apostila de direito de família (parte 1)

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado

APOSTILA DE DIREITO DE FAMLIA(Esta apostila uma compilao das doutrinas dos autores que esto na bibliografia, deve ser estudada como material de apoio, no deve o discente se valer unicamente deste material, a consulta boa doutrina e as leis se faz necessrio.). Bons estudos!

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado I. Evoluo histrica do Direito de Famlia 1. A famlia no Direito romano No direito romano a famlia era organizada sob o princpio da autoridade. O pater famlias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis). Podia, desse modo, vend-los, impor-lhes castigos e penas corporais e at mesmo tirar-lhes a vida. A mulher era totalmente subordinada autoridade marital e podia ser repudiada por ato unilateral do marido. O pater exercia a sua autoridade sobre todos os seus descendentes no emancipados, sobre a sua esposa e as mulheres casadas com manus com os seus descendentes, (a mulher, ao casar, podia continuar sob a autoridade paterna, no casamento sem manus, ou entrar na famlia marital, no casamento com manus. O que no se permitia era que uma mesma pessoa pertencesse simultaneamente a duas famlias). A famlia era, ento, simultaneamente, uma unidade econmica, religiosa, poltica e jurisdicional. O ascendente comum vivo mais velho era, ao mesmo tempo, chefe poltico, sacerdote e juiz. Comandava, oficiava o culto dos deuses domsticos e distribua justia. Com o tempo, a severidade das regras foi atenuada, conhecendo os romanos o casamento sine manu, sendo que as necessidades militares estimularam a criao de patrimnio independente para os filhos. Com o Imperador Constantino, a partir do sculo IV, instala-se no direito romano a concepo crist da famlia, nas qual predominavam as preocupaes de ordem moral. Aos poucos foi ento a famlia romana evoluindo no sentido de se restringir progressivamente a autoridade do pater, dando-se maior autonomia mulher e aos filhos, passando estes a administrar os peclios castrenses (vencimentos militares). Em matria de casamento, entendiam os romanos necessria a affectio no s no momento de sua celebrao, mas enquanto perdurasse. A ausncia de convivncia, o desaparecimento da afeio era, assim, causa necessria para a dissoluo do casamento pelo divrcio. Os canonistas, no entanto, opuseram-se dissoluo do vnculo, pois consideravam o casamento um sacramento, no podendo os homens dissolver a unio realizada por Deus: quod Deus conjunxit homo non separet. 2. A famlia na Idade Mdia Durante a Idade Mdia as relaes de famlia regiam-se exclusivamente pelo direito cannico, sendo o casamento religioso o nico conhecido. Embora as normas romanas continuassem a exercer bastante influncia no tocante ao ptrio poder e s relaes patrimoniais entre os cnjuges, observava-se tambm a crescente importncia de diversas regras de origem germnica. 3. A evoluo a partir do sculo XIX Os movimentos de emancipao e de liberao social da mulher e dos jovens, a partir do final do sculo XIX, trouxeram conseqncias considerveis sobre as relaes familiares em geral, fazendo-se sentir, um sculo aps: A maior aceitao das unies informais entre o homem e a mulher, culminando, no direito brasileiro, com o reconhecimento constitucional da unio estvel como entidade familiar;2

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Uma maior condescendncia da chamada moral pblica; A possibilidade de extino do casamento por motivos outros, alm da morte ou do adultrio, em relao que o atual cdigo estabelece de forma meramente exemplificativa; Uma maior proteo para a mulher, consagrando-se o principio da igualdade entre o homem e a mulher nas relaes familiares, e no somente genericamente, como se costumava dispor dentre os direitos e garantias fundamentais; Uma maior proteo para os filhos, consagrando-se o princpio da igualdade entre os filhos, pouco importando a sua origem, legtima (concebido durante as justa npcias) ou no, prestigiando-se tanto a filiao biolgica como a filiao solidria; e A nova personalizao das relaes familiares, buscando-se o asseguramento dos direitos da personalidade de cada integrante da famlia.

A proclamao da Repblica teve como corolrio a desvinculao da Igreja em relao ao Estado. A primeira constituio republicana, no seu art. 72, 4, esclareceu que s reconhecia o casamento civil, cuja celebrao ser gratuita. A regulamentao do casamento civil foi feita pelo Decreto n. 181, de 24/1/1890, de autoria de Rui Barbosa, em virtude do qual ficou abolida a jurisdio eclesistica, considerando como nico casamento vlido o realizado perante as autoridades civis. O decreto permitiu a separao de corpos com justa causa ou havendo mtuo consenso, mantendo, todavia, a indissolubilidade do vnculo e utilizando a tcnica cannica dos impedimentos. 4. A famlia no CC/17 e nas leis posteriores (1917-1988) - Cdigo Civil de 1916 Clvis Bevilqua Regulava a famlia constituda unicamente pelo casamento, de modelo patriarcal e hierarquizada; Adota processos de direito cannico referentes habilitao para o casamento impedimentos dirimentes e impedientes, s nulidades e anulabilidades e considerou indissolvel o vnculo matrimonial; Lembrando, que nos Brasil, a mulher era considerada, pessoa relativamente incapaz para a prtica de atos e negcios jurdicos, incumbindo a chefia da sociedade conjugal ao varo, que era auxiliado por sua esposa; Me bnuba (casada em segundas npcias), perdia o ptrio poder dos filhos; Defendendo o direito sucessrio e o matrimnio, dificultava a adoo e o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento; Os regimes de casamento previstos nos artigos 256 a 311, eram: 1. Comunho universal; 2. Comunho parcial; 3. Separao (convencional ou obrigatria); 4. Dotal.

Constituio Federal de 1934 A famlia, porm, passou a ser considerada como um organismo social e jurdico de importncia. Constituio Federal de 1937

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Beneficiou o filho natural; Assegura o reconhecimento dos efeitos civis do casamento religioso;

Lei n. 883, de 21/10/1949 permitiu o reconhecimento e a investigao de paternidade do filho adulterino depois e dissolvida a sociedade conjugal; DL. 1.764/39 estabeleceu a Comisso Nacional de Proteo Famlia DL 3.200/41 proteo famlia DL. 9.701/46 dispunha sobre a guarda dos filhos menores no desquite judicial; D.L. n. 7.485, de 23/4/1945 - sobre a prova do casamento para fins de previdncia; A DECLARAO UNIVERSAL DA ONU 1948 proclamou a paridade plena de direitos entre o homem e a mulher, assim como a proibio de distino entre os filhos havidos ou no do casamento. Lei n. 968, de 10/12/1949 estabeleceu a fase de conciliao prvia nos desquites e nas aes de alimentos; Lei n. 1.110, de 23/5/1950 regulamentou o reconhecimento dos efeitos civis do casamento religioso, j assegurado na CF/37 e reiterado nas Magnas Cartas posteriores; Lei n. 1.542, de 5/1/1952 tratou do casamento de diplomatas brasileiros com pessoas de nacionalidade estrangeira; Lei n. 3.133, de 8/5/1957 atualizou a adoo, enquanto a Lei n. 4.655, de 2/6/1965, introduziu no direito brasileiro a legitimao adotiva. Lei n. 4.121/62 Estatuto da mulher casada Importante diploma legislativo referente ao direito de famlia, que emancipou a mulher casada, reconhecendo-lhe, na famlia, direitos iguais aos do marido e situao jurdica anloga, restaurando, outrossim, o ptrio poder (poder familiar) da mulher bnuba. A mencionada lei modificou os princpios bsicos aplicveis em matria de regime de bens e de guarda de filhos. Embora inspirada em bons propsitos, apresentou com srias falhas, transformando assim o direito de famlia numa verdadeira colcha de retalhos, a exigir uma nova reviso, para dar coerncia e sistemtica a este ramo do direito privado. A jurisprudncia vem amparando o direito da companheira concubina. Com o desenvolvimento da previdncia social, passou o civilista a tambm dar certos efeitos restritos unio estvel. O direito civil, pela jurisprudncia do STF, passou a atribuir concubina certos direitos herana do companheiro ou a uma indenizao, no caso de morte deste decorrente de ato ilcito. A Lei do Inquilinato permite continuar na locao residencial a concubina do finado locatrio (art. 12 da Lei n. 8.245, de 18/10/1991); Uma reforma processual da ao de alimentos foi feita pela Lei n. 5.478 de 25/7/1968.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Lei 6.515/77 A possibilidade de extino do casamento por fatores diversos de adultrio e da morte foi ampliada com o advento desta lei, que procedeu introduo das normas referentes ao divrcio e permitiu a realizao de um segundo casamento. At a data da entrada em vigor da lei do divrcio, havia entre ns o desquite, instituto equivalente atual separao judicial. Contudo, o desquite no rompia integralmente o vnculo matrimonial, pois apenas se prestava ao rompimento dos aqestos comunicados, no possibilitando que o desquitado contrasse outro casamento civil. No havia por meio do desquite, assim, o rompimento do vnculo matrimonial por completo. Lei n. 7.250, de 14/11/1984 autorizou, tambm, o reconhecimento de filho havido fora do casamento pelo cnjuge separado de fato h mais de cinco anos contnuos; 5. A CF/88 e leis posteriores (1988-2000) A CF/88 cuida, em captulo destacado (Captulo VII do Ttulo VIII), da famlia, da criana, do adolescente e do idoso. Conservando, ainda, a gratuidade do casamento civil e os efeitos civis do casamento religioso, trouxeram, todavia, inovaes marcantes. A unio estvel entre o homem e a mulher reconhecida como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua converso em casamento. estabelecida a igualdade entre o homem e da mulher no exerccio dos direitos e deveres referentes sociedade conjugal. O prazo para o divrcio reduzido. Em caso de separao judicial, ser concedido aps um ano ou aps dois anos de comprovada separao de fato. Aos filhos, havidos ou no da relao de casamento, ou por adoo, so concedidos os mesmos direitos e qualificaes, proibidas quaisquer designaes discriminatrias relativas filiao. Aos filhos maiores imposto o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carncia ou enfermidade. Tais inovaes sero, oportunamente, examinadas. A Lei n. 8.009, de 29/3/1990 veio ampliar a proteo do bem de famlia, nele abrangendo, inclusive, equipamentos e bens mveis que guarnecem a casa, e passando a proteger tanto a famlia legtima quanto a entidade familiar decorrente da unio estvel entre o homem e a mulher (prevista pelo art. 226, 3, da CF). O STF, em acrdo de que foi relator o Min. Carlos Velloso, decidiu que a casa prpria nica impenhorvel, aplicando-se a Lei n. 8.009, de 29/3/1990, aos processos em andamento e anulando as penhoras j realizadas. A Lei n. 8.408, de 13/2/1992 reduziu para um ano o prazo de ruptura da vida em comum que justifica a separao judicial, quando impossvel a sua reconstituio, com a converso em divrcio um ano depois da deciso que concedeu a medida cautelar ou definitiva de separao. A mesma lei determina que a mulher, quando da converso da separao em divrcio, volte a usar o nome que tinha antes do casamento, salvo se puder provar em juzo ou ocorrer manifesta distino entre o seu nome de famlia e o dos filhos havidos da unio dissolvida. A Lei 8.560, de 29/12/1992, veio a abordar aspectos da investigao de paternidade e do registro de nascimento dos filhos havidos fora do casamento;

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado As Leis 8.971, de 29/12/1994, e n. 9.278, de 10/5/1996, o art. 226 da CF ganharam dupla regulamentao. O primeiro daqueles diplomas outorgou aos companheiros direito sucesso e a alimentos. Requer, entretanto, para que a mulher seja reconhecida enquanto tal, comprovada vivncia por mais de cinco anos ou com prole, na companhia de homem solteiro, separado judicialmente, divorciado ou vivo. No art. 1, pargrafo nico, o diploma atribui idntica tratativa ao companheiro de mulher sem vnculo conjugal ou separada judicialmente. Lei n. 9.278/96 foi mais abrangente, pois considera como unio estvel qualquer tipo de unio entre o homem e a mulher, ainda que impedidos de casar, mesmo com durao inferior a cinco anos e mesmo sem prole comum. Entre outras benesses, cumpre realar a de seu art. 5, que cria uma presuno relativa de serem comuns os bens adquiridos onerosamente durante a convivncia. II. Noo de Direito de Famlia O Direito de Famlia , de todos os ramos do direito, o mais intimamente ligado prpria vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provm de um organismo familiar e a ele conservam-se vinculadas durante a sua existncia, mesmo que venham a constituir nova famlia pelo casamento ou unio estvel. Lato sensu, o vocbulo famlia abrange todas as pessoas ligadas por vnculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoo. Compreendem os cnjuges e companheiros, os parentes e os afins. Segundo JOSSSERAND, este primeiro sentido , em princpio, o nico verdadeiramente jurdico, em que a famlia deve ser entendida: tem o valor de um grupo tnico, intermdio entre o indivduo e o Estado 1. Para determinados fins, especialmente sucessrios, o conceito de famlia milita-se aos parentes consangneos em linha reta e aos colaterais at o quarto grau. 1. Conceito e contedo do direito de famlia Constitui o direito de famlia o complexo de normas que regulam a celebrao do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relaes pessoais e econmicas da sociedade conjugal, a dissoluo desta, a unio estvel, as relaes entre pais e filhos, o vnculo do parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela. , portanto, o ramo do direito civil concernente s relaes entre pessoas unidas pelo matrimnio, pela unio estvel ou pelo parentesco e aos institutos complementares do direito protetivo ou assistencial, pois, embora a tutela e a curatela no advenham de relaes familiares, tm, devido a sua finalidade, conexo com o direito de famlia. 2. Princpios do Direito de Famlia 1. Princpio matrimnio da Ratio Segundo esse princpio, o fundamento bsico do do casamento e da vida conjugal a afeio entre os cnjuges e a necessidade de que perdure completa comunho de vida. Com esse princpio desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de famlia substituda por um sistema

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Derecho Civil, t. I, v. II, p. 4.

6

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado em que as decises devem ser tomadas de comum acordo 2. Princpio da Igualdade jurdica entre marido e mulher ou conviventes, pois os tempos dos cnjuges atuais requerem que a mulher seja a colaboradora do homem e no sua subordinada e que haja paridade de direitos e deveres entre cnjuges e companheiros. Com base nesse princpio, no se faz distino entre filho matrimonial, no matrimonial ou adotivo quanto ao poder 3. Princpio da igualdade jurdica familiar, nome e sucesso; permite-se o reconhecimento de todos os filhos de filhos extramatrimoniais e probe-se que se revele no assento de nascimento a ilegitimidade simples ou espuriedade. 4. Princpio do pluralismo familiar Reconhecimento da famlia matrimonial e de entidades familiares 5. Princpio da consagrao do O poder-dever de dirigir a famlia exercido conjuntamente poder familiar por ambos os genitores, desaparecendo o poder marital e paterno. - Livre poder de formar uma comunho de vida; - Livre deciso do casal no planejamento familiar; 6. Princpio da Liberdade - Livre escolha do regime matrimonial de bens; - Livre aquisio e administrao do patrimnio familiar; - Livre opo pelo modelo de formao educacional, cultural e religiosa da prole. 7. Princpio do respeito da Garantia do pleno desenvolvimento dos membros da dignidade da pessoa humana comunidade familiar 3. Natureza jurdica do direito de famlia direito extrapatrimonial ou personalssimo (irrenuncivel, intransmissvel, no admitindo condio ou termo ou exerccio por meio de procurador); Suas normas so cogentes2 ou de ordem pblica; Suas instituies jurdicas so direitos-deveres;

ramo do direito privado, apesar de sofrer interveno estatal, devido importncia social a famlia. 4. Importncia do direito de famlia Grande a importncia do direito de famlia pela influncia que exerce sobre todos os ramos do direito pblico e privado, como to bem observam Washington de Barros Monteiro e R. Limongi Frana, cujas lies aqui reproduzimos. No mbito do direito civil, p. ex.:

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Cogente - [Do lat. cogente, part. pres. do lat. cogere, impelir, reunir, condensar, poss. pelo ingl. cogen...) 7

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado a) O direito das obrigaes contm normas que se fundam em princpios do direito de famlia, como as que prescrevem a necessidade de outorga uxria ou marital para alienar bens imveis ou direitos reais sobre coisas alheias (CC, art. 1.647); as alusivas doao (CC, arts. 544, 546, 550 e 551, pargrafo nico); as relativas venda de ascendente e descendente (CC, art. 496), e reparao de dano (CC, art. 932, I e II); b) O direito das coisas apresenta disposies normativas que sofrem influncia do direito de famlia, como as concernentes hipoteca legal dos filhos sobre os bens imveis do genitor que convolar npcias sem fazer o inventrio do casal anterior (CC, art. 1.489); c) O direito das sucesses, que na sua maior parte, relativa sucesso legtima, aspecto patrimonial post mortem do direito de famlia. ( o que nos ensinam: R. Limongi Frana p. 166; W. Barros Monteiro op. Cit. P. 6) 4.1 Direito pblico: a) O direito constitucional banha-se no direito de famlia sobre normas que regem a famlia, a educao e a cultura (CF, arts. 205 a 214 e 226 a 230); b) o direito tributrio mostra a sua influncia desse ramo do direito civil nas isenes tributrias a cnjuges ou companheiros, filhos e dependentes, pois na arrecadao do imposto de renda h dedues atinentes aos encargos de famlia; c) o direito administrativo demonstra sofrer a proteo do direito familiar ao prescrever o direito unio dos cnjuges, em matria de preferncia para remoo de cargos pblicos; d) o direito previdencirio, no que concerne s penses alimentcias a que tm direito vivos ou ex-conviventes, filhos e dependentes, no se mostra, igualmente, imune aos princpios do direito de famlia; e) o direito processual recebe subsdios do direito de famlia, principalmente na suspeio de juiz e de serventurio da Justia em razo de parentesco com as partes litigantes (CPC, arts. 135 a 138; arts. 254, 255 e 258); no impedimento de testemunha (CPC, art. 405 c/c art. 228 do CC); na remio e na execuo (CPC, art. 787); f) o direito penal mostra-nos a preocupao do elaborador da norma penal em proteger a famlia, ao reprimir os crimes contra o casamento (CP, arts. 235 a 240); estado de filiao (CP, arts. 241 a 243); assistncia familiar (CP, arts. 244 a 247); poder familiar, tutela e curatela (CP, arts. 248 e 249). III. RELAES DE PARENTESCO

Das Relaes de Parentesco

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito PrivadoCAPTULO I Disposies Gerais Art. 1.591. So parentes em linha reta as pessoas que esto umas para com as outras na relao de ascendentes e descendentes. Art. 1.592. So parentes em linha colateral ou transversal, at o quarto grau, as pessoas provenientes de um s tronco, sem descenderem uma da outra. Art. 1.593. O parentesco natural ou civil, conforme resulte de consanginidade ou outra origem. Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo nmero de geraes, e, na colateral, tambm pelo nmero delas, subindo de um dos parentes at ao ascendente comum, e descendo at encontrar o outro parente. Art. 1.595. Cada cnjuge ou companheiro aliado aos parentes do outro pelo vnculo da afinidade. 1 O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmos do cnjuge ou companheiro. 2 Na linha reta, a afinidade no se extingue com a dissoluo do casamento ou da unio estvel.o o

1. Conceito Segundo Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil Brasileiro, v.5, 2002, p. 367), parentesco a relao vinculatria existente no s entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo troco comum, mas tambm entre o cnjuge e os parentes do outro e entre adotante e adotado. Clvis Bevilqua define o parentesco como a relao que vincula entre si as pessoas que descendem do mesmo tronco ancestral. Para Pontes de Miranda, parentesco a relao que vincula entre si pessoas que descendem uma das outras, ou de autor comum (consanginidade), que aproxima cada um dos cnjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que estabelece, por fictio iuris, entre adotado e o adotante. Esse conceito engloba as trs possveis espcies de parentesco: por consanginidade, por afinidade e por adoo. 2. Espcies de parentesco O parentesco pode ser: a) b) c) Natural ou consangneo o vnculo estabelecido entre pessoas que descendem de um mesmo tronco (tronco comum) e, dessa forma, esto ligadas pelo mesmo sangue. Por afinidade (afim) o que liga uma pessoas aos parentes de seu cnjuge ou companheiro, isto , aquele que decorre do casamento ou da unio estvel, conforme previsto em lei (art. 1.595, CC); Civil o parentesco decorrente da adoo, estabelecido entre o adotante e o adotado, estendido a seus parentes.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Importante observao a ser feita quanto expresso outra origem do artigo 1.593, in fine: O parentesco natural ou civil, conforme resulte de consanginidade ou outra origem. Pode-se entender outra origem como, por exemplo, a inseminao artificial com doador hiptese trazida pelo art. 1.597, que ser abordado em tempo hbil, no tpico Presuno de paternidade e at mesmo a clonagem. 3. Parentesco em linha reta So parentes em linha reta as pessoas que esto ligadas umas s outras em uma relao de ascendentes e descendentes (art. 1.591, CC), como mostram os esquemas abaixo:AV Esquema 1 -

parentesco Joo e seu relao parentesco em reta de 2 ascendente.

O entre av: de linha grau

2 grau PAI Ascendente 1 grau

JOO

Mrio

1 Grau Filho descendente

2 grau Neto

Esquema 2 Se contarmos o grau de parentesco de Mrio (av), com relao ao seu neto ser relao de parentesco de 2 grau na linha descendente.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 4. Parentesco em linha colateral ou transversal O parentesco em linha colateral aquele em que as pessoas so provenientes de um s tronco, sem descender uma das outras. Cabe ressaltar que o parentesco em linha colateral s contado at o quarto grau (art. 1.592 do CC).3 GRAU

AV2 GRAU

PAI1 GRAU

TIO

JOO

Esquema 3 - Parentesco entre Joo e seu tio: relao de parentesco em linha colateral ou transversal de 3 grau.

2 grau

Av

3 grau

Pai

Tio

1 grau

Joo Esquema 4

primo4 grau

No esquema 4: O parentesco entre Joo e seu primo: relao de parentesco em linha colateral ou transversal de 4 grau. Na linha colateral ou transversal, o parentesco pode ser: Igual quando a distncia entre as pessoas que esto sendo comparadas com relao ao ascendente comum for a mesma (esquema 5). Desigual quando a distncia entre as pessoas que esto sendo comparadas com relao ao ascendente comum for diferente (esquema 6);

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado2 grau 3 grau

Av

Pai2=2 Joo x primo

Tio

1 grau

Joo Esquema 5

primo4 grau

No esquema 5: Joo x Primo: relao de parentesco em linha colateral ou transversal de 4 grau igual, pois Joo e o primo guardam a mesma distncia do av.3 GRAU

AV2 GRAU

PAI1 GRAU

TIO 2x1 Joo x Tio

JOO Esquema 6

No esquema 6: Joo x Tio: relao de parentesco em linha colateral ou transversal de 3 grau desigual, pois a distncia de Joo de dois graus e do tio para o av, de um grau. 5. Parentesco por afinidade

Sogra

Sogro

Cunhado

Como visto, o parentesco por afinidade aquele que se estabelece com o casamento ou com a unio estvel. Est limitado aos ascendentes, descendentes e irmos do cnjuge ou12

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado companheiro, ressaltando-se que, na linha reta, a afinidade no se extingue com a dissoluo do casamento ou da unio estvel. Sogro e sogra, por exemplo, so para sempre. Mesmo que a pessoa se case novamente, ter acumulado sogros, isto , duas sogras e dois sogros. Essa espcie de parentesco tem correlao com o parentesco natural, pois a contagem da distncia dos graus ser sempre a mesma, bastando que o cnjuge se transporte, isto , se imagine no lugar daquele com se casou ou se uniu, para que se possa fazer a contagem dos graus (esquema 7 a 10).A sogra/sogro so parentes por afinidade em linha reta de 1 grau da esposa do filho 1.

Sogro Sogra

Esposa

Filho 1

Filho 2

Filha 3

Esquema 7 Parentesco da esposa do filho 1 com os sogros: relao de parentesco por afinidade em linha reta de 1 grau ascendente, de acordo com o art. 1.521, inciso II, os afins em linha reta no podem se casar.

1 grau

Sogro Sogra

Esposa

Filho 1

Filho 2

Filha 3

Esquema 8 Esposa do filho 1 com cunhados: relao de parentesco por afinidade. *Alguns doutrinadores colocam o(a) cunhado (a) como relao de parentesco de 2 grau na linha colateral, mas o impedimento para o casamento vigora com relao aos parentes afins em linha reta de 1 grau, ou seja.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado1 grau Sogro Sogra

2 grau Esposa Filho 1 Filho 2 Filha 3

Esquema 9

Joo

3 grau

Esquema 9 Esposa com Joo sobrinho de seu marido: no h parentesco por afinidade na linha colateral alm do 2 grau.1 grau Sogro Sogra

Esposa

Filho 1

Filho 2

Filha 3

marido

Esquema 10 Parentesco da esposa com o marido de sua cunhada: cabe ressaltar que entre concunhados no h relao de parentesco. IV. DO CASAMENTO

1. Definio Casamento o contrato de direito de famlia que tem por fim promover a unio do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relaes sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mtua assistncia. (Modestino. D., Liv.23, Tit. 2, frag. 1). Citado por Silvio Rodrigues. Da definio citada por Silvio Rodrigues possvel extrair os fins do casamento, que esto ligados aos deveres expressos no art. 1.566 do NVCC. So eles: A disciplina das relaes sexuais, que est ligada ao dever de fidelidade;

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado A proteo da prole, que est associada ao dever de sustento, guarda e educao dos filhos; A mtua assistncia, que tambm um dever de ambos os cnjuges.

Ento, podemos, afirmar que casamento a unio legal entre um homem e uma mulher, com o objetivo de constiturem a famlia legtima. Reconhece-se-lhe o efeito de estabelecer comunho plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cnjuges (CC, art. 1511). Como complemento, surge a norma protetiva do art. 1.513: defeso a qualquer pessoa, de direito pblico ou privado, interferir na comunho de vida instituda pela famlia. Unio legal aquela celebrada com observncia das formalidades exigidas pela lei. E entre um homem e uma mulher, porque o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda no permitido, embora existam movimentos nesse sentido. O casamento celebrado sem as solenidades previstas em lei e entre pessoas do mesmo sexo inexistente, bem como o aquele em que os nubentes no manifestam o consentimento. O Casamento cria a famlia legtima. A unio estvel, reconhecia pela CF/88 e pelo CC (art. 1723) como entidade familiar, pode ser chamada de famlia natural. Quando formada por somente um dos pais e seus filhos, denomina-se famlia monoparental (CF, art. 226, 4). 2. Natureza Jurdica trs correntes Concepo clssica tambm chamada de individualista, uma relao puramente contratual, resultante de um acordo de vontades, como acontece nos contratos em geral. Assim, o consentimento dos contraentes constitua o elemento essencial de sua celebrao e, sendo contrato, certamente poderia dissolver-se por um distrato. A sua dissoluo ficaria, apenas na dependncia do mtuo consentimento 3. Concepo institucionalista ou supra-individualista Em oposio a tal teoria, surgiu a concepo institucionalista ou supraindividualista, sustenta que o casamento uma grande instituio social, a ela aderindo os que se casam. Corrente ecltica constitui uma fuso das anteriores, pois considera o casamento um ato complexo: um contrato especial, do direito de famlia, mediante o qual os nubentes aderem a uma instituio pr-organizada, alcanando o estado matrimonial. Pontes de Miranda, com sua indiscutvel autoridade, nos ensina:

3

Washington de Barros Monteiro, cit., v.2, p. 13; Silvio Rodrigues, Comentrios ao Cdigo Civil, v. 17, p.3. 15

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Por outro lado, por meio de contrato faz-se o casamento, mas contrato de direito de famlia; no caso de celebrao confessional, conforme a concepo do seu direito matrimonial. Mas o registro civil que em verdade lhe d existncia jurdica e os efeitos civis; e tais efeitos no so, de regra, contratuais resultam do instituto mesmo. 4 No se pode deixar de enfatizar que a natureza de negcio jurdico de que se reveste o casamento reside especialmente na circunstncia de se cuidar de ato de autonomia privada, presente na liberdade de casar-se, de escolha do cnjuge e, tambm, na de no se casar. No plano dos efeitos patrimoniais, tm os cnjuges liberdade de escolha, atravs do pacto antenupcial, do regime de bens a vigorar em seu casamento. Esse espao reservado ao livre consentimento exercido, entretanto, dentro dos limites constitucionais e legais, que traduzem o modelo social de conduta determinado pela ordem jurdica. 3. Caractersticas do casamento art. 1550 O casamento possui as seguintes caractersticas: a) b) um ato complexo Depende de celebrao e de todas as formalidades previstas em lei, como o processo de habilitao e a publicidade. de natureza institucional. Depende de livre manifestao Para que o casamento seja considerado vlido, h que se ter a livre manifestao de vontade, pois qualquer vcio de vontade pode acarretar sua anulao (art. 1.550, III, CC). ato privativo do representante do Estado (juiz de casamento) A falta de competncia da autoridade celebrante pode ser causa de anulao (art. 1.550, VI, CC).

c)

4. Criao do casamento civil O casamento civil foi criado pelo Decreto 181, de 24 de janeiro de 1890, com o advento da Repblica. Anteriormente, existia apenas o casamento religioso, que era dividido em: Ato nupcial catlico, se celebrado entre pessoas de religio catlica; Ato npcias misto, se celebrado entre pessoas de religies diferentes, sendo uma catlica e outra no; Ato nupcial acatlico, se celebrado entre pessoas que no eram da religio catlica. Com a Lei 379, de 16 de janeiro de 1937, que, segundo Silvio Rodrigues (Direito Civil Direito de Famlia, 2002, p. 23), foi refundida pela Lei n. 1.110, de 23/5/1950, e atualmente est prevista tambm na Lei n. 6.015, de 31/12/1973 (Lei de Registros Pblicos), surgiu a possibilidade do casamento religioso com efeitos civis, o que raramente se encontra nos dias atuais, pois o costume em nosso pais da realizao de duas celebraes: civil e religiosa. A prpria CF/88 reconhece que o casamento religioso tem efeito civil nos termos da lei (art. 226, 2).4

Tratado de Direito de famlia, cit., v. I, p. 94. 16

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado IV. DO PROCESSO DE HABILITAO PARA O CASAMENTO 1. Da capacidade para o casamento art. 1517 a 1.520 O legislador do novo Cdigo Civil foi mais tcnico de que o do anterior quanto capacidade para o casamento. No CC/16, a falta de capacidade vinha juntamente com os impedimentos matrimoniais, o que no mais acontece no Cdigo atual, que em seu artigo 1.517 traz: O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorizao de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto no atingida a maioridade civil. Dessa forma, observa-se que a capacidade matrimonial no implica a capacidade civil, devendo haver a autorizao dos pais e representantes legais para o menor entre 16 e 18 anos. H exceo regra da capacidade? Sim. Excepcionalmente, ser permitido o casamento de quem no completou a idade mnima, no caso de gravidez. O art. 1.520 do CC prev, tambm, que, excepcionalmente, poder ser permitido o casamento de menores de 16 anos para evitar a imposio de pena criminal. Essa previso estava em consonncia com o artigo 107 do CPB, que previa, em seu inciso VII, que nos crimes contra os costumes, definidos nos artigos 213 a 220, se o ofensor se casasse com a ofendida, seria extinta a punibilidade. Em 28 de maro de 2005, todavia, por fora da Lei n. 11.106/05, alguns dispositivos do CPB foram expressamente revogados, entre eles os incisos VII e VIII do art. 107. Diante de tal fato, a parte do artigo 1.510 do CCB que prev a possibilidade de menores de 16 anos poderem se casar para evitar imposio de pena no se aplica mais, por no existir essa possibilidade no ordenamento penal. 2. Denegao do consentimento pargrafo nico, art. 1.631. A denegao do consentimento, quanto injusta, poder ser suprida pelo juiz. Corrige-se, nesse aspecto, a erronia do CC/16, art. 186, que dava preferncia vontade paterna em caso de discordncia dos pais do menor ou vontade do guardio, na hiptese de casal separado ou divorciado. Como se v, uma vez mais a igualdade entre o homem e a mulher fica reafirmada. O CC, ao tratar do Poder Familiar (antigo ptrio poder), no art. 1.631, dispe que, em havendo divergncia entre os pais quanto ao exerccio do encargo, qualquer deles pode recorrer ao juiz para soluo do desacordo. 2.1. Motivos justos e fundados para denegao do consentimento Reputam-se justos e fundados, segundo os autores 5, os seguintes motivos:5

Lafayette, Direitos de famlia, 27, p. 75, nota 121; Washington de Barros Monteiro, Curso do Direito Civil Direito de Famlia, v. 2, p. 35; Arnaldo Rizzardo, Direito de famlia, p. 60. 17

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 1. Existncia de impedimento legal; 2. Grave risco sade do menor; 3. Costumes desregrados, como embriaguez habitual e paixo imoderada pelo jogo; 4. Falta de recursos para sustentar a famlia; 5. Total recusa ou incapacidade para o trabalho; 6. Maus antecedentes criminais, tais como condenao em crime grave (P.ex., estupro, roubo, estelionato etc.). Se o pedido de suprimento do consentimento for deferido, ser expedido alvar, a ser juntado no processo de habilitao, e o casamento celebrado no regime da separao de bens. Com efeito, segundo dispe o art. 1.641, III, do CCB, o regime de bens que obrigatoriamente ser adotado pelos cnjuges que obtm suprimento judicial para o casamento o da separao de bens. O art. 888, IV, do CPC permite ao juiz, como medida cautelar, determinar o afastamento do menor autorizado a contrair matrimnio. 2.2 Do procedimento para o suprimento judicial O procedimento para o suprimento judicial do consentimento dos representantes legais o previsto para a jurisdio voluntria (CPC, arts. 1.103 e s.). Para viabilizar o pedido, admitese que o menor pbere outorgue procurao a advogado, sem assistncia de seu representante legal, em razo de evidente colidncia de interesses e por se tratar de procedimento de jurisdio voluntria 6. Comumente, no entanto, o prprio representante do Ministrio Pblico a quem no se pode negar a legitimidade de parte, como defensor dos interesses dos incapazes encarrega-se de requerer ao juiz a nomeao de advogado dativo para o menor. Da deciso proferida pelo juiz cabe recurso de apelao para a instncia superior. Como o art. 475 do CPC no incluiu tal situao nas hipteses de reexame necessrio, esse recurso o voluntrio, com efeito suspensivo. 2.3. Habilitao para o casamento 1525 a 1532 CC Habilitao para o casamento processo que corre perante o oficial do Registro Civil e que tem por fim evidenciar a aptido dos nubentes para o casamento. Na verdade, o processo de habilitao visa verificar se os noivos no so impedidos para o casamento. Se realmente podem casar-se. Destina-se a aludida medida preventiva a constar a capacidade para a realizao do ato (CC, arts. 1.;517 a 1.520), a inexistncia de impedimentos matrimoniais (art. 1.521) ou de causa suspensiva (art. 1.523) e a dar a publicidade, por meio de editais, pretenso manifestada pelos noivos, convocando as pessoas que saibam de algum impedimento para que venham op-lo. Esse processo compreende quatro etapas: Documentao6

de se admitir que o menor relativamente incapaz conceda mandato judicial, independentemente da presena do assistente legal, sob pena de impedi-lo definitivamente de obter a tutela jurisdicional, quando o representante se recusa a conceder-lhe permisso para determinados atos da vida civil, como ocorre nos casos de necessidade de suprimento de autorizao para contrair matrimnio (RT, 670/149). 18

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Proclamas Certificado e Registro

Desenrola-se segundo os arts. 1.525 a 1.532 do CCB e arts. 67 a 69 da Lei de Registros Pblicos Lei n. 6.015). a) documentao - Nessa primeira etapa, o cartrio requisitar dos noivos uma srie de documentos, de acordo com o Cdigo Civil. Assim que devero ser apresentados, por cada nubente: Certido de nascimento Declarao de estado civil Domiclio e residncia dos contraentes e seus pais Autorizao dos responsveis, se forem menores de 18 anos Declarao de duas testemunhas capazes, que atestem no haver impedimentos matrimoniais; Atestado de bito ou certido de divrcio, conforme seja um dos noivos vivo ou divorciado; etc.

Apresentados e verificados os documentos, inicia-se a segunda etapa, qual seja, os proclamas. b) proclamas o edital, que ser afixado por quinze dias no mural do cartrio, aps a apresentao dos documentos. O objetivo dos proclamas o de comunicar ao pblico em geral a inteno dos noivos de contrair npcias. Assim, qualquer pessoa poder opor-se ao casamento, se souber de algum impedimento. Para tanto, basta apresentar-se perante o oficial do Registro e provar a existncia do impedimento. Os proclamas sero tambm publicados em jornal local, se houver. Entregues os documentos com o requerimento de habilitao, o processo ser encaminhado ao ministrio Pblico, que sobre ele opinar. A partir da, o processo remetido ao juiz, que dar a ltima palavra, homologando ou no a habilitao. O juiz poder dispensar os proclamas, em caso de urgncia (por exemplo, enfermidade de um dos nubentes). Para tanto necessrio requere-lo e apresentar provas de urgncia. O Ministrio Pblico ser ouvido. Para a publicao dos proclamas no necessrio se esperar o parecer do Ministrio Pblico nem a homologao judicial, uma vez que o art. 1.527 exige apenas que os documentos estejam em ordem. Aps o perodo de publicao dos proclamas, e homologado a habilitao pelo juiz, ser emitido o certificado de habilitao para o casamento. c) Certificado O certificado de habilitao para o casamento ser emitido com o encerramento dos proclamas e aps a homologao judicial. Ter validade de 90 dias, aps

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado os quais caducar, perdendo a sua validade. Em outras palavras, os noivos tero 90 dias para celebrar as npcias. Se este prazo transcorrer in albis, ou seja, sem que se celebre o casamento, o certificado perder a validade e o processo de habilitao dever ter incio outra vez. d) Registro O processo de habilitao se encerra realmente com o registro dos editais (proclamas) no cartrio que os haja publicado. V. Dos impedimentos matrimoniais Para que o casamento tenha existncia jurdica, necessria a presena de elementos denominados essenciais: diferena de sexo, consentimento e celebrao na forma da lei. Para que seja vlido e regular, deve preencher outras condies. Impedimentos matrimoniais so causas que tornam o casamento impossvel para ambos ou um s dos noivos. H impedimentos de duas categorias. A primeira categoria congrega os chamados impedimentos dirimentes. Por que dirimentes? Porque impedem a realizao do casamento e, se por acaso ele ocorrer, torna-se invlido, pondo-lhe fim. Os impedimentos dirimentes podem ser pblicos ou privados. A segunda categoria a dos impedimentos meramente impedientes. Impedientes porque impedem a realizao do casamento; mas se ele por acaso ocorrer, ser vlido, sofrendo sano indireta, que veremos mais adiante. O Cdigo Civil denomina estes impedimentos impedientes de causas suspensivas do casamento, uma vez que apenas suspendem a capacidade nupcial. Cessado o impedimento, o casal poder convolar npcias normalmente. Estudemos cada uma dessas categorias. a) Impedimentos dirimentes - art. 1.521, I a VII, CC. Incesto Incesto unio entre certos parentes. Para o Direito, considerada incestuosa a unio dos parentes em linha reta, ou seja, pais, avs, bisavs, filhos, netos, bisnetos etc. Estes parentes no podem se casar entre si, ainda que o parentesco seja por adoo, uma vez que os filhos adotivos se equiparam aos filhos consangneos. A infringncia de algum desses dispositivos tem como conseqncia um casamento nulo e sem nenhum efeito (art. 1.548, caput e inc. II, CCB). Art. 1.521 No podem casar: I Os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; O parentesco civil o decorrente da adoo II os afins em linha reta;

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Parentesco por afinidade aquele que decorre do casamento e tambm da unio estvel. adotante; inclusive; III o adotante com quem foi cnjuge do adotado e o adotado com quem foi do IV os irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau

Bilaterais ou germanos so nascidos do mesmo pai e mesma me; unilaterais, aqueles que tm em comum s o mesmo pai (consangneos) ou s a mesma me (uterinos). V o adotado com o filho do adotante; Isto porque so irmos. VI as pessoas casadas; Ficam sujeitas a responder por crime de bigamia (art. 235, CP). Para que possam se casar novamente, devero apresentar: - certido de bito do cnjuge falecido; - certido de nulidade ou anulao do casamento anterior; - registro da sentena de divrcio. Por fora do art. 1.571, 1, do CCB, o casamento dissolve-se em caso de presuno de bito do ausente. H que ressaltar tambm que o casamento no religioso no inscrito no Registro Civil no constitui impedimento (art. 1.515 do CCB). VII o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de homicdio contra o seu consorte. No h necessidade de cumplicidade entre o condenado e o cnjuge sobrevivente. Tem de haver condenao; se houver absolvio ou prescrio com a extino da punibilidade, na h impedimento. S aplicado no homicdio doloso, pois no culposo no h inteno de matar um para casar com o outro (Cf. Venosa, Silvio de Salvo. Direito de Famlia, 2003, p. 84; DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5, 2002, p. 78; RODRIGUES, Silvio, Direito Civil Direito de Famlia, 2002, p. 48). VI. Causas suspensivas O casamento com inobservncia de uma dessas causas suspensivas sujeita os infratores a determinadas penas, em regras referentes ao regime de bens, mas no eiva de nulidade o casamento nem permite sua anulao. Art. 1.523 No devem casar: I o vivo ou a viva que tiver filho do cnjuge falecido, enquanto no fizer inventrio dos bens do casal e der partilha aos herdeiros.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Visa evitar a confuso de patrimnio dos filhos com o da nova sociedade conjugal. A desobedincia acarretar as seguintes sanes: Celebrao do segundo casamento sob o regime de separao obrigatria de bens (art. 1.641, I, CC); Hipoteca legal de seus imveis em favor dos filhos (art. 1.489, II, CC) filhos passam a ser titulares do direito real sobre os imveis do pai/me. Exceo: se houver prova da inexistncia de prejuzo para os herdeiros, o (a) vivo (a) poder casar sem sofrer essas sanes, conforme disposio do artigo 1.523, pargrafo nico.

II a viva, ou mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, at dez meses depois do comeo da viuvez, ou da dissoluo da sociedade conjugal. Visa a evitar a confuso sangunea (turbatio sanguinis)ou seja, em caso de gravidez. A inobservncia acarretar a sano do artigo 1.641, I, isto , regime de separao obrigatria de bens. Exceo: se a nubente provar a inexistncia de gravidez ou que teve o filho antes da fluncia do prazo legal (art. 1.513, pargrafo nico) III - 0 divorciado, enquanto no houver sido homologado ou decidida a partilha dos bens do casal. Visa evitar a confuso de patrimnios. A sano a aplicao do regime de separao obrigatria de bens, exceto se for provado que no houve prejuzo para o outro cnjuge. IV o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto no cessar a tutela ou curatela, e no estiverem saldadas as respectivas contas. Visa impedir a influncia em virtude do poder que tem o tutor/curador sobre o tutelado/curatelado resultando em um casamento por interesse. A sano tambm o regime da separao obrigatria de bens, exceto se no existir prejuzo para o tutelado ou curatelado. VII. Oposio dos impedimentos e das causas suspensivas (23/8/2006) Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, at o momento da celebrao do casamento, por qualquer pessoa capaz. Pargrafo nico. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existncia de algum impedimento, ser obrigado a declar-lo. O direito de oposio sofre restries de ordem pessoal e formal, a fim de evitar abusos, imputaes caluniosas ou levianas, uma vez que h sanes para quem exerc-lo arbitrariamente. As limitaes concernentes s pessoas variam de acordo com os impedimentos ou causas suspensivas que se opem. Assim:

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 1) Os impedimentos matrimoniais (CC, art. 1.521, I a VII), por interessarem coletividade, devem ser argidos, obrigatoriamente, ex officio: pelo oficial do registro civil; pelo juiz ou por quem presidir celebrao do casamento, pois se tiverem conhecimento de algum impedimento sero obrigados a declar-lo (CC, art. 1.522, parag. nico). Qualquer pessoa capaz poder, at o momento da celebrao do casamento, sob a sua assinatura, apresentar declarao escrita, instruda com as provas do fato que alegar (CC, arts. 1.522 e 1.529). Se o oponente no puder instruir a oposio com as provas, dever precisar o lugar onde existam ou possam ser obtidas (CC, art. 1.539). Espnola e Caio Mrio da Silva Pereira incluem o representante do MP, quando este tiver conhecimento do impedimento, pois, se a qualquer do povo lcito op-lo, com mais razo o ao rgo que representa a sociedade e que, funcionalmente, o defensor do direito objetivo. (LRP, art. 67, 2; CF/88, art. 127). H, portanto, interesse do Estado na regularidade dos casamentos e na f pblica do registro civil. Art. 1.524. As causas suspensivas da celebrao do casamento podem ser argidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam tambm consangneos ou afins. a) Na primeira parte do artigo esto os ascendentes, descendentes ou seus respectivos cnjuges; b) pelos colaterais, em segundo grau, sejam consangneos (irmos) ou afins (cunhados) (CC, art. 1.524; RF, 117:473). Opinio de Eduardo Espnola: Se a dissoluo do matrimnio se deu por sentena, o ex-marido tem interesse em evitar a confuso de sangue, embora a lei no o diga, podendo opor causa suspensiva do CC, art. 1.523, II. Se descumpridas, tais causas suspensivas podem gerar oposio ao pedido de casamento, que, sendo acatado, impedir a expedio do certificado de habilitao (CC, art. 1.529), dever comprovar que seu casamento no trar prejuzo a herdeiro, a ex-cnjuge, a tutelado ou curatelado. Resumo Segundo Carlo Tributtati, os impedimentos positivas ou negativas, de fato ou de expressamente especializadas pela lei, temporariamente, probem o casamento ou determinado casamento. matrimoniais so condies direito, fsicas ou jurdicas, que, permanentemente ou um novo casamento ou um

1. Conceito

A causa suspensiva um fato que suspende o processo de celebrao do casamento a ser realizado, se argida antes das npcias.

2. Impedimentos CC, art. 1.521, I a VII 3. Causas CC, art. 1.523, I a IV

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado suspensivas Impedimentos Resultantes de Parentesco a) Impedimento de consanginidade (CC, art. 1.521, I a IV; DL n. 3.200/41, art. 1. a 3 b) Impedimento de afinidade (CC, arts. 1.521. II, e 1.595, 1. e 2; Lei n. 6.015/73, art. 59) c) Impedimento de adoo (CC, art. 1.521, I, III e V) CC, arts. 1.521, VI, 1.548 e 1.549; CP, art. 235; CF, art. 226, 6; Lei n. 6.515/77, art. 2, pargrafo nico; RT, 393:167, 190:790) CC, art. 1.521, VII. Impedimento de crime - Para impedir confuso de patrimnios (CC, arts. 1.523, I, III e parag. nico, 1.641, I e 1.489, II; RT 167:195); 5. Casos causas suspensivas de - Para impedir matrimnio de pessoas que se acham em poder de outrem, que poderia, por isso, conseguir um consentimento no espontneo (CC, arts. 1.523, IV e parg. nico., e 1.641, I).

4. Classificao dos Impedimentos Impedimento de vnculo

- Para evitar que certas pessoas se casem sem autorizao de seus superiores (Dec.-Lei n. 9.698/46, arts. 101 a 106; Dec. N. 3.864/41; Lei n. 5.467-A/68; Lei n. 6.880/80; Lei n. 7.501/86; Lei n. 1.542, art. 1., e Dec.-Lei n. 2/61, art. 45; Dec.-Lei n. 9.202/46; RT, 205:585). Oposio o ato praticado por pessoa legitimada que, 6. Oposio dos ao conhecimento do oficial perante o qual se processa impedimentos e a habilitao, ou do juiz que celebra a solenidade, a das causas existncia de um dos impedimentos ou de uma das suspensivas Conceito causas suspensivas previstas nos arts. 1.521 e 1.523 do CC, entre pessoas que pretendem convolar npcias. a) - os impedimentos podem ser argidos, ex offcio, pelas pessoas arroladas no CC, Pessoais art. 1.522. - As causas suspensivas s podem ser opostas pelas pessoas do art. 1.524 do CC. -Quanto oportunidade: os impedimentos do art. 1.521 do CC ser argidos at a celebrao do casamento, e as causas suspensivas do art. 1.523, dentro do de 15 dias (CC, art. 1.527) da publicao dos proclamas. - Quanto ao oponente: no poder ficar no anonimato; dever ser capaz (CC, art. 1.522); alegar impedimento por escrito,

b) Formais

6. Oposio dos impedimentos e Limitaes

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado das causas suspensivas provando-o com a observncia do CC, art. 1.529; provar, em caso de oposio de causa suspensiva, o seu grau de parentesco com o nubente. - quanto ao oficial do Registro Civil: receber a declarao, verificando se apresenta os requisitos legais: dar cincia aos nubentes (CC, art. 1.530); remeter os autos a juzo (Lei n. 6.015/73, art. 67, 5). - Impossibilitar a obteno do certificado de habilitao. - Adiar o casamento - Dever reparar dano moral ou patrimonial que causou com a sua conduta dolosa ou culposa (CC, art. 186).

Efeitos Sanes ao oponente de m-f

VIII. Da celebrao do casamento - arts. 1.533 a 1.542 Art. 1.533. Celebrar-se- o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petio dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certido do art. 1.531. O casamento contrato solene e sua celebrao deve obedecer s formalidades especiais impostas por lei. A autoridade celebrante quem designa o dia, hora e lugar para realizao da cerimnia, Os nubentes, entretanto, podero fazer sugestes, mas a autoridade celebrante no est obrigada a aceit-la. A celebrao do casamento ato necessrio para sua validade. Preenchidos os requisitos legais impostos pelo processo de habilitao, com a apresentao do certificado de habilitao, prevista no art. 1.521, os contraentes, mediante petio, requerem autoridade competente a celebrao do casamento. A apresentao do certificado de habilitao para o casamento documento imprescindvel para a realizao da solenidade. Formalidades: a) O casamento civil ser realizado no dia, local e horrio designados pela autoridade que o presidir.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado b) A cerimnia ser efetuada com o acesso franqueado ao pblico, deixando-se as portas abertas. c) o evento ocorrer na casa das audincias, se outro local no houver sido previamente acertado. d) So duas as testemunhas do ato, exceo feita ao caso em que um dos contraentes no saiba ou no possa naquele momento escrever, caso em que sero exigidas mais duas testemunhas. Obs.: Os parentes podem ser testemunhas do ato. e) Ao final do evento, o juiz de paz, verificando que de livre vontade dos interessados contrarem o matrimnio, pronunciar a seguinte frmula solene: De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados. f) Proceder-se-, ento, lavratura do livro de registros de casamento, cujo assento ser assinado pelo presidente do ato, os cnjuges, as testemunhas e o oficial do registro. Art. 1.536 do CC O assento conter: - os dados qualificativos dos cnjuges (nomes, prenomes, nacionalidades, profisso e domiclio), assim como a data e o lugar dos seus nascimentos; - os dados qualificativos dos genitores dos cnjuges (nomes, prenomes, nacionalidades, domiclio), assim como a data e o lugar dos seus nascimentos e, eventualmente, do bito; - a relao dos documentos apresentados ao cartrio de registro civil; - os dados qualificativos precedentes do cnjuge que foi anteriormente casado; - os dados qualificativos das testemunhas; - a data de publicao dos proclamas; - o regime de bens adotado e a meno a eventual pacto antenupcial realizado; e - a data de celebrao do casamento. Arts. Conexos: art. 1565 (incluso de sobrenome do nubente); art. 1.641 (obrigatoriedade do regime da separao de bens); art. 1,653 (pacto antenupcial) Cdigo Civil 1916 art. 195 Legislao Relacionada: art. 70 da Lei n. 6.015/73 (Lei dos Registros Pblicos) 2) DA SUSPENSO DA CERIMNIA art. 1.538 CC - a celebrao do casamento ser imediatamente suspensa se algum dos contraentes: I Recusar a solene afirmao da sua vontade; II Declarar que esta no livre e espontnea; III Manifestar-se arrependido. O nubente que, por algum dos fatos mencionados acima, der causa suspenso do ato, no

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado ser admitido a retratar-se no mesmo dia. A retratao do arrependimento eficaz, portanto, poder ser efetuada, porm em data posterior quela na qual houve a suspenso da cerimnia nupcial. Se, apesar da recusa, a cerimnia prosseguir e o ato for concludo e registrado, o casamento ser inexistente por falta de elemento essencial: o consentimento (Eduardo Spndola. A famlia, p. 138.) A retratao no ser aceita ainda que o nubente provocador do incidente declare tratar-se de simples gracejo. A inteno da lei resguardar a vontade do nubente contra qualquer interferncia. Mesmo que no se encontre sob influncia estranha, a lei lhe propicia um compasso de espera para que medite e, se retornar, traga uma deliberao segura e amadurecida. O certo designar-se o casamento para o dia seguinte ou para nova data, dentro do prazo de eficcia da habilitao, para permitir uma serena reflexo do nubente indeciso. Alm dos casos mencionados no art. 1.538 do CC, a celebrao do casamento se interromper se os pais, tutores ou curadores revogarem a autorizao concedida para o casamento respectivamente dos filhos, tutelados e curatelados, como o permite o art. 1.518 do aludido diploma, bem como se, no decorrer da solenidade, for devidamente oposto algum impedimento legal cuja existncia se mostre plausvel ante a idoneidade do oponente, a seriedade da argio e a robustez da prova ou informao (Caio Mario da Silva Pereira, Instituies de Direito Civil, v.5 p.115-116) MOLSTIA GRAVE DE UM DOS NUBENTES art. 1.539 Se um dos nubentes, no dia da cerimnia, encontrar-se acometido de molstia grave, o casamento poder vir a ser realizado no seu prprio domiclio ou no lugar em que se encontrar, mesmo no horrio noturno, com a presena de duas testemunhas que saibam ler e escrever (no sistema de 1916, eram quatro testemunhas). O termo avulso da cerimnia ser reduzido no livro de assentos em 5 dias, perante duas testemunhas, contados a partir da data do casamento. FALTA DE AUTORIDADE PARA PRESIDIR O CASAMENTO art. 1.539 1 Na falta ou no impedimento do comparecimento do juiz de paz para presidir a cerimnia civil, qualquer um dos seus substitutos legais poder realizar o casamento. Na ausncia do oficial de registro ao ato, o juiz de paz designar outro para o exerccio ad hoc das suas funes. O oficial do registro ad hoc dever lavrar termo avulso do casamento, com as mesmas informaes do termo definitivo, na presena de duas testemunhas. O registro de casamento ser efetuado em at cinco dias da data da sua celebrao. O registro no consubstanciado o termo inicial de vigncia do casamento, pois se destina tosomente a provar a sua realizao. Logo, o termo inicial do casamento a data na qual ele solenemente celebrado.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado IX - Espcies de casamentos 1.1 Casamento vlido O casamento putativo, nuncupativo, religioso com efeitos civis, consular e por procurao, desde que presentes os elementos essenciais e observados todos os requisitos legais, constituem formas vlidas de unies conjugais regulamentadas na lei. O putativo, embora anulvel ou nulo, produz efeitos de casamento vlido para o cnjuge de boa-f e, por isso, no ser includo, neste tpico, e sim nos casos de casamento invlido. 1.2 Casamento por procurao por instrumento pblico art.1542, 1 a 4 aquele que sucede mediante a representao do nubente que no puder estar presente na data da sua realizao. Para tanto, o mandatrio dever estar investido de poderes especficos (ad nuptias) para contrair casamento em nome do outorgante, em instrumento de mandato que dever ser transcrito integralmente na escritura antenupcial e no assento do registro. Deve constar da procurao a indicao de quem ser o outro nubente, de modo a no se deixar tal faculdade de escolha, por bvio, ao arbtrio do procurador. Se assim no fosse, jamais seria possvel reputar tal casamento como realizado com base em uma vontade livre. Sua invalidade seria evidente. Exemplo: O preso ou o foragido outorga poderes a outrem para, em seu nome, contrair casamento; ) formado pelas palavras japonesas Noivo dekassegui (O termo dekassegui ( deru (sair) e kasegu (ganhar dinheiro), designando qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar, temporariamente, em outra regio); Estudo ou misso que no pode ser interrompido; Qualquer outra pessoa que se encontra no estrangeiro a trabalho.

Observao: Se ambos no puderem comparecer, devero nomear procuradores diversos. Como a procurao outorgada para o mandatrio receber, em nome do outorgante, o outro contraente, deduz-se que ambos no podem nomear o mesmo procurador, at porque h a obrigao legal de cada procurador atuar em prol dos interesses de seu constituinte, e pode surgir algum conflito de interesses. O prazo de eficcia do mandato de at 90 dias. O mandato pode ser revogado s por instrumento pblico (CC, 1.542, 3 e 4). Caso o mandante (um dos nubentes) decida revogar o mandato antes da cerimnia, o casamento no ser realizado. Todavia, no chegando tal revogao ao conhecimento do mandatrio ou do outro pretendente, caber em desfavor do revogador o pagamento de indenizao por perdas e danos.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 1.2.1 Regime de bens do casamento (casamento por procurao) No constitui requisito essencial do instrumento a meno do regime de bens do casamento, embora possa ser feita, facultativamente. No seu silncio, prevalecer o da comunho parcial, salvo se for obrigatrio, na espcie, o da separao. (Pontes de Miranda, Tratado de Direito de Famlia, v. I, 29, n.2, p. 195) citado por Carlos Roberto Gonalves. 1.3 Casamento putativo art. 1.561 do CC Casamento putativo o que, embora nulo ou anulvel, foi contrado de boa-f subjetiva por um ou por ambos os cnjuges. Boa-f subjetiva, no caso, significa ignorncia da existncia de impedimentos dirimentes unio conjugal. Incide, na nulidade (quer seja absoluta, quer relativa), a regra da boa-f como desconhecimento de vcio ou defeito. Assim, o casamento anulvel ou mesmo nulo, se contrado de boa-f por ambos os cnjuges, em relao a estes como aos filhos, produz todos os efeito at o dia da sentena anulatria. O sentido do dispositivo legal protege to-s um dos cnjuges se somente ele estava de boa-f ao celebrar o casamento; nesse caso, restringindo o espectro de incidncia da boa-f negativa, seus efeitos civis s a ele e aos filhos aproveitaro. Presuno legal absoluta de boa-f cobre a situao jurdica dos filhos; mesmo que ambos os cnjuges estivessem de m-f ao celebrar o casamento, seus efeitos civis s aos filhos aproveitaro. 1.4 Casamento Nuncupativo piedoso ou in extremis a unio entre pessoas de sexos diferentes entre si, objetivando a constituio de uma famlia, quando ao menos um dos nubentes se encontra portando alguma molstia grave, que o submeta a possvel morte iminente. O casamento nuncupativo pode ser realizado oralmente, na presena de seis testemunhas desimpedidas. Uma vez realizado, as seis testemunhas devero comparecer ao frum, em at cinco dias, para reduzir a termo judicial que: a) Foram convocadas pelo cnjuge portador da enfermidade; b) Que o cnjuge portador da enfermidade se encontrava em perigo de vida iminente, porm em perfeito estado de sanidade mental para livremente exteriorizar a sua vontade; e c) Que os nubentes aceitaram contrair o casamento. A autoridade judicial determinar a realizao de diligncias e remeter os autos ao MP, que emitir parecer em cinco dias. Conclusos os autos e no mesmo prazo o juiz determinar a regularizao formal de casamento civil realizado nestas condies, se for o caso.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Conforme anteriormente salientado, a sentena judicial se sujeita, nesse caso, a recurso no prazo de cinco dias. Acolhendo-se a habilitao do casamento, a sentena ser transcrita no registro civil. O registro do casamento proporcionar ao matrimnio os efeitos retroativos data da efetiva realizao da cerimnia npcias (eficcia ex tunc). Se o enfermo puder comparecer ao cartrio para ratificar o ato antes do tempo de consumao do registro, ser desnecessria a adoo das providncias acima mencionadas. 1.5 Casamento consular Casamento consular aquele celebrado por brasileiro no estrangeiro, perante autoridade consular brasileira, conforme previsto no Cdigo Civil, art. 1.544 e na LICC, art. 18. O art. 1.544 do CC dispe que esta espcie de casamento deve ser submetida a registro em cartrio, no Brasil, no prazo de 180 dias, a contar da volta de um ou ambos os cnjuges para residncia no pas. 1.6 O casamento a bordo presidido por pessoa que no possui a autoridade legal para tanto, incumbindo ao capito da embarcao a sua realizao. Aplicam-se ao casamento a bordo as regras do casamento In extremis, devendo, no mais, ocorrer o registro da cerimnia no cartrio ou no consulado, no prazo de 48 horas, a partir da primeira aportagem da embarcao. X - Das provas do casamento O casamento pode ser comprovado atravs de provas diretas ou indiretas. A certido do registro civil do casamento o meio direto de sua prova. Entretanto, fatores outros podem ensejar no apenas o extravio ou perda da certido, como, ainda, inviabilizar a prova documental direta das npcias. Na ausncia justificvel da certido de casamento, admite-se a demonstrao do matrimnio civil por outros meios. Fala-se na comprovao da posse do estado de casado. A impossibilidade de extrao de nova via da certido de casamento um caso tpico de ausncia justificvel. Outro seria ao falecimento dos pais, quando apenas eles tinham o conhecimento sobre as informaes necessrias do seu casamento. Admite-se, assim, a prova indireta, pelos meios no proibidos pelo direito, realando-se os documentos e as testemunhas, como o que sucede com a posse do estado de casado. Posse do estado de casado prova de aparncia da existncia do casamento, pela publicidade do tratamento conferido reciprocamente entre o homem e a mulher, que presume a existncia do matrimnio civil. Os trs requisitos que compreendem a posse do estado de casado:

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado O nome (nomen) requisito acidental; O tratamento (tractatus) deve haver um comportamento que revele a existncia de uma relao ntima; Fama (reputatio) devem os interessados possuir uma reputao perante a sociedade.

Na dvida, vigora o princpio in dbio pro matrimonio, presumindo-se a existncia do casamento civil, o que pode inclusive vir a ser reconhecido judicialmente. Nesse caso, a sentena ter eficcia ex tunc, retroagindo data apontada como sendo a do matrimnio. O reconhecimento da posse do estado de casado gera efeitos tanto para os cnjuges como para os filhos, cujos direitos so, ento, preservados. XI CASAMENTO INEXISTENTE, NULO E ANULVEL arts. 1.548 a 1.564 do CC. Como cedio por todos, no Brasil, por muitos anos, todos os casamentos eram realizados pela Igreja, em virtude de a quase-maioria dos brasileiros ser catlica. Com a chegada de imigrantes, era necessrio que se disciplinasse o casamento de uma forma a adequar-se s novas circunstncias. Foi assim que em 11 de setembro de 1861 foi editada lei que disciplinava o casamento dos acatlicos, no entanto somente com a proclamao da Repblica veio o casamento a perder seu carter confessional. O casamento inexistente sequer foi mencionado, a exemplo do Cdigo de 1916, no Novo Cdigo Civil. A exposio de motivos do Cdigo de 2002 tambm no menciona a hiptese de casamento inexistente no bojo de seu texto. A doutrina e a jurisprudncia so as vozes unssonas, que alardeiam, entre ns, o instituto do casamento inexistente. Washington de Barros Monteiro pontua em seu Curso de direito Civil (1982, p. 73): "O ato inexistente o nada. A lei no o regula, porque no h necessidade de disciplinar o nada". De fato, no h interesse prtico em distinguir hipteses que justificariam a inexistncia de um ato jurdico, visto que j esto claramente enumerados, no Cdigo, os casos de nulidade, que se confundem com as hipteses de inexistncia, salvo em matria de casamento. A seguir, elucidar-se-o os conceitos de inexistncia, nulidade e anulabilidade, estudados a partir do direito matrimonial. Foi o jurista alemo Zacharie (VENOSA, 2003, p. 113) que pela primeira vez doutrinou a diferena entre a inexistncia e a nulidade de um ato jurdico. O casamento pode ser visualizado sob trs planos distintos: o da existncia, o da validade e o da eficcia. O conceito de invalidade abrange o de nulidade e o de anulabilidade. Casamento nulo aquele que, embora existente invlido e ineficaz, pois decorre "da falta de qualquer dos requisitos legais da formao do ato ou de expressa disposio da lei (AMARAL, 2003, p. 524).

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado No segundo configurada uma sano de menor grau do que o primeiro. J o casamento inexistente aquele em que falta um elemento essencial sua formao, no chegando a formar-se, sendo, por conseguinte, invlido. Conforme aduz Pontes de Miranda (1947, p. 295) o casamento inexistente "pura materialidade de fato, sem nenhuma significao jurdica, ao contrrio do ato nulo, que teve sua vida jurdica, embora viciado, mas que pode ser revalidado, ou conservar a sua existncia, inicialmente precria, por se no ter requerido nunca a nulidade, ainda que insanvel o vcio." considerado inexistente o casamento em trs situaes: Quando este celebrado por autoridade absolutamente incompetente; Quando contrado sem consentimento; Quando realizado entre pessoas do mesmo sexo.

A unio entre pessoas do mesmo sexo, ainda quando solenemente realizada, no constitui matrimnio porque da essncia deste negocio jurdico a sua celebrao entre homem e mulher, visto que este contrato jurdico apresenta trs finalidades, quais sejam: a) disciplinao das relaes sexuais entre os cnjuges; b) mtua assistncia; c) procriao. Aduz Pontes de Miranda (1947, p. 296) que "se o sexo preponderante diferente do sexo do cnjuge normal, ou h duvida sobre a preponderncia, tal casamento apenas anulvel por defeito irremedivel". A ausncia de celebrao como tambm a ausncia de autoridade competente outra hiptese de inexistncia matrimonial. Se o casamento for celebrado perante juiz incompetente ratione loci, resta configurada hiptese de anulabilidade, visto que a incompetncia relativa. Suponha-se, por outro turno, que certo casamento seja celebrado perante delegado de polcia ou prefeito. Neste caso, patente a incompetncia absoluta, portanto resta configurada a inexistncia do matrimnio em casos de incompetncia materiae. Finalmente, a ausncia total de consentimento tambm torna inexistente o casamento. Se o nubente nega o seu consentimento ou omite sua vontade diante da autoridade celebrante, resta ausente um dos elementos essenciais constituio do casamento. No se deve confundir ausncia de consentimento com defeito da vontade. A primeira torna o casamento inexistente, a segunda simplesmente anula o ato. Cabe ainda ressaltar os casos de nulidade a fim de que se possa diferenci-los das hipteses de inexistncia. Aqueles esto expressamente consignados nos arts. 1521 e 1548 do Novo Cdigo Civil. A seguir vejamos essas hipteses conforme expressa disposio do Cdigo Civil: Art. 1521. No podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta;32

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado III - o adotante com quem foi cnjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de homicdio contra seu consorte. Art. 1548. nulo o casamento contrado: I - pelo enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil. II por infringncia de impedimento. As demais hipteses de anulao do matrimnio esto expressamente disciplinadas, e so todas sanveis. imperioso salientar que o casamento inexistente no produz nenhum efeito no plano jurdico, j o mesmo no ocorre no casamento nulo. Este poder suscitar efeitos tais como o impedimento da mulher casar nos dez meses seguintes separao de corpos. O matrimnio inexistente no goza de efeitos quando contrado de boa-f, no entanto o mesmo no se pode afirmar em relao ao casamento nulo. Este, segundo o artigo 1561 do Cdigo Civil, em relao ao cnjuge ou aos cnjuges que o houverem contrado de boa-f como tambm aos filhos, produz todos os efeitos at o dia da sentena de nulidade. A seguir, analisar-se- os aspectos processuais que envolvem o instituto estudado. Embora "os atos inexistentes sejam um nada jurdico" (VENOSA, 2003, p. 115), muitas vezes, possuem efeitos materiais que precisam ser extinguidos por meio de um decreto judicial declaratrio e mandamental, j que ser foroso cancelar o Registro Civil, mediante um mandado de cancelamento. A inexistncia matrimonial alegvel, caso houver utilidade e interesse processual, tanto por meio de uma ao declaratria quanto por meio de exceo e tambm incidenter tantum, sendo decidida como tal, sem que sobre o assunto pese autoridade de coisa julgada. O Ministrio Pblico sempre interessado nesse caso. No que diz respeito nulidade ou anulao, tem-se o que a doutrina costuma chamar de processo necessrio. A decretao de nulidade s poder ser exercida por uma sentena desconstitutiva. A inexistncia do casamento pode ser alegada por qualquer pessoa, e tambm pode o juiz decret-la oficiosamente; enquanto a nulidade matrimonial, diferentemente dos atos jurdicos em geral, s pode ser argida por interessados ou o Ministrio Pblico, na medida do artigo 1549 do Cdigo Civil, no podendo o juiz pronunci-la voluntariamente. No negcio inexistente, no h que se falar em prescrio, em virtude de que no se pode prescrever um ato que nunca se formou.

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado Resumindo: a) o direito matrimonial ainda influenciado por princpios de ordem eclesistica; b) o Cdigo Civil brasileiro no disciplina o casamento inexistente, embora os ordenamentos alemo e portugus o faam; c) a invalidade e a inexistncia matrimoniais no devem ser estudadas a partir da teoria geral dos defeitos dos atos jurdicos; d) o casamento nulo surte efeitos, enquanto nenhuma conseqncia jurdica produzida pelo casamento inexistente, mesmo quando contrado de boa-f, em virtude de este ser um mero estado de aparncia; e) a ao, quando houver necessidade de produo de provas, para pleitear-se a inexistncia do matrimnio a declaratria; g) em hiptese alguma poder haver casamento entre pessoas do mesmo sexo. A coabitao entre pessoas do mesmo sexo chamada de unio homoafetiva. 2. Invalidade do casamento (nulidade do casamento) Casamento invlido aquele que no gera efeitos jurdicos desde a data de sua celebrao, uma vez declarada a sua nulidade. 2.1 Casos de nulidade: d) e) O casamento contrado por enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil; O casamento contrado sob impedimento dirimente absoluto.

2.2 Pessoas que podem requerer a invalidade O Julgador, o Ministrio Pblico e qualquer interessado. A nulidade atende a um interesse social e, por isso, podem ser reconhecida ex officio pelo julgador, ou seja, independentemente da provocao de qualquer interessado. Qualquer pessoa, inclusive o Ministrio Pblico, pode requerer a nulidade do casamento. A declarao judicial de invalidade do casamento nulo possui eficcia ex tunc e gera efeitos retroativos data da cerimnia, que recai sobre os cnjuges. No prejudica, entretanto, o terceiro de boa-f que adquiriu direitos a ttulo oneroso do casal. 2.3 A nulidade do casamento imprescritvel Nulidade absoluta a invalidade pode ser requerida a qualquer tempo. A nulidade em direito de famlia tem caractersticas prprias, e o seu reconhecimento

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado deve ser promovido mediante ao prpria declaratria de nulidade. Observao: Atente para o fato que no artigo 1.548, inciso I CC nos traz que o nulo o casamento realizado pelo enfermo mental, e no artigo 1.550, inciso IV, j admite que o ato do matrimnio civil possa ser anulvel. Art. 1.548. nulo o casamento contrado: I - pelo enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil; Ora, todo enfermo mental incapaz de consentir. Criando uma confuso entre a palavra discernir e consentir. No Dicionrio Aurlio: Discernir significa julgar, distinguir, conhecer claramente; Consentir significa concordar, aprovar, admitir, aquiescer e anuir. Vejamos o artigo 1.550, Inciso IV: Art. 1.550. anulvel o casamento: IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequvoco, o consentimento; Todo enfermo mental, sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil, desprovido de capacidade para consentir, portanto pairam dvidas interpretativas ao analisarmos os dois incisos dos arts. 1.548 e 1.550. No entendimento de Paulo Lins e Silva, jurista da rea de famlia, o inciso I do art. 1.548 deveria ser suprimido, na prxima reforma do CC. Ademais, dado ao avano da medicina neurolgica, estaria mais os casos de anulabilidade do que nulidade. 3. Ineficcia do casamento (o casamento anulvel) Casamento ineficaz aquele que gera efeitos jurdicos at a data da declarao judicial de sua anulabilidade. a) A falta de idade mnima para se casar (incisos I e II do art. 1.517 do CC) O menor que no atingiu a idade nbil poder confirmar o seu casamento assim que complet-la, obtendo a autorizao do seu responsvel legal ou suprimento judicial, se for o caso. Observao: O casamento do qual resultou gravidez no pode ser anulado por motivo de idade. b) O casamento de quem, tendo idade nbil, no obteve autorizao para se casar; Tanto na primeira hiptese como nessa somente podero requerer a anulao o prprio cnjuge menor, seus representantes legais ou seus ascendentes. O casamento do menor que possui capacidade matrimonial subsistir, se35

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado no vier a ser anulado no prazo de 180 dias, observando-se como termo inicial: - o dia em que cessou a incapacidade; ante a maioridade; - a data do casamento, se a ao for proposta pelos responsveis legais; e - a morte do incapaz, se a ao for proposta pelos seus herdeiros necessrios. Com bem aponta Silvio Rodrigues, hiptese de quase impossvel aplicao. c) Casamento contrado mediante erro quanto pessoa do cnjuge, veremos em seguida. d) O casamento celebrado perante autoridade incompetente Se o casamento vier a ser presidido e celebrado por pessoa que no se encontrava investida na forma da lei para a sua realizao, sujeitar-se- ineficcia. Admitindo-se a convalidao aps o decurso de prazo legal para a propositura de ao anulatria. O prazo decadencial* para se obter a desconstituio do casamento celebrado perante autoridade incompetente de dois anos. * 5.Jur. Extino de um direito por haver decorrido o prazo legal prefixado para o exerccio dele. [Cf., nesta acep., prescrio (5) e perempo.] e) O casamento do incapaz de consentir ou manifestar de forma inequvoca o seu consentimento. Ressalvada a hiptese do casamento contrado com enfermo mental, que de invalidade, na opinio de Roberto Senise Lisboa. f) Casamento entre ausentes Cujo mandato foi invalidado judicialmente ou revogado sem que o mandatrio ou o outro participante tivessem conhecimento de tal fato antes da cerimnia, desde que no sobrevenha a coabitao entre os nubentes.

O prazo para propositura de ao anulatria do casamento de seis meses, contados a partir da data da celebrao do casamento. 3.1 Erro essencial sobre a pessoa do outro cnjuge art. 1.556 do CC O artigo 1.556 do CC permite a anulao do casamento por erro essencial quanto a pessoa do outro cnjuge. O erro quanto pessoa deve ser essencial, capaz de tornar insuportvel a continuidade da vida em comum dos cnjuges. Os casos de error in persona, no casamento, so, entre outros:36

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado a) identidade do cnjuge; A identidade da pessoa do outro cnjuge pode ser fsica ou jurdica. No caso de identidade fsica, possvel o casamento efetuado com pessoa diversa, pela aparncia fsica. Exemplo: Um rapaz contrai casamento com uma moa que irm gmea daquela com quem gostaria realmente de ter se casado; ou Um homem se casa com uma pessoa que efetuou a operao de mudana de sexo e falsificou os seus documentos pessoais;

A noo de identidade alcana tambm a honra e a boa fama. O desconhecimento de que o cnjuge praticava atos contrrios moral e aos bons costumes, por exemplo: Prostituio; Aliciao de menores para prostituio ou venda de drogas; Atos homossexuais, entre outros.

Estes atos tornam possvel o reconhecimento judicial da anulabilidade do casamento. b) a ignorncia de condenao do outro cnjuge por crime anterior ao casamento, que torne insuportvel a vida em comum; O cnjuge que foi condenado pela prtica de um crime e que deixou de comunicar isso ao outro nubente pode ter o seu casamento anulado por tal fato. f) A ignorncia de molstia grave e transmissvel capaz de colocar em risco a vida ou a sade do cnjuge que no portador da doena, bem como da sua descendncia;

O cnjuge que no alertado pelo outro acerca da doena anteriormente contrada, transmissvel por contgio ou por herana hereditria, pode pleitear a anulao do casamento. Exemplo: Aquele que se casa com uma pessoa portadora do vrus da AIDS, que no comunica a doena antes da realizao do casamento.

d) A ignorncia de defeito fsico irremedivel do outro cnjuge; Tambm se torna possvel a anulao do casamento por defeito fsico irremedivel de um dos cnjuges, desconhecido pelo outro at a realizao do matrimnio civil. o que sucede com a impotncia na prtica das relaes sexuais. Exemplos: Impotncia coeundi

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado A impossibilidade funcional de manter relaes sexuais (cpula). Entretanto, NO H ANULAO DO CASAMENTO POR ERRO: Impotncia generandi que a incapacidade de fecundao, por esterilidade masculina; e Impotncia concipiendi, que a incapacidade de fecundao, por esterilidade feminina.

A coitofobia considerada como causa para a anulao do matrimnio. e) a ignorncia de doena fsica ou mental grave que, por sua natureza, torna insuportvel a vida em comum. Exemplos: Lepra, sfilis, AIDS, epilepsia. A ao de anulao do casamento por erro quanto pessoa deve ser proposta em 3 anos, a partir da realizao do matrimnio e de iniciativa exclusiva daquele que laborou em erro ou de seu representante legal. f) Coao A coao fsica ou moral irresistvel mal injusto, grave e iminente que leva a vtima a praticar ato jurdico diverso daquele que ela realizaria caso estivesse na plenitude de sua liberdade em declarar a vontade. Se o consentimento de um dos cnjuges por ocasio da celebrao do casamento civil foi obtido a partir de grave ameaa consubstanciada em um fundado temor de mal iminente vida, sade ou honra sua ou de seus familiares, cabe anulao do casamento. A ao para propor a ineficcia do matrimnio civil tem o prazo de 4 anos, contados da sua realizao, e de iniciativa exclusiva da vtima da coao ou de seu representante legal. 4. Casamento Putativo Casamento putativo ou aparente o matrimnio civil celebrado com boa-f, ao menos, de um dos nubentes. Trata-se a princpio de casamento aparentemente regular, que se encontra, eivado (manchado) com alguma causa de nulidade ou de anulabilidade, desconhecida por um ou por ambos os cnjuges. Podemos dar como exemplo: o rapaz que se casa com a sua irm, desconhecendo tal fato. O casamento putativo beneficia ao cnjuge de boa-f, estendendo-se sobre ele os efeitos decorrentes de um matrimnio regular. Poder exigir o cumprimento do pacto antenupcial por parte do cnjuge culpado. O cnjuge de m-f no poder se beneficiar dos efeitos pessoais e patrimoniais do casamento putativo, pois conhecia o fato impeditivo do matrimnio, tornando-se culpado pela sua realizao. Perder, ainda, todas as vantagens recebidas do cnjuge inocente. Os filhos havidos do casamento putativo so equiparados aos filhos havidos do

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado casamento regular, para todos os fins de direito. Quadro sintico - casamento inexistente, nulo e anulvel Casamento inexistente: Pessoas do mesmo sexo; Falta de habilitao Religioso sem efeitos civis. Casamento invlido (nulo) no gera efeitos jamais se convalida a nulidade pode ser alegada a qualquer tempo. Impedimento dirimente absoluto Enfermo mental Ao imprescritvel Casamento ineficaz Pode se convalidar caso a anulao no seja pedida dentro do prazo previsto em lei. Impedimento dirimente relativo (causas suspensivas) Erro quanto pessoa do outro Coao Incompetncia da autoridade Erro quanto pessoa Identidade fsica e civil 1. pessoa diversa 2. honra, moral e bons costumes 3. ideologia Crime inafianvel anterior ao casamento sentena irrecorrvel Molstia grave e transmissvel perigo de contgio Enfermidade mental grave Resumo 2 INVALIDADE DO CASAMENTO

NULIDADE (art. 1.548)

DA INVALIDADE DO CASAMENTO HIPTESES PRAZO LEGITIMIDADE DECADENCIAL ATIVA PARA INVALIDAO BIGAMIA qualquer (art. 1.448, II e interessado ou o 1.521, VI) o exerccio do MP, motivado INCESTO direito por qualquer (art. 1.548, II e invalidao do pessoa, ou de ofcio39

EXCEES

Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 1.521, I, II, III, V)HOMICDIO

(art. 1.548, II e 1.521, VII)ENFERMIDADE MENTAL

casamento nulo perptuo ou, pelo menos, vitalcio

art. 1.549

(art. 1.548, I) 180 dias, cnjuge menor No se anula, contados do dia art. 1.552, I por motivo de POR MOTIVO DE em que perfez a idade, o IDADE idade de 16 casamento de (homens e anos que resultou gravidez. mulheres art. 1.560, 1o art. 1.551. menores de 16 O menor que anos) (art. 1.550, I) no atingiu a representantes idade nbil 180 dias, legais ou contados da ascendentes do poder, depois data da cnjuge menor de complet-la, celebrao do art. 1.552, II e III confirmar seu casamento, casamento art. ANULVEL autorizado por 1.560, 1o (arts. 1.550 e seus 1.558) representantes legais ou com suprimento judicial. art. 1.553 180 dias, cnjuge que contados do dia casou sem a em que cessou autorizao AUSNCIA DE art. 1.555 caput a menoridade AUTORIZAO art. 1.555 caput DO e 1o REPRESENTANTE 180 dias, representantes (art. 1.550, II) contados da legais art. 1.555 caput data da celebrao do casamento art. 1.555 e 1 180 dias, herdeiros contados da necessrios art. 1.555 caput morte, se o cnjuge no autorizado morrer antes de 180 dias de completar os 18 anos:

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado art. 1.555, 1ERRO ESSENCIAL QUANTO PESSOA DO OUTRO CNJUGE

(arts. 1.550, III, 1.556 e 1.557) I o que diz respeito identidade, honra e boa fama; II a ignorncia de crime, que por sua natureza, torne insuportvel a convivncia; III a ignorncia de defeito fsico irremedivel, ou de molstia grave e transmissvel; IV a ignorncia de doena mental grave;

3 anos, contados da data da celebrao do casamento art. 1.550, III

cnjuge que incidiu em erro art. 1.559

A coabitao do cnjuge que incidiu em erro, ou sofreu coao, havendo cincia do vcio, valida o ato, ressalvadas as hipteses dos incisos III e IV do art. 1.557. cf. art. 1.559

180 dias, cnjuge incapaz No se anular contados do dia art. 1.555 caput o casamento INCAPAZ DE em que cessou quando sua CONSENTIR OU a incapacidade celebrao DE MANIFESTAR, art. 1.555 caput houverem DE MODO e 1o assistido os INEQUVOCO, O 180 dias, representante representantes CONSENTIMENTO legais do contados da legal (art. 1.550, IV) incapaz, ou art. 1.555 caput data da tiverem, por celebrao do e 1o qualquer casamento modo, art. 1.555 e 1 manifestado 180 dias da herdeiros sua aprovao. morte do necessrios art. 1.555 caput art. 1.555, 2 relativamente incapaz, se e 1o

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado morrer antes de atingir a capacidade art. 1.555, 1 180 dias, MANDATRIO contados a COM PODERES partir da data do REVOGADOS OU conhecimento INVALIDADOS da celebrao (art. 1.550, V e pelo mandante art. 1.560, 2 nico)

cnjuge mandante lei omissa

AUTORIDADE INCOMPETENTE

(art. 1.550, VI)

2 anos da celebrao do casamento art. 1.560, II

cnjuges lei omissa

COAO

(art. 1.558)

4 anos, contados da data da celebrao do casamento - art. 1.560, IV

cnjuge coato (art. 1.559)

Por revogao ou invalidade do mandato no se anula casamento no qual sobreveio coabitao dos cnjuges art. 1.550, V Subsiste o casamento celebrado por quem, sem possuir a competncia legal, exercer publicamente as funes de juiz de casamentos e tiver registrado o ato no Registro Civil art. 1.554 art. 1.559 citado na hiptese de erro essencial

XII Efeitos Jurdicos do casamento arts. 1.565 a 1.570 do CC Com o advento da CF/88, a famlia se desvinculou do casamento, dele no necessitando para se considerar legtima. O NVCC adotou a mesma postura. No, obstante, o casamento continua produzindo outros efeitos. Dentre eles podemos destacar: 1) esfera pessoal: a) fidelidade recproca dever de assistncia imaterial, exclusividade no casamento e dos direitos deles decorrentes. A fidelidade matrimonial deve compreender tanto a disposio do uso do corpo (fidelidade fsica) como a lealdade do tratamento dispensado ao cnjuge, na esfera ntima ou privada e mesmo perante terceiros (fidelidade psquica ntima e social).

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Prof Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado b) representao da famlia A representao da famlia perante a sociedade e na prtica de atos e negcios jurdicos atualmente exercida tanto pelo homem como pela mulher. a) Nome e patronmico - cada um poder acrescer ao seu o sobrenome do outro; b) Vida em comum no domiclio conjugal ser fixado pelo casal; c) A coabitao entende-se por dever de coabitao o da vida comum, conseqncia da assistncia imaterial, que abrange tanto os aspectos morais da relao conjugal como as relaes fsicas e sexuais. d) Planejamento familiar o planejamento familiar de responsabilidade comum do casal, fundado nos princpios constitucionais da dignidade humana e da paternidade responsvel, o planejamento familiar viabiliza o estabelecimento de orientaes comuns aos membros da famlia sobre a constituio, limitao e aumento da prole e a adoo dos mis lcitos necessrios para o desenvolvimento fsico, psquico e intelectual dos integrantes da sua famlia. 2) Esfera patrimonial O casamento gera, para os consortes, alm dos efeitos pessoais, conseqncias e vnculos econmicos, consubstanciados no regime de bens, doaes recprocas, na obrigao de sustento de um ao outro e da prole, no usufruto dos bens dos filhos durante o poder familiar, no direito sucessrio