apontamentos da aula de dermatologia

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Apontamentos da aula de Dermatologia PM I 2014/2015 1 Patrícia Lopes (com consulta simultânea dos apontamentos de Raquel Santos) 1. Raspagens cutâneas Raspagem superficial colocamos um bocado de parafina na pele ou na lâmina. Fazemos a raspagem directamente na pele com um bocadinho de parafina e colocamos na lâmina ou fazemos a raspagem a seco e colocamos em cima da parafina na lâmina (para Sarcoptes e Cheyletiella). Raspagem profunda temos que beliscar a pele e fazer raspagem até vir sangue e conseguirmos fazer com que o Demodex que está no folículo piloso venha à superfície. Podem ser usados esclarecedores, mas com esclarecedores fica tudo muito claro e vê-se mal e é preferível ter mais detritos na preparação, mas ver melhor sem esclarecedores. Outra vantagem é que sem esclarecedores, com o calor dos microscópios os Sarcoptes mexem-se. É importante sabermos a sensibilidade dos testes. Quando fazemos 5 raspagens e não encontramos nenhum Demodex podemos excluir o diagnóstico de Demadecose. O mesmo não acontece com o Sarcoptes, porque como eles são muito móveis é muito provável que se pesquise numa zona e estes não estejam presentes, por isso se der negativo trata-se na mesma. 1. Recolha de amostras por escovagem Uma outra técnica que se utiliza muito quando vemos um animal com muita “caspa” (seborreia) é a técnica da escovagem em que fazemos, por exemplo, a recolha da caspa com uma escova de dentes e a técnica da fita cola. Se virmos caspinhas a andar Cheyletiella 2. Tricograma Com o auxílio de uma pinça arrancam-se uns pelos do animal, colocamos sobre uma gota de óleo mineral na superfície de uma lâmina e avaliamos as várias partes do pelo: Raiz na raiz podemos ver a fase do ciclo de crescimento do pelo e avaliar se o pelo não está a crescer por algum problema metabólico. Podemos também ver se há presença de Demodex. Fases do ciclo do crescimento do pelo: Anagénese pelo em fase de crescimento em forma de taco de golfe; Telogénese é a fase de repouso. Pelo em forma de lança. Há mais fases para além destas, mas estas são as principais. Uma outra fase é a catagénese, que é uma fase intermédia entre a anagénese e telogénese e onde o crescimento é mais lento. Ao mesmo tempo, temos pelos em anagénese e telogénese, porque se tivéssemos só pelos em telogénese, caiam todos ao mesmo tempo. Se só há telogénese há qualquer coisa de errado. Exemplo: Um cão com alopécia e estamos na dúvida se é hormonal ou não. Tiramos os pelos e se observamos que tem muitas fases de anagénese significa que não é

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Apontamentos da aula de dermatologia

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Page 1: Apontamentos Da Aula de Dermatologia

Apontamentos da aula de Dermatologia – PM I 2014/2015

1 Patrícia Lopes (com consulta simultânea dos apontamentos de Raquel Santos)

1. Raspagens cutâneas

Raspagem superficial – colocamos um bocado de parafina na pele ou na lâmina. Fazemos a

raspagem directamente na pele com um bocadinho de parafina e colocamos na lâmina ou fazemos a

raspagem a seco e colocamos em cima da parafina na lâmina (para Sarcoptes e Cheyletiella).

Raspagem profunda – temos que beliscar a pele e fazer raspagem até vir sangue e conseguirmos

fazer com que o Demodex que está no folículo piloso venha à superfície.

Podem ser usados esclarecedores, mas com esclarecedores fica tudo muito claro e vê-se mal e é

preferível ter mais detritos na preparação, mas ver melhor sem esclarecedores. Outra vantagem é

que sem esclarecedores, com o calor dos microscópios os Sarcoptes mexem-se.

É importante sabermos a sensibilidade dos testes. Quando fazemos 5 raspagens e não encontramos

nenhum Demodex podemos excluir o diagnóstico de Demadecose. O mesmo não acontece com o

Sarcoptes, porque como eles são muito móveis é muito provável que se pesquise numa zona e estes

não estejam presentes, por isso se der negativo trata-se na mesma.

1. Recolha de amostras por escovagem

Uma outra técnica que se utiliza muito quando vemos um animal com muita “caspa” (seborreia) é a

técnica da escovagem em que fazemos, por exemplo, a recolha da caspa com uma escova de dentes

e a técnica da fita cola.

Se virmos caspinhas a andar Cheyletiella

2. Tricograma

Com o auxílio de uma pinça arrancam-se uns pelos do animal, colocamos sobre uma gota de óleo

mineral na superfície de uma lâmina e avaliamos as várias partes do pelo:

Raiz – na raiz podemos ver a fase do ciclo de crescimento do pelo e avaliar se o pelo não está

a crescer por algum problema metabólico. Podemos também ver se há presença de

Demodex.

Fases do ciclo do crescimento do pelo:

Anagénese – pelo em fase de crescimento em forma de taco de golfe;

Telogénese – é a fase de repouso. Pelo em forma de lança.

Há mais fases para além destas, mas estas são as principais. Uma outra fase é a

catagénese, que é uma fase intermédia entre a anagénese e telogénese e onde o

crescimento é mais lento.

Ao mesmo tempo, temos pelos em anagénese e telogénese, porque se tivéssemos só

pelos em telogénese, caiam todos ao mesmo tempo. Se só há telogénese há

qualquer coisa de errado.

Exemplo: Um cão com alopécia e estamos na dúvida se é hormonal ou não. Tiramos

os pelos e se observamos que tem muitas fases de anagénese significa que não é

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Apontamentos da aula de Dermatologia – PM I 2014/2015

2 Patrícia Lopes (com consulta simultânea dos apontamentos de Raquel Santos)

endócrina. Pelo contrário, se estiverem quase todos os pelos em fase de Telogénese

significa que será um problema endócrino e iremos fazer testes no sentido de

comprovar que será um problema hormonal.

Corpo do pelo – observamos se há alterações morfológicas (presença de irregularidades),

ovos aderentes ao pelo, esporos de fungos…

Ponta do pelo – se estiver afilada significa que o pelo está a cair por si só, por exemplo por

um problema hormonal, por quimioterapia, etc. Se a ponta está espigada ou cortada significa

que há um traumatismo, há prurido…

3. Colheita bacteriológica

Quando temos um animal com uma pústula, com uma agulha estéril furamos a pústula e com a

zaragatoa passamos dentro da pústula, recolhemos e vai para meio de aeróbios. Enviamos para

laboratório indicando que fizemos colheita de topo para evitar termos falsos negativos.

Meios de cultura para aeróbios – tudo o que está na pele e ouvido são normalmente aeróbias.

Meios de cultura para anaeróbios com carvão activado.

Não usamos meio seco porque as bactérias podem morrer.

4. Colheita de fungos

Quando vemos um animal com lesões podemos usar logo a lâmpada de Wood para verificar se há

florescência, passando a lâmpada de Wood sobre as lesões. A lâmpada de Wood tem que ser

previamente aquecida (5 a 10 min) para que estabilize o comprimento de onda. Se tiver fungos que

reajam ao ultravioleta temos uma fluorescência verde-amarelada. O fungo que apresenta

fluorescência quando passamos a lâmpada wood é o Microsporum canis, mas o problema é que só

cerca de 30% reage ao ultravioleta. Por isso, se pusermos a lâmpada de Wood e não houver

fluorescência não podemos dizer que tem nem que não tem, porque só 30% é que apresenta

fluorescência e fazemos uma cultura na mesma. Se com a lâmpada apresentar fluorescência,

recolhemos também os pelos e enviamos para cultura porque temos mais probabilidades de ter um

diagnóstico ao fim do procedimento.

Normalmente, a cultura biológica é feita através de pelos ou zaragatoa, mas se tivermos uma doença

cutânea nodular fazemos cultura através do próprio tecido, ou seja, fazemos uma biópsia com o

cuidado do material estar estéril e de fazermos assepsia do local onde fazemos a biópsia.

Nos fungos não fazemos normalmente fungigramas.

Em relação à fluorescência há coisas que podem confundir. Quando há dúvidas em relação a se a

fluorescência é específica ou não específica, retiramos uns pelos com uma pinça e vemos se a raíz

está fluorescente. Se a raíz do pelo estiver fluorescente é uma fluorescência específica, porque no

dermatófito é suposto haver fluorescência também na raíz porque o fungo está lá.

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Apontamentos da aula de Dermatologia – PM I 2014/2015

3 Patrícia Lopes (com consulta simultânea dos apontamentos de Raquel Santos)

5. Biopsia

Nas biopsias de pele seleccionamos a zona, por exemplo, com uma caneta (nunca se desinfecta a

zona!). Antes disso, fazemos uma anestesia local (Lidocaína) e em casos particulares fazemos

anestesia geral ou sedação para animais agressivos. Depois de anestesiar, esperamos 5 a 10 minutos

e usamos um bisturi normal e um biótomo (punch) que colocamos na zona onde queremos fazer a

biópsia, rodamos sempre no mesmo sentido até introduzirmos a totalidade de parte metálica.

Retiramos e ficamos com um cilindro que cortamos com uma pinça ou com uma agulha com o

máximo cuidado para não alterar. Depois retiramos o excesso de sangue, colocamos numa cartolina,

de seguida colocamos dentro de formol e segue para o laboratório de anatomia patológica. Em

relação ao animal, desinfectamos a pele e suturamos.

6. Testes de alergia

Teste de Prick – colocamos uma gota com o antigénio na pele. Puncionamos em cima da gota,

fazendo uma espécie de poço na epiderme para onde cai o líquido que fica assim exposto às células

dendríticas e apresentadoras de antigénio. Lemos a reacção 15 a 30 min depois de termos picado.

Esperamos também o mesmo tempo com os intradérmicos.

7. Otoscopia

Realizado com otoscópio.

O canal auditivo do cão tem um ramo vertical e horizontal. O tímpano tem uma parte mais opaca ao

nível dorsal que é mais flácida que cede à pressão. Se não houvesse esta estrutura não havia a

capacidade de acomodar diferenças de pressão. Temos que puxar o pavilhão auricular para cima

para facilitar a visualização do tímpano. É muito importante saber se a membrana timpânica está ou

não íntegra, porque se houver ruptura do tímpano não podemos administrar certas substâncias que

são ototóxicas. Antes do tímpano temos uns pelos no canal auditivo, se a seguir aos pelos não vemos

nada a seguir, provavelmente há uma ruptura de tímpano, principalmente se houver uma história

compatível como otite crónica.

8. Citologia

A citologia é dos testes de diagnóstico que se fazem com mais frequência em dermatologia e pode-se

fazer de várias formas:

Esfregaço feito a partir de zaragatoa – coloca-se a zaragatoa sobre a lesão e depois aplica-se

na lâmina (rodando e não esfregando!);

Esfregaço por aposição;

Aspiração por agulha fina;

Colheita por fita adesiva transparente – põe-se a fita-cola sobre a lesão até ficar sem cola na

fita-cola.

Em qualquer uma destas técnicas é feita coloração. Na coloração de Diff Quick temos 3

frascos: o fixador (não se usa o fixador na fita-cola porque fica opaco) e 2 corantes. Primeiro

coloca-se o fixador, depois os dois corantes e entre cada um deles esperamos 5 segundos.

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Apontamentos da aula de Dermatologia – PM I 2014/2015

4 Patrícia Lopes (com consulta simultânea dos apontamentos de Raquel Santos)

Depois passamos por água, tiramos o excesso de água e coloca-se na lâmina e observa-se ao

microscópio. Na citologia auricular como tem sebo fixamos primeiro pelo calor.

A técnica de citologia é utilizada para ver por exemplo Staphylococcus e Mallassezia (são leveduras

com forma de amendoim). As leveduras são muito maiores que os cocos.