comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum, Stegastes fuscus (Pisces: Pomacentridae) ao longo da costa brasileira Anaide Wrublevski Aued Florianópolis, maio de 2012

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Page 1: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

Comportamento territorial e alimentar do

peixe-donzela comum, Stegastes

fuscus (Pisces: Pomacentridae) ao longo da

costa brasileira

Anaide Wrublevski Aued

Florianópolis, maio de 2012

Page 2: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

Anaide Wrublevski Aued

Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela

comum, Stegastes fuscus (Pisces: Pomacentridae) ao longo

da costa brasileira

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-

Graduação em Ecologia, da

Universidade Federal de

Santa Catarina, como parte

dos requisitos para a

obtenção do título de

Mestre em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Sergio Ricardo Floeter

Florianópolis 2012

Page 3: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

iii

ABSTRACT

Studies concerning the population’ parameters and their

behavior through their range of distribution can provide a

better understanding on the species’ ecological relationships

with others surrounding them and with the environment in

which they inhabit. Within different populations, many factors

of different scales (local or regional) can have effects on these

populations. The Brazilian damselfish Stegastes fuscus, has a

wide range distribution in Brazilian coast, from tropical to

subtropical environments, besides that it is very abundant and

has an play an important role in Brazilian reef environment.

Such characteristics qualify this specie as a good model in

order to better understand the influences of these factors in

population’s parameters and behavior. In this respect, the

objective of this study was to observe the territorial and

feeding behaviour of S. fuscus along the Brazilian and

understand if their behavior is more influenced by local

(density) or regional factors (temperature, diversity gradient).

Therefore, we evaluated body lengths, territory size, agonistic

rates, feeding rates and density of S. fuscus, and additional

density of intruders in four sites along the Brazilian coast:

Natal (RN), Porto Seguro (BA), Arraial do Cabo (RJ) and

Bombinhas (SC). Individuals from the Northeast presented

Page 4: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

iv

larger body sizes than those from the south and southeast,

corroborating with Bergmann’s Rule, where in higher

latitudes and/or lower temperatures species exhibit greater

body sizes. We found no latitudinal pattern for mean territory

size. But we found a positive correlation between territory

size and size of S. fuscus, as well with temperature and

feeding rate. Such patterns corroborate the theory of trade-offs

between larger body sizes able to defend larger territories and

temperature acting on the metabolisms of ectothermic animals

like fishes. Porto Seguro presented the highest density, lower

size length and territory size and agonistic, although not all

results shown no statistical difference rates, leading one to

believe that behavior and population’s patterns of Porto

Seguro is density-dependent. The agonistic rates varied

between sites, with the greatest intraspecificity found only in

Bombinhas, suggesting that fish community in this site are

determining the behavior of S. fuscus. Besides that, the

agonistic rates were higher to algal feeding fishes in three of

four sites. In sum, our results demonstrate a synergy of local

(i.e., intra and interspecific agonistic rates, territory size,

density dependent phenomenon and fish community

characteristics) and regional factors (i.e., feeding rates and

body length, probably from metabolism) both playing a role

in different populations of S. fuscus along the Brazilian coast.

Page 5: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

v

Key-words: Multi-scale factors, latitudinal gradients, density

dependence, Bergmann’s Rule, territoriality, bite rate.

Page 6: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

vi

RESUMO

O estudo de parâmetros populacionais e comportamentais de

espécies ao longo de sua distribuição pode fornecer um maior

entendimento sobre suas relações ecológicas com os

organismos que os cercam e com o ambiente em que vivem.

Diversos fatores em diferentes escalas (locais e regionais)

podem atuar sobre as populações. O peixe-donzela comum,

Stegastes fuscus, possui uma ampla distribuição na costa

brasileira, desde ambientes tropicais até subtropicais, além

disso, é muito abundante e tem papel importante na

estruturação dos ambientes recifais brasileiros. Tais

características a qualificam como um bom modelo para a

avaliação de efeitos em diferentes escalas sobre seus

parâmetros populacionais e comportamentais. O objetivo

deste trabalho foi estudar o comportamento territorial e

alimentar de S. fuscus ao longo da costa brasileira e entender

se tais comportamentos são mais fortemente influenciados por

fatores locais (densidade) ou fatores regionais (temperatura,

gradiente de diversidade). Para isso, avaliou-se tamanho

corporal, tamanho do território, taxa agonística, taxa alimentar

e densidade de S. fuscus, além da densidade de potenciais

invasores em seus territórios, em quatro pontos da costa

brasileira: Natal (RN), Porto Seguro (BA), Arraial do Cabo

Page 7: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

vii

(RJ) e Bombinhas (SC). Indivíduos do nordeste apresentaram

menor tamanho corporal que do sul e sudeste, corroborando a

regra de Bergmann, onde em maiores latitudes e/ou menores

temperaturas as espécies tendem a ter tamanho corporal

maior. Não houve padrão latitudinal quanto ao tamanho

médio dos territórios. Encontramos correlação positiva entre

tamanho do território e do indivíduo e entre temperatura

superficial do mar e taxa alimentar. Tais padrões corroboram

as teorias de custo/benefício entre indivíduos de maior

tamanho conseguir defender áreas maiores e da temperatura

atuar sobre o metabolismo de animais ectotérmicos, como os

peixes. A população de Porto Seguro apresentou maior

densidade, menor tamanho corporal e de território e maior

taxa agonística, ainda que esses parâmetros nem sempre

tenham sido significativamente diferentes de outros locais,

indicando que os padrões comportamentais e populacionais de

Porto Seguro podem ser densidade-dependentes. A taxa

agonística variou entre os locais, sendo maior entre indivíduos

de S. fucus somente em Bombinhas, sugerindo que fatores da

comunidade de peixes estão direcionando o comportamento

de S. fuscus nesse local. Além disso, a taxa agonística foi

maior em peixes que utilizam alga em sua dieta, em três dos

quatro locais amostrados. Nossos resultados mostram uma

sinergia tanto de fatores locais (i.e., taxa agonística intra e

Page 8: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

viii

interespecífica, tamanho do território, fenômenos de

densidade-dependência e características das comunidades de

peixes), quanto de fatores regionais (i.e., taxa alimentar e

tamanho corporal, provavelmente decorrentes do

metabolismo), atuando sobre as diferentes populações de S.

fuscus ao longo da costa do Brasil.

Palavras-chave: Fatores regionais e locais, gradiente

latitudinal, densidade dependência, regra de Bergmann,

territorialidade, taxa alimentar.

Page 9: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

ix

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1

OBJETIVOS .......................................................................................... 7

MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................. 8

RESULTADOS .................................................................................... 16

DISCUSSÃO........................................................................................ 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 36

Page 10: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABU SAX Abudefduf saxatilis

ACA CHI Acanthurus chirurgus

ACA COE Acanthurus coeruleus

ANI VIR Anisotremus virginicus

ARC RHO Archosargus rhomboidalis

CAR LAT Caranx latus

CHA STRI Chaetodon striatus

COR SPP Coryphopterus spp.

DIP ARG Diplodus argenteus

HAE AUR Haemulon aurolineatum

HAE PAR Haemulon parra

HAE PLU Haemulon plumieri

HAE STE Haemulon steindachneri

HAL BRA Halichoeres brasiliensis

HAL POE Halichoeres poeyi

HIP FIS Hypleurochillus fissicornis

HOL ADS Holocentrus adscensionis

LAB NUC Labrisomus nuchipinnis

MAL DEL Malacoctenus delalandii

OPH TRI Ophioblennius trinitatis

ORT RUB Orthopristis ruber

PAR ACU Pareques acuminatus

PAR SPP Parablennius spp.

POM PAR Pomacanthus paru

PSE MAC Pseudupeneus maculatus

SCA CRI Scartella cristata

SCA TRI Scarus trispinosus

SPA SPP Sparisoma spp.

STE FUS Stegastes fuscus

STE HIS Stephanolepis hispidus

Page 11: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa das quatro áreas de estudo indicando os locais de coleta,

na região tropical (Natal (RN) e Porto Seguro (BA)) e na subtropical

(Arraial do Cabo (RJ) e Bombinhas (SC)). .......................................... 12

Figura 2: (A) Esquema de mensuração do território, (B) observação do

comportamento e (C) mensuração do tamanho do território de Stegastes

fuscus. d1 = distância 1; d2 = distância 2; d3 = distância 3; linha

tracejada = área circular do território; estrela = pontos extremos do

território. .............................................................................................. 15

Figura 3: Tamanho médio dos indivíduos de Stegastes fuscus em quatro

localidades ao longo da costa brasileira. Linhas verticais indicam erro

padrão. Letras diferentes sobre as barras indicam locais com diferenças

significativas. ....................................................................................... 17

Figura 4: Relação entre o tamanho do território e o tamanho de

Stegastes fuscus nos quatro locais da costa brasileira........................... 18

Figura 5: Relação entre o número médio de mordidas de Stegastes

fuscus durante três minutos e a média de TSM (temperatura superficial

do mar) do dia de coleta. ...................................................................... 19

Figura 6: Número médio de perseguições de Stegastes fuscus durante

três minutos (A) e densidade de S. fuscus por 40 m2 (B) entre os locais.

Linhas verticais indicam erro padrão. Letras diferentes sobre as barras

indicam locais com diferenças significativas. ...................................... 21

Figura 7: Relação entre a média de perseguições intra e interespecíficas

de Stegastes fuscus durante 03 minutos entre os locais. Linhas verticais

indicam desvio padrão. * = diferença significativa entre intra e

interespecífico de cada local. ................................................................ 22

Figura 8: Análise de variância entre as espécies comedoras de algas e as

outras em quatro pontos da costa brasileira.......................................... 23

Figura 9: Seletividade da perseguição de Stegastes fuscus em relação à

abundância relativa de peixes em quatro locais da costa do Brasil. Espécies

acima da linha indicam seleção na perseguição.....................................24

Page 12: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

xii

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado

algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é

a maior empresa do mundo.

E que posso evitar que ela vá a falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de

todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se

tornar um autor da própria historia.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de

encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da

vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar por si mesmo.

É ter coragem para ouvir um “não”.

É segurança para receber uma crítica, mesmo que

injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vão construir um castelo...

Fernando Pessoa

Page 13: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

xiii

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao meu

orientador, Sergio Floeter por ter aberto as portas do seu

laboratório e apostado em mim mesmo sem me conhecer, ou

mesmo sabendo da minha falta de experiência no assunto.

Descobri um mundo novo e esses dois anos foram de intenso

aprendizado. Serei eternamente grata por todas as

oportunidades, pela aquisição de uma nova paixão, o mundo

subaquático, e pela amizade.

Da mesma forma que sem o apoio incondicional dos

meus pais, Idaleto e Bernardete, este trabalho não teria se

concretizado. Obrigada por aguentar a ausência, choros, falta

de dinheiro, viagens e o estresse, mas também por apoiar

meus sonhos e estarem sempre dispostos a dar uma palavra

amiga ou um colo quando era preciso. Vocês sempre serão um

grande exemplo, tanto na vida pessoal quando na acadêmica!

Agradeço também aos meus familiares Nena, Wladi, Gi,

Elizete, Tia Teró, Pedro e Mateus pelo amor incondicional e

por me mostrar que todo esforço valia a pena.

Aos queridos colegas e amigos do LBMM: Mari, Gui,

Rachel, Juan, Mineiro, Daniel, Diego, Anderson, Max, Luisa,

Lobato, Ana e Dani. E aos cariocas do LECAR: Renatinha,

Thiago, Cesar, Gagau e Cadu. Seja pela ajuda em campo, na

análise e interpretação dos dados, na revisão e sugestão do

texto, mas principalmente pela amizade e por todos os

momentos legais que passei ao lado de vocês!

Aos amigos novos, velhos, que moram perto ou não:

Kátia, Bruno, Tita, Montanha, Aurea, Mari Teschima, Flora,

Nanda, Dani Tedesco, Rodrigo, Ana Paula, Renata, Jéferson,

Camila, Liége, Ana Bárbara, Laura, Andressa, Didi, Gleidson,

Page 14: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

xiv

Josmael, Elias, Deborah, Jose, Sebastian e Sharon. Foi a

amizade de vocês, e muita cerveja, que me fazia continuar

sempre. Vou sentir falta em especial dos almoços divertidos e

dos momentos de descontração no Bar da Nina com a

“galerinha do mal”. Um agradecimento especial para o Gui, a

Mari e o Juan, que me deram suporte quando eu achava que

não iria terminar a dissertação... Não tenho palavras para

agradecer a amizade e carinho de vocês. Muito obrigada meus

queridos! Um obrigado também à Suzana e a Nena pela ajuda

no mapa, e a Rachel no abstract.

Agradeço ainda aos amores que existiram nesse

período, pois entenderam as ausências, aguentaram todo o

estresse, me deram apoio quando mais precisei e me

mostraram que existia vida além do mestrado, principalmente

nessa intensa reta final.

Além disso, queria de forma muito especial agradecer

a minha antiga professora Elenice C. Tomé, que partiu ano

passado, por ter sido umas das primeiras pessoas a incentivar

meu amor pela biologia. Este trabalho tem um pouco de sua

paixão pela vida querida amiga!

Ao projeto Coral Vivo e a APA de Maracajaú pelo

suporte em campo em Porto Seguro e Maracajaú,

respectivamente. A CAPES pelo financiamento da bolsa de

mestrado. E ao projeto e toda equipe do SISBIOTA Mar e,

principalmente a equipe da Expedição Fernando de

Noronha/Natal 2010 (Gui, Mineiro e Thiago) por ter sido um

divisor de águas em minha vida. Foi a melhor expedição!

Page 15: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

xv

CAPÍTULO ÚNICO

Comportamento territorial e alimentar do

peixe-donzela comum, Stegastes

fuscus (Pisces: Pomacentridae) ao longo da

costa brasileira

(periódico alvo: Environmental Biology of Fishes)

Anaide W. Aued, Guilherme O. Longo, Mariana G. Bender,

Juan Pablo A. Quimbayo, Carlos Eduardo L. Ferreira &

Sergio R. Floeter

Page 16: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

1

INTRODUÇÃO

A família Pomacentridae, cuja espécies são

popularmente conhecidas como peixes-donzela, possui

distribuição global em ambientes recifais e é abundante nas

comunidades onde ocorre. A maioria das espécies de

pomacentrídeos são consideradas herbívoras territoriais, mas

podem apresentar também hábito onívoro ou planctívoro

(Choat 1991; Ceccarelli et al. 2001). Além disso, estas

espécies são muitas vezes os herbívoros dominantes em

ambientes recifais (Allen 1991; Ceccarelli et al. 2001;

Ceccarelli 2007). Peixes-donzela são considerados espécies-

chave na manutenção da diversidade de algas (Hixon &

Brostoff 1983), na determinação da zonação das comunidades

de corais (Wellington 1982), na modificação da atividade

alimentar de outros peixes herbívoros (Jones 1992) e na

estruturação de comunidades bentônicas de dentro de seus

territórios, através de seu comportamento territorial e

alimentar (Ferreira et al. 1998; Ceccarelli et al. 2001; Hata &

Kato 2006; Ceccarelli 2007).

Entre as espécies que compõem o gênero Stegastes, S.

fuscus é endêmica da Província Brasileira e tem como limite

norte de distribuição o estado do Rio Grande do Norte e limite

sul o estado de Santa Catarina, sendo bastante abundante na

Page 17: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

2

maioria dos ambientes recifais costeiros (Ferreira et al. 2004).

A espécie habita águas rasas e é considerada altamente

territorialista (Menegatti et al. 2003; Hostim-Silva et al.

2006). É considerada ainda espécie-chave na estruturação da

diversidade e na alteração da biomassa de comunidade de

algas epilíticas (Ferreira et al. 1998).

Existem muitas definições sobre comportamento

territorial, ou territorialidade, em vertebrados (ver revisão em

Maher & Lott 1995, 2000), porém neste trabalho optamos

pelo conceito mais simples de territorialidade, o qual pode ser

estendido à outras espécies e situações. Assim, territorialidade

é o comportamento de defender uma área específica contra

possíveis competidores (Noble 1939; Maher & Lott 1995;

Grant 1997). Esta área deve conter recursos, por exemplo,

alimento, abrigo ou parceiros, dos quais seu dono faça uso ou

defenda (Robertson et al. 1996; Goodenough et al. 1993). Um

indivíduo defende tal área contra invasores com

comportamento agressivo, comportamento agonístico, sensu

Gerking (1994), sendo que os limites de um território podem

ser definidos pelos locais onde ocorrem essas interações

agonísticas (Maher & Lott 1995).

É vantajoso para um animal defender um território se

a relação entre custo e benefício (neste trabalho referido como

trade-off) for positiva, ou seja, se os benefícios de defender tal

Page 18: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

3

área extrapolarem o custo de tal comportamento, ou se os

benefícios totais de defender excederem os benefícios totais

de não defender tal território (Brown 1964; Davies & Houston

1983; Hixon 1980, 1983). De acordo com os trabalhos de

Thresher (1976) e Grant (1997), o tamanho ótimo do território

de um peixe geralmente sofreria decréscimo no tamanho se

existisse um aumento na abundância de alimento ou uma

maior pressão de invasores (competidores) nesta área. Além

disso, características como o recurso alimentar

moderadamente denso, espacialmente reunido, temporalmente

associado e previsto temporalmente e espacialmente podem

predizer uma economia na defesa de um território (Grant

1997).

Além dos recursos do território e da ação dos

invasores, características do possuidor do território também

podem afetar a territorialidade. Existe relação entre o tamanho

corporal do indivíduo e o tamanho do seu território (McNab

1963; Grant & Kramer 1990; Letourneur 2000; Alimov 2003),

onde indivíduos maiores defenderiam áreas maiores, em razão

de um maior tamanho corporal necessitar de maior demanda

energética (Jan et al. 2003; Gerking 1994) e pela maior

capacidade de patrulhar territórios grandes. Porém, ao estudar

a espécies S. nigricans, Jan e colaboradores (2003) não

encontraram tal relação, mas atribuíram isso a influencia de

Page 19: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

4

outros fatores atuando no tamanho dos territórios, como a

sobreposição de territórios, e consequentemente dos recursos

alimentares entre os indivíduos do gênero Stegastes.

É importante também considerar no trade-off da

territorialidade as desvantagens de defesa de um território,

como por exemplo, o tempo gasto em defender esta área. O

peixe recifal Acanthurus lineatus, por exemplo, afasta rivais

dos seus territórios, em média, 1.900 vezes por dia (Craig

1996). Os desgastes desses confrontos territoriais poderiam

levar a uma vida mais curta. Marler & Moore (1991) ao

realizarem um experimento de indução de diferentes níveis de

testosterona em uma espécie de lagarto, demostraram que

animais que apresentavam maior número de comportamentos

agonísticos – com mais testosterona – acabavam tendo menor

expectativa de vida.

Fatores relacionados à densidade dos indivíduos no

local também podem influenciar a territorialidade em uma

população (Booth 1995; Shima 2001; Holbrook & Schmitt

2002). Alterações na abundância de peixes do ambiente

recifal podem ter efeito na estruturação e no tamanho da uma

população, que por sua vez pode ser regulado por processos

densidade-dependentes, como a competição (ver Booth 1995).

Uma maior competição pode levar a uma diminuição no

acesso aos recursos alimentares e dessa forma causar uma

Page 20: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

5

diminuição no tamanho corporal de um peixe. Redução no

crescimento pode se manifestar tanto na diminuição do

tamanho corporal quanto no armazenamento de lipídios, que

por sua vez pode afetar a sobrevivência em condições

adversas, e até mesmo o desenvolvimento das gônadas em

peixes adultos (Newsome & Leduc 1975).

Fatores que atuam em escala local e/ou regional

podem influenciar as relações de interações de uma espécie.

Em escalas menores (locais), a variabilidade normalmente

resulta da resposta plástica dos peixes recifais a diferentes

componentes do ambiente. A demografia local será, na

maioria das vezes, afetada por fatores como: disponibilidade

de alimento, competição interespecífica, intraespecífica,

densidade dependência e predação (Figueira et al. 2008).

Estudos tem demonstrado o efeito da disponibilidade de

alimento (Jones 1986) e dos processos de densidade

dependência atuando no crescimento e mortalidade de peixes

recifais (Levin et al. 2000; Holbrook et al. 2000; Gust et al.

2002).

Já em grandes escalas (regionais), os limites

fisiológicos (e.g. temperatura e fatores de posicionamento,

como latitude) são capazes de afetar a realocação de recursos

e exercer uma função importante no direcionamento desses

padrões (Ruttenberg et al. 2005; Gaston et al. 2008; Figueira

Page 21: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

6

et al. 2008; Emslie et al. 2012). A regra de Bergmann, por

exemplo, indica que diferentes grupos taxonômicos podem

exibir uma relação entre o tamanho corporal e a latitude e/ou a

temperatura (Blackburn et al. 1999; Gaston et al. 2008).

Barneche e colaboradores (2009), ao estudar o

comportamento alimentar de espécies de vários gêneros da

família Pomacentridae, encontraram suporte para a regra de

Bergmann, onde espécies maiores e indivíduos com maior

tamanho foram encontrados próximos a altas altitudes e/ou

menor temperatura.

Estudos sobre a territorialidade e comportamentos

associados podem aumentar o entendimento sobre como

funcionam as interações ecológicas e como elas afetam a

composição das espécies numa comunidade. Até agora,

poucos estudos abordaram o papel de fatores que atuam em

diferentes escalas (regional e local) no comportamento de uma

espécie ao longo de um gradiente latitudinal. S. fuscus, por

possuir uma ampla distribuição, com populações tanto em

ambientes tropicais e subtropicais, é uma boa espécie para

verificar a ação de tais fatores sobre seu comportamento, e

dessa forma ampliar o entendimento do papel funcional dos

peixes-donzela territorialistas na estruturação das

comunidades recifais. Além disso, compreendendo melhor de

que forma o comportamento desta espécie é influenciado pela

Page 22: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

7

temperatura, este estudo poderá dar subsídios para futuros

trabalhos sobre como tal espécie responderá, por exemplo, a

possíveis aumentos de temperatura nos oceanos.

OBJETIVOS

Este estudo tem como objetivo avaliar o

comportamento alimentar e territorial de Stegastes fuscus ao

longo da costa brasileira, e entender se tais comportamentos

são mais influenciados por fatores regionais (temperatura,

gradiente de diversidade) do que por fatores locais. Para isso,

pretendemos responder as seguintes perguntas: 1) O tamanho

médio dos indivíduos e varia ao longo da costa brasileira?; 2)

Existe relação entre as taxas de forrageio e a temperatura

superficial do mar (TSM) ao longo da costa?; 3) Existe

relação entre o tamanho dos indivíduos e o tamanho dos seus

territórios?; 4) O número médio de interações agonísticas e a

densidade de S. fuscus varia ao longo da costa?; 5) Existe

variação na taxa de interações agonísticas intra ou

interespecíficas ao longo da costa?; 6) As taxas de agonismo

são proporcionais à abundância das espécies atacadas,

inclusive S. fuscus?; e 7) Peixes que possuem algas na sua

Page 23: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

8

dieta (i.e., potenciais competidores por recurso alimentar) são

proporcionalmente mais atacados?

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado em quatro locais da costa do

Brasil (Figura 1). No estado do Rio Grande do Norte, limite

norte de distribuição da espécie, os dados foram coletados

durante maio de 2011, totalizando 24 horas de observação, em

duas áreas recifais: Os recifes de Maracajaú e da Ponta de

Pirangi: os recifes de Maracajaú estão inclusos na APA dos

Recifes de Corais (5º30′24′′ S - 35º14′15′′ W), localizado na

porção nordeste do estado, e os recifes da Ponta de Pirangi

(5º58′62′′ S - 35º06′32′′ W), localizam-se no limite entre os

municípios de Parnamirim e Nísia Floresta, litoral sul do

estado. Trata-se de áreas de recifes de corais, compostas por

águas tropicais (temperatura média de 28ºC) e rasas (Prates

2006). Neste trabalho esses pontos foram agrupados e

chamados de Natal.

Na Bahia, as coletas ocorreram no Parque Municipal

Marinho do Recife de Fora (16º23’55.22” S - 38º59’16.22”

W), situado no município de Porto Seguro, durante dezembro

Page 24: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

9

de 2008, totalizando 28 horas de observação. Trata-se de um

recife que recebe visita de turistas ao longo do ano todo.

Vamos nos referir a este ponto como Porto Seguro.

No Rio de Janeiro, escolhemos a praia do Forno

(22º58’03.74” S e 42º00’51.91” W), no município de Arraial

do Cabo, por ser protegido de ondas e apresentar um grande

número de Stegastes fuscus. A região de Arraial do Cabo é um

costão rochoso caracterizado por apresentar o fenômeno de

ressurgência costeira formada pelos ventos leste e nordeste

(Valentin 1984). Entretanto, esta área é menos afetada

diretamente por tal fenômeno já que está bastante abrigada na

enseada de Arraial do Cabo, com a temperatura da água

variando entre 19 a 25,8ºC ao longo do ano (Ferreira et al.

1998). As coletas ocorreram durante fevereiro de 2008,

totalizando 24 horas de observação. Tal local será chamado de

Arraial do Cabo.

Já no limite sul de distribuição da espécie,

selecionaram-se as praias da Sepultura (27º08′27′′ S -

48º28′24′′ W) e do Ribeiro (27º08′45′′ S - 48º29′58′′ W),

ambas situadas no município de Bombinhas, Santa Catarina.

As coletas ocorreram entre fevereiro e abril de 2011, e

totalizaram 30 horas de observação. O local é caracterizado

por ser um costão rochoso de águas calmas e propícias para o

mergulho. Nessa latitude, as temperaturas superficiais do mar

Page 25: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

10

podem chegar a 29°C no verão e 16°C no inverno, com

médias ficando perto de 26°C no verão e 17,5°C no inverno

(Matsuura 1986). Assim como os pontos no Rio Grande do

Norte, ambos os locais de coleta da região foram agrupados e

chamados de Bombinhas.

Em todos os locais as coletas de dados ocorreram

entre 10:00 e 16:00 horas, período de maior atividade de

forrageamento para algumas espécies de peixes herbívoros,

incluindo S. fuscus (Ferreira et al. 1998). Além disso, nenhum

período de coleta coincidido com a época reprodutiva da

espécie.

Avaliação do comportamento

Para a avaliação do comportamento territorial e

alimentar, observou-se indivíduos adultos de Stegastes fuscus

através de mergulho livre tipo “snorkeling” em ambientes de

até 4 metros de profundidade. O indivíduo era selecionado e,

após um período de adaptação do animal ao observador, a

partir do qual ele retorna às atividades normais, o mesmo era

observado durante três minutos e medidas do tamanho

corporal do indivíduo eram tomadas através de uma fita

métrica, usando pedras e características do ambiente como

referência. Durante estes três minutos, anotou-se o número de

investidas do indivíduo contra o substrato (mordidas) e o

Page 26: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

11

número de interações agonísticas e/ou ataques a peixes

invasores (referidos neste trabalho como perseguições),

sempre registrando a espécie a invadir o território e ser

atacada.

Avaliação do tamanho do território

Após o registro das interações agonísticas e investidas

contra o substrato, observava-se o indivíduo durante 10

minutos para que a partir do uso do espaço/ ambiente, fosse

delimitado seu território (Lehner 1996; Bell & Kramer 2000).

Seis pontos extremos da área defendida por S. fuscus eram

marcados com pesos e media-se com uma trena alimentar e

alimentar os três maiores comprimentos entre os pontos. A

partir da média destes foi possível calcular uma área circular

do território (Área=π.r2; sensu Crosby & Reese 1996; Figura

2).

Todas as metodologias para avaliar o comportamento

foram replicadas em todas as localidades a fim de permitir a

comparação entre elas. Para obter os dados de temperatura,

utilizaram-se os dados de temperatura superficial do mar

(TSM) da NASA (2010) para cada dia de coleta, criando

posteriormente uma média de TSM para cada dia. Estes dados

foram comparados com dados tomados no campo, os que

resultaram iguais aos obtidos por imagens de satélite.

Page 27: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

12

Figura 1: Mapa das quatro áreas de estudo indicando os locais

de coleta, na região tropical (Natal (RN) e Porto Seguro (BA)) e

na subtropical (Arraial do Cabo (RJ) e Bombinhas (SC)).

Page 28: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

13

Avaliação de potenciais invasores

Para estimar os potencias peixes invasores e,

possivelmente competidores dos territórios de Stegastes

fuscus, foram realizados censos visuais através de transectos

lineares de 40m² (20x2m) ao longo do recife (maiores

detalhes em Floeter et al. 2007). Todos os peixes observados

no transecto eram visualmente identificados no menor nível

taxonômico possível.

As espécies Abudefduf saxatilis, Acanthurus

chirurgus, Diplodus argenteus, Ophioblennius trinitatis,

Pomacanthus paru, Scartella cristata, Scarus trispinosus, S.

fuscus, além das espécies do gênero Sparisoma foram

consideradas neste trabalho como espécies comedoras de

algas, já que utilizam algas em sua dieta. Embora espécies

como A. saxatilis e D. argenteus sejam classificadas como

onívoras, elas podem apresentar uma grande quantidade de

algas em sua dieta (Dubiaski-Silva & Masunari 2004,

Dubiaski-Silva & Masunari 2008), sendo potenciais

competidores por alimento de S. fuscus.

Análises estatísticas

Para avaliar a variação no tamanho médio dos

territórios, no tamanho médio dos indivíduos de Stegastes

fuscus, no número médio de perseguições, na média do

Page 29: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

14

número de mordidas e na densidade de S. fuscus entre os

dados provenientes dos locais amostrados, foram utilizadas

análises de variância (ANOVA), seguidas pelo teste a

posteriori de Tukey para identificar as diferenças. Os testes

foram utilizados, mesmo os dados não cumprindo a premissa

da homocedasticidade, por ser um teste extremamente robusto

para testar os fatores e suas interações (Underwood 1997).

Relações entre os tamanhos dos territórios e os

tamanhos dos indivíduos, bem como o número de mordidas e

a temperatura superficial do mar (TSM), foram avaliadas

através de análise de regressão.

Para verificar as possíveis diferenças entre

perseguições intra e interespecífica e entre peixes comedores

de algas e outros foi utilizado o teste de t.

Todas as análises foram realizadas no programa

STATISTICA® versão 7.0.

Page 30: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

15

Figura 2: (A) Esquema de mensuração do território, (B)

observação do comportamento e (C) mensuração do tamanho do

território de Stegastes fuscus. d1 = distância 1; d2 = distância 2;

d3 = distância 3; linha tracejada = área circular do território;

estrela = pontos extremos do território.

Page 31: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

16

RESULTADOS

Foram analisados 166 indivíduos de Stegastes fuscus

e seus respectivos territórios ao longo da costa brasileira: 61

em Natal (RN), 20 em Porto Seguro (BA), 20 em Arraial do

Cabo (RJ) e 65 em Bombinhas (SC). Houve diferença

significativa entre o tamanho médio dos indivíduos (F(3,

162)=37,4; p<0,001), sendo os indivíduos do nordeste (Natal e

Porto Seguro, 10,81±2,37 e 9,1±1,04 respectivamente)

menores do que os do sudeste/sul (Arraial do Cabo e

Bombinhas, 13,4±1,46 e 13,19±1,89 respectivamente) (Teste

de Tukey, p<0,05) (Figura 3).

O tamanho médio dos territórios foi

significativamente diferente entre os locais amostrados (F(3,

164)=7,43; p<0,001, Teste de Tukey, p<0,05) (Natal =

1,37±0.07m2, Porto Seguro = 0,75±0,06 m

2, Arraial do Cabo

= 1,18±0,14 m2, Bombinhas = 1,09±0,06 m

2), porém sem

nenhum padrão latitudinal.

Houve relação positiva entre o tamanho dos territórios

e o tamanho dos indivíduos de S. fuscus em Natal, Arraial do

Cabo e Bombinhas (r=0,36, p=0,003; R2=0,52, p=0,017 e

R=0,46, p<0,001 respectivamente), somente em Porto Seguro

Page 32: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

17

não apresentou relação entre essas variáveis (R2=0,01;

p=0,57) (Figura 4).

Figura 3: Tamanho médio dos indivíduos de Stegastes fuscus

em quatro localidades ao longo da costa brasileira. Linhas

verticais indicam erro padrão. Letras diferentes sobre as barras

indicam locais com diferenças significativas.

O número médio de perseguições foi

significativamente diferente entre os quatro locais amostrados

(F(3, 586)=8.14; p<0,001), onde Porto Seguro apresentou um

maior número de perseguições, sendo somente

significativamente diferente de Arraial do Cabo (Teste de

Tukey, p<0,001) (Figura 6A). Porto Seguro foi o único local

que apresentou uma densidade de S. fuscus três vezes maior

Page 33: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

18

do que as outras localidades (F(3, 181)=32,601,p<0,001; Teste

de Tukey, p<0,001) (Figura 6B).

Figura 4: Relação entre o tamanho do território e o tamanho de

Stegastes fuscus nos quatro locais da costa brasileira.

Dependendo se essas perseguições eram intra e

interespecificas, vemos que há diferença estatística nas taxas

de perseguição. Ela é maior interespecificamente em Natal,

Porto Seguro e Arraial do Cabo (T=-5,40, p<0.001; T=-5,42,

p<0.001; T=-3,70, p<0.001 respectivamente). Em Bombinhas

este padrão se inverte, sendo a média de perseguição

intraespecífica maior do que perseguições de indivíduos de

Page 34: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

19

outras espécies. Entretanto, esta diferença não foi significativa

(T=0,70, p=0,48) (Figura 7).

Quando comparada com a abundância local de peixes,

a proporção de perseguição se dá em sua maioria com

espécies de peixes que incluem algas na sua dieta (Figura 8).

Figura 5: Relação entre o número médio de mordidas de

Stegastes fuscus durante três minutos e a média de TSM

(temperatura superficial do mar) do dia de coleta.

Page 35: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

20

Padrão visto em Natal, Porto Seguro, Arraial do Cabo e

Bombinhas (T=4,97, p<0,001; T=5,12, p<0,001; T=-2,36,

p=0.01 e T=6,76, p<0,001 respectivamente) (Figura 8).

Além disso, existe uma mudança na comunidade de

peixes entre os ambientes recifais do nordeste e os costões

rochosos do sudeste/sul (Figura 9). Em Natal Sparisoma spp.

e Haemulon plumieri foram mais perseguidos em relação à

sua abundância na comunidade. Em Porto Seguro A. saxatilis,

Sparisoma spp., Labrisomus nuchipinnis e Acanthurus

chirurgus são as espécies mais perseguidas numa taxa maior

do que as abundâncias de indivíduos que compõem a

população local, além disso, as perseguições de A. saxatilis

por S. fuscus compõem mais de 50% das perseguições neste

local. Há uma mudança na perseguição intraespecífica entre

os locais do nordeste para os do sudeste/sul. Em Arraial do

Cabo, além de S. fuscus, Halichoeres poeyi, Parablennius

spp., Chaetodon striatus, Labrisomus nichipinnis,

Stephanolepis hispidus, e Pseudupeneus maculatus são

perseguidos em maior proporção que sua abundância. Já em

Bombinhas, somente S. fuscus e Ophioblennius trinitatis

foram mais perseguidas, sendo que está última espécie

também apresenta comportamento territorialista (Mendes

2006).

Page 36: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

21

Figura 6: Número médio de perseguições de Stegastes fuscus

durante três minutos (A) e densidade de S. fuscus por 40 m2 (B)

entre os locais. Linhas verticais indicam erro padrão. Letras

diferentes sobre as barras indicam locais com diferenças

significativas.

Page 37: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

22

Figura 7: Relação entre a média de perseguições intra e

interespecíficas de Stegastes fuscus durante 03 minutos entre os

locais. Linhas verticais indicam desvio padrão. * = diferença

significativa entre intra e interespecífico de cada local.

Page 38: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

23

Figura 8: Análise de variância entre as espécies comedoras de algas e as

outras em quatro pontos da costa brasileira.

Page 39: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

24

Figura 9: Seletividade da perseguição de Stegastes fuscus em relação à

abundância relativa de peixes em quatro locais da costa do Brasil. Espécies

acima da linha indicam seleção na perseguição.

DISCUSSÃO

De modo geral à medida que aumenta a latitude na

costa brasileira há um aumento no tamanho médio dos

indivíduos de Stegastes fuscus, Porto Seguro apresentou uma

maior densidade de S. fuscus, maior número de perseguições e

menor tamanho de territórios, corroborando as predições da

densidade dependência. Em geral a taxa de agonismo

interespecífica é maior que a intraespecífica, com exceção Da

comunidade de Bombinhas, o que pode ser reflexo de um

efeito da baixa riqueza local. Deste modo, tanto fatores

Page 40: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

25

regionais - provavelmente decorrentes do metabolismo, como

taxa alimentar e tamanho corporal - quanto fatores locais -

taxa agonística intra e interespecífica, tamanho do território,

fenômenos de densidade dependência e características das

comunidades de peixes - atuam sobre as diferentes populações

de S. fuscus ao longo da costa do Brasil.

Os resultados apontam que os indivíduos de S. fuscus

da região Nordeste (Porto Seguro e Natal) apresentam menor

tamanho em comparação aos das regiões sudeste e sul.

Diversos grupos taxonômicos podem apresentar fortes

padrões de correlações interespecíficas entre tamanho do

corpo e latitude e/ou temperatura, fenômeno conhecido como

regra de Bergmann (ver Blackburn et al. 1999; Gaston et al.

2008).

Esta regra foi originalmente proposta para avaliar

tendências de associação positiva entre tamanho/massa do

corpo de espécies de animais endotérmicos pertencentes à

grupos taxonômicos monofiléticos e a latitude habitada por

tais indivíduos (redefinição proposta por Blackburn et al.

1999). No entanto, tal regra ecogeográfica tem sido também

testada para animais ectotérmicos, encontrando padrões

inconsistentes (e.g. Knouft 2004, peixes de água doce) e

consistentes (e.g. Gaston et al. 2001, invertebrados

terrestres). Ainda que haja poucas evidências para peixes

Page 41: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

26

marinhos (ver Choat & Robertson 2002), esta abordagem

interespecífica da regra de Bergman foi recentemente validada

para diferentes gêneros de peixes donzela, de forma que

espécies de tamanho corpóreo maior foram registradas em

latitudes mais altas (Barneche et al. 2009).

Por outro lado, diversos trabalhos testam uma versão

intraespecífica da regra de Bergmann, tanto para animais

endotérmicos (Ashton 2002) quanto para ectotérmicos

(Ashton & Feldman 2003). Nesse sentido, nossos resultados

suportam a abordagem intraespecífica da regra de Bergmann

de que populações de latitudes mais altas apresentam

indivíduos com maior tamanho corporal médio que

populações em latitudes mais baixas. O significado ecológico

deste padrão deve, no entanto, ser interpretado com cautela.

Isso porque uma relação positiva entre tamanho de corpo e

latitude (geralmente correlacionada à temperatura) não é

necessariamente decorrente do efeito climático sobre o

balanço de temperatura do animal ectotérmico, da mesma

forma que tal efeito climático não necessariamente levaria à

ocorrência do padrão de tamanho e latitude (Blackburn et al.

1999).

Isso porque outras alternativas também poderiam

explicar a variação do tamanho corpóreo entre latitudes. Por

exemplo: uma possibilidade seria que para permitir que

Page 42: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

27

indivíduos de uma população sobrevivam em ambientes de

escassez de recursos, como em sistemas mais frios ou de

regimes sazonais intensos, o maior tamanho corporal

implicaria em uma maior robustez contra a falta temporária de

alimento (Blackburn et al. 1999). Ou seja, ao observar tais

padrões é possível inferir sobre processos, porém não assumir

causalidade direta entre eles.

Em organismos onde os custos de manter suas

atividades de rotina são elevados, o dimensionamento entre a

taxa metabólica e seu tamanho corporal é limitado

principalmente pelo fluxo de recursos (West et al. 1997). O

metabolismo de peixes está diretamente relacionado com o

seu tamanho corporal e geralmente peixes menores possuem

metabolismo mais elevado (consumo de O2/massa/tempo) do

que indivíduos maiores (Yager & Summerfelt 1993), desta

forma não seria viável energeticamente ter um corpo grande

num ambiente que exija maior metabolismo.

Nossos resultados demonstram que existe uma

correlação positiva entre SST e a taxa de forrageamento de

indivíduos de S. fuscus. As altas temperaturas encontradas nos

locais situados no ambiente tropical são diretamente

relacionadas com o aumento na atividade metabólica de

organismos termo-dependentes (Clarke & Johnston 1999;

Schmidt-Nielsen 2002). Desta forma, era esperado que a taxa

Page 43: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

28

de forrageio também aumentasse (Floeter et al. 2005). Nossos

resultados corroboram as predições de Floeter e colaboradores

(2005) e o estudo de Barneche e colaboradores (2009) que

demonstra a forte influência da temperatura na atividade de

forrageamento no gênero Stegastes.

Houve também relação entre o tamanho do território

de S. fuscus e o tamanho corporal dos indivíduos. Grant &

Kramer (1990) ao estudar diferentes espécies de salmão

observaram que 87% da variação no tamanho do território

podem ser explicadas pelo tamanho corporal dos peixes,

excluindo as diferenças entre espécies, condições ambientais e

métodos de mensuração do território. Tal padrão também já

foi notado por outros autores (MacNab 1963; Letourneur

2000; Alimov 2003). Entretanto Jan e colaboradores (2003)

ao estudar a territorialidade em S. nigricans demonstrou que o

tamanho do território não estava relacionado com o tamanho

corporal do peixe-donzela comum. Peixes de tamanho

corporal grande podem ter uma demanda energética maior do

que indivíduos pequenos e, portanto, precisam de áreas

maiores defendidas para atender a essa necessidade (Jan et al.

2003; Gerking 1994). Assim sendo, indivíduos maiores S.

fuscus conseguem defender áreas maiores, e desta forma,

conseguem obter maior quantidade de recursos alimentares.

Page 44: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

29

A população de S. fuscus de Porto Seguro diferiu do

padrão latitudinal de comportamento de S. fuscus, sugerindo

que nesta localidade fatores locais estejam atuando mais

fortemente que regionais. O local apresentou uma maior

abundância de S. fuscus (cerca de três vezes mais que nos

outros locais), um menor tamanho médio de S. fuscus e do

território e ainda uma taxa agonística maior do que os outros

locais, ainda que nem todas as diferenças tenham sido

estatisticamente diferentes, encontram-se relações entre essas

variáveis. A alta agregação de peixes no local poderia estar

favorecendo o aumento na competição e desta forma estar

relacionado com maior taxa agonística (Levin et al. 2000),

resultando em um menor tamanho corporal (Gust et al. 2002)

e, consequentemente, menor tamanho do território. Estas

respostas da população se relacionam com processos de

regulação densidade dependência (Cornell & Lawton 1992;

Levin et al. 2000; Shima 2001; Gust et al. 2002). Redução no

tamanho corporal tem um grande potencial para afetar a

dinâmica de populações em peixes (Levin et al. 2000).

Quando o alimento e/ou o acesso ao alimento é limitado, o

índice de crescimento em peixes tende a ser baixo,

aumentando a mortalidade e selecionando negativamente

indivíduos menores (ver Sogard 1997). Apesar de não termos

avaliado seu índice de mortalidade, os resultados sugerem que

Page 45: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

30

parâmetros populacionais e comportamentais de S. fuscus em

Porto Seguro estejam sendo fortemente influenciados por sua

alta densidade.

Entretanto, quando separamos a taxa de agonismo

entre S. fuscus e as outras espécies, percebemos que em Porto

Seguro a maioria das perseguições são contra peixes

interespecíficos, resultante da riqueza local ser maior, o que

aumenta a probabilidade de encontros com espécies

competidoras. Além disso, por S. fuscus apresentar o

comportamento territorial, ele tende a ficar próximo a seu

território, agredindo na grande maioria S. fuscus vizinhos

(Meadows 2001). Porém, em Porto Seguro, o trade-off para

defender um território contra coespecíficos é muito alto em

função da alta densidade da espécie no local, sendo assim

impossível sustentar territórios maiores, e consequentemente

ter muitos ataques intraespecíficos. Já que isso não ocorre, os

indivíduos de S. fuscus direcionam seus comportamentos

agonísticos a outras espécies possíveis competidoras. Ou seja,

essa impossibilidade de sustentar grandes territórios, por conta

da alta densidade, leva a uma taxa de agonismos

intraespecíficos.

Diversos fatores podem influenciar os diferentes

padrões de comportamentos agonísticos intra e

interespecíficos de S. fuscus ao longo da costa Brasileira. Na

Page 46: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

31

escala local, três atributos das espécies que compõem as

comunidades de peixes recifais podem ser determinantes para

as taxas de agonismo de S. fuscus: abundância local, grupo

trófico e mobilidade/uso de hábitat. Estudos de territorialidade

em animais mostram que indivíduos coespecíficos tendem a

ser atacados com maior intensidade quando comparados à

invasores heteroespecíficos (Draud & Itzkowitz 1995), sendo

este padrão já reportado para espécies de Pomacentridae (Sale

et al. 1980), inclusive S. fuscus (Osório et al. 2006).

Entretanto, encontramos um número maior de

interações agonísticas interespecíficas em três, dos quatro

pontos avaliados: Natal, Porto Seguro e Arraial do Cabo.

Somente em Bombinhas, no extremo sul, que S. fuscus

perseguiram mais coespecíficos que invadiam seus territórios.

É também em Bombinhas que indivíduos de S. fuscus

correspondem à grande parte da abundância relativa da

comunidade, o que pode determinar o número de interações

entre indivíduos bem como a probabilidade de interações

(encounter rate) no local (Connell 1996). Poderíamos esperar

este mesmo padrão de comportamento em Porto Seguro,

guiado pela grande abundância local de coespecíficos.

Entretanto, as perseguições mais frequentes à invasores da

espécie Abudefduf saxatilis podem estar relacionadas à maior

mobilidade (utilização da área do recife) da mesma em

Page 47: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

32

relação à S. fuscus, que por ser territorialista tende a ficar mais

restrito ao seu território, e ao fato de que A. saxatilis pode

utilizar tanto recursos alimentares presentes nos territórios,

quanto o espaço físico dos mesmos para sua desova

(Cummings 1968).

Tanto em Natal quanto em Arraial do Cabo,

diferentes espécies são alvo de perseguições de S. fuscus de

forma desproporcional à sua abundância local. Osório e

colaboradores (2006) encontraram taxas de interações

agonísticas proporcionais às abundâncias relativas de espécies

em comunidades de peixes recifais na Paraíba. Nossos

resultados corroboraram o estudo de Medeiros et al. (2010), o

qual encontrou uma taxa agonística alta direcionadas para

espécies comedoras de algas. Em Natal, a maior proporção de

perseguições a espécies do gênero Sparisoma pode ser

atribuída à sua categoria trófico-funcional como herbívoros

vagueadores (Ferreira et al. 2004). Além de apresentar grande

plasticidade alimentar (Ferreira et al. 2004), podendo

consumir/ ingerir itens disponíveis nos territórios de S. fuscus,

espécies de Sparisoma tem grande mobilidade no recife, e

desta forma maiores chances de interagir com S. fuscus

(Bonaldo et al. 2006).

Em Arraial do Cabo, as interações agonísticas

intraespecíficas constituem grande parte da proporção de

Page 48: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

33

interações, como em Bombinhas. Todavia, neste local as

atenções à coespecíficos são divididas com outras espécies

desproporcionalmente perseguidas: Diplodus argenteus,

Halichoeres poeyi, Parablennius spp. e Chaetodon striatus. A

espécie D. argenteus é onívora, um dos grupos dominantes

nas assembleias de peixes recifais de Arraial do Cabo

(Ferreira et al. 2004). Esta mesma espécie, no entanto, pode se

tornar uma herbívora funcional durante os meses de verão

(Dubiaski-Silva & Masunari 2004). Localmente, podemos

perceber que uma série de fatores são importantes e podem

fazer surgir diferentes taxas de interações agonísticas intra e

interespecíficas para S. fuscus. Uma vez que as comunidades

podem apresentar diferentes composições de espécies ao

longo do gradiente latitudinal aqui avaliado, e ainda, estas

espécies têm distintas contribuições para a abundância total da

comunidade (Ferreira et al 2004; Floeter et al 2005); é

esperado que estas interações variem em função destes

fatores. Além disso, ligadas às composições taxonômicas

locais temos composições tróficas e funcionais nestas

comunidades, de forma que os conjuntos de atributos das

espécies (e.g. dieta, tamanho máximo, mobilidade) constituem

um fator fundamental (chave) nas interações inter e

intraespecíficas.

Page 49: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

34

Fatores de diferentes escalas atuam no

comportamento de S. fuscus em Bombinhas. Segundo Ferreira

et al. (2004) existe uma mudança na comunidade de peixes ao

longo da costa brasileira, conforme muda a temperatura, da

região tropical, onde teria maior riqueza e abundância de

peixes herbívoros, para a região subtropical. Desta forma a

possibilidade de encontros interespecíficos em Bombinhas é

menor. Da mesma forma, a diminuição da temperatura e

aumento da latitude poderia estar atuando na fisiologia de S.

fuscus para que ele atinja um tamanho maior (ver Blackburn

et al. 1999; Gaston et al. 2008). Por outro lado, como

exemplo de fatores locais atuando, a diminuição na pressão de

invasores permite um aumento no tamanho do território

(Hixon 1980; Schoener 1983). Com um território maior pode

ser que S. fuscus obtenha mais recursos alimentares e consiga

realocar energia para seu crescimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na escala regional, a temperatura foi o fator principal

para determinar de que forma se dão as interações locais de S.

fuscus tanto com o ambiente no qual estas populações estão

inseridas (territorialidade e fisiologia – taxa alimentar e

Page 50: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

35

tamanho dos indivíduos), tanto com outras espécies da

comunidade de peixes recifais. Já na escala local a

competição intra e interespecífica, a densidade dependência

intraespecífica e variação na composição de espécies do local

direcionaram a plasticidade no comportamento de S. fuscus

localmente e suas respostas com os diversos componentes dos

recifes. Isso demonstra que existe uma sinergia entre fatores

regionais e locais atuando no comportamento territorial e

alimentar de S. fuscus ao longo da costa brasileira.

Page 51: Comportamento territorial e alimentar do peixe-donzela comum

36

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