e ao mesmo tempo muito

gratificante para o presente e o futuro, na medida em que vou crescendo profissionalmente.

Por isto sou grata a Deus pelo dom perfeito e pela graa concedida de concluir mais

uma etapa na minha vida. Em memria da saudosa professora Silvia Alves que, por vrias

vezes, me abrigou em seu lar para que eu pudesse participar de congressos, ou at mesmo em

noites de chuvas que eu no podia voltar para a minha casa.

Aos meus pais Fernando dos Santos e Josefa Frana dos Santos, no decorrer destes

quatros anos me incentivaram a perseverar, obrigada por tudo. Aos meus irmos, Jos

Romilson Frana dos Santos e Flaviana Frana dos Santos e ao meu tio, Jos Pereira, serei

eternamente grata a vocs pelo incentivo a fora e a dedicao.

Ao Moiss de Pia, grande amigo e maior incentivador para o meu sonho de conseguir

entrar numa universidade, desde o ensino mdio, no me negou sua ateno e colaborao,

meus sinceros agradecimentos.

Clemilson Frana, um homem revolucionrio que saia pelos corredores convidando os

alunos novatos para publicarem artigos em congressos, muito obrigado pelo incentivo.

Aos meus Amigos de sala da turma 2012.1 Anderson Francisco, Adalberto Neto,

Analine leite, Alaini Oliveira, Cristiane Simes, Daniel Batista, Edvnio Almeida, Jacielly

Bulhes, Katia Barros, Luiz Pereira, Matheus Felix, Kaeliton Rodrigues, Ivanilson Costa.

Pelos momentos que passamos juntos durante esses quatro anos de academia e com os quais

compartilhei momentos inesquecveis da minha vida como: as aulas de campo, os congressos,

os momentos de comemoraes.

A todos os amigos que fizeram parte do projeto de pesquisa do PIBIC denominado Nas

trilhas da Serra do Espinho, Piles/PB: Jailson Cardoso, Edvnio Batista, Auricelia Batista,

Matheus Flix, Mara Souza, Neuza Silva, do qual eu tive a honra de participar.

Aos professores colaboradores do projeto, Leandro Paiva, Tnia Cavalcante, Belarmino

Mariano Neto, o meu muito obrigada.

Aos moradores presidentes das comunidades que compreende a Serra do Espinho:

Ouricuri, Poo Escuro, Titara e Veneza em Piles-PB, que colaboraram muito para o

desenvolvimento da pesquisa.

7

As instituies de ensino e aos profissionais da educao que contriburam na minha

formao, desde o processo de alfabetizao at ao ingresso na Universidade Estadual da

Paraba - Campus III, Guarabira/PB e, em especial, o colgio Antonieta Corra de Menezes, o

qual representado pela diretora Socorro Flor e professores, que me deram forte apoio nos

momentos de estgios.

Aos professores que fizeram parte desses anos de vida acadmica, em especial, a

Professora Dr. Luciene Vieira de Arruda, alm de professora orientadora uma mulher que

gosta do que faz, incentivadora da vida acadmica dos seus alunos e muito determinada, meus

sinceros agradecimentos.

Professor Dr. Carlos Antnio Belarmino Alves e a Professora Ms. Aletheia Stedile

Belizrio, muito obrigada pela disponibilidade de fazer parte da minha banca examinadora.

8

O homem sbio forte, e o homem de conhecimento

consolida a fora.

(PROVERBIOS 23,5)

9

043 - CURSO LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

SANTOS, Fabiana Frana dos. Caracterizao social, econmica e ambiental do

Assentamento Veneza, Piles/PB (Curso de Geografia, UEPB-Campus III, na Linha de

Pesquisa: preservao e uso racional do meio ambiente, orientado pela prof. Dr. Luciene

Vieira de Arruda).

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Luciene Vieira de Arruda Orientadora (CH\UEPB)

Prof. Dr. Carlos Antnio Belarmino Alves Examinador (CH\UEPB)

Prof. Ms. Aletheia Stedile Belizrio Examinadora (CH\UEPB)

RESUMO

A Serra do Espinho o nome dado s elevaes situadas na vertente oriental do Planalto da

Borborema, na rea ocupada pelo municpio de Piles/PB, em direo ao municpio de

Cuitegi/PB. formada, predominantemente, por material cristalino, com densa rede de

drenagem que modela vales em V. Apesar de ser um ambiente ocupado por pequenas

comunidades, de proporcionar a produo agrcola e pecuria, a manuteno da fauna e da

flora, aliada a um forte potencial turstico, essa rea possui muitas limitaes e instabilidades

devido ao relevo acentuado e impermeabilidade de seus solos, que se intensifica com a ao

humana sobre a rea e proporciona constantes deslizamentos. Nesse contexto, realizou-se um

estudo no assentamento Veneza, para a caracterizao social econmica e ambiental,

contribuir para o crescimento econmico e social desse assentamento, em busca de se tornar

possvel o conhecimento sobre esses aspectos. Assim, a pesquisa teve como metas expor suas

potencialidades naturais, econmicas e sociais; levar os conhecimentos adquiridos para o

assentamento local e visitantes no sentido da valorizao ambiental, econmica e social desse

espao. Os mtodos utilizados na pesquisa seguiram os pressupostos escritos por AbSber

(1969) e Tricart (1977), tendo a Teoria Geral Dos Sistemas como base para um estudo

integrado do meio ambiente. Os estudos foram divididos em etapas de gabinete, com

pesquisas preliminares de reviso de literatura e preparao das fichas de campo; na rea da

pesquisa foram coletadas todas as informaes necessrias para confirmar a verdade terrestre

e atualizao de dados tais como levantamento geolgico-geomorfolgico, estudos hidro-

climatolgicos, solos e biodiversidade, uso e ocupao do solo no Assentamento Veneza; em

laboratrio foram elaboradas as anlises de solos. O Assentamento apresenta ndice

pluviomtrico com mdia de 1200 mm e os solos geralmente so rasos nas encostas e

profundos nas vrzeas. A amostra de perfil de solo analisado no Assentamento Veneza um

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrfico arnico abrptico rico em matria

orgnica. As espcies com maior incidncia em representao da flora no levantamento

florstico so o Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn. da famlia Fabaceae com 25

indivduos e Guazuma ulmifolia Lam. com 11 indivduos da famlia Malvaceae. Pretende-se

contribuir para um processo de valorizao dos recursos naturais, na busca do

desenvolvimento socioeconmico local e na manuteno dos ecossistemas locais tendo em

vista a particularidade dessa regio.

Palavras-chave: potencialidades naturais e culturais, valorizao, desenvolvimento

socioeconmico.

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa de localizao do municpio de Piles/ PB. 20

Figura 2 e 3 Levantamento florstico da Serra do Espinho, Piles/PB 22

Figura 4 Coleta do solo no Assentamento Veneza, Serra do Espinho, Piles/PB. 2014. 23

Figura 5 Perfil de solo no Assentamento Veneza, Serra do Espinho. Piles/PB. 2014. 23

Figuras 6 e 7 Rota Cultural Caminhos do Frio em Piles/PB. 27

Figura 8 Mapa geolgico do municpio de Piles/PB 29

Figura 9 Mapa da bacia Hidrogrfica do Mamanguape, Paraba. 31

Figura 10 ndice pluviomtrico anual do municpio de Piles/PB 32

Figura 11 Exemplar da espcie Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn no

Assentamento Veneza, Serra do Espinho, Piles/PB, 2014

40

Figuras 12 Exemplar da espcie Guazuma ulmifolia Lam. Assentamento Veneza, na

Serra do Espinho, Piles/PB, 2014.

40

Figuras 13 e 14 Cachoeira do Assentamento comunidade Veneza, Serra do Espinho,

Piles/PB e a atividade agrcola

43

Figuras 15 e 16 Associao de Mulheres no Assentamento Veneza, Serra do Espinho

Piles/PB.

45

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Descrio morfolgica de perfis de solos, Piles/PB 2014. 35

Tabela 2 Caractersticas fsicas de solos da Serra do Espinho- Piles/PB 36

Tabela 3 Caractersticas qumicas de perfil de solos da Serra do Espinho, Piles/PB 36

Tabela 4 Famlias e respectivas espcies amostradas no Assentamento Veneza, Serra

do Espinho, Piles/PB

39

Tabela 5 Dados biomtricos- vegetao do Assentamento Veneza, Serra do Espinho

Piles-PB

42

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Nomenclatura botnica categorias hierrquicas da vegetao. 23

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Grupos de indivduos por espcies vegetais amostradas no Assentamento

Veneza, Serra do Espinho, Piles/PB, 2014.

41

11

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AESA Agncia Executiva de Gesto das guas do Estado da Paraba

CAGEPA Companhia de gua e Esgotos da Paraba

CCA Centro de Cincias Agrrias

CEDUP Centro Educacional Profissional

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CPT Comisso Pastoral da Terra

DAP Dimetro na altura do peito

EA Educao Ambiental

EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

ENERGISA Distribuidora de Energia S/A

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

SEBRAE Servio de Apoio s Microempresas da Paraba

SIG Sistema de Informaes Geogrficas

SPTI Secretaria de Planejamento e Tecnologia da Informao

SUDENE Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste

SEMARH Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hdricos

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

UEPB Universidade Estadual da Paraba

UFPB Universidade Federal da Paraba

UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

UTM Unidade Transversal de Mercator

12

SUMMRIO

1 INTRODUAO 13

2 FUNDAMEBTAAO TERICA 15

2.1 OS REFGIOS DE MATA ATLNTICA E OS BREJOS DE ALTITUDE NA

PARABA - PROCESSO DE OCUPAO

15

2.2 UM BREVE HISTORICO SOBRE A LUTA PELA TERRA NA PARAIBA 18

2.3 A SERRA DO ESPINHO, PILES/PB - LOCALIZAO GEOGRFICA 19

3 MATERIAIS E METODOS 21

4 RESULTADOS E DISCUSSOES 25

4.1 O ASSENTAMENTO VENEZA NO CONTEXTO DA SERRA DO ESPINHO

PILES/PB

25

4.2 CARACTERIZAAO GEOAMBIENTAL DO ASSENTAMENTO VENEZA 28

4.2.1 Caracterizao Geolgica e Geomorfolgica 28

4.2.2 Caracterizao Hidrolgica e Climatolgica 31

4.2.3 Solos e Biodiversidade 33

4.2.3.1 Levantamento de solo 33

4.2.3.2 Levantamento fitossociolgico 37

4.2.4 Uso e Ocupao do Solo no Assentamento Veneza 42

5 CONSIDERAOES FINAIS 49

REFERENCIAIS 51

ANEXOS 56

ANEXO A - FICHA PARA CARACTERIZAO GEOAMBIENTAL 56

ANEXO B - FICHA PARA CARACTERIZAO SOCIOECONOMICA 59

ANEXO C - CLASSES DE INTERPRETAO DE FERTILIDADE DO SOLO 65

13

1 INTRODUO

A regio NORDESTE do Brasil possui 1.561.177,8 km2, corresponde a 18,26% do

territrio brasileiro (EMBRAPA, 1993), engloba biomas e ecossistemas com resqucios de

mata atlntica e vrios padres de caatinga. Em meio imensa vastido semirida, encontram-

se as serras cristalinas e os planaltos, que funcionam como ilhas de umidade no domnio

morfoclimtico das caatingas e so considerados como feies de exceo nesse espao

(ABSBER, 1970). Tais elevaes totalizam 124.241 km2, o referente a apenas 8% do total

da regio. Somente o Planalto da Borborema possui rea total de 43.460 km2 e envolve os

estados do Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco e Alagoas (SOUZA, 1999).

Na Paraba o Planalto da Borborema adquire importncia fundamental na disposio

dos recursos naturais, pois condiciona os tipos de recobrimento vegetal, os solos, a disposio

hidrolgica e os tipos de clima, que vo influenciar diretamente nas atividades econmicas.

Essas caractersticas so mais marcantes na sua vertente oriental, mais especificamente na

microrregio do brejo paraibano, rea beneficiada pela umidade proveniente do litoral e da

zona da mata paraibana. Nessa rea encontra-se a Serra do Espinho, localizada entre os

municpios de Piles e Cuitegi, um ambiente serrano ocupado por pequenas comunidades

agrcolas cujo potencial natural e humano precisa ser melhor compreendido luz do

conhecimento cientfico.

A Serra do Espinho formada, predominantemente, por material cristalino dissecado

em colinas e lombas alongadas, de topografias forte-onduladas a montanhosas, com densa

rede de drenagem de padro dendrtico e sub-dendrtico, com quedas dgua, que formam

vales em V (CPRM, 2005; CAVALCANTE, 2010; FERREIRA, 2012). Apesar de ser um

ambiente ocupado por pequenas comunidades, de proporcionar a produo agrcola e

pecuria, a manuteno de florestas e animais e ser dotado de forte potencial turstico, essa

rea possui muitas limitaes e instabilidades naturais e sociais que merecem ser analisadas

em busca do uso racional desse ambiente.

Os ambientes naturais que se formaram ao longo da Serra do Espinho, exibem quedas

dguas que modelam o relevo, tais como a cachoeira do Assentamento Veneza, onde se

desenvolvem vrias atividades econmicas e de lazer, porm, sem a mnima conscincia

ecolgica. O morador local explora o espao com culturas tradicionais, marcadas por plantios

morro abaixo; j o visitante se utiliza desse meio para relaxar e revitalizar suas energias, mas

no tem noo de como se comportar nesses espaos, pois pratica um turismo predador que

promove a degradao do meio e interfere no equilbrio natural (CARDOSO et al 2013).

14

O Assentamento Veneza dispe de uma paisagem e uma organizao espacial

essencialmente interessante, que atrai visitantes para que apreciem de forma prazerosa seus

atrativos ambientais, econmicos e sociais. Esses atributos chamam ateno dos turistas que

visitam o lugar e contribuem para a valorizao de um ambiente natural que apresenta

caractersticas histricas e culturais muito importantes para a populao local.

Nesse Contexto, possvel tecer os seguintes questionamentos: Como se deu o processo

poltico da formao desse assentamento rural? Como vivem e se organizam os assentados?

Quais as caractersticas geogrficas da rea? Quais os principais tipos de solos e as principais

espcies vegetais que ainda existem no assentamento? Quais as dificuldades que os moradores

possuem para construir um ambiente mais harmnico e que satisfaa as necessidades de

produo e reproduo do espao local?

Baseada nesses questionamentos, o objetivo geral da presente pesquisa realizar um

estudo no Assentamento Veneza, localizado em Piles/PB, para indicar o seu potencial

geoambiental, e contribuir para o processo de conscientizao com o meio ambiente e o

crescimento econmico e social da comunidade.

15

2 FUNDAMENTAO TERICA

A presente fundamentao terica busca caracterizar os refgios de mata atlntica e os

brejos de altitude na Paraba, assim como o seu processo de ocupao, localizao geogrfica

da Serra do Espinho, em Piles/PB e a histria da luta pela terra na Paraba.

2.1 OS REFGIOS DE MATA ATLNTICA E OS BREJOS DE ALTITUDE NA

PARABA PROCESSO DE OCUPAO

A mata Atlntica uma das principais prioridades para a conservao da fauna e da

flora. Essa floresta possui cerca de 20.000 espcies de plantas vasculares, alm disso,

apresenta elevada riqueza em diversidade de animais e plantas podendo chegar ao mesmo

grau de importncia da floresta Amaznica (TABARELLI e SANTOS, 2004).

Quando se refere mata atlntica nordestina, seu estado de degradao de profunda

gravidade, tendo apenas 5% dos remanescentes originais. (ANDRADE et al. 2006, p.32).

Parte da floresta Atlntica nordestina composta pelos refgios ou brejos de altitude,

formando assim ilhas de floresta mida ou mata serrana, estabelecidas na regio

semirida, sendo cercadas por uma vegetao de caatinga (ANDRADE-LIMA 1982 apud

SANTOS, 2004 p,18).

Os autores afirmam que o surgimento dessas ilhas de floresta em uma regio onde a

precipitao mdia anual varia entre 240 - 900 mm esto associadas ocorrncia de planaltos

e chapadas com altitudes entre 500 - 1.100 metros, onde as chuvas orogrficas garantem

nveis de precipitao superiores a 1.200 mm/ano, que proporcionam temperaturas mais

baixas em relao ao entorno, solos mais profundos e abundncia de cursos dgua,

caractersticas tpicas do Planalto da Borborema.

Pereira (2009, p. 37) afirma que:

[...] essas matas ilhadas no Agreste e no Serto representam formaes

vegetais relquias, ou relictos, remanescentes de climas mais midos do

passado. Isso significa que esses brejos so o que restou de uma mata

tropical higrfila, que se estendia desde o litoral oriental do Nordeste at s

chapadas do oeste e do sul do Cear (PEREIRA, 2009, p. 37).

Nesse contexto, o autor supracitado acredita que essas reas consideradas brejos so

ocorrncias de mata higrfila, envolvidas pelas caatingas, que se beneficiam de condies

climticas favorveis, impostas pelo relevo regional ou local, instalam-se nas escarpas das

chapadas, nas serras e nos vales midos orientados no sentido NO-SE, onde no incidem as

secas e onde os crregos e ribeires mantm suas guas correntes. Todos os brejos tm os

16

mesmos aspectos em comum, porm, aqueles do agreste so menores e esto ilhados pela

vegetao peculiar a esta zona, enquanto que os brejos do Serto so vastos, mas s vezes

minsculos cercados pelas caatingas.

A vegetao nativa prpria dos brejos de altitude foi quase totalmente devastada pela

monocultura da cana de acar, mas com o declnio do sistema sucroalcooleiro, no inicio da

dcada de 1990, foi introduzida a pastagem e a agricultura (SILVA et al, 2013). De forma

mais sistemtica, os brejos da Paraba tm sido transformados em plantaes de banana e

culturas de subsistncia, como milho, feijo e mandioca, desde o sculo XIX.

A substituio da vegetao nativa por sistemas de produo em geral afetam a

fertilidade do solo e contribui para descaracterizao de habitats, a partir do assoreamento dos

cursos dgua, da coleta seletiva de plantas e caa aos animais, com a consequente perda de

diversidade biolgica (SILVA et al, 2013). Atualmente restam apenas 2.626,68 km da

vegetao original dos brejos (TABARELLI e SANTOS, 2004).

O processo de ocupao do brejo paraibano seguiu a partir da colonizao das terras

brasileira, que s se ampliou a partir do sculo XVIII. Contudo, as reas de relevos

irregulares, como o caso da Serra do Espinho, teve certa demora na sua ocupao.

Inicialmente essa regio formava uma grande e densa mata com cobertura vegetal proveniente

da Mata Atlntica e da Caatinga.

Tal vegetao foi retirada para dar lugar s varias culturas que se desenvolveram ao

longo do tempo, com destaque para a cana de acar, que predominou por vrios anos.

Atualmente essas reas so utilizadas prioritariamente para agricultura familiar, a

monocultura de banana, criao de caprinos e bovinos. Tais atividades humanas, se no forem

bem planejadas, promovem a degradao do solo e influenciam diretamente na dinmica

ambiental local.

Moreira e Targino (1997), ao discutir sobre a ocupao do planalto da Borborema,

salienta que, ao lado da agricultura de alimento, a cana de acar desenvolveu-se rapidamente

sobre as encostas ngremes, objetivando produzir o acar mascavo para o autoconsumo.

Posteriormente, uma sucesso de culturas, inclusive a da prpria cana de acar, comeou a se

desenvolver no espao regional, dando origem ao que alguns historiadores e cronistas

denominam de ciclos econmicos do Brejo paraibano.

Mariano Neto (2006) salienta que nessa regio se desenvolveu a agricultura familiar

demarcada por pequenos stios entre 1 a 10 hectares, onde se produziram atividades agrcolas

diversificadas. As lavouras de maior importncia na regio so as de feijo (Phaseolus

vulgaris), fava (Vicia faba l.), milho(Zea mays), macaxeira(Monihot esculenta),

inhame(Colocasia esculenta), alm da fruticultura dirigida principalmente para a

17

bananicultura, que se encontra aliada agricultura de subsistncia e a produo de pastagem

para os bovinos (MOREIRA e TARGINO, 1997).

Ao longo do tempo essas culturas foram entrando em decadncia e a agricultura de

subsistncia comeou a ser a utilizada pelo agricultor local valendo-se, muitas vezes, do uso

de fertilizantes qumicos e agrotxico, ou seja, alguns elementos ou fatores que contribuem

para a degradao da cobertura vegetal primria e consequentemente a degradao do solo

(CARDOSO, 2014). Com a retirada da cobertura natural do solo, o horizonte superficial passa

a receber uma menor quantidade de matria orgnica. Dessa forma, o equilbrio natural

representado pelo patrimnio gua-solo-planta, quebrado e o solo fica vulnervel eroso.

A eroso um processo fsico que consiste na degradao e no transporte do solo, pela

gua ou pelo vento. Quando o solo despido de sua cobertura natural e submetido

agricultura, fica suscetvel s foras erosivas. Desta forma a gua e o vento comeam a agir

diretamente, removendo material com uma intensidade mil vezes maior do que a intensidade

que se verifica quando o solo est naturalmente coberto (FERNANDES et al 2007).

De acordo com o processo de modernizao das tcnicas de trabalho e avano

tecnolgico do ser humano, os recursos naturais existentes no planeta Terra so transformados

em objeto de acumulo e reproduo de capital (SANTOS 2007).

2.2 UM BREVE HISTRICO SOBRE A LUTA PELA TERRA NA PARABA

Desde o perodo colonial o Brasil vem passando por grandes transformaes, no que diz

respeito ao processo de ocupao e produo da terra. Segundo Andrade (2004), o modo de

produo que se deu no Brasil, durante o perodo colonial, no foi o feudal do tipo europeu,

pois se tratava de uma formao econmica-social capitalista que procurava maximizar a

acumulao primitiva, seguida da natureza, escravizao e dizimao das tribos indgenas,

alm do trfico negreiro.

Com a implantao da monocultura da cana de acar e logo em seguida a do sisal,

tambm em grandes quantidades, torna-se ainda maior o acumulo e o controle sobre a terra,

principalmente aps o sistema de engenho, pois o controle da propriedade da terra pelos

usineiros, na segunda metade do sculo XX, ainda era muito forte, e favorecia a resistncia e a

luta pela reforma agraria (ANDRADE, 2004).

Como sendo parte da regio Nordeste, inicia-se na Paraba a produo da cana-de-

acar pela faixa litornea adentrando as demais microrregies. A sua cultura demandava um

grande emprego de mo de obra e um expressivo emprego de capitais para a implantao dos

18

chamados engenhos, uma verdadeira plantation tropical; um modelo de organizar as unidades

produtivas desenvolvidas para a agroexportao (ANDRADE, 2004).

A partir do ano de 1985 a crise do Prolcool (programa de investimento do governo

para a implantao de parques industriais sucro-alcooleiro que buscava alcanar uma

produo em larga escala), e o forte Sindicalismo que existia naquela poca, fez com que

vrias usinas viessem falncia, como no caso da Usina Santa Maria Areia\PB, que teve sua

falncia decretada no ano de 1992, deixando aproximadamente quatro mil trabalhadores

desempregados (...). Observou-se, de um lado, um aumento de desemprego, mesmo que

sazonal, e de outro, a transformao de terras da usina, antes coberta por cana em reas de

pequenas produes de alimentos e de cultivo de banana por pequenos produtores rurais

(LIMA, 2009, p.2-11).

dentro de um processo de resistncia e de enfretamento das classes trabalhadoras

contra as polticas de desenvolvimento agropecurio, e na luta pela democracia e pelos

direitos a uma vida justa e digna que as novas formas de luta no campo e na cidade acontecem

com maior vigor (FONSECA et al, 2008). Dessa maneira, em reposta realidade imposta pelo

modelo de produo vigente, em que o antagonismo de classes rege a sociedade, os

movimentos sociais ganham fora com o surgimento das Ligas Camponesas em 1950.

O MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, segundo o autor

supracitado, o mais importante movimento social de luta pela terra e reforma agrria, tendo

em vista, que a ocupao de terras compreendida pelo Movimento, como uma ao poltica

de luta e resistncia dos trabalhadores sem-terra ao processo de expulso/expropriao

originado pelo desenvolvimento do capitalismo no campo.

A luta pelo retorno a terra, se caracteriza pela ocupao de imveis por

trabalhadores assalariados. Essa ao tem sido organizada pelo Movimento

dos Sem Terra, atuando na Paraba desde 1989 e pela Comisso Pastoral da

Terra. Ocupado o imvel, barracas so levantadas, a terra preparada e um

grande roado plantado em mutiro. Surge assim o acampamento

(Moreira, 1997, p.280 apud FONSECA et al, 2008).

Segundo Fonseca et al, (2008) no estado da Paraba, o Movimento dos trabalhadores

rurais Sem Terra (MST) surge no ano de 1989 em condies bastante conflituosas, como na

maioria do territrio brasileiro. Sendo assim, a partir de 1991, o MST da Paraba, diante de

toda ao e mobilizao dos sem-terra, passa a ser relevante na agenda do movimento em

nvel nacional. Diante disso, as famlias que persistiram contra a guerra do latifndio

conquistaram a terra. Assim, segundo os autores supracitados o Movimento, juntamente com

elas, finalmente, conseguiram fincar suas razes, ocupando e formando os acampamentos e

comeando a produzir na terra.

19

Segundo Lima (2009) a luta pela terra na Paraba se deu a partir da necessidade de

ocupao e produo da mesma, principalmente pela classe proletria, tendo em vista a

questo do controle da terra nas mos dos grandes latifundirios e as grandes faixas de terras

ocupadas pela monocultura da cana de acar. A crise do emprego gerada pela desarticulao

da atividade canavieira somou-se falta de alternativas da classe trabalhadora, o que

contribuiu para o fortalecimento da luta por terra na regio, cujos resultados so mais

perceptveis a partir de 1997, com a desapropriao das terras da usina Santa Maria

(MOREIRA e TARGINO, 1997 apud LIMA, 2009).

Na Paraba, assim como em vrios estados nordestinos, os trabalhadores encontraram

muita dificuldade em articular o movimento dos trabalhadores sem terra. Registra-se que a

histria das lutas camponesas, durante a maior parte do perodo histrico, foram lutas

isoladas, porem com objetivo da efetivao da Reforma Agrria (FONSECA et al, 2008). De

acordo com o autor citado, foi atravs dessas experincias de lutas populares que os

trabalhadores rurais conquistaram seu prprio espao e criaram novas formas de luta pelo uso

democrtico da terra. Assim, foi formado, ao longo dos anos de 1970, um espao de

socializao poltica, em que os trabalhadores articulavam-se e organizavam-se em prol da

luta pelos seus direitos, principalmente direito a terra.

De maneira geral, essa relao de conflitos no campo brasileiro fruto de um complexo

processo de relaes sociais, historicamente construdas, e ao mesmo tempo, sustentada pela

estrutura agrria, organizada em forma de latifndios, fundamentada na apropriao privada

da mesma. A terra, neste caso, se torna mercadoria, porque a apropriao privada lhe d esse

carter. Dessa forma, mesmo que a terra seja improdutiva, fica espera de valor especulativo

de mercado (LIMA, et al 2008).

2.3 A SERRA DO ESPINHO, PILES/PB - LOCALIZAO GEOGRFICA

Na Paraba o Planalto da Borborema adquire importncia fundamental na disposio

dos recursos naturais, pois condiciona os tipos de recobrimento vegetal, os solos, a disposio

hidrolgica e os tipos de clima, que vo influenciar diretamente nas atividades econmicas.

Essas caractersticas so mais marcantes na sua vertente oriental, mais especificamente na

microrregio do brejo paraibano, rea beneficiada pela umidade proveniente do litoral e da

zona da mata paraibana.

O municpio de Piles est localizado na Microrregio do Brejo e na Mesorregio

Agreste, do Estado da Paraba (CPRM 2005). De acordo com dados do Censo demogrfico

20

(IBGE, 2010), Piles abrange uma rea territorial de 64 km, abriga uma populao de 6.978

habitantes, sua sede est na altitude de 334 metros (Figura 1).

Figura 1 Mapa de localizao do municpio de Piles/ PB.

Fonte: Henrique e Fernandes 2012.

O municpio de Piles est a uma distncia de 117 km da capital, com acesso a partir de

trs vias estaduais, duas delas asfaltadas, que ligam o municpio aos seus vizinhos e demais

regies do pas, que so a PB 077 (Joo Pessoa Guarabira Cuitegi); PB 087 (Campina

Grande Areia Piles). Nessa regio encontra-se a Serra do Espinho, localizada entre os

municpios de Piles e Cuitegi, um ambiente serrano ocupado por pequenas comunidades

agrcolas cujo potencial natural e humano precisa ser melhor compreendido.

O assentamento Veneza est localizado na Serra do Espinho Piles/PB, a 3 km da sede

do municpio, compreendendo uma rea total de 320 hectares, com coordenadas UTM

0213176l e 9239992 e apresenta altitude de 343 metros.

21

3 MATERIAIS E MTODOS

Utilizou-se como um dos mtodos para a avaliao dos recursos naturais os

pressupostos escritos por AbSber (1969) e Tricart (1977), tendo a TEORIA GERAL DOS

SISTEMAS como base para um estudo integrado do meio ambiente. Os autores consideram

que o estudo geoambiental deve iniciar com o conhecimento das macroestruturas at a

descrio dos aspectos fisiogrficos atuais e sua ocupao, ou seja, ser necessrio

compartimentar os domnios morfolgicos, considerando os processos morfogenticos que

aconteceram ao longo do tempo, bem como suas formas de uso pela sociedade, para

compreender a morfodinmica atual.

Nesse contexto, o desenvolvimento da pesquisa decorreu dos procedimentos de

gabinete, de campo e de laboratrio, a partir do material e instrumental tcnico: folhas

sistemticas planialtimtricas da (SUDENE/DSG, Superintendncia do Desenvolvimento do

Nordeste) na escala 1:100000; esboo geolgico e geomorfolgico e de solos (SEMARH,

2004 Secretaria do Meio e dos Recursos Hdricos) da Borborema e dados pluviomtricos da

CAGEPA(Companhia de gua e Esgotos da Paraba); tambm foram utilizados dados de

precipitao das estaes pluviomtricas existentes na rea de estudo, alm da ficha de campo

para caracterizao dos aspectos geolgico-geomorfolgicos, hidro-climatolgicos, solos e

biodiversidade, uso e ocupao do solo (SOUZA, 1999).

Em gabinete levantou-se o material bibliogrfico e geocartogrfico; os clculos

climticos seguidos de anlise de suas tabelas e grficos; os questionrios socioeconmicos

totalizando oito questes e as fichas de campo para a caracterizao e avaliao do meio

fsico, seguindo com a tabulao dos dados.

Prosseguimos os trabalhos de campo com o levantamento fitossociolgico. No decorrer

do levantamento das informaes aqui expostas, foi realizada uma reunio com os moradores

da comunidade Veneza, explicando o objetivo do estudo. Em seguida foram aplicados

questionrios semiestruturados com o atual presidente da Associao dos Trabalhadores

Rurais do P.A. Veneza, alm de dois dos moradores mais antigos do Assentamento

objetivando extrair mais informaes sobre a vegetao da rea em foco. Posteriormente foi

instalada uma unidade amostral de 10 x 10m (Figuras 2 e 3), devidamente demarcada em

coordenadas UTM (Unidades Transversas de Mercator), de longitude e 280 metros, escolhida

aleatoriamente no Assentamento Veneza.

22

Figuras 2 e 3 Levantamento florstico do Assentamento Veneza, Serra do Espinho,

Piles/PB, 2014.

Fonte: trabalhos de campo, 2014.

O tipo de amostragem aplicada foi o mtodo dos quadrados, proposto por Mueller-

dombois & Ellenberg (1974), Rodal et al., (1992) e Arajo & Ferraz (2004).

O levantamento fitossociolgico levou em considerao todos os indivduos vivos com

altura a partir de 1m. Posteriormente os indivduos foram identificados e enumerados com o

uso de etiquetas. Para cada espcie, foram coletadas informaes sobre o DAP (dimetro na

altura do peito); altura mdia, por meio de uma vara de madeira graduada; cobertura da copa e

altura do tronco, incluindo tambm na ficha de campo o nome popular e sua utilidade.

Em gabinete foram elaboradas as tabelas contendo as famlias, suas respectivas

espcies, nome vulgar e quantidade de indivduos vegetais encontrados no Assentamento

Veneza. A identificao das espcies foi realizada com base em Lorenzi (2008), de acordo

com os estudos de taxonomia vegetal, que consistem em agrupar os vegetais e orden-los em

categorias hierrquicas, segundo suas afinidades naturais ou graus de parentesco (Quadro 1)

os chamados sistemas filogenticos de classificao (FERNANDES & BEZERRA 1990).

Os dados foram processados pelo Software Microsoft Office Excel 2007. Parte

do Microsoft Office Enterprise 2007. 2008 Microsoft Corporation. Todos os direitos

reservados.

23

Quadro 1 Nomenclatura botnica categorias hierrquicas da vegetao.

CATEGORIAS TERMINAES

TXONES

Filo Phyta Magnoliophyta, Briophyta

Subfilo Phytina Pterophytina, Magnoliophytina

Classe Opsida Magnoliopsida, Pteropsida

Subclasse Idae Magnoliidae, Liliidae

Ordem Ales Malvales, Rosales

Subordem Ineae Rosineae,

Famlia Aceae Rutaceae, Araceae

Subfamlia Oideae Coffeoideae

Tribo Eae Phaseoleae

Subtribo Inae Malvinae

Gnero us, a, um Cenchrus, Senna

Espcie - Croton sonderianus

Fonte: Fernandes & Bezerra (1990).

Os procedimentos metodolgicos para a compreenso das caractersticas dos solos da

comunidade Veneza consistiu na anlise de um perfil de solo localizado na estrada que d

acesso comunidade. Presseguiu-se a descrio morfolgica de seus horizontes e

subhorizontes, seguindo-se a metodologia de Santos et al. (2005). Posteriormente fez-se a

distino dos horizontes e a coleta de solo para anlise de suas caractersticas fsicas e

qumicas nos laboratrios de Fsica do Solo e de Qumica e Fertilidade do Solo do

Departamento de Solos e Engenharia Rural do CCA/UFPB. (Figuras 4 e 5).

Figura 4 Coleta do solo no Assentamento

Veneza, Serra do Espinho, Piles/PB. 2014.

Figura 5 Perfil de solo no Assentamento

Veneza, Serra do Espinho, Piles/PB. 2014.

Fonte: Trabalhos de campo, 2014

As anlises fsicas do solo coletado no Assentamento Veneza consistiram em

granulometria, classificao textural, argila dispersa em gua, grau de floculao, densidade

do solo, densidade da partcula e porosidade total. Enquanto que as anlises qumicas foram

s rotineiras de fertilidade, com a determinao do pH em gua, fsforo, potssio, sdio,

24

clcio, magnsio, acidez potencial (H + Al), e carbono orgnico, segundo a metodologia da

comisso de fertilidade do solo do estado de Minas Gerais.

A partir dos resultados das anlises macromorfolgicas, fsicas e qumicas, os dados

foram tabulados, sistematizados e interpretados, para proceder classificao seguindo-se as

chaves propostas pelo Sistema Brasileiro de Classificao de Solos (EMBRAPA, 2013), at o

4 nvel categrico (sub-grupo).

25

4 RESULTADOS E DISCUSSES

No presente captulo constam os resultados encontrados na rea da pesquisa, no que diz

respeito ao Assentamento Veneza, no contexto da Serra do Espinho; os aspectos geolgicos,

geomorfolgicos, hidrolgicos, climatolgicos, solos, biodiversidade, uso e ocupao do

Assentamento Veneza. O estudo desses elementos e o papel de cada um na estrutura

socioeconmica do ambiente estudado constituem parte essencial para se chegar aos objetivos

propostos na pesquisa.

4.1 O ASSENTAMENTO VENEZA NO CONTEXTO DA SERRA DO ESPINHO

A microrregio do brejo paraibano uma das 23 microrregies do estado da Paraba,

pertence mesorregio do Agreste Paraibano e formada por oito municpios (Bananeiras,

Borborema, Serraria, Piles, Areia, Alagoa Nova, Alagoa Grande e Matinhas), estimada em

116.437 habitantes, distribudos em uma rea total de 1.202,1 km2 (IBGE, 2010). O municpio

de Piles um dos menores da microrregio supracitada, tanto em rea territorial (64 km2)

quanto em populao (sete mil habitantes), distribuda entre a sede e os distritos ou

comunidades (CPRM, 2005; IBGE, 2010).

nesse municpio onde est localizada a Serra do Espinho, um ambiente ocupado por

quatro comunidades (Veneza, Titara, Ouricuri e Poo Escuro), que so ligadas por estradas de

barro, rodovia principal, a PB 077, indo de encontro ao municpio de Cuitegi, pertencente

vizinha microrregio de Guarabira. Alm das estradas de barro, cada comunidade possui

algumas vias menores e mais estreitas, as chamadas trilhas, que adentram pela mata,

permeando os morros e riachos e permitem descobrir ambientes que apresentam atraes

tursticas e favorecem a prtica do turismo rural, turismo ecolgico ou geoturismo pelos

visitantes e pelos prprios moradores locais.

A Serra do Espinho formada, predominantemente, por material cristalino dissecado

em colinas e lombas alongadas, de topografias forte-onduladas a montanhosas, com densa

rede de drenagem de padro dendrtico e sub-dendrtico, com quedas dgua, que formam

vales em V (CPRM, 2005; CAVALCANTE, 2010; FERREIRA, 2012). Apesar de ser um

ambiente ocupado por pequenas comunidades, de proporcionar a produo agrcola e

pecuria, a manuteno de florestas e animais e ser dotado de forte potencial turstico, essa

rea possui muitas limitaes e instabilidades naturais e sociais que merecem ser analisadas

em busca do uso racional desse ambiente.

26

Os ambientes naturais que se formaram ao longo da Serra do Espinho, de onde fluem

quedas dguas que modelam o relevo, tais como as cachoeiras de Ouricuri, de Veneza e Poo

Escuro, tm contribudo para a explorao de suas trilhas, onde se desenvolvem vrias

atividades econmicas e de lazer, porm, sem a mnima conscincia ecolgica.

O Assentamento Veneza uma das comunidades que compe a Serra do Espinho, est

situada a 3 km da sede do municpio. Trata-se de um ambiente que possui diversas formas

naturais (corredeiras, quedas dgua, formaes rochosas, vales, cobertura vegetal exuberante)

e desenvolve atividades humanas que estimulam a visitao, como as apresentaes culturais,

o artesanato, o Memorial da casa de farinha e a gastronomia local. Todas essas

potencialidades contribuem para o desenvolvimento socioeconmico desse assentamento.

Os 26 assentados que vivem no Assentamento Veneza so cadastrados em polticas

pblicas Federais, Estaduais, e Municipais, promovendo um bom desenvolvimento social,

referentes infraestrutura bsica, tais como abastecimento de gua, energia, habitao,

educao e transporte. Cada famlia possui renda de at um salrio mnimo com as suas

atividades. Organizam-se atravs das Associaes dos Moradores Rurais do Projeto do

Assentamento (PA) Veneza e da Associao Rural das Mulheres.

As mulheres associadas j participaram de vrias capacitaes e consultorias

promovidas pelo Servio de Apoio s Microempresas da Paraba (SEBRAE) e outros rgos.

Produzem artesanatos diversos (porta- toalha, pintura em tecido, croch, artes em bambu,

dentre outros) e com a comercializao de seus produtos, auxiliam nas despesas domsticas e

garantem uma melhor qualidade de vida.

Atualmente a CG Consultoria de Minas Gerais, em parceria com o SEBRAE/PB e a

prefeitura municipal de Piles, na gesto da Prefeita Adriana Andrade, esto criando roteiros

tursticos no intuito de fortalecer e desenvolver o turismo de base rural. Atravs da gesto

municipal foi conquistado para o Assentamento Veneza um projeto de horticultura conhecido

como PAES, que visa integrar os agricultores no plantio de legumes e hortalias. H

projetos encaminhados atravs desses rgos para a reforma da casa grande do Assentamento

Veneza, que dar lugar a uma pousada comunitria, alm da construo de um restaurante

rural, uma forma de preparar melhor o espao para receber os visitantes e turistas que forem

conhecer a comunidade.

Uma das mais atuais polticas para beneficiar o PA Veneza a implantao de um

sistema coletivo de captao, armazenamento e distribuio de gua para consumo humano,

que faz parte do programa de universalizao do acesso e uso gua AGUA PARA

TODOS, de acordo com o termo de compromisso firmado entre a Superintendncia do

27

Desenvolvimento do Nordeste SUDENE e o municpio de Piles/PB, no valor de RS

96.487,26. O objetivo levar agua encanada, de poo artesiano, para todos os moradores.

O assentamento Veneza, em comparao com as outras comunidades da Serra do

Espinho, vem se organizando melhor para o turismo rural, de acordo com os seus interesses, e

j vem participando da rota cultural intitulada CAMINHOS DO FRIO. O Evento foi criado

em 2005, uma realizao do Frum Regional do Turismo Sustentvel do Brejo Paraibano,

por meio da Secretaria de Estado e da Cultura. Trata-se de um grande projeto para divulgar a

cultura local e seus artistas, que tem no seu roteiro alguns municpios da microrregio do

Brejo Paraibano tais como, Areia, Alagoa Grande, Piles, Solnea, Bananeiras, Solnea,

Alagoa Nova, Matinhas e Remgio (Figura 6 e 7).

Figuras 6 e 7 Rota cultural Caminhos do Frio em Piles/PB.

Fonte:Piles/PB, 2014.

O evento cultural Caminhos do Frio, tem como objetivos principais o fomento,

incremento e a explorao do segmento do turismo cultural e busca fazer um recorte sobre o

passado patriarcal da regio dando nfase ao seu patrimnio arquitetnico, sobretudo a

arquitetura rural dos antigos engenhos de cachaa, rapadura e melado. Visa disseminar a

concepo do valor cultural para um pblico alvo - os turistas e a sociedade civil, com o

intuito de resgatar a cultura local e regional, no s para os turistas, mas principalmente para

os prprios moradores locais que, muitas vezes, no valorizam o seu espao e a sua cultura.

Na 9 Edio da Rota Cultural Caminhos do Frio, ocorrida nesse ano de 2014, o

Assentamento Veneza recebeu um espao de visitao que contou com a presena de vrios

turistas das cidades paraibanas e de outros estados do Brasil. A visitao se deu ao Memorial

da Casa de farinha e as caminhadas pela prpria comunidade. No Assentamento, os turistas

observaram como se fabrica a farinha de mandioca e ao final da exposio, foram convidados

28

a participar de um banquete com comidas caseiras fabricadas da prpria mandioca, como o

beiju, a tapioca, o bolo de macaxeira e sucos com frutas existentes na comunidade como caju

(Anacardium occidentale L.), manga (Mangifera indica L), acerola (Malpighia punicifolia L.),

maracuj (Passiflora eduli Sims.), caj (Spondis mombin), dentre outros.

No Assentamento Veneza as visitas so permitidas durante o ano todo, e atravs de

agendamento o turista poder ver, passo a passo, a fabricao manual da farinha. Os

moradores esto desenvolvendo alternativas para atrair o fluxo de turistas o ano todo no

assentamento, j que no calendrio municipal, o que fortalece a cultura local so apenas a rota

cultural caminhos do frio e o festival gastronmico som e sabores. No entanto, visam

aproveitar a semana santa, a festa de comemorao de emancipao poltica do municpio, o

carnaval e o ano novo, para continuarem desenvolvendo economicamente o Assentamento.

4.2 CARACTERIZAO GEOAMBIENTAL

Neste item sero apresentadas as caractersticas geolgicas e geomorfolgicas para uma

melhor compreenso dos aspectos geoambientas do Assentamento Veneza Piles/PB.

4.2.1 Caracterizao Geolgica e Geomorfolgica

Os aspectos geolgicos permitem conhecer uma rea de estudo a partir de sua estrutura,

dos seus fatores internos e externos, ao mesmo tempo em que ambos so responsveis pelo

modelado do relevo. Conhecer a geologia de um ambiente conhecer as rochas que a

originaram e sua evoluo, que subsidia a anlise do relevo e contribui para compreender os

tipos de solos que a ocorrem. De acordo com Boas e Maral (2014) a geologia uma das

reas da geocincia estudada h muitos sculos e oferece inmeros subsdios para a sociedade

entender os processos de evoluo da terra, bem como da ocupao humana sobre ela.

Por cima do arcabouo geolgico vamos encontrar as diversas formas de relevo,

estudadas pela geomorfologia, que tem a misso de analisar a gnese e a evoluo do relevo

terrestre. Nesse contexto Guerra e Jorge (2014) asseguram que a geomorfologia a cincia

que estuda as formas de relevo levando em conta os materiais existentes (rocha e solo) e os

processos endgenos e exgenos que do origem a essas formas.

O arcabouo geolgico do planalto da Borborema exibe caractersticas que, de acordo

com Corra et al (2010) na Borborema existe uma vasta extenso de afloramentos rochosos

metassedimentares, esto associadas s faixas mveis pr-cambrianas, cuja gnese remonta a

episdios de metamorfismo regional durante a orognese Brasiliana.

29

Para Jatob (2006) o Planalto da Borborema um conjunto estrutural macio, de bloco

falhado e dobrado em rocha do embasamento cristalino, que se estende desde Alagoas at o

Rio Grande do Norte, na poro oriental do Nordeste brasileiro, apresenta nveis altmetros

entre 600-800m, ou um pouco mais. H reas entalhadas por vales profundos alternados com

diferentes feies de relevo dissecados com colinas, cristas paralelas, outeiros, bem como

patamares escalonados para leste e superfcies pediplanadas para oeste.

Segundo Ferreira (2010), o material geolgico na Serra do Espinho composto por

granito e gnaisses, que compem, de forma geral, o arcabouo, com uma estruturao

compacta e homognea, mas possvel enumerar diversos pontos desse material rochoso que

aflora e apresenta significativos planos de fraturas, diclases e pequenas dobras.

De acordo com CPRM (2002), os aspectos geolgicos da Serra do Espinho se

encontram divididos em dois perodos geolgicos (Mesoproterozico e Palegeno) e trs

unidades estratigrficas distintas: Formao Serra dos Martins, Complexo So Caetano e

metagranitides Cariris Velhos (Figura 8).

Figura 8 Mapa geolgico do municpio de Piles/PB

Fonte: CPRM, 2005.

30

No que se refere ao Mesoproterozico, a rea se divide nas seguintes unidades

litoestratigrficas o Complexo So Caetano (Mct) e os Metagranitides Cariris Velhos

(My2b). O Complexo So Caetano (Mct) composto de rochas que sofreram metaformismo

parcial e metavulcanoscltica, apresentam uma componente vulcnica dominantemente

flsica-intermediria, que ocorreu numa sequncia metassedimentar a aproximadamente 143

m/a. Os Metagranitides Cariris Velhos (My2b) so rochas granticas, leucogranitos e

migmatitos de fonte crustal, gerados principalmente por fuso parcial de protlito sedimentar

ou Vulcano- sedimentar, que ocorre durante o movimento orognico.

Com relao ao perodo Palegeno, este representado pela Formao Serra dos

Martins, que corresponde a algumas serras na regio Nordeste do estado formando chapadas

com altitudes em torno de 800 metros, originando feies morfolgicas caractersticas. Em

sua base de formao, ocorrem arenitos esbranquiados, mal selecionados, localmente

predominam os conglomerticos, caulnicos, homogneos e friveis, com camadas

silicificadas. A sua poro mdia representada por bancos de arenitos argilosos,

homogneos, de colorao amarela a vermelha, com gros de quartzo subangulosos a

arredondados. O topo de sequencia formado por crosta latertica de cor vermelha roxa,

seixos de quartzo angulosos, mal selecionados e cimento ferruginoso.

O municpio de Piles est inserido na encosta oriental da Borborema, marcada por um

alinhamento diferencial, onde se distingue uma poro setentrional com direo N-S e um

setor meridional alinhado a NE-SW. A rea intensamente dissecada e rampeada em direo

ao litoral, com altitudes que variam entre 200 e 500m, destacando-se na paisagem alguns

blocos serranos com altitudes acima de 600m. O relevo apresenta-se ondulado a fortemente

ondulado, com trechos montanhosos, formando um conjunto de topos arredondados, vertentes

convexas e vales em forma de V do tipo apalachiano (JATOB, 2006).

Os autores supracitados asseguram que nas anlises feitas do relevo apalachiano so

explicadas na participao da eroso diferencial, atravs da ocorrncia de afloramentos

paralelos de camadas de rochas mais resistentes e de rochas tenras, com a participao do

tectonismo no soerguimento da antiga superfcie de eroso, que nivelou a pretrita estrutura

dobrada e a rede de drenagem superimposta.

De acordo com Ferreira (2010) o rebordo oriental dessa provncia apresenta e configura-

se de um modelado cncavo- convexo interceptado por vales estreitos e encaixados adaptados

morfologia local, e ao mesmo tempo marcado por meandros e terraos fluvial nos vales.

31

4.2.2 Caracterizao Hidrolgica e Climatolgica

De acordo com os dados pluviomtricos da Agncia Executiva de Gesto das guas do

Estado da Paraba (AESA, 2004) a regio da Bacia Hidrogrfica do Mamanguape apresenta

precipitaes mdias anuais que variam entre 700 e 1600 mm, com o ms de maio sendo o

mais chuvoso e o de outubro o mais seco. Na Serra do Espinho, h uma amplitude altimtrica

significativa, com variaes de mais de 300 m (HENRIQUE, 2012). Segundo a Companhia de

Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM, 2005) a malha hidrogrfica do municpio de Piles

composta pelo rio Araagi e Araagi-Mirim, afluentes da bacia hidrogrfica do Mamanguape.

Geomorfologicamente, notria a formao de feies conhecidas como marmitas de

gigante, que se trata de geoformas circulares e cncavas esculpidas nas rochas atravs da

ao erosiva das guas ao longo do curso do rio.

O relevo cncavo-convexo, com resqucios de vegetao da mata atlntica est presente

na Serra do Espinho PILES\PB, condicionados fortemente pela encosta oriental, exposta s

chuvas orogrficas e favorecidas pela penetrao de ventos alsios ricos em umidade atravs

dos vales do Paraba do Norte e do Mamanguape. A ao provocada por esses fenmenos

intensifica a formao do manto de intemperismo, e contribui para que exista nesses

ambientes certa perenidade hdrica nos canais fluviais que ali se formam (HENRIQUE E

FERNANDES, 2011) (Figura 9).

Figura 9 Mapa da bacia Hidrogrfica do Rio Mamanguape, Paraba.

Fonte: AESA, 2014. Adaptado por Mara da Cunha Souza, 2014.

32

No municpio de Piles, as caractersticas hidrolgicas e climatolgicas diferem

daquelas que marcam o Polgono das secas, pois se encontra em um enclave paisagstico

marcado por temperaturas mais amenas e perodo chuvoso mais definido, com precipitaes

abundantes, formando os brejos no semirido, surgem como verdadeiras ilhas de umidade e

de refgios para os seres biticos e para os elementos que compem a paisagem.

Ao observar a Figura 10, que se refere mdia pluviomtrica do perodo entre os anos

2000 e 2013, nota-se que a Serra do Espinho bem servida de potencial pluviomtrico, com

mdia de 1200 mm; que no perodo de treze anos, oito deles foram bastante chuvosos, sendo

que os anos 2000, 2004, 2009 e 2011 a mdia pluviomtrica foi acima de 1700 mm.

Figura 10 ndice pluviomtrico anual do municpio de Piles/PB.

Fonte: AESA, 2014. Adaptado por Mara da Cunha Souza, 2014.

Os dados encontrados e analisados se assemelham ao que apregoa Mariano Neto (2006)

apud Costa (2006), quando afirma que a mesorregio agreste influenciada pela semi-aridez

do serto (clima quente-seco) e a umidade vinda do litoral (clima quente-mido), criando uma

zona de transio natural, porem, no entorno do brejo a temperatura diminui em funo do

Planalto da Borborema e dos ventos alsios do sudeste, provocando chuvas orogrficas e

deixando o ambiente com temperaturas mais amenas (frio).

De acordo com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 2005) o clima

predominante na Serra do Espinho o tropical chuvoso e com vero seco. A estao chuvosa

se inicia em Janeiro/Fevereiro com trmino em setembro, podendo se adiantar at outubro,

quando volta a apresentar ndices pluviomtricos bem aproximados daqueles do litoral. A

33

precipitao mdia anual na Microrregio do Brejo de 1200 mm, o que favorece a

perenidade e fluxo dgua dos seus rios, chega apresentar uma umidade relativa do ar de 85%,

sua temperatura mdia anual de 22C, com a mnima atingindo menos de 15C, isto nos

anos mais frios.

4.2.3 Solos e Biodiversidade

A caracterizao ambiental permite mostrar todos os elementos que fazem parte do

sistema natural do ambiente. Neste item sero expostos os resultados do levantamento de

solo, a partir da anlise feita no perfil de solo realizado no Assentamento Veneza, e o

levantamento fitossociolgico apresentando parte da biodiversidade encontrada mediante os

estudos realizados em campo.

4.2.3.1 Levantamento de solo

O perfil de solo analisado no Assentamento Veneza est localizado ao longo da estrada

que d acesso mesma, nas coordenadas UTM 0212692 e 9239948, a 305 m de altitude.

Segundo a CPRM (2005) as principais classes de solos que ocorrem no municpio de Piles

so os ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELO distrficos e os NEOSSOLOS

LITLICOS.

Os ARGISSOLOS so formados por material mineral, desenvolvidos a partir de

diferentes materiais de origem, apresentam horizonte B textural (Bt), argila de atividade baixa

(Tb), ou alta (Ta) conjugada com saturao por bases (V) baixa ou carter altico

(EMBRAPA, 2006). So constitudos, predominantemente, por caulinita, com teores baixos

de xidos de ferro, alm de pequenas quantidades de illita e vermiculita. Quanto aos gros

(Gr), alm do quartzo, ocorrem minerais menos resistentes ao intemperismo como micas e

feldspatos (EMBRAPA, 2006).

Os ARGISSOLOS so a segunda ordem mais extensa dos solos brasileiros, ocorrendo

em todos os domnios pedobioclimticos, sobre diversos tipos de materiais de origem.

Aqueles solos que ocorrem nas zonas litorneas em relevo plano a suave-ondulado, derivam

de sedimentos da Formao Barreiras, datados do Tercirio ou de arenitos datados do

Cretceo. Por outro lado, os solos que ocorrem nas zonas de relevo forte ondulado a

montanhoso derivam de saprolito de ganisses, migmatitos e granitos.

Na Paraba os ARGISSOLOS correspondem terceira ordem de maior ocorrncia,

(13,3 % da rea total), perdendo apenas para os NEOSSOLOS LITLICOS (40,2 %) e

34

LUVISSOLOS (23,2 %), abrange partes da Depresso Sertaneja, Planalto da Borborema e

Baixo Planalto Costeiro segundo Brasil (1972). Por serem solos dotados de horizonte B bem

definido e estarem em reas onduladas a suave-onduladas, so bastante cultivados com

agricultura de subsistncia, pastagens, cana-de-acar e abacaxi.

Os ARGISSOLOS VERMELHOS originam-se de rochas bsicas ou ricas em minerais

ferromagnesianos (BRASIL, 1973). Apesar de serem os ARGISSOLOS cobertos por diversos

tipos de vegetaes (caatinga hipoxerfila, hiperxerfila, transio floresta/caatinga, floresta

subcaduciflia, floresta equatorial, mata atlntica e outras), so considerados de baixa

fertilidade natural e de forte acidez. Em reas planas suave onduladas apresenta perfis

profundos e horizontes bem desenvolvidos, o que demonstra ser um solo maduro e

intemperizado (ndice Ki baixo), tpico dos solos maduros.

Os NEOSSOLOS provm de material mineral ou por material orgnico pouco espesso,

com pequena expresso dos processos pedogenticos, em consequncia da baixa intensidade

de atuao desses processos, que no conduziram, ainda, a modificaes expressivas do

material originrio, de caractersticas do prprio material, pela sua resistncia ao

intemperismo ou composio qumica, e do relevo, que podem impedir ou limitar sua

evoluo. So solos jovens com pouco desenvolvimento dos perfis, formados em superfcies

jovens, midas, secas ou esto sobre material de origem muito resistente (EMBRAPA, 2013).

A distribuio global dos NEOSSOLOS indica que muitos fatores e a forma como

agem, pode limitar o desenvolvimento dos horizontes, incluindo climas e microclimas ridos,

diferentes formas de eroso, declividades acentuadas, baixa fertilidade, saturao com gua,

pequeno tempo de exposio do material de origem aos fatores de formao do solo e recentes

mudanas drsticas a fatores biticos (BUOL et al.,1997). O recente estudo elaborado por

Henrique (2011) atesta que os NEOSSOLOS acima descritos encontram-se associados aos

NEOSSOLOS Litlicos eutrficos e NEOSSOLOS regolticos. J os ARGISSOLOS

Vermelho-amarelo esto associados aos Cambissolos Hplicos.

No Perfil de solo analisado no assentamento Veneza, apresentados nas figuras 11 e 12,

foi possvel distinguir cinco horizontes, descritos em suas caractersticas macromorfolgicas,

fsicas e qumicas, nas tabelas 1, 2 e 3. Aps as anlises de laboratrio, foi possvel classificar

o perfil de solo at o 4 nvel categrico de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificao

de Solos (EMBRAPA, 2013).

O perfil de solo estudado encontra-se na margem direita da estrada, em direo ao

Assentamento Veneza, em uma rea com material originrio de gnaisses e granitos cobertos

por arenitos. O relevo regional montanhoso, mas o relevo local apenas inclinado, com uma

declividade entre 13 a 25%. A eroso ocorre de forma laminar forte em material

35

moderadamente pedregoso a ligeiramente rochoso, coberto pela vegetao secundria. A rea

atualmente utilizada para agricultura de subsistncia e monocultura da bananeira. O solo

bem drenado, com profundidade efetiva de at 2m de profundidade e no perfil escolhido foi

possvel distinguir cinco horizontes nos dois metros de profundidade cavados (Tabelas 1 a 3).

Tabela 1 Descrio morfolgica de perfil de solo, Assentamento Veneza, Piles/PB 2014

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrfico arnico abrptico

Horiz. Prof. (cm) Transio Cor1 Textura Estrutura Consistncia Porosid. Porosidade Razes Superfcie

Ap

0-10

7,5YR 4/4

Marrom 2,5y R 2,5/ 2

Vermelho muito forte

Franco-

arenoso

Granular mdia

Ligeiramente duro,

frivel, plstico, muito pegajoso

A1

10-30= 20 cm

7,5 YR 4/6 Marrom escuro

25 YR 3/2 Vermelho escuro

acinzentado

Franco-

arenosa

Subangular

granular, mdia.

Ligeiramente duro frivel

no plstico e no pegajoso

Difusa e

Plana

B 30-80=

40cm

5,4R 4/6 Vermelho

amarelado 2,54YR 4/6

Vermelho

Franco-

arenosa

Prismtica grande Ligeiramente duro frivel

ligeir. plstico e ligeiram. pegajoso

Abrupta e

Ondulada

B1

70- 1,20m=

50cm

54R 3/4

Marrom Vermelho-

escuro

2,5YR 3/6

Vermelho escuro

Muito

arenoso

Granular mdio,

grande

Macio firme no plstico

no pegajoso

Difusa e

Plana

C

1,20-200= 80cm

2,5YR 4/8

Vermelho 2,5YR 4/6 u

Vermelho

Franco-

arenoso

Prismtica, angular,

subangular, mdio, grande.

Duro frivel pegajoso

plstico

Clara e plana

1 A tomada de cores do solo na Carta de Munsell obedeceu s condies: seca (s) e mida (u).

36

Tabela 2 Caractersticas fsicas de perfil de solo no Assentamento Veneza, da Serra do

Espinho- Piles/PB ARGISSOLO VERMELHO - AMARELO Distrfico arnico abrptico

Horizontes Prof

Simb cm

Areia

Grossa fina .2-0,2 0,2-0,05 ...........mm..........

Silte 0,05-0,002

Mm

Argila

37

VERMELHO-AMARELO Distrfico arnico abrptico, porque apresenta mudana textural

abrupta e com textura arenosa desde a superfcie do solo at 80 cm de profundidade.

As caractersticas fsicas do solo em estudo propiciam o seu bom uso para a agricultura,

pois est em rea suavemente ondulada, no apresenta rochosidade, mas a maior parte do

material prximo superfcie (at 70 cm de profundidade) arenoso, com exceo do

horizonte B textural. Suas caratersticas qumicas atestam ser esse solo de acidez mdia, que

o bastante para a maioria das culturas, o teor de P e Mg so mdios, o K alto e Na e Ca so

baixos. Esses valores geraram uma SB baixa e CTC mdia, com V% baixa a mdia, o que lhe

confere a condio distrfica, porm com um alto potencial de matria orgnica. Tais

caractersticas requerem que esse solo passe por uma correo com adubos orgnicos e

calcrio, para que a acidez possa ser minimizada (ALVAREZ et al, 1999).

4.3.1.2 Levantamento Fitossociolgico

Baseado na teoria de Tricart (1977), que distribui os espaos naturais em meios estveis

(a pedognese predomina sobre a morfognese); instveis (a morfognese predomina sobre a

pedognese) e intergrades (quando o ambiente est se direcionando para o equilbrio), a rea

em estudo pode ser considerada como um meio intergrade, ou seja, um meio transicional

para o equilbrio natural. Casseti (1991) salienta que os meio intergrades reportam a situao

de modificao do sistema fitoestvel antes de transcender o limiar de recuperao, tornando

possvel a restaurao de um meio estvel ou a transformao desse meio em um meio

fortemente instvel.

A unidade amostral aqui estudada singularmente uma rea escarpada e instvel, que

sofre de forma mais acentuada os efeitos pluvioerosivos devido a sua declividade ocorrendo

assim o processo de escoamento superficial e movimento de massa. O clima se constitui no

grande agente responsvel processos morfogenticos dentre eles os pluvioerosivos e pela

dinmica processual interferindo indiretamente nesse espao (onde a cobertura vegetal e o

solo se fazem presentes) (CASSETI, 1991).

Quanto s caractersticas florsticas, a coleta de dados ocorreu em um ambiente instvel

(TRICART, 1977), inserido no Assentamento Veneza, Piles PB; a vegetao nativa do local

foi completamente retirada para dar espao s plantaes de cana-de-acar. Por dcadas esse

espao foi explorado por essa monocultura, matria prima destinada usina Santa Maria. Nos

ltimos anos, com a desapropriao e a transformao do espao em um Assentamento rural,

essa rea vem se recuperando j que esta um espao protegido pelo IBAMA (Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente) e a vegetao poder passar para o nvel gradual de equilbrio.

38

Baseado nos resultados encontrados acredita-se que a preocupao principal do

assentamento Veneza com a sua cobertura vegetal deve ser a de facilitar a manuteno e

preservao da mata secundaria, marcada por indivduos de troncos finos, o que revela a

juvenilidade da mesma, j que esta assume o papel de frenador, que atua como um dissipador

da energia do material em deslocamento.

A cobertura vegetal da localidade enquadra-se no tipo mais conhecido como brejo de

altitude, com vrias matas que acompanham os principais recursos hdricos, funcionando

como uma mata ciliar, de porte alto e de grande densidade. As principais essncias florestais

encontradas nesse tipo de mata so: Angico (Anadenanthera macrocarpa), Pau Darco Roxo

(Handroanthus heptaphyllus), Pau Darco Amarelo (Handroanthus serratifoliius), Aroeira

(Myracrodruon urundeuva), Freij (Cordia trichotoma (Vell.) Arrb. Ex Steud), Ing (Inga

vera subsp. Affinis (DC.) T.D. Penn e Embaba (Cecropia pachystachya Trcul). Com a

devastao original da flora, a cobertura vegetal do municpio enquadra-se na mata latifoliada

perenifliada de altitude (FERREIRA, 2012).

Segundo Braga et al (2002) a Mata latifoliada pereniflia de altitude (Mata do

Brejo) bem caracterizada pela formao na Zona do Brejo paraibano. Trata-se de uma

formao arbrea de grande porte, densa, com um nmero grande de palmeiras. A contnua

derrubada dessa Mata tem ampliado a rea de expanso das chamadas caatingas Brejadas,

tpicas do contato entre a zona mida do Brejo e reas mais secas, caracterizadas pela

interpenetrao das floras da mata mida e da caatinga (BRAGA et al, 2002 p, 775).

No Assentamento Veneza existia uma grande quantidade de palmeiras, como a ouricuri

(Sygrus Coronata), pertence famlia Arecaceae, bastante comum na regio Nordeste,

utilizada para fins alimentcios e em construo de telhados, paredes e moures

www.scielo.br/bb; e a jacitara (Desmoncus SP) pertencente mesma famlia, so encontradas

nas margens dos rios produz frutos pequenos globosos e comestveis, utilizada de forma

rustica para confeco de utenslios base de fibras vegetais www.coisasdaroca.com; espcie

prpria da mata latifoliada perenifoliada de altitude, contudo hoje se encontram poucos

indivduos deste tipo devido utilizao dos mesmos pelos moradores para a cobertura das

casas de taipas, as primeiras habitaes construdas pela populao na localidade.

A composio Florstica da rea amostrada formada por 40 indivduos, pertencentes a

4 famlias, distribudos em 6 gneros (Tabela 4). As espcies com maior incidncia em

representao da flora no Assentamento Veneza foram o Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D.

Penn. da famlia Fabaceae com 25 indivduos e Guazuma ulmifolia Lam. com 11 indivduos

da famlia Malvaceae. A famlia que mais se destacou foi a Fabaceae com 26 indivduos.

http://www.scielo.br/bbhttp://www.coisasdaroca.com/

39

Tabela 4 Famlias e respectivas espcies amostradas no Assentamento Veneza, Piles/PB

Fonte: Trabalho de campo, 2014.

- Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn. (Ing)

A espcie mais representativa da flora em estudo Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D.

Penn. (Ing), com 25 indivduos representou 69,5% do total amostrado. Trata-se de uma

planta semidecdual, helifita, pioneira, seletiva higrfila, caracterstica de plancies aluviais e

beira de rios da floresta pluvial atlntica; ocorre tambm na floresta latifoliada semidecdua,

contudo somente em beiras de rios, apresentando preferncia por reas midas e brejosas,

podendo ocorrer quase que unicamente em formaes secundarias (LORENZI, 2008).

Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn. Possui altura de 5-10 m, dotado de copa

ampla e baixa, com tronco de 20-30 cm, de dimetro, revestido por casca fina com ritidoma

lenticelado e pouco reticulado. Folhas alternas espiraladas, de raque alada, composta

paripinadas, com 4-5 jugas; flores brancas, polistmones, de clice pubescente-ferrugneo e

endroceu branco. A madeira empregada como lenha, confeco de brinquedos e etc.

Durante o ano todo produz anualmente grande quantidade de frutos que so muito procurados

por animais. Como planta pioneira e adaptada a solos midos tima para plantios mistos em

reas ciliares degradadas (LORENZI, 2008).

- Guazuma ulmifolia Lam. (mutamba)

A segunda espcie em incidncia Guazuma ulmifolia Lam. (mutamba) representada

por 11 indivduos, com 27,5 do total amostrado. A Guazuma ulmifolia Lam., uma espcie

arbrea de mdio porte, pertencente famlia Malvacea, de ocorrncia natural em toda a

Amrica Latina (BARBOSA e MACEDO, 1993) ( Figuras 11 e 12).

Famlia/espcie Nome popular N de indivduos

Anacardeacea

Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. Sete casco 1

Malvaceae

Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba 11

Fabaceae

Pterogyne nitens Tul. Sucupira 1

Apocynaceae

Tabernaemontana hystrix Steud. Leiteiro 1

Fabaceae

Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn. Ing 25

Rubiaceae

Genipa americana L. Jenipapo 1

40

Figura 11 Exemplar da espcie Inga vera

subsp. affinis (DC.) T.D. Penn na

Assentamento Veneza, Serra do Espinho,

Piles-PB, 2014.

Figura 12 Exemplar da espcie Guazuma

ulmifolia Lam. Assentamento Veneza, na

Serra do Espinho, Piles-PB, 2014.

Fonte: Trabalho de campo, 2014

De acordo com a descrio botnica de Carvalho (2007), Guazuma ulmifolia Lam.

apresenta forma biolgica com variao de arvoreta a rvore pereniflia, sendo que as rvores

maiores atingem dimenses prximas de 30 metros de altura e 60 centmetros de DAP

(dimetro altura do peito, medido a 1,30 metros do solo). Folhas simples, ovaladas ou

menos comumente elpticas, coberta por pubescncia estrelada em abas as faces, com

nervao camptdroma, de 10-13 cm de comprimento por 4-6 cm de largura. Frutos cpsulas

equinocrpicas deiscentes, com polpa seca e adocicada. (LORENZI, 2008)

Segundo Nunes (2005), G. ulmifolia utilizada na ornamentao (paisagismo), pois

possui uma tima sombra, e sua madeira, na confeco de carrocerias, na marcenaria, na

caixotaria e na produo de pasta de celulose. A casca do tronco utilizada para extrao de

fibras (cordas e tecidos) e na medicina popular (contra elefantase, doenas cutneas, sfilis,

queda de cabelos, infeces respiratrias) alm de ser usado tambm como carvo.

- Genipa americana L.(Jenipapo)

Jenipapo (Genipa americana L.), apresentou 1 indivduo e representa 2,5% do total

amostrado. Segundo Santos (2001), o jenipapo encontrados de forma subespontnea nas

regies tropicais, sendo disseminado atravs de sementes por animais ou pelo homem,

apresentando dessa forma grande variabilidade gentica. Ela pode chega a vinte metros de

altura e da famlia Rubiaceae, a mesma do caf. encontrada em toda a Amrica tropical.

No Brasil, encontramos ps de Genipa americana L. nativos na Amaznia e na mata

atlntica, principalmente em matas mais midas e brejadas, ou prximas a rios - a planta

41

inclusive aguenta encharcamento; sendo encontrados com frequncia nas regies de reas

degradadas, campos, e no paisagismo urbano (LORENZI, 2008). Tendo como caractersticas:

rvore de mdio porte, 8 a 14 metros de altura. Folhas simples, lisas, at 35 cm. Flor amarela

com 5 ptalas, 4 cm e Fruto redondo, macio quando maduro, acinzentado 12 cm.

uma rvore de grande porte, semidecdua. Copas estreitas, piramidal e irregular,

quando jovem. Nos adultos, torna-se arredondada. Fuste reto, com ritidoma spero, de cor

castanha. Folhas simples, opostas, glabras. Flores grandes, com colorao branco-amarelada.

Seu fruto uma baga globosa, com polpa adocicada, aromtica. Quando maduros, apresentam

casca enrugada, coricea e de cor extremamente parda. As sementes so achatadas, duras e

pequenas, no meio da polpa.

Segundo Xavier (1976) o Genipa americana L. adapta-se muito bem em ao clima, no

existindo restries quanto altas temperaturas, porm o seu plantio no aconselhvel onde o

inverno for rigoroso e onde ocorrem geadas, j LORENZI (1992) diz que a espcie parece

desenvolve-se melhor em reas com a pluviosidade entre 1200 a 4000 mm, e com

temperaturas medias entre 18c a 28 graus (Grfico 1).

Grfico 1 Grupos de indivduos por espcies vegetais amostradas no Assentamento Veneza,

Serra do Espinho, Piles/PB. 2014.

Fonte: Trabalho de campo Assentamento Veneza Piles/PB, 2014.

No levantamento realizado no Assentamento Veneza foi constatada a superabundncia

de Inga vera subsp. affinis (Ing), espcie vegetal da famlia Fabaceae , a qual chega a

abrigar 25 dos 40 indivduos identificados e correspondendo a um total de aproximadamente

69,5%. Foram encontradas ainda espcies como Guazuma ulmifolia Lam.(Mutamba) a qual

0 5 10 15 20 25 30

Genipa americana L.

Astronium fraxinifolium

Schott ex Spreng.

Pterogyne nitens Tul.

Tabernaemontana hystrix

Steud.

Guazuma ulmifolia Lam.

Inga vera subsp. affinis (DC.)

T.D. Penn.

Nmero de indivduos encontrados na Serra do Espinho/PB

Espcies vegetais

42

tambm se destacou por possuir 11 indivduos dentro da amostra, dentre outras que no

possuem nmeros significativos ao analisarmos os dados do grfico 1 e da tabela 5, j que

estas no foram muito frequentes dentro do quadrado.

Tabela 5 Dados biomtricos da vegetao no Assentamento Veneza, Serra do Espinho,

Piles/PB

Nomes/Nome

Cientfico

N

Indivduos

Mdia

DAP

(cm)

Mdia

altura

(m)

Mdia rea

de Cobertura

(m)

Mdia

altura do

tronco (m) Inga vera subsp. Affinis 25 8,18 5 8 13

Guazuma ulmifolia Lam. 11 6,55 5 6 9

Astronium fraxinifolium

Schott ex Spreng.

1 3 3 1 2

Pterogyne nitens Tul. 1 2,30 3 2 3

Tabernaemontana hystrix

Steud.

1 1,60 4 2 1

Genipa americana 1 3 4 1 1

Total: 40 Fonte: Trabalho de campo Assentamento Veneza Piles/PB, 2014.

Os resultados do levantamento fitossociolgico (Tabela 5) concretizam a predominncia

em ocorrncia das duas espcies, Inga vera Willd e Guazuma ulmifolia Lamarck,ambos

corresponde a um total de 97% dentro da rea amostrada. Diante do que foi exposto, nesse

breve estudo de fitossociolgicos, podemos perceber que o Assentamento Veneza, em sua

maioria, possui espcies vegetais de reas midas e brejadas timas para plantios em

ambientes degradados possibilitando assim a regenerao dos ecossistemas instveis.

A vegetao do levantamento florstico so espcies secundarias jovens que se

desenvolvem em reas midas e brejadas enquadradas nos brejos de altitudes, estas so de

fundamental importncia para que este meio instvel alcance a bioestacia podendo se

transforma em um meio estvel, contudo cabe aos habitantes da rea e as autoridades

ambientais propiciarem condies necessrias para o desenvolvimento dessa vegetao.

4.2.4 Uso e Ocupao do Solo no Assentamento Veneza

Moreira e Targino (1997), ao discutir sobre a ocupao do Planalto da Borborema,

ressaltam que, ao lado da agricultura, a cana de acar foi desenvolvida desde cedo, com o

objetivo de produzir o acar mascavo para o prprio consumo. Logo, uma sucesso de

culturas, inclusive a da prpria cana de acar, passou a marcar a organizao do espao

regional, dando origem ao que alguns historiadores e cronistas denominam de ciclos

43

econmicos do Brejo paraibano. A monocultura da cana de acar e a agricultura de

subsistncia foram culturas utilizadas pelo agricultor local, ou seja, fatores responsveis pela

degradao da cobertura vegetal primria.

De acordo com os autores supracitados, as modificaes provenientes do uso da

paisagem rural, ao integrar o litoral ao Agreste e Brejo, promoveu certa homogeneizao no

trecho oriental do estado, ou seja, na sua sede de terras, a cana incidiu fortemente sobre a

vegetao de Mata Atlntica e de Cerrado dos tabuleiros, deixando os solos desprotegidos e

sujeitos a processos erosivos.

O Assentamento Veneza foi formado a partir de um projeto de Assentamento do

INCRA (Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria) no ano de 1997. Trata-se de

um Assentamento rural, situada a 3 km da rea urbana de Piles/PB, em direo ao municpio

de Cuitegi/PB, ao longo da Rodovia PB 077, na vertente oriental do Planalto da Borborema,

com 343m de altitude. O relevo constitudo por vertentes Cncavo-convexas, cobertas pela

vegetao de mata mida, drenadas pelo rio Araagi Mirim, afluente da Bacia Hidrogrfica do

Rio Mamanguape, ocupadas por atividades agrcolas e pecurias (Figuras 13 e 14).

Figuras 13 e 14 Cachoeira do Assentamento Veneza, Serra do Espinho, Piles/PB e a

atividade agrcola.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2014. Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2014.

O Assentamento Veneza recebeu este nome por causa das nascentes e a quantidade de

riachos, cacimbas e cachoeiras, ou seja, um Assentamento no meio das guas fazendo meno

cidade Italiana Veneza. Sua formao ocorreu graas desapropriao das terras,

anteriormente pertencentes ao Sr. Jos Pimentel e ocupadas pela monocultura da cana de

acar com a aplicao da poltica do governo federal atravs do programa do Instituto

Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA).

44

Informaes levantadas a partir de entrevistas com o presidente da Associao dos

Moradores Rurais do P.A. Veneza, o Sr. Francisco Nogueira dos Santos, atestam que, aps a

desapropriao, as terras foram divididas em 5,5 hectares para cada um dos 26 assentados. O

Assentamento dividido nas reas pertencentes aos assentados; na rea comunitria, que

envolve a associao de moradores, a associao de mulheres e a capela; e nas reas de

proteo ambiental.

Os assentados residem em casa prpria, de alvenaria, dotada de banheiro, fossas

spticas, energia eltrica e abastecidas com cisternas implantadas pelo governo federal.

Guardam seus costumes, crenas e tradies, dentro da religio catlica, com a padroeira

Nossa Senhora das Graas, adorada na capela local.

Antes do processo de desapropriao de terras os moradores de Veneza trabalhavam no

cultivo da cana de acar e fabricavam melado, rapadura e acar mascavo. Com a falncia da

Usina Santa Maria, localizada no municpio de Areia, vizinho ao municpio de Piles e que

recebia a produo local, o engenho de Veneza e todos os demais foram ao declnio. A partir

da os moradores buscaram alternativas agrcolas, cultivando produtos para a subsistncia, a

banana, como cultivo comercial, e atualmente iniciam atividades ligadas ao turismo rural.

Os assentados de Veneza demonstram um nvel mais adiantado de organizao em

relao s outras comunidades, no que diz respeito ao usufruto de suas potencialidades

naturais e culturais, pois receberam acompanhamento tcnico e recursos financeiros que

permitiram organizar os seus espaos de forma mais harmoniosa com a natureza e com as

necessidades do Assentamento. Assim, os espaos comunitrios vm sendo estruturados para

o turismo rural, como o caso da casa de farinha, de uma casa antiga, da capela e de casas

como o caso das mulheres artess.

A antiga casa de farinha, utilizada pelos moradores para beneficiamento da mandioca,

est em andamento para se transformar no Memorial Casa de Farinha, que ser aberto aos

turistas. Dessa forma, o turista poder acompanhar de perto todo o processo de fabricao da

farinha e provar as iguarias (bolinho de mandioca, bife de mandioca, beiju, tapioca...),

preparados pelas mulheres da associao, alm disso, desfrutar de um ambiente acolhedor,

resqucio da poca colonial.

A casa Grande, onde morava o administrador do engenho na poca do Brasil colnia,

uma importante construo de aspecto rstico que tambm est em obras para de transformar

em uma pousada e em um restaurante (financiamento do Banco Mundial). O restaurante

ocupar a antiga obra, j os chals sero construdos ao lado e atrs da casa, para que os

turistas possam desfrutar de um conforto maior.

45

A associao de mulheres foi fundada em 2012, buscando aproveitar as habilidades de

croch e pintura passada de mes para filhas ao longo dos anos. Aps dois anos de sua

fundao as mulheres associadas participaram de vrias capacitaes e consultorias

promovidas pelo Servio de Apoio s Microempresas da Paraba (SEBRAE) e outros rgos

aprimorando, assim, seus trabalhos e dando origem a novos artesanatos feitos de bambu

(Bambusa vulgares), espcie vegetal bastante encontrada no Assentamento.

As mulheres produzem artesanatos diversos (pintura em tecido, croch, lixeira de

bambu, diversos utenslios domsticos e de decorao) (Figuras 17 e 18) e com a

comercializao de seus produtos de porta em porta ou na barraca do artesanato, auxiliam nas

despesas domsticas e garantem uma melhor qualidade de vida a todas as famlias.

Figuras 15 e 16 Associao Rural de Mulheres no Assentamento Veneza, Serra do Espinho

Piles/PB.

Fonte: Trabalho de campo Assentamento Veneza, 2014.

Inicialmente a associao das mulheres comeou com um fundo rotativo que

beneficiava cada componente, o fundo rotativo era utilizado para custear os materiais para

confeco dos produtos de uma determinada scia. Aps as vendas desses produtos o dinheiro

deveria ser devolvido para que fosse repassado para outras, permitindo que todas

trabalhassem e ganhassem de forma igualitria, alm de contribuir para a preservao da

natureza por meio da reciclagem de garrafas PET (Politerftalado de Etileno), empregada na

elaborao das peas.

Os fatos marcantes que ocorreram no Assentamento dizem respeito conquista da terra,

conquista da casa prpria obtida por meio de emprstimos concedidos pelo INCRA aos

assentados e a construo da igreja, em 2002, pelo Padre Cristiano. O nmero de residncias

de 50 a 100 domiclios de alvenaria, mas apenas algumas casas so abastecidas com gua

46

encanada e cisternas, alm de terem energia eltrica, resultado do Projeto LUZ PARA

TODOS. Os estudantes so assistidos com um transporte que faz o deslocamento para as

escolas do municpio. Como atividades de lazer, os moradores praticam esporte em um campo

de futebol comunitrio, andam pelas trilhas ecolgicas e tomam banho nas cachoeiras e nas

piscinas naturais que se formam ao longo do rio Araagi-Mirim. Contudo, no se sabe das

condies de potabilidade dessas guas, pois no se tem nenhuma anlise laboratorial.

Durante a entrevista com os moradores, discutiu-se como o espao tem sido usado e o

que precisavam para melhorar nas reas naturais. Os assentados so conscientes de que

preciso tomar medidas srias sobre a preservao do meio ambiente e a retirada dos resduos

slidos no Assentamento e nas trilhas que levam at a cachoeira. O lixo domstico orgnico

transformado em adubo e os reciclveis so transformados em artesanato ou levados para a

ENERGISA, retribui concedendo descontos aos moradores nas contas de energia.

Os problemas mais comuns em Veneza so as pssimas estruturas das estradas que do

acesso ao Assentamento, pois no possuem acostamento, so de terra batida, estreitas,

desalinhadas e sujeitas eroso a cada perodo de chuvas, alm da falta de sinalizao e de

placas de orientao para os visitantes. Com relao s principais doenas que mais afetam os

moradores do Assentamento atualmente, a gripe, a dengue e a virose so as mais citadas. Os

entrevistados lembraram que, antigamente, quando as casas eram de taipa e o esgoto era

encaminhado para os crregos, ocorreram casos de doena de chagas, verminose e

schistosoma. A Associao dos Moradores Rurais do Projeto De Assentamento Veneza foi

fundada em 28 de Outubro de 1998 e tem como presidente atual o Sr. Francisco Nogueira dos

Santos, sendo que no tem previso de novas eleies.

O local de reunies acontece no galpo do Assentamento, no ltimo sbado de cada

ms e recebe apoio externo dos seguintes rgos: SEDUP (Centro educacional profissional),

SPTI (Secretaria de Planejamento e Tecnologia da Informao), EMATER (Empresa de

Assistncia Tcnica e Extenso), CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento),

SEBRAE e da secretaria de agricultura municipal.

A participao dos assentados nas reunies e nas decises da mesma no inicio eram

maiores, mas com o passar do tempo os moradores tm participado menos das reunies.

Atravs dessa instituio foi possvel desenvolver a horticultura, corte e costura, junto ao

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF/A). Alm disso, a

comunidade foi beneficiada com diversos cursos e consultoria tcnica no intuito de contribuir

no desenvolvimento econmico do Assentamento.

Questionados sobre a situao econmica das famlias do Assentamento Veneza, o

presidente da associao afirmou que, as maiorias dos associados recebem de um a dois

47

salrios mnimos, tiram seus sustentos da criao de animais, agricultura e de seis em seis

meses os chefes das famlias vo trabalhar em outras lavouras fora do estado. Admitem que

estejam satisfeitos no lugar que residem e no pensam em se mudar para outro lugar, mas em

realizar projetos que melhorem a qualidade de vida e a renda de toda a famlia e se sentem

felizes com a vida que tm.

Com relao s res