análise e decisão de investimentos

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ANÁLISE E DECISÃO DE INVESTIMENTOS José Wladimir Freitas da Fonseca

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Análise e Decisão de Investimentos

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  • ANLISE E DECISO DEINVESTIMENTOS

    Jos Wladimir Freitas da Fonseca

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    ANLISE E DECISO DEINVESTIMENTOS

    978-85-387-0239-9

  • 2009

    ANLISE E DECISO DEINVESTIMENTOS

    Jos Wladimir Freitas da Fonseca

  • Doutor em Cincias Econmicas pela Universit de Toulouse 1. Mestre em Desenvolvimento Econmico pela Universidade Federal do Paran (UFPR). Especialista em Engenharia Econmica pela Universidade So Judas Tadeu (USTJ). Graduado em Cincias Econmicas pela Faculdade Catlica de Administrao e Economia (FAE). Atualmente Professor Adjunto da Universidade Federal do Paran. Tem experincia na rea de Economia, atuando principalmente nos seguintes temas: Industrializao do Conhecimento, Tecnologia, Inovao, Projetos Industriais, Economia In-dustrial e Custos Industriais.

    Jos Wladimir Freitas da Fonseca

  • SumrioFundamentos de Economia e tipos de projetos de investimentos .........11

    Introduo ..................................................................................................................................................11Tipos de projetos de investimentos ..................................................................................................27Consideraes finais ................................................................................................................................30

    As etapas de um projeto de implantao de uma indstria: como elaborar um projeto ............................................35

    Introduo ..................................................................................................................................................35O estudo de mercado no projeto .......................................................................................................35Os aspectos tcnicos e financeiros do projeto ..............................................................................45A formao do capital de giro .............................................................................................................52Consideraes finais ................................................................................................................................58

    O emprego da engenharia econmica como ferramenta para tomada de deciso de investimento ............................63

    Clculo financeiro bsico: uma reviso da matemtica financeira ........................................63A engenharia econmica e a anlise de deciso de investimento ........................................70Consideraes finais ................................................................................................................................81

    Anlise custo-volume-lucro e o projeto de investimento ......................87

    Introduo ..................................................................................................................................................87O ponto de equilbrio e algumas consideraes sobre os custos de produo ................87O ponto de equilbrio contbil (PEC) ou tambm conhecido como ponto de equilbrio operacional ....................................................90O ponto de equilbrio econmico (PEE) ...........................................................................................92O ponto de equilbrio financeiro (PEF) .............................................................................................95Alteraes nos custos fixos, custos variveis e preo de venda e os impactos no ponto de equilbrio ...............................................................98Consideraes finais ..............................................................................................................................102

  • Anlise dos indicadores econmicos e financeiros de um projeto de investimento .............................................111

    Os ndices de liquidez (IL) ....................................................................................................................111ndices de atividade ..............................................................................................................................118ndices de endividamento ..................................................................................................................121ndices de rentabilidade ......................................................................................................................124Consideraes finais ..............................................................................................................................126

    Gabarito .................................................................................................................135

    Referncias ...........................................................................................................147

    Anotaes .............................................................................................................151

  • Apresentao

    Numa sociedade onde os recursos so escassos, as necessidades so ilimitadas e a economia passa por pro-fundas transformaes, a globalizao, a anlise prvia de investimentos pode permitir, nesse ambiente de in-certezas, uma certa racionalizao do emprego dos re-cursos de capital.

    O reconhecimento desses fenmenos, sobretudo os das incertezas geradas pelo processo de globalizao que pode, se por um lado, alavancar empresas proporcio-nando sua internacionalizao e participao cada vez maior nos mercados internos e externos, pode tambm, de outro lado, exclu-las por se tornarem menos compe-titivas por no se adaptarem nesse cenrio, despertou, nos ltimos anos, um grande interesse pelo estudo das tcnicas e critrios que norteiam as decises de investi-mento. A partir disso, originou uma srie de programas destinados ao ensino da matria, tanto em nvel acad-mico como orientados ao preparo de profissionais envol-vidos nessas questes.

    Sem a preteno de esgotar o assunto, cuja abran-gncia ultrapassa as fronteiras de um universo restrito, este livro foi escrito com a preocupao de contribuir para a complementao da bibliografia existente, colocando ao alcance do leitor um enfoque um pouco diferenciado do atual clssico. Isso ocorre na medida em que procurou--se, neste livro, abordar antes de tudo as questes bsicas do universo econmico (a micro e a macroeconomia) para, a partir da, seguir no estudo das ferramentas que auxiliam a tomada de deciso.

    Sendo assim, a fim de proporcionar maior flexibilida-de ao estudo da matria, este estudo est subdividido em

  • cinco captulos que esto interligados com um objetivo comum que a tomada de deciso face s alternativas de investimento num ambiente de incertezas.

    No primeiro captulo so apresentados os fundamen-tos bsicos das cincias econmicas, procurando focar nas principais questes da micro e da macroeconomia que esto relacionadas tomada de deciso. Quanto a isso, esse captulo apresenta a importncia de se conhecer os tipos de estruturas de mercados e as principais polticas econmicas que servem de parmetros para se tomar uma deciso de investimento.

    No segundo captulo, a preocupao maior foi levar ao leitor um roteiro bsico para desenvolver um projeto de investimento, precisamente o de implantao. A carn-cia nessa abordagem nos guiou nesse sentido. Percebe- -se, na literatura atual, uma certa carncia nesse tema de fundamental importncia quando se pretende conhecer de perto as variveis que norteiam as ideias de um investi-mento diante dos recursos escassos.

    O terceiro captulo procura fornecer ao leitor as ferramentas bsicas da engenharia econmica, come-ando por uma breve reviso da matemtica financeira. Considerando que qualquer empreendimento depende de aquisio de mquinas, equipamentos, mo-de-obra etc., a engenharia econmica procura fornecer ferramen-tas bsicas que revelaro qual alternativa a melhor sob vrios aspectos, como, por exemplo, menor custo ou maior rentabilidade.

    O quarto captulo apresenta a importncia de se co-nhecer a nalise custo-volume-lucro e suas aplicaes na medida em que, em ltima instncia, a sobrevivncia de um empreendimento empresarial est diretamente rela-cionado sua capacidade de gerar lucro. Nesse sentido, a anlise custo-volume-lucro procura apresentar o compor-tamento do lucro em funo do nvel de atividade.

  • Por fim, o quinto captulo apresenta os principais indi-cadores (ndices) econmicos e financeiros de uma empre-sa. Nesse captulo, a preocupao maior foi de apresentar ao leitor que, num horizonte financeiro qualquer, o tcni-co deve estar constantemente atento ao comportamento desses ndices para poder, a cada momento, interpret-los para ento propor solues para sua correo.

    Obviamente, nenhuma obra dessa natureza torna-se exequvel sem a existncia de alguns colaboradores abne-gados. Assim, gostaria de expressar minha gratido para com aquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, con-triburam para que este trabalho chegasse ao seu final. Em primeiro lugar aos meus pais, cujos ensinamentos me pos-sibilitaram alcanar meus objetivos de vida. Aos meus cole-gas e alunos da Universidade Federal do Paran que foram fonte inesgotvel de aprendizado e de conhecimento.

    memria de Jos Carlos Malheiros da Fonseca.

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    Fundamentos de Economia e tipos de projetos de investimentos

    IntroduoNuma economia cada vez mais globalizada, onde o mercado mundial torna-se

    mais competitivo, a economia brasileira se defronta com pelo menos dois grandes de-safios. Primeiro, como se manter nessa nova dinmica onde, por exemplo, a China e a ndia conseguem produzir mais rpido, melhor e mais barato vrios produtos, em que o Brasil j foi um dia lder nesses segmentos e, segundo, at que ponto os novos empresrios esto dispostos a investir em projetos de novas indstrias quando, dificil-mente, se tem alguma certeza quanto ao movimento dessas novas economias emer-gentes em solo brasileiro e mundial.

    Essas e outras questes nos remetem ideia segundo a qual, mais de que nunca, h a necessidade de avaliar bem uma deciso de investimento antes de lanar-se num mercado que est em constante mudana.

    Uma das caractersticas mais marcantes do incio do sculo XXI, no universo eco-nmico, a transformao das experincias em rotinas e estas em conhecimento. Essas rotinas possibilitam o desenvolvimento de processos inovativos. Neste contexto de experincia-rotina-conhecimento-inovao, h uma transformao da capacidade gerencial, o que possibilita ao empresrio e seus tcnicos conhecerem cada vez mais as variveis que animam o mercado no qual a empresa est inserida.

    Diante disso, o empresrio e o tcnico tornam-se mais atentos aos problemas e s especificidades do mercado e, com isso, dificilmente expandiro sua empresa ou lanaro um novo produto (o que se traduz em investimento) se no tiverem algumas certezas sobre o universo econmico no qual esto inseridos.

    Nesse sentido, o objetivo deste captulo procurar compreender os principais fundamentos de um projeto de investimento e sua classificao no contexto de uma economia cada vez mais dinmica.

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    Para tanto, este captulo est dividido em duas partes. Na primeira parte procura--se compreender os fundamentos econmicos e na segunda parte se estuda os princi-pais tipos de projetos.

    Projetos de investimento: fundamentos econmicosUm projeto de investimento pode ser definido como um conjunto de informaes

    que, quando reunidas, possibilitam uma tomada de deciso. Essa tomada de deciso est relacionada alocao de recursos.

    Decidir se mais vantajoso aplicar determinada soma em dinheiro na poupana ou construir uma montadora de avies uma das questes a serem discutidas em uma anlise de investimento. Ou seja, quando nos deparamos com uma questo dessa natureza, o simples desejo de produzir avies no est apenas limitado soma do di-nheiro, mas a algumas variveis importantes quanto deciso.

    No final de agosto de 2008, por exemplo, uma das maiores empresas de cerveja do Brasil, antecipou o lanamento do chopp sem lcool que estava previsto para o final do mesmo ano. A estratgia de produzir tal chopp, e de lan-lo antes do previsto, est rela-cionada lei de tolerncia zero imposta no Brasil em meados de julho do mesmo ano.

    Para conseguir isso a empresa em questo precisou pensar cuidadosamente a respeito de como o pblico reagiria ao novo produto. Ser que os consumidores de chopp com lcool migrariam para o sem lcool diante da nova lei? Qual seria a fora da demanda, como ela cresceria e como estaria relacionada com o preo cobrado pelo chopp com lcool?

    As respostas a essas perguntas esto certamente relacionadas a uma estratgia de investimento realizada pela empresa. A empresa em questo certamente precisou preocupar-se com o custo do novo produto, quanto aumentaria os custos para a em-presa e de que forma estes influenciariam a produo do chopp com lcool. Em termos de maximizao de lucro, quanto tempo a empresa precisaria esperar para ter retorno sobre esse novo investimento? A empresa precisou pensar qual seria a estratgia de preos para o novo produto, considerando a reao dos concorrentes?

    Nesse sentido, preciso conhecer as variveis que norteiam uma deciso de in-vestimento, sejam elas concernentes a uma empresa que deseja lanar um produto novo no mercado ou um empresrio que deseja investir seu dinheiro na construo de uma nova indstria.

    A tomada de deciso quanto a um projeto de investimento passa necessariamen-te por duas anlises, que so: anlise econmica e anlise financeira1.

    1 A anlise financeira de um projeto nos reenvia ao estudo da engenharia econmica.

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    Anlise microeconmica: o conhecimento do mercado como ponto de partida

    O mercado definido por um conjunto de compradores e vendedores que intera-gem entre si, resultando em trocas. Ao mesmo tempo em que uma empresa vende-dora de um determinado produto, ela tambm se qualifica como compradora, pois ela precisa da matria-prima para a sua produo. Se isso um fato, preciso reconhecer que o mercado formado por trs atores que o animam: as pessoas, as empresas e o governo. Na mesma medida em que as pessoas e as famlias compram mercado-rias, elas demandam servios, o estado tambm o faz quando contrata servios para a construo de uma nova estrada ou de uma ponte. Por sua vez, quando a estrada est pronta o estado oferta o servio, uso pela estrada, e cobra este servio sob a forma de impostos e tarifas.

    nessa relao de comprar e vender servios e produtos que se constitui o merca-do. Todavia, para o estudo da deciso de projetos de investimentos preciso reconhe-cer que, embora o mercado se configure atravs dessas relaes de troca, o mesmo se reveste de quatro estruturas bsicas que so: o mercado competitivo, o monoplio, a concorrncia monopolstica e o oligoplio.

    O mercado competitivo

    Existem quatro caractersticas do mercado competitivo, que so:

    um grande nmero de vendedores e compradores de mercadorias, cada um to pequeno que no pode afetar o preo do outro;

    os produtos so homogneos;

    existe perfeita mobilidade de recursos;

    os consumidores e ofertantes tm perfeito conhecimento dos preos e custos, presentes e futuros.

    Nesse mercado, o preo de uma mercadoria determinado exclusivamente pela interseo entre a curva de demanda do mercado com a curva de oferta do mercado. As empresas que esto nesse mercado so conhecidas como tomadoras de preos.

    importante conhecer essa estrutura de mercado, para fazer uma anlise de investimento e relacionar o retorno esperado pelo investidor. Note que, uma vez in-serido nesse mercado, os preos sero alinhados com as outras empresas. Alinhados no significa que so idnticos, mas so muito prximos. Nesse sentido, a expectativa de altos ganhos de retorno somente ser alcanada com o alto volume de produo

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    (economia de escala). Exemplos de produtos desse mercado so: leite, cereais, gros, filtros de papel, um posto de combustvel etc. (todos antes de possuir uma determina-da marca).

    O tempo no qual a oferta do mercado, para certas mercadoria, completamente fixada, refere-se ao perodo de mercado ou prazo muito curto. Um exemplo desse caso o posto de gasolina, onde postos do centro da cidade vendem o combustvel ao mesmo preo dos postos de combustvel da periferia, mas em um perodo de tempo muito curto. Os postos at tentam conceder um desconto, mas rapidamente voltaro a praticar o mesmo preo que os demais. Isso ocorre por uma razo muito simples, na medida em que os preos nesse mercado esto muito prximos dos custos unit-rios, haver um momento em que o desconto do combustvel empurrar o preo para muito prximo ao custo, e nesse caso, o posto comear a ter, no primeiro momento, lucros muito baixos, e no segundo momento ter prejuzo, fazendo com que o mesmo volte a considerar o preo praticado pelo mercado alinhado. Perceba que isso ocorre com muita frequncia nesse segmento de mercado, mas no raro num curtssimo espao de tempo.

    Lucro unitrio (margem de contribuio unitria) = preo unitrio de venda custo unitrio.

    Monoplio

    um mercado no qual existe apenas um vendedor produzindo a mercadoria para a qual no h substituto prximo, mas muitos compradores.

    Na qualidade de nico produtor de um determinado produto, o monopolista encontra-se em uma posio nica, pois se ele decidir elevar o preo do produto, no necessita preocupar-se com concorrentes (que esto cobrando preos menores), ou seja, o monopolista o mercado, tendo assim completo controle sobre a quantidade de produto que ser colocado venda.

    Isso no significa, no entanto, que o monopolista possa cobrar um preo to alto quanto deseja no dever faz-lo caso seu objetivo seja a maximizao de lucros. Uma empresa de software, por exemplo, que tenha a patente sobre certo produto um caso de monoplio. Se ela vende o software por R$100,00, por que no vend-lo por R$10.000,00 se um monoplio? A resposta simples, pois poucas pessoas podero compr-lo a esse preo, e dessa forma a empresa teria um lucro muito mais baixo e provavelmente no teria demanda.

    Para poder maximizar lucros, o monopolista deve, em primeiro lugar, determinar as caractersticas da demanda de mercado, bem como seus custos, tal conhecimento An

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    crucial para a tomada de deciso econmica por parte da empresa. Dispondo de tal conhecimento, o monopolista ter ento de decidir qual a quantidade que produzir e vender. O preo unitrio recebido pelo monopolista obtido diretamente a partir da curva da demanda de mercado de modo equivalente, ele poder determinar o preo, sendo que a quantidade que vender ser obtida diretamente a partir da curva da demanda de mercado.

    Os monoplios apresentam como caracterstica central as barreiras entrada. Essas barreiras so dificuldades, porque a maior parte dos investidores impedem en-tratada de novos investidores nesse grupo seleto. As principais barreiras encontradas so: os investimentos elevados, a tecnologia nem sempre disponvel (muitas vezes exige altos investimentos em P&D), os altos custos com mo-de-obra na medida em que muitas vezes altamente especializada etc.

    Concorrncia monopolista

    Um mercado monopolisticamente competitivo semelhante ao perfeitamente competitivo, no qual existem muitas empresas, e a entrada de novas companhias no limitada. Contudo, a concorrncia monopolista difere-se da competio perfeita pelo fato dos produtos serem diferenciados, ou seja, cada empresa vende uma marca ou verso de um produto que difere-se em termos de qualidade, aparncia ou reputa-o, e cada empresa a nica produtora de sua prpria marca. A quantidade de poder de monoplio que uma empresa ter depender do seu sucesso na diferenciao do seu produto, em relao s demais empresas. Exemplos desses produtos so: creme dental, detergente de roupas, refrigerantes, cervejas, cigarros, remdios, sabonetes, xampus, desodorantes, produtos esportivos etc.

    Em muitos segmentos de mercado os produtos que as empresas fabricam so diferenciados entre si. Por uma razo outra, os consumidores veem a marca de cada empresa como algo diferente, distinguindo-se das demais. O creme dental Crest, por exemplo, diferente do Colgate, alm de uma dzia de outros. A diferena est parcial-mente no aroma, na consistncia e na reputao, isto , a imagem que o consumidor tem (correta ou no) sobre a relativa eficcia do creme dental Crest na preveno de cries consequentemente alguns, mas no todos, esto dispostos a pagar mais caro pelo Crest.

    Pelo fato da Procter & Gamble ser a nica produtora de Crest, ela tem poder de monoplio mas seu poder de monoplio limitado, pois os consumidores podero facilmente substituir Crest por outras marcas, caso seu preo seja majorado. Embora os consumidores que prefiram Crest estejam dispostos a pagar mais por ele, a maioria deles no pagar um valor muito maior. O tpico usurio de Crest poderia pagar R$0,25 ou at R$0,50 a mais por tubo, mas no desembolsaria um real a mais. Para a grande

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    maioria das pessoas o creme dental creme dental, e seriam pequenas as diferenas entre as marcas. Em razo semelhante de seu limitado poder de monoplio, a Procter & Gamble cobrar um preo mais alto, mas no muito mais alto do que o custo marginal. Situao semelhante ocorre com o detergente Limpol, com as tolhas de papel Scott e com o refrigerante Pepsi Twist.

    Um mercado monopolisticamente competitivo tem duas caractersticas im-portantes: em primeiro lugar, trata-se de um ambiente comercial no qual as empre-sas competem vendendo produtos diferenciados, altamente substituveis uns pelos outros, no sendo, entretanto, substitutos perfeitos. Em segundo lugar, trata-se de um mercado de livre entrada e livre sada relativamente fcil a entrada de novas em-presas com suas prprias marcas de produtos e tambm relativamente fcil para as empresas que nele j atuam sair, caso seus produtos deixem de ser lucrativos.

    Oligoplio

    Em um mercado oligopolstico o produto pode ou no ser diferenciado, o que im-porta que apenas algumas poucas empresas sejam responsveis pela maior parte, ou pela totalidade da produo. Em alguns mercados oligopolsticos, algumas ou todas as empresas podem obter lucros substanciais a longo prazo, pois as barreiras entrada tornam difcil ou impossvel que novas companhias entrem no mercado o oligoplio o tipo de estrutura de mercado que prevalece. Os principais exemplos de produtos de oligoplio so: automveis, ao, alumnio, petroqumica, equipamentos eltricos e computadores.

    As barreiras entrada no mercado como, por exemplo, patentes, ou o no-acesso tecnologia podero servir para excluir novos concorrentes potenciais. A necessida-de de despender dinheiro para poder tornar a marca conhecida e obter reputao no mercado poder obstruir a entrada de novas empresas. As empresas que j esto no mercado sentem-se ameaadas devido a essas novas empresas inundarem o mercado com seus produtos, fazendo com que os preos caiam.

    A administrao de uma empresa oligopolista complexa, pois envolve decises relativas a preo, nvel de produo, propaganda e investimentos, ou seja, so importan-tes consideraes estratgicas. Pelo fato de haver poucas empresas concorrendo cada uma deve, cautelosamente, refletir sobre a forma pela qual suas aes afetaro empresas rivais, bem como sobre as possveis reaes que suas concorrentes podero apresentar.

    Por exemplo, suponha que, devido a uma reduo ocorrida em suas vendas, a Fiat esteja considerando a possibilidade de conceder um desconto de 10% para estimular sua demanda, mas ela necessita ponderar com cautela sobre as possveis reaes que podero ocorrer por parte de outras concessionrias como por exemplo a Chrysler e a GM. Estas podero eventualmente no apresentar nenhuma reao ou, por outro lado, An

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    podero conceder descontos menores. No entanto, a Chrysler e a GM poderiam con-ceder descontos iguais aos da Fiat, ou a Fiat poderia desfrutar de um aumento subs-tancial em suas vendas principalmente s custas de suas concorrentes sem nenhum problema. Ou ento, as trs empresas automobilsticas venderiam mais automveis, mas estariam auferindo lucros menores em razo dos preos mais baixos, ou ainda as outras duas empresas se lanariam numa guerra de preos, oferecendo descontos maiores do que a Fiat. De fato, o que est acontecendo atualmente no mercado bra-sileiro de automveis.

    Anlise macroeconmica: aes do governo e fundamentos das polticas pblicas

    A essa altura do texto o leitor deve estar se perguntando, qual a relao entre as aes do Governo com uma anlise de deciso de investimentos? A resposta relativa-mente simples, a mais estreita possvel. Imagine se um empresrio, em 2008, se lanaria facilmente no segmento da indstria txtil, desconhecendo o fato de que a China est atualmente fixada no mercado brasileiro nesse mesmo segmento. Alm disso, no co-nhecendo, por exemplo, as aes de polticas pblicas que o Governo est articulando sobre o mesmo. Conhecer e familiarizar-se com os fundamentos das polticas pblicas a condio mais do que necessria para auxiliar em uma tomada de deciso.

    Nesse sentido, pode-se identifcar trs aes bsicas em termos de polticas do Governo: a poltica fiscal, a poltica monetria e a poltica de relaes internacio-nais. Vejamos cada uma delas.

    Noo de poltica fiscal

    A melhor maneira de compreender a poltica fiscal partir das necessidades do Estado enquanto agente econmico. O Estado, para viver, tem de adquirir, como qual-quer outro agente, coisas e servios e dessa forma, para pag-los, precisa de dinheiro. A forma como o Estado consegue dinheiro na verdade muito simples: ele obtm atravs dos indivduos, famlias e empresas, principalmente cobrando-lhes tributos, e o gasta em compras, a indivduos e s empresas.

    Esse tira dinheiro e gasta dinheiro tem repercusses em toda a economia do pas. Por exemplo, se o Estado tira muito dinheiro atravs de impostos e tributos, as famlias e empresas ficam com baixo poder aquisitivo que, por consequncia, reduz a atividade econmica do pas. Se por outro lado, o Estado tira pouco dinheiro, poucos so afeta-dos, o que no significa que ao tirar menos dinheiro a economia pode ficar aquecida, pois deve haver um certo equilbrio nessa relao.

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    Como se observa, o fato de tirar e gastar dinheiro governamental contm duas informaes importantes, a primeira que a receita e a despesa pblicas esto inti-mamente relacionadas com a economia total do pas. A segunda refere-se ao com-portamento da receita e da despesa pblicas que podem influir para o bem ou mal na atividade de toda a economia do pas. A partir dessas informaes de maior relevo, tira-se uma lio: possvel usar a receita e as despesas pblicas para favorecer a atividade da economia do pas.

    A partir das informaes anteriores, possvel definir a poltica fiscal como sendo o uso da receita e despesa pblicas com a finalidade de influir nas atividades da economia do pas, a fim de obter o equilbrio, o desenvolvimento e a justia social.

    Elementos da poltica fiscal

    A Poltica Fiscal possui dois instrumentos que so a receita pblica e a despesa pblica, onde atravs destes a poltica fiscal pode manipular uma ou outra, ou ambas, alongando-as, encurtando-as, com o objetivo de influir no comportamento da econo-mia nacional.

    Elementos da receita pblica: de um modo geral, o Estado atual tem quatro formas principais para obter dinheiro: a arrecadao de tributos; a tomada de emprstimos pblicos; a venda da coisa pblica (privatizao); e a emisso de dinheiro. A cobrana de tributos e impostos constitui, por si s, quase a totalidade da receita pblica do Estado hoje. No entanto, importante observar que os movimentos que se iniciaram em 1990 com as privatizaes, at os dias de hoje, mostram que a venda do bem pblico tornou-se uma fonte importante do Estado para gerar receita.

    Poltica dos impostos

    O tributo o gnero, os impostos, as taxas, as contribuies e a arrecadao so espcies de tributos. Mas a arrecao de impostos o que verdadeiramente importa para a poltica fiscal. Primeiro porque o que tem maior superfcie de contato com toda a economia do pas, uma vez que o Governo que cobra os impostos, e consequen-temente, qualquer mudana que ocorra no imposto repercute em toda a economia. E segundo porque o imposto constitui, normalmente, a maior parte da receita pblica e no retorna ao contribuinte, sendo portanto uma receita lquida.

    O Estado pode manipular de duas formas os impostos, a primeira atravs da ao sobre os setores, ou ao sobre toda a economia.

    Na ao sobre os setores, o Estado pode estimular a produo, ou o comrcio, ou a exportao, diminuindo ou extinguindo, apenas um, alguns ou todos os impostos que incidem sobre tais fatos a recproca tambm verdadeira.A

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    Na ao sobre toda a economia, considerando que todos pagam impostos, at o mais pobre, essa ao pode ser nefasta para aqueles que esto mergulhados na ex-trema pobreza. No entanto, tambm revela a universalidade com que o imposto pode agir em toda economia do pas e com sua gente. Ainda possvel vislumbrar que a ao sobre toda a economia obtm a eficcia desejada quando ocorrem desequilbrios como inflao e recesso.

    Por exemplo, a economia brasileira da segunda metade da dcada de 1980, onde a inflao chegou a quatro dgitos, uma das prticas, entre outras, adotadas pelo go-verno na poca, foi o aumento da carga tributria. Essa prtica desestimulava e im-pedia que as famlias e empresas tivessem mais dinheiro a disposio. Nesse caso, o governo impedia que a inflao (que nada mais do que o aumento geral dos nveis de preos) aumentasse ainda mais.

    No caso de uma recesso, que a paralizao da atividade econmica, o governo faz exatamente o contrrio, estimula a demanda por meio da concesso de crdito e a reduo da carga tributria, a fim de estimular a demanda das famlias e o investimen-to das empresas.

    Poltica do emprstimo pblico, ou da dvida pblica

    O Estado, no raramente, incorre em dvidas, e a arrecadao de tributos no sufi-ciente para pagar. Isso denominado de divda pblica que no passado eram as guer-ras sua principal fonte. No entanto, atualmente as suas grandes causas so duas: o dficit na manipulao do oramento e as obras pblicas como os investimentos a descoberto. O investimento a descoberto pode ser visualizado da seguinte forma, na medida em que para realizar uma obra pblica o governo precisa de dinheiro, e esse dinheiro surge atra-vs dos impostos, dizemos que uma situao coberta quando tal obra tem o amparo da carga tributria arrecadada. Por outro lado, imagine a mesma situao mas agora o governo arrecadou apenas uma determinada quantia de dinheiro e pretende fazer mais do que possui, dizemos que um investimento a descoberto quando esta situao ocorre, ou seja, como se o governo passasse um cheque sem fundo.

    Para resolver isso o Estado cria emprstimos que normalmente so lanados no exterior. O efeito disso que o Estado desvia recursos do setor privado, elevando a taxa de juros e diminuindo o interesse de novos investimentos. Um exemplo desse caso o desinteresse de um empresrio em investir num novo negcio, pois ele preferira investir seu dinheiro no mercado de capitais do que numa nova fbrica, o que leva desestimulao da economia.

    Poltica da receita patrimonial venda da coisa pblica (bem pblico)

    No passado, a venda da coisa pblica (privatizao) para a formao de receita do Estado era algo muito improvvel, pois os demais instrumentos respondiam razoavel-

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    mente para a formao dos recursos do governo. Por outro lado, na atualidade, o Brasil tem dificuldades de financiar suas transaes internas (pagar sua dvida interna) e no raro emprega essa prtica. O problema dessa prtica est na relao de eficincia do destino da coisa pblica.

    Quanto relao de eficincia, entende-se que antes da privatizao o Estado era eficiente na gesto da empresa ou bem pblico no qual foi privatizado, no havendo perdas para a economia do pas. Isso ocorre na medida em que o Estado, alm de con-seguir os recursos financeiros atravs do negcio, j ento privatizado, permanecer com emprego dos fatores de produo (sobretudo a mo-de-obra e os recursos mate-riais) que antes j haviam sido empregados. Por outro lado, quando o Estado mostra-se ineficiente num determinado negcio ocorre a privatizao. Supondo que a empresa privada ser mais eficiente, o inverso tambm ocorre. Haver perdas para a sociedade (como, por exemplo, o desemprego), uma vez que a minimizao do emprego dos fatores de produo ser a vlvula de escape para a empresa privada. Nesse caso a empresa no ficar na dvida em demitir e desarticular alguns fatores para maximizar seus lucros note que a culpa no da empresa privada e sim do Estado que, por conta da sua ineficincia, realizava seus negcios com a falsa impresso que poderia maximizar o emprego dos fatores de produo, artificializando uma situao favorvel para o pas.

    Quanto ao destino, entende-se para quais mos foram os negcios privatizados. Se considerarmos que o negcio em questo permanecer no pas (entenda-se por capital nacional), ele tender a contribuir para o equilbrio do governo, mostrando--se uma operao saudvel da prtica de poltica econmica. No entanto, quando o negcio em questo vai para os grupos estrangeiros, isso incorrer em perdas para a sociedade, na medida em que boa parte, seno toda, do excedente gerado pode no necessariamente permanecer no pas, inibiria a multiplicao do capital nacional, bem como sua renovao.

    Elementos da despesa pblica: quanto ao dispndio, o Estado emprega o dinheiro em trs grandes espcies de despesas:

    despesas correntes, que so as que asseguram o funcionamento dos servi-os estatais, e nelas se incluem as despesas de consumo;

    as despesas de investimento, que so as que se destinam criao de bens de produo, sobretudo os da infraestrutura;

    despesas de transferncias, que so as de previdncia e assistncia, os sub-sdios, os juros etc.

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    A poltica monetria

    A poltica monetria tem por finalidade fazer com que a economia do pas, indi-vduos, famlias, empresas e governo, tenham ao seu dispor a quantidade de dinheiro necessria s suas atividades.

    Por outro lado, essa finalidade deve ser somada a outra que possa garantir o equi-lbrio, a expanso e o desenvolvimento econmico, como por exemplo: o uso do con-trole da oferta de dinheiro e da taxa de juros no pas.

    Com essa finalidade, possvel perceber que o dinheiro entra na atividade eco-nmica do pas e causa todos os seus efeitos, sejam bons ou maus. O esquema dessa ligao entre o dinheiro e a economia nacional pode ser verificado como segue abaixo, quando analisa a relao dinheiro e a demanda agregada.

    O Governo, por diversas maneiras, pode num dado momento aumentar a oferta de dinheiro no pas, mas quem aumenta a oferta de dinheiro pode tambm diminu-la, aplicando os mecanismos s avessas.

    O aumento da oferta de dinheiro traz como consequncia a baixa da taxa de juros, facilitando a tomada de emprstimos, ao passo que sua reduo dificultaria a tomada de emprstimos.

    O dinheiro abundante e os juros baixos incentivam os empresrios a novos investi-mentos, ou at mesmo a aumentos de produo. Os lucros esperados so superiores aos juros baixos (note que a justificativa final para que um empresrio tome a deciso de in-vestir ser conseguir uma taxa interna de retorno superior taxa minma de atratividade do mercado). Mas os indivduos e famlias tambm se endividam com os bens durveis e com a aquisio de imveis, o que leva as prestaes carem dentro de suas rendas.

    Aumentando o investimento e o consumo, aumenta tambm a demanda agrega-da, ou seja, o aumento da demanda agregada pelo pleno emprego, significa aumentar a produo nacional e o desenvolvimento do pas2.

    No entanto, o aumento da demanda agregada e da produo significa que no pas est havendo mais negcios. Dessa forma, preciso uma nova injeo de dinheiro.

    Os revezes da poltica monetria

    No item anterior, foi possvel vislumbrar que a poltica monetria buscou estimu-lar as atividades do pas. Por outro lado, ela pode ser manipulada para dominar uma

    2 A demanda agregada ou demanda global a quantidade de bens ou servios que a totalidade dos consumidores deseja e est disposta a adquirir em determinado perodo de tempo e por determinado preo. Nesse sentido obtm-se a demanda agregada de um produto somando-se todas as demandas individuais desse produto.

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    situao de inflao. Dessa forma, os instrumentos da poltica monetria so manipu-lados para diminuir a oferta de dinheiro, a fim de evitar todas as consequncias que isso pode trazer, como por exemplo: a elevao da taxa de juros, a diminuio do in-vestimento e do consumo, a retrao da demanda agregada etc.

    A implementao da Poltica Monetria est sujeita a desvios causados por im-previstos, por erros, ou por atos deliberados das autoridades3. Se a economia est em pleno emprego, um erro expansionista na moeda e no crdito gerar a inflao. Por outro lado, se o pas est em recesso ou em estagnao, pode haver expanso da oferta monetria e, apesar disso, no haver expanso econmica nenhuma, porque os indivduos e as empresas no viram razo para usar do dinheiro barato e meter-se em gastos de consumo e de investimento.

    Os instrumentos de poltica monetria

    Os principais meios pelos quais as autoridades monetrias controlam a oferta de dinheiro e a taxa de juros, no pas, so as seguintes:

    depsitos ordem do Banco Central (Bacen): conforme estejam obriga-dos, pela lei em vigor (Conselho Monetario Nacional), os bancos comerciais so obrigados a fazer depsitos de maior ou menor valor no Bacen, com isso, esses bancos tero menos ou mais dinheiro para emprestar;

    reservas de caixa: diante do conselho monetrio os bancos comerciais devem ter um valor determinado para emprestar ao pblico (famlias e em-presas). Se essa reserva de caixa grande, logo mais dinheiro disposio do pblico. Se for baixa, pouco dinheiro disposio;

    refinanciamento compensatrio: so os depsitos a curto prazo, at 180 dias, normalmente, com juros baixos que o Bacen cobra dos bancos comer-ciais, alimentando-os de recursos para emprstimos a curto prazo;

    taxa de desconto: o que o banco comercial cobra do seu cliente para emprestar-lhe (descontar) dinheiro sobre um ttulo comercial se for baixa, facilita o crdito;

    taxa de redesconto: o que o Bacen cobra do banco comercial para em-prestar-lhe dinheiro (redescontar) sobre um ttulo que descontou se baixa, facilita que o banco comercial se reabastea de dinheiro e prossiga com seus descontos;

    operaes de open market (mercado aberto): o Bacen adquire ttulos da dvida pblica que esto em poder das instituies financeiras e de par-

    3 Chamados pelos economista de tecnocratas.An

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    ticulares, aumentando a quantidade de dinheiro existente na economia do pas. Isso ocorre devido ao Bacen retirar os ttulos atravs da compra e em troca paga com dinheiro, aumentando a quantidade de dinheiro na economia.

    fixao da taxa de juros: todas as medidas anteriores, quando redundam em aumentar a oferta de dinheiro, fazem cair a taxa de juros tornando ainda mais fceis os emprstimos; e quando redundam em diminuir a oferta de dinheiro fazem subir a taxa de juros tornando mais difcil tomar emprsti-mos. Alm disso o governo pode fixar a taxa de juros diretamente, e, isso tanto no seu aspecto ativo (emprstimos recebidos pelas instituies fi-nanceiras) como no seu aspecto passivo (emprstimos recebidos pelas empresas e por particulares). Essas fixaes podem ser gerais ou especiais, favorecendo ou dificultando certas linhas de atividade;

    racionamento do crdito: o Governo pode determinar a diminuio geral do crdito em todo o pas para combater a inflao, ou apenas em certas linhas de produo ou de consumo;

    seletividade do crdito: o Governo pode favorecer a oferta de dinheiro para certos gastos de investimento ou de consumo, mediante a facilidade de crdito em certas linhas;

    vendas a prestao: as vendas a prestao dos bens durveis de consumo podem ser, conforme o caso, um poderoso estimulante da produo ou da inflao.

    A eficcia da poltica monetria

    O que se tem conseguido, na prtica, com a poltica monetria sua comprovada eficincia no combate inflao que nasce do excesso de demanda. Por outro lado, no combate da recesso, nem sempre ela eficaz, pois pode haver dinheiro abundante, pode a taxa de juros ser baixa e, apesar disso, os empresrios no investem e os indiv-duos no consomem, de modo que a demanda agregada no aumenta e as atividades econmicas no melhoram. Todavia a poltica fiscal, com o dispndio governamental direto, mais eficiente no aumento da demanda agregada.

    Limitaes da poltica monetria

    possvel verificar pelo menos trs limitaes da poltica monetria. So elas:

    o governo toma medidas que podem ser neutralizadas ou enfraquecidas por ao das entidades financeiras, grandes empresas e at dos indivduos. Exem-

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    plo, contra uma poltica anti-inflacionria, de corte na oferta de dinheiro, esses agentes podem colocar em circulao suas reservas como poupanas, aplica-es, com isso aumenta a velocidade de circulao da moeda, fazendo com que o processo inflacionrio se restabelea;

    por outro lado, uma poltica de dinheiro abundante e juros baixos, destinada a aumentar a demanda, pode fazer com que os capitais fujam do pas, pois as empresas vo migrar para locais onde o juro mais alto, enfraquecendo com isso o investimento interno, deixando de ter o efeito desejado que era de es-timular a demanda agregada. Isso ocorre, pois nenhum investidor externo vai procurar investir no Brasil onde a taxa de juros no atrativa para aplicao do seu capital. Trata-se aqui do capital especulativo que no est ligado produ-o das empresas brasileiras, e sim taxa de juros elevada;

    ou uma poltica de corte na oferta de dinheiro, para diminuir a demanda e reduzir a inflao, faz a taxa de juros subir, de modo que os capitais externos afluem, os juros baixam, a demanda agregada aumenta, e com isso tem-se a volta da inflao.

    Dessa forma a poltica monetria, no raro, necessita do apoio de outra poltica, a poltica fiscal.

    Poltica de relaes internacionaisAo analisarmos atentamente a Histria Econmica verificaremos que o desenvolvi-

    mento econmico das naes tem se processado sempre com a ajuda do comrcio ex-terior, quer atravs de uma poltica liberal, quer atravs de uma industrializao substi-tutiva de importaes, quer ainda, atravs da promoo das exportaes entre outros.

    Alguns exemplos merecem ser destacados: o desenvolvimento da Inglaterra, aps a Revoluo Industrial, teve o desenvolvimento baseado na liberdade de comr-cio, pois na poca no tinha concorrentes para seu manufaturado. Outro exemplo (de economia fechada) a antiga URSS, e finalmente pode-se citar o Japo, de desenvolvi-mento econmico baseado na promoo das exportaes.

    Dessa forma possvel considerar que o comrcio exterior est intimamente ligado economia interna, onde atravs de uma poltica comercial adequada, indis-pensvel ao conjunto de polticas que visem o desenvolvimento econmico.

    Quanto ao governo brasileiro, este sempre considerou, pelo menos at agora, dois pontos bsicos para a formulao de sua poltica de comrcio exterior:

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    atravs da especializao e do comrcio, um pas tem condies de empregar mais eficientemente os seus recursos e, portanto, proporcionar um volume de bens e servios disposio de sua populao;

    atravs do comrcio, o pas poder obter equipamentos e fatores de produo necessrios ao seu desenvolvimento.

    No entanto, a economia nacional deve, ainda, criar condies que garantam o desenvolvimento econmico e reduzam ao mximo possvel a sua vulnerabilidade s flutuaes da economia internacional. Isso cada vez mais difcil quando pensamos numa economia cada vez mais globalizada.

    Atuao do Governo sobre o comrcio internacional

    As autoridades responsveis pela execuo da poltica de relaes internacionais de um pas empregam controles sobre o comrcio exterior e o mercado cambial com os seguintes objetivos:

    Evitar os desequilbrios do balano de pagamentos, pois se deixar livre o jogo das foras do mercado, pode at causar desequilbrios internos como inflao, deflao etc.

    Evitar a fuga de capitais que traz desequilbrios do balano de pagamentos.

    Proteger a indstria nacional significa evitar com que as empresas estrangeiras se instalem no pas, criando uma competio desigual. Aqui h necessidade de se ter um certo cuidado, pois o Brasil, na dcada de 1980, protegeu tanto sua indstria nacional que no incio dos anos de 1990 a indstria automobilstica brasileira j estava ultrapassada. Uma das frases que marcou nossa histria foi exatamente nesse perodo quando o ento presidente da repblica, Fernando Collor, disse: nossos automveis so carroas se comparados com os autom-veis dos Estados Unidos e da Europa.

    Manter uma taxa de cmbio estvel, assegurando maior estabilidade da eco-nomia interna.

    O controle do comrcio internacional so todas as medidas que tem por objetivo orientar e coordenar o comrcio externo. Essas medidas podem ser diretas quando determinam as quantidades a serem importadas e exportadas, e a variao nos preos das mercadorias. J as medidas indiretas causam variaes na renda nacional e, con-sequentemente, afetam as importaes, as medidas administrativas que dificultam a exportao ou a importao. importante notar ainda que os controles indiretos so praticados atravs das polticas monetria, fiscal e administrativa.

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    O controle do comrcio internacional

    Embora a liberdade de comrcio possibilite o melhor aproveitamento dos recur-sos produtivos e, portanto, um maior volume de produo para a colocao de um produto no mercado externo, deve-se analisar dois aspectos: os elementos propicia-dores e os elementos limitadores.

    Elementos propiciadores

    O comrcio internacional poderia ser resumido como sendo a colocao de um produto proveniente de um pas no mercado de outro. Porm, para que aquele pro-duto alcance esse mercado, um determinado nmero de obstculos devem ser natu-ralmente vencidos. O princpio da aceitabilidade, baseada na competitividade, onde se fundamenta todo o mecanismo. Nessa conjuntura, as economias se valem de suas exportaes para financiar suas importaes.

    As importaes constituem um fluxo heterogneo de mercadorias, servios e ca-pitais, cuja composio refletir as necessidades mutveis acarretadas pela evoluo interna dos sistemas. As exportaes, cujo montante e composio tm suas razes na estrutura do aparelho produtivo interno, consistir na remessa para o exterior dos excedentes relativos de certos bens, servios e capitais criados internamente.

    Elementos limitadores

    Seguindo a linha de raciocnio anterior, veremos agora o problema do lado do pas que dever receber o produto e que na maioria das vezes colocar obstculos protecionistas impeditivos ou limitadores.

    Desde o sculo XIX, em plena vigncia das economias liberais de mercado, o co-mrcio internacional passou a ter maior importncia, com isso criou-se os obstculos tarifrios para limitar o acesso de produtos de outros pases. A tendncia protecionista tem acompanhado o prprio desenvolvimento das relaes comerciais entre os pases, revestindo-se, hoje, de uma designao genrica de barreiras no-tarifrias.

    A partir da segunda Grande Guerra, os problemas relativos aos obstculos do co-mrcio internacional passaram a fazer parte do GATT4, o grande foro para as discusses. Atravs de negociaes pertinentes, um pas-membro abre uma concesso tarifria extensiva s demais partes contratantes, comprometendo-se, atravs de uma consoli-dao, a no elev-la seno mediante compensao adequada. Em resumo, cada pas-

    4 GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comrcio General Agreement on Tariffs and Trade). um tratado multilateral de comrcio internacional firmado em Gene-bra em 1947 que entrou em operao em 1948. Seu objetivo propor, por meio de reunies entre os pases signatrios, o livre comrcio o que para tanto preciso: a reduo de tarifas por meio de negociaes; tratamento igual e no discriminatrio (entre os mais ricos e os maios pobres) e a eliminao de cotas de importao.A

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    -membro concede a extino parcial de certas tarifas que so praticadas nos seus pases, facilitando assim a entrada de mercadorias (exemplo: os Estados Unidos conce-dem a reduo de tarifas para a entrada do acar brasileiro). Assim, cada pas-mem-bro do GATT dispe de uma lista de produtos com tarifas negociadas e consolidadas. Aps sucessivas negociaes, as listas do GATT renem hoje uma cifra superior a 50 mil itens, todos negociados com base na clusula da nao mais favorecida, ou seja, sob o estrito princpio da reciprocidade.

    O GATT, criado para intercmbio dos pases desenvolvidos, adota fundamental-mente o princpio do status quo5 na prtica do comrcio internacional, atravs da regra de igualdade.

    Somente em 1971, abriu-se finalmente uma exceo regra da igualdade, com in-troduo do chamado Sistema Geral de Preferncias, atravs do qual os pases desen-volvidos admitiram acordar margens tarifrias preferenciais aos pases em desenvolvi-mento (o que foi um avano nos acordos, sobretudo para os pases pobres), isentos de reciprocidade. No entanto, esse programa apresenta uma eficcia duvidosa.

    Com a progressiva reduo das tarifas aduaneiras, em consequncia dos esforos de negociaes no mbito do GATT, cresce a importncia das barreiras no-tarifrias, tambm chamadas de medidas no-tarifrias, a ponto de se transformarem, hoje, no mais srio obstculo colocao de um produto em um determinado mercado. A partir de 1967, deu-se incio a um levantamento exaustivo do elenco de barreiras no--tarifrias, atravs de notificaes solicitadas s partes contratantes.

    Com o processo de globalizao da economia, os pases no podem sobreviver isoladamente, e nesse sentido os fluxos de investimentos aumentaram de forma vigo-rosa na virada do sculo XX.

    Em uma anlise de investimento, o empresrio e seus tcnicos precisam conhecer de perto a relao que se estabele entre as polticas fiscal, monetria e internacional, e de que forma elas esto sendo aplicadas. Isso necessrio na medida em que tal anli-se servir de base para as decises de investimento de longo prazo da empresa.

    Tipos de projetos de investimentosUma vez reconhecida a importncia do mercado e suas especificidades no con-

    texto de um projeto de investimento, o passo seguinte familiarizar-se com os tipos de projetos.

    5 Status Quo: significa o estado atual das coisas ou a situao atual. Em economia significa a capacidade atual de um pas em produzir, dado sua capacidade (atual) instalada, bens e servios com a mo-de-obra, recursos naturais, capital e tecnologias existentes. Respeitar ou levar em conta o status quo de um pas significa respeit-lo diante desses limites.

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    Existem duas grandes classificaes quanto aos tipos de projetos, uma diz respei-to ao setor no qual ele est inserido, e nesse caso chama-se de classificao macro-econmica, e a outra diz respeito sua finalidade, o que chamamos de classificao microeconmica.

    A classificao macroeconmica de um projeto de investimentoEsta classificao dita macroeconmica na medida em que repousa sobre os

    setores da economia. Nesse sentido preciso reconhecer trs setores bsicos de uma economia: primrio, secundrio e tercirio.

    Em relao ao setor primrio, sua classificao est relacionada s atividades agrcolas, pecurias e extrativistas. No entanto, importante notar que para que um projeto se classifique nesse setor, nenhuma atividade industrial pode existir. Dito di-ferentemente, se um empresrio deseja investir no segmento de produo de leite ser que ele estaria inserido no setor primrio? A resposta depender da atividade fim desse segmento, por exemplo, ele pode simplesmente estar inserido no setor primrio, se o seu projeto de investimento for apenas a extrao do leite e mais nada. Por outro lado, se ao extrair o leite este vai pasteuriz-lo, envaz-lo e rotul-lo, o mesmo produtor est numa atividade agroindustrial, desconfigurando o setor primrio. Outro exemplo, para fixar este conhecimento, um produtor de laranjas que se limita a plantar laranjas e depois vend-las, este sim est num ambiente de mercado dito como primrio. Por outro lado, se o mesmo produtor decide, por qualquer razo, colher as laranjas, sele-cion-las, esmag-las, envaz-las e depois vend-las como suco de laranja, ele estar inserido no setor agroindustrial (portanto secundrio).

    Quanto ao setor secundrio, este definido como o setor de transformao, onde a atividade fim no pode ser obtida simplesmente com a explorao do solo, das guas, das florestas ou do ar. Imagine uma empresa que produz papel, observe que numa ponta do processo existe um empresrio que planta as rvores para serem cortadas e entregues indstria de papel. Este empresrio tem como atividade fim plantar as rvores e simplesmente cort-las, o que o insere no setor primrio. Por outro lado, aquele empresrio que compra as rvores cortadas, transforma-as em toras, as beneficia com produtos qumicos e as transforma em pasta de celulose est inserido no setor secundrio.

    Por fim, o setor tercirio aquele onde mais nos deparamos no dia-a-dia. Este caracterizado pela prestao de servios. Alguns exemplos de prestao de servios: uma visita ao mdico, uma aula lecionada, uma seo de cinema, uma passagem de nibus etc.

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    A classificao microeconmica de um projeto de investimentoA classificao microeconmica est relacionada aos projetos desenvolvidos

    segundo as necessidades da empresa. Pode-se classific-los da seguinte forma: pro-jetos de implantao, expanso, adaptao (inovao) e projetos de localizao/relocalizao.

    Um projeto dito de implantao quando, no existindo ainda uma determinada empresa, o empresrio deseja investir seus recursos na implantao de um novo ne-gcio. Trata-se dos projetos mais importantes e estimulados pelo governo, na medida em que no raro estes possibilitam um maior impacto em todo o sistema econmico. Isso ocorre na medida em que a nova mo-de-obra ser demanda para aquela nova empresa, assim como novos fornecedores surgiro para ofertar matria-prima e disso resulta uma cadeia de eventos, propiciando um ciclo virtuoso para toda a sociedade.

    Quanto aos projetos de expanso, estes esto relacionados ao desejo de um empresrio em ampliar seu cho-de-fbrica com o objetivo de aumentar sua pro-duo. Nesse caso, seu impacto na sociedade tambm importante, pois ao faz-lo surgiram, tambm, novos fornecedores e nova mo-de-obra contratada para dar conta da nova produo.

    Por sua vez, os projetos relacionados adaptao, no raros, esto relacionados ao investimento em novas mquinas e equipamentos revestidos de novas tecnolo-gias. Atualmente, com os avanos tecnolgicos e as novas descobertas no campo das cincias, muitas empresas percebem que vantajoso substituir parte do seus investi-mentos em mquinas e equipamentos por outras mais performantes (mais novas sob o ponto de vista da tecnologia) por apresentarem menor desgaste pelo uso e melhor rendimento no processo de produo.

    Finalizando, os projetos de localizao/relocalizao devem ser divididos quanto ao contexto ao qual esto inseridos. Nesse sentido, preciso separ-los em dois grupos: os de localizao inicial e os de relocalizao de uma fbrica.

    Os projetos de localizao esto inseridos no contexto de um projeto de implan-tao. Nele, uma das etapas identificar qual a melhor localizao para a futura em-presa. Perguntas como a melhor localizao deve ser prxima a vias de acesso ou em regies onde existe algum tipo de incentivo fiscal (politicas pblicas)? Ou ainda deve o projeto estar mais prximo do mercado consumidor do produto, ou mais prximo dos fornecedores da matria-prima? Estas e outras questes so discutidas na etapa de um projeto de implantao.

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    Por outro lado, um projeto de relocalizao trata-se daqueles projetos onde as empresas desejam mudar seu cho-de-fbrica para outra regio por acreditar, por exemplo, que possa existir uma outra localizao onde o mercado consumidor maior e, portanto, poderia reduzir seus custos de transporte independente dos investimen-tos para realocar a fbrica.

    Consideraes finaisNeste captulo pode-se observar que um projeto de investimento um conjunto

    de informaes que, quando reunidas, possibilitam a tomada de deciso.

    Nesse sentido, compreender as estrutura de mercado uma condio necessria para se conhecer, entre outras coisas, o comportamento das empresas quanto s suas estratgias de concorrncia num ambiente competitivo.

    Ficou destacado tambm que as polticas pblicas so um ponto de referncia para uma tomada de deciso. Conhecer de perto, por exemplo, uma poltica expan-sionista, onde existe interesse do Estado em aumentar a demanda agregada, pode ser uma referncia para que um empresrio invista no novo projeto. Por outro lado, numa poltica contracionista de recesso, o empresrio poderia preferir aplicar seu dinheiro em um fundo de investimentos menos arriscado do que implantar uma empresa.

    Percebemos ainda que se a globalizao da economia estimula os pases a bus-carem novas alternativas para produzir melhores e novos produtos para poderem ser exportados, por outro lado, o mesmo acontece com pases emergentes (ainda no completamente desenvolvidos), tornando esse processo cada vez mais competitivo sob o ponto de vista internacional.

    Por fim pudemos classificar os projetos de investimento sob as pticas macro e microeconmica e suas consequncias para a sociedade.

    Texto complementar

    Princpios de investimentos(GITMAN; JOEHNK, 2005, p. 6)

    Governo: todos os nveis de governo federal, estadual e local exigem vastas somas de dinheiro. Parte vai para financiar despesas de capital: projetos de longo

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    prazo relacionados com construo de instalaes pblicas como escolas, hospi-tais, habitaes populares e rodovias. Em geral, o financiamento de tais projetos obtido pela emisso de vrios ttulos de dvida de longo prazo. Outra demanda de fundos vem de necessidades operacionais o dinheiro exigido para manter o governo funcionando. No nvel federal, por exemplo, esses fundos so usados para pagar funcionrios e outros custos associados a defesa nacional, educao, traba-lhos pblicos, assitncia social, seguridade social, assistncia mdica e assim por diante. Esses custos operacionais geralmente so pagos com a receita de impostos e taxas cobradas. Entretanto, quando as despesas operacionais excedem as receitas do governo ou quando h um desencontro nas datas de recebimento de receitas e os pagamentos do governo, este toma fundos emprestados normalmente emitin-do ttulos de dvida de curto prazo. []. As atividades financeiras do governo, tanto como demandantes quanto fornecedores de fundos, afetam significativamente o comportamento de instituies e mercados financeiros.

    Atividades

    Numa anlise de deciso de investimento de fundamental importncia o tc-1. nico conhecer os aspectos do mercado onde o produto ou investimento ser realizado e os aspectos financeiros que sero obtidos no investimento. Dessa forma, quais so as duas anlises que ajudam na tomada de deciso de um projeto?

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    Um mercado monopolisticamente competitivo semelhante ao perfeitamente 2. competitivo, no qual existem muitas empresas. Cite uma caracterstica do mer-cado concorrencial monopolstico?

    Imagine que durante um determinado perodo de tempo o Governo tirou mui-3. to dinheiro sob a forma de impostos a partir da poltica fiscal. Considerando que no havia inflao e, portanto, a economia estava bem, podemos afirmar que isso beneficiou a economia?

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    As etapas de um projeto de implantao de uma indstria: como elaborar um projeto

    IntroduoUma das tarefas mais delicadas no universo econmico-financeiro a elaborao

    de um projeto de investimento. Isso ocorre porque mesmo reconhecendo todas as ferramentas de como elaborar um projeto sempre haver o risco da imprevisibilidade. Trata-se aqui de fenmenos que escapam das mos da cincia e da tcnica, tornando--se difcil sua previso.

    Nesse sentido importante deixar claro que as tcnicas a seguir so uma espcie de guia que procuram orientar na elaborao de um projeto, pois o mesmo no algo definitivo, onde todas as variveis so previsveis.

    Para tanto, este captulo est dividido em duas partes: na primeira parte procura- -se compreender as principais especificidades de um estudo de mercado e na segunda parte se estudam os aspectos tcnicos e financeiros do projeto. No final, sintetizamos as principais concluses.

    O estudo de mercado no projetoO primeiro passo para a elaborao de um projeto o estudo de mercado, este

    pode ser dividido em trs grandes partes, sendo:

    o estudo do produto;

    a demanda e a oferta do produto;

    o estudo da localizao com as variveis de insumos e mo-de-obra.

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    Variveis qualitativas: o estudo do produto, sua identificao, a taxa de reposio e o ciclo de vida

    O estudo do produto est relacionado sua identificao sob o ponto de vista econmico, que auxilia em uma tomada de deciso e anlise.

    Entende-se, em projeto, a identificao do produto como sendo a contextualiza-o do bem econmico. Ou seja, significa identific-lo como sendo o bem econmico durvel ou no-durvel, bem de capital ou intermedirio, e tambm conhecer sua taxa de reposio e o ciclo de vida.

    No que diz respeito classificao durvel e no-durvel, bem de capital e inter-medirio uma classificao que est relacionada taxa de reposio do bem econ-mico e seu ciclo de vida.

    Durante o processo de desenvolvimento de uma empresa (ou na etapa de elabo-rao de um projeto), chega-se a um momento em que todos os sinais apontam para o aumento do cho-de-fbrica. Esses sinais muitas vezes so bem claros, por exemplo: as encomendas (pedidos) aumentam, novas fontes de financiamento surgem com juros baixos, nova poltica de crdito ao consumidor etc. A questo saber at onde esses sinais mais conhecidos pelo empresrio so suficientes para determinar com segu-rana um aumento no cho-de-fbrica, que se traduz em uma expanso. Na verdade, esses sinais mostram que a economia est aquecida, mas no necessariamente que o produto em questo seguir nesse ciclo virtuoso. Esse ciclo pode estar atrelado a uma bolha de consumo resultante das festas natalinas ou pscoa crist, por exemplo.

    Nesse sentido surge como uma varivel a ser investigada a taxa de reposio, pois ela representa o perodo de tempo que o produto fica nas mos do consumidor at o momento do prximo pedido. Se a taxa de reposio baixa significa que o pro-duto ser adquirido poucas vezes num determinado perodo de tempo, dessa forma o volume de produo necessariamente menor do que um produto com uma taxa de reposio mais elevada. Por exemplo, o caso do sabonete em barra e o sabonete lquido (ambos so bens no-durveis). Enquanto o sabonete em barra tem uma taxa de reposio elevada e se esgota rapidamente com o uso, o sabonete lquido, por sua vez, tem uma taxa de reposio mais baixa, levando mais tempo para se esgotar. O que ocorre aqui que enquanto o produtor do sabonete em barra precisar ter um volume maior desse produto em estoque para rapidamente suprir a demanda, o produtor de sabonete lquido no precisar ter em seu estoque um volume no necessariamente to grande assim. Disso se tira uma concluso importante: os produtores procuram sempre produzir, por meio da inovao tcnica, ambos os produtos a fim de garantir uma fatia maior do mercado.

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    Todavia h necessidade de separar os bens de consumo durveis dos no-dur-veis. No que diz respeito aos bens no-durveis, os produtos de limpeza e higiene do-msticos so bons exemplos para se conhecer a taxa de reposio atravs de uma esti-mativa a partir do nmero de famlias e seus membros, conhecer o perodo de tempo no qual uma barra de sabonete, ou fralda para uso de bebs ou de uso geritrico so consumidos. Quanto aos bens durveis, h necessidade de se fazer uma diviso em dois grupos: o primeiro so os que apresentam uma forte relao com o avano tecno-lgico e o segundo os que apresentam uma fraca relao.

    Os produtos do primeiro grupo como, por exemplo, os eletrodomsticos, aces-srios para automveis etc., so influenciados consideravelmente pelo surgimento de novas tcnicas provocando um efeito conhecido como substituio tecnolgica. Nesse caso, o tcnico precisa estar atualizado quanto ao surgimento das novas tecnologias, pois so estas que daro o ritmo da taxa de reposio, sinalizando assim a possibilida-de de uma expanso.

    importante notar, ainda nesta classificao, que nem todos os produtos so evi-dentes quanto taxa de reposio quando se trata de bens durveis. Um exemplo mar-cante o telefone porttil. Num prazo no superior a trs anos, a indstria de celulares conseguiu colocar no mercado mundial trs geraes de celulares, um aps o outro quase que descartando, eliminando a gerao anterior. Os bens durveis do segundo grupo normalmente apresentam uma taxa de reposio baixa na medida em que so influenciados pelo comportamento do consumidor quanto preferncia em uma de-terminada marca, um hbito adquirido ou a confiana no produto. Alguns exemplos desse grupo merecem ateno: trata-se aqui de mquinas de lavar roupa, geladeiras, foges e micro-ondas. A relao desses produtos com o avano tecnolgico pouca, pois os consumidores esto mais atentos marca e confiana do produto e no ao avano tecnolgico. Observe o comportamento do consumidor que vai adquirir uma geladeira, ele est pouco atento se a geladeira Brastemp possui uma tecnologia de ponta se comparada outra geladeira, ele est mais interessado em comprar a tal Brastemp, e isso ocorre devido a uma simples razo, a massificao da propaganda em diversos meios de comunicao. Se ela melhor ou pior do que as concorrentes em termos tcnicos, no a preocupao do consumidor.

    Assim, conhecer a taxa de reposio do produto e suas implicaes condio mais do que necessria para estabelecer uma estratgia de expanso da empresa, ou at mesmo um lanamento de um produto novo no mercado.

    O ciclo de vida de um produto, por sua vez, est inserido no contexto da empresa, pois uma varivel muito importante a ser refletida em uma anlise de projeto.

    O processo de desenvolvimento de uma empresa, seja ela de qualquer ramo de ativi-dade da economia, passa necessariamente por, pelo menos, um fator que julgo ser incon-tornvel: a estratgia face s adversidades de uma economia em permanente mudana.

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    Durante muito tempo em nosso pas, a viso da classe empresarial pde ser resu-mida, salvo algumas raras excees, como sendo de curtssimo prazo. O que poderia justificar essa viso seria a memria inflacionria, a instabilidade do cmbio, a poltica de taxas de juros elevadas, entre outras.

    No final do sculo XX, essa viso comeou a mudar de forma radical com a espe-cializao da classe empresarial. Um dos fatores que contribuiu para essa mudana foi a alterao do cenrio nacional e a globalizao face ao interesse crescente dos investi-dores externos na economia brasileira. Essa mudana deve ser pensada sob o ponto de vista do preo a ser pago pelas empresas que se encontram disputando seus mercados com as empresas de outros pases e que conseguem colocar o mesmo produto fabrica-do aqui mais barato e, no raro, melhor.

    Nesse sentido, preciso refletir: Qual o objetivo da empresa? A resposta seria simples: lucro. Mas como conseguir? A resposta tambm seria simples: investimento. Um tcnico quando pensa em investimento precisa ir mais longe, precisa refletir num processo que vai mais longe do que a simples compra de uma mquina ou equipa-mento capaz de aumentar a produtividade da empresa.

    Muitas empresas tiveram srios problemas em suas contas, pois acreditavam que ao comprar uma mquina aumentaria a sua produtividade e levaria ao aumento do lucro. O problema que mesmo fazendo um simples clculo de engenharia econmica poderamos, por exemplo, verificar que a tal mquina levaria ao aumento do lucro, mas sem qualquer estratgia de longo prazo (o que implica em planejamento). Ou seja, a aquisio de um bem de capital com a expectativa de aumento de produtividade est diretamente relacionada a uma estratgia a priori (antes) e no a posteriori (depois).

    Conclui-se que, antes de comprar qualquer bem para o cho-de-fbrica, h a ne-cessidade de se elaborar uma estratgia de longo prazo, o que implica num processo de analisar bem a estrutura produtiva.

    Nesse sentido a tomada de deciso estabelecida pela prpria empresa, ultrapas-sando o conceito de longo prazo contbil1. Contudo, a empresa procura compreender a dimenso do seu mercado, investe em pesquisa, encontra alternativas para que seu produto ou servio esteja sempre num ciclo de maturidade.

    Na verdade, a permanncia num ciclo de maturidade de um produto ou servio pode ser um pequeno passo para comear uma estratgia a priori. Este ciclo revela, antes de tudo, a aceitao do seu produto ou servio pelo consumidor. Conhecer esse ciclo ou mesmo mant-lo implica estar constantemente analisando o mercado com o objetivo de identificar se seu produto no foi substitudo por outro produto mais

    1 O longo prazo contbil est relacionado ao perodo de tempo que ultrapassar 365 dias (portanto um ano contbil). Por outro lado, o longo prazo econmico vai mais longe do que um ano, pode representar, por exemplo, cinco anos.

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    eficaz. No cotidiano encontramos uma srie de exemplos de empresas (novas ou j no mercado) com produtos homogneos que encontraram solues estratgicas para manter-se nesse ciclo.

    Todavia, conhecer o ciclo de maturidade implica num processo de aprendizagem por parte da empresa, que se adquire durante o tempo. Nesse contexto, a aprendi-zagem no um fenmeno uniforme que se manifesta de maneira instantnea, mas ao contrrio, ela aparece sob formas mltiplas. De um lado, um diretor ou gerente do cho-de-fbrica tem sua experincia acumulada, que por sua vez deve ser passada aos outros membros da empresa. Do outro lado, um operador de uma mquina tem em sua experincia acumulada o que deve ser transmitido aos demais membros. Nesse processo de aprendizagem que se adquire atravs da transmisso do conhecimento que se formam as bases para uma estratgia de longo prazo.

    Abaixo, encontramos um grfico representando o ciclo de vida de um projeto e do produto.

    Grfico 1 Ciclo de vida de um produto

    Faturamento Lucro ($)

    Introduo Crescimento Maturidade Saturao Declnio t

    O grfico mostra um padro de desenvolvimento. O ciclo de vida pode ser uma fora externa organizao, no sentido de provocar mudanas estratgicas dentro da prpria empresa. O ciclo pode existir dentro de vrios ambientes competitivos. A aprendizagem um dos fatores determinantes para o ciclo, assim como a insero de novas tecnologias.

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    As etapas do ciclo

    Introduo aps a fase de pr-projeto o bem introduzido no mercado. Essa considerada a fase mais arriscada e cara porque muitos produtos no so aceitos pelo mercado. As principais decises nessa fase esto relacionadas s estratgias de marketing e fixao de preos. Para superar essa fase deve-se ter em conta uma pesquisa de mercado confiante.

    Crescimento se o produto foi aceito pelo pblico, ele entrou na etapa de crescimento. Nessa fase aparecem dois tipos de consumidores: os inovado-res (aqueles que experimentam e testam o novo produto) e os limitadores (cautelosos).

    Maturidade e saturao com o crescimento desacelerado da empresa (diante da pouca aceitao do produto, ou diante da pouca conquista do pro-duto pelos consumidores), os lucros comeam a cair e muitos produtores mar-ginais, menos eficientes, so obrigados a sair do mercado. Para evitar essa fase novos modelos podem ser introduzidos, numa tenativa de estender a durao do ciclo. Exemplo: descobrir novas aplicaes para o produto; buscar novos mercados; evitar a obsolecncia atravs do processo de inovao, tornando o produto melhor; reduzir partes dos custos atravs de parcerias como uma joint- -venture2. Por outro lado, algumas empresas j conseguiram o reconhecimen-to do mercado tentando uma outra alternativa estratgica que a fuso (im-portante: a fuso no resolve em todos os casos).

    Declnio quando desaparece a necessidade do produto perante o surgi-mento de produtos mais eficazes, onde os competidores conseguem promo-ver e lanar um produto subtituto melhor. Imagine, por exemplo, uma em-presa de celulares que se fixou na produo de celulares que apenas faz e recebem ligaes. Imagine agora uma outra empresa que lana no mercado um celular com videochamada, banda larga, mquina fotogrfica e filmadora. Se a primeira empresa continuar a produzir somente o celular que faz e recebe chamadas, este sair do mercado na velocidade da luz (entrar na etapa de declnio), pois seu produto foi subtitudo por um melhor e ao mesmo preo. Este , na verdade, um dos benefcios da tecnologia, ou pelo menos deve ser.

    2 Joint-venture: que em ingls significa unio de risco, uma associao entre empresas (sem a perda da identidade de ambas a empresa A continua sendo A e a empresa B continua sendo B) para o desenvolvimento e execuo de um projeto especfico ou parte de um projeto especfico. Nesse sentido, cada empresa, durante a vigncia da joint-venture, responsavel pela totalidade ou parte do projeto. Um estudo de caso bastante interessante o da empresa paranaense que produz pisos laminados. Reportagem publicada em 18/03/2007 na Gazeta do Povo.

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    Extenso na durao do ciclo

    Grfico 2 Ciclo de vida de um produto

    Faturamento, lucro e produo

    Tempo

    Para manter-se na etapa de maturidade, primeiramente deve-se pensar no pro-cesso de inovao na etapa de elaborao do projeto de um produto. A insero da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no cho-de-fbrica, que tem por objetivo estu-dar os mercados, inserir novos processos e produtos tecnolgicos, uma sada muito empregada pelas empresas. Basta lembrar o caso da SADIA versus a Perdigo, com o indicador de cozimento. A revoluo de um sitema simples fez com que a SADIA con-seguisse manter cada vez mais esse ciclo de maturirade.

    A demanda e a oferta: variveis quantitativas

    A anlise quantitativa nos reenvia ao estudo da econometria3 e da estatstica eco-nmica como ferramentas para projetar as quantidades que sero demandadas e ofer-tadas no futuro.

    3 A econometria um ramo da Economia que se preocupa com leis quantitativas (sobretudo a estatstica) para estudar fenmenos econmicos. Partindo da teoria econmica geral, analisa os dados fornecidos pela estatstica, mediante a aplicao de mtodos matemticos. A econometria possibilita quele que a estuda prever alguns eventos. Um exemplo a crise imobiliria que ocorre nos EUA gerando uma crise. Analisando o comportantamento dos bancos norte- -americanos e sua forma de financiar a casa prpria, a econometria possibilita projetar este desastre que j estava anunciado. Por outro lado, esta ferramenta possibilita tambm conhecer o comportamento do consumidor face a um determinado produto daqui a 10 anos, por exemplo. Por meio de projees pos-svel conhecer, dado as informaes atuais, por exemplo, que para cada criana que nasce em Curitiba existe um novo automvel nas ruas, em 10 anos no haver trafegabilidade se nada mais for feito pelos governantes.

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    Todavia, importante notar que somente o domnio dessas ferramentas como, por exemplo, os modelos de regresso linear, exponencial, logartmico e potencial, bem como as correlaes e a identificao dos erros padres no so suficientes. Na verdade, esses modelos so ferramentas importantes para o estudo, mas devem ser considerados como pontos de chegada de um levantamento de dados e no de parti-da. Vejamos de perto.

    Entre o levantamento de uma srie histrica (por exemplo, a srie histrica do consumo de papelo ondulado para produzir caixas e embalagens dos ltimos 15 anos) e sua projeo (o uso das ferramentas supracitadas) existe um ponto conheci-do como ponto de partida que o levantamento das variveis que sero analisadas para se construir uma srie. O responsvel pelo projeto precisa estar atento pois, na maior parte dos produtos, no existe uma srie histrica pronta para o emprego das ferramentas economtricas. Dito diferentemente, existe ou no uma srie histrica do consumo de embalagens dos ltimos 10 anos? Eis o problema que deve ser superado para se empregar as ferramentas economtricas.

    Exemplo: imagine um empresrio que pretenda produzir prteses de titnio para membros amputados, ou cadeira de rodas para deficientes com paraplegia dos mem-bros inferiores, ou ainda colar cervical para resgate. Existe uma srie histrica pronta com esses dados? A resposta no. Se este o caso para a maior parte dos produtos, como projetar e, ainda, como chegar a uma proxy (aproximao) com um mnimo de certeza? Essa a tarefa mais difcil num projeto, tendo em vista que nos remete s variveis da demanda em questo. certo que no existe uma receita pronta para se reconhecer e construir uma srie. Por outro lado, existem algumas tcnicas que podem ajudar essa construo.

    Retomemos o exemplo da cadeira de rodas, o primeiro passo nesse caso reco-nhecer que no existe uma srie pronta e, em seguida, pensar quais as variveis que elevam a demanda de tal produto.

    Minha orientao seguir alguns passos para a investigao desse exemplo: pri-meiro verificar junto ao departamento de traumatologia, por exemplo o Hospital das Clnicas de Curitiba, quais so as causas que levam a tal enfermidade. Uma vez conhe-cidas as causas, passar para o segundo passo que ser investigar nas redes de hospitais do Brasil o nmero de internaes, e que tipos de leses provocavam a paralisao dos membros inferiores. Veja que, nesse momento, uma varivel importante aparece, pois nem todos os tipos de acidentes que causam trauma importante nas cervicais com-prometem definitivamente os membros inferiores. Diante disso necessrio buscar e eliminar (filtro redutor da srie) o nmero de pessoas que sofrem esses acidentes e se recuperam com o tempo. Alm disso, necessrio ainda pesquisar qual o perodo do ano em que esses acidentes so mais frequentes.

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    Essa pesquisa pode nos levar a uma proxy com mais de 15 variveis, que no final apresentaram um resultado surpreendente sobre a projeo da demanda por cadeira de rodas. Sobre esse exemplo, importante notar que a investigao sobre a srie his-trica para a demanda e oferta de um determinado produto condio central para poder ento se lanar numa projeo. Se isso um fato, o tcnico deve estar atento em procurar esgotar as variveis que proporcionam uma srie razovel. Nesse sentido, deve-se ainda rever a pesquisa e os dados apresentados, procurando de forma analti-ca questionar o emprego dessas variveis.

    O estudo da localizao: uma abordagem conjunta com o mercado de insumos e o mercado de mo-de-obra

    Normalmente, no estudo de localizao para um projeto de implantao de uma indstria, a tcnica mais empregada a dos oramentos comparados, onde se busca o menor custo de transferncia associado maior rentabilidade.

    A tcnica da localizao e os oramentos comparados so empregados no proje-to considerando as seguintes variveis: uma matriz de distncias onde se identifica as cidades fornecedoras de matria-prima e as cidades demandantes do produto; a uni-dade do produto a ser transportada (kg, ton, lotes, fardos, litros etc.) e a tarifa de trans-porte. Com essas variveis se obtm, no final, aquela cidade que apresenta o menor custo de transferncia.

    Custo de transferncia = peso x distncia x tarifa

    Entretanto, importante destacar que somente o uso dessa tcnica no resolve inteiramente a questo da localizao para o cho-de-fbrica. Isso ocorre, pois existem foras locacionais importantes que devem ser abordadas quando ao estudo.

    Ou seja, possvel ter, ao final do emprego da tcnica dos oramentos compara-dos, uma determinada cidade como sendo a melhor para a implantao da empresa por apresentar menor custo, entretanto, no apresentar, por exemplo, disponibilidade de mo-de-obra, o que aumentaria o custo do projeto, forando os agentes envolvidos a buscar a mo-de-obra em outra cidade. O mesmo ocorre com determinados insumos de produo que dificilmente estaro sendo contemplados inteiramente em todas as cidades que so objetos dessa tcnica.

    Embora existam vrias foras locacionais, existem trs foras que se destacam por serem as mais importantes: incentivos fiscais; polticas de desenvolvimento industrial

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    e os arranjos produtivos locais. importante notar aqui que no existe uma hierarquia de importncia sobre essas trs foras.

    Procurando identificar os principais impostos recolhidos por uma empresa em atividade possvel destacar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Impos-to sobre Circulao de Mercadorias (ICMS), o Programa de Integrao Social (PIS) e a Contribuio para Fins Sociais (COFINS).

    Imagine, por exemplo, um determinado projeto que ignorou uma cidade em que a carga tributria de um ou mais impostos (ICMS por exemplo), reduzida, uma vez que o prefeito da cidade em questo acredita que o impacto social do projeto ter grande alcance como aumento da mo-de-obra local e a diminuio do desemprego. Nesse caso, seria grande erro desprezar essa varivel, pois ela integrante na determi-nao do preo de venda do produto.

    Nesse sentido, preciso conhecer as polticas de incentivos fiscais que esto sendo contempladas na construo da matriz das distncias (matriz ou quadro de distncias refere-se relao de distncias entre diversas cidades) e procurar identificar qual seria o real resultado se tal iseno do imposto fosse ponderada. H ainda a necessidade de se conhecer o tempo em que essa iseno parcial ou total concedida s empresas daquela regio. Isso ocorre porque, numa anlise menos atenta, por exemplo, poder-amos considerar uma determinada regio como sendo a melhor sob o ponto de vista da iseno fiscal mas, no curto prazo, digamos dois anos, enquanto a expectativa do projeto de 10 anos, (at que ponto vantajoso ter uma iseno fiscal de dois anos se a espectativa do projeto de 10 anos?) Esse tipo de cuidado deve estar presen-te, pois no raro algumas empresas carem nesse tipo de armadilha (guerra fiscal) desprezando sua matriz de localizao em funo de uma fora locacional de forma isolada. Assim, isso serve para as outras foras locacionais, pois preciso consider-las como variveis de apoio matriz dos oramentos comparados, e no o contrrio.

    As polticas de desenvolvimento industrial na regio aparecem como uma fora locacional importante, pois possvel encontrar nessas polticas algumas facilidades como linhas de financiamentos especficas para determinado segmento do mercado, financiamento mais barato, incentivo concentrao de empresas de um determinado segmento etc.

    Quanto aos arranjos produtivos locais, h que se destacar que eles vm crescendo no cenrio nacional, uma vez que possibilitam a integrao das pequenas e mdias empresas com as grandes empresas. Isso ocorre devido a concentraes regionais/locais de empresas que possuem alguma ligao (vertical, horizontal, multilateral) e que acabam desenvolvendo atividades coordenadas com algum fim comum, possibi-litando, dessa maneira, um certo grau de sinergia. Essas sinergias podem ser:

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    de habilidades locais (mo-de-obra especializada num determinado segmen-to do Arranjo Produtivo Local em questo APL);

    de transferncia de conhecimento e inovao de produtos e processos dados os investimentos em P&D locais e que naturalmente so aproveitados e assi-milados pelas empresas dos arranjos;

    as inovaes comerciais e de logstica que so desenvolvidas nesses arranjos.

    Nesse sentido, quanto ao emprego da tcnica dos oramentos comparados, h necessidade de investigar se o produto contemplado no projeto pode estar inserido num APL, e com isso ponderar os resultados encontrados na matriz de localizao.

    Os aspectos tcnicos e financeiros do projetoA segunda parte desse texto procura apresentar as principais variveis tcnicas

    e financeiras de um projeto que auxiliam o tcnico durante sua anlise. As principais variveis so: o processo e o programa de produo; o oramento de custos e receitas; e o horizonte financeiro do projeto.

    O processo de produo e o programa de produoO processo e o programa de produo de um projeto so as bases pelas quais a

    produo realizada durante a vida da empresa. Dito diferentemente, trata-se de um esquema onde todas as atividades produtivas so realizadas.

    O processo de produo

    A elaborao de um produto deve ocorrer de forma planejada, ordenada e din-mica, de modo a assegurar uma produo de excelente qualidade. Para isso, o proces-so de produo de um projeto pode ser definido como sendo a coluna vertebral do projeto. Nele so apresentadas todas as etapas, as subetapas e as tarefas (alm do me-morial descritivo4) para que o produto seja efetivamente realizado num determinado perodo de tempo. Vejamos de perto cada uma dessas fases de um projeto.

    As etapas do processo se referem s atividades maiores, como os centros de de-ciso de cada produo do produto. Dizem-se maiores, medida que exigem certo

    4 O memorial descritivo revela como ocorre e como se estabelecem as relaes entre todas as etapas, subetapas e tarefas de um processo.

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    grau de deciso quanto continuao ou no da matria-prima, do produto semiela-borado no processo, e a deciso quanto ao emprego da mo-de-obra (direta ou indi-reta). As subetapas so as atividades em centros menores de deciso e produo do produto no processo. Por fim as tarefas so constitudas pela realizao da produo. Um exemplo que pode ser esclarecedor a produo de no-break para grandes com-putadores. Poderamos resumir o processo de produo do exemplo constitudo por quarto grandes etapas:

    etapa 1 requisio dos insumos do almoxarifado;

    etapa 2 montagem e produo parcial dos componentes;

    etapa 3 montagem final do no break ;

    etapa 4 estoque de produtos acabados para expedio5.

    Quanto s subetapas, estas so constitudas de atividades que so executadas nas etapas do processo.

    Na etapa 1 podemos vislumbrar pelo menos duas