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Caderno de experiênCias assim se organiza o ambiente

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Caderno de experiênCias assim se organiza o ambiente

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Os Cadernos de Experiências são materiais pedagógicos do programa Parala-

pracá destinados a profissionais que trabalham na Educação Infantil. Eles fazem

parte da Coleção Paralapracá. Cada caderno aborda um eixo formativo – assim

como a série de vídeos que também compõe a coleção – e visa apoiar os edu-

cadores na sua prática.

Este material foi elaborado a partir dos registros de professores e coordena-

dores pedagógicos, compilados durante a primeira edição do Paralapracá, que

aconteceu entre 2010 e 2012, nos municípios de Feira de Santana · ba, Jaboatão

dos Guararapes · pe, Campina Grande · pb, Teresina · pi e Caucaia · Ce. Nas pró-

ximas páginas, há uma série de experiências vivenciadas pelos profissionais,

crianças e seus familiares e comentadas por especialistas na área, a fim de ex-

plicitar questões teóricas, validar, problematizar e sugerir novas práticas peda-

gógicas a partir do que foi realizado.

diCas saiba mais eduCador espeCialista

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O Caderno de Experiências Assim se Organiza o Ambiente é uma publicação do pro-

grama Paralapracá. O programa é uma frente de formação de profissionais da Educa-

ção Infantil criada em 2009, por meio de uma parceria entre a Avante – Educação e

Mobilização Social e o Instituto C&a.

O Paralapracá foi implementado em diversos municípios e teve sua eficácia reconhe-

cida pelo Ministério da Educação (meC) em 2015, quando passou a integrar o Guia de

Tecnologias Educacionais do meC. O programa é uma metodologia da Avante, passível

de ser implantada em regime de parceria em qualquer localidade brasileira.

Esta publicação faz parte da Coleção Paralapracá e está licenciada sob a Licença Crea-

tive Commons Atribuição Internacional 4.0 (CC bY 4.0). Para ver uma cópia desta licença,

visite <https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_br> ou envie uma carta

para Creative Commons, po Box 1866, Mountain View, Ca, 94042, Estados Unidos.

Realização

Avante – Educação e Mobilização Social

Instituto C&A

Concepção

Avante – Educação e Mobilização Social

Equipe de elaboração da Coleção

Paralapracá

Coordenação editorial

Mônica Martins Samia

Autoria

Mônica Martins Samia

Coleta de experiências pedagógicas

Maria Aparecida Freire de Oliveira Couto

Fabíola Margeritha Bastos

Janaina G. Viana de Souza

Iany Bessa

Lilian Galvão

Seleção de experiências pedagógicas

Milla Alves

Mônica Martins Samia

Revisão técnica da 1a edição

Maria Thereza Marcilio

Revisão de estilística

Clarissa Bittencourt de Pinho e Braga

Atualização de conteúdos da 2a edição

Mônica Martins Samia

Revisão técnica da 2a edição

Janine Schultz

Produção editorial da 2a edição

Sandra Mara Costa

Revisão ortográfica

Mauro de Barros

Projeto gráfico, editoração e ilustrações

Santo Design

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SumárioApresentação

Assim se organiza o ambienteDialogando com as práticas

Práticas comentadas

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Apresentação

A palavra “assim” pode indicar as diversas possibilidades de se fazer algo, a depender do contexto que este “algo” acontece e das pessoas que dele participam. No Paralapracá, “assim” representa a diversidade de fazeres e saberes encontrados nas mais de cem instituições de Educação Infan-til que participaram da primeira edição deste programa de formação. O objetivo dos Cadernos de Experiências do Paralapracá é compartilhar as práticas vivenciadas e também realizar um diálogo entre teoria e prática, com vistas a se constituir em um material formativo.

A primeira edição do Paralapracá transcorreu entre os anos de 2010 e 2012 e trouxe uma proposta de formação continuada para profissionais da Educação Infantil tendo como base seis eixos formativos relevantes no currículo deste segmento: Assim se Brinca, Assim se Faz Arte, Assim se Faz Música, Assim se Faz Literatura, Assim se Explora o Mundo e As-sim se Organiza o Ambiente. A iniciativa foi implementada em instituições de Educação Infantil de cinco municípios de diferentes Estados da região Nordeste do Brasil:

� Campina Grande • pb; � Caucaia • Ce; � Feira de Santana • ba; � Jaboatão dos Guararapes • pe; � Teresina • pi.

A formação continuada provida pela ong Avante – Educação e Mobi-lização Social, parceira do Instituto C&a na criação do Paralapracá, bem como o acompanhamento do trabalho das instituições de Educação In-fantil que participaram da iniciativa, permitiu o registro e a sistematização

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de suas práticas pedagógicas e produções culturais. Parte das experiên-cias retratadas pelos profissionais foi, então, transformada nesta nova sé-rie de cadernos.

Os caminhos percorridos e registrados revelaram as mudanças ocor-ridas, os resultados e a reflexão sobre as práticas e as concepções de infância e de Educação Infantil que, por sua vez, foram sendo revisitadas, problematizadas e reconstruídas no percurso. Os registros indicam um caminho trilhado, não um ponto de chegada. Foi muito importante docu-mentar este processo formativo para aqueles que dele participaram. Por meio desse recurso, tem-se a oportunidade de ajudar outros interlocuto-res a vislumbrar e a pensar sobre novas possibilidades e novos percursos.

É possível que, ao degustar o material, se identifiquem distâncias entre o dito e o vivido, o teorizado e a prática, o desejado e o realizado. No Pa-ralapracá, assumimos que essas distâncias são parte inerente do proces-so e as consideramos provocativas. Nós esperamos que elas fomentem um ambiente reflexivo, assim como o olhar criterioso e diverso na busca de práticas pedagógicas mais coerentes, conscientes e possíveis.

Apresentamos os seis eixos formativos em separado nos Cadernos de Experiências, mas como linguagens e elementos curriculares eles se inte-gram, e isso é explicitado muitas vezes nos registros. Este é um alerta ne-cessário para manter os profissionais atentos ao enfoque integrado que deve caracterizar o currículo da Educação Infantil.

Esperamos que, acima de tudo, esta publicação seja capaz de apontar caminhos possíveis para outros educadores e que estes possam se inspi-rar e conhecer um pouco da trajetória daqueles que escreveram a história do Paralapracá em sua primeira edição. Ela expressa os valores e o reco-nhecimento da Avante e do Instituto C&a de todo esse processo de refle-xão e transformação pelas quais diversas redes municipais de educação e seus profissionais passaram no decorrer da formação.

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A criança não brinca numa ilha deserta. Ela brinca com as substâncias materiais e imateriais que lhe são propostas. Ela brinca com o que tem à mão e com o que tem na cabeça. Os brinquedos orientam a brincadeira, trazem-lhe matéria. Algumas pessoas são tentadas a dizer que eles a condicionam, mas então toda a brincadeira está condicionada pelo meio ambiente. Só se pode brincar com o que se tem, e a criatividade, tal como a evocamos, permite justamente ultrapassar esse ambiente, sempre particular e limitado. O educador pode, portanto, construir um ambiente que estimule a brincadeira em função dos resultados desejados. Não se tem certeza de que a criança vá agir, com esse material, como desejaríamos, mas aumentamos assim as chances de que ela o faça…brougÈre, 1995, p. 105

Assim se organiza o ambiente

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Ao longo da trajetória do Paralapracá, muitos depoimentos, registros e práticas indicam que o eixo Assim se Organiza o Ambiente foi um dispa-rador para se pensar sobre a importância desse componente curricular no desenvolvimento das crianças, como demonstra Marluce Duarte Catão, da Creche Municipal Isabele Barbosa da Silva, em Campina Grande · Pb:

É no espaço físico que as crianças conseguem estabelecer relações en-tre o mundo e as pessoas. Os ambien-tes das instituições de Educação Infan-til devem respeitar as necessidades de desenvolvimento das crianças em todos os seus aspectos, considerando cada faixa etária.

Mas o ambiente é importante também como elemento de mudança nas relações entre professores e crianças, entre os demais profis-sionais da instituição e em uma maior apro-ximação dos pais, como será visto a seguir. A dimensão relacional do ambiente trata da qualidade das relações estabelecidas, do bem-

-estar emocional e da implicação das crian-ças nas atividades realizadas, bem como do respeito aos seus desejos e preferências. Este foi um elemento presente em todo o processo formativo e reverberou na prática, por meio de uma escuta mais atenta e sensível às crianças, um reconhecimento da importância de toda a comunidade escolar para a construção de um

ambiente acolhedor, seguro e estimulante. É o que nos conta a assessora Cida Freire, de Jabo-atão dos Guararapes · Pe:

Um indicador da presença do Para-lapracá tem sido o respeito que as pessoas que trabalham na instituição estão demonstrando em relação às crianças. Percebemos que a criança tem sido o centro das ações e a insti-tuição está se organizando tendo em vista garantir um melhor espaço para elas. São coisas simples — como co-locar a Educação Infantil num espaço mais reservado e melhor, ou tirar a metade das mesas para criar espaços para outros ambientes —, situações que revelam uma preocupação dife-renciada com a qualidade do atendi-mento.relatório de monitoramento/2012

Mudança foi mesmo a palavra de ordem nesse eixo formativo. E o mais importante é que não se trata de mudanças apenas nos espaços, mas os relatos apontam que a maneira de olhar mu-dou; a atitude diante dos desafios mudou, com maior flexibilidade e habilidade para o enfren-tamento das dificuldades; efetivaram-se ajustes na estruturação da rotina; e nem mesmo a falta de espaço foi empecilho para mudar o ambien-te. Grandes conquistas, muitas vezes realizadas com atos simples. É o que vamos ver a seguir.

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Dialogando com as práticas

Um lugar para os bebês

Quando mostramos um respeito profundo por aquilo que a criança faz, por aquilo que ela se interessa — mais por ela mesma que por seus atos —, todas as nossas ações se tornam impregnadas de um conteúdo que enriquece a persona-lidade: desenvolve segurança afetiva, a consciência e a autoestima das crianças.FalK, 2004, p. 45

Saber interagir com os bebês, conhecer suas necessidades e organizar um ambiente adequado ao seu desenvolvimento são desafios que se colocam cada vez mais de forma intensa aos profissionais que atuam na Educação Infantil, em especial na creche, tendo em vista a ampliação da oferta para esse tipo de atendimento.

São saberes específicos que permitem a estruturação de espaços de aprendizagem, sem que isso, no entanto, represente marcas de escolariza-ção incompatíveis com as demandas dessa faixa etária. Tanto em relação ao espaço quanto à rotina, há que se buscarem modos próprios de cons-truir um ambiente adequado para essa etapa tão singular da vida da criança.

À medida que as reflexões sobre a organização de ambientes foram acontecendo nas formações do Paralapracá, muitas mudanças ocorre-ram nas instituições de Educação Infantil parceiras, nas diversas dimen-sões do ambiente elencadas por Forneiro (1998): espacial, relacional, funcional e temporal.

Algo mudou na forma de olhar esses ambientes e como as crianças interagem e reagem diante deles. Quem ajuda a contar esta história são

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a professora/formadora Shirley Rachel Souza S. Souto, da Creche Marcos Freire, e a coordenadora Amanda Pereira Sales, da creche Mundo Encantado:

O projeto veio pra gente refletir: se as crianças estão sempre se movimentando, estão sempre tão atentas a tudo e a todos, como eu devo lidar com tudo isso? Como devo atuar diante disso? O grande desafio é a gente se colocar no lugar das crianças. Se a gente se coloca no lugar delas quando elas esperneiam, quan-do elas choram, a gente vai compreender: ah, tem ra-zão de estar chorando o tempo todo nesse berço.Jaboatão dos guararapes · pe

O registro evidencia que foi possível compreender o quanto a forma de estruturar o espaço incide sobre a dimensão relacional do ambiente. O choro, por exem-plo, pode ser uma reação, ou me-lhor, uma expressão de emoções negativas, como a sensação de abandono ou um desejo de inte-ragir em outros espaços. Além disso, “colocar-se no lugar” é uma atitude fundamental para profis-sionais que atuam nessa faixa etá-ria, tendo em vista os limites re-lativos à linguagem oral. Nesses casos, o corpo fala mais alto e é preciso aprender a ouvi-lo.

A partir desse “novo” olhar, muitas transformações ocorreram, algumas delas aparentemente simples, mas que demonstram uma mudança significativa na importância que se dá a cada material ou móvel que compõe o espaço e a interferência direta que têm nas possibilidades e nos limites colocados aos bebês. O espaço ocupado pelos berços é um exemplo dessa reflexão:

Refletindo sobre essas questões e as mudanças no ambiente, conseguimos retirar dois berços da sala. Uma das professoras percebeu a necessidade de maior locomoção das crianças e afastou os berços para que elas pudessem andar por entre eles. CreChe mundo enCantado, Jaboatão dos guararapes · pe

Segundo Forneiro (1998, p. 235), a di-mensão relacional refere-se às diferentes relações que se estabelecem no espaço: — diferentes modos de acesso;— normas e o modo como se estabele-cem estas relações;— diferentes agrupamentos para a reali-zação das atividades;— participação do professor nos diferen-tes espaços.

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“No berçário, por exemplo, a gente tinha uma lógica, aquela ideia: o bebê vai comer, vai dormir. A ideia que se sobressai é a de cuidar. Agora temos um túnel, o tapete fazendo parte do berçário, que antes era só de berços. Hoje os berços são usados só para dormir, no horário que é para dormir”.CreChe marCos Freire, Jaboatão dos guararapes · pe

O sono é, sem dúvida, um momento muito importante na vida da criança, essencial para seu desenvolvimen-to saudável. Mas é preciso estar atento a como este momento está organizado na creche e como os es-paços se estruturam para tal. Nas práticas citadas, os berços ocupavam espaço demais e limitavam as ou-tras atividades. Além disso, uma importante pergunta a se fazer é: por que ter o número de berços igual ao número de crianças? Afinal, todas dormem sempre no mesmo horário? Vejamos o que dizem os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil sobre isso:

Os horários de sono e repouso não são definidos a priori, mas dependem de cada caso, ou de cada tipo de atendi-mento. A frequência em instituições de Educação Infan-til acaba regulando e criando uma constância. Mas é im-portante que haja flexibilidade de horários e a existência de ambientes para sono ou para atividades mais repou-santes, pois as necessidades das crianças são diferentes.1998, p. 60

Outro questionamento importante a fazer é: será que o berço é o único local adequado para dormir? Em vi-sita às creches municipais de Jundiaí · sp, a equipe do Paralapracá conheceu os “ninhos”. Um mobiliário dife-rente, mais acolhedor, que promove mais autonomia à criança e não ocupa tanto espaço. É o que nos conta Ana Teresa Gavião Mariotti, especialista na área:

A Proposta Curricular da Educação Infantil de 0 a 3 anos de Jundiaí considera o espaço como elemento importante para a garantia da qualidade no atendimen-to às crianças pequenas. Entendemos que o espaço é revelador dos princípios pedagógicos: da concepção de criança — sujeito de direitos e potencialidades — e da concepção de cuidar e educar nas creches.

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A atenção, o interesse, enfi m a atitude de cuidado do educador (ou a alienação, a negligência e o descuido) podem ser percebidos pelos bebês e crianças pequenas por meio do olhar, dos gestos, da postura corporal, do tom de voz, das palavras empregadas, do ritmo e sequência das ações e procedimentos realizados pelo professor e da forma como ele organiza o ambiente que constitui, o que se denomina “linguagem do cuidado”. As crianças sentem-se cuidadas, ou seja, acolhidas, amparadas, reconhecidas em suas inquietações, necessidades e desejos pela forma como os professores organizam o ambiente e interagem com elas, durante todos os momentos que realizam cuidados elementares, mas essenciais ao conforto, proteção, nutrição, crescimento e desenvolvimento integral e saudável. maranhão, 2010

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É importante pensar uma sala com áreas para brin-car, objetos de manipulação e livre para a circulação das crianças. A retirada dos berços possibilita a orga-nização desse ambiente. As crianças, assim que acor-dam, não dependem de um adulto para retirá-las do berço, mas podem se movimentar, engatinhar e pro-curar um brinquedo. Ou seja, este ambiente pode per-mitir às crianças fazer escolhas e assumir pequenas decisões.

O espaço, assim como a rotina, deve ser da criança e para a criança. Por isso, as áreas do brincar são prio-ridades, e os colchões e ninhos podem ser organiza-dos nos momentos do descanso. A creche precisa ser um local especial: provocador de aprendizagens, rico de desafi os e produtor de relacionamentos.

No ato de colocar ou não as crianças nos berços, de dis-ponibilizar ou não objetos à sua altura, de acolher ou não sua presença no espaço, os adultos dizem o que pensam sobre elas e o que esperam de suas relações. De forma não verbal os adultos se posicionam frente aos bebês, acredi-tando ou não em suas potencialidades comunicativas e relacionais, pela forma como organizam o espaço para elas e para suas relações com elas. sChmitt, 2008, p. 124

Pensando ainda nas intencionalidades e na visão do educador sobre a criança, a equipe da Creche Mundo Encantado também reconheceu como o espaço pre-cisa se constituir em um lugar da criança, onde ela se identifi que e o torne seu. Esse pertencimento é uma variável importante na constituição da identidade dos bebês e no conforto e segurança que sentem em de-terminado espaço. Vejamos o que pensam e o que fi -zeram as professoras:

“Criança de creche sempre compartilha tudo. Em se tra-tando das crianças de berçário, percebemos que elas fi cam até sem referência. Saem de casa (seu ambiente seguro) para passar o dia inteiro com várias crianças da sua idade e com adultos desconhecidos e que não permanecem com elas o dia todo (pois existe a troca de turno e elas fi cam na creche). Sem contar os obje-tos pessoais que são compartilhados. Nada contra di-

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vidir, mas, além da chupeta e da sua bolsa, o que os bebês (de até 1 ano) têm de pessoal? Realizamos mui-tas atividades no coletivo e eles ficam sem uma refe-rência pessoal na creche. Para que tenham algo ‘seu’, decidimos colocar uma foto ampliada de cada um em um local para que se sintam parte da sala, se reconhe-çam e percebam os coleguinhas. Colocamos também um espelho onde, com regularidade, as crianças vão se ver e ver o outro.

Colocar o espelho não foi fácil. Esbarramos em al-guns questionamentos: convencer o conselho escolar a comprar espelhos; depois foi pensada a questão da segurança, pois poderia quebrar e machucar os pe-quenos. Porém, com um diálogo saudável, embasado em teorias e estudos, conseguimos executar nossa proposta. Hoje até os pais elogiam a sala e, inclusive, o espelho. Mas o mais importante é o desenvolvimen-to proporcionado às crianças”.

Com atitudes como estas, as professoras dessas creches vão ensinando como construir um ambiente seguro, acolhedor e em constante movimento, onde objetos e mobiliários não são ca-tegorias estáticas, mas se trans-formam e se adaptam a partir do olhar atento, inquieto e sensível dos adultos.

Essa visão antiga, que mais se parece com a visão de internato, foi sendo modificada. Decidimos e fizemos o planeja-mento, e tudo vai se modificando: o berçário, as outras salas, o espaço lá fora. Nossa meta agora é fazer uma trilha, já temos tudo planejado como vai ser. A trilha vai percorrer a creche toda e no meio do caminho vamos colocar uma casa, vamos colocar uns desafios e, no fi-nal, ficará a horta. Aqui tem muito movimento! CreChe marCos Freire

O espelho é um importante instrumento para a construção da identidade. Por meio das brincadeiras que faz diante dele, a criança começa a reconhecer sua imagem e as características físicas que integram a sua pessoa. É aconselhável que se colo-que na sala um espelho grande o suficiente para que várias crianças possam se ver de corpo inteiro e brincar em frente a ele. rCnei, p. 33

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Práticas comentadas

Com a mão na massa

KARINE DA CRUZ COSTA PROFESSORA

pré-esCola muniCipal Coriolano Farias de Carvalho,

Crianças de 3 a 5 anos, Feira de santana · ba

Participei das formações relacionadas ao eixo Assim se Organiza o Am-biente e me senti desafiada a mudar a organização da minha sala. Os ví-deos e as leituras propostas pela coordenadora me fizeram refletir e me instigaram a experimentar mudanças no espaço.

Muitas ideias foram surgindo enquanto eu via o vídeo, fiz algumas anotações e não conseguia parar de pensar na minha sala. Nossa coor-denadora propôs que pensássemos em mudanças possíveis em nosso ambiente para curto, médio e longo prazos. Juntamente com as colegas, traçamos algumas possibilidades. Comecei a pensar a respeito do que era possível fazer sozinha para organizar melhor o ambiente da minha sala. Mudei alguns móveis de lugar e a sala já pareceu ter mais espaço.

Aproveitei um dia com baixa fre-quência e fiz a proposta para as crianças me ajudarem a separar os brinquedos por temática. Expliquei que tudo misturado não estava le-gal, que não podíamos escolher uma brincadeira no meio daqueles brinquedos misturados. Assim, derra-mamos o balde de brinquedos e eu ia perguntando que tipo de brinquedo era e onde deveríamos colocar:1 panelas?… na cozinha; a banheira?… per-

1 Esse tipo de experiência promove opor-tunidades para as crianças classificarem os materiais e pensar em critérios para tal!

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to das bonecas; carrinhos?… todos juntos. Foi uma confusão! Algumas crianças pareciam não entender a lógica de estarmos separando os brinquedos e, por vezes, as mes-mas crianças jogavam tudo de novo dentro do balde.

Pensei em desistir, pois foi des-gastante explicar a mesma coisa tantas vezes!2 Foi um começo difícil. Arrasta daqui, arrasta dali… no final da manhã a sala parecia outra. As crianças pareciam desconfiadas, olhavam as coisas e não mexiam.

Não mudei a decoração, mudei as coisas de lugar. E pareceu que fiz muitas coisas… Coloquei uma estante de aço (que estava na sala encostada na parede) como divisó-ria. Assim foram criados dois espa-ços: na frente a cozinha e ao fundo o teatrinho de fantoche. Uma pra-teleira para telefones e teclados, duas prateleiras para carrinhos e as mais altas estão servindo para organizar o material escolar. Mon-tei uma minicozinha com fogãozi-nho, geladeira, micro-ondas e uma mesa; no balde colocamos os brin-quedos de cozinha (pratinhos, garfinhos, panelas, fru-tas e verduras). Conversei com as auxiliares da limpe-za que eu tinha lido uns textos que me motivaram a reorganizar os espaços na sala e pedi que elas conser-vassem assim na hora da limpeza. Uma delas ao ajudar disse: “Olha ali, tá parecendo uma cozinha”. E eu res-pondi: “A ideia é essa!”.3

Os móveis, afastados das paredes, ajudaram a di-vidir melhor os espaços. Retirei o alfabeto que estava na frente do quadro tomando muito espaço e coloquei nas costas do armário apenas as letras iniciais das crianças. Aproveito a rodinha para elas identificarem a letra inicial todos os dias. Como são poucas letras, pretendo sempre mudar a posição em que estão para que elas desenvolvam a percepção e não fiquem colo-

2 Que bom que a professora não desis-tiu! As primeiras propostas que envol-vem maior autonomia e poder de decisão das crianças podem mesmo ser desgas-tantes e aparentarem certa confusão. Mas não é só com as crianças que isso acon-tece. Entretanto, se apostarmos que es-sas situações são parte de um processo de aprendizagem, podemos até nos surpreen-der com os resultados, pois as crianças ra-pidamente demonstram muita habilida-de e comprometimento em organizarem os materiais, dando e aceitando sugestões. E o que é mais importante: sentem que aquele espaço é seu.

3 Certamente, é possível realizar mu-danças na sala sem o envolvimento de outras pessoas da instituição, mas tam-bém não há dúvidas de que, quando se trata de um projeto coletivo ou quan-do se pode contar com a colaboração de outras pessoas, o trabalho se amplia e enriquece. Por vezes pensamos que as pessoas não estão muito “dispostas” a co-laborar, mas será mesmo?

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2 Que bom que a professora não desis-tiu! As primeiras propostas que envol-vem maior autonomia e poder de decisão das crianças podem mesmo ser desgas-tantes e aparentarem certa confusão. Mas não é só com as crianças que isso acon-tece. Entretanto, se apostarmos que es-sas situações são parte de um processo de aprendizagem, podemos até nos surpreen-der com os resultados, pois as crianças ra-pidamente demonstram muita habilida-de e comprometimento em organizarem os materiais, dando e aceitando sugestões. E o que é mais importante: sentem que aquele espaço é seu.

3 Certamente, é possível realizar mu-danças na sala sem o envolvimento de outras pessoas da instituição, mas tam-bém não há dúvidas de que, quando se trata de um projeto coletivo ou quan-do se pode contar com a colaboração de outras pessoas, o trabalho se amplia e enriquece. Por vezes pensamos que as pessoas não estão muito “dispostas” a co-laborar, mas será mesmo?

4 Segundo Forneiro (1998), “as áreas de-vem estar claramente delimitadas, de modo que as crianças possam distinguir facilmente os limites de cada uma. Isso não significa que tenham que ser com-partimentos estanques, mas uma clara de-limitação contribui para a organização mais definida do espaço, o que, por sua vez, favorece a sua utilização autônoma pelas crianças, para que possam construir mentalmente o espaço”. p. 257

5 O olhar observador e sensível da pro-fessora permitiu que ela percebesse uma necessidade das crianças e criasse uma área destinada para o momento do des-canso. Observe que as crianças não têm que dormir todas ao mesmo tempo, mas que aquelas que necessitam têm um espa-ço reservado para tal.

cando a mão na letra só porque decoraram o lugar em que a letra está.

Faço a rodinha geralmente na frente do quadro. Este espaço está sendo muito útil para fazer o registro do número de crianças, destacar o ajudante, fazer a leitura da listagem de nomes, compartilhar as leituras do dia. Falta mudar a fita métrica de lugar, pois está muito per-to do lixo. Acho melhor em outro lugar.

Na frente do armário coloquei uma mesa e com-binei com eles que ali seria o escritório. Desta forma, quando pegarem o telefone e o computador, se quise-rem, podem sentar ali. Na frente do espelho coloquei as embalagens de cosméticos, pentes, escovas, seca-dor, bolsas. Este é o espaço da beleza, onde as meni-nas brincam de faz de conta, lavam o cabelo, passam creme e perfume, e os meninos participam timidamente. Coloquei livrinhos e jogos dentro de caixas, em lugares acessíveis, e pedi que tivessem o cuidado de guardar quando terminarem a leitura. 4

O colchonete que sempre quis trazer para a instituição agora fica perto da caixa de histórias. Interes-sante que, no dia em que estava ar-rumando a sala, uma menina se en-contrava sonolenta. Então peguei um tapete e algumas almofadas, e ela dormiu depois do lanche até a saída. Depois da formação e dessa situação, eu tinha os argumentos perfeitos para trazer o colchonete. 5

Algumas garrafas pet estão ser-vindo de boliche, fiz um triângulo no chão e uma linha de distância para elas brincarem. Colocamos os ani-mais todos próximos num cantinho.

Estou pensando em criar uns combinados para a utilização do espaço, como eu vi em uma visita com as crianças, em um passeio à brinquedoteca da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Não fiz tudo em um dia só. As mudanças acontece-

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ram ao longo de duas semanas 6. Pude observar algumas crianças de outras turmas olhando pela ja-nela com curiosidade, algumas colegas entravam, perguntavam alguma coisa, olhavam, mas não diziam nada. O olhar delas me cau-sou inquietação: o que será que es-tão pensando? O que será que estão vendo? O que acharam? Na hora da saída, um menino de outra turma entrou correndo para usar o banheiro de minha sala. Primeiro ele olhou tudo… (eu estava de longe obser-vando ele) entrou devagar… depois que saiu do ba-nheiro, parou na frente de uma estante onde os carri-nhos estavam dispostos e brincou um pouco.

Durante a semana ouvi alguns comentários: “Sua sala ficou joia!”, “Parece que você internalizou o ví-deo!”. Tenho a impressão de que aqueles olhares curiosos se tornaram olhares de aprovação.

Agora estou entendendo um pouco mais sobre o espaço e acredito que as formações do Paralapracá, as contribuições teóricas e as leituras sugeridas pela coordenadora estão contribuindo significativamente para as mudanças na minha prática.

6 Esta é uma atitude importante! Porque, quando temos pressa em “deixar tudo ar-rumado”, geralmente diminuímos as pos-sibilidades de participação das crianças e até mesmo dos demais membros da insti-tuição e da família.

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Revolução para lá pra cá

LIANA SOARES COORDENADORA MARIA FRANCISCA DO NASCIMENTO GESTORA CORINA DE PAULA ARAÚJO SUPERINTENDENTE ESCOLAR,

SUBSTITUTA DA COORDENADORA NO EIXO ASSIM SE ORGANIZA O AMBIENTE

Cmei roseana martins, Crianças de 3 a 5 anos, teresina · pi

O Cmei Roseana Martins mudou de cara após as for-mações do Paralapracá, o que permitiu a todos com-preender que brincadeira é algo que deve ser propor-cionado diariamente na rotina das crianças durante a Educação Infantil.

As mudanças ocorridas são fruto de uma profun-da reflexão sobre prática pedagógica da instituição e da qualidade da educação oferecida diariamente às crianças. Esta reflexão surgiu durante os encontros formativos do Paralapracá, em que foram priorizados o compartilhamento de ideias e a busca por encontrar coletivamen-te maneiras de utilizar os espaços da instituição, a fim de proporcio-nar mais atividades lúdicas para as crianças.7

Logo na entrada do Cmei está organizado um cantinho, pensado para aproximar os pais do ambien-te escolar, denominado “Enquan-to meu filho não sai”. 8 Neste local ficam disponíveis revistas, livros, textos informativos, receitas diver-sificadas e muitos outros materiais, com o objetivo de não só manter os pais informados, mas também de entretê-los enquanto aguar-dam a saída dos filhos e de apro-ximá-los da instituição para melhor compreenderem a rotina diária dos filhos. O cantinho foi pensado e montado pela superintendente escolar Corina de Paula, na época coordenadora substituta, e organizado com a ajuda da gestora, dos professores e da comunidade, que contribuiu doando bancos, materiais impressos e cai-

7 Uma das principais contribuições do processo formativo acontecer sistema-ticamente dentro das instituições é que as aprendizagens ocorrem a partir da re-flexão sobre problemas reais, contextua-lizados. Isso possibilita tomada de cons-ciência e tomada de decisão. Ou seja, a formação promove, efetivamente, melho-rias na qualidade da educação oferecida.

8 Refletir sobre a organização dos espa-ços do CMEI, pensando não só nas crian-ças, mas também em como aproximar os pais e, ao mesmo tempo, informá-los, foi uma iniciativa muito pertinente. Sabe-mos que a relação família e escola deve ser fortalecida, e iniciativas como esta aproximam e, ao mesmo tempo, promo-vem a socialização de informações e da rotina da instituição.

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xas para organizar os registros. No início, os pais fi-caram um pouco arredios, mas depois foram se apro-ximando e até ajudando na construção do espaço. Teve um pai que disse: “Esse espaço está tão bonito, que eu vou doar um banco para acomodar melhor as pessoas”. Nesse espaço tem também o “Socializan-do”, que é uma caixa onde os pais colocam receitas ou coisas que leram e acham interessante. “Eu pes-quiso também coisas sobre o desenvolvimento e o cuidado das crianças e coloco aqui para dar mais um embasamento para eles. Outra coisa que eu coloco aqui são histórias, para que leiam e contem para o filho”, disse Corina de Paula, que coordenou esta iniciativa. O resul-tado foi surpreendente!

Além disso, pensando em for-mas de envolver os pais, ajudando--os a compreender as mudanças ocorridas na instituição com a che-gada do projeto, convidamos um grupo para participar das forma-ções com os professores. Levamos para a formação um número de pais que desse para fazer a disse-minação das informações. A partir daí eles conversavam com outros no cantinho “Enquanto meu filho não sai”. Aí o Paralapracá passou a ser ainda mais compreendido. “Ma-ravilhoso!”, comentou Marlene V. Pereira, mãe de crianças de 3 e 5 anos. “Foi muito emocionante par-ticipar, porque me lembrei de quan-do eu era criança e frequentei a creche, porque essas coisas marcam muito. Para a criança, principalmente, é muito importante brincar, conversar, como eu vi no dia da formação.”9

Graças ao aprendizado adquirido durante as for-mações e à colaboração de todos que fazem parte do Cmei, atualmente crianças, pais e professores des-frutam diariamente de diferentes espaços projetados para garantir a integração de todos, a felicidade dos pequenos e o aprendizado de forma prazerosa.

Outra ideia gerada a partir do eixo Assim se Orga-

9 Muito importante esta iniciativa de envolver os pais nesse processo de mu-dança! Os profissionais desse cmei com-preenderam que a família é parte da ins-tituição e que tem direito, e não só dever, de acompanhar as propostas feitas para seus filhos. Inseri-los em alguns encon-tros de formação do Paralapracá foi mes-mo uma iniciativa muito produtiva, pois este é, sem dúvida, um jeito de fomentar sua participação crescente e de os ajudar a compreender os propósitos e sentidos do trabalho que a instituição desenvolve. No capítulo sobre cultura colaborativa do Caderno de Orientação O Coordena-dor Pedagógico e a Formação Continuada, da Coleção Paralapracá, é possível apro-fundar esse tema.

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9 Muito importante esta iniciativa de envolver os pais nesse processo de mu-dança! Os profissionais desse cmei com-preenderam que a família é parte da ins-tituição e que tem direito, e não só dever, de acompanhar as propostas feitas para seus filhos. Inseri-los em alguns encon-tros de formação do Paralapracá foi mes-mo uma iniciativa muito produtiva, pois este é, sem dúvida, um jeito de fomentar sua participação crescente e de os ajudar a compreender os propósitos e sentidos do trabalho que a instituição desenvolve. No capítulo sobre cultura colaborativa do Caderno de Orientação O Coordena-dor Pedagógico e a Formação Continuada, da Coleção Paralapracá, é possível apro-fundar esse tema.

10 Encantamento! Que palavra impor-tante quando refletimos na forma como o ambiente pode ser um promotor de aprendizagens. Encantar-se é o primeiro passo para desejar aprender. Neste senti-do, a Casa do Conto é um exemplo im-portante de como a aprendizagem da lei-tura e da escrita pode acontecer de forma intencional, lúdica e potente.

niza o Ambiente foi a construção de uma ca-sinha para incentivar a leitura de forma ainda mais atrativa. A casinha, conhecida como “Casa do Conto”, foi primeira-mente feita de papelão e tecidos diversifica-dos, porém, devido ao seu uso constante, logo desmoronou, o que re-sultou em um novo pro-jeto de construção, muito mais resistente e durável. A nova casa, feita de madeira, foi construída pelo vigia Francílio de Oliveira França, com a ajuda material dos professores, dos gestores e dos pais. Apesar de o novo material dificultar a circulação da casinha a ou-tros espaços da instituição, esta esboça mais beleza e resistência, permitindo maior uso e exploração do material pelas crianças, que se encantaram com esse recurso literário.10 A casinha agora é conhecida com a

“Casa do Conto ii”.

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O balanço do tio José

E as mudanças não param por aí. Movidos ainda pelas formações an-teriores do Paralapracá e impulsio-nados pela formação do eixo Assim se Organiza o Ambiente e também pelo desejo de proporcionar mais opções de lazer para as crianças, os olhos se voltaram para a construção de um parque 11, pois os espaços do brincar precisavam ser ampliados.

A instituição dispõe de amplo espaço externo, porém estes es-paços se encontravam até então esquecidos devido ao forte sol na terra. Após refletir sobre o que poderia ser feito com esse espa-ço, utilizando materiais acessíveis e resistentes, veio a ideia de fazer um parquinho utilizando pneus velhos.12

Mais uma vez os pais entraram em cena e fizeram a doação de pneus usados, que foram pinta-dos pelo vigia da instituição, o se-nhor José Pereira da Silva, com a ajuda das crianças. 13 Este foi o pri-meiro passo! O segundo foi mon-tar o parquinho, que também teve como responsável pela construção o vigia da instituição. Surgiu assim mais uma alternativa para o brincar das crianças.

O destaque do parquinho é um balanço de madeira. Devido ao forte sol de Teresina, teve que fi-car dentro de uma casinha feita de tronco de árvores e coberta de palha. A ideia resultou num lindo e original balanço, que recebeu o nome de Balanço do tio José 14, em homenagem ao vigia da instituição, que não mediu esforços para tornar

11 “Pensar o espaço educativo não se res-tringe, pois, a pensar a sala, espaço edifica-do, interno, mas a pensar que todos os es-paços da instituição são extensões uns dos outros e, como tais, merecedores de um olhar mais aguçado e comprometido com as relações que ali se estabelecem.”Ferreira, 2011, p. 164

12 Na sua instituição também há espa-ços ociosos ou mal aproveitados? Pois, então, é hora de fazer uma análise des-ses lugares para ver se há possibilidade de transformá-los em ambientes de aprendi-zagem para as crianças.

13 O que o adulto não pode esquecer é que os espaços a serem por ele organiza-dos, estruturados, são para as crianças, são das crianças. Dessa forma, implicam a participação delas nas decisões sobre os objetos/brinquedos que farão parte deles. Para isso, precisamos olhar para as crian-ças e escutar também o que não dizem. Escutar o que não dizem é perceber suas múltiplas expressões, reveladoras das par-ticularidades de cada uma, que mostram sua forma de ver, sentir e pensar o mundo.

14 Este balanço pode ser considerado uma típica tecnologia nordestina, pois, com a utilização de materiais simples e próprios da região, se encontrou a solu-ção para um problema sério em áreas ex-ternas e que muitas vezes impede a utili-zação do espaço: o calor.

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esse sonho real: “Eu já estava me sentindo muito feliz e valorizado por ter sido convidado pela professora Co-rina para participar da formação. Quando ela me dis-se que o balanço receberia o meu nome, fiquei muito emocionado e feliz, pois para mim o que valia mesmo era a alegria das crianças se divertindo no parquinho”.

Autonomia no lanche

Outra manifestação positiva da comunidade do Cmei Roseana ocorreu também durante as reflexões na for-mação do eixo Assim se Organiza o Ambiente, quando em uma cena projetada no vídeo Assim se Organiza o Ambiente as crianças se serviam autonomamente na hora do lanche. Essa situação muito nos motivou a mu-dar a hora do lanche no Cmei.

Passamos a compreender que as crianças podem ser-vir-se, num exercício claro de autonomia, demostrando capacidade de conduzir ações por si próprias, levando em conta regras, sua perspectiva pessoal e a do outro.

Ao permitirmos que as crianças se servissem, possibilitamos a elas o entendimento de que a higiene, o cuidado e a limpeza pessoal e do espaço são princípios básicos para uma boa convivência social, seja na escola ou em casa. Essa iniciativa implicou outras mudanças no com-portamento das crianças e na roti-na, pois observamos que, depois dessa medida, elas passaram a ter noção do quanto costumam comer, e isso tem evitado o desperdício de alimentos, antes muito comum.15

Para a gestora Maria Francisca Ferreira do N. Sil-va, antes as crianças deixavam muita comida no pra-to, pois a merendeira não podia adivinhar quanto cada uma come. Assim ela padronizava uma quantia igual para todas. Hoje, como elas próprias se servem, co-locam no prato apenas a quantidade de alimento que vão consumir, evitando desperdícios. Em apenas qua-tro semanas, as crianças se adaptaram à nova rotina.

15 Você já parou para pensar em como este tipo de atividade promove apren-dizagens importantes para todos? Uma delas, por exemplo, é que precisamos acreditar verdadeiramente que as crian-ças podem, que são competentes e que aprendem pela experiência. Que tal ex-perimentar propor algo que você não está tão certa de que as crianças podem fazer e dar tempo e oportunidade para ver o que acontece?

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16 Olha o resultado na aposta à capaci-dade das crianças!

A ideia de oferecer o lanche na sala, deixando que as crianças se sirvam, não agradou a todos de início. Foi preciso tempo para que os benefícios viessem à tona. É o que conta Cleonice Evan-gelista de Lima, merendeira do Cmei: “No começo eu não gostei muito não, porque a gente tinha que levar a comida para que as crianças mesmas se servissem. Elas se sujavam, sujavam o local, era difícil. Agora eu vejo que isso é muito útil, pois hoje elas já se servem sem derramar nada no chão e aprenderam a ser mais organizadas, ficaram mais cuidadosas com as coisas. Hoje eu vejo que esse projeto foi o melhor que aconteceu nesta creche”.16

O Paralapracá foi o ponto de partida para estas con-quistas, uma vez que o conhecimento proporcionado pelas formações e estudos relacionados ao projeto foi o impulso que gerou inquietações e reflexões, resul-tando na transformação do Cmei Roseana Martins.

Também em Teresina · pi, a equipe gestora do Cmei Joffre Castelo Branco arregaçou as mangas para re-solver um problema de falta de espaço para brincar. Mobilizadas pelas reflexões nas formações do Para-lapracá, a coordenadora Maria Helena F. Costa e a gestora Maria Teresa Fortes tiveram a ideia de trans-formar a quadra, até então sem nenhum atrativo, em um parque para as crianças. Para isso contaram com a colaboração dos professores e da comunidade. Con-seguiram com o Corpo de Bombeiros algumas man-gueiras e engates sem uso. A gestora e seu marido foram os mais engajados para tornar real este sonho. Recolheram pneus velhos, arranjaram as tintas para pintá-los e outros materiais que serviram para cons-truir o parque. A coordenadora conta que, como resul-tado, as crianças se distribuem melhor nas duas áreas abertas do Cmei, além de ter havido redução de qua-se 100% dos acidentes e quedas.

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Os conteúdos iniciais da educação das crianças pequenas apresentam uma profunda relação com a vida cotidiana. São, inicialmente, os conteúdos desta faixa etária: o alimentar-se, o lavar-se e o vestir-se, o descanso, o controle do corpo, o brincar, o jogar e o explorar a si mesmo e ao entorno, o separar-se e o reencontrar-se, o movimentar-se, o conviver com os demais e tantos outros conteúdos. Nessa perspectiva, as práticas sociais não são ações banais, pois são ações que envolvem emoção, desejo, corpo, pensamentos e linguagens. Os conteúdos da educação infantil têm como referência a aprendizagem das práticas sociais de uma cultura, isto é, as ações que uma cultura propicia para inserir os novos na sua tradição cultural.barbosa, 2009, p. 83

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Salas temáticas

ANA PAULA MOTA PROFESSORA E FORMADORA

esCola muniCipal iraCi rodovalho, Crianças de 4 a 5

anos, Jaboatão dos guararapes · pe

O ano de 2011 foi marcado por muitos desafios incita-dos pelo Paralapracá à Educação Infantil na nossa ins-tituição. A cada encontro de formação, nossa equipe, pouco a pouco, foi despertada aos estudos aprofun-dados da área, às trocas de experiências e, com isso, à compreensão em torno do funcionamento da Educação Infantil a partir do brincar como eixo estruturador do de-senvolvimento da criança, o que foi se tornando uma característica da identidade que o grupo estava cons-truindo. Contudo, os desafios para executar a teoria na prática foram dando força às inquietações que cresciam no decorrer daquele ano. Tínhamos alguns membros da equipe engajados para efetivar ações inovadoras em suas práticas pedagógicas e outros que apresenta-vam uma compreensão de tudo o que era exposto nos encontros formativos, mas que no universo da sala se mostravam travados, limitados e presos a modelos obsoletos. Os ma-teriais estavam sendo pouco utiliza-dos e a ampliação da exploração do potencial criativo da criança, tolhida.

Diante da situação exposta, nos-sa gestora convidou a professora/formadora para conversar sobre a configuração do trabalho, a fim de pensar em estratégias alternativas para contagiar nosso grupo e rom-per com as posturas tradicionais e visões deturpadas da Educação In-fantil como preparação para o En-sino Fundamental. 17 Ao fim do ano, imbuídas das discussões propicia-das pelo eixo Assim se Organiza o Ambiente, a ideia de dar temas às quatro salas disponíveis para a Edu-cação Infantil surgiu na tentativa de impulsionar ações condizentes ao que estávamos sonhando realizar

17 Esta é uma problemática enfrenta-da por muitos profissionais da Educação Infantil. A ideia de uma educação pre-paratória, focada no futuro da criança, é muito disseminada na sociedade e tra-duz a ideia da criança como um projeto, e não como um sujeito pleno de direitos com a peculiaridade de estar em forma-ção. Assumir a criança como um sujei-to pleno de direitos significa fundamen-talmente pensar nela como tendo uma existência no tempo presente, com ne-cessidades e demandas, desejos e ideias que precisam encontrar um ambiente de acolhimento, atendimento, cuidado e orientação. O foco não é o que ela vai ser depois, mas o que ela é agora, embo-ra, com certeza, essas vivências terão im-plicações no futuro, não só na vida esco-lar, mas para toda a vida.

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com nossas crianças, bem como de inquietar as profissionais que reve-lavam acomodação e falta de enco-rajamento para tentar o novo.

A ideia foi detalhada em um plano de ação para o ano de 2012. Teríamos quatro salas temáticas — Artes, Movimento e Audiovisual, Brinquedoteca e Atividades Gerais

—, que funcionariam em esquema de rodízio, de modo que, diaria-mente, cada turma passaria por dois ambientes.18

Organizamos o plano e o apre-sentamos às professoras. Umas se inclinaram à aceitação, outras niti-damente expressavam resistência ao desapego da “minha” sala de aula. 19 A discussão sobre a possibi-lidade apresentada de ser executa-da foi intensa, mas saímos da reu-nião com a aceitação de tentarmos nos lançar ao desafio de criar uma nova forma de organizar os espa-ços, com o cuidado de preservar o que é próprio da infância: o brincar.

Organizando as salas

Finalizado o ano letivo de 2011, estávamos diante do novo ano e disponíveis a realizar novos experimen-tos. Nosso janeiro de férias deu lugar a um mês de arregaçar as mangas para destruir padrões arraiga-dos e construir um novo ambiente para acolher nos-sas ideias. As mesas e as cadeiras já não eram mais tão fundamentais; os materiais particularizados das professoras se transformaram em bens necessários ao objetivo coletivo que nascera conjuntamente. Mui-to entulho foi eliminado e muitos objetos adquiridos pela comunidade e pelo movimento da nossa equipe foram compondo aquilo que estávamos visualizando, mas que não sabíamos ao certo como funcionaria. No

18 Segundo Forneiro (1998), a dimen-são funcional do espaço relaciona-se com suas diferentes formas ou possibilidades de utilização, a sua polivalência (diferen-tes funções que um mesmo espaço pode assumir) e o tipo de atividade à qual se destinam. Ao se deparar com limites na estruturação de espaços, a equipe dessa instituição encontrou uma forma criativa de estruturar os espaços de modo que ati-vidades estruturantes para o desenvolvi-mento infantil fossem viabilizadas.

19 São muitos os termos utilizados na Edu-cação Infantil que revelam o quanto o mo-delo do Ensino Fundamental está presente nesse segmento. A resistência em abando-nar a “sala de aula” é revelador de como é difícil constituir uma identidade própria. E são múltiplas as razões para tal. O im-portante é que, com persistência e envol-vimento, a equipe gestora conseguiu mo-bilizar boa parte dos profissionais para este projeto comum e, com isso, promoveu um diálogo mais profícuo entre teoria e prática.

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entanto, sabíamos que a proposta das salas temáticas não poderia vir a limitar os princípios pedagógicos da Educação Infantil aos espaços específicos que estavam surgindo em nosso ambiente escolar. A se-guir, uma breve descrição de cada ambiente que surgiu: � Artes Pincéis, tintas, tesou-

ras, aventais, jornais e revistas, papéis diversos, sucatas, cola e massa de modelar são alguns dos instrumentos utilizados nesse espaço para a criança “pintar e bordar”. O ambiente se configurou numa espécie de ateliê, em que a criança cria, recria, se deleita e se surpreende com as possibilidades artísticas que podem ser direcionadas por entre as linguagens que fazem parte de sua etapa educativa.

� Movimento 20 e audiovisual Sem mesas no espa-ço, esse ambiente foi pensado para o trabalho ex-pressivo-corporal da criança. Há uma “arara” com fantasias para os momentos de faz de conta, pneus, bambolês, colchonete, cordas, bola, tv, aparelho de dvd, som. Neste espaço também montamos cenários para trabalhar determinados temas.

� Brinquedoteca Neste espaço, reservamos um ambiente para as crianças manusearem livremente diversos gêneros de leitura e vivenciar momentos de contação de histórias e de penetração no mundo da imaginação. Há também uma estante com brinque-dos e fantoches, um cesto com bichinhos de pelúcia e blocos de encaixe e dominós lúdicos.

� Atividades gerais Este é o ambiente que mais se assemelhou ao cenário anterior de todas as salas: mesinhas e cadeiras para o exercício mais sistemá-tico do desenvolvimento da escrita das crianças. Alocamos nesse ambiente os armários das profes-soras, para centralizar os materiais de uso pedagó-gico necessários à rotina de cada turma. Em cada ambiente, afixamos um calendário móvel

com ano, mês, data e dia da semana e um quadro de pregas para a mobilidade das fichas com os nomes das crianças de cada turma. As paredes viraram murais co-letivos e o senso de bem comum a todos brotou, tra-

20 Como nessa instituição o único lugar para brincadeiras externas é a quadra e este é um ambiente pouco estimulador, foi muito importante criar um espaço sem mobiliário, que pudesse favorecer as atividades corporais mais amplas.

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zendo à tona o cultivo do cuidado para manter os am-bientes continuamente prazerosos no nosso dia a dia.

Os ambientes21 foram montados e um esquema de rodízio foi estruturado. A seguir, um exemplo de plane-jamento de uma turma:

Nossa rotina, basicamente, é organizada da seguinte forma: ini-ciamos com um acolhimento, no qual cantamos, conversamos so-bre novidades, quantificamos os presentes, ajustamos o calendário, distribuímos as fichas dos nomes, contamos ou lemos histórias. Após o acolhimento, vivenciamos o pla-no de aula do dia, adaptado ao am-biente em que estamos. Chegado o horário do recreio, as crianças são levadas à quadra e, após esse momento, as turmas retornam ao ambiente em que estavam; as crianças pegam suas mochilas e transitam para outro ambiente, de acordo com a distribuição do dia. Acomodadas no outro am-biente, as crianças merendam e, depois, as professo-ras seguem seu planejamento do dia, também adap-tado ao ambiente em que se encontram. Ao fim do dia, os pais/responsáveis se dirigem às salas para pegar as crianças. Na porta de entrada, há um cartaz que in-forma a sala em que as turmas se encontram em cada dia da semana.

O trabalho com as salas temáticas tem sido bastan-te desafiador para o nosso grupo. As resistências no início do ano foram muitas e os medos também. A de-sistência passou pelas mentes de algumas de nossas professoras. Mas apenas passou… Passou e foi embo-ra para longe! Ainda estamos em processo de adap-tação, aperfeiçoamento e avaliação contínua do nos-

segunda terça quarta quinta sexta

7h30 — 9h30 artes atividades gerais movimento brinquedoteca artes

9h30 — 11h30 movimento brinquedoteca artes atividades gerais movimento

21 “Um ambiente é um sistema vivo em transformação. Mais do que um espaço físico, inclui o modo como o tempo é es-truturado e os papéis que devemos exer-cer, condicionando o modo como nos sentimos, pensamos e nos comportamos, e afetando dramaticamente a qualidade de nossas vidas.”edWards, Catherine; Forman, george e

gandini, leila, 1999

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so trabalho. Porém já chegamos a uma ideia conjunta de que não con-seguimos mais fazer o nosso papel pedagógico da forma como fazía-mos antes: segmentada, particulari-zada, sem brilho e cor.22

A rotina da Educação Infantil se transforma dia a dia com uma novi-dade diferente, com a sede da tría-de professoras-supervisora-gestora em buscar cotidianamente novas vivências, fazendo-as crescerem en-quanto profissionais e seres huma-nos. E mais: realizando uma prática educativa prazerosa, divertida, hu-mana e propiciadora de um cresci-mento qualitativo perceptível no de-senvolvimento das crianças. Esta é a nossa inspiração de cada dia, que nos desafia, nos inquieta e, sobre-tudo, nos impulsiona a tornar real aquilo que sonhamos.

22 Em muitos momentos do relato ficou clara a força do trabalho em grupo para a estruturação das salas temáticas. Se-gundo Marchesi (2008), a colaboração entre professores é o primeiro passo para uma atividade educativa equilibrada e eficaz. O passo seguinte é a existência de um projeto comum. Ao assumir o de-safio de estruturar espaços com melho-res condições de atendimento às crian-ças, a equipe dessa instituição mobilizou boa parte dos profissionais para esse fim e, com esta tarefa compartilhada, pôde promover não só ambientes de melhor qualidade para as crianças, mas também um ambiente mais desafiador e mobili-zador para os professores, que se sentem mais valorizados e capazes

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Núcleos de atividades

MARIA EUGÊNIA DE SOUZA COORDENADORA LIA RAQUEL GOMES DE MELO GESTORA

Cmei teresa de CalCutÁ, Crianças de 3 a 5 anos, teresina · pi

Durante as formações do eixo Assim se Organiza o Ambiente, os professores do Cmei refletiram que pre-parar ambientes com novas e diferentes possibilida-des é uma excelente maneira de estimular o apren-dizado intenso e significativo na Educação Infantil.

A proposta de inovar a aprendi-zagem realizando “Núcleos de ati-vidades coletivas”, apresentados no vídeo Assim se Organiza o Ambien-te, foi da coordenadora Eugênia. A ideia foi um convite para estimular a equipe do Cmei a experienciar, jun-tamente com as crianças, atividades que promovam relacionamentos agradáveis,23 ambientes atraentes e a oportunidade de escolha 24 aos pequenos sobre de qual brincadei-ra participar, pelo tempo que dese-jarem. Cada núcleo foi acompanha-do por uma professora, para assim orientar a criançada, de acordo com o proposto pela Escola Grão da Vida no vídeo do projeto.

Segundo os Referenciais Cur-riculares Nacionais, “a capacida-de de realizar escolhas amplia-se conforme o desenvolvimento dos recursos individuais e mediante a prática de tomada de decisões. Isso vale tanto para os materiais a serem usados como para as atividades a serem realizadas. Podem-se criar si-tuações em que as crianças fazem suas escolhas entre várias opções, em locais distintos ou no mesmo espaço. Esta pode representar uma óti-ma oportunidade de integração entre crianças de dife-rentes idades” (rCnei, vol. 2, p. 39).

23 “Respeitar a criança é não limitar suas oportunidades de descoberta, de conhecê--la verdadeiramente para proporcionar-lhe experiências de vida ricas e desafiadoras, é procurar não fazer por ela, auxiliando--a a encontrar meios de fazer o que quer, é deixá-la ser criança. Respeitá-la é ofere-cer-lhe um ambiente livre de tensões, de pressões, de limites às suas manifestações, deixando-a expressar-se da maneira que mais lhe convém e buscando entender o significado de todas as suas ações”hoFFman, Jussara e silva m.

be atriz g., 2007

24 Colocar as crianças no centro do pla-nejamento pedagógico significa compre-ender que elas têm ritmos, desejos e ne-cessidades diferentes que precisam ser respeitados. A organização por núcleos pode ensinar muito sobre a possibilidade de ter mais flexibilidade na estruturação da rotina. Isso significa pensar: na rotina, em que momentos a criança pode escolher o que deseja realizar? Como a organização do ambiente pode contribuir para que ela tenha ricas opções de aprendizagem?

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Agora, todas as sextas-feiras as crianças do Cmei têm à sua disposição diferentes espaços organizados para promover a integração entre elas e os professores. 25 Nos núcleos são realizadas diferentes atividades envol-vendo o brincar, a arte, a música, a contação de histórias, entre outras, tendo como base os eixos do projeto.

A proposta dos núcleos também se constitui uma boa forma de articu-lar todos os eixos do projeto na prá-tica pedagógica e na rotina do Cmei, um desafio lançado pelo projeto.

Os benefícios dos núcleos já são notados pelos professores, que dizem ter percebido grande inte-resse das crianças pelas ativida-des lúdicas, o que facilita o ensinar brincando.26 “Os pais queriam sa-ber que atividades estavam sendo realizadas no Cmei, pois as crian-ças chegavam em casa eufóricas dizendo gostar muito da escola.” (professora Joselene Quaresma)

As professoras Joselene Quaresma e Leonília Brito registraram alguns depoimentos das crianças: � “Hoje tem brincadeiras no pátio?” anderson gabriel, 5.

� “Posso brincar em todas as brincadeiras?” railson, 5.

� “Fiquei muito feliz com as brincadeiras” Karina, 5.Esse resultado só ressalta a importância da valori-

zação dos espaços e suas múltiplas linguagens, tão bem descrita no vídeo do Paralapracá e ressaltada no Caderno de Orientação pelos especialistas.

As discussões apresentadas foram significativas, instigantes e o resultado são professores mais com-prometidos, mais seguros e desafiados a promover mudanças significativas no seu fazer pedagógico.

25 Por que muitas vezes evitamos o con-tato de crianças de diferentes idades? Qual é a importância dessa interação? O que elas podem aprender convivendo com crianças maiores e menores?

26 As crianças demonstram grande inte-resse porque têm garantido o seu direito de ESCOLHER! Pense nisso! Saiba mais no Caderno de Orientação Assim se Organiza o Ambiente, na seção O ambiente e a auto-nomia da criança.

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� BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Práticas cotidianas na Educação Infantil — bases para a reflexão sobre as orientações curriculares – MEC/SEB, Brasília, DF: 2009.

� BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, vol. 2, Brasília: MEC/SEF. 1998.

� BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 1995. � EDWARDS, Catherine; FORMAN, George e GANDINI, Leila. As cem

linguagens da criança. Porto Alegre, Artmed, 1999. � FALK, Judit. Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy.

Araraquara: JM Editora, 2004. � FORNEIRO, Lina I. A organização dos espaços na Educação Infantil. In:

Qualidade em Educação Infantil. ZABALZA, M. A. Porto Alegre: Art-med, 1998.

� HOFFMAN, Jussara e SILVA M. Beatriz G. Ação Educativa na Creche. Ed. Mediação, 2007

� MARANHÃO, D.G. Saúde e bem-estar das crianças: uma meta para educadores, familiares e profissionais de saúde. Brasília (DF), 2010. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento. Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

� MARCHESI, Álvaro. O bem-estar dos professores: competências, emo-ções e valores. Porto Alegre: Artmed, 2008.

� SCHMITT, Rosinete V. Mas eu não falo a língua deles!: as relações sociais de bebês num contexto de Educação Infantil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

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Samia, Mônica Martins Caderno de experiências:

assim se organiza o ambiente / [autoria

Mônica Martins Samia ; curadoria Avante

– Educação e Mobilização Social, Instituto

C&A]. -- 2. ed. -- Salvador, BA : Avante

– Educação e Mobilização Social, 2018. --

(Coleção Paralapracá)

Vários colaboradores.

Bibliografia.

ISBN 978-85-60828-23-4

ISBN 978-85-60828-13-5 (coleção)

1. Coordenadores pedagógicos 2. Educação

infantil 3. Educadores - Formação 4. Formação

continuada 5. Paralapracá I. Avante – Educação e

Mobilização Social. II. Instituto C&A. III. Título. IV.

Série.

18-13597 Cdd-372.21

dados internaCionais de Catalogação na publiCação (Cip)

(Câmara brasileira do livro, sp, brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação infantil 372.21

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Esta publicação foi escrita por muitas mãos! As mãos de quem viveu ou testemu-

nhou as experiências: professores/as, coordenadores/as e gestores/as das ins-

tituições de Educação Infantil parceiras do Paralapracá. As mãos e o olhar cui-

dadoso de estudiosos da Educação Infantil que realizaram o diálogo teórico e

contribuíram com elementos reflexivos. As mãos laboriosas das assessoras e su-

pervisoras do Paralapracá que contribuíram de forma especial para a coleta dos

registros. As mãos de diferentes colaboradores que se debruçaram sobre os re-

gistros e os organizaram, mantendo a riqueza das experiências e articulando-os

para melhor apreciação. A todos, o nosso reconhecimento, respeito e admiração!

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