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CARACTERÍSTICAS ZOOTÉCNICAS DOS REBANHOS E SOCIOECONÔMICA DOS PRODUTORES DE LEITE DE CABRA DAS REGIÕES CENTRO, NORTE E NOROESTE FLUMINENSE E DO MUNICÍPIO DE PEDRA DOURADA-MG EDIZIO SANTOS JUNIOR UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO - UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ FEVEREIRO - 2007

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CARACTERÍSTICAS ZOOTÉCNICAS DOS REBANHOS E SOCIOECONÔMICA DOS PRODUTORES DE LEITE DE CABRA DAS REGIÕES CENTRO, NORTE E NOROESTE FLUMINENSE E

DO MUNICÍPIO DE PEDRA DOURADA-MG

EDIZIO SANTOS JUNIOR

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ FEVEREIRO - 2007

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CARACTERÍSTICAS ZOOTÉCNICAS DOS REBANHOS E SOCIOECONÔMICA DOS PRODUTORES DE LEITE DE CABRA DAS

REGIÕES CENTRO, NORTE E NOROESTE FLUMINENSE E DO MUNICÍPIO DE PEDRA DOURADA-MG

EDIZIO SANTOS JUNIOR

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal.

Orientador: Prof. Ricardo Augusto Mendonça Vieira

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO - 2007

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Ao meu pai Edizio Tauríbio dos Santos, a minha mãe Marina Miranda dos Santos, aos meus irmãos Felipe, Edilson, Everaldo e Tertuliano e as minhas cunhadas e

sobrinhos

Dedico

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iii

AGRADECIMENTOS

À minha família, por acreditar sempre no meu potencial, pelos conselhos e

influência positiva na minha vida.

Ao Professor Ricardo Augusto Mendonça Vieira e toda sua família, pelos

ensinamentos que vão muito além das informações contidas em livros e pelo seu

amor em defesa da zootecnia.

À Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro, pela oportunidade

de realização deste curso e pela concessão da bolsa que contribuiu para viabilizá -lo.

Aos professores do CCTA Alberto Magno Fernandes, Humberto Pena Couto,

José Fernando Coelho, Niraldo José Ponciano, Paulo Marcelo, entre outros que

muito contribuíram na ampliação dos meus conhecimentos.

Aos meus amigos Emanoel, Bianca, Albert, Leonardo, Cadu, Reinaldo, Sérgio,

pelos inúmeros momentos agradáveis e inesquecíveis que compartilhamos juntos. A

Jorge Guilherme, meu grande amigo que sempre esteve junto nestes longos anos

desde a Universidade Rural.

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CONTEÚDO

RESUMO ......................................................................................................... vi

ABSTRACT ...................................................................................................... viii

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1

2. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................... 6

2.1. A Evolução do Complexo Rural para o Complexo Agroindustrial......... 7

2.2. A Caprinocultura e a Agricultura Familiar.............................................. 9

2.3. Situação da Cadeia Produtiva do Leite de Cabra no Estado do Rio de Janeiro ............................................................................................................. 10

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 17

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 21

4.1. Perfil Familiar dos Caprinocultores, Características das Propriedades e Atividades Desenvolvidas ........................................................................ 21

4.2. Composição do Rebanho, Produtividade, Manejo Reprodutivo e de Ordenha Adotados pelos Produtores ...................... .................................... 31

4.3. Características da Mão-de-Obra Utilizada pelos Produtores, das Formas de Capacitação, Adoção de Conhecimentos e de Tecnologias ..... 35

4.4. Demanda e Qualidade das Informações Ofertadas, Interações com os Principais Órgãos de Apoio e Gerenciamento da Atividade ................... 37

4.5. Resultados Econômicos Relativos ao Setor Primário........................... 42

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5. CONCLUSÕES............................................................................................. 54

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 56

7. APÊNDICE .................................................................................................. 60

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RESUMO

SANTOS, Edizio Junior, M.Sc., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; fevereiro de 2007; Características zootécnicas dos rebanhos e socioeconômica dos produtores de leite de cabra das regiões Centro, Norte e Noroeste Fluminense e do Município de Pedra Dourada-MG. Professor Orientador: Ricardo Augusto Mendonça Vieira. Professores Conselheiros: Alberto Magno Fernandes e Niraldo José Ponciano.

Foi realizado um levantamento com base em 19 caprinocultores de municípios

das regiões Centro-Serrana, Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, e do

município de Pedra Dourada (Zona da Mata, MG), para caracterizar o setor

primário da cadeia produtiva do leite de cabra assentado nestas regiões.

Questionários foram aplicados com o objetivo de traçar o perfil dos produtores, de

suas famílias, do papel da esposa na atividade, da disponibilidade de recursos, da

dependência da renda gerada na atividade e da maneira como os produtores

administram o seu negócio. As fazendas foram distribuídas segundo extratos de

produção leiteira média diária e as médias e seus respectivos desvios-padrões

em cada extrato foram: 8,8 ± 0,9; 15,7 ± 3,9; 22,6 ± 2,7; 34,4 ± 3,4; 183,8 ±

54,2 L/d. Aproximadamente 42% dos produtores entrevistados conduziam suas

atividades segundo o modelo de produção familiar e auferiam renda

exclusivamente a partir da caprinocultura leiteira. Os filhos e filhas em idade para

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trabalhar desempenhavam papel importante no negócio (27,80%), mas a maior

parte (62,73%) trabalhava fora da fazenda em atividades não agrícolas. O

porcentual de esposas que trabalhavam diretamente na atividade (≅47%) é um

indicativo de que a mesma pode contribuir para a eqüidade entre os gêneros no

meio rural. A maioria dos sistemas de produção (63,16%) apresentou margem

bruta positiva. Após as entrevistas, entretanto, notamos que os produtores

percebiam apenas a margem bruta do negócio e os registros mais acurados que

faziam referiam-se às receitas. De forma geral, a escala de produção favorecia os

grandes produtores, mas a diferença entre o penúltimo extrato (30-50 L/d) e o

último extrato (>100 L/d) foi pequena devido ao comportamento assintótico dos

custos e dos montantes investidos em animais, equipamentos e benfeitorias.

Estas características devem ser consideradas para o planejamento de políticas

para o setor.

Palavras-chave: Caprino, Caracterização zootécnica e socioeconômica, Análise

econômica, Mão-de-obra familiar, Produção leiteira

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ABSTRACT

SANTOS, Edizio Junior, M.Sc., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; February, 2007; Zootecnical characteristics of dairy goat herds and socioeconomic conditions of the producers from Central, North and Northwest regions of Rio de Janeiro and from Pedra Dourada-MG. Adviser: Ricardo Augusto Mendonça Vieira. Committee members: Alberto Magno Fernandes and Niraldo José Ponciano .

A survey was done on the basis of 19 goat shepherds of the counties of Centre-

highlands, Northern and North-western regions of the State of Rio de Janeiro and the

county of Pedra Dourada (Zona da Mata, MG), to characterise the primary sector of

the goat milk chain settled at those regions. Questionnaires were applied in order to

depict profiles of the shepherds, their families, the role of the wife in the activity, the

availability of resources, dependence on income generated by the activity, and how

producers administrate their business. Farms were distributed according to average

daily milk production strata and averages and its respective standard deviations were:

8.8 ± 0.9; 15.7 ± 3.9; 22.6 ± 2.7; 34.4 ± 3.4; 183.8 ± 54.2 L/d. Approximately 42% of

the interviewed producers conducted their activities according to the household model

and earned income exclusively from the dairy goat husbandry. Sons and daughters

already at working age performed an important role in the business (27.80%), but the

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majority of them (62.73%) worked out in non farm activities. The percentage of wives

that worked directly in the activity (≅47%) indicates that it could contribute to gender

equity in the rural environment. The majority of the production systems

(63.16%)presented a positive gross margin. After interviews, however, we noted that

shepherds perceived only the business gross margin and more accurate registries

were those related to revenues. Generally, bigger producers were favoured by

production scale, but the difference between the penultimate stratum (30-50 L/d) and

the last one (>100 L/d) was small due to the asymptotic behaviour of the costs and

the amounts invested in animals, equipment and building. These characteristics

should be considered to the policies planing for this sector.

Keywords: Goat, Zootechnical end socioeconomical characterization, economic analysis, milk prodution

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1. INTRODUÇÃO

A caprinocultura desempenha papel importante em determinadas regiões do

mundo, onde cerca de 96% dos caprinos encontram-se em regiões em

desenvolvimento (FAO, 2001), fornecendo principalmente leite, carne e couro às

populações. Destes produtos, o leite vem destacando-se cada vez mais no mercado

mundial, seja pelas suas características nutricionais próprias ou por suas

propriedades medicinais, o que desperta o interesse de agentes econômicos por

esta parcela de mercado (HAENLEIN, 2004).

Os produtos derivados da caprinocultura leiteira representam importante

seguimento de mercado em determinados países como França, Espanha, Grécia e

Holanda, onde seus sistemas produtivos se destacam por níveis superiores de

especialização e seu mercado forma uma rede sofisticada de inter-relações entre

indústrias e unidades produtivas, o que aumenta sua competitividade no mercado

internacional. As características próprias do leite caprino favorecem sua utilização

para confecção de produtos sofisticados de alto valor agregado. Além disso, possui

forte apelo comercial, sustentado pela implantação de inúmeros programas de

desenvolvimento governamentais com abordagem na agricultura familiar,

contribuindo para fixar o trabalhador rural no campo e diminuir os problemas sociais

(SANTOS, 2003).

O Brasil possui o 11º maior rebanho do mundo com aproximadamente 10

milhões de cabeças e contribui com 1,3% da produção mundial de leite de cabra

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(IBGE, 2004). O maior rebanho mundial é o da China com 196 milhões de cabeças,

seguido pela Índia, com aproximadamente 120 milhões de cabeças (FAO, 2005).

A distribuição do rebanho caprino brasileiro, assim como a sua distribuição

mundial, está associada a regiões em desenvolvimento, concentrando 94% do

efetivo na região nordeste, onde é explorado de forma predominantemente extensiva

ou semi-intesiva e apresenta baixa produtividade. O mesmo não ocorre na região

centro-sul, onde se busca alta produtividade (RIBEIRO e RIBEIRO, 2004). A região

Sudeste, apesar de dispor de apenas 2,4% do efetivo caprino do Brasil, destaca-se

por conter arranjos produtivos locais no agronegócio do leite de cabra, tanto pela

produção comercial, por representar mais de 50% do total comercializado no País,

quanto pela participação no mercado do leite de cabra e seus derivados. A criação é

geralmente no sistema intensivo, utilizando raças especializadas na produção

leiteira, sendo o leite o principal produto da atividade (SILVA, 1998; CORDEIRO,

2001; BORGES, 2001; CABRAL, 2006).

A caprinocultura apresenta grande potencial de crescimento no Estado do Rio

de Janeiro, em função da possibilidade de ganho em produtividade, da perspectiva

de aumento do consumo per capta dos produtos derivados desta atividade e até

mesmo pelos desafios impostos pelo novo paradigma do desenvolvimento

sustentável. Apesar de muitas vezes se caracterizar como atividade intensiva, sua

exploração possibilita o uso racional do solo e da água e certamente se destaca

como atividade geradora de renda e com elevado potencial para agregação de valor

aos produtos.

Nas regiões do presente estudo, o qual teve como foco o setor primário da

cadeia produtiva, a caprinocultura deixou de ser uma atividade secundária e passou

a constituir uma linha de negócio principal dentro da propriedade. O custo de

produção do leite de cabra ainda é elevado, particularmente pelo desconhecimento

dos criadores em relação aos recursos alimentares alternativos disponíveis na sua

região e que podem contribuir para redução das despesas, como por exemplo, o

resíduo de cevada na região serrana e o resíduo de macarrão na região norte

(Campos do Goytacazes).

A importância da caprinocultura leiteira reside na possibilidade de

contribuição para geração de renda no campo. Entre outras vantagens, pode-se

destacar o fato de que, em pequenas áreas, é possível desenvolvê-la de forma

lucrativa, podendo o produtor gerar renda para o sustento de sua família. A estrutura

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fundiária fluminense é formada, em sua maioria, por pequenas propriedades o que

pode favorecer a expansão do agronegócio caprino leiteiro e aumentar a

participação do setor primário desta cadeia no produto interno bruto agropecuário

regional (CABRAL, 2006).

O maior desafio do setor agrícola brasileiro é o de promover o

desenvolvimento rural sustentável, e não apenas o crescimento, das regiões rurais

do País. Para que isto ocorra é necessária à criação de oportunidades no campo

capaz de ampliar as perspectivas de suas populações. É fato que os jovens do meio

rural têm aspirações em manter-se nas atividades de seus antecessores, entretanto,

o êxodo rural para as grandes cidades brasileiras ainda persiste, mesmo com o

baixo custo de oportunidade da mão-de-obra liberada, decorrente da baixa

escolaridade da maioria dos rapazes e moças. É preciso reconhecer as

potencialidades do meio rural e identificar vocações regionais para o atendimento à

demanda por gêneros diferenciados, a fim de suprir mercados específicos e

segmentados com produtos de qualidade e, assim, estabelecer relações dinâmicas

entre estas comunidades rurais e as grandes cidades, com seus concorridos

mercados consumidores (ABRAMOVAY, 2000; SILVESTRO et al., 2001).

Entre as inúmeras possibilidades para o meio rural, a caprinocultura leiteira se

destaca como atividade geradora de emprego e renda para a família rural e, quando

inserida no contexto da agricultura familiar, pode, ainda, aumentar a inclusão social

no campo. Devido ao fato dessa atividade poder ser conduzida em pequenas áreas

de forma intensiva, permite à família obter volume de leite cuja venda proporcione

renda suficiente para conquistar as condições de vida que deseja. A venda de

animais excedentes pode tornar o negócio mais rentável, devido ao fato de

constituir-se em outra importante fonte de renda, principalmente quando se trata de

rebanho de alto valor genético.

Alguns fatores têm concorrido para o progresso da caprinocultura leiteira nas

regiões Centro (Serrana), Norte e Noroeste fluminense, que são a compra com

regularidade do leite pela indústria e o uso de técnicas de manejo reprodutivo para

atenuar os efeitos da sazonalidade e assegurar maior uniformidade à oferta de leite

(CABRAL, 2006).

O mercado mundial de leite é um dos mais competitivos do mundo,

caracterizado por grande protecionismo, seja na forma de subsídios ou políticas

restritivas à importação. Neste sentido, vários fatores agem de maneira negativa na

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cadeia produtiva do leite de cabra, em especial no setor primário. Entre outros

fatores destaca-se a produtividade do rebanho, o que reflete em menor

competitividade do produto nacional quando comparado ao importado. Outros

problemas são relatados por VILELA (1998), quanto à efetivação do potencial

produtivo brasileiro, pois apesar de possuir grande efetivo de rebanho caprino,

variabilidade genética, diversidade edafoclimática, dentre outros fatores favoráveis,

este potencial tem sido limitado pela ausência de políticas para o setor enfrentar os

desafios e aproveitar as oportunidades favoráveis ao desenvolvimento da atividade,

com o intuito de torná-la lucrativa e sustentável no longo prazo.

A construção da sustentabilidade na caprinocultura leiteira passa pela

constante análise dos principais desafios e possibilidades dos diferentes segmentos

que compõem a cadeia produtiva do leite de cabra. Neste contexto, o alvo do

presente estudo foi o setor primário de produção, devido ao fato deste setor ser o elo

mais frágil desta cadeia produtiva.

Segundo PORTER (1993), a competitividade em seu sentido mais amplo é

entendida como produtividade, que, por sua vez, depende da qualidade dos

produtos, do seu aspecto, como também, da eficiência com que eles são produzidos.

De modo geral, os países que obtêm economias de escala, lideranças tecnológicas

e alto grau de produtos diferenciados em uma indústria são aqueles de melhor

desempenho competitivo. Sendo assim, o presente trabalho procurou identificar as

possíveis vantagens ou desvantagens do setor primário de produção de leite de

cabra nas regiões Centro-Serrana, Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro e

no município de Pedra Dourada - MG.

O objetivo geral do presente estudo foi levantar dados relativos ao perfil

zootécnico e socioeconômico dos produtores e de suas respectivas unidades de

produção de leite de cabra nas regiões Centro-Serrana, Norte e Noroeste do Estado

do Rio de Janeiro e no município de Pedra Dourada - MG.

Especificamente, objetiva-se:

a) Levantar dados relativos ao perfil familiar dos caprinocultores,

características das propriedades e atividades desenvolvidas;

b) Estimar a composição do rebanho e sua produtividade, tipo e freqüência

de ordenha, bem como o sistema reprodutivo adotado;

c) Apontar dados referentes ao perfil mão-de-obra, suas formas de

capacitação, adoção de conhecimentos e de tecnologias;

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d) Esclarecer quanto à demanda e à qualidade das informações oferecidas,

interações com os principais órgãos de apoio, gerenciamento da atividade;

e) Elaborar uma planilha de análise econômica das unidades de produção

de leite de cabra.

O estudo contemplado neste trabalho procurou identificar a estrutura

produtiva e tecnológica do setor primário, bem como caracterizar os custos de

produção nos diferentes extratos produtivos destacando as vantagens ou

deficiências neste setor e possíveis diferenciais de mercado.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Para que se possa compreender a situação atual do setor agrícola brasileiro,

faz-se necessário entender como ocorreu o processo de modernização agrícola no

Brasil. A modernização da agricultura brasileira seguiu o modelo de insumos

modernos. SCHULTZ (1964) afirmou que os camponeses da agricultura tradicional

alocavam seus recursos racionalmente e eficientemente, negando a visão do

contrário, até então aceita. Contudo, permaneceram pobres porque, na maioria dos

países subdesenvolvidos, as oportunidades técnicas e econômicas eram limitadas.

Assim a chave para transformar o setor agrícola tradicional seria investimento para

disponibilizar os insumos modernos aos agricultores de países pobres. O principal

instrumento desta política foi o crédito rural subsidiado, que recebeu várias críticas

pelo fato de sua distribuição ter favorecido as regiões sudeste e sul (SILVA et al.,

1980; SAYAD, 1984). Além disso, foi instrumento concentrador de riqueza, sendo

concedido àqueles que mais possuíam garantias, ou seja, os latifundiários. Em

decorrência das características da modernização agrícola, ocorreram importantes

mudanças estruturais e sociais neste setor, como a aceleração do êxodo rural, o

aumento da concentração da posse da terra e da renda, entre outras conseqüências

que limitaram o desenvolvimento de um setor agrícola competitivo, inclusive o

segmento da agricultura familiar (SANTOS, 1988).

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2.1. A Evolução do Complexo Rural para o Complexo Agroindustrial

A agricultura foi auto-suficiente durante muito tempo, produzindo tanto bens

de produção como de consumo, e por isso não demandava praticamente muito

pouco de outros setores. Porém, a partir do momento em que ela foi se

especializando na produção exclusivamente agrícola, tornou-se dependente de

outros setores, dos quais passou a adquirir os produtos de que necessitava. Ocorreu

assim, um processo de especialização dos agricultores e uma crescente relação de

interdependência entre a unidade de produção e as indústrias de beneficiamento e

insumos. Como exemplo desta relação, poder-se-ia citar os fornecedores de leite

aos laticínios sediados no Estado do Rio de Janeiro, e que se especializaram no

segmento da produção de leite de cabra. Desta forma, o processo de modernização

induziu, segundo GRAZIANO DA SILVA e KAGEYAMA (1988), à substituição de

elementos internos ao complexo rural1 por elementos de fora do setor, criando as

condições para o desenvolvimento da indústria de bens de capital (máquinas e

equipamentos) e insumos (adubos, rações e medicamentos). Para atingir o padrão

de desenvolvimento agrícola atual, o processo de modernização passou por três

fases decisivas: (1) constituição dos complexos agroindustriais; (2) industrialização

da agricultura; e recentemente, (3) integração de capitais intersetoriais sob o

comando do capital financeiro.

Como apontam SILVA e KAGEYAMA (1998), a constituição dos complexos

agroindustriais e a industrialização da agricultura passaram a determinar a dinâmica

da agricultura, surgindo novas problemáticas em relação ao desenvolvimento deste

setor, como as questões de mercado, de preços, de tecnologia, de financiamento, da

propriedade fundiária, das classes sociais e da política agrícola e agrária. Em razão

destas alterações, torna-se impossível a compreensão da estrutura e da dinâmica da

agricultura brasileira sem considerar a dinâmica e estrutura dos setores industriais

com os quais ela se relaciona.

Segundo FARINHA e ZYLBERSZTAJN (1998), há nos sistemas

agroindustriais brasileiros, problemas relacionados à deficiência de produtividade,

heterogeneidade tecnológica e gerencial, bem como deficiências nos mecanismos

1Caracterizado pela auto-suficiência da unidade agrícola, que produzia não só mercadorias para exportação, mas também manufaturas, equipamentos simples para produção, transporte e habitação. Além disso, a divisão social do trabalho era pequena e as atividades agrícolas e manufatureiras interligadas, com grande parte dos bens produzidos apresentando apenas valor de uso, mas não de mercado, sendo fato a quase inexistência de um mercado interno nos moldes atuais.

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de informação e coordenação desses sistemas, o que resulta em elevados custos de

transação e reduzem o poder de adaptação frente às mudanças externas. No caso

do leite, a tolerância com os mercados informais faz com que se mantenha o ciclo

vicioso da baixa competitividade nos sistemas agroindustriais. Este estudo pode ser

aplicado ao mercado de leite de cabra, que sofre com os mesmos problemas, mas

de forma ainda mais marcante devido à sua menor expressão comercial quando

comparado ao leite de vaca, contribuindo para manutenção da baixa competitividade

em termos de preço para o consumidor final.

As principais restrições ao desenvolvimento do setor de produção láctea,

formam o conjunto constituído pela falta de um sistema de informação contendo

dados socioeconômicos, de mercado e tecnologias, a falta de estudos sobre

sistemas regionalizados de produção de leite, a falta de pesquisas de módulos de

produção de leite mais rentáveis por área e região de produção, além da falta de

modelos de simulação e mapeamento das áreas de produção de leite. Fatores

tradicionalmente considerados na avaliação dos sistemas de produção como

produtividade, alimentação, sazonalidade, escala de produção, custo de produção,

gerenciamento, sanidade, qualidade, padrão genético e assistência técnica também

devem ser analisados (KRUG, 2001). Estes estudos são aplicáveis e necessários

para o desenvolvimento da caprinocultura leiteira.

Dentre os fatores relevantes destacados por KRUG (2001), encontram-se a

produtividade, a escala de produção e a sazonalidade. A produtividade impacta

diretamente a rentabilidade, fator importante para o produtor. A escala impacta sobre

o setor da indústria, causando custo maior em relação à coleta, e a sazonalidade faz

com que ocorra excesso na safra e escassez na entressafra. Estes fatores somados

diminuem o poder de negociação, tanto das indústrias como dos produtores, o que

contribui de forma decisiva para diminuir a competitividade da cadeia produtiva como

um todo. A solução quanto à produtividade parece estar no estímulo à criação de

associações, que permitem, entre outras coisas, facilitar a assistência técnica e

promover maior volume de produção e favorecer a negociação de preço junto à

indústria.

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2.2. A Caprinocultura e a Agricultura Familiar

A agricultura familiar é caracterizada pela produção com base no trabalho

familiar, mas pode-se considerar o emprego de mão-de-obra assalariada. Possui os

instrumentos de trabalho, autonomia total ou parcial na gestão da propriedade e

detém, ao final, parte ou a totalidade da produção. Como modelo agrícola não é

perfeitamente identificável, não se restringe as regiões específicas, mas apresenta

produção diversificada. Entre os agricultores brasileiros, os familiares são os que

mais geram empregos e fortalecem o desenvolvimento local, distribuem melhor a

renda, respeitam mais o meio ambiente e, principalmente, desenvolve a economia

nos municípios onde se localizam (PICINATTO et al., 2000).

Neste cenário, a caprinocultura praticada no sistema familiar, vem sendo

reconhecida como atividade capaz de gerar renda para o pequeno produtor,

principalmente em algumas regiões do sul, sudeste e nordeste. Nesta última, a

atividade tem se desenvolvido com o apoio de programas governamentais que

promovem o crescimento do setor de forma significativa e aumentam sua

participação no agronegócio regional (CORDEIRO, 2001).

O rebanho caprino apresentou taxas de crescimento superiores às das demais

espécies de animais domésticos nos últimos trinta anos (MORAND-FEHR e

BOYAZOGLU, 1999; FAO, 2003). Apesar desta realidade é a atividade pecuária que,

embora presente em todos os continentes, recebe menor apoio de políticas públicas

e menor interesse acadêmico se comparada à bovinocultura, à avicultura, à

suinocultura e à eqüideocultura. Encoberta por estatísticas pouco realistas, a

importância econômica da caprinocultura para os países subdesenvolvidos ou em

desenvolvimento é, em geral, negligenciada (DUBEUF et al., 2004). Neste sentido, o

cenário brasileiro vem sofrendo pressões com base em novos paradigmas de

desenvolvimento, que se orientam para o estabelecimento de arranjos produtivos

locais (VIEIRA, 1999), tanto no caso da caprinocultura leiteira (CORDEIRO, 2001),

como no caso da caprinocultura de corte, normalmente associada à ovinocultura e

reunida no termo geral ovinocaprinocultura (SILVA, 2002).

Segundo ABRAMOVAY (2000), o crescimento das médias cidades sempre

produzirá demandas que as zonas rurais de pequenas cidades próximas poderão

suprir resultando no que o autor denomina integração dinâmica entre as populações

rurais e urbanas. Esta condição pode proporcionar oportunidades às famílias rurais

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de desenvolverem atividades ligadas ao agronegócio, a fim de atender às demandas

geradas, e tornar propícia e atrativa a permanência no campo, se comparada à

atração exercida pelas cidades. Nestes casos, para fazer parte do desenvolvimento

regional, o principal problema que as unidades familiares de produção agropecuária

enfrentam é a dificuldade em dotarem-se dos meios (terra, capital, infra-estrutura

rural, ambiente cultural para evitar o isolamento social) que lhes permitam participar

de mercados dinâmicos, i.e., competitivos e exigentes em inovações. Por mais

necessárias que sejam as produções de commodities como o arroz, o feijão, o leite, o

milho e a mandioca, por exemplo, passam a ser cada vez mais importantes as

demandas por produtos diferenciados, para os quais as suas qualidade e origem

sejam as principais características. Esta conjuntura define um novo perfil para as

atividades agrícolas e as unidades de produção familiares, perfil este orientado para

mercados específicos, segmentados e altamente exigentes em qualidade.

Neste sentido, é necessário incluir no modelo de produção agropecuária

familiar as interações complexas que existem no modelo agrícola tradicional. Desta

forma, os elementos dos sistemas tradicionais são integrados no modelo familiar,

quais seja a produção, o consumo doméstico e a autonomia decisória. Desta forma,

pode-se descrever a moderna agricultura familiar, em sua maioria, como importante

segmento do agronegócio, caracterizado pela comercialização parcial, no sentido de

que parte da produção passa a ser destinada ao consumo próprio, e que parte da

força de trabalho familiar pode também encontrar fonte de renda fora da

propriedade, em atividades não agrícolas. As unidades de produção familiares,

porém, em sua maioria, situa-se em ambientes de alto risco, onde os mercados não

operam perfeitamente. Mesmo nestas condições, os agricultores familiares

conseguem reduzir os riscos por meio da diversificação das atividades na

propriedade, por meio do trabalho em mutirão e pelo trabalho não agrícola fora da

atividade (ZAIBET et al., 2004).

2.3. Situação da Cadeia Produtiva do Leite de Cabra no Estado do Rio de

Janeiro

Diferentemente da caprinocultura praticada no Nordeste, onde a espécie alcançou

destaque pela ordem de grandeza de seu efetivo (107 cabeças) ser comparável à

das demais culturas zootécnicas, a região Sudeste dispõe de apenas 2,4% do

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efetivo caprino do Brasil (CABRAL, 2006). No entanto, destaca-se por conter

arranjos produtivos locais para o agronegócio caprino, por sua participação no

mercado de leite fluido de cabra e derivados. Pratica-se uma criação em sistema

intensivo, com raças especializadas na produção leiteira, sendo o leite o principal

produto da atividade (SILVA, 1998; CORDEIRO, 2001; BORGES, 2001). A

caprinocultura fluminense2 convergiu para o uso de animais especializados em

produção leiteira, característica perseverada pelos caprinocultores fluminenses,

conforme anteviu PINHEIRO JÚNIOR (1985), no início da década de 1940.

Existem poucos relatos sobre a história do desenvolvimento da

caprinocultura fluminense, exceto pela presença de 2 exemplares toggemburgueses

de propriedade de criadores do Estado do Rio de Janeiro, registrada durante a V

Exposição de Animais e Produtos Derivados ocorrida no Rio de Janeiro, em julho de

1836. Em 1939, durante a VIII Exposição Nacional, também ocorrida no Rio de

Janeiro, o Estado fluminense participou com 13 animais da raça Anglo-Nubiana

(PINHEIRO JÚNIOR, 1985). É fato que o Estado do Rio de Janeiro foi o palco da

primeira experiência de imigração de europeus para o Brasil, o que ocorreu na

primeira metade do século XIX. Imigrantes suíços foram assentados na Serra do

Mar, nas proximidades da cidade do Rio de Janeiro, e fundaram a cidade de Nova

Friburgo (NICOULIN, 1995). A topografia e o clima serrano podem ter facilitado a

aclimatação de animais domésticos trazidos pelos imigrantes suíços, dentre os

quais, provavelmente, caprinos leiteiros de mesma origem. Todavia, os registros das

primeiras importações de caprinos europeus para o Brasil são escassos, mas em

1925, o Ministério da Agricultura adquiriu 10 animais da raça Toggenburg, dos quais

quatro machos e seis fêmeas (PINHEIRO JÚNIOR, 1985). Durante a década de

1990, a iniciativa privada realizou diversas importações de animais americanos e

canadenses das raças Saanem, Toggenburg, (Parda) Alpina e Anglo-Nubiana para o

Estado do Rio de Janeiro e, em seguida, muitos animais foram comercializados para

outros estados (RIBEIRO e RIBEIRO, 2004). PINHEIRO JÚNIOR (1985), de certa

forma, também antecipou a preponderância do rebanho Saanem, pois na primeira

edição de seu livro, Caprinos no Brasil, de 1940, destacou: "É a sua criação muito

indicada, devendo merecer maior estima por parte dos criadores".

Decorridos 170 anos desde o registro da exposição de animais de 1836, a

sociedade brasileira e, por conseqüência a fluminense, modificou-se sobremaneira.

2A palavra fluminense deriva do latin flúmen, que significa habitantes que vivem ao longo dos rios.

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12

Ao analisar as estatísticas oficiais do estado do Rio de Janeiro, CABRAL (2006)

constatou que o tamanho médio das propriedades rurais fluminenses encolheu ao

longo do século XX. O autor destacou que esta contingência pode ter favorecido o

desenvolvimento da caprinocultura no Estado, por esta necessitar de menores

investimentos em rebanho, instalações e possibilitar o emprego maciço da força de

trabalho da família rural e, principalmente, por estar implantada uma cadeia

produtiva que permitiu a oferta regular do produto (leite longa vida) para os principais

mercados consumidores do país .

VIEIRA (2004), após estudo do potencial do estado do Rio de Janeiro para a

produção de alimentos para animais, relata que o estado possui a segunda maior

densidade demográfica do país, além disso, possui o segundo maior produto interno

bruto dentre as unidades da federação. Conforme HADDAD (1999), quanto maior a

população e o nível de produtividade (quanto maior a capacidade de produzir, maior

a capacidade de consumir) e melhor a distribuição da renda de uma região, maior

será a dimensão de seu mercado interno. Neste contexto a caprinocultura que

chegou a crescer mais de 77% entre 1997 e 2001 no estado (IBGE, 2004) deixa de

ser uma atividade secundária para tornar-se uma linha de negócio principal, com

grande potencial de agregação de valor aos produtos e por representar potencial

fonte de renda para os agricultores familiares.

A média de produção esperada das cabras no Brasil é muito baixa, se

considerar o rebanho de dez milhões de cabeças (IBGE, 2004), dos quais se 50%

forem fêmeas e destas, 40% se encontrarem em lactação, a produção média

esperada será de 0,25 litros por animal por dia ao longo de um ano produtivo. Estes

dados revelam o grande potencial produtivo do Brasil para expandir sua produção e

futuramente suprir o mercado interno, produzindo excedentes para exportação,

como vem ocorrendo recentemente com o leite bovino.

A região sudeste, apesar de dispor de apenas 2,4% do efetivo caprino do

Brasil, destaca-se por conter arranjos produtivos locais no agronegócio do leite de

cabra, tanto pela produção comercial, por representar mais de 50% do total

comercializado no país, quanto pela participação no mercado do leite de cabra e

seus derivados. Pratica-se uma criação em sistema intensivo, com raças

especializadas na produção leiteira, sendo o leite o principal produto da atividade

(SILVA, 1998; CORDEIRO, 2001; BORGES, 2001).

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13

O Nordeste brasileiro concentra a maior proporção do efetivo caprino

brasileiro, porém sua produtividade leiteira anual é baixa, em torno de

0,25 L/animal/dia, particularmente por tratar-se de animais de raças que se

adaptaram às condições da região desde a introdução dos caprinos pelos

colonizadores portugueses. Mesmo com a baixa produtividade, a região tem

expressivo volume de produção, devido ao numeroso rebanho, e não se pode

esquecer que o consumo doméstico absorve boa parte da produção. O setor

governamental, ao atuar na cadeia produtiva fazendo às vezes o papel da indústria

quando compra o leite, cria um mercado que prontamente é suprido pelos

produtores. O exemplo disto é que no estado do Rio Grande do Norte, por exemplo,

há uma associação de produtores que recebe 2.200.000 L de leite por ano. Esse

leite é adquirido pelo governo estadual para ser usado na merenda escolar. O tipo

de criação praticada no nordeste é semelhante às de outras partes do mundo, onde

os principais produtos da caprinocultura são carne e pele. A Região Sul do país, por

seu turno, tem uma produção bem mais modesta, onde a empresa Ladell capta

240.000 L de leite por ano, em média. A comercialização do leite é feita por meio de

embalagem longa vida, sendo também destinado a fabricação de queijo e iogurte.

Recentemente, o Paraná também instituiu um programa para estimular o

desenvolvimento da caprinocultura (CORDEIRO, 2001). Cabe salientar que, no

Brasil, a principal forma de comercialização do leite é a fluida, na maioria das vezes

empacotada em sacos plásticos, congelado e comercializado em pequenos

estabelecimentos (SILVA, 1998).

A caracterização dos fornecedores de leite de cabra da Queijaria-Escola de

Nova Friburgo no Rio de Janeiro foi realizada por BRESSLAU et al. (1997). Os

autores verificaram, após aplicação de questionários nas propriedades em seis

municípios do estado, que o sistema característico da região era o confinamento

total, não havendo preferência de mercado dos produtores, sendo citadas tanto a

venda para a indústria como o beneficiamento e comercialização próprios. Este fato

provavelmente deve-se à garantia de escoamento do produto pela indústria,

trazendo segurança ao produtor na época de safra e, ao mesmo tempo, o produtor

através da industrialização e comercialização próprias, agrega maior valor ao seu

produto, gerando maior margem de lucro. Neste estudo, a rentabilidade foi

considerada boa por 81% dos produtores, porém o custo de produção era

desconhecido por 67% dos proprietários. Outros dados interessantes mostraram que

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100% dos proprietários possuíam segundo grau completo, 67% tinham nível

universitário, 63% eram graduados em ciências agrárias, 58% residiam na

propriedade e o tempo na atividade foi maior que seis anos. A produção média diária

foi de dois litros por animal, com rebanho médio de 80 animais, sendo 33% destes,

cabras em lactação com predominância da raça Saanen, seguida da raça Alpina e

animais mestiços. O trabalho ressaltou a importância do acompanhamento contínuo

e sistemático dos índices de desempenho do rebanho, que favorecem a

identificação precoce dos problemas que interferem na produção e na saúde, além

da avaliação da eficácia das medidas de manejo adotadas.

Outro estudo que apontou características dos produtores fluminenses foi

realizado por GOMES (2003), para diagnóstico da cadeia produtiva do leite de vaca

no Estado do Rio de Janeiro. O estudo mostrou que informações mais

freqüentemente ofertadas aos entrevistados eram sobre a alimentação dos rebanhos

e sanidade dos animais. Entretanto, a maior demanda era em relação ao

gerenciamento da empresa rural, incluindo informações sobre mercado. Portanto, o

que era mais ofertado não era o mais demandado. Este estudo mostra a importância

da informação na atualidade para o produtor, que a partir das mudanças e

tendências de mercado cada vez mais comuns, podem estruturar-se melhor tendo

como meta a redução de custos sem descuidar da qualidade.

Em uma análise do mercado do leite de cabra no Estado do Rio de Janeiro,

constatou-se que os custos variáveis giravam em torno de 87% do custo total da

atividade leiteira e os custos fixos corresponderam a 13%. Comparando os preços

do leite pagos pela indústria com os custos do leite fornecidos pela planilha de custo

de produção do leite de cabra, observou-se que, na maior parte do período

analisado, os preços pagos pelas indústrias não foram suficientes para cobrir os

custos de produção. Quando se comparou os preços praticados pelo mercado

atacadista aos preços praticados pela indústria, verificou-se que os preços do

mercado atacadista chegaram a ser de 70 a 100% superiores aos das indústrias

(FONSECA et al. 1997). No Estado de São Paulo os custos de beneficiamento

representaram entre 15 e 20% das despesas operacionais, e o armazenamento e

comercialização, cerca de 12% para queijos e 5% para o leite, atingindo em média

de 10 a 15% das despesas operacionais. Se computados os custos de

beneficiamento e comercialização (35% dos custos variáveis) ao preço médio do

custo total do leite na planilha, o preço do leite ficaria em torno de R$ 1,15, e a

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venda ao mercado atacadista ainda teria um lucro de 33,91% em cada litro de leite

vendido, ou seja , R$ 0,39 por litro (HAAS e HASS, 1994, citado por FONSECA et

al., 1997). Quando se analisou rebanho de 100 a 120 cabeças, observou-se que, no

Brasil, o custo do litro de leite foi, em média, 76,91% maior e o custo da atividade

leiteira chegou a ser 38,16% maior do que nos EUA. Entretanto ressalta-se que os

rebanhos americanos têm, em média, produtividade 42,18% acima da observada

nos referidos estudos (FONSECA et al. 1997).

A produtividade é uma das principais ferramentas para tornar o leite de cabra

mais competitivo BORGES et al. (2001), embora esteja diretamente relacionada a

outros fatores como genética, alimentação, sanidade, sistema de produção, intervalo

entre ordenhas, gestação, estágio da curva de lactação, idade, individualidade,

clima, habilidade do ordenhador, taxa de mortalidade, intervalo entre partos, época

de parição, período seco e condição corporal. Todos estes fatores interagem e

concorrem para o sucesso ou o fracasso da atividade.

BORGES et al. (2001), realizaram estudo sobre custo de produção do leite de

cabra em sistema de confinamento total no município de Bom Jardim, RJ.

Verificaram que os principais itens do custo de produção foram o volumoso e o

concentrado, representando 60% do custo total do leite e ao somarem-se a este

custo os gastos com mão-de-obra, estes chegaram a quase 70% do custo total. Em

uma simulação constataram que uma redução de 20% no gasto com alimento

volumoso representaria uma redução de 7,6% no custo do leite, enquanto que uma

redução de 50% nos gastos com produtos utilizados na ordenha representaria

redução de apenas 0,6% no custo total. Através de simulações com três níveis de

produtividade 2,7, 3,0 e 3,5 litros/cabra/dia, verificaram redução no custo total do litro

de leite, reduzindo de R$ 0,75 para R$ 0,69 e, finalmente, R$ 0,60. O lucro total

aumentaria em R$ 4.392/ano, para R$ 13.575/ano e, finalmente, em R$ 28.881/ano.

Entre as simulações realizadas, verificou-se que um aumento de 11% na

produtividade do rebanho estabilizado (de 2,7 para 3,0 litros/cabra/dia) resultaria em

uma redução de 8% no custo do leite (de R$ 0,7468 para R$ 0,6859) e,

conseqüentemente, incremento de 209% no lucro da atividade (de R$ 4.392,44 para

R$ 13.575,38). Este trabalho permite demonstrar com clareza, o incremento

financeiro que decorreria do aumento da produtividade, interferindo de forma

significativa na rentabilidade de um rebanho estabilizado com 128 cabras em

lactação.

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Os trabalhos acima citados demonstraram a necessidade de pesquisas com

o intuito de identificar ineficiências técnicas, administrativas e econômicas que

possam interferir de forma negativa no setor primário da cadeia do leite de cabra e,

por conseguinte, no preço final do produto. Os aspectos abordados podem restringir

as possibilidades de competitividade do setor, em um mercado em que a tendência

de ampla abertura comercial pressiona esta cadeia agroindustrial por melhor

qualidade e menor preço para os produtos da cadeia de forma geral.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

A coleta de dados no campo foi realizada durante o ano de 2006 e teve como

áreas de abrangência as mesorregiões Centro-serrana, Norte e Noroeste do Estado

do Rio de Janeiro, além do município de Pedra Dourada, na região da zona da mata

mineira, devido ao fato deste município entregar toda sua produção na CAPRINORF

(Associação dos Caprinocultores do Noroeste Fluminense), sediada no município de

Porciúncula (RJ). Na região serrana foram avaliados os municípios de Teresópolis e

Nova Friburgo; na região centro, os municípios de Duas Barras e Sumidouro; no

norte foi avaliado o município de Campos dos Goytacazes e na região noroeste,

avaliado o município de Porciúncula. Estes municípios foram escolhidos devido ao

fato de fazerem parte do circuito de captação de leite de cabra das empresas

processadoras com sede no Estado do Rio de Janeiro.

O total de caprinocultores entrevistados correspondeu ao somatório dos

produtores de cada extrato, i.e., 19n5

1ii =∑

=

, em que ni corresponde ao número de

produtores de cada extrato (i), ∀i = 1, 2, …, 5.

Os dados foram coletados após a aplicação de questionários diretamente aos

produtores, em suas respectivas unidades de produção. Foram feitos

questionamentos sobre o perfil familiar dos caprinocultores entrevistados, distribuídos

segundo os extratos de produção leiteira média diária (PLMD), a saber: menor que 10

L/d, entre 10 e 20 L/d, entre 20 e 30 L/d, entre 30 e 50 L/d e maior que 100 L/d.

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Em relação ao perfil dos produtores foram coletadas informações sobre a

idade, escolaridade, tempo na atividade, local de residência, idade da esposa,

escolaridade da esposa, se a esposa atua na atividade, se a esposa administra o

negócio, se a esposa trabalha fora, número médio de filhos, idade média dos filhos,

escolaridade média dos filhos, número de filhos e filhas com menos de 12 anos,

número de filhos e filhas com mais de 12 anos, se os filhos e filhas trabalham na

atividade, se os filhos e filhas trabalham fora.

As características das propriedades onde a caprinocultura leiteira era exercida

também foram questionadas. Os itens levantados foram: área total, área destinada à

atividade, área para produzir forragem, quais forrageiras eram empregadas, se a

adubação era feita com esterco do capril ou utilizava adubo químico, quais

equipamentos encontravam-se disponíveis e se possuía animais de serviço.

O perfil da mão-de-obra e de suas formas de capacitação e apropriação de

conhecimentos e tecnologias foi retratado. Dados como tipo de mão-de-obra (familiar

ou contratada), bem como suas diferentes formas de capacitação e questões

trabalhistas vigentes nas unidades de produção foram relatadas. Além disso, foi

perguntado aos produtores se utilizavam meios de comunicação ou não e quais eram

os meios utilizados.

A identificação das informações recebidas e demandadas pelos produtores e

suas interações com os principais órgãos de apoio ao produtor rural foram também

questionadas. Objetivou-se levantar quais eram as informações mais importantes do

ponto de vista dos produtores, quais informações os produtores tinham maior

carência e os produtores foram indagados sobre a qualidade da informação recebida,

bem como, a atuação dos órgãos de apoio como o SENAR, SEBRAE e EMATER,

junto ao produtor.

As informações relativas ao gerenciamento da caprinocultura leiteira e alguns

questionamentos sobre como os produtores interagem com a indústria foram

realizados. Os itens como quem administra a produção, distribuição do tempo do

produtor referente à caprinocultura ou outras atividades, registros realizados,

estabelecimento de metas pelo produtor e se concordava ou discordava das formas

de remuneração do leite por parte das indústrias captadoras, também estiveram

presentes entre os questionamentos efetuados.

Para obtenção de informações que possibilitassem traçar o perfil das

propriedades em relação às diferentes formas de armazenamento do leite e da

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freqüência de entrega do leite, das condições das estradas, dos recursos alimentares

utilizados pelo produtor nas propriedades, foi aplicado um questionário com

perguntas inerentes a estas questões.

Questionamentos em relação ao tipo e freqüência de ordenha, assim como o

manejo reprodutivo adotado e os critérios à primeira cobertura também foram

aplicados.

Por último, foram obtidas informações para elaboração de uma planilha de

análise econômica aplicada às unidades de produção de leite de cabra, distribuídas

em seus respectivos extratos produtivos. Desta forma, foram obtidos os coeficientes

de eficiência técnica média correspondente para cada extrato. Os dados de campo

foram tabulados em planilha eletrônica (Microsoft® Excel 97) para a realização das

estimativas acerca do desempenho financeiro e econômico das unidades de

produção. No ato da aplicação dos questionários, foi feito o levantamento do valor

total investido em benfeitorias, máquinas, animais e terra. Para estimar o valor

destes itens que formaram o capital estável (máquinas, benfeitorias, animais e terra),

foi estipulado o preço médio de venda na região. No item terra, foi considerada

apenas a área utilizada para a atividade da caprinocultura. Para as benfeitorias e

máquinas foi considerado o valor atual do bem.

As receitas consideradas no presente estudo foram aquelas referentes à

venda de leite e de animais. O valor do leite foi estipulado segundo o preço pago

pelas indústrias captadoras no referido ano e descontada a parcela das associações

quando fosse o caso. O valor de venda dos animais foi estimado com base no valor

habitualmente praticado pelo proprietário.

Na elaboração do Custo Operacional Efetivo (COE) foram contemplados

todos os desembolsos efetivamente realizados pelos proprietários na condução da

atividade, tais como: mão-de-obra contratada, água, luz, aquisição de ração

concentrada, sal mineral, inseminação artificial, feno, combustível, manutenção das

pastagens e das benfeitorias, medicamentos e impostos.

Para determinação do Custo Operacional Total (COT) foi acrescentado ao

COE o custo de oportunidade da mão-de-obra familiar, a remuneração dos recursos

humanos responsáveis pela gestão do negócio e a depreciação dos fatores de

produção, quais sejam: máquinas, benfeitorias e animais de produção. O método

utilizado para estimar as depreciações foi o linear, sendo assim, o valor inicial foi

descontada do valor final (10% do valor inicial) e dividida pela sua respectiva vida

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útil. Para máquinas foi estipulada vida útil de 10 anos, para benfeitorias, 25 anos e

para animais de serviço, 6 anos. A mão-de-obra para a gestão foi pressuposta

equivalente a 25% de três salários mínimos, inclusos os encargos. Para efeito de

cálculo, não se aplicou depreciação ao fator de produção terra.

O Custo Total (CT) foi estimado depois de contabilizado o COT e a este

último, adicionada as Remunerações do Capital Estável (RCE) e do Capital

Circulante (RCC). O cálculo da RCE foi feito com base na média aritmética do capital

empregado multiplicado pela taxa de juros, assim como para o cálculo da RCC que

foi obtido multiplicando a taxa de juros pela metade do valor total dos insumos

empregados. A Margem Bruta (MB) foi estimada pela diferença entre a Receita Total

(RT) e o COE e a renda líquida (RL) foi estimada pela diferença entre a RT e o COT,

e o lucro foi estimado pela diferença entre as RT e o CT.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente estudo, que deve ser considerado apenas como um

levantamento inicial, foi constatado que os animais do tronco europeu alpino,

especificamente das raças Saanem, (Parda) Alpina, Toggenburg e seus

cruzamentos constituíam, em ordem decrescente de importância, os rebanhos

fluminenses estudados.

4.1. Perfil familiar dos caprinocultores, características das propriedades e

atividades desenvolvidas

Os resultados da pesquisa de campo decorrentes da aplicação dos

questionários aos produtores (n = 19) foram sumariados na Tabela 1. A análise

desta tabela revela que os caprinocultores dos extratos acima de 100 L/d, assim

como suas esposas, empreendiam atividades com maiores médias leiteiras diárias e

foram os que possuíam maior escolaridade, com curso superior completo. Talvez por

esta razão e por pertencerem a famílias com maior poder aquisitivo, se dispuseram a

correr mais riscos e investiram em maior volume de produção. De forma geral, o

tempo médio na atividade foi de 11 anos, com exceção dos extratos de 10-20 e 20-

30 L/d, os quais eram, na maioria, beneficiários de um projeto de financiamento para

aquisição de terras para pequenos produtores, recentemente implantado no

município de Pedra Dourada (MG). Este grupo de produtores foi excepcionalmente

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Tabela 1. Perfil familiar dos caprinocultores entrevistados1 distribuídos segundo os

extratos de produção leiteira média diária

Extratos de Produção (L/d) Perfil Unid. <10 10-20 20-30 30-50 >100

Distribuição nos extratos1 % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,05

Idade anos 50 53 50 40 47 Escolaridade anos 12 5 7 11 17

Tempo na atividade anos 12 2 2 12 10 Residência na propriedade1 % 5,26 26,32 10,53 5,26 15,79 Idade da esposa2 anos 44 52 44 28 42

Escolaridade da esposa anos 8 5 6 6 16 Esposa atua na atividade2;3 % 5,88 23,53 11,76 11,76 5,88 Esposa administra o negócio % 0 11,76 5,88 11,76 5,88

Esposa trabalha fora2;4 % 0 0 0 17,65 17,65 Número médio de filhos n 2,0 2,0 2,5 1,7 1,8 Idade média dos filhos anos 19 25 22 15 17

Escolaridade média dos filhos anos 10 11 12 9 10 Filhos com menos de 12 anos5 % 0 0 0 2,78 2,78 Filhas com menos de 12 anos5 % 0 0 0 8,33 5,56

Filhos com mais de 12 anos5 % 2,78 13,89 5,56 13,89 5,56 Filhas com mais de 12 anos5 % 8,33 13,89 8,33 2,78 5,56 Filhos trabalham na atividade3;5 % 0 2,78 2,78 5,56 0

Filhas trabalham na atividade3;5 % 5,56 5,56 5,56 0 0 Filhos trabalham fora4;5 % 2,78 11,11 2,78 8,33 10,53 Filhas trabalham fora4;5 % 2,78 8,33 2,78 2,78 10,53 1Em relação ao total de 19 produtores. 2Dois produtores eram solteiros, um deles era do sexo feminino e o total de esposas igual a 17. 3Inclui tarefas como ordenha, arraçoamento do rebanho, limpeza de instalações, preparo do leite para o transporte e, ou, beneficiamento do leite. 4Inclui atividades não agrícolas. 5Porcentual em relação ao total de filhos de todos os produtores entrevistados (n = 36 filhos).

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incluído na análise por entregar toda a sua produção leiteira à associação dos

caprinocultores do noroeste fluminense, com sede em Porciúncula (RJ).

Segundo GOMES et al. (2003), a residência na empresa rural facilita a

administração da atividade leiteira pelo fato de esta demandar, cotidianamente, a

presença do gestor. Em todos os extratos, caprinocultores que residiam na

propriedade rural fizeram-se presentes e foram maioria (63%) na amostra estudada

(Tabela 1). No primeiro extrato de produção, ou seja, produção média diária até

10 L, um dos produtores possuía o seu cabril no quintal de sua casa na cidade de

Porciúncula. Todos os demais produtores que apresentaram produção leiteira diária

até 30 L residiam na propriedade rural. No extrato de produção de 30 a 50 L diários,

três produtores possuíam seus cabris no perímetro urbano e uma caprinocultora

possuía seu cabril em zona rural onde o valor das terras era muito elevado, pois,

naquela localidade, a terra era usada principalmente para amenidades. O mesmo

ocorreu para um dos produtores do extrato de maior produção, pois sua propriedade

também estava localizada em circuito turístico entre as cidades fluminenses de

Teresópolis e Nova Friburgo.

Das esposas pertencentes às famílias entrevistadas 47% desempenhavam

pelo menos algum tipo de trabalho na caprinocultura leiteira, além de dedicarem-se

ao cuidado do lar (Tabela 1). As demais esposas dedicavam-se ao lar (18%) ou

trabalhavam fora da propriedade em atividades não agrícolas (35%). Este porcentual

de esposas que se dedicavam à caprinocultura leiteira é um indicativo de que esta

atividade pode, de fato, promover a eqüidade entre os gêneros no agronegócio, em

um ambiente onde a presença masculina é dominante (SINN et al., 1999). GOMES

et al. (2003) observaram que apenas 16,6% das mulheres executavam algum

trabalho na atividade de bovinocultura leiteira, e os autores comentaram que, além

da eficiência do trabalho feminino na produção e no processamento de lácteos, a

mulher contribui para reduzir o custo de produção devido ao baixo custo de

oportunidade de sua mão-de-obra. Isto pode ser constatado para os extratos de

produção leiteira diária até 50 L, em função do menor nível de escolaridade das

esposas (Tabela 1).

A agricultura familiar é um conceito que traz, em sua essência, a conjugação

de fatores intimamente relacionados ao aproveitamento dos recursos de que dispõe

a família, quais sejam o trabalho e os bens de produção. Não significa,

necessariamente, que deva ser praticada em pequena escala. Um exemplo disso

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são os produtores dos dois extratos de maior produção, i.e., acima de 100 L/d, os

quais trabalham total ou parcialmente na atividade, desempenhando papéis

relevantes, seja no gerenciamento do negócio, seja agregando valor através de

produtos sofisticados (queijos finos) que atingem nichos específicos de mercado.

Os extratos reunidos até 50 L diários caracterizavam-se pelo emprego da

mão-de-obra familiar pois, tanto as esposas quanto os filhos, sejam rapazes (11%)

ou moças (17%), participavam da realização de tarefas cotidianas relativas à

caprinocultura leiteira. As cabras são animais dóceis, de fácil manejo, demandam

pequena quantidade de volumoso, baixo investimento inicial em instalações e

podem ocupar a mão-de-obra de toda a família. Esta atividade merece especial

destaque no contexto da agricultura familiar, por ser possível implementá-la e

conduzi-la em pequenas áreas, e por permitir a geração de lucro suficiente para a

manutenção da família (JOHNSON et al., 1986; CABRAL, 2006). A principal virtude

da caprinocultura leiteira, que também é o seu maior apelo, reside no fato de que a

sua prática racional não traz prejuízo ao meio ambiente, absorve a mão-de-obra

familiar e auxilia no processo de preservação da paisagem rural, o que vai ao

encontro das demandas para o desenvolvimento sustentável (RANCOURT et al.,

2006).

O trabalho fora da propriedade, particularmente o que é associado às

atividades não agrícolas, é também uma realidade para as populações do meio rural

brasileiro (ABRAMOVAY, 2000; SILVESTRO et al., 2001). A importância desta fonte

de renda é tanto maior quanto mais restritas são as perspectivas da família em

relação ao negócio empreendido na propriedade; se a família não detiver todos os

fatores que assegurem renda satisfatória aos seus membros, cresce o desinteresse

pelas atividades tradicionalmente empregadas; e o desinteresse em manter o

negócio dos pais é maior entre os jovens agricultores de famílias rurais

descapitalizadas (SILVESTRO et al., 2001; ZAIBET et al., 2004). Ao analisar o

percentual de rapazes e moças com idade para pertencer à população

economicamente ativa (Tabela 1), observou-se que, considerados todos os extratos,

72% dos filhos buscaram auferir renda em atividades não agrícolas, o que corrobora

as constatações supra citadas. Visto está, entretanto, que parte importante dos

jovens ajudava seus pais na condução da caprinocultura leiteira e, portanto, se a

família obtiver sucesso na criação, os filhos poderão suceder com êxito o negócio de

seus pais (SILVESTRO et al., 2001; ZAIBET et al., 2004; CABRAL, 2006).

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25

Na Tabela 2 foram listados os resultados da pesquisa de campo que

permitiram caracterizar as propriedades rurais amostradas onde se exercia a

caprinocultura leiteira. As médias das produções leiteiras diárias dessas

propriedades e seus desvios padrão (L/d), segundo os respectivos extratos, foram

de 8,8 ± 0,9 (n1 = 2), 15,7 ± 3,9 (n2 = 5), 22,6 ± 2,7 (n3 = 2), 34,4 ± 3,4 (n4 = 6) e

183,8 ± 54,2 (n5 = 4). Apesar da heterogeneidade de variâncias detectada após

aplicação do teste de Bartlett (P < 0,01) para as variáveis: produção leiteira média

diária (PLMD), área total, área utilizada para a caprinocultura e área destinada à

produção de volumoso para os caprinos, constatou-se que o aumento da PLMD

demandava maiores áreas para os sistemas em geral, contudo, os incrementos

foram proporcionais apenas para a área destinada à caprinocultura leiteira.

De forma incipiente e aproximada, apenas, estabeleceu-se a seguinte

relação entre área da propriedade destinada à caprinocultura leiteira (Sc, ha) e a

PLMD (L/d) por propriedade:

.19n ;69,0R ;PLMD06,017,0S 2c ==⋅+−= (1)

A relação entre a área destinada à produção de forragem para os caprinos

(Sf, ha) e a área total ocupada pela caprinocultura leiteira (Sc, ha), ou seja, Sf:Sc não

apresentou correlação linear significativa ( )3586,0P ;0890,0 =− com a PLMD, assim,

a proporção média para este quociente, estimada em 0,61, poderia ser aplicada para

estimação da área necessária à produção de forragem em função da PLMD:

cf S61,0S ⋅= . (2)

Estas relações, porém, não representam a solução otimizada para a área em função

do tamanho do sistema de produção, apenas descrevem como os produtores

utilizavam o recurso terra para implementação de seus sistemas de produção e

atendimento à demanda por alimentos volumosos.

Analisados os recursos forrageiros disponíveis nas propriedades, verificou-

se que todos os extratos produtivos utilizavam capim elefante, o que pode ser

explicado pelo fato de esta gramínea apresentar grande rendimento forrageiro, e

também pelo fato de que a formação de capineiras é bem conhecida pelos

produtores.

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Tabela 2. Características das propriedades1 onde a caprinocultura leiteira era exercida, distribuídas segundo os extratos de Produção Leiteira Média Diária

Extrato de Produção (L/d) Item Unid.

<10 10-20 20-30 30-50 >100

Área total2 ha 4,65 10,14 16,43 10,47 36,75

Área destinada à atividade2 ha 0,52 3,11 1,50 1,58 11,23 Área para produzir forragem2 ha 0,30 2,36 1,00 0,93 6,5

Forrageiras empregadas: Urochloa sp. (braquiárias) % 5,26 21,05 0 5,26 0 Pennisetum purpureum % 10,53 15,79 10,53 31,58 15,79

Cynodon sp. (Tyfton) % 0 0 0 0 5,26 Panicum sp. % 5,26 5,26 5,26 10,53 5,26 Outros % 5,26 10,53 5,26 5,26 5,26

Adubação: Esterco do cabril % 5,26 15,79 10,53 31,58 21,06 Adubação química % 0 5,26 0 0 5,26

Equipamentos disponíveis3: Trator % 0 0 0 5,26 5,26 Implementos % 0 0 0 0 5,26

Picadeira % 5,26 21,05 10,53 31,58 21,06 Carro % 5,26 10,53 5,26 21,05 21,06 Motocicleta % 5,26 0 5,26 10,53 5,26

Carroça % 5,26 0 5,26 26,32 10,53 Equipamento de irrigação % 0 0 0 10,53 15,79 Pulverizador costal % 5,26 15,79 10,53 31,58 15,79

Botijão de sêmen % 0 0 0 5,26 5,26 Ordenhadeira mecânica % 0 0 0 5,26 15,79 Resfriador de leite % 0 0 0 5,26 15,79

Freezer % 10,53 10,53 10,53 26,32 15,79 Animais de serviço3:

Eqüinos, muares ou bovinos % 5,26 15,79 5,26 26,32 5,26

Valores investidos4: Benfeitorias5 R$/L/ano 0,120 0,740 0,677 2,459 2,992 Equipamentos5 R$/L/ano 0,189 0,450 0,523 0,652 0,937

Animais5 R$/L/ano 1,930 1,404 1,381 1,289 1,290 Terra5 R$/L/ano 13,437 11,345 23,137 8,835 7,304

1Total de 19 produtores. 2Médias dentro de cada extrato. 3Porcentual em relação aos 19 produtores. 4Médias dentro de cada extrato. 5Equivalente monetário do fator de produção empregado dividido pelo montante em leite produzido anualmente.

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Alguns produtores utilizavam braquiárias, que sabidamente não são

gramíneas com teores elevados em nutrientes, nas condições de manejo em que

comumente são cultivadas. Nenhum dos entrevistados utilizava silagem como

recurso forrageiro no momento da entrevista, nem mesmo os extratos de maior

produção. Entretanto, isto não quer dizer que não tenham utilizado ou que não

poderiam utilizá-la, visto que as vantagens do uso de silagem são amplamente

reconhecidas. Ainda, com relação à produção de forragem, verificou-se a sistemática

utilização de esterco caprino como fonte de nutrientes minerais para o cultivo de

plantas forrageiras em todos os extratos de produção leiteira. Isto, per se,

caracteriza a maior sustentabilidade dos sistemas de produção de leite de cabra,

pois reduz a demanda por insumos externos e melhora as condições edáficas para a

produção de forragem.

Equipamentos como carro, picadeira, pulverizador costal e freezer estavam

presentes em todos os extratos produtivos. A presença de equipamentos que

demandava maior aporte em recursos, como ordenhadeira mecânica, equipamentos

de irrigação e resfriador estiveram limitados aos extratos de maior produção. A

utilização de tração animal é uma realidade para todos os extratos.

Terra, benfeitorias, animais e equipamentos são variáveis que representam

os investimentos necessários à constituição da caprinocultura leiteira. O capital neles

imobilizado precisa ser remunerado adequadamente, para que o negócio seja

atrativo. Foi observado comportamento tendendo para o assintótico, para os

quocientes entre o montante em recursos investidos nestes fatores de produção e o

volume de leite produzido anualmente em cada empreendimento (R$/L/ano), se

dispersos em função da produção leiteira média diária (PLMD, L/d) dos respectivos

extratos (Figura 1). Estas tendências foram traçadas sob os pressupostos de

estabilidade para o efetivo dos rebanhos e de seus respectivos índices zootécnicos.

O caso mais preciso, porém, foi o da relação exponencial entre o coeficiente técnico

para o valor investido em animais ( )anoL$R,k A :

( )[ ] 3A 101289PLMD1418,0exp1754k −⋅+⋅−⋅= , (3)

no qual a taxa específica ( )1L− representa a proporção de decréscimo do coeficiente

por unidade de acréscimo à PLMD. A interpretação direta deste quociente é a de

que quanto menor o seu valor, maior será o retorno em produto por unidade

monetária investida. Uma vez que o perfil é decrescente, o volume de dinheiro

imobilizado em animais foi menor para os extratos de maior produção, o que

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Figura 1: Relação para o quociente entre o montante investido e o volume anual de

leite ( )11 anoL$R −− ⋅⋅ , estimados para os fatores de produção terra ( )Ya , benfeitorias ( )Yb , animais ( )Yc e equipamentos ( )Yd , em função da produção leiteira média diária (PLMD, L/d), com base na pressuposição de estabilidade dos rebanhos estudados.

significa que a aquisição de animais em maior quantidade foi mais vantajosa em

termos de preço pago pelos animais.

A Tabela 3 foi confeccionada com intuito de traçar o perfil das propriedades

em relação às formas de armazenamento do leite, da freqüência de entrega do leite,

das condições das estradas, dos recursos alimentares utilizados e do manejo

reprodutivo adotado.

O armazenamento do leite em tanque de expansão pertencente

exclusivamente ao próprio produtor esteve ligado ao extrato de maior produção

(16%), justificado pelo maior volume diário e seu maior poder aquisitivo. Isto não

quer dizer que as associações, por sua vez, não utilizavam este recurso, muito ao

contrário, era necessário. O armazenamento feito através de freezer foi citado por

todos os extratos e representou 47%. Os produtores de menor volume resfriavam o

leite da ordenha da tarde para entregá-lo na manhã seguinte, ou oportunamente,

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Tabela 3. Perfil das propriedades fluminenses1 quanto ao armazenamento do leite,

freqüência de entrega do leite, condições das estradas, recursos

alimentares disponíveis e manejo sanitário adotado onde a caprinocultura

leiteira era exercida, distribuído quanto aos extratos de Produção Leiteira

Média Diária

Extratos de Produção (L/d) Item Unid. <10 10-20 20-30 30-50 >100

Armazenamento do leite:

Tanque de expansão % 0 0 0 0 15,79 Freezer % 5,26 10,53 5,26 26,32 0

Tanque de imersão % 0 0 0 5,26 5,26 Geladeira % 0 0 0 10,53 0

Freqüência de entrega1:

Diariamente % 5,56 16,67 5,56 16,67 0 A cada dois dias % 5,56 5,56 0 5,56 0 A cada três dias % 0 0 0 0 5,56

Mais de três dias % 0 5,56 5,56 11,11 11,11 Condições das estradas:

Transita o ano todo % 5,26 10,53 5,26 26,32 15,79

Transita parte do ano % 0 0 5,26 5,26 5,26 Não permite passagem % 5,26 15,79 0 0 0

Recursos alimentares:

Pastagens formadas % 5,26 15,79 0 10,53 5,26 Capineiras % 10,53 15,79 10,53 31,58 21,06 Concentrados % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,06

Aleitamento artificial % 0 5,26 10,53 21,05 15,79 Cana-de-açúcar % 5,26 5,26 0 15,79 0 Silagem % 0 0 0 0 10,53

Sais minerais % 10,53 21,05 10,53 31,58 21,06 Feno % 5,26 5,26 0 21,05 21,06 Outros % 0 0 0 5,26 10,53

Sanidade: Vermifugação % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,06 Ectoparasiticida % 5,26 21,05 10,53 15,79 10,53

Vacina contra clostridios % 0 0 0 15,79 21,06 Vacina contra raiva % 10,53 15,79 5,26 10,53 5,26 Vacina contra leptospirose % 0 0 0 5,26 0

1Considerar total de produtores igual a 18.

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quando um maior volume de leite fosse acumulado. O tanque de imersão e a

geladeira estiveram presentes em 10% das propriedades.

Quanto à freqüência de entrega do leite, 44% dos produtores entregavam

diariamente, 16% entregavam a cada dois dias, 5% entregavam a cada três dias e

33% dos produtores declararam que entregavam seu leite num intervalo de tempo

maior que três dias. A freqüência de entrega do leite, estava em função da

proximidade da cooperativa, como no caso da CAPRINOF (Cooperativa dos

Caprinocultores do Noroeste Fluminense) a qual possuía tanque de expansão ou da

freqüência da passagem do caminhão de coleta, que recolhia o leite a cada três ou

quatro dias. Os produtores que indicaram um intervalo maior de coleta foram

aqueles que congelavam o leite ou possuíam tanque de expansão na propriedade.

As condições das estradas foram questionadas e 63% dos produtores

declararam que as estradas de acesso permitem o trânsito o ano todo, 16%

declararam que permite o acesso apenas parte do ano e 21% disseram que suas

estradas não permitem passagem. O escoamento a produção agrícola depende das

condições das estradas e o acesso limitado pode causar grandes prejuízos aos

produtores.

Questionamentos sobre recursos alimentares utilizados nas propriedades

apontaram que 100% dos produtores utilizavam concentrados e 95% dos produtores

faziam uso de capineiras na alimentação do rebanho (Tabela 2). A utilização de

misturas minerais na alimentação do rebanho foi de 95%, demonstrando ampla

utilização deste recurso. Os produtores também utilizavam pastagens formadas

(37%). 53% dos produtores utilizavam feno pelo menos numa parte do ano, apesar

deste recurso alimentar ser bastante apreciado pelos animais, possui alto custo por

unidade de energia quando comparado à silagem, tornando-a pouco atrativa do

ponto de vista econômico. A utilização de silagem ficou restrita ao último extrato,

onde apenas 10% dos produtores citaram que faziam uso de silagem, entretanto,

conforme anteriormente citado, nenhum dos entrevistados utilizava silagem como

recurso forrageiro no momento da entrevista. A cana-de-açúcar também era utilizada

como recurso alimentar por 26% dos caprinocultores, apesar de suas restrições

nutricionais para animais com elevada demanda por nutrientes. Entretanto, a cana

era utilizada principalmente em momentos de escassez de forragem, o que indica a

ausência de planejamento objetivando o atendimento da demanda por forragem de

qualidade ao longo do ano.

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O último item refere-se ao aleitamento artificial, utilizado por 47% dos

produtores distribuídos nos extratos com mais de 10 L/d. Esta técnica, portanto, não

é praticada por todos, mas traz vantagens como praticidade, facilidade para o

armazenamento do sucedâneo, ou até mesmo para baratear o custo de cria, por

substituir o leite de cabra, de maior custo de oportunidade.

As freqüências de práticas de sanidade do rebanho foram de 100% para

vermifugação, 63% para ectoparasitas, 37% de vacinação contra as clostridioses,

47% de vacinação contra raiva e 5% contra leptospirose. Verificou-se com isto, que

a vermifugação é uma prática sanitária bastante utilizada por todos os produtores.

Outra prática sanitária que chamou a atenção foi a vacinação contra clostridioses,

que ficou restrita aos dois últimos extratos produtivos. O maior número de animais

nestes rebanhos favorece ao surgimento deste tipo de enfermidade.

4.2. Composição do rebanho, produtividade, manejo reprodutivo e de ordenha

adotados pelos produtores

Em relação à composição do rebanho (Tabela 4), verificou-se que a relação

matriz reprodutor variou entre 10 e 20:1, o que está abaixo da recomendada de 25:1,

uma vez que o manejo reprodutivo geralmente adotado foi a monta natural

(RIBEIRO, 1989). Por outro lado, a dificuldade de se obter bons reprodutores ou até

mesmo compartilhá-los, dadas as restrições sanitárias e pelo receio que seus

proprietários geralmente têm de que não sejam bem tratados, pode ter contribuído

para a menor proporção entre cabras e reprodutores observada para os extratos de

menor produção, já que os caprinocultores se vêm obrigados a manterem

reprodutores. No extrato de maior produção, a relação foi de 47:1, isto

provavelmente deveu-se à utilização de inseminação artificial e monta natural

controlada.

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Tabela 4. Perfil da composição do rebanho e de produtividade segundo os extratos de produção leiteira média diária1

Extratos de Produção (L/d) Item Unid. <10 10-20 20-30 30-50 >100

Composição do rebanho:

Reprodutores cab. 1,5 1,2 2,0 2,5 5,5 Cabras pluríparas cab. 7,0 11,2 14,0 17,5 163,0 Cabras primíparas cab. 4,0 4,4 5,0 7,2 46,5

Cabras em lactação cab. 11,0 15,0 14,5 19,7 164,3 Fertilidade % 85,71 81,90 82,69 59,27 71,33 Cabritas 3-12 meses cab. 4,0 8,0 8,5 8,7 50,0

Cabritos 3-12 meses cab. 0 2,8 0,5 0,5 3,0 Cabritas 0-3 meses cab. 0 0,4 0 8,3 51,5 Cabritos 0-3 meses cab. 0 0 0 3,5 6,5

Produtividade: Produção/cabras L/cabra/d 0,9 1,2 1,4 1,5 0,9 Produção/cabras lactantes L/cabra/d 0,9 1,2 1,6 1,8 1,2

Mão-de-obra/produção2 dH/L 0,02841 0,05192 0,04503 0,04094 0,03113 1n = 19 produtores. 2Estimado com base no quociente entre o total em dias × homem trabalhados ao longo do ano pelo volume anual de leite produzido.

A correlação entre a proporção de primíparas no total de cabras e a PLMD

não foi significativa ( )1178,0P ;2858,0 =− , o que mostrou a relativa independência

entre os extratos de produção para esta variável (Tabela 4). De igual forma não foi

significativa à correlação entre a fertilidade e a PLMD ( )3324,0P ;1064,0 =− .

A média para a produção leiteira pelo total de cabras no rebanho não

apresentou correlação significativa ( )1455,0P ;2555,0 =− , assim como a produção

leiteira média por cabra em lactação ( )3196,0P ;1150,0 =− , com a produção leiteira

média diária. Isto ocorreu, provavelmente, em função das características raciais dos

rebanhos estudados em todos os extratos de produção, compostos por animais

puros ou com alto grau de sangue de raças de origem européia.

Não foi constatado efeito da escala de produção sobre o coeficiente técnico

para a mão-de-obra, computado em termos de dias × homem trabalhados ao longo

do ano, divididos pelo volume anual de leite produzido, visto que a correlação entre

o coeficiente técnico e a PLMD não foi significativa ( )1570,0P;2440,0 =− . Isto

significa que a produtividade da mão-de-obra independeu do extrato de produção.

Entretanto, observou-se grande variabilidade para este índice, cuja estimativa média

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(± desvio padrão) foi de 0,04088 (± 0,01760) dH/L, com valor mínimo observado de

0,02027 dH/L e amplitude igual a 0,07341 dH/L.

Na Tabela 5 foram apontadas informações sobre as diferentes condições em

que eram realizadas a ordenha e o manejo reprodutivo. Além disso, outro item

avaliado foi relativo ao(s) critério(s) para levar as cabritas à primeira cobrição. 10%

dos produtores realizavam um ordenha e 89% realizavam duas ordenhas diárias. A

ordenha manual prevaleceu no meio criatório (79%), ao passo que a ordenha

mecânica era praticada em 21% das propriedades, particularmente naquelas em que

os caprinocultores apresentaram maior poder aquisitivo.

Quando questionados sobre o manejo reprodutivo adotado, 100% dos

produtores responderam que utilizavam monta natural controlada e destes, 21%

utilizavam inseminação artificial. 47% dos produtores não utilizavam indução de cio

em seus rebanhos, o que indica a pouca profissionalização dos produtores. Uma vez

que os rebanhos eram formados, em sua maioria, por animais do tronco europeu,

que apresentam estacionalidade reprodutiva, a não interferência no processo

contribuía para uma oferta sazonal de leite. Este padrão de oferta é sabidamente

prejudicial à cadeia como um todo, particularmente à montante, pois o produtor

compromete sua renda (CASTRO, 1987; CABRAL, 2006). Entre os produtores que

realizam indução de cio, 26% usavam o programa de luz, 10% utilizavam em

conjunto o programa de luz e efeito macho e 16% utilizavam indução através de

hormônios.

Os critérios adotados pelos produtores à primeira cobertura também foram

questionados. De acordo com RIBEIRO (1997), existe diferença entre a puberdade

fisiológica, que ocorre quando o animal atinge 40 a 50% de seu peso adulto ou 20 a

25 kg de peso vivo, e a puberdade zootécnica, que ocorre quando o animal alcança

de 60 a 70% do seu peso adulto ou 30 a 35 kg de peso vivo. Estes critérios são

relevantes para as futuras matrizes ou reprodutores na medida em que poderá

comprometer o desempenho produtivo futuro. O critério idade das cabritas foi

apontado por 10% dos produtores, o peso foi relatado por 37% dos produtores e o

conjunto peso e idade foram mencionados por 53% dos produtores entrevistados. A

literatura recomenda que se deva ponderar entre peso e idade, sendo o peso o fator

mais limitante na prática. Devido à alimentação geralmente insuficiente para ganho

de peso médio diário em torno de 150 g/d e 7 meses de idade a primeira cobrição,

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Tabela 5. Perfil das propriedades visitadas1 em relação tipo e freqüência de ordenha, sistema reprodutivo adotado e critérios à primeira cobertura, distribuído quanto aos extratos de produção leiteira média diária

Extratos de Produção Item Unid. <10 10-20 20-30 30-50 >100

Número de ordenha1:

Uma % 5,26 0 0 5,26 0 Duas % 5,26 26,32 10,53 26,32 21,06

Tipo de ordenha1: Manual % 10,53 26,32 10,53 26,32 5,26 Mecânica % 0 0 0 5,26 15,79

Manejo reprodutivo1: Faz Inseminação artificial % 0 0 0 5,26 15,79 Monta natural controlada % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,06

Não faz indução de cio % 10,53 15,79 5,26 10,53 5,26 Faz indução de cio:

Luz % 0 10,53 5,26 5,26 5,26

Luz e efeito macho % 0 0 0 10,53 0 Luz e Hormonal % 0 0 0 5,26 10,53

Critérios para a 1ª cobertura1:

Não adota critério algum % 0 0 0 0 0 Idade % 0 0 5,26 5,26 0 Peso % 5,26 15,79 5,26 10,53 0

Peso e idade % 5,26 10,53 0 15,79 21,06

1Total de 19 produtores.

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35

os extratos com produção menor que 50 L/d têm o desenvolvimento das cabritas

comprometido após a desmama (CABRAL, 2006).

4.3. Características da mão-de-obra utilizada pelos produtores, das formas de

capacitação, adoção de conhecimentos e de tecnologias

Na Tabela 6, são apresentados os resultados da pesquisa de campo quanto

ao perfil da mão-de-obra e de suas formas de capacitação e apropriação de

conhecimentos e tecnologias, distribuídos segundo os extratos de produção. A força

de trabalho familiar, seja para execução de tarefas diárias, para a gestão do negócio

ou ambos, estiveram presentes em todos os extratos, porém, constatou-se que a

contratação de mão-de-obra fez-se necessária na medida em que a escala de

produção aumentava. Esta característica apresentou proporcionalmente em função

da PLMD, se observada quanto à relação entre as horas trabalhadas pela força de

trabalho contratada e o total de horas gastas pela mão-de-obra familiar ( )F:Ch :

19n ; 84,0R ; PLMD14,014,1h 2F:C ==⋅+−= . (4)

Cabe salientar que este índice é adimensional e, para o seu cálculo, foram

computadas as horas gastas pela mão-de-obra familiar para a gestão e execução de

tarefas diárias relativas à caprinocultura leiteira.

No item capacitação da mão-de-obra, verificou-se apenas um relato de

informações adquiridas com vizinhos (Tabela 6), o que pode não representar a

realidade, pois, segundo GOMES et al. (2003), esta se constitui em uma das formas

mais comuns de se obter informações no meio rural. Não obstante, a capacitação

da mão-de-obra efetuada pelo próprio produtor para os três últimos extratos (42%) e

por ações de extensão da EMATER nos extratos até 50 L/d (32%), foi relatada com

maiores freqüências. Esta participação da EMATER esteve concentrada nos

municípios de Porciúncula e Pedra Dourada, locais onde a impressão que se tinha

era a de que a renda dos produtores em relação à propriedade apresentava maior

dependência. Após análise da Tabela 4, constatou-se que a forma mais comum de

aquisição de informações relativas à caprinocultura leiteira foi por meio de palestras

e cursos (53%), assistidos por produtores dos extratos até 50 L/d. É possível

destacar, ainda, a baixa freqüência de utilização de técnicos de nível superior para

assistência ou consultoria, em função do elevado custo deste tipo de mão-de-obra

especializada.

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36

Tabela 6. Perfil da mão-de-obra e de suas formas de capacitação e apropriação de conhecimentos e tecnologias, distribuídos segundo os extratos de produção1

Extrato de Produção (L/d) Item Unid.

<10 10-20 20-30 30-50 >100

Tipo de mão-de-obra:

Familiar % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,05 Contratada % 0 5,26 5,26 15,79 15,79

Contratada (dH):Familiar (dH)2 hC:F 0 0,8 4,0 4,3 23,0

Mão-de-obra: capacitação Vizinho % 0 5,26 0 0 0

Revista % 0 0 0 5,26 0 EMATER % 5,26 15,79 5,26 5,26 0 Videotapes % 0 0 0 5,26 0

Jornais % 0 0 0 5,26 0 Próprio produtor % 0 0 5,26 21,05 15,79 Palestras e cursos % 10,53 15,79 5,26 21,05 0

Técnicos para assistência % 0 0 0 10,53 5,26 Questões trabalhistas:

Carteira assinada % 0 0 5,26 15,79 21,06

Não contrata % 10,53 21,05 5,26 5,26 0 Temporária (diarista) % 0 5,26 0 5,26 0

Meios de comunicação:

Revistas agropecuárias % 0 10,53 0 15,79 15,79 Programas de TV % 0 0 0 5,26 0 Internet % 5,26 0 5,26 15,79 21,06

Não utiliza % 10,53 21,05 5,26 0 0

1n = 19 produtores. 2Proporção adimensional.

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37

Quanto às questões trabalhistas, verificou-se que a mão-de-obra com carteira

assinada esteve presente nos extratos a partir de 20 L/d, mas o comportamento

geral observado foi o aumento linear da necessidade de mão-de-obra contratada em

relação à força de trabalho familiar, na medida em que se observou o aumento da

escala de produção (Eq. 4). A força de trabalho familiar para a realização de tarefas

diárias relacionadas à atividade esteve presente em 47% das propriedades rurais

amostradas. Nos extratos de maior produção, o trabalho familiar era voltado,

majoritariamente, para a gestão do negócio. A utilização de diaristas, i.e.,

funcionários sem vínculo empregatício, foi pouco relatada (Tabela 4).

A utilização de meios de comunicação como revistas agropecuárias e

internet não foram constatadas para todos os extratos, mas 42% dos produtores

entrevistados utilizavam revistas, e 47% utilizavam à internet. Estes dois meios de

comunicação eram utilizados, em geral, por produtores de maior renda, i.e., acima

de 30 L/d (32% para revistas e 37% para a internet). Programas de televisão foram

citados por um produtor apenas, provavelmente, devido a pouca freqüência com que

programas contendo informações específicas sobre caprinos são exibidos. Os

extratos de produção até 30L/d foram os que menos utilizavam os meios de

comunicação (Tabela 6).

4.4. Demanda e qualidade das informações ofertadas, interações com os

principais órgãos de apoio e gerenciamento da atividade

A Tabela 7 resultou da aplicação de questões sobre as informações

recebidas e demandadas pelos produtores, bem como da forma como os produtores

interagem com os principais órgãos públicos e privados de apoio ao produtor. As

informações recebidas consideradas importantes pelos produtores, presentes em

quatro dos cinco extratos foram alimentação (26%) e manejo (53%). O

melhoramento foi relatado por apenas 10% dos produtores e a sanidade por 32%

dos produtores; esta última, porém, esteve presente nos extratos de 10 a 20 e de 30

a 50 L/d, apenas. O gerenciamento foi considerado importante pelos produtores dos

extratos a partir de 30 L/d. Nestes extratos, o capital investido era maior, o que

exigia por parte dos produtores, maior capacitação em tomar decisões.

Entre as informações demandadas pelos produtores, destacaram-se as

relativas ao custo de produção (37%), ao mercado do leite (26%), à sanidade e

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38

Tabela 7. Identificação das informações recebidas e demandadas pelos produtores e interação com os principais órgãos de apoio ao produtor rural, segundo os extratos de produção leiteira média diária

Extratos de Produção (L/d) Item Unid.1

<10 10-20 20-30 30-50 >100

Informações importantes:

Alimentação do rebanho % 0 5,26 5,26 10,53 5,26 Melhoramento genético % 0 0 0 10,53 0

Sanidade % 0 15,79 0 15,79 0 Manejo % 10,53 5,26 10,53 26,32 0 Gerenciamento % 0 0 0 15,79 10,52

Informações de maior carência: Mercado de leite % 0 5,26 0 21,05 0 Sanidade do rebanho % 5,26 5,26 5,26 0 0

Custo de produção % 5,26 10,53 0 15,79 5,26 Alimentação do rebanho % 0 0 5,26 5,26 5,26 Melhoramento genético % 0 5,26 0 0 5,26

Qualidade da informação recebida: Muito boa % 0 5,26 0 0 0 Boa % 5,26 10,53 10.53 15,79 10,53

Regular % 0 10,53 0 10,53 10,53 Ruim % 5,26 0 0 0 0 Péssima % 0 0 0 5,26 0

Quanto ao SENAR: Já ouviu falar1 % 10,53 26,32 10,53 15,79 15,79 Participação em cursos % 5,26 21,05 5,26 5,26 0

Quanto ao SEBRAE: Já ouviu falar1 % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,06 Participação em cursos % 10,53 10,53 0 26,32 10,53

Quanto a EMATER: Já ouviu falar1 % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,06 Participação em cursos % 5,26 21,05 5,26 15,79 10,53

1Porcentual em relação ao total de 19 produtores.

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alimentação do rebanho, com 16% de participação cada, e, por último, o

melhoramento genético, citado por 10% dos produtores, apenas. Estes resultados

permitiram demonstrar que as informações mais demandadas não foram as mais

oferecidas, e ênfase deve ser dada para a correta apreciação dos custos de

produção na caprinocultura leiteira e sobre o mercado para o leite de cabra.

Todos os produtores entrevistados concordavam que os itens supracitados

estavam inter-relacionados e citaram, dentre eles, os de maior relevância. Quando

da aplicação dos questionários, a maioria dos produtores sabia da importância dos

registros tanto de despesas como de receitas para o bom gerenciamento do

negócio, mas apenas uma minoria fazia as devidas anotações. Em geral, apenas as

receitas eram conhecidas de forma mais acurada.

Quando os produtores foram questionados sobre a qualidade das

informações recebidas, 53% as consideraram de boa qualidade, 32% regulares e,

apenas 16% dos entrevistados, mas em extratos diferentes, as consideraram muito

boas, ruins ou péssimas (Tabela 7). Estes números mostram que os caprinocultores

valorizavam as informações recebidas, provavelmente pela escassez destas quando

comparado, por exemplo, a informações sobre bovinocultura de leite.

Os órgãos de apoio ao produtor eram conhecidos por todos os produtores

entrevistados. Isto, porém, não significa que, necessariamente, apresentem alcance

efetivo a todos os caprinocultores. A participação em cursos do SENAR foi citada por

37% dos entrevistados, 58% citaram os cursos do SEBRAE e 58% os da EMATER.

Apesar de muitos dos entrevistados terem ouvido falar do SENAR — Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural, este órgão foi o que apresentou menor freqüência

de caprinocultores em cursos promovidos pelo órgão. Cabe destaque o fato de a

EMATER-RIO — Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de

Janeiro ter alcançado todos os extratos, o que demonstrou sua efetiva ação de

assistência técnica e extensão rural junto aos caprinocultores.

Na Tabela 8 foram colhidas informações referentes ao gerenciamento da

caprinocultura leiteira e das interações dos produtores com a indústria processadora.

A administração da produção exercida somente pelos proprietários esteve presente

em todos os extratos produtivos e correspondeu à maioria dos casos (58%). A

participação do proprietário e família foi de 32% e a do proprietário em conjunto com

o administrador ocorria em 10% dos casos. Esta administração conjunta entre

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40

Tabela 8. Informações relativas ao gerenciamento da caprinocultura leiteira e de como os produtores interagem com a indústria

Extratos de Produção Item Unid.

<10 10-20 20-30 30-50 >100

Administração da produção:

Proprietário % 10,53 5,26 10,53 21,06 10,53 Proprietário e família % 0 21,05 0 10,53 0 Proprietário e administrador % 0 0 0 0 10,53

Tempo do produtor: Caprinocultura leiteira % 5,26 10,53 0 21,06 5,26 Outras atividades % 5,26 15,79 10,53 10,53 15,79

Registros realizados: Data de cobertura % 0 26,32 5,26 31,58 21,06 Data de parição % 10,53 26,32 10,53 31,58 21,06

Controle leiteiro % 0 0 0 5,26 21,06

Controle de estoque % 0 10,53 0 21,05 21,06

Despesas e/ou receitas % 5,26 21,05 10,53 26,32 21,06

Ração/medicamentos % 0 21,05 5,26 26,32 21,06

Estabelecimento de metas: Produção de leite % 0 10,53 10,53 21,05 21,06

Receitas % 5,26 0 0 5,26 0 Produtividade % 0 5,26 0 5,26 0 Despesas % 5,26 5,26 0 0 5,26

Remuneração do leite1: Concorda % 5,56 5,56 11,11 16,67 5,56 Discorda % 5,56 22,22 0 16,67 11,11

Se concorda, por quê? Favorece a especialização % 0 5,56 0 16,67 5,56 Estimula a modernização % 0 0 5,56 5,56 0

Estabiliza a renda % 0 0 5,56 0 0 Aumenta a renda % 5,56 0 0 0 0

Se não concorda, por quê?

Reduz a renda do produtor % 5,56 0 0 11,11 0

Só favorece a indústria % 0 22,22 0 5,56 11,11

1Considerar total de produtores igual a 18, pelo fato de um produtor ser também o dono da indústria processadora.

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41

proprietário e administrados ficou restrita ao extrato de maior volume de produção,

devido provavelmente ao maior montante de recursos investido na atividade.

A caprinocultura leiteira era a única atividade produtiva desenvolvida por

42% dos produtores entrevistados. A maioria (58%) exercia outras atividades

produtivas. Este resultado permite demonstrar a importância da caprinocultura

leiteira para a geração de renda para estes produtores que dependiam totalmente

desta atividade.

Segundo relato dos produtores, todos realizavam o registro das datas de

parição, 84% registravam as datas de cobertura e o controle leiteiro era efetuado por

apenas 26% dos entrevistados. Outras anotações relevantes foram indagadas, como

controle de estoque (53%), despesas e/ou receitas (84%) e ração/medicamentos

(74%). Estes números mostram que a maioria dos produtores realizava algum tipo

de controle, porém ficou constatado na prática, que poucos sabiam da importância

destes índices para um resultado econômico satisfatório da atividade.

O estabelecimento de metas pelos produtores foi estimado e verificou-se

que 63% deles estabeleciam metas baseadas na produção de leite, 10% na

produtividade e nas receitas e 16% nas despesas. Segundo GOMES (2003), metas

que não sejam baseadas em eficiência técnica e financeira levam provave lmente ao

insucesso do negócio.

Em relação ao sistema de remuneração do leite, 44% concordavam e 56%

discordavam do sistema e um dos entrevistados não dependia deste sistema. Dentre

os produtores que concordavam 28% apontaram que o sistema de remuneração

favorecia a especialização, 11% deles disseram que estimulava a modernização,

5,56% disseram que estabilizavam a renda ou aumentava a renda. Para os

produtores que discordavam 17% indicaram que reduzia a renda e 39% disseram

que só favorecia a indústria. Estes dados mostram que a maioria dos produtores não

eram favorecidos pelas gratificações em relação a volume, qualidade e regularidade

de entrega do leite ou pelo preço base pago pela indústria. Esta insatisfação em

relação ao preço do leite é devida provavelmente, ao alto custo de produção da

maioria dos produtores.

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42

4.5. Resultados econômicos das unidades produtivas amostradas

A produção brasileira de leite de cabra vem crescendo nos últimos anos,

devido principalmente as importantes transformações, no que diz respeito à

produção e utilização dos fatores de produção. Esta expansão no Brasil e em

especial no Estado do Rio de Janeiro, se deve em parte, pela demanda por produtos

mais saudáveis e de qualidade, ou mesmo, por produtos sofisticados e de alto valor

agregado, como é o caso dos queijos finos.

Neste sentido, trabalhos sobre avaliações financeiras relativas à

caprinocultura leiteira são escassos e estudos sobre viabilidade econômica das

unidades de produção podem ajudar a esclarecer possíveis entraves da atividade e

apontar eventuais falhas no gerenciamento do negócio. Assim, os resultados

econômicos das unidades de produção de leite de cabra são apresentados na tabela

9, elaborada a partir da aplicação dos questionários e distribuídos em seus

respectivos extratos produtivos. Foram obtidos os respectivos coeficientes de

eficiência técnica médios para cada extrato. Os itens relativos ao capital estável

foram discutidos anteriormente.

A tabela abaixo mostra as receitas, que são as entradas de capital, as quais

foram formadas pela venda do leite principalmente e de animais. Ao analisar os itens

que formavam as receitas, observou-se que no extrato de produção abaixo de 10

L/d, o percentual de receita obtida com a venda de animais (55%) superou aquele

obtido com a venda de leite (45%). Este fato é devido provavelmente à liquidação do

plantel de um dos produtores entrevistado. Nesse sentido, verifica-se que a venda

de animais foi mais importante na geração de receita do que a venda de leite. O

mesmo comportamento não foi observado nos demais extratos. No extrato com

produção diária entre dez e vinte litros por dia, verifica-se que a receita oriunda da

venda de animais girou em torno de 15%, enquanto que a de leite foi cerca de 85%.

100% com a venda de leite para o extrato entre 20 e 30 L/d; 19% e 81% no extrato

de 30 a 50 L/d; e 16% e 84% para o extrato acima de 100 L/d. Estes resultados são

um indicativo da especialidade leiteira dos sistemas de produção, por outro lado, fica

evidente a importância relativa da venda de animais na composição das receitas.

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43

Tabela 9. Análise econômica das unidades de produção de leite de cabra1, distribuídos segundo os extratos de produção, apresentada com base nos coeficientes de eficiência técnica

Extratos de Produção (L/d) Itens <10 10-20 20-30 30-50 >100

1. Capital estável

Máquinas 0,18912 0,44972 0,52307 0,65222 0,93663 Benfeitorias 0,16978 0,61652 0,54427 2,33766 2,99248 Animais 1,93014 1,40417 1,38053 1,28939 1,29032

Terra 2,35091 5,15580 1,08642 5,32345 5,30839 2. Receitas

Leite 0,61329 0,93152 0,97497 1,32472 1,15000

Animais 0,73891 0,16666 0 0,31841 0,22630 3. C.O.E.

Mão-de-obra contratada 0 0,18655 0,30060 0,44619 0,50803

Água 0,04654 0 0 0,01001 0 Luz 0,11873 0,05953 0,08167 0,06207 0,09660 Ração 0,69085 0,63259 0,60451 0,42397 0,72038

Sal 0,03328 0,03836 0,02051 0,02436 0,03182 Inseminação artificial 0 0 0 0,00652 0,00854 Feno 0 0,01571 0 0,02592 0,04515

Combustível 0 0,03755 0,11912 0,10745 0,06543 Manutenção das pastagens 0 0,01077 0 0,00656 0,01658 Manutenção de benfeitorias 0,01672 0,01450 0 0,00999 0,04820

Medicamentos 0,02871 0,01625 0,00941 0,01401 0,03512 Impostos 0,03511 0,00139 0,00165 0,01094 0,12959

4. C.O.T.

4.1. C.O.E. 0,96993 1,01319 1,13748 1,14799 1,70546 4.2. Depreciações 1,18020 0,22234 0,22031 0,38900 0,40165

Máquinas 0,14031 0,04047 0,04708 0,05870 0,08430

Benfeitorias 0,06250 0,05549 0,04898 0,20933 0,19824 Animais 0,97739 0,12637 0,12425 0,12097 0,11911

4.3. Mão-de-obra familiar 0,35359 0,55283 0,25398 0,18762 0,03410

4.4. Administração 0,26519 0,24339 0,20797 0,20761 0,06114 5. Custo total (C.T.) 5.1. C.O.T. 2,76891 2,03175 1,81973 1,93222 2,20235

5.2. Remuneração do capital estável 0,07554 0,08152 0,08078 0,14122 0,17224 Máquinas 0,00624 0,01484 0,01726 0,02152 0,03091 Benfeitorias 0,00560 0,02035 0,01796 0,07714 0,09875

Animais 0,06369 0,04634 0,04556 0,04255 0,04258 5.3. Remuneração do capital circulante 0,02910 0,03040 0,03412 0,03444 0,05116 6. Margem bruta (Receitas – C.O.E.) 0,38227 0,08499 -0,16251 0,49515 -0,32916

7. Renda líquida (Receitas – C.O.T.) -1,41670 -0,93357 -0,84477 -0,28908 -0,82605 8. Lucro (Receitas – C.T.) -1,52134 -1,04549 -0,95967 -0,46474 -1,04945 1Total de 19 unidades de produção.

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44

É de conhecimento geral que o custo de produção é fundamental na

administração de qualquer empreendimento, sendo freqüentemente conceituado

como a soma de todas as despesas envolvendo insumos, serviços e fatores de

capitais empregados na produção de um determinado bem. No presente estudo, os

custos foram calculados em função da Produção Leiteira Média Diária (PLMD) do

extrato a que pertencia.

O Custo Operacional Efetivo (COE) representa os gastos efetivamente

realizados na condução da atividade (mão-de-obra contratada, água, luz, ração, sal,

inseminação artificial, feno, combustível, manutenção das pastagens, manutenção

das benfeitorias, medicamentos e impostos).

A Figura 2 mostra a composição média do Custo Operacional Efetivo. Estes

percentuais foram obtidos somando o total de recursos empregado em cada item em

relação ao valor total do COE. Nota-se que a alimentação dos animais (52%) foi o

item mais relevante nos custos do produtor de leite. Além do gasto com ração, o

segundo item de maior importância foi o gasto com mão-de-obra contratada (24%),

principalmente para os extratos de maior produção.

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45

1%2%

3%

1%

6%

1%

0%

2%

52%

7%

1%

24%Mão-de-obra contratadaÁgua

Luz

RaçãoSal

Inseminação artificial

FenoCombustível

Manutenção das pastagens

Manutenção de benfeitoriasMedicamentos

Impostos

Figura 2. Participação percentual dos itens que compõe o COE da média de todos

os extratos.

Outros itens que merecem destaque foi energia elétrica (7%), combustível

(6%), impostos (3%), medicamentos e sal mineral (2%) e os demais itens , com

exceção do item inseminação artificial que teve participação nula, participaram com

(1%) do Custo Operacional Efetivo. Entretanto analisando a composição relativa do

custo operacional efetivo por extrato, nota-se que o gasto com ração correspondeu a

24% para o extrato com produção menor que 10 L/d; 29% para o extrato entre 10 e

20 L/d; 31% para o extrato entre 20 e 30 L/d; 20% para o extrato entre 30 e 50 L/d e

29,70% para o extrato de produção acima de 100 L/d. Estes dados estão de acordo

com aqueles apontados por BORGES et al. (2001), que obteve um custo em torno

de 26% do COE para o item ração.

O dispêndio com ração concentrada neste tipo de atividade é geralmente

elevado, exigindo que o produtor busque alternativas que contribuam para redução

deste gasto, como oferta de forragens de melhor qualidade, as quais podem ser

produzidas na propriedade ou utilizem subprodutos disponíveis na região.

A mão-de-obra é um fator importante em qualquer empreendimento,

principalmente para a caprinocultura leiteira, onde é utilizada de forma bastante

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intensiva, seja devido aos hábitos alimentares da espécie, que exige no mínimo

quatro tratos por dia (quando confinados), ou para outras práticas como limpeza de

instalações, equipamentos e manejo geral do rebanho. Desta forma, a mão-de-obra

contratada participou significativamente do COE, que sofreu aumentou conforme a

escala de produção. Este crescimento da utilização da mão-de-obra contratada era

esperado, uma vez que produções maiores demandam maior tempo para excussão

das atividades. Esta participação significativa demonstra a capacidade de geração

de emprego e renda desta atividade no meio rural.

Quando se analisou o item mão-de-obra contratada em relação à mão-de-

obra familiar, verificou-se o comportamento linear crescente (Eq. 4), que permitiu

descrever o comportamento da proporção entre mão-de-obra contratada em relação

à familiar, em função da PLMD.

Outra importante ferramenta para avaliação do custo de produção é o Custo

Operacional Total (COT) que considera além do COE, as depreciações, a mão-de-

obra familiar e os gastos com administração. Neste contexto, a figura 3 revela a

participação percentual dos itens considerados na formação do Custo Operacional

Total, onde se verifica que o item de maior expressão foi COE (56%), seguido pelas

depreciações (22%), mão-de-obra familiar (13%) e por último, o item administração

(9%).

56%

22%

13%

9%

C.O.E.

Depreciações

Mão-de-obra familiar

Administração

Figura 3. Participação percentual dos itens considerados na formação do Custo

Operacional Total

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Sendo assim, CABRAL (2006) encontrou valores para participação do COE

no Custo Operacional Total, girando em torno de 28% (capril C2) e 55% (capril C1).

Este estudo mostrou que o capril C1 obteve lucro, porém o capril C2 que teve uma

participação relativa maior do COE na formação do Custo Operacional Total não

obteve lucro na atividade, assim como no presente estudo que obteve participação

relativa média de 56% para o COE em relação ao COT e na média todos os extratos

obtiveram lucro negativo. Quando analisamos esta participação dentro dos extratos

de Produção Leiteira Média Diária, os valores giraram em torno de 35% para o

extrato abaixo de 10 L/d, entre 10 e 20 L/d foi de 50%, entre 20 e 30 L/d foi de 62%,

entre 30 e 50 L/d foi de 59% e para o extrato acima de 100 L/d foi de 77%. Esta

participação crescente demonstrada na figura 7 pode ser explicada pelo aumento

dos custos de produção, ou seja, quanto maior a produção, maior os gastos com

ração, mão-de-obra contratada, luz, etc.

A importância da mão-de-obra familiar na caprinocultura leiteira já foi

evidenciada anteriormente, principalmente para os extratos mais baixos de

produção. Neste sentido, a participação da mão-de-obra familiar na formação do

Custo Operacional Total girou entorno de 13% (figura 3), inferior àqueles apontados

por CABRAL (2006) que foram de aproximadamente 23% para o capril C1 e 35%

para o capril C2. A participação menor encontrada no presente trabalho pode ser

explicada pelo fato deste valor ser uma média de todos os extratos (pequenos,

médios e grandes produtores), fato este que pode ter contribuído para uma

participação menor deste item quando comparado com os valores apontados por

CABRAL.(2006).

Outra análise que pode ser feita é a participação relativa da mão-de-obra

familiar dentro dos extratos, onde se verificou uma variação mínima, em torno de 3%

para o extrato acima de 100 L/d, a um valor máximo de 27% para o extrato de

produção entre 10 e 20 L/d. Esta variação pode ser devida a grande diversidade dos

sistemas de produção amostrados, porém analisando de maneira geral, verifica-se

uma tendência de diminuição da participação da mão-de-obra familiar na formação

do COT, conforme aumento da Produção Leiteira Média Diária. Esta redução pode

ser devida, em parte, ao aumento da participação de outros itens considerados na

formação do COT, como o COE. Outra possibilidade é que devido ao maior grau de

instrução das famílias dos extratos de produção mais elevados, seus familiares

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buscavam renda fora da propriedade. Devido a estas características, a deficiência de

mão-de-obra familiar foi suprida pela mão-de-obra contratada.

A administração do empreendimento rural é de grande importância para se

obter êxito econômico em qualquer atividade agrícola. Desta forma, analisando a

participação percentual do item administração no COT (9%), verifica-se que este

valor médio esta abaixo daqueles encontrados por CABRAL (2006), os quais giraram

em torno de 17% para o capril C1 e 28% para o capril C2. Esta diferença pode ser

devida a grande variação nos sistemas produtivos amostrados. Além disso, alguns

produtores amostrados utilizavam administradores contratados e suas despesas

foram computadas como mão-de-obra contratada.

Outro item considerado na composição do Custo Operacional Total foi a

depreciação, que representa a perda em valor do capital pelo desgaste físico

ocorrido durante o processo produtivo com participação de 22% em média. Este

valor é muito superior aos normalmente encontrados na literatura.

Desta forma, a figura 4 ilustra a participação relativa dos itens que formam

os custos com depreciações. A análise desta figura demonstra que a participação

mais significativa foi do item animais (61%), seguida pelos gastos com benfeitorias

(24%) e por último, às despesas com depreciações das máquinas (15%).

15%

24%

61%

Máquinas

Benfeitorias

Animais

Figura 4. Participação percentual dos itens que formam as despesas com

depreciações

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A participação significativa dos animais na composição da depreciação pode

ser devido ao montante de recursos empatado em animais em detrimento aos

recursos investidos em benfeitorias e máquinas, principalmente para os extratos de

menor produção. Ao analisar o gasto com as depreciações dos animais por extrato,

verifica-se que seu valor decresce conforme o aumento da produção, para o extrato

menor que 10 L/d representou cerca de 83% do total investido em depreciação, para

o extrato entre 10 e 20 L/d foi em torno de 57%, para o extrato entre 20 e 30 L/d

girou em torno de 56%, para o extrato entre 30 e 50 L/d foi de 31% e para o extrato

acima de 100 L/d foi de apenas 29%. Neste sentido, o valor investido em

benfeitorias e máquinas correspondeu a 5% e 12% respectivamente para o extrato

menor que 10 L/d, 25% e 18% para o extrato entre 10 e 20 L/d, 22% e 21% para o

extrato entre 20 e 30 L/d, 53% e 15% para o extrato entre 30 e 50 L/d e por último,

49% e 21% para o extrato acima de 100 L/d. Esta análise demonstra o aumento da

participação destes dois itens com destaque para participação dos gastos com

benfeitorias que aumentou conforme o incremento da produção.

Outra ferramenta utilizada na análise do custo de produção é o Custo Total

(CT), o qual inclui além do Custo Operacional Total, Remuneração do Capital

Estável (máquinas, benfeitorias, animais) e Remuneração do Capital Circulante.

Neste sentido, a figura 5, mostra a participação percentual média dos itens

considerados no cálculo do Custo Total de produção.

93%

5% 2%

C.O.T.

Remuneração do capital estável

Remuneração do capital circulante

Figura 5. Participação percentual média dos itens considerados no cálculo do Custo

Total

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Analisando a participação percentual dos itens que formam o Custo Total,

verifica-se que 93% representaram o item Custo Operacional Total, Remuneração

do Capital Estável participou com 5% e a Remuneração do Capital Circulante

contribuiu com 2%. Estes dados estão próximos daqueles encontrados por CABRAL

(2006), que apontou uma participação em torno de 93% para Custo Operacional

Total, 5% para Remuneração do Capital Estável e 1% para Remuneração do Capital

Circulante. Neste sentido, ao analisarmos estes mesmos itens dentro de cada

extrato de Produção Leiteira Média Diária, verificamos que a participação do COT

diminuía conforme aumento da produção. No extrato de produção menor que 10L/d

participou com 94%, no extrato entre 10 e 20 L/d (91%), no extrato entre 20 e 30 L/d

(90%), no extrato entre 30 e 50 L/d (86%) e no extrato acima de 100L/d (85%).

A figura 6 mostra a participação percentual dos itens considerados na

composição da Remuneração do Capital Estável e mostra que o item animais (44%)

foi o de maior participação, seguido pelas benfeitorias (40%) e por últimos o item

máquinas (16%). Esta participação mais significativa dos animais é devida ao maior

montante de recursos empatado neste item, porém observa-se que as benfeitorias

também participaram significativamente. Já o item máquinas teve uma participação

mais modesta, provavelmente devido ao baixo padrão tecnológico da maioria dos

produtores amostrados.

16%

40%

44% Máquinas

Benfeitorias

Animais

Figura 6. Participação percentual dos itens considerados na participação da

Remuneração do Capital Estável

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A participação do item Remuneração do Capital Circulante aumentou

conforme a elevação da PLMD, devido ao fato este item estar ligado ao custo de

oportunidade dos recursos empatados em insumos utilizados para produção que

eram maiores conforme o aumento da PLMD.

A Margem Bruta (MB) é uma variável muito importante, pois reflete os

resultados de curto prazo do empreendimento; é por meio dela que os produtores se

baseiam para avaliar o "êxito" do empreendimento. Neste sentido, a Margem Bruta é

obtida subtraindo das receitas os gastos com o Custo Operacional Efetivo. A análise

da figura 7 revela que a Margem Bruta diminui conforme aumento da PLMD, devido

ao fato desta variável estar em função do Custo Operacional Efetivo e que ao

contrário da MB elevou sua participação de acordo com o aumento da PLMD.

Quando analisamos a MB dentro dos extratos de produção (Tabela 9), os

resultados revelam que os extratos de produção entre 20 e 30 L/d e acima de 100

L/d, obtiveram resultados negativos, o que significa que as receitas não estão sendo

capazes de cobrir as despesas com Custo Operacional Efetivo. A conseqüência é o

empobrecimento do produtor no curto prazo e provavelmente sua saída da atividade,

porém isto não significa que não existam produtores destes extratos que possuam

Margem Bruta positivas, mas na média do extrato o resultado mostrou-se negativo.

Os demais extratos obtiveram Margem Bruta positiva o que indica que a atividade é

sustentável no curto prazo, pois ela remunera os Custos Operacionais Efetivos. No

entanto, no longo prazo, a situação é desfavorável para todos os extratos

analisados. Quando se analisa o Custo Total que leva em consideração o Custo

Operacional Total e a Remuneração do Estável e Circulante, todos os extratos se

mostraram incapazes de cobrir estas despesas, o que resulta em lucro negativo para

todos os extratos de produção, indicando que a atividade é menos atrativa que a

atividade alternativa considerada, que remunera o capital em 6% ao ano. Assim, os

resultados médios obtidos nos extratos analisados mostraram que a atividade não se

revelou sustentável no longo prazo e não foi economicamente atrativa. Apesar da

média de todos os extratos de produção apresentar resultados econômicos

negativos, alguns produtores amostrados obtiveram lucro na atividade.

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Figura 7. Comportamento observado para o custo operacional efetivo (COE, Ya) e

para a margem bruta (MB, Yb), ambos expressos em R$/L, em função da produção leiteira média diária (PLMD, L/d).

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A utilização de estimativas de custos de produção na administração de

empresas agropecuárias tem apresentado importância crescente no processo de

tomada de decisão, na análise da eficiência e do planejamento das atividades

agropecuárias. Neste sentido, a falta de controle parcial ou total dos custos de

produção na maioria das propriedades, demonstra a falta de profissionalização da

maioria dos produtores, tendo como conseqüência direta uma baixa rentabilidade da

atividade ou mesmo, prejuízo. O planejamento dos custos de produção não é tarefa

simples, requer por parte do produtor, consciência da importância que este trabalho

pode representar para a continuidade da atividade. Desta forma, o presente trabalho

buscou apontar as características zootécnicas dos rebanhos estudados, bem como

sua estrutura produtiva e tecnológica, além disso, mostrou dados sociais dos

produtores em questão, o que pode vir a contribuir para se traçar políticas para este

tipo de atividade agropecuária.

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5. CONCLUSÕES

A caprinocultura leiteira é uma atividade consolidada no Estado do Rio de

Janeiro, em parte pelas características próprias dos seus produtos que favorecem a

confecção de produtos sofisticados de alto valor agregado e a proximidade a um

grande mercado consumidor, o que contribui para fixar o trabalhador rural no campo

e diminuir os problemas sociais.

Os produtores com maior grau de instrução são aqueles de maior poder

aquisitivo e os que empreendem atividades com maior escala de produção. A maioria

dos produtores reside na propriedade e tem a caprinocultura leiteira como única

atividade, exercendo-a, em geral, há mais de dez anos.

Uma parcela significativa das esposas desempenha pelo menos algum tipo

de trabalho na atividade, o que contribui para uma maior eqüidade entre os gêneros

em um ambiente onde a presença masculina é dominante.

A maioria dos filhos e filhas dos caprinocultores busca renda em atividades

não agrícolas, contudo, um contingente significativo ajuda os pais na condução da

caprinocultura leiteira e poderá suceder o negócio de seus pais nos casos de êxito

do negócio.

A utilização de tecnologias e de mão-de-obra cresceu conforme o aumento

da produção, o que demonstra a profissionalização dos produtores, porém a

produtividade dos rebanhos estudados ainda é baixa.

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O planejamento da atividade nas unidades produtivas foi pouco explorado

pelos produtores estudados, demonstrando a carência de controle sobre os itens de

maior impacto no custo de produção o que pode ter contribuído para a baixa

viabilidade das propriedades estudadas.

A maioria dos sistemas de produção de caprinos leiteiros apresenta margem

bruta, o que demonstra a viabilidade da atividade no curto prazo, porém os

indicadores de longo prazo, i.e., a renda líquida e lucro foram negativos para a

maioria dos casos. Existem, no entanto, exceções que apresentam renda líquida

positiva e lucro.

Grande parte dos produtores não se baseava em metas de eficiência para

atingir os índices desejados. Esta prática, contudo, leva ao insucesso do negócio. As

pesquisas devem concentrar-se nos meios para se atingir índices mais favoráveis

visando o aumento sistemático da eficiência econômica da atividade e a sua

sustentabilidade.

O presente trabalho é um levantamento inicial de informações zootécnicas

das unidades produtivas e socioeconômicas dos produtores de leite de cabra das

regiões Centro, Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro e do Município de

Pedra Dourada-MG. Novas pesquisas devem ser implementadas focalizando os itens

apontados neste estudo, os quais competem para diminuir a eficiência produtiva e

econômica do setor primário de produção de leite de cabra.

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APÊNDICE

Questionário - 1

Dados pessoais Nome: Endereço: Tel: Bairro: Município: Idade: Escolaridade: Origem ( ) Próprio município ( ) Outro município da região ( ) Outro município da região ( ) Outro estado ( ) Outro país Tempo que é produtor de leite de cabra: Local de residência: Dados familiares Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado Número de filhos e gênero: Idade dos filhos: Escolaridade dos filhos: Filhos trabalham: ( ) Na propriedade ( ) Na zona rural ( ) Na cidade Idade da esposa: Escolaridade da esposa: Esposa trabalha: ( ) No lar ( ) Na propriedade ( ) Na zona rural ( ) Na cidade Quando trabalha na propriedade, a esposa faz ( ) Manejo do rebanho ( ) Ordenha ( ) Limpeza das instalações ( ) Administração ( ) Fabricação de queijo, iogurte, etc Especificar o produto: Quando trabalha na propriedade, o(a) filho(a) faz ( ) Manejo do rebanho ( ) Ordenha ( ) Limpeza de instalações ( ) Administração ( ) Fabricação de queijo, iogurte, etc Quanto à área Área total da propriedade: Área total utilizada para caprinos: Tipo de volumoso: Produção própria: Área para volumoso: Adubação: Equipamentos e máquinas disponíveis 1-Novo 2-Médio 3-Velho ( ) Trator ( ) Implementos ( ) Carro ( ) motocicleta ( ) Pulverizador ( ) Picadeira ( ) Carroça ( ) Equipamento de irrigação ( ) Freezer ( ) Ordenhadeira ( ) Resfriador ( ) Botijão de sêmen Dados sobre o rebanho em número Reprodutor: Cabras paridas: Cabras falhadas: Cabritas aleitando( 0-90d): Cabritas(3-12 m): Cabritos aleitando( 0-90d): Cabritos(3-12 m): Cabras de 1ª parição:

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Cabras de 2ª parição: Cabras de 3ª parição ou mais: Raça: Animais de serviço: Valor total investido em (R$) Benfeitorias: Animais: Máquinas: Terra: Mão-de-obra (h/d) ( ) Familiar Horas/dia: ( ) Contratada Horas/dia Capacitação da mão-de-obra ( ) Vizinho ( ) Técnico EMATER ( ) Próprio produtor ( ) Revistas ( ) Programa de TV ( ) Palestras e cursos ( ) Jornais Freqüência de utilização de meios de comunicação ( ) Jornais ( ) Revistas agropecuárias ( ) Programa de rádio ( ) Globo rural- TV ( ) Internet Informações recebidas consideradas mais importantes pelos produtores ( ) Alimentação do rebanho ( ) Sanidade ( ) Gerenciamento ( ) Melhoramento ( ) Manejo ( ) Produção de leite e meio ambiente Alternativas mais importantes sobre a maior carência de informações ( ) Planejamento da empresa rural ( ) Cálculo do custo de produção ( ) Mercado de leite ( ) Alimentação do rebanho ( ) Sanidade ( ) Manejo ( ) Melhoramento Outras: Freqüência da qualidade da informação recebida pelo produtor ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssima SENAR: ( ) Já ouviu falar ( ) Participou de algum treinamento SEBRAE: ( ) Já ouviu falar ( ) Participou de algum treinamento EMATER: ( ) Já ouviu falar ( ) Participou de algum treinamento Administração da produção ( ) Apenas o proprietário ( ) Proprietário e família ( ) Administrador ( ) Administrador e o proprietário Especificar o tempo dedicado: Distribuição do tempo do produtor ( ) Caprinocultura de leite ( ) Outras atividades Registros realizados ( ) Data de cobertura ( ) data de nascimento ( ) Controle leiteiro ( ) Despesas e receitas ( ) Controle de estoque ( ) Ração/remédios Outros: Estabelecimento de metas pelo produtor ( ) Metas anuais de produção de leite ( ) Metas anuais de produtividade ( ) Metas anuais de receitas ( ) Metas de despesas Obs. Quanto à mão-de-obra ( ) Carteira assinada ( ) Contrato de trabalho ( ) apenas recibado ( ) Não tem mão-de-obra contratada ( ) Não tem controle escrito Obs. Participação do empregado em algum treinamento ( ) Participou de algum treinamento ( ) Não participou ( ) Não tem empregado

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Opinião sobre o sistema de remuneração do leite: ( ) Concorda ( ) Discorda ( ) Não pratica Se concorda, por quê? ( ) Favorece o produtor especializado ( )Estimula a modernização ( ) Estabiliza a renda do produtor ( ) Paga mais quando o custo é maior ( ) Aumenta a renda do produtor ( ) Estabiliza a renda do produtor Se não concorda, por quê? ( ) Prejudica o pequeno produtor ( ) Só favorece a indústria ( ) Reduz renda do produtor Obs. Pré-processamento do leite na empresa rural ( ) Tanque de expansão ( ) Tanque de imersão ( ) Freezer ( ) Geladeira ( ) Não é resfriado na propriedade ( ) Leva a produção para a associação diariamente Freqüência de entrega do leite ( ) Diariamente ( ) A cada 2 dias ( ) A cada 3 dias ( ) Mais de três dias ( ) Congela. Se congela, qual a freqüência de entrega A estrada permite passagem de caminhão ( ) Ano todo ( ) Parte do ano ( ) não permite passagem Freqüência de envio do leite ao laticínio ( ) Todos os dias ( ) A cada 2 dias ( ) Mais de 2 dias Freqüência de adotantes de práticas de alimentação ( ) Pastagem formada ( ) Cana-de-açúcar ( ) Capineira ( ) Silagem ( ) Concentrados ( ) Sais minerais ( ) Aleitamento artificial ( ) Feno Outros ( Leguminosa, qual tipo de feno, capineira de qual forrageira): Rebanho (Praticas de sanidade) ( ) Vermífugo ( ) Vacina contra leptospirose ( ) Vacina contra Brucelose ( ) Ectoparasiticida ( ) Vacina contra clostridioses ( ) Vacina contra raiva ( ) Vacina contra Tuberculose Número e tipo de ordenha ( ) Uma ( ) Duas ou mais ( ) Manual ( ) Mecânica Sistemas de Reprodução ( ) Inseminação ( ) Natural ( ) Natural controlada ( ) Faz indução de cio (hormônio ou luz) Obs. Critérios à primeira cobertura e idade do primeiro parto ( ) Idade ( ) Peso ( ) Não tem critério ( ) Peso e idade ( ) Idade média do primeiro parto Distribuição do produtor segundo o extrato produtivo ( ) Menor que 10 L/D ( ) Entre 10 e 20 L/d ( ) Entre 20 e 30 L/d ( ) Entre 30 e 50 L/d ( ) Maior que 100 L/d Obs. Medida de produção e produtividade Produção total de leite/ano: Produção /total de cabras: Produção/cabras em lactação:

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Produção/área: Produção/total de mão-de-obra: Produção na safra (L/d): Produção na entressafra ( L/d): Produção total (L/d): Desembolso/ano Água: Luz: Impostos: Ração: Sal: Medicamentos: Inseminação artificial: Feno: Combustível: Manutenção das pastagens : Manutenção das benfeitorias: Composição da renda bruta Leite (R$/ano): Derivados do leite (R$/ano): Animais (R$/ano): Outras rendas (R$/ano): Obs.