cap 17
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Folhas de
OUTONOConfesso que aquele tapa que
havia dado no rosto de Miguel fora uma
ação repentina, porém desnecessária
_Me desculpe, por favor – peço,
acariciando seu rosto avermelhado
_Quem deve se desculpar sou
eu, não devia ter tentado lhe roubar um
beijo, o meu amor por você não é
desculpa para fazer uma brutalidade
dessas – Diz ele
_Desculpe Miguel, mas não
posso amá-lo, meu coração pertence a
outro – Digo cabisbaixa
_O tal de Sean, aquele que foi
escravizado junto com você – Constata
Miguel
Folhas de
OUTONO_Sim, não posso negar...
_Mas, Rachel, você nem sabe se
ele ainda está vivo, ou se esta aqui na
Irlanda, esqueça-o e venha viver ao meu
lado, eu estou aqui, junto com você, não
pode ao menos tentar me amar? – diz ele
_Desculpe Miguel, mas este
assunto está me constrangendo
_Eu já sei que isto é um não –
Diz ele
Folhas de
OUTONO_Miguel, tente entender que lhe
vejo apenas como um amigo e que meu
coração bate por outro homem, sei que
este pode estar morto ou talvez perdido
por este mundo, mas meu coração
pertencerá a ele até a última hora de
minha vida
_Está bem – Diz Miguel
_Vamos, temos muitas praias
para procurar – Digo.
Folhas de
OUTONOO dia foi intenso, eu e Miguel
passamos o dia a procura de uma praia
que se encaixasse com a de minha
lembrança, mas a nossa missão não
obteve sucesso
_O que faremos agora? – Digo
ao ver o sol se pondo – Às vezes parece
que está tudo dando errado...
_Olhe aquele navio no horizonte
– aponta Miguel – Ele parece bem
precário
Folhas de
OUTONO_Abaixe-se, ele irá atracar e se
for realmente o que estamos procurando,
não podemos ser descobertos por eles –
Digo. Ficamos ali, agachados por alguns
minutos observando as ações. De dentro
do navio sai um homem bastante magro –
É Riam! – Lembro-me, logo uma
caminhonete surge ao norte, ela
estaciona a beira da praia e de dentro
dela sai – Kennedy Mackenzie! –
Espanto-me, Miguel leva suas mãos
sobre meus lábios, calando-me
Folhas de
OUTONO_Acalme-se! – Sussurra ele –
Fique em silêncio, talvez possamos ouvir
o que eles dizem – Diz Miguel, com um
pouquinho de esforço pudemos ouvir o
diálogo
_O Chefe já preparou um grupo
de gente na América pra ser traficada pra
cá, hoje mesmo você embarca trazendo
esse povo, quero eles na minha fazenda –
Diz Mackenzie, revelando estar seguindo
ordens
Folhas de
OUTONO_Deve ser aquele coronel nazista
daquela fazendinha em que trabalhei na
infância, lembra que ele é o chefe do
tráfico? – Digo a Miguel, lembrando-me
uma de nossas constatações sobre o
caso
_Vamos ouvir – Diz Miguel
_Sim senhor, hoje mesmo estou
embarcando – Diz Riam, já se dirigindo
para o navio, que não demora muito para
sumir no horizonte, já Mackenzie entra em
seu carro e some na escuridão da
estrada, eu e Miguel seguimos para o
apartamento que alugamos
Folhas de
OUTONO_É ele, eu tenho certeza! – Digo
– Kennedy Mackenzie está seguindo
ordens daquele coronel – Constato
_Mas o que iremos fazer? –
Pergunta Miguel
_É hora de agirmos, toma este
celular – Entrego o aparelho nas mãos
dele
_Mas para que isto? – Questiona
Miguel, curioso
_Você irá voltar para a América,
e investigar o suspeito de ser chefe do
tráfico, aquele coronel
_Mas e você Rachel? –
Questiona ele
Folhas de
OUTONO_Eu me infiltrarei na fazenda de
Mackenzie, irei descobrir como funciona o
esquema
_Mas é muito perigoso – Alerta
Miguel
Folhas de
OUTONO_Eu estou disposta a correr este
risco – Digo – Você estará com este
celular, na agenda há um numero, este
pertence ao celular que ficará comigo,
assim poderemos nos comunicar e
trocarmos informações, nas mensagens
há um endereço, é onde eu e minha mãe
morávamos antes de sermos traficadas, o
velho coronel morava na vizinhança,
encontre-o e investigue-o, enquanto isso
eu estarei infiltrada – Digo
Folhas de
OUTONO_Mas é muito arriscado, vá você
a America e eu me infiltro – Diz Miguel
_Não, você fará o que disse,
amanhã mesmo você embarca para o
Brasil, eu ficarei a espera do navio e
quando este atracar no porto eu me
juntarei aos traficados – Digo
Folhas de
OUTONOConfesso que o plano era
arriscado, mas eu estava disposta a
correr todos os ricos para derrotar
Mackenzie e reencontrar Sean. Os dias
se passam, Miguel já estava na América e
eu, quase todos os dias, vigiava aquela
praia na esperança da chegada do navio,
foi então que tive uma grata surpresa, o
navio de traficados surgiu no horizonte –
Coragem Rachel – Torço para mim
mesma. O navio atraca rapidamente a
beira da praia, logo os traficados deixam a
embarcação
Folhas de
OUTONO_Saiam imundos! – Ordena
Riam, que adentra ao navio para ver se
havia sobrado alguém, aproveito esta
deixa e me junto ao grupo de pessoas
traficadas – É agora ou nunca! – Reflito.
Logo o caminhão de Mackenzie surge no
horizonte, é aí que um terrível flashback
surge em minha mente, é como se eu
estivesse voltado no tempo em que
estava ali, com minha mãe, temendo o
desconhecido futuro que nos aguardava.
Folhas de
OUTONOO veículo não demora para
chegar até nós, dele desce Mackenzie,
seguro-me para não expor o meu ódio por
ele
_O chefe mandou este grupo? –
Questiona Mackenzie
_Sim senhor – Responde Riam
_Todos, pro caminhão! – Ordena
ele, prontamente todos obedecem,
inclusive a mim, mas então sou
surpreendida, Mackenzie segura em meu
braço, olho assustada para sua face, ele
me encara como se estivesse tentando
me reconhecer
Folhas de
OUTONO_Você não me é estranha! – Diz
ele, espantando-me – Deve ser bobagem
da cabeça desse velho – Diz ele se
referindo a si próprio – Vá para o
caminhão vagabunda! – Ordena
Assim que adentrei ao caminhão,
uma intensa ansiedade de reencontrar
Sean tomou conta de mim, mas o
nervosismo de estar vivenciando o tráfico
novamente assombrava meu peito. Após
alguns minutos, o caminhão estaciona,
logo Mackenzie surge, ordenando que
saiamos do veículo
Folhas de
OUTONO_Rasul – Chama ele, logo me lembro que
Rasul era um pobre escravo africano
traficado e que, quando fui traficada
quando criança, fora ele que me ajudou
quando Mackenzie me dara aquele tapa
quando tentei ajudar minha mãe, o
coitado já estava velho, no fim de sua vida
_Sim senhor! – Se apresenta
_Traga panos velhos para estes
animais – Diz ele, Rasul prontamente
obedece e não demora a surgir com um
enorme saco de panos sujos, rasgados e
velhos
_Vistam! – Ordena Mackenzie
Folhas de
OUTONOProntamente, todos já estão
trajados como Mackenzie ordenara
_Vão para os cafezais! Lá os
outros escravos lhe ensinaram o trabalho!
– Ordena Mackenzie, prontamente todos
obedecem, inclusive a mim. Sigo até a
plantação de café, então surge um
escravo, que me ensina o trabalho
_Se deve colher os grãos deste
modo, segura-se... – Ele olha para meu
rosto, espantado diz – Rachel! – Era
Sean, e ele havia me reconhecido.
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