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Cristiana Silveira Mira [email protected] DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E JUVENTUDE RESUMO Este artigo aborda o conceito de democracia participativa sob a perspectiva do autor Boaventura de Souza Santos, principalmente. Além disso, levando em conta a contextualização da juventude no Brasil atual, expondo a importância dessa categoria na participação política do País. Palavras-Chave: Democracia Participativa. Administração Pública. Juventude. ABSTRACT This article discusses the concept of participatory democracy, mainly from the perspective of the author Boaventura de Souza Santos. Beyond that, observing the context of today’s youth in Brazil, indicating the importance of this category in the country's political participation. Keywords: Participatory Democracy. Public Administrations. Youth. 1

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DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E JUVENTUDE

ResuMOEste artigo aborda o conceito de democracia participativa sob a perspectiva do autor Boaventura de Souza Santos, principalmente. Alm disso, levando em conta a contextualizao da juventude no Brasil atual, expondo a importncia dessa categoria na participao poltica do Pas. Palavras-Chave: Democracia Participativa. Administrao Pblica. Juventude.abstractThis article discusses the concept of participatory democracy, mainly from the perspective of the author Boaventura de Souza Santos. Beyond that, observing the context of todays youth in Brazil, indicating the importance of this category in the country's political participation.Keywords: Participatory Democracy. Public Administrations. Youth.

IntroduoO presente trabalho tem como objetivo concluir o curso de ps-graduao - MBA em Administrao Pblica e Gesto de Cidades da Anhanguera Educacional.

Para tanto, torna-se importante compreender o conceito de Democracia Participativa, bem como, a importncia de introduzir a categoria juvenil na construo da vida poltica e, portanto, pblica do Pas. Para isso, utilizou-se de leituras bibliogrficas que tratam sobre tais temticas: democracia participativa e juventude.

A democracia surgiu da necessidade de legitimar o direito participao e o direito de ser ouvido, diante de regimes polticos, principalmente no perodo ps-guerra. Para tanto, bom lembrar que a democracia no fez parte da histria da humanidade desde sempre. Foi construda ao longo dos tempos, com incio na Antiguidade e depois reelaborada a partir do sculo XVIII, por pessoas que acreditavam que a participao poderia tornar a vida em sociedade, atravs da poltica, melhor.

Assim como o conceito de democracia, o de juventude tambm no existiu desde sempre na histria da humanidade. No considerada uma fase natural do desenvolvimento humano, e tambm produto do sculo passado (BOCK & LIEBESNY, 2003). Com a introduo da mulher no mercado de trabalho e do homem que j atuava nesse mercado, houve a necessidade de prolongar o perodo escolar, como forma de garantir o trabalho para homens e mulheres, e, ao mesmo tempo, preparar a mo de obra que viria fazer parte, um dia, desse mesmo mercado de trabalho.

Tem-se ento, dois produtos da sociedade ps-guerra do sculo XX, a democracia participativa, que tem o objetivo de legitimar a participao, como forma de garantir os direitos dos homens e mulheres. E, tambm, a juventude, enquanto perodo de preparao para a vida adulta produtiva, que nem sempre existiu, no natural ao homem, foi criado pelo homem para tambm garantir melhores condies de vida em sociedade.2. Fundamentao Terica2.1. Resgate sobre Democracia Participativa A democracia tornou-se ponto central no terreno poltico durante o sculo XX, segundo Boaventura de Souza Santos (2002), pesquisador referncia na temtica aqui apresentada e que aparecer, portanto, muitas vezes neste trabalho. De fato, travaram-se intensas disputas em torno dessa envolvendo dois debates principais, quais sejam: a desejabilidade da democracia e as condies estruturais da democracia, segundo Boaventura de Souza Santos, (2002). A primeira categoria do debate foi resolvida e a democracia virara o novo regime de governo. A segunda categoria, das condies estruturais, aponta para as ambiguidades entre democracia e capitalismo (Santos, 2002, p.39 e 40).

O intuito da proposta democrtica colocaria limites propriedade e possibilitaria que as classes mais desfavorecidas fossem beneficiadas. Mas, uma vez que, nos estados capitalistas no se podia democratizar a produo material e a relao entre o capital e o trabalho, surgiram novos modelos de democracia, dentre eles, a democracia participativa.

Contudo, desde j, deve deixar claro que o sucesso ou insucesso da chamada terceira onda de democratizao, deve levar em conta a influncia que teve a democracia liberal no perodo entre e aps a guerra-fria. Como expe o mencionado autor,

[...] a expanso global da democracia liberal coincidiu com uma grave crise desta nos pases centrais onde mais se tinha consolidado, uma crise que ficou conhecida como a dupla patologia: a patologia da participao, sobretudo em vista do aumento dramtico do abstencionismo; e a patologia da representao, o fato de os cidados se considerarem cada vez menos representados por aqueles que elegeram (SANTOS, 2002, p. 42).Mas foi em Atenas na Grcia onde surgiu a primeira experimentao do regime democrtico direto ou participativo. Conforme ARANHA & MARTINS (1993),

A palavra democracia vem do grego demos (povo) e kratia, de krtos (governo, poder, autoridade). Os atenienses so o primeiro povo a elaborar teoricamente o ideal democrtico, dando ao cidado a capacidade de decidir os destinos da plis (cidade-estado grega) (p. 181).Democracia direta ou participativa para Rousseau, outro autor que abordou a temtica, aquela em que os cidados decidem o que melhor para o coletivo em assembleias frequentes. A democracia uma forma scio-histrica, portanto, se entende que a cada contexto social ser construda novas decises a respeito da coletividade. Consequentemente, esta sociedade deve estar aberta transformao ao longo do tempo. Segundo ARANHA & MARTINS (1993, p. 225 apud ROUSSEAU, 1973, p. 39) ao falar sobre o Contrato Social,

O contrato social, para ser legtimo, deve se originar do consentimento necessariamente unnime. Cada associado, se aliena totalmente, ou seja, abdica sem reserva de todos os seus direitos em favor da comunidade. Mas, como todos abdicam igualmente, na verdade cada um nada perde, pois este ato de associao produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo composto de tantos membros quantos so os votos da assembleia e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade.O ato de decidir significa numa democracia garantir os direitos dos cidados indiferente da maioria ou da minoria dos grupos. Igualmente, quando no estejam assegurados os direitos, reserva-se o direito de lutar por eles e exigi-los. Alm disso, entende-se que todos os cidados possuem aptido para deliberar sobre as aes coletivas. Compreende-se o conflito como legtimo dentro de um regime democrtico, pois o respeito quilo que contrrio e diferente est presente e torna-se reconhecido. E nesse processo de interao, de experimentao entre o que diferente, que a democracia se fortalece.

O conhecimento detido pelos atores sociais passa, assim, a ser um elemento central no aproprivel pelas burocracias para a soluo de problemas de gesto. Ao mesmo tempo, torna-se cada vez mais claro que as burocracias centralizadas no tm condio de agregar ou lidar com o conjunto das informaes necessrias para a execuo de polticas complexas nas reas social, ambiental ou cultural (Sabel et al., 1999). A residiria o motivo da re-insero no debate democrtico dos assim chamados arranjos participativos (SANTOS, 2002, p. 48).Afirma-se que o empoderamento da populao com o regime democrtico participativo aumentado, pois os esforos para a aprovao das iniciativas que beneficiem todo o conjunto da sociedade so constantes atravs das reunies coletivas, que garantem tambm o respeito aos direitos humanos. Conforme SANTOS (2002),

[...] a democracia participativa em termos de aumento de poder do povo atravs de combates quotidianos pelos seus direitos, assim como atravs do aproveitamento dos seus esforos coletivos para desenvolver os recursos locais para proporcionar o bem-estar coletivo (p. 115).

Boaventura de Souza Santos (2002) acredita que com a democracia participativa, a sociedade pode tomar parte nas decises polticas da sociedade, ao contrrio do que acontece quando,

[...] sob as condies da globalizao em que as instituies da democracia representativa nacional so subordinadas ao poder hegemnico global, com as estruturas polticas e econmicas de tomada de deciso ficando mais distantes e, at mesmo, alienadas das populaes [...] (SANTOS, 2002, p. 110). Concebe os movimentos de base como essenciais para a efetivao da democracia participativa, pois entende que a globalizao cria uma distncia da capacidade de atuao dos cidados comuns, permitindo apenas que algumas instituies possam fazer parte do jogo poltico. E com isso, o desenvolvimento do pas fica na mo de poucos grupos polticos. Para ele,

[...] as polticas de diferentes grupos e movimentos, que comearam a convergir em meados dos anos 90, conseguiram uma direo comum e uma organizao razoavelmente duradoura. Esta convergncia foi alcanada at o ponto de resistncia aos esforos desenvolvidos pelas elites burocrticas, tecnocrticas e metropolitanas para apoiar as polticas de globalizao e despolitizar o desenvolvimento. E isto porque, segundo os movimentos, apenas atravs da politizao dos pobres que eles podem reverter o impacto negativo da globalizao e fazer do desenvolvimento um processo justo e equitativo e uma experincia coletivamente edificante. Deste modo, ao estabelecer, tanto conceitualmente como na prtica, ligaes entre as questes do desenvolvimento e da democracia, os movimentos de base comearam a articular suas polticas em termos de democracia participativa (SANTOS, 2002, p. 109).Portanto, a democracia participativa pode representar uma forma de se contrapor aos pressupostos da democracia liberal. Incluindo a falta a sensao de pertencimento a uma sociedade poltica, no caso dos jovens, pois inexiste uma cultura de participao nas decises do coletivo, por parte desta categoria. Segundo Boaventura de Souza Santos (2002),

[...] no Brasil as experincias mais significativas de mudana na forma da democracia tm sua origem em movimentos sociais que questionam as prticas sociais de excluso atravs de aes que geram novas normas e novas formas de controle do governo pelos cidados (p. 69).

A prpria Constituio Federal foi capaz de incorporar a participao da sociedade civil para a construo social do pas nos artigos 14 e 29 mais especificamente, dentre outros. No 14 artigo da Constituio temos:

A soberania popular ser exercida pelo sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

J no artigo 29 do mesmo texto legal consta,

O Municpio reger-se- por lei orgnica, votada em dois turnos, com o interstcio mnimo de dez dias, e aprovada por dois teros dos membros da Cmara Municipal, que a promulgar, atendidos os princpios estabelecidos nesta Constituio, na Constituio do respectivo Estado e os seguintes preceitos:

I - eleio do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultneo realizado em todo o Pas;

II - eleio do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao trmino do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municpios com mais de duzentos mil eleitores;

III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1 de janeiro do ano subsequente ao da eleio;

IV - para a composio das Cmaras Municipais, ser observado o limite mximo de:

a) 9 (nove) Vereadores, nos Municpios de at 15.000 (quinze mil) habitantes;

b) 11 (onze) Vereadores, nos Municpios de mais de 15.000 (quinze mil) habitantes e de at 30.000 (trinta mil) habitantes;

c) 13 (treze) Vereadores, nos Municpios com mais de 30.000 (trinta mil) habitantes e de at 50.000 (cinquenta mil) habitantes;

d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municpios de mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de at 80.000 (oitenta mil) habitantes;

e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municpios de mais de 80.000 (oitenta mil) habitantes e de at 120.000 (cento e vinte mil) habitantes;

f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municpios de mais de 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de at 160.000 (cento sessenta mil) habitantes;

g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municpios de mais de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de at 300.000 (trezentos mil) habitantes;

h) 23 (vinte e trs) Vereadores, nos Municpios de mais de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de at 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes;

i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municpios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de at 600.000 (seiscentos mil) habitantes;

j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municpios de mais de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de at 750.000 (setecentos cinquenta mil) habitantes;

k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municpios de mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de at 900.000 (novecentos mil) habitantes;

l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municpios de mais de 900.000 (novecentos mil) habitantes e de at 1.050.000 (um milho e cinquenta mil) habitantes;

m) 33 (trinta e trs) Vereadores, nos Municpios de mais de 1.050.000 (um milho e cinquenta mil) habitantes e de at 1.200.000 (um milho e duzentos mil) habitantes;

n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municpios de mais de 1.200.000 (um milho e duzentos mil) habitantes e de at 1.350.000 (um milho e trezentos e cinquenta mil) habitantes;

o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municpios de 1.350.000 (um milho e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de at 1.500.000 (um milho e quinhentos mil) habitantes;

p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municpios de mais de 1.500.000 (um milho e quinhentos mil) habitantes e de at 1.800.000 (um milho e oitocentos mil) habitantes;

q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municpios de mais de 1.800.000 (um milho e oitocentos mil) habitantes e de at 2.400.000 (dois milhes e quatrocentos mil) habitantes;

r) 43 (quarenta e trs) Vereadores, nos Municpios de mais de 2.400.000 (dois milhes e quatrocentos mil) habitantes e de at 3.000.000 (trs milhes) de habitantes;

s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municpios de mais de 3.000.000 (trs milhes) de habitantes e de at 4.000.000 (quatro milhes) de habitantes;

t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municpios de mais de 4.000.000 (quatro milhes) de habitantes e de at 5.000.000 (cinco milhes) de habitantes;

u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municpios de mais de 5.000.000 (cinco milhes) de habitantes e de at 6.000.000 (seis milhes) de habitantes;

v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municpios de mais de 6.000.000 (seis milhes) de habitantes e de at 7.000.000 (sete milhes) de habitantes;

w) 53 (cinquenta e trs) Vereadores, nos Municpios de mais de 7.000.000 (sete milhes) de habitantes e de at 8.000.000 (oito milhes) de habitantes; e

x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municpios de mais de 8.000.000 (oito milhes) de habitantes;

V - subsdios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretrios Municipais fixados por lei de iniciativa da Cmara Municipal, observado o que dispem os arts. 37, XI, 39, 4, 150, II, 153, III, e 153, 2, I;

VI - o subsdio dos Vereadores ser fixado pelas respectivas Cmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispe esta Constituio, observados os critrios estabelecidos na respectiva Lei Orgnica;

VII - o total da despesa com a remunerao dos Vereadores no poder ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Municpio;

VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opinies, palavras e votos no exerccio do mandato e na circunscrio do Municpio;

IX - proibies e incompatibilidades, no exerccio da vereana, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituio para os membros do Congresso Nacional e na Constituio do respectivo Estado para os membros da Assembleia Legislativa;

X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justia;

XI - organizao das funes legislativas e fiscalizadoras da Cmara Municipal;

XII - cooperao das associaes representativas no planejamento municipal;

XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse especfico do Municpio, da cidade ou de bairros, atravs de manifestao de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;

XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, pargrafo nico.

No caso da juventude, ainda ser preciso aprovar o Estatuto da Juventude (Projeto de Lei 4.529/2004) que se encontra no Senado Federal da Repblica, para reconhecer como sujeitos de direitos, os jovens entre 15 e 29 anos no Brasil, com polticas concretas, incluindo perspectivas e diretrizes. Todavia, somente quando as polticas pblicas so elaboradas conforme deciso dos cidados que se pode afirmar que de fato existe participao poltica. Conforme Peruzzo (2002, p. 256), ao falar sobre cidadania, afirma que, Cidadania quer dizer participao, nos seus mltiplos sentidos e dimenses, incluindo a cidadania cultural, que perpassa o direito liberdade de expresso.

Como alerta, Railssa Alencar (2005) em seu artigo sobre: A insero dos conselhos no contexto democrtico,

[...] na democracia participativa, a popularizao do espao de decises ajudaria a fomentar a cidadania no sentido da responsabilidade pblica, criando habilidades de cooperao, autodisciplina e moderao, em consequncia da interao grupal e do choque poltico entre a populao integrante do processo.

Os ganhos advindos da participao poltica seriam, portanto, garantidos pelos resultados da qualificao dos cidados ou educao poltica -, adquirida medida que eles participassem do debate de questes pblicas. Isso significa que as vantagens de se instituir conselhos dos quais os cidados participassem estariam no fato de que eles no somente se constituem em uma contrapartida s falhas de representao, mas tambm so espaos de formao cidado que garantiriam um bom resultado poltico (p. 32).No Brasil, segundo Boaventura de Souza Santos (2002), a proposta de incluso do regime democrtico se deu como alternativa mais inclusiva de participar da vida pblica diante de experincias autoritrias e discriminadoras. Conforme o autor,

[...] os processos de democratizao parecem partilhar um elemento comum: a percepo da possibilidade da inovao entendida como participao ampliada de atores sociais de diversos tipos em processo de tomada de deciso. Em geral, estes processos implicam a incluso de temticas at ento ignoradas pelo sistema poltico, a redefinio de identidades e vnculos e o aumento da participao, especialmente no nvel local (p. 59).Contudo, finalizando a questo da democracia, o autor aponta algumas reflexes que devem ser levadas em conta quando do debatem sobre democracia participativa, so elas: diversidade tnica no pas em que se prope a democracia; grupos que ainda no garantiram seus direitos; e, por fim, quando o interesse do grupo coletivo diverge do interesse da elite, ou de grupos dominantes (SANTOS, 2002, p. 50). Alm disso, fica um apontamento do autor para anlise do leitor: a democracia uma forma scio-histrica e que tais formas no so determinadas por quaisquer tipos de leis naturais (SANTOS, 2002, p. 51). Se no so determinadas por leis naturais, isso pode significar dizer que, democracia um produto histrico dos homens de nossa gerao, nem sempre existiu e que pode se transformar ao longo da histria da humanidade, assim como o homem e a prpria sociedade.3. Juventude3.1 Os jovens como atores sociais

A Assembleia das Naes Unidas promulgou o ano de 1985 como o Ano Internacional da Juventude. Para esta instituio, jovem considerado aquele que possui idade entre 15 e 24 anos. Essa classificao diferente em diferentes pases, pois se leva em conta a diversidade juvenil, atravs das culturas, e, principalmente a longevidade, o perodo de vida das pessoas que moram num determinado pas. No Brasil, toma como classificao, os jovens com idades entre 15 e 29 anos.

Para as autoras BOCK & LIEBESNY (2003, p. 211), a juventude um produto das revolues industriais que modificaram as formas de vida e de trabalho que exigiu maior qualificao e formao. Com isso, a nova categoria social que surgiu, a juventude, precisou se preparar para o mercado de trabalho, prolongando-se o perodo escolar. Mantendo os jovens na escola, pde-se garantir emprego para homens e mulheres, de modo que, mais tarde, depois de qualificados, estes jovens, seriam introduzidos na vida adulta produtiva, trabalhando e garantindo sua sobrevivncia.

Os jovens na Amrica Latina entraram na agenda poltica como problema de segurana nacional durante o perodo em que vigorou a ditadura militar. Bango (2003, p. 40) sintetiza essa trajetria da seguinte forma,

A maior presena da questo juvenil na agenda pblica est relacionada, em primeiro lugar, com a visibilidade que os jovens ganharam nos processos de democratizao ocorridos na Amrica Latina no final da dcada de 1980. As aberturas democrticas tiveram os jovens como principais protagonistas. Por meio de suas participaes em revitalizados movimentos estudantis, partidos polticos e movimentos sociais, os jovens desempenharam um papel importantssimo em prol do retorno da democracia. A esse fator de particular importncia pode-se adicionar a designao do ano de 1985, por parte das Naes Unidas, como o Ano Internacional da Juventude, fazendo com que o tema aumentasse de importncia para os organismos internacionais e os Estados nacionais.

Tambm a histria de tradio autoritria desfavorece a construo da participao poltica, e, portanto, democrtica de um pas, de sua gente e de seus jovens. Para Schmidt (2001), o jovem portador de uma cultura poltica ambgua,

[...] que demonstra preferncia pela democracia num sentido abstrato, baixa eficcia poltica, descrena nos polticos e nas instituies, sensibilidade para ideais de mudana, mas sem orientaes ideolgicas definidas, pequena participao poltica efetiva. [...] uma cultura marcada pela presena tanto de elementos democrticos como autoritrios, de descrena e de apatia (pg. 142).

Estes mesmos jovens, segundo as pesquisadoras da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura - UNESCO, Castro e Abramovay (2003) encontram-se angustiados pela falta de referncias que poderiam nortear sua participao da construo social do pas. Como resultado, a categoria juvenil poderia se sentir includa, ao mesmo tempo percebida e reconhecida como sujeitos de direitos. Segundo as mesmas pesquisadoras,

Sentir-se includo significa tambm ser escutado, ser reconhecido, sentir-se membro da sociedade em que vive, poder realizar projetos, obter espaos especficos e ter possibilidades para desenvolver a sua criatividade. H necessidade do desenvolvimento de um sentimento de confiana na sociedade, de fazer-se escutar e de criar elos com as instituies. Em outras palavras, quando os laos sociais se empobrecem e as demais vias de identificao deixam de funcionar, a solidariedade e a conscincia cidad deixam lugar a um sentimento de no pertencer, onde os vnculos com a sociedade podem deixar de existir (p.16). por meio dos processos de socializao que a juventude participa ativamente da construo social de suas relaes e tambm da construo histrica de sua gerao. Portanto, torna-se importante o investimento na formao de um capital cultural, com polticas pblicas para que os jovens possam intervir no processo de elaborao e participao crtica, garantindo seus direitos. Ao abordar a questo das polticas para a juventude, as autoras afirmam que,

[...] polticas para a juventude no apenas um elenco de programas, no somente questionar o modus operandi, [...] mas tambm uma construo poltico-cultural de como viver polticas, ou seja, considerar tal conhecimento como um constituinte de cidadania poltico-cultural (CASTRO E ABRAMOVAY, 2003, p. 07).

Alm disso, falar em Polticas Pblicas atualmente relaciona-se a compreenso de vida em sociedade, ou seja, ao bem comum, haja vista que o prprio cuidado com o bem comum, aumenta, na medida em que a prpria sociedade participa democraticamente da gesto pblica. Nesse sentido, salutar a importncia do envolvimento da categoria juvenil no desenvolvimento de Polticas Pblicas, visando ampliao da cidadania e tambm da insero dos maiores interessados nessa questo, os prprios jovens. SANTOS (2002, p. 52 apud HABERMAS, 1995) sobre a esfera pblica,

[...] um espao no qual indivduos mulheres, negros, trabalhadores, minorias raciais podem problematizar em pblico uma condio de desigualdade na esfera privada. As aes em pblico dos indivduos permitem-lhes questionar a sua excluso de arranjos polticos atravs de um princpio de deliberao societria que Habermas denomina de princpio D: apenas so vlidas aquelas normas-aes que contam com o assentimento de todos os indivduos participantes de um discurso racional (SANTOS, 2002, p. 52 apud HABERMAS, 1995).Deve-se levar em considerao que existem juventudes com especificidades e singularidades, que os jovens so sujeitos de direitos, e, alm disso, deve-se construir e formar capital intelectual bem como instigar a autonomia dos jovens de modo a construir parcerias com estes. O objetivo melhorar as relaes sociais estabelecidas, com o mundo, principalmente o mundo adulto. Com tudo isso, podemos pensar em participao poltica por parte dos jovens brasileiros, no s na construo de Polticas Pblicas voltadas a eles, mas tambm, no desenvolvimento de um pas que leva a srio sua juventude, porque respeita sua opinio.CONSIDERAES FINAIS

A democracia parece ter surgido da necessidade de contradizer os regimes ditatoriais e excludentes, principalmente no sculo XX. A juventude, tambm como produto da sociedade, surgiu da necessidade de mudar as formas de vida e de trabalho. A necessidade de sentir-se participante, enseja o desejo de legitimar-se enquanto cidado. como se a participao estivesse diretamente associada ao tornar-se cidado, inclusive influencia esta construo. No existe cidadania sem participao quando se discute democracia participativa.

O Estado precisou se reinventar para dar conta da nova demanda populacional que surgiu com a democracia. As instituies precisam tambm legitimar o cidado, isto inclui respeitar suas opinies e preceitos. Para isso, h que se refletir sobre as relaes de raa, etnia, gnero, classes sociais, jovens, mulheres, idosos, enfim. As categorias que compem a sociedade precisam ser reconhecidas e seus direitos assegurados.

Ao levar em considerao a capacidade de participar e de construir a sociedade em que vive, o Estado tambm precisa articular e desenvolver meios para que os atores sociais consigam transferir suas ideias e prticas do nvel local para o prprio aparelho estatal, e vice-versa. O grande problema encontrado na democracia participativa, atravs das assembleias, que so instrumentos de legitimao da escolha, da deciso e da participao, que aponta SANTOS (2002) a de que os grupos minoritrios, os setores menos favorecidos da sociedade no conseguem aprovar seus interesses diante de outros grupos.

SANTOS (2002), tambm apresenta o trao caracterstico dentre as democracias mundo afora, o de questionar o Estado enquanto instituio de excluso que serve a um pequeno grupo em detrimento da maioria das pessoas de maneira autoritria, e, muitas vezes, negando-lhes direitos. Ou seja, tm como alternativa inclusiva, a democracia participativa.REFERNCIAS ARANHA, MARIA L. de A. Filosofando: introduo filosofia/Maria Lcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. -- 2 Ed. rev. Atual. So Paulo: Moderna, 1993;BANGO, J. Polticas de juventude na Amrica Latina: identificao de desafios. In: FREITAS, M. V. de; PAPA, F. de C. (Org). Polticas pblicas: juventude em pauta. So Paulo: Cortez/Ao Educativa. 2003, p. 33-55;BOCK, A. M. B., LIEBESNY, B. Quem eu quero ser quando crescer: um estudo sobre o projeto de vida de jovens em So Paulo. In: OZELLA, S. (Org). Adolescncias construdas: a viso da psicologia scio-histrica. So Paulo: Cortez. 2003, p. 203-222;BRASIL. Constituio Brasileira. Disponvel em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01 de agosto de 2011;CASTRO, M. G. & ABRAMOVAY, M. Polticas Pblicas de/para/com Juventudes. Braslia: Unesco. 2004;CASTRO, M. G. & ABRAMOVAY, M. Por Um Paradigma Do Fazer Polticas Polticas De/Para/Com Juventudes. 2 verso. 2003;

MIRA, C. S. & FACHINI, E. Mapeamento das Polticas Pblicas para a Juventude da cidade de Joinville. TCC Trabalho de Concluso de Curso. Joinville. Faculdade de Psicologia de Joinville, 2006;PERUZZO, Ciclia. M. K. Mdia Comunitria, Liberdade de Comunicao e Desenvolvimento. In: Peruzzo, Cicilia Maria Krohling e Ferreira de Almeida, Fernando. (org). Comunicao para a Cidadania. So Paulo, Intercom, 2002;SANTOS, Boaventura de S. (org). Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002. (Reinventar a emancipao social: para novos manifestos; 1);SCHMIDT, J. P. Equilbrio de baixa intensidade: capital social e socializao poltica dos jovens brasileiros na virada do Sculo. In: Reinventando a Sociedade na Amrica Latina: cultura poltica, gnero, excluso e capital social. BAQUERO, M. (org). Porto Alegre/ Braslia: Ed. Universidade/UFRGS/ Conselho Nacional dos Direitos da mulher (CNDM), 2001;VIVARTA, Veect. (coordenao). Guilherme Canela (pesquisa). Ouvindo Conselhos: democracia participativa e direitos da infncia na pauta das redaes brasileiras. So Paulo: Cortez, 2005. (Srie mdia e mobilizao social; 8). In: A insero dos conselhos no contexto democrtico. RAILSSA ALENCAR. So Paulo: Cortez, 2005, p. 31 38.Nome da Revista Vol. 1, N. 1, Ano 2011 p. 1-31