introdução à economia troster e monchón cap 17

22
~ MAKRON Books CAPíTULO OS MERCADOS DE CÂMBIO o mercado de câmbio ou divisas permite, por exemplo, que as empresas brasileiras im- portem produtos dos Estados Unidos, pagando em reais, e que seus fornecedores co- brem os bens em sua própria moeda nacional, isto é, dólares. 17.1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O MERCADO DE DIVISAS A principal diferença entre o comércio nacional e o internacional deve-se a que, dentro de um país, o intercâmbio se realiza com a mesma moeda, enquanto no comércio inter- nacional cada país tem sua própria moeda. A heterogeneidade de moedas dos diferentes países toma mais complexas as relações econômicas internacionais, pois surge o pro- blema da troca entre eles. Uma empresa que oferece bens e serviços a outros países requererá que se lhe pague na moeda de seu próprio país. Assim, uma empresa brasileira que vende seus pro- dutos nos Estados Unidos desejará ser paga em reais, enquanto uma empresa norte-ame- ricana que vende ao Brasil pedirá o pagamento em dólares. Conseqüentemente, os compradores nos mercados internacionais necessitam obter moedas dos países dos quais desejam comprar bens e serviços. Portanto, um sistema desenvolvido de comércio inter- 290

Upload: claudia-sa-de-moura

Post on 11-Apr-2017

341 views

Category:

Economy & Finance


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Introdução à economia troster e monchón cap 17

~MAKRON

Books CAPíTULO

OS MERCADOS DE CÂMBIO

o mercado de câmbio ou divisas permite, por exemplo, que as empresas brasileiras im-portem produtos dos Estados Unidos, pagando em reais, e que seus fornecedores co-brem os bens em sua própria moeda nacional, isto é, dólares.

17.1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL EO MERCADO DE DIVISAS

A principal diferença entre o comércio nacional e o internacional deve-se a que, dentrode um país, o intercâmbio se realiza com a mesma moeda, enquanto no comércio inter-nacional cada país tem sua própria moeda. A heterogeneidade de moedas dos diferentespaíses toma mais complexas as relações econômicas internacionais, pois surge o pro-blema da troca entre eles.

Uma empresa que oferece bens e serviços a outros países requererá que se lhepague na moeda de seu próprio país. Assim, uma empresa brasileira que vende seus pro-dutos nos Estados Unidos desejará ser paga em reais, enquanto uma empresa norte-ame-ricana que vende ao Brasil pedirá o pagamento em dólares. Conseqüentemente, oscompradores nos mercados internacionais necessitam obter moedas dos países dos quaisdesejam comprar bens e serviços. Portanto, um sistema desenvolvido de comércio inter-

290

Page 2: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 291

nacional somente pode funcionar se existe um mercado onde uma moeda pode ser tro-cada por outra. Esse é o papel atribuído ao mercado de divisas ou de câmbios.

• Os mercados de divisas são os mercados nos quais se compram e ven-dem as moedas dos diferentes países.

Nesse mercado faz-se a troca da moeda nacional pelas moedas dos países comos quais se mantêm relações econômicas, originando um conjunto de ofertas e deman-das de moeda nacional em troca de moedas estrangeiras.

No mercado de divisas do Brasil, as famílias brasileiras adquirem moedas es-trangeiras para atender a pagamentos no exterior, por exemplo, financiar os estudos su-periores fora do país. As empresas brasileiras adquirem divisas para pagar asimportações de bens e serviços. Por outro lado, as famílias estrangeiras que desejampassar suas férias no Brasil, ou as empresas estrangeiras que fazem importações de pro-dutos procedentes do Brasil, põem suas moedas à venda para comprar os reais de quenecessitam. Esse tipo de transação determina o preço ou a taxa de câmbio do real emrelação às moedas estrangeiras.

• A taxa de câmbio é o preço de uma moeda expressa em outra. A taxa decâmbio expressa-se como o número de unidades da moeda nacional porunidade de moeda estrangeira. Por exemplo, se a taxa de câmbio doreal frente ao dólar é 10, entregam-se 10 reais para se obter um dólar.

DEPRECIAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA MOEDA

Quando o preço em reais de uma unidade de moeda estrangeira sobe, por exemplo, ataxa de câmbio passa de 8 reais/dólar a 10 reais/dólar, dizemos que o real desvalori-zou-se. Pelo contrário, quando a taxa baixa, dizemos que o real valorizou-se.

Uma desvalorização da moeda nacional faz com que nossos bens sejam maisbaratos no exterior, e com que os bens estrangeiros fiquem mais caros no mercado na-cional. Portanto, cria-se uma tendência para elevar as exportações e para reduzir as im-portações.

Page 3: Introdução à economia troster e monchón cap 17

17.2.1 AS TAXAS DE CÂMBIO FLEXíVEIS OULIVREMENTE FLUTUANTES

292 Introdução à Economia Capo17

17.2 O SISTEMA DE TAXAS DE CÂMBIO:AS TAXAS DE CÂMBIO FLEXíVEIS

Ao se analisar o mercado de divisas, cabe perguntar como são determinadas as taxas decâmbio. Nesse sentido, uma primeira consideração é conhecer o papel que o banco cen-tral tem no mercado de divisas.

• Um sistema de taxas de câmbio é um conjunto de regras que descrevemo papel do banco central no mercado de divisas.

Desse ponto de vista, identificam-se dois sistemas opostos de taxas de câmbio:o sistema de taxa de câmbio livre, ou flexível, e os sistemas de taxas fixas.

• As taxas de câmbio totalmente flexíveis são determinadas sem a inter-venção do banco central. As taxas de câmbio fixas são determinadas ri-gidamente pelo banco central.

Na vida real, os sistemas de taxas de câmbio raramente se encontram em umdos dois extremos citados. Deve levar-se em conta que a taxa de câmbio é o preço-chaveque relaciona uma economia com o resto do mundo. Por isso sua determinação é ne-cessariamente um tema complexo no qual não é freqüente que se adotem posturasextremas.

Para analisar as taxas de câmbio flexíveis devemos estudar o funcionamento do merca-do livre da taxa de câmbio.

• Num mercado livre, a taxa de câmbio será determinada pelas forças daoferta e da demanda. Nessas circunstâncias, diz-se que a taxa de câm-bio é flexível ou flutuante.

Para analisar como se forma a taxa de câmbio, lembrem que a moeda nacional,o real, e a estrangeira (que geralmente vamos supor como sendo o dólar) sãonecessárias para que haja transações econômicas entre um país e outro. A demanda porreais - ou, o que é o mesmo, a oferta de dólares, se formos determinar a taxa decâmbio do dólar - é feita pelos exportadores nacionais que recebem dólares em troca demercadorias e desejam reais, assim como os turistas e os investidores nor-

Page 4: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 293

te-americanos no Brasil, que têm de converter em reais seus dólares para materializarseus gastos e investimentos (Figura 17.1).

• As exportações nacionais, os turistas estrangeiros e os investidores doresto do mundo geram divisas e constituem a fonte de oferta de divisas(dólares).

Demanda de divisas (e!)Importações brasileiras (bens eserviços).Investimentos brasileiros nosEstados Unidos.Empréstimos de bancos brasileirosa residentes americanos.

Tipo de Icambio (D d

(reaV eman adólar) de divisas)

(Oferta dedivisas)

Oferta de divisas (d)Exportações brasileiras (bens eserviços).Investimentos americanos no Brasil.Empréstimos de bancos americanosa residentes brasileiros.

1,20 I

1.00 ~

O:I~_O_$ __ ~ D_.'_i~_it__ ~ D_$__

Figura 17.1

Dólares

Mercado de divisas (real por dólar).

A curva 0$ reflete a oferta de divisas, a curva DS mostra a demanda brasileirade divisas. À taxa de câmbio de 1,00 real por dólar, o mercado está emequilíbrio. Quando o real se desvaloriza, passando a valer 1,20 real por dólar, háum superávit de divisas; e, se o real se valoriza para 0,80 real por dólar, surgeum déficit de divisas.

A oferta de reais ou, o que é o mesmo, a demanda de dólares, corresponderáaos importadores nacionais, assim como aos turistas e investidores brasileiros nos Esta-dos Unidos, que necessitam trocar seus reais por dólares para adquirir as mercadoriasnorte-americanas e realizar seus investimentos. Para todas essas atividades, os brasi-leiros têm de obter dólares. Para isso, existem as instituições financeiras, que compra-ram dólares no mercado de câmbio e os entregarão por reais.

Page 5: Introdução à economia troster e monchón cap 17

17.2.2 ANÁLISE GRÁFICA DO MERCADO DE DIVISAS

294 Introdução à Economia Capo 17

• Os importadores nacionais, os turistas nacionais que vão ao exterior eos investidores brasileiros no resto do mundo têm de obter moeda es-trangeira para pagar suas faturas em outros países, o que constitui ademanda de divisas (dólares).

No mercado de divisas, a demanda de dólares, derivada das importações nacio-nais e dos investimentos brasileiros no exterior, e a oferta de dólares procedente das ex-portações brasileiras e dos investimentos estrangeiros no Brasil determinam,conjuntamente, a taxa de câmbio.

No eixo das ordenadas, medimos a taxa de câmbio, isto é, o preço em reais de um dólar.Quanto mais alta é a taxa de câmbio, mais reais devemos pagar por dólar. Na Figura17.1, uma elevação da taxa de câmbio corresponde a uma desvalorização do real, e umaredução a uma valorização do real. No eixo das abscissas, mede-se a quantidade de divi-sas. A oferta de divisas é o valor total em dólares das entradas por exportações e dos in-vestimentos estrangeiros no Brasil.

A curva de oferta de divisas (OS) foi traçada supondo que as seguintes variá-veis permanecem constantes:

• nível de gasto do exterior;

• preços nacionais e preços no exterior; e

• taxas de juros nacionais e no exterior.

Segundo as suposições feitas, uma depreciação do real, isto é, uma elevaçãoda taxa de câmbio, garante que os bens brasileiros ficaram relativamente mais baratosno exterior. A quantidade demandada de bens brasileiros e o gasto em exportações bra-sileiras aumentarão. E o mesmo ocorrerá com as receitas de turismo e com os investi-mentos estrangeiros. Por essas razões, a curva de oferta de divisas tem inclinaçãopositiva.

A curva de demanda de divisas (DS) mostra o valor em dólares do gasto nacio-nal em importações e em investimentos fora do país. A curva de demanda de divisas daFigura 17.1 foi traçada supondo que os seguintes fatores permanecem constantes:

• nível de gasto nacional;

Page 6: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 295

• preços nacionais e preços no exterior; e

• taxas de juros nacionais e no exterior.

Uma depreciação do real ou, o que é o mesmo, uma elevação da taxa de câm-bio, provoca uma redução do gasto brasileiro com importações, em saídas ao exterior deturistas, e o mesmo ocorre com os investimentos brasileiros no exterior. Ao se desvalo-rizar o real, os bens brasileiros ficam relativamente mais baratos e os estrangeiros maiscaros. Por estas razões, a curva de demanda de divisas tem inclinação negativa.

17.2.3 o EQUILíBRIO DA TAXA DE CÂMBIO

Num sistema de taxas de câmbio livremente flutuantes, a taxa de câmbio é determinadamediante o jogo da oferta e da procura de divisas em relação à moeda nacional nomercado de câmbio. Se a uma taxa de câmbio de 1,20 reais/dólar a oferta de dólares ésuperior à demanda de dólares, há um superávit de divisas, isto é, um excesso de entra-das de exportações e demais transações anteriormente citadas sobre os gastos com im-portações, de forma que a taxa de câmbio do real frente ao dólar, isto é, o número dereais necessários para comprar um dólar, tenderá a diminuir, isto é, a valorizar-se, até oponto em que a oferta e a demanda se equilibrem. Se a taxa de câmbio é inferior à deequilíbrio - por exemplo, 0,80 reais/dólar -, o gasto com importações e demais transa-ções é maior que as receitas por exportações e acontecerá um excesso de demanda dedivisas. Isto provocará uma elevação na taxa de câmbio, isto é, uma desvalorização doreal, e o equilíbrio será restabelecido.

17.2.4 o AJUSTE DA TAXA DE CÂMBIO DIANTE DA ALTERAÇÃONA DEMANDA E OFERTA DE DIVISAS

Ao traçar as curvas de oferta e demanda de divisas, supõe-se que permaneça constanteuma série de fatores que, de fato, incidem sobre o mercado de divisas. A alteração dealguns desses fatores suporá o deslocamento das curvas analisadas. Deste modo, se, porexemplo, o PIB brasileiro aumenta, a quantidade demandada de importações à uma taxade câmbio dada aumentará (Figura l7.2). Isso fará com que a curva de demanda por dó-lares desloque-se para a direita, de modo que aparecerá um excesso de demanda por divi-sas. Esse excesso de demanda alterará a taxa de câmbio real/dólar,

Page 7: Introdução à economia troster e monchón cap 17

296 Introdução à Economia Capo 17

;::: 1 __ r- k__E1

/ . Déficit1_----7_

Tipo decâmbio

(reaVdólar)

Figura 17.2

Dólares

o sistema de taxas de câmbio flexíveis: o processo de ajuste.

Quando se aumenta a renda brasileira, conseqüentemente a demanda porimportações e por divisas aumenta, isso determina que a curva D g se desloqueaté a posição D; . Na taxa de câmbio inicial, aparecerá um excesso de demandade divisas. Esse déficit elevará a taxa de câmbio, depreciando o real, de formaque o novo equilíbrio será alcançado na posição E I'

o valor do real será reduzido ou depreciado em relação ao dólar, já que tem dese entregar um maior número de reais para se obter um dólar.

Quando as exportações brasileiras de bens e serviços aumentam (por um au-mento nos preços norte-americanos) ou se aumentam os investimentos norte-america-nos no Brasil, por uma elevação da taxa de juros brasileira, a oferta de dólaresaumentará. Isso ocasionará um deslocamento da oferta de dólares para a direita e o va-lor do real irá se elevar em relação ao dólar, já que será necessário entregar menos reaispara se obter um dólar.

Uma taxa de câmbio totalmente flexível ajusta, pois, o balanço de pagamentosautomaticamente, igualando a demanda e a oferta de divisas por operações autônomascom o exterior, tomando desnecessária a intervenção do banco central para restabelecero equilíbrio externo.

Page 8: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 297

AS VANTAGENS DO SISTEMA DE TAXAS DE CÂMBIO FLEXíVEIS

Teoricamente, o sistema de taxas de câmbio flexíveis corrigirá automaticamentequalquer tendência de se gerar déficit ou superávit no balanço de pagamentos. A se-qüência lógica que o processo seguirá é a seguinte:

1. Inicialmente, o balanço de pagamentos da economia brasileira está emequilíbrio.

2. Suponhamos que acontece um aumento na demanda por importações e obalanço de pagamentos brasileiro incorre em um déficit.

3. O aumento nas importações implicará um aumento na demanda por dóla-res no mercado de câmbio.

4. O real ficará depreciado em relação ao dólar, o que fará com que as im-portações fiquem mais caras, e as exportações, mais baratas.

5. A troca nos preços relativos das exportações e das importações fará au-mentar o volume das exportações e reduzir o volume das importações, fa-zendo com que o balanço de pagamentos alcance o equilíbrio.

LIMITAÇÕES DO SISTEMA DE TAXAS DE CÂMBIO FLEXíVEIS

Na prática, o mecanismo esboçado pode não funcionar. Também podem surgir proble-mas com a sensibilidade (elasticidade-preço da demanda) da demanda das exportações edas importações. Em outras palavras, se o balanço de pagamentos apresenta um déficit eo real se desvaloriza, as exportações podem não aumentar o suficiente e as importaçõesnão se reduzirem de maneira apreciável. Uma complicação adicional pode surgir pelofato de a desvalorização do real aumentar o preço das importações, o que, além de inci-dir sobre o custo de vida, pode incidir sobre os custos de produção de muitas empresas,influindo, deste modo, negativamente sobre os preços das exportações.

Outro inconveniente do sistema de taxa de câmbio flexível é que se gera umagrande incerteza nas relações internacionais. Assim, por exemplo, suponhamos que umempresário brasileiro importa material dos Estados Unidos para produzir computadores.Se o pagamento é feito em dólares num prazo de seis meses, o empresário brasileiro nãopoderá determinar de modo preciso seus custos de produção, pois isso dependerá dataxa de câmbio no transcorrer do período.

A presença de especuladores também pode dificultar o processo de ajuste. Elescomprarão uma moeda (real) quando supuserem que seu valor aumentará, e iniciarão

Page 9: Introdução à economia troster e monchón cap 17

• Sob o sistema de câmbio fixo, a taxa de câmbio cai ligada a uma deter-minada mercadoria (historicamente o ouro) ou a uma determinadamoeda.

298 Introdução à Economia Capo 17

processos de venda quando esperarem que o valor do real se reduza. Suponha-se que ataxa de câmbio real/dólar é de 100. Se o especulador espera que o real se desvalorize,procurará obter vantagem da informação que tem e, por exemplo, trocará 1.000.000 dereais por 10.000 de dólares. Quando o real desvalorizar e, por exemplo, a taxa de câm-bio for de 130 reais/dólar, os 10.000 de dólares serão convertido de novo em reais, queagora serão 1.300.000 reais, obtendo na operação um lucro de 300.000 reais.

17.3 OS SISTEMAS DE TAXAS DE CÂMBIO FIXAS:O PADRÃO OURO

Uma vez estudadas as principais características do sistema de taxa de câmbio flexíveis,estudaremos os sistemas de taxas de câmbio fixas.

Numa perspectiva histórica, o protótipo do sistema de câmbio fixo foi opadrão ouro puro. Para aderir a esse sistema, todo país tinha de aceitar as seguintes re-gras:

• Estabelecer uma relação fixa entre sua moeda e o ouro; tal relação, denomi-nava-se valor paritário, ou preço oficial, as autoridades econômicas deviamestar dispostas a trocar ouro por moeda, e a fazer o inverso.

• As autoridades econômicas deveriam manter a convertibilidade do ouro,comprando e vendendo a moeda nacional em troca de ouro ao preço oficial.Dessa forma, qualquer residente nacional ou estrangeiro poderia ir ao ban-co central e converter dinheiro fiduciário (papel-moeda e cheque) em ouro.

• O governo deveria seguir uma política respaldado no valor do ouro, cobrin-do 100%. Assim, o banco central tinha de ter ouro num valor igual, pelomenos, à quantidade de dinheiro que havia em circulação. Assim, o bancocentral só criava dinheiro quando comprava ouro do público, e destruía di-nheiro quando vendia ouro ao público.

Page 10: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 299

17.3.1 o MECANISMO DE AJUSTE

o sistema de padrão ouro clássico não só se encarrega de manter estáveis as taxas decâmbio, mas também equilibradas as relações comerciais internacionais. Assim, quandoum país tinha um superávit com o exterior - isto é, exportava mais do que importava -ele recebia mais ouro do que tinha de pagar, de forma que suas reservas em ouroaumentavam e isso aumentaria a quantidade de dinheiro. Desta forma, a demanda agre-gada aumentaria e os preços também. Com um nível mais elevado de preços, o paísseria menos competitivo em nível internacional, e suas exportações diminuiriam e, pelocontrário, suas importações aumentariam até que alcançassem o equilíbrio (Esquema17.1). O contrário aconteceria num país com déficit em suas relações com o exterior,pois haveria uma saída de ouro.

í). O padrão ouro clássico é um regime de taxa de câmbio fixa. O valor damoeda nacional define-se em relação ao ouro e o banco central comprae vende ouro a quantidades ilimitadas a esse preço. As entradas deouro provocam uma expansão monetária e as saídas, uma destruiçãodo dinheiro.

Assim, mantendo fixa a taxa de câmbio, elimina-se o desequilíbrio nas relaçõesinternacionais. Para isso, só se exigia que as importações e as exportações fossem sensíveisàs variações dos preços e que o banco central estivesse disposto a aumentar ou diminuir aquantidade de dinheiro, quando a quantidade de ouro aumentasse ou diminuísse.

[, . J [l r Redução das 1Superávit Aumento da _

Entrada id d Aumento exportaçoes esetor ~ ~ uanti a e ~ ~[de ouro] dq dO h o [dOS preços] aumento dasexterno e Hl eIra . _importaçoes

Esquema 17.1 O padrão ouro: processo de ajuste.

17.3.2 INCONVENIENTES DO PADRÃO OURO

O padrão ouro clássico apresentava uma série de inconvenientes, entre eles cabe desta-car os seguintes:

1. Ele tendia a formar fortes oscilações na atividade econômica e no nívelde preços, o que poderia ir contra os objetivos internos de política econô-

Page 11: Introdução à economia troster e monchón cap 17

300 Introdução à Economia Capo 17

mica. Além disso, os preços e salários internos poderiam ser rígidos parabaixo, o que não garantia o equilíbrio do balanço de pagamentos.

2. Os países com superávit em suas relações econômicas com o exteriorpodiam tomar medidas que tendiam a cancelar o efeito do fluxo de ourosobre a quantidade de dinheiro. As autoridades monetárias poderiam ven-der títulos no mercado e reduzir os estoques de dinheiro na mesma quan-tidade em que as reservas de ouro aumentariam. Isto é, o banco centraltem capacidade de "esterilizar" seus fluxos de ouro e assim combater osaumentos no nível de preços, impedindo, desse modo, o funcionamentodo mecanismo de ajuste.

• Um banco central esteriliza os efeitos produzidos pelas perdas (ganhos)de ouro na oferta monetária quando realiza operações de mercadoaberto que compensem as variações da quantidade de ouro, impedindoque se altere a oferta monetária.

3. O sistema era muito sensível à uma crise de confiança, pois se centravasobre uma base relativamente pequena de ouro, e sempre corria o perigode um esgotamento das reservas de ouro disponíveis. Além disso, a pro-dução de ouro não podia aumentar em função da necessidade de liquidezdo comércio internacional.

Até 1914, os problemas mencionados impulsionaram uma certa modificaçãodo padrão ouro puro. Além do ouro, os países começaram a manter reservas em formade divisas das nações ricas que se vinculavam ao ouro, fundamentalmente a libra ester-lina. Posteriormente, a grande depressão de 1929 forçou alguns países a restringirembruscamente seu comércio e a fazerem acordos bilaterais com outros países, de formaque o padrão ouro modificado deixou praticamente de funcionar.

17.4 O SISTEMA DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL:TAXAS DE CÂMBIO AJUSTÁVEIS

Até o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tomaram-se a grandepotência mundial e desejaram obter um certo controle sobre o sistema monetário inter-nacional. Paralelamente, pensava-se que a criação de instituições monetárias internacio-nais poderia ordenar mais eficazmente o comércio internacional e atender a seufinanciamento. Da conferência de Bretton Woods (EUA, 1944) surgiu, além de outrosacordos, o da criação do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Page 12: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 301

o sistema do Fundo Monetário Internacional pretendia alcançar a estabilidadedas taxas de câmbio, porém sem que se sofressem os principais efeitos do padrão ouro.

Sob este sistema, as taxas de câmbio fixas não eram completamente rígidas.Permitia-se que o valor da moeda variasse dentro de uma estreita faixa de 1% ou 2%para cada lado ou "paridade" fixada pelo banco central. Assim, por exemplo, se o valordo real era de 100 reais/dólar, permitia-se uma flutuação entre 98 e 102 reais/dólar. Osbancos centrais eram os responsáveis por manter os valores das moedas dentro de suasfaixas. Para isso, atuavam como ofertantes e demandantes da moeda nacional no merca-do de câmbio. Todo banco central tinha de ter disponível certa quantidade de reservasinternacionais de divisas para intervir e cobrir o déficit temporal de divisas originadopelos desequilíbrios do balanço de pagamentos.

17.4.1 A INTERVENÇÃO DO BANCO CENTRAL PARA EVITAR ADESVALORIZAÇÃO OU A VALORIZAÇÃO DO REAL

A forma em que o banco central pode utilizar suas reservas de divisas para incidir sobrea taxa de câmbio pode ser ilustrada graficamente (Figura 17.3). Suponhamos que a taxade câmbio do real em relação ao dólar é fixada em 100 reais e que, inicialmente, omercado está em equilíbrio em relação a esta taxa de câmbio (posição Eo)' A faixa deflutuações permitida é 102 e 98 reais, e o valor do real precisa ser mantido nesses li-mites. Imaginemos agora que aconteça um forte aumento das importações brasileiras,que origina um aumento da demanda por dólares no mercado de câmbio. A curva de de-manda por dólares será deslocada de Dg para D1

s, originando um excesso de demandade dólares à taxa de câmbio "fixa" de 100 reais por dólar. Se não ocorresse uma inter-venção na taxa de câmbio do real em relação ao dólar, o real seria desvalorizado, supe-rando o limite permitido de 102 reais por dólar (a posição seria D).

Nessas circunstâncias, o Banco Central do Brasil seria obrigado a intervir nomercado oferecendo dólares (demandando reais). Ao atuar dessa forma, a oferta de dó-lares que os operadores no mercado realizam no nível de 102 reais, e que representa osegmento OB, tem de adicionar a oferta de divisas realizada pelo banco central na quan-tia BC. Dessa forma, consegue-se igualar a demanda e a oferta de divisas no ponto C. Aintervenção do Banco Central do Brasil faria com que a taxa de câmbio real/dólar pas-sasse do nível correspondente no ponto D até o nível de 102 reais por dólar, que é o quecorresponde ao limite superior anterior.

Page 13: Introdução à economia troster e monchón cap 17

302 Introdução à Economia Capo 17

TEXTO DE APOIOAs minidesvalorizações no Brasil

A taxa de câmbio fixa no Brasil, em razãodas elevadas taxas inflacionárias observadasno país, era responsável por grandes movi-mentos especulativos.

Até 1964, os condutores da política cam-bial no Brasil anunciavam a cotação do dólarnuma determinada data. Após um tempo, emrazão da inflação, a taxa tomava-se poucoatrativa para os exportadores e muito atrativapara os importadores. Dessa forma, os im-portadores antecipavam suas importações eos exportadores postergavam suas exporta-ções. Todos os que tinham de trocar cruzei-ros por dólar apressavam-se em realizar atroca, e todos os que tinham de trocar dóla-res por cruzeiros retardavam a troca.

Dessa forma, a necessidade por uma des-valorização do cruzeiro aumentava rapida-mente. Ao proceder à desvalorização, ogoverno endossava o movimento especulati-vo contra o cruzeiro e também endossava opróximo movimento especulativo contra ocruzeiro.

o BACEN então adotou uma política deminidesvalorizações sistemáticas a períodoscurtos de tempos. Num intervalo de poucosdias, a princípio, e diariamente, quando a in-flação aumentou, o BACE anunciava ataxa de compra e de venda do dólar. O parâ-metro básico para a fixação do novo preçodo dólar era a inflação.

De 1964 até 1993, tivemos apenas três ex-ceções nesse comportamento do mercado decâmbio. A primeira foram algumas maxides-valorizações para compensar eventuais atra-sos cambiais e estimular as exportações. Asegunda foi a tentativa de congelar o câmbiocom propósitos anti-inflacionários, durante apolítica econômica do Plano Cruzado. Efinalmente tivemos, no início do GovernoCollor, uma tentativa de deixar o câmbio flu-tuar livremente. Contudo, a política demanter o câmbio atrelado à inflação foi do-minante durante o período 1964-1993.

A INTERVENÇÃO DO BANCO CENTRAL PARA EVITAR AVALORIZAÇÃO DO REAL

Se acontecesse um aumento das exportações brasileiras que fizesse a curva de oferta dedólares deslocar-se para a direita, de O; para 01$ o real seria valorizado ao passar para o

ponto A. Neste caso, para se evitar que se passe o limite inferior permitido de 98reais/dólar, o Banco Centro do Brasil terá de atuar demandando dólares (oferecendoreais). O aumento na demanda por dólares, efetuado pelo Banco Centro do Brasil, evita-rá que o real se valorize e irá mantê-lo dentro da faixa fixada pelo FMI. Ao atuar destaforma, o Banco Centro do Brasil estará aumentando suas reservas de dólares.

Page 14: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 303

Efeito de um incrementode uma importação

00$ 01$Tipode

cãmbio(rea//dó/ar)

Tipodecâmbio

(rea//dó/ar)

00$

i1,02r--=-O--Eo-*-C--1,00

0,98 f--------f-

Faixade

Flutuação(rea/)

1,021,00

0,98

-)

Dó/ares

(a) (b)

Figura 17.3 A intervenção do Banco Central.

Efeito de um incrementode uma exportação

00$ 00• 01s

Dólares

(a) Intervenção do banco central para evitar a depreciação. Um aumento dasimportações brasileiras origina um deslocamento para a direita da curva de demandade dólares (de D~ a D1$), o que determinaria que o mercado se situa no ponto D. Aintervenção do banco central oferecendo dólares na quantia BC, evita que o real sedesvalorize acima dos 102 reais/dólar, mantendo-o dentro da faixa.(b) Intervenção do banco central para evitar a valorização. Um aumento dasexportações brasileiras aumenta a oferta de dólares para a direita (de og a 01$),colocando o mercado de divisas no ponto A. A intervenção do banco central,demandando dólares, na quantia FH, faz com que o real não supere a quantia de0,98 reais/dólar.

17.4.2 A DESVALORIZAÇÃO OU A VALORIZAÇÃO COMO SOLUÇÃOAO DÉFICIT PERMANENTE NO BALANÇO DE PAGAMENTOS

Quando um país que opera sob o sistema de taxa de câmbio fixa apresenta um déficitalto e persistente em seu balanço de conta corrente, o banco central tem de intervir. Estaintervenção, tal como foi apontado anteriormente, implica uma redução das reservas dedivisas estrangeiras. Ainda que as reservas de divisas possam ser aumentadas por meiode empréstimos, se o déficit persistir, a situação pode tomar-se insustentável, pois existeum limite para a quantidade que um país pode pedir ao exterior.

Page 15: Introdução à economia troster e monchón cap 17

304 Introdução à Economia Capo 17

Nessa situação, que o FMI denominava de o "desequilíbrio fundamental", umpaís podia desvalorizar sua moeda. Deste modo, se a moeda estava estabelecido numtipo de câmbio fixo de 10 reais por dólar, e acontecesse um déficit persistente no balan-ço de pagamentos, as autoridades econômicas podiam alterar essa relação e fixá-Ia, porexemplo, em 11 reais por dólar. Essas alterações na taxa de câmbio deviam ser apro-vadas pelos responsáveis do Fundo Monetário Internacional.

A desvalorização, tal como foi mostrada anteriormente ao se falar de deprecia-ção, faz com que as exportações fiquem mais baratas para a moeda estrangeira, e as im-portações, mais caras para a moeda nacional.

A VALORIZAÇÃO COMO SOLUÇÃO AO SUPERÁVIT PERMANENTE NOBALANÇO DE PAGAMENTOS

Pelo contrário, se um país apresentasse um superávit persistente em sua balança de pa-gamentos, sua moeda tenderia a valorizar-se. Se operasse sob o sistema de taxa de câm-bio fixa, o banco central teria de intervir para evitar que fosse superada a faixa deflutuação permitida. Para isso, venderia moeda nacional (demandaria dólares) nomercado de câmbio, aumentando, dessa forma, suas reservas de divisas. Essa situaçãopoderia levar a uma acumulação excessiva de reservas, e por isso seria possívelsocorrer-se de uma "revalorização" da moeda nacional. A revalorização tenderia a eli-minar o superávit do balanço de pagamentos, pois encareceria as exportações e baratea-ria as importações.

17.4.3 AS DIFICULDADES DO SISTEMA DO FMI

Esse sistema também apresentava sérias limitações; por um lado, havia a dificuldadepara determinar se o desequilíbrio era temporário ou de base. Além disso, diante de umasituação deficitária que originava uma perda de reservas, os especuladores agravavam asituação, pois sabia-se que era necessária a desvalorização, e havia o incentivo para ven-der a moeda antes que ela fosse desvalorizada. A atitude dos especuladores contribuíapara acentuar os desequilíbrios.

Em segundo lugar, na medida em que as autoridades prendiam-se às taxas decâmbio existentes, quando as pressões se faziam intoleráveis, aconteciam ajustes exces-sivamente bruscos. Por outro lado, os países que apresentavam superávit mostravam-semuito inertes para aumentar a paridade de suas moedas. Além disso, dado que a vendade moeda estrangeira implicava uma diminuição da oferta monetária e a compra um

Page 16: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 305

aumento da quantidade de dinheiro, a política monetária perdia sua autonomia, já queela dependia da intervenção feita para evitar que a taxa de câmbio saísse da faixa deflutuação estabelecida (ver Texto de Apoio).

o FINAL DO SISTEMA DO FMI

Sob o sistema do Fundo Monetário Internacional, os Estados Unidos impuseram o dólarcomo a unidade de conta internacional e moeda de intervenção. Este fato supunha queos Estados Unidos deviam fornecer dólares em abundância ao resto do mundo, o quetornava o sistema financeiro muito dependente desse país, pois os aumentos na liquidezeram função do déficit norte-americano.

Durante os anos 60 e início dos 70, os países ocidentais e Japão acumularamdólares, enquanto os Estados Unidos incorriam em fortes déficits no balanço de paga-mentos e começavam a perder ouro em grandes quantidades. Tentaram remediar essasituação com sucessivas desvalorizações do dólar (elevação do preço do ouro em dólares);porém, em 1971, suspendeu-se a obrigação de converter os dólares em ouro, dólares essesque os demais países apresentavam ao Banco de Reserva Federal Americano.

Em 1970 criaram-se os Direitos Especiais de Saque (DES), anotações nohaver das contas do FMI que se concediam a cada país em razão do seu volume decomércio. A partir de 1973, a perda de confiança no dólar e sua inconversibilidadepropiciaram o abandono do sistema de taxas de câmbio fixas, porém ajustáveis, por umde maior flexibilidade na fixação de tais taxas.

17.5 DO SISTEMA DO FMI AO SISTEMA ATUAL

Diante dos inconvenientes apresentados, em março de 1973 um grande número depaíses permitiu que suas moedas flutuassem livremente (seguindo um sistema de livremercado como o analisado na Seção 17.2 deste capítulo). O FMI aceitou que cada paíselegesse o sistema cambial que melhor servisse às suas particulares circunstâncias.

• A moeda "flutua" livremente quando se permite que varie em respostaàs variações nas condições de demanda e de oferta de divisas.

Sob esse sistema não há paridade oficial da moeda nacional com o dólar oucom qualquer outra moeda, e os desequilíbrios no setor externo tendem a corrigir-seautomaticamente mediante as variações da taxa de câmbio.

Page 17: Introdução à economia troster e monchón cap 17

306 Introdução à Economia Cap.17

17.5.1 A FLUTUAÇÃO "SUJA"

A orientação do sistema monetário internacional em direção às taxas de câmbio flexí-veis não fez, contudo, com que as taxas de câmbio se determinassem, na maioria doscasos, com plena liberdade. Estendeu-se um sistema de flutuação "suja", no qual osbancos centrais dos diversos países modificavam, a curto prazo, os câmbios a quechegavam, quando não ocorria intervenção no mercado. Essa intervenção resumia-se nacompra, ou na venda, de sua própria moeda, segundo se desejasse frear a desvaloriza-ção, isto é, a diminuição do preço em relação a outras moedas, ou a valorização, ouaumento do preço em relação a outras moedas.

As razões pelas quais o banco central intervinha no mercado de divisas eramas seguintes:

• As variações da taxa de câmbio afetavam as exportações e as importaçõese, portanto, a produção e o emprego.

• As flutuações da moeda influíam nos preços das exportações e das impor-tações e, por conseguinte, no nível de preços e na inflação do país.

Estas são as razões que justificaram as intervenções dos bancos centrais, deforma que a flutuação "suja" aparece como um caso intermediário entre o sistema detaxas fixas e o de taxas flexíveis.

• A flutuação "suja" (ou flutuação dirigida) acontece quando, sob umsistema de taxas de câmbio essencialmente flexíveis, ou flutuantes, osgovernos intervêm para tentar alterá-Ias em uma determinada direção.

17.5.2 AS CARACTERíSTICAS DO SISTEMA CAMBIAL ATUAL

No sistema de câmbio flexível, são as variações das taxas de câmbio que promovem osajustes internacionais. Com as taxas de câmbio flexíveis, os ajustes podem produzir-segradualmente, sem ocasionar crises de confiança e com menos probabilidades de ocor-rerem movimentos especulativos.

Sob um sistema de taxas de câmbio flexível, as taxas podem apresentar umaelevada variabilidade, o que tende a elevar a incerteza. Do que foi dito deduz-se que,nos últimos anos, o sistema cambial caracterizou-se pelos seguintes fatos:

Page 18: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 307

1. A diversidade dos sistemas vigentes nos diferentes países, sendo que astaxas de câmbio fixas e flexíveis aparecem com os casos extremos deuma ampla gama existente.

2. Pela variabilidade das taxas de câmbio. Isso se deve, em parte, aos fortesdesequilíbrios apresentados pelas balanças comerciais da maioria dospaíses e às sensíveis flutuações sofridas por algumas das variáveis queincidem sobre a determinação da taxa de câmbio, basicamente os preços.A intensificação dos movimentos internacionais de capital, especialmenteo de caráter especulativo, foi um fator que também contribuiu para deses-tabilizar as taxas de câmbio.

As opções criadas pelas autoridades econômicas para combater a variabilidadeda taxa de câmbio podem-se resumir em três pontos: coordenar as políticas macroeco-nômicas, intervir no mercado de câmbio, e recorrer à formação de blocos monetários,tal como o que a maioria dos países integrados na Comunidade Econômica Européiarealizou.

No Brasil, atualmente, temos um sistema de câmbio flutuante, no qual a atua-ção do Banco Central tem muita importância.

17.5.3 o SISTEMA MONETÁRIO EUROPEU

Uma opção criada pelas autoridades econômicas para reduzir a variabilidade das taxasde câmbio é a formação de blocos monetários, e foi isso o que fez a maioria dos paísesintegrados à CE.

• O Sistema Monetário Europeu (SME) é um mecanismo institucional queliga entre si a moeda da maioria dos membros da CE para estabelecerum sistema de paridades fixas, porém ajustáveis.

Os elementos essenciais do SME são os seguintes:

1. Taxas de câmbio que se pretendem manter fixas.

2. Regras do jogo que especificam:

Quando se atua para corrigir os efeitos do livre jogo do mercado.

Que instrumentos financeiros empregam-se para apoiar atuaçõesconcretas.

Page 19: Introdução à economia troster e monchón cap 17

308 Introdução à Economia Capo 17

no Brasil, ouro que, posteriormente, serátransportado para os Estados Unidos e con-vertido em dólares. Os que realizam essaoperação, os "árbitros", obterão um lucro dedois reais por dólar, menos os custos de tran-sação, transporte e seguro do ouro.

O importante a ressaltar agora é que a ar-bitragem tende a eliminar as discrepânciasque podem surgir a qualquer momento, comofruto das forças de mercado, entre a taxa decâmbio e os preços oficiais do ouro nos paí-ses. Note que, na suposição anterior, a ope-ração iniciara-se vendendo-se dólares parase comprarem reais. Essas vendas reduzirãoo preço do dólar até que a discrepância entrea taxa de câmbio e a paridade de equilíbriocubra escassamente os custos mencionados.

A possibilidade, como último recurso, de fazer um ajuste na taxa parase chegar a outro conjunto de taxas, também fixas.

3. Como elemento instrumental inclui o ECU, que é formado por um con-junto pré-determinado ajustável de moedas da Comunidade.

O núcleo do SME forma o que se denominou a "grade h" de moedas, espéciede tabela de dupla entrada que mostra a taxa de câmbio entre cada par de moedas dasincluídas no sistema. Estes tipos de câmbio, denominados taxas centrais, fixam-se emum dado momento e são os que se desejam manter fixos.

O SME permite que as diferentes moedas afastem-se entre si até 2,25%.Quando isso acontece, os bancos centrais de ambos os países devem intervir no merca-do para impedir que a brecha se amplie. De qualquer modo, ao país cuja moeda se afas-ta mais da taxa central impõem-se obrigações unilaterais de intervenção. Mas, emdeterminadas situações esse limite pode ser ampliado.

TEXTO DE APOIOO papel dos "árbitros" nos mercados internacionais

Suponha que as autoridades brasileiras esta-beleçam o preço oficial do ouro em R$2.000,00 por onça de ouro e as norte-ameri-canas em US$ 20,00 por onça de ouro. Estespreços do ouro implicariam uma taxa decâmbio, ou paridade de equilíbrio, de 100reais por um dólar e os fluxos internacionaisdo ouro manteriam a taxa de câmbio pertoda citada paridade. -

Suponha também que de forma circuns-tancial aumentasse a cotação do dólar a 102reais. Esta taxa de câmbio, ao se distinguirda paridade de equilíbrio oficial, ofereceráincentivos para quem está disposto a venderdólares para comprar reais no mercado decâmbio à taxa de câmbio de 102 reais pordólar. Esses reais serão convertidos em ouro

Page 20: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 309

Resumo

• A heterogeneidade das moedas emprega-das pelos diferentes países dificulta as re-lações econômicas internacionais. Umsistema desenvolvido de comércio inter-nacional exige um mercado onde umamoeda possa ser trocada por outra; estatarefa é desenvolvida no mercado de câm-bios. A taxa de câmbio é a razão pelaqual uma moeda é trocada por outras. Su-pondo-se que a única moeda estrangeiraseja o dólar, a taxa de câmbio é o númerode reais que se entrega para obter umdólar.

• Num mercado livre a taxa de câmbio serádeterminada pelas forças da oferta e dademanda. Nessas circunstâncias diz-seque a taxa de câmbio é livre ou flutuante.A oferta de dólares é feita pelos exporta-dores nacionais e pelos investidoresnorte-americanos no Brasil, enquanto ademanda de dólares corres ponderá à dosimportadores nacionais e dos investidoresbrasileiros nos EUA.

Teoricamente, o sistema de taxas de câm-bio flutuante corrigiria automaticamente qual-quer tendência no balanço de pagamentos de

gerar um déficit ou um superávit. Na prática,entretanto, o mecanismo pode não funcionardevido, entre outras coisas, às mudanças nasimportações e exportações que podem serpouco sensíveis às alterações das taxas decâmbio.

• Dentro do sistema de taxa de câmbio doFundo Monetário Internacional, o valorde uma moeda fixou-se em termos de dó-lar, que, por sua vez, estava fixado aoouro. Os bancos centrais eram os respon-sáveis por manter os valores das moedasdentro das faixas determinadas. Para isso,deveriam atuar como ofertantes e deman-dantes da moeda nacional no mercado decâmbio.

Quando um país apresentava um déficitpersistente no balanço de pagamentos, erapermitido desvalorizar-se sua moeda. Dessaforma, suas exportações ficariam mais bara-tas em termos de moeda estrangeira e as im-portações mais caras, contribuindo para oequilíbrio do balanço de pagamentos. Nocaso em que o país apresentava um balançode pagamentos com superávit, o país emquestão teria de valorizar sua moeda.

Page 21: Introdução à economia troster e monchón cap 17

310 Introdução à Economia Capo 17

- Desvalorização.

- Valorização.

- Avaliação.

- Depreciação.

Flutuação "suja".

- Sistema Monetário Europeu (SME).

Conceitos básicos

- Sistema de taxas de câmbio.

- Mercado de câmbio ou divisas.

- Taxa de câmbio.

- Taxa de câmbio flexível.

- Fundo Monetário Internacional (FMI).

- Taxas de câmbio fixas.

- Padrão ouro.

1. Em que sentido o mercado de câmbio 5. Quais são os inconvenientes do sistemafavorece o comércio internacional? de taxas de câmbio?

2. O que se entende por taxa de câmbio 6. Em que sentido o FMI contribuiu paraflexível? estabilizar as taxas de câmbio?

3. Em que sentido uma alteração na taxa 7. Que fatores podem provocar a desvalori-de câmbio equivale a uma mudança nos zação do real em relação ao dólar?preços? 8. Quais são os principais problemas do

4. Que vantagens apresenta o sistema de sistema cambial na atualidade?taxas de câmbio flexível?

Questões

Page 22: Introdução à economia troster e monchón cap 17

Capo 17 Os mercados de câmbio 311

NOTA SOBRE O PENSAMENTO ECONÔMICOO mercantilismo

5. Que não se permita nenhuma impor-tação se existir um equivalente dobem importado no país.

6. Que as importações indispensáveis se-jam obtidas em troca de exportações.

7. Que as matérias-primas que seencontram no país sejam utilizadasnos produtos manufaturados nacio-nais, pois os bens acabados têm maisvalor que as matérias-primas.

Os autores mercantilistas caracteri-zaram-se por um profundo interesse pelomundo real. Isto os levou a procurarem queos recursos da nação pudessem ser empre-gados de tal maneira que aumentassem opoder do Estado. Sob essa ótica, o tema maisimportante para os mercantilistas era ocomércio e as finanças internacionais. Osmercantilistas produziram a primeira cons-ciência real da importância monetária e polí-tica do comércio internacional. Nesteprocesso criaram o conceito de balança co-mercial, que incluía partidas visíveis e invi-síveis (fretes, seguros etc.).

O mercantilismo refere-se ao conjunto deidéias que dominou o discurso econômico doinício do séc. XVII até finais do séc. XVIII,para as quais as relações comerciais entrepaíses tinham grande importância. Os mer-cantilistas eram um grupo díspar, integradopor comerciantes e empresários que, na rea-lidade, defendiam seus próprios interesses.A falta de coesão dos mercantilistas podeexplicar a ausência de instrumentos de aná-lise comuns e a escassa comunicação entreos seguidores desta doutrina.

As idéias mais comum ente defendidaspelos mercantilistas resumem-se nos se-guintes pontos:

1. Proibição de todas as exportações deouro e prata e manutenção de tododinheiro nacional em circulação.

2. Impedir, de todas as maneiras, as im-portações de bens.

3. Que, dentro do possível, as importa-ções se limitem às matérias-primasutilizadas para elaborarem produtosfinais no país.

4. Que se busquem as oportunidadespara vender os excedentes de manu-fatura de um país aos estrangeiros,em troca de ouro e prata.