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105 DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA PARTE II POVO DE DEUS O PODER ECLESIÁSTICO ORDEM SAGRADA E PODER DE REGIME A Igreja como instituição e o princípio hierárquico Além de acolher em seu ordenamento jurídico os direitos e deveres de seus membros, toda sociedade conta com o poder necessário para tutelar esses direitos e exigir o cumprimento dos deveres. Poder que deve ser exercido segundo o Direito e a serviço da sociedade. Chama-se "autoridade" a qualidade em virtude da qual pessoas ou instituições fazem leis e dão ordens a homens, e esperam obediência da parte deles (CCE 1897). Toda comunidade humana tem necessidade de uma autoridade que a dirija. Tal autoridade encontra seu fundamento na natureza humana. É necessária à unidade da cidade. Seu papel consiste em assegurar enquanto possível o bem comum da sociedade (CCE 1898). A autoridade exigida pela ordem moral emana de Deus (cf. Rm 13,1-2) (CCE 1899). Se, por um lado, a autoridade remete a uma ordem fixada por Deus, por outro, são entregues à livre vontade dos cidadãos a escolha do regime e a designação dos governantes (CCE 1901). A diversidade dos regimes políticos é moralmente admissível, contanto que concorram para o bem legítimo da comunidade que os adota. Os regimes cuja natureza é contrária à lei natural, à ordem pública e aos direitos fundamentais das pessoas não podem realizar o bem comum das nações às quais são impostos. A autoridade não adquire de si mesma sua legitimidade moral. Não deve comportar-se de maneira despótica, mas agir para o bem comum, como uma "força moral fundada na liberdade e no senso de responsabilidade". A legislação humana não goza do caráter de lei senão na medida em que se conforma à justa razão; de onde se vê que ela recebe seu vigor da lei eterna. Na medida em que ela se afastasse da razão seria necessário declará-la injusta, pois não realizaria a noção de lei; seria antes uma forma de violência (CCE 1902).

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Page 1: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

PARTE II – POVO DE DEUS

O PODER ECLESIÁSTICO

ORDEM SAGRADA E PODER DE REGIME

A Igreja como instituição e o princípio hierárquico

Além de acolher em seu ordenamento jurídico os direitos e deveres de seus

membros, toda sociedade conta com o poder necessário para tutelar esses direitos e

exigir o cumprimento dos deveres. Poder que deve ser exercido segundo o Direito e a

serviço da sociedade.

Chama-se "autoridade" a qualidade em virtude da qual pessoas

ou instituições fazem leis e dão ordens a homens, e esperam obediência

da parte deles (CCE 1897).

Toda comunidade humana tem necessidade de uma autoridade

que a dirija. Tal autoridade encontra seu fundamento na natureza

humana. É necessária à unidade da cidade. Seu papel consiste em

assegurar enquanto possível o bem comum da sociedade (CCE 1898).

A autoridade exigida pela ordem moral emana de Deus (cf. Rm

13,1-2) (CCE 1899).

Se, por um lado, a autoridade remete a uma ordem fixada por

Deus, por outro, são entregues à livre vontade dos cidadãos a escolha do

regime e a designação dos governantes (CCE 1901).

A diversidade dos regimes políticos é moralmente admissível,

contanto que concorram para o bem legítimo da comunidade que os

adota. Os regimes cuja natureza é contrária à lei natural, à ordem

pública e aos direitos fundamentais das pessoas não podem realizar o

bem comum das nações às quais são impostos. A autoridade não

adquire de si mesma sua legitimidade moral. Não deve comportar-se de

maneira despótica, mas agir para o bem comum, como uma "força

moral fundada na liberdade e no senso de responsabilidade". A

legislação humana não goza do caráter de lei senão na medida em que

se conforma à justa razão; de onde se vê que ela recebe seu vigor da lei

eterna. Na medida em que ela se afastasse da razão seria necessário

declará-la injusta, pois não realizaria a noção de lei; seria antes uma

forma de violência (CCE 1902).

Page 2: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A primeira parte desse texto se refere também ao povo de Deus, que peregrina

neste mundo. Já a segunda parte, não, porque a Igreja possui certas peculiaridades com

relação à sociedade humana.

A Igreja é uma entidade institucional, cuja constituição e governo não dependem

da livre iniciativa dos seus membros, mas do disposto por Jesus Cristo.

Jesus Cristo instituiu a Igreja como comunidade sacerdotal estruturada

organicamente (cf. LG 11), dotada de órgãos hierárquicos, governada pelo sucessor de

Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele (cf. LG 8).

Dizer que a Igreja é uma instituição significa:

Que ela foi instituída, o que remete à vontade de Jesus Cristo como critério

determinante do seu modo de ser e de agir (missão);

Que foi estabelecida para manter sua identidade ao longo do tempo, com

independência de seus membros que a integram em cada momento da

história.

Isso supõe a existência de uma estrutura permanente, que deriva do estabelecido

pelo Fundador e implica a existência de vínculos, funções e fins institucionais, que não

mudam segundo as pessoas que os realizam.

Para transmitir as funções hierárquicas, existe a instituto divino do sacramento

da ordem, graças ao qual a missão confiada por Jesus Cristo aos apóstolos segue sendo

exercida até o fim dos tempos (cf. CCE 1536).

O princípio hierárquico tem todos esses pressupostos teológicos.

As funções hierárquicas na história

A peculiaridade do poder eclesiástico não consiste apenas no princípio

hierárquico, mas também se manifesta no caráter sagrado do próprio poder. Além de ter

origem divina e natureza sacramental, concede a capacidade de realizar funções

sagradas, principalmente os sacramentos.

Função de ensinar (cf. c. 747 §1):

Função de santificar (cf. c. 834 §1):

Função de reger: tem diversas manifestações, desde a exortação e o exemplo até

o mandato imperativo, expresso em virtude do poder de regime (cf. c. 129).

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Na Igreja primitiva, nem se quer se colocava o problema da distinção entre

funções hierárquicas relativas aos meios de santificação e as de governo. Com o passar

do tempo, se começa a fazer a distinção entre poder de ordem e poder de jurisdição.

Torna-se usual entre teólogos e canonistas, sendo recolhida no CIC 1917 (cc. 108-109).

Porém, a excessiva diferenciação, chegando ao extremo de separá-los por completo, deu

lugar a abusos e a posições incompatíveis com a fé da Igreja. O iniciador dos principais

erros nessa matéria foi Marsílio de Pádua (c.1280-c.1343).

O poder sagrado

O Concílio Vaticano II, sem rejeitar a distinção entre ordem e jurisdição,

sublinha o caráter unitário do poder na Igreja.

O conceito teológico: De acordo com o ensinamento conciliar (cf. CCE 875 e

1538), o poder sagrado, que os Bispos e presbíteros recebem de Jesus Cristo mediante o

sacramento da ordem, consiste na faculdade de agir in persona Christi Capitis. Abarca

os âmbitos dos três múnus de Cristo.

O conceito jurídico: Faculdade de dar mandatos vinculantes para outros com

determinados efeitos jurídicos.

O poder de regime (poder de jurisdição)

Regime do latim regere (reger). Poder de governar o povo de Deus como

sociedade e dirigi-lo a seus fins.

O poder de regime não deve ser confundido com a função de reger (munus

regendi), que é um conceito mais amplo. A função régia, da qual todos os fiéis cristãos

participam pelo batismo, inclui todas as atividades que contribuem para ordenar a vida

do povo de Deus até a consecução do fim da Igreja (exortações, conselhos, exemplo,

testemunho...). O poder de regime, em sentido estrito, consiste apenas nas disposições

imperativas e juridicamente vinculantes.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Função pastoral

(munus pascendi)

Poder sagrado

(sacra potestas)

Função de ensinar Poder de magistério Tem sentido análogo.

Função de santificar Poder de ordem Tem sentido análogo.

Função de reger

(munus regendi)

Poder de regime

(potestas regiminis)

O poder de regime ou poder de jurisdição, em sentido estrito, se refere à emissão

de disposições, decisões ou mandatos que tem eficácia, reconhecida pelo ordenamento

canônico, de vincular juridicamente, externa e internamente, a conduta dos fiéis

cristãos. Trata-se de uma capacidade de decisão, necessária para estabelecer o justo na

Igreja (cf. VIANA, 2010, p.43). Segundo o princípio da distinção dos poderes, o poder

de regime se expressa como poder legislativo, executivo e judicial (cf. c. 135 §1).

O poder de regime é um aspecto da função de governo, que consiste na

capacidade jurídica pública, de instituição divina e regulação eclesiástica, de dirigir a

vida social da Igreja para o fim sobrenatural de seus membros, mediante a emissão de

mandatos e decisões legislativas, executivas e judiciais (cf. VIANA, 2010, p.44).

Observação:

Poder de ordem ou poder de santificação: capacidade, que pode ser chamada de

poder apenas em sentido amplo. Costuma ser denominado poder de ordem, porque se

transmite pelo sacramento da ordem e se sustenta na especial configuração do fiel

cristão ordenado com Jesus Cristo.

Poder de magistério: pode ser chamado de poder apenas em sentido amplo. É

exercido quando acontece:

O anúncio oficial da palavra de Deus;

A emissão de juízo de conformidade evangélica sobre atividades, instituições

e formas de espiritualidade;

A decisão de controvérsias.

Page 5: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A transmissão do poder de regime

Para ser titular do poder de regime, se requer a missão canônica.

A missão canônica é o ato jurídico da autoridade eclesiástica pelo qual se

confere um ofício ou se transmitem funções e encargos concretos com independência do

ofício. Exigência confirmada pelo Concílio Vaticano II.

Na sagração é conferida a participação ontológica nos ofícios

sagrados, como indubitavelmente consta da Tradição, mesmo litúrgica.

Intencionalmente se emprega a palavra munerum e não potestatum,

porque esta última palavra poderia entender-se como poder apto para o

exercício. Ora, para que tal poder exista, deve sobrevir a determinação

canônica ou jurídica, por parte da autoridade hierárquica. Esta

determinação do poder pode consistir na concessão de um ofício

particular ou na atribuição de súditos, e é dada segundo as normas

aprovadas pela autoridade suprema. Essa norma ulterior é exigida pela

própria natureza das coisas, visto tratar-se de poderes que devem ser

exercidos por diversas pessoas que, segundo a vontade de Cristo,

cooperam hierarquicamente. E evidente que esta «comunhão» se foi

exercendo na vida da Igreja, segundo as circunstâncias dos tempos,

mesmo antes de, por assim dizer, ser codificada no direito (NEP 2).

Como conjugar isso com o caráter essencialmente unitário e radicalmente

sacramental do poder na Igreja? Em outras palavras: o que a missão canônica acrescenta

ao que é recebido no sacramento da ordem?

Para responder a questão, existem diversas teorias.

Seja como for, duas coisas devem ser afirmadas simultaneamente:

a) O caráter unitário do poder sagrado;

b) A necessidade da missão canônica para o exercício do poder de governo nas

diversas circunscrições eclesiásticas.

Assim ensina a Tradição da Igreja. Tanto o CIC 1983 quanto o CCEO utilizam o

conceito de poder de regime (ou de jurisdição).

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os sujeitos do poder de regime

De acordo com as prescrições do direito, são capazes do poder

de regime que, por instituição divina, existe na Igreja e se denomina

também poder de jurisdição, aqueles que foram promovidos à ordem

sacra (cânon 129 §1).

No exercício desse poder, os fiéis leigos podem cooperar, de

acordo com o direito (§2).

É um texto intencionalmente impreciso, porque o supremo Legislador não quis

resolver um tema controvertido.

O c. 129 apresenta as seguintes premissas:

1. A relação entre poder de regime e sacramento da ordem;

2. Para exercer poder de regime não basta a ordenação, mas é necessária a

missão canônica;

3. A aptidão (habilitas) dos fiéis ordenados para o exercício do poder de regime

não exclui a possibilidade de certa cooperação dos fiéis cristãos leigos.

O § 2 do c. 129 está em sintonia com LG 33, que afirma que os fiéis cristãos

leigos têm “a capacidade de ser chamados pela hierarquia a exercer certos cargos

eclesiásticos, com finalidade espiritual”.

Diferença entre participação e cooperação:

Participar:

Cooperar:

Qual a diferença entre sujeito apto e a possibilidade de cooperar no exercício do

poder de regime?

A capacidade de atuar como representante de Jesus Cristo, cabeça da Igreja, não

é requerida para todos os atos de governo, segundo atestam os dados históricos e o

Direito vigente. A história do Direito canônico demonstra que fiéis cristãos leigos tem

tido parte no exercício do poder de regime, normalmente mediante a delegação.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

FORMAS DE ATRIBUIÇÃO E EXERCICIO DO PODER DE REGIME

As formas de atribuição do poder de regime

A importância da missão canônica (e não apenas do sacramento da ordem) para

a titularidade e exercício do poder de regime aparece com claridade no CIC 1983. O

título “O poder de regime” (cc.129-144) dedica quase todas as suas normas a duas

expressões típicas da missão canônica: o ofício e a delegação.

O poder de regime ordinário é aquele que pelo próprio direito

está anexo a algum ofício; poder delegado, o que se concede à própria

pessoa, mas não mediante um ofício (cânon 131 §1).

§ 2. O poder de regime ordinário pode ser próprio ou vicário.

§ 3. Aquele que se diz delegado, cabe o ônus de provar a

delegação.

1. Poder ordinário: aquele que está vinculado pelo próprio Direito a um ofício

eclesiástico. Isso significa duas coisas:

(a) Basta receber a titularidade de um ofício para que, ipso iure, se atribua

ao sujeito o correspondente poder;

(b) O âmbito e a extensão desse poder são determinados pelo próprio Direito

quando estabelece o ofício, e não pelo ato jurídico pelo qual o titular é

nomeado.

Em consonância com a sua forma de atribuição, o poder ordinário se

extingue com a perda do ofício.

Pode ser:

1.1 Poder ordinário próprio: exercido em nome próprio. Característico dos

ofícios capitais, ou seja, aqueles que são cabeça de estruturas

jurisdicionais autônomas, em virtude do Direito divino ou eclesiástico.

1.2 Poder ordinário vicário: exercido em nome de outro. Característico dos

ofícios auxiliares, que colaboram e dependem dos ofícios capitais.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Poder ordinário próprio:

Em virtude do Direito divino: Romano Pontífice e Bispos diocesanos.

Em virtude do Direito eclesiástico: prelados e abades territoriais (c. 370),

prelados de prelazias pessoais (c.295), ordinários militares, superiores (c.596

§§1-2).

Poder ordinário vicário:

Igreja universal (vigários pontifícios): vigários, prefeitos e administradores

apostólicos, dicastérios da Cúria romana, juízes dos Tribunais pontifícios;

Igreja particular (vigários do Bispo diocesano): vigários gerais e episcopais,

vigário judicial.

Sobre o ofício de pároco (cf. VIANA, 2010, p.60): A partir da distinção entre

função de reger (munus regendi) e poder de regime (potestas regiminis), se pode dizer

que ao pároco corresponde uma função de governo geral da paróquia e certos aspectos

limitados do poder de regime executivo.

2. Poder delegado: aquele que é concedido à pessoa mesma, não por meio de

um ofício. A delegação é um ato jurídico em virtude do qual o titular de um

oficio eclesiástico com poder de regime ordinário (delegante) transfere a

uma pessoa concreta (delegado) a capacidade de exercer determinadas

funções eclesiásticas de governo com eficácia jurídica.

A delegação poder ser:

a) Singular ou especial: quando se confere para um ato concreto;

b) Universal ou geral: quando permite atuar em um número indeterminado

de casos da mesma espécie.

O delegado pode às vezes subdelegar o poder recebido, segundo as

prescrições do c. 137 §§2-4.

A delegação comporta uma comunicação do exercício do poder de regime.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A delimitação jurídica do exercício do poder de regime

Principais aspectos:

Âmbito de competência;

Distinção de funções;

Condições jurídicas para o exercício do poder de regime;

Foro interno e foro externo.

Âmbito de competência: A competência é a faculdade do sujeito para exercer o

poder em determinado âmbito. Pode ser determinada de diversos modos. Os principais

são:

a) Competência territorial: o poder é exercido em determinado território (p. ex.

a competência de um Bispo diocesano);

b) Competência pessoal: sobre determinadas pessoas (p. ex. os fiéis cristãos de

uma Igreja ritual);

c) Competência material: em determinadas matérias (p. ex. os dicastérios da

Cúria romana).

Distinção de funções: Postulada pelo 7º princípio diretivo para a reforma do CIC

como recurso técnico para melhor garantir a tutela dos direitos e para conseguir um

exercício mais ordenado e seguro do poder.

O poder de regime se distingue em legislativo, executivo e

judiciário (c. 135 §1).

O poder legislativo na Igreja é o poder de regime que se exerce ao estabelecer as

leis eclesiásticas.

O poder executivo na Igreja é o poder de regime que se exerce na atividade

ordinária de governo e de administração com a qual se busca (de modo imediato,

concreto e prático) os fins próprios da Igreja. Seus atos jurídicos mais característicos são

os atos administrativos singulares.

O poder judiciário na Igreja é o poder de regime que se exerce na atividade

judiciária, mediante a qual se resolvem as controvérsias surgidas na comunidade

eclesial, que são transferidas para os Tribunais de justiça. Seus atos jurídicos peculiares

são os próprios do processo, especialmente as sentenças e os decretos judiciais.

Page 10: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Condições jurídicas do exercício do poder legislativo, executivo e judiciário:

O poder legislativo deve ser exercido no modo prescrito pelo

direito; o poder que tem na Igreja um legislador inferior à autoridade

suprema não pode ser delegado, salvo explícita determinação contrária

do direito; por um legislador inferior não pode ser dada lei contrária ao

direito superior (c. 135 §2).

O poder judiciário, que têm os juízes e os colégios judiciais,

deve ser exercido no modo prescrito pelo direito; não pode ser

delegado, a não ser para realizar os atos preparatórios de algum decreto

ou sentença (c. 135 §3).

No tocante ao exercício do poder executivo, observem-se as

prescrições dos cânones seguintes (c. 135 §4).

Foro interno e foro externo:

O poder de regime se exerce por si no foro externo; às vezes,

contudo, só no foro interno, de tal modo, porém, que os efeitos que o

seu exercício possa ter no foro externo não sejam reconhecidos neste

foro, a não ser enquanto isto seja estabelecido pelo direito em casos

determinados (c. 130).

Foro externo é o âmbito dos atos que, por natureza, tem transcendência pública.

Foro interno é o âmbito dos atos que passam ocultos.

Poder de foro externo: quando o poder de regime exibe seus efeitos

publicamente com atos jurídicos que podem ser provados. Por exemplo: quando a

autoridade confere um ofício, declara uma pena ou proíbe algo publicamente.

“O poder de regime se exerce por si no foro externo”, porque esse

é o seu âmbito natural, no qual a autoridade eclesiástica organiza,

promove e tutela a ordem da comunidade eclesial.

Poder de foro interno: quando o poder de regime se exerce de forma reservada,

sem a normal publicidade. Por exemplo: sacramento da penitência.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A noção canônica de Ordinário e de Ordinário do lugar

Com o nome de Ordinário se entendem, no direito, além do

Romano Pontífice, os Bispos diocesanos e os outros que, mesmo só

interinamente, são prepostos a alguma Igreja particular ou a uma

comunidade a ela equiparada, de acordo como cânon 368; os que nelas

têm poder executivo ordinário geral, isto os Vigários gerais e

episcopais; igualmente, para os seus confrades, os Superiores maiores

dos institutos religiosos clericais de direto pontifício e das sociedades

clericais de vida apostólica de direito pontifício, que têm pelo menos

poder executivo ordinário (c. 134 §1).

Com o nome de Ordinário local se entendem todos os

mencionados no § 1, exceto os Superiores dos institutos religiosos e das

sociedades de vida apostólica (§2).

O que se atribui nominalmente ao Bispo diocesano, no âmbito

do poder executivo, entende-se competir somente ao Bispo diocesano e

aos outros a ele equiparados no cânon 381, § 2, excluídos o Vigário

geral e o episcopal, a não ser por mandato especial (§3).

As Igrejas particulares, nas quais e das quais se constitui a una e

única Igreja católica, são primeiramente as dioceses, às quais, se

equiparam, não constando o contrário, a prelazia territorial, a abadia

territorial, o vicariato apostólico, a prefeitura apostólica e a

administração apostólica estavelmente erigida (c. 368).

A prelazia pessoal se rege pelos estatutos dados pela Sé

Apostólica; tem à sua frente um Prelado ou Ordinário próprio; que tem

o direito de erigir seminário nacional ou internacional, incardinar os

alunos e promovê-los às ordens, a título de serviço à prelazia (c. 295

§1).

Ordinário:

Romano Pontífice

Bispos diocesanos

Prelado (prelazia territorial e prelazia pessoal)

Abade territorial

Vigário apostólico

Prefeito apostólico

Administrador apostólico

Vigários gerais

Vigários episcopais

Superiores maiores (IR e SVA clericais de direito pontifício)

Ordinário local: todos os mencionados acima, exceto os Superiores.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As faculdades habituais

As faculdades habituais regem-se pelas prescrições sobre o

poder delegado (c. 132 §1).

Entretanto, a não ser que na sua concessão se determine

expressamente o contrário, ou tenha sido escolhida a competência da

pessoa, a faculdade habitual concedida ao Ordinário não cessa ao cessar

o direito do Ordinário a quem foi concedida, mesmo que ele tenha

começado a executá-la, mas passa a qualquer Ordinário que lhe sucede

no governo (§2).

As faculdades habituais são um tipo de poder jurídico outorgado com certa

estabilidade para exercer algumas atividades conexas com o próprio ofício, que, a não

ser por essa concessão do superior, não poderiam ser exercidas ordinariamente.

Algumas faculdades habituais estão ligadas a atos de caráter sagrado

(sacramental), como a pregação e a administração dos sacramentos (cf. p. ex. c. 966-

976). No caso dos atos vinculados ao exercício da ordem, um sujeito ontologicamente

capaz recebe também a faculdade de realizar esses atos, ou validamente, ou licitamente.

A suplência do poder

No erro comum de fato ou de direito, bem como na dúvida

positiva e provável, seja de direito, seja de fato, a Igreja supre, para o

foro tanto externo como interno, o poder executivo de regime (c. 144

§1).

A mesma norma se aplica às faculdades de que se trata nos

cânones 882, 883 (confirmação), 966 (penitência) e 1111, § 1

(matrimônio) (§2).

Erro comum: erro da comunidade, sem malícia, nem culpa, fundado em fato

objetivo e público.

Dúvida positiva e provável: dúvida na qual se alega razões positivas

aparentemente suficientes. Refere-se principalmente a situações nas quais o sujeito ativo

do ato administrativo carece de juízo certo sobre a existência do poder. A dúvida deve

ser positiva, ou seja, fundada em motivos realmente existentes. Não basta a dúvida

meramente negativa, equivalente, na prática, à ignorância. A dúvida deve ser provável,

isto é, o fundamento da dúvida positiva deve ter razão suficiente. É de fato, quando se

refere à realização das condições exigidas pelo Direito, no caso concreto. É de direito,

quando se refere à existência, vigência ou modo de aplicação da norma.

Page 13: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

117

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Igreja supre: a suplência por parte da Igreja exige que o sujeito tenha capacidade

ontológica para realizar o ato. O defeito suprido é apenas algum requisito legal previsto

pelo Direito eclesiástico.

Ato de poder executivo.

Faculdades.

A finalidade dessa disposição é dupla:

a) Por um lado, salvar o exercício normal do poder executivo, quando faltam os

elementos necessários que garantem uma certeza absoluta sobre a validade

do ato jurídico;

Por exemplo: impossibilidade prática de consultar a autoridade em

casos de dúvida positiva e provável.

b) Garantir o bem espiritual e a tranqüilidade de consciência dos fiéis cristãos

destinatários do poder executivo.

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DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

PARTE II – POVO DE DEUS

A ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA DA IGREJA

A ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA

Missão da Igreja e atividade institucional

A vida da Igreja, enquanto instituição, orientada total e exclusivamente para a

missão de evangelizar, apresenta uma série de exigências próprias, as quais

correspondem certas funções públicas.

Funções públicas são aquelas atividades que se realizam oficialmente, sob a

autoridade e responsabilidade da hierarquia, para responder a essas exigências

específicas da vida eclesial e da missão evangelizadora.

Organização eclesiástica é a estrutura oficial que assume as funções públicas da

Igreja.

O desempenho dessas funções não corresponde por igual a todo povo de Deus.

Há diversidade funcional entre os ministros ordenados e os demais fiéis cristãos.

A atividade da organização eclesiástica tem natureza ministerial. É serviço

orientado a tornar possível a vida cristã dos fiéis, proporcionando-lhes abundantemente

os meios de salvação e promovendo na vida eclesial as condições adequadas para que

cada fiel cristão, na liberdade, possa alcançar a santidade e evangelizar.

O reto exercício das funções públicas e o bom governo são um dever dos

pastores e um direito dos fiéis cristãos.

A organização da atividade pública da Igreja para cumprir a missão de

evangelizar não é resultado de um acordo social entre os fiéis cristãos, mas está

determinada essencialmente pela ação de Jesus Cristo. Nosso Senhor entregou a Pedro e

ao Colégio apostólico não apenas a responsabilidade, mas também os meios e os

poderes necessários e adequados para desempenhar essas funções essenciais.

Evidentemente, o exercício desses poderes e responsabilidades varia em maior ou

menor grau historicamente.

A organização da Igreja segue um padrão de Direito divino, mas também

obedece a outros fatores de Direito humano.

Page 15: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

119

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A distribuição e organização das funções públicas eclesiais se realizam:

a) Por via institucional, mediante ofícios e institutos que têm assinaladas

determinadas competências e faculdades;

b) Por via pessoal, ou seja, por atribuição direta (delegação).

Page 16: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

120

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os ofícios eclesiásticos

Ofício eclesiástico é qualquer encargo constituído estavelmente

por disposição divina ou eclesiástica, a ser exercido para uma finalidade

espiritual (c. 145 §1).

As obrigações e direitos próprios de cada ofício eclesiástico são

definidos pelo próprio direito pelo qual o ofício é constituído, ou pelo

decreto da autoridade competente com o qual é simultaneamente

constituído e conferido (§2).

Encargo constituído estavelmente: o cânon sublinha a estabilidade objetiva do

ofício, que explica a sua qualificação como canal institucional da organização das

funções públicas.

Mediante esse instrumento técnico, se unificam de modo permanente um

conjunto de responsabilidades, funções, poderes, faculdades e atribuições, que se

institucionalizam.

Os ofícios eclesiásticos podem ser classificados segundo diversos critérios.

1. Ofícios de instituição divina: Romano Pontífice, Colégio episcopal, Bispo

diocesano.

2. Ofícios de instituição eclesiástica:

3. Ofícios capitais: presidem em nome próprio as comunidades de fiéis cristãos.

4. Ofícios auxiliares: colaboram no exercício de algumas funções pertencentes

aos anteriores (vigário geral, vigário episcopal, vigário judicial).

5. Ofícios com cura de almas: exigem o exercício do poder de ordem.

a. Cura de almas parcial: clérigos;

b. Cura de almas plena: apenas sacerdotes (cf. c. 150).

6. Ofícios sem cura de almas:

7. Ofícios com poder ordinário de jurisdição, que pode ser próprio ou vicário

(cf. c.131): Bispo diocesano, vigário geral, vigário judicial.

8. Ofícios sem poder de jurisdição (cf. c.129): professor, notário.

Page 17: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

121

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Provisão de ofícios:

Não se pode obter validamente um ofício eclesiástico sem a

provisão canônica (c. 146).

A provisão de um ofício eclesiástico se faz: por livre colação da

competente autoridade eclesiástica; por instituição feita por ela, se

houve apresentação; por confirmação ou por admissão feita por ela, se

houve eleição ou postulação; finalmente, por simples eleição e aceitação

do eleito, se a eleição não precisa de confirmação (c. 147).

Por provisão canônica, se entende o conjunto de atos que se realizam para

designar validamente o titular de um ofício vacante (cf. c. 153 §1).

A provisão de ofícios pode adotar as seguintes modalidades:

1. Livre colação: a autoridade tem liberdade para selecionar e nomear

pessoalmente o candidato (cf. c.157), sempre que a pessoa escolhida possua

as condições e requisitos estabelecidos pelo Direito para o desempenho do

ofício (cf. c. 149). É o sistema ordinário para a provisão de ofícios.

2. Nomeação com prévia apresentação: quando uma pessoa ou um grupo de

pessoas tem direito de apresentação (cf. cc. 158-163). A autoridade

competente faz a nomeação do candidato como titular do ofício. É um modo

de provisão que tem raízes históricas no direito de padroado e no sistema de

benefícios.

3. Eleição: trata-se da designação de um titular de um ofício por um colégio ou

por um grupo de pessoas através de votação, que deve seguir as normas dos

estatutos ou regimentos do CIC 1983 (cf. cc. 164-179). A eleição pode

necessitar ou não ser confirmada pela autoridade eclesiástica.

4. Postulação: quando o candidato que os eleitores consideram mais adequado

tem um impedimento eclesiástico, que pode ser dispensado. Os eleitores

podem pedir (postular) com seus votos, que a autoridade competente

dispense do impedimento (cf. cc. 180-181). Se a autoridade aceita, concede a

dispensa do impedimento e, se a eleição o requer, também a confirmação (cf.

cc. 182-183).

Page 18: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

122

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Perda do ofício:

Perde-se o ofício eclesiástico, transcorrido o tempo prefixado,

completada a idade determinada pelo direito, por renúncia, por

transferência, por destituição e por privação (c. 184 §1).

Cessado de qualquer modo, o direito da autoridade que o tiver

conferido, não se perde o ofício eclesiástico, salvo determinação

contrária do direito (§2).

A perda do ofício que tiver obtido efeito deve ser notificada,

quanto antes, a todos aqueles a quem cabe qualquer direito à provisão

desse ofício (§3).

Os modos e procedimentos pelos quais se pode deixar de ser titular de um ofício:

1. Transcurso do tempo estabelecido.

2. Cumprimento da idade determinada.

3. Renúncia: o titular do ofício por justa causa pode apresentar a sua renúncia

diante da autoridade (cf. cc. 187-189).

4. Transferência: mudança do titular de um ofício para outro (cf. cc.190-191).

O CIC 1983 regula o procedimento para a transferência de párocos (cf. cc.

1748-1752).

5. Remoção: perda do ofício que se produz por decreto da autoridade (c.193) ou

por disposição da lei (c.194), em certos casos (cf. c.192). O CIC 1983 regula

o procedimento para a remoção de párocos (cf. cc.1740-1747).

6. Privação: tipo especial de remoção, que tem natureza de sanção penal (cf.

c.196), imposta como resultado de um processo judicial ou de um

procedimento administrativo.

Page 19: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

123

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Organismos colegiais

Conceito: organismo cuja característica jurídica mais destacada é a atuação

colegial, ou seja, a adoção de decisões que expressam a vontade única desse grupo de

pessoas, enquanto instituição, por maioria de votos dos seus membros.

Manifestações de atuação colegial na Igreja:

1. A colegialidade episcopal: princípio eclesiológico de Direito divino, que

expressa o vínculo que une todos os Bispos entre si e com sua cabeça, o

Romano Pontífice (cf. c.330; LG 19, 22).

2. A cooperação sacramental dos presbíteros com o Bispo: os presbíteros,

unidos com o Bispo por comunhão hierárquica e com os demais presbíteros,

são, por natureza, cooperadores da ordem episcopal e, na Igreja particular,

formam com o Bispo um só presbitério (cf. LG 28). Esse é o fundamento de

alguns colégios da organização diocesana, tais como o Colégio de

consultores (c. 502) e o Conselho de presbíteros (cc.495-501).

3. A corresponsabilidade de todos os fiéis cristãos na missão da Igreja: pelo

batismo, os fiéis cristãos têm comum dignidade e participam ativamente da

missão da Igreja, cada um segundo sua condição (cf. c. 204 §1). Um dos

canais jurídicos dessa comum responsabilidade é a participação em colégios,

que cooperam em funções próprias da organização eclesiástica, como, por

exemplo, o Sínodo diocesano (cc. 460-468) e os Conselhos pastorais (c. 511-

514).

Page 20: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

124

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Tipos de colégios na organização eclesiástica:

Segundo o âmbito, podem ser:

Paroquiais: Conselho econômico;

Diocesanos: Sínodo diocesano;

Interdiocesanos: Conferências episcopais;

Da Igreja universal: Concílio ecumênico.

Segundo a eficácia jurídica de suas decisões:

Colégios consultivos: quando assessoram com sua opinião (cf. c. 127) a

autoridade que tem poder exclusivo de tomas as decisões.

Colégios deliberativos: quando tomam diretamente decisões juridicamente

vinculantes.

Segundo as funções públicas envolvidas:

Conselhos pastorais: Sínodo diocesano;

Conselhos técnicos: Conselho econômico;

Conselhos que envolvem o exercício de poder de regime:

a) Legislativos: Concílios;

b) Administrativos: Congregações da Cúria romana;

c) Judiciais: Tribunais colegiais de diversos graus.

Page 21: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

125

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Circunscrições eclesiásticas

Conceito: tradicionalmente, o conceito de circunscrição esteve ligado à

delimitação territorial e a uma visão eclesiológica incompleta. O Concílio Vaticano II

superou e aperfeiçoou essa visão, sublinhando o elemento pessoal e comunitário.

As circunscrições eclesiásticas são comunidades integradas por um ofício

capital, os presbíteros que cooperam em sua missão e os fiéis cristãos correspondentes,

segundo os diversos critérios jurídicos de delimitação.

Estrutura orgânica:

Ofícios e colégios são instituições que servem de meio para organizar diversas

funções públicas na Igreja. As circunscrições são instituições nas quais se concretiza a

organização da Igreja. A estrutura característica da circunscrição reflete a estrutura

constitucional da Igreja: Pastor (ofício capital), presbíteros e demais fiéis cristãos

reunidos pelos vínculos da comunhão dos fiéis e da comunhão hierárquica.

Tipos:

Segundo o grau de implantação da Igreja:

1. Circunscrições de regime ordinário: Diocese.

2. Circunscrições de missão: Prefeituras apostólicas, Vicariatos apostólicos.

Segundo os critérios de delimitação da comunidade:

1. Circunscrições territoriais: Diocese, Prelazia territorial.

2. Circunscrições pessoais: Ordinariato militar.

Discutível: Segundo a missão evangelizadora para a qual são criadas:

1. Cura pastoral ordinária (comum): Diocese.

2. Obras pastorais peculiares: não substituem a organização anterior, mas a

pressupõe e a complementam.

Page 22: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

126

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

ORGANIZAÇÃO DA IGREJA EM CIRCUNSCRIÇÕES ECLESIASTICAS

Igreja universal e Igrejas particulares

A Igreja universal se faz presente e atua nas Igrejas particulares, formadas à

imagem da Igreja universal, nas quais e a partir das quais existe a Igreja de Jesus Cristo

una e única (cf. LG 23).

A relação entre a Igreja universal e as Igrejas particulares é uma relação de

mútua interioridade, porque em cada Igreja particular se encontra e opera

verdadeiramente a Igreja de Cristo.

A categoria teológica da Igreja particular:

O conceito de Igreja particular é uma categoria teológica utilizada pelo CIC

1983, no seu intento de recolher os principais elementos da eclesiologia conciliar (cf. cc.

368-374).

O conceito genérico de circunscrição eclesiástica resulta útil e aplicável com

igual rigor jurídico a todas as instituições mediante as quais a Igreja se organiza na

dimensão particular. Com esse conceito, é possível estudar descritivamente as

características jurídicas de cada instituição, baseado em seus elementos comuns e nas

funções análogas e complementares que cumprem a organização pastoral.

A delimitação das circunscrições:

O Concílio Vaticano II abordou a possibilidade de flexibilizar o critério

territorial (cf. PO 10). A delimitação pode ser territorial ou pessoal.

Por via de regra, a porção do povo de Deus, que constitui uma

diocese ou outra Igreja particular, seja delimitada por determinado

território, de modo a compreender todos os fiéis que nesse território

habitam (c. 372 §1).

Entretanto, onde a juízo da suprema autoridade da Igreja,

ouvidas as Conferências dos Bispos interessados, a utilidade o

aconselhar, podem-se erigir no mesmo território Igrejas particulares,

distinta em razão do rito dos fiéis ou de outra razão semelhante (§2).

Page 23: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

127

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Comunhão, complementaridade e coordenação das circunscrições eclesiásticas:

Todas as circunscrições eclesiásticas particularizam em determinadas

circunstâncias de tempo e de lugar a missão da Igreja. No entanto, o sentido principal e

decisivo não está nessa particularidade, mas em ser expressão da presença operante da

Igreja, com diversos acentos e intensidades.

Por isso, as Igrejas particulares não devem ser entendidas como âmbitos

fechados, mas constitutivamente abertos à Igreja universal e às demais Igrejas

particulares. A Igreja é corpus ecclesiarum (cf. LG 23), com peculiar comunhão e

mútua interioridade.

A complementaridade se manifesta juridicamente em normas e sistemas de

coordenação.

Regime jurídico das circunscrições eclesiásticas:

As Igrejas particulares, nas quais e das quais se constitui a una e

única Igreja católica, são primeiramente as dioceses, às quais, se

equiparam, não constando o contrário, a prelazia territorial, a abadia

territorial, o vicariato apostólico, a prefeitura apostólica e a

administração apostólica estavelmente erigida (c. 368).

Deixando claro que as Igrejas particulares são principalmente as dioceses, o CIC

1983 não se pronuncia sobre a natureza teológica das outras figuras assimiladas

juridicamente à diocese.

A técnica da assimilação ou equiparação jurídica, sem eliminar as diferenças de

natureza entre as circunscrições eclesiásticas, permite que se aplique analogamente à

entidades assimiladas o regime jurídico previsto para a diocese, quando não é

estabelecida outra coisa.

Page 24: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

128

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Circunscrições territoriais de regime ordinário

1. A Diocese:

A diocese é uma porção do povo de Deus confiada ao pastoreio

do Bispo com a cooperação do presbitério, de modo tal que, unindo-se

ela a seu pastor e, pelo Evangelho e pela Eucaristia, reunida por ele no

Espírito Santo, constitua uma Igreja particular, na qual está

verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo una, santa,

católica e apostólica (c. 369).

A diocese é a principal figura jurídica da Igreja particular, ou seja, o modelo de

organização jurídica da Igreja para o pleno cuidado pastoral.

O cânon, ao reproduzir um texto conciliar (cf. CD 11), indica os elementos

fundamentais da comunidade diocesana.

2. A Prelazia territorial e a Abadia territorial:

A prelazia territorial ou a abadia territorial são uma determinada

porção do povo de Deus, territorialmente delimitada, cujo cuidado, por

circunstâncias especiais, e confiado a um Prelado ou Abade, que a

governa como seu próprio pastor, à semelhança do Bispo diocesano (c.

370).

O Prelado e o Abade territorial governam sua circunscrição com poder próprio,

não vicário, mas com jurisdição quase-episcopal, porque não corresponde à natureza

dessas circunscrições a plenitude do ofício capital próprio da diocese.

Page 25: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

129

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Circunscrições territoriais de missão

A suprema direção e coordenação da atividade missionária da Igreja competem

ao Romano Pontífice e ao Colégio episcopal (cf. c.782 §1; AG 38). Daí que as

circunscrições missionárias são governadas vicariamente em nome do Romano

Pontífice e com especial dependência da Santa Sé, mediante a Congregação para a

evangelização dos povos (cf. PB 85).

1. O Vicariato apostólico e a Prefeitura apostólica:

O vicariato apostólico e a prefeitura apostólica são uma

determinada porção do povo de Deus que, por circunstâncias especiais,

ainda não está constituída como diocese, e que é confiada a um Vigário

apostólico ou a um Prefeito apostólico, como a seu pastor, que a

governa em nome do Sumo Pontífice (c. 371 §1).

Ainda não está constituída em diocese: De certo modo, o Vicariato apostólico e

a Prefeitura apostólica são dioceses em formação, em lugares nos quais não é possível

erigir uma estrutura pastoral capaz de sustentar sua atividade com meios próprios.

2. A Diocese de missão e a missão sui iuris:

As dioceses de missão são dioceses de regime peculiar erigidas em territórios

que dependem da Congregação para a evangelização dos povos, não da Congregação

para os Bispos (cf. PB 89).

A missão sui iuris, ou seja, autônoma, é a estrutura missionária mais simples e

elementar, governada com poder vicário por um superior eclesiástico, pertencente a um

Instituto missionário. Geralmente, constitui o primeiro passo para a evangelização de

uma região.

Page 26: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

130

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Circunscrições de regime especial

1. A Administração apostólica estavelmente erigida:

A administração apostólica é uma determinada porção do povo

de Deus que, por razões especiais e particularmente graves, não é

erigida pelo Romano Pontífice como diocese e cujo cuidado pastoral é

confiado a um Administrador apostólico, que a governa em nome do

Sumo Pontífice (c. 371 §2).

A Administração apostólica está classificada como circunscrição de regime

especial, porque possui ampla elasticidade de constituição, que permite utilizá-la em

uma grande diversidade de circunstâncias especiais, particularmente graves.

Por exemplo:

A Administração apostólica pode ser pessoal. A Administração apostólica

pessoal se organiza através de legislação especial extracodicial.

Por exemplo: em 18/01/2002, foi erigida a Administração apostólica pessoal

para os fiéis procedentes do cisma do bispo Marcel Lefebvre e recebidos na plena

comunhão com a Igreja. Chama-se Administração apostólica São João Maria Vianney.

O Administrador apostólico tem jurisdição cumulativa com o Ordinário diocesano de

Campos (Brasil).

Observação: a Administração apostólica não é exclusivamente pessoal, mas

também territorial, porque compreende somente o âmbito da diocese de Campos.

Page 27: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

131

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Circunscrições pessoais

1. A Prelazia pessoal:

Para promover adequada distribuição dos presbíteros ou realizar

especiais atividades pastorais ou missionárias em favor de várias

regiões ou diversas classes sociais, podem ser erigidas pela Sé

Apostólica, ouvidas as Conferências dos Bispos interessadas, prelazias

pessoais que constem de presbíteros e diáconos do clero secular (c.

294).

A prelazia pessoal se rege pelos estatutos dados pela Sé

Apostólica; tem à sua frente um Prelado ou Ordinário próprio; que tem

o direito de erigir seminário nacional ou internacional, incardinar os

alunos e promovê-los às ordens, a título de serviço à prelazia (c. 295

§1).

O Prelado deve prover à formação espiritual e digna sustentação

dos que tiver promovido pelo referido título (§2).

Fazendo convênios com a prelazia, leigos podem dedicar-se às

atividades apostólicas da prelazia pessoal; o modo de tal cooperação

orgânica, bem como os respectivos deveres e direitos principais, sejam

determinados devidamente nos estatutos (c. 296).

Os estatutos definam igualmente as relações da prelazia pessoal

com os Ordinários locais, em cujas Igrejas particulares a prelazia, com

prévio consentimento do Bispo diocesano, exerce ou deseja exercer suas

atividades pastorais ou missionárias (c. 297).

A Prelazia pessoal é governada por um Prelado com jurisdição própria quase-

episcopal. Podem se incardinar na Prelazia presbíteros e diáconos do clero secular. Com

relação aos fiéis cristãos leigos, cabem diversas fórmulas organizativas, segundo a

variedade das missões pastorais possíveis.

Convênio ou acordo:

Conceito de cooperação orgânica: a cooperação orgânica implica a realização

conjunta da ação evangelizadora por parte do clero e dos fiéis cristãos leigos, segundo

suas respectivas posições constitucionais (dinamismo da estrutura ordem-povo).

Jurisdição compartilhada entre Prelado e Bispo diocesano:

Estão sob a jurisdição do Prelado, no relativo à missão peculiar;

Estão sob a jurisdição do Bispo da Igreja particular do seu domicílio, no

relativo ao cuidado pastoral comum.

Page 28: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

132

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

2. O Ordinariato militar:

Os Ordinariatos militares são circunscrições eclesiásticas peculiares,

juridicamente assimiladas às dioceses, criadas para promover o cuidado pastoral de

amplos grupos de pessoas, que se encontram em particulares condições de vida, em

razão de sua pertença às forças armadas ou por sua relação com elas.

Os Ordinariatos militares são regulados por legislação especial extracodicial e

pela práxis da Santa Sé.

O Ordinário militar, que tem normalmente a dignidade episcopal, governa a

circunscrição com poder ordinário próprio equiparado juridicamente ao Bispo

diocesano. É membro da Conferência episcopal da nação.

Jurisdição cumulativa do Ordinário militar com o poder do Bispo diocesano

sobre os mesmos fiéis cristãos.

3. O Ordinariato latino para féis cristãos de rito oriental:

Os Ordinariatos latinos são circunscrições eclesiásticas para atender

pastoralmente aos fiéis cristãos católicos dos diversos ritos orientais domiciliados em

lugares nos quais a hierarquia eclesiástica é de rito latino. São erigidos por Decreto da

Congregação para as Igrejas orientais.

Preside cada Ordinariato um Ordinário de rito latino, ao qual é confiada, além do

governo de sua diocese latina, uma missão pastoral de âmbito interdiocesano, pois se

estende a todos os fiéis cristãos residentes no país.

No Brasil, atualmente, esse Ordinário é o arcebispo de Belo Horizonte (MG).

4. O Ordinariato pessoal para anglicanos recebidos na Igreja católica:

Regulação por Bento XVI, Constituição apostólica Anglicanorum Coetibus de

04/11/2009.

Page 29: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

133

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS DIOCESES

O Bispo diocesano

Os Bispos que, por divina instituição, sucedem aos Apóstolos,

são constituídos, pelo Espírito que lhes foi conferido, pastores na Igreja,

a fim de serem também eles mestres da doutrina, sacerdotes do culto

sagrado e ministros do governo (c. 375 §1).

Pela própria consagração episcopal, os Bispos recebem,

juntamente com o múnus de santificar, também o múnus de ensinar e de

governar, os quais, porém, por sua natureza não podem ser exercidos, a

não ser em comunhão hierárquica com a cabeça e com os membros do

Colégio (§2).

Chamam-se diocesanos os Bispos a quem está entregue o

cuidado de uma diocese; os demais chamam-se titulares (c. 376).

Compete ao Bispo diocesano, na diocese que lhe foi confiada,

todo o poder ordinário, próprio e imediato, que se requer para o

exercício de seu múnus pastoral, com exceção das causas que forem

reservadas, pelo direito ou por decreto do Sumo Pontífice, à suprema ou

a outra autoridade eclesiástica (c. 381 §1).

No direito, equiparam-se ao Bispo diocesano os que presidem a

outras comunidades de fiéis mencionadas no cânon 368, a não ser que

outra coisa se depreenda pela sua natureza ou por prescrição do direito

(§2).

O ofício capital previsto pelo Direito para apascentar a porção do povo de Deus

que constitui a diocese é o Bispo diocesano.

Na Igreja latina, a nomeação dos Bispos compete ao Romano Pontífice, que a

realiza por livre colação ou por confirmação, quando algum colégio tem direito de

eleição (cf. c. 377 §1).

O c. 377 §§2-5 regula os diversos aspectos do procedimento para a nomeação

dos Bispos.

A partir da tomada de posse canônica (cf. cc. 380 e 382), o Bispo diocesano

exerce, como representante de Jesus Cristo, sua função pastoral sobre a porção do povo

de Deus que lhe foi confiada, sendo princípio e fundamento visível da unidade da sua

Igreja particular (cf. LG 23, 27).

Page 30: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

134

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os cc. 383-402 recolhem a doutrina conciliar acerca da solicitude pastoral dos

Bispos, em seus aspectos fundamentais (funções de ensinar, santificar e reger), e

regulam também alguns dos seus deveres.

Sobre a sede vacante, vide cc. 416-430.

Bispos coadjutores e auxiliares:

O Sínodo diocesano

O sínodo diocesano é uma assembléia de sacerdotes e de outros

fiéis da Igreja particular escolhidos, que auxiliam o Bispo diocesano

para o bem de toda a comunidade diocesana, de acordo com os cânones

seguintes (c. 460).

A natureza do Sínodo diocesano é a de um colégio consultivo (cf. c. 466), que

atua dentro do marco das competências do Bispo diocesano. Todas as questões

propostas são submetidas à livre discussão dos membros das sessões sinodais (cf. c.

465). No entanto, o único legislador do Sínodo é o Bispo diocesano (cf. c. 466).

Vide cc. 460-468.

Page 31: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

135

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A Cúria diocesana

A cúria diocesana consta dos organismos e pessoas que ajudam

o Bispo no governo de toda a diocese, principalmente na direção da

ação pastoral no cuidado da administração da diocese e no exercício do

poder judiciário (c. 469).

A nomeação dos que exercem ofícios na cúria diocesana

compete ao Bispo diocesano (c. 470).

A Cúria diocesana é um conjunto de organismos e de pessoas.

O CIC 1983 regula a Cúria diocesana nos cc. 469-494.

1. Os Vigários gerais e episcopais:

Em cada diocese deve ser constituído pelo Bispo diocesano o

Vigário geral que, com poder ordinário, de acordo com os cânones

seguintes, o ajude no governo de toda a diocese (c. 475 §1).

Tenha-se como regra geral que se deve constituir um só Vigário

geral a não ser que a extensão da diocese, o número de habitantes ou

outras razões pastorais aconselhem diversamente (§2).

Sempre que o bom governo da diocese o exigir, podem ser

constituídos pelo Bispo diocesano um ou mais Vigários episcopais que

tenham, em determinada parte da diocese, ou em determinada espécie

de questões, ou quanto aos fiéis de determinado rito ou de certa classe

de pessoas, de acordo com os cânones seguintes, o mesmo poder

ordinário que compete ao Vigário geral por direito universal (c. 476).

O Vigário geral e o Vigário episcopal devem referir ao Bispo

diocesano as principais atividades já realizadas ou por realizar; nunca

procedam contra sua vontade e sua mente (c. 480).

Page 32: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

136

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

2. O chanceler e outros notários:

Em toda a cúria constitua-se um chanceler, cujo ofício

principal, salvo determinação diversa do direito particular, é cuidar que

os atos da cúria sejam redigidos e despachados, bem como sejam

guardados no arquivo da cúria (c. 482 §1).

Se parecer necessário, pode-se dar ao chanceler um auxiliar

com o nome de vice-chanceler (§2).

O chanceler como também o vice-chanceler são, por isso

mesmo, notários e secretários da cúria (§3).

O chanceler é o notário e secretário da Cúria diocesana. Sua assinatura tem fé

pública, ou seja, faz com que o escrito constitua um documento público apto para provar

o que nele está contido de modo direto e principal (cf. cc.1540-1541).

Os atos jurídicos necessitam de sua assinatura junto com a do Ordinário

competente para a validade (cf. c. 474).

3. O Conselho de Assuntos Econômicos (CAE):

Em cada diocese seja constituído o conselho de assuntos

econômicos, que é presidido pelo próprio Bispo diocesano ou por um

seu delegado, e consta de ao menos três fiéis nomeados pelo Bispo,

realmente peritos em economia e direito civil e distintos pela

integridade (c. 492 §1).

Os membros do conselho econômico sejam nomeados por um

qüinqüênio, mas, passado esse tempo, podem ser assumidos para outros

qüinqüênios (§2).

São excluídos do conselho econômico os parentes do Bispo até

o quarto grau de consangüinidade ou de afinidade (§3).

Além do CAE, o Bispo diocesano deve nomear também um ecônomo diocesano,

perito em questões econômicas e de reconhecida probidade. No fim de cada ano, o

ecônomo deve prestar contas das receitas e despesas ao CAE (cf. c.494 §4).

Page 33: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

137

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os principais colégios diocesanos

1. Conselho de presbíteros:

Em cada diocese, seja constituído o conselho presbiteral, a

saber, um grupo de sacerdotes que, representando o presbitério, seja

como o senado do Bispo, cabendo- lhe, de acordo com o direito, ajudar

o Bispo no governo da diocese, a fim de se promover ao máximo o bem

pastoral da porção do povo de Deus que lhe foi confiada (c. 495 §1).

Nos vicariatos e prefeituras apostólicas, o Vigário e o Prefeito

constituam um conselho de ao menos três presbíteros missionários, cujo

parecer devem ouvir, mesmo por carta, nas questões mais importantes

(§2).

O conselho presbiteral tenha os próprios estatutos aprovados

pelo Bispo diocesano, respeitando-se as normas dadas pela Conferência

dos Bispos (c. 496).

Quanto a sua natureza jurídica, o Conselho de presbíteros é um colégio consultivo,

vinculado no exercício de suas funções à autoridade do Bispo diocesano, que deve ouvi-

lo em questões mais importantes (cf. p. ex. cc. 461 §1, 515 §2, 1215 §2).

O Bispo necessita obter seu consentimento (cf. c. 127), em casos expressamente

previstos pelo Direito:

O conselho presbiteral tem voto somente consultivo; o Bispo

diocesano ouça-o nas questões de maior importância, mas precisa do

seu consentimento só nos casos expressamente determinados pelo

direito (c. 500 §2).

Direito particular:

Composição: membros representativos do presbitério.

Page 34: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

138

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

2. Colégio de consultores:

Entre os membros do conselho presbiteral, são livremente

nomeados pelo Bispo diocesano alguns sacerdotes, não menos de seis

nem mais de doze, que constituam por um qüinqüênio o colégio dos

consultores, ao qual competem as funções determinadas pelo direito;

terminado o qüinqüênio, porém, ele continua a exercer suas funções

próprias, até que seja constituído novo colégio (c. 502 §1).

Ao Colégio dos consultores preside o Bispo diocesano; ficando,

porém a sé impedida ou vacante, preside aquele que substitui

interinamente o Bispo, ou então, se ainda não foi constituído, o

sacerdote mais antigo por ordenação no colégio dos consultores (§2).

A Conferência dos Bispos pode determinar que as funções do

colégio dos consultores sejam confiadas ao cabido da catedral (§3).

No vicariato e na prefeitura apostólica, as funções do colégio

dos consultores competem ao conselho da missão, mencionado no

cânon 495 § 2, a não ser que no direito se determine outra coisa (§4).

O Colégio de consultores foi estabelecido pelo CIC 1983 e dotado de muitas

competências que o CIC 1917 atribuía ao cabido.

Sua natureza é semelhante ao Conselho de presbíteros, mas sua composição

reduzida (6-12 membros) o faz mais ágil para a consulta habitual do Bispo e para

assessorá-lo em assuntos urgentes.

Situações nas quais é obrigatório ouvir o seu conselho (cf. c.127 §2, 2º):

Imposição de tributo moderado (cf. c. 1263);

Atos de administração (cf. c.1277).

Situações que exigem também seu consentimento (cf. 127 §2, 1º):

Atos de administração extraordinária (cf. c.1277).

Alienação de bens da diocese (cf. c. 1292 §1).

O Colégio de consultores desempenha um papel de relevância nas situações de

Sé vacante ou de Sé impedida: eleger o Administrador diocesano (cf. c. 421 §1).

Page 35: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

139

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

3. Cabido de cônegos:

O cabido de cônegos, seja da catedral seja colegial, é o colégio

de sacerdotes, ao qual compete realizar as funções litúrgicas mais

solenes na igreja catedral ou colegiada; além disso, compete ao cabido

da catedral desempenhar funções que lhe são confiadas pelo direito ou

pelo Bispo diocesano (c. 503).

4. Conselho pastoral:

Em cada diocese, enquanto a situação pastoral o aconselhar,

seja constituído o conselho pastoral, ao qual compete, sob a autoridade

do Bispo, examinar e avaliar as atividades pastorais na diocese propor

conclusões práticas sobre elas (c. 511).

A origem do Conselho pastoral se encontra no ensinamento do Concílio

Vaticano II a respeito (cf. CD 27). Seu fundamento é a responsabilidade comum de

todos os fiéis cristãos, na missão da Igreja. Corresponsabilidade que nasce da igualdade

na dignidade batismal. O Conselho de pastoral é um dos possíveis meios para essa

participação.

Page 36: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

140

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A organização paroquial

1. A paróquia:

Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída

estavelmente na Igreja particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao

pároco como a seu pastor próprio, sob a autoridade do Bispo diocesano

(c. 515 §1).

Erigir, suprimir ou modificar as paróquias compete

exclusivamente ao Bispo diocesano, o qual não erija, nem suprima

paróquias, nem as modifique de modo notável, a não ser ouvindo o

conselho presbiteral (§2).

A paróquia legitimamente erigida tem, ipso iure, personalidade

jurídica (§3).

2. O pároco:

O pároco é o pastor próprio da paróquia a ele confiada; exerce o

cuidado pastoral da comunidade que lhe foi entregue, sob a autoridade

do bispo diocesano, em cujo ministério de Cristo é chamado a

participar, a fim de exercer em favor dessa comunidade o múnus de

ensinar santificar e governar, com a cooperação também de outros

presbíteros ou diáconos e com a colaboração dos fiéis leigos, de acordo

com o direito (c. 519).

As funções especialmente confiadas ao pároco são as seguintes:

1° - administrar o batismo;

2° - administrar o sacramento da confirmação aos que se acham em

perigo de morte, segundo o cânon 883, n.3;

3° - administrar o viático e a unção dos enfermos, salva a prescrição do

cânon 1003, §§ 2 e 3, e dar a bênção apostólica;

4° - assistir aos matrimônios e dar bênção nupcial;

5° - realizar funerais;

6° - benzer a fonte batismal no tempo pascal, fazer procissões fora da

igreja, e dar bênçãos solenes fora da igreja;

7° - celebrar mais solenemente a Eucaristia nos domingos e festas de

preceito (c. 530).

3. Os vigários paroquiais (cf. cc. 545-548):

Page 37: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

141

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

4. Outras formas de organização do ministério paroquial:

O modelo organizativo comum previsto pelo Direito para cada paróquia é o

formado por um pároco e, conforme o caso, um ou mais vigários paroquiais, com a

ajuda de outros presbíteros e outros fiéis cristãos. Todavia, as circunstâncias e

necessidades pastorais podem exigir outros modos de organização.

Onde as circunstâncias o exigirem, o cuidado pastoral de uma

paróquia, ou de diversas paróquias juntas, pode ser confiado

solidariamente a mais sacerdotes, com a condição, porém, que um deles

seja o coordenador do cuidado pastoral a ser exercido, isto é, dirija a

atividade conjunta e responda por ela perante o Bispo (c. 517 §1).

Por causa da escassez de sacerdotes, se o Bispo diocesano

julgar que a participação no exercício do cuidado pastoral da paróquia

deva ser confiada a um diácono ou a uma pessoa que não tenha o caráter

sacerdotal, ou a uma comunidade de pessoas, constitua um sacerdote

que dirija o cuidado pastoral, munido dos poderes e das faculdades de

pároco (§2).

Vide também c. 543.

5. Os conselhos paroquiais:

O CIC 1983 prevê certos Conselhos, na organização paroquial, análogos aos

diocesanos, que ajudem o pároco em vários aspectos de suas funções, também como

manifestação da participação ativa dos fiéis cristãos na comunidade eclesial.

Em cada paróquia, deve existir um Conselho de assuntos econômicos (cf. c. 537)

e pode ser constituído um Conselho pastoral (cf. c. 536).

Page 38: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

142

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

ORGANIZAÇÃO PARTICULAR SUPRADIOCESANA

A solicitude colegial do episcopado

A ordem dos Bispos, constituída a modo de colégio, sucede ao Colégio

apostólico, no magistério e no governo pastoral da Igreja (cf. LG 22). Isso implica na

solicitude por todas as Igrejas (sollicitudo omnium ecclesiarum), que tem múltiplas

manifestações.

O Colégio episcopal, junto com o Romano Pontífice (e nunca sem ele), é sujeito

do supremo poder de magistério e de jurisdição (cf. c. 336). Esse poder sobre toda a

Igreja se exerce mediante atos colegiais em sentido estrito, segundo dois modos

distintos:

a) Solenemente, no Concílio ecumênico (cf. c. 337 §1);

b) Mediante ação conjunta de todos os Bispos dispersos pelo mundo,

promovida pelo Romano Pontífice ou aceita livremente por ele (cf. c. 337

§2).

Além disso, mesmo não havendo uma ação colegial em sentido estrito, os

membros do Colégio atuam sempre unidos por vínculo de afeto colegial (collegialis

affectus), que impele a todos a proceder em comunhão e a promover a ação

evangelizadora de modo harmônico e solidário em toda a Igreja.

Principais instituições nas quais a solicitude pastoral dos Bispos se expressa

estabelecendo relações de cooperação e coordenação entre Igrejas particulares

próximas:

1. Província eclesiástica;

2. Região eclesiástica;

3. Patriarcado (Igrejas orientais católicas);

4. Concílios particulares;

5. Conferência episcopal.

Page 39: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

143

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Conferência episcopal

1. Conceito:

A Conferência dos Bispos, organismo permanente, é a reunião

dos Bispos de uma nação ou de determinado território, que exercem

conjuntamente certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu

território, a fim de promover o maior bem que a Igreja proporciona aos

homens, principalmente em formas e modalidades de apostolado

devidamente adaptadas às circunstâncias de tempo e lugar, de acordo

com o direito (c. 447).

2. Constituição e membros:

A competência para erigir, modificar ou suprimir Conferências episcopais

pertence à Sé Apostólica, que ouvirá previamente os Bispos interessados. Uma vez

erigida, a Conferência episcopal tem ipso iure personalidade jurídica (cf. c. 449).

Os membros da Conferência se determinam em parte por Decreto universal e em

parte pelos estatutos de cada Conferência (cf. c. 451).

A Conferência dos Bispos pertencem pelo próprio direito todos

os Bispos diocesanos do território e os que são a eles equiparados pelo

direito, os Bispos coadjutores, os Bispos auxiliares e os outros Bispos

titulares que exercem no mesmo território algum encargo especial,

confiado pela Sé Apostólica ou pela Conferência dos Bispos; podem ser

convidados também os Ordinários de outro rito, de modo, porém, que

tenham só voto consultivo, a não ser que os estatutos da Conferência

dos Bispos determinem outra coisa (c. 450 §1).

Os outros Bispos titulares e o Legado do Romano Pontífice, não

são, de direito, membros da Conferência dos Bispos (§2).

Page 40: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

144

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

3. Estrutura:

O CIC 1983 se refere a alguns dos ofícios e órgãos da Conferência episcopal,

ainda que a estrutura completa e o funcionamento efetivo de cada uma serão

determinados nos estatutos.

Órgão supremo: assembléia plenária, composta por todos os membros da

Conferência.

As Assembléias plenárias são necessariamente periódicas e de curta duração. A

natureza de “instituição permanente” (c. 447) da Conferência e a sua capacidade de

oferecer aos Bispos meios estáveis de consulta e de ação comum exigem a existência

de:

a) Conselho permanente, presidido pelo presidente da Conferência (cf. c. 457);

b) Secretaria geral (cf. c. 458).

Ofícios: presidente, vice-presidente e secretário geral (cf. c. 452).

4. Competências jurídicas:

A Conferência episcopal não constitui um organismo de governo intermediário

entre a Sé Apostólica e cada Bispo diocesano, porque não possui competências de

jurisdição de caráter geral, como as dos Concílios particulares. Nela, os Bispos, sem

prejuízo da autonomia no governo de suas dioceses, exercem conjuntamente algumas

funções pastorais, especialmente para coordenar sua ação evangelizadora, em virtude do

afeto colegial que os une.

Em certas matérias e ocasiões, o bem da Igreja poderá requerer que essa

coordenação adote também a forma de decisões vinculantes ou declarações doutrinais

da Conferência enquanto tal, a fim de que em todas as Igrejas particulares do território

se apliquem os mesmos critérios e normas.

O c. 455 dispõe que a Conferência episcopal pode dar decretos gerais (cf. cc.29-

33), nos casos previstos pelo Direito universal ou quando receba mandato especial da

Santa Sé.

O c. 753 prevê que os Bispos, em comunhão com o Colégio episcopal e sua

Cabeça, podem exercer magistério autêntico também unidos em Conferências

episcopais.

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145

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

PARTE III – MISSÃO DA IGREJA

A FUNÇÃO DE ENSINAR

FUNÇÃO DE ENSINAR E MAGISTERIO ECLESIASTICO

A missão da Igreja e os três múnus

A Igreja é povo de Deus, que peregrina na história, em continuidade com a

missão redentora de Jesus Cristo. É comunidade, constituída e ordenada neste mundo

como uma sociedade (cf. LG 8). É enviada por Deus a todos os povos para ser

sacramento universal de salvação (cf. AG 1).

Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-

os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a

observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco

todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28,19-20).

O Concílio Vaticano II recorreu à distinção da tríplice função de Jesus Cristo

(sacerdotal, profética e real) para abordar a missão da Igreja. Dessa missão, participa

todo o povo de Deus (cf. CCE 783-786). A distinção dos tria munera Christi não é a

única forma de explicar a missão de Jesus Cristo, mas se fundamenta na Escritura,

aparece nos escritos patrísticos, é empregada pelo Magistério e é muito didática.

O múnus de ensinar

O múnus de ensinar é a função que Jesus Cristo deu a sua Igreja de anunciar o

Evangelho a todos os povos e nações, para comunicar a fé a quem ainda não a recebeu e

para fortalecer na fé todos que já fazem parte do povo de Deus.

A função evangelizadora da Igreja acontece de múltiplas formas: testemunho de

vida, pregação, catequese, educação, aprofundamento teológico, ensino do Magistério...

Atenção: não dissociar Palavra e sacramentos, função de ensinar e função de

santificar. As três funções podem ser distinguidas, mas são inseparáveis.

Page 42: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

146

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A participação de toda a Igreja na função de ensinar

A Igreja, a quem Cristo Senhor confiou o depósito da fé, para

que, com a assistência do Espírito Santo, ela guardasse santamente a

verdade revelada, a perscrutasse mais profundamente, anunciasse e

expusesse com fidelidade, compete o dever e o direito originário de

pregar o Evangelho a todos os povos, independentes de qualquer poder

humano, mesmo usando de seus próprios meios de comunicação social

(c. 747 §1).

Os fiéis cristãos são chamados a intervir ativamente na missão comum (cf. c.

204). Todos os fiéis cristãos têm o dever e o direito de evangelizar (cf. c. 211). O CIC

1983 abandona a distinção entre Igreja docente e Igreja discente.

A participação de todos na função de ensinar não significa, porém, que todos

façam exatamente as mesmas coisas, porque há diversidade de membros do povo de

Deus. Existem direitos e deveres de todos os fiéis cristãos (p. ex. cc. 212 §1, 213) e há

direitos e deveres específicos dos ministros ordenados (p. ex. cc. 386, 528 §1).

O cânon resume em quatro verbos (guardar, aprofundar, anunciar e expor) o

amplo conjunto de ações que comporta a função de ensinar.

1. Guardar:

2. Aprofundar:

3. Anunciar:

4. Expor:

A estrutura do livro III é a seguinte:

Ministério da Palavra de Deus (pregação e catequese);

Ação missionária;

Educação católica;

Comunicação social.

Page 43: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

147

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O Magistério da Igreja

Por Magistério eclesiástico, se entende o ofício conferido por Jesus Cristo aos

apóstolos e seus sucessores de guardar, interpretar e propor a verdade revelada com sua

autoridade e em seu nome (cf. CCE 85-87). Também se usa o mesmo termo para

designar os sujeitos que desempenham esse ofício e os ensinamentos propostos com

essa autoridade.

O carisma da infalibilidade

O poder de Magistério (Magistério em sentido estrito) recai, por Direito divino,

sobre o Romano Pontífice e os Bispos em comunhão com ele.

A função de Magistério está a serviço da Palavra de Deus.

Page 44: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

148

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Extensão e modalidades do exercício do Magistério

Segundo a sua forma de exercício, o Magistério eclesiástico pode ser:

a) Solene, quando se realiza mediante formas ou modos solenes (feito com

todos os requisitos necessários para ser legal);

b) Ordinário, quando ensina os fiéis cristãos mediante formas ou meios

habituais: pregação, diversos tipos de cartas e escritos pastorais.

Segundo a sua extensão, o Magistério eclesiástico pode ser:

a) Universal: quando detém um consentimento moralmente unânime, de

maneira sincrônica (no momento histórico concreto) e também diacrônica

(em continuidade com o Magistério de todos os tempos e em fidelidade com

a tradição apostólica).

b) Particular: quando não há essa convergência de convicção de todo o corpo do

Magistério.

Segundo o grau de autoridade, o Magistério eclesiástico pode ser:

a) Meramente autêntico, quando os Pastores atuam estritamente como tais;

b) Infalível: Magistério solene (pontifício ou conciliar) naquelas verdades

referentes à fé ou à moral, que pretende definir. É também infalível o

Magistério ordinário e universal, quando transmite a certeza dessas

doutrinas.

Em virtude de seu ofício, o Sumo Pontífice goza de

infalibilidade no magistério quando, como Pastor e Doutor supremo de

todos os fiéis, a quem cabe confirmar na fé os seus irmãos, proclama,

por ato definitivo, que se deve aceitar uma doutrina sobre a fé e os

costumes (c. 749 §1).

Também o Colégio dos Bispos goza de infalibilidade no

magistério quando, reunidos os Bispos em Concílio Ecumênico,

exercem o magistério como doutores e juízes da fé e dos costumes,

declarando para toda a Igreja que se deve aceitar definitivamente uma

doutrina sobre a fé ou sobre os costumes; ou então quando, espalhados

pelo mundo, conservando o vínculo de comunhão entre si e com o

sucessor de Pedro, e ensinando autenticamente questões de fé ou

costumes juntamente com o mesmo Romano Pontífice, concordam

numa única sentença, que se deve aceitar como definitiva (§2).

Page 45: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

149

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Assistência divina e objeto das intervenções do Magistério

O carisma da infalibilidade envolve as verdades referentes à fé ou aos costumes,

que estão contidas explícita ou implicitamente no depósito da Revelação ou que

resultam necessárias para protegê-lo e expô-lo fielmente, ainda que não tenham sido

propostas pelo Magistério como formalmente reveladas.

Vinculação e deveres do fiel cristão com relação ao Magistério

Quando o Magistério ensina (infalivelmente) que uma doutrina é de fé divina e

católica, se pede ao fiel cristão uma adesão de fé teologal, que se fundamenta

diretamente na autoridade da Palavra de Deus. Por exemplo: Os artigos do Símbolo

apostólico e os dogmas cristológicos e marianos. Os fiéis cristãos estão obrigados a

evitar qualquer doutrina contrária (cf. c. 750 §1). Quem, depois de recebido o batismo,

nega alguma dessas verdades ou duvida com pertinácia delas incorre em heresia (cf. c.

751).

Quando o Magistério ensina de maneira definitiva doutrinas acerca da fé e da

moral que são requeridas para guardar santamente e expor fielmente o depósito da fé, os

fiéis cristãos estão obrigados a abraçar e reter fielmente essas proposições. Quem as

recusasse se oporia à doutrina da Igreja católica (cf. c. 750 §2).

As doutrinas acerca da fé e dos costumes, que o Romano Pontífice ou o Colégio

episcopal ensinam no exercício de seu Magistério autêntico, devem ser aceitas com

assentimento religioso da vontade e da inteligência. Tudo o que não é congruente com

esses ensinamentos deve ser evitado (cf. c. 752).

Magistério e teologia

A atividade teológica, enquanto busca da inteligência da fé, é exigida pela

natureza racional do ser humano e constitui um serviço à função de ensinar da Igreja.

Vide: Congregação para a Doutrina da Fé.

Documento doutrinal: Instrução sobre a vocação eclesial do teólogo, Donum

veritatis (24/05/1990).

Documento disciplinar: Regulamento a seguir no exame das doutrinas,

Agendi Ratio, aprovado em forma específica por João Paulo II (29/06/1997).

Page 46: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

150

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A profissão de fé

Têm obrigação de fazer pessoalmente a profissão de fé, segundo

a fórmula aprovada pela Sé Apostólica:

1° diante do presidente ou de seu delegado, todos os que

participam de um Concílio Ecumênico ou particular, do Sínodo dos

Bispos ou do sínodo diocesano, com voto deliberativo ou consultivo; o

presidente, por sua vez, diante do Concílio ou do Sínodo;

2° os promovidos à dignidade cardinalícia, segundo os estatutos

do sacro Colégio;

3° diante do delegado da Sé Apostólica, todos os promovidos ao

episcopado, e os que se equiparam ao Bispo diocesano;

4° diante do colégio dos consultores, o Administrador

diocesano;

5° diante do Bispo diocesano ou de seu delegado, os Vigários

gerais, os Vigários episcopais e os Vigários judiciais;

6° diante do Ordinário local ou de seu delegado, os párocos, o

reitor, os professores de teologia e filosofia nos seminários, no início do

exercício do cargo; e os promovidos à ordem do diaconato;

7° diante do Grão-chanceler e, na sua falta, diante do Ordinário

local ou dos respectivos delegados, o reitor de universidade eclesiástica

ou católica, no início do exercício do cargo; diante do reitor, que seja

sacerdote, ou diante do Ordinário local ou dos respectivos delegados, os

professores que lecionam disciplinas referentes à fé e aos costumes

em qualquer universidade, no início do desempenho do cargo;

8° os Superiores nos institutos religiosos e sociedades clericais

de vida apostólica, segundo a norma das constituições (c. 833).

Page 47: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

151

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os julgamentos da hierarquia sobre questões temporais

Compete à Igreja anunciar sempre e por toda a parte os

princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a

respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos

fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas (c. 747 §2).

A Doutrina Social da Igreja (DSI) e as ações concretas da hierarquia eclesiástica

em favor da paz, da solidariedade e do respeito à justiça e aos direitos humanos

demonstram a importância desse aspecto da missão da Igreja.

O caráter das intervenções do Magistério sobre essas questões é de princípios e

juízos éticos. Não se trata de propostas ou soluções políticas, econômicas ou técnicas.

Os direitos humanos:

Page 48: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

152

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A ATIVIDADE EVANGELIZADORA

Aspectos da atividade evangelizadora e modos de participação

A atividade evangelizadora é aquela pela qual a Igreja comunica o Evangelho a

todos os povos. Nessa atividade, é comum distinguir três aspectos, segundo sua

finalidade e seus destinatários principais:

1. Ministério da palavra: para quem já forma parte da Igreja e está em

comunhão com ela;

2. Atividade ecumênica: para os cristãos não católicos, em busca a união dos

cristãos na plena comunhão eclesial;

3. Atividade missionária: para quem ainda não conhece a Jesus Cristo ou onde

a Igreja não está suficientemente constituída.

A ação evangelizadora é missão de todo o povo de Deus (cf. c. 747 §1).

No que se refere à Igreja universal, o múnus de anunciar o

Evangelho foi confiado principalmente ao Romano Pontífice e ao

Colégio dos Bispos (c. 756 §1).

No que se refere à Igreja particular a ele confiada, cada Bispo

exerce esse múnus, porque ele é nela o dirigente de todo o ministério da

palavra; entretanto, às vezes alguns Bispos o exercem conjuntamente

para diversas Igrejas reunidas, de acordo com o direito (§2).

É próprio dos presbíteros, que são os cooperadores dos Bispos,

anunciar o Evangelho de Deus; são obrigados a isso, em relação ao

povo a eles confiado, principalmente os párocos e outros a quem esteja

confiada a cura de almas; compete também aos diáconos servir ao povo

de Deus no ministério da palavra, em comunhão com o Bispo e seu

presbitério (c. 757).

Em virtude da própria consagração a Deus, os membros de

institutos de vida consagrada dão testemunho do Evangelho de maneira

especial; convém que sejam assumidos pelo Bispo para auxiliar no

anúncio do Evangelho (c. 758).

Em virtude do batismo e da confirmação, os fiéis leigos são

testemunhas da mensagem evangélica, mediante a palavra e o exemplo

de vida cristã; podem também ser chamados a cooperar com o Bispo e

os presbíteros no exercício do ministério da palavra (c. 759).

Page 49: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

153

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Ministério da Palavra (ministerium verbi) é uma noção técnica que abarca

principalmente a pregação e a catequese. Em sentido amplo, inclui também as demais

formas de educação da fé.

No ministério da palavra, que deve basear-se na sagrada

Escritura, na Tradição, na liturgia, no magistério e na vida da Igreja,

seja proposto integral e fielmente o mistério de Cristo (c. 760).

Os diversos meios à disposição sejam utilizados para anunciar a

doutrina cristã, principalmente a pregação e a instrução catequética, que

conservam sempre o primeiro lugar; empregue-se ainda a exposição

doutrinal nas escolas, academias, conferências e reuniões de todo o

gênero, bem como a sua difusão mediante declarações públicas feitas

pela legítima autoridade, por ocasião de certos acontecimentos, através

da imprensa e demais meios de comunicação social (c. 761).

Page 50: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

154

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A pregação da Palavra de Deus

Em sentido estrito, segundo as normas do CIC 1983, por pregação se entende um

ato de ensino público da doutrina cristã, feito em nome da Igreja, por ministros

ordenados ou por outros sujeitos especialmente autorizados, diante de fiéis cristãos

convocados, a fim de instruí-los e confirmá-los na fé em Jesus Cristo.

A pregação tem sempre um caráter público (vide c. 834 §2). Tradicionalmente, a

pregação está vinculada a um contexto litúrgico.

A disciplina canônica sobre a homilia:

Entre as formas de pregação, destaca-se a homilia, que é parte

da própria liturgia e se reserva ao sacerdote ou diácono; nela se devem

expor, ao longo do ano litúrgico, a partir do texto sagrado, os mistérios

da fé e as normas da vida cristã (c. 767 §1).

Em todas as missas que se celebram com participação do povo,

nos domingos e festas de preceito, deve-se fazer a homilia, que não se

pode omitir, a não ser por causa grave (§2).

Havendo suficiente participação do povo, recomenda-se

vivamente que se faça a homilia também nas missas celebradas durante

a semana, principalmente no tempo do advento e da quaresma ou por

ocasião de alguma festa ou acontecimento de luto (§3).

Compete ao pároco ou reitor da igreja cuidar que essas

prescrições sejam observadas religiosamente (§4).

O conteúdo da pregação:

Os pregadores da palavra de Deus apresentem aos fiéis

principalmente o que se deve crer e fazer para a glória de Deus e a

salvação dos homens (c. 768 §1).

Apresentem aos fiéis também a doutrina que o magistério da

Igreja propõe sobre a dignidade e liberdade da pessoa humana, sobre a

unidade e estabilidade da família e suas funções, sobre as obrigações

civis e sobre a organização das coisas temporais segundo a ordem

estabelecida por Deus (§2).

A doutrina cristã seja apresentada de modo apropriado à

condição dos ouvintes e, em razão dos tempos, adaptada às

necessidades (c. 769).

Page 51: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

155

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A formação catequética

Globalmente, pode-se partir da noção de que a catequese é a educação da fé das

crianças, jovens e adultos, a qual compreende especialmente o ensino da doutrina cristã,

dado em geral de maneira orgânica e sistemática, com a finalidade de iniciá-los na

plenitude da vida cristã (cf. Exortação apostólica Catechesi tradendae, nº 18).

Evidentemente, não se trata de mera transmissão de conteúdos objetivos, mas de

atividade que busca articular fé e vida.

É dever próprio e grave, sobretudo dos pastores de almas,

cuidar da catequese do povo cristão, para que a fé dos fiéis, pelo ensino

da doutrina e pela experiência da vida cristã, se torne viva, explícita e

atuante (c. 773).

Além do CIC 1983, as principais fontes normativas da catequese são:

Ritual de iniciação cristã de adultos (1972);

Exortação apostólica de Paulo VI Evangelii nuntiandi (1975);

Exortação apostólica de João Paulo II Catechesi tradendae (1979);

Catecismo da Igreja católica (1992);

Diretório Geral para a Catequese (1997);

Regime de aprovação e uso dos textos catequéticos:

O ministério da Palavra deve propor de forma íntegra e fiel o mistério de Cristo

(cf. c. 760). Isso se exige de modo particular na formação catequética. Entre os

instrumentos mais eficazes de formação estão os catecismos, que são sínteses das

principais verdades da fé e da moral, expostas de forma simples, orgânica, sistemática e

inequívoca.

Um catecismo requer aprovação, porque não basta que esteja livre de erros, mas

é necessário também que não tenha omissões, nem deficiências consideráveis em outros

aspectos.

No âmbito universal, as competências para aprovação e uso de catecismos e

demais instrumentos catequéticos correspondem a Santa Sé.

Os catecismos nacionais devem ser aprovados pelas Conferências episcopais (cf.

c. 775 §2).

No âmbito da Igreja particular, as referidas competências pertencem

primordialmente ao Bispo diocesano. O Ordinário do lugar pode aprovar a edição de

catecismos (cf. c. 827 §1), mas é o Bispo diocesano quem pode estabelecer o uso de

determinado catecismo e, inclusive, promover a sua elaboração (cf. c. 775 §1).

Page 52: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

156

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A atividade ecumênica

O movimento ecumênico é o conjunto das atividades e iniciativas, que, segundo

as diferentes necessidades da Igreja e das circunstâncias dos tempos, são suscitadas e

ordenadas a promover a unidade dos cristãos (cf. UR 4).

O ecumenismo é a missão da Igreja com relação aos cristãos separados de sua

estrutura visível, com o objetivo de restabelecer a plena comunhão.

Compete, em primeiro lugar, a todo o Colégio dos Bispos e à Sé

Apostólica incentivar e dirigir entre os católicos o movimento

ecumênico, cuja finalidade é favorecer o restabelecimento da unidade

entre todos os cristãos, a cuja promoção a Igreja está obrigada por

vontade de Cristo (c. 755 §1).

Compete igualmente aos Bispos e, de acordo com o direito, às

Conferências dos Bispos, promover essa unidade e, de acordo com as

diversas necessidades ou oportunidades de circunstâncias, estabelecer

normas práticas, respeitando as disposições da suprema autoridade da

Igreja (§2).

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157

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A atividade missionária

A atividade missionária propriamente dita é o meio pelo qual se realiza a

evangelização e a implantação da Igreja nos diversos povos nos quais ela ainda não está

presente (cf. AG 6).

O CIC 1983 dedica à atividade missionária os cc. 781-792.

Sendo que a Igreja toda é missionária por sua natureza e que a

obra de evangelização é dever fundamental do povo de Deus, todos os

fiéis conscientes da própria responsabilidade, assumam cada um a sua

parte na obra missionária (c. 781).

Todos os fiéis têm o direito e o dever de trabalhar, a fim de que

o anúncio divino da salvação chegue sempre mais a todos os homens de

todos os tempos e de todo o mundo (c. 211).

A suprema direção e coordenação da atividade missionária:

Compete ao Romano Pontífice e ao Colégio dos Bispos a

suprema direção e coordenação das iniciativas e atividades próprias da

obra das missões e da cooperação missionária (c. 782 §1).

Vide Organização eclesiástica: circunscrições territoriais.

1. Missão sui iuris

2. Diocese de missão

3. Vicariato apostólico e Prefeitura apostólica

4. Prelazia territorial

5. Diocese

Competência do Bispo diocesano:

Como responsáveis pela Igreja universal e por todas as Igrejas,

os Bispos todos tenham especial solicitude pela obra das missões,

principalmente despertando, incentivando e sustentando iniciativas

missionárias em sua própria Igreja particular (c. 782 §2).

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158

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A EDUCAÇÃO CATOLICA E A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Noção de educação católica

Educar é o processo mediante o qual a pessoa humana se desenvolve e se

aperfeiçoa nas diversas dimensões do seu ser, a fim de se dirigir ao seu fim próprio.

A educação cristã se caracteriza por oferecer à pessoa uma visão cristã da

realidade, ajudando-a a desenvolver toda a sua vida em comunhão com Jesus Cristo.

A educação cristã pode ser denominada católica enquanto seus conteúdos e fins

são conformes com a doutrina da Igreja.

Responsabilidade e liberdade dos pais e da Igreja na educação

A Igreja tem o dever e o direito de educar por uma dupla razão:

Porque é capaz de educar como outros grupos humanos;

Porque Deus lhe confiou a missão de auxiliar os homens para que possam

chegar à plenitude da vida cristã.

Atenção: Nos dias de hoje, há o risco da sociedade não compreender esse

aspecto da missão da Igreja.

Todos os fiéis cristãos têm direito de educação cristã (cf. c. 217).

Os pais e os que fazem suas vezes têm a obrigação e o direito de

educar sua prole; os pais católicos têm também o dever e o direito de

escolher os meios e instituições, com que possam, de acordo com as

circunstâncias locais, prover do modo mais adequado à educação

católica dos filhos (c. 793 §1).

Compete também aos pais o direito de usufruir da ajuda que

deve ser prestada pela sociedade civil e de que necessitam para

proporcionar aos filhos uma educação católica (§2).

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159

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As escolas católicas

Por escola, se entende os estabelecimentos de ensino de nível primário e médio.

Em sentido material, escolas católicas são aquelas que nas quais acontece uma

educação católica, independentemente de outras condições.

Em sentido formal ou técnico, se considera escola católica:

A que está dirigida por autoridade eclesiástica competente;

A que está dirigida por pessoa jurídica eclesiástica pública;

A que é reconhecida como tal pela autoridade eclesiástica mediante

documento escrito (cf. c. 803 §1).

Competência do Bispo diocesano:

Compete ao Bispo diocesano o direito de supervisionar e visitar

as escolas católicas situadas em seu território, mesmo quando fundadas

ou dirigidas por membros de institutos religiosos; compete ainda a ele

dar prescrições referentes à organização geral das escolas católicas; tais

prescrições têm valor também para as escolas dirigidas por esses

membros de institutos religiosos, salva porém a autonomia dessas

escolas quanto a seu governo interno (c. 806 §1).

O projeto educativo deve ter identidade católica e facilitar a formação científica

de qualidade:

Os dirigentes das escolas católicas, sob a supervisão do

Ordinário local, cuidem que a formação nelas dada atinja pelo menos o

nível científico das outras escolas da região (§2).

Os professores devem se destacar por sua reta doutrina e integridade de vida (cf.

c. 803 §2). Os fiéis cristãos, por sua vez, devem prestar apoio especial a essas escolas

(cf. c. 800 §2).

Page 56: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

160

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O ensino religioso católico

Está sujeita à autoridade da Igreja a formação e educação

religiosa católica que se ministra em quaisquer escolas, ou que se

promove pelos diversos meios de comunicação social; compete à

Conferência dos Bispos traçar normas gerais nesse campo de ação, e ao

Bispo diocesano compete organizá-lo e supervisioná-lo (c.804 §1).

A indicação dos professores (questão chave):

O Ordinário local seja cuidadoso para que os indicados como

professores para a formação religiosa nas escolas, mesmo não-católicas,

se distingam pela retidão de doutrina, pelo testemunho de vida cristã e

pela capacidade pedagógica (§2).

Direito do Ordinário local:

É direito do Ordinário local, em sua diocese, nomear ou aprovar

os professores de religião, como também afastá-los ou exigir seu

afastamento, caso o requeira algum motivo de religião ou moral (c.

805).

Esse direito do Ordinário do lugar está supostamente garantido nas escolas

formalmente católicas, mas a Igreja procura salvaguardá-lo também nos demais casos,

mediante acordos com os Estados.

As universidades católicas e outros Institutos de estudos superiores

As universidades são centros de estudos superiores dedicados à investigação, ao

ensino e à formação nos diversos campos do conhecimento.

Em sentido formal, se considera universidade católica:

A erigida pela própria autoridade eclesiástica: Santa Sé, Conferência

episcopal, Bispo diocesano;

A constituída por um Instituto religioso ou outra pessoa jurídica eclesiástica

pública, com o consentimento do Bispo diocesano;

A que, tendo sido constituída por outras pessoas eclesiásticas ou por fiéis

cristãos leigos, conta com o consentimento da autoridade eclesiástica

competente para usar o título de “universidade católica” (cf. c. 808).

Page 57: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

161

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As universidades e faculdades eclesiásticas

As universidades e faculdades eclesiásticas são aquelas que se ocupam

especificamente das ciências sagradas e de outras ciências relacionadas com elas (cf. c.

815).

Esses centros acadêmicos são erigidos ou ao menos aprovados pela Santa Sé.

Compete sempre à Santa Sé a sua suprema direção, assim como aprovar seus estatutos e

planos de estudo (cf. cc. 815-816). As universidades e faculdades eclesiásticas são as

únicas que podem conceder títulos acadêmicos com validade na Igreja (cf. c. 817).

A comunicação social

O Concílio Vaticano II dedicou o Decreto Inter mirifica aos meios de

comunicação social.

O CIC 1983 trata do assunto nos cc. 822-823.

Os pastores da Igreja, no cumprimento do seu ofício, usando o

direito próprio da Igreja, procurem utilizar os meios de comunicação

social (c. 822 §1).

O CCEO reflete melhor do que o Código latino o decreto conciliar (cf. cc. 651-

666).

Page 58: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

162

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As exigências canônicas para a publicação de escritos

A licença eclesiástica para a publicação, que supõe o nihil obstat prévio de um

censor (cf. c. 830), se expressa tradicionalmente mediante o termo imprimatur

(imprima-se, pode-se imprimir). Significa que a obra está livre de erros sobre a fé

católica e os costumes.

A aprovação manifesta que o texto é aceito pela Igreja ou que a obra é conforme

com sua doutrina autêntica. Pode ser concedida a um livro já publicado, a fim de

autorizá-lo para um determinado uso.

Os principais tipos de publicações que precisam de aprovação são as seguintes:

Os livros da Sagrada Escritura (cf. c. 825);

Os livros litúrgicos (cf. c. 838);

Os catecismos (cf. cc. 775 §2; 827 §1);

Os textos de ensino, que tratam de questões relativas à Bíblia, à teologia, ao

direito canônico, à história eclesiástica e a disciplinas religiosas ou morais

(cf. c. 827 §2).

Para os livros de orações, é suficiente a licença do Ordinário local (cf. c. 826

§3).

Qualquer escrito que contenha algo que afete de maneira peculiar à religião ou à

integridade dos costumes, se recomenda que seja submetido ao juízo do Ordinário local

(cf. c. 827 §3).

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163

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

PARTE III – MISSÃO DA IGREJA

A FUNÇÃO DE SANTIFICAR

FUNÇÃO DE SANTIFICAR, LITURGIA E SACRAMENTOS

A função de santificar (munus sanctificandi)

A evangelização não se realiza somente com o anúncio da Palavra de Deus. A

Igreja deve cumprir a sua missão também tornando presente a graça da salvação que

proclama.

Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele

enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para que,

pregando o Evangelho a toda a criatura, anunciassem que o Filho de

Deus, pela sua morte e ressurreição, nos libertara do poder de satanás e

da morte e nos introduzira no Reino do Pai, mas também para que

realizassem a obra de salvação que anunciavam, mediante o sacrifício e

os sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica (SC 6).

A liturgia e os sacramentos são estudados pela:

Ciência litúrgica;

Teologia dos sacramentos;

Teologia moral;

Teologia pastoral.

O Direito canônico se ocupa dessas questões naquilo que lhe corresponde como

ordenamento: determinar e tutelar os aspectos jurídicos básicos, sejam de Direito

divino, sejam de Direito meramente eclesiástico.

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164

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Função de santificar e liturgia

A Igreja, em comunhão com Jesus Cristo, por Ele e nele (cf. CCE 824), cumpre

a função de santificar comunicando os bens da salvação aos homens.

A Igreja desempenha seu múnus de santificar, de modo especial

por meio da sagrada Liturgia, que é tida como exercício do sacerdócio

de Jesus Cristo, na qual, por meio de sinais sensíveis, é significada e,

segundo o modo próprio de cada um, é realizada a santificação dos

homens, e é exercido plenamente pelo Corpo místico de Jesus Cristo,

isto é, pela Cabeça e pelos membros, o culto público de Deus (c. 834

§1).

Para que o culto possa ser considerado litúrgico (a palavra liturgia significa

originalmente obra pública, cf. CCE 1069), é preciso cumprir três requisitos

mencionados no c. 834 §2:

Ser exercido em nome da Igreja,

Por pessoas legitimamente destinadas a isso,

Por atos aprovados pela autoridade da Igreja.

Ordenação da liturgia

A direção da sagrada liturgia depende unicamente da autoridade

da Igreja; esta se encontra na Sé Apostólica e, de acordo com as normas

do direito, no Bispo diocesano (c. 838 §1).

Celebração fiel da liturgia

Na celebração dos sacramentos, sigam-se fielmente os livros

litúrgicos aprovados pela autoridade competente; portanto, ninguém

acrescente, suprima ou altere coisa alguma neles, por própria iniciativa

(c. 846 §1).

Os sacramentos

Os sacramentos do Novo Testamento, instituído pelo Cristo

Senhor e confiados à Igreja, como ações de Cristo e da Igreja,

constituem sinais e meios pelos quais se exprime e se robustece a fé, se

presta culto a Deus e se realiza a santificação dos homens; por isso,

muito concorrem para criar, fortalecer e manifestar a comunhão

eclesial; em vista disso, os ministros sagrados e os outros fiéis, em sua

celebração, devem usar de suma veneração e devida diligência (c. 840).

Page 61: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

165

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Exigências de justiça na celebração e administração dos sacramentos

A atividade sacramental comporta relações de justiça, tanto com referência à

celebração dos sacramentos, quanto acerca da sua administração.

O direito dos fiéis cristãos:

Os fiéis têm o direito de receber dos Pastores sagrados, dentre

os bens espirituais da Igreja, principalmente os auxílios da Palavra de

Deus e dos sacramentos (c. 213).

Requisitos que condicionam o direito dos fiéis cristãos:

Os ministros sagrados não podem negar os sacramentos àqueles

que os pedirem oportunamente, que estiverem devidamente dispostos e

que pelo direito não forem proibidos de recebê-los (c. 843 §1).

Atenção: Não se pode absolver quem não está arrependido, nem dar a comunhão

eucarística a quem obstinadamente persiste em manifesto pecado grave (cf. c. 915).

A necessidade da devida preparação:

Os pastores de almas e os outros fiéis, cada um conforme o seu

próprio múnus eclesiástico, têm o dever de cuidar que todos os que

pedem os sacramentos estejam preparados para recebê-los, mediante

devida evangelização e instrução catequética, segundo as normas dadas

pela autoridade competente (§2).

O cuidado com os mais pobres:

Além das ofertas estabelecidas pela autoridade competente, o

ministro nada peça pela administração dos sacramentos, tomando

sempre cuidado para que os necessitados não sejam privados do auxílio

dos sacramentos por causa de sua pobreza (c. 848).

O caráter pastoral do Direito canônico: pastoral e direito não se excluem. Ao

contrário, se exigem mutuamente.

Page 62: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

166

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A comunicação nos bens espirituais (communicatio in spiritualibus)

O batismo válido estabelece um vínculo sacramental de unidade entre todos os

fiéis cristãos (cf. UR 22), inclusive com aqueles que não estão em plena comunhão com

a Igreja católica.

Isso possibilita certa comunicação nos bens espirituais com os cristãos não

católicos, condicionada por determinadas exigências de justiça:

Oração em comum;

Uso comum de coisas ou lugares sagrados;

Participação comum na liturgia e nos sacramentos (communicatio in sacris).

Da oração em comum, o CIC 1983 nada diz.

O Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo (1993)

a recomenda (cf. DE 108-115). A Encíclica Ut unum sit (1995) também a aconselha (cf.

nº 21-28).

Do uso comum de coisas ou lugares sagrados:

Por justa causa e com licença expressa do Ordinário local, é

lícito ao sacerdote, removido o escândalo, celebrar a Eucaristia em

templo de alguma Igreja ou comunidade eclesial que não tenha plena

comunhão com a Igreja católica (c. 933).

Em sentido inverso, o Bispo diocesano pode permitir a outros cristãos o uso de

uma igreja, edifício católico ou cemitério, assim como de capelas de escolas ou

hospitais (cf. DE 137-142).

Page 63: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

167

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Da comunicação no sagrado (communicatio in sacris):

Comunicação na liturgia não sacramental:

a) Exéquias eclesiásticas de batizados não católicos (cf. c. 1183 §3);

b) Bênçãos (cf. c. 1170).

Comunicação nos sacramentos:

Regra geral: Os ministros católicos só administram licitamente os

sacramentos aos fiéis católicos que, por sua vez, somente dos ministros católicos

licitamente os recebem (cf. 844 §1).

Os fiéis católicos podem receber licitamente os sacramentos: Sempre que a

necessidade o exigir ou verdadeira utilidade espiritual o aconselhar, e contanto

que se evite o perigo de erro ou indiferentismo, é lícito aos fiéis, a quem for

física ou moralmente impossível dirigir-se a um ministro católico, receber os

sacramentos da penitência, Eucaristia e unção dos enfermos das mãos de

ministros não-católicos, em cuja Igreja esses sacramentos são válidos (cf. 844

§2).

Os ministros católicos podem administrar licitamente os sacramentos: Os

ministros católicos administram licitamente os sacramentos da penitência,

Eucaristia e unção dos enfermos aos membros das Igrejas orientais que não têm

plena comunhão com a Igreja católica, se eles o pedirem espontaneamente e

estiverem devidamente preparados; vale o mesmo para os membros de outras

Igrejas que, a juízo da Sé Apostólica no que se refere aos sacramentos, se acham

nas mesmas condições que as referidas Igrejas orientais (cf. c. 844 §3).

Caso excepcional (cinco condições): Se houver perigo de morte ou, a juízo

do Bispo diocesano ou da Conferência dos Bispos, urgir outra grave

necessidade, os ministros católicos administram licitamente esses sacramentos

também aos outros cristãos que não tem plena comunhão com a Igreja católica e

que não possam procurar um ministro de sua comunidade e que o peçam

espontaneamente, contanto que manifestem, quanto a esses sacramentos, a

mesma fé católica e estejam devidamente dispostos (cf. c. 844 §4).

Page 64: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

168

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A intercomunhão eucarística:

As possibilidades relacionadas pelo c. 844 não devem ser confundidas com

prática ilegítima denominada de intercomunhão ou hospitalidade eucarística, que

entende a Eucaristia em comum como um meio para alcançar a unidade, violando,

assim, os limites estabelecidos pela teologia e pelo direito.

A Eucaristia em comum é a meta final para a qual se encaminha o ecumenismo.

A unidade da Igreja, realizada e manifestada pela Eucaristia, exige a plena

comunhão também nos vínculos da profissão de fé e do governo eclesiástico. Não é

possível concelebrar a liturgia eucarística com cristãos não católicos, se não é

restabelecida a integridade dos referidos vínculos.

Os três vínculos de comunhão (cf. c. 205):

Vínculo simbólico: fé única;

Vínculo litúrgico: unidade nos sacramentos;

Vínculo social-hierárquico: unidade na vida comunitária sob o ministério

apostolicamente fundado.

Page 65: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

169

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O SACRAMENTO DO BATISMO (cc. 849-878)

Importância e necessidade do batismo

O sinal sacramental do batismo

O sujeito do batismo

Ministro, lugar e dia do batismo

Os padrinhos

A relevância canônica do batismo

O batismo, porta dos sacramentos, necessário na realidade ou ao

menos em desejo para a salvação, e pelo qual os homens se libertam do

pecado, se regeneram tornando-se filhos de Deus e se incorporam à

Igreja, configurados com Cristo mediante caráter indelével, só se

administra validamente através da ablução com água verdadeira,

usando-se a devida fórmula das palavras (c. 849).

Conseqüências canônicas do caráter impresso pelo batismo:

A pessoa adquire a condição de fiel cristão (cf. c. 204), com igualdade na

dignidade e na ação comum e com um conjunto de direitos e deveres que lhe

são próprios (cc. 208-223). Observação: O exercício desses direitos depende,

entre outros fatores, de estar em plena comunhão com a Igreja;

Pode ser admitida validamente aos demais sacramentos (cf. cc. 842 §1; 849);

Passa a ser sujeito passivo das leis meramente eclesiásticas, sempre que

cumpra as demais condições do c. 11.

Anotação e prova do batismo

O pároco do lugar em que se celebra o batismo deve anotar

cuidadosamente e sem demora os nomes dos batizados, fazendo menção

do ministro, pais, padrinhos, testemunhas, se as houver, do lugar e dia

do batismo, indicando também o dia e o lugar do nascimento (c. 877

§1).

Page 66: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

170

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO (cc. 879-896)

A confirmação: sinal sacramental, efeitos e relevância canônica

Sujeito da confirmação

Obrigatoriedade da confirmação

Padrinho, anotação e prova da confirmação

Ministro da confirmação

O ministro ordinário da confirmação é o Bispo; administra

validamente este sacramento também o presbítero que tem essa

faculdade em virtude do direito comum ou de concessão especial da

autoridade competente (c. 882).

Tem concedida ipso iure a faculdade de confirmar:

a) Dentro dos limites de sua jurisdição, os que se equiparam ao Bispo

diocesano (cf. c. 368; 427);

b) O presbítero que, por razão do seu ofício ou por mandato do Bispo

diocesano, batiza um adulto ou recebe alguém já batizado na plena

comunhão da Igreja católica;

c) O pároco e inclusive qualquer presbítero (ainda que incurso em uma censura

ou em outra pena canônica, desde que não tenha perdido o estado clerical)

para os fiéis cristãos que estão em perigo de morte (cf. c. 883).

Atenção: O ordenamento canônico não faculta a um presbítero determinado para

que confirme um adulto batizado na Igreja católica, que nunca se situou fora de sua

estrutura visível (cf. c. 205), ainda que nunca tenha praticado a fé católica.

A concessão peculiar da faculdade de confirmar contempla duas possibilidades:

O Bispo diocesano administre a confirmação por si mesmo ou

cuide que seja administrada por outro Bispo; se a necessidade o exigir,

pode conceder faculdade a um ou mais presbíteros determinados para

administrarem esse sacramento (c. 884 §1).

Por motivo grave, o Bispo e também o presbítero que, pelo

direito ou por especial concessão da autoridade competente, têm a

faculdade de confirmar, podem, caso por caso, associar a si presbíteros

que também administrem o sacramento (§2).

Page 67: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

171

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA (cc. 897-958)

A Eucaristia no mistério da Igreja

A celebração eucarística

As condições da celebração eucarística referentes ao ministro

A sagrada comunhão

Reserva e veneração da Eucaristia

CIC 1983:

1. A celebração eucarística: ministro, participação, ritos, tempo e lugar;

2. Conservação e veneração da Eucaristia;

3. Espórtulas.

Page 68: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

172

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA (cc. 959-997)

Ministro

Cânon 965 Ministro do sacramento da penitência é somente o

sacerdote.

Faculdade para confessar

Cânon 966 § 1. Para a válida absolvição dos pecados se requer

que o ministro, além do poder de ordem, tenha a faculdade de exercer

esse poder em favor dos fiéis aos quais dá absolvição.

§ 2. Essa faculdade pode ser dada ao sacerdote pelo próprio

direito ou por concessão da autoridade competente, de acordo com o c.

969.

Cânon 967 § 1. Além do Romano Pontífice, pelo próprio

direito, os Cardeais têm a faculdade de ouvir confissões em todo o

mundo, como também os Bispos que dela usam licitamente, em

qualquer parte, a não ser que em algum caso particular o Bispo

diocesano num caso particular se tenha oposto.

§ 2. Aqueles que têm faculdade de ouvir confissões

habitualmente, em virtude de seu ofício ou por concessão do Ordinário

do lugar de incardinação ou do lugar onde têm domicílio, podem

exercer essa faculdade em toda a parte, a não ser que o Ordinário local

se oponha em algum caso particular, salvas as prescrições do c. 974, §§

2 e 3.

Cânon 970 Não se conceda a faculdade de ouvir confissões, a

não ser a presbíteros que tenham sido julgados idôneos por meio de

exame, ou cuja idoneidade conste por outro forma.

Page 69: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

173

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Atitude e deveres do confessor

Cânon 978 § 1. Lembre-se o sacerdote que, ao ouvir confissões,

desempenha simultaneamente o papel de juiz e de médico, e que foi

constituído por Deus como ministro da justiça divina e, ao mesmo

tempo, de sua misericórdia, para procurar a honra divina e a salvação

das almas.

O sigilo sacramental

Cânon 983 § 1. O sigilo sacramental é inviolável; por isso é

absolutamente ilícito ao confessor de alguma forma trair o penitente,

por palavras ou de qualquer outro modo e por qualquer que seja a causa.

O penitente

Cânon 987 Para obter o remédio salutar do sacramento da

penitência, o fiel deve estar de tal modo disposto que, repudiando os

pecados cometidos e tendo o propósito de se emendar, se converta a

Deus.

Cânon 988 § 1. O fiel tem a obrigação de confessar, quanto à

espécie e ao número, todos os pecados graves de que tiver consciência

após diligente exame, cometidos depois do batismo e ainda não

diretamente perdoados pelas chaves da Igreja, nem acusados em

confissão individual.

§ 2. Recomenda-se aos fiéis que confessem também os pecados

veniais.

Cânon 991 Todo fiel é livre de se confessar ao confessor

legitimamente aprovado, que preferir, mesmo de outro rito.

Page 70: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

174

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As indulgências

Cânon 992 Indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena

temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel,

devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança

por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e

aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos.

Uso das indulgências

Cânon 997 Quanto à concessão e uso das indulgências,

observem-se ainda as outras prescrições contidas em leis especiais da

Igreja.

Leis especiais

Carta Apostólica Doutrina das indulgências (Indulgentiarum doctrina) de Paulo VI

(1/1/1967).

Enchiridion Indulgentiarum : normae et concessiones (29/6/1968).

Page 71: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

175

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS (cc. 998-1007)

Cânon 1003 § 1. Todo sacerdote, e somente ele, pode

administrar validamente a unção dos enfermos.

Cânon 1004 § 1. A unção dos enfermos pode ser administrada

ao fiel que, tendo atingido o uso da razão, começa a estar em perigo por

motivo de doença ou velhice.

§ 2. Pode-se repetir este sacramento se o doente, depois de ter

convalescido, recair em doença grave, ou durante a mesma

enfermidade, se o perigo se agravar.

Page 72: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

176

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O SACRAMENTO DA ORDEM (cc. 1008-1054)

O sacramento do ministério apostólico

Sinal sacramental e efeitos do sacramento da ordem

Ministro e celebração do sacramento da ordem

Inscrição e certificado de ordenação recebida

O sujeito do sacramento da ordem

Condições de validade (duas):

Só um varão batizado pode receber validamente a ordenação

sagrada (c. 1024).

Condições de licitude (cinco):

Para serem conferidas licitamente as ordens do presbiterato ou

diaconato, requer- se que o candidato, após a prova exigida de acordo

com o direito, possua a juízo do Bispo próprio ou do Superior maior

competente, as devidas qualidades, não tenha nenhuma irregularidade

ou impedimento e tenha preenchido todos os requisitos de acordo com

os cânones 1033-1039; além disso, haja os documentos mencionados no

cânon 1050 e tenha sido feito o escrutínio mencionado no cânon 1051

(c. 1025 §1).

Além das condições mencionadas anteriormente, se requer o seguinte:

Requer-se ainda que seja considerado útil para o ministério da

Igreja, a juízo desse legítimo Superior (§2).

A utilidade deve ser avaliada com relação às necessidades da Igreja.

Page 73: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

177

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Condições do ordenando:

A devida liberdade:

Para que alguém seja ordenado, é preciso ter a devida liberdade;

é absolutamente ilícito forçar, de qualquer modo, por qualquer causa,

alguém a receber ordens ou afastar da recepção delas alguém

canonicamente idôneo (c. 1026).

A formação com esmerada preparação:

Os que aspiram ao diaconato e ao presbiterato devem ser

formados com preparação cuidadosa, de acordo com o direito (c. 1027).

O conhecimento da ordem que receberá e das obrigações inerentes à ordem:

Cuide o Bispo diocesano ou Superior competente que os

candidatos, antes de serem promovidos a alguma ordem, sejam

devidamente instruídos sobre essa ordem e as obrigações inerentes (cf.

1028).

A idoneidade pessoal do ordenando e a ciência devida:

Sejam promovidos às ordens somente aqueles que, segundo o

prudente juízo do Bispo próprio ou do Superior maior competente,

ponderadas todas as circunstâncias, tenham fé integra, sejam movidos

por reta intenção, possuam a ciência devida, gozem de boa reputação e

sejam dotados de integridade de costumes virtudes comprovadas e

outras qualidades físicas e psíquicas correspondentes à ordem a ser

recebida (c. 1029).

A ciência pode ser presumida, uma vez concluídos os estudos exigidos pelo

Direito universal e particular (cf. c. 1032).

A idade canônica e a suficiente maturidade (cf. c. 1031).

Não se confira o presbiterato a quem não tenha completado

vinte e cinco anos de idade e não possua maturidade suficiente,

observando-se o intervalo de ao menos seis meses entre o diaconato e o

presbiterato. Os que se destinam ao presbiterato sejam admitidos à

ordem do diaconato somente depois de terem completado vinte e três

anos de idade (c. 1031 §1).

Page 74: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

178

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Impedimentos para receber ou exercer as ordens (cf. cc. 1040-1049):

Impedimentos simples (cessam se desaparece sua causa):

Estão simplesmente impedidos para receber ordens: o homem

casado e o neófito.

Estão simplesmente impedidos para exercer as ordens recebidas:

quem as recebeu ilegitimamente por ter um impedimento e quem

sofre de enfermidade psíquica.

Impedimentos de caráter perpétuo (irregularidades):

São irregulares para receber as ordens: quem padece de

enfermidade psíquica; quem tiver mutilado a si próprio ou

tentado suicídio; quem comete homicídio voluntário ou coopera

positivamente para um aborto; quem tiver tentado matrimônio;

quem tiver exercido um ato de ordem reservado aos que estão

constituídos na ordem do episcopado ou do presbiterato; quem

comete delito de apostasia, heresia ou cisma;

São irregulares para exercer as ordens recebidas: quem foi

ordenado com uma das irregularidades mencionadas.

Page 75: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

179

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Requisitos prévios à ordenação:

Ter recebido o sacramento da sagrada confirmação (cf. c. 1033).

Ser previamente admitido entre os candidatos mediante o rito litúrgico de

admissão pela autoridade mencionada nos cânones 1016 e 1019, após prévio

pedido escrito de próprio punho e assinado, e após aceitação escrita dessa

autoridade (cf. c. 1034 §1). Não está obrigado a essa admissão quem estiver

ligado pelos votos a um instituto religioso clerical (§2).

Receber os ministérios de leitor e de acólito e os exercer por tempo

conveniente (cf. c. 1035 §1). Entre a recepção do acolitato e do diaconato,

deve interpor-se o intervalo de ao menos seis meses (§2).

Entregar ao Bispo próprio ou ao Superior maior competente uma declaração

escrita de próprio punho e assinada, no qual ateste que vai receber

espontânea e livremente a ordem sagrada e que pretende dedicar-se

perpetuamente ao ministério eclesiástico e, ao mesmo tempo, pedir para ser

admitido a receber a ordem (cf. c. 1036).

Assumir publicamente perante Deus e a Igreja a obrigação do celibato (cf. c.

1037). Salvo o candidato ao diaconato permanente casado ou quem já emitiu

votos perpétuos em Instituto religioso.

Dedicar-se a exercícios espirituais, ao menos por cinco dias, no lugar e modo

determinados pelo Ordinário (cf. c. 1039).

Prestar juramento de fidelidade (cf. CCDDS. Carta circular de 10/11/1997

sobre os escrutínios).

Page 76: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

180

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O MATRIMÔNIO, INSTITUIÇÃO NATURAL E SACRAMENTO DA NOVA

ALIANÇA

O pacto matrimonial, pela qual o homem e mulher constituem

entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao

bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, entre batizados foi

por Cristo Senhor elevado à dignidade de sacramento (c. 1055 §1).

O matrimônio, instituição natural

Dizer que o matrimônio é uma instituição natural significa que:

Tem sua origem na natureza humana;

Não é apenas uma entre múltiplas formas de união sexual entre pessoas, mas

é a forma especificamente humana de desenvolvimento completo da

sexualidade;

É de Direito natural e, por isso, a razão pode descobrir sua lógica intrínseca,

suas exigências morais e jurídicas, enquanto realização especificamente

humana;

Não é uma estrutura imposta por leis para organizar as uniões entre as

pessoas, mas é uma realidade prévia à intervenção (legítima) de qualquer

legislador, que regule o matrimônio com relação à sua dimensão social e à

sua incidência no bem comum.

A essência do matrimônio:

Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher,

e eles serão uma só carne (Gn 2,24).

Essa expressão “uma só carne” é recordada por Jesus Cristo no Evangelho (cf.

Mt 19,6) e pelo Concílio Vaticano II (cf. GS 48).

O matrimônio é uma unidade de dois:

a) É uma unidade nas naturezas que comporta uma comunhão de vida e amor;

b) O princípio formal do matrimônio (essência) é o vínculo jurídico;

c) Esse vínculo se caracteriza por três bens: ordenação à prole, unidade e

indissolubilidade.

As propriedades essenciais do matrimônio:

As propriedades essenciais do matrimônio são a unidade e a

indissolubilidade que, no matrimônio cristão, recebem firmeza especial

em virtude do sacramento (c. 1056).

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181

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os fins do matrimônio:

O matrimônio está ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à

geração e educação da prole (cf. c. 1055 §1). Fins intimamente relacionados e

coordenados entre si, sem que seja possível separá-los.

Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o

bem dos cônjuges e a transmissão da vida. Esses dois significados ou

valores do casamento não podem ser separados sem alterar a vida

espiritual do casal e sem comprometer os bens matrimoniais e o futuro

da família. Assim, o amor conjugal entre o homem e a mulher atende à

dupla exigência da fidelidade e da fecundidade (CCE 2363).

O matrimônio, sacramento da nova aliança

O matrimônio tem de específico (com relação aos outros

sacramentos) o ser sacramento de uma realidade que já existe na

economia da criação: o mesmo pacto conjugal instituído pelo Criador

desde o princípio (Exortação Familiaris Consortio, n. 68).

A natureza sacramental do matrimônio supõe:

a) Que a realidade natural descrita anteriormente (essência, propriedades e fins)

é elevada por Jesus Cristo à dignidade de sacramento entre batizados (cf. c.

1055 §1);

b) Que, entre batizados, não pode haver verdadeiro matrimônio natural que não

seja, por isso mesmo, sacramento (cf. 1055 §2);

c) Que a elevação do matrimônio à ordem da graça não anula a natureza, mas a

assume, eleva e aperfeiçoa, santificando-a com eficácia sacramental

específica.

O matrimônio é uma instituição natural, que tem para os batizados uma

dimensão sacramental. Essa sacramentalidade própria do matrimônio dos batizados faz

com que o matrimônio sacramental seja algo mais do que o matrimônio natural. Esse

algo mais não significa justaposição, mas que o matrimônio natural passa a ter uma

nova dimensão e função: a de sacramento.

Page 78: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

182

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O princípio de inseparabilidade entre contrato (pacto) e sacramento (letra b):

Portanto, entre batizados não pode haver contrato matrimonial

válido que não seja por isso mesmo sacramento (c. 1055 §2).

O efeito jurídico próprio e imediato do matrimônio não é a graça, mas o vínculo

conjugal cristão (cf. FC 13).

Do matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo

que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo; além disso, no

matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que

consagrados, com o sacramento especial, aos deveres e à dignidade do

seu estado (c. 1134).

O direito de matrimônio (ius connubii)

O direito de contrair matrimônio é um direito natural da pessoa humana e

também um direito fundamental do fiel cristão, no âmbito eclesial (cf. c. 219).

Dois aspectos integram o conteúdo desse direito:

O poder eficiente e exclusivo:

É o consentimento das partes legitimamente manifestado entre

pessoas juridicamente hábeis que faz o matrimônio; esse consentimento

não pode ser suprido por nenhum poder humano (c. 1057 §1).

A liberdade:

Podem contrair matrimônio todos os que não são proibidos pelo

direito (c. 1058).

Ao ordenamento jurídico corresponde não conceder, mas reconhecer esse

direito, como os cc. 1057 e 1058 citados fazem (e genericamente o c. 219).

Page 79: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

183

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Conceito-chave

Matrimonium

in fieri

Ato de fazer o

matrimônio

Consentimento Aliança (foedus)

Matrimonium

in facto esse

Estado de vida Realização

existencial

Consórcio (consorcio)

Elementos teológicos constitutivos do sacramento do matrimônio:

Sujeitos: os nubentes.

Ministros: os próprios nubentes.

Sinal sacramental: o próprio matrimônio.

Realidade significada: a união de Jesus Cristo com a Igreja.

Efeito próprio e imediato: o vínculo conjugal elevado e santificado pela graça do

Espírito Santo.

Elementos jurídicos constitutivos do matrimônio canônico enquanto ato:

1. Pessoas juridicamente hábeis;

2. Ato de consentir;

3. Manifestação legítima.

Page 80: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

184

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Conceitos

1. Matrimônio válido diante do Direito da Igreja (cf. cânon 1059): trata-se de um

conceito singular. Significa que este matrimônio concreto reúne todos os requisitos

para produzir efeitos jurídicos (contraído entre duas pessoas juridicamente hábeis,

que manifestam seu consentimento na forma da lei).

2. Matrimônio inválido: aquele que não causa efeitos jurídicos, por defeito essencial

do consentimento ou por impedimento dirimente ou por defeito da forma canônica.

3. Matrimônio putativo ou presuntivo (cf. cânon 1061 §3): matrimônio inválido

celebrado de boa fé (ao menos por uma das partes), enquanto ambas as partes não se

certificarem de sua nulidade.

4. Matrimônio tentado: tentativa de matrimônio. Matrimônio inválido (nulo) contraído

de má fé por uma das partes.

5. Matrimônio inexistente: aquele que não existiu o consentimento e não pode, por

conseguinte, ser sanado na sua raiz.

6. Matrimônio público: matrimônio contraído na forma canônica ordinária ou

extraordinária. Há publicidade de fato (notoriedade) ou de direito (pode ser provado

juridicamente). Registro eclesiástico ordinário (por natureza, é público).

7. Matrimônio celebrado secretamente: aquele em que as investigações prévias e a

celebração são mantidos em segredo pelo Ordinário do local, pelo ministro

assistente, pelas testemunhas ordinárias e pelos próprios cônjuges. Registro no

arquivo secreto da Cúria diocesana.

8. Matrimônio natural: matrimônio válido pelo Direito natural.

9. Matrimônio civil (cerimônia civil, nunca matrimônio civil para católicos): entre

católicos, tem efeitos jurídicos apenas no Estado.

10. Matrimônio canônico: matrimônio celebrado de acordo com a forma canônica. Tem

efeitos jurídicos na Igreja e em alguns Estados em virtude do Direito concordatário.

11. Matrimônio ratificado pelo sacramento: matrimônio válido entre batizados.

12. Adquire uma dimensão nova dada pelo sacramento.

13. Matrimônio consumado pelo ato conjugal: se os cônjuges realizarem entre si, de

modo humano, o ato conjugal apto por si para a geração da prole (cf. cânon 1061

§1).

Page 81: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

185

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O REGIME CANONICO DO MATRIMONIO

O cuidado pastoral

Os pastores de almas têm a obrigação de cuidar que a própria

comunidade eclesial preste assistência aos fiéis, para que o estado

matrimonial se mantenha no espírito cristão e progrida na perfeição.

Essa assistência deve prestar-se, sobretudo:

1° - pela pregação, pela catequese apropriada aos menores, aos jovens e

adultos, mesmo com o uso dos meios de comunicação social, com que

sejam os fiéis instruídos sobre o sentido do matrimônio e o papel dos

cônjuges e pais cristãos;

2° - com a preparação pessoal para contrair matrimônio, pela qual os

noivos se disponham para a santidade e deveres do seu novo estado;

3° - com a frutuosa celebração litúrgica do matrimônio, pela qual se

manifeste claramente que os cônjuges simbolizam o mistério da unidade

e do amor fecundado entre Cristo e a Igreja, e dele participam;

4° - com o auxílio prestado aos casados para que, guardando e

defendendo fielmente a aliança conjugal, cheguem a levar na família

uma vida cada vez mais santa e plena (c. 1063).

Etapas:

Preparação remota para o casamento: catequese de crianças, jovens e adultos

(dar conceitos e transmitir valores);

Preparação próxima para o casamento: o noivado. Oportunidade para a

catequese pré-matrimonial;

Celebração litúrgica do matrimônio;

Pastoral pós-matrimonial (pós-celebração).

Sobre as etapas da pastoral familiar, vide Exortação apostólica Familiaris

consortio, nn. 65-69.

Page 82: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

186

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O processo de habilitação matrimonial

Antes da celebração do matrimônio, deve constar que nada

impede a sua válida e lícita celebração (c. 1066).

Finalidade:

Recolher os dados pessoais dos nubentes e averiguar claramente a ausência

de impedimentos para a celebração válida e lícita do matrimônio;

Adquirir certeza moral sobre a liberdade do consentimento que os nubentes

deverão prestar;

Verificar e, se necessário, suprir o grau de instrução suficiente dos noivos

acerca da doutrina católica sobre o matrimônio.

Etapas:

Os documentos a serem apresentados: formulário devidamente preenchido,

contendo dados pessoais e declaração assinada pelos nubentes que não estão

detidos por qualquer impedimento ou proibição e que aceitam o sacramento

do matrimônio, tal como a Igreja o entende. Além disso:

a) Certidão de batismo;

b) Atestado de óbito do cônjuge anterior (se for o caso);

c) Comprovante de habilitação para o casamento civil;

d) Outros documentos eventualmente necessários.

Os proclamas: Faça-se a publicação do futuro matrimônio. A forma escrita é

mais apropriada (quadro de avisos na entrada do templo, boletim paroquial).

O exame dos noivos: Uma conversa franca e informal com cada um dos

noivos em separado e com os dois reunidos.

A instrução sobre o matrimônio (catequese pré-matrimonial): Em geral, o

denominado curso de noivos (encontro de noivos).

Page 83: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

187

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O resultado do processo de habilitação matrimonial:

Não aparece nenhum impedimento: proceda-se à celebração.

Aparece um impedimento certo:

Dispensável: procure-se a dispensa;

Não dispensável: com prudência pastoral, informe-se os noivos da

impossibilidade da celebração.

Aparece um impedimento duvidoso:

Na dúvida de direito: prevalece o princípio da liberdade.

Na dúvida de fato:

a) Impedimento de direito eclesiástico: procure-se a dispensa

ad cautelam;

b) Impedimento de direito natural: prevalece o princípio de

liberdade. Exceto nos seguintes casos: impedimento de

impotência (c. 1084 §2), impedimento de vínculo (c. 1085

§2), impedimento de consangüinidade na linha reta ou no

segundo grau da linha colateral (c. 1091 §4).

Page 84: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

188

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As proibições do cânon 1071

O cânon 1071 enumera sete hipóteses em que, “fora do caso de necessidade”, se

proíbe que alguém assista, ou seja, atue em representação da Igreja (proibição dirigida

ao ministro assistente), num casamento sem a licença do Ordinário local.

1) O matrimônio de vagantes: a razão da proibição é evitar a possibilidade de

fraude;

2) O matrimônio que não possa ser reconhecido ou celebrado civilmente: a

razão da proibição é assegurar os direitos da família também no âmbito civil

(vide CNBB, Documento 12, p.11);

3) O matrimônio de quem tem obrigações naturais, originadas de união

precedente, para com outra parte ou para com filhos;

4) O matrimônio de quem tenha abandonado notoriamente a fé católica:

Abandonar a fé não significa aderir a outra confissão religiosa, mas

consiste na recusa positiva da fé (“não sou católico”, “não creio na Igreja”).

5) O matrimônio de quem esteja sob uma censura:

Conceito de censura: pena medicinal (aquela que procura em primeiro

lugar a emenda do delinqüente), mediante a qual a pessoa batizada fica privada

de alguns bens espirituais ou anexos aos espirituais, até que, desistindo de sua

atitude reprovável, seja absolvida.

Tipos de censura: excomunhão, interdito e suspensão.

No caso do direito matrimonial, a suspensão não entra em questão,

porque só pode ser aplicada a clérigos (impedimento de ordem sagrada).

6) O matrimônio de um menor, sem o conhecimento ou contra a vontade

razoável de seus pais (maioridade 18 anos);

7) O matrimônio a ser contraído por procurador, mencionado no cânon 1105.

Page 85: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

189

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os impedimentos matrimoniais

Os impedimentos em geral:

Os impedimentos são circunstâncias objetivas tipificadas pelo Direito como

inabilitantes da pessoa (cf. c. 10) para contrair matrimônio validamente (cf. c. 1073).

O impedimento dirimente torna a pessoa inábil para contrair

validamente o matrimônio (c. 1073).

Apenas a autoridade suprema da Igreja pode tipificar (classificar em tipos)

impedimentos matrimoniais:

Pode declarar que uma circunstância faz nulo o matrimônio por Direito

divino;

Pode estabelecer novos impedimentos por Direito eclesiástico.

Compete exclusivamente à autoridade suprema da Igreja

declarar autenticamente em que casos o direito divino proíbe ou dirime

o matrimônio (c. 1075 §1).

Considera-se público o impedimento que se pode provar no foro

externo; caso contrário, é oculto (c. 1074).

Classificação dos impedimentos:

1. De Direito divino (natural ou revelado);

2. De Direito eclesiástico;

3. Público: que pode se provar no foro externo;

4. Oculto: que não se pode provar ou que, de fato, não tem divulgação;

5. Dirimente: que afeta a validade;

6. Impediente: que afeta a licitude.

Atenção: No CIC 1983, todos os impedimentos matrimoniais são dirimentes.

Page 86: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

190

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os impedimentos em particular:

1. Idade

2. Impotência

3. Disparidade de culto

4. Vínculo

5. Ordem sagrada

6. Voto

7. Rapto

8. Crime

9. Parentesco: consanguinidade, afinidade, honestidade pública, parentesco

legal

Dispensa dos impedimentos:

A dispensa é relaxação de uma lei meramente eclesiástica num caso particular,

concedida pela autoridade competente (cf. c. 85).

É sempre um ato singular. Não há dispensas de caráter geral.

Autoridade competente para dispensar dos impedimentos matrimoniais:

O Ordinário local pode dispensar os seus súditos, onde quer que

se encontrem, e todos os que se acham no seu território, de todos os

impedimentos de direito eclesiástico, exceto aqueles cuja dispensa se

reserva à Sé Apostólica (c. 1078 §1).

Os impedimentos cuja dispensa se reserva à Sé Apostólica são:

1° - o impedimento proveniente de ordens sagradas ou do voto público

perpétuo de castidade num instituto religioso de direito pontifício;

2° - o impedimento de crime mencionado no cânon 1090 (§2).

Nunca se dá dispensa do impedimento de consanguinidade em

linha reta ou no segundo grau da linha colateral (§3).

Page 87: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

191

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Impedimento de idade

Cânon 1083 § 1. O homem antes dos dezesseis anos completos

e a mulher antes dos catorze também completos não podem contrair

matrimônio válido.

§ 2. Compete a conferência dos Bispos estabelecer uma idade

superior para a celebração lícita do matrimônio.

Impedimento de impotência

Cânon 1084 § 1. A impotência para copular, antecedente e

perpétua, absoluta ou relativa, por parte do homem ou da mulher, dirime

o matrimônio por sua própria natureza.

§ 2. Se o impedimento de impotência for duvidoso, por dúvida

quer de direito quer de fato, não se pode impedir o matrimônio nem,

permanecendo a dúvida, declará-lo nulo.

§ 3. A esterilidade não proíbe nem dirime o matrimônio, salva a

prescrição do c. 1098.

Impedimento de vínculo

Cânon 1085 § 1. Tenta invalidamente contrair matrimônio

quem está ligado pelo vínculo de matrimônio anterior, mesmo que este

matrimônio não tenha sido consumado.

§ 2. Ainda que o matrimônio anterior tenha sido nulo ou

dissolvido por qualquer causa, não é lícito contrair outro, antes que

conste legitimamente e com certeza a nulidade ou a dissolução do

primeiro.

O c. 1085 proíbe a poligamia. Estabelece que o sujeito que está ligado por um

vínculo matrimonial não pode contrair matrimônio com terceira pessoa sob pena de

nulidade. O fundamento desse impedimento é a igualdade entre homem e mulher. O

impedimento de vínculo não pode ser dispensado.

Sobre a dissolução do vínculo matrimonial, ver adiante.

Page 88: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

192

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Impedimento de disparidade de culto

Cânon 1086 § 1. É inválido o matrimônio entre duas pessoas,

uma das quais tenha sido batizada na Igreja católica ou nela recebida e

que não a tenha abandonado por um ato formal, e outra não é batizada.

§ 2. Não se dispense desse impedimento, a não ser cumpridas as

condições mencionadas nos cc. 1125 e 1126.

§ 3. Se, no tempo em que se contraiu matrimônio, uma parte era

tida comumente como batizada ou seu batismo era duvidoso, deve-se

presumir a validade do matrimônio, de acordo com o c. 1060, até que se

prove com certeza que uma das partes era batizada e a outra não.

Impedimentos de acatolicidade:

a) O c. 1086 proíbe com caráter dirimente que um cristão católico contraia

matrimônio com pessoa não batizada;

b) O c. 1124 proíbe que (sem licença do Ordinário local) se celebre matrimônio

entre um cristão católico e um cristão não católico.

c) O c. 1071 §1, 4º proíbe que (sem licença do Ordinário local) se celebre

matrimônio quando um dos contraentes abandonou notoriamente a fé

católica.

O conceito de “católico” presente no CIC 1983:

O c. 11 entende por católico aquela pessoa que foi batizada na Igreja católica ou

batizada fora da Igreja católica posteriormente foi nela recebida. A esse conceito é

aplicável o aforismo semel catholicus semper catholicus, ou seja, quem em algum

momento da sua vida foi católico será sempre considerado como católico.

Os cc. 1086 e 1124 proporcionavam outra acepção do conceito de católico. O

Papa Bento XVI, porém, eliminou essa hipótese.

O c. 1071 §1, 4º tem em conta a adesão interna à religião católica, mas apenas no

caso de notoriedade (notório: aquilo que pode ser provado).

Page 89: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

193

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Impedimento de ordem

Cânon 1087. Tentam invalidamente o matrimônio os que

receberam ordens sagradas.

Impedimento de voto

Cânon 1088. Tentam invalidamente o matrimônio os que estão

ligados por voto público perpétuo de castidade num instituto religioso.

Impedimento de rapto

Cânon 1089. Entre um homem e uma mulher arrebatada

violentamente ou retida com intuito de casamento, não pode existir

matrimônio, a não ser que depois a mulher, separada do raptor e

colocada em lugar seguro e livre, escolhe espontaneamente o

matrimônio.

Impedimento de crime

Cânon 1090 § 1. Quem, com o intuito de contrair matrimônio

com determinada pessoa, tiver causado a morte do cônjuge desta, ou do

próprio cônjuge, tenta invalidamente este matrimônio.

§ 2. Tentam invalidamente o matrimônio entre si também

aqueles que, por mútua cooperação física ou moral, causaram a morte

do cônjuge.

Page 90: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

194

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Impedimento de consanguinidade

Cânon 1091 § 1. Na linha reta de consanguinidade, é nulo o

matrimônio entre todos os ascendentes e descendentes, tanto legítimos

como naturais.

§ 2. Na linha colateral, é nulo o matrimônio até o quarto grau

inclusive.

§ 3. O impedimento de consanguinidade não se multiplica.

§ 4. Nunca se permita o matrimônio, havendo alguma dúvida se

as partes são consanguíneas em algum grau de linha reta ou no segundo

grau da linha colateral.

Impedimento de afinidade

Cânon 1092 A afinidade em linha reta torna nulo o matrimônio

em qualquer grau.

Impedimento de honestidade pública

Cânon 1093. O impedimento de honestidade pública origina-se

de matrimônio inválido, depois de instaurada a vida comum, ou de um

concubinato notório e público; e torna nulo o matrimônio no primeiro

grau da linha reta entre o homem e as consangüíneas da mulher, e vice-

versa.

Impedimento de parentesco legal

Cânon 1094. Não podem contrair validamente matrimônio os

que estão ligados por parentesco legal surgido de adoção, em linha reta

ou no segundo grau da linha colateral.

Page 91: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

195

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O consentimento matrimonial

O consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual um

homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se

recebem mutuamente para constituir matrimônio (c. 1057 §2).

É de grande importância para o Direito regular a celebração válida do

matrimônio (matrimônio in fieri), porque do pacto matrimonial válido nasce o vínculo

matrimonial, pelo qual os cônjuges passam a ser matrimônio (matrimônio in facto esse),

com direitos e deveres mútuos, perpétuos e exclusivos.

Uma vez prestado o consentimento matrimonial com os devidos requisitos:

O matrimônio goza do favor do direito; portanto, em caso de

dúvida, deve-se estar pela validade do matrimônio, enquanto não se

prova o contrário (c. 1060).

Anomalias do consentimento Cânon

Incapacidade 1095

Vícios (defeitos) 1096-1107

Incapacidade consensual:

São incapazes de contrair matrimônio:

1°- os que não têm suficiente uso da razão;

2°- os que têm grave falta de discrição de juízo a respeito dos direitos e

obrigações essenciais do matrimônio, que se devem mutuamente dar e

receber;

3°- Os que não são capazes de assumir as obrigações essenciais do

matrimônio, por causas de natureza psíquica (c. 1095).

O objetivo do legislador é definir a capacidade para o consentimento e

estabelecer critérios jurídicos para medir seu defeito. O c. 1095 estabelece três critérios

de valor normativo de significação jurídica: o uso da razão, a discrição de juízo e a

capacidade de assumir os deveres conjugais essenciais.

Page 92: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

196

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Noção de capacidade consensual: Goza de capacidade de contrair matrimônio o

sujeito que, além do uso da razão necessário para o ato humano das núpcias, tem

discrição de juízo sobre os direitos e deveres conjugais, que se dão e de aceitam ao

fundar o vínculo conjugal, e capacidade de assumir as obrigações essenciais do

matrimônio, pelas quais o consórcio tende aos seus fins objetivos ao longo de toda a

existência do matrimônio. Uso da razão, discrição de juízo e capacidade de assumir

definem o conteúdo da capacidade consensual. Quem os possui é capaz. O

consentimento que os contêm é válido.

Carência de suficiente uso da razão: por falta de desenvolvimento psíquico

suficiente (crianças), por transtorno permanente (congênito ou adquirido),

por transtorno transitório (p. ex. uso de drogas).

Grave defeito de discrição de juízo sobre os direitos e deveres essenciais do

matrimônio: a discrição de juízo significa conhecimento prático,

discernimento, saber ponderar as coisas, porque deve haver uma adequada

proporcionalidade entre as obrigações conjugais e a capacidade de entendê-

las e querê-las por parte do contraente.

Incapacidade de assumir, por causas de natureza psíquica, as obrigações

essenciais do matrimônio: a expressão “causas de natureza psíquica” tem

sentido patológico. É necessária a intervenção de peritos (psiquiatras).

Observação: os transtornos psíquicos que produzem esse tipo de

incapacidade podem afetar mais ou menos o uso da razão, impedir mais ou

menos o discernimento, mas sempre causam incapacidade patológica de

assumir as obrigações essenciais do matrimônio.

Suposto de fato: literalmente “figura do fato” (facti species). Situação de

fato da qual a norma positiva faz derivar determinadas consequências

jurídicas.

Page 93: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

197

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Vícios do consentimento:

o Os vícios que incidem sobre o entendimento:

1.1 – Ignorância (cf. c. 1096)

1.2 – Erro:

1.2.1 Erro sobre a instituição matrimonial (cf. c. 1099)

1.2.2 Erro sobre a pessoa (cf. c. 1097)

1.2.3 Erro doloso (cf. c. 1098)

o Os vícios que incidem sobre a vontade:

2.1 – Simulação (cf. c. 1101):

2.2 – Violência física e medo (cf. c. 1103):

2.3 – Condição (cf. c. 1102):

A ignorância

Cânon 1096 § 1. Para que possa haver consentimento

matrimonial, é necessário que os contraentes não ignorem, pelo menos,

que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher,

ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual.

§ 2. Essa ignorância não se presume depois da puberdade.

O erro sobre a instituição matrimonial

Cânon 1099 O erro a respeito da unidade, da indissolubilidade

ou da dignidade sacramental do matrimônio, contanto que não

determine a vontade, não vicia o consentimento matrimonial.

O erro sobre a pessoa

Cânon 1097 § 1. O erro de pessoa torna inválido o matrimônio.

O erro sobre qualidade

§ 2. O erro de qualidade da pessoa, embora seja causa do

contrato, não torna nulo o matrimônio, salvo se essa qualidade for direta

e principalmente visada.

Page 94: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

198

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O erro doloso Cânon 1098 Quem contrai matrimônio, enganado por dolo

perpetrado para obter o consentimento matrimonial, a respeito de

alguma qualidade da outra parte, e essa qualidade, por sua natureza,

possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai

invalidamente.

O consentimento simulado

Presume-se que o consentimento interno está em conformidade

com as palavras ou com os sinais empregados na celebração do

matrimônio (c. 1101 §1).

Contudo, se uma das partes ou ambas, por ato positivo de

vontade, excluem o próprio matrimônio, algum elemento essencial do

matrimônio ou alguma propriedade essencial, contraem invalidamente

(§2).

As diversas hipóteses de simulação ou restrição do consentimento são as

seguintes:

Exclusão do próprio matrimônio (simulação total): a comunhão de vida.

Mais do que um vício, é ausência de consentimento;

Exclusão de algum elemento essencial do matrimônio: o bem dos cônjuges, a

geração da prole ou a educação da prole;

Exclusão de alguma das propriedades essenciais do matrimônio: a unidade

ou a indissolubilidade.

O consentimento coagido

Cânon 1103 É inválido o matrimônio contraído por violência ou

por medo grave proveniente de causa externa, ainda que incutido não

propositadamente, para se livrar do qual alguém seja forçado a escolher

o matrimônio.

O consentimento sob condição

Cânon 1102 § 1. Não se pode contrair validamente o

matrimônio sob condição de futuro.

§ 2. O matrimônio contraído sob condição de passado ou de

presente é válido ou não, conforme exista ou não aquilo que é objeto da

condição.

§ 3. Todavia, a condição, mencionada no § 2, não pode

licitamente ser colocada sem a licença escrita do Ordinário local.

Page 95: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

199

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A forma canônica de celebração do matrimônio

o Declaração de vontade diante de um representante da hierarquia

eclesiástica e de suas testemunhas (cf. c. 1108);

o Forma comutada (c. 1127 §2);

o Declaração de vontade diante de duas testemunhas (c. 1116);

o Declaração de vontade diante do Ordinário local ou de presbítero

delegado por este (cf. normas CDF de 13/1/1971);

o Declaração de vontade diante de um ministro ordenado cristão (c. 1127

§1)

Forma ordinária de celebração do matrimônio

Somente são válidos os matrimônios contraídos perante o

Ordinário local ou o pároco, ou um sacerdote ou diácono delegado por

qualquer um dos dois como assistente, e, além disso, perante duas

testemunhas, de acordo porém com as normas estabelecidas nos

cânones seguintes, e salvas as exceções contidas nos cânones 144, 1112,

§ 1, 1116 e 1127, §§ 2-3 (c. 1108 §1).

Considera-se assistente do matrimônio somente aquele que,

estando presente, solicita a manifestação do consentimento dos

contraentes, e a recebe em nome da Igreja (§2).

A forma jurídica substancial: manifestação e recepção do consentimento.

Elementos da forma canônica ordinária de celebração:

A presença dos contraentes;

A expressão verbal do consentimento (cf. c. 1104);

A presença e atuação do ministro assistente;

A presença das testemunhas ordinárias (cf. c. 1108).

Atenção: a observância da forma canônica de celebração é necessária para a

validade do matrimônio.

Quem está obrigado à forma canônica:

A forma acima estabelecida deve ser observada, se ao menos

uma das partes contraentes tiver sido batizada na Igreja católica ou nela

tenha sido recebida, salvas as prescrições do cânon 1127 §2 (c. 1117).

Há uma importante exceção: o caso em que um cristão católico contrai

matrimônio com um cristão oriental não católico (cf. c. 1127 §1).

Page 96: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

200

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Dispensa da forma canônica, no caso dos matrimônios mistos:

Se graves dificuldades obstam à observância da forma canônica,

é direito do Ordinário local da parte católica dispensar dela em cada

caso, consultado, porém o Ordinário do lugar onde se celebra o

matrimônio e salva, para a validade, alguma forma pública de

celebração; compete à Conferência dos Bispos estabelecer normas,

pelas quais se conceda a dispensa de modo concorde (c. 1078 §2).

Celebração em forma canônica extraordinária:

Se não é possível, sem grave incômodo, ter o assistente

competente de acordo com o direito, ou não sendo possível ir a ele, os

que pretendem contrair verdadeiro matrimônio podem contraí-lo válida

e licitamente só perante as testemunhas:

1°- em perigo de morte;

2°- fora de perigo de morte, contanto que prudentemente se preveja que

esse estado de coisas vai durar por um mês (c. 1116 §1).

Declaração de vontade diante de um ministro ordenado cristão

Cânon 1127 § 1. No que se refere à forma a ser empregada nos

matrimônios mistos, observem-se as prescrições do c. 1108; mas, se a

parte católica contrai matrimônio com outra parte não-católica de rito

oriental, a forma canônica deve ser observada só para a liceidade; para a

validade, porém, requer-se a intervenção de um ministro sagrado,

observando-se as outras prescrições do direito.

A forma comutada

§ 2. Se graves dificuldades obstam à observância da forma

canônica, é direito do Ordinário local da parte católica dispensar dela

em cada caso, consultado, porém o Ordinário do lugar onde se celebra o

matrimônio e salva, para a validade, alguma forma pública de

celebração; compete à Conferência dos Bispos estabelecer normas,

pelas quais se conceda a dispensa de modo concorde.

A forma canônica de celebração do matrimônio pode ser substituída por outra

forma pública de celebração, quando um dos contraentes não é católico e existem

dificuldades graves para utilizar a forma canônica.

A forma litúrgica do matrimônio:

Sejam observados os ritos litúrgicos para a licitude (cf. cânones 1119-1120).

Page 97: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

201

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A revalidação do matrimônio

O matrimônio pode resultar nulo por três motivos fundamentais:

Impedimento dirimente (lei inabilitante da pessoa);

Consentimento:

Incapacidade consensual (lei inabilitante da pessoa);

Vício do consentimento (lei irritante do ato jurídico);

Falta de forma canônica (lei irritante do ato jurídico).

Se um matrimônio for celebrado invalidamente por algum motivo, pode ser

instaurado o processo judicial para a declaração de nulidade. Muitas vezes, porém, essa

não é a atuação mais adequada.

Antes de aceitar a causa e sempre que percebe esperança de

sucesso, o juiz use meios pastorais a fim de que os cônjuges sejam

levados a convalidar eventualmente o matrimônio e restabelecer a

convivência conjugal (c. 1676).

Com essa finalidade, o CIC 1983 regula:

A convalidação simples (cf. cc. 1156-1160): é um ato de renovação do

consentimento por parte de um ou dos dois cônjuges, com ou sem nova

celebração. A convalidação simples é um instituto de foro interno. Não é

necessária publicidade, nem prova da sua realização. Sua função é

tranqüilizar a consciência de quem julga acertada ou equivocadamente que

seu matrimônio é nulo, mas não pode provar a sua consideração diante do

Tribunal eclesiástico.

A sanação na raiz (sanatio in radice) (cf. cc. 1161-1165): é um ato

administrativo de dispensa (graça) pelo qual a autoridade competente

concede validade a um matrimônio nulo. A autoridade eclesiástica dispensa

das leis meramente eclesiásticas, que impedem que o consentimento dos

contraentes produza o vínculo matrimonial.

Page 98: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

202

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Convalidação simples Sanação radical

Matrimônio nulo por defeito do

consentimento ou por impedimento.

Matrimônio nulo por defeito de forma

canônica ou por impedimento.

Há renovação do consentimento com

novo ato da vontade.

Revalidação do matrimônio, sem

renovação do consentimento.

A autoridade competente concede

dispensa da forma canônica e do

impedimento a posteriori.

Retroagem alguns efeitos jurídicos do

matrimônio (fundamentalmente a

filiação legítima dos filhos).

Alguns aspectos particulares da relação jurídica matrimonial:

O CIC 1983 descreve em parte o conteúdo essencial da relação jurídica

matrimonial nos cc. 1134-1140 (efeitos jurídicos do matrimônio).

A relação mútua entre os cônjuges: o vínculo matrimonial é único, perpétuo,

exclusivo e mútuo.

A relação dos cônjuges com a prole: o dever da paternidade responsável.

A relação entre os cônjuges e a comunidade eclesial: os cônjuges têm o

dever de testemunhar a união de Jesus Cristo com a Igreja e o direito de

receber ajuda da comunidade. A comunidade, por sua vez, tem a obrigação

de ajudar os esposos a cumprir o seu dever.

Page 99: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

203

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A dissolução do matrimônio

O matrimônio pode ser dissolvido:

a) Por morte;

b) Por não consumação, cf. procedimento previsto nos cc. 1697-1706;

c) Por procedimento denominado privilégio paulino (cf. cc. 1143-1147);

d) Por procedimento previsto no c. 1148;

e) Por procedimento previsto no c. 1149.

O matrimônio não consumado:

O matrimônio não consumado entre batizados, ou entre uma

parte batizada e outra não-batizada, pode ser dissolvido pelo Romano

Pontífice por justa causa, a pedido de ambas as partes ou de uma delas,

mesmo que a outra se oponha (c. 1142).

O privilégio paulino:

O matrimônio celebrado entre dois não batizados dissolve-se

pelo privilégio paulino, em favor da fé da parte que recebeu o batismo,

pelo próprio fato de esta parte contrair novo matrimônio, contanto que a

parte não-batizada se afaste (c. 1143 §1).

Considera-se que a parte não-batizada se afasta, se não quer

coabitar com a parte batizada, ou se não quer coabitar com ela

pacificamente sem ofensa ao Criador, a não ser que esta, após receber o

batismo, lhe tenha dado justo motivo para se afastar (§2).

Page 100: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

204

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Quadro resumo

Cânon 1055: o pacto matrimonial.

Cânon 1057: o consentimento.

Ato jurídico

Pessoas juridicamente

hábeis

Capacidade legal da pessoa Impedimentos

cc.1083-1094

Consentimento

Capacidade de consentir Incapacidade consensual

c.1095

Ato de consentir Defeitos (vícios)

cc.1096-1107

Manifestação legítima

do consentimento

Forma de celebração

Falta da forma canônica

cc.1108-1123

Capacidade consensual Incapacidade

Uso da razão Razão teórica Ex parte rationis

Discrição de juízo Razão prática

Capacidade de assumir Vontade livre Ex parte voluntatis

Observação: há interdependência das faculdades da inteligência e da vontade no

ato livre. A vontade move o entendimento a deliberar e também põe fim ao juízo prático

do entendimento.

Page 101: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

205

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

PARTE III – MISSÃO DA IGREJA

FUNÇÃO DE REGIME (ASPECTOS PARTICULARES)

OS BENS TEMPORAIS DA IGREJA

Os princípios fundamentais

1. Os bens temporais estão a serviço da missão da Igreja:

A Igreja católica, por direito originário, independentemente da

autoridade civil, pode adquirir, possuir, administrar e alienar bens

temporais, para a consecução de seus fins próprios (c. 1254 §1).

Direito originário e independente do Estado, mas não absoluto. A capacidade

patrimonial da Igreja não se justifica por fins de influência temporal (cf. GS 42).

Seus principais fins próprios são: organizar o culto divino,

cuidar do conveniente sustento do clero e dos demais ministros, praticar

obras de sagrado apostolado e de caridade, principalmente em favor dos

pobres (c. 1254 §2).

2. Os sujeitos com capacidade patrimonial:

A Igreja universal e a Sé Apostólica;

As demais pessoas jurídicas públicas (circunscrições eclesiásticas, paróquias,

seminários, institutos de vida consagrada e sociedades de vida apostólica,

associações públicas);

As pessoas jurídicas privadas (cf. c. 1255).

3. Os bens eclesiásticos:

Todos os bens temporais pertencentes à Igreja universal, à Sé

Apostólica ou a outras pessoas jurídicas públicas na Igreja são bens

eclesiásticos e se regem pelos cânones seguintes e pelos estatutos

próprios (c. 1257 §1).

Os bens temporais de uma pessoa jurídica privada se regem

pelos estatutos próprios e não por estes cânones, salvo expressa

determinação em contrário (§2).

Page 102: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

206

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Administração significa gerenciamento de recursos para atingir objetivos:

1. Recursos humanos: pessoas.

2. Recursos materiais: bens temporais.

2.1 Aquisição

2.2 Conservação

2.3 Alienação

Organização econômica da sustentação dos ministros ordenados

Entregues ao serviço de Deus, pelo desempenho do cargo que

lhes foi confiado, os presbíteros são merecedores da justa recompensa,

visto que «o operário é digno do seu salário» (Lc 10,7) e «o Senhor

ordenou àqueles que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho»

(1 Cor 9,14).

A remuneração, porém, a receber por cada um, tendo em conta

a natureza do múnus e as circunstâncias dos tempos e dos lugares, seja

fundamentalmente a mesma para todos aqueles que se encontrem nas

mesmas condições, e proporcional à sua situação, que lhes permita,

além disso, não só prover devidamente à remuneração daqueles que se

encontram ao seu serviço, mas também auxiliar por si mesmos de algum

modo aos pobres, já que nos primeiros tempos a Igreja teve sempre em

grande conta o serviço dos pobres. Esta remuneração deve, além disso,

ser tal, que permita aos presbíteros, todos os anos, ter algum tempo de

férias, justo e suficiente, que os Bispos devem fazer que lhes seja

possível.

É necessário, todavia, dar a principal importância à missão que

os ministros sagrados desempenham. Por isso, o chamado sistema

beneficial seja abandonado ou, pelo menos, seja reformado de tal

maneira que a parte beneficial ou o direito aos rendimentos anexos, se

considere secundário, e se dê de direito o lugar de primazia ao próprio

ofício eclesiástico, que, de futuro, se deve entender como qualquer

múnus conferido estavelmente a exercer com um fim espiritual (PO 20).

Relação entre ofício e benefício: o sistema de benefícios eclesiásticos tendia a

deixar em segundo plano o sentido espiritual e pastoral do serviço do ministro

ordenado, concretizado no ofício.

A reforma exigida pelo Concílio Vaticano II é acolhida pelo CIC 1983.

Page 103: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

207

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Haja em cada diocese um instituto especial que, recolhendo os

bens ou as ofertas, providencie, de acordo com o cânon 281, o sustento

dos clérigos que prestam serviço à diocese, a não ser que de outro modo

se tenha providenciado em favor deles (c. 1274 §1).

Onde a previdência social em favor do clero não está

devidamente constituída, cuide a Conferência dos Bispos que haja um

instituto, com o qual se providencie devidamente à seguridade social

dos clérigos (§2).

Em cada diocese constitua-se, enquanto necessário, um

patrimônio comum, com o qual os bispos possam satisfazer às

obrigações para com outras pessoas que estejam, a serviço da Igreja,

acudir às diversas necessidades da diocese, e por meio do qual as

dioceses mais ricas possam também socorrer as mais pobres (§3).

Toda Diocese tem o dever jurídico de constituir três fundos:

a) Fundo para o sustento do clero;

b) Fundo para a previdência social do clero;

c) Fundo comum diocesano para o sustento de outras pessoas que estão a

serviço da Igreja e para atender a outras necessidades da diocese, ajudando

também as dioceses mais pobres.

CIC 1983: BENS TEMPORAIS (cc. 1254-1310)

Aquisição dos bens (cc. 1259-1272)

Administração dos bens (cc. 1273-1289)

Contratos e alienação (cc. 1290-1298)

Vontades e fundações pias (cc. 1299-1310)

Page 104: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

208

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A TUTELA PENAL DA COMUNHÃO ECLESIAL

O Direito penal no âmbito da função pastoral

A função de governo inclui também o direito de punir (ius puniendi). Faz parte

do poder de regime o poder de impor racionalmente sanções proporcionais aos delitos

cometidos, a fim de proteger bens jurídicos relevantes, quando isso é exigido pelo bem

comum da Igreja e o bem espiritual do fiel cristão infrator.

A Igreja tem o direito nativo e próprio de punir com sanções

penais os fiéis delinqüentes (c. 1311).

Os fins que justificam o emprego de meios de coerção na Igreja:

O Ordinário só se decida a promover o procedimento judicial ou

administrativo para infligir ou declarar penas, quando vir que nem com

a correção fraterna, nem com a repreensão, nem através de outras vias

de solicitude pastoral, se pode reparar suficientemente o escândalo,

restabelecer a justiça e corrigir o réu (c. 1341).

Os três fins:

Reparar o escândalo;

Restabelecer a justiça;

Corrigir o réu.

Atenção: a imposição está incluída entre os recursos próprios da solicitude

pastoral. É, no entanto, o último recurso.

Conceito e elementos do delito

O delito é a violação externa e moralmente imputável de uma lei ou preceito que

tem anexa uma sanção penal.

Elementos:

Infração externa de uma lei ou preceito (elemento objetivo);

Infração gravemente imputável a quem a cometeu, por dolo ou por culpa

(elemento subjetivo);

Infração classificada como delito e castigada com pena por uma norma

jurídica (elemento legal).

Page 105: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

209

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Tipos de sanções canônicas

1. Penas medicinais ou censuras: Toda pena canônica é medicinal, porque se

orienta para a emenda do delinqüente e a seu bem espiritual. Esse aspecto

está especialmente ressaltado nas censuras.

Por ordem crescente de gravidade, as censuras (cf. cc. 1331-1333) são:

o Suspensão: pode ser imposta apenas aos clérigos. O ministro

ordenado fica proibido de exercer (total ou parcialmente) o poder de

ordem, o poder de regime ou o ofício. Seu direito de receber certos

bens fica suspenso;

o Interdito: o réu fica proibido de participar da liturgia ou receber os

sacramentos. Isso não afeta, porém, a sua comunhão jurídica com a

Igreja, nem o impede de exercer certas funções;

o Excomunhão: o réu é excluído juridicamente da comunhão

eclesiástica em certa medida (não pode celebrar sacramentos e

sacramentais, nem receber os sacramentos, nem participar como

ministro em qualquer ato de culto, nem desempenhar ofícios,

ministérios ou cargos eclesiásticos, nem tampouco realizar atos de

poder de regime).

2. Penas expiatórias: aqui são buscados mais diretamente os aspectos do

restabelecimento da justiça e da reparação do escândalo causado pelo delito.

Diferentemente das censuras, podem ser perpétuas ou ser impostas por um

tempo determinado ou indeterminado.

3. Remédios penais e penitências: os remédios penais são dirigidos à prevenção

do delito. São a admoestação e a repreensão. As penitências consistem no

mandato de realizar uma obra de caridade ou de piedade. Podem ser usadas

para substituir uma pena ou para agravar uma pena.

Observação:

Imputabilidade: significa que a responsabilidade de uma infração pode ser

atribuída formalmente, ou seja, enquanto delito, ao seu ator;

Culpa: omissão da devida diligência;

Dolo: intenção deliberada de infringir a norma jurídica.

Page 106: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

210

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Delitos e penas tipificados no CIC 1983

Cânones

Delitos contra a religião e a

unidade da Igreja

1364-1369

Delitos contra as

autoridades eclesiásticas e

contra a liberdade da Igreja

1370-1377

Usurpação de funções

eclesiásticas e delitos em

seu exercício

1378-1389

Crime de falsidade

1390-1391

Delitos contra obrigações

especiais

1392-1396

Delitos contra a vida e a

liberdade do homem

1397-1398

As garantias jurídicas e os recursos em matéria penal

Toda atuação penal tem caráter de último recurso. O Direito considera odiosa

(em sentido técnico) a matéria penal, na medida em que pode afetar gravemente a

situação jurídica das pessoas, a sua fama e a sua dignidade.

Por essa razão, cada um dos momentos da atividade jurídica penal está sujeito a

limitações e requisitos de procedimento, estabelecidos por normas canônicas. A

aplicação rigorosa do princípio da legalidade em matéria penal é um modo de garantir

os direitos dos fiéis cristãos e o exercício do direito de punir (ius puniendi) da

autoridade eclesiástica, sempre conforme com sua natureza e função na Igreja.

Por exemplo:

Interpretação estrita das leis penais (cf. cc. 18 e 36 §1);

Proibição de aplicação analógica das leis em matéria penal (cf. c. 19);

A interposição de qualquer recurso suspende automaticamente a execução da

pena (cf. c. 1353).

Page 107: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

211

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA NA IGREJA

A tutela dos direitos na vida eclesial

1. O reconhecimento dos direitos e sua efetiva proteção:

A Igreja é povo de Deus, que peregrina na história, em continuidade com a

missão redentora de Jesus Cristo. É comunidade, constituída e ordenada neste mundo

como uma sociedade. É enviada por Deus a todos os povos para ser sacramento

universal de salvação.

As exigências comuns de organização jurídica da vida em sociedade não são

estranhas à Igreja. Seria pouco prudente e presunçoso pensar diferente. A Igreja

necessita de meios adequados para promover a justiça das relações sociais em seu

interior, reconhecendo e restabelecendo os direitos dos fiéis cristãos.

Compete aos fiéis reivindicar e defender legitimamente os

direitos de que gozam na Igreja, no foro eclesiástico competente, de

acordo com o direito (c. 221 §1).

Os fiéis, caso sejam chamados a juízo pela autoridade

competente, têm o direito de ser julgados de acordo com as prescrições

do direito, a serem aplicadas com eqüidade (§2).

Os fiéis têm o direito de não ser punidos com penas canônicas,

a não ser de acordo com a lei (§3).

São objeto de juízo:

1° - direitos de pessoas físicas ou jurídicas a serem defendidos

ou reivindicados e fatos jurídicos a serem declarados;

2° - delitos, no que se refere à imposição ou declaração da pena

(c. 1400 §1).

2. Ações e exceções processuais:

Todo o direito é não só protegido mediante ação, salvo

determinação expressa em contrário, mas também mediante exceção (c.

1491).

A ação processual é o poder jurídico inviolável que habilita o autor a acudir a

quem tem jurisdição, com garantias de obter proteção e uma sentença favorável, se

provada a situação injusta que afirma padecer.

Page 108: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

212

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Ação Exceção

Parte demandante Parte demandada

Poder ativo Poder de defesa ou oposição frente à

demanda judicial interposta contra um

direito próprio.

Pode extinguir-se. É, por natureza, perpétua.

3. Conveniência de evitar os litígios desnecessários:

Todos os fiéis, mas principalmente os Bispos, empenhem-se

diligentemente afim de que se evitem, quanto possível, salva a justiça,

lides no povo de Deus e se componham pacificamente quanto antes (c.

1446 §1).

Sempre que alguém se julgar prejudicado por um decreto, é

sumamente desejável que se evite contenda entre ele e o autor do

decreto, e que se procure de comum acordo uma adequada solução entre

ambos, aproveitando-se inclusive da mediação e do esforço de pessoas

ponderadas, de modo que seja evitada ou dirimida a controvérsia por

caminho idôneo (c. 1733 §1).

O processo judicial tem caráter de recurso extremo.

O processo:

O processo é o marco jurídico, no qual juízes e Tribunais exercem sua jurisdição

para resolver os conflitos. Inicia com a ação de um sujeito frente a outro diante do

Tribunal de justiça. Consta de uma sucessão de atos jurídicos, que culminam com a

sentença mediante a qual a controvérsia é resolvida.

O CIC 1983 regula amplamente o processo em seu livro VII, que contém as

normas fundamentais do Direito processual canônico.

Page 109: Apostila Direito Eclesial_2 (1)

213

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A organização judicial na Igreja

Conceitos:

Jurisdição: autoridade para dizer o Direito. É o poder público que o Tribunal

(juiz) possui para tratar e definir as causas;

Competência: é a delimitação da jurisdição. É o âmbito de jurisdição do

Tribunal (juiz), ou seja, a esfera concreta de exercício do poder, determinado

pelo território ou outros elementos.

O Tribunal de primeira instância (cf. cc. 1419-1437):

Ordinariamente, toda diocese deve ter seu Tribunal de primeira instância. Se não

é possível, diversos Bispos diocesanos podem constituir, com aprovação da Sé

Apostólica, um Tribunal comum (interdiocesano) para julgar todas as classes de causas

ou apenas algumas delas (cf. c. 1423).

Os Tribunais de primeira instância podem ser formados por um único juiz ou por

um colégio de três ou cinco juízes, que tomará as suas decisões por maioria de votos.

O juiz de primeira instância nato em cada diocese é o Bispo diocesano (cf. c.

1419), que pode nomear um Vigário judicial, dotado de poder judicial ordinário. Podem

ser nomeados também um ou mais Vigários judiciais adjuntos (cf. c. 1420).

O Tribunal de segunda instância (cf. cc. 1438-1441):

O Tribunal de segunda instância ou de apelação para todas as dioceses

sufragâneas é normalmente o Tribunal da Arquidiocese metropolitana.

Os Tribunais dos Institutos religiosos clericais de direito pontifício:

Se a controvérsia for entre religiosos ou casas do mesmo

instituto religioso clerical de direito pontifício, o juiz de primeira

instância, salvo determinação contrária das constituições, é o Superior

provincial ou, sendo mosteiro sui iuris, o abade local (c. 1427 §1).

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214

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os Tribunais da Sé Apostólica (cf. cc. 1442-1445):

O Romano Pontífice, em razão do seu primado, é o juiz supremo para toda a

Igreja católica (cf. c. 1442). Sempre pode exercer livremente seu poder pleno, supremo,

imediato e universal. Qualquer fiel cristão pode levar diante da Sé Apostólica qualquer

causa, seja qual for o estado ou instância em que se encontre (cf. c. 1417), para pedir

que seja resolvido pessoalmente pelo Romano Pontífice, por juízes delegados ou por

Tribunais ordinários da Santa Sé. Essa petição do fiel cristão, no entanto, não comporta

necessariamente que o Romano Pontífice avoque a si a causa (cf. c. 1417 §2).

Para as chamadas causas maiores (cf. c. 1405 §1), a competência do Romano

Pontífice é exclusiva.

Os Tribunais ordinários da Sé Apostólica são os seguintes:

Tribunal da Rota Romana (cf. PB, art. 130);

Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica (cf. PB, art. 125).

A Rota Romana é o Tribunal ordinário constituído para receber apelações (cf. c.

1443). Cumpre normalmente a função de instância superior em grau de apelação ante a

Sé Apostólica. Tem, além disso, a função de velar pela unidade da jurisprudência e de

ajudar os Tribunais inferiores, mediante as suas sentenças (cf. PB, art. 126).

O Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica (cf. c. 1445) funciona em três

seções.

Primeira seção: Possui as competências típicas de um Tribunal supremo;

Segunda seção: Trata-se do único Tribunal administrativo da Igreja (cf. c.

1400 §2) existente na atual organização judicial;

Terceira seção: Dicastério da Cúria romana com competência para o governo

da administração da justiça na Igreja. Exerce a função de vigilância e

concede as aprovações e autorizações em matéria de organização de

Tribunais (cf. PB, art. 121-124).

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215

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

As partes que atuam no processo

1. O triângulo processual:

2. O patrocínio das partes:

A parte pode livremente constituir para si advogado ou

procurador, mas, além dos casos estabelecidos nos §§ 2 e 3, pode

também agir e responder pessoalmente, salvo se o juiz tiver julgado

necessária a ajuda de procurador ou advogado (c. 1481 §1).

3. As partes públicas:

Para as causas contenciosas, nas quais o bem público pode

correr perigo, e para as causas penais, constitua-se na diocese um

promotor de justiça, a quem cabe, por obrigação, tutelar o bem público

(c. 1430).

Para as causas em que se trata de nulidade da ordenação ou da

nulidade ou dissolução do matrimônio, constitua-se na diocese o

defensor do vínculo, a quem cabe, por obrigação, propor e expor tudo o

que razoavelmente possa ser aduzido contra a nulidade ou a dissolução

(c. 1432).

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216

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

OS PROCESSOS CANÔNICOS E

O SISTEMA DE JUSTIÇA ADMINISTRATIVA

O processo contencioso ordinário

O CIC 1983 regula, nos cc. 1501-1655, o processo contencioso ordinário

destinado a resolver qualquer controvérsia que não seja sobre matéria própria de um

processo especial.

Fase de introdução (postulatória)

Demanda (libelo introdutório): o processo inicia com a demanda (cf. c. 1501),

normalmente escrita, no qual o autor formula sua reivindicação, expondo os argumentos

que a fundamentam no Direito. O demandante deve ater-se aos requisitos do c. 1504.

Uma vez apresentada, o Vigário judicial designa os juízes do turno e o juiz presidente

admite a demanda, mediante decreto. Pode também rejeitá-la, se há motivos para isso

(cf. c. 1505).

Citação judicial e contestação da demanda: tendo sido admitida a demanda, o

juiz deve citar em juízo o demandado para que conteste a demanda por escrito ou

compareça diante do Tribunal (cf. cc. 1507-1510). Ao contestar a demanda, o

demandado pode admitir a reivindicação ou opor-se a ela, rebatendo os argumentos que

a fundamentam. Pode também alegar exceções (cf. c. 1491) ou inclusive formular uma

demanda contra o demandante, ou seja, uma ação de reconvenção (cf. c. 1494). Se o

demandado, devidamente citado, não se manifesta, o juiz manda que o processo siga

adiante em sua ausência (cf. cc. 1592-1595).

Fixação da dúvida e litiscontestação: a partir das petições e respostas das partes,

o juiz fixa por decreto a dúvida (dubium), estabelecendo os limites da controvérsia (cf.

cc. 1513-1514). Essa situação que ocorre como resultado da fixação da dúvida e que

leva para a seguinte fase do processo se chama litiscontestação (litis contestatio).

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217

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Fase de instrução (probatória)

Depois da litiscontestação, o juiz (cf. c. 1516) fixa um tempo conveniente para

recolher as provas que as partes e o próprio juiz consideram úteis para chegar a

esclarecer com certeza moral a verdade sobre a questão controvertida.

O princípio básico “o ônus da prova cabe a quem afirma” está recolhido no c.

1526 §1.

Declaração das partes (cf. cc. 1530-1538);

Prova documental (cf. cc. 1539-1546);

Prova testemunhal (cf. cc. 1547-1573);

Prova pericial (cf. cc. 1574-1581).

Publicação da causa: uma vez praticadas todas as provas propostas, o juiz dita o

decreto pelo qual ordena que sejam publicadas as atas (ou autos) do processo para que

facilite o seu conhecimento às partes e a seus advogados, na chancelaria do Tribunal (cf.

c. 1598 §1).

Conclusão da causa: quando as partes declaram que não tem mais nada a

acrescenta ou expira o prazo para apresentar novas provas ou ainda o juiz considera que

a instrução é suficiente, o mesmo emite o decreto de conclusão da causa (cf. c. 1599).

Fase de discussão

Discussão da causa (cf. cc. 1601-1606): a não que se considere suficiente uma

discussão oral diante do Tribunal, o juiz determina um prazo para as partes

apresentarem por escrito suas defesas ou alegações. Com essa discussão escrita, acaba a

intervenção das partes e se passa para a fase final do processo, que corresponde ao juiz.

Fase de decisão

Essa fase começa com a deliberação do juiz ou do Tribunal colegial (cf. cc.

1609-1610) sobre as atuações levadas a efeito no processo, que devem permitir alcançar

a certeza moral necessária para ditar a sentença.

A sentença definitiva é o ato mediante o qual é resolvida de forma motivada, ou

seja, explicando as razões de fato e de direito, a questão principal controvertida, dando a

cada uma das dúvidas a resposta adequada (cf. cc. 1607-1612).

A sentença não produz nenhum efeito jurídico antes de sua publicação ou

notificação, que pode ser feita entregando uma cópia para as partes ou enviando-a por

correio certificado (cf. cc. 1614-1615).

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218

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Coisa julgada e execução da sentença: a eficácia própria da sentença firme, isto

é, aquela contra a qual já não cabe recurso, se denomina de coisa julgada (cf. c. 1641).

A execução da sentença (cf. cc. 1650-1655), determinada pelo juiz mediante decreto,

compreende todas as atuações tendentes a aplicar efetiva e praticamente seu conteúdo,

impondo às partes o cumprimento de obrigações concernentes.

Recursos contra a sentença definitiva: o recurso mais geral é a apelação (cf. cc.

1628-1640). Consiste na impugnação da sentença pela parte que se considera

prejudicada diante do Tribunal superior ao que a ditou.

O CIC 1983 prevê também a possibilidade de impugnar uma sentença mediante

a querela de nulidade (cf. cc. 1619-1627), que pode ser interposta apenas nos casos nos

quais se considera que a sentença esteja afetada por algum vício de nulidade. Existe, por

fim, um recurso extraordinário denominado restituição in integrum (cf. cc. 1645-1648),

que cabe unicamente contra sentenças manifestadamente injustas, que tenham passado a

coisa julgada.

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219

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O processo contencioso oral

Qualquer causa pode tramitar mediante o processo contencioso oral, desde que

não seja excluída explicitamente pelo Direito e nenhuma das partes não se oponha.

Estão excluídas pelo Direito:

As causas de nulidade matrimonial (cf. c. 1690);

As causas que o Direito manda que sejam conhecidas por um Tribunal de

três ou cinco juízes (cf. c. 1425), porque o processo oral se desenvolve em

primeira instância diante de um único juiz (cf. c. 1657).

O processo contencioso oral está regulado pelos cc. 1658-1670.

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220

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

Os processos e procedimentos especiais

1. Processos matrimoniais:

o Processo de declaração de nulidade de matrimônio;

o Processo documental;

o Causas de separação matrimonial.

1.1 O processo de declaração de nulidade de matrimônio impugna

legitimamente a validade de um matrimônio, aduzindo uma ou mais causas

(capítulos de nulidade) e reclama do juiz que declare essa nulidade.

Esse processo é regulado nos cc. 1671-1685 e segue em grande parte nas

normas do processo contencioso ordinário.

A sentença é transmitida ex officio ao Tribunal de apelação (cf. c. 1682 §1).

Para que os cônjuges fiquem livres para contrair novo matrimônio, são

requeridas duas sentenças conformes, ou seja, que dois Tribunais de distinto

grau declarem a nulidade de seu matrimônio pela mesma razão (cf. c. 1684).

Em 25/01/2005, foi publicada a Instrução Dignitas Connubii dirigida a todos

os Tribunais eclesiásticos. Apresenta em uma única seqüência o itinerário

seguido na tramitação das causas de nulidade. Reproduz ordenadamente as

normas processuais vigentes, complementadas e harmonizadas com a

jurisprudência, as interpretações autênticas e a experiência prática (práxis),

desde a entrada em vigor do CIC 1983.

1.2 O processo documental (cf. cc. 1686-1688) versa também sobre a

nulidade matrimonial, mas só pode ser empregado nos casos previstos em

lei, ou seja, nos quais a nulidade pode ser comprovada imediatamente à vista

de um documento que tenha crédito.

Por exemplo: A existência de um impedimento que não foi dispensado.

1.3 As causas de separação matrimonial com permanência do vínculo entre

os cônjuges (cf. cc. 1151-1155 + cc. 1692-1696), além da possibilidade de

procedimento por decreto do Bispo diocesano, o CIC 1983 prevê que pode

ser desenvolvido um processo judicial especial. Esse processo é concluído

com sentença do juiz e pode tramitar segundo as normas do processo

contencioso oral, com intervenção necessária do promotor de justiça.

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221

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

2. Processo de declaração de nulidade de ordenação:

Quando um clérigo pretende que a sua ordenação foi nula, deve dirigir uma

petição à Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos (cf.

PB, art. 68), que decidirá se resolve a causa diretamente por via

administrativa ou mediante Tribunal por ela designado.

A petição pode também ser feita pelo seu Ordinário ou pelo Ordinário da

diocese que o ordenou. As normas especiais dos cc. 1708-1712 incluem a

exigência de dupla sentença conforme favorável à nulidade.

3. Processo penal:

A imposição de penas canônicas deve ser feita mediante processo judicial

ou, em casos nos quais a lei não proíbe, mediante procedimento

administrativo sancionador, no qual é provado que o réu cometeu um delito e

que essa ação lhe é gravemente imputável por dolo ou por culpa (cf. c.

1321).

A investigação prévia (cf. cc. 1717-1719): Quando o Ordinário tem notícia

(ao menos verossímil) da comissão de um delito, deve ordenar que se abra

uma investigação prévia, que deve ser feita com cautela e discrição, sem por

em risco a boa fama do interessado, a fim de determinar se é necessário e

conveniente iniciar os procedimentos para a imposição de uma pena.

o Se não há fundamento, o assunto é arquivado;

o Se há fundamento, segue por via administrativa ou por via judicial.

A evolução do processo (cf. cc. 1720-1728).

Observação: Se o delito comporta pena perpétua, a causa deve ser resolvida

por via judicial (cf. c. 1342 §2).

Direito penal Direito processual penal

Livro VI: Sanções na Igreja Livro VII: Processos

Cânones 1311-1399 Cânones 1717-1731

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222

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

A justiça administrativa

O 7º princípio diretivo para a reforma do CIC 1917 à luz dos ensinamentos do

Concílio Vaticano II afirma:

Para levar convenientemente à prática o que precede, é

necessário que se consagre atenção especial à regulamentação do

procedimento destinado à garantia dos direitos subjetivos. Por isso, na

renovação do direito, atenta-se ao que tanto faltava nesse particular, até

o presente, isto é, aos recursos administrativos e à administração da

justiça. Para tanto, se faz necessário distinguir claramente as diversas

funções do poder eclesiástico, a saber, as funções legislativa,

administrativa e judicial, e determinar adequadamente que organismos

devam exercer cada função (cf. Princípio nº 7. Prefácio do Código de

Direito canônico, p.XXIX).

O CIC 1983 estabelece:

...controvérsias originadas de atos do poder administrativo

podem ser apresentadas somente ao Superior ou ao Tribunal

administrativo (c. 1400 §2).

O sistema vigente de justiça administrativa na Igreja está articulado em uma

dupla via. O recurso do fiel cristão interessado contra um ato administrativo é

interposto, em primeiro lugar, em via administrativa, ante a autoridade executiva

superior a que emitiu o ato administrativo. Chama-se recurso hierárquico. Uma vez

esgotada a via administrativa, ou seja, quando não há mais autoridade administrativa

superior a quem recorrer, se pode passar a via judicial diante de Tribunal administrativo.

Chama-se recurso contencioso administrativo.

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223

DIREITO DA IGREJA: APONTAMENTOS DE AULA

O recurso hierárquico:

O CIC 1983 regula o recurso hierárquico nos cc. 1732-1739. De acordo com

essas normas, o fiel cristão que, com certo fundamento, se considerar prejudicado por

um ato administrativo, pode recorrer por qualquer motivo justo ao superior hierárquico

(cf. c. 1737).

1. Dicastério da Cúria romana

2. Bispo diocesano

3. Vigário geral

4. Vigário episcopal

O melhor é tentar solucionar de comum acordo o conflito entre a autoridade e o

fiel cristão interessado (cf. c. 1733).

O recurso contencioso administrativo:

Atualmente, apenas o Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica tem

competência judicial para conhecer o recurso contencioso administrativo. A sua

segunda seção (sectio altera) é o único Tribunal administrativo existente na Igreja.

O recurso contencioso administrativo só pode se fundar em um único motivo: a

pretensão de que o ato administrativo impugnado tenha violado alguma lei, seja no

procedimento seguido para emiti-lo, seja na própria decisão (cf. art. 123 da Constituição

PB).

Além disso, o fiel cristão interessado pode pedir ao Tribunal que se pronuncie

sobre o ressarcimento de danos causados ilegitimamente pelo ato administrativo (cf. cc.

57 §3 e 128).