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1ª Edição 2010 Elaboração: Dr. Alexandre Raymundo da Silva Sócio do Escritório Simões & Silva Advogados Parceiro do Curso Vox Juris 28/04/2010 Código de Defesa do Consumidor Interpretado pelos Tribunais

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  • 1 Edio 2010

    Elaborao: Dr. Alexandre Raymundo da Silva

    Scio do Escritrio Simes & Silva Advogados

    Parceiro do Curso Vox Juris

    28/04/2010

    Cdigo de Defesa do Consumidor Interpretado pelos Tribunais

  • LEI N 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990.

    Dispe sobre a proteo do consumidor e d outras providncias.

    O PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a

    seguinte lei:

    TTULO I

    Dos Direitos do Consumidor

    CAPTULO I

    Disposies Gerais

    Art. 1 O presente cdigo estabelece normas de proteo e defesa do consumidor, de ordem

    pblica e interesse social, nos termos dos arts. 5, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituio

    Federal e art. 48 de suas Disposies Transitrias.

    Julgados

    1. ADMINISTRATIVO. SFH. REVISO CONTRATUAL. CDC. PES. TR. TABELA PRICE. AMORTIZAO.

    CES. 1- Afastada a aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor, que trata de relaes de

    consumo, sendo que os Contratos celebrados no mbito do Sistema Financeiro da Habitao

    tm funo social. 2- A Lei de Ritos preconiza em seu art. 333, I, que o nus da prova cabe ao

    autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito, tendo sido deferida a produo de prova

    pericia. 3- Havendo ajuste contratual no sentido de que os reajustes das prestaes, bem como

    dos acessrios, seguiriam o Plano de Equivalncia Salarial (PES), essa clusula deve ser

    obedecida. Entretanto, foi demonstrado o descumprimento da avena atravs de Laudo

    Pericial, sendo necessria a reviso dos reajustes, em respeito s normas contratuais. 4- De

    acordo com a previso contratual, h a possibilidade de aplicao da taxa referencial (TR) como

    critrio de reajuste do saldo devedor, especialmente diante do que ficou decidido pelo Excelso

    STF, na ADIN n 493-0/DF, em que foi Relator o Ministro Moreira ALVES, entendendo pela no

    aplicabilidade da TR somente aos contratos com vigncia anterior edio da Lei n 8.177/91,

    em substituio a outros ndices porventura estipulados. 5- - A Tabela Price tem previso

    contratual e revestida de legalidade. 6- A CEF, primeiramente, atualiza o saldo devedor para

    depois proceder aplicao dos juros e amortizao dos valores pagos, valendo ressalvar que

    esse procedimento no viola o art. 6, alnea "c", da Lei n 4.380/64, no se constituindo em

    anatocismo ou usura. 7- No procede a alegao de ilegalidade na cobrana do Coeficiente de

    Equiparao Salarial (CES), no percentual de 15%, nos termos do artigo 17, I, da Lei n 4.380/64.

    8- Negado provimento s apelaes. (TRF 2 R.; AC 2003.51.01.000623-0; Oitava Turma

    Especializada; Rel. Des. Fed. Raldnio Bonifcio Costa; Julg. 17/11/2009; DJU 23/11/2009; Pg.

    127)

    2. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SFH. CDC. SALDO DEVEDOR. TR. ANATOCISMO.

    1- Afastada a aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor, que trata de relaes de consumo,

    sendo que os Contratos celebrados no mbito do Sistema Financeiro da Habitao tm funo

    social. 2- De acordo com a previso contratual, h a possibilidade de aplicao da taxa

    referencial (TR) como critrio de reajuste do saldo devedor, especialmente diante do que ficou

    decidido pelo Excelso STF, na ADIN n 493-0/DF, em que foi Relator o Ministro Moreira ALVES,

    entendendo pela no aplicabilidade da TR somente aos contratos com vigncia anterior

  • edio da Lei n 8.177/91, em substituio a outros ndices porventura estipulados. 3- No

    configura a prtica de anatocismo quando a CEF, primeiramente, atualiza o saldo devedor para

    depois proceder aplicao dos juros e amortizao dos valores pagos, valendo ressalvar que

    esse procedimento no viola o art. 6, alnea "c", da Lei n 4.380/64. 4- Negado provimento

    apelao da parte autora e dado provimento apelao da r. (TRF 2 R.; AC

    2002.02.01.022050-5; Oitava Turma Especializada; Rel. Des. Fed. Raldnio Bonifcio Costa; Julg.

    17/11/2009; DJU 23/11/2009; Pg. 127)

    3. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SFH. CDC. SALDO DEVEDOR. TR. ANATOCISMO.

    1- Afastada a aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor, que trata de relaes de consumo,

    sendo que os Contratos celebrados no mbito do Sistema Financeiro da Habitao tm funo

    social. 2- De acordo com a previso contratual, h a possibilidade de aplicao da taxa

    referencial (TR) como critrio de reajuste do saldo devedor, especialmente diante do que ficou

    decidido pelo Excelso STF, na ADIN n 493-0/DF, em que foi Relator o Ministro Moreira ALVES,

    entendendo pela no aplicabilidade da TR somente aos contratos com vigncia anterior

    edio da Lei n 8.177/91, em substituio a outros ndices porventura estipulados. 3- No

    configura a prtica de anatocismo quando a CEF, primeiramente, atualiza o saldo devedor para

    depois proceder aplicao dos juros e amortizao dos valores pagos, valendo ressalvar que

    esse procedimento no viola o art. 6, alnea "c", da Lei n 4.380/64. 4- Negado provimento

    apelao. (TRF 2 R.; AC 2001.02.01.015749-9; Oitava Turma Especializada; Rel. Des. Fed.

    Raldnio Bonifcio Costa; Julg. 17/11/2009; DJU 23/11/2009; Pg. 127)

    4. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGNEOS BUSCADOS ATRAVS DE AO AJUIZADA POR ENTIDADE

    SINDICAL. DETERMINAO JUDICIAL DE LIMITAO DO NMERO DE SUBSTITUDOS, COM

    APRESENTAO DE ROL. EXECUO PROVISRIA EM CARTA DE SENTENA, E NO ATRAVS DE

    AO DE LIQUIDAO. Considerando que o sindicato - Autor, na qualidade de substituto

    processual, havia ajuizado uma s ao, sem apresentar rol de substitudos, mas que o juzo de

    origem para o qual aquele processo foi distribudo, determinou a limitao da demanda a 50

    (cinquenta) substitudos, e que fosse apresentado rol, entende-se que as decises proferidas em

    cada processo so direcionadas, exclusivamente, aos empregados discriminados na relao que

    acompanha cada petio inicial. Assim, data venia, no h como se aplicar, no presente caso,

    as disposies contidas nos artigos 95, 97 e 98, 1, da Lei n 8.078/90 e, muito menos, o artigo

    15 da Lei n 7.347/85, pelo que no se pode conceber que a presente liquidao seja realizada

    por artigos, em ao prpria (ao de liquidao coletiva). Por conseguinte, o montante a ser

    pago aos empregados substitudos individualizados deve ser fixado atravs de carta de

    sentena, plenamente cabvel na espcie, porquanto no foi concedido efeito suspensivo ao

    recurso de revista interposto pelo ru. D-se provimento. (TRT 17 R.; RO

    00984.2008.014.17.00.4; Ac. 12342/2009; Rel. Des. Jos Carlos Rizk; DOES 23/11/2009; Pg. 11)

    5. AO REVISIONAL. NEGCIOS JURDICOS BANCRIOS. 1. Aplicao do CDC reviso de

    contratos bancrios diante da prova da abusividade. Matria pacificada no STJ e nesta cmara.

    2. Reviso de contratos findos e manuteno na posse do bem. Ausncia de interesse recursal.

    3. Juros remuneratrios acima de 12% ao ano. Possibilidade. Taxa expressamente estabelecida

    no contrato de acordo com a mdia do mercado. Limitao afastada. 4. Capitalizao mensal

    de juros no contratada. No incidncia. 5. Comisso de permanncia. Previso expressa no

    contrato. Licitude da cobrana. Vedada a cumulao com correo monetria, juros

    remuneratrios, juros moratrios e multa, durante o perodo de inadimplemento contratual. 6.

    Compensao e repetio de indbito. Possibilidade. 7. Descaracterizao da mora diante do

    reconhecimento da abusividade dos encargos exigidos no perodo da normalidade contratual.

  • Cadastros de inadimplentes. Impossibilidade. 8. Cobrana de tarifas de emisso de carn, de

    abertura de crdito e bancria. Impossibilidade. 9. Juros moratrios de 1% ao ms.

    Possibilidade. Multa. Limite mximo de 2%. Possibilidade. Apelo do ru parcialmente provido.

    Agravo retido desprovido. Apelo do autor conhecido em parte e, na parte conhecida,

    parcialmente provido. (TJRS; AC 70026201228; Tucunduva; Segunda Cmara Especial Cvel; Rel.

    Des. Fernando Flores Cabral Jnior; Julg. 28/10/2009; DJERS 18/11/2009; Pg. 138)

    a. Integra do Acrdo: AO REVISIONAL. NEGCIOS JURDICOS BANCRIOS. 1.

    APLICAO DO CDC REVISO DE CONTRATOS BANCRIOS DIANTE DA PROVA DA

    ABUSIVIDADE. MATRIA PACIFICADA NO STJ E NESTA CMARA. 2. REVISO DE

    CONTRATOS FINDOS e MANUTENO NA POSSE DO BEM. AUSNCIA DE INTERESSE

    RECURSAL. 3. JUROS REMUNERATRIOS ACIMA DE 12% AO ANO. POSSIBILIDADE.

    TAXA EXPRESSAMENTE ESTABELECIDA NO CONTRATO DE ACORDO COM A MDIA DO

    MERCADO. LIMITAO AFASTADA. 4. CAPITALIZAO MENSAL DE JUROS NO

    CONTRATADA. NO INCIDNCIA. 5. COMISSO DE PERMANNCIA. PREVISO

    EXPRESSA NO CONTRATO. LICITUDE DA COBRANA. VEDADA A CUMULAO COM

    CORREO MONETRIA, JUROS REMUNERATRIOS, JUROS MORATRIOS E MULTA,

    DURANTE O PERODO DE INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. 6. COMPENSAO E

    REPETIO DE INDBITO. POSSIBILIDADE. 7. DESCARACTERIZAO DA MORA DIANTE

    DO RECONHECIMENTO DA ABUSIVIDADE DOS ENCARGOS EXIGIDOS NO PERODO DA

    NORMALIDADE CONTRATUAL. CADASTROS DE INADIMPLENTES. IMPOSSIBILIDADE. 8.

    COBRANA DE TARIFAS DE EMISSO DE CARN, DE ABERTURA DE CRDITO E

    BANCRIA. IMPOSSIBILIDADE. 9. JUROS MORATRIOS DE 1% AO MS. POSSIBILIDADE.

    MULTA. LIMITE MXIMO DE 2%. POSSIBILIDADE. APELO DO RU PARCIALMENTE

    PROVIDO. AGRAVO RETIDO DESPROVIDO. APELO DO AUTOR CONHECIDO EM PARTE E,

    NA PARTE CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDO.ACRDO Vistos, relatados e

    discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Segunda Cmara

    Especial Cvel do Tribunal de Justia do Estado, unanimidade, em dar parcial

    provimento apelao do ru para admitir a incidncia da cobrana de comisso de

    permanncia nas mesmas taxas pactuadas no contrato (que se encontram dentro da

    taxa mdia de mercado), taxa mdia de mercado na poca da assinatura do

    contrato, durante o perodo de inadimplemento contratual, vedando-se, entretanto,

    sua cumulao com a correo monetria, juros remuneratrios, juros moratrios e

    multa; conhecer em parte o apelo do autor e, na parte conhecida, dar parcial

    provimento para: afastar a incidncia da capitalizao mensal dos juros; admitir a

    compensao e/ou repetio de indbito na forma simples, se houve pagamento a

    maior; afastar a caracterizao da mora e, consequentemente, vedar a inscrio do

    nome do autor nos cadastros restritivos de crdito at o julgamento definitivo da lide,

    desprovendo o agravo retido e vedar a cobrana de tarifas de emisso de carn, de

    abertura de crdito e bancria. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento,

    alm do signatrio (Presidente), os eminentes Senhores Des. Marco Antonio Angelo e

    Desa. Lcia de Ftima Cerveira. Porto Alegre, 28 de outubro de 2009. DES. FERNANDO

    FLORES CABRAL JNIOR, Relator. RELATRIO Des. Fernando Flores Cabral Jnior

    (RELATOR) Trata-se de recursos de apelaes interpostos pelo BANCO DO BRASIL S/A e

    FUNERRIA TUCUNDUVA LTDA. ME da sentena que julgou parcialmente procedente

    ao declaratria de reviso de clusulas contratuais para declarar a nula a clusula

    que autoriza o banco a reajustar uma vez por ms a taxa efetiva de juros

    remuneratrios, assim como substituir a comisso de permanncia pelos mesmos

    encargos previstos para a situao de normalidade (fls. 84/94). Em suas razes, o

    demandado requer o provimento do apelo para manter a comisso de permanncia,

  • assim como readequar os nus de sucumbncia (fls. 96/98) O autor, por sua vez,

    requer o provimento do apelo para aplicar as disposies do CDC, declarar a

    possibilidade de reviso dos contratos findos, manter a posse do bem, declarar a mora

    do devedor, assim como possibilitar a inscrio de seu nome nos cadastros restritivos

    de crdito, limitar os juros remuneratrios, afastar a capitalizao, as taxas e tarifas,

    permitir a repetio de indbito, assim como limitar os juros de mora e a multa (fls.

    100/113). As partes apeladas, intimadas para contra-arrazoar, quedaram-se silentes

    (fl. 116 e verso). Cumpridas as formalidades dos arts. 549, 551 e 552 do CPC, tendo em

    vista a adoo do sistema informatizado. o relatrio. VOTOS Des. Fernando Flores

    Cabral Jnior (RELATOR) 1. APLICAO DO CDC A aplicao das regras do Cdigo de

    Defesa do Consumidor em revisionais de contratos bancrios matria pacificada,

    tanto no STJ, como nesta Cmara, razo a qual afasto, de plano, tal discusso, sem

    necessidade de maiores argumentaes. Nesse sentido: RECURSO ESPECIAL - AO

    REVISIONAL DE CONTRATO DE ABERTURA DE CRDITO EM CONTA-CORRENTE -

    APLICAO DO CDC AOS CONTRATOS BANCRIOS - INTELIGNCIA DO ENUNCIADO N.

    297 DA SMULA/STJ - LIMITAO DOS JUROS REMUNERATRIOS -

    INADMISSIBILIDADE - CAPITALIZAO DE JUROS - POSSIBILIDADE, NA FORMA ANUAL -

    MULTA CONTRATUAL - AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO - INCIDNCIA DO

    ENUNCIADO N. 211 DA SMULA/STJ - TAXA REFERENCIAL E MULTA "AD/EXC" -

    INEXISTNCIA DE PREVISO CONTRATUAL - REEXAME DE PROVAS - IMPOSSIBILIDADE -

    APLICAO DOS ENUNCIADOS NS. 5 E 7 DA SMULA/STJ - REPETIO DO INDBITO -

    ADMISSIBILIDADE - PROVA DO PAGAMENTO EM ERRO - DESNECESSIDADE - RECURSO

    ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. I - "O Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel

    s instituies financeiras" (enunciado n. 297 da Smula/STJ); II - No incide a

    limitao dos juros a 12% ao ano, prevista no Decreto n. 22.626/33, salvo hipteses

    legais especficas, tais como nas cdulas de crdito rural, industrial e comercial; III -

    Admite-se a capitalizao de juros em periodicidade no inferior anual nos contratos

    bancrios em geral, de acordo com a jurisprudncia anterior; IV - Para a repetio do

    indbito, nos contratos de abertura de crdito em conta-corrente, no se exige a prova

    do erro. (enunciado n. 322 da Smula/STJ); V - Recurso Especial parcialmente provido.

    (REsp 1039052/PR, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em

    12/08/2008, DJe 03/09/2008) No entanto, a alterao das clusulas contratuais

    pactuadas somente se dar acaso comprovada pela parte autora a efetiva

    abusividade. 2. AUSNCIA DE INTERESSE RECURSAL No assiste interesse recursal do

    autor com relao aos pedidos de reviso de contratos findos, uma vez que houve, pelo

    juzo a quo a reviso, assim como de manuteno da posse do veculo, porquanto

    inexiste, no contrato em tela, qualquer veculo alienado ou sob garantia. Assim, o

    apelo no deve ser conhecido nos pontos. 3. JUROS REMUNERATRIOS A questo da

    taxa de juros j se encontra pacificada, tanto no STJ, como nesta Cmara, no sentido

    de que instituies financeiras no sofrem as limitaes do decreto n 22.626/00 (lei de

    Usura). Dessa forma, a taxa de juros remuneratrios no se encontra limitada a 12%

    ao ano. Dentre os inmeros precedentes do STJ, destaco: CONTRATO BANCRIO.

    AO REVISIONAL. JUROS REMUNERATRIOS. LIMITAO AFASTADA. 1. A limitao

    de juros remuneratrios de 12% a.a. prevista na Lei de Usura no aplicvel aos

    contratos bancrios, salvo aqueles regidos por leis especiais, a exemplo das cdulas de

    crdito rural, industrial e comercial.2. Agravo regimental provido. (AgRg no REsp

    1061489/MS, Rel. Ministro JOO OTVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em

    02/12/2008, DJe 18/12/2008) A matria, inclusive, encontra-se pacificada no STJ, nos

    termos da Smula n. 596 do STF: "As disposies do Dec. n 22.626/33 no se aplicam

    s taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operaes realizadas por

  • instituies pblicas ou privadas que integram o Sistema Financeiro Nacional." O

    posicionamento desta Cmara, em consonncia com o STJ, no sentido de que

    somente na ausncia de comprovao do percentual contratado ou diante da

    demonstrao cabal de sua abusividade em relao taxa mdia de mercado, os juros

    pactuados podem ser alterados. Neste caso, porm, sua limitao no ser na taxa de

    12% ao ano, mas sim taxa mdia do mercado na poca da assinatura do contrato,

    consoante entendimento firmado pelo STJ. Nos contratos em tela (fls. 24/27), verifica-

    se que os juros remuneratrios encontram-se expressamente delimitados s taxas de

    7,23% e 2,8% ao ms, assim como 131,09% e 39,28% e ao ano, ou seja, dentro da taxa

    mdia de mercado na poca da assinatura dos contratos, no havendo razes para sua

    limitao, consoante entendimento sedimentado. Resta, portanto, o recurso do autor

    desprovido neste ponto. 4. CAPITALIZAO. Restou superado, no Superior Tribunal de

    Justia, o debate acerca da aplicao da Medida Provisria n 2.170-30, pelo

    julgamento do RESP n. 602.068-RS. A Segunda Seo do Pretrio Excelso firmou

    entendimento no sentido de que a capitalizao dos juros em periodicidade inferior

    anual possvel, mas somente nos contratos firmados aps 31/03/2000, data da

    publicao da Medida Provisria n. 1.963-17, revigorada pela Medida Provisria n.

    2.170-36, em vigncia graas ao art. 2 da Emenda Constitucional n. 32/2001. A ttulo

    ilustrativo, cito o RESP n 602.068-RS. Tendo em vista que o contrato em questo foi

    celebrado sob a gide da referida norma, permitida a incidncia de capitalizao de

    juros em perodo inferior ao anual. Alm disso, a capitalizao mensal, para sua

    incidncia, deve estar expressamente prevista no contrato. Nesse sentido: CIVIL.

    CONSUMIDOR. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCRIO.

    AO REVISIONAL. COMISSO DE PERMANNCIA. LICITUDE DA COBRANA.

    CAPITALIZAO MENSAL DE JUROS. PACTUAO EXPRESSA E CONTRATOS

    POSTERIORES A MP 1963-17-2000. 1. Nos contratos bancrios firmados

    posteriormente entrada em vigor da MP n. 1.963-17/2000 em 31.03.2000,

    atualmente reeditada sob o n. 2.170-36/2001, lcita a capitalizao mensal dos juros,

    desde que expressamente prevista no ajuste. 2. (...) 3. Agravo regimental parcialmente

    provido.(AgRg no REsp 1022725 / RS, STJ, 4 Turma, Rel. Min. Joo Otvio de

    Noronha, j. 16/10/2008) Nos contratos em tela, verifica-se a ausncia de clusula

    expressa sobre a capitalizao mensal de juros, sendo vedada sua incidncia. Desta

    forma, merece provimento o recurso do autor neste ponto, ou seja, afastar a incidncia

    da capitalizao mensal dos juros. 5. COMISSO DE PERMANNCIA admitida a

    cobrana da comisso de permanncia durante o perodo de inadimplemento, desde

    que pactuada e no cumulada com demais encargos. As Smulas 30 e 296 do STJ

    trouxeram a afirmao sobre a inviabilidade da cumulao da comisso de

    permanncia com correo monetria e juros remuneratrios. Complementando tal

    entendimento, atualmente, a Segunda Seo tomou a deciso de no admitir a

    cumulao da comisso de permanncia com os juros moratrios e multa, alm dos

    encargos j vedados (correo monetria e juros remuneratrios): admitida a

    incidncia da comisso de permanncia aps o vencimento da dvida, desde que no

    cumulada com juros remuneratrios, juros moratrios, correo monetria e/ou multa

    contratual. (AgRg no REsp 706368 / RS, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI,

    Segunda Seo, Data do Julgamento 27/04/2005, Data da Publicao/Fonte DJ

    08.08.2005 p. 179). O STJ, nesse sentido: RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCRIO.

    AO REVISIONAL. DISPOSIES ANALISADAS DE OFCIO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS

    REMUNERATRIOS. LIMITAO AFASTADA. COMISSO DE PERMANNCIA. LICITUDE

    DA COBRANA. CUMULAO VEDADA. CAPITALIZAO MENSAL DE JUROS.

    PACTUAO EXPRESSA. NECESSIDADE. 1. No cabe ao Tribunal de origem revisar de

  • ofcio clusulas contratuais tidas por abusivas em face do Cdigo de Defesa do

    Consumidor. 2. A alterao da taxa de juros remuneratrios pactuada em mtuo

    bancrio depende da demonstrao cabal de sua abusividade em relao taxa mdia

    do mercado. 3. Nos contratos bancrios firmados posteriormente entrada em vigor

    da MP n. 1.963-17/2000, atualmente reeditada sob o n. 2.170-36/2001, lcita a

    capitalizao mensal dos juros, desde que expressamente prevista no ajuste. 4.

    admitida a cobrana da comisso de permanncia durante o perodo de

    inadimplemento contratual, calculada pela taxa mdia de mercado apurada pelo

    BACEN, limitada taxa do contrato, no podendo ser cumulada com a correo

    monetria, com os juros remuneratrios e moratrios, nem com a multa contratual. 5.

    Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 995.990/RS, Rel. Ministro JOO OTVIO

    DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe 02/02/2009). Portanto,

    sendo pactuada, conforme as clusulas gerais do contrato (fls. 24/27 e 56/62) vivel

    a cobrana de comisso de permanncia nas mesmas taxas pactuadas no contrato,

    que se encontram na mdia de mercado. No entanto, no cabe a sua cumulao com

    demais encargos, devendo ser afastada a correo monetria, juros remuneratrios,

    juros moratrios e multa, durante o perodo de inadimplemento contratual. 6.

    COMPENSAO e REPETIO DE INDBITO. Se houve pagamento a maior,

    considerando a soluo tomada no processo judicial, so devidas a compensao e a

    repetio do indevido, em consonncia com os artigos 368 e 876 do CC. Alis, tal

    possibilidade, inclusive, encontra-se sumulada pelo STJ. Smula 322 do STJ: Para a

    repetio de indbito, nos contratos de abertura de crdito em conta-corrente, no se

    exige a prova do erro. Nesse sentido: APELAO CVEL. NEGCIOS JURDICOS

    BANCRIOS. DESCABE A LIMITAO DOS JUROS EM CONTRATOS BANCRIOS, SENDO

    ADMITIDA, ADEMAIS, SUA CAPITALIZAO MENSAL. HAVENDO COBRANA DE

    ENCARGOS INDEVIDOS, TEM LUGAR A REPETIO DO INDBITO. CABVEL A

    COMPENSAO DOS HONORRIOS, NOS TERMOS DA SMULA N 306 DO STJ.

    RECURSO PROVIDO EM PARTE. (Apelao Cvel N 70023684376, Segunda Cmara

    Especial Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em

    04/07/2008) 7. DESCARACTERIZAO DA MORA e CADASTROS DE INADIMPLENTES

    Revejo posicionamento anterior, adotando o atual posicionamento do STJ, que

    considera que a cobrana do crdito com acrscimos indevidos, como por exemplo,

    capitalizao de juros no pactuada e taxas, no tem o condo de constituir o devedor

    em mora, porque dificultado o pagamento, causando a impontualidade da qual ainda

    se beneficiaria com a aplicao da clusula penal (EREsp n. 163.884/RS). Assim, devem

    ser afastados os encargos de mora. Consequentemente, inexistindo a mora, no h

    como inscrever o nome do consumidor nos cadastros de inadimplentes, razo a qual a

    liminar deve ser mantida e o agravo retido desprovido. 8. COBRANA DE TARIFAS DE

    EMISSO DE CARN, ABERTURA DE CRDITO E BANCRIA. No tocante s tarifas e

    demais encargos cobrados pelo demandado, revejo posicionamento anterior para

    aderir ao entendimento adotado pelo STJ no sentido de tratar-se de acrscimos

    indevidos: Adoto o atual posicionamento da e. 2 Seo, que considera que a

    cobrana do crdito com acrscimos indevidos, como por exemplo, as tarifas de

    emisso de carn, de abertura de crdito e a "bancria", por exclusiva iniciativa do

    credor, no tem o condo de constituir o devedor em mora, porque dificultado o

    pagamento, causando a impontualidade da qual ainda se beneficiaria com a aplicao

    da clusula penal (EREsp n. 163.884/RS). Acresam-se, no particular, o AgR-REsp n.

    423.266/RS, o REsp 231.319/RS, e o AgR-AG n. 334.371/RS. 9. JUROS MORATRIOS

    PACTUADOS e MULTA. No h proibio quanto incidncia da taxa de juros

    moratrios na percentagem de 1 % ao ms, diante da Smula 596 do STF, que afasta a

  • aplicao da Lei da Usura. O STJ afirmou: ORIENTAO 3 - JUROS MORATRIOS. Nos

    contratos bancrios, no-regidos por legislao especfica, os juros moratrios

    podero ser convencionados at o limite de 1% ao ms. (REsp. n 1.061.530 - RS,

    Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, , Segunda Seo, julgado em 22-10-2008). O art.

    52, 1, do CDC estabelece o limite mximo de 2 %, regra aplicvel aos negcios

    jurdicos bancrios consoante a Smula 285 do STJ (Nos contratos bancrios

    posteriores ao Cdigo de Defesa do Consumidor incide a multa moratria nele

    prevista.). No entanto, h que se ressaltar que, incidindo a cobrana da comisso de

    permanncia, h a impossibilidade da cumulao da multa com aquele encargo.

    Assim, os apelos merecem parcial provimento. Quanto sucumbncia, diante do maior

    decaimento pelo demandado, arcaro a parte autora e r, respectivamente, com 30%

    e 70% das custas processuais, bem como aos honorrios de sucumbncia, condeno a

    parte r ao pagamento de R$ 500,00 em favor do patrono da parte adversa, j

    considerada a compensao. Suspendo a exigibilidade do pagamento com relao

    parte autora em razo da gratuidade judiciria concedida. Isso posto: a) dou parcial

    provimento apelao do ru para admitir a incidncia da cobrana de comisso de

    permanncia nas mesmas taxas pactuadas no contrato (que se encontram dentro da

    taxa mdia de mercado), taxa mdia de mercado na poca da assinatura do

    contrato, durante o perodo de inadimplemento contratual, vedando-se, entretanto,

    sua cumulao com a correo monetria, juros remuneratrios, juros moratrios e

    multa; b) conheo em parte o apelo do autor e, na parte conhecida, dou parcial

    provimento para: b.1 - afastar a incidncia da capitalizao mensal dos juros; b.2 -

    admitir a compensao e/ou repetio de indbito na forma simples, se houve

    pagamento a maior; b.3 - afastar a caracterizao da mora e, consequentemente,

    vedar a inscrio do nome do autor nos cadastros restritivos de crdito at o

    julgamento definitivo da lide, desprovendo o agravo retido e b.4 - vedar a cobrana de

    tarifas de emisso de carn, de abertura de crdito e bancria. Des. Marco Antonio

    Angelo (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). Desa. Lcia de Ftima Cerveira - De

    acordo com o(a) Relator(a). DES. FERNANDO FLORES CABRAL JNIOR - Presidente -

    Apelao Cvel n 70026201228, Comarca de Tucunduva: "DERAM PARCIAL

    PROVIMENTO APELAO DO RU, DESPROVERAM O AGRAVO RETIDO, ASSIM COMO

    CONHECERAM EM PARTE O APELO DO AUTOR E, NA PARTE CONHECIDA, DERAM

    PARCIAL PROVIMENTO. UNNIME". Julgador(a) de 1 Grau: ADALBERTO NARCISO

    HOMMERDING

    6. CONFLITO DE COMPETNCIA. VARA CVEL E VARA ESPECIALIZADA DO CONSUMIDOR.

    CADERNETAS DE POUPANA. EXPURGOS INFLACIONRIOS. PLANOS ECONMICOS. BRESSER.

    VERO. COLLOR I E COLLOR II. COMPETNCIA. NORMA PROCESSUAL. APLICAO RETROATIVA E

    IMEDIATA. POSSIBILIDADE. VARA ESPECIALIZADA DO CONSUMIDOR. RECURSO PROVIDO. 1.

    Sendo a competncia do CDC regra de competncia absoluta, a qual estrutura-se em razo da

    matria, a regra em questo deve produzir efeitos imediatos, incidindo, no apenas sobre as

    relaes jurdicas advindas aps a sua edio, mas tambm sobre aquelas j existentes,

    conforme preceitua o artigo 87, do cdigo de processo civil. 2. As normas de direito material

    previstas no CDC no se aplicam aos contratos celebrados antes de sua vigncia; todavia, na

    esteira dos artigos 87 e 1.211 do CPC, o mesmo no se pode dizer das normas processuais do

    diploma consumerista, uma vez que, a Lei Processual nova tem eficcia imediata, incidindo

    sobre os atos praticados a partir do momento em que se torna obrigatria. 3. Conflito

    conhecido e declarado competente o juzo da vara especializada do consumidor. (TJES; CC

    100090030758; Terceira Cmara Cvel; Rel Des Subst. Elisabeth Lordes; Julg. 03/11/2009;

    DJES 17/11/2009; Pg. 17)

  • 7. PLANO DE SADE. AO CIVIL PUBLICA. Legitimidade do Ministrio Pblico que no se restringe

    defesa de interesses coletivos e difusos, mas tambm individuais, quando se verificar a prtica

    de ato abusivo por parte de operadora de plano de sade. Inteligncia dos arts. 82, 1 e 83 do

    CDC, C.C. 127, caput e 129, ambos da CF. Precedentes deste E. Tribunal e do C. STJ. Demanda

    julgada procedente. Negativa de cobertura para sesses em cmara hiperbrica. Alegao de

    que o contrato firmado entre as partes no cobre referido procedimento e que no se trata de

    tratamento previsto no rol de procedimentos mdicos da ANS. Inadmissibilidade. Afronta

    regra do artigo 51, IV e Io, II, do CDC. A prevalecer somente a cobertura ali prevista, estar-se-

    ia "congelando" procedimentos mdicos, privando o consumidor dos avanos da medicina.

    Providncia, ademais, que se mostrou necessria, diante do grave quadro de sade

    apresentado pelo menor (portador de infeco hospitalar). Excluso invocada pela operadora

    do plano de sade que contraria a finalidade do contrato e representa abusividade que afronta

    ao CDC. Interpretao contratual que deve se ajustar aos avanos da medicina. Alegao de

    que o hospital aonde se realizou o procedimento no credenciado. Situao que no afasta a

    cobertura, j que a seguradora no indicou outro nosocmio pertencente rede credenciada,

    para realizao do mesmo procedimento. Cobertura devida. Sentena mantida. Recurso

    improvido. (TJSP; APL-Rev 552.017.4/3; Ac. 4150027; Suzano; Oitava Cmara de Direito Privado;

    Rel. Des. Salles Rossi; Julg. 27/10/2009; DJESP 17/11/2009)

    a. Integra do Acrdo: Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL

    COM REVISO n 552.017-4/3-00, da Comarca de SUZANO, em que apelante

    SISTEMA IPIRANGA DE ASSISTNCIA MEDICA LTDA sendo apelado MINISTRIO

    PUBLICO DO ESTADO DE SO PAULO: ACORDAM, em Oitava Cmara de Direito Privado

    do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, proferir a seguinte deciso: "NEGARAM

    PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que

    integra este acrdo. O julgamento teve a participao dos Desembargadores RIBEIRO

    DA SILVA (Presidente), JOAQUIM GARCIA. So Paulo, 27 de outubro de 2009. Voton:

    10.459 Apelao Cvel n: 552.017.4/3-00 Comarca: Suzano - Ia Vara Ia Instncia:

    Processo n: 257/2006 Apte.: Sistema Ipiranga de Assistncia Mdica Ltda Apdo.:

    Ministrio Pblico do Estado de So Paulo VOTO DO RELATOR EMENTA - PLANO DE

    SADE - AO CIVIL PUBLICA - Legitimidade do Ministrio Pblico que no se restringe

    defesa de interesses coletivos e difusos, mas tambm individuais, quando se verificar

    a prtica de ato abusivo por parte de operadora de plano de sade - Inteligncia dos

    arts. 82,1 e 83 do CDC, c.c. 127, caput e 129, ambos da CF - Precedentes deste E.

    Tribunal e do C. STJ - Demanda julgada procedente - Negativa de cobertura para

    sesses em cmara hiperbrica - Alegao de que o contrato firmado entre as partes

    no cobre referido procedimento e que no se trata de tratamento previsto no rol de

    procedimentos mdicos da ANS - Inadmissibilidade - Afronta regra do artigo 51, IV e

    Io, II, do CDC - A prevalecer somente a cobertura ali prevista, estar-se-ia

    "congelando" procedimentos mdicos, privando o consumidor dos avanos da

    medicina - Providncia, ademais, que se mostrou necessria, diante do grave quadro

    de sade apresentado pelo menor (portador de infeco hospitalar) - Excluso

    invocada pela operadora do plano de sade que contraria a finalidade do contrato e

    representa abusividade que afronta ao CDC - Interpretao contratual que deve se

    ajustar aos avanos da medicina - Alegao de que o hospital aonde se realizou o

    procedimento no credenciado Situao que no afasta a cobertura, j que a

    seguradora no indicou outro nosocmio pertencente rede credenciada, para

    realizao do mesmo procedimento - Cobertura devida - Sentena mantida Recurso

    improvido. Cuida-se de Apelao interposta contra a r. sentena proferida nos autos de

  • Ao Civil Pblica, julgada procedente para condenar o requerido a fornecer ao menor

    Gabriel Henrique Ramos Camargo o tratamento mdico adequado ao seu quadro de

    sade, ainda que fora da rede credenciada, enquanto perdurar a enfermidade deste

    ltimo. Inconformada, apela a vencida (fls. 250/273), reiterando preliminares de

    ausncia de interesse processual (inadequao da via eleita), alm da ilegitimidade

    ativa do Ministrio Pblico para pleitear, em nome prprio, direito alheio e particular

    de apenas uma pessoa, j que, nos termos do artigo 82,1 da Lei 8.347/85 e 82 do CDC,

    possui legitimidade apenas para a defesa de interesses difusos e coletivos. Quanto

    matria de fundo, sustenta a necessidade de reforma da r. sentena recorrida, eis que,

    nos termos do contrato, somente est obrigada a custear procedimentos mdicos

    constantes do rol da ANS (do qual no consta a cmara hiperbrica). E, ainda, que no

    est obrigada a custear procedimento fora de sua abrangncia geogrfica. Aguarda o

    provimento recursal, julgando-se extinta a ao, sem exame do mrito ou pela sua

    improcedncia. O recurso foi recebido pelo r. despacho de fls. 276 e respondido s fls.

    280/289. Parecer da d. Procuradoria Geral de Justia, pelo desprovimento (fls.

    294/299). Inicialmente, o presente apelo foi despachado pelo Exmo. Desembargador

    Presidente da Seo de Direito Pblico que, nos termos de fls. 301, representou E.

    Vice-Presidncia que acolheu aludida representao, conforme r. deciso de fls. 303,

    sendo os autos redistribudos a esta 8a Cmara de Direito Privado, tendo como ento

    Relator o Desembargador SILVIO MARQUES NETO e, posteriormente, redistribudos a

    esta Relator, designado para assumir o acervo do Desembargador referido, em virtude

    de aposentadoria. E o relatrio. O recurso no comporta provimento. A alegada

    carncia da ao por inadequao da via eleita no se sustenta. Com o advento da

    Constituio Federal de 1988, as atribuies do Ministrio Pblico foram ampliadas,

    no se podendo limit-las defesa de interesses difusos e coletivos, mas tambm aos

    chamados direitos individuais indisponveis, especialmente em situaes como a dos

    presentes autos, aonde se verifica conduta abusiva de operadora de plano de sade

    (artigos 81, caput, 82,1 e 83, todos do CDC e, ainda, artigos 127, caput e 129, IV, da

    Constituio Federal) - situao em que se enquadra o caso envolvendo o menor

    Gabriel, conforme mais adiante ser exposto. Disso tambm decorre a legitimidade

    ativa do rgo ministerial para a propositura da presente ao civil pblica. Alis,

    nesse sentido e direo, em caso similar, brilhante julgado da 2a Cmara de Direito

    Privado deste E. Tribunal de Justia, publicado na JTJ-LEX 248/353 (Embargos

    Infringentes n. 97.748-4, Rei. CEZAR PELUSO), do qual se extraem as seguintes e bem

    lanadas consideraes (que em tudo se amoldam situao aqui versada): "

    assentou o e. STJ que o Ministrio Pblico parte legtima para ajuizar ao civil

    pblica tendente defesa de interesses individuais homogneos, objeto de contratos

    de plano de sade. E, num dos arestos paradigmticos, transcrevendo excerto de tese

    acadmica, observou com propriedade: 'A atuao do Ministrio Pblico na

    propositura de aes coletivas deve ser explicada luz do enunciado pela teoria

    institucional ou objetivista, que justifica a participao do ente estatal quando as

    barreiras sociais para se judicializarem questes individuais so to graves, que se

    legitimam extraordinariamente entidades pblicas a perseguir coletivamente, por

    exemplo, indenizaes individuais, em uma representao artificial e aprioristicamente

    adequada, cuja finalidade a eficcia da ordem jurdica no sentido de impedir uma

    prtica lesiva por parte do ru, que se aproveita de condies sociais desfavorveis das

    vtimas. Nesse ltimo caso, a questo no tanto reparar o dano, mas reprimir a

    atividade deletria do ru... 'O interesse social dessa interveno deflui da necessidade

    de ser cumprida a lei que regula atividade de importncia crucial para a coletividade

    (mensalidade escolar, sade pblica, prestao da casa prpria, etc), que deve estar

  • protegida de prticas comerciais ilcitas e de contratos com clusulas abusivas, o que

    deve ser preferencialmente evitado. Se a preveno no for possvel, que a infrao

    possa ser de pronto reprimida atravs de providncia jurisdicional eficaz' (REsp n

    177.965-PR, rei Min. Ruy Rosado de Aguair, in RSTJ 123.322). O que, em sntese, a se

    consagra na leitura dos arts. 81, caput, 82,1 e 83, da Lei Federal n 8.078, de 11 de

    setembro de 1990, em exegese aperfeioada aos arts. 127, caput, e 129, IX, da

    Constituio da Repblica, que, sem trair-lhe a funo institucional, a legitimao do

    Ministrio Pblico nasce, em tais casos e em razo ltima, da necessidade poltica do

    resguardo da ordem jurdica considerada como valor autnomo, mediante remdio

    processual cuja eficcia pode estar em pedido de condenao pecuniria, com carter,

    no de reparo leso dalgum interesse individual disponvel, mas de sano

    administrativa destinada a impedir que, por condescendncia fratura do

    ordenamento, ato gravoso do ru se converta em prtica abusiva, que, na sua

    imanente generalidade, ponha em risco interesses coletivos do mais alto relevo

    social..". No mesmo sentido e direo, diversos e recentes precedentes do C. STJ,

    merecendo destaque o decidido no mbito do REsp. 819.010/SP, que teve como

    Relator o Ministro JOS DELGADO, j . 02.05/2006 que, acerca da legitimidade ativa do

    Ministrio Pblico, assim se posicionou: "A funo ministerial - a legitimidade do

    parquet - somente estar se o interesse estiver sob a disponibilidade de seu titular. E

    tal no ocorre com o direito sade, que objeto de proteo constitucional,

    afigurando-se direito indisponvel E, como tal, possvel de ser tutelado pelo Ministrio

    Pblico, ainda que o parquet esteja tutelando o interesse de uma nica pessoa, que o

    caso dos autos. Ademais, negar legitimidade ao parquet no caso concreto, alm de

    negar o prprio direito constitucional, negar o desenvolvimento do direito processual

    vigente pessoa humana. Constitui funo institucional e nobre do Ministrio Pblico

    buscar a entrega da prestao jurisdicional para obrigar o Estado a fornecer

    medicamento essencial sade da pessoa pobre especialmente quando sofre de

    doena grave que no for tratada poder causar, prematuramente, sua morte.

    Legitimidade ativa do Ministrio Pblico para propor ao civil pblica em defesa de

    direito indisponvel, como o direito sade, em beneficio do hipossuficiente...". Na

    mesma esteira, o parecer ministerial de fls. 294 e seguintes que, ainda acerca da

    legitimidade ativa do Ministrio Pblico e interesse processual para propositura de

    demanda dessa natureza, assim se manifestou: "Com efeito, a matria remete, de

    antemo, a trs disposies constitucionais: os arts. 127,129, IIIe 129, IX. O primeiro

    delimita que o Ministrio Pblico deve se prestar proteo da legalidade

    democrtica, dos direitos indisponveis e dos direitos sociais relevantes. Ocioso

    sublinhar que, na espcie, tratamos, emprimeiro lugar, de direitos de infncia e

    juventude, em segundo, do direito defesa do consumidor e, em terceiro, do direito

    sade. Todos, de evidncia, direitos fundamentais e, nessa ordem, indisponveis e

    irrenunciveis, de tal modo que a situao ftica em anlise est integralmente

    amoldada ao citado paradigma da Lei Maior. O artigo 129, III, da Constituio atribuiu

    ao Ministrio Pblico a defesa de interesses difusos e coletivos, porm, tal disposio

    deve ser integrada ao disposto no inciso IX, do mesmo dispositivo, que atribui lei a

    capacidade de investir a instituio de outras atribuies, desde que compatveis com a

    sua natureza. A ao em causa visa defender, repita-se, direitos da infncia, direito

    defesa do consumidor e direito sade, que so, simultaneamente, indisponveis e

    relevantes socialmente. Assim, legtima e constitucional a dico do art 201, V, do

    Estatuto da Criana e do Adolescente, que trouxe expressamente a competncia do

    Ministrio Pblico para a defesa de direitos individuais da infncia...". Quanto

    matria de fundo, extrai-se que buscou o autor, na tutela jurisdicional invocada, fosse

  • a r compelida a autorizar a cobertura para sesses com cmara hiperbrica em favor

    do menor Gabriel. Decidindo pelo mrito os pedidos deduzidos na inicial, a r. sentena

    recorrida, com inteira pertinncia, julgou-o procedentes para condenar a r referida

    obrigao de fazer, autorizando a cobertura das referidas sesses. Afastadas as

    preliminares, cinge-se agora a controvrsia em sustentar a legalidade da recusa na

    cobertura do procedimento indicado ao menor, diante da inexistncia de previso no

    rol editado pela ANS (Resoluo RDC n 67/2001) e ainda, por no estar previsto no

    contrato firmado entre as partes. Sem razo a recorrente. Incontroverso que o menor

    Gabriel Henrique Ramos Camargo, vtima de atropelamento, passou por diversas e

    delicadas intervenes cirrgicas, sendo acometido de infeco hospitalar que

    culminou com a retirada e reconstituio do nus. Teve recomendao expressa para

    realizao de oxigenoterapia hiperbrica, exatamente para evitar a disseminao do

    processo infeccioso, tudo conforme relatrio mdico copiado s fls. 31/32. A excluso

    imposta pela seguradora deve ser avaliada com ressalvas, observado de maneira

    concreta que a natureza da relao ajustada entre as partes e os fins do contrato

    celebrado, no podem ameaar o objeto da avena, bastando para tanto que se

    confira apreviso do artigo 51, IV e Io, II, do CDC Diz a apelante que sua recusa no

    fornecimento do referido tratamento justa, na medida em que procedimento no

    previsto no rol da ANS e respectiva Resoluo. No entanto, tal argumento no afasta a

    abusividade na negativa de cobertura por ela perpetrada. Diante da necessidade e o

    quadro de sade do paciente, alm do avano da medicina e ainda, por se cuidar de

    procedimento amplamente difundido pela classe mdica, filia-se esta Relatoria a

    posicionamentos jurisprudenciais mais recentes, que entendem devida a cobertura

    para tratamentos/exames que no constam do referido rol, conforme segue:

    "CONTRATO - Prestao de servios - Plano de sade - Obrigao de fazer - Negativa

    de atendimento quanto realizao do tratamento denominado 'oxigenoterapia em

    cmara hiperbrica', sob a alegao de se tratar de tratamento sem aprovao da ANS

    e estar excludo do contrato - Abusividade - Tratamento aprovado pela comunidade

    mdica, de eficcia comprovada - Parte integrante do tratamento demandado pelo

    autor - Incidncia do Cdigo de Defesa do Consumidor e da Lei n 9656/98 - Nulidade

    da excluso do tratamento - Reconhecimento - Culpa da r na negativa do tratamento

    - Ausncia - Desconfigurao da responsabilidade civil - Sentena de procedncia em

    parte, que apenas desacolheu o dano moral - Recursos improvidos (Apelao Cvel n.

    502.448-4/9-00 Santo Andr - 5a Cmara de Direito Privado - Relator: OSCARLINO

    MOELLER - 23.05.07 - V.U.)." E ainda: "PLANO DE SADE - Cobertura de tratamento

    especfico, a pretexto de no includo em tabelas da AMB e da prpria r - Esteio em

    clusula restritiva genrica, insuficiente ao cumprimento do dever de informao,

    exigente de preciso e de destaque, em se tratando de restrio a direitos do

    consumidor aderente - Tratamento cirrgico anterior, j coberto pelo plano, fixando-se

    a recusa em teraputica complementar de oxigenao hiperbrica, clinicamente

    indicada para a revascularizao da cabea do fmur do paciente, com necrose de

    tecidos - Inadmissibildade - Recurso no provido (Apelao Cvel n. 143.061- 4/6 - So

    Paulo - 10a Cmara de Direito Privado - Relator: QUAGLIA BARBOSA - V.U.)."

    Posicionamento idntico e reiterado acerca do tema vem sendo adotado por esta 8a

    Cmara de Direito Privado e Relatoria, destacando-se ementa de recente julgado,

    extrada dos autos da Apelao Cvel n: 553.518.4/7-00 (que em tudo se amolda ao

    caso em tela), conforme segue: "PLANO DE SADE - DECLARATRIA DE NULIDADE DE

    CLUSULA E OBRIGAO DE FAZER - Sentena - Nulidade - Inocorrncia - Atendimento

    dos requisitos exigidos pelo art. 458 do CPC - Ilegitimidade ativa Descabimento -

    Ntido o liame existente entre a beneficiria e a operadora do plano de sade, o que

  • lhe confere legitimidade e interesse em postular a declarao de nulidade de clusulas

    contratuais - Negativa de cobertura para TERAPIA FOTODINMICA - Alegao de que o

    contrato firmado entre as partes no cobre referido procedimento e que no se trata

    de tratamento previsto no rol de procedimentos mdicos da ANS - Inadmissibilidade -

    Clusula que est em desacordo com o artigo 51, IV e Io, II, do CDC - A prevalecer

    somente a cobertura ali prevista, estar-se-ia "congelando" procedimentos mdicos,

    privando o consumidor dos avanos da medicina - Providncia, ademais, que se

    mostrou necessria, diante da gravidade do estado de sade da apelada, com risco de

    perda de viso - Existncia de relao de consumo Recusa da r injustificada -

    Excluso invocada pela seguradora que contraria a finalidade do contrato e representa

    abusividade que afronta ao CDC - Procedncia corretamente decretada -Interpretao

    contratual que deve se ajustar ao avano da medicina - Cobertura devida - Sentena

    mantida - Recurso improvido." Frise-se que o contrato de seguro-sade, por ser atpico,

    consubstancia funo supletiva do dever de atuao do Estado, impondo-se a proteo

    da sade do segurado e de seus familiares contra qualquer enfermidade e em especiais

    circunstncias como aquela que aqui se v, onde as sesses com cmara hiperbrica

    mostraram-se necessrias, diante do quadro de sade apresentado pelo menor

    Gabriel, alm da expressa prescrio mdica, salientando que a finalidade do aludido

    procedimento evitar a disseminao do processo infeccioso. Da mesma forma, a

    alegao de que o hospital aonde se realizou o procedimento no credenciado, no

    afasta a cobertura, j que a seguradora apelante no indicou outro nosocmio

    pertencente sua rede credenciada, para realizao do mesmo procedimento. Est

    evidente que o pagamento integral pelos titulares do respectivo plano de sade (o que

    no se discute), a necessidade do procedimento, representam desdobramento correto

    do contrato firmado que obriga sim a apelante a responder pelo tratamento

    necessrio, como bem decidiu o d. Magistrado de primeiro grau. Por tudo isso,

    reconhecida a abusividade da recusa e assim, injustificada a negativa da r, a r.

    sentena merece ser confirmada, por seus prprios e bem deduzidos fundamentos. Isto

    posto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. XES ROSSI Relator

    8. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. PEDIDO DE RESOLUO POR INADIMPLEMENTO DA

    PROMITENTE COMPRADORA. CARNCIA DE AO. Falta de prvia notificao para converso

    da mora em inadimplemento absoluto. Notificaes encaminhadas a endereos incorretos.

    Precedentes do STJ. Extino do processo sem resoluo do mrito. Recurso improvido. (TJSP;

    AC 674.040.4/8; Ac. 4137386; Praia Grande; Quarta Cmara de Direito Privado; Rel. Des.

    Francisco Loureiro; Julg. 15/10/2009; DJESP 17/11/2009)

    a. Integra do Acrdo: COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - Pedido de resoluo por

    inadimplemento da promitente compradora - Carncia de ao - Falta de prvia

    notificao para converso da mora em inadimplemento absoluto - Notificaes

    encaminhadas a endereos incorretos - Precedentes do STJ - Extino do processo sem

    resoluo do mrito - Recurso improvido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de

    Apelao Cvel nQ 674.040.4/8-00, da Comarca de PRAIA GRANDE, onde figuram como

    apelante RESIDENCE EMPREENDIMENTOS IMOBILIRIOS LTDA. e apelada MAGALI DE

    SOUZA GUEDES: ACORDAM, em Quarta Cmara de Direito Privado do Tribunal de

    Justia do Estado de So Paulo, por votao unnime, negar provimento ao recurso, de

    conformidade com o relatrio e voto do Relator, que ficam fazendo parte do acrdo.

    Cuida-se de recurso de apelao interposto contra a r. sentena de tis. 110/13 dos

    autos, que julgou extinta, sem resoluo de mrito, a ao de resciso de contrato de

    promessa de compra e venda, ajuizada por RESIDENCE EMPREENDIMENTOS

  • IMOBILIRIOS LTDA. em face de MAGALI DE SOUZA GUEDES, com fundamento no art.

    267, inciso VI, do Cdigo de Processo Civil, por ausncia de interesse processual. F-lo a

    r. sentena, sob o argumento de que a autora apenas alegou a notificao prvia da

    r, porm no comprovou t-la realizado, demonstrando apenas o encaminhamento

    de correspondncias e endereos desconhecidos, recebidos por terceiros, bem como

    para endereo antigo. Em vista disso, no houve notificao vlida para constituio

    da r em mora, cuja ausncia no suprida pela citao no processo judicial. Recorre a

    autora, alegando, em resumo, que na clusula 9.2.1 do contrato entre as partes ficou

    convencionado que qualquer alterao de endereo da promitente compradora

    deveria ser previamente comunicada. Segundo argumenta, o simples fato de ter

    ingressado na posse do imvel no significa necessariamente que ali passou a residir.

    Ademais, se a r fosse realmente desconhecida nos endereos, as correspondncias

    teriam sido devolvidas. Conclui, portanto, que a notificao extrajudicial realizada por

    telegrama e dirigida r foi regular, uma vez que foi remetida ao endereo constante

    no contrato. Porm, ainda que assim no se entendesse, a constituio da r em mora

    se daria independentemente de interpelao. Por fim, pleiteia a apelante a aplicao

    dos efeitos da revelia, considerando-se que a r contestou por negativa geral, alm de

    requerer a antecipao de tutela para sua imediata reintegrao na posse do imvel.

    No houve contra-razes ao recurso. o relatrio. 1. O frgil recurso no comporta

    provimento. No padece a sentena de qualquer vcio. Evidente que se faltava um dos

    pressupostos para o vlido desenvolvimento do processo, qual seja, a notificao para

    converso da mora em inadimplemento absoluto. Sabido que pressuposto para a

    resoluo do contrato o inadimplemento absoluto do devedor. Enquanto h simples

    mora, persiste a possibilidade de purgao, porque til a prestao ao credor, com

    conseqente retomada do programa contratual. Embora a mora do pagamento das

    parcelas do preo, prestaes positivas, lquidas e a termo, seja ex re, a sua converso

    em inadimplemento absoluto deve ser feita mediante notificao, com prazo de quinze

    dias, por fora do que dispem o artigo 22 do DL 58/37 e art. 1o. do DL 745/59. As

    normas em questo so cogentes e no podem ser suplantadas pela vontade das

    partes, nem clusula resolutria expressa. Pouco importa que o contrato de

    compromisso esteja ou no registrado. texto da Smula 76 do Superior Tribunal de

    Justia: "A falta de registro do compromisso de compra e venda de imvel no

    dispensa a prvia interpelao para constituir em mora o devedor". No caso concreto,

    restou ntido que as notificaes extrajudiciais foram encaminhadas a endereo

    diverso do constante no contrato e de onde passou a residir a r, aps a entrega da

    unidade autnoma adquirida (fls. 32/34). O mesmo se diga do telegrama de fls. 36,

    que foi enviado ao endereo antigo da r, consignado no contrato, porm apenas em

    13 de agosto de 2007, isto , aps a entrega da unidade autnoma adquirida em abril

    de 2005. Evidente que deveria a autora ter atentado para a mudana de endereo da

    r, em razo da imisso na posse da unidade ento adquirida, o que era de seu

    conhecimento.O que se percebe, portanto, que tais notificaes no chegaram ao

    conhecimento da r, devedora. Por conseguinte, a r no teve cincia da notificao

    para pagamento, persistindo, assim, a oportunidade de purgar a mora e afastar a

    configurao do inadimplemento absoluto. Em resumo, a carncia da ao foi bem

    reconhecida, amparada em texto expresso de normas cogentes e smula do Superior

    Tribunal de Justia. No h o que alterar na sentena recorrida. Diante do exposto,

    pelo meu voto, nego provimento ao recurso. Participaram do julgamento, os

    Desembargadores nio Zuliani (Presidente e Revisor) e Maia da Cunha (3Q Juiz).

  • Art. 2 Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio

    como destinatrio final.

    9. APELAES CVEIS. AO REVISIONAL DE CONTRATO DE CRDITO PESSOAL GARANTIDO COM

    CLUSULA DE ALIENAO FIDUCIRIA E AO DE BUSCA E APREENSO. INCIDNCIA DO

    CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Sendo o crdito fornecido ao consumidor pessoa fsica

    para a sua utilizao na aquisio de bens no mercado como destinatrio final, o dinheiro

    funciona como produto, implicando o reconhecimento da instituio bancria/financeira como

    fornecedora para fins de aplicao do CDC, nos termos do art. 3, pargrafo 2, da Lei n

    8.078/90. Entendimento referendado pela Smula n 297 do STJ, de 12 de maio de 2004.

    DIREITO DO CONSUMIDOR REVISO CONTRATUAL. O art. 6, inciso V, da Lei n 8.078/90

    consagrou de forma pioneira o princpio da funo social dos contratos, relativizando o rigor do

    Pacta Sunt Servanda e permitindo ao consumidor a reviso do contrato em duas hipteses: por

    abuso contemporneo contratao ou por onerosidade excessiva derivada de fato

    superveniente (Teoria da Impreviso). Hiptese dos autos em que o desequilbrio contratual j

    existia poca da contratao uma vez que o fornecedor inseriu unilateralmente nas clusulas

    gerais do contrato de adeso obrigaes claramente excessivas, a serem suportadas

    exclusivamente pelo consumidor. DECLARAO DE OFCIO DA NULIDADE DAS CLUSULAS

    ABUSIVAS. O art. 168, pargrafo nico, do novo Cdigo Civil (mera repetio do art. 145,

    pargrafo nico da codificao revogada), permite ao Juiz declarar de ofcio a nulidade de

    negcio jurdico que lhe tenha sido submetido a exame. TAXA DE JUROS REMUNERATRIOS.

    Ausente qualquer justificativa por parte do fornecedor para a imposio ao consumidor de taxa

    de juros excessiva como obrigao acessria em contrato de consumo, o restabelecimento do

    equilbrio das obrigaes exige a reduo da taxa de juros remuneratrios fixada em contrato

    de adeso. Juros reduzidos para 12% (doze por cento) ao ano, com fundamento exclusivamente

    no disposto no art. 52, inciso II c/c os arts. 39, inciso V e 51, inciso IV, todos da Lei n 8.078/90.

    Desnecessrio examinar argumentos constitucionais sobre o tema. CAPITALIZAO DE JUROS.

    No caso concreto trata-se de contrato de financiamento firmado j na vigncia do Novo Cdigo

    Civil. Assim, havendo autorizao expressa em Lei, a incidncia da capitalizao dos juros

    remuneratrios contratados no vai afastada, sendo, entretanto, permitida apenas em

    periodicidade anual. TERMO INICIAL DA MORA. Estando sub judice a liquidez e, em via de

    conseqncia, a prpria exigibilidade do crdito oriundo do contrato revisando, de ser

    afastada com efeitos ex tunc a mora decorrente do inadimplemento de obrigaes declaradas

    abusivas at que se apure o valor real do eventual dbito ainda existente. COMISSO DE

    PERMANNCIA. Obrigao acessria que vai afastada, na esteira de jurisprudncia consolidada.

    A correo monetria suficiente, e mais confivel, para servir como fator de recomposio da

    perda do valor real da moeda, corroda pela inflao. ATUALIZAO MONETRIA. Fixado o IGP-

    M/FGV como ndice de correo monetria, eis que a jurisprudncia indica ser o que melhor

    reflete a real perda inflacionria. COBRANA DE TARIFA E/OU TAXA NA CONCESSO DO

    FINANCIAMENTO. ABUSIVIDADE. Encargo contratual abusivo, porque evidencia vantagem

    exagerada da instituio financeira, visando acobertar as despesas de financiamento inerentes

    operao de outorga de crdito. Inteligncia do art. 51, IV do CDC. Disposio de ofcio. IOF.

    ABUSIVIDADE QUANTO FORMA DE COBRANA. A cobrana do tributo diludo nas prestaes

    do financiamento se afigura como condio inqua e desvantajosa ao consumidor (CDC, art. 51,

    IV). Disposio de ofcio. DIREITO COMPENSAO DE CRDITOS E REPETIO DE INDBITO.

    Sendo apurado a existncia de saldo devedor, devem ser compensados os pagamentos a maior

    feitos no curso da contratualidade. Caso, porm, se verifique que o dbito j est quitado,

    devem ser devolvidos os valores eventualmente pagos a maior, na forma simples, corrigidos

    pelo IGP-M desde o desembolso e com juros legais desde a citao. AO DE BUSCA E

    APREENSO. Descaracterizao da mora em face da existncia de clusulas abusivas. Ausncia

  • de pressuposto da ao. Sendo a mora o fundamento jurdico da ao de busca e apreenso, e

    uma vez que ela tenha sido descaracterizada, de ser extinta a ao, com base no art. 267,

    inciso VI, do CPC. APELO DO AUTOR DA AO REVISIONAL PROVIDO EM PARTE E APELO DO

    BANCO DESPROVIDO. (TJRS; AC 70024248684; Porto Alegre; Dcima Terceira Cmara Cvel; Rel

    Des Angela Terezinha de Oliveira Brito; Julg. 05/06/2008; DJERS 16/11/2009; Pg. 49)

    a. Integra do Acrdo: APELAES CVEIS. AO REVISIONAL DE CONTRATO DE CRDITO

    PESSOAL GARANTIDO COM CLUSULA DE ALIENAO FIDUCIRIA E AO DE BUSCA E

    APREENSO. INCIDNCIA DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Sendo o crdito

    fornecido ao consumidor pessoa fsica para a sua utilizao na aquisio de bens no

    mercado como destinatrio final, o dinheiro funciona como produto, implicando o

    reconhecimento da instituio bancria/financeira como fornecedora para fins de

    aplicao do CDC, nos termos do art. 3, pargrafo 2, da Lei n 8.078/90.

    Entendimento referendado pela Smula 297 do STJ, de 12 de maio de 2004.DIREITO DO

    CONSUMIDOR REVISO CONTRATUAL. O art. 6, inciso V, da Lei n 8.078/90

    consagrou de forma pioneira o princpio da funo social dos contratos, relativizando o

    rigor do Pacta Sunt Servanda e permitindo ao consumidor a reviso do contrato em

    duas hipteses: por abuso contemporneo contratao ou por onerosidade excessiva

    derivada de fato superveniente (Teoria da Impreviso). Hiptese dos autos em que o

    desequilbrio contratual j existia poca da contratao uma vez que o fornecedor

    inseriu unilateralmente nas clusulas gerais do contrato de adeso obrigaes

    claramente excessivas, a serem suportadas exclusivamente pelo consumidor.

    DECLARAO DE OFCIO DA NULIDADE DAS CLUSULAS ABUSIVAS. O art. 168,

    pargrafo nico, do novo Cdigo Civil (mera repetio do art. 145, pargrafo nico da

    codificao revogada), permite ao Juiz declarar de ofcio a nulidade de negcio jurdico

    que lhe tenha sido submetido a exame. TAXA DE JUROS REMUNERATRIOS. Ausente

    qualquer justificativa por parte do fornecedor para a imposio ao consumidor de taxa

    de juros excessiva como obrigao acessria em contrato de consumo, o

    restabelecimento do equilbrio das obrigaes exige a reduo da taxa de juros

    remuneratrios fixada em contrato de adeso. Juros reduzidos para 12% (doze por

    cento) ao ano, com fundamento exclusivamente no disposto no art. 52, inciso II c/c os

    arts. 39, inciso V e 51, inciso IV, todos da Lei n 8.078/90. Desnecessrio examinar

    argumentos constitucionais sobre o tema. CAPITALIZAO DE JUROS. No caso concreto

    trata-se de contrato de financiamento firmado j na vigncia do Novo Cdigo Civil.

    Assim, havendo autorizao expressa em lei, a incidncia da capitalizao dos juros

    remuneratrios contratados no vai afastada, sendo, entretanto, permitida apenas em

    periodicidade anual. TERMO INICIAL DA MORA. Estando sub judice a liquidez e, em

    via de conseqncia, a prpria exigibilidade do crdito oriundo do contrato revisando,

    de ser afastada com efeitos ex tunc a mora decorrente do inadimplemento de

    obrigaes declaradas abusivas at que se apure o valor real do eventual dbito ainda

    existente. COMISSO DE PERMANNCIA. Obrigao acessria que vai afastada, na

    esteira de jurisprudncia consolidada. A correo monetria suficiente, e mais

    confivel, para servir como fator de recomposio da perda do valor real da moeda,

    corroda pela inflao. ATUALIZAO MONETRIA. Fixado o IGP-M/FGV como ndice

    de correo monetria, eis que a jurisprudncia indica ser o que melhor reflete a real

    perda inflacionria. COBRANA DE TARIFA E/OU TAXA NA CONCESSO DO

    FINANCIAMENTO. ABUSIVIDADE. Encargo contratual abusivo, porque evidencia

    vantagem exagerada da instituio financeira, visando acobertar as despesas de

    financiamento inerentes operao de outorga de crdito. Inteligncia do art. 51, IV

    do CDC. Disposio de ofcio. IOF. ABUSIVIDADE QUANTO FORMA DE COBRANA. A

  • cobrana do tributo diludo nas prestaes do financiamento se afigura como condio

    inqua e desvantajosa ao consumidor (CDC, art. 51, IV). Disposio de ofcio. DIREITO

    COMPENSAO DE CRDITOS E REPETIO DE INDBITO. Sendo apurado a

    existncia de saldo devedor, devem ser compensados os pagamentos a maior feitos no

    curso da contratualidade. Caso, porm, se verifique que o dbito j est quitado,

    devem ser devolvidos os valores eventualmente pagos a maior, na forma simples,

    corrigidos pelo IGP-M desde o desembolso e com juros legais desde a citao. AO DE

    BUSCA E APREENSO. Descaracterizao da mora em face da existncia de clusulas

    abusivas. Ausncia de pressuposto da ao. Sendo a mora o fundamento jurdico da

    ao de busca e apreenso, e uma vez que ela tenha sido descaracterizada, de ser

    extinta a ao, com base no art. 267, inciso VI, do CPC. APELO DO AUTOR DA AO

    REVISIONAL PROVIDO EM PARTE E APELO DO BANCO DESPROVIDO. Vistos, relatados e

    discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Dcima Terceira

    Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estado, por maioria, em dar provimento parcial

    apelao do autor da ao revisional, vencido o Vogal. unanimidade, negaram

    provimento apelao do Banco. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento,

    alm da signatria, os eminentes Senhores Des. Breno Pereira da Costa Vasconcellos

    (Presidente e Revisor) e Des. Carlos Alberto Etcheverry. Porto Alegre, 05 de junho de

    2008. DES. ANGELA TEREZINHA DE OLIVEIRA BRITO, Relatora. RELATRIO Des.

    Angela Terezinha de Oliveira Brito (RELATORA). DARLISE RITA LENHARDT e

    FINANCEIRA ALFA S.A. CRDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO interpuseram

    recursos de apelao contra sentena proferida nos autos da ao de rito ordinrio,

    constante s folhas 106/110, que julgou parcialmente procedente o pedido, revisando

    o contrato havido entre as partes para excluir a capitalizao mensal dos juros e vedar

    a cobrana da comisso de permanncia. Por fim, restou julgado procedente o pedido

    de busca e apreenso.Em suas razes recursais, o autor aduziu que h clusulas

    abusivas no contrato firmado e que h necessidade de reviso com base no Cdigo de

    Defesa do Consumidor. Postulou a limitao dos juros no patamar de 12% ao ano, o

    afastamento da mora, a compensao e a repetio de indbito e, por fim, requereu a

    improcedncia da ao de busca e apreenso. Pugnou pelo provimento do apelo,

    reformando-se a sentena de primeiro grau, com a condenao do apelado ao

    pagamento das verbas sucumbenciais. O Banco, por sua vez, sustentou que

    permitida a capitalizao mensal e que no h ilegalidade na cobrana da comisso de

    permanncia. Pugnou pelo provimento do apelo. Somente o Banco apresentou contra-

    razes (fls. 145/156). Vieram os autos a este Tribunal. o relatrio. VOTOS Des.

    Angela Terezinha de Oliveira Brito (RELATORA) Trata-se de apelao onde se discute a

    possibilidade de reviso das clusulas fixadoras de obrigaes acessrias em contrato

    de crdito pessoal garantido com clusula de alienao fiduciria, firmado em

    20/02/2006, onde foi outorgado crdito em dinheiro ao consumidor no valor

    correspondente a R$ 23.280,00 (fls. 08/10). APLICAO DO CDC AOS CONTRATOS

    BANCRIOS inegvel tratarem-se as relaes contratuais entabuladas entre as

    pessoas fsicas tomadoras de crdito e as instituies bancrias e financeiras, de

    relaes de consumo. Conforme lio de Adalberto Pasqualotto, dentre os servios de

    consumo, o pargrafo 2 do artigo 3 inclui expressamente os de natureza bancria,

    financeira, de crdito e securitria. A oposio destes setores econmicos ao

    dispositivo manifesta. Embora o dinheiro, em si mesmo, no seja objeto de consumo,

    ao funcionar como elemento de troca, a moeda adquire a natureza de bem de

    consumo. As operaes de crdito ao consumidor so negcios de consumo por

    conexo, compreendendo-se nessa classificao todos os meios de pagamento em que

    ocorre diferimento da prestao monetria, como cartes de crdito e cheques

  • (citado por CELSO MARCELO DE OLIVEIRA, in Alienao Fiduciria em Garantia, 2003,

    Ed. LZN, p. 215). que, nas palavras da consagrada jurista Cludia Lima Marques, a

    operao envolvendo crdito intrnseca e acessria ao consumo, utilizada geralmente

    como uma tcnica complementar e necessria ao consumo, seja pela populao com

    menos possibilidades econmicas e sociais, que utilizam seguidamente as vendas

    prestao, seja pelo resto da populao para adquirir bens de maior valor, como

    automveis ou casas prprias, ou simplesmente para alcanar maior conforto e

    segurana nas suas compras, utilizando o sistema de cartes de crdito (Contratos no

    Cdigo de Defesa do Consumidor O novo regime das relaes contratuais, 2002, Ed.

    Revista dos Tribunais, pp. 429-30). Bem se v que o crdito, na forma como

    disponibilizado ao consumidor, funciona como produto, a ser consumido de forma final

    pelo seu tomador na aquisio de outros bens no mercado. Portanto, inegvel a

    aplicao da legislao consumerista ao contrato ora em discusso. A clareza do

    disposto no art. 3, 2, do CDC no vem embaada pelo estratagema dos bancos e

    financeiras de tentarem criar uma distino artificial entre servios e operaes

    bancrias, atravs da qual pretendem que somente a primeira categoria estaria

    sujeita ao CDC. A lio de Nelson Nery Jnior clara nesse sentido, ao espancar a

    pretensa distino: Analisando o problema da classificao do banco como empresa e

    de sua atividade negocial, tem-se que considerado pelo art. 3, caput, do CDC, como

    fornecedor, vale dizer, um dos sujeitos da relao de consumo. O produto da atividade

    negocial do banco o crdito. (...) O aspecto central da problemtica da considerao

    das atividades bancrias como sendo relaes jurdicas de consumo reside na

    finalidade dos contratos realizados com os bancos. Havendo a outorga do dinheiro ou

    do crdito para que o devedor o utilize como destinatrio final, h a relao de

    consumo que enseja a aplicao dos dispositivos do CDC. Caso o devedor tome dinheiro

    ou crdito emprestado do banco para repass-lo, no ser destinatrio final e,

    portanto, no h que se falar em relao de consumo. Como as regras normais de

    experincia nos do conta de que a pessoa fsica que empresta dinheiro ou toma

    crdito de banco o faz para sua utilizao pessoal, como destinatrio final, existe aqui

    presuno hominis, juris tantum, de que se trata de relao de consumo, quer dizer, de

    que o dinheiro ser destinado ao consumo. O nus de provar o contrrio, ou seja, que o

    dinheiro ou crdito tomado pela pessoa fsica no foi destinado ao uso final do

    devedor, do banco, quer porque se trata de presuno a favor do muturio ou

    creditado, quer porque poder incidir o art. 6, n VIII, do CDC, com inverso do nus

    da prova a favor do consumidor (Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor

    comentado pelos autores do anteprojeto, 2001, Ed. Forense Universitria, pp. 471-2,

    grifei). A jurisprudncia absolutamente unssona no sentido de tambm rejeitar essa

    distino, englobando os contratos de financiamento e mtuo dentro do conceito largo

    de prestao de servio/fornecimento de produto, sujeito ao regime do CDC. No

    Superior Tribunal de Justia: Os bancos, como prestadores de servios contemplados

    no art. 3, 2, esto submetidos s disposies do Cdigo de Defesa do Consumidor.

    Precedentes do STJ. (RESP 287.828/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, julgado em

    15.05.2001). Os bancos, como prestadores de servios especialmente contemplados no

    art. 3, 2, esto submetidos s disposies do Cdigo de Defesa do Consumidor. A

    circunstncia de o usurio dispor do bem recebido atravs de operao bancria,

    transferindo-o a terceiros, em pagamento de outros bens ou servios, no o

    descaracteriza como consumidor final dos servios prestados pela instituio. (RESP

    190.860/MG, Terceira Turma, Rel. Min. Waldemar Zveiter, julgado em 09.11.2000). O

    CDC incide sobre contrato de financiamento celebrado entre a CEF e o taxista para

    aquisio de veculo. (RESP 231.208/PE, Quarta Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar

  • Jnior, julgado em 07.12.2000).No discrepa a orientao desta Corte: Ao revisional

    de contrato de mtuo. Aplicao do CDC. Figurando de um lado a empresa

    fornecedora de crdito e de outro o muturio, estabelece-se cristalina relao de

    consumo, incidindo na espcie as disposies do CDC. Reviso judicial. Possvel o

    exame da relao contratual pelo CDC e pelo direito comum para adequao do

    contrato aos parmetros legais e razoveis. (Apelao cvel n 70003818382, Dcima

    Oitava Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Andr Luiz Planella Villarinho,

    julgado em 26/09/2002). Ao revisional. Contrato de mtuo. Improcedncia.

    Irresignao. Acolhimento. Possibilidade de reviso. Por fora da ao intentada,

    pretende a parte devedora que sejam aferidas as possveis ilegalidades da avenca, o

    que cabvel que perquira, inclusive, a partir das diretrizes do artigo 51 da Lei

    8.078/90. Aplicao do CDC. O Cdigo de Defesa do Consumidor se aplica espcie,

    considerando-se o contrato firmado entre as partes como sendo de adeso,

    configurando-se, ainda, o disposto no artigo 3, 2, do mesmo diploma legal.

    (Apelao cvel n 70004744538, Dcima Terceira Cmara Cvel, Tribunal de Justia do

    RS, Relatora: Las Rogria Alves Barbosa, julgado em 12/09/2002). Ao revisional de

    contrato de abertura de credito em conta corrente e contrato de mtuo. Possibilidade

    de reviso. assente a possibilidade de reviso judicial dos contratos para expurg-los

    das eventuais ilegalidades. Aplicao do CDC. No repassados os custos a terceiros a

    pessoa fsica, tomadora de emprstimo "destinatria final", sendo uma relao de

    consumo tpica (Lei 8078/90, art. 2). (Apelao cvel n 70000250506, Dcima Oitava

    Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Wilson Carlos Rodycz, julgado em

    23/06/2000). O entendimento explicitado acima foi referendado pelo Superior Tribunal

    de Justia por meio da Smula 297 de 14 de maio de 2004, cujo enunciado ora

    transcrevo: O Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras.

    DIREITO DE O CONSUMIDOR REVISAR O CONTRATO Uma vez que no se discuta a

    aplicabilidade do CDC ao contrato firmado, evidente o direito de o consumidor

    revisar os termos da avena, se ilegais ou abusivas as condies contratadas. O art. 6,

    inciso V, do CDC arrola, como direitos bsicos do consumidor, duas possibilidades de

    ingerncia judicial sobre os termos da avena: (1) o de modificar as clusulas

    contratuais que estabeleam prestaes originariamente desproporcionais; e (2) o de

    revisar o contrato em razo de onerosidade excessiva, por fato superveniente. Foi o

    reconhecimento pioneiro da funo social do contrato (hoje consagrado

    expressamente no art. 421 do novo Cdigo Civil) como limite aos abusos que o rigor do

    Pacta Sunt Servanda acabava permitindo nas relaes privadas de todo o gnero, e

    que acabou por relativizar este princpio. De se ver que a proteo conferida ao

    consumidor a mais ampla possvel, abrangendo tanto o direito modificao

    contratual por abuso contemporneo contratao, quanto o reviso nos casos de

    obrigao de trato sucessivo, em que a modificao das condies subjacentes ao

    pacto tornem a prestao de uma das partes excessiva e desproporcional em relao

    quela que cabe outra parte. Aqui, no presente caso, estamos diante de hiptese da

    primeira espcie, ou seja, de contrato que merece modificao em razo de

    abusividade contempornea contratao. O contrato em tela , claramente, um

    contrato de adeso, uma vez que se trata de formulrio impresso onde as condies

    gerais pr-estabelecidas pela instituio bancria/financeira so impostas ao

    consumidor sem qualquer possibilidade de discusso das suas clusulas. A nica

    liberdade que o consumidor tem, no caso, a de escolher entre contratar ou no. E

    uma vez que se decida pela realizao do contrato, no tem mais qualquer ingerncia

    sobre o tipo de contrato a ser firmado bem como sobre as clusulas a serem

    pactuadas. Portanto, so plenamente aplicveis ao caso em testilha as disposies do

  • art. 54 do CDC que presumem a abusividade, em contratos desta espcie, das

    disposies que limitem direitos do consumidor/aderente sem o destaque, a clareza e a

    ostensividade necessrias a permitirem a imediata compreenso do seu contedo e do

    real alcance das obrigaes assumidas. O contrato ora revisando exemplo claro

    disso, conforme se observa no mesmo E, sendo assim, foroso concluir que a nulidade

    de tais clusulas por abusivas, em contrato de adeso - remonta poca da prpria

    contratao. No se est diante de hiptese em que a contratao fosse isenta de

    mculas e que, no curso da execuo da avena, por fatores imprevistos, a obrigao

    de uma das partes tenha se tornado excessivamente onerosa. Aqui, ao inverso, o

    contrato j nasceu inquinado pelo vcio da abusividade das obrigaes acessrias

    impostas pelo fornecedor, quando este pr-definiu unilateralmente as clusulas gerais

    do contrato de adeso de fornecimento de crdito. Porquanto, evidente o direito de o

    consumidor revisar os termos da avena. DECLARAO DE OFCIO DA NULIDADE DAS

    CLUSULAS ABUSIVAS O art. 168, pargrafo nico, do novo Cdigo Civil (mera

    repetio do art. 146, pargrafo nico, da codificao revogada), determina que o juiz

    deva declarar de ofcio as nulidades existentes em negcio jurdico que lhe tenha sido

    dado a conhecer, mesmo que no tenham sido alegadas pelas partes. Em que pese o

    dispositivo no diferencie a possibilidade de decretao de nulidade total (anular todo

    o contrato) ou parcial (anular apenas as clusulas abusivas), imanente ao sistema a

    viabilidade da decretao de nulidade parcial. No apenas em razo da nova ideologia

    implantada no sistema de direito privado pelo Cdigo Civil de 2002, no sentido de

    prestigiar o chamado Princpio da conservao dos contratos (conseqncia natural

    da sua funo social preconizada no art. 421, conforme Enunciado n 22 da Jornada de

    Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judicirios do Conselho da Justia

    Federal em Braslia, nos dias 11 a 13.09.2002; filosofia ademais explicitada no prprio

    Cdigo pelos arts. 473, pargrafo nico, 475 e 479), mas em especial porque em

    matria de relaes de consumo, a conservao do contrato algo quase natural se

    observada a caracterstica de essencialidade do consumo, entendido como interesse

    difuso, para a promoo do bem comum (Constituio da Repblica, art. 3, inciso IV)

    atravs da colocao disposio do cidado/consumidor de condies para uma

    melhor qualidade de vida. Assim, dada a essencialidade do consumo e a preocupao

    constitucional com a defesa do consumidor (Constituio da Repblica, arts. 5, inciso

    XXXII, 170, inciso V, e 175, pargrafo nico, inciso IV; e ADCT, art. 48), no h como se

    negar a possibilidade de, com base no art. 168, pargrafo nico, do novo Cdigo Civil

    (antigo art. 146, pargrafo nico, do Cdigo Civil de 1916), declarar-se a nulidade

    apenas parcial do contrato ainda que de ofcio -, somente das clusulas consideradas

    abusivas, como forma de recompor o equilbrio das obrigaes contratadas, equilbrio

    este que est na base do sistema implantado pelo CDC (Lei n 8.078/90, arts. 4, inciso

    III, 6, inciso V, 39, inciso V, e 51, inciso IV). A jurisprudncia desta Corte tem

    endossado este entendimento: Contrato de financiamento com alienao fiduciria em

    garantia. Ao de reviso contratual. Reconhecimento de ofcio. Tratando-se de

    nulidade de pleno direito, diante do que dispem as normas do Cdigo de Defesa do

    Consumidor, impe-se o reconhecimento pelo juiz, independentemente de alegao

    das partes, como preceitua o pargrafo nico do artigo 146 do Cdigo Civil, afastando-

    se, de ofcio, a abusividade da clusula. Precedentes do STJ. (Apelao cvel n

    70003142478, Dcima Quarta Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Joo

    Armando Bezerra Campos, julgado em 08/11/2001). Alienao fiduciria. Ao

    revisional de contrato de abertura de crdito fixo com garantia fiduciria. I Controle

    difuso da licitude dos negcios jurdicos e interpretao de clusulas contratuais. 1.

    Funo social dos negcios e direitos fundamentais. Reviso judicial e relativizao do

  • princpio do pacta sunt servanda. Aplicao incidental do Cdigo de Defesa do

    Consumidor: consumidor prprio. Regulao mandatria: normas de ordem pblica e

    interesse social. Nulidade de pleno direito: decretao at de ofcio, a qualquer tempo

    e graus de jurisdio. (Apelao cvel n 70002708493, Dcima Quarta Cmara Cvel,

    Tribunal de Justia do RS, Relator: Aymor Roque Pottes de Mello, julgado em

    13/09/2001). No Superior Tribunal de Justia: CC, ARTS. 145/146. NULIDADE.

    APLICAO DE OFCIO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, POSSIBILIDADE, RECURSO

    DESPROVIDO. Em se tratando de nulidade absoluta contemplada no ordenamento

    material (CC arts. 145/146), defeso no era ao Tribunal de segundo grau apreci-la de

    ofcio. (AGEDAG 151689/RS, Quarta Turma, Rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira,

    julgado em 30.04.1998). TAXA DE JUROS REMUNERATRIOS A primeira clusula do

    contrato em tela que reclama reviso a atinente fixao dos juros remuneratrios,

    devidos pelo custo do capital mutuado/financiado e pelo risco inerente operao, a

    ser suportado pelo mutuante/financiador. Historicamente grassa intensa divergncia

    sobre a possibilidade de limitao das taxas de juros reais praticadas pelas instituies

    autorizadas a funcionar no mercado de capitais pelo Banco Central, dentre elas os

    bancos e as instituies financeiras voltadas oferta de crdito ao pblico em geral. A

    questo da definio das taxas de juros encontra no revogado Cdigo Civil de 1916 o

    seu ponto de partida. O art. 1.262, segunda parte, liberava completamente a sua

    fixao nos contratos de mtuo, desde que porm houvesse pactuao por escrito j

    que no se admitia, quela poca, juros remuneratrios no pactuados. O limite

    previsto nos arts. 1.062 e 1.063 (6% ao ano) dizia respeito apenas aos juros

    moratrios, e ainda assim apenas para a hiptese de no haver conveno em

    contrrio ou, havendo esta, no ter sido fixada a taxa. A Lei de Usura, porm, ps

    cobro liberdade plena dos contratantes nesta matria, fixando limites rgidos para os

    juros remuneratrios. Conforme se observa do art. 1, 3, do Decreto n 22.626/33,

    foram limitados em 6% ao ano os juros reais no silncio das partes (os chamados

    juros legais); permitida a fixao em at o dobro deste percentual, se houvesse

    estipulao por escrito (art. 1, caput os chamados juros convencionais). A Lei de

    Usura no distinguia a natureza do contrato (se mtuo ou no) nem quem eram os

    contratantes (se pessoas fsicas ou jurdicas): Todos estavam sujeitos sua limitao,

    haja vista a preocupao do ento Presidente da Repblica Getlio Vargas em coibir os

    excessos praticados pelas prticas usurrias, conforme fica claro da leitura do

    Considerando... do Decreto n 22.626/33. Tamanha a preocupao com a usura que

    a sua prtica foi tipificada como infrao penal, primeiro no art. 13 do Decreto n

    22.626/33, depois no art. 4, alnea a, da Lei n 1.521/51, ainda em vigor. Contudo, a

    necessidade de reorganizar o sistema financeiro nacional levou, em 1964, edio da

    Lei n 4.595, a qual criou o Conselho Monetrio Nacional, e, em seu art. 4, inciso IX, o

    autorizou, atravs do Banco Central, a limitar, sempre que necessrio, as taxas de

    juros, descontos comisses e qualquer outra forma de remunerao de operaes e

    servios bancrios ou financeiros. Foram retiradas, assim, do regime da Lei de Usura,

    as instituies financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central, as quais

    passaram a adotar as taxas que o prprio Banco Central, via resoluo, fixasse

    casuisticamente. Esta tese foi endossada em 1976 pelo Supremo Tribunal Federal,

    conforme se observa do verbete 596 da sua Smula de Jurisprudncia Predominante:

    As disposies do Decreto n 22.626/33 no se aplicam s taxas de juros e aos outros

    encargos cobrados nas operaes realizadas por instituies pblicas ou privadas, que

    integram o sistema financeiro nacional. Com a sua atuao referendada pelo Pretrio

    Excelso, o Banco Central editou finalmente, em 1985, a famosa Resoluo n 1.064,

    que liberou totalmente as taxas de juros para as instituies em questo, que

  • passaram a praticar as taxas que melhor lhe conviessem. Veio ento a Constituio da

    Repblica de 1988, que forou a uma reflexo sobre o tema na medida em que o seu

    art. 192, 3, ao tratar das bases estruturais sobre as quais deveria ser remodelado o

    sistema financeiro nacional, fixou em 12% ao ano o teto mximo que as taxas de juros

    reais poderiam alcanar. Contudo, em razo da remisso feita pelo caput do art. 192

    Lei Complementar que deveria regulamentar esse captulo da Constituio, o

    Presidente da Repblica Jos Sarney encomendou Consultoria-Geral da Repblica um

    estudo sobre a auto-aplicabilidade do dispositivo em questo. De tais estudos resultou

    o Parecer Normativo SR n 70, de 06.10.1988 (publicado no DJU de 07.10.1988)

    concluindo pela no auto-aplicabilidade do art. 192, 3, da Constituio da Repblica

    enquanto no fosse editada a Lei Complementar referida no caput, parecer esse que

    foi aprovado pelo Presidente da Repblica assumindo carter normativo por fora dos

    arts. 22, 2 e 23 do Decreto n 99.889/86 e, em conseqncia, obrigando todos os

    rgos e entes da Administrao Pblica Federal ao seu cumprimento, entre os quais o

    Conselho Monetrio Nacional e o Banco Central. O Partido Democrtico Trabalhista

    ingressou ento no Supremo Tribunal Federal questionando a constitucionalidade do

    referido Parecer Normativo, dando origem assim celebre Ao Direta de

    Inconstitucionalidade n 04-7-DF, relatada pelo eminente Ministro Sidney Sanches e

    julgada em 07.03.1991, onde restou vencedora, por maioria, a tese da no auto-

    aplicabilidade do dispositivo constitucional que limitava os juros reais, orientao hoje

    cristalizada no Enunciado n 648 da sua Smula de Jurisprudncia Predominante. A

    questo, porm, longe de encerrar as discusses a respeito, passou a ser abordada

    sobre um outro enfoque, em especial pela jurisprudncia do extinto Tribunal de Alada

    do Estado. Conforme se observa do julgamento dos Embargos Infringentes n

    194.254.561 (Terceiro Grupo Cvel, Rel. Juiz Jorge Alcebades Perrone de Oliveira,

    julgado em 24.11.1995), em especial do alentado voto do eminente Relator, passou a

    ser questionada a validade do prprio julgamento proferido na ADIN n 04, a partir do

    disposto no art. 25, inciso I, do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (cujo

    prazo foi prorrogado pelo art. 1 da Lei n 8.392/91) c/c o art. 48, inciso XIII, da

    Constituio da Repblica. A tese, extremamente inteligente e de inegvel consistncia

    jurdica, parte do pressuposto da revogao de toda a legislao anterior

    Constituio da Repblica que concedia, por delegao, poder legiferante ao Conselho

    Monetrio Nacional para disciplinar a matria atinente aos juros, pois esta, a partir de

    05.10.1988, passou a ser da competncia exclusiva do Congresso Nacional, questo

    esta que no foi objeto de abordagem pelo STF no julgamento da ADIN n 04. Mais

    recentemente, o ento Presidente da Repblica Fernando Henrique Cardoso editou,

    aps inmeras reedies, a Medida Provisria n 2.172-32, de 23.08.2001 (em vigor

    indefinidamente, por fora do art. 2 da Emenda Constitucional n 32/2001), que

    definiu novos e modernos instrumentos de combate usura - em complementao aos

    dispositivos ainda em vigor do Decreto n 22.626/33 -, porm, no seu art. 4, inciso I,

    fez questo de frisar que as suas disposies no se aplicam s instituies financeiras

    e demais instituies autorizadas a funcionar pelo Banco Central, as quais continuam

    regidas pelas normas legais e regulamentares que lhes so aplicveis, ou seja pela

    legislao que confere ao Conselho Monetrio Nacional, via Banco Central, poder para

    definir de modo irrestrito as taxas de juros dos seus negcios. Por fim, assistiu-se

    revogao do art. 192, 3, da Constituio da Repblica por fora da Emenda

    Constitucional n 40/2003, o que prejudica (para contratos firmados j sob a sua

    vigncia) qualquer tipo de discusso sobre a auto-aplicabilidade ou no do revogado

    limite de 12% ao ano para os juros reais. A questo, porm, no se limita apenas a

    uma discusso constitucional sobre a auto-aplicabilidade do art. 192, 3, da

  • Constituio da Repblica e/ou sobre a aplicao do Decreto n 22.626/33 s

    instituies financeiras a partir do termo de vigncia fixado pelo art. 25, inciso I, do

    ADCT (para os contratos anteriores Emenda Constitucional n 40/2003); ou sobre a

    existncia de um possvel vazio normativo no sistema, para as instituies financeiras,

    a partir da revogao do art. 192, 3, da Constituio (para os contratos firmados

    aps a EC 40/03), na medida em que no pode ser esquecida, como antes j afirmado,

    a plena aplicabilidade do Cdigo de Defesa do Consumidor ao contrato em questo.As

    disposies do Estatuto Consumerista so suficientes, por si s, para autorizar a

    reduo das taxas abusivas de juros remuneratrios em contrato de adeso. Assim, os

    fundamentos constitucionais que, porventura, venham a ser utilizados para a limitao

    dos juros devem ser desconsiderados, tendo em vista o resultado do julgamento da

    ADIN n 04 e o disposto no art. 28, pargrafo nico, da Lei n 9.868/99. De fato, todo o

    sistema de proteo das relaes de consumo estabelecido pelo CDC tem no equilbrio

    entre as obrigaes assumidas pelo fornecedor e pelo consumidor a sua principal

    preocupao, desde o momento em que considera, a priori, a vulnerabilidade do

    consumidor presumindo-o parte mais fraca na relao, como quando veda de forma

    enrgica a validade de clusulas ou exigncias que coloquem o consumidor em uma

    situao de desvantagem. Reza o art. 39, inciso V, do CDC: vedado ao fornecedor de

    produtos e servios, dentre outras prticas abusivas: exigir do consumidor vantagem

    manifestamente excessiva. Por seu turno, o art. 51, inciso IV: So nulas de pleno

    direito, entre outras, as clusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e

    servios que: estabeleam obrigaes consi