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“TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA DUPLA vs TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO ÚNICO : EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO PÚBLICO” Sofia Pereira 1 , Ana Filipa Ferreira 2,3 , Paulo Cortesão 3 , Teresa Almeida Santos 2,3 1 Centro Hospitalar Leiria; 2 Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; 3 Serviço de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra INTRODUÇÃO A ocorrência de gravidez gemelar é uma consequência das técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) que implica custos e aumento da morbimortalidade materno-fetal. Estudos recentes mostram que a transferência eletiva de embrião único ( eSET) diminui a incidência de gravidez múltipla sem diminuir a taxa cumulativa de gravidez; por outro lado, o sucesso da técnica parece depender da seleção adequada da paciente e da eficácia da técnica de criopreservação. OBJETIVO Comparar a taxa de implantação entre doentes submetidas a eSET a fresco seguida de transferência de embrião criopreservado (FET) em relação a transferência embrionária dupla (DET) a fresco. MATERIAL E MÉTODOS Estudo retrospetivo comparando doentes do CHUC em primeiro ciclo de estimulação e após fertilização in-vitro ou microinjeção intracitoplasmática de espermatozóides de 2016 a 2018, submetidas a: - eSET a fresco seguida de FET (grupo 1 ) - DET a fresco (grupo 2 ) Não foram considerados critérios de exclusão. A análise estatística dos dados foi realizada através do software SPSS®v23 (teste U de Mann-Whitney para variáveis não categóricas e Qui-Quadrado para as categóricas). Significância estatística considerada se p<0,05. RESULTADOS + Grupo 1 n=27 Grupo 2 n=268 Parâmetro Grupo 1 Grupo 2 p value Idade (mediana) 35 34 0,325 Gesta (mediana) 0 0 0,885 IMC (média) 23,1 23,6 0,775 HAM (mediana) 2,3 2,9 0,637 FSH 3º dia (média) 7,07 11,8 0,895 Nº ovócitos obtido (mediana) 13 9 0,001 Tabela 1 – Parâmetros avaliados para os dois grupos (IMC: índice massa corporal em kg/m 2 ; HAM: hormona anti-mulleriana em ng/mL; FSH: hormona foliculo-estimulante em UI/mL). 14,8% 22,2% 7,4% 7,4% 33,3% 11,1% 3,7% Tubar Masculina Endometriose Idiopática Mista Anovulatória Cervical 20,7% 18,8% 5,8% 9,1% 36,0% 8,7% 1,0% Causa de Esterilidade (p=0,883) Grupo 1 Grupo 2 Gráfico 1 e 2 – Causa de Esterilidade para o grupo 1 e grupo 2. 74,1 60,8 25,9 39,2 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Primária Secundária Tipo de Esterilidade (p=0,972) Gráfico 3 – Percentagem de tipo de esterilidade por grupo. Grupo 1 Grupo 2 55,6 74,6 44,4 25,4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Curto Longo Protocolo de Estimulação (p=0,018) Grupo 1 Grupo 2 Gráfico 4 – Percentagem de tipo de protocolo de estimulação por grupo. Dos diferentes parâmetros analisados, apenas o tipo de protocolo de estimulação e o número de ovócitos obtido apresentaram diferenças estatisticamente significativas. 37 50,7 0 10 20 30 40 50 60 Grupo 1 Grupo 2 Taxa de Implantação (p=0,174) Gráfico 5 Taxa de implantação (número de doentes com doseamento sérico de b-hCG positivo em duas transferências para o grupo 1 e uma para o grupo 2; %). 25,9 45,2 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Grupo 1 Grupo 2 Taxa de Gravidez (p=0,094) Gráfico 6 Taxa de gravidez (número de doentes com saco gestacional ou embrião com atividade cardíaca em duas transferências para o grupo 1 e uma para o grupo 2; %). Taxas de implantação e gravidez sem diferenças estatisticamente significativas. A taxa de gravidez múltipla foi de 15,6% no grupo 2, sendo a diferença estatisticamente significativa. CONCLUSÃO Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos em relação às taxas de implantação e gravidez. O risco de morbi-mortalidade materna e fetal associado à gravidez múltipla pode justificar a transferência de embrião único como abordagem preferencial. BIBLIOGRAFIA Martínez, L., López-Regalado, M. L., Castilla, J. A., Gonzalvo, M. C., Clavero, A., Serrano, M., … Rodríguez-Serrano, F. (2014). Randomised clinical trial comparing elective single-embryo transfer followed by single-embryo cryotransfer versus double embryo transfer. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology. https://doi.org/10.1016/j.ejog Lukassen, H. G. M., Braat, D. D., Wetzels, A. M. M., Zielhuis, G. A., Adang, E. M. M., Scheenjes, E., & Kremer, J. A. M. (2005). Two cycles with single embryo transfer versus one cycle with double embryo transfer: A randomized controlled trial. Human Reproduction. https://doi.org/10.1093/humrep/deh672 Martikainen, H., Tiitinen, A., Tomás, C., Tapanainen, J., Orava, M., Tuomivaara, L., … Härkki-Siren, P. (2001). One versus two embryo transfer after IVF and ICSI: A randomized study. Human Reproduction. https://doi.org/10.1093/humrep/16.9.1900 25,9 26,8 0 15,6 0 5 10 15 20 25 30 Grupo 1 Grupo 2 Única Múltipla Tipo de gravidez (p=0,047) Gráfico 7 – Percentagem de tipo de gravidez por grupo (única: = 1 saco gestacional; múltipla: > 1 saco gestacional).

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Page 1: “TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA DUPLA · Taxa de Gravidez (p=0,094) Gráfico 6 –Taxa de gravidez (número de com saco gestacional ou embrião com atividade cardíaca em duas para

“TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA DUPLAvs

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO ÚNICO:EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO PÚBLICO”

Sofia Pereira1, Ana Filipa Ferreira2,3, Paulo Cortesão3, Teresa Almeida Santos2,3

1Centro Hospitalar Leiria; 2Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; 3Serviço de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

INTRODUÇÃOA ocorrência de gravidez gemelar é uma consequência dastécnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) queimplica custos e aumento da morbimortalidade materno-fetal.Estudos recentes mostram que a transferência eletiva deembrião único (eSET) diminui a incidência de gravidez múltiplasem diminuir a taxa cumulativa de gravidez; por outro lado, osucesso da técnica parece depender da seleção adequada dapaciente e da eficácia da técnica de criopreservação.

OBJETIVOComparar a taxa de implantação entre doentes submetidas aeSET a fresco seguida de transferência de embriãocriopreservado (FET) em relação a transferência embrionáriadupla (DET) a fresco.

MATERIAL E MÉTODOSEstudo retrospetivo comparando doentes do CHUCem primeiro ciclo de estimulação e apósfertilização in-vitro ou microinjeçãointracitoplasmática de espermatozóides de 2016 a2018, submetidas a:

- eSET a fresco seguida de FET (grupo 1)- DET a fresco (grupo 2)

Não foram considerados critérios de exclusão. Aanálise estatística dos dados foi realizada atravésdo software SPSS®v23 (teste U de Mann-Whitneypara variáveis não categóricas e Qui-Quadradopara as categóricas). Significância estatísticaconsiderada se p<0,05.

RESULTADOS

+Grupo 1

n=27

Grupo 2n=268

Parâmetro Grupo 1 Grupo 2 p value

Idade (mediana) 35 34 0,325

Gesta (mediana) 0 0 0,885

IMC (média) 23,1 23,6 0,775

HAM (mediana) 2,3 2,9 0,637

FSH 3º dia (média) 7,07 11,8 0,895

Nº ovócitos obtido (mediana)

13 9 0,001

Tabela 1 – Parâmetros avaliados para os dois grupos (IMC: índice massa corporal em

kg/m2; HAM: hormona anti-mulleriana em ng/mL; FSH: hormona foliculo-estimulante em UI/mL).

14,8%

22,2%

7,4%7,4%

33,3%

11,1%

3,7%Tubar

Masculina

Endometriose

Idiopática

Mista

Anovulatória

Cervical

20,7%

18,8%

5,8%9,1%

36,0%

8,7%

1,0%

Causa de Esterilidade (p=0,883)

Grupo 1 Grupo 2

Gráfico 1 e 2 – Causa de Esterilidade para o grupo 1 e grupo 2.

74,1

60,8

25,9

39,2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Primária Secundária

Tipo de Esterilidade (p=0,972)

Gráfico 3 – Percentagem de tipo de esterilidade por grupo.

Grupo 1 Grupo 2

55,6

74,6

44,4

25,4

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Curto Longo

Protocolo de Estimulação (p=0,018)

Grupo 1 Grupo 2

Gráfico 4 – Percentagem de tipo de protocolo de estimulação por grupo.

Dos diferentes parâmetros analisados, apenas o tipo de protocolo de estimulação e o número de ovócitos obtido apresentaram diferenças estatisticamente significativas.

37

50,7

0

10

20

30

40

50

60

Grupo 1 Grupo 2

Taxa de Implantação (p=0,174)

Gráfico 5 – Taxa de implantação (número de doentes comdoseamento sérico de b-hCG positivo em duas transferências para ogrupo 1 e uma para o grupo 2; %).

25,9

45,2

0

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Grupo 1 Grupo 2

Taxa de Gravidez (p=0,094)

Gráfico 6 – Taxa de gravidez (número de doentes com saco gestacionalou embrião com atividade cardíaca em duas transferências para o grupo 1 euma para o grupo 2; %).

Taxas de implantação e gravidez sem diferenças estatisticamente significativas.A taxa de gravidez múltipla foi de 15,6% no grupo 2, sendo a diferença estatisticamente significativa.

CONCLUSÃONão houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos em relação às taxas de implantação e gravidez.O risco de morbi-mortalidade materna e fetal associado à gravidez múltipla pode justificar a transferência de embriãoúnico como abordagem preferencial.

BIBLIOGRAFIA Martínez, L., López-Regalado, M. L., Castilla, J. A., Gonzalvo, M. C., Clavero, A., Serrano, M., … Rodríguez-Serrano, F. (2014). Randomised clinical trial comparing elective single-embryo transfer followed by single-embryo cryotransfer

versus double embryo transfer. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology. https://doi.org/10.1016/j.ejog Lukassen, H. G. M., Braat, D. D., Wetzels, A. M. M., Zielhuis, G. A., Adang, E. M. M., Scheenjes, E., & Kremer, J. A. M. (2005). Two cycles with single embryo transfer versus one cycle with double embryo transfer: A randomized controlled

trial. Human Reproduction. https://doi.org/10.1093/humrep/deh672 Martikainen, H., Tiitinen, A., Tomás, C., Tapanainen, J., Orava, M., Tuomivaara, L., … Härkki-Siren, P. (2001). One versus two embryo transfer after IVF and ICSI: A randomized study. Human Reproduction.

https://doi.org/10.1093/humrep/16.9.1900

25,9 26,8

0

15,6

0

5

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25

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Grupo 1 Grupo 2

Única Múltipla

Tipo de gravidez (p=0,047)

Gráfico 7 – Percentagem de tipo de gravidez por grupo (única: = 1saco gestacional; múltipla: > 1 saco gestacional).