auto organização e comportamento comum - broens

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  • Gustavo M. Souza, Itala M. Loffredo DOttaviano, Maria Eunice Q. Gonzales (orgs.). Auto -organizao: estudos interdisciplinares. Coleo CLE, v. 38, pp. 213 -235, 2004.

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    Auto-organizao e Comportamento Comum opes e problemas?

    WILLEM FERDINAND GERARDUS HASELAGER

    University of Nijmegen, Nijmegen,

    The Netherlands Ps-Graduao em Filosofia, UNESP

    Marlia, SP [email protected] www.nici.ru.nl/~haselag

    1. INTRODUO

    Normalmente, conseguimos fazer o caf da manha e ir ao trabalho sem empregar muito esforo. De modo semelhante, podemos ir mercearia e comprar os ingredientes para uma refeio que prepararemos no fim do dia sem ser totalmente absorvidos por essa tarefa. Essas formas de comportamento comum no requerem, em geral, muita ateno ou muito trabalho; mesmo assim, as aes nelas envolvidas podem ser bastante complicadas e a sua produo muito sensvel s mudanas no ambiente. Alm disso, essas aes raramente do lugar anlise, porque elas so auto-evidentes. Mas como realizamos esses tipos de ao?

    Tradicionalmente, na cincia cognitiva, o comportamento do senso comum tem sido considerado de modo bastante prximo ao conhecimento e ao raciocnio inferenciais. A hiptese geralmente compartilhada que a forma que vivemos nossa existncia cotidiana deve-se quilo que sabemos

    ? Traduo da verso inglesa por Mariana Cludia Broens.

  • Auto-organizao e Comportamento Comum

    Gustavo M. Souza, Itala M. Loffredo DOttaviano, Maria Eunice Q. Gonzales (orgs.). Auto -organizao: estudos interdisciplinares. Coleo CLE, v. 38, pp. 213 -235, 2004.

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    sobre nosso meio ambiente e habilidade, freqentemente inconsciente, de raciocinar, planejar e agir rapidamente; com base naquilo que sabemos.

    Neste artigo, queremos colocar em dvida a suposio que o comportamento comum est estreitamente interligado ao conhecimento e razo comuns, tradicionalmente concebidos. Para compreender o senso comum, parece relevante primeiramente observar o nosso comportamento e investigar, em vez de postular, se o conhecimento, o raciocnio, os julgamentos, os planos e decises so necessrios para explicar o comportamento observado. Em resumo, nossa hiptese que o compor-tamento do senso comum pode ser entendido, bastante freqentemente, sem apelo s noes de conhecimento, raciocnio, julgamentos, planos e decises. Ao invs disso, sugerimos uma interpretao mais orientada para a ao do senso comum. Acreditamos que, de acordo com a teoria da cognio incorporada e situada (CIS), muitos casos de comportamento comum so nada mais do que atualizaes de disposies comportamentais da interao do corpo com o meio ambiente. A teoria da auto-organizao (TAO) e a teoria dos sistemas dinmicos (TSD) possibilitam uma compreenso de como a interao dinmica entre corpo, crebro e ambiente pode resultar em padres comportamentais relativamente estveis no tempo. Finalmente, observaremos que a aplicao emprica dessas idias da CIS, TAO e TSD ainda deixa muita a desejar.

    2. CONHECIMENTO COMU M, ATITUDES PROPOSICIONAIS E

    REPRESENTAES

    Na vida cotidiana, assumimos geralmente que nossas crenas, desejos e conhecimento do mundo (eventos, objetos, pessoas) dirigem nosso comportamento. Assim, por exemplo, porque acho que o Brasil um pas lindssimo e porque quero viver num pas lindssimo, que fico muito tempo no Brasil. Estas relaes entre conhecimento, crenas, desejos e comportamento fazem parte da psicologia comum (folk psychology): do

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    Gustavo M. Souza, Itala M. Loffredo DOttaviano, Maria Eunice Q. Gonzales (orgs.). Auto -organizao: estudos interdisciplinares. Coleo CLE, v. 38, pp. 213 -235, 2004.

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    nosso modo normal para descrever, explicar e predizer o nosso prprio comportamento e o das outras pessoas.

    Existem vrios debates em filosofia sobre como analisar a psicologia do senso comum. Segundo a interpretao vigente, os estados mentais (crenas e desejos etc) podem ser entendidos como as atitudes de uma pessoa em relao a certas proposies (por exemplo: X acredita, deseja, espera ou tem medo que p).

    Na cincia cognitiva, assume-se que as proposies so represen-tadas por estruturas fsicas no crebro (seja atravs de smbolos ou repre-sentaes distribudas). Assim concebidos, os estados mentais causam literalmente nosso comportamento, devido s foras causais que suas representaes mentais possuem, e estas representaes especificam ao mesmo tempo o contedo dos estados mentais.

    Esta concepo vigente conduz a algumas conseqncias que achamos muito problemticas. Primeiro, a interpretao das crenas e desejos como essencialmente proposicionais conduz imediatamente concepo segundo a qual o conhecimento comum descritivo. Neste sentido, admite-se tradicionalmente que porque possumos descries do mundo que somos capazes de interagir com o os elementos nele existentes. Segundo, porque este conhecimento descritivo sobre o mundo internalizado, a cognio e o comportamento comum so, em ltima instncia, interpretados como o modelo do mundo, com base no qual raciocinamos, planejamos e decidimos antes de agir.

    3. O PROBLEMA DOS FR AMES

    Depois da publicao do artigo famoso de McCarthy & Hayes (1969), os problemas com a abordagem descritivo-representacional do senso comum tm sido muito discutidos com o rtulo de o problema dos frames (the frame problem; Pylyshyn, 1987; Haselager, 1997). Atualmente, parece correto dizer que a Inteligncia Artificial falhou na

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    capacidade de modelar o comportamento comum com base nas represen-taes internas. At o momento, ela no foi capaz de produzir qualquer coisa como uma mquina que age normalmente no mundo. importante compreender que no estamos falando sobre a realizao de tarefas complicadas, que envolvem uma capacidade muito desenvolvida (por exemplo, vencer o campeo mundial de xadrez), mas sobre capacidades normais da vida comum, tais como fazer caf, ir ao trabalho, comprar comida para o ja ntar, etc.

    Embora exista um grande debate sobre a exata natureza do problema dos frames, uma dificuldade fundamental subjacente a este problema que as pessoas parecem possuir uma quantidade enorme de conhecimento comum e elas so capazes de usar este conhecimento com rapidez e eficincia. J difcil formular exatamente aquilo que sabemos (veja, por exemplo, o projeto de Cyc: Guha & Lenat, 1990; 1993; Dreyfus, 1992, p. xvi-xxx), mas ainda mais difcil modelar nosso uso eficiente e flexvel das partes relevantes de nosso conhecimento. As tentativas de modelagem do comportamento comum com base em grande quantidade de conhecimento representado internamente no tm, at agora, tido sucesso. Os modelos se perdem no turbilho dos seus prprios conhecimentos e o excesso de conhecimento tem como resultado a apatia computacional.

    O problema dos frames contribui para as investigaes dos outros modos de representar o conhecimento, como, por exemplo, representaes distribudas nos modelos conexionistas. Em outros artigos argumentamos que o problema dos frames no pode ser resolvido com base nas representaes distribudas, mas apenas transformado num outro tipo de problema, de igual complexidade (Haselager, 1999; Haselager & van Rappard, 1998). Tambm no estamos focalizando aqui o problema de saber se as representaes so, em geral, adequadas ou no adequadas. Isso porque o significado do conceito de representao no claro na cincia cognitiva (Haselager, de Groot & van Rappard, 2003). Ao invs de

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    responder as perguntas indicadas acima, queremos sugerir que a raiz do problema dos frames consiste nas suposies de que o conhecimento comum precisa ser caracterizado na terminologia de atitudes proposicionais e que nosso comportamento uma conseqncia de se raciocinar sobre proposies representadas. Nossa sugesto abandonar estas suposies e examinar nosso comportamento comum a partir de uma nova perspectiva. 4. PENSAR VERSUS AGIR?

    Consideremos o seguinte exemplo simples: acordamos pela manh, tomamos banho, colocamos a roupa, vamos cozinha, fazemos caf e comemos. Essa seqncia de aes se desenrola naturalmente, sendo interrompida apenas quando alguma coisa est errada. Um aspecto memorvel desta seqncia do comportamento comum, razoavelmente complicada, que podemos realiz -la sem precisar pensar e sem exigir esforo mental. Em contraste, imaginemos, por exemplo, um cientista em frente do seu computador, olhando para a tela, tentando escrever o texto de sua palestra da semana que vem. Outro exemplo: imaginemos uma pessoa jogando xadrez por mais de 4 horas, numa partida difcil. Estas atividades so quase opostas quelas descritas acima. Neste caso, as pessoas pensam profunda e concentradamente sobre suas aes, antes de fazer qualquer coisa. Este tipo de comporta mento exige esforo e concentrao; normalmente, nos sentimos cansados depois de realiz -las.

    Parece, ento, que possvel distinguir dois tipos de comportamento. Durante o caf da manh, funcionamos quase automaticamente, habitual-mente, ou no piloto automtico. Em contraste, no xadrez, funcionamos com base em pensamentos profundos : exigimos esforos para pensar explicitamente e nos dedicamos totalmente a essa atividade. Em outras palavras: no primeiro exemplo, nosso comportamento se desenvolve naturalmente a partir das nossas interaes com o ambiente, mas no segundo exemplo pensamos sobre o problema e procuramos solues antes

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    de agir. Normalmente, parece que agimos sem pensar explicitamente sobre nossas aes; s quando as circunstncias nos foram, que realmente pensamos.

    Queremos esclarecer que esta distino entre pensamento profundo, implcito em certas aes, e comportamento automtico ou habitual no implica uma oposio mutuamente excludente: eles podem ser complemen-tares. Isso fica claro, se consideramos que somos capazes de alternar rapidamente os modos de comportamento automtico e o pensamento profundo. Se uma coisa inesperada impede o desenvolvimento natural do comportamento, podemos mudar rapidamente para um (muitas vezes breve) perodo de pensamento profundo para resolver o problema e depois voltamos ao comportamento automtico. Alm disso, parece que a capacidade de pensar profundamente pressupe o comportamento habitual. A capacidade de se comportar automaticamente e de se ajustar aos eventos evolutivamente anterior capacidade de pensar profundamente de modo desconectado da realidade (off line, veja, por exemplo, Brooks, 1991; Grush, 1997). Nesta perspectiva, o entendimento do comportamento habi-tual pode constituir uma precondio para entender como o pensamento profundo interfere no e/ou interage com o comportamento habitual. Con-tudo, a continuidade entre estes dois tipos de comportamento no exclui a possibilidade de, em circunstncias cotidianas, agirmos, na maioria das vezes, automaticame nte. Para entender o comportamento comum, pode ser metodologicamente apropriado focalizar no comportamento automtico.

    5. O COMPORTAMENTO COMUM

    Em oposio ao behaviorismo, a cincia cognitiva d nfase ao processamento interno de informao. A pressuposio da cincia cogniti-va tradicional de que os seres humanos (e os animais em geral) represen-tam estmulos recebidos, criam modelagens do ambiente, consultam suas crenas e desejos, geram planejamentos e depois decidem qual planeja-

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    mento precisa ser executado, para produzir um comportamento apropriado. Por exemplo, se desejamos tomar caf, e se temos a crena que a mquina para fazer caf est na cozinha, planejamos ir cozinha, tomamos uma deciso e depois agimos. Supe-se que estes procedimentos devem ocorrer de maneira rpida e subconsciente. Ento, a pressuposio que estes processos so muito similares ao pensamento consciente explcito.

    Em nossa opinio, esta perspectiva conduz a uma distoro profunda do senso comum, porque ela ignora completamente que nos comportamos automaticamente (no modo auto-piloto) em muitas situaes. Esta pers-pectiva intelectualiza ou racionaliza o comportamento comum. Conside-remos, por exemplo, a seguinte citao de uma introduo de um livro recente sobre Senso comum, raciocnio e racionalidade: Examinemos um problema famoso do senso comum: que conhecimento est envolvido na formulao de um planejamento simples para quebrar um ovo em uma tigela, com a inteno de que o contedo do ovo esteja dentro da tigela? (Elio, 2002, p. 11).

    Achamos que a formulao acima deste problema do senso comum no tem muita relao com o senso comum. Entendemos que no selecionamos nosso conhecimento sobre tigelas, ovos, lquidos, gravitao, mos, presso das mos e movimentos rpidos (s para mencionar alguns aspetos que so relevantes), para formular um plano. Este modo de formular o problema do senso comum cria o problema dos frames. A pressuposio que, de alguma maneira, o conhecimento representado deve estar envolvido na ao cotidiana agrava o problema de explicar e modelar o conhecimento comum. No exemplo apresentado sobre o caf da manh: no acordamos com a crena de que h caf e uma cafeteira na cozinha, no decidimos ir cozinha, mas, normalmente, nos encontramos l fazendo caf.

    No temos dvidas que no comportamento comum existem muitos processos de informao subconsciente, por exemplo quando reconhece-

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    mos objetos, mas duvidamos que os processos subconscientes, que so os fundamentos de nosso comportamento comum, sejam similares aos nossos pensamentos profundos. Dados os problemas existentes na cincia cogni-tiva tradicional para modelar o comportamento comum, parece justificada a busca de uma perspectiva alternativa.

    6. COGNIO INCORPORAD A E SITUADA

    Nos anos noventa, uma abordagem cresceu, segundo a qual a cognio no exclusivamente cerebral, mas est intrinsecamente ligada ao nosso corpo e ao nosso ambiente (Agre, 1997; Bickhard & Terveen, 1995; Chiel & Beer, 1997; Clancey, 1997; Clark, 1997; Hendriks-Jansen, 1996; Hutchins, 1995; Kelso, 1995; Keijzer, 2001; Port & van Gelder, 1995; Thelen & Smith, 1994; Varela, Thompson & Rosch, 1991). Vamos discutir brevemente as caractersticas mais importantes dessa abordagem, com o nome de Cognio Incorporada e Situada (CIS).

    Cognio incorporada

    At onde sabemos, todos os sistemas cognitivos possuem corpo. Se quisermos compreender como a cognio se relaciona ao comportamento, precisamos saber as caractersticas do corpo que vai executar este comportamento. Em outras palavras, o corpo importante porque a mente s pode fazer alguma coisa por meio do corpo e, por outro lado, o corpo pode influenciar os processos mentais (e.g., Chiel & Beer, 1997). Uma frase til neste contexto dinmica intrnseca, proposta por Kelso (1995, p. 162-163), referente s tendncias de coordenao relativamente autnomas do corpo: o conceito de dinmica intrnseca simplesmente representa tendncias de coordenao que so relativamente autnomas e existem antes de aprendermos uma coisa nova.

    Os exemplos mais simples da importncia da dinmica intrnseca so biomecnicos. Porque nossos corpos tm caractersticas especficas (por

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    exemplo, no podemos virar nossas cabeas 360 graus, nossos joelhos dobram s em um sentido), alguns comportamentos so mais naturais que outros. Nossos processos cognitivos precisam se adaptar a esse fato. As tendncias espontneas de coordenao so como ganchos para pendurar nossos pensamentos e intenes (nossos processos cognitivos em geral). As crianas gastam muito tempo nos primeiros anos, aprendendo a lidar com a dinmica intrnseca dos seus corpos.

    Um exemplo interessante da importncia da dinmica intrnseca foi fornecido por Thelen & Smith (1994, p. 10-17). Recm-nascidos exibem movimentos semelhantes aos de caminhar, quando segurados pelos adultos. Quando tm dois meses, estes movimentos desaparecem, mas voltam na segunda parte do primeiro ano. Os primeiros passos independentes surgem por volta de um ano. Para explicar este padro de desenvolvimento, teorias foram formuladas postulando uma causa cognitiva. Contudo, segundo Thelen & Smith, a causa reside em uma mudana rpida na dinmica intrnseca dos corpos das crianas, tal como um rpido aumento no peso das pernas. As pernas da criana simplesmente ficam pesadas demais para serem levantadas. Mas a potencialidade para movimentos semelhantes aos passos existe e pode ser observada, se as crianas so colocadas em um ambiente com gua, por exemplo uma piscina. A presso da gua neutraliza o peso das pernas, tendo como resultado o padro de movimentos semelhantes queles do caminhar. Assim, a explicao do desenvolvimento do andar no feita com base em fatores cognitivos, mas nas mudanas que ocorrem no corpo da criana.

    Uma outra ilustrao da dependncia da cognio e do comporta-mento nas propriedades do corpo , novamente, fornecida por Thelen & Smith (1994). Bebs que acabam de aprender a engatinhar (por volta de 8.5 meses) no hesitam em subir em uma local com grande inclinao. Depois de carem algumas vezes, eles param de engatinhar no plano inclinado: eles aprenderam os riscos envolvidos nessa atividade. Quando chega o tempo

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    em que eles podem andar (por volta de 12-14 meses), constata-se que eles precisam aprender de novo os riscos de se mover no plano inclinado. Na mesma situao, 10 de 15 crianas desceram sem hesitao. Algumas crianas, quando colocadas na posio de engatinhamento, recusaram-se a descer. As mesmas crianas, quando colocadas em p, desceram sem hesitao, como se elas se tornassem instantaneamente ignorantes sobre o significado das inclinaes. (Thelen & Smith, 1994, p. 220). O conheci-mento, parece, no uma descrio abstrata dos objetos, mas comple-tamente incorporado.

    Um modo intuitivo de se considerar a importncia da dinmica intrnseca pensar sobre uma mudana sbita entre andar de bicicleta e uma outra situao, em que dirigimos um carro. Imediatamente, precisamos pensar diferentemente da primeira situao. Por exemplo, no carro, precisa-mos olhar para uma distncia maior, por causa da velocidade; tambm precisamos respeitar as restries relativas aos movimentos da direo, que so maiores no carro do que na bicicleta, etc. Essa adaptao pode levar algum tempo. A dinmica intrnseca do seu corpo-carro diferente da do seu corpo-bicicleta. A rpida diferena entre andar de bicicleta e dirigir um carro envolve uma adaptao cognitiva.

    Estar situado

    A idia de estar situado enfatiza as possibilidades para um sujeito interagir com o ambiente. A maioria das situaes fornece algumas possibi-lidades especficas para a ao e torna outras mais difceis. A idia de estar situado possui conexes com a noo de affordance proposta por Gibson. Um exemplo interessante que ressalta a importncia do ambiente para a cognio foi fornecido por Kirsh & Maglio (1994). Eles indicam que, no jogo de computador Tetris, uma grande parte das aes que parecem ocorrer sem motivao so de fato muito importantes, porque elas tm um papel valioso na melhora do desempenho dos jogadores. No jogo, os zoids

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    (blocos de formas diferentes) so movidos com grande rapidez. Kirsh & Maglio sugerem que a razo para tais rotaes epistmica . Rotaes podem ser usadas, por exemplo, para descobrir nova informao, muito cedo na sesso do jogo, para economizar esforo mental, facilitar a identificao de uma forma especfica ou para simplificar o processo de emparelhamento do zoid nos contornos da rea.

    Como dizem os autores:

    Na resoluo de problemas, pode ser til alterar as pressuposies, e perturbar o mundo para forar uma reavaliao das hipteses (...) Da mesma maneira que a funo duma sentena pode ser advertir, ameaar, surpreender, prometer, a funo de um estado percebido pode ser recordar, alertar, normalizar, perturbar, etc. A razo para realizar aes especficas, ento, no o efeito no ambiente per se, mas o efeito no prprio agente (Kirsh & Maglio, 1994, p. 546).

    De modo semelhante ao epistmica, a noo de andaimes

    (scaffolding) proposta por Clark (1997) enfatiza a importncia de usar a estrutura do ambiente para evitar a criao e processamento de represen-taes internas. Clark diz que as pessoas em geral preferem usar o ambiente para resolver problemas, em vez de pensar profundamente: podemos resolver, muitas vezes, problemas, para utilizar propriedades confiveis do ambiente. Este uso da estrutura externa o que entendo pela palavra andaime (Clark, 1997, p. 45).

    Sistemas cognitivos so como o princpio do 007 de James Bond:

    Geralmente, criaturas evoludas no armazenam nem processam informao de modo expendioso, se podem usar a estrutura do ambiente e suas operaes em conveniente substituio para operaes de processamentos de informao. Ou seja, sabem s o que precisam saber para a realizao de uma certa tarefa (Clark, 1997, p. 46).

    Alm disso, seres humanos no s usam a estrutura que existe no

    ambiente, mas criam, ativamente, estruturas para diminuir as demandas cognitivas: Administramos nosso ambiente fsico e espacial de tal modo a

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    alterar fundamentalmente as tarefas dos processos informacionais que nossos crebros confrontam. (Clark, 1997, p. 63).

    Se no queremos esquecer de enviar uma carta, por exemplo, podemos estruturar esta tarefa de modo que ela no se resuma a uma tarefa da memria, mas se transforme em uma atividade de reconhecimento visual, colocando a carta perto da porta ou num outro lugar visvel.

    Em resumo, as noes de corpo e ambiente so muito importantes, em nossa opinio, porque elas indicam uma perspectiva diferente da natureza das tarefas que os sistemas cognitivos normalmente encontram. Em geral, no funo de nossos sistemas cognitivos criar modelagens internas do mundo, para delas derivar conseqncias e depois decidir se so apropriadas. essencial para a vida cotidiana o uso do ambiente, de tal modo que a criao de um modelo interno seja suprflua. Os processos cognitivos envolvidos em atividades cotidianas, ento, no so primeiramente direcionados para a criao de conhecimento, mas para facilitar a ao. A teoria da auto-organizao (TAO) e a teoria dos sistemas dinmicos (TSD) so capazes de investigar as sugestes da teoria da cognio incorporada e situada, de modo emprico.

    7. AUTO-ORGANIZAO, COGNIO INCORPORADA E SITUADA E

    SENSO COMUM

    A idia bsica da CIS que nossas aes no so dirigidas pelas estruturas representacionais no crebro, mas, ao invs disso, dependem dos processos dinmicos que se estabelecem entre crebro, corpo e mundo. A nfase nas ligaes dinmicas para sublinhar que a interao entre mundo, corpo e crebro de natureza fluida, contnua e recorrente. Por isso, duvidoso se esta interao pode ser compreendida adequadamente a partir de representaes mentais, porque estas parecem por demais estticas e inflexveis. TSD e TAO so muito importantes para a CIS, exatamente porque so adequadas para analisar estes processos interativos dinmicos.

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    A teoria dos sistemas dinmicos analisa os sistemas em termos de variveis quantitativas (Kelso, 1995; van Gelder, 1998; 1999). Sistemas auto-organizados mostram uma tendncia para estabelecer ordem: os componentes interagem simultaneamente e produzem padres de comportamento num plano mais geral. Este padro num plano mais geral se chama varivel coletiva ou parmetro de ordem. Este parmetro o resultado das interaes dos componentes do sistema (entendemos, neste contexto, que o sistema inclui aspectos do crebro, corpo e do ambiente). Uma vez estabelecido, o parmetro de ordem subjuga o comportamento dos componentes (Depew & Weber, 1999; Haken, 1983; 1990; Kelso, 1995). Tal perspectiva caracteriza o comportamento como um padro auto-organizado, emergindo das interaes entre os componentes do sistema.

    O comportamento do sistema pode ser descrito por meio de um cenrio de atratores, no qual os vales funcionam como atratores e exem-plificam os modos de comportamento relativamente estvel. O comporta-mento do sistema pode ser caracterizado como a posio (e as mudanas na posio) do sistema neste cenrio de atratores. Influenciado por um ou mais parmetros de controle, o cenrio de atratores pode mudar e os atratores podem desaparecer ou emergir. Por meio de parmetros de controle, transies entre modos do comportamento diferentes podem ser efetuadas.

    Falando qualitativamente: quais so as implicaes da perspectiva da CIS, TSD e TAO para o nosso entendimento das crenas, desejos e aes?

    Primeiro, crenas e desejos no so entendidos como puramente cerebrais. Nossa crena sobre o perigo de uma inclinao e nosso desejo de evitar este perigo esto tanto na nossa posio corporal quanto no nosso crebro. O sentimento do medo em relao aos carros que se aproximam rapidamente est tanto em nossos ps quanto em nosso crebro.

    Segundo, crenas e desejos no so completamente internos. Eles se espalham alm da pele.

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    Os eventos externos so to importantes para nossos processos cog-nitivos quanto os eventos internos psicolgicos. Neste contexto, Wheeler & Clark (1999, p. 104) falam de espalhamento causal (causal spread) dos fatores que produzem o comportamento: Uma grande parte da ao inteligente pode ser fundamentada (...) nas interaes complexas envol-vendo fatores e foras neuronais, corporais e ambientais. Ento, eles dizem: nenhum aspecto do sistema causal do crebro-corpo-ambiente deveria ter um papel explanatrio privilegiado na abordagem cientfica. (Wheeler & Clark, 1999, p. 108; veja tambm Haselager & Gonzalez, 2002). Nossas crenas e desejos, ento, no so completamente cerebrais.

    Terceiro, crenas e desejos no devem ser interpretados como envolvendo descries do mundo, mas principalmente como envolvendo disposies para o comportamento. Crenas e desejos no so separados do comportamento, mas esto intrinsecamente relacionados a ele. Neste sentido, a anlise de Ryle dos estados mentais como disposies do comportamento est no caminho correto. Estados mentais no podem ser identificados a um contedo mental especfico, mas, sim, a uma rede de disposies comportamentais: Termos disposicionais como saber, achar, aspirar, inteligente, humorstico so termos disposicionais determinveis. Eles significam habilidades, tendncias ou inclinaes para fazer, no coisas de um nico tipo, mas, sim, de uma grande variedade de tipos. (Ryle, 1949, p. 114).

    A nfase dada por Brooks (1991; 1995; 1999) aos robs reativos muito relevante neste contexto. Brooks est desenvolvendo criaturas arti-ficiais (agentes autnomos) auto-sustentveis em ambientes reais (e no simulados ou simplificados). Esta abordagem interessante, porque os sistemas artificiais so verdadeiramente incorporados e situados. Tambm as interaes entre o corpo, crebro (uma rede neural artificial) e o ambiente so de natureza to dinmica, que os conceitos de TSD e TAO (tais como ligaes dinmicas, atratores, etc.) so mais aplicveis, anlise

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    do comportamento dos robs, do que os conceitos da cincia cognitiva tradicional (tais como representaes, diagramas de fluxo, etc.).

    A idia bsica de Brooks que as criaturas reativas so constitudas por camadas de comportamento. Cada camada conecta informao sensorial de input com um output motor, sem a interveno de modelagens do mundo, formao de planejamentos ou decises centrais. Camadas so construdas de modo incremental (colocadas umas sobre as outras) e interagem principalmente por meio de inibio e supresso de atividades de outras camadas, e no por meio de troca de representaes. Neste contexto, gostaramos de conceber essas criaturas reativas como um repertrio mvel de comportamento.

    Ainda que a complexidade do comportamento dessas criaturas arti-ficiais seja muito diferente da complexidade do comportamento cotidiano humano, mesmo assim os princpios bsicos envolvidos na interao auto-sustentvel dos robs com o mundo podem iluminar os princpios envol-vidos na nossa interao com o meio ambiente. Alm disso, arquiteturas hbridas recentes (Arkin, 1998; Murphy, 2000) incorporam aspectos das capacidades de planejamento nos robs, sem perder a flexibilidade dos robs reativos, para criar tipos de comportamento mais complexos.

    Quarto, as possibilidades do comportamento de um sistema, numa situao cotidiana, podem ser visualizadas como um cenrio de atratores no qual o sistema est situado. Trajetrias ou caminhos neste cenrio de atra-tores caracterizam uma seqncia de aes. O estado do sistema (corpo e crebro) e as caractersticas do ambiente so fatores essenciais (parmetros de controle) na formao do cenrio de atratores. Crenas e desejos podem ser interpretados como parmetros de controle (Keijzer, 2001), que tm um efeito formativo nas possibilidades do comportamento de um sistema. Isso , estes estados mentais formam (mas no descrevem ou prescrevem) o cenrio do comportamento. De acordo com Juarerro (1999, p. 180), os esta-

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    dos mentais de uma pessoa podem reorganizar o cenrio de possibilidades comportamentais e criar opes mais diferenciadas e complexas.

    Se combinarmos todas estas idias, uma perspectiva do senso co-mum emerge, que completamente diferente da perspectiva tradicional. Crenas e desejos so conectados intrinsecamente, e no por meio das inferncias, ao comportamento. Elas ajudam na formao de possibilidades de comportamentos. Ambos, o corpo e o ambiente, tm um papel de igual importncia na formao da topologia do comportamento.

    As conseqncias desta perspectiva da CIS/TSD/TAO para o proble-ma dos frames so promissoras, especificamente em relao ao tipo de comportamento automtico. O sistema no precisa perder -se numa procura exaustiva dum imenso banco de dados do conhecimento comum para encontrar as suas partes relevantes na formulao de um plano de comportamento apropriado. O espao auto-organizado de atratrores auto-maticamente reduz o nmero das possibilidades de comportamento pos-svel (Juarerro, 1999, p. 180; veja tambm p. 186 e p. 210). Nessa perspec-tiva, o problema dos frames parece dissolver-se facilmente. Os processos dinmicos internos, entre o meu corpo e o mundo em que eu estou situado, do juntos forma ao meu comportamento. Como Juarerro (1999, p. 209) ressalta: O contexto em que o sujeito est situado que caracteriza os sistemas dinmicos (...) dissolve os possveis problemas dos frames.

    Nossas crenas e desejos deixam de ser os diretores ou pr-progra-madores de nosso comportamento. Eles so fatores limitadores e apenas ajudam a criar, juntamente com muitos outros processos, nosso compor-tamento. Todos estes processos em conjunto, numa constante mudana de coalizo, modificam nossas opes de comportamento. Ento, em grande parte dos casos, no precisamos pensar sobre o que fazemos, mas podemos confiar em nossos processos habituais incorporados e situados.

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    8. CONCLUSO

    Embora pensemos que a concepo anteriormente esboada sobre o comportamento comum promissora, o problema dos frames no ser resolvido apenas com a criao de uma nova metfora. O problema dos frames muito interessante, porque um problema emprico, refletindo o fracasso das modelagens computacionais atuais. Ento, legtimo pergun-tar como, exatamente, as idias indicadas acima podem ser implementadas nos modelos da robtica. Para concluir, vamos indicar alguns problemas que precisam ser resolvidos, antes que um grande otimismo possa ser justificado nessa rea.

    Obviamente, a primeira pergunta : onde esto os sistemas artific iais incorporados, situados e auto-organizados que ilustram o comportamento cotidiano? Atualmente, eles no existem. H bastante trabalho promissor nas reas de robtica reativa e hbrida (Arkin, 1998; Brooks, 1999; Beer, 1997; Mataric, 1998; Werger, 1999; Murphy, 2000), mas claro que estes robs esto muito longe de exibir o tipo de comportamento comum que ns, seres humanos, mostramos quando acordamos, fazemos caf da manh e vamos ao trabalho. Mesmo assim, parece que os modelos da robtica reativa so mais apropriados para melhorar nossa compreenso do comportamento habitual. Talvez pudssemos dizer que, dadas as metas dos robs (autopreservao, evitar a perda total de energia, fazer tarefas simples como encontrar ou guardar objetos), eles fazem aquilo que precisam fazer, na maior parte do tempo. Neste sentido, muitos robs demonstram o seu tipo de comportamento comum. Contudo, no podemos esquecer que vai ser muito difcil aumentar este desempenho para atingir a complexidade humana. Ento, seria prudente no cometer o que Dreyfus & Dreyfus (1986, p. 6-7; veja tambm Haselager & van Rappard, 1998) chamam a falcia do primeiro passo bem sucedido: falacioso assumir, com base em alguns sucessos iniciais, que as etapas posteriores sero to bem sucedidas quanto as iniciais.

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    Segundo, focalizamos o comportamento automtico, mas, o pensa-mento profundo, no automtico, tambm existe. No muito claro como a perspectiva da CIS/TSD/TAO pode ser capaz de explicar completamente as capacidades de jogar xadrez ou escrever um artigo. Tradicionalmente, a pers-pectiva de CIS/TSD/TAO focaliza os aspectos sensrio-motores da cognio (por exemplo Haken, Kelso & Bunz, 1985). Felizmente, na lt ima dcada, um nmero crescente de pesquisas sobre cognio mais abstrata tem sido realizada (Kelso, 1995; Haken, 1990; Thelen, Schner, Scheier & Schmidt, 2001; Townsend & Busemeyer, 1995; van Rooij, Bongers & Haselager, 2002; Vallacher, Nowak & Kaufman, 1994). Mas correto dizer que estas investigaes esto longe de modelar casos realistas de pensamento profundo.

    Terceiro, Kelso (no prelo, p. 7-9) ressalta que a tarefa de encontrar os parmetros de ordem e de controle dos sistemas constitui o equivalente a encontrar o yin e yang da abordagem dinmica. Em relao ao elemento yin, podemos dizer que os aspectos caractersticos do comportamento comum podem ser fceis de compreender intuitivamente, mas difceis de especificar exatamente. O que que faz com que um exemplar de algo seja um exemplar do comportamento comum? Quais so as caractersticas releva ntes de um comportamento, para qualific-lo como um exemplar do senso comum? A resposta a estas questes, de modo geral, que seja empiricamente aplicvel, no fcil nem imediata.

    Em relao ao elemento yang, parece que os fatores subjacentes formao e mudana dos padres do comportamento comum so nume-rosos e extremamente variados. Em relao a um exemplo simples, como fazer caf da manh, pressupomos que elementos relativos nossa histria biolgica, psicolgica, cultural, econmica e familiar estejam envolvidos. Em contraste, no que diz respeito quantidade de parmetros de controle, a maioria das investigaes do TSD e TAO est relacionada a casos que possuem um nmero muito restrito de parmetros de controle. No muito

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    claro como ser possvel construir e analisar modelagens baseadas em uma grande variedade de parmetros de controle que interagem de modo no-linear.

    Finalmente, embora parea que CIS, TSD e TAO possuem grande potencial para melhorar nossa compreenso do comportamento comum, claro que muita coisa ainda precisa ser feita, antes de criarmos modelos que possam exibir o comportamento comum semelhante quele dos seres humanos.

    AGRADECIMENTOS

    O autor agradece a Maria Eunice Quilici Gonzalez, pelo suporte na preparao e traduo deste artigo; FAPESP e ao NICI, por financiarem a pesquisa que a base deste artigo.

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