apostila cogniÇÃo e aprendizagem - instituto...

59
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM ESPÍRITO SANTO

Upload: vohuong

Post on 19-Sep-2018

231 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA

COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM

ESPÍRITO SANTO

Page 2: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

2

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Fonte: http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Aprendizagem&lang=3

Aprendizagem significativa é o processo através do qual uma nova

informação (um novo conhecimento) se relaciona de maneira não arbitrária e

substantiva (não literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. É no curso da

aprendizagem significativa que o significado lógico do material de aprendizagem se

transforma em significado psicológico para o sujeito.

Para Ausubel (1963, p. 58), a aprendizagem significativa é o mecanismo

humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e

informações representadas em qualquer campo de conhecimento.

Não arbitrariedade e substantividade são as características básicas da

aprendizagem significativa.

Não arbitrariedade quer dizer que o material potencialmente significativo se

relaciona de maneira não arbitrária com o conhecimento já existente na estrutura

Page 3: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

3

cognitiva do aprendiz. Ou seja, o relacionamento não é com qualquer aspecto da

estrutura cognitiva, mas sim com conhecimentos especificamente relevantes, os quais

Ausubel chamam subsunçores. O conhecimento prévio serve de matriz ideacional e

organizacional para a incorporação, compreensão e fixação de novos conhecimentos

quando estes “se ancoram” em conhecimentos especificamente relevantes

(subsunçores) preexistentes na estrutura cognitiva.

Novas ideias, conceitos, proposições, podem ser aprendidos significativamente

(e retidos) na medida em que outras ideias, conceitos, proposições, especificamente

relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura

cognitiva do sujeito e funcionem como pontos de “ancoragem” aos primeiros.

Substantividade significa que o que é incorporado à estrutura cognitiva é a

substância do novo conhecimento, das novas ideias, não as palavras precisas

usadas para expressá-las. O mesmo conceito ou a mesma proposição podem ser

expressos de diferentes maneiras, através de distintos signos ou grupos de signos,

equivalentes em termos de significados. Assim, uma aprendizagem significativa não

pode depender do uso exclusivo de determinados signos em particular (op. cit. p.

41).

A essência do processo da aprendizagem significativa está, portanto, no

relacionamento não-arbitrário e substantivo de ideias simbolicamente expressas a

algum aspecto relevante da estrutura de conhecimento do sujeito, isto é, a algum

conceito ou proposição que já lhe é significativo e adequado para interagir com a nova

informação. É desta interação que emergem, para o aprendiz, os significados dos

materiais potencialmente significativos (ou seja, suficientemente não arbitrários e

relacionáveis de maneira não arbitrária e substantiva a sua estrutura cognitiva). É

Page 4: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

4

também nesta interação que o conhecimento prévio se modifica pela aquisição de

novos significados.

Fica, então, claro que na perspectiva ausubeliana, o conhecimento prévio (a

estrutura cognitiva do aprendiz) é a variável crucial para a aprendizagem

significativa.

Quando o material de aprendizagem é relacionável à estrutura cognitiva

somente de maneira arbitrária e literal que não resulta na aquisição de significados

para o sujeito, a aprendizagem é dita mecânica ou automática. A diferença básica

entre aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica está na relacionabilidade

à estrutura cognitiva: não arbitrária e substantiva versus arbitrária e literal (ibid.). Não

se trata, pois, de uma dicotomia, mas de um contínuo no qual elas ocupam os

extremos.

O tipo mais básico de aprendizagem significativa é a aprendizagem do

significado de símbolos individuais (tipicamente palavras) ou aprendizagem do que

eles representam.

Ausubel denomina de aprendizagem representacional este tipo de

aprendizagem significativa (op. cit. p. 42). A aprendizagem de conceitos, ou

aprendizagem conceitual, é um caso especial, e muito importante, de aprendizagem

representacional, pois conceitos também são representados por símbolos individuais.

Porém, neste caso são representações genéricas ou categoriais. É preciso distinguir

entre aprender o que significa a palavra conceito, ou seja, aprender qual conceito está

representado por uma dada palavra e aprender o significado do conceito (op. cit. p.

Page 5: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

5

44). A aprendizagem proposicional, por sua vez, se refere aos significados de ideias

expressas por grupos de palavras (geralmente representando conceitos) combinadas

em proposições ou sentenças.

Segundo Ausubel, a estrutura cognitiva tende a organizar-se hierarquicamente

em termos de nível de abstração, generalidade e inclusividade de seus conteúdos.

Consequentemente, a emergência de significados para os materiais de aprendizagem

tipicamente reflete uma relação de subordinação à estrutura cognitiva. Conceitos e

proposições potencialmente significativos ficam subordinados ou, na linguagem de

Ausubel (op. cit. p. 52), são “subsumidos” sob ideias mais abstratas, gerais e

inclusivas (os “subsunçores”). Este tipo de aprendizagem é denominado

aprendizagem significativa subordinada. É o tipo mais comum. Se o novo material

é apenas corroborante ou diretamente derivável de algum conceito ou proposição já

existente, com estabilidade e inclusividade, na estrutura cognitiva, a aprendizagem

subordinada é dita derivativa. Quando o novo material é uma extensão, elaboração,

modificação ou quantificação de conceitos ou proposições previamente aprendidos

significativamente, a aprendizagem subordinada é considerada correlativa.

O novo material de aprendizagem guarda uma relação de superordenação à

estrutura cognitiva quando o sujeito aprende um novo conceito ou proposição mais

abrangente que possa a subordinar, ou “subsumir”, conceitos ou proposições já

existentes na sua estrutura de conhecimento. Este tipo de aprendizagem, bem menos

comum do que a subordinada, é chamada de aprendizagem superordenada. É

muito importante na formação de conceitos e na unificação e reconciliação integradora

de proposições aparentemente não relacionadas ou conflitivas (op. cit. p. 53).

Page 6: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

6

Ausubel cita ainda o caso da aprendizagem de conceitos ou proposições que

não são subordinados nem superordenados em relação a algum conceito ou

proposição, em particular, já existente na estrutura cognitiva. Não são subordináveis

nem são capazes de subordinar algum conceito ou proposição já estabelecido na

estrutura cognitiva do aprendiz. A este tipo de aprendizagem ele dá o nome de

aprendizagem significativa combinatória. Segundo ele, generalizações inclusivas

e amplamente explanatórias tais como as relações entre massa e energia, calor e

volume, estrutura genética e variabilidade, oferta e procura requerem este tipo de

aprendizagem.

De maneira resumida, e praticamente sem exemplos, tentei apresentar nesta

seção os significados originais atribuídos por Ausubel ao conceito de aprendizagem

significativa. Este conceito é hoje muito usado quando se fala em ensino e

aprendizagem, porém frequentemente sem saber-se exatamente o que significa. Além

de procurar esclarecer isso, esta seção também pretende fornecer subsídios para

argumentar, nas seções seguintes, que o conceito de aprendizagem significativa é

compatível com outras teorias construtivistas, mas que seu maior potencial, na

perspectiva da instrução, está na teoria original Ausubel, complementada por Novak

e Gowin.

Page 7: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

7

A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM UMA ÓTICA

PIAGETIANA

Fonte: http://www.biography.com/people/jean-piaget-9439915

Os conceitos-chave da teoria de Piaget (1971, 1973, 1977) são assimilação,

acomodação, adaptação e equilibração. A assimilação designa o fato de que é do

sujeito a iniciativa na interação com o meio. Ele constrói esquemas mentais de

assimilação para abordar a realidade. Todo esquema de assimilação é construído e

toda abordagem à realidade supõe um esquema de assimilação. Quando o organismo

(a mente) assimila, incorpora a realidade a seus esquemas de ação impondo-se ao

meio.

Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

situação, o organismo (mente) desiste ou se modifica. No caso de modificação, ocorre

a acomodação, ou seja, uma reestruturação da estrutura cognitiva (esquemas de

assimilação existentes) que resulta em novos esquemas de assimilação. É através da

acomodação que se dá o desenvolvimento cognitivo. Se o meio não apresenta

Page 8: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

8

problemas, dificuldades, a atividade da mente é apenas de assimilação; contudo,

frente a elas se reestrutura (acomoda) e se desenvolve. Não há acomodação sem

assimilação, pois a acomodação é uma reestruturação da assimilação. O equilíbrio

entre assimilação e acomodação é a adaptação. Experiências acomodadas dão

origem a novos esquemas de assimilação, alcançando-se um novo estado de

equilíbrio. A mente sendo uma estrutura (cognitiva) tende a funcionar em equilíbrio,

aumentando, permanentemente, seu grau de organização interna e de adaptação ao

meio.

Quando este equilíbrio é rompido por experiências não assimiláveis, o

organismo (mente) se reestrutura (acomoda), a fim de construir novos esquemas de

assimilação e atingir novo equilíbrio. Este processo equilibrador que Piaget chama de

equilibração majorante é o responsável pelo desenvolvimento cognitivo do sujeito.

É através da equilibração majorante que o conhecimento humano é totalmente

construído em interação com o meio físico e sociocultural.

Piaget não enfatiza o conceito de aprendizagem. Sua teoria é de

desenvolvimento cognitivo, não de aprendizagem. Ele prefere falar em aumento de

conhecimento. Nesta perspectiva, só há aprendizagem (aumento de conhecimento)

quando o esquema de assimilação sofre acomodação.

Teria, então, sentido falar em aprendizagem significativa em um enfoque

piagetiano? Talvez sim, se estabelecermos uma analogia entre esquema de

assimilação e subsunçor (tanto um como outro são construtos teóricos!): na

aprendizagem significativa subordinada derivativa o subsunçor praticamente não se

modifica, a nova informação é corroborante ou diretamente derivável dessa estrutura

de conhecimento que Ausubel chama de subsunçor. Corresponderia à assimilação

Page 9: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

9

piagetiana. Na aprendizagem significativa superordenada um novo subsunçor é

construído e passa a subordinar aqueles conceitos ou proposições que permitiram tal

construção. Seria um processo análogo à acomodação, na qual um novo esquema de

assimilação é construído. Claro, Ausubel diz que a aprendizagem superordenada é

um processo relativamente pouco frequente, enquanto que a acomodação nem tanto.

Por outro lado, na aprendizagem significativa subordinada correlativa o

subsunçor é bastante modificado, enriquecido em termos de significados. Esta

modificação, ou enriquecimento, corresponderia a uma acomodação não tão

acentuada como a da aprendizagem superordenada. Na aprendizagem combinatória

o significado vem da interação da nova informação com a estrutura cognitiva como

um todo. É um processo semelhante ao da aprendizagem subordinada com a

diferença que a nova informação ao invés de ancorar-se a um subsunçor particular o

faz em um conhecimento “relevante de um modo geral”. Mas na ótica piagetiana seria

também uma acomodação.

Quando o material de aprendizagem não é potencialmente significativo (não

relacionável de maneira substantiva e não arbitrária à estrutura cognitiva), não é

possível a aprendizagem significativa. De maneira análoga, quando o desequilíbrio

cognitivo gerado pela experiência não assimilável é muito grande, não ocorre à

acomodação. Tanto em um caso como no outro a mente fica como estava; do ponto

de vista ausubeliano não foram modificados os subsunçores existentes e do

piagetiano não foram construídos novos esquemas de assimilação.

É possível, portanto, interpretar a assimilação, a acomodação e a equilibração

piagetianas em termos de aprendizagem significativa. Assimilar e acomodar podem

Page 10: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

10

ser interpretados em termos de dar significados por subordinação ou por

superordenação.

Naturalmente, isso não quer dizer que os esquemas de Piaget e os

subsunçores de Ausubel sejam a mesma coisa. Trata-se somente de uma analogia

que permite dar significado ao conceito de aprendizagem significativa em um enfoque

piagetiano.

A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM UMA ABORDAGEM

KELLYANA

Fonte: http://alchetron.com/George-A-Kelly-1260730-W

Para George Kelly (1963), o progresso do ser humano ao longo dos séculos

não ocorreu em função de necessidades básicas, mas de sua permanente tentativa

de controlar o fluxo de eventos no qual está imerso. Assim como um cientista, o

“homem-científico” (uma metáfora que se aplica à raça humana) busca prever e

Page 11: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

11

controlar eventos. Nessa tentativa, a pessoa vê o mundo através de moldes, ou

gabaritos, transparentes que ela constrói e então tenta ajustar a eles as realidades do

mundo. O ajuste nem sempre é bom, mas sem estes moldes, padrões, gabaritos --

que Kelly denomina de construtos pessoais -- a pessoa não consegue dar sentido

ao universo em que vive.

Em geral, a pessoa procura melhorar sua construção aumentando seu

repertório de construtos e/ou alterando-os para aperfeiçoar o ajuste e/ou

subordinando-os a construtos superordenados ou sistemas de construção. O sistema

de construção de uma pessoa é um agrupamento hierárquico de construtos.

Há construtos superordenados e construtos subordinados. Em princípio, o sistema de

construção de uma pessoa está aberto à mudança. É nessa possível mudança no

sistema de construção que está o conceito kellyano de aprendizagem.

Sem os construtos pessoais, o mundo pareceria uma homogeneidade

indiferenciada a qual o ser humano não conseguiria dar sentido. Naturalmente, todas

as interpretações humanas sobre o universo estão sujeitas a revisão ou substituição.

Sempre existem construções alternativas. Mas este alternativismo construtivo não

significa indiferença construtiva, não quer dizer que é indiferente o sistema de

construção que a pessoa escolhe para interpretar o universo. Algumas construções

alternativas são melhores do que outras e algumas são definitivamente pobres.

Embora pessoais, há construtos ou sistemas de construção que podem ser

comunicados e compartilhados, inclusive em larga escala. Alguns sistemas de

construção compartilhados em larga escala, ou sistemas públicos, são elaborados

para que determinados domínios, ou campos, a eles se ajustem. Por exemplo, os

Page 12: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

12

construtos da Física para fenômenos físicos e os da Psicologia para fenômenos

psicológicos.

O postulado diz que a conduta de uma pessoa no presente está

determinada pela maneira em que ela antecipa eventos. A antecipação de eventos

implica construtos pessoais, pois a pessoa antecipa eventos construindo réplicas

deles (corolário da construção). As pessoas diferem umas das outras em suas

construções, ou seja, o sistema de construção de uma pessoa é único (corolário da

individualidade). O sistema de construção de uma pessoa muda à medida que ela

constrói réplicas de eventos e as confronta com as realidades do universo, isto é, a

pessoa reconstrói seus construtos para melhorar suas antecipações (corolário da

experiência).

Estes são alguns dos corolários de Kelly. Dois outros que são importantes para

tentar interpretar a aprendizagem significativa à luz da teoria de Kelly são o corolário

da organização e o corolário da fragmentação. O primeiro diz que o sistema de

construção de uma pessoa está organizado hierarquicamente, ou seja, há construtos

subordinados e construtos superordenados. O segundo afirma que as pessoas podem

testar novos construtos sem necessariamente descartar construtos anteriores,

inclusive quando são incompatíveis; quer dizer, novos construtos não são

necessariamente derivações ou casos especiais de construtos já existentes.

Nesta altura, seguramente o leitor já percebeu que há certa analogia entre os

construtos de Kelly e os subsunçores de Ausubel. A estrutura cognitiva para Ausubel

é uma organização hierárquica de subsunçores enquanto o sistema de construção de

Kelly é uma estrutura hierárquica de construtos. Nenhuma das duas é estática, ambas

estão abertas à mudança, à reconstrução e estas implicam aprendizagem. Assim

Page 13: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

13

como há conceitos subsunçores subordinados e superordenados há, igualmente,

construtos subordinados e superordenados.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM UM ENFOQUE

VYGOTSKYANO

Fonte: http://letrasppp320121.blogspot.com.br/2012/05/carta-ao-leitor-lev-vygotsky-philippe.html

Para Lev Vygotsky (1987, 1988), o desenvolvimento cognitivo não pode ser

entendido sem referência ao contexto social, histórico e cultural em que ocorre. Para

ele, os processos mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento

voluntário) têm sua origem em processos sociais; o desenvolvimento cognitivo é a

Page 14: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

14

conversão de relações sociais em funções mentais. Nesse processo, toda

relação/função aparece duas vezes, primeiro em nível social e depois em nível

individual, primeiro entre pessoas (interpessoal, interpsicológica) e após no interior do

sujeito (intrapessoal, intrapsicológica).

Mas a conversão de relações sociais em processos mentais superiores não é

direta, é mediada por instrumentos e signos. Instrumento é algo que pode ser

usado para fazer alguma coisa; signo é algo que significa alguma outra coisa. Existem

três tipos de signos: indicadores são aqueles que têm uma relação de causa e efeito

com aquilo que significam (fumaça por exemplo significa fogo por que é causada pelo

fogo); icônicos são os que são imagens ou desenhos daquilo que significam;

simbólicos são os que têm uma relação abstrata com o que significam. As palavras,

por exemplo, são signos (simbólicos) linguísticos; os números são signos (também

simbólicos) matemáticos. A língua, falada ou escrita, e a matemática são sistemas de

signos.

O uso de instrumentos na mediação com o ambiente distingue, de maneira

essencial, o homem de outros animais. Mas as sociedades criam não somente

instrumentos, mas também sistemas de signos. Ambos, instrumentos e signos, são

criados ao longo da história das sociedades e influem decisivamente em seu

desenvolvimento social e cultural. Para Vygotsky, é através da internalização

(reconstrução interna) de instrumentos e signos que se dá o desenvolvimento

cognitivo. Quanto mais o sujeito vai utilizando signos, tanto mais vão se modificando,

fundamentalmente, as operações psicológicas que ele é capaz de fazer. Da mesma

forma, quanto mais instrumentos ele vai aprendendo a usar tanto mais se amplia, de

Page 15: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

15

modo quase ilimitado, a gama de atividades nas quais pode aplicar suas novas

funções psicológicas.

Como instrumentos e signos são construções sócio históricas e culturais, a

apropriação destas construções pelo aprendiz se dá primordialmente via interação

social. Ao invés de focalizar o indivíduo como unidade de análise, Vygotsky enfoca a

interação social. É ela o veículo fundamental para a transmissão dinâmica (de inter e

intrapessoal) do conhecimento construído social, histórica e culturalmente.

A interação social implica um mínimo de duas pessoas intercambiando

significados. Implica também certo grau de reciprocidade e bidirecionalidade, i.e., um

envolvimento ativo, de ambos os participantes.

A aquisição de significados e a interação social são inseparáveis na perspectiva

de Vygotsky, visto que os significados dos signos são construídos socialmente. As

palavras, por exemplo, são signos linguísticos. Certos gestos também são signos. Mas

os significados das palavras e dos gestos são acordados socialmente, de modo que

a interação social é indispensável para que um aprendiz adquira tais significados.

Mesmo que os significados cheguem ao aprendiz através de livros ou máquinas, por

exemplo, ainda assim é através da interação social que ele/ela poderá assegurar-se

que os significados que captou são os significados socialmente compartilhados em

determinado contexto.

Para internalizar signos, o ser humano tem que captar os significados já

compartilhados socialmente. Ou seja, tem que passar a compartilhar significados já

aceitos no contexto social em que se encontra. E é através da interação social que

isso ocorre. É só através dela que a pessoa pode captar significados e confirmar que

Page 16: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

16

os que está captando são aqueles compartilhados socialmente para os signos em

questão.

Naturalmente, a linguagem (sistema de signos) é extremamente importante em

uma perspectiva vygotskyana. Aprender a falar uma língua, por exemplo, libera a

criança de vínculos contextuais imediatos e esta descontextualizarão é importante

para o desenvolvimento dos processos mentais superiores. O manejo da língua, por

sua vez, é importante para a interação social, mas sendo a língua um sistema de

signos sua aquisição também depende, fundamentalmente, da interação social.

Examinemos, então, se teria sentido falar em aprendizagem significativa em uma

abordagem vygotskyana. Ao que parece sim! E muito!

A aprendizagem significativa, por definição, envolve aquisição/construção de

significados. É no curso da aprendizagem significativa que o significado lógico dos

materiais de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o aprendiz,

diria Ausubel (1963, p. 58). Não seria essa transformação análoga à internalização de

instrumentos e signos de Vygotsky? Os materiais de aprendizagem não seriam,

essencialmente, instrumentos e signos no contexto de certa matéria de ensino? A

Física, por exemplo, não seria um sistema de signos e não teria seus instrumentos

(procedimentos e equipamentos)? Aprender Física de maneira significativa não seria

internalizar os significados aceitos (e construídos) para estes instrumentos e signos

no contexto da Física? Certamente sim, em todos os casos!

A atribuição de significados às novas informações por interação com

significados claros, estáveis e diferenciados já existentes na estrutura cognitiva, que

caracteriza a aprendizagem significativa subordinada, ou emergência de novos

significados pela unificação e reconciliação integradora de significados já existentes,

Page 17: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

17

típica da aprendizagem superordenada, em geral não acontecem de imediato. Ao

contrário, são processos que requerem uma troca de significados, uma “negociação”

de significados, tipicamente vygotskyana.

Para Ausubel, o ser humano tem a grande capacidade de aprender sem ter que

descobrir. Exceto em crianças pequenas, aprender por recepção é o mecanismo

humano por excelência para aprender. As novas informações, ou os novos

significados, podem ser dados diretamente, em sua forma final, ao aprendiz. É a

existência de uma estrutura cognitiva prévia adequada (subsunçores especificamente

relevantes) que vai permitir a aprendizagem significativa (relacionamento não

arbitrário e substantivo ao conhecimento prévio). Mas a aprendizagem por recepção

não é instantânea, requer intercâmbio de significados.

Na ótica vygotskyana, a internalização de significados depende da interação

social, mas, assim como na visão ausubeliana, eles podem ser apresentados ao

aprendiz em sua forma final. O indivíduo não tem que descobrir o que significam os

signos ou como são usados os instrumentos. Ele se apropria (reconstrói internamente)

dessas construções via interação social.

Outro argumento em favor da relevância da interação social para a

aprendizagem significativa é a importância que Ausubel atribui à linguagem (à língua,

rigorosamente falando) na aprendizagem significativa.

Tem, portanto, muito sentido falar em aprendizagem significativa em um

enfoque vygotskyano à aprendizagem. A tal ponto que se poderia inverter o

argumento e dizer que tem muito sentido falar em interação social vygotskyana em

uma perspectiva ausubeliana à aprendizagem. Quer dizer, a aprendizagem

significativa depende de interação social, de intercâmbio, troca, de significados via

Page 18: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

18

interação social. Por outro lado, não se deve pensar que a facilitação da aprendizagem

significativa se reduz a isto.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NA PERSPECTIVA

DE JOHNSON-LAIRD

Fonte: https://pni.princeton.edu/faculty/philip-johnson-laird

Particularmente nos anos noventa, cada vez mais as questões de

aprendizagem têm sido examinadas à luz da moderna psicologia cognitiva, de modo

especial em termos de representações mentais. Representações mentais, ou

representações internas, são maneiras de “representar” internamente o mundo

externo. As pessoas não captam o mundo exterior diretamente, elas constroem

representações mentais (quer dizer, internas) dele.

Pode-se distinguir entre representações mentais analógicas e proposicionais.

As imagens visuais exemplificam tipicamente as representações analógicas, mas há

outras como as auditivas, as olfativas, as tácteis. As representações proposicionais

são “tipo-linguagem”, mas trata-se de uma linguagem que não tem a ver com a língua

Page 19: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

19

que falamos nem com a modalidade de percepção, é uma linguagem própria da mente

que poderíamos chamar de “mentalês”.

A questão imagens vs. proposições é polêmica na Psicologia Cognitiva. Há

psicólogos cognitivos para os quais a cognição deve ser analisada exclusivamente em

termos de representações proposicionais, ou seja, não há necessidade de supor que

as imagens são um tipo especial de representação mental. Para eles, os

“proposicionalistas”, as imagens podem ser reduzidas a representações

proposicionais; seriam também processadas no “mentalês”.

Mas existem outros, os “imagistas” que não aceitam esta posição e

argumentam que as imagens têm identidade própria, tanto é que podem ser rotadas,

transladadas e esquadrinhadas mentalmente. Mas há uma terceira via, uma síntese,

uma terceira forma de construto representacional, chamada modelos mentais,

proposta por Philip Johnson-Laird (1983).

Para ele, proposições são representações de significados, totalmente

abstraídas, que são verbalmente expressáveis. O critério de expressabilidade verbal

distingue Johnson-Laird de outros psicólogos cognitivos. Imagens são

representações bastante específicas que retêm muitos dos aspectos perceptivos de

determinados objetos ou eventos, vistos de um ângulo particular, com detalhes de

certa instância do objeto ou evento. Modelos mentais são representações

analógicas, um tanto quanto abstraídas, de conceitos, objetos ou eventos que são

espacial e temporalmente análogos a impressões sensoriais, mas que podem ser

vistos de qualquer ângulo (e aí temos imagens!) e que, em geral, não retêm aspectos

distintivos de uma dada instância de um objeto ou evento (Sternberg, 1996, p. 181).

Page 20: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

20

Então, para Johnson-Laird (1983, p. 165) representações proposicionais são

cadeias de símbolos que correspondem à linguagem natural, modelos mentais

são análogos estruturais do mundo e imagens são modelos vistos de um

determinado ponto de vista.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM UMA VISÃO

HUMANISTA: A TEORIA DE NOVAK

Fonte: http://jnovakupn.blogspot.com.br/

Page 21: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

21

Até aqui a aprendizagem significativa foi focalizada de um ponto de vista

basicamente cognitivo. Obviamente, todos sabemos que o ser humano não é só

cognição. A pessoa conhece, sente e age! Como fica então a aprendizagem

significativa em uma perspectiva humanista?

O próprio Ausubel, ao explicitar as condições para a aprendizagem significativa

(1968, pp. 37 e 38), de certa forma leva em consideração o lado afetivo da questão: a

aprendizagem significativa requer não só que o material de aprendizagem seja

potencialmente significativo (i.e., relacionável à estrutura cognitiva de maneira não

arbitrária e não- literal), mas também que o aprendiz manifeste uma disposição para

relacionar o novo material de modo substantivo e não-arbitrário a sua estrutura de

conhecimento.

Ou seja, para aprender de maneira significativa o aprendiz deve querer

relacionar o novo conteúdo de maneira não literal e não arbitrária ao seu

conhecimento prévio. Independente de quão potencialmente significativa é a nova

informação (um conceito ou uma proposição, por exemplo), se a intenção do sujeito

for apenas a de memorizá-la de maneira arbitrária e literal, a aprendizagem só poderá

ser mecânica.

Nessa disposição para aprender pode-se perceber a importância do domínio

afetivo na aprendizagem significativa já na formulação original de Ausubel. Mas foi

Joseph D. Novak (1977, 1981) quem deu um toque humanista à aprendizagem

significativa. Novak é coautor da segunda edição da obra “Educational psychology: a

cognitive view” (1978, 1980, 1983) e durante muito tempo trabalhou no refinamento,

testagem e divulgação da teoria da aprendizagem significativa, a tal ponto que esta

Page 22: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

22

teoria deveria ser, hoje, a teoria de Ausubel e Novak. Porém Novak tem o que ele

chama de sua teoria de educação: A aprendizagem significativa subjaz à

integração construtiva entre pensamento, sentimento e ação que conduz ao

engrandecimento (“empowerment”) humano.

Para Novak, uma teoria de educação deve considerar que seres humanos

pensam, sentem e agem e deve ajudar a explicar com se pode melhorar as maneiras

através das quais as pessoas fazem isso. Qualquer evento educativo é, de acordo

com Novak, uma ação para trocar significados (pensar) e sentimentos entre

aprendiz e professor.

A questão da troca de significados já apareceu quando se falou em Vygotsky e

será retomada mais adiante na teoria de ensino de Gowin (1981). Aqui, basta

considerar que o objetivo dessa troca é a aprendizagem significativa de um novo

conhecimento contextualmente aceito.

Mas Novak se refere também a uma troca de sentimentos. Um evento

educativo, segundo ele, é também acompanhado de uma experiência afetiva. A

predisposição para aprender, colocada por Ausubel como uma das condições para a

aprendizagem significativa, está, para Novak, intimamente relacionada com a

experiência afetiva que o aprendiz tem no evento educativo. Sua hipótese é que a

experiência afetiva é positiva e intelectualmente construtiva quando o aprendiz tem

ganhos em compreensão; reciprocidade, a sensação afetiva é negativa e gera

sentimentos de inadequação quando o aprendiz não sente que está aprendendo o

novo conhecimento. Predisposição para aprender e aprendizagem significativa

guardam entre si uma relação praticamente circular: a aprendizagem significativa

Page 23: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

23

requer predisposição para aprender e, ao mesmo tempo, gera este tipo de experiência

afetiva.

Atitudes e sentimentos positivos em relação à experiência educativa têm suas

raízes na aprendizagem significativa e, por sua vez, a facilitam. Novak, como foi dito

no começo desta seção, “adotou” a teoria de Ausubel e, consequentemente, o

conceito de aprendizagem significativa. No entanto, ele deu novos significados a este

conceito, ou estendeu seu âmbito de aplicação: em sua teoria humanista de

educação, a aprendizagem significativa subjaz a construção do conhecimento

humano e o faz integrando positivamente pensamentos, sentimentos e ações,

conduzindo ao engrandecimento pessoal.

Page 24: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

24

REFERENCIAIS

AUSUBEL, D.P. (1963). The psychology of meaningful verbal learning. New York,

Grune and Stratton.

AUSUBEL, D.P. (1976). Psicología educativa: um punto de vista cognoscitivo.

México, Editorial Trillas. Traducción al español de Roberto Helier D., de la primera

edición de Educational psychology: a cognitive view.

AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. and HANESIAN, H. (1978). Educational psychology:

a cognitive view. 2nd. ed. New York, Holt Rinehart and Winston.

AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. e HANESIAN, H. (1980). Psicologia educacional. Rio

de Janeiro, Interamericana. Tradução para português, de Eva Nick et al., da segunda

edição de Educational psychology: a cognitive view.

AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. y HANESIAN, H. (1983). Psicología educativa: um

punto de vista cognoscitivo. México, Editorial Trillas. Traducción al español, de

Mario Sandoval P., de la segunda edición de Educational psychology: a cognitive view.

MOREIRA, M.A. (1993a). Constructivismo: significados, concepciones erróneas

y uma propuesta. Trabalho apresentado na VIII Reunión Nacional de Educación en

la Física, Rosario, Argentina, 18 a 22 de outubro.

Page 25: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

25

MOREIRA, M.A. (1994). Cambio conceptual: crítica a modelos atuales y una

propuesta a la luz de la teoría del aprendizaje significativo. Trabalho apresentado

na conferência internacional “Science and Mathematics Education for the 21st

Century: Towards Innovatory Approaches, Concepción, Chile, 26 de setembro a 1° de

outubro.

NOVAK, J.D. and GOWIN, D.B. (1984). Learning how to learn. Cambridge,

Cambridge University Press.

NOVAK, J.D. y GOWIN, D.B. (1988). Aprendiendo a aprender. Barcelona, Martínez

Roca. Traducción al español del original Learning how to learn.

NOVAK, J.D. e GOWIN, D.B. (1996). Aprender a aprender. Lisboa, Plátano Edições

Técnicas. Tradução para o português de Carla Valadares, do original Learning how

to learn.

PIAGET, J. (1971). O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro, Zahar

Editores.

PIAGET, J. (1973). A epistemologia genética. Rio de Janeiro, Zahar Editores.

KELLY, G.A. (1963). A theory of personality - The psychology of personal

constructs. New York, W.W. Norton.

Page 26: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

26

VYGOTSKY, L.S. (1987). Pensamento e linguagem. 1° ed. brasileira. São Paulo,

Martins Fontes.

VYGOTSKY, L.S. (1988). A formação social da mente. 2° ed. brasileira. São Paulo,

Martins Fontes.

JOHNSON-LAIRD, P.N. (1983). Mental models. Cambridge, MA, Harvard University

Press.

STERNBERG, R.J. (1996). Cognitive psychology. Forth Worth, TX, Harcourt Brace

College Publishers.

EISENCK, M.W. e KEANE, M.T. (1994). Psicologia cognitiva: um manual

introdutório. Porto Alegre, RS, Artes Médicas.

HAMPSON, P.J. and MORRIS, P.E. (1996). Understanding cognition. Cambridge,

MA. Blackwell Publishers Inc.

GENTNER and STEVENS, A.L. (Eds.) (1983). Mental models. Hillsdale, NJ,

Lawrence Erlbaun Associates.

MOREIRA, M.A. e GRECA, I.M. (1996). Concept mapping and mental models.

Meaningful Learning Forum, 1(1).

Page 27: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

27

GRECA, I.M. e MOREIRA, M.A. (1997b). Modelos mentales y aprendizaje de Física

em Electricidad y Magnetismo. Aceito para publicação em Enseñanza de las

Ciencias, Barcelona.

GOWIN, D.B. (1981). Educating. Ithaca, NY, Cornell University Press.

MOREIRA, M.A. (1993b). Mapas conceituais no ensino de Física. Porto Alegre, RS,

Instituto de Física da UFRGS, Monografias do Grupo de Ensino, Série Enfoques

Didáticos, n° 2.

MOREIRA, M.A. (1993c). O Vê epistemológico de Gowin como recurso

instrucional e curricular em ciências. Porto Alegre, RS, Instituto de Física da

UFRGS, Monografias do Grupo de Ensino, Série Enfoques Didáticos, n° 3.

MOREIRA, M.A. e SOUSA, C.M.S.G. (1996). Organizadores prévios como recurso

didático. Porto Alegre, RS, Instituto de Física da UFRGS, Monografias do Grupo de

Ensino, Série Enfoques Didáticos, n° 5.

MOREIRA, M.A. e BUCHWEITZ, B. (1993). Novas estratégias de ensino e

aprendizagem: os mapas conceituais e o Vê epistemológico. Lisboa, Plátano

EdiçõesTécnicas.

MOREIRA, M.A. e MASINI, E.A.F.S. (1982). Aprendizagem significativa: a teoria

de David Ausubel. São Paulo, Editora Moraes.

Page 28: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

28

LEITURA COMPLEMENTAR

Nome do autor: Evelyse dos Santos Lemos

Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/asr/artigos/Artigo_ID3/v1_n1_a2011.pdf

Data de acesso: 15/07/2016

A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: ESTRATÉGIAS FACILITADORAS E

AVALIAÇÃO

Resumo

Este texto tem como propósito relacionar os conceitos e princípios da Teoria de Aprendizagem

Significativa com o cotidiano da prática docente, particularmente com as decisões relacionadas às

escolhas das estratégias de ensino e de avaliação. O principal objetivo é evidenciar o caráter complexo

e contextual dos processos de ensino e de aprendizagem bem como a inexistência de estratégias de

ensino e de avaliação que sejam ideais por si só. Considerando que estamos analisando uma teoria de

aprendizagem e que nossa preocupação é o processo de ensino e de aprendizagem, o texto está

organizado em três partes: 1) a contribuição da teoria para orientar o fazer docente; 2) o processo de

organização do ensino subsidiado pela TAS e, simulando a possibilidade de se oferecer uma receita

para algo que não tem receita, 3) apresentação de alguns princípios orientadores para o professor

decidir as estratégias de ensino e de avaliação no seu cotidiano profissional.

Page 29: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

29

Palavras-chave: aprendizagem significativa; estratégias facilitadoras; avaliação.

Introdução

“Como ensinar? ” É uma questão recorrente no cotidiano do processo

educativo. Ela antecede as decisões do professor na organização do seu ensino. Está

presente nas interações entre professores e formadores de professores, ora

motivando construções coletivas para o aprimoramento profissional de ambos, ora

criando expectativa de receber receitas prontas, ora oportunizando a passagem de

receitas e ora reforçando a atual distância entre professor e pesquisador por meio da

tradicional negação da experiência (ou conhecimento) que um faz do outro

(Campanário, 2002). A questão também costuma estar presente nas interações que

o professor estabelece com o não professor, especialmente pais de alunos, que, sem

conhecimento apropriado sobre a natureza do trabalho docente, julga-se capaz de

avaliar o professor e até aconselhá-lo sobre como ensinar melhor.

Por outro lado, as investigações sobre o ensino, particularmente o de Ciências

e Biologia, também costumam priorizar as ações do professor ou o conhecimento do

aluno em momentos pontuais para analisar a qualidade do processo educativo. São

raros os trabalhos que discutem explicitamente a relação entre o fazer docente e o

processo de aprendizagem do aluno, ou melhor, entre os aspectos do evento

educativo que influenciaram o tipo de aprendizagem realizada (ou não realizada) pelo

aluno (Lemos, 2005). As comunicações científicas da área, refletindo as investigações

que descrevem, costumam reforçar a ideia de que “fazer bem” garante a boa

Page 30: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

30

qualidade dos resultados procurados, descrevendo detalhadamente a metodologia da

investigação e apresentando as conclusões sem explicitar as evidências que

possibilitaram a elaboração das mesmas. Tais práticas expressam, dentre outros

fatores, a ideia de que ensino e aprendizagem apresentam relação direta de causa e

efeito e, portanto, que o “bom ensino” é, por si só, condição suficiente para a

ocorrência de aprendizagem por parte do aluno.

É este aspecto, a relação entre ensino e aprendizagem, que será focado neste

texto. Sem desprezar que a qualidade da aprendizagem do aluno depende de um bom

ensino, defenderei que ensinar e aprender são ações que não possuem relação direta

de causa e efeito e, além disso, que não existe um modelo de ensino ideal. Ou seja,

procurarei evidenciar que cada situação de ensino é idiossincrática e, portanto,

demanda ações também idiossincráticas. Minha premissa é que ensinar significa

favorecer a aprendizagem, isto é, mais do que apresentar o tema “A” por meio da

estratégia “B”, ensinar compreende um conjunto de ações que o professor

(considerando a natureza do conhecimento, do contexto e dos seus alunos) realiza

para ajudar o aluno a aprender significativamente um determinado tema.

São muitos os referenciais que podem nos orientar na compreensão do

processo educativo e na construção de estratégias de ensino e de avaliação que

efetivamente contribuam para a formação dos nossos alunos. Entretanto, meu

propósito é explicitar que a Teoria de Aprendizagem Significativa (TAS) é um

referencial essencial para a organização, desenvolvimento e avaliação do ensino e da

aprendizagem. Tal defesa decorre do fato de estarmos falando de uma teoria de

ensino que possui relevantes implicações tanto para o ensino quanto para a

investigação sobre o ensino. Além disso, acredito que parte dos atuais problemas

Page 31: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

31

educacionais decorre do fato de o conceito de aprendizagem significativa ainda ser

polissêmico entre os sujeitos que integram o contexto educativo, sejam os

profissionais (particularmente professores, formadores de professores e

investigadores da área de ensino), sejam os seus ‘usuários’ (alunos, pais de alunos e

a sociedade em geral).

Diante do exposto, apresentarei, baseada nas principais contribuições da TAS

para a organização do ensino, os conceitos e princípios fundamentais para subsidiar

a ação docente na organização do ensino. Em seguida, descrevo o processo de

organização do ensino e ao final, visando uma síntese, apresentarei alguns princípios

orientadores para a tomada de decisão do professor sobre o seu fazer docente.

A contribuição da Teoria de Aprendizagem Significativa para a

organização do ensino

A potencial contribuição da TAS para a organização do ensino e a sua

subutilização (ou inadequada apropriação) no contexto educativo vem sendo uma

preocupação recorrente. No quarto e último Encontro Internacional de Aprendizagem

Significativa, ocorrido em 2003 no estado de Alagoas, Brasil, apresentei o resultado

de um estudo que buscou identificar, nos trabalhos apresentados no III Encontro

Internacional de Aprendizagem Significativa (Portugal, 2002), como o evento

educativo estava sendo contemplado nas investigações que assumem esta teoria

como referencial. Percebemos, mesmo entre estes textos (e autores), incoerências

entre o discurso (reforçando que a teoria é essencial como referencial para o ensino

e para a investigação sobre o ensino) e o delineamento metodológico por eles

Page 32: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

32

apresentados. Naquele momento, defendi que os conceitos e princípios ausubelianos

deveriam ser tratados como “um conhecimento de base comum” para os profissionais

que atuam no processo educativo e que, assumidos como tal, deveriam ser

explicitamente discutidos e utilizados como linguagem comum no cotidiano escolar,

inclusive nos programas de formação de professores, e nas investigações educativas

(Lemos, 2005).

Neste momento o foco é outro. Procurarei evidenciar que a adoção da TAS

como referencial teórico para subsidiar o planejamento, desenvolvimento e avaliação

do ensino determina uma ação docente mais atenta para a natureza do conhecimento

do aluno e, portanto, com maiores chances de favorecer a ocorrência de

aprendizagem significativa por sua parte. Dentre a contribuição da TAS para a

organização do ensino, destaco que ela foi pensada para e no contexto escolar, define

claramente o que é aprendizagem, caracteriza a aprendizagem significativa como

finalidade do processo educativo, explicita as condições necessárias para a sua

efetivação e apresenta princípios programáticos que favorecem a sua ocorrência e

avaliação. São esses aspectos que comentarei a seguir.

O significado do conceito aprendizagem significativa

O processo de ensino e de aprendizagem ganhou uma nova perspectiva

quando David Ausubel, em 1963, propôs o conceito de aprendizagem significativa.

Até então, falávamos de aprendizagem e de não aprendizagem enquanto atualmente,

apesar de ainda ser uma realidade a se construir, o produto do processo de ensino é

Page 33: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

33

analisado, quando se considera que ocorreu aprendizagem, como um ponto no

continuum entre a aprendizagem significativa e a mecânica.

A aprendizagem significativa é um processo no qual o indivíduo relaciona uma

nova informação de forma não arbitrária e substantiva com aspectos relevantes

presentes na sua estrutura cognitiva (Ausubel et al, 1980). São esses aspectos

relevantes, denominados subsunçores ou ideias âncora, que ao interagirem com a

nova informação dão significado para a mesma. Neste processo de interação, que não

deve ser interpretado como uma simples ligação, os subsunçores modificamse,

tornando-se progressivamente mais diferenciados, elaborados e estáveis (Moreira,

2000).

Caracterizando-se como um processo de construção pessoal de significados,

a aprendizagem significativa, tem um caráter idiossincrático que determinará o modo

como o indivíduo se relacionará com o meio ou, nas palavras de Novak (2000), o seu

modo de sentir, de pensar e de agir. Dessa maneira, a aprendizagem significativa de

um determinado corpus de conhecimento corresponde à construção mental de

significados por que implica uma ação pessoal – e intencional – de relacionar a nova

informação percebida com os significados já existentes na estrutura cognitiva. Quanto

mais estável e organizada for a estrutura cognitiva do indivíduo, maior a sua

possibilidade de perceber novas informações, realizar novas aprendizagens e de agir

com autonomia na sua realidade.

Quando a estrutura cognitiva do indivíduo não possui subsunçores

diferenciados e estáveis para ancorar (subsumir) a nova informação, o indivíduo a

armazenará de forma literal e não substantiva, ou seja, realizará aprendizagem

mecânica. O conhecimento aprendido mecanicamente pode ir paulatinamente sendo

Page 34: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

34

relacionado com novas ideias e reorganizado na estrutura cognitiva caso o sujeito

continue interagindo com o novo conhecimento. É essa interação dinâmica que

caracteriza a não dicotomia entre essas duas formas de aprendizagem e, como já foi

dito, o seu caráter processual.

Considerando alguns equívocos na apropriação da TAS como referencial

teórico para o ensino e a pesquisa sobre o ensino, parece importante ressaltar, desde

já, que o termo significativo nada tem a ver com ideias importantes ou com ideias

cientificamente corretas. Conforme melhor expressa o termo inglês do conceito,

“meaningful learning”, a aprendizagem significativa implica atribuição pessoal de

significado para as ideias que são percebidas, processadas e representadas

mentalmente. Assim, de acordo com esta Teoria, o significado atribuído pelo sujeito

que aprende pode ser ou não correto do ponto de vista científico e também é o sujeito

que, de forma consciente ou não, confere importância ao conhecimento ao atribuir-lhe

utilidade para sua vida cotidiana.

A ausência de explicitação da aprendizagem significativa tanto como processo

e como produto evidencia que este conceito ainda é polissêmico no contexto

educativo. A aprendizagem – significativa ou mecânica – é produto porque caracteriza

um significado identificado em um momento específico, entretanto, é sempre um

produto provisório por que no instante seguinte, dependendo dos fatores contextuais

e da intencionalidade do sujeito, esse conhecimento poderá modificar-se,

reorganizando-se ou ancorando (subsumindo) novas informações. Por essa mesma

razão, a aprendizagem é processo visto que, independentemente do nível de

conhecimento que se tem, sempre será possível avançar no continuum entre

aprendizagem mecânica e a significativa. O processo de aprendizagem, na

Page 35: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

35

perspectiva da TAS, é dinâmico, contínuo, pessoal (idiossincrático), intencional, ativo

(no sentido de atividade mental), recursivo, de interação (entre a nova informação e a

prévia) e interativo (entre sujeitos).

Resumindo o que foi dito, quando se tem contato com uma nova informação,

em uma situação de ensino ou não, o indivíduo pode aprender ou não aprender o novo

significado. Este, por sua vez, pode ser aprendido de forma significativa ou mecânica

e esta forma é determinada pelo tipo de interação estabelecida entre a estrutura

cognitiva e o novo conhecimento e não pela importância social deste significado. É

possível aprender de forma mecânica um “conhecimento importante” porque a

estrutura cognitiva carece de subsunçores adequados para assimilar a nova

informação e, por outro lado, pela razão oposta, pode-se aprender de forma

significativa uma ideia que, do ponto de vista científico, não tem relevância ou não é

correta.

A aprendizagem significativa como finalidade do processo educativo

A compreensão do significado de aprendizagem significativa, conforme

proposto por Ausubel, nos aponta para uma série de questões que influenciam

diretamente o processo de ensino e de aprendizagem. A primeira delas refere-se à

importância do conhecimento para o sujeito visto que é ele que determinará o modo

como o indivíduo irá agir na sua realidade. Quando se tem uma estrutura cognitiva

organizada de forma lógica com ligações substantivas e não arbitrárias entre os

significados armazenados, o indivíduo está melhor instrumentalizado para usar o

conhecimento, realizar novas aprendizagens e, portanto, interagir com e na realidade.

Page 36: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

36

Novak (2000) ressalta bem esta importância quando nos diz: “Pense-se em qualquer

área de conhecimento onde se consegue relacionar o que se sabe com a forma como

esse conhecimento funciona, para compreender o sentido da experiência nessa área,

(...). Este é um conhecimento que se consegue controlar e que dá uma sensação de

posse e de poder.”(p.31).

O conhecimento, quando produto de aprendizagem mecânica, por ter restrita a

sua capacidade de utilização em novas situações, não garante autonomia intelectual

para a ação do indivíduo. A aprendizagem significativa, ao contrário, favorece a

construção de respostas para problemas nunca vivenciados e “leva tanto à

capacitação humana quanto ao compromisso e à responsabilidade” (Novak, 2000).

Entretanto, não é qualquer conhecimento que se deseja aprendido e, partindo da

premissa que os grupos sociais ganham identidade quando os seus sujeitos

compartilham conhecimentos, crenças e valores, a educação formal ganha

importância como instância responsável pela seleção e o favorecimento da

aprendizagem significativa desses conhecimentos.

Não pretendo aqui, ao chamar a atenção para a importância da educação

formal, desprezar o papel educativo dos diferentes contextos sociais que cada um de

nós integra no nosso cotidiano. O objetivo é ressaltar que uma situação de ensino,

seja ela formal ou não formal, deve ser entendida como o momento em que uma

pessoa, intencionalmente, ajuda outra a aprender alguma coisa.

Desse modo, o significado de aprendizagem significativa aponta para o papel

do professor e do aluno no processo de ensino e de aprendizagem. Ou seja, se a

aprendizagem significativa de um determinado corpus de conhecimento

instrumentaliza o indivíduo para intervir com autonomia na sua realidade, é essencial

Page 37: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

37

que o professor esteja comprometido com a aprendizagem do aluno e este, por sua

vez, com sua própria aprendizagem. É por esta razão que comecei dizendo que ensino

e aprendizagem não possuem relação direta de causa e efeito. O bom ensino é aquele

que, tendo sido organizado em função das especificidades do conhecimento que se

deseja aprendido e do seu público alvo, garantiu o compartilhamento de significados

captados (Gowin, 1981) e favoreceu a ocorrência de aprendizagem significativa por

parte do aluno.

Neste processo, professor e aluno têm responsabilidades distintas. O primeiro

deve: a) diagnosticar o que o aluno já sabe sobre o tema; b) selecionar, organizar e

elaborar o material educativo; c) verificar se os significados compartilhados

correspondem aos aceitos no contexto da disciplina e d) reapresentar os significados

de uma nova maneira, caso o aluno não tenha ainda captado aqueles desejados. O

aluno, por sua vez, tem a responsabilidade de: a) captar e negociar os novos

significados e b) aprender significativamente.

Entretanto, para garantir que o ensino favoreça, efetivamente, a aprendizagem

significativa por parte do aluno, é preciso compreender o caráter provisório e

contextual do conhecimento e da aprendizagem. Tal fato nos permite perceber que a

qualidade dos procedimentos de ensino é também contextual, ou seja, a realização

de um procedimento depende das características dos sujeitos e de tempo e espaço

envolvidos, e são estes os aspectos que fornecem a especificidade de uma situação

didática. São eles que indicam a posição intermediária do ensino no processo

educativo e que explicam porque os alunos, muitas vezes, aprendem significados

diferentes daqueles que lhes foram ensinados.

Page 38: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

38

Assim, não é a quantidade de informações que importa, mas a construção

partilhada de conhecimentos, a partir do significado que eles representam para os

sujeitos envolvidos. Para tanto, no contexto de uma sala de aula, é fundamental que

o professor tenha clareza sobre quem são seus alunos e porque precisam aprender,

para decidir o que ensinar e qual a melhor estratégia de ensino e de avaliação para

este contexto e momento particular.

Vivenciar um ensino desse tipo é fundamental para o aluno, pois terá

oportunidade de aprender significativamente o significado do conceito de

aprendizagem significativa e, com isso, de perceber-se como sujeito construtor do

próprio conhecimento e auto gestor da própria formação. É com base nessa premissa

que defendo que o processo educativo à luz da Teoria de Aprendizagem Significativa

corresponde a um contexto no qual indivíduos, que se percebem como sujeitos em

formação, ajudam outros sujeitos a se perceberem como tal e a aprenderem a auto

geri-la, isto é, a aprender a aprender.

Condições necessárias para a ocorrência de aprendizagem significativa

Quando Ausubel sintetizou a psicologia educacional em um só princípio, nos

proporcionou ensinamentos importantes para a organização, desenvolvimento e

avaliação do ensino. Em primeiro lugar, nos alertou para o fato de que o ato de ensinar

deve ter o aluno como foco e não as ações do professor em si (Lemos, 2005) . Como

já antecipei, ensinar, neste enfoque, implica favorecer a aprendizagem do aluno,

situação que requer atenção explícita aos conhecimentos prévios do mesmo, ainda

que não seja garantia suficiente para o seu sucesso.

Page 39: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

39

A identificação do que o aluno já sabe está intrinsecamente relacionada com a

primeira condição apontada por Ausubel como necessária para a ocorrência de

aprendizagem significativa: a organização de um material de ensino potencialmente

significativo. Tanto a natureza da estrutura cognitiva do aluno quanto a do

conhecimento a ser ensinado (e aprendido) são fundamentais para que esta condição

seja atendida. Assim como cada um de nós tem um conhecimento próprio, existe

diferença entre aprender história, biologia e matemática pois cada área de

conhecimento tem suas especificidades, sua estrutura própria. Portanto, organizar um

material de ensino potencialmente significativo requer que a relação entre a natureza

desses dois conhecimentos – a estrutura lógica do conhecimento em si e a estrutura

psicológica do conhecimento do aluno – seja considerada.

A segunda condição para a ocorrência de aprendizagem significativa é a

intencionalidade do aluno para aprender de forma significativa, ou seja, é o aluno que

deverá relacionar de forma substantiva e não arbitrária a nova informação com as

ideias relevantes que já existem na sua estrutura cognitiva. As duas condições não

são excludentes, elas devem acontecer simultaneamente visto que é possível

aprender sem ensino e, do mesmo modo, se o aluno não decidir aprender de forma

significativa, não haverá ensino ou material potencialmente significativo que garanta

a aprendizagem do aluno. Do mesmo modo, se o aluno tiver intencionalidade para

aprender de forma mecânica, como comumente ocorre atualmente, não haverá ensino

potencialmente significativo que garanta aprendizagem significativa.

Como já foi dito anteriormente, estas condições evidenciam que o processo de

ensino e de aprendizagem implica corresponsabilidade do professor e do aluno. O

professor deve estar subsidiado teoricamente para construir, considerando o que o

Page 40: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

40

aluno já sabe e a natureza do conhecimento a ser ensinado, um material de ensino

potencialmente significativo e o aluno, por sua vez, deve buscar ativamente captar os

significados ensinados, interpretá-los, negociá-los e relacioná-los (de forma

substantiva e não arbitrária) com os conhecimentos que já possui.

Ainda falando do material de ensino potencialmente significativo – e mesmo

assumindo que é o professor quem, em última instância, decide o que e o como

ensinar – não se pode negligenciar que existem influências que (de)limitam o poder

de decisão e atuação do docente. Tal fato nos leva a questionar até onde vai a

autonomia do professor e, portanto, a considerar que a natureza – política, econômica,

social e ambiental – do contexto poderia ser tomada como uma terceira condição a

influenciar a organização do material potencialmente significativo. Um professor, por

melhor preparado que seja, dificilmente conseguirá desenvolver um bom trabalho se

os fatores macroestruturais não contribuírem para isso.

A importância dessa reflexão pode ser fundamentada em Novak (1988) quando

nos apresenta os cinco elementos do evento educativo (professor, aluno,

conhecimento, avaliação e contexto) e em Chevalard (1999) quando faz referência ao

autismo didático, ideia que não desenvolverei aqui. Novak, quando fala dos cinco

elementos, enfatiza a influência do contexto na captação de significados na situação

de ensino em si e, neste momento, quero apontar a influência do contexto no espaço

de atuação (e decisão) do professor.

Quero ressaltar que planejar, desenvolver e avaliar um ensino nas concepções

tradicional e comportamentalista de aprendizagem, sabidamente inadequadas para a

atualidade, é tão trabalhoso quanto na cognitivista. A superação desse equívoco,

portanto, não passa pela negação da realidade mas pela reflexão – individual e

Page 41: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

41

coletiva – sobre os saberes que orientam a atual prática educativa e a qualidade da

aprendizagem que os alunos realizam em função deles.

Até agora fizemos uma leitura da Teoria da Aprendizagem Significativa no

sentido de explicitar os conceitos e princípios que o professor deve considerar na

organização do seu ensino. Minha premissa é que na ausência dessa concepção de

aprendizagem subsidiando a ação docente, dificilmente o professor terá condições de

ajudar o seu aluno a aprender de forma significativa.

A organização do ensino à luz da Teoria de Aprendizagem Significativa

O ensino é uma atividade complexa e dinâmica que se efetiva em um ambiente

social particular, visando a aprendizagem que, por sua vez, é um processo pessoal

decorrente de relações sociais, afetivas e cognitivas. Meu foco, interpretando o evento

educativo na perspectiva da TAS, está na posição intermediária do ensino em relação

à aprendizagem do aluno no processo educativo. O ensino, reforço, não é a finalidade

do processo educativo mas o meio pelo qual a aprendizagem do aluno é favorecida.

Ou seja, “o aluno, com sua identidade particular, é o ponto de partida para a

organização do ensino que, por sua vez, só terá sido bem sucedido se o aluno, agora

como ponto de chegada, tiver aprendido significativamente” (Lemos, 2005, p. 41).

Desse modo, a qualidade do ensino não depende de procedimentos ou

estratégias específicos mas, fundamentalmente, da concepção de aprendizagem que

orienta as decisões do professor e do aluno ao longo do seu processo. O diferencial

não está, portanto, na sequência das ações, ele está no “produto final” que possibilita

Page 42: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

42

construir, o conhecimento. O ato de ensinar e de aprender é intermediado por

diferentes representações sobre um mesmo conhecimento: a do professor, a do aluno

e a do material de ensino (Gowin, 1981). Nessa interação, a ocorrência de

aprendizagem depende que os significados dessas representações sejam

previamente captados e compartilhados.

É o tipo de interação que professores, alunos e conhecimento estabelecem

entre si que dará a identidade de cada situação de ensino. Suas especificidades

integradas determinarão a identidade do evento educativo que, podendo ser

interpretado como um contexto particular, está inserido em um contexto também

particular. O currículo é consequência da natureza desse contexto e a avaliação um

elemento que permeia todo o processo.

Assumir a interdependência entre os elementos do evento educativo e o seu

caráter contextual, implica compreender o ensino como um processo que, objetivando

“fazer o aluno aprender” envolve o planejamento, a situação de ensino propriamente

dita e a avaliação. O planejamento tem como meta a construção do material

potencialmente significativo que, como antecipado, depende de um bom diagnóstico

sobre o contexto, o aluno e o corpus de conhecimento em questão. Tal diagnóstico,

produto de avaliação, possibilitará a tomada de decisão sobre qual será a estratégia

mais adequada e subsidiará a preparação ou seleção dos recursos instrucionais

necessários.

O segundo momento do ensino, a situação de ensino propriamente dita, deve

garantir a negociação e o compartilhamento de significados. A aprendizagem é uma

ação pessoal e, assim, está aquém da vontade ou ação do professor. O objetivo do

evento educativo é alcançado, como Gowin nos chama atenção, quando os

Page 43: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

43

significados são compartilhados, pois a decisão de aprender é do aluno. Entretanto, é

responsabilidade do professor oportunizar ao aluno pensar sobre e com o

conhecimento. A “organização do conteúdo de uma disciplina concreta na mente de

um indivíduo é uma estrutura hierárquica na qual as ideias mais inclusivas estão no

topo da estrutura e, pouco a pouco, incorporam proposições, conceitos e fatos menos

inclusivos e mais diferenciados.” (Ausubel, 1980).

Os princípios programáticos propostos por Ausubel devem, para facilitar o

processo de aprendizagem do aluno, permear todo o ensino. A organização

sequencial deve ser pensada no planejamento e a diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa, princípios coerentes com o caráter recursivo da

aprendizagem, devem ser oportunizadas em diferentes momentos e situações. Tais

preocupações são fundamentais para que o aluno vá gradativamente consolidando o

conhecimento aprendido.

Finalmente, a avaliação que, mesmo estando presente em todas as etapas que

lhe antecedem, finaliza o processo indicando se o objetivo (aprendizagem significativa

do aluno) foi alcançando e, também, se as estratégias e recursos adotados foram

apropriados. Ou seja, a avaliação final está comprometida com o processo, com a

aprendizagem do aluno e com a qualidade do ensino que foi desenvolvido.

A avaliação, para Ausubel, é importante em todas as etapas, ou seja, no início,

no meio e no fim e significa emitir um julgamento de valor ou mérito, examinar os

resultados educacionais para saber se preenchem um conjunto particular de objetivos

educacionais (1980, p.501). Nesse aspecto, ele ressalta que o resultado da avaliação

só tem valor para evidenciar até que ponto os objetivos educacionais foram

alcançados e que na prática, temos um fracasso educacional porque, seus atores,

Page 44: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

44

sem a definição prévia dos objetivos, acabam agindo aleatoriamente. A determinação

dos objetivos, por sua vez, deveria ser resultado de um trabalho de equipe, com

especialistas de diferentes áreas que, em comum acordo, priorizassem um ensino

baseado no desempenho e na competência do aluno para executar tarefas e não

limitados à uma classificação formal, que pode ser interpretada de diferentes maneiras

por diferentes pessoas. Somente após a determinação dos objetivos é que podemos

planejar uma instrução adequada e determinar qual a melhor maneira para avaliar.

Partindo desse princípio, o autor enfoca avaliação como aspecto central para a

promoção de aprendizagem em sala de aula, já que é a partir da mesma que se pode

verificar os conceitos que o aprendiz já conhece antes da efetivação do ensino,

acompanhar e aperfeiçoar a evolução da aprendizagem e verificar se os objetivos

foram alcançados, assim como se a organização dos assuntos e as estratégias

utilizadas foram as mais eficazes e apropriadas.

Durante a situação de ensino, a aprendizagem dos alunos ainda é facilitada

pela avaliação quando o professor formula e esclarece os objetivos e consequentes

expectativas, elabora instrumentos de medida fidedignos e válidos para verificar se os

mesmos estão sendo alcançados. O aluno, ao se preparar para o exame, na

expectativa de êxito, faz uma revisão, consolidação e integração do assunto. A

discussão dos resultados do exame confirma ou corrige ideias, evidenciando o que

deve ser mais estudado e a experiência de sofrer constantes avaliações externas leva

o estudante a fazer uma auto avaliação do seu rendimento escolar. Nessa dinâmica,

a avaliação deixa de ser entendida como instrumento de punição, o aluno tem maior

clareza sobre a sua própria aprendizagem, tem maior autonomia para decidir o que

estudar, tem a autoestima aumentada e, após o período escolar, o hábito da auto

Page 45: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

45

avaliação lhe possibilitará diagnosticar os próprios erros e corrigi-los, sem depender

de uma avaliação externa.

Para os professores, medida e avaliação são importantes como retro

alimentadores para o aprimoramento do seu trabalho e quando feitas constantemente,

darão subsídios para conhecer o aluno, perceber o seu progresso, decidir o que e

como fazer e justificar a eles as decisões. As estratégias de ensino, por outro lado,

podem ser quaisquer uma, desde que oportunizem a evolução conceitual (Toulmin)

dos conhecimentos prévios dos alunos.

Finalizando ... uma receita para o que não tem receita ...

O propósito deste artigo foi evidenciar que não existe um ensino ou uma

estratégia de ensino e de avaliação que sejam ideais por eles mesmos e, em

decorrência disso, que a organização do ensino, antes de estar limitada à

preocupação sobre como e o que ensinar, deve ocupar-se também de questões mais

abrangentes como: porque, para quem, onde e com que tempo ensinar? Sem essa

preocupação, mais global, a questão “como ensinar” fica fora de foco, dando a

impressão de que o ato de ensinar é condição suficiente para a ocorrência de

aprendizagem.

Diante disso e da premissa de que a Teoria da Aprendizagem Significativa é

um referencial essencial para subsidiar o processo de ensino e de aprendizagem e

também um conhecimento de base comum para professores, formadores de

Page 46: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

46

professores e investigadores sobre o ensino (Lemos, 2006), argumentei que o

professor, antes de submeter-se a receitas prontas e produzidas por terceiros, deve

fugir delas e procurar ter autonomia intelectual para tomar as decisões que são

inerentes ao seu fazer docente.

Defendi que os conceitos e princípios da TAS proporcionam uma compreensão

diferenciada do processo de ensino e de aprendizagem, especialmente no que diz

respeito à posição intermediária do ensino em relação à aprendizagem do aluno. O

caráter processual da ação de ensinar foi ressaltado e a interdependência de suas

etapas (planejamento, desenvolvimento e avaliação), apesar da aparente linearidade,

foi explicada pela presença da avaliação que, ao permear todo o processo, subsidia

as decisões docentes sobre o seu planejamento, sua continuidade ou reestruturação

e, ao final, sobre a avaliação da aprendizagem do aluno, do seu ensino e dos recursos

e estratégias adotados.

O ensino ideal foi apresentado como aquele no qual o professor, quando

efetivamente comprometido com a aprendizagem significativa do aluno, considera a

sua realidade (cognitiva, afetiva e social) e cria situações que lhe possibilite captar e

negociar significados. Assim, a melhor estratégia de ensino e de avaliação é

subordinada a fatores vários: a natureza do conhecimento que se deseja aprendido,

a natureza do conhecimento prévio do aluno bem como o seu perfil sócio afetivo, o

contexto no qual ocorrerá o evento educativo, o tempo disponível para a sua

realização, entre outros.

Finalmente, tentando criar “uma receita para o que não tem receita...”, agrupei

uma série de princípios que, mesmo não dando conta do todo, me parecem

Page 47: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

47

fundamentais na hora que o professor decide sobre a estratégia de ensino e de

avaliação que irá realizar. São eles:

a) O ensino é apenas um meio pelo qual a aprendizagem significativa do aluno

é favorecida;

b) O ato de ensinar deve ser compreendido como um processo que envolve o

planejamento, a situação de ensino propriamente dita e avaliação;

c) A natureza do conhecimento prévio do aluno é determinante do tipo de

ensino a ser realizado;

d) A organização de um material de ensino potencialmente significativo requer

que a relação entre a natureza do conhecimento do aluno e do

conhecimento a ser ensinado seja considerada;

e) O conteúdo a ser ensinado deve ser selecionado e organizado a partir das

suas ideias centrais, seja na aprendizagem dos seus significados ou na

evolução conceitual dos mesmos;

f) A natureza do conhecimento a ser ensinado deve ser considerada e enfocar

suas ideias centrais;

g) Favorecer a aprendizagem significativa implica possibilitar a interação do

aluno com um mesmo conhecimento em diferentes momentos do processo

educativo;

h) O objetivo do evento educativo é garantir que os significados sejam

compartilhados e, portanto, deve ser garantir a ocorrência de situações que

oportunizem ao aluno apresentar e negociar suas ideias;

i) A avaliação, voltada para a identificação de evidências de aprendizagem

significativa, permeia todo o ensino;

Page 48: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

48

j) O aluno deve ter oportunidade de se perceber como construtor do próprio

conhecimento.

Referências

Ausubel, D. P., Novak, J. D., Hanesian, H. (1980). Psicologia educacional. 2ed., Rio

de Janeiro: Interamericana. 625p.

Ausubel, D. P. (2000). The acquisition and retention of knowledge: a cognitive view.

USA: Kluwer Academic Publishers. 212p.

Borges, E. L. (1999). Os Mapas conceituais como instrumentos facilitadores da

Aprendizagem Significativa em Biologia Celular. In: I Encontro Nacional de Pesquisa

em Educação em Ciências. 2., 1999, Valinhos. Atas ... Valinhos: ABRAPEC, 1 CD-

ROM.

Campanario, J.M. (2002). Asalto al Castillo: ¿A qué esperamos para abordar en serio

la formación didáctica de los profesores universitários de ciencias?. Enseñanza de las

ciencias. Barcelona, 20 (2), p. 315-325.

Chevalard, Y. (1999). El análisis de las prácticas docentes en la teoría antropológica

de lo didáctico. Recherches en Didactique des Mathématiques, Vol. 19, no. 2, pp. 221-

266.

Gowin, D. B. (1981). Educating. Ithaca, N.Y.: Cornell University Press. 210 p.

Lemos, E. S. (2005). (Re) situando a Teoria de Aprendizagem Significativa na prática

docente, na formação de professores e nas investigações educativas. Revista

Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 5(3), p. 38-51.

Page 49: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

49

Lima, A.O. (1994). Avaliação escolar: julgamento ou construção? 3ed., Petrópolis, RJ:

Vozes.

Luckesi, C.C. (1995). Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições.

2ed. São Paulo: Cortez.

Mintzes, J. J., Wandersee, J.H., Novak, J.D. (2000). Ensinando Ciência para a

Compreensão: uma visão construtivista. Lisboa: Plátano Edições Técnicas.

Monteiro, A. M. F. C. (2001). Professores: entre saberes e práticas. Educação &

Sociedade, nº 74, Campinas: Cedes, p.121-142.

Moreira, M. A. (1997). Aprendizagem Significativa: um conceito subjacente. En M. A.

Moreira, C. Caballero Sahelices y M.L. Rodríguez Palmero, Eds. Actas del II Encuentro

Internacional sobre Aprendizaje Significativo. Universidad de Burgos. P.19-44.

Moreira, M.A. (1999). Aprendizagem Significativa. Brasília: Editora da UnB. 129p.

Moreira, M. A. (2000). Aprendizage significativo: teoria y práctica. Ed. Visor. Madrid.

Novak, J. D. (1981). Uma teoria de Educação. São Paulo: Pioneira. 252p.

Novak, J. D. & Gowin, D, B. (1988). Aprendendo a aprender. Lisboa: Plátano Edições

Técnicas. 212p.

Novak, J. D. (1998). Learning, Creating and Using Knowledge. Lawrence Erlbaum

Associates. New Jersey.

Novak, J. D. (2000). Aprender, criar e utilizar o conhecimento: Mapas Conceituais

como Ferramentas de Facilitação nas Escolas e Empresas. Lisboa: Plátano Edições

Técnicas. 252p.

Page 50: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

50

Schulman, L. S. (1986). Those who understand: knowledge growth. In: Teaching

Educational Researcher, v. 15, n. 2, p. 4-14.

Nome do autor: Adriana Pelizzar

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/ materiais/0 00 0 01

2381.pdf

Data de acesso: 15/06/2016

TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA SEGUNDO AUSUBEL

RESUMO

A teoria da aprendizagem de Ausubel propõe que os conhecimentos prévios dos alunos sejam

valorizados, para que possam construir estruturas mentais utilizando, como meio, mapas conceituais

que permitem descobrir e redescobrir outros conhecimentos, caracterizando, assim, uma

aprendizagem prazerosa e eficaz.

Page 51: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

51

Palavras-chave: mapas conceituais; significados e ressignificados; “subsunçor”;

memória.

INTRODUÇÃO

A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novo conteúdo é

incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele

a partir da relação com seu conhecimento prévio. Ao contrário, ela se torna mecânica

ou repetitiva, uma vez que se produziu menos essa incorporação e atribuição de

significado, e o novo conteúdo passa a ser armazenado isoladamente ou por meio de

associações arbitrárias na estrutura cognitiva.

Assim, o objetivo deste artigo é identificar as propostas sobre a

aprendizagem escolar e a instrução formuladas pelo psicólogo norte-americano D. P.

Ausubel. As ideias de Ausubel, cujas formulações iniciais são dos anos 60,

encontram-se entre as primeiras propostas psicoeducativas que tentam explicar a

aprendizagem escolar e o ensino a partir de um marco distanciado dos princípios

condutistas.

Neste processo a nova informação interage em comum à estrutura de

conhecimento específico, que Ausubel chama de conceito “subsunçor”. Esta é uma

palavra que tenta traduzir a inglesa “subsumer”.

Page 52: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

52

Quando o conteúdo escolar a ser aprendido não consegue ligar-se a algo já

conhecido, ocorre o que Ausubel chama de aprendizagem mecânica, ou seja, quando

as novas informações são aprendidas sem interagir com conceitos relevantes

existentes na estrutura cognitiva. Assim, a pessoa decora fórmulas, leis, mas esquece

após a avaliação.

CONDIÇÕES PARA A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Para que a aprendizagem significativa ocorra é preciso entender um

processo de modificação do conhecimento, em vez de comportamento em um sentido

externo e observável, e reconhecer a importância que os processos mentais têm

nesse desenvolvimento. As ideias de Ausubel também se caracterizam por basearem-

se em uma reflexão específica sobre a aprendizagem escolar e o ensino, em vez de

tentar somente generalizar e transferir à aprendizagem escolar conceitos ou princípios

explicativos extraídos de outras situações ou contextos de aprendizagem.

Para haver aprendizagem significativa são necessárias duas condições. Em

primeiro lugar, o aluno precisa ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser

memorizar o conteúdo arbitrária e literalmente, então a aprendizagem será mecânica.

Em segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente

significativo, ou seja, ele tem que ser lógica e psicologicamente significativo: o

significado lógico depende somente da natureza do conteúdo, e o significado

psicológico é uma experiência que cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma

filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio.

Page 53: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

53

Com esse duplo marco de referência, as proposições de Ausubel partem da

consideração de que os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna

baseada em conhecimentos de caráter conceitual, sendo que a sua complexidade

depende muito mais das relações que esses conceitos estabelecem em si que do

número de conceitos presentes. Entende-se que essas relações têm um caráter

hierárquico, de maneira que a estrutura cognitiva é compreendida, fundamentalmente,

como uma rede de conceitos organizados de modo hierárquico de acordo com o grau

de abstração e de generalização.

A partir dessa especificação, a aprendizagem escolar passa a caracterizar-

se globalmente como a assimilação a essa rede de determinados corpos de

conhecimentos conceituais, selecionados socialmente como relevantes e organizados

nas áreas de conhecimento.

ANÁLISE E NOÇÃO DOS TIPOS DE APRENDIZAGEM

Para esclarecer como é produzida a aprendizagem escolar, Ausubel propõe

distinguir dois eixos ou dimensões diferentes que originarão, a partir dos diversos

valores que possam tomar em cada caso, a classes diferentes de aprendizagem.

Aprendizagem significativa

Aprendizagem memorística

O primeiro é o eixo relativo à maneira de organizar o processo de

aprendizagem e a estrutura em torno da dimensão aprendizagem por

descoberta/aprendizagem receptiva. Essa dimensão refere-se à maneira como o

aluno recebe os conteúdos que deve aprender: quanto mais se aproxima do polo de

aprendizagem por descoberta, mais esses conteúdos são recebidos de modo não

Page 54: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

54

completamente acabado e o aluno deve defini-los ou “descobri-los” antes de assimila-

los; inversamente, quanto mais se aproxima do polo da aprendizagem receptiva, mais

os conteúdos a serem aprendidos são dados ao aluno em forma final, já acabada.

Ao contrário, o segundo eixo remete ao tipo de processo que intervém na

aprendizagem e origina um continuum delimitado pela aprendizagem significativa, por

um lado, e pela aprendizagem mecânica ou repetitiva, por outro. Nesse caso, a

distinção estabelece, ou não, por parte do aluno, relações substanciais entre os

conceitos que estão presentes na sua estrutura cognitiva e o novo conteúdo que é

preciso aprender. Quanto mais se relaciona o novo conteúdo de maneira substancial

e não arbitrária com algum aspecto da estrutura cognitiva prévia que lhe for relevante,

mais próximo se está da aprendizagem significativa. Quanto menos se estabelece

esse tipo de relação, mais próxima se está da aprendizagem mecânica ou repetitiva.

A noção de aprendizagem significativa, definida dessa maneira, torna-se

nesse momento o eixo central da teoria de Ausubel. Efetivamente, a aprendizagem

significativa tem vantagens notáveis, tanto do ponto de vista do enriquecimento da

estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da lembrança posterior e da

utilização para experimentar novas aprendizagens, fatores que a delimitam como

sendo a aprendizagem mais adequada para ser promovida entre os alunos. Além do

mais, e de acordo com Ausubel, pode-se conseguir a aprendizagem significativa tanto

por meio da descoberta como por meio da repetição, já que essa dimensão não

constitui uma distinção tão crucial como dimensão de aprendizagem

significativa/aprendizagem repetitiva, do ponto de vista da explicação da

aprendizagem escolar e do delineamento do ensino. Contudo, e com relação a essa

segunda dimensão, Ausubel destaca como são importantes, pelo tipo peculiar de

Page 55: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

55

conhecimento que pretende transmitir, a educação escolar e, pelas próprias

finalidades que possui, a aprendizagem significativa por percepção verbal.

Segundo a teoria de Ausubel, na aprendizagem há três vantagens essenciais

em relação à aprendizagem memorística. Em primeiro lugar, o conhecimento que se

adquire de maneira significativa é retido e lembrado por mais tempo. Em segundo,

aumenta a capacidade de aprender outros conteúdos de uma maneira mais fácil,

mesmo se a informação original for esquecida. E, em terceiro, uma vez esquecida,

facilita a aprendizagem seguinte – a “reaprendizagem”, para dizer de outra maneira.

A explicação dessas vantagens está nos processos específicos por meio dos quais se

produz a aprendizagem significativa onde se implica, como um processo central, a

interação entre a estrutura cognitiva prévia do aluno e o conteúdo de aprendizagem.

Essa interação traduz-se em um processo de modificação mútua tanto da estrutura

cognitiva inicial como do conteúdo que é preciso aprender, constituindo o núcleo da

aprendizagem significativa, o que é crucial para entender as propriedades e a

potencialidade.

A CONSTRUÇÃO HUMANA ATRAVÉS DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A reforma educativa tem como missão não somente a ordenação do sistema

educativo, mas também a oferta de conteúdos e metodologias de aprendizagem.

A reforma do ensino supõe também a reforma do currículo e, por

consequência, dos propósitos e condições para que a educação seja eficaz. Em

outras palavras, para que a mudança da funcionalidade do sistema educativo seja

verdadeira, é necessária uma profunda reforma de conteúdos e métodos.

Page 56: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

56

Em terceiro, faz-se necessário modificar os esquemas do sujeito, como

resultado do aprender significativamente. Uma maneira adequada de ampliar e/ou

modificar as estruturas do aluno consiste em provocar discordâncias ou conflitos

cognitivos que representem desequilíbrios a partir dos quais, mediante atividades, o

aluno consiga reequilibrar-se, superando a discordância reconstruindo o

conhecimento (PIAGET, 1997). Para isso, é necessário que as aprendizagens não

sejam excessivamente simples, o que provocaria frustração ou rejeição.

OS MAPAS CONCEITUAIS: UMA TÉCNICA PARA A APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA

Os mapas conceituais têm por objetivo representar relações significativas

entre conceitos na forma de proposições. Uma proposição é constituída de dois ou

mais termos conceituais unidos por palavras para formar uma unidade semântica

(NOVAK; GOWIN, 1988).

São instrumentos que permitem descobrir as concepções equivocadas ou

interpretações não aceitas (podem não ser errôneas) de um conceito, ilustradas por

uma frase que inclui no conceito.

Devem ser hierárquicos, quer dizer, os conceitos mais gerais devem situar-

se na parte superior, e os conceitos mais específicos e menos inclusivos na parte

inferior.

Também podem ser considerados instrumentos úteis para negociar

significados, quer dizer, os alunos sempre trazem alguma coisa deles mesmos para a

Page 57: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

57

negociação. Não são como uma tábua rasa ou um recipiente vazio que o professor

deve preencher.

CONCLUSÃO

É pouco provável que uma pessoa nos anos 70 imaginasse uma “era da

informação” sem um pleno desenvolvimento da capacidade humana de comunicação,

no entanto, comunicar-se, e bem, ainda tem sido um complexo desafio para a

sociedade atual. As pessoas têm cada vez mais consciência de que aquilo que elas

enviam muitas vezes não é a mensagem recebida, e uma possível integração passa

a ser um objetivo quase inatingível. O aluno que hoje freqüenta uma escola

infelizmente ainda vê o conhecimento como algo muito distante da sua realidade,

pouco aproveitável ou significativo nas suas necessidades cotidianas. Na sua teoria,

Ausubel apresenta uma aprendizagem que tenha como ambiente uma comunicação

eficaz, respeite e conduza o aluno a imaginar-se como parte integrante desse novo

conhecimento através de elos, de termos familiares a ele. Através da palavra, o

educador pode diminuir a distância entre a teoria e a prática na escola, capacitando-

se de uma linguagem que ao mesmo tempo desafie e leve o aluno a refletir e sonhar,

conhecendo a sua realidade e os seus anseios.

A palavra enquanto mensagem, segundo BAKTHTIN (1995), é uma estrutura

pura, complexa, que o homem utiliza na sua prática, distanciando o receptor da

essência da mensagem que pode ser feita de palavra escrita, falada, cantada,

desenhada, pintada, tocada, cheirada, vista, gesticulada, saboreada ou,

simplesmente, sentida. O próprio educador, praticante da sua área de conhecimento,

é uma ferramenta do saber do aluno. Se ele for apaixonado pela sua área de

Page 58: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

58

conhecimento e for capaz de encantar, o aluno poderá talvez perceber que existe algo

pelo qual alguém de fato se interessou e que talvez possa valer a pena seguir o

mesmo caminho. Mas se essa não for a realidade vivida pelo professor, se ele apenas

transmitir aquilo que leu nos livros, por mais que ele fale de determinado assunto, todo

corpo estará dizendo o contrário e o aluno provavelmente terá aquele conhecimento

como algo para apenas ser cumprido, porque a mente humana é capaz de fazer

leituras bastante profundas dos detalhes aparentemente insignificantes, mas que

certamente têm um grande poder de semear profundo significados. Baseado nessas

informações, conclui-se que a teoria de Ausubel contribuirá de maneira significativa

na construção da sociedade do conhecimento.

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo:

Moraes, 1982.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 7.ed. São Paulo: Hucitec, 1995.

MINGUET, P. A. (Org.) A construção do conhecimento na educação. Porto Alegre:

Artmed, 1998.

MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação pessoal: gerenciamento integrado

da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo: Paulinas, 1998.

MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa. Brasília: Ed. da UnB, 1998.

NOVAK, J. D.; GOWIN, D. B. Teoria y practica de la educación. 1988.

Page 59: APOSTILA COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM - Instituto …admin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico60462.pdf · Quando os esquemas de assimilação não conseguem assimilar determinada

59

PIAGET, Jean. O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio. São Paulo:

Scipione, 1997.

PIERCE, Charles Sanders. Semiótica. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.

SALVADOR, Cesar Colle et al. Psicologia do ensino. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,

2000.