caderno de direito civil v
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Direito Civil V
Vinicius Condé Carias
Prof.: Marcus Eduardo de Carvalho Dantas ([email protected])
Horário de atendimento: quinta-feira 17-18h
Bibliografia:
Direitos Reais – Cristiano Farias e Nelson Rosenvald
Direito das Coisas – Orlando Gomes
Data das provas
1ª prova: 04 de maio (sexta-feira)
2ª prova: 22 de Junho (sexta-feira)
Prova final: 05 de Julho (sexta-feira) – todo conteúdo
Obs.: Matéria não cumulativa e, normalmente, aberta.
DIREITOS REAIS
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1) Introdução
Direitos reais ou direitos das coisas?
Por que existe a divergência de nomenclatura entre direitos reais e
direitos das coisas?
A questão principal é a análise do objeto de estudo deste sub-ramo do
direito civil. Os autores consideram que os direitos reais possuem como objeto
as coisas materiais, separando-os da propriedade intelectual, que é um direito
imaterial. Quando se fala em direitos reais, fala-se tradicionalmente no direito
que o homem tem sobre as coisas materialmente consideradas. Sendo assim,
considera-se que direito real é o direito que o homem tem sobre as coisas
materiais. O centro da discussão, portanto, está ligado à materialidade do
objeto.
Num primeiro momento, trabalharemos com os direitos de posse e de
propriedade. Posteriormente trabalharemos com direitos reais de gozo ou
fruição e direitos reais de garantia. Estes são direitos que desempenham um
papel de garantia de crédito, como o penhor e a hipoteca.
Direitos pessoais x Direitos reais
Qual a diferença entre um direito real e um direito obrigacional
(pessoal)? Uma das diferenças diz respeito à relatividade dos efeitos em
relação aos direitos obrigacionais. Os direitos reais são oponíveis a todos,
possuem eficácia erga omnes, enquanto os direitos pessoais só podem ser
exigidos daqueles que fazem parte da relação. O conteúdo da obrigação só
pode ser exigido das partes da relação. Os efeitos são relativos às pessoas
que a constituem. No caso dos direitos reais a obrigação pode ser exigida
indistintamente. Todos estariam obrigados a essa relação. Ex.: todos devem
respeitar a condição de proprietário de um bem referente a uma pessoa. Os
direitos reais possuem um conteúdo absoluto, enquanto os direitos pessoais
possuem um conteúdo relativo.
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Outra diferença é que nos direitos pessoais, para se alcançar o bem
jurídico, é necessária a colaboração do outro. Uma das partes não tem o poder
imediato sobre o bem jurídico pretendido. Nos direitos reais, o titular do direito
tem um poder imediato sobre a coisa, sobre o bem que titulariza, de modo que
ele não precisa da colaboração de ninguém para obter o bem jurídico
pretendido. O bem jurídico pretendido independe da colaboração da outra
parte.
Em algumas situações, alguns direitos reais necessitam da colaboração
do outro para que seu titular obtenha o bem jurídico pretendido. Ex.: na
hipoteca, a pessoa é titular de um direito real (credor – banco), porém, o
devedor continua morando na casa, ou seja, o titular do direito real de hipoteca
precisa da colaboração do outro para exercer o seu direito. No momento da
venda da casa, o banco, titular, precisa da contribuição da outra parte.
2) Características dos Direitos reais
Todas as características em geral apresentam alguma imperfeição, o
que mostra a necessidade de uma visão crítica sobre elas. Não obstante, elas
possuem um importante papel didático na compreensão inicial do objeto.
Cumpre destacar que hoje não se visualiza mais uma separação
estanque entre direito obrigacional e direito real, haja vista que é possível, por
exemplo, haver a cooperação (obrigação pessoal) entre as duas partes para
que uma tenha seu direito real integralizado.
a) Poder imediato
Aderência
Sujeito Passivo Universal
A primeira característica dos direitos reais é o poder imediato. Como
titular do direito real, o proprietário tem um poder imediato sobre a coisa. É ele
que detém o direito real mais amplo em relação a todos os outros.
A consequência do poder imediato é a aderência do direito real à coisa,
de modo que aquele que possui o direito real pode exercer o poder imediato
sobre a coisa. Em virtude disso, o dever que as pessoas têm de respeitar a
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condição do titular do direito real permanece sobre a coisa, independentemente
de quem a detenha. Quem quer que detenha essa coisa continua tendo que
observar a condição jurídica de titular. Onde quer que a coisa vá deve esse
direito ser observado.
Ex.: eu posso emprestar o meu telefone, mas quem quer eventualmente
detenha o bem permanece na condição de devedor de respeito a minha
posição de titular, isso porque o vínculo adere à coisa.
Do outro lado tem-se a condição de sujeito passivo universal. No caso
dos direitos reais, toda a coletividade deve respeitar a condição de titular do
direito. Pode-se opor a condição de titular do direito à coletividade, de maneira
indistinta. Deve a coletividade respeitar essa condição de titular do direito real.
Alguns autores, por conta dessa relação intensa entre a coisa e o direito
real, defendem que a relação jurídica de direito real é uma relação que se
constitui entre o titular e o bem (teoria realista). A estrutura da relação jurídica
seria angular entre o titular do direito e a coisa, isso pela intensidade desse
vínculo. Isso seria possível? Não, porque a relação jurídica é sempre entre
pessoas (teoria personalista), não podendo ter em um dos polos da relação
uma coisa.
Se a relação é sempre entre pessoas, quem são as pessoas na relação
jurídica de direito real? Na relação jurídica de direito real o polo passivo é
ocupado pelo sujeito passivo universal, representado pela coletividade.
Assim, a coletividade tem a obrigação de respeitar a condição de titular do
direito real. Ninguém tem o direito de violar o conteúdo dessa titularidade.
É possível falar que nos direitos obrigacionais a coletividade também
deve respeitar a condição de titular do direito? Tradicionalmente, pela teoria
clássica, não seria possível responsabilizar um terceiro pelo não cumprimento
do contrato, porque ele não faz parte da relação jurídica, não tendo
responsabilidade nenhuma quanto ao bom andamento da relação. Mas hoje
essa teoria clássica vem sendo revista e, assim, a distância entre direitos reais
e obrigacionais vem sendo diminuída quanto a esse aspecto. Desta feita, se
pensarmos bem, podemos reconhecer também esse aspecto de sujeito passivo
universal para os direitos obrigacionais. Os terceiros possuem um dever de
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respeito para com a relação contratual, podendo eles serem responsabilizados
em determinados situações, chamada de tutela externa do crédito.
b) Caráter Absoluto
Oponibilidade erga omnes
Eficácia erga omnes x Relatividade dos efeitos
Se a coletividade está na condição de sujeito passivo universal, isso
significa que o direito real tem caráter absoluto, tendo a coletividade que
respeitá-los.
O caráter absoluto dos direitos reais, assim, diz respeito à eficácia erga
omnes desses direitos. Eficácia é sinônimo de oponibilidade. Os direitos reais
são oponíveis contra todas as pessoas, indistintamente. Todos devem respeitar
o direito do titular sobre a coisa.
Ao contrário da eficácia erga omnes dos direito reais, tem-se a
relatividade dos efeitos dos direitos obrigacionais, ou seja, somente as
pessoas que participam da relação obrigacional previamente pactuada é que
devem respeitá-la. Em outras palavras, o direito obrigacional gera efeitos
apenas entre as partes integrantes do negócio jurídico.
Essa tradicional condição de absoluto ou relativo vem a cada dia sendo
mais contestada.
Ambulatoriedade do Dever Jurídico
A ambulatoriedade está ligada à aderência. O direito real adere à coisa
e permanece com ela onde quer que ela esteja. Ex.: perdi o celular, mas
continuo sendo o proprietário. Assim, qualquer um que encontrar o telefone
deverá respeitar a minha condição de proprietário. É um dever jurídico que
deve ser observado em qualquer situação.
c) Sequela
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Se o direito real adere a coisa de forma permanente e ambulatória
(porque continua com a coisa), o proprietário pode retomar a coisa através do
direito de sequela.
Sequela, então, é o direito que tem o titular do direito real de
retomar a coisa que se encontra nas mãos de quem quer que
injustamente a detenha. A sequela permite que o titular do direito persiga a
coisa, retome o bem.
Ex. hipoteca – o detentor hipotecário não perde a detenção do imóvel
antes do vencimento da dívida. Posso também, enquanto proprietário, vender a
coisa, mas tenho que informar da hipoteca e do risco de perder a casa para o
banco, caso a dívida não for paga, isso em razão do direito de sequela do
banco.
d) Publicidade
Racionalizada > registro
Espontânea
Outra característica é a publicidade. Ela pode ser espontânea ou
racionalizada.
Espontânea é a que surge de maneira facilmente inteligível. O titular
espontaneamente demonstra o poder que detém sobre a coisa. Torna visível o
poder sobre o bem. Ex. se eu estou dirigindo meu carro, demonstro de forma
espontânea que eu tenho o poder sobre ele.
De outro lado, a publicidade é considerada racionalizada quando ocorre
o registro, que é um mecanismo de geração de publicidade de forma
sistematizada, racionalizada.
Sempre que falamos de direitos reais, teremos o registro como
referência, porque os direitos reais dependem dele. Ex.: posso ter o poder
sobre determinado bem, mas essa minha relação não necessariamente reflete
um direito real.
Deste modo, os direitos reais dependem do registro para serem
considerados direitos reais, sendo que a simples apreensão não serve para
determinar quem é o titular do direito real. O registro é fundamental para a
caracterização dos direitos reais, uma vez que somente ele gera a
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oponibilidade erga omnes, de modo que todos indistintamente tenham o
dever de respeitar o direito real.
e) Especialidade
Fala-se ainda na especialidade como característica dos direitos reais. O
objeto do direito real precisa ser muito bem delimitado, deve ser precisado com
exatidão. A especialidade é, pois, a qualificação precisa do objeto sobre o qual
a obrigação se constitui. Isso é importante para que a coletividade saiba o que
ela deve respeitar.
f) Preferência
“prioridade no tempo, prioridade no direito”.
Crédito com garantia real x quirografário
Tem-se ainda a preferência. Aquele que registra primeiro tem o direito
sobre a coisa (prioridade no tempo, prioridade no direito). A prioridade do
registro é que determina a ordem de preferência.
Outro aspecto diz respeito à superioridade do crédito com garantia real
em contraposição aos credores quirografários (só possuem a garantia
pessoal). Porque é interessante ter uma garantia real? É interessante ter uma
garantia real (ex.: hipoteca) porque ela gera segurança quanto ao pagamento
da dívida, pois a garantia real incide sobre um bem determinado dentro do
patrimônio do sujeito. Ex. casa. O direito está vinculado a um bem determinado
e essa condição gera uma preferência no que diz respeito à execução e ao
pagamento dos credores. Os credores que possuem uma garantia real tem
preferência em relação aos credores que não a possuem (credores
quirografários).
g) Taxatividade legal e Tipicidade dos direitos reais
Outras características são a tipicidade e a taxatividade.
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Os direitos reais são taxativos, apenas são direitos reais aqueles
previstos expressamente pelo legislador (em leis esparsas e, principalmente,
no CC). Tem-se um elenco fechado de direitos reais. Isso significa que os
particulares não possuem liberdade para criar novas figuras, de acordo com
sua vontade. É o chamado sistema numerus clausus.
Os direitos reais possuem ainda um conteúdo típico, conteúdo que é
delimitado pelo legislador. As figuras criadas pelo legislador acabam por suprir
a necessidade social em torno da criação dos direitos reais. Ele estabelece um
conteúdo típico, mas isso não significa o esgotamento da possibilidade de
atuação da autonomia privada.
h) Perpetuidade
Última característica dos direitos reais: a perpetuidade. São perpétuos
no sentido de que você não perde o direito em função da passagem do tempo.
Os direitos reais não se extinguem pelo não uso.
Essa característica, no entanto, não é absoluta. Há casos sim nos quais
o não uso do direito real acarreta a sua extinção. Ex.: se a pessoa não utilizar a
servidão a que tem direito pode perdê-la, uma vez que aquele que possui o
terreno com o gravame da servidão tem uma desvalorização no valor do
imóvel.
Obs.: Direito de propriedade
O direito de propriedade é o direito real máximo, mais amplo. Ele é a
principal referência, pois todos os outros representam parcelas do direito de
propriedade, englobando aspectos que individualizados originam outros direitos
reais. O uso, por exemplo, é um dos aspectos do direito de propriedade, assim
como o usufruto.
Sendo assim, pode-se dividir os direitos reais em 2 espécies: o direito
real pleno e os direitos reais limitados.
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Direito real pleno é o direito de propriedade. Já os direitos reais limitados
são os demais direitos reais, os quais levam o nome de “limitados” porque são
parcelas do direito real de propriedade.
Os direitos reais limitados subdividem-se em 3 tipos:
Direitos reais de gozo ou fruição;
Direitos reais sobre coisas alheias;
Direitos reais de garantia.
Entende-se, portanto, que o direito de propriedade é elástico, uma vez
que pode mudar de tamanho conforme as figuras criadas a partir dele.
Ex.: direito real de usufruto sobre uma casa, eu continuo sendo o
proprietário, podendo vender a casa, mas o titular do direito de usufruto não
pode vender, porque seu direito é menor; apesar do direito do titular do
usufruto ser menor, o proprietário também tem seu direto de propriedade
limitado; o direito real de propriedade volta a ser pleno quando o direito de
usufruto se extinguir, como no caso de morte. Desta forma, podemos perceber
a elasticidade do direito de propriedade.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A POSSE
Pergunta : como é possível saber que uma pessoa tem o direito que
alega ter?
No campo judicial, por meio dos elementos probatórios. Mas e no
nosso dia a dia? Por ex, no caso de imóvel, o registro é uma forma de
comprovar a titularidade. Por meio do registro é possível saber se a pessoa
tem o direito que alega ter.
Quando pensamos nos direitos reais, o título não é tão visível nas
relações cotidianas. Ex.: ao ver uma pessoa dirigindo um veículo, não dá para
saber que título aquela pessoa ostenta com o bem.
- a tensão entre o fato social e a causa jurídica
O primeiro ponto na resposta é: através do título é possível averiguar se
a pessoa atua ou não em conformidade com o direito.
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Mas é possível que a pessoa não tenha o título, e ainda assim terá o
direito. Hoje, portanto, em muitas situações, o título por si só não é suficiente
para que a pessoa obtenha a tutela jurisdicional para a defesa do seu direito.
Ex.: usucapião (exemplo clássico de uma situação em que de um lado há uma
pessoa possuidora de um título, mas que não obtém a tutela jurídica dada pelo
seu título em virtude de direitos garantidos pela CF a outras pessoas).
Há, portanto, uma tensão entre o fato social e a causa jurídica (= título).
Ex.: sou titular do direito de propriedade do terreno; alguém passa a morar
nele; ao longo do tempo há um embate entre o proprietário e outra pessoa que
não possui o título, mas tem um direito garantido constitucionalmente.
Questão: o não uso do terreno pode ser considerado um uso do terreno
(especulação)? É uma questão controversa.
O estudo da posse reflete a possibilidade de proteção de uma situação
de fato e de maneira independente do eventual direito. Ou seja, a posse
demanda uma proteção autônoma em relação à propriedade.
Como assim? Uma vez constatada a condição de possuidor, é garantido
a proteção jurídica, independentemente do direito de propriedade. Há inclusive
a possibilidade de uma proteção do possuidor (ex: ação possessória) contra o
proprietário.
Pergunta: qual é o objeto de estudo da posse?
O objeto de estudo é a situação de fato autônoma que tem legitimidade
para ser protegida, independentemente do direito de propriedade.
- conceito de posse - teorias
Teoria Subjetiva de Savigny
Para Savigny, a posse tem 2 elementos essenciais para ser
caracterizada: um objetivo (corpus) e um subjetivo (animus).
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- Elementos:
a) Objetivo > corpus
O corpus representa a detenção material da coisa. Aquele que detém
efetivamente a coisa é o possuidor.
b) Subjetivo > animus domini
O animus domini é a vontade de se apropriar da coisa, de ocupar o
lugar do proprietário.
Apesar de não ser a teoria predominante, a teoria subjetiva tem
importância quando se pensa na usucapião. Neste instituto, há o animus
domini do possuidor do imóvel de se tornar o proprietário.
- problemas da teoria subjetiva
A teoria subjetiva serve para distinguir a condição do possuidor da do
detentor. Detentor é aquele que tem o controle sobre a coisa, tem a relação
material com a coisa, mas não quer se tornar o proprietário; ele exerce direitos
sobre a coisa sob ordens do proprietário. Ex: chofer, caseiro – têm o corpus,
mas não tem o animus; eles seguem ordens do proprietário; são, por isso,
detentores da coisa.
Mas essa teoria falha em outras situações. Por ex, quando se pensa no
locatário de um imóvel. Ele é detentor ou possuidor? Pela teoria de Savigny,
ele seria detentor. Entretanto, o locatário é considerado possuidor.
É importante a distinção entre detentor e possuidor, pois este possui
medidas judiciais para garantir os seus direitos; já aquele não tem meios
judiciais para defender seu direito.
Para tentar consertar sua teoria, Savigny acrescentou a ideia da “posse
derivada”.
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- posse derivada – possuidores sem o animus
Savigny disse que o proprietário pode gerar uma posse em favor de
terceiros sem o elemento subjetivo, ou seja, o possuidor teria a detenção
material da coisa (corpus), mas não teria intenção de se apropriar da coisa
(animus domini).
Entretanto, o jurista cai em contradição, pois primeiro ele disse que é
necessário o corpus e o animus; depois ele diz que é possível uma posse
derivada na qual o possuidor não tem o animus.
Teoria objetiva de Ihering
Teoria adotada pelo CC 2002.
Ihering apresenta críticas à teoria subjetiva.
- Crítica à teoria subjetiva
* subjetivismo desnecessário – reducionismo do corpus
* artificialismo
Ihering diz que a teoria subjetiva não é boa porque apresenta um
subjetivismo desnecessário, de difícil averiguação. Somente é possível
conhecer a vontade de cada pessoa se ela for exteriorizada. As ações refletem
a sua vontade. Portanto, o subjetivismo só é relevante quando exteriorizada a
vontade, materializada por meio de ações. Ex.: um caseiro pode, depois de
muitos anos, querer usucapir o imóvel. Ele começa a fazer obras no imóvel,
age como se fosse o proprietário. Por meio de ações concretas, ele está
mudando a sua condição. Porém, enquanto ele não agir, não é possível saber
se ele tem o animus de se tornar o proprietário.
Além disso, Ihering critica a noção reducionista de corpus dada por
Savigny. O possuidor não perde sua condição simplesmente perdendo a
relação material com a coisa.
Ihering disse ainda que a teoria subjetiva é artificial, não condiz com a
realidade.
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- elementos:
a) corpus > controle sobre a destinação econômica do bem
Para Ihering, a característica do corpus é o controle sobre a
destinação econômica da coisa. Ex: tenho meu relógio roubado na rua.
Perco a posse do bem, pois não tenho mais o controle sobre a destinação
econômica da coisa. O ladrão dará o fim econômico que quiser.
b) affectio tenendi > comportamento de proprietário
- possuidor e detentor não se diferenciam pelo animus
O affectio tenendi é semelhante ao animus definido por Savingy. É a
ideia de que o possuidor tem um comportamento de proprietário.
Alguns dizem que Ihering nega a existência do animus. Isso está errado!
Não é que não existe o animus na teoria objetiva; na verdade, Ihering diz que
através do animus não é possível diferenciar possuidor e detentor. Para ele, o
que permite a correta diferenciação entre possuidor e detentor é a lei (por isso
ser a teoria objetiva).
Atenção! A teoria objetiva não ignora o elemento subjetivo (animus).
POSSE NO DIREITO BRASILEIRO
- CC, 1196 – exercício autônomo
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes
à propriedade.
O legislador quis ressaltar, neste artigo, que a posse é um exercício.
Quando faz referência a “exercício”, verifica-se a ideia de autonomia da posse
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em relação à propriedade. Não é através da verificação do título que se
descobre o possuidor. O importante é verificar quem tem de fato o poder de
exercício de alguns poderes da propriedade.
Ainda que a pessoa tenha o título, se ela não tiver de fato o exercício de
alguns poderes da propriedade, ela não será o possuidor.
O art. 1196 fala em “alguns dos poderes” porque, se fosse todos, haveria
confusão entre proprietário e possuidor. Assim, por exemplo, o possuidor não
possui o poder de disposição.
- conceito de detentor: CC, 1198
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em
relação de dependência para com outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo
como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra
pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.
O legislador fez uma diferenciação entre detenção e posse. E nessa
previsão do legislador é possível verificar aquelas distinções feitas
anteriormente: considera-se detentor aquele que está numa posição de
subordinação em relação ao possuidor; ele recebe ordens do possuidor.
O possuidor tem mecanismos judiciais a sua disposição para a defesa
da sua condição. Já o detentor não os possui.
Do ponto de vista externo, analisando as condutas do detentor e do
possuidor, nem sempre é possível diferenciá-los.
O par. único reflete a dificuldade em se diferenciar detentor e possuidor.
Quando fala em “presume-se”, é uma presunção relativa. Aquele que age
cumprindo ordens presume-se detentor. Mas é possível provar o contrário. Ou
seja, o detentor pode demonstrar que possui a condição de possuidor. Essa
mudança de condição não acontece simplesmente pela vontade do indivíduo;
ela precisa ser atestada por uma mudança de postura do detentor, que passa a
praticar atos que extrapolam a condição de detentor, assemelhando-se à figura
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do possuidor. Ele passa a agir de forma autônoma, em posição contrária ao
possuidor. Neste caso, pode-se falar que o detentor passou a ser possuidor.
Essa mudança de postura faz com que o detentor, agora possuidor,
possa se valer dos mecanismos judiciais cabíveis para a defesa da condição
de possuidor. Além disso, em última análise, essa nova condição permite que o
detentor reivindique a propriedade, por meio do instituto da usucapião.
- natureza jurídica da posse: fato ou direito?
* Fato: Windscheid / Espinola
* Direito: Caio Mário; Orlando Gomes
A posse é um fato ou um direito? Embora essa seja uma discussão
história, hoje não se contesta mais que a natureza da posse é um direito. E por
quê? Porque existem mecanismos judiciais que tutelam a posse. Há uma série
de normas que protegem a condição do possuidor. Ainda que a posse seja
efêmera, ela gera efeitos jurídicos.
Um dos argumentos utilizados para a defesa da condição da posse
como mero fato é a condição do ladrão. Sendo a posse um direito, até mesmo
o ladrão teria direito a posse sobre a coisa roubada. Lembrando-se da ideia de
que a posse é o exercício de alguns poderes inerentes a propriedade, o ladrão
assume a condição de possuidor. Entretanto, trata-se de uma posse injusta,
mas ainda assim ele tem a posse da coisa.
O possuidor, ainda que tenha a posse injusta da coisa, terá direito a
exercer mecanismos judiciais para proteger a sua condição de possuidor. Ex.:
uma pessoa invade uma propriedade; depois outra pessoa invade; aquela
primeira pessoa, possuidor injusto, pode exercer mecanismos judiciais, pois é
possuidor.
Portanto, esse argumento de que a posse não pode ser de direito por
causa do ladrão não prevalece. Hoje se aceita que o ladrão adquire a condição
de possuidor e, por isso, pode exercer os mecanismos judiciais.
Que tipo de direito: real ou pessoal?
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- real: Orlando Gomes; Caio Mário
Uma vez que a posse é um direito, este é real ou pessoal? A maioria dos
autores entende que posse é um direito real. E por quê? Porque a posse tem
os 2 elementos que caracterizam de forma mais efetiva os direitos reais, quais
sejam:
O poder imediato sobre a coisa; e
Oponibilidade erga omnes (todos, indistintamente, têm o dever
de respeitar a condição possessória alheia).
- pessoal: Fachin; Bessone
* não está previsto
* não é levado a registro
* leva o outro direito real
Ao contrário, há aqueles que entendem que a posse é um direito
pessoal, como o professor Fachin. E por quê? 2 argumentos:
A posse não está presente no rol taxativo de direitos reais
elencados pelo legislador.
A posse não está entre os direitos que podem ser levados a
registro.
Assim, a consequência é entender a posse como um direito pessoal do
possuidor; logo, ele não poderia ser transferido.
Mas esses 2 argumentos são formais, não impedem que seja possível
reconhecer concretamente que o possuidor tenha poder imediato sobre a coisa
e possa opô-lo sobre todos.
- Objeto da posse: coisas ou direitos?
* CC, 1916 – art. 485 (?) – “propriedade ou domínio”
* Caso da Escola Politécnica do Rio > Ruy Barbosa – 1896
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* Tese que prevalece: posse somente sobre bens corpóreos
Somente as coisas corpóreas podem ser objeto de posse ou também os
direitos podem ser objeto da posse? Tradicionalmente, a posse incide sobre
bens corpóreos.
Porém, Ruy Barbosa levantou a possibilidade de posse de direitos.
Caso: alguns professores foram afastados de suas funções; Ruy, para
defendê-los, como não havia Mandado de Segurança, criou a tese de que os
professores deveriam ser reintegrados às suas funções porque tinham posse
do direito de exercê-las. Ele entrou com uma medida possessória, com o intuito
de reintegrar os professores às suas funções, considerando que haveria
turbação da posse. Ruy baseou sua defesa no art. 485, CC 1916, o qual dizia
que o possuidor era aquele que tinha o exercício dos poderes inerentes a
propriedade e ao domínio. Assim, Ruy entendeu que o legislador estabeleceu
uma diferenciação entre domínio e propriedade; domínio referia-se a coisas
corpóreas; propriedade englobaria coisas corpóreas e direitos. Era possível,
para essa teoria, falar em propriedade de direitos; logo, era possível falar em
posse de direitos.
Essa tese não prevaleceu. O que vale é que não existe posse sobre
direitos, mas somente sobre coisas corpóreas.
Súmula 228 do STJ: “é inadmissível o interdito proibitório para
a proteção do direito autoral”.
- Posse de direito reais limitados
> “quase posse”
> posse de servidão
Pode-se falar em posse de penhor, usufruto, servidão? Sim, existe essa
indicação no nosso ordenamento. Estes são direitos reais limitados, pois só
representam uma parte dos deveres inerentes a propriedade.
Há o entendimento de que é possível a posse de direitos reais
limitados, pois se busca proteger a relação entre o individuo e a coisa.
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Quando se fala em posse de direitos reais limitados, tem-se também em
vista a relação do individuo com a coisa corpórea. Há, por ex, a possibilidade
de usucapir uma servidão.
Alguns autores chamam essa posse de direitos reais limitados de
“quase posse”.
O detentor é conhecido como “fâmulo da posse”.
É possível a intervenção da posse, que é a mudança da qualificação
da posse. Ou seja, o possuidor justo pode passar a ser injusto. Ex.: aluguei um
imóvel, estou morando nele, sou possuidor justo (a posse foi viabilizada pelo
proprietário); eu posso passar a condição de possuidor injusto, uma vez que eu
tenha sido instado a devolver o imóvel, mas não o faça. Nesse caso, não há a
perda da condição da posse. Ocorreu a intervenção da posse.
- posse sobre bens apropriáveis > questão da posse de bens públicos
CF, 191, § ú
O CC 1916 tinha uma disciplina que dava a entender que só era possível
ter posse sobre os bens que estavam no comércio. Não haveria posse sobre
aquilo que não podia ser apropriado. Só existia posse sobre os bens passíveis
de aquisição. A retirada do bem do trânsito comercial fazia com que a posse
deixasse de existir.
No CC 2002 essa disciplina não se repetiu. E aí fica a dúvida: existe a
posse sobre bens públicos? Não podemos esquecer que, se eu sou possuidor
de um bem público, tenho mecanismos judiciais e tenho também direitos aos
frutos.
O entendimento é que é possível a posse de bens públicos. Porém, não
é possível usucapir um bem público, por expressa previsão constitucional (art.
191, par. único, CF).
Quando falamos de bens públicos, é preciso lembrar que eles se
dividem em bens comuns (praça, rua, etc.), bens de uso especial (prédio da
PJF, etc.) e bens dominicais (são passíveis de alienação, não estando afetados
ao serviço público).
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É possível a posse apenas de bens públicos dominicais. Mas não é
possível a usucapião.
Imagine o caso de uma pessoa ter a posse de um bem público durante
anos; o Estado pode exigir a sua saída? Depende! Isso porque se trata da
chamada “concessão de uso especial”, neste caso, para fins de moradia. A
concessão de uso especial é um direito que, preenchidos os requisitos,
independente da autorização do Estado.
Art. 1.197: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu
poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real,
não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
O artigo fala que existe uma posse direta e uma posse indireta. É o que
se chama de “desdobramento da posse”.
Como proprietário ou possuidor, é possível desdobrar a posse. Ex.: ao
alugar um imóvel, o proprietário transfere ao locatário a posse indireta.
O desdobramento da posse não representa a perda da posse pelo seu
titular inicial.
Tem sentido em falar em “posse direta” quando existe apenas um
possuidor? Não! Só tem sentido falar em “possuidor direto” quando se puder
visualizar um “possuidor indireto”.
Quem é o possuidor direto? No caso da locação, por ex, é o locatário;
ele possui um contato direto com o bem. Do outro lado, há o possuidor indireto,
que é aquele que desdobrou sua posse, que é o locador.
Se há 2 possuidores, ambos tem legitimidade para pleitearem
judicialmente a defesa da posse? Sim! Ambos podem usar medidas judiciais
para proteger a posse. Tanto o possuidor direto quando o indireto podem
pleitear judicialmente a defesa da sua condição frente ao outro. Ex.: um
locatário pode defender sua posse frente ao locador.
Elementos presentes no desdobramento da posse:
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1º) relação jurídica anterior – sempre existirá uma relação jurídica anterior
que dará ensejo ao desdobramento da posse.
2º) caráter temporário desse desdobramento.
3º) há uma certa autonomia do possuidor direto, mas é uma autonomia
limitada pela relação jurídica anterior. Ex.: no caso da locação, essa autonomia
é regulada pelo contrato.
4º) A posse que era única, desdobrou-se. A posse única passou a ser posse
indireta, surgindo também a posse direta. Existe uma gradação, especialmente
quando se pensa nos direitos dos possuidores. O possuidor indireto tem mais
poderes do que o direto, inclusive regulando quais são os poderes do
possuidor direto. É possível, ainda, um novo desdobramento (ex.: sublocação).
- composse
Art. 1.199 - Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa,
poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios,
contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
a) “coisa indivisa”
b) Origem condominal
c) Composse indireta/posse direta, etc..
d) Utilização dos interditos entre os compossuidores
Composse é a posse conjunta sobre o mesmo bem. Há mais de uma
pessoa exercendo a posse sobre o mesmo bem. Ex.: condomínio.
O artigo fala em “coisa indivisa”. Essa expressão não deve ser lida como
sinônima de “indivisível”, pois a coisa está sobre o “estado de indivisão”, mas
isso não quer dizer que não pode ser dividida.
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Ex.: 2 proprietários de um imóvel resolvem alugá-lo. Há nesse caso
composse? Seriam compossuidores indiretos. Se o domínio é compartilhado, a
posse também será compartilhada, ainda que indireta.
Portanto, a copropriedade liga-se necessariamente a composse.
Ex.: 2 proprietários alugam um imóvel. Eles terão a posse conjunta
indireta (compossuidores indiretos). O locatário será possuidor direto. Percebe-
se, neste caso, o desdobramento da posse na “horizontal” (composse) e na
“vertical” (posse direta/indireta).
É possível ter também a posse indireta e a composse direta. Um único
proprietário aluga o imóvel para mais de uma pessoa.
Se a coisa se encontra no estado de indivisão, não se tem uma limitação
de como cada pessoa poderá exercer sua posse. A coisa ser indivisa implica
que todos os possuidores podem exercer a posse sobre toda a coisa. Ex.: 2
locatários (compossuidores diretos); não existe limitação, como posse só do
quarto e do banheiro; é a posse de todo o imóvel.
Se todos são possuidores da mesma forma, todos possuem os mesmos
poderes. Eles precisam entrar em acordo no exercício de seus direitos. O
exercício do direito de posse por um não pode impedir o exercício do direito de
posse do outro.
Se eventualmente essa harmonia não existir, o 1199 diz que os
compossuidores podem defender a sua posse tanto em relação a terceiros
quanto ao outro possuidor.
Os possuidores tem legitimidade para usar os interditos possessórios
em caso de turbação da posse por um deles. Ex.: um dos locatários impede
que o outro entre no imóvel; isso não é possível, pois está turbando a posse do
outro; sendo a coisa indivisa, todos os possuidores têm os mesmos poderes
sobre a coisa; eles estão numa posição de igualdade; em caso de turbação,
pode se valer das ações possessórias.
Portanto, qualquer possuidor pode defender seu direito à posse tanto
frente a terceiros como frente aos demais possuidores.
- CC, art. 1.200
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Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina
ou precária.
* posse justa – desprovida de vício na aquisição
* posse violenta (física ou moral)
Esse artigo trata dos vícios objetivos da posse, que são a violência, a
clandestinidade e a precariedade.
A posse adquirida sem vícios objetivos é a chamada “posse justa”.
Toda posse que for adquirida mediante violência, clandestinidade ou
precariedade será uma “posse injusta”.
Quais as consequências dos vícios objetivos e subjetivos da posse?
Esses vícios refletem no instituto da usucapião (eles colocam um quantidade
maior de requisitos, dificultando a usucapião) e também nos frutos decorrentes
da coisa.
Os vícios objetivos da posse, segundo a doutrina, devem ser
interpretados restritivamente. Por ex, a violência seria o uso da força direta
contra o legítimo detentor da posse da coisa.
Ex.: um grupo de baixa renda invade um terreno que está vazio, não
havendo um embate físico com o proprietário. Essa posse é justa ou injusta?
Pela ideia de interpretação restritiva, não houve violência (uso de força física).
Além disso, pode até se pensar que não houve clandestinidade, entendendo
esta como aquela que é feita “às escuras”.
Mas essa definição de posse injusta não é pacífica. Por ex, Marcos Rios
Gonçalves entende que no exemplo do grupo que invade o terreno quebrando
a entrada constitui posse injusta por meio da violência.
Portanto, a posse violenta é aquela ligada a uma força exercida
indevidamente para a aquisição da posse. É importante entender que o uso da
violência se dá diretamente para a aquisição da posse. Essa violência pode ser
física ou moral.
Questão: O esbulhado pode utilizar a força para retomar sua posse?
22
O esbulhado é aquele que perdeu a posse da coisa para alguém
(esbulhador).
Caso: o indivíduo tinha adquirido a posse de forma clandestina de parte do
terreno de uma pessoa. Esta, sabendo disso, não fez nada. O esbulhador
faleceu. Seu filho continuou morando no terreno. Posteriormente, o esbulhado
juntou um grupo de amigos e queria retomar a posse do terreno, que estava
sob as mãos do filho do esbulhador. Nesta hipótese, o esbulhador agiu
corretamente? Não!
O esbulhado pode defender a sua posse, desde que seja imediatamente
e na proporção em que ele sofreu a força (desforço imediato). Ele não pode
querer retomar a posse posteriormente. Para tanto, ele tem meios judiciais,
como a ação de reintegração de posse.
O detentor pode retomar a posse? Sim! Ele pode usar da força para
defender a posse do possuidor, desde que o faça imediatamente e na
proporção com a qual a posse foi tomada (desforço imediato).
Obs.: Orlando Gomes diz que, quando o detentor usa da força para defender a
posse, está agindo na condição de possuidor.
Portanto, a legítima defesa da posse é possível desde que seja
imediatamente após a turbação da posse, e o uso da força deve ser
proporcional àquela que o esbulhado sofreu.
Obs.: Farias e Rosenvald falam que aquele com o qual o esbulhador está
disputando a posse é chamado de “detentor autônomo”.
- CC, 1208 - “enquanto persistir...”
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou
tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
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Enquanto houver violência ou clandestinidade, não há que se falar em
posse, ainda que injusta. Somente após o fim dos atos de violência ou de
clandestinidade é que existe a posse injusta.
Alguns autores, erroneamente, dizem que a posse deixa de ser injusta
quando cessar a violência ou a clandestinidade. O correto, segundo o 1208, é
que a posse passa a ser injusta quando termina os atos de violência e de
clandestinidade. Enquanto houver o embate, não há posse para o esbulhador.
- o esbulhador tem proteção contra o possuidor primitivo? Relatividade dos
efeitos
O esbulhador possui mecanismos judiciais para defender a sua posse
injusta contra o possuidor primitivo? Temos que analisar 2 questões.
Ex.: João emprega violência e toma a posse de Manoel. João é
possuidor injusto. Se um terceiro (José) decide ocupar o lugar de João, pode
este usar de meios para defender a sua posse frente a José? Sim! Isso porque
a posse injusta só pode ser combatida por aquele que detém realmente o
direito a posse (o possuidor primitivo).
Somente aquele que sofreu a violência, a clandestinidade e a
precariedade pode pleitear judicialmente a retomada da posse. Um terceiro não
pode se valer disso. Por isso, o esbulhador pode usar de meios judiciais para
defender sua posse injusta contra um terceiro que turbe a sua posse.
O entendimento é que o possuidor injusto (que tomou o lugar do
possuidor primitivo) tem a sua posse injusta estabilizada conforme o tempo que
ele a exerça. Se a tentativa de retomada da posse se der após 1 ano, o
possuidor primitivo não tem direito de retomar a posse imediatamente. O
entendimento é que o período de 1 ano consolida a posse injusta.
Esse período de 1 ano não converte a posse injusta em justa. Ele
apenas impede a retomada da posse imediata pelo possuidor primitivo. Isso
evita, por ex, que este consiga uma liminar. É uma questão processual.
Obs.: Maria Helena Diniz fala que a posse se converte em justa. Não!
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- violência para a celebração de negócio jurídico do qual decorre a posse
Gustavo Tepedino diz que, se a violência for empregada para a
celebração de um negócio jurídico, a partir do qual a posse decorrerá, essa
posse não será injusta, isso porque a violência não foi usada diretamente para
adquirir a posse, mas sim para a celebração do negócio jurídico. Assim, a
violência é causa para a anulação do negócio jurídico (defeito do negócio
jurídico – coação).
- posse clandestina
A posse clandestina é um nome impróprio, pois a posse será injusta,
o meio empregado para o exercício da posse é que será clandestino.
O 1208 diz que, enquanto houver clandestinidade da ação, não haverá
posse. Ex.: uma pessoa muda a cerca do terreno durante a madrugada. Neste
caso, o meio é clandestino.
A posse só deixa de ser clandestina a partir do momento em que há a
publicidade do exercício da posse injusta, do ato que gerou essa posse injusta.
Isso porque o possuidor primitivo só poderá defender sua posse depois que
efetivamente a tiver perdido.
- posse precária – abuso de confiança
Na posse precária o possuidor é legítimo num primeiro momento, mas
depois ele se torna um possuidor injusto.
Ex.1: locatário que se recusa entregar o imóvel.
Ex.2: zelador (detentor) se recusa a sair do imóvel.
Obs.: Muitos autores ligam a posse precária ao abuso de confiança. Dizem
que o abuso de confiança não admite a convalidação.
Analogia: * Posse Violenta = roubo
* Posse Clandestina = furto
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* Posse Precária = apropriação indébita
- posse injusta permite usucapião?
A posse injusta permite usucapião? Sim! Os vícios objetivos não
impedem a aquisição da posse pela usucapião. Existe, por ex, a usucapião
extraordinária, que não exige sequer boa-fé.
Portanto, a presença dos vícios objetivos por si só não impede a
aquisição do imóvel pela usucapião.
- CC, 1201 – vícios subjetivos
Art. 1201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício,
ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei
expressamente não admite esta presunção.
- “aquisição da coisa”
A autonomia da posse em relação à propriedade impõe uma
interpretação ampla, de modo a considerar “aquisição da coisa” como
aquisição da posse e não apenas aquisição da titularidade da coisa (ou seja,
transferência da propriedade).
- pressupõe a existência de vícios
- boa-fé subjetiva – desconhecimento do vício
O 1201 fala em ignorância de vício ou de obstáculo. Isso significa que o
vício ou obstáculo existe, mas é desconhecido.
A posse é de boa-fé se a pessoa ignora, não conhece os vícios. Se a
pessoa conhece os vícios, a posse é de má-fé. Em ambos os casos, a posse é
viciada, pois existe algum obstáculo que impede a posse da coisa.
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A posse a non domino é posse viciada? Sim! Não houve violência,
clandestinidade ou precariedade, mas a posse foi adquirida de quem não era
possuidor.
Ainda que não haja vício objetivo, a legitimidade da posse pode ser
contestada e a análise da boa-fé será necessária. Outros elementos podem
interferir na qualificação da posse.
Desta forma, aquele que adquiriu a posse daquele que não era o
legítimo possuidor, embora não haja vícios objetivos, terá uma posse ilegítima.
- valoração da conduta
A posse, tanto com vícios objetivos quanto subjetivos, é injusta. O que
as diferencia é apenas o aspecto da ignorância ou não do vício ou do
obstáculo.
Apesar da referência doutrinária quanto ao caráter subjetivo do vício, a
valoração do conhecimento do vício será feita de acordo com a atitude do
sujeito, ou seja, deverá existir uma valoração da conduta para qualificar a
posse como de boa ou má-fé.
- justo título – causa eficiente da posse
O 1201 fala em “justo título”. O que é isso? Ex.: uma escritura não
registrada não é um justo título, pois o registro é essencial para a transferência
da propriedade.
A doutrina e a jurisprudência divergem, mas se pode dizer que justo
titulo é o titulo que, ao menos em tese, é hábil para realizar a transferência do
direito. Diz-se que justo título é “a causa eficiente da posse”.
Por que a referência “ao menos em tese”? Porque, se o título fosse
capaz de transferir concretamente a posse, não haveria divergência doutrinária
e jurisprudencial. Assim, por ex, o compromisso de compra e venda não
registrado é, para o STJ, um justo título para a transferência da posse.
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O individuo que alega ser o possuidor precisa ter um fundamento jurídico
do direito que alega ter. A noção de “justo título” está ligada a essa
necessidade de fundamentação jurídica.
Ex.: eu invadi um terreno e me instalei lá; não há uma causa jurídica
suficiente; não há um justo título.
- posse de boa-fé com justo título
- justo título sem boa-fé
- boa-fé sem justo título
Existe justo título sem boa-fé? É possível ter justo título com consciência
do vício acerca de uma posse? Ex.: moro com meu pai num terreno esbulhado
por este; meu pai morre e eu adquiro a posse que era dele (pois a posse está
dentro dos direitos decorrentes da herança); aqui se percebe posse com justo
título, mas sem boa-fé.
É possível reconhecer a má-fé também quando alguém adquire
onerosamente um terreno que foi esbulhado, tendo o adquirente conhecimento
desta situação. Aqui também há posse com justo título e sem boa-fé.
Mas, é possível ter posse de boa-fé sem justo título? Sim! Ex.: ajustes
de compra e venda feitos de forma não disciplinada pelo direito nas
comunidades de baixa renda; as transações imobiliárias feitas nessas
comunidades sem observância das formalidades legais. Nesse caso, há boa-fé,
porém não há justo título.
Então, percebe-se que o “justo título” e boa-fé não caminham juntos; são
ideias independentes.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e
desde o momento em que as circunstâncias façam presumir
que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
Esse artigo indica a possibilidade de modificação do caráter da posse,
ou seja, da mudança da posse de boa-fé para a posse má-fé.
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Muitos autores dizem que a posse não pode ter o seu caráter modificado
simplesmente por questões subjetivas, psicológicas, mas é preciso
circunstâncias objetivas, condutas que externalizem a sua má-fé.
- como a mudança pode ser atestada processualmente?
Os autores discutem como se comprova essa mudança.
Digamos que uma pessoa está exercendo a posse e outra pessoa vem e
protesta judicialmente essa posse. A partir de que momento este possuidor que
está sendo demandado judicialmente caracteriza-se como possuidor de má-fé,
ou seja, omite os vícios? Ou seja, a partir de que momento o possuidor de boa-
fé passa a ser de má-fé?
Existem 3 posições sobre o tema:
1ª) diz que o indivíduo deixa de ser possuidor de boa-fé a partir da propositura
da ação (Orlando Gomes). O professor não concorda com essa posição.
2ª) diz que a má-fé surge a partir da citação, pois é a partir deste momento
que o réu toma conhecimento das razões da parte autora que questiona a
posse. Essa é a posição majoritária.
3ª) diz que o momento da caracterização da má-fé seria no momento da
contestação, pois é neste momento que o réu formula sua defesa.
Os autores fazem essa avaliação partindo do pressuposto de que aquele
que intentou a ação já ganhou. Porém, isso está incorreto. O correto seria
entender que somente ao final do processo é que se pode falar em mudança
do caráter da posse.
Orlando Gomes argumenta que, se aquele que questiona a posse sair
vencedor, a má-fé estará caracterizada a partir da propositura da ação. O
argumento dele demonstra que se parte de um pressuposto errado, pois ainda
não se pode dizer que o autor da ação sairá vencedor.
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Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a
posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
Faz referência ao p. da continuidade da posse, ou seja, a posse
permanece com os elementos com os quais foi originalmente adquirida, a
menos que se prove o contrário.
O possuidor pode alterar o caráter da sua posse de diversas maneiras.
Ex.1: aquele que aluga um imóvel (locatário) possui a posse direta; caso
ele venha a adquirir o imóvel, ele alterará o caráter da sua posse, pois deixará
de ter posse direta e passará a ter a posse plena. Antes sua posse decorria do
contrato de locação; agora ela decorre de um direito real de propriedade.
Ex.2: o caráter da posse pode ser alterado passando da condição de
possuidor justo para de possuidor injusto (posse precária).
Ex.3: pode a posse deixar de ser de boa-fé para ser de má-fé.
Obs.: o 1203 é analisado segundo a situação daquele que tem a posse, ou
seja, analisa-se o indivíduo, e não a coisa.
O caráter da posse pode ser modificado através da transmissão? Ou a
transmissão da posse descaracteriza a sua condição?
Ex.: aquele que compra o terreno de um esbulhador. Neste caso, a
posse viciada perde seus vícios ao ser transmitida?
Existem 2 posições acerca dessa situação:
Um dos entendimentos é que os vícios não mantêm o seu caráter
original, ainda que aconteça a transmissão, pois aquele que
adquiriu a posse do bem o fez de maneira justa, uma vez que não
usou de violência, clandestinidade ou precariedade.
Por outro lado, há aqueles que entendem, também com base no
1202, que a posse do indivíduo que a adquiriu do esbulhador é
injusta, não porque houve violência, clandestinidade ou
30
precariedade, mas porque a posse mantém o seu caráter com a
transmissão.
Ex.: uma pessoa invade um terreno (clandestinidade, portanto, posse
injusta), vende-o para outra pessoa (de boa-fé), não existindo os vícios do 1200
(violência, clandestinidade ou precariedade).
Para a 1ª corrente, essa posse é justa. Já para a 2ª corrente a injustiça
da posse continuaria com a transferência da posse, a qual não seria capaz de
sanar o vicio original.
Qual é a consequência da discussão da boa-fé do possuidor? O
possuidor de boa-fé tem direito aos frutos e de ser ressarcido pelas
benfeitorias. O possuidor de má-fé não tem direito aos frutos, e só tem direito a
ser ressarcido pelas benfeitorias necessárias.
Obs.: intervenção do caráter da posse = modificação do caráter da posse
Questão de prova: João tem a posse de um imóvel e realiza benfeitorias.
Depois, a posse é contestada judicialmente por Manoel. Mesmo após a
instauração do processo, João ainda realiza benfeitorias. Pergunta-se: João
tem direito de ser ressarcido pelas benfeitorias? Para responder é preciso
enfrentar as 3 posições sobre em que momento a posse de boa-fé passa a ser
de má-fé. Adotando-se a posição majoritária, após a citação João só teria
direito de ser ressarcido pelas benfeitorias necessárias.
AQUISIÇÃO DA POSSE
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se
torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade.
Pontos importantes:
31
- autonomia da posse em relação à propriedade. A posse é adquirida a partir
do momento em que é possível exercer alguns dos poderes inerentes à
propriedade. O possuidor não necessariamente é o proprietário. É possível,
inclusive, defender a condição de possuidor contra o proprietário.
- o possuidor pode defender a sua posse porque detém um dos poderes
inerentes ao domínio, e pode defendê-la também em razão de um título que dá
direito a posse (veremos depois).
- a posse é uma questão de fato. É possuidor aquele que de fato detém o
exercício de poderes inerentes à propriedade. Se é questão de fato, não se
analisa o titular do direito real, quem é o proprietário, mas sim quem
diretamente tem a posse. Isso porque, por exemplo, o proprietário pode ter
perdido a posse.
- a perda da posse implica necessariamente a perda da propriedade? Não! É
possível que o proprietário perca a posse, sem que isso implique a perda da
titularidade da coisa.
* Juízo petitório – analisa quem detém um título.
* Juízo possessório – analisa quem tem de fato o exercício da posse.
- importância da verificação do momento da aquisição da posse
a) Percepção dos frutos
O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos e direito de ser
ressarcido pelas benfeitorias (necessárias e úteis). Já o possuidor de má-fé
não tem direito aos frutos; entretanto, tem direito ao ressarcimento das
benfeitorias necessárias. Lembrando que o possuidor de boa-fé passa a ser
possuidor de má-fé, processualmente, no momento da citação (posição
majoritária).
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b) Contagem dos prazos para usucapião
O momento da aquisição da posse é importante para fixar o início da
contagem dos prazos para usucapião. Para que esta ocorra, é preciso
transcorrer um lapso temporal durante o qual uma pessoa exerce a posse
sobre o bem (lembrando que estamos tratando do possuidor que quer se tornar
proprietário, ou seja, quer usucapir o imóvel).
c) Interditos
Sabemos que o possuidor tem direito de defender a sua condição. Logo,
ele possui ações judiciais através das quais pode defender a sua posse. São
os chamados “interditos possessórios”.
- é possível ter posse de bem público?
O art. 1204 não faz limitação do objeto do exercício da posse. Ele não
diz que não é possível o exercício de alguns poderes inerentes à propriedade
sobre bens públicos, ou seja, ele não proíbe a posse sobre bens públicos.
A posse não é mais a porta de entrada para a propriedade, como se
pensava. Hoje se entende que a posse independe da propriedade, de forma
que é possível a posse de bens que não podem ser adquiridos, como os bens
públicos.
É pacífico na doutrina de que é possível a posse de bens públicos,
principalmente em tratando de bens dominicais. Não obstante, por expressa
previsão constitucional, é vedada a usucapião de bens públicos.
- a posse pode ser adquirida por incapaz? CC, 1205
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu
representante;
II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.
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A posse pode ser adquirida por incapaz? É preciso ter discernimento
para ser possuidor? A leitura do 1204 não indica nenhum requisito.
Um incapaz, do ponto de vista fático, pode exercer de fato alguns dos
poderes inerentes à propriedade (ou seja, a posse). Porém, para Moreira Alves,
independentemente da teoria adotada (subjetiva ou objetiva), o animus domini
é um elemento essencial para o exercício da posse. Em virtude disso, diz-se
que o animus implica necessariamente a existência de discernimento, logo o
incapaz não poderia ter posse.
- constituto possessório – aquisição sem apreensão material
Constituto possessório diz respeito à possibilidade de aquisição da
posse sem a apreensão material do bem.
Ex.: o proprietário de um apartamento vende-o, mas, por um motivo
qualquer, ele não pode sair de imediato dele (tem que esperar a reforma da
casa); por isso, o vendedor (ex-proprietário) combina com o comprador que
precisa ficar morando no imóvel por mais 1 mês; neste caso, o comprador do
apartamento já adquiriu a posse do bem, mesmo não tendo ocorrido a
apreensão material.
A pessoa que permanece com o bem é detentor ou possuidor direto? No
exemplo acima ela é detentor, e não possuidor, pois apenas tem um contato
material com o bem.
Mas é possível que essa pessoa tenha a posse direta. É comum colocar
num contrato a chamada “clausula constituti”, através da qual se pactua que o
individuo que permaneça com o bem seja qualificado como possuidor direto.
Assim, se não houver nenhuma indicação expressa, o individuo será
detentor. Havendo a “clausula constituti”, ele setá possuidor direto.
- CC, 1206 – manutenção dos caracteres
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do
possuidor com os mesmos caracteres.
34
- CC, 1207
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do
seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua
posse à do antecessor, para os efeitos legais.
A transmissão universal entre pessoas físicas só ocorre com a morte.
Essa sucessão ocorre automaticamente no momento da morte.
Já a sucessão singular (legado), que ocorre quando alguém herda um
bem específico do patrimônio do de cujus, não ocorre automaticamente. Ela
depende do cumprimento da sentença do inventário.
O 1206 faz menção à manutenção da posse. Assim, tanto na
transmissão universal como na singular, a posse será transmitida com as
mesmas características.
Assim, se a posse era injusta, com a transmissão, os herdeiros também terão
uma posse injusta.
Quando se fala em usucapião, tem-se como um dos requisitos a
existência de um lapso de tempo para ela ser reconhecida. É possível realizar
a soma do exercício da posse? Sim, de acordo com o 1207.
Ex.: meu pai era possuidor do bem por 3 anos; ele morreu, eu herdei a
posse e continuo morando por mais 4 anos; nesta hipótese, posso usucapir o
imóvel, uma vez que o exercício da posse não foi interrompido, houve apenas a
sucessão.
O antigo possuidor não precisa ser necessariamente um ascendente ou
descendente; pode a posse ter sido exercida anteriormente por qualquer
pessoa.
Essa soma pode ser feita também quando a transmissão for inter vivos.
Tudo dependerá de provas concretas da continuidade da posse.
35
Essa transmissão da posse é capaz de sanar os vícios anteriormente
existentes? Ex.: sou possuidor injusto e transmito a posse; aquele que recebe
será um possuidor justo ou injusto?
Muitos autores, fazendo uma interpretação restritiva, dizem que aquele
que adquiriu a posse de forma derivada não cometeu nenhuma das hipóteses
do 1200 (não cometeu vícios objetivos); desta forma, ele teria a posse justa,
sendo a transmissão capaz de sanar os vícios existentes.
O professor não concorda com essa posição. Para ele, a transmissão
não sana os vícios. Aquele que transmite um direito não pode transferir mais
direitos do que ele tem. Assim, se o possuidor tem a posse injusta, ele não
pode transmitir uma posse justa. Por isso, a transmissão da posse não é capaz
de sanar os vícios eventualmente existentes. É possível contar o tempo da
posse, mas os vícios permanecem.
Nesse sentido prevê o art. 1203: “salvo prova em contrário, entende-se
manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”.
O 1207 diz que “ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor”. Se o sucessor singular decidir somar o tempo da sua posse com a
do seu antecessor, ele continua a posse deste com os mesmos caracteres que
ela apresentava, conforme previsão do 1206. Mas se o sucessor decidir não
somar, aí a posse é livre de vícios.
Resumindo:
1ª corrente - a transmissão é capaz de sanar os vícios da posse
(Venosa)
Principal fundamento: aquele que adquire a posse não pratica nenhum
dos atos previstos no 1200, logo teria posse justa.
O 1207 dá a faculdade ao sucessor singular de somar o seu tempo de
posse com o do seu antecessor. Para essa 1ª corrente, se o sucessor optar
por somar o tempo de posse, ele continua a posse do antecessor, logo a sua
posse terá os mesmos caracteres da posse do seu antecessor. Por outro lado,
se ele não fizer a soma dos tempos da posse, a sua posse seria livre de
36
vícios.
2ª corrente – a transmissão singular da posse não é capaz de sanar
os vícios existentes (professor e Tepedino)
O 1207 traz uma faculdade ao sucessor singular: unir ou não a sua
posse a do seu antecessor. Mas essa faculdade não interfere nos vícios da
posse, isto é, ela não é capaz de saná-los, de forma que, independentemente
se o sucessor exercer essa faculdade, os caracteres da posse serão
transmitidos.
Obs.: na sucessão universal não há dúvida sobre a transmissão dos
caracteres da posse, por expressa previsão do 1207. Assim, os vícios serão
transmitidos.
Obs.: há uma discussão se a transmissão singular do 1207 abrange também o
legatário ou apenas se refere a transmissão inter vivos. O legatário teria,
assim, faculdade de unir a sua posse a do seu antecessor?
Prevalece o entendimento de que tanto a transmissão singular inter
vivos como a transmissão após a morte (legatário) admite o exercício da
faculdade da soma da posse do 1207.
Lembrando que o legatário é um sucesso singular que recebe a
propriedade de um bem específico do patrimônio do de cujus.
- CC, 1208 – permissão e tolerância
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou
tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência
ou a clandestinidade.
Enquanto houver permissão ou tolerância não há posse. Seria a
hipótese do indivíduo que tem, segundo Farias e Rosenvald, a “detenção
precária” do bem.
37
Da mesma forma, enquanto houver violência ou clandestinidade, não há
efetivamente a posse, pois esta precisa de uma estabilidade para ser
caracterizada. Ex.: o sujeito alterou a linha demarcatória do terreno
(clandestinidade); ele não será possuidor enquanto o ato se mantiver como
clandestino, ele precisa se tornar público.
Obs.: Arnold Wald faz uma interpretação equivocada do 1208. Para ele,
enquanto houver violência ou clandestinidade, a posse é injusta. Cessada a
violência ou a clandestinidade, a posse passa ser justa. Errado!
- ligação entre o 1208 e 1224.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não
presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém
de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente
repelido.
Para saber se o esbulhado perdeu ou não a posse é preciso investigar a
sua inércia. Se aquele que sofreu esbulho manteve-se inerte, perderá a posse.
Mas, se o esbulhado não tinha condições de saber que ocorreu o esbulho, o
1224 determina que, ainda que o esbulhador esteja materialmente exercendo a
posse, o esbulhado ainda não perdeu a sua posse.
Em síntese:
* o individuo que não tinha como saber – não perde a posse
* aquele que ficou sabendo e não fez nada (ficou inerte) – perde a posse
* aquele que foi violentamente repelido – perde a posse.
- CC, 1209
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária,
a das coisas móveis que nele estiverem.
EFEITOS DA POSSE
38
A posse permite a utilização dos interditos (ações possessórias).
- CC, 1210
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em
caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de
violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Este artigo traz as hipóteses que servem de base para o manejo das
ações possessórias.
Ius possessionis: posse decorrente do exercício
Ius possidendi: posse derivada do título
Essa diferença diz respeito ao âmbito no qual a questão possessória
será analisada.
Quando se fala em ius possessionis (juízo possessório), deve-se
analisar a posse decorrente do exercício.
Quando se fala em ius possidendi (juízo petitório), deve-se analisar o
título que garante a posse.
- Ações possessórias:
a) Ação de reintegração de posse – esbulho
Tem como objetivo fazer com que o possuidor que perdeu efetivamente
a posse retome-a.
O possuidor tem direito a ser restituído em caso de esbulho. O esbulho
indica a situação na qual o indivíduo perdeu a posse de maneira injusta. Esse é
o chamado “esbulho possessório”, que permite o ajuizamento da “ação de
reintegração de posse”.
b) Ação de manutenção da posse – turbação
39
Esta ação cabe quando a posse ainda não foi perdida, mas o exercício
da posse está sendo violado por meio da “turbação da posse”. Ex.: estou no
meu terreno; os pretensos invasores estão em volta dele e cortam a luz; há um
prejuízo no exercício do direito de posse.
c) Ação proibitória ou interdito proibitório
Quando não existe ainda uma ação efetiva por parte dos interessados
em tomar a posse do individuo, mas existe um perigo, uma situação de ameaça
ao bom exercício do direito de posse.
Obs.: os autores admitem a aplicação do p. da fungibilidade entre as 3
ações, uma vez que elas se confundem.
- posse do esbulhador
Ex.: MST invade o terreno de um sujeito. A posse, com o passar do
tempo, adquire estabilidade. Se a posse é um exercício com função social, os
mecanismos de tutela se fortalecem com o tempo.
Posse nova: até 1 ano e um dia. Procedimento especial (CPC, art. 927)
e Possibilidade de liminar (CPC, art. 928).
Posse velha: mais de 1 ano e 1 dia. Procedimento ordinário – CPC, 971.
Tutela antecipada – CPC, 273
No caso da posse nova, em que se usa o procedimento especial, os
requisitos para comprovar a posse são mais superficiais, não se tem um rigor
para comprovar a posse. Já no caso da posse velha, com procedimento
ordinário, a comprovação da posse é mais demorada, exige mais requisitos.
Essa questão de posse nova e posse velha, importante para determinar
se o procedimento será especial ou ordinário, é analisada sob a ótica do
esbulhador. A análise do juiz quando o esbulhador tem uma “posse nova” é
mais superficial; quando a posse é velha, é mais profunda.
40
A lei determina que, quando o esbulhador tem a posse a menos de 1
ano e 1 dia, a posse é qualificada como posse nova, e o procedimento é
especial (929, CPC), admitindo que o esbulhado entre com liminar.
Quando a posse do esbulhador é maior do que 1 ano e 1 dia, o
procedimento será ordinário e o esbulhado terá o direito de pedir a antecipação
de tutela.
O fato de a posse ser nova ou velha é uma questão processual, não
interfere nos vícios da posse. Alguns autores falam, erradamente, que a posse
velha se transforma em posse justa. Nada a ver!
- Desforço pessoal
* Reação imediata
* “contanto que o faça logo” – qual o momento?
Art. 1210, § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá
manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que
o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir
além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
A pessoa que está sendo esbulhada pode reagir, utilizando-se da própria
força para se defender. Isso está ligado à ideia de legitima defesa. Essa defesa
deve ser, obviamente, proporcional à ofensa.
O detentor pode realizar o desforço pessoal para defender a posse de
outrem (ex.: caseiro pode defender a posse do dono da casa)? Sim! Desde que
aja proporcionalmente à ofensa.
O legislador disse que o esbulhado pode reagir “contanto que o faça
logo”. A doutrina discute o que se entende por isso.
A doutrina majoritária entende que o “contanto que o faça logo” diz
respeito ao momento em que o indivíduo tomou conhecimento da violação a
sua posse.
Já a doutrina minoritária entende que “logo” é imediatamente após o
esbulhador tomar a posse. Assim, se um indivíduo invade um terreno e o
41
proprietário só toma conhecimento depois de 1 ano, este não pode usar do
desforço imediato.
- Exceção de domínio
* STF – S. 487
* Enunciado 78 do CJF
Ex.: 2 pessoas disputam a posse de um terreno; aquele que está sendo
demandado (réu) reconhece que não é possuidor, mas diz ser o proprietário.
Isso é a chamada “exceção de domínio”, ou seja, ele reconhece que perdeu a
posse, mas alega que é proprietário.
Art. 1210, §2º Não obsta à manutenção ou reintegração na
posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a
coisa.
Com este dispositivo, o legislador garantiu que a pessoa não terá o
direito de posse reconhecido simplesmente por ser proprietário ou possuir
qualquer outro direito real sobre a coisa. O importante é analisar quem
efetivamente detém alguns dos poderes inerentes à propriedade, será este que
terá direito a posse.
A exceção de domínio, assim, não é admitida no direito brasileiro.
Essa questão sempre foi muito discutida na doutrina e jurisprudência.
Sob a vigência do CC 1916, entendia-se que, primeiramente, devia-se
analisar quem detinha o exercício da posse (ius possessionis). Só que em
determinadas situações nenhuma das partes que pretendiam ser reconhecidas
como possuidores conseguia provar o direito de posse; neste caso, analisava-
se em favor daquele que detinha o título (a propriedade) do bem.
Neste sentido o STF editou a súmula 487: “Será deferida a posse a
quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada”. A
súmula realça a diferença entre juízo possessório e juízo petitório.
42
Além disso, há o enunciado 78 do CJF:
78. Art. 1.210: Tendo em vista a não-recepção, pelo novo
Código Civil, da exceptio proprietatis (art. 1.210, § 2º) em caso
de ausência de prova suficiente para embasar decisão liminar
ou sentença final ancorada exclusivamente no ius
possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado
improcedente, não obstante eventual alegação e demonstração
de direito real sobre o bem litigioso
Este enunciado tem o objetivo de confirmar a diferença entre juízo
possessório e juízo petitório. Diz o enunciado que, quando a pessoa não
conseguir mostrar em juízo que é possuidora da coisa, terá o pedido julgado
improcedente e o processo termina. Não se admite que no mesmo processo se
discuta o título, a propriedade.
Obs.: o Conselho da Justiça Federal, órgão do CNJ, realiza esporadicamente
jornadas com o propósito de discutir problemas relativos à interpretação do
CC. Nestas jornadas são aprovados enunciados, que servem de orientação
para os aplicadores do direito.
- CC, 1211
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora,
manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver
manifesto que a obteve de alguma das outras por modo
vicioso.
Existindo uma disputa, provisoriamente a posse será mantida nas mãos
daquele que tiver a apreensão material da coisa, a menos que fique evidente o
esbulho.
- CC, 1212
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Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a
de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa
esbulhada sabendo que o era.
O individuo recebeu a coisa viciada sabendo que o era recebe a posse
injusta. Quando falamos de injustiça da posse, estamos nos referindo aos
vícios objetivos da posse (violência, clandestinidade e precariedade). Existem
também os vícios subjetivos.
O 1212 determina que, se o indivíduo que recebeu a posse viciada não
tiver conhecimento dos vícios, tendo, por isso, uma posse de boa-fé, ele não
poderá ser demandado judicialmente.
Por outro lado, quando o individuo é possuidor de má-fé, ou seja, ele
recebe a posse injusta sabendo que o era, poderá ser demandando na ação de
esbulho.
DIREITO AOS FRUTOS
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela
durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar
a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as
despesas da produção e custeio; devem ser também
restituídos os frutos colhidos com antecipação.
O indivíduo que recebeu a posse viciada, mas é possuidor de boa-fé
(não tinha conhecimento dos vícios objetivos), terá direito aos frutos da coisa.
Obs.: Os frutos podem ser:
* Fruto que ainda não foi colhido – fruto pendente
* Fruto que já foi separado - fruto percebido
* Fruto que não foi colhido, mas já deveria ter o sido – fruto percipiendo
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Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos
e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se
percebidos dia por dia.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua,
deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de
má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou
deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar
que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do
reivindicante.
O 1218 traz a regra de responsabilidade civil do possuidor de má-fé.
Este é responsável mesmo numa situação acidental, a menos que ele prove
que a situação teria ocorrido se a coisa estivesse sob a posse do possuidor
legítimo.
PROPRIEDADE
Pergunta 1: o que é propriedade? CC, 1228
* elemento desigual
* exclusividade
* CC, 1231
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em
consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e
de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
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§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário
qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela
intenção de prejudicar outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou
interesse social, bem como no de requisição, em caso de
perigo público iminente.
O artigo não define o que é propriedade, fala apenas quais são as
faculdades e os direitos do proprietário.
O que é propriedade? Alguns autores tentaram definir. A ideia básica é
que a propriedade indica a submissão de uma coisa em todas as suas
potencialidades a uma pessoa (Windscheid).
Quando falamos em propriedade, um dos elementos mais comum no
senso comum é a ideia de exclusividade no uso da coisa, de modo que pode
excluir os demais sobre o uso do bem. O direito de propriedade aparece como
um mecanismo através do qual uma pessoa passa a ter de forma exclusiva a
possibilidade de usufruir de determinado bem.
O conceito é vazio porque indica somente que a pessoa tem a
exclusividade sobre bem, não individualiza qual é o bem.
Quando falamos que o proprietário de um bem pode usá-lo, fruí-lo,
estamos nos referindo, principalmente, ao aspecto econômico. Portanto, a
primeira ideia que temos sobre propriedade é a sua ligação com o aspecto
econômico. Ser proprietário é bom porque ele tem a possibilidade de explorar a
coisa economicamente.
Ao lado do aspecto econômico, pode-se ressaltar o aspecto do acesso
a propriedade, isto é, nem todos tem acesso à propriedade, mas somente o
proprietário.
Além disso, tem o aspecto da compatibilização do direito da propriedade
com os interesses da coletividade, é a chamada “função social da
propriedade”. O exercício do direito de propriedade tem que respeitar os
interesses da coletividade.
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Ex.: eu tenho uma fazenda; ela tem que ser produtiva (aspecto
econômico); ninguém pode invadir (aspecto do acesso); não posso utilizar mão
de obra escrava (aspecto social).
Propriedade, como vimos, é a submissão de um bem com todas as
suas potencialidades a uma pessoa.
Vimos também que um dos principais aspectos da propriedade é a
exclusividade. Nesse sentido, prevê o 1231 do CC: “A propriedade presume-se
plena e exclusiva, até prova em contrário.”
Por que a propriedade presume-se plena e exclusiva? Porque existem
situações nas quais a propriedade não é exclusiva. Ex.: condomínio – a
propriedade não é exclusiva de uma pessoa; o domínio é compartilhado.
Há várias limitações ao direito de propriedade, de forma que nem
sempre ela é plena. Ex.: servidão, limitações ao direito de construir (tamanho
do apartamento), cláusula de inalienabilidade (ex.: o donatário-proprietário fica
privado no direito de dispor da coisa), tombamento; propriedade resolúvel (é
aquela em que há uma condição na qual o indivíduo pode exercer seu direito
de propriedade) não é uma limitação.
A propriedade é, em regra, exclusiva, mas isso é uma presunção
relativa. Presume-se também plena, mas da mesma forma é uma presunção
relativa, que admite prova em contrário.
- núcleo econômico:
a) usar
b) gozar
d) dispor
Quando no 1228 se fala em usar, gozar e dispor da propriedade, faz-se
referencia ao núcleo econômico do direito de propriedade. Representam
faculdades através das quais o proprietário poderá extrair o proveito econômico
do exercício do seu direito de propriedade.
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- Usar ≠ gozar ≠ dispor
A faculdade de gozo ou fruição faz-se referência a possibilidade de
adquirir produtos ou frutos decorrentes do bem.
Já na faculdade de uso não se adquire produtos, apenas se usa o
bem.
A faculdade de dispor significa a possibilidade de o proprietário
determinar o destino do bem, tem a possibilidade de transferir a
propriedade do bem.
Só o proprietário tem a faculdade de disposição. Já o exercício da
faculdade de uso ou gozo pode ser transferido para outras pessoas que não
são necessariamente proprietárias. Ex.: o proprietário pode constituir direitos
reais em nome de outra pessoa, como o direito de usufruto; neste, o
usufrutuário (beneficiário) pode fazer quase tudo, exceto dispor do bem, ou
seja, ele tem a faculdade de uso e gozo, mas não a faculdade de dispor; no
usufruto, diz-se que o proprietário passa a ser o nu-proprietário, possuindo
somente a faculdade de dispor.
- Elasticidade
Vimos que o proprietário pode transferir para outra pessoa certas
faculdades do seu direito de propriedade (como no usufruto). Disso resulta
outra característica do direito de propriedade: a elasticidade.
A elasticidade, portanto, significa que o proprietário pode transferir
temporariamente certas faculdades do direito de propriedade.
- núcleo jurídico: possibilidade de defesa através da ação reivindicatória
O 1228, caput diz que o proprietário da coisa tem “direito de reavê-la do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. O núcleo jurídico
de propriedade representa a possibilidade de o proprietário defender sua
48
condição contra outra pessoa que a tenha ameaçado, através da ação
reivindicatória.
Pergunta 2: o detentor pode figurar no polo passivo na ação reivindicatória?
O 1228 fala que o proprietário tem direito de usar, gozar, dispor e de
reaver do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
O proprietário de uma casa pode, por ex, ajuizar ação reivindicatória
contra o caseiro (detentor)? A doutrina entende que não, pois o detentor segue
as ordens do proprietário, sendo assim, não haveria um conflito de interesses,
condição necessária para a prestação jurisdicional. Na verdade, quando o
detentor muda o seu comportamento, não mais respeitando as ordens do
proprietário, ele deixa de ser detentor e passa a ser possuidor. Este sim tem
condições de figurar no polo passivo de uma ação reivindicatória.
Por isso, Alexandre Freitas Câmara defende que a expressão “detenha”
deve ser riscada do 1228.
Portanto, o detentor não é parte legitima na ação reivindicatória.
Pergunta 3: A propriedade prescreve? Existe prazo para a reivindicatória?
A doutrina diz que a propriedade é um direito perpétuo. O professor
indaga: essa posição está certa? A princípio, poderíamos alegar a função
social da propriedade, a usucapião. Entretanto, nestes casos, há outra pessoa
reivindicando a propriedade. O simples fato de não exercer o direito de
propriedade, sem que ninguém reinvidique, não gera a perda do direito.
Somente quando alguém reivindicar a propriedade é que pode ocorrer a perda
do direito.
A passagem do tempo por si só não faz com que o indivíduo perca a sua
condição de proprietário, isto é, a propriedade não prescreve. O proprietário só
perde o seu direito se houver alguém.
A doutrina fala em “prescrição aquisitiva”, quando alguém adquire o
direito de propriedade por meio da usucapião.
A propriedade não prescreve pelo tempo, precisa da intervenção do
Estado ou de outra pessoa.
49
Existe prazo para que o proprietário defenda o direito de propriedade
violado por meio da ação reivindicatória? Não existe! A ação reivindicatória
pode ser ajuizada a qualquer tempo.
Analisando o CC, não existe um prazo prescricional para a ação
reivindicatória. O que existe são os prazos dentro dos quais uma pessoa que
violou o direito de propriedade pode vir a se tornar proprietária (são as
hipóteses de usucapião).
Pergunta 4: Existe propriedade de bens incorpóreos?
Existe! São as hipóteses de propriedade intelectual. Mas esta não é
igual à propriedade que estamos tratando aqui.
Os civilistas entendem que, em direitos reais, a propriedade é sempre
sobre direitos corpóreos ou direitos reais. Eles entendem que os direitos
incorpóreos não geram o direito de propriedade, pois há diferenças quanto à
exclusividade e à especialidade (delimitação espacial do bem). Assim, há
limitações as características dos direitos reais.
Pergunta 5: Existe diferença entre “propriedade” e “domínio”?
A maior parte da doutrina não faz diferença entre propriedade e domínio.
Mas há aqueles que a fazem, como Farias e Rosenvald. Dizem que
propriedade é expressão utilizada para designar a titularidade do bem; já
domínio indica o conteúdo da propriedade (normalmente esse conteúdo está
ligado ao núcleo econômico da propriedade).
- Constitucionalização do núcleo funcional da propriedade:
* CF, art. 170
* CF, art. 5º, XXII, XXIII
* CF, art. 182-185
* CF, art. 190-191
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Há vários dispositivos constitucionais que tratam do tema propriedade. É
importante perceber que a CF não fala de uma só propriedade, ela trata do
tema propriedade de uma forma diversificada. E essa diversificação pode ser
vista pelos referenciais utilizados pela CF. A propriedade vai ter um tratamento
especifico dependendo da sua destinação. Por exemplo, a propriedade urbana
tem tratamento diferente da propriedade rural (questões atinentes à
produtividade, meio ambiente, etc.).
Diversidade:
A) Destinação do bem (urbana/rural)
B) Potencialidade econômica (produtiva/improdutiva)
C) Titularidade (nacional/estrangeira)
Portanto, quando falamos de propriedade, o correto é pensar em
“propriedades”, ou seja, ela é urbana ou rural, produtiva ou improdutiva,
nacional ou estrangeira.
Obviamente, todas essas “propriedades” têm as características da
exclusividade, especialidade, elasticidade, mas a concretização do direito de
propriedade é variável.
CC, 1228, §2º – análise objetiva
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário
qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela
intenção de prejudicar outrem.
Tradicionalmente, a doutrina falava do abuso do direito como o ato
praticado com o intuito de prejudicar outrem. Entretanto, hoje, o ato abusivo
tem uma avaliação objetiva, não se analisa mais a intenção de prejudicar
(aspecto subjetivo). Portanto, o abuso da propriedade deve ser analisado
objetivamente, sem perquirir a intenção de prejudicar, e ainda que o ato traga
benefícios para o proprietário.
51
Nesse sentido prevê o 187, CC: “Também comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
Obs.: 1228, § 4º e 5º - trata do instituto da acessão
- CC, 1233 – descoberta
* CPC, 1170 a 1176 – procedimento
* CC, 1234 – recompensa
* CC, 1235 – dever de reparar o dano
* CC, 1236 – divulgação
* CC, 1237 – hasta pública
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de
restituí-la ao dono ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por
encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à
autoridade competente.
Descoberta é o ato de encontrar, achar coisa alheia perdida. Esse ato
gera deveres para quem achou e para o proprietário. Para quem achou, o
dever é de devolver ao proprietário. Já o proprietário tem uma obrigação
facultativa, ou seja, ele pode escolher 2 formas de adimplir a obrigação: ou ele
recompensa ou ele entrega a coisa.
A descoberta recai apenas sobre bens móveis. Não faz sentido recair
sobre bens imóveis (imagina, por ex, “achei uma casa”).
Obs.: o CC 1916 chamava o instituto de “invenção”.
A descoberta é diferente do instituto da ocupação.
A ocupação é o ato de encontrar coisa alheia abandonada. Na
ocupação aquele que encontrou adquire a titularidade da coisa, pois o
proprietário a perdeu quando a abandonou.
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Por que se tem o dever de devolver a coisa na descoberta? Porque a
coisa, além de não ser de quem achou, não foi abandonada pelo proprietário,
de modo que este não perde a titularidade sobre ela.
Como se diferencia a coisa perdida da coisa abandonada? Não há um
critério objetivo abstrato suficiente para diferenciar. Dependerá das
circunstancias do caso concreto.
O professor entende ser possível aquele que achou coisa perdida usar
do direito de retenção até que o proprietário pague a recompensa.
USUCAPIÃO
- CC, 1238, caput
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a
propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual
servirá de título para o registro no Cartório de Registro de
Imóveis.
- noções preliminares:
* conceito
Usucapião é um modo de aquisição da propriedade decorrente da
junção da passagem do tempo com a posse, em conformidade com os
requisitos estabelecidos pela lei (para cada hipótese de usucapião).
* aquisição originária
A doutrina majoritária entende que a usucapião é um modo de
aquisição originária da propriedade. Não ocorre, portanto, a passagem da
titularidade.
53
Caio Mário, por sua vez, defende que a usucapião é um modo de
aquisição derivado da propriedade (posição minoritária).
Por que é importante definir se a aquisição é originária ou derivada? Por
contra dos vícios. Quando falamos de aquisição derivada, reconhece-se que os
eventuais vícios da propriedade são transmitidos; já na aquisição originária, os
vícios não são transmitidos.
Os vícios decorrentes da posse injusta são convalidados pela
usucapião? Sim! Não se pode falar em continuidade posse. A aquisição da
propriedade pela usucapião quebra a posse, de modo que aquele que usucapiu
passa a ter a posse justa, ainda que antes a posse seja injusta. Isso porque a
usucapião é modo de aquisição originária da propriedade, isto é, há um direito
novo.
* fundamento: função social
Se o individuo que usucapiu cumpriu os requisitos (posse + tempo +
requisitos específicos), ele exerceu a função social, e com base nela tem a
legitimidade de reconhecer a titularidade sobre o imóvel.
* objeto: coisas materiais / direitos reais
O que pode ser objeto de usucapião? Coisas materiais e direitos reais
(ex.: servidão de passagem pode ser usucapida; a titularidade não é
transferida, mas o direito de uso passa a pertencer a outra pessoa).
* elementos comuns: posse + tempo
Posse e tempo estão presentes em todas as hipóteses de usucapião. A
posse pode ser justa ou injusta; o tempo pode ser maior ou menor; não
obstante isso, são requisitos essenciais para qualquer forma de usucapião.
Quando se fala em usucapião, a posse tem que ser ad usucapionem,
ou seja, o possuidor tem que ter o interesse de ser proprietário.
54
- Pergunta: bens condominiais podem ser usucapidos?
Ex.: três pessoas exercem em condomínio a titularidade sobre um
terreno. Pode haver a usucapião por um deles?
Caio Mário e Orlando Gomes dizem que não é possível a usucapião de
bens condominiais. Justificam que haveria uma autorização implícita para que
um tenha a posse do terreno.
A doutrina majoritária entende que é possível, dependendo da forma
como a posse esteja sendo exercida. Se, por ex, no caso concreto apenas um
dos proprietários esteja exercendo a posse, de forma exclusiva, contrária à
posse dos demais, é possível reconhecer a usucapião.
Há discussões se há posse exclusiva em relação aos atos de mera
permissão ou tolerância.
- Pergunta: áreas comuns podem ser usucapidas?
Ex.: o individuo fecha o final do corredor de um prédio. É possível
usucapir?
De um lado, o condomínio vai defender que é ato de mera permissão ou
tolerância; já o individuo vai falar que está exercendo a posse exclusiva.
Há decisões, inclusive no STJ, reconhecendo a usucapião de bens
comuns. Justificou-se que, se a área não traz qualquer tipo de utilidade para os
demais, a não ser para o indivíduo, admite-se a usucapião. Faz-se referência
também ao princípio da boa-fé objetiva. Algumas decisões não reconhecem a
usucapião, e outras dizendo em manutenção da situação consolidada.
Qual a importância em se falar em usucapião ou manutenção da
situação consolidada? Se falar em usucapião, o individuo pode realiar obras;
pode vender o apartamento com o corredor. Por outro lado, se falar em
manutenção da situação consolidada, há a discussão se o indivíduo pode ou
não integrar o bem comum ao seu imóvel.
55
> Hipóteses de usucapião
Usucapião extraordinária (1238, caput)
- Elementos: posse + tempo (15 anos) > fato da posse como função social
O legislador exige como requisitos a posse e passagem do tempo. Ele
não fala em boa-fé, em justo título, em posse justa ou injusta. Nesta hipótese,
portanto, o indivíduo tem que exercer a posse durante 15 anos.
Usucapião extraordinária com prazo reduzido (1238, p.ú)
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á
a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a
sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços
de caráter produtivo.
Aqui há requisitos não cumulativos (um ou outro):
Moradia habitual. O morador pode ter outros imóveis, não há
restrições quanto a isso (em outras hipóteses de usucapião há
essa exigência).
Realiza obras ou serviços de caráter produtivo.
Nesses 2 casos o tempo é de 10 anos.
Usucapião rural, pro labore ou agrário – “especial rural” (1239)
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel
rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural
não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
56
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
adquirir-lhe-á a propriedade.
Há os seguintes requisitos:
a) Residir no imóvel e não possuir outro;
b) Área rural – a qualificação de uma área como rural pode se dar por lei
ou pelo juiz;
c) Área de até 50 hectares.
d) Área produtiva. O individuo precisa trabalhar na área.
- prova negativa
O 1239 fala que o individuo não pode ter outro imóvel. Como se prova
isso? Através da chamada prova negativa: o usucapiente precisa apenas
declarar que não possui outro imóvel; já aquele que quer defender o seu direito
de propriedade (usucapido) deve provar que aquele tem um imóvel (ex.: leva
uma certidão do cartório de registro de imóveis).
- terreno com mais de 50 hectares
* posse de 50 hectares
* posse de mais de 50 hectares
Como fica a usucapião quando:
- o terreno tem mais de 50 hectares, mas a posse é de 50 hectares (ou
menos)? Pontes de Miranda diz que nesta hipótese é possível a usucapião da
área.
- o terreno tem mais de 50 e a posse é mais de 50 hectares? Pontes de
Miranda diz que nesta hipótese não é possível a usucapião. Argumenta-se que
57
o proprietário pode ter deixado de enfrentar a situação porque a lei veda a
usucapião nesta hipótese. O professor entende que esse argumento é fraco;
permite-se a desídia do proprietário. Entretanto, ele reconhece que permitir a
usucapião nesta hipótese é contrário à função social da propriedade; uma área
superior de 50 hectares é muito grande, o que permitiria um enriquecimento
injustificável, contrário a função social da propriedade. Nesta hipótese, poderia
o possuidor reivindicar a usucapião pela modalidade extraordinária (1238).
O 1239 fala em posse contínua e sem oposição. O que significa sem
oposição? Sem oposição não significa que a posse não tenha sido contestada;
na verdade, significa que o indivíduo venceu todas as contestações feitas;
ninguém conseguiu sobrepor sua posse sobre aquele que pretende usucapir.
- acessão de posses – possível ou não? CC, 1243
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo
exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a
dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam
contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título
e de boa-fé.
Acessão de posses é a possibilidade de o atual possuidor unir a
sua posse a do seu antecessor, com o objetivo de alcançar o tempo para
usucapir. Ex.: meu antecessor exerceu a posse durante 5 anos; eu, durante 10
anos; utilizo da acessão para usucapir pelo 1238 (usucapião extraordinária).
A acessão está presente em todas as hipóteses de usucapião.
Alguns doutrinadores, porém, costumam fazer algumas ressalvas. Entende-se,
por ex, que não seria possível a acessão de posses na usucapião rural, pois
esta seria uma hipótese personalíssima (o individuo teria que exercer a posse
durante os 5 anos). O professor, por sua vez, entende que o 1243 não diz
nada; logo, ele entende que se aplica a todas as hipóteses.
Obs.: Há um enunciado do CJF que diz que não é possível a acessão de
58
posses no caso da usucapião rural.
Usucapião urbana – “especial urbana” (1240)
- CF, 183 (= 1240)
- Estatuto da cidade – art. 10º, lei 10.257/2001
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até
duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
A usucapião urbana tem como fundamentos o 183, CF e o direito
fundamental a moradia.
- Requisitos:
a) Único imóvel
b) Área urbana
c) Área máxima de 250 m² (independentemente se o terreno é ou não
edificado).
d) Moradia sua ou da família
Surge aqui a discussão acerca da possibilidade de acessão da posse. O
indivíduo que receber a posse do seu antecessor precisa estar morando no
imóvel ou não? Ele pode unir a sua posse com a do antecessor ou não?
O entendimento majoritário é que o herdeiro não precisa ser morador da
casa. O Estatuto da Cidade dizia o contrário, mas o CC 2002 não o faz. Sendo
assim, entende-se que o herdeiro, ainda que more em outro lugar, pode juntar
a posse do seu antecessor para completar os 5 anos.
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Obs.: discussão acerca da acessão de posse. Tanto na usucapião rural como
na urbana vale a mesma ideia: o 1243 não faz nenhuma ressalva quanto as
modalidades de usucapião, de modo que em qualquer modalidade de
usucapião é possível a soma das posses. A ressalva é feita pela doutrina, o
que é criticável, pois a lei não o faz.
CC, 1240-A – nova modalidade de usucapião
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos
ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com
exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio
integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural. (lei nº 12.424, de 2011)
§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao
mesmo possuidor mais de uma vez.
O entendimento é que essa nova modalidade de usucapião surgiu em
virtude de problemas detectados em certas comunidades nas quais um dos
cônjuges desaparecia e deixava o outro com uma pendência no financiamento
do imóvel. Essa modalidade foi instituída pela lei que criou o programa “Minha
Casa, Minha Vida” (lei 12.424/2011).
Entende-se que essa modalidade diz respeito mais ao direito de família
do que propriamente aos direitos reais.
- Pontos importantes:
* O prazo é de 2 anos.
* A moradia precisa ser do cônjuge abandonado.
* Quando se fala de “ex-cônjuge”, entende-se que se trata da separação
de fato, não necessitando ter um processo de separação judicial em curso.
60
* A partir de quando passa a contar os 2 anos? A partir da publicação da
lei, ou seja, 2011.
* O imóvel precisa ser de titularidade conjunta, tanto é assim que o
legislador colocou que o cônjuge vai adquirir “o domínio integral”, inferindo-se
que ele não o possuía.
* Entende-se que a expressão “posse direta” é empregada na acepção
atécnica. Posse direta quer dizer que as pessoas estão morando no imóvel,
não é que este foi alugado, arrendado, não existindo tecnicamente posse direta
e posse indireta.
- CC, 1241 – natureza declaratória da sentença da usucapião
Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao juiz seja declarada
adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel.
Parágrafo único. A declaração obtida na forma deste artigo
constituirá título hábil para o registro no Cartório de Registro de
Imóveis.
O artigo busca ressaltar a natureza declaratória da sentença da
usucapião. Isso quer dizer que o juiz, ao sentenciar, simplesmente reconhece
uma situação que já está consolidada: o individuo já adquiriu o domínio do
imóvel. A sentença apenas vai atestar essa situação.
- Súmula 237 do STF – “O usucapião pode ser arguido em defesa”
Diante de uma ação reivindicatória, o sujeito pode alegar usucapião
como matéria de defesa? O entendimento do STF é que o indivíduo pode.
Ex.: o autor fala que quer o imóvel de volta por ser o proprietário e o réu
pode contestar defendendo que não vai entregar porque ele usucapiu o imóvel.
Em tese não seria possível porque haveria confusão entre o juízo
petitório e o juízo possessório. Na ação reivindicatória estamos no âmbito do
61
juízo petitório, pois se discute o título. Já na ação de usucapião o juízo é
possessório, pois se discute o exercício de fato da posse.
- retroatividade dos efeitos da sentença: inicio da posse ou consolidação dos
requisitos?
A partir de que momento o indivíduo vai ser reconhecido como
proprietário e quais as consequências disso?
O individuo vai ser considerado proprietário desde o momento em que
cumpriu os requisitos necessários para usucapir ou desde o momento em que
ele iniciou a posse no imóvel?
A corrente minoritária entende que a retroatividade é desde o momento
em que o indivíduo obteve os requisitos. Como fica o período entre o início
da posse e a obtenção dos requisitos, em que o individuo tinha a posse, mas
não a propriedade? Por não ser ainda proprietário, o usucapiente teria que
devolver os frutos do imóvel ao usucapido (antigo proprietário). Embora
minoritária, o professor acha esta corrente mais correta.
A posição majoritária, por outro lado, entende que a retroatividade
considera o individuo proprietário desde o inicio da sua posse. Usa-se como
argumento a justiça social, a aparente propriedade do possuidor frente a
terceiros.
- Questão: hipoteca constituída pelo proprietário
Durante o período entre o início da posse até a sentença de usucapião,
é aquele que sofreu a usucapião que constava nos registros do imóvel, era ele
o oficialmente proprietário. Sendo assim, ele poderia gravar o imóvel com
direitos reais, como a hipoteca.
Obs.: hipoteca – é um direito real de garantia sobre bem imóvel. Ou seja, o
titular do imóvel coloca imóvel a disposição de um eventual credor para que
diante do inadimplemento o imóvel seja vendido para o pagamento da dívida.
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Ex.: tomei um empréstimo junto ao banco e, como garantia do pagamento,
constituo hipoteca sobre minha casa.
O que acontece se o imóvel objeto de usucapião foi gravado com
hipoteca? O usucapiente recebe o imóvel gravado com a hipoteca, ou ele se
torna proprietário sem esse gravame?
A doutrina majoritária entende que a usucapião é uma aquisição
originária da propriedade, logo aquele que usucapiu irá adquirir a titularidade
do imóvel livre da hipoteca.
Alguns autores, como Caio Mário, discordam; para eles, a usucapião é
uma aquisição derivada, logo a hipoteca continuaria gravando o imóvel.
Questão: quem é o responsável pelos impostos durante o período entre o início
da posse e a sentença da usucapião? Se o proprietário paga os impostos,
cumpre as determinações da prefeitura quanto a manutenção e conservação
da propriedade, ele está exercendo uma função social, pode-se defender que o
proprietário não está inerte, logo poderia usar isso na sua defesa na ação de
usucapião.
Para o professor, o pagamento de impostos é um dos elementos que
caracteriza o exercício da função social. Mas não é o único. Vai depender do
caso concreto.
Em regra, o obrigado a pagar os impostos é o titular do imóvel.
Entretanto, não havendo o pagamento dos impostos e o imóvel for objeto de
usucapião, quem deverá pagar? A princípio, o professor entende que aquele
que usucapiu teria que pagar, por ter se tornado o proprietário desde o início da
sua posse (segundo a corrente majoritária). Não obstante, essa saída
dependerá muito do caso concreto.
O sujeito que perdeu a propriedade pode entrar com uma ação de
cobrança contra aquele que usucapiu pelos impostos pagos entre o início da
posse deste e a sentença da usucapião? Para o professor depende da linha de
raciocínio adotada: adotando a concepção majoritária, segundo a qual aquele
que usucapiu se torna o proprietário desde o início da posse, ele teria que arcar
com os impostos desde o início da posse; por outro lado, pode-se entender que
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obrigá-lo a pagar seria contra a justiça social, contrariando até mesmo a ideia
de solidariedade da usucapião.
Usucapião ordinária (1242)
- Requisitos: posse + prazo + justo título + boa-fé
Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele
que, contínua e incontestadamente, com justo título e
boa-fé, o possuir por dez anos.
* 10 anos
* justo título
* boa-fé
Na usucapião ordinária a posse, além de ser ad usucapionem, tem que
ser derivada de justo título e ser de boa-fé.
Não obstante, essa posse pode ser viciada. A existência do justo título e
a boa-fé não indica necessariamente uma posse livre de vícios. A posse pode
ser injusta e ainda sim permitir a usucapião ordinária.
Obs.: posse de boa fé é a ignorância quanto à existência de vícios.
Usucapião tabular (p.ú, 1242)
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste
artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com
base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de
interesse social e econômico.
Sabe-se que o registro é o modo de aquisição da propriedade imóvel.
Ex.: comprei uma casa, paguei R$1 milhão; isso não me faz proprietário; eu
64
preciso registrar a casa no registro de imóveis; o contrato de compra e venda
só tem efeito obrigacional.
O registro gera uma presunção relativa (iuris tantum) da veracidade
das informações nele contidas.
Ex.: João comprou um imóvel, pagou e verificou no registro que o
vendedor constatava como o real titular; posteriormente, um terceiro conseguiu
judicialmente a retificação do registro, o titular (que vendeu a casa) não era o
real proprietário, e sim o terceiro. Neste caso, o terceiro tem direito de retomar
o imóvel que foi vendido para João?
Solução: a presunção gerada pelo registro é relativa, logo, não se pode
confiar fielmente nele, ainda que se tenha tomado as diligências possíveis.
Assim, aquele que adquiriu a casa (João) perderá o imóvel que comprou,
cabendo-lhe cobrar o valor daquele que falsificou o registro.
Em virtude de essa solução ser injusta, criou-se a usucapião tabular:
aquele que adquiriu onerosamente e de boa-fé o imóvel com base em
registro terá direito a usucapião tabular, desde que tenha feito do imóvel a sua
moradia ou tenha realizado nele investimentos de interesse social ou
econômico, durante o prazo de 5 anos.
- CC, 1245 – aquisição pelo registro
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o
registro do título translativo no Registro de Imóveis.
§ 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante
continua a ser havido como dono do imóvel.
§ 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a
decretação de invalidade do registro, e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono
do imóvel.
Vimos às hipóteses de usucapião da propriedade imóvel, que são modos
de aquisição (originária) da propriedade. Aqui vamos tratar de aquisição de
propriedade imóvel pelo registro (e não pela usucapião).
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No direito brasileiro tem-se 2 etapas para a aquisição da propriedade
pelo registro: 1) relação obrigacional (contrato); e 2) transferência do
imóvel mediante o registro. A transferência da titularidade ocorre, portanto, a
partir da realização do negocio jurídico e com o registro.
No direito brasileiro, o registro mantém conexão com o negócio jurídico
que o fundamenta. A presunção de veracidade das informações contidas no
registro é relativa, ou seja, se o negocio jurídico levado ao registro for nulo, o
registro será modificado.
Obs.: na Alemanha, por exemplo, a presunção do registro é absoluta. Lá,
ainda que o negócio seja nulo, a transferência ocorrida com o registro não se
altera.
Questão: se a sentença de usucapião tem caráter declaratório, por que é
necessário o registro para transferir a propriedade do imóvel?
Alguns autores fazem diferença entre propriedade e domínio. Dizem que
o domínio é o conteúdo material da propriedade, aquilo que é possível fazer a
partir da condição do proprietário; já a propriedade é o conteúdo formal da
propriedade. Na prática, o domínio materializaria a propriedade. Para esses
autores, não haveria uma contradição entre a sentença declaratória e a
obrigatoriedade do registro. A sentença de usucapião seria declaratória da
aquisição do domínio. E a propriedade, a titularidade, a questão formal seria
resolvida pelo registro da sentença de usucapião.
A maioria da doutrina não diferencia propriedade e domínio, de modo
que a sentença de usucapião teria natureza declaratória e representaria
exceção à regra de que a titularidade só é adquirida com o registro. Este só
teria mera função de dar publicidade à transferência do domínio/propriedade.
- Atributos do registro:
a) Constitutividade – O registro tem caráter constitutivo, ou seja, ele cria ou
modifica uma situação jurídica, de modo que sem ele não é adquirida a
propriedade (exceto na usucapião). Está ligado ao p. da obrigatoriedade, pois
o registro é obrigatório para a aquisição da propriedade.
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b) Prioridade ou Preferência – o registro funciona como histórico do imóvel
(titulares, direitos reais gravados, etc.) e estabelece uma relação de preferência
entre os títulos (título que transfere a titularidade; titulo que grava com ônus;
etc.) que constam nele.
Esta prioridade pode ser analisada de 2 formas:
> é possível estabelecer a ordem dos títulos com base na ordem de registro
dos negócios jurídicos celebrados. Ex.: o mesmo imóvel é vendido 2 vezes;
será proprietário aquele levou primeiro ao registro.
Obs.: há uma ordem para se registrar um imóvel: aquele que levou o negócio
jurídico primeiro ao registro terá prioridade. Ressalte-se que o registro é um ato
complexo: até o ato final do registro ocorrem outros atos, como, por exemplo,
durante 30 dias o Cartório analisa a regularidade do imóvel. Sendo assim, a
ordem de chegada não necessariamente vai se materializar no final do registro,
pois existe uma análise material do título, a qual pode impedir o registro do
negócio que foi levado primeiro.
> é possível estabelecer uma ordem de preferência com base no registro de
direitos reais, por exemplo, a hipoteca. Ex.: dois credores hipotecários sobre o
mesmo bem; existe uma ordem de preferência dada pelo registro; a hipoteca é
executada; o pagamento aos credores será feito com base na ordem do
registro da hipoteca; desta forma, é possível que o 2º credor não leve nada.
c) Continuidade – o registro serve como “biografia”, estabelecendo uma
continuidade dos titulares dos imóveis e dos direitos reais constituídos. Essa
continuidade será respeitada no momento da transferência da titularidade, pois
a pessoa que pretende transferir a titularidade está credenciada para tanto no
registro.
Em síntese, a continuidade determina que a pessoa que figura no
registro é apta para transferir a titularidade para outra pessoa, de modo a
garantir a continuidade.
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d) Publicidade formal - o registro é um mecanismo que garante a publicidade
dos títulos do imóvel. É formal porque nem todos têm condições fáticas de
saber que o imóvel está registrado.
e) Legalidade – o oficial do registro faz um exame de legalidade do registro,
porém tal exame de legalidade é superficial, ou seja, analisa-se se o registro
está de acordo ou não com as exigências da lei (ex.: feito por instrumento
público, taxas, etc.); não se analisa o conteúdo do registro (ex.: não vai analisar
se o negócio jurídico é viciado).
- Princípios:
1 – Obrigatoriedade
O registro é obrigatório para a aquisição de propriedade imóvel.
2 – Consentimento formal
Quando se realiza um negócio jurídico com a tentativa de transferir a
titularidade, há um consentimento do titular do imóvel quanto à transferência da
sua titularidade. Feito isso, não é preciso de outro consentimento. Existe um
consentimento implícito pela própria existência do negócio jurídico, através do
qual ele dá inicio ao processo de transferência, presumindo-se que o registro
independe de uma nova manifestação de vontade por parte do vendedor.
Em síntese, o consentimento é formal porque, uma vez realizado o
negócio jurídico, presume-se que o vendedor quer transferir a propriedade, não
necessitando de um novo consentimento para a realização do registro.
3 – Fé pública x presunção relativa
De um lado, as informações que constam do registro possuem fé
pública, ou seja, presumem-se verdadeiras (“pode confiar”). De outro lado, há a
questão da presunção relativa da veracidade das informações contidas no
registro, pois, eventualmente, pode o sujeito adquirir o imóvel confiando no
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registro e, posteriormente, ser surpreendido por uma sentença judicial que
retifica o registro falso e reconhece a titularidade a outra pessoa que não a que
vendeu o imóvel.
O fato de a presunção ser iuris tantum afeta ou não a noção de fé
pública do registro? O entendimento majoritário é que não há contradição; vale
aquela ideia “confie, mas sempre com um pé atrás”. Entende-se que não há
contradição porque não há como garantir absoluta veracidade das informações.
Não obstante, garante-se fé pública porque, via de regra, as informações são
verdadeiras.
Registro Torrens
É um registro que gera presunção absoluta quanto às informações nele
contidas. Não é muito comum, pois requer um procedimento especial muito
caro.
- CC, 1248 - Aquisição por acessão
A acessão é uma forma de aquisição da propriedade. No 1248 há
diversos tipos de acessão, mas o professor não analisará todos.
1ª hipótese (clássica): dono do material constrói em terreno alheio. O
que fazer com essa construção? Deve ressarcir aquele que construiu? O
dono do terreno deve ser indenizado? Deve demolir a construção? Essa
prática pode ocorrer de boa-fé ou de má-fé.
2ª hipótese : o dono do terreno constrói com material alheio. O que
acontece?
3ª hipótese : o individuo não é proprietário nem do terreno e nem do
material. Qual a consequência?
- requisitos:
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A acessão é um modo de aquisição da propriedade que decorre dos
seguintes requisitos.
1) Coisas distintas (ex.: terreno x material x construção)
2) Relação acessório/principal
Doutrina e jurisprudência entendem que nessas hipóteses consolida
uma relação de acessório e principal entre essas coisas distintas. Isso tem
relação com o p. da gravitação universal, segundo o qual o acessório segue
a sorte dada ao principal. Diante disso, o dono do principal se torna o dono do
acessório.
Ex.1: o dono do terreno (principal), via de regra, torna-se o dono da casa
(acessório).
Ex.2: mas se o valor da casa é maior do que o terreno, aquela passa a
ser o principal e este, o acessório.
3) União entre as coisas
4) Proprietários distintos
5) Não é possível / recomendável desfazer
Se for possível (leia-se: economicamente viável) desfazer a obra, a
solução é simples: desfaz. O problema é quando o resultado do desfazimento é
inviável.
Ex.: constrói 2 prédios no terreno; materialmente é possível derrubá-los;
mas não é recomendável fazê-lo.
70
AQUISIÇAO POR ACESSAO (cont.) – NÃO CAI NA PROVA
Acessão é modo de aquisição da propriedade que pode ganhar formas
diversas. Aqui nos temos estudando a acessão (junção) de móvel a imóvel.
Vimos os requisitos para acessão: as coisas pertencem a donos
diversos, existe uma relação de acessório e principal, essas coisas se
conectam e passam a ser não recomendável do ponto de vista econômico.
Vimos as 3 hipoteses: dono do terreno controi com material alheio, dono
do material constrói em terreno alheio, alguém constrói com material e terreno
alheios.
- CC, 1254
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno
próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a
propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor,
além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Na maioria das vezes o dono do terreno acaba adquirindo a propriedade
do bem que foi construído no terreno, pois o terreno é o principal e a
construção é o acessório.
Mas pode ocorrer da construção ser mais valiosa e passar a ser o
principal, invertendo o p. da gravitação universal.
Dificilmente a construção será desfeita, pois na maioria das vezes é
economicamente inviável a demolição.
O 1254 traz o dono do terreno que construiu com material alheio. O
material, por ser acessório, passará a ser de propriedade do dono do terreno.
Haverá então a aquisição da propriedade, mas terá que indenizar o dono do
material.
- obrou no próprio terreno com material alheio – aquisição + indenização
CC, 1255
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Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno
alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas
e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização.
Obrou no terreno alheio > perde os materiais
O 1255 traz o dono do material que construiu no terreno alheio. Será o
proprietário do terreno, a principio, que ficará com a propriedade da construção.
O dono do material perderá os materiais.
A doutrina discute se esse cara construiu em terreno alheio, ele é
possuidor do terreno (pelo menos na parte na qual há a construção; isso que
foi construído no terreno alheio pode ser comparada as benfeitorias, para fins
de indenização. Se for considerado possuidor de boa-fé, terá direito ao
ressarcimento pelas benfeitorias. Se for de ma-fe, não terá direito.
O entendimento majoritário é: pode-se aplciar o regime das benfeitorias
ao materiais. A doutrina se divide quanto a possibilidade do direito de retenção,
ou seja, se o dono do material pode reter a coisa até que o dono do terreno
indenize.
Se o dono do material (possuidor) tiver a posse de má-fé, é pacifico que
ele não terá a ser ressarcido.
O p. ú diz que se a construção for mais valiosa, adota-se outra solução.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder
consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé,
plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante
pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver
acordo.
- valor da obra maior que o do solo
Aqui a lógica se inverte: a construção passa a ser o principal e o terreno
passa a ser o acessório. Mas devemos nos ater ao seguinte: o legislador fala
72
em “construção que excede manifestamente o valor do terreno”; assim, a
construção tem que ser muito mais valiosa.
CC, 1256 – ambos de ma-fé
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o
proprietário as sementes, plantas e construções, devendo
ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o
trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e
sem impugnação sua.
O 1256 preve que tanto o dono do terreno quanto o dono do material
atuam de má-fé. O primeiro invade o terreno e faz uma construção. O segundo,
ciente de que tem alguém construindo, deixa pra lá e depois questiona.
Nesta hipótese, aplica-se a mesma ideia quando ambos estao de boa-fe:
o dono do terreno adquire a propriedade, mas deve indenizar o dono do
material.
CC, 1257
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso
de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem
de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou
materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização
devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
* O proprietário do material cobra de quem construiu
* O dono do terreno é devedor do obreiro
Alguém utiliza materiais alheios para construção em terreno de outra
pessoa (ele não é dono de nada). Qual é a solução? Para o professor,
seguindo Caio Mario, o dono do material cobra de quem utilizou o material; o
73
dono do terreno adquire a propriedade da construção, e tem que indenizar o
obreiro (dono do material).
O dono do terreno tem responsabilidade subsidiária quando a
indenização dos materiais.
Obs.: o legislador desconsiderou a extensão da obra e também se o
proprietário tem interesse em adquirir a construção.
CC, 1258
Prevê a hipótese do sujeito que constrói invadindo parte do terreno
alheio. Parte da construção está no seu terreno, parte no terreno alheio. Sendo
viável economicamente a destruição, faça-a. Não o sendo, o legislador traz
duas soluções, com base na extensão da área invadida.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio,
invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte
deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do
solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte,
e responde por indenização que represente, também, o valor
da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos
previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a
propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à
vigésima parte deste e o valor da construção exceder
consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a
porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
O construtor está de boa-fé, invadiu pequena parte no terreno alheio.
Qual é a solução? O construtor adquire a propriedade do terreno que invadiu,
mas tem que pagar uma indenização, cujo valor engloba o valor do terreno, o
valor da desvalorização (o terreno invadido pode sofrer uma desvalorização em
função da invasão recair sobre parte do terreno valorizada).
74
E se o construtor está de má-fé, qual é a solução? Está no p. ú: o
construtor adquire a propriedade, por conta da dificuldade do desfazimento da
obra. Porém, tem que pagar uma indenização cujo valor é 10x maior do que a
indenização normal (acima).
Boa-fé + área menor que 1/20
- adquire a propriedade + indenização pelo valor do terreno + desvalorização
da área
- má-fé + área menor que 1/20:
Solução igual+ indeniação de 10x
CC, 1259
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do
solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a
propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e
danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à
construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da
área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que
nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que
serão devidos em dobro.
- boa-fé + área maior do que 1/20
- adquire a propriedade + perdas e danos
O professor ressalta a incroguencia do legislador, pois no 1259 se dá
valor a extensão da área. Nesta hipótese, aquele que construiu passará a ser o
proprietário do imóvel.
Porém, quando trata do construtor de má-fé, a obra deve ser demolida.
Segundo o professor, se a construção é extensa, mantendo-se a lógica dos
artigos precedentes, o construtor teria que pagar uma indenização, ainda que
de alto valor.
75
A doutrina também aponta essa incogruencia, argumentando que o ideal
é o construtor adquirir a propriedade do terreno e ressarcir o proprietário. Isso
em respeito a função social da propriedade e a inviabilidade econômica do
desfazimento da obra.
Atenção! CC, 1228, §§4º e 5º
- Reivindicatória; extensa área; posse de boa-fé; obras
- deficiências:
a) boa-fé?
b) quem paga a indenização?
c) valor da indenização
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha.
(...)
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse
ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a
sentença como título para o registro do imóvel em nome dos
possuidores.
76
O legislador criou um instituto que, na pratica, não tem aplicação, por
apresentar muitos problemas. Esse instituto é considerado, por muitos autores,
como uma hipótese de usucapião. O professor, porém, discorda. Para ele,
a previsão no §5º de pagamento de indenização descaracteriza a usucapião.
Outros autores falam em “desapropriação”. Mas também está incorreto,
pois o artigo não fala da participação do Estado. Sabe-se que a desapropriação
é um ato privativo do Estado, e não é essa a hipótese prevista nos §§4º e 5º.
O melhor entendimento é que vê o instituto como uma hipótese de
“acessão social invertida coletiva” (professor Pablo Renteria). Faz sentido falar
em acessão por enxergarmos alguém que constrói em terreno alheio e acaba
adquirindo a propriedade desse terreno.
Essa disposição legal surgiu daquela situação na qual há um grupo de
pessoas invade um terreno, fixa residência, sendo inviável socialmente a
reversão da situação.
O instituto acaba sendo prejudicado por ser obscuro. Por ex, fala em
“extensa área”, “obra de interesse social”, “considerável número de pessoas”,
etc.; enfim, são conceitos indeterminados que impedem o enquadramento
legal.
Outra questão apontada pelo professor que prejudica o instituto é a
“boa-fé”. Isso porque aquelas pessoas que invadem têm conhecimento que o
terreno é de propriedade de alguém.
Outro problema: a indenização. Normalmente, as pessoas que invadem
tem baixa renda, não tendo condições de pagar a indenização. Por outro lado,
o proprietário deve ser indenizado. Isso dificulta a aplicação do instituto.
Alguns autores questionam: qual o valor da indenização? As benfeitorias
construídas pelo grupo de invasores, em geral, diminuem o valor do terreno.
Neste caso, os invasores devem pagar pelo valor atual do terreno, ou pelo
valor anterior à invasão? Dúvida!
AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
- usucapião de bens móveis (CC, 1260 a 1262)
77
O professor não aprofundará no assunto, pois o instituto não se altera
muito para a usucapião de bens imóveis. A principal mudança é o tempo para a
usucapião, pois a posse dos bens móveis da maior visibilidade, o proprietário
teria mais condições de reaver a coisa.
- ocupação (CC, 1263)
Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo
lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa
por lei.
O instituto da ocupação diz que quem assenhorear de coisa sem dono
passa a ser dono.
Vimos que a descoberta se refere a bens móveis perdidos. Aquele que
descobriu tem o dever de devolver, pois a coisa ainda tem dono. A descoberta
não é forma de aquisição da propriedade, pois a coisa tem dono.
A ocupação é forma de aquisição da propriedade, pois a coisa, que não
tem dono, passa a pertencer aquele que passa a te-la.
- achado do tesouro (CC, 1264 a 1266)
Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de
cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o
proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente.
O instituto “achado do tesouro” refere-se a coisas móveis ou coisas que
tenham se tornado imóveis (ex.: faz uma parede de ouro).
A expressão “preciosidade” pode se referir não necessariamente ao
valor econômico, mas também de valor cultural.
Quando se usa a expressão “depósito antigo”, não é relevante a
passagem do tempo. refere-se a impossibilidade de se descobrir o proprietário
da coisa.
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Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do
prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou
por terceiro não autorizado.
Se a pessoa que achou estiver agindo sob ordens do proprietário, ela
não terá direito sobre a coisa. Entretanto, se ela encontrou casualmente, aí ela
tem direito a parte da coisa.
- tradição (CC,
?????pegar última aula antes da prova (quinta)
DIREITO DE VIZINHANÇA
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer
cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos
que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da
utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as
edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da
vizinhança.
O termo vizinhança é utilizado de forma ampla. O vizinho não é apenas
aquele que está imediatamente ao lado. Diz respeito ao conjunto de residentes
que podem sofrer algum tipo de interferência no exercício do direito de
propriedade.
As normas de vizinhança são encaradas como obrigações propter rem,
ou seja, próprias da coisa. São obrigações que devem ser observadas não só
pelo proprietário, mas também pelo possuidor. São obrigações que aderem à
coisa, de forma que qualquer pessoa deve observa-las. Isso mostra que não
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estamos falando somente do exercício do direito de propriedade, pois o
possuidor e até mesmo o detentor devem observar as normas.
Estamos tratando das normas que disciplinam situações nas quais o uso
da propriedade está sendo feito de maneira indevida, inadequada.
- limitações no interesse da vizinhança
Os doutrinadores começam falando que o direito de vizinhança
representaria uma limitação ao direito de propriedade.
Será que essa afirmação é correta? O direito de vizinhança objetiva
estabelecer uma disciplina harmônica do convívio dos vizinhos.
Para o prof, aquela afirmação não é verdade. Para ele, se estamos
falando de limitação ao direito de propriedade, há o pressuposto que o direito
de propriedade é livre, pleno, e que o legislador estaria o limitando. Entretanto,
para o prof, nenhum direito, inclusive o de propriedade, é absoluto, ilimitado,
mas todos possuem limitações, são relativos.
Para o prof, o direito de vizinhança consiste numa conformação,
disciplina do direito de propriedade, com o intuito de se alcançar o objetivo de
harmonizar as relações de vizinhança.
- vizinhança # servidão
No CC, há varias situações relativas a direito de vizinhança (passagem
das águas, por ex). Não vamos estudar todas, somente a passagem forçada,
que se assemelha a servidão.
Quando se fala em servidão, trata-se de direito real. Já as normas de
direito de vizinhança não constituem direitos reais, mas simplesmente
disciplinam as relações, são obrigações propter rem. Analisa-se um dos
aspectos do direito de propriedade, que tem como objeto imediato uma coisa,
um bem. Grosso modo, estudamos o que o proprietário pode e o que ele não
pode fazer no exercício do seu direito de propriedade.
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As normas reguladoras do direito de vizinhança têm como origem no
CC, ou seja, elas são impostas pelo legislador. Não há espaço para autonomia
privada. Já os direitos reais são constituídos por vontade das pessoas. Por ex,
a servidão é constituída de maneira livre, decorre da autonomia da vontade.
Quando falamos de direito de vizinhança, tutela-se o interesse da
vizinhança, abrangendo mais do que o direito individual (do proprietário). Já
nos direitos reais tutela-se os interesses das partes pactuantes, e não de um
grupo de pessoas. Assim, por ex, quando eu constituo em usufruto um imóvel
para minha mãe, apenas ela e eu somos os interessados.
Estamos tratando de normas que buscam tutelar os interesses da
vizinhança, o que implica em evitar danos indevidos. Assim, a tutela das
normas consiste em evitar o surgimento de danos indevidos pelos vizinhos. Ou
seja, as normas determinam quais danos devem ser ressarcidos e quais danos
devem ser suportados pelas partes.
- o que é uso anormal da propriedade?
CC, art. 1277
* iguais
* abusivas
* licitas > lesivas
O entendimento é de que o uso anormal da propriedade é que deve ser
evitado, combatido. A contrario senso, presume-se que o uso normal da
propriedade não causa prejuízos que demandem restrições.
O uso anormal decorre de condutas flagrantemente ilegais. Ex.: num
condomínio edilício, um dos moradores começa a manipular explosivos.
O uso anormal pode decorrer de condutas abusivas. Por estas deve-se
entender aquelas condutas que excedem “manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (art.
187, CC). Ressalte-se que o ato abusivo é aferido de acordo com critérios
objetivos, de tal forma que a intenção do agente não interessa. Ex.: é vedado
escutar som alto depois das 10 horas; isso é imposto pela norma; mas se a
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pessoa escutar som alto durante o dia, claramente há uma conduta abusiva,
caracterizando um uso anormal do direito de propriedade.
Alguns autores colocam que todo o dano que deve ser ressarcido é
ilícito, e justamente por ser ilícito é que deve ser ressarcido. Se ele deve ser
ressarcido, é porque ele é contrario ao que determina o direito. ????
- critérios para aferição:
a) Extensão do dano / incomodo
b) Local do conflito / dano
c) Anterioridade / teoria da pré-ocupação
Há dificuldade em especificar quais seriam os danos ressarciveis. Para
tanto, os tribunais adotam alguns critérios para identificar um dano que deve
ser ressarcido no âmbito do direito de vizinhança. São eles:
A) extensão do dano ou incomodo – o juiz vai dizer que o dano é intolerável,
está fora do que é normalmente aceito. Para o prof, é um critério extretamente
subjetivo.
B) local do conflito ou do dano – esse critério é objetivo. Os municípios
possuem estudos sobre o mapeamento urbano, de modo que se sabe onde a
zona é industrial, onde é urbana, e de acordo com isso se admite danos
suportáveis diferentes.
C) critério da anterioridade (teoria da pré-ocupação) – aqueles que chegaram
em primeiro lugar, ditam os usos e costumes do lugar.
- bens jurídicos afetados:
* segurança – sossego
* saúde – decoro?
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As normas de direito de vizinhança buscam tutelar os seguintes bens
jurídicos: segurança, sossego, saúde. Embora o 1277 não diga, alguns, como
CRG, defendem que tutela-se também o decoro.
- soluções:
Diante de uso anormal da propriedade, quais as soluções judiciais
possíveis? Pode-se entrar com uma medida judicial pleiteando:
a) Redução - do nível de ruído, poluição, etc..
b) Cessação – da atividade
c) multa / indenização – a multa é imposta pelo descumprimento da ordem
judicial; a indenização é calculada tendo em vista a desvalorização dos
imóveis.
Passagem forçada:
CC, art. 1285
- passagem penosa: admite passagem forçada?
Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou
porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho
a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário.
§ 1º Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e facilmente
se prestar à passagem.
§ 2º Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca
o acesso a via pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a
passagem.
§ 3º Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando, antes da
alienação, existia passagem através de imóvel vizinho, não estando o
proprietário deste constrangido, depois, a dar uma outra.
83
A passada forçada existe quando o prédio não tem saída para via
pública, nascente ou porto. É o chamado “prédio encravado”. Esse dono terá
direito a constranger o vizinho a conceder-lhe passagem, tendo, em
contrapartida, que indeniza-lo.
A passagem forçada é devida quando a propriedade está encravada, ou
seja, não tem saída. Mas não se caracteriza em razão de maior comodidade.
A passagem forçada só é devida quando o individuo não tem realmente
outra saída.
Nos tribunais há alguns temperamentos a esse entendimento. Por ex, se
a passagem for penosa, admite-se a passagem forçada. Ainda que exista uma
passagem, alguns juízes admitem a passagem forçada.
Condomínio Geral – CC, art. 1228 // edilício
O que é o condomínio? Condomínio significa domínio compartilhado, ou
seja, há mais de uma pessoa na condição de titular do direito de propriedade.
O condomínio geral diz respeito ao compartilhamento de domínio de
bens em geral onde não há uma edificação (prédio). Ex.: há mais de um
proprietário sobre uma casa.
Quando se tratar de edificação (prédio), tem-se um regime específico: o
condomínio edilício. Neste há uma confusão, pois ao mesmo tempo que há
compartilhamento de propriedade sobre o prédio, cada morador tem
propriedade exclusiva sobre sua unidade.
No caso do condominio geral não há essa propriedade exclusiva por um
dos proprietários, todos possuem igual propriedade sobre o mesmo bem.
O problema é como disciplinar a relação entre os proprietários. Este
possuem direitos qualitativamente idênticos, nenhum pode exercer de forma
exclusiva o seu direito lesando o outro (exceção a regra de propriedade
exclusiva).
- fração ideal – mecanismo para atribuição de direitos e deveres
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Criou-se a ideia da “fração ideal” como o mecanismo para atribuição de
deveres e direitos aos proprietários. Quando se fala em fração ideal, constitui-
se no critério para delimitar os direitos e deveres de cada proprietário.
Normalmente, a fração ideal é calculada tendo por base a contribuição
pecuniária para a aquisição do bem.
- origem:
* convencional / voluntário
* legal / necessário
* eventual
- forma: pro diviso / pro indiviso
Questão: condomínio fechado legitimidade para cobrança de taxas
Pós-greve
CONDOMÍNIO GERAL
- concepção
* indivisão material
* divisão abstrata – fração ideal
O grande problema com relação ao condomínio é a compatibilização dos
interesses de cada condômino.
Condomínio geral – trata-se de uma pluralidade de direitos de
propriedade sobre o mesmo bem. Há diversos proprietários.
Essa ideia de vários proprietários desafia a ideia de propriedade. Isso
porque a noção desta está ligada à exclusividade. No condominio, essa
carcterística não está presente, colocando em xeque a noção de propriedade.
No condominio, portanto, não há a exclusividade. De uma lado, há uma
pluralidade de proprietários e, de outro, a mesma coisa. Inevitavelmente, essa
situação gerará conflitos, decorrente da divergência de opiniões dos
proprietários.
85
É possível que cada um dos proprietários tenham contribuído de
maneira diferente para aquisição do bem (ex.: um terreno). Se a coisa
permanece indivisa (não é dividida), é preciso estabelecer critérios de
diferenciação na fixação de direitos e deveres na medida de cada contribuição
individual.
De um lado, existe uma indivisao imaterial (ele está materialmente não
dividido). Mas existe uma divisão abstrata, que está caracterizada na “fração
ideal”. Cada proprietário tem uma fração ideal, que consiste numa divisão
abstrata do bem de acordo com a contribuição de cada proprietário na
aquisição do bem.
Falar em fração ideal não quer dizer que a pessoa somente será
proprietária no percentual em que contribuiu. Ela será proprietária de tudo.
Ex.: se o imóvel é alugado. A divisão dos frutos (alugueres) será feita
com base na fração ideal. Da mesma forma, o gasto para manutenção do bem
respeitará a fração ideal.
Obs.: Existe uma diferenciação entre o bem que é indivisível e aquele que
permanece indiviso. Existem bens que são indiviseis (não podem ser divididos)
e bens que podem ser dividos, mas permanecem não divididos.
No condominio edilício também existe a figura ideal, que é a unidade
autônoma (apartamentos). Isso porque, embora cada pessoa seja proprietária
de uma unidade autônoma, todos são co-proprietários das partes comuns do
imóvel (ex.: salão de festas, piscina, corredores de prédio, etc.). No condomínio
edilício, a fração ideal serve para determinar quanto cada proprietário deverá
pagar com as despesas condominais, serve também para determinar o peso do
voto nas decisões das assembleias.
- condomínio e a regra da transitoriedade – CC, 1320
No condominio geral, temos uma peculiaridade: “regra da
transitoriedade”
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Art. 1.320.A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa
comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da
divisão.
§ 1º Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo
não maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.
§ 2º Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo doador ou
pelo testador.
§ 3º A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o
aconselharem, pode o juiz determinar a divisão da coisa comum antes do
prazo.
A regra da transitoriedade prevê que o condômino pode a qualquer
tempo exigir a divisão da coisa comum.
O §1º prevê que existe um prazo dentro do qual os condôminos podem
concordar com a permanência da indivisao da coisa comum. Mesmo dentro
desse prazo, o legislador permite que o condômino requeira a divisão da coisa
em virtude de “graves razões”.
Será que isso ocorre no condominio edilício? Não! O legislador não
permite o desfazimento do condominio edílicio porque nele há um hibrido de
partes comuns e unidades autônomas. Ao mesmo tempo, o proprietário detém
a exclusividade sobre seu apartamento e é proprietário das partes comuns.
Assim, não é possível pleitear judicialmente a quebra do condominio edilício.
- uso do imóvel – CC, 1314
- disposição jurídica – CC, 1314
* direito de preferência
O uso do bem tem que ser compatível com os fins definidos em comum
acordo entre os proprietários. A destinação, a forma de utilização devem ser
fruto de uma deliberação conjunta dos titulares. E isso será feito através de
reuniões, assembleias.
Nessa deliberação, aquele que possui uma fração ideal maior terá um
peso maior na definição da forma e finalidade da utilização do bem.
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Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua
destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis
com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse
e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a
destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela
a estranhos, sem o consenso dos outros.
O artigo traz que o uso precisa ser “harmônico”.
Todos os condôminos podem defender a posse contra terceiros. Não é
preciso pedir autorização para os demais condôminos para defender a posse.
Além disso, qualquer condômino pode defender a posse de todo o bem,
independentemente da sua fração ideal.
É possível até mesmo a defesa da posse de uns contra os outros.
Assim, por ex, se um dos condôminos não permite a entrada de outro, este
pode ajuizar uma ação possessória.
IPC! Este artigo permite que as partes ideais sejam gravadas.
Um dos condôminos pode dar a posse do bem a um terceiro? Não! Se a
coisa é indivisa, as decisões sobre o uso do bem precisam ser compartilhadas.
Assim, não é possível dar posse do bem a terceiros sem que todos os
condôminos concordem com isso.
Essa situação não acontece no condominio edilício. Isso porque o
proprietário tem a exclusividade sobre a sua unidade autônoma e, justamente
por isso, pode dar a posse para qualquer pessoa. E no condominio edilício as
unidades autônomas são “principais” e as partes comuns têm importância
secundária (“acessórios”).
No condominio geral, o condômino pode gravar ou alhear a sua parte
ideal.
Quando o condômino dá a sua parte em garantia, ele está gravando a
sua parte ideal.
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Ele pode também alhear, que consiste na venda da sua parte ideal.
Nesta circuinstância, o condominio não será extinto. Contudo, o condômino
deve observar o direito de preferência dos demais condôminos. Existem
critérios para estabelecer a prioridade no direito de preferência: realização de
benfeitorias e fração ideal.
Existe direito de preferência no condominio edilício? Não!
- divisão dos frutos – CC, 1326, 1319
Os frutos serão divididos na proporção da fração ideal, assim como na
contribuição das despesas condominiais.
- administração do condomínio
* CC, 1323
* CC, 1325
Art. 1.323. Deliberando a maioria sobre a administração da coisa comum,
escolherá o administrador, que poderá ser estranho ao condomínio; resolvendo
alugá-la, preferir-se-á, em condições iguais, o condômino ao que não o é.
É interessante que os condôminos escolham um administrador para o
condominio.
Art. 1.325.A maioria será calculada pelo valor dos quinhões.
§ 1º As deliberações serão obrigatórias, sendo tomadas por maioria absoluta.
§ 2º Não sendo possível alcançar maioria absoluta, decidirá o juiz, a
requerimento de qualquer condômino, ouvidos os outros.
§ 3º Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão, será este avaliado
judicialmente.
Nas assembleias a maioria será determinada pela fração ideal
CONDOMÍNIO EDILÍCIO - CC, 1331 e ss.
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- conceito
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são
propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum
dos condôminos.
São edificações nas quais existem, de um lado, partes que são
propriedade exclusiva e, de outro, partes que são comuns.
No condomínio edilício a assembleia geral (“reunião do condomínio”)
decide todas as questões atinentes ao condomínio. E o que rege o condominio
é a “convenção do codomínio”, conjunto de regras que regulam o condominio.
Na votação, aquele que possui uma fração ideal maior terá um peso maior nas
decisões
- características:
a) permanente e indissolúvel
b) direito de ceder o uso da unidade
c) direito de alienar e gravar livremente
- elementos constitutivos
- CC, 1334
- direito dos condôminos – CC, 1335
- deveres dos condôminos – CC, 1336
- casos bizarros
Discute-se hoje na doutrina e jurisprudência a possibilidade de exclusão
do condômino antissocial. Este continuaria proprietário do seu apartamento,
mas estaria impedindo de morar nele.
90
DIRIETOS REAIS NA COISA ALHEIA
- CC, 1225
- domínio > desdobramento / elasticidade
Entre as características dos direitos reais, existe a elasticidade. O
direito de propriedade dá para o seu titular uma multiplicidade de formas de
exercício da sua condição de proprietário. O CC prevê que o proprietário pode
usar, gozar, dispor e reaver a sua propriedade. Essas faculdades são
conteúdos do domínio.
Assim, por ex, o proprietário de um imóvel pode: morar, alugar, realizar
eventos, etc..
Quando se fala nos direitos reais na coisa alheia, faz-se referencia a
algumas dessas faculdades. O domínio pode ser desdobrado em outros direito
reais. De um lado, portanto, há o domínio e, de outro, há múltiplas formas de
exercício da titularidade.
É possível constituir novos direitos reais a partir do desdobramento do
domínio.
E qual a relação entre “domínio” e “elasticidade”? Quando se fala em
elasticidade, refere-se ao caráter temporário do desdobramento do domínio.
Assim, por ex, se eu constituo um usufruto em favor de uma pessoa,
temporariamente eu estarei sem a faculdade de alguns direitos do domínio.
Mas, posteriormente, eu retornarei a ter novamente o domínio em sua
plenitude.
- classificação/tipos dos direitos reais:
Existem 3 tipos, de acordo com suas funções:
* direitos reais de garantia
Penhor e hipoteca.
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* direitos reais de uso e função (ou direitos reais na coisa alheia)
Esses direitos permitem que o seu beneficiário tenha alguma utilidade no
bem de outrem.
* direito real de aquisição
Promessa de compra e venda.
USUFRUTO
- conceito
Constitui em favor de outra pessoa múltiplas possibilidades de uso da
coisa, exceto dispor.
É um direito real que tem caráter temporário, personalíssimo, que se
constitui pela transferência das faculdades uso, gozo e fruição, desde que
mantida a substância da coisa. Assim, o beneficiário não possui da faculdade
de dispor.
Usufrutuário = beneficiário
Por que a substância da coisa deve ser mantida? Porque, pelo caráter
temporário do usufruto, o proprietário terá que receber a coisa em condições de
utilizá-la.
No entanto, há uma figura peculiar: “quase-usufruto”, no qual o usufruto
recai sobre bens consumíveis, que, ao serem usados, perdem a sua
substância.
- função
Disciplinar a separação entre a titularidade e o aproveitamento
econômico do bem.
- Características:
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a) Personalíssimo
O usufruto é personalíssimo. Isso significa que ele é constituído em favor
de uma pessoa, tendo em vista as suas características.
b) impossibilidade de usufruto sucessivo
Não é possível, em função do caráter personalíssimo, constituir o
usufruto em favor mais de uma pessoa sucessivamente.
Obs.: é possível o usufruto simultâneo – constituído em favor de mais de uma
pessoa para exercício simultâneo.
Obs.: direito de acrescer ou cláusula de acrescer – o usufruto, como vimos, é
temporário. Em muitas ocasiões, é constituído de forma vitalícia (enquanto o
usufrutuário viver, tem direito ao usufruto). Após a morte, o usufruto se extingue
(por ser temporário e personalíssimo). Assim, o aproveitamento econômico
retorna ao proprietário.
No caso de usufruto simultâneo concedido de forma vitalícia, o usufruto
permanece em relação aos demais usufrutuários e se extingue apenas para
aquele que morreu. Porém, as partes podem convencionar a “clausula de
acrescer”: a parte do falecido se transfere aos usufrutuários
sobreviventes.
Ex.: 3 irmãos tinham o usufruto de um imóvel, o qual estava alugado, de
modo que o aluguem era dividido entre os 3. Com a clausula de acrescer, caso
um dos irmãos venha a falecer, a parte do aluguel que cabia ao irmão que
faleceu é dividida entre os sobreviventes.
c) é inalienável
Não se pode vender a condição de usufrutuário, em virtude do caráter
personalíssimo. Embora não possa vendar, o usufrutuário pode ceder os seus
direitos de uso, gozo e fruição.
93
d) natureza alimentar (mitigada) – CC, 1393
Isso é mitigado, pois é possível hoje o usufruto em favor de pessoa
jurídica.
e) conexão com a substância da coisa – CC, 1392, §2º
Obs.: por ser um direito real, o usufruto precisa de um registro; logo, apenas
através de um documento escrito pode ser constituído o usufruto. Se permitisse
o contrato verbal, sairia da seara do direito real para o direito obrigacional.
Obs.: Quando se constitui um usufruto, o nu-proprietário fica apenas com o
título de propriedade do bem, transferindo ao usufrutuário o direito de
aproveitamento econômico do bem.
Em virtude do caráter de oponibilidade erga omnes dos direitos reais,
o usufruto têm efeitos sobre todos, de modo que, se o nu-proprietário dispor da
coisa, o adquirente terá que obedecer ao direito real existente (como o
usufruto).
Objeto – CC, 1390
O 1390 fala do objeto do usufruto: bens móveis (ex.: trator, carro,
animal) ou imóveis (ex.: casa, terreno). Nestes casos, o usufruto recai sobre
bens específicos
- bens específicos (usufruto particular)
Usufruto pleno – é aquele constituído sem restrição sobre a utilização da
coisa, desde que mantida a substância da coisa.
- patrimônio – usufruto universal
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- usufruto pleno
É aquele constituído sem restrição sobre a utilização da coisa, desde
que mantida a substância da coisa.
- usufruto restrito
É aquele que restringe o modo de aproveitamento do bem. Ex.: constitui
o usufruto sobre uma fazenda, não permitindo que ela seja usada como hotel
fazenda.
“Quase usufruto” – CC, 1392, §1º
- Modos de constituição
a) legal
* pais
* usufruto indígena – CF, 20, X
Ex.: usufruto indígena sobre terras da União.
Ex.: usufruto dos pais sobre os bens dos filhos menores.
Ex.: usufruto do cônjuge viúvo sobre os bens do de cujus.
b) usufruto judicial
ex.: processo de execução. O juiz constitui o usufruto em favor do
exequente e vinculado ao pagamento do débito.
Isso descaracteriza a ideia de usufruto, pois não existe a ideia de
manter a substância da coisa, para que esta possa retornar ao proprietário.
Esse tipo é discutível.
c) usufruto voluntário ou convencional
95
* alienação
* detenção
É aquele constituído a partir da autonomia da vontade. O usufruto
voluntário pode se constituir através de 2 formas: alienação e detenção.
O usufruto voluntário é constituído por alienação quando o proprietário
continua proprieátio e constitui um usufruto em favor de outra pessoa.
O usufruto voluntário é constituído por detença quando o proprietário
doa a propriedade, mas constitui um usufruto para si mesmo (o proprietário
passa a ser beneficiário).
Essa última forma, muitas vezes, pode mascarar uma fraude contra
credores. A pessoa doa a fim de evitar que o credor volte contra seu
patrimônio.
Usucapião de usufruto – CC, 1391
Quando ele resulta de usucapião, não precisa de registro, por ser
decorrente de situação de fato (posse). A sentença de usucapião é
declaratória.
Como se pode usucapir o usufruto? Perceba-se que aqui está se falando
de usucapião sobre direitos (e não sobre o bem).
Ex.: A constitui usufruto em favor de B. Num determinado momento, fica
provado que A não era proprietária (o usufruto a non domino). Nesta
circunstância, surge a hipótese da usucapião do usufruto. Logo, B passa a ter o
direito ao usufruto.
Obs.: O professor entende que, uma vez constituído o usufruto, não pode o
usufrutuário, posteriormente, alegar que possui a posse com ânimo de
definitividade (animus domini). Isso porque, quando da constituição do usufruto,
a posse já tinha sido limitada.
- direitos do usufrutuário
* CC, 1394
* CC, 1396 – 1398
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Obs.: 1397 – prevê o usufruto sobre animais. Este artigo prevê que as crias
serão de propriedade do usufrutuário só depois que inteirar as cabeças que
estavam no início do usufrutuário.
- obrigações do usufrutuário
* CC, 1400 – inventario
* CC, 1401 – garantia
Se o proprietário quiser, ele pode exigir a caução para constituir o
usufruto. Caso o usufrutuário não queira ou não possa dar caução, ele perderá
a administração do bem, que ficará a cargo do proprietário. Para administrar o
usufruto, o proprietário terá que, mediante caução, entregar os rendimentos da
coisa ao usufrutuário, deduzidas as despesas com a administração, inclusive a
remuneração pela administração.
* CC, 1403 e 1404 – conservação
- extinção do usufruto – CC, 1410
a) morte do usufrutuário
* CC, 1411 – usufruto simultâneo e o direito de acrescer
Obs.: obviamente, quando o usufruto for constituído em favor de pessoa
jurídica, não há que se falar em extinção por morte. O CC prevê o prazo
máximo de 30 anos para a duração do usufruto (duração a termo) – 1410, III
b) renúncia
c) culpa
d) definição da coisa
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