resumo processo civil
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Teoria Geral do Processo.
Jurisdição: É o poder/dever do Estado em fazer justiça e dirimir os conflitos de interesse.
Classificação da Jurisdição:
No Brasil temos duas modalidades: Contenciosa e Voluntária.
Jurisdição Contenciosa é Jurisdição (é a regra).
Obs: Contencioso quer dizer conflito.
Jurisdição Voluntária: É a administração pública dos interesses privados. Existem situações de
nossa vida expressamente previstas em lei que somente podem produzir efeitos se
chanceladas pelo judiciário (divórcio consensual, testamento e interdição).
Jurisdição Contenciosa Jurisdição Voluntária
Lide Ausência de Lide
Partes Interessados
Atividade do juiz é substitutiva* Atividade integrativa** Todo tipo de sentença. Declaratória, condenatória. Etc. Sentença Homologatória.
Faz-se coisa julgada NÃO FAZ COISA JULGADA – 1111 CPC
Ação Rescisória – 485CPC Ação Anulatória – 486 CPC
*: Atividade é substitutiva porque o Estado substitui a vontade das partes ao dizer quem tem
razão no conflito.
**: A atividade do Estado na Jurisdição Voluntária é integrativa porque ele integraliza um
acordo de vontades.
Características da Jurisdição.
Existem diversas, mas as mais importantes são quatro:
1- Inafastabilidade (CF 5º XXXV)
“A lei não excluirá da apreciação do judiciário, lesão ou ameaça a direito”.
126 CPC – “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou
obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as
havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito”.
“Vedação ao Non Liquet”.
2- Juiz natural: É o juiz previamente investido na causa, sendo vedado no direito brasileiro
tribunais de exceção. “A causa vai até o juiz; o juiz não vai à causa”. Não se pode criar um
tribunal para resolver uma questão.
3 - Imparcialidade: Impedimento art. 134 CPC e Suspeição art. 135 CPC. O juiz caindo em um
desses casos, estará afastado do processo.
Se provar de plano que o juiz não pode julgar a causa o caso será de impedimento. Se
demandar dilação probatória o caso será de suspeição.
4- Identidade Física do Juiz: Art. 132 CPC. “Aquele que colhe a prova, julga”. Quem preside a
audiência fica vinculado a proferir a sentença. Porém, se por qualquer motivo, o juiz for
afastado da vara no momento entre a audiência e a sentença, ele não precisa mais julgar.
Competência: É o limite da jurisdição. É a distribuição aos órgãos judiciários de suas funções.
Critérios de Classificação de competência:
No Brasil temos quatro critérios:
Material: Matéria, Civil, Trabalho, Criminal etc. (Absoluta)
Funcional: Competência Hierárquica entre os juízes. (Absoluta)
Territorial: Comarcas. (Relativa)
Valor da Causa. Rito Ordinário, Sumário (Relativa).
Um juiz só é incompetente porque o advogado do autor errou. Se a gravidade deste erro for
grande a incompetência será absoluta.
Incompetência Absoluta Incompetência Relativa.
Juiz pode declarar de oficio - 113 CPC Juiz não pode declarar de oficio*- súmula 33 STJ
Objeção – a qualquer momento (485, II CPC). Exceção de incompetência no prazo preclusivo de 15 dias
Partes não podem derrogar (abrir mão da competência) Partes podem derrogar**
Material Valor da causa
Funcional Territorial
*:se a parte não opuser exceção de incompetência ocorre a prorrogação da competência – 114
CPC.
Obs: contrato de adesão em que se verificar a abusividade da cláusula de eleição de foro (112
parágrafo único CPC). É o único caso em que o juiz pode declarar de oficio a incompetência
relativa.
**: nos juizados especiais federais/fazenda pública as partes não podem derrogar pois a
competência é ABSOLUTA (em relação ao valor da causa, não importa quantos salários
mínimos seja o valor).
Obs: Mandado de Segurança contra ato judicial, em regra não é esta a resposta.
Ação: É o direito subjetivo público de se deduzir uma pretensão em juízo.
A ação pode ser vista como um Direito e também como um Procedimento, o direito está
assegurado pela Constituição Federal no Artigo 5º XXXV. A ação está intimamente ligada à
inafastabilidade. Segundo Pontes de Miranda, “a chave que abre a porta da jurisdição é a
ação”, o porteiro é o juiz.
Condições da Ação:
- Possibilidade Jurídica do Pedido.
- Legitimidade de parte.
- Interesse de Agir.
Possibilidade jurídica do Pedido:
O pedido será juridicamente possível quando aquilo que se busca no judiciário esteja previsto
em lei ou não seja vedado por ela.
Exemplo 1: Usucapião de bem público (não pode).
Exemplo 2: Cobrança de dívida de jogo (não pode).
Exemplo 3: Herança de pessoa viva (não pode).
Legitimidade de Parte:
É a coincidência das pessoas que figuraram no direito material com aquelas que estão no
processo.
Legitimação Extraordinária:
Existem determinadas situações jurídicas em que a lei autoriza que aquele que busca o
judiciário em nome próprio não tenha participado do direito material, buscando portanto o
direito alheio (MP, sindicato, condomínio).
OBS: No caso de representação não é legitimação extraordinária, porque o representante não
é parte do processo, ele age em nome alheio para tutelar direito alheio. (Mãe que entra com
ação de alimentos para o filho menor).
Interesse de Agir:
Deve-se analisar a situação com um binômio: Necessidade e Adequação. Para se compreender
a necessidade faz-se a pergunta: “preciso do judiciário?” Se a resposta for “não”, faltará
interesse de agir.
Um exemplo: Ezzio tem um contrato com Altair, e este tem que pagar a Ezzio daqui a 20 dias,
enquanto este contrato não vencer, Altair não estará em mora e não será inadimplente, logo
Ezzio não precisará entrar no judiciário para impetrar uma ação de cobrança.
Adequação: devem-se usar os meios adequados para se buscar a tutela. Seguindo o exemplo
anterior, digamos que Altair não pagou a Ezzio, acabou o prazo para o pagamento, logo Ezzio
precisará entrar no judiciário, porém foi iniciado o processo com um Habeas Corpus, o juiz
extinguirá o processo por falta de interesse de agir, não foram utilizados os meios adequados.
Ver o artigo 267 VI CPC.
Litisconsórcio (46, CPC): Pluralidade de partes no mesmo processo.
Os motivos que levam à formação do litisconsórcio são:
- Economia processual.
- Harmonia dos Julgados – ou todos ganham ou todos perdem.
Litisconsórcio Multitudinário (46, Parágrafo Único).
Poderá o juiz limitar o litisconsórcio facultativo quando pelo número excessivo de litigantes
puder ocasionar prejuízo para a defesa ou para rápida solução do litígio.
Quanto à Posição: Ativo (mais de um autor).
Passivo (mais de um réu).
Misto (mais de um autor e mais de um réu).
Quanto ao Momento de Formação: Inicial (formado na petição inicial).
Ulterior (formado no curso do processo).
Quanto a Uniformidade da Decisão: Unitário (quando o juiz tem o dever de julgar igual para todos)
Simples (quando o juiz não precisa julgar igual para todos)
OBS: Eficácia Subjetiva da Intervenção Litisconsorcial.
Se o litisconsórcio for simples os atos e omissões de um não ajudam nem atrapalham aos
demais. Se o litisconsórcio for unitário os atos positivos praticados por um
(contestação/recurso) aproveita aos demais. Mas os atos negativos (confissão) serão ineficazes
até para quem praticou.
Quanto à Obrigatoriedade: Facultativo (Eu quis)
Necessário (Lei determina ou natureza da relação jurídica, sempre
que for unitário – ver artigo 47 CPC).
Intervenção de Terceiros:
Assistência:
Ocorre assistência quando o terceiro tem interesse jurídico em que uma das partes vença a
demanda. A assistência pode ser simples ou litisconsorcial.
Assistência Simples: Se o terceiro tiver relação com apenas umas das partes.
Assistência Litisconsorcial: Se o terceiro tiver relação com as duas partes.
O instrumento para ingressar com assistência é a Petição Simples, a qualquer momento do
processo e ela é facultativa. Após isso há a intimação das partes para se manifestarem se
concordam ou rejeitam a intervenção no prazo de 5 dias. O silêncio representará aceitação.
Sendo aceita a intervenção do assistente, será caso de “simples ingresso” *. Caso as partes não
concordem com o ingresso do assistente, quem irá decidir é o juiz.
Obs: De acordo com o STJ o juiz poderá indeferir o ingresso do assistente mesmo com a
concordância das partes. Ou seja, divergência entre Lei e Jurisprudência.
Nomeação à Autoria (62/69 CPC):
É a correção do pólo passivo da demanda em circunstâncias especiais.
Sempre que o réu for parte ilegítima no processo ele deverá contestar em preliminar, salvo nas
hipóteses de “detentor e cumpridor de ordem” onde será necessária a Nomeação à autoria. –
Arts. 62 e 63 CPC,
O instrumento é a Petição Simples, o momento é o prazo de defesa, se a nomeação for
indeferida (erro ou nomeação errada com má-fé) o magistrado devolverá o prazo de defesa, e
a nomeação à autoria é OBRIGATÓRIA (69 CPC).
Dupla Concordância: Para que haja nomeação à autoria é necessária a concordância do autor
e do terceiro.
Denunciação da Lide (70/76 CPC):
É a intervenção de garantia. Permite que a parte traga ao processo, terceiro, garantidor de seu
direito, para responder regressivamente.
A denunciação da lide será formalizada pelo autor na petição inicial e pelo réu na defesa.
É muito útil, pois é um instrumento de economia processual.
As hipóteses de denunciação da lide são os casos de evicção e seguradora.
De acordo com a doutrina/jurisprudência, somente a evicção é obrigatória. De acordo com a
lei todas as hipóteses são.
Chamamento ao Processo (77/80):
É a intervenção de solidariedade. Permite que o réu traga ao processo os demais co-obrigados
que não foram demandados.
Hipóteses de chamamento – 77CPC.
1- fiador traz os devedores ao processo.
2- fiador traz os demais fiadores ao processo.
3- devedor traz os demais devedores ao processo.
Obs: Devedor NÃO pode chamar o fiador ao processo.
O Chamamento ao processo é facultativo e será formalizado pelo réu no prazo de defesa.
Oposição: Ocorre oposição quando o terceiro reivindica para si, no todo ou em parte aquilo que as partes
disputam em juízo.
A oposição é uma ação incidental, podendo o opoente entrar no processo antes da sentença
(prazo da defesa), além dela ser facultativa.
“Em face da ação do opoente, o autor e o réu estão em litisconsórcio passivo”.
Com o ingresso da oposição, os opostos serão citados para se defenderem NO PRAZO COMUM
DE 15 DIAS.
Petição Inicial (282 CPC): Instrumento pelo qual se materializa o direito de ação.
“A Petição Inicial Indicará: I – o juiz ou tribunal, a que é dirigida (competência); II – os nomes,
prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III – o fato e os
fundamentos jurídicos do pedido (direito civil) IV – o pedido, com as suas especificações; V – o
valor da causa (art’s. 259 e 260 CPC dois artigos inúteis); VI – as provas com que o autor
pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – o requerimento para a citação do
réu”.
Pedido (286):
Certo e Determinado. Pedido certo é o pedido expresso. Pedido determinado é todo pedido
individualizado pelo seu gênero e quantidade.
OBS: Pedido implícito é aquele que não precisa ser pedido para que seja analisado (ex:
honorários advocatícios; atualização monetária; juros de mora).
OBS2: Em regra, todo pedido é determinado, porém há casos em que não é possível
especificar um valor no pedido, a lei atenta a esta peculiaridade, classificou como “pedido
genérico”.
Pedido Genérico (pedido determinável):
- Ações Universais: Quando o autor não souber a universalidade de bens que compõe o seu
direito (ex: inventário; petição de herança).
- Reparação de Danos: Quando o autor não puder quantificar a extensão do ato ilícito
praticado pelo réu (ex: dano moral; o autor foi atropelado, de ante mão não há possibilidade
de ele saber o custo de todo o tratamento médico que ele precisará).
OBS3: O dano moral deve ser atribuído pelo juiz, art. 286 CPC.
- Quando depender de um ato a ser praticado pelo réu: Nas ações de prestação de contas a
apuração do valor dependerá das contas prestadas pelo réu.
Modalidades de Pedido:
1- Alternativo (288 CPC): Ocorre pedido alternativo quando o réu tem à sua disposição
duas ou mais maneiras de cumprir a obrigação. Esses pedidos têm a mesma hierarquia,
em regra quem escolhe qual deles será cumprido é o réu.
2- Sucessivo (289 CPC): Nesta modalidade de pedido há uma escala de interesses. Dessa
forma somente será analisado o pedido subsidiário se negado o principal.
3- Prestações Periódicas (290 CPC): Nas relações de trato sucessivo o autor formulando a
1ª parcela, todas as outras serão devidas de pleno direito. Constitui modalidade de
pedido implícito.
4- Pedidos Cumulados (292 CPC): É a possibilidade de se cumular dentro do mesmo
processo dois ou mais pedidos para que o juiz analise TODOS.
4.1- Requisitos para Cumular: Pedidos compatíveis entre si, ainda que entre eles não haja
conexão; Mesmo juízo competente (pedidos só referentes a civil, ou família, trabalho
etc); Que seja adotado o mesmo procedimento (exceção: Art. 292 §2º: quando para
cada pedido,corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se-á, se o autor
empregar o procedimento ordinário).
Citação: Ato pelo qual se traz o réu em juízo para que ele possa se defender.
Real: Correio ou oficial de justiça.
Ficta: Edital ou Hora certa.
OBS: Ao réu citado de forma ficta será nomeado um curador especial – o Curador não vai fazer
nada... “Defesa por negativa geral”. (art. 9º II CPC)
Correio: Nos termos do art. 222 a citação será feita pelo correio para qualquer comarca do
país (a regra).
Oficial de Justiça: Nas ações de estado; quando o réu for incapaz; quando o réu for pessoa de
direito público; nos processos de execução; quando o réu morar em localidades aonde o
correio não chega; quando o autor requerer outra forma.
Edital: Art. 231. Ocorre citação por edital quando não se souber quem é o réu ou este residir
em local incerto ou de difícil acesso.
Hora Certa: Art. 227. Quando o oficial de justiça comparece por três vezes na casa do réu, que
tem domicilio certo e presume a suspeita de ocultação.
Sentença:
De acordo com o art. 162 § 1º CPC, Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações
previstas nos Arts. 267 e 269. O art. 267 fala sobre as sentenças sem resolução do mérito
(terminativa) e o 269 com resolução do mérito.
Artigo 269 CPC: Haverá resolução de mérito
I- Quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor (única situação com um
julgamento).
II- Quando o réu reconhecer a procedência do pedido.
III- Quando as partes transigirem (acordo).
IV- Quando o juiz pronunciar a decadência ou prescrição.
V- Quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.
Sentenças com Mérito (269):
Quando, de alguma forma, resolver o conflito (definitiva).
Sentenças sem Mérito (267):
Todas as demais (terminativa). Importante frisar que o art. 267, V, fala da perempção,
litispendência e coisa julgada, nessas situações, a extinção do processo dar-se-á sem resolução
de mérito, mas como que por “extensão” adquire a imutabilidade de coisa julgada material.
Elementos da Sentença (458 CPC):
Relatório: Resumo da causa (no juizado especial não precisa art. 38 da lei 9.099/95).
Fundamento: Os motivos que levam o juiz a julgar procedente ou improcedente. É a parte
mais importante da sentença para o advogado, sua ausência causa nulidade absoluta.
Dispositivo: A conclusão da sentença, a parte mais importante para o autor e réu. Só ele faz
coisa julgada.
OBS: Fundamento pode se chamar: “Razões, Motivos, Verdade dos Fatos e Questões
Prejudiciais”.
OBS2: A fundamentação apenas fará coisa julgada quando a parte EXPRESSAMENTE
REQUERER que as “questões prejudiciais” se tornem imutáveis. Ver os artigos 469 e 470 CPC.
Princípio da Adstrição/Congruência (128 e 460 CPC):
Nenhum juiz pode julgar:
Extra Petita: O juiz viajou, dá algo diferente do que se pediu.
Ultra Petita: O juiz exagerou, concede mais do que se pediu.
Infra Petita: O juiz esqueceu, julga menos do que se pediu.
OBS: Para o exame da OAB, infra petita e citra petita são expressões sinônimas!
OBS2: Se alguém faz cinco pedidos numa ação no judiciário, o juiz dá quatro, mas nega um, ele
não julgou infra petita, e sim “parcialmente procedente”. O autor ganhou quatro e perdeu um.
Situação diferente quando se pede cinco, ele julga quatro, mas não julga um, neste caso
ocorreu infra petita.
OBS3: Toda sentença Infra/Citra petita, cabe embargos de declaração.
Teoria da Irretratabilidade da Sentença:
O Código de Processo Civil adotou essa teoria, já que em seu artigo 463, apenas permite a sua
alteração para correção de erros materiais, erros de cálculo e por embargos de declaração
(recurso destinado àquelas decisões contraditórias, obscuras ou omissas).
Exceções:
Art. 296 CPC, se a sentença indeferir a petição inicial, caberá apelação, podendo o
magistrado retratar-se em 48 horas.
Art. 285 CPC, no julgamento de processos repetidos, havendo diversos processos com
base em idêntica controvérsia poderá o magistrado não citar o réu e proferir sentença
com resolução de mérito contra o autor. Nesse caso cabe apelação, sendo facultado
ao magistrado retratar-se em 5 dias.
Na apelação interposta contra sentenças no procedimento do estatuto da Criança e do
Adolescente (art. 198, VII Lei 8.069/90) em que o juiz pode retratar-se no prazo de 5
dias após receber o recurso.
Classificação das Sentenças:
As sentenças podem ser de improcedência ou de procedência. As sentenças de improcedência
são aquelas que julgam improcedente o pedido do autor, logo, estas sempre são declaratórias
negativas, isto é, atestam que o autor não possui o direito postulado.
A doutrina diverge quanto a adoção da classificação ternária1 (que contém as sentenças
meramente declaratórias, constitutivas e condenatórias) e a quinaria (que, além destas, agrega
as sentenças executiva e mandamental).
Tutela Declaratória:
A sentença declaratória “apenas” declara a existência ou a inexistência de uma relação
jurídica, ou o modo de ser de uma relação. O objetivo dessa sentença é eliminar uma situação
de incerteza que paira sobre determinada relação jurídica que é fonte de dúvidas, incerteza e
insegurança. A sentença declaratória será a tutela outorgada ao autor e acobertada pela coisa
julgada material.
Em todas as sentenças, mesmo as com pedido constitutivo ou condenatório, o juiz declara
quem tem razão. Dessa forma, toda sentença declara algo. A diferença é que as sentenças
concernentes a outras tutelas não se limitam à declaração do juiz; nelas preponderam outros
efeitos.
A sentença declaratória não impõe nenhuma obrigação às partes, por isso não constitui título
executivo, mas torna certa aquela relação que, embora já existisse, não era reconhecida. Sua
eficácia é ex tunc, seus efeitos retroagem à data do início da relação jurídica cuja existência foi
discutida. Frise, ela apenas confirma judicialmente aquilo que já existia.
Tutela Constitutiva:
As sentenças constitutivas além de declarar, formam, modificam ou extinguem uma relação
jurídica. Assim como as sentenças declaratórias, as sentenças constitutivas bastam por si para
atender ao direito substancial afirmado. Não formam título executivo, e não prescindem de
atos posteriores para que o direito material seja efetivamente realizado.
Duas situações podem ensejar o seu ajuizamento: 1) a existência de um litígio a respeito de
relação jurídica que uma das partes quer constituir ou desfazer sem o consentimento da outra,
1 Importante dizer que a classificação é TERNÁRIA, e não TRINÁRIA. Trinário (expressão inexistente em
nosso vocabulário) vem do verbo trinar, que define o canto dos pássaros, e não representa a conjunção de três elementos.
ou 2) a exigência legal de ingresso no judiciário para que determinada relação jurídica possa
ser modificada, mesmo com o consenso dos envolvidos. No primeiro caso a constituição é
voluntária; no segundo, é necessária (por exemplo, a separação consensual).
O que caracteriza essa sentença é o surgimento de um estado jurídico distinto do anterior. Por
a sua eficácia é ex nunc; ela não produz seus efeitos para antes da sentença transitada em
julgado (divórcio p. ex.). A exceção a essa regra é a anulação de negócio jurídico (art. 182 CC),
que retroage à data de formalização do negócio.
É típica sentença que se relaciona aos direitos potestativos, que se efetivam no mundo jurídico
das normas, e não dos fatos. Dá-se pelo verbo, e não pelo ato concreto, material.
Tutela Condenatória:
São aquelas que não se limitam apenas a declarar a existência do direito em favor do autor,
mas lhe concedem também a possibilidade de valer-se da tutela executiva, tornando realidade
concreta aquilo que lhe foi concedido. Portanto, forma-se com elas um título executivo
judicial.
Sua eficácia é ex tunc, pois seus efeitos retroagem à data da propositura da demanda. Como
regra, a sentença condenatória só produz efeitos a partir do trânsito em julgado, salvo se o
recurso contra ela interposto não for dotado de eficácia suspensiva.
Tutela Mandamental:
Por sentença mandamental, deve-se entender a técnica que pretende extrair do devedor o
cumprimento voluntário. Dirige-se diretamente contra a pessoa do obrigado, aguardando dele
o acatamento e o cumprimento de uma ordem, sob pena de responder pelas consequências
do descumprimento.
Para os seguidores da classificação quinaria, pode-se diferenciar a sentença condenatória da
mandamental, no seguinte aspecto: na condenatória o seu descumprimento não implica crime
de desobediência, já que a técnica empregada nesse tipo de medida dispensa o emprego de
outras formas de coerção que não a sub-rogação.
Tutela Executiva:
1) O núcleo da eficácia executiva lato sensu reside na transferência de coisa, da esfera
patrimonial do réu para a do autor; 2) a mencionada coisa deve lá estar de forma ilegítima,
contra direito; 3) esta coisa pode ser garantida tanto por direito real quanto por um direito
pessoal; 4) a eficácia executiva (força) se dá de maneira imediata, sempre por meio da própria
sentença do processo de conhecimento, de modo que pode haver atividade executiva sem a
necessidade de título executivo judicial ou extrajudicial; 5) as ações executivas lato sensu
devem ser colocadas no âmbito do processo de conhecimento.
As sentenças executivas são de natureza condenatória, mas prescindem de uma fase de
execução que lhes sobrevenha para que seu comando seja cumprido, haja vista que as
condenatórias exortam o devedor a cumprir; as executivas já efetivam a tutela.
A sentença executiva é técnica sub-rogatória que independe da vontade do devedor para se
realizar, mas que não atua mediante expropriação de bens. Ao contrário da condenatória, esta
não se dirige ao devedor da obrigação, mas concretiza-se independentemente de sua vontade.
Por ser, como dito, técnica sub-rogatória típica neste ponto – e basicamente neste ponto –
afina-se com a tradicional tutela condenatória.
Coisa Julgada:
Coisa julgada é a qualidade de que se reveste a sentença de mérito transitada em julgado,
proferida com base em cognição exauriente. A coisa julgada objetiva tornar imutável fora do
processo aquilo que foi decidido dentro dele.
Classificação:
Material: Coisa julgada material torna imutável não só o processo, mas também o próprio
direito discutido em juízo (Extinção com mérito).Sua eficácia é Panprocessual. A parte não
pode propor novamente a demanda.
Formal: Coisa julgada formal torna imutável apenas o processo em que esta se formou
(Extinção sem mérito), por isso diz-se que sua eficácia é Endoprocessual. A parte pode propor
novamente a demanda em outro processo, há exceções.
OBS: Arts. 267 V (perempção, litispendência e coisa julgada) sempre que o processo for extinto
com base nestas condições, será sem resolução de mérito mas a parte NÃO PODE propor
novamente a ação.
OBS2: Toda coisa julgada material é também formal.
OBS3: Não é necessário que seja sentença, qualquer decisão que preencha alguns requisitos
tem aptidão para fazer coisa julgada material, por exemplo: a decisão que julga pedidos
incontroversos (CPC, art. 273, §6º) ou o acórdão podem formar imunidade para fora do
processo em que foram produzidos.
Função Positiva e Negativa da coisa julgada:
Existe essa dupla função, vejamos:
Função Negativa:
Consiste na proibição de ajuizar a mesma causa em outro processo já julgado. Por repetição
de causas entendam-se duas demandas com as mesmas partes, pedidos e causas de pedir.
Além da economia processual, uma vez que evita o ajuizamento de duas demandas, tem essa
função o mérito de evitar decisões conflitantes (teoria da tríplice identidade de Pothier).
Mesmo que a segunda confirme a decisão da primeira, não é desejável duas ações analisando
a mesma causa.
Função Positiva:
A função positiva da coisa julgada é decorrência da função negativa. Enquanto pela
primeira impede-se o magistrado de revisitar causa já julgada, pela segunda o magistrado não
está proibido de julgar o mérito, mas fica vinculado ao que foi decidido na primeira demanda.
Pela explicação pergunta-se: não seria antagônico uma (função) proibir a repropositura
e a outra autorizar, desde que vinculado ao que foi decidido? Na verdade, são fenômenos
diversos. Não se trata de mesma causa em processos diferentes, o que é proibido por força da
função negativa da coisa julgada, mas sim de uma mesma relação jurídica apresentada em
processos diferentes. Dessa forma, a teoria da tríplice identidade não consegue explicar essa
problemática, devendo ser iluminada pela teoria da identidade da relação jurídica de Savigny.
O julgamento poderá ser feito desde que baseado na fundamentação esposada na
primeira demanda. Constitui, portando, um imperativo para o segundo julgamento.
Se na primeira demanda foi constatada a paternidade, numa segunda demanda, em
que se cobram alimentos, eventual discussão sobre paternidade deve ser afastada, em
atenção à coisa julgada.
Limites da Coisa Julgada: artigos 468, 469 e 472 CPC.
Subjetivos (472): Diz respeito a quem é atingido:
As partes e os terceiros que ingressaram no processo e adquiriram a condição de parte (à
exceção do assistente simples, que sofre a eficácia da decisão).
As partes e os terceiros intervenientes participaram do processo, exerceram o contraditório e
puderam influenciar no resultado da decisão. A coisa julgada não poderá atingir a quem não
tenha tido esse poder de influência.
Há outra exceção: ações de estado, investigação de paternidade.
Objetivos (468): O que é atingido:
Nem tudo que é decidido se torna imutável. Dentro da sentença somente o dispositivo tem
esse condão. Dessa forma, nem o relatório nem os fundamentos ficam acobertados pela coisa
julgada. É possível que os fundamentos de uma demanda sejam rediscutidos em outra,
podendo o magistrado chegar, até, a conclusões diferentes.
Execução:
A finalidade da execução é cumprir um título executivo. Título executivo é todo documento
criado pelo legislador, cujo objetivo é fundamentar uma execução.
Execução de Título Extrajudicial: Execução por quantia certa contra devedor solvente.
A fase inicial se dá com uma Petição inicial, o executado é citado para pagar a dívida no
prazo de 3 dias; o credor nomeia bens para penhora, a citação é feita por oficial de justiça (Art.
222, d.) e o juiz ao receber a Petição Inicial, fixa os honorários de plano.
O executado é citado, se ele pagar a dívida no prazo, além de encerrar a execução, ele
terá um desconto de 50% dos honorários da outra parte. Se ele não pagar ocorrerá a
Expedição de Mandado de Penhora e Avaliação: O oficial de justiça irá penhorar e avaliar os
bens:
a) Encontrando o executado e não encontrando bens, suspende-se a execução (791 III).
b) O oficial encontra bens, mas não encontra o executado, ele fará uma “pré-penhora”
chamada de “Arresto”, feito isto, o oficial irá por 3 vezes nos próximos 10 dias para
encontrar o devedor. Se o executado não for localizado, será citado por edital,
passando o prazo do edital e ainda assim ele não for localizado, o arresto converte-se
em penhora (654 CPC).
OBS: O executado pode: Pagar, opor embargos (discutir a dívida no prazo de 15 dias),
Moratória Processual (pagar parcelado) ou Não pagar. A moratória processual será vista mais
adiante.
Penhora:
Averbação da execução (615-A): poderá o exequente requerer certidão com os dados do
processo, para que possa averbar em cartórios suscetíveis de registro que contenham bens do
executado.
Ordem de penhora de bens – 655: 1- Dinheiro; 2- Veículo de transporte terrestre; 3- Bem
móvel; 4- Bem imóvel; 5- Navio e aeronave.
A ordem dos bens previstas no artigo 655, não é obrigatória, pois o magistrado deve se atentar
ao princípio da menor onerosidade para o devedor.
OBS: Art. 620: “Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará
que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.
Bens Impenhoráveis:
Previstos no artigo 649 CPC (bens absolutamente impenhoráveis) e na Lei dos Bens de Família
8009/1990.
Art. 649: São absolutamente impenhoráveis:
I- Os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
II- Os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do
executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns
correspondentes a um médio padrão de vida.
III- Os vestuários, bem como os pertences como os pertences de uso pessoal do
executado, salvo de elevado valor.
IV- Os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios e liberalidade de terceiro e destinadas ao
sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo.
V- Os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros
bens móveis necessários ao exercício de qualquer profissão.
VI- O seguro de vida. (...) Eticétera.
Bem de família: é o único bem da entidade familiar não sujeito à expropriação judicial.
Critério para Classificação de Bem de família:
1- Bem de família Voluntário: Bem indicado pelo dono como tal. Prevalece sobre os
outros tipos.
2- Bem Destinado à Moradia: Onde a família mora. Art. 1º lei 8009/90
3- Bem de Menor Valor: Quando o devedor tem mais de um bem.
Casos em que o bem de família pode ser penhorado:
1- Alimentos.
2- Produto de Crime.
3- Quando a dívida for do próprio imóvel: IPTU, Condomínio, Hipoteca, Financiamento.
4- Dívidas do Empregado (a) Doméstico (a): Quando o patrão não paga as verbas
trabalhistas da empregada doméstica.
5- Fiador em contratos de locação.
Os bens móveis que guarnecem a residência são igualmente impenhoráveis, salvo os veículos
de transporte, as obras de arte e os adornos suntuosos (tudo que ultrapassa a necessidade de
uma média qualidade de vida).
OBS: Se o carro for instrumento para trabalho, não poderá ser penhorado. Note que o carro é
instrumento PARA trabalhar, e não PARA IR trabalhar.
Penhora Online (655-A):
É a possibilidade de constrição de artigos financeiros pertencentes ao executado objetivando a
satisfação do crédito exequendo. A penhora online depende de provocação da parte,
impedindo o juiz de requerer de ofício.
Moratória Processual:
Poderá o executado no prazo dos embargos e confessando a existência da dívida requerer o
depósito de 30% do crédito para que o restante da dívida seja pago em até 6 parcelas iguais e
sucessivas com juros de 1% ao mês.
O não pagamento de uma delas acarreta:
A) No vencimento antecipado das demais
B) Multa de 10% sobre as vincendas
C) Impossibilidade de a parte opor embargos.
Embargos à Execução:
É a defesa do executado na execução de título extrajudicial.
1) Os embargos têm natureza jurídica de ação, seguem todos os requisitos do art. 282.
2) 15 dias contados da juntada aos autos do mandado de citação cumprido.
3) Não é preciso garantir o juízo (ter penhorado de bens ou valores que satisfaçam o
crédito exequendo).
4) Os embargos não têm efeito suspensivo (novidade pós reforma de 2006).
OBS: Poderá o executado obter efeito suspensivo desde que: a) Prove o dano;
b) Garantir o juízo (necessário caucionar).
5) Apelação.
Execução de Título Judicial (Cumprimento de Sentença):
Nos termos do art. 475 – J do CPC, após o trânsito em julgado da sentença, o
executado será intimado para pagar a dívida no prazo de 15 dias sob pena de multa
pecuniária de 10% do valor da condenação.
À partir do 16º dia, nasce para o credor o direito subjetivo de entrar com um
requerimento (petição simples), exigindo o cumprimento da obrigação mais multa.
O prazo para requerer é de 6 meses sob pena de arquivamento do processo.
Após o requerimento o Juiz ordena a Expedição de Mandado de Penhora e Avaliação.
A defesa do executado para execução de título judicial é a impugnação.
Impugnação:
A doutrina diverge em relação à natureza da impugnação, alguns dizem que tem a
mesma natureza da ação, outros que é um procedimento híbrido, outros afirmam que
é defesa. Para a prova da OAB, impugnação é um Incidente.
O prazo é de 15 dias contados da juntada aos autos do mandado de penhora
cumprido.
Para se entrar com impugnação é necessário garantir o juízo.
Garantir o juízo é ter penhorado bens ou valores que satisfaçam o crédito exequendo.
Não tem efeito suspensivo. Para obter o efeito suspensivo deverá o executado provar
o dano.
A decisão que julgar impugnação caberá agravo de instrumento, salvo se a
impugnação for julgada procedente, e esta procedência gerar a extinção de todo
processo de execução, o recurso será apelação.
Recursos:
Recurso é o meio de impugnação das decisões judiciais, colocado à disposição das
partes, do Ministério Público ou de terceiro, para que a decisão judicial possa ser submetida a
novo julgamento para reformar, anular, esclarecer ou integralizar uma decisão.
Os recursos retardam a produção de efeitos da coisa julgada. Enquanto houver recurso
pendente, a decisão não se torna definitiva nem seus efeitos imutáveis. Recurso é espécie do
gênero remédios.
Fatores de Criação dos Recursos:
a) Natural inconformismo humano.
b) Possibilidade de erro nas decisões (finalidade corretiva). Mais do que isso, a utilidade
preventiva, pois o magistrado que sabe que será examinado tomará maior cuidado ao
proferir sua decisão.
c) Interesse do Estado na correta aplicação do direito no caso concreto.
d) Uniformização da aplicação do direito, pois decisões diferentes em casos análogos
geram desprestígio ao Poder Judiciário. É por esses motivos que se aplica, em nosso
ordenamento, o duplo grau de jurisdição.
O artigo 496 do Código de Processo Civil diz quais os tipos de recursos vigentes em
nosso ordenamento, porém suas espécies ou formas de interposição não foram nele
referidas. Não alude agravo retido nem de instrumento, apenas agravo. Não fala do
recurso adesivo, que não é modalidade, mas forma de interposição.
OBS: O fato do legislador, no art. 496, haver enumerado os recursos dá a impressão de
taxatividade, de interpretação restritiva, isso porque o caput do artigo fala em “seguintes
recursos”. Entretanto, o sistema recursal não se exaure nesse artigo. É bom que se lembre do
sistema recursal do juizado especial criminal e dos embargos infringentes da Lei de Execução
Fiscal.
Trata-se de direito de ação desenvolvido dentro do processo. Não se trata de ação
autônoma, mas de direito de ação desenvolvido no curso do processo. É necessário
voluntariedade, ou seja, vontade de recorrer, ninguém é obrigado a recorrer.
A Constituição Federal de 1988 em seu art. 22, I, outorgou competência exclusiva à
União para legislar sobre matéria processual. Logo, só existem recursos criados por lei
federal. Assim, tanto o Código de Processo Civil como as legislações extravagantes
podem criar (e criaram) novos recursos (LEF, ECA, JEC, entre outros).
Diferenças entre Recursos e Ações Autônomas:
Não se pode confundir recurso com os outros meios de impugnação das decisões
judiciais. De fato existem semelhanças, já que ambos objetivam a impugnação destas. Durante
muito tempo tentou-se distinguir recurso de ações autônomas pelo critério da coisa julgada.
Assim, se o processo ainda estivesse em curso, a medida judicial seria o recurso, caso
contrário, seria necessário ações autônomas.
Mas essa não é a melhor definição, já que o mandado de segurança, que não é
recurso, cabe antes do trânsito em julgado contra ato judicial (Lei 11.212/2009, art. 5º).
Recursos: Os recursos não criam, ao contrário das ações autônomas, uma nova relação jurídica
processual (novo processo), mas sim prolongam a vida útil do processo, retardam a coisa
julgada. Pontes de Miranda dizia que apenas se recorrem de processos vivos. Dependem da
vontade das partes, seguem na mesma relação jurídico-processual e não têm como
pressuposto o vício da decisão, e sim a decisão desfavorável (sucumbência).
Ações Autônomas de Impugnação: É necessário que se forme outra relação processual, visam
à reforma de uma decisão, mas devem ter por fundamento um vício, p. ex., mandado de
segurança2, ação rescisória, embargos de terceiro, querela nullitatis, e a reclamação
constitucional.
2 O mandado de segurança somente será cabível contra decisão judicial conquanto não caiba nenhum
recurso no caso concreto (art. 5º, da Lei 12.016/2009 e súmula 267 do STF).
Classificação dos Recursos:
Existem duas sub-classificações, Recursos Ordinários e Recursos Extraordinários e Recursos de
Fundamentação Livre e de Fundamentação Vinculada.
Os extraordinários têm como função tutelar o direito objetivo, os ordinários visam tutelar o
direito subjetivo dos recorrentes.
Recursos Extraordinários: também chamados de excepcionais ou de estrito direito, não
buscam a correção da justiça da decisão. Visam, tão só, averiguar se a lei foi corretamente
aplicada ao caso. É para evitar o antagonismo de decisões na interpretação das leis que
servem esses recursos.
Imagine uma ação em que servidores cobram da Administração Pública, em juízo,
diferenças salariais que deveriam ter sido incorporadas aos seus vencimentos. É comum alguns
juízes concederem a incorporação e outros tantos, não. Inequivocamente esses servidores
terão de conviver com uma situação inusitada: pois uns recebem por exercer a função e
outros, que exercem a mesmíssima função, não, mesmo se enquadrando na mesma realidade
fático-jurídica.
Essas peculiaridades fazem com que esses recursos possuam um juízo de
admissibilidade diferenciado, muito mais complexo que os demais. Como não visam à tutela
do direito subjetivo, o próprio ordenamento impõe uma série de condições específicas
inerentes apenas a eles. Assim, p. ex., não examinam matéria fática, é necessário o
esgotamento de todos os recursos ordinários, e não julgam matéria que não foi decidida
anteriormente (prequestionamento).
São considerados recursos extraordinários em nosso sistema: Recurso Especial, Recurso
Extraordinário e Embargos de Divergência.
Recursos Ordinários: Não são excepcionais e visam à tutela do direito subjetivo das partes. O
problema não é a correta aplicação da lei, mas sim a correção da decisão. Basta, para esses
casos, que seja alegada a injustiça da decisão, que constitui um móvel para o interesse
recursal. Esses recursos permitem ampla revisão da matéria fática e probatória. São exemplos,
a apelação, os agravos, os embargos infringentes e de declaração.
Recursos de Fundamentação Vinculada à lei exigem a presença de determinados requisitos
para que tenham cabimento. Baseiam-se, obrigatoriamente, em motivos predeterminados,
assim, não basta a existência de uma decisão; é necessário que nessa decisão haja algum
requisito específico que integre o cabimento do recurso.
Os embargos de declaração necessitam de uma contradição, obscuridade ou omissão.
O recuso especial pressupõe não só a existência de um acórdão, como também que haja –
nesse acórdão – violação à lei federal. O mesmo se aplica ao recurso extraordinário, que impõe
violação à Constituição Federal (mesmo que para esse recurso a decisão não precise
necessariamente de um acórdão).
Quanto aos Recursos de Fundamentação Livre são todos os demais. Não se prendem a
determinado defeito ou vício da decisão. Qualquer que seja o problema, sempre será cabível o
recurso, desde que seja daquela específica decisão. Assim, para a apelação basta a existência
da sentença, mesmo que esta não tenha vício algum, o interesse de agir do autor reside
justamente na incompatibilidade da decisão prolatada com a tutela pretendida.
Duplo Grau de Jurisdição:
Antes de tudo, necessário se evitar um erro comum na doutrina, o de confundir os
conceitos de Grau de Jurisdição com Instância. Instância é termo ligado à organização
judiciária, sendo certo que na estrutura do judiciário existem órgãos hierarquicamente
inferiores e superiores. Tem função estática.
Assim, uma ação de despejo corre em primeiro grau de jurisdição na primeira
instância. Aquele que foi sucumbente poderá interpor recurso de apelação para o segundo
grau de jurisdição na segunda instância, mas nem sempre é assim.
Pode ocorrer de um processo estar em primeiro grau de jurisdição na segunda
instância; p.ex., a ação rescisória; como também em segundo grau de jurisdição na primeira
instância, como nos juizados especiais criminais.
Grau de Jurisdição é o contato que o judiciário tem com a causa (o primeiro contato
refere-se ao primeiro grau de jurisdição; o segundo contato com o segundo grau, e assim por
diante). Tem função dinâmica.
O duplo grau de jurisdição tem íntima relação com a preocupação de evitar o abuso de
poder pelo juiz, que poderia ocorrer se não houvesse um controle. Um juiz único poderia
tornar-se despótico, conforme advertência de Montesquieu, já que saberia que ninguém iria
interferir na sua decisão.
Importante ressaltar que a Constituição do Império, de 1824, previa em seu art. 158 o
duplo grau de jurisdição. Todas as Constituições que advieram posteriormente, inclusive a
atual, não dispuseram sobre esse princípio.
A atual CF, em seu art. 5º, LV, assegurou a todos o direito ao contraditório, à ampla
defesa e aos recursos a ele inerentes, mas não indicou expressamente o princípio do duplo
grau. Por isso alguns autores entendem que o referido princípio não pode ser alçado à
categoria constitucional.
Resumidamente, argumentos de quem é contra o princípio:
a) Dificuldade do Acesso à Justiça: prolongamento do processo, elevação das custas. É o
duplo grau uma boa desculpa para o réu que não tem razão, pois o processo se torna
mais demorado com infindáveis recursos.
b) Desprestígio da primeira instância: dada a ampla possibilidade de submeter sua
decisão a reexame pelo segundo grau, o juiz monocrático perde sua importância.
c) Quebra da unidade do poder jurisdicional: Gera insegurança. Se a decisão
monocrática for retificada pelo tribunal, é sinal de que de nada serviu. Se for
ratificada, qual foi a função do tribunal? Seja qual for a decisão, gera descrédito.
d) Afastamento do princípio da imediatidade: é o juiz de primeiro grau que toma
contato direto com as provas orais e tem melhores condições de dizer o direito, não o
tribunal.
O entendimento majoritário é de que o princípio do duplo grau foi contemplado pelo
sistema, seja porque a CF prevê a existência de tribunais, seja porque está ligado à ideia de
Estado de Direito, que contém em si dupla função: a) quanto ao particular que pode manusear
recursos para exercer o controle; e b) quanto ao Estado, cujos órgãos superiores fiscalizam os
inferiores.
As principais teses de defesa do duplo grau são:
a) Os juízes, sabedores de que serão submetidos a controle, tomam maior cuidado em
suas decisões.
b) A revisão será feita por juízes mais experientes; por juízes que passaram por
julgamentos análogos.
Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito:
Assim como para o ajuizamento de uma causa é necessário preencher alguns
requisitos (pressupostos processuais e condições da ação), também os recursos devem
preencher alguns requisitos, sem os quais não serão apreciados.
Chama-se juízo de admissibilidade o que declara a aptidão do recurso para ser
analisado. Chama-se juízo de mérito a verificação da matéria de fundo, ou seja, a existência ou
não de fundamento acerca daquilo que se postula.
Varia a forma como se realiza o juízo de admissibilidade, variação essa prevista em lei.
Entretanto existe, a despeito das vicissitudes, um sistema básico como regra geral.
O juízo de admissibilidade tem natureza de questão preliminar, e não de questão
prejudicial. É preliminar, uma vez que a ausência dos requisitos impede a apreciação do
recurso a ele vinculado. As prejudiciais apenas influenciam no teor da decisão. Tanto as
preliminares como as prejudiciais constituem espécie de gênero maior, as questões prévias.
O juízo de admissibilidade no Brasil é exercido em regra, em duas etapas: a primeira,
pelo juízo monocrático que proferiu a decisão recorrida e a segunda, pelo órgão ad quem
quando do julgamento efetivo do recurso. A decisão do órgão ad quem, evidentemente
prevalece sobre a decisão do órgão originário. Ademais, as decisões não possuem nenhum
grau de vinculação. O tribunal não precisa ratificar o exame de admissibilidade do órgão
inferior, podendo analisar novamente os pressupostos e constatar a ausência de algum
requisito que passou despercebido pelo órgão a quo.
Sua finalidade é evitar a remessa dos autos ao órgão ad quem nos casos em que o
recurso é manifestamente inadmissível. Assim, em observância ao princípio da economia
processual, exerce um controle prévio para evitar o funcionamento desnecessário dos
tribunais.
Tem-se uma exceção o agravo de instrumento, de resto, todos os demais recursos são
interpostos perante a autoridade que prolatou a decisão, permitindo, portanto, um duplo juízo
de admissibilidade: um juízo daquele que proferiu a decisão, outro daquele que julgará o
mérito. Novamente, o tribunal não fica vinculado à decisão proferida pelo juízo a quo.
Vigora em nosso sistema a dualidade de órgãos, ou seja, um órgão julga a
admissibilidade e outro julga o mérito. Normalmente o órgão inferior não pode adentrar o
mérito, sob pena de usurpação de competência.
OBS: Nos embargos de declaração e nos embargos infringentes da Lei de Execução Fiscal,
contudo, aquele que decide sobre a admissibilidade é exatamente aquele que vai julgar o
mérito; portanto, uma exceção.
OBS2: As expressões são “conhecer” e “não conhecer”, para a admissibilidade e “dar” e
“negar” para o mérito.
Pressupostos:
O juízo de admissibilidade pode ser (pressuposto objetivo) pertinente ao recurso que se
interpõe ou referente à pessoa que recorre (pressuposto subjetivo).
Pressupostos Objetivos.
a) Recorribilidade: Para que se possa recorrer, o ato que se enfrenta deve ser recorrível.
É necessário saber quais atos praticados pelo juiz no processo e, consequentemente,
aplicar-lhes o recurso cabível.
Atos que o juiz exerce ao longo do processo:
Sentenças: atos recorríveis;
Decisões interlocutórias: recorríveis sempre que o juiz, no curso do processo, resolver situação
que possa causa prejuízo a uma das partes;
Despachos: não são recorríveis, porque, por eles não se resolvem questões, apenas propiciam
a movimentação do processo sob determinadas diretrizes dadas pelo juiz.
Atos Ordinatórios: antes atos exclusivos do juízes, hoje praticados por auxiliares da justiça,
também não cabem recurso, no máximo podem ser revistos pelo juiz quando necessário.
Acórdão: os acórdãos podem ser decisões interlocutórias ou sentenças, vai depender se
resolvem questões incidentes, ou se pronunciarem de acordo com o conteúdo dos arts. 267 ou
269.
b) Tempestividade: é a exigência de que o recurso interposto seja apresentado no prazo.
Este prazo é peremptório e insuscetível de dilação convencional.
c) Cabimento (adequação): Sendo recorrível o ato, cumpre verificar qual o recurso é o
adequado para aquela situação. Em observância ao princípio da fungibilidade, havendo
equívoco sobre o recurso correto a ser impetrado, o juiz pode converter o recurso
errado no apropriado.
d) Inexistência de fato impeditivo ou extintivo para recorrer: Profere-se juízo de
admissibilidade negativo3 quando existir algum fato que impeça ou extinga o direito da
parte recorrer. São requisitos verificados dentro do processo (endoprocessualmente).
Os fatos extintivos são a renúncia ao recurso e a aquiescência à decisão. Os fatos impeditivos
são a desistência do recurso ou da ação, o reconhecimento jurídico do pedido ou a renúncia ao
direito sobre que se funda a ação.
Fatos Extintivos.
Renúncia: Negócio jurídico de disponibilidade de uma posição jurídica em que a parte abre
mão direito de recorrer. Pode ser manifestada expressa ou tacitamente. Deve ser interpretada
restritivamente e não se presume, por se tratar de uma extinção de direitos.
É negócio jurídico unilateral, independe da outra parte para que seus efeitos sejam gerados
imediatamente.
Aquiescência: É a prática de ato capaz de demonstrar a conformação quanto à decisão
desfavorável. Aliás, é que o que preconiza o CPC: “Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou
tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer. Parágrafo Único. Considera-se
aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de
recorrer”.
Quem aquiesce a uma decisão, curva-se diante dela, aceitando-a. A renúncia é ato de
vontade; a aquiescência é ato de conformismo, e pode ser expressa quando a parte pratica ato
incompatível com o recurso. Bons exemplos de aquiescência: a entrega das chaves pelo
locatário, na ação condenatória do despejo; e efetuar o pagamento, na ação de indenização.
Fatos Impeditivos:
Desistência da ação é ato de natureza processual em que o autor abre mão do
processo. Abre mão de sua condição processual ativa que adquirira com a propositura da
demanda. A iniciativa da desistência da ação cabe ao autor, que tem de contar com a anuência
do réu caso já tenha transcorrido o prazo para a resposta.
Trata-se, portanto, de ato bilateral, que apenas se aperfeiçoa com a manifestação da
parte contrária. Difere da renúncia ao direito, pois nesta o autor renuncia ao direito da própria
pretensão; naquela, apenas daquele processo. Com a aceitação do réu, gera um efeito
vinculativo ao juiz, que é obrigado a homologar a extinção.
Havendo reconhecimento ou renúncia ao direito, não poderá apresentar recurso, por
motivo lógico, porque o ato de disposição do direito material é incompatível com a vontade de
recorrer, salvo se o recurso versar sobre a invalidade do reconhecimento ou da renúncia do
direito.
Desistência do Recurso é ato unilateral (art. 501), em que, após a interposição do
recurso, manifesta a parte ao juiz o interesse em não vê-lo julgado. A desistência pressupõe
3 É o único, pois todos os requisitos de admissibilidade têm natureza positiva. Deve existir o preparo; o
recurso deve ser interposto no prazo legal.
recurso já interposto, quando a lei fala “a qualquer tempo” quer limitar a desistência da
interposição do recurso até o momento do julgamento.
Assim como a renúncia, a desistência não necessita de homologação judicial, basta que
a parte protocolize a sua intenção. Os efeitos se produzem a partir do momento em que é
exteriorizada. A desistência pode ser expressa ou tácita: tácita é quando a parte pratica ato
incompatível com o recurso já interposto.
e) Singularidade: cada decisão comporta um recurso específico. As exceções se
encontram nos artigos do CPC 498 e 541
f) Preparo: alguns recursos estão sujeitos a preparo, ou seja, as despesas processuais
correspondentes ao recurso interposto. Entenda que o CPC não disciplina a
obrigatoriedade do preparo, mas o regimento de custas de cada Estado. Se a parte
tiver recolhido valor insuficiente, o juiz mandará que o complemente em cinco dias
(art. 511, §2º) a deserção só poderá ser desconsiderada por justo impedimento. O MP
e a Fazenda Pública não recolhem preparo, porque têm isenção legal, assim como as
pessoas beneficiadas pela assistência judiciária (Lei 1.060/50).
Pressupostos Subjetivos:
São requisitos pertinentes à pessoa que recorre.
a) Legitimidade: para ajuizar uma ação a parte precisa ter legitimidade ad causam. Sem o
preenchimento dessa condição o pedido formulado (mérito) não poderá ser
apreciado. Como o recurso constitui uma extensão ao direito de ação, também se
exige que a parte tenha legitimidade. Assim, para que o recurso seja admissível é
necessário que a parte que o interpôs seja qualificada para tal.
A legitimidade visa separar as pessoas que podem recorrer daquelas que não podem. A
legitimidade é permanente, alguém a adquire pela simples condição de ser parte, e ela
perdura enquanto permanecer nessa situação.
Quem pode recorrer:
As partes: autor e réu, opoente, o denunciado à lide, o chamado ao processo, o nomeado à
autoria e o assistente. O assistente litisconsorcial tem legitimidade autônoma para recorrer,o
STJ entende que o assistente simples recorre na qualidade de terceiro prejudicado e não de
parte.
Ministério Público: Seja como titular da ação seja como fiscal da lei. Mesmo que o MP já tenha
comparecido aos autos alegando que não participará, ainda assim sua legitimidade está
presente. Seu recurso independe do recurso apresentado pela parte vencida. Pode interpor
recurso adesivo, salvo se estiver atuando como fiscal da lei, já que o referido recurso
pressupõe “sucumbência recíproca” e o MP não sofre sucumbência quando custus legis. O MP
poderá recorrer mesmo quando indeferida sua intervenção.
Terceiro Prejudicado, União, Advogado, o advogado não é parte nem terceiro, portanto, não
possui legitimidade para recorrer, de regra. Sua única função é ser representante judicial da
parte. Importante questão que se apresenta na prática é a legitimidade para recorrer dos
honorários advocatícios arbitrados em sentença.
b) Interesse: a parte além de possuir legitimidade, necessita ter interesse para recorrer.
O interesse recursal segue os mesmo critérios que o interesse de agir como condição
da ação. É preciso demonstrar que a via recursal é o único meio possível para atingir o
objetivo pretendido.
A existência da sucumbência que move o interesse. A demonstração do interesse é inferida
objetivamente, não basta apenas demonstrar o inconformismo, é necessário demonstrar a
situação de desvantagem que a sentença produziu.
Art. 577 CPC: “Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na
reforma ou modificação da decisão”.
Mérito Recursal:
Sendo positivo o juízo de admissibilidade, o órgão ad quem procederá à apreciação do mérito
recursal. O mérito do recurso é a pretensão recursal, ou seja, aquilo que se pede. A pretensão
pode ser a reforma, a invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão.
Causa de Pedir:
Como qualquer demanda os recursos têm uma causa de pedir. A causa de pedir
recursal constitui-se do fato jurídico apto a autorizar a reforma, invalidação,
integralização ou esclarecimento da decisão recorrida.
Assim é importante verificar qual o tipo de vício que enseja o reexame do ato judicial
impugnável. A argumentação pode ser de reforma ou invalidação dos erros praticados pelo
juízo na sentença, respectivamente denominados error in iudicando e error in procedendo.
Error in iudicando é o erro no julgamento, erro de juízo. Trata-se da má apreciação da questão
de direito ou da questão de fato. Requer-se, pois a reforma da decisão.
Error in procedendo é o vício de atividade, um defeito na decisão que a torna apta a ser
invalidada. Observe: uma coisa é a decisão errada, a qual o tribunal pode corrigir. Outra, é a
decisão defeituosa, que deve ser invalidada para que seja proferida uma nova.
Esse vício não está ligado ao conteúdo da decisão, mas à forma, já que não ataca o seu
acerto. Enquanto os vícios de juízo guardam referibilidade com o direito material, os vícios de
atividade têm observância no direito processual.
O vício de atividade ocorre quando o juiz desrespeita norma de procedimento
provocando gravame à parte. São exemplos o ato de designar perícia e não intimar a parte
para apresentar quesitos, julgar antecipadamente o mérito quando ainda pendente de provas,
pronunciar-se a respeito de determinado fato já alcançado pela preclusão, ou ainda a ausência
de fundamentação da decisão.
Recurso Adesivo (art. 500 CPC).
Diz o referido artigo: “Cada parte interporá o seu recurso, independentemente, no prazo e
observadas as exigências legais (...)”. Infere-se da leitura deste artigo, que a parte,
individualmente, interporá seu recurso no prazo, observadas as exigências legais; contudo, se
as partes sucumbirem reciprocamente, é possível a interposição no prazo das contrarrazões de
recurso adesivo.
Exemplo: Adjanaxkleber (A) ajuíza ação de cobrança contra Buíque (B), a fim de receber a
quantia de R$: 5.000,00. Na sentença, o juiz julga parcialmente procedente o pedido de “A”,
condenando Buique a pagar R$: 2.500,00. “A” entende que a sentença foi justa e não recorre
dela, contudo Buíque interpõe recurso. Para evitar a reforma da sentença (reformatio in pejus)
em razão do recurso interposto, no prazo das contrarrazões, “A” poderá recorrer
adesivamente. Por esse motivo, afirma-se que o recurso adesivo não é espécie de recurso, pois
não se encontra enumerado no rol do art. 496, mas fica atrelado ao recurso da parte contrária,
chamado principal.
O recurso é adesivo é cabível em apelação, embargos infringentes, recurso especial e
extraordinário (art. 500, II CPC).
Dá-se a interposição no prazo para contrarrazões do recurso da outra parte.
É dependente do recurso principal.
O MP e terceiros não podem recorrer, pois a lei menciona apenas autor e réu.
Efeitos dos Recursos: As consequências jurídicas que resultam para o processo da interposição de um recurso.
Impedimento do trânsito em julgado:
Alguns autores preferem dizer que os recursos retardam o trânsito em julgado.
Efeito Devolutivo:
Entende-se por efeito devolutivo a transferência ao órgão ad quem do conhecimento
da matéria impugnada, com o objeto de reexaminar a matéria recorrida. É comum a todos os
recursos, e é manifestação do princípio dispositivo.
Pelo princípio dispositivo e pelo princípio da inércia, o juiz não pode agir de ofício, e
depende da provação do interessado para atuar no caso concreto (art. 2º, 262, 128 e 460 CPC).
Com a conjugação de ambos os princípios cria-se um novo, denominado princípio da
congruência ou da adstrição, o qual veda ao magistrado julgar acima, abaixo ou fora do
pedido.
Fazendo um transporte para a esfera recursal, que nada mais é que uma renovação do
direito de ação, tem-se o efeito devolutivo.
Ao contrário da permissibilidade em primeiro grau (CPC, art. 286), o tribunal não
admite recurso genérico, devendo a parte manifestar-se precisamente sobre o gravame
sofrido (princípio da dialeticidade).
O objeto da devolutividade constitui o mérito do recurso, mesmo que este verse sobre
matéria processual, ou mesmo que essa matéria tenha sido prelimiar em primeira instância.
Importante: a devolutividade não quer dizer remessa a outro órgão, pois existem recursos que
serão examinados pelo próprio prolator.
O efeito devolutivo pode ser:
Imediato: é aquele que a devolutividade se opera de plano, imediatamente, para o órgão
destinado à análise do recurso (agravo de instrumento, embargos de declaração).
Gradual: a devolução será gradual. Primeiro se estabelece o exame de admissibilidade no
órgão que proferiu a decisão, para, somente após, autorizar a remessa para o órgão que fará a
análise do mérito. É a regra em nosso ordenamento (apelação, recurso especial, recurso
extraordinário, recurso ordinário constitucional).
Diferido: são casos em que a admissibilidade e o julgamento do recurso são diferidos para
outra oportunidade. O recurso fica condicionado a evento futuro e incerto para a sua
efetivação no processo (agravo retido, que depende de reiteração na apelação, e os recursos
especial e extraordinário retidos, que, igualmente, dependem dessa ratificação quando da
interposição dos recursos da decisão final).
Limitado: Há casos em que o efeito devolutivo é limitado, a despeito de a decisão demonstrar
que a sucumbência foi maior e a parte demonstrar o interesse em recorrer de toda a decisão.
São situações em que a própria lei limita a devolução da matéria (embargos infringentes, que
ficam limitados à matéria objeto da divergência, mesmo que o acórdão constate que a
sucumbência foi maior).
Efeito Suspensivo:
Adiamento da produção dos efeitos da decisão impugnada até que o recurso seja
efetivamente julgado. Em decorrência desse efeito o comando emergente da decisão não
pode ser executado ate que transite em julgado o recurso.
Assim, com a publicação do ato, passa a correr o prazo para a interposição do recurso.
Se aquele recurso previsto no ordenamento tiver efeito suspensivo, deve-se aguardar para ver
se será ou não interposto. Enquanto isso a decisão não produz efeitos. Somente se a parte não
interpuser recurso a decisão passa a produzir efeitos.
Se a impugnação da decisão for parcial, a suspensividade atingirá somente a parte
recorrida, podendo executar (via carta de sentença) a parte que não o foi, desde que a parte
recorrida seja independente daquela de que não se recorreu.
OBS: três circunstâncias em que o recurso pode obter a concessão do efeito suspensivo: 1)
quando o recurso já tiver previsão deste efeito, p. ex., apelação; 2) quando depender da
concessão do juiz. Assim, os recursos que não tiverem essa previsão poderão receber o efeito
suspensivo desde que requerida pela parte e verificado o relevante fundamento; 3) por meio
de ação cautelar, é possível socorrer-se desta ação para requerer o efeito suspensivo (art. 800,
parágrafo único CPC), aplicável ao recurso especial e extraordinário, que por força do art. 542,
§2º não possuem o efeito suspensivo. Em nenhuma hipótese é cabível em mandado de
segurança.
Efeito Regressivo ou Retratação:
A faculdade que alguns recursos têm de atribuir ao órgão a quo a possibilidade de
reconsiderar a decisão recorrida. De regra a matéria sempre será analisada pelo órgão ad
quem.
Efeito Expansivo:
Por força do efeito devolutivo, o juiz deve apreciar o recurso nos limites da extensão
em que ele foi interposto. Há casos, contudo, em que o julgamento vai além. Assim, o objeto
da decisão ultrapassa os limites daquilo que foi impugnado pelo recorrente. Isso ocorre por
força do efeito expansivo, que pode ser subjetivo ou objetivo.
Há o efeito expansivo subjetivo quando,embora o recurso tenha sido interposto por
apenas um dos litisconsortes, a todos aproveita. Seja porque se trata de litisconsorte unitário,
seja porque, mesmo sendo simples, a sentença deverá ser igual para todos; não pode
beneficiar apenas um.
Já o efeito expansivo objetivo poderá ser interno ou externo.
Será expansivo objetivo interno quando a decisão for mais ampla do que a matéria
impugnada, mas produzir efeitos somente para dentro do recurso. Assim, dando provimento a
apelação, o tribunal acolhe preliminar de litispendência que atingirá toda a sentença.
Será expansivo objetivo externo quando a decisão produz efeitos para fora do
recurso. Com a interposição do agravo de instrumento, o seu eventual provimento pode fazer
com que a decisão em primeiro grau seja revogada, bem como todos os atos decorrentes dela,
que deixarão de produzir efeitos.
Efeito Translativo:
É a permissibilidade de o tribunal conhecer de matérias que não foram objeto de
recurso ou contrarrazões, e, portanto, que não estão sujeitas ao limite do efeito devolutivo,
que guarda referibilidade com o princípio dispositivo. Essas matérias são consideradas de
ordem pública, o que lhes confere a permissibilidade de apreciação independente de
provocação.
Efeito Substitutivo:
Art. 512 CPC: “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão
recorrida no que tiver sido objeto de recurso”.
Essa regra significa que, uma vez admitido o recurso, mesmo que a ele se tenha
negado provimento, o acórdão do tribunal terá substituído a decisão recorrida. É fundamental
que o recurso tenha sido admitido, pois a admissão autoriza ao órgão julgador excursionar
sobre o mérito.
“A decisão que julgar o recurso sempre prevalecerá sobre a decisão recorrida,
independentemente de seu conteúdo”. Logo, não se admite o efeito substitutivo em duas
situações: a) quando o recurso não for admitido, e b) quando a decisão tiver a função de
invalidar a decisão recorrida (error in procedendo), já que nesses casos não haverá função
rescindente e não haverá decisão que prevaleça (não haverá o que substituir), pois a decisão
recorrida será expurgada do mundo jurídico, devendo ser proferida uma nova.
Recursos em Espécie:
Apelação:
A apelação é cabível em todos os procedimentos: comum (ordinário e sumário) ou
especial. Tanto nos de jurisdição contenciosa quanto nos de jurisdição voluntária (art. 1.110
CPC).
É recurso que se interpõe contra sentença (CPC: arts. 162 §1º, 513, 267 e 269).
A apelação em regra é cabível contra qualquer sentença (513).
Exceções:
a) Sentença do juizado especial cível, que comporta recurso inominado (art. 41 da lei
9.099/95)
b) Sentença que julga os embargos na Lei de Execução Fiscal nas condenações até 50
OTN’s (art. 34 da lei 6.830/80). Dessa decisão cabem embargos infringentes de alçada
do próprio juiz prolator da sentença.
c) Das sentenças que figuram como partes Estado estrangeiro/organismo internacional
contra município ou pessoa residente/domiciliada no Brasil. Dessa sentença da justiça
federal caberá recurso ordinário constitucional (art. 37 da lei 8.038/90).
Efeitos da Apelação:
Sobre o efeito devolutivo: após o exame de admissibilidade, abre-se a oportunidade para
apreciação de mérito pelo órgão ad quem (CPC, art. 514, III).
O princípio da adstrição da sentença ao pedido (arts. 128 e 460 CPC) determina que o
magistrado deve julgar em congruência com aquilo que foi formulado. Essa regra, com os
devidos reparos, pode ser transportada para o campo recursal, e recebe o nome de efeito
devolutivo. Dessa forma, o material transportado ao tribunal para estabelecer o trabalho a ser
exercido na fase recursal depende de manifestação da parte.
Compete à parte eleger as matérias que serão “devolvidas” ao tribunal. Assim, se
Marcos foi sucumbente no valor de R$: 1.000,00, mas apelou apenas metade, somente essa
parte recorrida será objeto de apreciação pelo tribunal ad quem.
Ao receber a apelação o juiz deve declarar os efeitos em que a recebe, segundo a lei.
Como regra, o magistrado recebê-la em seu duplo efeito, devolutivo e suspensivo. A exceção
dessa regra encontra-se no artigo 520 CPC. Não havendo efeito suspensivo, a parte vencedora
poderá requerer o início da execução provisória, segundo o art. 521 do CPC.
São recebidas somente no efeito devolutivo as sentenças:
a) Que homologarem divisão e demarcação de terras.
b) Que condenarem em alimentos
c) Que julgarem processo cautelar
d) Que rejeitarem liminarmente ou julgarem improcedentes os embargos à execução.
e) Que deferirem a instituição de arbitragem
f) Que confirmarem os efeitos da tutela antecipada.
Limitações decorrentes do efeito devolutivo:
1) Impedimento de trazer matérias que não foram requeridas ao juízo a quo (vedação ao
jus novorum).
2) Limitação do tribunal impugnado.
3) Proibição da reformatio in pejus. Afinal, se o tribunal apenas está limitado ao que foi
requerido e este sempre será para melhorar a decisão, não poderá o tribunal agravar
aquilo que foi decidido em primeiro grau.
Processamento:
A apelação é feita mediante petição dirigida ao juiz prolator da sentença. Será dada
vista ao apelado para respondê-la no Prazo de 15 dias (o prazo das contrarrazões é igual ao
prazo de interpor apelação).
O juiz também verificará a admissibilidade da apelação, ou seja, verificará se apelação
está no prazo, se possui preparo etc.; logo após, concederá os efeitos em que a apelação será
recebida (como regra, seu duplo efeito, devolutivo e suspensivo).
Contra a decisão que não acolhe a apelação, cabe apenas agravo de instrumento (no
prazo de 10 dias). Se a sentença do juiz estiver baseada em súmula do STJ ou do STF, o
magistrado poderá não receber a apelação; é uma espécie de súmula impeditiva de recurso.
O julgamento será feito no tribunal colegiado.
Agravo:
O agravo é o recurso oponível contra as decisões interlocutórias, ou seja, os atos do
juiz que, no curso do processo, solucionam questões incidentes.
Importante: Com a reforma da lei do agravo diante de todas as decisões interlocutórias, cabe
agravo retido.
Apenas caberá agravo de instrumento em cinco situações:
1) Nas decisões de dano de difícil ou incerta reparação (decisões de urgência); no
exemplo da concessão ou não concessão de medidas liminares.
2) Na decisão que não admitir a apelação, ou seja, não determinar que ela suba
(porque está fora do prazo).
3) Nas decisões sobre os efeitos da apelação – os efeitos da apelação decorrem da lei
(efeitos ope legis) e geralmente esse recurso é recebido em seu duplo efeito.
Ocorre que nem sempre os efeitos concedidos são desejados pelo apelante. É possível haver a
necessidade de execução provisória (querendo somente o efeito devolutivo) ou a imediata
suspensão da sentença (duplo efeito). Dessa forma caberá agravo de instrumento.
4) Na decisão que julgar liquidação de sentença
5) Na decisão que julgar impugnação à execução.
Essas cinco situações podem ser resumidas em duas (facilitando para se fazer o exame
da ordem): As decisões de urgência e todas as decisões após a sentença (que abrangem as
outras quatro situações).
Exemplo: Depois de proferida a sentença do juiz, a parte entra com apelação, porém o juiz não
recebe a apelação por achar que esta não preencha um dos requisitos. Este é um caso de
decisão interlocutória após a sentença, dando espaço para o Agravo de Instrumento.
Agravo Retido:
Interposto contra decisões interlocutórias. Seu processamento não ocorrerá
imediatamente no tribunal, ficará retido, nos autos, até a sentença. Quando for interposta a
apelação, o agravo subirá para que seja apreciado em preliminar.
O agravo será endereçado ao próprio juiz da causa no prazo de 10 dias e ficará retido
até a decisão final (sentença).
Quando de sua interposição ao juiz, é facultado retratar-se.
Segue a sorte do recurso principal, se apelação não subir, o agravo também não sobe.
Ao subir, o agravo deverá ser apreciado antes da apelação no tribunal.
O recorrente deverá, nas razões ou contrarrazões de apelação, reiterar a existência do
agravo, sob pena de desistência tácita.
O agravo será obrigatoriamente retido e oral nas audiências de julgamento e
instrução.
Exemplo: O juiz não permite que uma testemunha seja ouvida (decisão interlocutória contrária
ao interesse da parte, agravo retido). A parte ganha a causa, o agravo não precisa subir para o
tribunal porque não houve dano para a parte.
Agravo de Instrumento:
Nas hipóteses em que seu cabimento se fizer necessário, será processado diretamente
no tribunal, permanecendo os autos do processo em primeiro grau.
O agravo de instrumento é o ÚNICO recurso do Direito Brasileiro, que o Tribunal que
receber o recurso, não terá em suas mãos o processo. Todos os outros sobem para o tribunal
junto com o processo, neste caso sobem apenas as razões, permanecendo o processo em
primeiro grau. Porém a lei exige que a sejam feitas cópias de peças do processo, formando um
“instrumento” que irá para o tribunal (ad quem).
Art. 524 CPC: afirma que a petição de agravo será endereçada diretamente ao tribunal
competente, contendo os seguintes itens:
a) Exposição do fato e do direito
b) Razoes do pedido de reforma
c) Nome e endereço completo dos agravados (agravante e agravado).
O artigo 525 indica quais são as cópias que deverão instruir o agravo de instrumento:
a) Obrigatoriamente, com a decisão agravada, certidão de intimação dessa decisão e as
procurações dos advogados.
b) Facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis.
Depois de distribuir o agravo diretamente no Tribunal, o recorrente requererá a
juntada, no processo em primeira instância, da cópia do agravo, devidamente protocolizada,
com a relação dos documentos que o instruíram (art. 526 CPC), no prazo de três dias. Trata-se
de uma norma obrigatória, sob pena de não conhecimento do recurso.
Deve ocorrer imediatamente a distribuição do agravo no Tribunal, inclusive ao relator
sorteado, para que pratique os seguintes atos:
1) Negar seguimento ao agravo liminarmente (557). Caso o relator verifique algumas das
possibilidades enumeradas no art. 557, poderá negar seguimento ao agravo, conforme
se lê: “O relator negará seguimento a recurso inadmissível, improcedente, prejudicado
ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do
STF ou STJ”.
2) Converterá agravo de instrumento em retido, salvo quando houver lesão grave ou de
difícil reparação. Esse inciso foi modificado pela nova lei e ocorrerá sempre que o
relator não vislumbrar a urgência que motivou o agravante a buscar a forma de
instrumento. Claro que esta conversão não ocorrerá nos casos de urgência.
3) Conferir efeito suspensivo (558) ou deferir a antecipação da pretensão recursal: O
agravo é recebido somente no efeito devolutivo, mas, por vezes, a requerimento da
parte, o juiz poderá dar efeito suspensivo. Entretanto, em alguns casos, é necessário
não somente suspender a eficácia da decisão, como também a prática de um ato
positivo do julgador. É chamado de efeito ativo, que nada mais é do que uma terceira
forma de efeito do agravo de instrumento.
4) Informações ao juiz da causa em 10 dias para esclarecimento ou retratação.
5) Intimação do advogado para apresentar contraminuta em 10 dias.
6) Ouvir o MP em 10 dias, nas causas em que sua intervenção se faça necessária. Em 30
dias, o relator solicitará dia para o julgamento.
OBS: Das decisões que convertem o agravo de instrumento em retido caberá reconsideração
ou Mandado de Segurança.
Embargos Infringentes:
“Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime: a) houver reformado,
em grau de apelação, a sentença de mérito; b) houver julgado procedente a ação rescisória”;
art. 530 CPC.
No primeiro item o legislado limitou a abrangência do uso dos embargos, visto que,
antes da reforma, qualquer tipo de sentença impugnada por apelação cabia embargos
infringentes. Agora cabem apenas às de mérito, além disso, o acórdão deve ter reformado a
sentença.
Exemplo: Se a parte perdeu em primeiro grau, apelou e perdeu novamente em segundo grau
(mas agora por 2x1), não caberá embargos, pois o acórdão não reformou a sentença. Para que
haja embargos (p.ex.), a parte deve ter vencido a sentença, e perdido a apelação por dois
votos a um (princípio do “EU NÃO POSSO TOMAR DUAS BUCHA”).
No segundo item, só cabem embargos infringentes se a ação rescisória for julgada
procedente, diferente do que ocorria antes da reforma, quando não se dependia do resultado.
O prazo dos embargos é de 15 dias, contados da intimação do acórdão no Diário
Oficial.
OBS: os embargos atacam a conclusão do acórdão, ou seja, sua parte dispositiva, de maneira
que não lhe é lícito impugnar a fundamentação. As teses apresentadas pelos juízes, para
chegar à conclusão, não são passíveis de embargos, por isso se afirma que a divergência dos
embargos se encontra na parte dispositiva da decisão.
Exemplo: No julgamento do acórdão, dois juízes entendem que a dívida não é exigível porque
ocorreu o pagamento. O outro juiz entende que a dívida não é exigível porque ocorreu a
prescrição. No final das contas, a despeito das fundamentações distintas, não caberão
embargos infringentes, porque os três juízes convergiram para a mesma conclusão: a dívida
não é exigível.
Efeitos: Os efeitos dos embargos acompanham os da apelação. Assim, se a apelação foi
recebida (como de regra é) no seu duplo efeito, os embargos manterão esses dois efeitos cujo
objetivo é impedir a produção dos efeitos do acórdão, embargado em apelação ou em ação
rescisória. Entretanto, as apelações recebidas apenas no efeito devolutivo não permitem que
os embargos tenham efeito suspensivo.
Processamento:
1) Endereçado ao relator do acórdão, processando-se nos mesmos autos.
2) O relator abrirá vista para as contrarrazões e, depois, apreciará a sua admissibilidade.
3) Conforme dispuser o regimento interno, sortear-se-á um novo relator para o
julgamento.
Embargos de Declaração:
A regra é que todo recurso tenha por objetivo reformar uma decisão. Os embargos não
têm (necessariamente) essa finalidade.
Entende-se por embargos de declaração o recurso destinado ao juiz ou ao tribunal
prolator da decisão para que este afaste a obscuridade e contradição ou supra a omissão no
julgado que proferiu.
Observe que os embargos de declaração não visam modificar a justiça da decisão,
apenas esclarecê-la ou integralizar o julgamento no seu aspecto formal, porque a decisão
apresentou, como dito, omissão ou contradição.
OBS: São cabíveis embargos de declaração contra qualquer decisão. A jurisprudência é
pacífica, no sentido de caberem embargos de declaração contra decisão interlocutória. Cabem
até embargos declaratórios de outros embargos, desde que o vício persista na decisão.
Poderá o juízo ou o tribunal entender que os embargos são meramente protelatórios,
condenando o embargante em 1% sobre o valor da causa (art. 538, parágrafo único do CPC), e,
com a reiteração, a multa poderá atingir 10%.
O prazo para interposição dos embargos, tanto em 1ª instância, quanto em 2ª
instância, é de 5 dias, e devem ser dirigidos ao juiz relator do julgado. Não há preparo. O juiz
ou relator receberá as razões dos embargos e, sem audiência da outra parte, decidirá em 5
dias.
OBS: para não se esquecer do prazo, método para decorar: “Hilton Boenos Aires, precisa cinco
dias toda semana para poder declarar seu amor”.
Efeitos:
No sistema recursal dos embargos, existem os efeitos comuns (devolutivo e
suspensivo) e também os efeitos interruptivos e os efeitos infringentes. No que se refere ao
efeito interruptivo, os embargos de declaração interrompem a contagem do prazo para a
interposição de outros recursos.
Após o julgamento dos embargos de declaração, recomeçar-se-á a contagem dos
prazos (por inteiro) para a interposição de outros recursos. A interrupção começa a correr da
data do ajuizamento dos embargos e permanece até a decisão que o decidir.
Outro efeito é o modificativo ou infringente, que é a situação anômala dos embargos
quando modificam o teor da decisão, mesmo não sendo essa a sua função típica.
Exemplo: imagine que, na defesa de determinada ação de cobrança, o réu levante dois
fundamentos de defesa: a prescrição e o pagamento. O juiz ao julgar, esqueceu-se de ver a
prescrição e apenas verificou o pagamento, que, na opinião do magistrado, não restou
provado. Dessa forma, julgou o pedido do autor procedente. O réu embarga a declaração, já
que o juiz se omitiu em relação à prescrição. Ao analisar os embargos, o juiz verifica seu erro,
analisa a prescrição e reforma a decisão. Ocorreu o efeito infringente dos embargos.
CUIDADO: NÃO CONFUNDIR Embargos infringentes (recurso) com embargos de declaração
com efeitos infringentes.
Recursos Extraordinário e Especial.
A lei deve incidir e ser aplicada de maneira uniforme para todas as pessoas que sofrem
a sua ingerência. Assim, é importante frisar que a aplicação da lei precisa ser igual a todos,
evitando divergências e antagonismos nas decisões proferidas pelos tribunais no que diz
respeito à aplicação de uma mesma lei em casos semelhantes.
Em nosso sistema processual, a preservação do princípio da unidade do ordenamento
jurídico conta com dois meios eficazes de padronização: uniformização de jurisprudência (art.
476), utilizada quando a divergência da aplicação da lei ocorrer em órgãos fracionários do
mesmo tribunal; e os recursos especiais e extraordinários. O objetivo desses recursos é
assegurar que a lei federal e a constituição federal sejam uniformes em todos os casos que
necessitam de sua incidência.
Portanto, recebem o nome de recursos de fundamentação vinculada, porque neles
não se pode discutir qualquer questão de interesse da parte, somente a controvérsia a
respeito da aplicação de lei federal ou da Constituição.
São recursos extremos, para os órgãos que formam a cúpula do judiciário, STF e STJ.
Admite-se recurso extraordinário (art. 102, III CF) nas ações judiciais julgadas pelos
tribunais, em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
1) Contrariar dispositivo da Constituição Federal (afrontar norma constitucional
expressamente apontada).
2) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, pois algumas decisões
negam vigência à lei federal, porque o tribunal, ou juízo recorrido, afasta a sua
aplicação, já que a evidência é inconstitucional, assim, deixa de aplicá-la.
3) Julgar válida lei ou ato do governo local em face da CF. Ao afirmar a validade do ato
contrariado em face da CF, a decisão estará afetando a aplicação constitucional.
4) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal (EC n. 45/2004).
Admite-se o recurso especial (art. 105, III, CF) nas causas decididas por tribunais, em
única ou última instância, quando a decisão recorrida:
1) Contrariar tratado de lei federal ou negar-lhe vigência. Trata-se de contrariedade à lei
que, além de lhe negar vigência, também a interpreta de forma incorreta.
2) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal (reformado pela
EC 45). Trata-se de uma espécie de negativa de vigência ou contrariedade à lei federal.
Se a decisão recorrida afirmou a validade de lei ou ato local (estadual ou municipal)
que está em confronto com norma federal, é porque deixou de aplicá-la.
3) Der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Observações:
O recurso especial é manejável contra decisão de acórdão, proferido em apelação,
agravo, ação rescisória e embargos infringentes.
Somente matéria de direito poderá ser veiculada, ou seja, aplicação da lei no caso
concreto, matéria de fato não interessa.
A matéria que será objeto de apreciação na instância especial deverá ter sido ventilada
e decidida pelos órgãos inferiores (prequestionamento, súmulas 282 e 356 do STF; e
211 do STJ).
Prequestionamento é, portanto, a necessidade de que a matéria recorrida esteja
expressamente prevista no acórdão que originou o recurso especial ou extraordinário.
Efeitos:
Os recursos serão recebidos apenas no seu efeito devolutivo e não impedem a
execução do acórdão em primeiro grau (587 CPC).
Exceção: a parte poderá requerer o efeito suspensivo por meio de medida cautelar.
Processamento:
Os recursos serão endereçados ao presidente ou vice presidente do tribunal recorrido.
Quando a petição for recebida no Tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
contrarrazões, e o próprio tribunal verificará a admissibilidade do recurso.
Caso sejam interpostos os dois recursos, será apreciado, primeiro, o recurso especial
no STJ, para depois, ser apreciado o recurso extraordinário no STF. O Ministro do STJ
poderá entender que a matéria do recurso extraordinário será prejudicial quando,
então, em despacho irrecorrível, remeter os autos para a apreciação inicial do STF. O
Ministro do Supremo pode entender que a matéria do especial é prejudicial,
remetendo (em decisão irrecorrível) os autos de volta ao STJ.
Da decisão que não conhecer o recurso especial ou recurso extraordinário caberá
agravo no prazo de 10 dias, consoante disciplina o art. 544 do CPC.
OBS: o agravo de instrumento de despacho denegatório de recurso especial ou extraordinário
(e somente esse!!!) não precisará mais ser protocolado de forma apartada, sendo apresentado
nos próprios autos do processo já existente.
Dessa forma a nomenclatura do agravo de instrumento será apenas “agravo”, pois não
haverá mais a necessidade de formação de um instrumento com as peças que antes eram
trasladadas.
OBS2: Deferido é sinônimo de dado provimento. O agravante deverá interpor um agravo para
cada recurso inadmitido.
Repercussão Geral:
Não basta que a causa tenha como base a violação da CF, é necessário que o pedido
formulado ultrapasse a barreira do simples pedido formulado ultrapasse a barreira do simples
pedido individual, ou seja, deve interessar à coletividade.
Exemplo: há algum entendimento do que venham a ser questões de repercussão geral: a)
demandas múltiplas, como as previdenciárias e tributárias, em que diversos demandantes
formulam pedidos semelhantes; b) questões de grande magnitude, constitucional, como
aquelas que disciplinam acerca de valores fundamentais.
O órgão irá analisar o pedido, e somente poderá recusá-lo pela manifestação de 2/3 de seus
membros, esse quórum qualificado é para considerar se a questão tem ou não repercussão
geral.
Também ocorre repercussão geral nos casos listados pelo artigos 543-A, § 3º e 543-B.
543-A: “... questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou
jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa”.
§3º: “Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a
súmula ou jurisprudência dominante do tribunal”.
543-B: “quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto neste artigo”.
Apelação Sentenças 15
Dias
Admissibilidade: Juiz Mérito: Tribunal
Art. 518 §1º CPC Duplo Efeito Suspensivo e devolutivo – Regra Devolutivo - Exceção
Agravo Retido Decisão interlocutória
10 dias A: Juiz M: Trib.
Art. 523 §3º CPC Não importa
Agravo de Instrumento
Decisão inter: urgência ou após a sentença
10 dias
A: Relator (Trib) M: Trib.
Art. 527 P. Único CPC
Efeitos Suspensivos ou ativos e devolutivo
Embargos Infringentes
2x1 Acórdão em apelação e ação rescisória
15 dias A: Relator M: Tribunal
Art. 530 CPC4 Lei não regula, doutrina e Jurisprudência divergem
Embargos de Declaração
Qualquer decisão obscura, contraditória ou omissa
5 dias Adm + Mérito: Prolator da decisão
Art. 538 CPC5 - ele interrompe o prazo
Suspensivo, devolutivo, Modificativo ou infringente
6 e
interruptivo Recurso
Especial Acórdã
o que violar – Lei federal
15 dias A: Tribunal TJ ou TRF M: STJ
Pré-questionamento7 Efeito Devolutivo - 542 §2º - pode ser requerido o suspensivo por medida cautelar
Recurso Extraordinário
Acórdão - Constituição
15 dias A: Tribunal TJ ou TRF M: STF
Súmula 640 STF8 Efeito Devolutivo – 542 §2º - pode ser requerido o suspensivo por medida cautelar
OBS5: O Objetivo do STF e STJ é completamente diferente de um Tribunal de Justiça ou TRF.
Quando alguém faz uma apelação, o Tribunal de Justiça tem uma única preocupação: saber se
a pessoa tem razão ou não. Se a parte perder em 2º grau e o processo for para o STJ ou STF, a
questão não será mais sobre a pessoa estar certa ou errada, e sim se a decisão está em
conformidade com o direito. O Tribunal de Justiça tem que se preocupar com as pessoas que
recorrem. O STF e STJ com a sociedade. O tribunal superior não pode julgar causa nova que
apareceu pela primeira vez na sua instância, porque ele dirá a última palavra sobre aquilo que
já foi decidido, discutido, prequestionado.
4 Princípio do “EU NÃO POSSO TOMAR DUAS BUCHA”: “cabem embargos infringentes quando o acórdão
não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da divergência”. 5 O protocolo dos embargos de declaração interrompe a contagem de prazo para interposição de outros
recursos. No Juizado Especial Cível, suspende, artigo 50 da lei 9.099. 6 Efeito infringente: quando o magistrado no julgamento dos embargos modifica a sua decisão.
7 Prequestionamento é a exigência que a matéria, objeto de recurso, tenha sido decidida no acórdão
recorrido. 8 A decisão de colégio/turma recursal (2ª Instância de Juizado Especial) caberá recurso extraordinário,
somente.
OBS6: Para se impetrar recurso especial, é necessário: “prévio exaurimento das instâncias
ordinárias” e a decisão seja proferida por um tribunal. No caso de recurso extraordinário basta
apenas o “Prévio exaurimento das instâncias ordinárias”.
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