apostila de direito do or cdc

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS1. INTRODUO AO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 2. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO CDC 3. CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: NORMAS DE ORDEM PBLICA E INTERESSE SOCIAL 4. PRINCPIOS CONTRATUAIS DO DIREITO DO CONSUMIDOR 5. RELAO JURDICA DE CONSUMO 5.1 O conceito de consumidor 6. CONCEITO DE FORNECEDOR 7. OBJETO DA RELAO DE CONSUMO: PRODUTOS E SERVIOS 8. RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 9. PRESCRIO E DECADNCIA NO DIREITO DO CONSUMIDOR 10. DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA 11. OFERTA 12. PUBLICIDADE 13. PRTICAS ABUSIVAS 14. COBRANA DE DVIDAS 15. BANCO DE DADOS DE FORNECEDORES 16. PROTEO CONTRATUAL 17. CLAUSULAS ABUSIVAS 18. AES COLETIVAS PARA DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGENEOS 19. DAS AES DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIOS 20. Lei n 8.078, de 11 de setembro DE 1990. 21. Decreto no 2.181, de 20 de maro de 1997. 22. Decreto no 5.903, de 20 de setembro de 2006. 23. Decreto no 6.523, de 31 de julho de 2008. 24. Lei federal n. 7.347, de 24 de julho de 1985. 25. Lei federal no 10.962, de 11 de outubro de 2004. 26. Lei Distrital no 1.418, de 11 de abril de 1997. 27. Lei Distrital no 2.547, de 12 de maio de 2000. 28. Lei Distrital no 2.656, de 28 de dezembro de 2000. 29. Lei Distrital no 2.810, de 29 de outubro de 2001. 30.Lei Distrital no 3.278, de 31 de dezembro de 2003 31. Lei Distrital no 3.683, de 13 de outubro de 2005. 32. Lei Distrital no 3.941, de 2 de janeiro de 2007. 33. Lei Distrital no 4.029, de 16 de outubro de 2007. 34. Lei Distrital no 4.083, de 4 de janeiro de 2008. 35. Lei Distrital no 4.111, de 26 de maro de 2008. 36 Lei Distrital no 4.225, de 24 de outubro de 2008. 37. Lei Distrital no 4.277, de 19 de dezembro de 2008.

1Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS38. Lei Distrital no 4.309, de 9 de fevereiro de 2009. 39. Lei Distrital no 4.311, de 9 de fevereiro de 2009.

2Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS1. INTRODUO AO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

O Cdigo de Defesa do Consumidor surgiu de uma srie de movimentos histricos de grande repercusso social e econmica. A comear pela Revoluo Francesa que foi o mote para o Estado liberal, possibilitando burguesia a ampliao de suas atividades, obstaculizada pelas dificuldades de circulao da riqueza em razo do regime absolutista at ento vigente. Os ideais do Estado liberal logo se espalharam por outros pases, levando consigo a ordem da no-interveno estatal nos negcios privados permitindo-se que estes flussem livremente segundo as regras de mercado. O fenmeno que mais ilustra esse perodo foi a Revoluo Industrial, onde surgiram as grandes corporaes com produo mecanizada em larga escala que se valiam da explorao de uma grande massa de trabalhadores. Todavia, em razo dessa explorao em massa de trabalhadores, tornou-se necessria uma maior interveno do Estado nas questes sociais e econmicas. No Brasil o fenmeno foi bastante semelhante. A partir de 1934, as constituies, alm das regras de regncia do Estado Brasileiro, passaram a dispor de forma mais detalhada sobre a ordem social e econmica. imperioso destacar que, antes da dcada de 30 a maioria da populao do pas vivia em reas rurais. As relaes de consumo eram travadas com uma maior proximidade e pessoalidade entre consumidor e fornecedor, sendo este ltimo, geralmente, um comerciante ou o empresrio de pequeno porte; o processo de fabricao de produtos era basicamente artesanal. Todavia, a partir da dcada de 30 houve uma grande migrao para os centros urbanos. O desenvolvimento de nossos centros urbanos, atravs da proliferao de indstrias e de maior oferta de servios nas regies metropolitanas deu origem a grandes plos de concentrao populacional, reduzindo aquela proximidade entre fornecedor e consumidor. As atividades dos pequenos comerciantes ou empresrios logo foram absorvidas pelas grandes companhias que passaram a produzir produtos em srie e em larga escala. A relao de consumo passou a ter maior complexidade, tornando-se impessoal e indireta. Desta feita com o crescimento do poderio econmico de grandes empresas, a sofisticao dos produtos e servios e os riscos sade e segurana que estes produtos eventualmente poderiam causar, a relao de consumo passou a representar um vnculo jurdico marcado essencialmente pelo desequilbrio entre consumidor e fornecedor. Diante disso, a tendncia foi implantar regras que abrandassem esse desequilbrio que a norma poca, o Cdigo Civil de 1916, no conseguia abrandar. Ao longo do sculo XX vrios diplomas normativos foram criados, revelando a crescente preocupao do Brasil com a defesa do consumidor, embora no tratassem especificamente sobre o tema. Dentre os diplomas, pode-se destacar o Decreto 22.626/33 (lei da usura), a Lei 1.621/51 (lei dos crimes contra a economia popular), a Lei 4.137/62 (lei da represso ao abuso do poder econmico), a Lei n. 7.347/85 (lei da ao civil pblica) e a Lei 7.492/86 (lei dos crimes contra o sistema financeiro nacional). O legislador constitucional de 1988, ciente de que as normas at ento vigentes no se mostravam totalmente eficazes para eliminar as desigualdades existentes nas relaes de consumo, fez inserir no texto da Carta Magna alguns dispositivos de contedo programtico que assegurassem um tratamento mais direto ao tema.

2. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO CDC A Constituio Federal traz referncias sobre o direito do consumidor, vejamos:

Art. 5, XXXII - o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V - produo e consumo (...) VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico;

3Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSArt. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios: (...) V - defesa do consumidor.

possvel se concluir pelos dispositivos acima que a Constituio determina ao Estado que tome e elabore medidas necessrias garantida da defesa do consumidor. importante destacar que o art. 48 da ADCT Atos das disposies Constitucionais Transitrias determinou que o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgao da Constituio, elaborar cdigo de defesa do consumidor. Diante disso, o Congresso Nacional elaborou o CDC que foi promulgado em 11.09.1990, quase dois anos aps a entrada em vigor da Constituio Federal, mas tal fato no acarretou nenhum vcio formal naquele diploma legislativo.

TOME NOTA: a Unio possui competncia concorrente para editar normas sobre consumo, e, por tal competncia cabe Unio a edio de normas gerais, nos termos do art. 24, de modo que possvel que cada Estado, o Distrito Federal e os municpios utilizando-se de sua competncia suplementar, editarem leis especficas sobre relaes de consumo, em atendimento s suas peculiaridades regionais.

3. CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: NORMAS DE ORDEM PBLICA E INTERESSE SOCIAL

O art. 1 do CDC assim dispe:

O presente cdigo estabelece normas de proteo e defesa do consumidor, de ordem pblica e interesse social, nos termos dos arts. 5, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituio Federal e art. 48 de suas Disposies Transitrias.

O Cdigo de Defesa do Consumidor pertence ao ramo do Direito Privado, ou seja, uma norma destinada essencialmente a regular relaes privadas, onde sobrelevam os interesses particulares.

ATENO: Apesar do Direito do Consumidor regular, via de regra, as relaes privadas possvel a aplicao do CDC s relaes em que o Estado participe de uma relao de consumo, como fornecedor ou consumidor.

Todavia, as normas contidas no CDC so normas tidas como de ORDEM PBLICA e de INTERESSE SOCIAL. Normas de ordem pblica so aquelas que so consideradas cogentes, imperativas e inderrogveis, que refletem um acentuado intervencionismo estatal sobre a relao de consumo. As normas do CDC abrandam o princpio da autonomia da vontade, tanto que as clusulas que infringem o contido no CDC podem ser declaradas nulas de ofcio pelo Poder Judicirio. Desta feita, ainda que o consumidor esteja plenamente informado, ciente e de acordo com a insero de uma clusula contratual que se enquadre em alguma vedao legal e aceite abrir mo dos direitos que o CDC lhe assegura, a vontade por ele manifestada no ter qualquer valor jurdico, desde que o consumidor suscite essa questo em juzo. J o entendimento de que o CDC contm normas de interesse social, revela que os preceitos contidos no cdigo no buscam o acirramento de eventuais conflitos entre a classe fornecedora e a classe consumidora, mas sim visam harmonizao de seus

4Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSrespectivos interesses, nivelando os desequilbrios e as desigualdades que normalmente caracterizam as relaes jurdicas dessa natureza. Ressalte-se que, em razo do interesse social, o CDC ao mesmo tempo em que prev diversos mecanismos de proteo ao consumidor, tambm procurar garantir o desenvolvimento das atividades dos fornecedores em geral.

4. PRINCPIOS CONTRATUAIS DO DIREITO DO CONSUMIDOR A principal fonte do direito do consumidor foi, sem dvida, o contrato, que por sua vez rege-se por alguns princpios elencados tradicionalmente em cinco: autonomia da vontade, obrigatoriedade, consensualismo, relatividade e da boa-f.

4.1 autonomia da vontade Tal princpio parte da premissa de que todos tm plena liberdade para contratar (estabelecer quando, como, onde e o qu contratar). Mesmo quando se est diante de contratos de adeso, onde o consumidor no tem possibilidade de discutir clusulas, livre a este contratar ou no. possvel ao consumidor escolher qual contrato de adeso lhe afigure mais interessante. Ressalte-se que, restringindo o princpio da autonomia da vontade, o CDC no seu art. 39, II a IX, determina que o fornecedor poder ser compelido a concretizar as vendas, no lhe cabendo qualquer margem de liberdade para avaliar a convenincia, ou no, do fechamento do negcio de consumo, constituindo em prtica abusiva a sua recusa.

4.2 Obrigatoriedade A obrigatoriedade decorre da expresso pacta sunt servanda o pactuado deve ser cumprido -, uma vez que celebrado o contrato, devem as partes cumpri-lo fielmente, no podendo uma delas, livremente, se eximir das obrigaes contratadas. No entanto, deve-se atentar para o fato de que possvel a modificao ou a reviso dos contratos, em razo da existncia de clusulas abusivas ou de situaes que onerem sobremaneira uma das partes do contrato.

4.3 Relatividade De acordo com tal princpio, os efeitos do contrato s se produzem em relao s partes que a ela aderirem, no interferindo na situao jurdica de terceiros. Todavia, existem situaes que abrandam tal princpio, como ocorre no caso do consumidor por equiparao, conforme previsto no art. 17 do CDC em que se tem, por exemplo, um acidente de avio em que alm de causar danos aos passageiros, tambm causa danos a outras pessoas que nada contrataram com a empresa de avio. Tais pessoas sero consideradas consumidoras por equiparao.

4.4 Consensualismo O princpio do consensualismo parte da premissa de que o contrato se aperfeioa com simples acordo de vontades (consenso) entre as partes. De acordo com o CDC o princpio do consensualismo vigora com grande fora, eis que no so necessrias maiores formalidades para a formao dos contratos. Veja-se por exemplo que num contrato de compra e venda, o contrato se aperfeioa no momento em que o vendedor aceita o preo oferecido, independentemente da entrega da coisa.

4.5 A boa-f Pelo princpio da boa-f as partes devem formar o contrato com boas intenes, visando o adequado atendimento de suas necessidades materiais e econmicas, de modo a proporcionar segurana ao pacto, com a preservao da integridade dos bens e direitos de cada parte. A boa-f deve nortear a conduta das partes no somente ao longo da execuo do contrato, mas tambm durante as etapas que antecedem a sua celebrao. comum falar-se em responsabilidade pr-contratual e responsabilidade ps-contratual. Assim, as

5Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSpartes devem agir de forma correta antes, durante a execuo e depois do contrato, pois mesmo aps o seu cumprimento pode sobrar-lhe efeitos residuais, tais como a garantia do produto ou do servio.

4.6 Outros princpios 4.6.1 Princpio da preservao dos contratos possvel no decorrer da execuo de um contrato sobrevirem fatos imprevisveis que possam alterar sobremaneira as condies inicialmente pactuadas. Atualmente, o entendimento que se aplica o de que antes de se buscar a resciso contratual em razo de tais fatos imprevistos, deve-se buscar preservar o contrato e eliminar apenas os fatores de desequilbrio detectados. Assim, busca-se a reviso do contrato ao invs de sua resciso. Deve-se procurar ao mximo manter o contrato firmado pelas partes, evitando-se ao mximo promover-se a sua extino.

4.6.2 Princpio da vulnerabilidade do consumidor Trata-se de uma das maiores premissas do direito do consumidor. O princpio da vulnerabilidade do consumidor se encontra o art. 4, I do CDC. Por tal princpio parte-se da premissa de que o consumidor a parte mais fraca da relao de consumo, pois quem apresenta maiores sinais de fragilidade tcnica e econmica frente ao fornecedor.

TOME NOTA: a fragilidade tcnica, reveladora da vulnerabilidade do consumidor, estar sempre e invariavelmente em qualquer relao de consumo, constituindo em verdadeira presuno absoluta no sistema do CDC, pelo no admite prova em contrrio.

A fragilidade do consumidor presumida mesmo que ele seja dotado de excelente nvel cultural ou de elevados conhecimentos tcnicos. A fragilidade do consumidor tem a ver com a sua manifesta inferioridade frente ao fornecedor no que concerne ao poder aquisitivo, ao poder financeiro. extreme de dvidas que o fornecedor sempre ter melhores condies de se defender em qualquer litgio que venha a travar com o consumidor, seja em sede judicial, seja em sede administrativa. Essa condio econmica avantajada permitir ao fornecedor contratar bons advogados em qualquer localidade do pas, produzir provas com maior facilidade, manter um nvel de organizao que propicie com maior eficincia, a guarda, a coleta de dados tcnicos, mercadolgicos e comerciais de seu interesse.

4.6.3 Princpio da transparncia Tal princpio est previsto no art. 4 do CDC e determina que o fornecedor deve dar ao consumidor pleno e prvio conhecimento acerca dos produtos e servios que so oferecidos, bem como todas as condies que envolvem a sua aquisio e utilizao. O princpio da transparncia est atrelado ao dever do fornecedor de prestar informaes, contido no art. 46 do CDC que est atrelado ao direito bsico do fornecedor de ser informado de acordo com o art. 6, III do cdigo.

4.6.4 Princpio da interveno do Estado Por tal princpio cabe ao Estado proteger o consumidor. Trata-se de consectrio lgico do princpio da vulnerabilidade do consumidor. Tal princpio pode ser manifestado principalmente atravs das campanhas educativas, a fim de proporcionar ao consumidor um melhor discernimento para fazer as escolhas que efetivamente vo atender s suas necessidades de consumo. De igual modo, a proibio de publicidade enganosa e abusiva tambm se insere no princpio da interveno estatal com vistas proteo do consumidor.

4.6.5 Princpio da confiana

6Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSQuando algum mantm uma relao de consumo com um determinado fornecedor, intuitivo se afigura que aquele consumidor deposita confiana nas informaes prestadas, na segurana, na qualidade e na eficincia do produto ou servio adquirido. Toda vez que uma relao de consumo se perfaz, evidencia-se a presena da confiana que o consumidor deposita no fornecedor que fabrica e comercializa o produto. Dessa forma, eventual vcio no produto ou no servio ir gerar a quebra desse princpio, ocasionando a responsabilidade do fornecedor.

5. RELAO JURDICA DE CONSUMO Relao jurdica o vnculo que une duas ou mais pessoas, caracterizando-se uma como sujeito ativo e a outra como sujeito passivo. Tal vnculo decorre de lei ou de contrato. Se uma das partes se enquadrar no conceito de consumidor e a outra no de fornecedor, entre elas houver nexo de causalidade (vnculo) capaz de obrigar uma a entregar a outra uma prestao, estaremos diante de uma relao jurdica de consumo, sobre a qual incidir o CDC.

TOME NOTA: A relao jurdica de consumo apresenta trs elementos: o subjetivo, objetivo e o finalstico.

O elemento subjetivo diz respeito aos partcipes dessa relao jurdica, ou seja, o fornecedor e o consumidor. Desta feita, a aplicao do CDC s se possvel se de um lado figurar algum que se enquadre no conceito de consumidor e na outra ponta situa algum que se enquadre como fornecedor. Os conceitos de consumidor e fornecedor se interagem mutuamente, de modo que a identificao de um deles em uma dada relao jurdica pressupe a presena do outro na mesma relao. O elemento objetivo tem a ver com a existncia de um produto ou servio que constitua objeto de uma relao jurdica de consumo. E o elemento finalstico significa a condio de destinatrio final do consumidor que adquire ou utiliza um produto ou servio. Tais elementos devem ser analisados sob o enfoque do CDC, conforme se ver a seguir.

5.1 O conceito de consumidor Para compreender o CDC com enfoque nas questes de concursos pblicos de extrema relevncia compreender o conceito de consumidor que se encontra no art. 2 da citada norma:

Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final. Pargrafo nico. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de consumo.

Diante disso, consumidor qualquer pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza o produto ou servio como destinatrio final. Assim, se determinada pessoa comparece a um estabelecimento e adquire um produto para a prpria utilizao, sem a inteno de revend-lo, negoci-lo ou utiliz-lo profissionalmente ou seja, na qualidade de destinatrio final estar enquadrado no conceito de consumidor. Se por ventura, determinada pessoa resolve adquirir um produto para presentear um amigo, esse amigo tambm ser consumidor na medida em que utilize o produto em proveito prprio. De igual modo, se determinada pessoa se dirige a um supermercado e l adquiro carne para um churrasco que efetivamente realizado, onde toda minha famlia comparece para consumir a carne, todos so considerados como consumidores. Assim, tanto a pessoa como seu amigo ou a famlia ao utilizarem-se dos produtos em proveito prprio sero todos considerados como consumidores. TOME NOTA: neste exemplo, o amigo e a famlia so considerados consumidores por equiparao,

7Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSnos termos do pargrafo nico do art. 2 que diz que a coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de consumo, equipara-se a consumidor.

Quando o consumidor pessoa fsica o seu enquadramento como consumidor se mostra sem maiores dificuldades, todavia, quanto pessoa jurdica consumidora necessrio distinguir vrios pontos relevantes. O art. 2 do CDC deixou claro que consumidor pode ser pessoa fsica ou jurdica e no caso da pessoa jurdica para que se enquadre no conceito de consumidor necessrio que o produto ou servio adquirido no guarde vinculao direta com a atividade-fim explorada economicamente pela pessoa jurdica. Diante disso, imagine um confeitaria que adquire matrias-primas para manufaturao (frutas, acar), ou uma montadora de veculos que adquire peas para serem utilizadas na linha de produo de seus veculos. Nessas situaes, tais sociedades empresrias no sero consideradas consumidoras, j que no estariam revestidas a qualidade de destinatrias finais de tais produtos.

TOME NOTA: quando o adquirente do produto, pessoa fsica ou jurdica, estiver atuando como intermedirio do ciclo de produo, no se enquadrar como consumidor, por no ser destinatrio final.

Imagine-se agora que a montadora de veculos contrate o servio de dedetizao para eliminar insetos em sua sede. Por no guardar qualquer vinculao direta com a produo e montagem dos veculos, atividades essas que, em tese podem perfeitamente ser desenvolvidas mesmo que as instalaes daquela indstria permaneam infestadas de moscas e baratas. Nesse caso, possvel identificar a relao entre a montadora e a empresa de dedetizao como uma relao de consumo. Por outro lado, a confeitaria ao contratar a mesma empresa de dedetizao, no poderia ser classificada como consumidora, pois a higiene de suas instalaes essencial para a manuteno de um mnimo de qualidade na elaborao de seus produtos. Desta feita, qualquer estabelecimento que explore atividades econmicas relacionadas venda, fornecimento e manufaturao de alimentos (restaurantes, lanchonetes, supermercados, etc) no sero consumidoras ao contratar uma empresa de dedetizao de seus respectivos estabelecimentos, j que a infestao de insetos poderia acarretar inclusive a interdio de suas atividades pela Vigilncia Sanitria. Para se chegar a tal concluso sobre o conceito de consumidor imprescindvel distinguir as duas teorias. Tratam-se das teorias maximalista e finalista. Segundo a teoria maximalista ou objetiva, procura-se atribuir o conceito de consumidor, dando-se uma interpretao ampla do termo destinatrio final, considerando como sendo a pessoa (fsica ou jurdica) que encerra a cadeira produtiva. Dessa forma, se enquadraria como destinatrio final aquele que retira o produto ou servio do mercado. Por essa corrente irrelevante perquirir qual a finalidade do ato de consumo, se vai estar ligada ou no finalidade da pessoa jurdica; para se enquadrar no conceito de consumidor, basta ser destinatrio final. J a teoria finalista ou subjetiva, entende que se a aquisio do produto ou utilizao do servio estiver ligada ao desempenho da atividade econmica da pessoa jurdica que adquire esse produto ou servio, esta no ser considerada consumidora. Para que o consumidor seja considerado como destinatrio final (encaixando-se no conceito de consumidor) o produto ou servio no deve guardar conexo direta ou indiretamente com a atividade econmica por ele desenvolvida. Tal teoria tem sido adotada freqentemente pelo Superior Tribunal de Justia em seus julgados e parte da doutrina destaca que essa teoria aplicada pelo CDC, como vimos nos exemplos acima.

5.1.1 O consumidor por equiparao O art. 17 do CDC assim dispe:

Para os efeitos desta Seo, equiparam-se aos consumidores todas as vtimas do evento.

8Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSO citado artigo traz o que chamamos de consumidor por equiparao. Um exemplo capaz de nos fazer compreender quem so os consumidores por equiparao: imagine-se um acidente areo que, alm de provocar mortes e ferimentos em vrios passageiros, vem a atingir pessoas e bens situados na terra. Nesse caso, as pessoas que efetivamente celebraram um contrato de consumo com a empresa de aviao, ou seja, os passageiros, so considerados consumidoras do servio prestado pela empresa. Por outro lado, as pessoas atingidas na terra que nada convencionaram com a empresa de aviao, por tambm terem sido atingidas pelo acidente, tambm podero ter seus direitos tutelados pelo CDC, na medida em que equiparam-se a consumidores, eis que so vtimas do evento assim como os passageiros. Verifica-se assim que a lei estendeu a definio de consumidor a qualquer pessoa eventualmente atingida por acidente de consumo, mesmo que nada tenha utilizado ou adquirido do fornecedor. Por fim registre-se o que consta no art. 29 do CDC:

Para os fins deste Captulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determinveis ou no, expostas s prticas nele previstas.

A equiparao a que se refere tal artigo refere-se queles que no so partes em contrato de consumo, mas que podem vir a ser. Dessa forma, a proteo ao consumidor pode se dar mesmo antes da existncia de um contrato. Logo, basta a mera exposio da pessoa s prticas comerciais ou contratuais para que se esteja diante de um consumidor a merecer a cobertura do Cdigo. Quem se encontrar exposto s prticas comerciais pode invocar a condio de consumidor e requerer a aplicao do CDC, no sendo necessrio, via de regra, ter firmado um contrato para isso. Nos termos do que dispe o art. 29 do CDC a qualificao de algum como consumidor pode se dar em um nvel pr ou extracontratual, como na hiptese de uma pessoa se sentir seduzida por uma mensagem publicitria e se motivar a adquirir o produto ou servio ofertado. Nesse caso, o destinatrio da mensagem publicitria ainda no chegou a realizar qualquer contrato como fornecedor, mas poder valer-se dos preceitos do CDC que tratam das prticas comerciais.

6. CONCEITO DE FORNECEDOR O conceito de fornecedor se encontra no art. 3 do CDC: fornecedor toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios. ATENO: no se esquea que o conceito de fornecedor est necessariamente atrelado ao de consumidor, de modo que a existncia daquele pressupe a existncia deste.

No restam dificuldades em visualizar o fornecedor pessoa jurdica que numa relao de consumo realize atividade de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios. Por outro lado, a visualizao de um fornecedor pessoa fsica talvez demonstre uma certa dificuldade. Para tanto, a ttulo de exemplo de fornecedor pessoa fsica podemos citar o empresrio individual que vende produtos ou presta servios para pessoas que adquirem os produtos ou servios como consumidoras finais. Ainda possvel enquadrar como fornecedor pessoa fsica o profissional liberal, como mdicos, dentistas contadores etc. que exercem atividades no remuneradas. O profisso liberal aquela caracterizada pelo exerccio de uma atividade tcnica em rea de conhecimento especfica sem qualquer vinculao hierrquica; o prestador de servio autnomo, que faz de seu conhecimento o instrumento de sua sobrevivncia. Tais profissionais tambm se encontram submetidos s regras do CDC. Tambm so enquadrados como fornecedores pessoas fsicas aqueles que modestamente vendem bijouterias, doces em escolas, clubes, universidades, com isso desenvolvendo atividade econmica de modo a auferir recursos para sua sobrevivncia.

TOME NOTA: em qualquer caso, seja pessoa fsica ou jurdica, para que algum se enquadre na descrio do art. 3 do CDC fundamental que a atividade desempenhada seja em carter profissional e contnuo, pois esses fatores normalmente propiciam grande vantagem ao fornecedor devido ao planejamento, experincia de mercado e conhecimentos tcnicos que lhes so inerentes, da

9Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSresultando sua manifesta supremacia frente ao consumidor situao essa que a lei n.8.078/90 pretende abrandar.

6.1 Os representantes comerciais Os representantes comerciais quando angariarem clientes interessados em adquirir mercadorias produzidas ou comercializadas pelo representado sero juntamente com este considerados fornecedores desde que o cliente se qualifique como consumidor. Ressalte-se que se esse cliente (angariado pelo representante comercial) se enquadrar no conceito de consumidor no poder o representado recusar-se a celebrar a contratao, por fora do disposto no art. 34 do CDC:

Art. 34. O fornecedor do produto ou servio solidariamente responsvel pelos atos de seus prepostos ou representantes autnomos

Desta feita, se atravs do trabalho de divulgao da mercadoria pelo representado, o representante lana alguma oferta a determinado cliente, este poder exigir que a contratao seja realizada, caso ostente a qualidade de consumidor e diante disso no caber ao representado recusar-se a atender o pedido do cliente, uma vez que sendo uma relao de consumo, deve-se aplicar o art. 34.

ATENO: caso o representante promova alguma oferta destinada a consumidor mesmo sem contar com a autorizao expressa do representado, este ltimo dever honr-la tal como se estivesse consentindo com o que fora divulgado. Nesse caso, caso o representado se sinta prejudicado, deve se voltar contra o representante comercial; o que no se admite que o representado se exima de qualquer responsabilidade pelo compromisso assumido por seu representante frente a algum que se qualifique como fornecedor.

6.2 A pessoa jurdica de direito pblico como fornecedora Nos termos do art. 3 do CDC tambm pode-se enquadrar como fornecedor as pessoas jurdicas de direito pblico pertencentes Administrao Pblica, demonstrando a possibilidade de existncia de uma relao de consumo entre o Estado e os particulares. Tal relao pode se dar por exemplo, pela prestao de servios de energia eltrica ou de fornecimento de gua. bem verdade que boa parte dos servios pblicos so delegados a particulares. Nesse caso, encontra-se diretamente responsvel pelo servio a empresa delegatria de servio pblico. Todavia, possvel responsabilizar o Estado pela m prestao do servio da delegatria, pem de forma subsidiria. Destaque-se que os servios pblicos a serem objeto do CDC so aqueles remunerados atravs de tarifa ou preo pblica. Os servios remunerados por taxa no so suscetveis de analise por meio do CDC. Explicando melhor: os servios remunerados por taxa so disciplinados por normas de Direito Pblico, no caso o Direito Tributrio (j que as taxas so espcies de tributos). A cobrana das taxas feita com base no poder de imprio do Estado, cujo pagamento se d de forma coercitiva, independentemente da vontade do contribuinte em recolher o tributo. Assim, a cobrana das taxas de servio se d em razo da clara posio de superioridade do Estado em face do particular. o caso da cobrana da TLP Taxa de Limpeza Pblica que feita independentemente da vontade do particular; o recolhimento obrigatrio, no havendo opo pelo contribuinte. A cobrana de taxas de servios incompatvel com os direitos assegurados ao consumidor pelo CDC, qual seja, a liberdade de escolha e a igualdade nas contrataes. Por outro lado, os servios pblicos objeto do CDC podem ser prestados pela prpria Administrao Pblica ou por delegatrios de servios pblicos. So os servios remunerados por tarifas ou preos pblicos. A prestao desses servios feita pelo Estado sem utilizar-se da condio de superioridade, ele o faz desinvestido de seu poder de imprio, de modo que a relao jurdica mantida com o usurio do servio pblico assume contornos nitidamente contratuais, cabendo, portanto a incidncia do CDC. o que ocorre no caso dos servios pblicos de energia eltrica ou fornecimento de gua; so servios pblicos remunerados por tarifas e que no se revelam decorrentes do Poder de imprio do Estado, onde o particular tem a liberdade de contratar ou no tais servios.

10Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS6.3 O ente despersonalizado como fornecedor Os entes despersonalizados tambm ostentam a condio de fornecedor nos termos do art. 3 do CDC. Nesse caso, podemos citar as sociedades despersonalizadas (irregulares), os esplios e as massas falidas.

6.4 O objetivo de lucro necessrio para a caracterizao de algum como fornecedor? Para a caracterizao de algum como fornecedor no necessrio o objetivo de lucro em proveito de quem exerce alguma das atividades mencionadas no art. 3 do CDC, embora na maioria das vezes o lucro esteja presente. Dessa forma, mesmo nas atividades em que no se persegue nenhum proveito econmico em benefcio daqueles que as promovem, mas sim em favor de terceiros, como bazares e eventos filantrpicos, onde a arrecadao com a venda destinada realizao de objetivos filantrpicos, ser possvel vislumbrar uma relao de consumo nas vendas realizadas, podendo o adquirente invocar em seu favor os preceitos do CDC frente aquele que lhe vendeu a mercadoria.

6.5 Fornecedores que oferecem produtos roubados ou pirateados muito comum a aquisio de produtos em feiras livres, camels, ambulantes, sacoleiros, etc. Tais pessoas revestem por completo a condio de fornecedor, frente aos clientes que adquirem seus produtos que se revestem tambm por completo da condio de consumidor. Entretanto, o adquirente de tais produtos no faz jus proteo jurdica conferida pelo CDC, justamente pela origem ilcita que se presume sobre tais produtos. Geralmente, os produtos vendidos em feiras, camels ou atravs de sacoleiros e ambulantes so produtos pirateados, roubados, contrabandeados ou descaminhados. intuitivo ao homem mdio que o vendedor que expe na rua culos, relgios, DVDs, CDs e perfumes a preos bem abaixo do valor de mercado, no est por bvio comerciando produtos originais. Nessa hiptese o consumidor no teria qualquer proteo do CDC, simplesmente por que sua conduta pode ser enquadrada como criminosa, eis que tipifica o delito de receptao em suas formas dolosa ou culposa, no tendo qualquer cabimento a aplicao do CDC nesses casos.~

7. OBJETO DA RELAO DE CONSUMO: PRODUTOS E SERVIOS A relao de consumo no existe sem o elemento objetivo da relao que, no caso, o produto ou o servio oferecido.

7.1 conceito de produto O conceito de produto est disposto no art. 3, 1 do CDC:

Produto qualquer bem, mvel ou imvel, material ou imaterial.

Bens so coisas que so suscetveis de apropriao e tem valor econmico. O conceito de bem mvel se encontra no Cdigo Civil, vejamos: Art. 82. So mveis os bens suscetveis de movimento prprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da substncia ou da destinao econmico-social.

J os bens imveis tambm esto definidos no Cdigo Civil: Art. 79. So bens imveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSO CDC tambm faz referncia aos bens materiais e imateriais. o que o Cdigo Civil classifica como bens corpreos ou incorpreos, definindo-os da seguinte forma: Bens corpreos (ou materiais) so os que tm existncia fsica,material e podem ser tangidos pelo homem. Bens incorpreos (ou imateriais) so os que tm existncia abstrata, mas valor econmico, como o direito autoral. Nessa esteira, qualquer bem, mvel ou imvel, material ou imaterial, desde que adquirido ou utilizado por algum que se qualifique como destinatrio final nos termos do art. 2, caput do CDC, pode caracterizar-se como elemento objetivo de uma dada relao de consumo.

7.2 Conceito de servio

Art. 3, 2 do CDC: Servio qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remunerao, inclusive as de natureza bancria, financeira, de crdito e securitria, salvo as decorrentes das relaes de carter trabalhista.

Nesse caso, o objeto da relao de consumo envolve uma atividade a cargo do fornecedor, oferecida ao pblico em geral, realizada com o intuito lucrativo.

TOME NOTA: no conceito de servio destaca-se a situao de que o servio deve ser fornecido no mercado de consumo. Mercado de consumo significa que determinada relao jurdica de prestao de servios somente se qualifica como objeto do direito do consumidor se oferecida de forma indistinta a todos os membros da comunidade, ou seja, disponvel ao pblico em geral, em carter habitual/profissional do fornecedor.

7.3 Produtos e servios durveis e no durveis Produtos no durveis so aqueles que se extinguem ou se destroem logo no primeiro uso, ou, ao menos vo se extinguindo gradativamente com o uso reiterado. o caso dos alimentos, bebidas, medicamentos, etc.

Produtos durveis so aqueles que podem ser utilizados mais de uma vez, sem diminuio de sua qualidade ou da sua substncia. caso dos livros, automveis, eletrodomsticos, roupas, computadores, etc. TOME NOTA: Art. 26 do CDC: O direito de reclamar pelos vcios aparentes ou de fcil constatao caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de servio e de produtos no durveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de servio e de produtos durveis Servios no durveis so aqueles cujos efeitos no se estendem no tempo, exaurindo-se com a sua simples execuo. o caso dos servios de lavagem de automveis, de transporte, de hotelaria, etc. Servios durveis so aqueles que produzem efeitos aps a sua execuo, como uma cirurgia plstica, o conserto de uma mquina, os servios educacionais, planos de sade, etc.

7.3 A remunerao dos produtos e servios O 2 do art. 3 do CDC destaca que servio para ser enquadrado como objeto de uma relao jurdica de consumo deve ser remunerado. Assim, o servio objeto de uma relao consumerista deve ter o carter oneroso, com intuito lucrativo

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS/especulativo por parte do fornecedor. Se o servio se der de forma gratuita, por cortesia ou por benemerncia, a relao jurdica no se enquadrar nos preceitos do CDC e sim do Cdigo Civil. Todavia, imprescindvel destacar que em algumas situaes que envolvam a prestao de um servio sem pagamento, revelam apenas uma aparncia de gratuidade, na medida em que tais servios so realizados dentro de um contexto mercadolgico que faz presumir a existncia de uma remunerao indireta. o caso, por exemplo, de um shopping Center que oferece estacionamento livre aos seus freqentadores. Nesse caso, o shopping estar se beneficiando economicamente dessa atividade. Isto por que, a possibilidade de estacionar o veculo sem nada pagar por isso bastante atrativo, fator que ir captar clientes para o shopping. Assim, a remunerao do servio no se deu de forma direta, mas h remunerao indireta. Alm disso, o preo do estacionamento com certeza estar embutido nos preos comercializados pelo shopping Center.

7.4 O CDC e os bancos Sobre a aplicao do CDC aos servios bancrios, financeiros e creditcios, muita controvrsia se instaurou aps o advento do cdigo, eis que muitos doutrinadores sustentavam que o cliente do banco no seria o destinatrio final do dinheiro, que o produto oferecido pelas instituies financeiras. Isto por que o dinheiro apenas um meio de pagamento circulvel na sociedade, em relao ao qual descaberia a existncia de um destinatrio final (salvo no caso de colecionadores de moedas). Todavia, o Supremo Tribunal Federal, aps inmeras controvrsias, chegou concluso por meio da ADIN 2.591, de que aos bancos aplica-se o disposto no CDC, consolidando a jurisprudncia que h tempos vinha sendo aplicado pelo Superior Tribunal de Justia: EMENTA: CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 5o, XXXII, DA CB/88. ART. 170, V, DA CB/88. INSTITUIES FINANCEIRAS. SUJEIO DELAS AO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, EXCLUDAS DE SUA ABRANGNCIA A DEFINIO DO CUSTO DAS OPERAES ATIVAS E A REMUNERAO DAS OPERAES PASSIVAS PRATICADAS NA EXPLORAO DA INTERMEDIAO DE DINHEIRO NA ECONOMIA [ART. 3, 2, DO CDC]. MOEDA E TAXA DE JUROS. DEVER-PODER DO BANCO CENTRAL DO BRASIL. SUJEIO AO CDIGO CIVIL. 1. As instituies financeiras esto, todas elas, alcanadas pela incidncia das normas veiculadas pelo Cdigo de Defesa do Consumidor. 2. "Consumidor", para os efeitos do Cdigo de Defesa do Consumidor, toda pessoa fsica ou jurdica que utiliza, como destinatrio final, atividade bancria, financeira e de crdito. 3. O preceito veiculado pelo art. 3, 2, do Cdigo de Defesa do Consumidor deve ser interpretado em coerncia com a Constituio, o que importa em que o custo das operaes ativas e a remunerao das operaes passivas praticadas por instituies financeiras na explorao da intermediao de dinheiro na economia estejam excludas da sua abrangncia. 4. Ao Conselho Monetrio Nacional incumbe a fixao, desde a perspectiva macroeconmica, da taxa base de juros praticvel no mercado financeiro. 5. O Banco Central do Brasil est vinculado pelo dever-poder de fiscalizar as instituies financeiras, em especial na estipulao contratual das taxas de juros por elas praticadas no desempenho da intermediao de dinheiro na economia. 6. Ao direta julgada improcedente, afastando-se a exegese que submete s normas do Cdigo de Defesa do Consumidor [Lei n. 8.078/90] a definio do custo das operaes ativas e da remunerao das operaes passivas praticadas por instituies financeiras no desempenho da intermediao de dinheiro na economia, sem prejuzo do controle, pelo Banco Central do Brasil, e do controle e reviso, pelo Poder Judicirio, nos termos do disposto no Cdigo Civil, em cada caso, de eventual abusividade, onerosidade excessiva ou outras distores na composio contratual da taxa de juros. ART. 192, DA CB/88. NORMA-OBJETIVO. EXIGNCIA DE LEI COMPLEMENTAR EXCLUSIVAMENTE PARA A REGULAMENTAO DO SISTEMA FINANCEIRO. 7. O preceito veiculado pelo art. 192 da Constituio do Brasil consubstancia norma-objetivo que estabelece os fins a serem perseguidos pelo sistema financeiro nacional, a promoo do desenvolvimento equilibrado do Pas e a realizao dos interesses da coletividade. 8. A exigncia de lei complementar veiculada pelo art. 192 da Constituio abrange exclusivamente a regulamentao da estrutura do sistema financeiro. CONSELHO MONETRIO NACIONAL. ART. 4, VIII, DA LEI N. 4.595/64. CAPACIDADE NORMATIVA ATINENTE CONSTITUIO, FUNCIONAMENTO E FISCALIZAO DAS INSTITUIES FINANCEIRAS. ILEGALIDADE DE RESOLUES QUE EXCEDEM ESSA MATRIA.

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS9. O Conselho Monetrio Nacional titular de capacidade normativa --- a chamada capacidade normativa de conjuntura --- no exerccio da qual lhe incumbe regular, alm da constituio e fiscalizao, o funcionamento das instituies financeiras, isto , o desempenho de suas atividades no plano do sistema financeiro. 10. Tudo o quanto exceda esse desempenho no pode ser objeto de regulao por ato normativo produzido pelo Conselho Monetrio Nacional. 11. A produo de atos normativos pelo Conselho Monetrio Nacional, quando no respeitem ao funcionamento das instituies financeiras, abusiva, consubstanciando afronta legalidade.

8. RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O Cdigo de Defesa do Consumidor assim determina: Art. 6 So direitos bsicos do consumidor: (...) VI - a efetiva preveno e reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

Desta feita o CDC assegura a efetiva reparao dos danos causados ao consumidor em decorrncia de danos patrimoniais (ao patrimnio) e morais, decorrentes das relaes de consumo. A responsabilidade civil do fornecedor do tipo objetiva, ou seja, dispensada a prova da culpa do fornecedor. Na responsabilidade objetiva no h que se perquirir se o fornecedor agiu mediante culpa ou dolo, basta provar a existncia de um dano e do nexo causal. Nessa esteira, no cabe ao consumidor provar que o fornecedor agiu com culpa ou dolo para ver ressarcido seu prejuzo, tampouco cabe ao fornecedor tentar se eximir de sua responsabilidade, provando que no teve dolo e nem culpa no defeito ou vcio do produto ou servio. Nessa esteira, para a responsabilizao do fornecedor basta a existncia dos seguintes requisitos: a) Dano: que pode ser sobre o patrimnio do consumidor ou sua integridade fsica ou moral; b) nexo de causalidade: vnculo entre o dano e a utilizao do produto ou servio. Assim, para a efetiva responsabilizao do fornecedor, basta que o dano ao consumidor seja causado pela utilizao do produto ou servio.

TOME NOTA: o art. 23 do CDC determina que ignorncia do fornecedor sobre os vcios de qualidade por inadequao dos produtos e servios no o exime de responsabilidade. Assim, mesmo que o fornecedor desconhea o vcio do produto ou servio, ser responsabilizado pelos danos causados.

Tais danos podem advir do fato do produto ou vcio do produto.

8.1 Distino entre fato e vcio do produto Observe o que dispe o art. 12 e art. 18 do CDC: Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricao, construo, montagem, frmulas, manipulao, apresentao ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua utilizao e riscos. 1 O produto defeituoso quando no oferece a segurana que dele legitimamente se espera, levando-se em considerao as circunstncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentao; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSIII - a poca em que foi colocado em circulao. 2 O produto no considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo durveis ou no durveis respondem solidariamente pelos vcios de qualidade ou quantidade que os tornem imprprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicaes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitria, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituio das partes viciadas. Como visto o art. 12 se refere responsabilidade civil decorrente de DEFEITOS do produto e o art. 18 se refere responsabilidade civil pelo VCIO do produto. Fato (ou defeito) do produto pressupe uma repercusso externa, causadora de dano ou prejuzo para o consumidor, desfalcando seu patrimnio ou atingindo algum atributo moral. Assim, o defeito ocorrido na fabricao ou na comercializao do produto pode gerar conseqncias externas, tais como acidentes, causando prejuzo ao consumidor. O vcio do produto simplesmente uma imperfeio no produto sem causar efetivos prejuzos ao consumidor. Trata-se apenas de um problema que faz com que o produto no funcione corretamente, que o torna imprprio para o consumo ou que diminui o seu valor. A ttulo de exemplo: um iogurte estragado adquirido por um consumidor poder ser classificado como defeituoso (fato do produto) ou viciado (vcio do produto). Ser defeituoso se, por estar estragado, causar um problema de sade ao consumidor. Veja-se que em decorrncia de uma imperfeio no produto, este causou um prejuzo ao consumidor. Isto , o produto causou uma repercusso externa, um problema extra, causando um dano maior que simplesmente o fato de estar estragado. Por outro lado, se o consumidor ao abrir a embalagem do produto verifica de plano que ele est estragado e deixa de consumilo, estamos diante apenas de um vcio no produto, eis que por no ter sido consumido, o produto no gerou um efetivo dano ao consumidor.

8.2 Responsabilidade por fato do produto O art.12, conforme vimos, dispe sobre a responsabilidade civil por fato (ou defeito) do produto. E tal dispositivo destaca que a responsabilidade do fornecedor OBJETIVA, ou seja, independentemente de culpa. Assim, para que o fornecedor seja responsvel pelo dano causado pelo produto no h que se exigir prova de que tenha agido com culpa (negligncia, imprudncia ou impercia), basta a demonstrao do dano e do nexo de causalidade (vnculo entre o produto e o dano suportado pelo consumidor). O art. 12 deixa claro que a responsabilidade civil pelo fato do produto recai sobre o fabricante, produtor, construtor e importador. Desta feita, quando um produto se encaixar no conceito de produto defeituoso, o consumidor deve obter o ressarcimento do fabricante do produto ou do produtor ou construtor ou ainda do importador. Quanto ao comerciante o art. 13 assim determina: Art. 13. O comerciante igualmente responsvel, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador no puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificao clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - no conservar adequadamente os produtos perecveis. Pargrafo nico. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poder exercer o direito de regresso contra os demais responsveis, segundo sua participao na causao do evento danoso.

Desta feita, o comerciante s ser responsabilizado de forma SUBSIDIRIA, ou seja, depois de esgotadas as possibilidades de responsabilizar o fabricante, produtor, construtor ou importador. Subsidirio secundrio, ou seja, a responsabilidade do comerciante secundria. Primeiro, deve-se buscar a reparao em face do fabricante, produtor, construtor ou importador. No sendo isso possvel em razo das causas elencadas no art. 13, o consumidor poder responsabilizar o comerciante.

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS TOME NOTA: O comerciante s ser responsabilizado pelo fato do produto se o fabricante, construtor, produtor ou importador no forem identificados ou quando o produto no trouxer a identificao clara do fabricante, construtor, produtor ou importador ou quando no conservar adequadamente os produtos perecveis.

importante destacar, por fim, que parte da doutrina entende que quando o dano decorre da m conservao de produtos perecveis (art. 13, III) ou mesmo quando se tratar de venda de produto com validade vencida, a responsabilidade do comerciante ser solidria com os demais fornecedores, eis que o comerciante foi o responsvel pelo mau acondicionamento do produto ou pela inobservncia do prazo de validade.

8.2.1 Causas excludentes da responsabilidade do fornecedor em caso de defeito do produto O art. 12, 3 elenca as situaes que excluem a responsabilidade do fornecedor, quais sejam: a) provar que no colocou o produto no mercado: nesse caso, poder o fornecedor provar que determinada mercadoria que havia sido retirada de circulao, foi furtada e comercializada pelo meliante e demais receptadores. Assim, o fornecedor se exime de responsabilidade pois provou que no colocou o produto no mercado. ATENO: a simples alegao de que o funcionrio, desconhecendo o vcio, colocou no mercado, no exime do fornecedor da responsabilidade dos atos de seus prepostos (art. 34 do CDC).

Ressalte-se que possvel que o fornecedor venha a se eximir da responsabilidade, sob o mesmo argumento (de que no colocou o produto no mercado), caso prove que no fabricou o produto, apesar de conter sua marca, como ocorre, por exemplo, com os produtos falsificados. b) provar que o defeito inexiste: o fornecedor pode vir a provar que simplesmente a informao de defeito alardeada pelo consumidor no verdadeira, no existe. Nesse caso, por bvio, no ser responsabilizado. c) provar a culpa exclusiva do consumidor ou de um terceiro: caber o afastamento da responsabilidade do fornecedor, caso reste demonstrado que o dano decorreu de uso deliberadamente incorreto que o consumidor fez do produto, expondo-se dessa forma a inevitveis riscos.

TOME NOTA: O cdigo do consumidor silencia quanto culpa concorrente do consumidor, ou seja, quando h uma parcela de culpa do consumidor e do fornecedor. Todavia, a jurisprudncia tem levado em considerao na hora de pesar a responsabilidade do fornecedor a existncia de culpa concorrente do consumidor no evento danoso, para atenuar a responsabilidade do fornecedor. O cdigo tambm no se manifestou sobre a excluso da responsabilidade do fornecedor nas situaes de caso fortuito ou fora maior. Todavia, imperioso destacar que o fortuito dividido em fortuito interno e fortuito externo. O fortuito interno um fato imprevisvel ocorrido no momento da fabricao do produto ou da realizao do servio, de modo que nesse caso, o fornecedor deve ser responsabilizado, em razo dos riscos da atividade. J o fortuito externo um fato imprevisvel que no guarda nenhuma relao com a atividade do fornecedor, ocorrido em momento posterior ao momento da fabricao. Desta feita, com base na doutrina, se se tratar de fortuito externo, a responsabilidade do fornecedor ser afastada.

8.3 Responsabilidade civil pelo fato do servio Assim como ocorre com o fornecedor de produtos, o fornecedor de servios tambm responde civilmente pelos danos causados aos consumidores, conforme se depreende da leitura do art. 14 do CDC:

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSArt. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos 1 O servio defeituoso quando no fornece a segurana que o consumidor dele pode esperar, levando-se em considerao as circunstncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a poca em que foi fornecido. 2 O servio no considerado defeituoso pela adoo de novas tcnicas.

Desta feita, de acordo com o citado art. 14 todos os fornecedores (originrios e intermedirios) so solidariamente responsveis pelo fato do servio.

TOME NOTA: as concessionrias de servio pblico tambm so responsabilizadas de forma objetiva pelos danos causados aos usurios do servio, quando acaba por resultar em um dano.

Destaque-se o fato de que o fornecedor de servios pode se eximir da responsabilidade, caso comprove que no prestou o servio defeituoso ao consumidor.

8.4 Responsabilidade do profissional liberal O art. 14, 4 do CDC criou uma exceo responsabilidade objetiva do fornecedor de servios. O citado artigo determina que no caso dos profissionais liberais, a responsabilidade dos mesmos ser apurada mediante verificao de culpa. Assim, s haver responsabilidade do profissional liberal (mdico, contadores, dentistas, etc), se for provado que tais profissionais negligenciaram na prestao do servio. Neste caso, a responsabilidade de tais profissionais considerada SUBJETIVA, eis que necessrio a prova de culpa (negligencia, imprudncia e impercia), para que os mesmos sejam responsabilizados.

8.5 Responsabilidade por vcio do produto Inicialmente, convm esclarecer novamente a diferena entre fato do produto e vcio do produto. Fato (ou defeito) do produto pressupe uma repercusso externa, causadora de dano ou prejuzo para o consumidor, desfalcando seu patrimnio ou atingindo algum atributo moral. Assim, o defeito ocorrido na fabricao ou na comercializao do produto pode gerar conseqncias externas, tais como acidentes, causando prejuzo ao consumidor. O vcio do produto simplesmente uma imperfeio no produto sem causar efetivos prejuzos ao consumidor. Trata-se apenas de um problema que faz com que o produto no funcione corretamente, que o torna imprprio para o consumo ou que diminui o seu valor. No caso do fato (ou defeito) do produto, vimos que os fornecedores (exceto o comerciante) so solidariamente responsveis pelo produto defeituoso. No caso de existncia de vcio do produto, diferentemente do fato (ou defeito) do produto, possvel reclamar a reparao contra qualquer fornecedor, seja este o comerciante ou o fabricante ou qualquer outro integrante da cadeia produtiva. Todos, inclusive o comerciante, so solidariamente responsveis Diante disso, no caso de um veculo que apresente um vcio em uma de suas peas, ser possvel que o seu proprietrio reclame do vcio para qualquer um dos fornecedores. Assim, poder optar por reclamar para a concessionria (comerciante), ou para o fabricante ou para a montadora, etc, ou contra todos conjuntamente. O CDC destaca que os vcios podem ser de qualidade ou quantidade. Vcio de qualidade aquele que tira do produto as condies de fruio plena, de modo que o produto no apresente todas as caractersticas que normalmente so esperadas, tornando-o imprprio ou inadequado, conforme se observa no 6 do art. 18:

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOS 6 So imprprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos vida ou sade, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricao, distribuio ou apresentao; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam

Assim, possvel afirmar que quando o produto se apresentar estragado, deteriorado, quebrado, arranhado, corrompido, avariado, ou, no caso de produtos perecveis, com prazo de validade vencido, configurado estar o seu vcio de qualidade, ocasionando a responsabilizao de qualquer um dos fornecedores, como j visto. Ressalte-se que o 5 do art. 18 traz uma exceo regra da responsabilidade solidria dos fornecedores do produto viciado, quando afirma que os vcios constantes em produtos in natura devem reclamados apenas do fornecedor imediato geralmente o comerciante. Os produtos in natura so aqueles que no se submeteram a nenhum processo de industrializao, sendo oriundos em sua grande maioria do meio rural. Uma vez verificado o vcio de qualidade no produto, ao consumidor so apresentadas as seguintes opes:

Art. 18 (...) 1 No sendo o vcio sanado no prazo mximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e sua escolha: I - a substituio do produto por outro da mesma espcie, em perfeitas condies de uso; II - a restituio imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preo.

Observe que ao dar cincia ao fornecedor do vcio de qualidade do produto, o consumidor dever aguardar o prazo de 30 dias para que o fornecedor, de algum modo, resolva o problema. Caso o problema no seja solucionado nesse prazo, a sim ter o consumidor a possibilidade de formular uma das exigncias previstas no 1 do art. 18: a substituio do produto por outro de mesma espcie, a restituio imediata da quantia paga, ou abatimento proporcional do preo. O art. 18 em caput ainda traz uma outra opo ao consumidor no caso de vcio de qualidade: substituio das partes viciadas, se assim lhe aprouver. No entanto, para que o consumidor solicite a substituio das partes viciadas do produto tambm deve aguardar trintas dias aps a cincia do fornecedor. O vcio de quantidade possui previso no art. 19 do CDC que assim destaca: Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vcios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza, seu contedo lquido for inferior s indicaes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitria, podendo o consumidor exigir, alternativamente e sua escolha: I - o abatimento proporcional do preo; II - complementao do peso ou medida; III - a substituio do produto por outro da mesma espcie, marca ou modelo, sem os aludidos vcios; IV - a restituio imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e danos.

Assim, sempre que um produto apresentar quantidade diferente daquela indicada em seu recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem publicitria, caracterizado estar o vcio de quantidade, cabendo ao consumidor sua livre escolha pleitear o abatimento proporcional do preo, a complementao do peso ou medida, a substituio do produto por outro de mesma espcie sem o vcio, ou a restituio imediata da quantia paga.

ATENO: quando o produto no apresenta nenhum vcio, o fornecedor no obrigado a efetuar a sua troca. muito comum a

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSsituao em que o consumidor adquire um produto e o modelo ou o tamanho no agrade ou no seja adequado ao consumidor e este decide por efetuar a sua troca por outro produto. Nesses casos, no h vcio no produto, de modo que no obrigatrio que o fornecedor proceda sua troca, ante o fato de, como j dito, no existir vcio no produto. No entanto, caso o fornecedor, ao efetuar a venda, confirme que possvel efetuar posteriormente trocas, dever aceit-las caso o consumidor se apresente posteriormente para efetuar troca

8.6 Responsabilidade por vcio do servio A responsabilidade do fornecedor por vcios do servio encontra-se no art. 20 do CDC: Art. 20. O fornecedor de servios responde pelos vcios de qualidade que os tornem imprprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicaes constantes da oferta ou mensagem publicitria, podendo o consumidor exigir, alternativamente e sua escolha: I - a reexecuo dos servios, sem custo adicional e quando cabvel; II - a restituio imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preo.

A ttulo de exemplo de um servio viciado, pode-se citar o servio de dedetizao que no elimina por completo os insetos e demais pragas indesejadas. Como visto no art. 20 caber ao consumidor escolher entre a reexecuo dos servios, a restituio da quantia paga ou o abatimento proporcional do preo.

9. PRESCRIO E DECADNCIA NO DIREITO DO CONSUMIDOR 9.1 Decadncia Inicialmente, importante destacar que a prescrio e a decadncia se referem perda de um direito ou da possibilidade de reclamar esse direito em razo da inrcia do interessado. Logo, existe um prazo para reclamar um direito que uma vez expirado, impede que a parte interessada possa ver garantido esse direito. O CDC destaca que a decadncia a perda do direito de reclamar a existncia de vcio e a prescrio a perda do direito de ajuizar a competente ao indenizatria em razo do fato (ou defeito) do produto.

O art. 26 do CDC dispe que: Art. 26. O direito de reclamar pelos vcios aparentes ou de fcil constatao caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de servio e de produtos no durveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de servio e de produtos durveis

O dispositivo estabeleceu prazos decadenciais para que consumidor reclame sobre existncia de vcios de qualidade e quantidade do produto. Nessa esteira, o consumidor tem 30 dias para reclamar ao fornecedor pela existncia de vcios no caso de fornecimento de servio ou produtos no durveis (ou seja, perecveis). Se se tratar de produtos durveis (no perecveis), o consumidor tem at 90 dias para reclamar a existncia do vcio. Aps o transcurso destes prazos sem que o consumidor no tenha feito a reclamao no poder mais fazer, em razo da decadncia. O CDC destaca que os vcios em questo so aqueles aparentes ou de fcil constatao, ou seja, vcios facilmente perceptveis, de modo que o incio da contagem dos prazos decadncias (de 30 ou 90 dias) ocorrer com a efetiva entrega do produto ou do trmino da execuo dos servios. No caso de vcio oculto, o prazo decadencial iniciar no momento em que ficar evidenciado o vcio, conforme se depreende da leitura do art. 26, 3: Tratando-se de vcio oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Importante destacar que um vcio oculto pode se manifestar quando o produto j se encontra obsoleto, ou seja, j se encontra ultrapassado. Em razo da constante evoluo da tecnologia, impressionante a velocidade com a qual produtos mais modernos

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSvo sendo apresentados, tornando seus antecessores ultrapassados, tais como ocorreu com os aparelhos de vdeos-cassetes que se tornaram obsoletos e ultrapassados pelos aparelhos de DVDs. Todavia, no se pode esquecer que mesmo com a chegada de aparelhos mais modernos, boa parte dos consumidores no acompanha tal evoluo e continua por utilizar os produtos considerados ultrapassados. Diante disso, como j dito, possvel que um vcio s se manifeste quando o produto j se encontra ultrapassado. Por conta dessa razo, o CDC dispe em seu art. 32 que os fabricantes e importadores devero assegurar a oferta de componentes e peas de reposio enquanto no cessar a fabricao ou importao do produto. E ainda destaca em seu pargrafo nico que cessadas a produo ou importao, a oferta dever ser mantida por perodo razovel de tempo, na forma da lei.

9.2 Garantia legal e garantia contratual Conforme visto, o CDC dispe de prazos decadenciais para que o consumidor possa reclamar a existncia de vcios nos produtos e servios adquiridos. No caso de produtos no durveis o prazo para reclamar tais vcios ser de 30 dias; no caso de produtos e servios durveis o prazo ser de 90 dias. Tais prazos correspondem garantia legal dos produtos e servios. Assim, a lei prev a garantia de 30 ou 90 dias para o consumidor reclamar vcios existentes em produtos no durveis e de produtos e servios durveis, respectivamente. A garantia contratual corresponde quela que concedida pelo fornecedor no prazo que entender. comum o fabricante (ou outro fornecedor) estipular um outro prazo de garantia (geralmente um ano), levando em considerao fatores como caractersticas,qualidades e durabilidade do produto ou servio. O CDC destaca que:

Art. 50. A garantia contratual complementar legal e ser conferida mediante termo escrito. Pargrafo nico. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os nus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instruo, de instalao e uso do produto em linguagem didtica, com ilustraes

Como visto a garantia contratual complementar garantia legal, ou seja, o prazo de garantia contratual deve complementar o prazo da garantia legal, de modo que s comea a contar aps expirado o prazo de garantia legal. Logo, caso o fornecedor estipule uma garantia contratual de um ano para um produto durvel, tal prazo s comear a correr aps expirado o prazo da garantia legal de90 dias. Assim, o consumidor ter 1 ano e 90 dias para reclamar a existncia de vcio no produto. A garantia legal e complementar somam-se.

9.3 Causas obstativas da decadncia O CDC dispe no 2 do art. 26 situaes que obstam a decadncia, ou seja, que suspendem o prazo decadencial. Vejamos:

Art. 26 (...) t 2 Obstam a decadncia: I - a reclamao comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e servios at a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequvoca; II - (Vetado). III - a instaurao de inqurito civil, at seu encerramento

Nesse diapaso, caso o consumidor, aps detectar a existncia de vcio poder encaminhar ao fornecedor uma reclamao informando o ocorrido. Neste caso, at que seja proferida uma resposta negativa, o prazo decadencial permanecer suspenso.

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSTambm suspender o prazo prescricional a instaurao de inqurito civil. Tal inqurito uma espcie de reclamao feita perante o Ministrio Pblico; trata-se de um procedimento administrativo de natureza investigatria para posterior propositura de ao civil pblica. Enquanto no for encerrado o inqurito civil, no correr o prazo decadencial.

9.4 Prazo prescricional

O prazo prescricional se refere ao prazo que tem o consumidor para propor ao de reparao de danos decorrentes de fato do produto ou do servio. O CDC dispe que:

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretenso reparao pelos danos causados por fato do produto ou do servio prevista na Seo II deste Captulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Destarte, caso um produto ou servio cause um dano externo ao consumidor, este dispe de 5 anos para a propositura de ao judicial de ressarcimento dos danos causados. A ttulo de exemplo, pode-se citar um acidente ocasionado pela exploso de uma panela de presso em decorrncia de um vcio em um de seus componentes, de tal modo que a exploso acabou por ferir o consumidor e danificar outros bens, tais como eletrodomsticos que se encontravam prximos panela de presso. Nesse caso, no se trata de responsabilidade pelo vcio do produto e sim por fato do produto, cabendo a reparao por danos materiais e morais em razo da exploso. Logo, o consumidor ter o prazo de 5 anos para ajuizar ao de reparao de danos para obteno de indenizao pelos danos morais e materiais decorrentes do fato do produto.

10. DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA Regra geral, os scios e administradores de uma sociedade no respondem por obrigaes assumidas por esta, eis que a sociedade possui personalidade jurdica prpria, titularizando direitos e obrigaes em nome prprio. Assim, h uma clara distino entre a personalidade jurdica da sociedade e a dos scioOcorre que em determinadas situaes, os scios se utilizam dessa separao para fraudar o mercado e se isentarem de possveis indenizaes decorrentes da atividade de circulao de produtos ou prestao de servios. Dessa forma, a teoria da desconsiderao da personalidade jurdica vem, com o intuito de evitar tais situaes, de modo que, no sendo suficiente o patrimnio da empresa para indenizar o consumidor, poder o juiz desconsiderar a personalidade jurdica, alcanando o patrimnio pessoal dos scios, sempre que houver abuso de direito, excesso de poder, infrao da lei, fato ou ato ilcito ou violao dos estatutos ou contrato social, conforme se depreende da leitura do art. 28 do CDC:

Art. 28. O juiz poder desconsiderar a personalidade jurdica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infrao da lei, fato ou ato ilcito ou violao dos estatutos ou contrato social. A desconsiderao tambm ser efetivada quando houver falncia, estado de insolvncia, encerramento ou inatividade da pessoa jurdica provocados por m administrao.

Nessa esteira, possvel, excepcionalmente, a responsabilizao pessoal do scio ou administrador da sociedade em determinados casos, todas as vezes que a personalidade jurdica da sociedade for utilizada de forma abusiva e indevida, beneficiando injustamente seus scios e prejudicando interesses legtimos de terceiros.

Por fim o CDC destaca ainda as regras contidas nos pargrafos do art. 28: 2 As sociedades integrantes dos grupos societrios e as sociedades controladas, so subsidiariamente responsveis pelas obrigaes decorrentes deste cdigo.

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSPor tal regra, o consumidor pode buscar o ressarcimento no apenas do fornecedor direto, que efetivamente lhe causou dano. Caso esse fornecedor for integrante de um grande grupo societrio, as demais empresas podero ser responsabilizadas, subisidiariamente. 3 As sociedades consorciadas so solidariamente responsveis pelas obrigaes decorrentes deste cdigo. Por tal regra, todas as empresas que compe um consrcio so igualmente responsveis pelo dano causado por uma delas a um consumidor. 4 As sociedades coligadas s respondero por culpa. So coligadas as sociedades quando uma participa com 10% ou mais do capital da outra, sem control-la. O CDC, no caso de sociedades coligadas entende que a responsabilidade delas ser subjetiva. 5 Tambm poder ser desconsiderada a pessoa jurdica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstculo ao ressarcimento de prejuzos causados aos consumidores. Tal regra decorre do princpio da vulnerabilidade do consumidor, de modo que havendo obstculos para o ressarcimento de seus prejuzos, possvel a desconsiderao da personalidade jurdica.

11. OFERTA A oferta o ponto de partida da relao de consumo. atravs dela que ser entabulado um contrato de prestao de servio ou fornecimento de bens entre fornecedor e consumidor. Assim, com vistas a evitar quaisquer danos e aborrecimentos para o consumidor, o CDC determina que: Art. 6 So direitos bsicos do consumidor: III - a informao adequada e clara sobre os diferentes produtos e servios, com especificao correta de quantidade, caractersticas, composio, qualidade e preo, bem como sobre os riscos que apresentem; E para tanto, o art. 31 determina que:

A oferta e apresentao de produtos ou servios devem assegurar informaes corretas, claras, precisas, ostensivas e em lngua portuguesa sobre suas caractersticas, qualidades, quantidade, composio, preo, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam sade e segurana dos consumidores.

Dessa forma, o CDC determina que a oferta deve correta, devendo corresponder verdade; ser clara, quando utiliza expresses de fcil compreenso; ser precisa, quando esclarece com exatido os dados que so indispensveis para pautar a escolha do consumidor; ser ostensiva, quando se apresenta em tamanho suficiente leitura; e finalmente a oferta deve ser dar em lngua portuguesa. Ressalte-se que a oferta vincula o fornecedor, de modo que uma vez veiculada a informao, caber ao fornecedor mant-la, eis que a oferta integra as condies do contrato, conforme se depreende da leitura do art. 30 do CDC:

Art. 30. Toda informao ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicao com relao a produtos e servios oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

E caso o fornecedor deixe de cumprir as condies presentes na oferta, o consumidor de acordo com o CDC, poder escolher entre (art. 35): I - exigir o cumprimento forado da obrigao, nos termos da oferta, apresentao ou publicidade;

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSII - aceitar outro produto ou prestao de servio equivalente; III - rescindir o contrato, com direito restituio de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. Por fim, convm destacar novamente que todo produto colocado no mercado dever ter assegurada a oferta de peas de reposio, nos termos do art. 32: Art. 32. Os fabricantes e importadores devero assegurar a oferta de componentes e peas de reposio enquanto no cessar a fabricao ou importao do produto. Pargrafo nico. Cessadas a produo ou importao, a oferta dever ser mantida por perodo razovel de tempo, na forma da lei.

12. PUBLICIDADE A atividade do fornecedor ganha maior amplitude, caso as informaes de seus produtos e servios sejam divulgadas, alcanando uma significativa parcela de fornecedores. Para tanto, a publicidade se mostra o meio mais adequado e eficaz para direcionar o consumidor a consumir, induzindo-o ao desejo pelo produto ou servio. por meio da publicidade que o fornecedor seduz o consumidor para que este volte sua ateno para aquele produto ou para aquele servio. Muitas vezes, o fornecedor, no intuito de manipular os consumidores acaba por se utilizar de publicidade enganosa ou abusiva, potencialmente ofensiva ao consumidor. Com vistas a coibir tais prticas, o CDC prev em seu at. 6, IV que:

Art. 6 So direitos bsicos do consumidor: IV - a proteo contra a publicidade enganosa e abusiva, mtodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra prticas e clusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e servios;

Em razo do princpio da boa-f que lastreia as relaes de consumo, a publicidade deve ser prontamente entendida com tal. O consumidor deve facilmente perceber a publicidade. Dessa forma, so vedadas prticas veladas de publicidade, tais como aquelas em que novelas e programas consomem produtos e servios destacando suas marcas ou ainda mensagens subliminares veiculadas com o intuito de incutir na mente do consumidor o desejo para consumir determinado produto. Publicidade enganosa aquela em que informao ou comunicao inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omisso, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, caractersticas, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preo e quaisquer outros dados sobre produtos e servios. Considera-se enganosa tambm a publicidade em que, em razo de uma omisso, o fornecedor deixa de informar sobre dado essencial do produto ou servio. Abusiva a publicidade discriminatria de qualquer natureza, a que incite violncia, explore o medo ou a superstio, se aproveite da deficincia de julgamento e experincia da criana, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa sua sade ou segurana. Para a configurao de uma publicidade enganosa ou abusiva no necessrio que consumidor adquira o produto ou servio, bastando para tanto a veiculao de informaes falsas, discriminatrias, que incite a violncia, explore o medo, etc. O CDC prev a tipificao penal para aquele que veicula publicidade enganosa ou abusiva: Art. 66. Fazer afirmao falsa ou enganosa, ou omitir informao relevante sobre a natureza, caracterstica, qualidade, quantidade, segurana, desempenho, durabilidade, preo ou garantia de produtos ou servios: Pena - Deteno de trs meses a um ano e multa.

13. PRTICAS ABUSIVAS

As prticas abusivas so comportamentos irregulares praticados pelos fornecedores. Tais prticas esto previstas no art. 39 do CDC que elenca um rol apenas exemplificativo das prticas abusivas. Ressalte-se que para a caracterizao de prticas abusivas

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSno necessrio nenhum prejuzo econmico concreto a ser suportado pelo consumidor, basta o mero comportamento do fornecedor. a) condicionar o fornecimento de produto ou de servio ao fornecimento de outro produto ou servio, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos (art. 39, I). Trata-se do que se chama de venda casada, prtica proibida em nosso ordenamento jurdico. Assim constitui prtica abusiva exigncia de que um determinado produto s possa ser fornecido, caso o consumidor adquira outro produto. Tal prtica vai de encontro ao disposto no art. 6, II do CDC que elenca como princpio bsico do consumidor a liberdade de escolha. Ainda com base neste artigo prtica abusiva a imposio de limites quantitativos pelo fornecedor, sem que haja justa causa para isso. Dessa forma, ilegal se apresenta a conduta do supermercado que ao realizar uma promoo limita a venda do produto a uma determinada quantidade por cliente. A possibilidade de limitao quantitativa s pode ocorrer quando houver justa causa para isso, como por exemplo, no caso do posto de gasolina que limita a quantidade de litros por veculo, eis que em razo da crise, o fornecimento de gasolina est sofrendo um racionamento.

b) recusar atendimento s demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes (art. 39, II) Considera-se abusiva a prtica em que, havendo disponibilidade em estoque ou sendo possvel a prestao do servio, o fornecedor se recusa e vender o produto ou prestar o servio. Dessa a forma, o CDC determina que sendo possvel (havendo disponibilidade em estoque) o consumidor que deseja adquirir o produto passa a ter direito de adquiri-lo. No cabe ao fornecedor recusar a entrega do produto. Ressalte-se que possvel a recusa do fornecedor quando houver justa causa para isso, como por exemplo, no caso do fornecedor que possui produtos em estoque, mas sem condies de uso e recusa vend-los ao consumidor.

c) enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitao prvia, qualquer produto, ou fornecer qualquer servio (art. 39, III) O envio de produtos sem que o consumidor tenha solicitado constitui prtica abusiva, eis que com tal conduta o fornecedor est por compelir o consumidor a adquirir ou utilizar o produto ou servio. Nesse mesmo sentido, o art. 39, pargrafo nico do CDC dispe que os servios prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, equiparam -se s amostras grtis, inexistindo obrigao de pagamento. Assim, o consumidor que vtima dessa prtica no obrigado a efetuar qualquer pagamento, j que deve considerar o envio do produto como uma amostra grtis.

c) prevalecer-se da fraqueza ou ignorncia do consumidor, tendo em vista sua idade, sade, conhecimento ou condio social, para impingir-lhe seus produtos ou servios (art. 39, IV) Trata-se de comportamento inteiramente dissociado do conceito de boa-f, j que por esta prtica abusiva o fornecedor se utiliza da fraqueza ou ignorncia do consumidor para empurrar-lhe produtos ou servios. Em tal prtica o fornecedor utiliza-se da vulnerabilidade do consumidor para obter vantagem. Ressalte-se que basta que o fornecedor explore a ignorncia ou fraqueza do consumidor para ver caracterizada a prtica abusiva, mesmo que a operao (venda ou contratao) no se opere.

d) exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva (art. 39, V) O CDC no especifica que tipo de vantagem seria considerada prtica abusiva nos termos deste artigo. Sempre que se verificar que o fornecedor exige vantagem manifestamente excessiva do consumidor, restar configurada a prtica abusiva. Nesse diapaso, no existe uma definio precisa do que venha a ser essa vantagem manifestamente excessiva; a situao concreta que demonstrar os elementos para que reste configurada a vantagem.

24Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSRessalte-se por fim que no necessrio que o fornecedor venha a auferir a vantagem para restar configurada a prtica abusiva basta que tal vantagem seja exigida do consumidor.

e) executar servios sem a prvia elaborao de oramento e autorizao expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de prticas anteriores entre as partes (art. 39, VI) O CDC impe como regra que, a execuo de servios pelo fornecedor seja precedida da elaborao de oramento com autorizao expressa do fornecedor. Essa a regra. Isto em razo do disposto no art. 4 do CDC que elenca o princpio da transparncia. Diante disso, caber ao fornecedor de servio entregar ao consumidor oramento prvio discriminando o valor da mo-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condies de pagamento, bem como as datas de incio e trmino dos servios (art. 40). Tal oramento ter validade pelo prazo de dez dias. Assim, no cabe ao fornecedor executar servios sem prvio oramento, tampouco sem a autorizao do consumidor, para que o consumidor no seja surpreendido com a cobrana de valores referentes a servios que no aprovou previamente. A exceo para a exigncia do oramento ocorrer nos casos em que o servio for decorrente de prticas anteriores entre fornecedor e consumidor. A ttulo de exemplo, pode-se citar a situao em que um motorista semanalmente vai s compras e deixa seu veculo no lava-jato integrado ao supermercado para procederem a lavagem. Em razo do costume j consolidado entre as partes, no h a necessidade do consumidor providenciar um requerimento de autorizao, poder o fornecedor iniciar o servio, eis que tal prtica j recorrente entre as partes.

f) repassar informao depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exerccio de seus direitos (art. 39, VII) O CDC prev uma srie de medidas que podem ser tomadas pelo consumidor para o exerccio de seus direitos, tais como ajuizamento de aes e o encaminhamento de reclamaes. O CDC determina que no cabe ao fornecedor repassar informaes depreciativas desse consumidor em razo do exerccio de seus direitos. Desta feita, o Cdigo tenta impedir que, por buscar seus direitos, o consumidor seja recriminado por isso e passe a ser mal visto perante os fornecedores. Tal fato (repasse de informaes), causaria constrangimento ao consumidor que poderia se sentir intimidado para exercitar seus direitos. Todavia, no h qualquer vedao no CDC no sentido de existir entre os fornecedores um intercambio de informaes sobre a idoneidade financeira do consumidor, principalmente em negcios que envolvam a concesso de crdito.

g) colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou servio em desacordo com as normas expedidas pelos rgos oficiais competentes ou, se normas especficas no existirem, pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (Conmetro) (art. 39, VIII) Como j de conhecimento geral, existem rgos e entidades que expedem normas com o intuito de resguardar o cidado dos riscos de produtos que no atendam aos padres mnimos de segurana. Dessa forma, se mostra abusiva a prtica do fornecedor que coloca no mercado produto ou servio que no atende s normas expedidas por tais rgos e entidades colocando em risco a segurana do consumidor.

h) recusar a venda de bens ou a prestao de servios, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediao regulados em leis especiais (art. 39, IX) Caso o consumidor demonstre o desejo de adquirir determinados bens mediante pronto pagamento, no cabe ao fornecedor a recusa em vend-los diretamente para esse consumidor. Ressalte-se que possvel a recusa da venda direta quando o fornecedor possui um intermediador (um representante comercial, por exemplo) na localidade em que se encontra o consumidor. Nessa esteira, o fornecedor pode se recusar a vender diretamente ao consumidor, solicitando a ele que entre em contato com seu representante local.

i) elevar sem justa causa o preo de produtos ou servios (art. 39, X)

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DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSDe acordo com o entendimento do CDC a elevao de preos sem justa causa pelo fornecedor constitui prtica abusiva, eis que em razo do princpio da boa-f, a relao de consumo no pode ser utilizada pelo fornecedor como meio para obteno de vantagens que onerem o consumidor. Em diversas passagens, o CDC buscar harmonizar a relao entre fornecedor e consumidor dispensando ao consumidor uma maior proteo, com vistas a evitar o desequilbrio da relao de consumo. Em razo disso, se afigura prtica abusiva a elevao de preo dos produtos, eis que afastaria a relao de equilbrio buscada pelo CDC. Por outro lado, em havendo justa causa legtimo ao fornecedor a elevao de preos, tal como ocorre no caso de elevao da carga tributria de um produto, que ocasionar a elevao de preos, conseqentemente.

j) deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigao ou deixar a fixao de seu termo inicial a seu exclusivo critrio (art.39, XII). Sem a estipulao de um prazo para a fixao do cumprimento da obrigao assumida pelo fornecedor, o consumidor no ter meios de exigir o cumprimento da obrigao,pois no haver um termo (inicio) para configurar a mora. Assim, o fornecedor encontraria um campo frtil para protelar ao mximo o cumprimento de suas obrigaes.

l) aplicar frmula ou ndice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido (art. 39, XIII) O ndice de reajuste a ser aplicado para as relaes de consumo, deve estar previsto em lei ou contrato, de modo que no cabe ao fornecedor a aplicao de frmula ou ndice diferente do pactuado entre as parte ou daquilo que est na lei.

m) Deixar de dar cumprimento oferta, informao ou publicidade (art. 30) O CDC dispe em seu art. 30 que toda informao ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicao com relao a produtos e servios oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Dessa forma, uma vez anunciada uma oferta, informao ou publicidade no poder o fornecedor voltar atrs, retratar-se da obrigao assumida. comum a aplicao de tal dispositivo no que se refere aos preos, condies de pagamento e prazos de entrega que uma vez anunciados de forma suficientemente precisa obrigam o fornecedor a mant-las. E, caso o fornecedor decida no cumprir aquilo que restou anunciado, caber ao consumidor se utilizar do art. 35 do CDC nos seguintes termos:

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou servios recusar cumprimento oferta, apresentao ou publicidade, o consumidor poder, alternativamente e sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forado da obrigao, nos termos da oferta, apresentao ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestao de servio equivalente; III - rescindir o contrato, com direito restituio de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. Ressalte-se que, havendo manifesto erro na publicidade de um produto ou servio, no estar obrigado o fornecedor a manter a publicidade, como ocorre no exemplo de um televisor custar R$ 1.000,00 e ser anunciado por R$ 10,00. Em razo do manifesto erro, no haver obrigao para que o fornecedor mantenha esse preo.

14. COBRANA DE DVIDAS O CDC, enaltecendo o princpio da dignidade e fazendo valer o princpio da vulnerabilidade do fornecedor, determ ina que na cobrana de dbitos, o consumidor inadimplente no ser exposto a ridculo, nem ser submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaa. Assim se mostra abusiva a conduta do fornecedor que efetua cobrana de dvidas por meio de ligaes para o trabalho do consumidor ou cartas com identificao de aviso de cobrana, divulgao de lista aberta de devedores, dentre outras. Tal conduta possui inquestionvel reprovao do CDC que prev ainda punio criminal:

26Profa. Suzele Veloso [email protected]

DIREITO DO CONSUMIDOR fcil PARA CONCURSOSArt. 71. Utilizar, na cobrana de dvidas, de ameaa, coao, constrangimento fsico ou moral, afirmaes falsas incorr