a relaÇÃo entre os direitos do consumidor e as ...como consumidor. direitos estes, consolidados e...

61
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Por: Luiza Guedes Alexandre Orientadora: Prof.ª Ana Paula Alves Ribeiro RIO DE JANEIRO 2009 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

Upload: others

Post on 09-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Por: Luiza Guedes Alexandre

Orientadora:

Prof.ª Ana Paula Alves Ribeiro

RIO DE JANEIRO

2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

Page 2: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Gestão de Instituições Financeiras.

Por: Luiza Guedes Alexandre.

Page 3: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

3

AGRADECIMENTOS

Aos professores, que contribuíram e

participaram desta fase de construção

de conhecimento.

Aos colegas acadêmicos, que

compartilharam as ansiedades, os

momentos de angústias e as vitórias

alcançadas ao longo desta jornada.

Em especial, à minha família, que

sempre me apóia.

Page 4: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que não

desistem de acreditar na união da

excelência profissional com a qualidade

de vida e respeito ao trabalhador.

Bem como AO MEU MARIDO, amigos

e familiares.

Page 5: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

5

RESUMO

Este estudo, requisito parcial para obtenção de grau em Pós-

graduação Latu Senso em Gestão em Instituições Financeiras, aborda a

aplicação do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) às relações

entre clientes/usuários e as instituições financeiras. O desenvolvimento deste

trabalho é justificado pela mudança de paradigma mercadológico que reforça a

necessidade de estabelecer relações com os clientes/consumidores de

maneira clara e honesta, que resultou no desenvolvimento do Código de

Defesa do Consumidor, assim como na utilização desta nova maneira de se

relacionar como um diferencial competitivo. Este trabalho é desenvolvido

através de metodologia de pesquisa bibliográfica com revisão de livros,

documentos, leis, revistas, sites e matérias relativas ao tema. A importância do

desenvolvimento deste trabalho para a área de gestão de instituições

financeiras se justifica pelo fato de, nesta nova realidade, ser importante ao

profissional de gestão financeira reconhecer esta mudança de paradigma e se

posicionar de maneira adequada em relação aos direitos do consumidor,

garantindo o sucesso e o respeito da sociedade para com a instituição em que

atua.

Page 6: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

6

METODOLOGIA

Este trabalho tem por opção metodológica a pesquisa bibliográfica, na qual a

investigação de conteúdos teóricos e documentais possibilita discorrer sobre o

tema em questão conteúdo teórico abordado de maneira descritiva e reflexiva.

Neste processo de investigação teórica e documental, é realizada uma revisão

de literatura baseada em materiais acessíveis ao público em geral, de cunho

acadêmico e científico, como livros, periódicos, teses, dissertações, relatórios

de pesquisa, artigos, internet e jornais. Todo entendimento adquirido neste

processo investigativo é descrito neste trabalho, através da utilização de uma

linguagem formal, compreensiva e científica.

Como meios de pesquisa, além da produção científica, citada anteriormente,

também se faz uso de apostilas, entrevistas e revistas não científicas, com o

intuito de ter acesso e possibilidade de refletir com as visões e abordagens

diferentes.

O acesso e entendimento sobre a relação entre os direitos dos consumidores e

as instituições financeiras, através da análise dos dados apresentados nas

fontes utilizadas, permite a construção de um raciocínio reflexivo e analítico

sobre o tema.

Page 7: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................08

CAPÍTULO 1: Gestão de Instituições Financeiras ............................................12

CAPÍTULO 2: Direitos do Consumidor .............................................................25

CAPÍTULO 3: A relação entre os Direitos do Consumidor e as Instituições

Financeiras .......................................................................................................40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

BIBLIOGRAFIA

Page 8: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

8

INTRODUÇÃO

As Instituições Financeiras exercem função primordial nas relações

econômicas e, consequentemente são direcionadas e controladas pelo Estado,

através das leis. Ademais, as atividades financeiras fazem parte do cotidiano

dos indivíduos, principalmente através dos produtos ofertados por estas

instituições ou dos serviços utilizados pelos clientes das mesmas. Assim, há o

estabelecimento de uma relação de consumo entre as instituições financeiras e

seus clientes/usuários.

Uma pessoa física que utilize um serviço ou adquira um produto

financeiro, em se tratando de relações de consumo, configura-se como

consumidor. Da mesma maneira, uma instituição financeira que preste serviços

ou ofereça produtos a pessoas físicas ou jurídicas, configura-se como

fornecedor. Logo, esta relação jurídica entre cliente/usuário do serviço/produto

financeiro e a instituição financeira é uma relação de consumo.

A contemporaneidade é produto de mudanças de paradigma em todas

as áreas de conhecimento e tem como uma de suas principais característica a

rapidez como essas mudanças ocorrem. As mudanças históricas nos meios de

produção e a globalização proporcionaram a quebra de barreiras econômicas,

o desenvolvimento tecnológico, principalmente na área da informação, trocas

de informações culturais e uma maior aproximação das pessoas.

Verificamos que no momento atual, mais do que nunca os negócios

estão subordinados às forças externas como a globalização, mudanças de

regras, junção de indústrias, além do e-business, internet, web e comércio

eletrônico. Estes avanços causam mudanças ligadas à ruptura dos sistemas de

negócios.

Page 9: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

9

Todas essas mudanças tecnológicas, econômicas e sociais exigem

que, em todos os setores produtivos ou prestadores de serviço, sejam

introduzidas reformas que se adéquem aos princípios do mercado. Dentre as

mudanças de paradigma que ocorreram nos diferentes setores

mercadológicos, está a mudança do foco de diferenciação de uma

empresa/organização, que deixa de ter seu foco voltado exclusivamente para a

qualidade de um produto ou serviço e passa a ter como foco a valorização e a

satisfação do cliente.

Estas mudanças no mundo dos negócios influenciaram não somente a

mudança de posicionamento de gestão das empresas/organizações, mas

também a mudança de posicionamento dos próprios clientes/consumidores que

passaram a ser mais criteriosos, exigentes e mais conscientes de seus direitos

como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código

de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, baseado nos

termos dos artigos. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e

art. 48 de suas Disposições Transitórias.

O estabelecimento dos direitos do consumidor como lei é, além da

mudança de paradigma mercadológico, mais um fator reforçador da

necessidade de respeitar os clientes/consumidores e estabelecer relações com

estes de maneira clara e honesta.

Nesta nova realidade, é importante que o profissional de Gestão de

Instituições Financeiras esteja atento a esta mudança de paradigma e se

posicione de maneira adequada em relação aos direitos do consumidor,

garantindo o sucesso e o respeito da sociedade para com a instituição em que

atua.

Ao considerar a relação entre as instituições financeiras e seus

clientes/usuários como uma relação de consumo, se pressupões que esta

relação deve ser mediada pelo Código de Defesa do Consumidor, que

preceitua critérios específicos para o funcionamento dos contratos e serviços

Page 10: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

10

financeiros, que devem estar sujeitos às normas de ordem pública e de

interesse social previstas no diploma legal.

No entanto, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor às

Instituições Financeiras é tema muito polêmico que se arrasta, no âmbito da

Suprema Corte, desde 2001. Por ser polêmico, este tema rendeu vários

estudos doutrinários. As divergências sobre a aplicação do Código de Defesa

do Consumidor às relações de consumo concernentes às Instituições

Financeiras têm como principal eixo a possível inconstitucionalidade de tal

aplicação.

A aplicação do Código de Defesa do Consumidor às instituições

financeiras é questionada juridicamente pela Confederação Nacional das

Instituições Financeiras (CONSIF) através da Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº 2.591/2005. No entanto, esta Ação é desconsiderada

pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que editou o enunciado nº 297 de sua

Súmula, considerando que “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às

instituições financeiras” e pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF),

que julgou improcedente o pedido formulado pela CONSIF na Ação Direta de

Inconstitucionalidade 2.591, por maioria de votos (9 votos a dois).

Através de pesquisa bibliográfica e documental, pautada na

metodologia de pesquisa bibliográfica e descritiva, este trabalho pretende

responder as seguintes questões: O que é o Sistema Financeiro? Como se

estrutura? Quais legislações o regulam? No que consiste o direito do

consumidor? Que legislações o regulam? Qual a relação entre os direitos do

consumidor e as instituições financeiras? Qual o posicionamento do CONSIF,

do STJ e do STF sobre esta relação?

Dessa maneira, este trabalho tem como objetivo geral discutir a relação

entre os Direitos do Consumidor e as Instituições Financeiras, não somente

sob o prisma jurídico, mas analisando também as consequências desta relação

na obtenção de sucesso e respeito pela Instituição Financeira.

Page 11: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

11

Para isso, no primeiro capítulo é realizada uma breve análise sobre o

Sistema Financeiro Nacional (SFN), como este se estrutura, sobre a sua

importância, além de apresentar as legislações que lhes são pertinentes. O

segundo capítulo discorre sobre os direitos do consumidor e as legislações que

o integram. O terceiro capítulo discute a relação entre os direitos do

consumidor e as instituições financeiras. O último capítulo aborda o

posicionamento do CONSIF, do STJ e do STF a respeito desta relação.

Este trabalho reconhece não ser capaz de esgotar o assunto e, por isso

mesmo, tem por expectativa motivar a elaboração de novos trabalhos voltados

para esta problemática atual a nível acadêmico, profissional, social e político.

Quanto mais o tema for discutido e estudado, maior a possibilidade da

promoção de reflexão, que em conseqüência, possam aprimorar o

relacionamento cliente/consumidor com as instituições financeiras, promovendo

a satisfação do cliente, tão almejada na contemporaneidade, ao mesmo tempo

em que promove o sucesso das instituições financeiras e a sua estabilidade.

Page 12: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

12

CAPÍTULO I

GESTÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Este capítulo, dedicado à gestão das Instituições Financeiras é

estruturado em quatro itens: Sistema Financeiro – Histórico Nacional; Sistema

Financeiro – Conceitos; Sistema Financeiro – Função e Composição; e

Sistema Financeiro Nacional – Legislação.

O primeiro item (Sistema Financeiro – Histórico Nacional) apresenta o

histórico da instituição do sistema financeiro no Brasil, dialogando com os

trabalhos desenvolvidos por Yttrio Costa Neto (2004) e Newton Freitas (2009).

O item Sistema Financeiro – Conceitos apresenta os conceitos

pertinentes ao sistema financeiro, através da Lei 4.595/1964 e do diálogo com

os estudos desenvolvidos por Kotler (2000), Dantas (1994), Cobra (2000) e

Hastings (1999).

Para o desenvolvimento do item Sistema Financeiro – Função e

Composição, há uma interface entre os documentos do Banco Central do Brasil

(BACEN, 2009) que definem a composição do Sistema Financeiro Nacional e

os estudos desenvolvidos por Hastings (1999), Murakami (2003) e Fauat

(2007). O último item do capítulo (Sistema Financeiro Nacional – Legislação)

apresenta artigos pertinentes à legislação do sistema financeiro nacional na

Constituição Federal de 1988, cita algumas leis infraconstitucionais e considera

a sistematização desenvolvida por Rocha (2008).

Page 13: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

13

1.1 Sistema Financeiro – Histórico Nacional

Com a chegada da família real no Brasil, em 1808, o rei de Portugal D.

João VI viabilizou a aberturados portos e a realização de acordos comerciais

com a Europa e as colônias. Neste contexto, surge o primeiro Banco do Brasil

(BB), em 1809, que fecha em 1829, com a volta de D. João VI a Portugal, que

levou consigo boa parte do lastro metálico depositado, ao mesmo tempo em

que o banco teria perdido dinheiro em exportações (COSTA NETO, 2004).

O início da criação de instituições financeiras no Brasil não é

promissor. Em 1831, no Rio de Janeiro é sediada a primeira Caixa Econômica,

que não obteve sucesso. Em 1833, surge o segundo Banco do Brasil, que não

consegue integralizar o capital para a sua instalação. O primeiro banco

comercial privado foi instituído no Ceará (o Banco do Ceará), em 1836,

fechando em 1839 (FREITAS, 2009).

A partir de 1838, a realidade das instituições financeiras que surgiam

na época mudou. Nasce, neste ano, o Banco Comercial do Rio de Janeiro, cujo

sucesso motivou o surgimento de outros bancos comerciais na Bahia,

Maranhão e Pernambuco. Em 1851, é criado o terceiro Banco do Brasil, de

controle privado, por sugestão de Irineu Evangelista de Souza (o visconde de

Mauá), através do Decreto nº 801, de 02.08.1851. Em 1853 ocorre a primeira

fusão bancária, entre o Banco do Brasil criado em 1851 e o Banco Comercial

do Rio de Janeiro, formando o quarto Banco do Brasil. Este novo

estabelecimento se consolidou e se expandiu por vários Estados. No entanto,

em 1864, com a crise monetária, esta instituição quase entrou em falência

(COSTA NETO, 2004).

Em 1861, surge uma nova forma de expressão do interesse

governamental em atividades de crédito, com a criação da Caixa Econômica e

do Monte de Socorro do Rio de Janeiro (entidades precursoras da Caixa

Econômica Federal). Estas entidades tiveram motivação mais social e política

Page 14: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

14

do que econômica, tendo sua atuação restrita às atividades de crédito. Estas

entidades tinham como função principal promover ambiente seguro e

remunerador para as pequenas economias, estimulando as classes populares

a economizarem os seus rendimentos (COSTA NETO, 2004).

Em 1863, surgem, sediados no rio de Janeiro, os primeiros bancos

estrangeiros: o "London & Brazilian Bank" e o "The Brazilian and Portuguese

Bank", ambos sediados no Rio de Janeiro (FREITAS, 2009).

Até 1888, havia 68 agências bancárias em todo território nacional,

concentradas principalmente no Rio de Janeiro (COSTA NETO, 2004).

O Banco do Brasil, em 1906, estréia uma nova fase como instituição,

através da criação da quinta edição deste, resultante da fusão entre o Banco

do Brasil de 1853 e o Banco da República do Brasil, através do Decreto nº

1.455, de 30.12.1905. O atual Banco do Brasil é a continuidade desta fase

(FREITAS, 2009).

Em 1920, é criada a Inspetoria Geral dos Bancos, prevista no artigo 5º

do Decreto nº 4.182, de 13.11.20, e no artigo 2º da Lei nº 4.230, de 31.12.20. O

Decreto nº 14.728, de 16.03.21, aprovou o regulamento para a fiscalização dos

bancos e das casas bancárias.

Em 1934, são criadas as Caixas Econômicas Federais através do

Decreto nº 24.427, de 19.06.34. Em 1944, a Conferência de Bretton Woods,

realizada em New Hampshire, desencadeou a criação do Fundo Monetário

Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Em 1946, foi instituída a primeira

sociedade de crédito, financiamento e investimento (financeira).

Em 1952, surge o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico), banco de fomento e financiamento de empreendimentos que

contribuam para o desenvolvimento do País. Criado pela Lei nº 1.628, de

20.06.52, sob a forma de autarquia, transformado em empresa pública pela Lei

Page 15: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

15

nº 5.662, de 21.06.71. Em 1982, o Decreto-lei nº 1.940, de 26.05.82,

transformou o BNDE em BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social).

O ano de 1964 é marcado pela criação do Sistema Financeiro da

Habitação (SFH), do Banco Nacional da Habitação (BNH), através da Lei nº

4.380, de 21.08.64, do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco

Central do Brasil (BCB), através da Lei nº 4.595, de 31.12.64, a qual

regulamentou o Sistema Financeiro Nacional (SFN). O BCB substituiu a

SUMOC. A Lei nº 4.728, de 14.07.65, regulamentou o mercado de capitais

(FREITAS, 2009).

O CMN instituiu os bancos de investimento (Resolução nº 18, de

18.02.66, do CMN, à luz do artigo 29 da Lei nº 4.728, de 14.07.65) e facilitou às

empresas a obtenção de recursos originários do mercado financeiro

internacional (Resolução nº 63, de 23.08.1967), o que possibilitou grande

afluxo de capitais (FREITAS, 2009).

Com a estabilidade da moeda, a partir de 1967, o Sistema Financeiro

Nacional experimentou uma fase de crescimento nas operações de crédito e

intensificou o financiamento tanto da produção como do consumo, o qual

cresceu estimulado pelo maior acesso das pessoas ao crédito - Crédito Direto

ao Consumidor (FREITAS, 2009).

Na década de 70 surgem a Caixa Econômica Federal, instituição

financeira sob a forma de empresa pública (Decreto-lei nº 66.303, de 06.03.70),

as sociedades de arrendamento mercantil, a Comissão de Valores Mobiliários

(CVM), através da Lei nº 6.385, de 07.12.76, a qual regulamentou o mercado

de valores mobiliários e o Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC),

o qual passou a realizar a custódia e a liquidação financeira das operações

envolvendo títulos públicos. O SELIC eliminou o uso do cheque para a

liquidação de operações com títulos públicos. A liquidação eletrônica deu mais

segurança às operações do mercado, o qual, à época, negociava as Letras do

Page 16: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

16

Tesouro Nacional (LTN) e as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional –

ORTN (FREITAS, 2009)

Em 1988, surgem os bancos múltiplos (Resolução nº 1.524, de

21.09.88, do CMN). Neste mesmo ano, a Constituição Federal de 1988 buscou

estruturar o Sistema Financeiro Nacional de forma a promover o

desenvolvimento e equilíbrio do país e a servir aos interesses da coletividade,

dispondo sobre diferentes aspectos relacionados às instituições financeiras,

como o sigilo bancário (artigo 5º) e o SFN (artigo 192).

A partir da década de 90, com o Plano Real, o Brasil atinge uma

estabilidade econômica que modifica as perspectivas do Sistema Financeiro

Nacional.

1.2 Sistema Financeiro – Conceitos

O conceito de Sistema Financeiro engloba qualquer estrutura que

tenha como objetivo descrever a circulação do dinheiro em determinada

organização. O sistema financeiro reúne as atividades financeiras de obtenção

de recursos e de aplicação destes.

O Sistema Financeiro é o setor da economia formado pelas instituições

financeiras, dentre elas, os bancos, as casas de câmbio, seguradoras e

cooperativas de crédito.

Consideram-se instituições financeiras, para efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas e privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira e a custódia de valor de propriedade de terceiros (Lei 4.595/1964, art. 17).

A Instituição Financeira precisa administrar um equilíbrio delicado entre

moedas, prazos e taxas negociados para os capitais que capta (passivos) e

Page 17: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

17

para os que aplicam (ativos) no mercado, respeitando os critérios e normas

estabelecidos pelas agências reguladoras/supervisoras de cada mercado onde

atue. Neste processo de administração e alocação de capitais, as instituições

financeiras oferecem diferentes produtos aos seus clientes.

"Produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo” (KOTLER, 2000, p. 448).

Estes produtos, denominados produtos financeiros, são instrumentos

através dos quais as Instituições Financeiras efetuam suas operações de

captação e aplicação. São as atividades executadas durante o processo de

obtenção de recursos e concessão de créditos, pois têm seu preço definido em

função do valor da operação (DANTAS, 1994). Ao mesmo tempo em que

oferecem produtos, as instituições financeiras também prestam diferenciados

serviços aos seus clientes.

Serviço é qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada. A execução de um serviço pode estar ou não ligada a um produto concreto (KOTLER, 2000, p. 448).

Estes serviços específicos são conceituados como serviços

financeiros: atividades não relacionadas com o processo de obtenção de

recursos e concessão de créditos, sendo sua remuneração definida por um

valor e / ou percentual fixo, pré-determinado(s), sobre o valor envolvido no

serviço (DANTAS, 1994).

Cobra (2000) defende que os produtos financeiros (que se diferenciam

dos produtos físicos por serem intangíveis, pelo modo como são produzidos e

pela forma de distribuição) envolvem mais que interesses monetários, pois

incluem a prestação de serviços financeiros por um valor baixo ou gratuito. As

Instituições Financeiras, antes de vender produtos, prestam serviços, como

guardar dinheiro, descontar cheques, efetuar pagamentos, emprestar dinheiro,

entre outros. Assim realizam uma infinidade de transações sem que haja

cobrança ou cobrando um baixo valor unitário. Os serviços financeiros

acompanham os Produtos Financeiros oferecidos a seus clientes, pessoas

Page 18: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

18

físicas e / ou pessoas jurídicas e são orientados a atender às necessidades e

desejos dos seus clientes.

Hastings (1999) afirma que o termo produto financeiro é utilizado

apenas em sentido figurado, pois acredita que àquilo que as instituições

financeiras realmente oferecem ao mercado não é um produto, mas sim

serviços financeiros. No entanto, o autor não condena a prática do termo

produto financeiro pelo fato deste ter se tornado comum no ambiente

financeiro.

1.3 Sistema Financeiro Nacional – Função e Composição

A função das instituições financeiras é a de administrar e otimizar a

alocação de capitais financeiros próprios e/ou de terceiros, obedecendo a uma

co-relação de risco, custo e prazo. Este processo realizado pelas instituições

financeiras deve atender aos objetivos dos chamados stakeholders, que

incluem todos os que estão envolvidos e que tenham interesse nas operações

financeiras realizadas, tanto sob a forma de pessoa física ou jurídica - como

acionistas, clientes, colaboradores, cooperados, fornecedores, agências

reguladoras do mercado em que a organização opera, etc. (HASTINGS, 1999).

O segmento financeiro exerce uma função de grande importância para

a economia mundial, nacional e local. As instituições financeiras são grandes

parceiras de empresas e organizações, auxiliando no fomento e

desenvolvimento econômico destas, através de empréstimos e financiamentos,

além de lidar com a poupança popular em suas operações.

Embora o crescimento das instituições financeiras seja verificado como

força positiva no Produto Interno Bruto (PIB) Nacional, seu valor na economia

do país não é limitado a sua importância no PIB. O crescimento do país tem a

credibilidade e desenvolvimento do sistema financeiro como fatores de grande

relevância. Com a globalização e o desenvolvimento da economia globalizada,

Page 19: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

19

o interesse da estabilidade das instituições financeiras é mundial (MURAKAMI,

2003).

As instituições financeiras, responsáveis pela operação de crédito,

exercem um importante papel, possibilitando o desenvolvimento nacional.

O Sistema Financeiro Nacional é composto por um conjunto de

instituições financeiras públicas e privadas que, em conseqüência da

globalização e internacionalização de mercados, expandem seus serviços e

produtos na economia mundial. Nesta expansão, a atividade de crédito, como

intermediária financeira do banco comercial, torna o crédito como um dos

fatores de maior importância e sobrevivência das instituições financeiras

(FAUAT, 2007).

Conforme a Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, artigo 1º, o

Sistema Financeiro Nacional é constituído por: Conselho Monetário Nacional;

Banco Central do Brasil; Banco do Brasil S.A.; Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social; Demais instituições financeiras públicas

e privadas.

Atualmente, o Sistema Financeiro Nacional tem como órgãos

normativos o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de

Seguros Privados (CNSP) e o Conselho de Gestão de Previdência

Complementar (CGPC).

_ O Conselho Monetário Nacional (instituído pela Lei 4.595, de 31 de

dezembro de 1964) é o órgão responsável por expedir diretrizes gerais para o

bom funcionamento do SFN. Integram o CMN o Ministro da Fazenda

(Presidente), o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Presidente

do Banco Central do Brasil. Dentre suas funções estão: adaptar o volume dos

meios de pagamento às reais necessidades da economia; regular o valor

interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; orientar a

aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento

Page 20: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

20

das instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e solvência

das instituições financeiras; coordenar as políticas monetária, creditícia,

orçamentária e da dívida pública interna e externa. O CMN tem como

entidades reguladoras o Banco Central do Brasil (Bacen) e a Comissão de

Valores Imobiliários - CVM (BACEN, 2009).

O Bacen (autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, também criada

pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964) é o principal executor das

orientações do Conselho Monetário Nacional, além de ser responsável por

garantir o poder de compra da moeda nacional. Tem como objetivos zelar pela

adequada liquidez da economia, manter as reservas internacionais em nível

adequado, estimular a formação de poupança, zelar pela estabilidade e

promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. São suas

atribuições: emitir papel-moeda e moeda metálica, executar os serviços do

meio circulante, receber recolhimentos compulsórios e voluntários das

instituições financeiras e bancárias, realizar operações de redesconto e

empréstimo às instituições financeiras, regular a execução dos serviços de

compensação de cheques e outros papéis, efetuar operações de compra e

venda de títulos públicos federais, exercer o controle de crédito, exercer a

fiscalização das instituições financeiras, autorizar o funcionamento das

instituições financeiras, estabelecer as condições para o exercício de quaisquer

cargos de direção nas instituições financeiras, vigiar a interferência de outras

empresas nos mercados financeiros e de capitais e controlar o fluxo de capitais

estrangeiros no país (BACEN, 2009).

A Comissão de Valores Mobiliários (autarquia vinculada ao Ministério

da Fazenda, instituída pela Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976) é

responsável por regulamentar, desenvolver, controlar e fiscalizar o mercado de

valores mobiliários do país. Tem por função assegurar o funcionamento

eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; proteger os titulares de

valores mobiliários; evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação no

mercado; assegurar o acesso do público a informações sobre valores

mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido;

Page 21: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

21

assegurar a observância de práticas comerciais eqüitativas no mercado de

valores mobiliários; estimular a formação de poupança e sua aplicação em

valores mobiliários; promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular

do mercado de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do

capital social das companhias abertas (BACEN, 2009).

_O Conselho Nacional de Seguros Privados é o órgão responsável por

fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados. Em sua

composição estão o Ministro da Fazenda (Presidente), o representante do

Ministério da Justiça, o representante do Ministério da Previdência Social, o

Superintendente da Superintendência de Seguros Privados, o representante do

Banco Central do Brasil e o representante da Comissão de Valores Mobiliários.

Dentre as funções do CNSP estão: regular a constituição, organização,

funcionamento e fiscalização dos que exercem atividades que lhes são

subordinadas, bem como a aplicação das penalidades previstas; fixar as

características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta,

capitalização e resseguro; estabelecer as diretrizes gerais das operações de

resseguro; prescrever os critérios de constituição das Sociedades

Seguradoras, de Capitalização, Entidades de Previdência Privada Aberta e

Resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas

operações e disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor. O

CNSP tem como entidade reguladora a Superintendência de Seguros Privados

– SUSEP (BACEN, 2009).

A SUSEP é a autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, que

exerce função de entidade reguladora responsável pelo controle e fiscalização

do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização. Dentre suas

atribuições estão: fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e

operação das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades de

Previdência Privada Aberta e Resseguradores. Atua no sentido de proteger a

captação de poupança popular que se efetua através das operações de

seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro; zelar pela

defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados;

Page 22: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

22

promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a

eles vinculados; promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição;

zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;

disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os

efetuados em bens garantidores de provisões técnicas; cumprir e fazer cumprir

as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por este forem

delegadas; prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP (BACEN,

2009).

_ O Conselho de Gestão de Previdência Complementar é um órgão

colegiado que integra a estrutura do Ministério da Previdência Social e cuja

competência é regular, normatizar e coordenar as atividades das Entidades

Fechadas de Previdência Complementar (fundos de pensão). Também cabe ao

CGPC julgar, em última instância, os recursos interpostos contra as decisões

da Secretaria de Previdência Complementar. O CGPC tem como entidade

regulamentar a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) que se

relaciona com os órgãos normativos do sistema financeiro na observação das

exigências legais de aplicação das reservas técnicas, fundos especiais e

provisões que as entidades sob sua jurisdição são obrigadas a constituir e que

tem diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (BACEN, 2009).

1.4 Sistema Financeiro Nacional – Legislação

Antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, as matérias

relativas ao Sistema Financeiro Nacional privado eram somente encontradas

na legislação infraconstitucional, como nas Leis nº 4.131/62, nº 4.390/64, nº

4.380/64, nº 4.595/64, nº 4.728/65, o Decreto-lei nº 70, de 1966, Decreto-lei nº

73, de .1966, a Lei nº 6.385/76.

Page 23: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

23

Com a atual Carta Magna essa matéria ganhou status constitucional. A

Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seu artigo 192, com Redação da

Emenda Constitucional 40/2003, que:

O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.

Além de estabelecer o Sistema Financeiro Nacional, a Carta Magna

define a competência para dispor e legislar sobre as matérias financeiras,

cambial,monetária, de instituições financeiras e suas operações.

Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: (...)XIII - matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações (CF, artigo 48, inciso XIII). Compete privativamente à União legislar sobre: (...)VI – sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII – política de crédito, câmbio, seguros e transferências de valores (...)XIX – sistema de poupança, captação e garantia da poupança popular; (CF, artigo 22, incisos VI, VII e XIX).

As principais leis federais brasileiras que regulam o Sistema Financeiro

Nacional são (ROCHA, 2008):

• Lei 4.595/64, de 31 de dezembro de 1964: Lei que dispõe sobre o

Sistema Financeiro Nacional, sobre a política e as Instituições

Monetárias, bancárias e creditícias, além de criar o Conselho Monetário

Nacional e dar outras providências.

• Lei 4.728/65, de 14 de julho de 1965, que disciplina o mercado

financeiro e de capitais, através da atuação do Conselho Monetário

Page 24: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

24

Nacional e da fiscalização do Banco Central e estabelece medidas para

o seu desenvolvimento.

• Lei 7.102/83, de 21 de junho de 1983, que dispõe sobre segurança para

estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e

funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de

vigilância e de transporte de valores.

• E a Lei 9.017/95, de 30 de março de 1995, que estabelece normas de

controle e fiscalização sobre produtos e insumos químicos que possam

ser destinados à elaboração da cocaína em suas diversas formas e de

outras substâncias entorpecentes ou que determinem dependência

física ou psíquica, e altera dispositivos da Lei nº 7.102, de 20 de junho

de 1983, que dispõe sobre segurança para estabelecimentos

financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento de

empresas particulares que explorem serviços de vigilância e de

transporte de valores, e dá outras providências.

Page 25: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

25

CAPÍTULO II

DIREITOS DO CONSUMIDOR

Este capítulo é dedicado aos direitos do consumidor e o processo que

regulamentou estes direitos através do Código de Defesa do Consumidor. Há

ainda a análise deste código, considerando seus direitos básicos e as práticas

comerciais. Este capítulo é estruturado em três itens: Os Direitos do

Consumidor e a Constituinte de 1988; Código de Defesa do Consumidor:

direitos básicos; e Código de Defesa do Consumidor: práticas comerciais.

O desenvolvimento do item “Os Direitos do Consumidor e a

Constituinte de 1988” ocorre através de pesquisa da temática “defesa do

consumidor” presente nos relatórios dos anteprojetos da Carta Magna, da

própria Constituição Federal de 1988 e da obra “A proteção ao consumidor na

Constituição Brasileira de 1988” (COMPARATO, 1990).

O item “Código de Defesa do Consumidor: direitos básicos” foi baseado

Lei 8.078/1990 e no diálogo entre os estudos de Regina Schimmelpfeng (2004)

e Nery Junior et. al. (1997).

Para discorrer sobre “Código de Defesa do Consumidor: práticas

comerciais” foi realizada análise reflexiva do tema presente na Lei 8.078/1990.

2.1 Os Direitos do Consumidor e a Constituinte de 1988

Anteriormente, à promulgação da Constituição Federal de 1988, a

proteção da relação de consumo e o amparo nos conflitos de interesses

oriundos desta relação eram amparados em legislações esparsas e na

legislação comum, no âmbito civil, comercial e penal. No entanto, esses

diplomas legislativos não acompanharam a evolução do mercado econômico

ocorrida no século passado e não mais se adequavam à defesa do

Page 26: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

26

consumidor. Diante dessa nova realidade, e em um período pós ditadura, em

que a população brasileira ansiava pela redemocratização e pela reconstituição

de seus direitos o projeto constituinte, na tentativa de reequilibrar as forças

entre consumidor e fornecedor, incluiu a defesa dos direitos e deveres

presentes nesta relação.

Já na Fase C do anteprojeto da Constituinte de 19881, é registrado em

relatório da Assembléia a necessidade de constar no texto constitucional o

direito do consumidor e os instrumentos para sua proteção. Este relatório

discorre sobre o início do movimento do consumidor, já na década de 1970,

decorrente da crescente conscientização da sociedade sobre as práticas

abusivas da produção e comercialização de bens e serviços.

Este anteprojeto defende a elaboração do Código de Defesa do

Consumidor como forma de assegurar aos cidadãos a defesa de seus

interesses, concorrendo para o aprimoramento da atividade econômica como

um todo. O texto demonstra a força do movimento da sociedade civil em busca

da regulamentação de seus direitos econômicos, num período posterior à

ditadura, permeado pela luta em prol da redemocratização e da garantia dos

direitos. Ainda reflete a relação entre satisfação do consumidor e

desenvolvimento das atividades econômicas, afirmando como concorrentes o

aprimoramento econômico e a defesa dos direitos do consumidor.

No anteprojeto das Disposições Transitórias2 já é definido o prazo de

um ano (01ano), após promulgação da Constituinte pra elaboração do código

de Defesa do Consumidor. O texto define algumas finalidades da Lei a ser 1 BRASIL. Assembléia Nacional Constituinte. I - Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. I b - Subcomissão dos direitos políticos, dos direitos coletivos e garantias. Relatório e Anteprojeto. Volume 74. Relator: Deputado Constituinte Lysâneas Maciel. s/d. Disponível em: http://www.mj.gov.br/dpdc/data/Pages/MJCA4FF8F8ITEMID63CE645773DE420AAB3313F13C5CD486PTBRNN.htm. Acesso em 20 de maio de 2009. 2 BRASIL. Assembléia Nacional Constituinte. I - Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. I b - Subcomissão dos direitos políticos, dos direitos coletivos e garantias. Relatório e Anteprojeto. Volume 77. Relator: Deputado Constituinte Lysâneas Maciel. s/d. Disponível em: http://www.mj.gov.br/dpdc/data/Pages/MJCA4FF8F8ITEMID63CE645773DE420AAB3313F13C5CD486PTBRNN.htm. Acesso em 20 de maio de 2009.

Page 27: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

27

elaborada: proteção do consumidor contra abusos das indústrias, comércios,

fornecedores de serviços, matérias-primas e publicidade; coibir monopólios e

cartéis; estabelecer deveres do Poder Público para fiscalização da qualidade

de produtos, bens e serviços; fixar penalidades e sanções; estabelecer escalas

de indenizações; normatizar o processo sumário de apuração, julgamento,

punição e ressarcimento por delitos contra o consumidor.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e por força desta

é criada a Lei 8.078/1990. A exigência da elaboração de lei de defesa do

consumidor é explícita, na Carta Magna, em seu Título II, dos Direitos e

Garantias Fundamentais, Capítulo I, dos Direitos e Deveres Individuais e

Coletivos, nos termos do artigo 5º, inciso XXXII. Este texto define que “o

Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Ainda, nas

Disposições Constitucionais Transitórias, a Constituição Federal de 1988 define

em seu artigo 48 o prazo para a elaboração da lei (120, após promulgação da

Lei Maior) que veio a regulamentar o Código de Defesa do Consumidor.

A República Federativa Brasileira reconhece a garantia da defesa do

consumidor como um direito individual e coletivo fundamental. Portanto, este

direito se enquadra no parágrafo 4º do artigo 60 da Carta Magna, configurando-

se como uma cláusula pétrea, que não pode ser objeto de deliberação a

proposta de emenda tendente a abolir. Implícito no texto está também o

reconhecimento da complexidade do tema, que necessita de uma lei

específica. Ao mesmo tempo, reflete os percalços existentes na elaboração da

lei, considerando que a mesma só foi sancionada em 1990. A Carta Magna

também contempla a temática em seu Título VII, da Ordem Econômica e

Financeira, Capítulo I (dos princípios gerais da atividade econômica), artigo

170, inciso V, que declara:

Artigo 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V- defesa do consumidor;

Page 28: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

28

O texto da lei situa a defesa do consumidor como um princípio de

ordem econômica necessário para assegurar a justiça social e a dignidade de

todos os cidadãos e o emparelha aos princípios basilares para o modelo

político-econômico brasileiro, como o da soberania nacional, da propriedade

privada, da livre concorrência e outros. A Constituição Federal de 1988

estabelece a coexistência harmônica entre os princípios gerais da atividade

econômica, igualando a relevância entre eles e ressaltando que todos os

princípios basilares da ordem econômica brasileira devem ser devidamente

considerados.

“não há por que distinguir a defesa do consumidor, em termos de nível hierárquico, dos demais princípios econômicos declarados no art. 170. Quer isto dizer que o legislador, por exemplo, não poderá sacrificar o interesse do consumidor em defesa do meio ambiente, da propriedade privada, ou da busca do pleno emprego; nem, inversamente, preterir estes últimos valores ou interesses em prol da defesa do consumidor” (COMPARATO, 1990, p. 71).

A inclusão da defesa do direito do consumidos na Constituição Federal

de 1988 reflete a luta contra a desigualdade e a defesa dos que estão

submetidos ao poderio econômico e oligárquico, na sociedade atual, pelo

Estado, que estabelece a defesa do consumidor como direito fundamental de

todo cidadão brasileiro.

2.2 Código de Defesa do Consumidor: Direitos Básicos

Os Direitos do Consumidor são regulamentados pelo Código de Defesa

do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990.

O Direito do Consumidor se caracteriza como um Direito especial destinado a corrigir os chamados ‘efeitos perversos’ da sociedade de consumo, restabelecendo uma igualdade jurídica que deve compensar a desigualdade econômica e mantendo, assim, o equilíbrio entre as prestações de ambas as partes, que deve existir nos contratos comutativos, com base nos princípios da boa fé e da lealdade entre os contratantes (SCHIMMELPFENG, 2004, s/p.).

Page 29: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

29

Como um direito difuso, coletivo e individual, não há como determinar

quem é o agente de direitos deste código, de maneira generalizada, mas

apenas nas circunstâncias de cada fato.

São direitos cujos titulares não se pode determinar, a ligação entre os titulares se dá por circunstâncias de fato. O objeto desses direitos é indivisível, não pode ser cindido. É difuso, por exemplo: o direito de respirar ar puro; o direito do consumidor de ser alvo de propaganda não enganosa e não abusiva (NERY JUNIOR e NERY, 1997, p.1394).

Por este código se aplicar a atos ou relações de consumo, nas

circunstâncias o titular destes direitos é aquele desta relação é o que tiver

exercendo o papel de agente consumidor. De fato, nas relações de consumo

estão envolvidos os seguintes agentes: consumidor e fornecedor (seja de

produtos ou serviços). A Lei 8.078/1990 define em seus artigos cada um destes

elementos envolvidos nas relações de consumo.

Como consumidor, em seu artigo 2º, define: “toda pessoa física ou

jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Além

disso, o parágrafo único deste artigo equipara o consumidor à “coletividade de

pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de

consumo”.

Como agente fornecedor, o artigo 3º do Código do Consumidor

considera:

toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

As relações de consumo realizadas entre o agente consumidor e o

agente fornecedor podem ser de produtos ou serviços. As relações de produtos

são aquelas que envolvem mercadorias duráveis ou não-duráveis. As relações

de serviço envolvem atividades contratadas para serem executadas e também

podem ser duráveis ou não duráveis. O Código de Defesa do Consumidor

define estes elementos, no 1º e 2º parágrafos do artigo 3º:

Page 30: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

30

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

A Lei 8.078/1990 expressa, indubitavelmente, no segundo parágrafo do

artigo 3º as atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária

que sejam estabelecidas mediante remuneração. O legislador deixa clara a

aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor às relações entre o

fornecedor financeiro e os seus clientes/consumidores.

Além de definir a aplicação do código, a lei 8.078/1990, em seu artigo

6º, define os seus direitos básicos: a proteção da vida, saúde e segurança, a

educação e divulgação, a informação adequada e clara, a proteção contra a

publicidade enganosa e abusiva, a efetiva prevenção e reparação de danos

patrimoniais e morais, o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, a

facilitação da defesa de seus direitos e a adequada e eficaz prestação dos

serviços públicos.

O direito à proteção da vida, saúde e segurança, corresponde à defesa

do consumidor contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de

produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. É proibido ao

fornecedor colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou

deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou

segurança. Nos casos de produtos ou serviços potencialmente nocivos ou

perigosos à saúde ou segurança, isto deverá ser informado de maneira

ostensiva e adequada, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em

cada caso concreto.

A Lei 8.078/1990 determina no artigo 10, parágrafos 1º, 2º e 3º que:

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato

Page 31: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

31

imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.

O descumprimento dos enunciados que se referem ao direito à

proteção da vida, saúde e segurança do consumidor constituem crime com

infrações penais previstas no Código de Defesa do Consumidor, sem prejuízo

do disposto no Código Penal e nas leis especiais.

Como uma relação de consumo sujeita ao Código de Defesa do

Consumidor, as relações financeiras devem pautar normas de segurança que

prezem pela vida e pela saúde de seus clientes/consumidores. A gestão

financeira deve se preocupar com aspectos que vão desde a estrutura em que

a instituição está instalada (como saída de emergência, controle de entrada de

armas, câmeras de segurança, ventilação, acessibilidade de clientes idosos ou

deficientes, entre outros) até aspectos operacionais (como controle do tempo

de espera e filas, atendimento preferencial, disponibilização de banheiros, entre

outros).

É necessário ainda que as instituições financeiras divulguem, nos

diversos meios de publicidade, informações de segurança e orientações

pertinentes aos seus clientes, que evitem ameaças à saúde e a segurança

destes. Algumas informações sobre golpes e crimes que podem resultar em

prejuízo não apenas financeiro, mas também à vida do cliente devem ser

divulgadas: como evitar pedir ajuda a estranhos quando utilizarem caixas

eletrônicos, informações sobre vírus e páginas de internet falsas, utilizadas

para obter dados dos clientes, cuidados que devem manter ao sair da agência

com quantias altas de dinheiro (para evitar “saidinhas de banco”), entre outros.

A lei 8.078/1990 também dispõe sobre a necessidade dos fornecedores

de divulgar, informar e educar o consumidor adequadamente sobre seus

Page 32: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

32

produtos e serviços, de maneira que estes possam efetivamente realizar uma

escolha livre e com igualdade nas contratações. Ainda, a lei criminaliza a

utilização de publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos

ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no

fornecimento de produtos e serviços e determina a modificação das cláusulas

contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em

razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.

A utilização de propaganda enganosa e abusiva, bem como a omissão

de informações pertinentes na relação de consumo e impedir ou dificultar o

acesso do consumidor às suas informações nos cadastros, bancos de dados,

fichas e registros, assim como a não correção imediata dos mesmos, também

constituem crimes previstos nesta Lei. Como anteriormente citado, as

penalidades deste Código não ocorrem em prejuízo ao disposto no Código

Penal e nas leis especiais. Ainda é considerado crime pelo Código de Defesa

do Consumidor Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia

adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo.

O gestor de instituições financeiras, de maneira ética, deve

desenvolver um relacionamento pautado sobre a boa-fé e a confiança com

seus clientes, demonstrando a necessidade dos contratos e ofertas de serviços

e produtos favorecerem tanto aos clientes quanto às instituições financeiras, já

que ambas precisam estar financeiramente saudáveis para contribuir com o

desenvolvimento mútuo.

Estabelecer relacionamentos baseados em omissões de conteúdos,

cláusulas ou obtenção de vantagem sobre o prejuízo do cliente, entre outros,

oferece grandes riscos futuros à instituição financeira, como envolvimento em

processos jurídicos, perda de clientes, propaganda negativa realizada pelos

clientes insatisfeitos, desconfiança por parte dos futuros clientes, entre outros.

Sobre a defesa dos direitos do consumidor, a Lei 8.078/1990 considera

como direitos básicos o de efetiva prevenção e reparação de danos

Page 33: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

33

patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos, o acesso aos órgãos

judiciários e administrativos de modo a assegurar a proteção Jurídica,

administrativa e técnica para o cumprimento destes direitos. O código também

determina a facilitação da defesa dos direitos do consumidor, inclusive com a

inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do

juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as

regras ordinárias de experiências.

O Código de Defesa do Consumidor assegura aos consumidores o

direito de se protegerem juridicamente de usurpação de direitos. Por isso, o

gestor financeiro deve promover que estes sejam cumpridos, prevenindo e

evitando ações que resultem em lesões aos direitos de seus clientes.

É necessário que o gestor financeiro reconheça a necessidade de

investir em tecnologia de segurança e treinamento de funcionários, de maneira

a evitar que o cliente sofra danos patrimoniais e morais (como saques,

compras ou transferências indevidas em suas contas, contas abertas com

documentos de terceiros, fraudes envolvendo cheques, inclusão de nome em

cadastro de inadimplentes indevidamente, entre outros). Ao proteger o cliente,

a instituição está também se protegendo de futuras ações ou de prejuízos,

referentes à ressarcimento de valores, por exemplo.

Além dos direitos concernentes as relações de consumo e de

prestação de serviços, o Código de Defesa do Consumidor também inclui a

adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. O gestor de

instituições financeiras deve primar pelo treinamento dos funcionários e pelo

desenvolvimento de estratégias que permitam que os serviços sejam

oferecidos de maneira adequada e eficaz.

A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas

pode ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo:

Page 34: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

34

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

A defesa individual dos direitos do consumidor, como qualquer outra, é

realizada através da justiça comum. As legislações aplicáveis são o Código de

Defesa do Consumidor e o Código de Processo Civil, e, naquilo que for cabível,

Código Civil e Penal. Nos casos de menor complexidade, o consumidor pode

optar - a seu critério - pelo juizado especial de pequenas causas, especializado

ou não, desde que o valor da causa não ultrapasse a quarenta (40) vezes o

salário mínimo (artigo 3º, I, da Lei n. 9.099/95).

A tutela coletiva tem lugar quando se tratar de interesses ou direitos

difusos, coletivos ou individuais homogêneos. O artigo 82 do Código de Defesa

do Consumidor, de forma taxativa, relacionou os entes, pessoas e órgãos

legitimados ativos para a tutela coletiva dos consumidores.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I - o Ministério Público, II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código; IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear. § 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

Page 35: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

35

2.3 Código de Defesa do Consumidor: práticas comerciais

As práticas comerciais são consideradas pelo Capítulo V do Código de

Defesa do Consumidor, e em seu artigo 29 equiparam a consumidor “todas as

pessoas determináveis ou não, expostas às práticas neles previstas”.

Inicialmente, este capítulo da lei discorre sobre as ofertas, nas práticas

comerciais. Dispõe sobre a obrigatoriedade de integrar os contratos celebrados

“toda informação ou publicidade suficientemente precisa, veiculada por

qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços

oferecidos ou apresentados” (art. 30, Lei 8.078/1990).

Sobre a oferta, o código de Defesa do Consumidor dispõe:

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.

Como verificado nos artigos 30 e 31 da Lei 8.078/1990, a oferta se

relaciona diretamente com o princípio de publicidade, no qual todas as

informações pertinentes a relação de consumo e aos produtos, bens e serviços

devem ser transmitidas ao consumidor, de maneira inteligível. Da mesma

forma, toda informação veiculada como forma de divulgar seus produtos, bens

e serviços, devem ser cumpridas pelos fornecedores.

No caso das instituições financeiras, além da clareza do contrato, é

necessário que o consumidor tenha informações pertinentes a utilização do

produto de maneira adequada, como por exemplo, maneiras corretas de

preenchimento e controle de cheques, devoluções, pagamentos de taxas,

utilização de cartão de crédito de forma rotativa ou em prestações, informando

sobre possíveis juros, anuidade, saques, senhas, entre outros. É dever da

instituição financeira promover ações educativas que permitam ao consumidor

Page 36: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

36

utilizar os produtos bancários da melhor maneira possível, assim como de

promover a publicidade sobre juros, taxas, impostos, entre outros.

O código inclui também a necessidade de, enquanto um produto for

ofertado (através de sua fabricação ou importação), seus componentes e peças

de reposição devem ter sua oferta assegurada. O parágrafo único do artigo,

ainda determina que, “cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser

mantida por período razoável de tempo, na forma da lei”. O objetivo do artigo

32 do Código de Defesa do Consumidor é garantir a manutenção do produto,

enquanto ele for ofertado estendendo o período de sua manutenção por tempo

determinado em lei.

Sobre a oferta por telefone, reembolso postal ou por representantes

autônomos, a Lei 8.078/1990 define em seus artigos:

Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial. Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina. Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

Dessa maneira, o Código pretende proteger o consumidor nas práticas

comerciais em que a oferta é realizada fora do espaço físico em que o

fornecedor atua. O acesso ao endereço permite que o consumidor possa

localizar o fornecedor em caso de alguma necessidade. A proteção em relação

ao ônus nas ligações é importante, pois se o interesse da publicidade e oferta é

do fornecedor, o consumidor não pode ter prejuízos ou custear essas ações.

No artigo 34 é explícito o fato de que, mesmo por erro de seus prepostos ou

representantes, o fornecedor também é responsável pelas ações envolvidas

nas práticas comerciais de seus produtos. A falha de um preposto ou

representante demonstra, no mínimo, a negligência do fornecedor para com a

divulgação das informações necessárias a estes ou para com o treinamento.

Page 37: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

37

Muitas vezes, os clientes recebem ofertas de cartões de crédito por

telefone ou o recebem diretamente pelo correio, sem ao menos ter o solicitado

ou recebido proposta anterior, ou mesmo, quando solicitam o cartão ou

aceiram a proposta, tem agregados a estes produtos, outros, como seguros,

cartões adicionais, entre outros, sem o conhecimento sobre poder optar ou não

por eles. Mesmo que este serviço seja executado por empresas terceirizadas, a

instituição financeira que administra o crédito é responsável pelas negligências

ou irregularidades destes serviços. Por isso é necessário gerenciar

adequadamente a oferta de produtos de maneira não presencial, sejam estas

realizadas diretamente pela instituição financeira ou por terceiros, de maneira a

evitar futuros aborrecimentos, prejuízos ou processos jurídicos.

O artigo 35 do Código de Defesa do consumidor apresenta alternativas

ao consumidor, quando há impossibilidade ou negativa do fornecedor em

cumprir o ofertado:

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

Embora a publicidade seja relacionada a diversos artigos da Lei

8.078/1990, esta é especificada nos artigos 36, 37 e 38 da lei, que dispõe

sobre a clareza na identificação da publicidade, sobre a proibição do engano ou

abuso nesta, definindo estes termos nos parágrafos artigo 37:

1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de

Page 38: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

38

induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

Sobre as práticas abusivas nas relações comerciais, o artigo 39 do

código, veda ao fornecedor: condicionar o fornecimento de produto ou serviço

ao fornecimento de outro ou a limites quantitativos (sem justa causa); recusar

atendimento às demandas dos consumidores (havendo disponibilidade), de

conformidade com os usos e costumes; prevalecer-se da fraqueza ou

ignorância do consumidor para impingir-lhe seus produtos ou serviços (nestes

casos, os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao

consumidor, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de

pagamento; exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização

expressa do consumidor (ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores

entre as partes); repassar informação depreciativa, referente a ato praticado

pelo consumidor no exercício de seus direitos; colocar, no mercado de

consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas

expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não

existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade

credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial (Conmetro); recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,

diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento

(exceto, em casos regulados em leis especiais); elevar sem justa causa o preço

de produtos ou serviços; não estipular prazo para o cumprimento de sua

obrigação; aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou

contratualmente estabelecido.

O gestor de instituições financeiras deve cuidar para que todas as

ações de publicidade bem como de elaboração de contratos e de ofertas de

produtos e serviços sejam bem avaliadas, orientadas e revisadas por

profissionais de competência jurídica que prezem pelo cumprimento das leis e

Page 39: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

39

pela exclusão de qualquer tipo de procedimento enganoso, abusivo ou omisso

para com o cliente e para com a própria instituição.

O artigo 40 do código dispõe sobre a obrigação de orçamento prévio,

discriminados valores de mão de obra, materiais e equipamentos, condições de

pagamento e datas de início e término dos serviços. O valor do orçamento terá

validade de 10 dias, após o recebimento pelo consumidor. Após aprovado pelo

consumidor, os contraentes ficam obrigados ao orçamento, só podendo ser

alterado mediante livre negociação das partes. O consumidor não responde por

ônus ou acréscimos devidos a contratação de terceiros, não previsto no

orçamento prévio.

Em relação às instituições financeiras, este artigo se relaciona

principalmente às ofertas de empréstimos e financiamentos que pressupõem a

necessidade de simulação, para que o cliente esteja ciente dos valores, juros,

impostos e todas as condições que os envolvem, para que não haja

“surpresas” indesejáveis ou imprevistas. Além de romper com o código do

consumidor, quanto mais os clientes estão ignorantes sobre os valores futuros

a serem cumpridos, maior a probabilidade destes se comprometerem em

contratos que não terão condições de pagar, aumentando os riscos de

prejuízos das instituições financeiras com a inadimplência.

O artigo 41 trata do fornecimento de produtos ou serviços sujeitos aos

regimes de controle ou tabelamento de preço e a obrigação dos fornecedores

de respeitar os limites oficiais. Em relação a este controle e tabelamento, a Lei

4.595/1964 estabelece que as instituições financeiras devem manter em suas

instalações, em local de acesso a todos os usuários, um quadro informativo

com todos os valores de serviços oferecidos pela empresa.

O Código de Defesa do Consumidor apresenta ainda, em seu capítulo

sobre as práticas comerciais, a cobrança de dívidas e banco de cadastros. No

entanto, estas serão discutidas no próximo capítulo deste trabalho, quando

será analisado as relações entre os direitos do consumidor e as instituições

financeiras.

Page 40: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

40

CAPÍTULO III

A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Este capítulo, estruturado em três itens, aborda a relação entre os

direitos do consumidor e as instituições financeiras, através dos temas de

cobrança de dívidas e de estabelecimento de contratos financeiros, sob a ótica

do Código de Defesa do Consumidor. Ainda trata da Ação Direta de

Inconstitucionalidade 2.591 proposta pelo CONSIF como forma de contestar a

aplicação da Lei 8.078/1900 às Instituições Financeiras.

O primeiro item deste capítulo trata da cobrança de dívidas e do banco

de cadastro de inadimplentes, através da análise sobre as formalizações do

assunto no Código de Defesa do Consumidor e dos estudos de Ricardo

Bernardes (2008).

O segundo item discorre sobre os contratos bancários, refletindo sobre

o disposto na Lei 8.078/1990 e nos estudos de Rafaella Lacerda (2005)

O último item aborda a discussão jurídica levantada pelo CONSIF

sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor às relações financeiras.

Para isso, desenvolveu-se uma análise sobre o Código de Defesa do

Consumidor, a Constituição Federal de 1988, a Ementa do Supremo Tribunal à

Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.591 e aos trabalhos de Marcelo Féres

(2006), Willian Rocha (2008) e Orlando Spinetti (2007).

3.1 Cobrança de Dívidas e Bancos de Cadastros

As relações de consumo, através de um fornecedor que oferta seus

produtos e/ou serviços e de um consumidor que se interessa pelos mesmos,

pressupõe que há uma troca. Na contemporaneidade, esta relação tem como

Page 41: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

41

principal objeto de troca por produtos/serviços a moeda corrente no país em

que este relacionamento é efetivado. O justo e esperado é que ao receber um

bem ou serviço, através de uma prática comercial, o receptor pague pelo

mesmo.

Muitas vezes, este pagamento não ocorre simultaneamente ao

recebimento do bem. Através de contratos verbais ou escritos se estabelece a

forma e o prazo de pagamento, este é o processo de concessão de crédito. É

possível que, ao chegar a data do vencimento do acordo, o consumidor não

realize o pagamento, por variados motivos. Cobrar por esta dívida é um direito

do fornecedor.

O Código de Defesa do Consumidor não exime o fornecedor deste

direito, mas estabelece limites para que o exercício deste direito não viole

outros direitos, estabelecendo que:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. (...) Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena Detenção de três meses a um ano e multa (BRASIL, LEI 8.078/1990).

Sobre o cadastro de inadimplentes, o Código de Defesa do

Consumidor, em seu artigo 43, defende o direito dos registrados de terem

acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados

pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas

respectivas fontes. O Código do Consumidor define o prazo máximo de cinco

anos de registro de dados do devedor, bem como a comunicação por escrito ao

consumidor sobre o registro no banco de cadastro.

O artigo 44 do Código do Consumidor ainda discorre sobre a

necessidade de divulgação anual das reclamações fundamentadas contra

Page 42: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

42

fornecedores de produtos e serviços, indicando se estas foram ou não

atendidas.

Informar ao consumidor sobre a possibilidade de ações judiciais ou de

incluir o nome do mesmo em cadastros de inadimplentes não corresponde a

uma ameaça, mas configura o exercício legal de direito do fornecedor. O que

deve ser observado é a forma como o consumidor é cobrado ou recebe

ligações, correspondências, entre outros, que informam sobre as medidas

cabíveis que podem ser tomadas. As ligações devem ser realizadas em

horários propícios, que não interfiram no descanso ou no trabalho do

consumidor, bem como não deve divulgar a terceiros a cobrança, para que não

haja constrangimento. Da mesma maneira, as correspondências não devem

demonstrar externamente sua natureza de cobrança.

A via desejável de cobrança é a ação judicial, porém esta não é a mais

utilizada por ser onerosa e lenta. Da mesma maneira, o fornecedor reconhece

que o devedor não possui bens suficientes para cobrir a dívida, mesmo que

houvesse a ação judicial. Por isso, a maneira mais utilizada é a inclusão do

devedor nos bancos de cadastros de inadimplentes, como maneira de proteger

outros fornecedores e de pressionar o pagamento da dívida, pois assim o

consumidor volta a ter crédito no mercado. No caso das instituições financeiras,

os principais bancos de cadastros de inadimplentes são a SERASA3

(Centralização de Serviços de Bancos) e o SPC (Serviço de Proteção ao

Crédito), sendo que o primeiro é mais abrangente no setor financeiro que o

segundo, mas este também tem relação estreita com as instituições

financeiras, principalmente quando trata de cheques sem fundos. O Banco

Central também disponibiliza o cadastro de emitentes de cheques sem fundos

(CCF) para proteger as relações de consumo de ordem financeira de prejuízos

provenientes da utilização de cheque.

3 A sigla SERASA provém da denominação original na época da fundação deste banco de cadastro (Serviços e Assessoria S/A), em 26 de junho de 1968.

Page 43: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

43

A SERASA foi fundada para que os bancos pudessem avaliar de forma

mais segura os pedidos de concessão de crédito, ampliando, posteriormente,

seus serviços a todos os segmentos da economia e empresas de diversos

portes. As principais fontes de informação aos cadastros da SERASA são o

CCF (Cadastro de emitentes de Cheques sem Fundos), os cartórios de

protestos, o tribunal de justiça, as instituições financeiras e a Procuradoria

Geral da Fazenda Nacional (BERNARDES, 2008).

O SPC foi criado para proteger as operações mercantis e hoje tem

como associados, além das empresas deste setor, prestadoras de serviço,

instituições financeiras, profissionais liberais e empresas de cobrança e de

informações. Sua finalidade é informar seus associados sobre débitos

pendentes do comprador que pretenda obter novo crédito. As informações

arquivadas correspondem às dívidas em atraso ou títulos protestados de

consumidores há mais de quinze dias, assim como de emissores de cheques

sem fundo, que são registrados imediatamente ao ato, desde que tenham sido

reapresentados ao banco sacado e a conta vier a ser encerrada. Como o

tempo exigível de cobrança de débitos é de no máximo cinco anos, este

também é o prazo para o registro dos dados do devedor (BERNARDES, 2008).

O CCF é o Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos do Banco

Central, que possui abrangência nacional e reúne informações fornecidas pelas

instituições bancária sobre cheques roubados, extraviados, sustados ou

cancelados. Esse cadastro permite que o banco proteja o correntista que teve

suas folhas de cheques utilizadas indevidamente por terceiros, ao mesmo

tempo em que protege o banco de efetuar pagamentos indevidos.

O gestor de instituições financeiras precisa cuidar para que não haja

enganos ou descuidos quando for incluir seus devedores nos bancos de

cadastro de inadimplentes, pois o registro de informações inexatas ou

inexistentes, assim como o registro ou permanência indevida de dados pode

acarretar a prejuízos ao consumidor. Causar estes prejuízos, além de

eticamente reprovável, pode acarretar em prejuízos também à instituição

Page 44: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

44

financeira, seja por processo jurídico ou por ter sua imagem “negativada” frente

a determinado cliente que, possivelmente, divulgará sua insatisfação para

outros clientes e potenciais clientes.

Este cuidado deve ser tomado principalmente em relação aos cheques

sem fundos, já que nestes casos as instituições financeiras não são as

credoras, mas aquele que recebeu o cheque. E como é comum o portador do

título se dirigir diretamente ao credor para realizar o pagamento, o gestor

financeiro precisa cuidar para que antes de inserir os dados deste cliente no

banco de cadastro de inadimplentes, se informar com o credor que o cheque foi

ou não quitado (BERNARDES, 2008).

Há ainda o risco de cheques provenientes de fraude ou crime, assim

como de abertura de contas bancárias com documentos falsificados. Muitas

vezes, há uma pressão grande para que os funcionários vendam produtos e

serviços, que contribuem para a falta de zelo em relação a conferência dos

documentos. Nestes casos, o titular do cheque ou da conta pode ter seu nome

inscrito no registro de inadimplentes equivocadamente, por descuido do próprio

banco. Cabe ao gestor financeiro estabelecer estratégias para evitar este tipo

de situação e engano.

3.2 Contratos

A noção clássica de contrato o conceitua como “acordo de vontades”

ou “forma de composição de interesses”. Nesta perspectiva, o contrato teria

sua gênese na sociedade romana, durante o período pós-clássico, quando

houve sensível crescimento dos negócios jurídicos realizados, nos quais já se

admite a vontade declarada pelas partes, como origem da força obrigatória das

convenções ou pactos, resultando em razoável flexibilização dos

procedimentos contratuais, outrora tão formais (LACERDA, 2005).

Page 45: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

45

A proteção contratual é tema do capítulo IV do Código de Defesa do

Consumidor e defende o direito do consumidor de ter acesso ao contrato que

pretende formalizar nas relações de consumo, tomando conhecimento sobre o

conteúdo do contrato. O texto deve ser de linguagem simples e facilmente

compreensível pelo consumidor e caso, apresente conteúdo passível de

diferentes interpretações, sempre prevalecerá aquela que favorecê-lo. As

cláusulas consideradas abusivas nulas de pleno direito.

Além disso, as cláusulas ou condições contratuais gerais constituem

parte essencial do direito bancário, permitindo a racionalização da contratação

em massa com milhares de pessoas, racionalizando o tempo e evitando

incômodos aos clientes que desejam serem atendidos pelas instituições

financeiras. Por isso é de fundamental necessidade que essas cláusulas pré-

elaboradas ou utilizadas pelos bancos em contratos singulares, sem influência

do cliente no respectivo conteúdo, sejam justas, eqüitativas e razoáveis.

Portanto, observadas as especialidades dos contratos bancários, os

modelos tradicionais de contrato bancário fornecem poucos instrumentos para

regular as complexas relações contratuais, daí a necessidade da intervenção

regulamentadora do legislador através do Código de Defesa do Consumidor

para a proteção dos mais vulneráveis

A maioria dos atos bancários é realizada através de contratos

denominados de “contratos bancários”. Estes contratos são realizados

basicamente de forma coletiva, de acordo com o produto e serviço oferecido e

não necessariamente de acordo com as características individuais de cada

cliente. Os contratos são produzidos em série, de uma maneira padronizada.

Por isso, embora seja um acordo de vontade entre as partes, ocorre de forma

unilateral, não há elaboração de contrato a cada relação contratual, tendo o

consumidor a liberdade de aceitá-lo ou não, por isso muitas vezes o contrato

bancário é denominado contrato de adesão.

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o

Page 46: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

46

consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo (BRASIL, Lei 8.078/1990).

Como o próprio Código do Consumidor demonstra em seu artigo 54, os

contratos em que as cláusulas são pré-estabelecidas pelo fornecedor (como

ocorre nos contratos bancários) não permitem ao consumidor discuti-las ou

modificá-las. Esta característica afirma a hierarquia na relação de consumo, no

qual o fornecedor exerce o poder sobre o contrato, enquanto o consumidor tem

apenas a possibilidade de aderir ou não a ele. Mas se for considerado que,

muitas vezes, as condições contratuais de diferentes empresas de um mesmo

setor são muito parecidas, a possibilidade de escolha pelo consumidor, que

tenha uma real necessidade de adquirir um bem ou serviço, é mínima.

Este objetivo é verificado no artigo 47, quando este afirma que Em um

primeiro momento, quando lemos o texto do artigo 47 da Lei 8.078/1990, que

defende que a interpretação das cláusulas contratuais deve ser sempre mais

favorável ao consumidor, há a impressão de que este artigo se opõe ao

fundamento da igualdade, presente na Carta Magna. No entanto, quando

refletimos que este artigo trata de contratos de adesão, onde o cliente não tem

influência direta sobre as cláusulas do contrato, mas está apenas sujeito a

aceitá-lo ou não, verifica-se que aplicar a estes o Código de Defesa do

Consumidor é uma maneira de tentar promover a equidade entre as partes.

Os principais atos bancários estão relacionados à crédito e

pagamentos, fundamentais para que o ser humano adquira bens e serviços na

contemporaneidade, o que o afeta diretamente como cidadão. Devido a

importância destas ações, é fundamental que o Estado regulamente as formas

como os contratos estabelecidos nas ações financeiras são conduzidos e

formalizados. Como muitos dos contratos bancários são caracterizados como

contratos de adesão (com cláusulas muito parecidas, mesmo entre diferentes

bancos), submeter estes contratos a determinação do artigo 47 da Lei

8.078/1990 é uma maneira de primar pelo fundamento de igualdade de nossa

Lei Maior.

Page 47: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

47

Outra exigência importante do Código de Defesa do Consumidor se

refere à linguagem utilizada para elaboração dos contratos. Mesmo que as

cláusulas contratuais sejam elaboradas pelo banco de maneira unilateral, este

deve fazê-las conhecidas pelos clientes, para que estes possam exercer seu

direito de escolha. Principalmente por serem elaboradas de maneira

padronizada, para um público com diferentes níveis de conhecimento, as

cláusulas devem ser transcritas da maneira mais fácil possível e o Código do

Consumidor exige que isto se cumpra, caso contrário, o consumidor não estará

obrigado ao contrato (artigo 46, Lei 8.078/1990).

Além da linguagem, os contratos de adesão, entre eles os bancários,

sob a forma escrita, devem ser redigidos de forma clara, com caracteres

ostensivos e legíveis, com letra de corpo mínimo doze (12). Ainda é necessário

destacar as cláusulas que impliquem em limitação de direito do consumidor.

Estas exigências presentes nos parágrafos terceiro e quarto do artigo 54 da Lei

8.078/1990.

Os contrários bancários, à luz do Código de Defesa do Consumidor,

também estão sujeitos à anulação, caso utilizem cláusulas abusivas (que

permitam a desresponsabilização do fornecedor, que estabeleçam obrigações

consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem

exagerada, que sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade, entre

outros).

O Código de Defesa do Consumidor, de certa maneira, contribui para

que se promova uma mudança relacional entre o contrato e as partes nele

envolvidas, estabelecendo que nem toda cláusula, é válida, mas que é passível

de anulação, mesmo que o cliente tenha assinado o contrato. A aplicação da

Lei 8.078/1990 aborda os contratos, não como de interesses individuais, mas

coletivos. Nesta nova perspectiva, o gestor financeiro precisa ter ciência é de

que o contrato não deve ser utilizado como instrumento que permita a

supremacia dos bancos para com seus clientes, mas como um instrumento que

Page 48: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

48

formalize um acordo entre as partes, de formar que o negócio firmado seja

proveitoso para ambas.

É necessário estabelecer acordos que promovam a satisfação dos

interesses legítimos de seus clientes e da própria instituição financeira. Este

relacionamento diferenciado, mesmo que utilizando contratos de adesão, mas

baseando-se em confiança e boa-fé, transmitindo ao cliente todas as

informações pertinentes ao contrato, obrigações de cada parte, valores de

tarifas e multas, entre outros, sempre de maneira clara, propicia maior

possibilidade de fidelidade e de captação de novos clientes, através da

divulgação do cliente satisfeito.

3.3 Aplicação do Código de Defesa do Consumidor às Relações

Financeiras: posicionamento jurídico

Conforme Marcelo Féres (2006), a aplicação do Código de Defesa do

Consumidor às Instituições Financeiras é tema muito polêmico que se arrasta,

no âmbito da Suprema Corte, desde 2001. Por ser polêmico, este tema rendeu

vários estudos doutrinários. As divergências sobre a aplicação do Código de

Defesa do Consumidor às relações de consumo concernentes às Instituições

Financeiras têm como principal eixo a possível inconstitucionalidade de tal

aplicação.

Estas divergências jurídicas tiveram início com a Ação Indireta de

Inconstitucionalidade (ADI) nº 2.591 proposta em 27 de dezembro de 2001, que

contestava a aplicabilidade Código de Defesa do Consumidor às instituições

financeiras. Este processo de análise foi ajuizado pela CONSIF (Confederação

Nacional do Sistema Financeiro).

A Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.591/2005 tem como

argumento central que haveria neste parágrafo do Código de Defesa do

Consumidor afronta ao disposto no art. 192 da Constituição de 1988. Isto

Page 49: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

49

porque o art.192 da Constituição Federal exigiria que a matéria, supostamente

integrante do Sistema Financeiro Nacional, fosse veiculada em lei

complementar, como vemos na Redação da Emenda Constitucional 40/2003:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. (Grifo nosso)

A Lei 8.078/1990 é uma lei ordinária, que, por definição, trata de

matéria que não teve sua disposição prevista pela constituinte em lei

complementar. Como, de acordo com o artigo citado, a constituinte teria

previsto que a matéria do sistema financeiro seria tratada através de lei

complementar, a regulação das relações de consumo no âmbito financeiro pelo

Código do Consumidor confrontaria com a Lei Maior.

Além da inconstitucionalidade, o CONSIF também incluía como causa

da ação a qualificação das atividades de natureza bancária, financeira, de

crédito e securitária como serviço, questionando o conceito de serviço

abrangido pelas relações de consumo, constante do § 2º do artigo 3º da Lei

8.078/1990, para efeito de incidir sobre elas o Código de Defesa do

Consumidor.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (Grifo nosso).

Sobre o ato de inconstitucionalidade, o Superior Tribunal de Justiça

(STJ), órgão ao qual também compete a fiscalização de constitucionalidade

difusa, em reiterados decisórios tem aplicado o Código de Defesa do

Consumidor aos serviços bancários. Em seu posicionamento, o STJ editou o

enunciado nº 297 de sua Súmula, que considera que “O Código de Defesa do

Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Isto para demonstrar que o

Page 50: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

50

reconhecimento do alcance do Direito do Consumidor sobre os negócios

bancários é uma realidade inegável (FERES, 2006).

No entender dos ministros do STJ, as operações bancárias e de crédito

que se formam entre bancos e clientes são relações de consumo, portanto

estão protegidas pela Lei 8.078/90. Na prática, a medida do STJ faz com que

bancos comerciais, de investimento e instituições afins tenham o dever de

seguir à risca o que estabelece o Código de Defesa do Consumidor.

Mesmo com o posicionamento do STJ, o julgamento deste ato de

inconstitucionalidade se arrastou pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal

(STF) durante alguns anos. Em 14 de dezembro de 2006, o STF esclareceu o

conteúdo da ementa (resumo de julgamento) referente à ação de

inconstitucionalidade e somente em 7 de junho de 2006, os ministros julgaram

como improcedente o pedido formulado pela Confederação Nacional das

Instituições Financeiras (CONSIF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade

2.591, por maioria de votos (9 votos a dois).

O CONSIF ainda interpôs embargos de declaração, para que fossem

esclarecidos alguns pontos que consideraram obscuros e contraditórios na

ementa, que foi reescrita. A ementa trouxe alguns esclarecimentos importantes:

As operações bancárias consistem em transferência de moeda (circulação monetária) ou de crédito, que se sustentam na confiança e na administração de riscos. As operações bancárias, portanto, são as típicas do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e tem importante impacto na política monetária e econômica do país. Já os serviços bancários dizem respeito a obrigações de fazer, que são executadas pelos bancos sem vinculação com a política monetária. Os serviços bancários se prestam a atender diversos interesses dos clientes. Diante da separação conceitual, as operações bancárias, por serem operações financeiras, estão submetidas ao controle do Bacen e os Clientes Bancários, para essas operações, estão submetidos a sistema próprio de proteção.(...) Já os serviços bancários, por serem atividades desatreladas do sistema financeiro – não tendo por objeto dinheiro ou crédito – estão submetidos à incidência dos dispositivos do CDC e de outras normas pertinentes. Os clientes bancários dessas atividades são equiparados a consumidores e são protegidos também pelos órgãos oficiais de defesa do consumidor e pela atuação do Ministério Público (STF, 2006).

Page 51: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

51

Além disso, em julgamentos de alguns Recursos Extraordinários, como

os de números 251.542 e 432.789/SC, consolidou-se a jurisprudência a favor

de que os Municípios podem determinar, por leis ordinárias, certos

condicionamentos de interesse local à atividade de estabelecimentos bancários

que se encontrem nos respectivos territórios (ROCHA, 2008).

De acordo com o posicionamento do STF, não há qualquer vício formal

no fato de leis ordinárias atuarem sobre os serviços de instituições financeiras.

Não existindo mácula na expressão “inclusive as de natureza bancária,

financeira, de crédito e securitária”, constante do § 2º do art. 3º da Lei 8.078, de

11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), verifica-se que no

entendimento do Supremo Tribunal Federal as relações de consumo de

natureza bancária ou financeira devem ser protegidas pelo Código de Defesa

do Consumidor.

A partir da fase final do julgamento da ADI 2.591 o que prevaleceu foi

que na relação intra e entre Bancos não se aplica o CDC, mas entre as

instituições financeiras e seus clientes, numa relação de consumo, se aplica,

sendo indiferente o conceito diferenciador de operações bancárias, envolvendo

dinheiro ou crédito, e serviços bancários (SPINETTI, 2007).

Page 52: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os bancos exercem função primordial nas relações econômicas de um

país. Através do bom relacionamento e parcerias entre as instituições

bancárias e as diversas empresas e organizações, estas últimas, através de

empréstimos e financiamentos, investem em atividades econômicas

importantes para o desenvolvimento do país e das pessoas que nelas atuam.

Ao mesmo tempo, a própria instituição bancária é favorecida, pois movimenta

seu capital e recebe os juros e lucros deste investimento. Há ainda a relação

estreita entre os bancos e as pessoas físicas, em seu cotidiano, que

consomem os produtos e serviços bancários, utilizando-os para seu

desenvolvimento pessoal, enquanto contribuem também para o sucesso da

instituição financeira.

Este relacionamento entre os bancos e seus clientes/usuários, sejam

pessoas físicas ou jurídicas, embora tratem principalmente de crédito e não

necessariamente de um produto específico, se constitui como uma relação de

consumo, pois implica na oferta de um produto ou serviço por um fornecedor (o

banco) e o interesse em usufruir deste pelo consumidor. Assim, uma pessoa

física que utilize um serviço ou adquira um produto bancário configura-se como

consumidor. Da mesma maneira, um banco que preste serviços ou ofereça

produtos bancários a pessoas físicas ou jurídicas, configura-se como

fornecedor. Logo, esta relação jurídica entre cliente/usuário do serviço/produto

bancário e o banco é uma relação prevista pela matéria do Código de Defesa

do Consumidor (Lei 8.078/1990).

Como todos os âmbitos que se relacionem aos aspectos de

desenvolvimento de um país, as instituições financeiras e suas atividades

devem ser reguladas pelo Estado. No entanto, este controle não deve ser

apenas a nível estrutural, mas deve também considerar os cidadãos que estão

envolvidos nestas atividades, a dignidade e respeito que estes devem receber,

bem como as melhores maneiras de estabelecer relacionamentos adequados e

que gerem desenvolvimento para todas as partes envolvidas.

Page 53: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

53

O estado brasileiro, através das decisões do Supremo Tribunal de

Justiça e do Supremo Tribunal Federal, demonstra seu entendimento de que o

Código de Defesa do Consumidor preceitua critérios específicos para o

funcionamento dos contratos e serviços bancários. As instituições bancárias

estão, então, sujeitas às normas de ordem pública e de interesse social

previstas neste código, que estabelece normas de proteção e defesa do

consumidor, de ordem Pública e interesse social, nos termos dos artigos 5º,

inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas

Disposições Transitórias.

O Código de Defesa do Consumidor aplicado às instituições

bancárias garante que este relacionamento deve primar pelos aspectos que

vão desde os direitos básicos do consumidor até as práticas comerciais.

As instituições financeiras, à luz da Lei 8.078/1990, deve assegurar

aos seus clientes/usuários um atendimento que respeite os aspectos da saúde

deste cidadão e de sua segurança, como a necessidade de atendimentos

preferenciais a idosos, deficientes e gestantes, assim como a contratação de

profissionais de segurança que estejam orientados não só a cuidar do

patrimônio bancário mas também a zelar pela segurança de seus clientes.

Além disso, as instituições financeiras são obrigadas a promover a educação

de seus clientes sobre os aspectos financeiros que lhes são pertinentes e a

divulgar informações que lhes diga respeito, como telefones de serviços de

atendimento ao cliente, cartilhas sobre funcionamento de determinado produto,

entre outros.

É ainda proibido à estas instituições utilizar de propaganda enganosa

e abusiva, assim como estes também se responsabilizam pela prevenção e

reparação aos danos patrimoniais e morais que seus clientes possam sofrer

durante esta relação de consumo (como nos casos de clonagem de cartões de

crédito, por exemplo). Além disso, os consumidores, neste relacionamento,

têm garantido os seu direito ao acesso a órgãos judiciários e administrativos,

Page 54: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

54

bem como a facilitação da defesa de seus direitos e a adequada e eficaz

prestação dos serviços públicos.

A Lei 8.078/1990 ainda protege o consumidor, neste relacionamento de

consumo de crédito, de possíveis abusos ou irregularidades na cobrança de

dívidas, na inclusão de seus dados em bancos de cadastros de inadimplentes e

na formulação e fechamentos contratuais. De certa forma, esta lei impede a

realização de contratos que beneficiem as Instituições Financeiras, em

detrimento dos direitos dos consumidores/clientes, considerando que a

elaboração das cláusulas é realizada de forma unilateral.

O gestor financeiro precisa reconhecer que, independente deste

relacionamento entre o cliente e a instituição bancária ser ou não protegido

pelo Código de Defesa do Consumidor, é necessário que esteja pautado sobre

conceitos que reconheçam a dignidade de seus clientes bem como de sua

satisfação. Os clientes são a fonte de manutenção e sucesso de todo o

empreendimento e devem ser tratados com respeito dignidade e qualidade de

atendimento, no momento em que utilizam os serviços oferecidos pela

instituição ou mesmo realizam contratos de obtenção de produtos/serviços. A

gestão financeira precisa reconhecer a necessidade de promover clareza nas

relações, fazendo com o cliente tenha mais credibilidade na instituição.

A aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos serviços

bancários é uma ação de intervenção jurídica do Estado que não só contribui

para a proteção dos Consumidores nas relações bancárias, mas também para

o desenvolvimento do setor, no sentido de fomentar a qualificação e a

idoneidade deste.

Page 55: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

55

BIBLIOGRAFIA

BERNARDES, Ricardo Gasparetti. Instituições financeiras e o abuso do

poder econômico em relação à criação e utilização de bancos de dados.

São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico),

Departamento de Político e Econômico, Universidade Presbiteriana Mackenzie.

BRASIL. Assembléia Nacional Constituinte. I - Comissão da Soberania e dos

Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. I b - Subcomissão dos

direitos políticos, dos direitos coletivos e garantias. Relatório e

Anteprojeto. Volume 74. Relator: Deputado Constituinte Lysâneas Maciel,

1987. Disponível em:

http://www.mj.gov.br/dpdc/data/Pages/MJCA4FF8F8ITEMID63CE645773DE42

0AAB3313F13C5CD486PTBRNN.htm. Acesso em 20 de maio de 2009.

_______ Assembléia Nacional Constituinte. I - Comissão da Soberania e dos

Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. I b - Subcomissão dos

direitos políticos, dos direitos coletivos e garantias. Relatório e

Anteprojeto. Volume 77. Presidente Constituinte Maurílio Ferreira Lima;

Relator: Constituinte Lysâneas Maciel, 1987. Disponível em:

http://www.mj.gov.br/dpdc/data/Pages/MJCA4FF8F8ITEMID63CE645773DE42

0AAB3313F13C5CD486PTBRNN.htm. Acesso em 20 de maio de 2009.

_______ Banco Central do Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br.

Acesso em 18 de outubro de 2008.

_______ Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5

de outubro de 1988. Brasília, DF: Senado, 1988.

_______ Emenda Constitucional Federal n. 40: de 29 de maio de 2003.

Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc40.htm

Acesso em 05 de abril de 2009.

Page 56: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

56

_______Lei 4.595: de 31 de dezembro de 1964. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L4595.htm Acesso em 05 de abril de 2009.

_______Lei 4.728: de 14 de julho de 1965. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4728.htm Acesso em 05 de abril de

2009.

_______Lei 7.102: de 21 de junho de 1983. Disponível em:

www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L7102.htm Acesso em 05 de abril de 2009.

_______Lei 8.078: de 11 de setembro de 1990. Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm Acesso em 05 de abril de 2009.

_______Lei 9.017: de 30 de março de 1995. Disponível em:

www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/L9017.htm Acesso em 05 de abril de 2009.

COBRA, Marcos. Marketing de Serviço Financeiro. São Paulo: Cobra, 2000.

COMPARATO, F. K. A proteção ao consumidor na Constituição Brasileira de

1988. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São

Paulo, Nova Série, a. XXIX, n. 80, p. 66-75, out./dez. 1990.

COSTA NETO, Yttrio Corrêa da. Bancos oficiais no Brasil: origens e

aspectos de seu desenvolvimento. Brasília: Banco Central do Brasil, 2004.

Disponível em: www.bcb.gov.br/?BANCOFIC Acesso em 04 de abril de 2009.

DANTAS, Wagner V. Custos bancários: modelo conceitual, sistemas e

implementação. São Paulo, 1994. Dissertação (Mestrado em Controladoria e

Contabilidade), Departamento de Contabilidade Atuária, Universidade de São

Paulo - USP.

Page 57: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

57

FAUAT, Ana Matilde. Comunicação organizacional e padrões de

comportamento informacional de gestores e analistas de risco de crédito

em instituições financeiras governamentais. Brasília: Faculdade de

Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação da

Universidade de Brasília, Dissertação de Mestrado, 2007.

FÉRES, Marcelo Andrade. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor às

Instituições Financeiras: Exame de Constitucionalidade. Jus Navigandi,

Teresina, ano 10, n. 937 Publicado em 26 de janeiro de 2006. Disponível em:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7876. Acesso em 15 de junho de

2009.

FREITAS, Newton. História do Sistema Financeiro Nacional: viagem de

1808 a 2002. Disponível em:

http://www.newton.freitas.nom.br/artigos.asp?cod=165 Acesso em 15 de abril

de 2009.

HASTINGS, David F. Banking: Gestão de Ativos, Passivos e Resultados.

São Paulo: FGV, 1999.

KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000.

LACERDA, Rafaella Munhoz da Rocha. Efetividade da tutela do consumidor na

relação contratual bancária. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 615, 15 mar.

2005. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6443 Acesso

em 23 de junho de 2009.

MURAKAMI, M. Decisão estratégia em TI: estudo de caso. São Paulo:

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Dissertação

de Mestrado, FEA/USP, 2003.

NERY JUNIOR, N.; ANDRADE NERY, R. M. Código de processo civil

comentado. 3. ed. Rev. Amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

Page 58: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

58

ROCHA, W. Gestão em Instituições Financeiras. UCAM: Ementa do Módulo

Tópicos de Direito para Instituições Financeiras, 2008.

SCHIMMELPFENG, Regina Munhoz. A Relação Bancária perante o Código

do Consumidor. O Neófito: Informativo Jurídico. Disponível em:

http://www.neofito.com.br/artigos/art01/consu1.htm. Publicado em 16/04/2004.

Acesso em 08 de abril de 2009.

SPINETTI, Orlando. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor em

relação às instituições financeiras. Portal do Comércio – Trabalhos

Técnicos, janeiro de 2007. Disponível em:

http://www.portaldocomercio.org.br/media/DJtt05_jan07.pdf Acesso em 20 de

junho de 2009.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação Direta de Inconstitucionalidade

2.591 – Distrito Federal. 14 de dezembro de 2006. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/indiceAdi/listarIndiceAdi.asp Acesso em 05 de junho

de 2009.

WIKIPÉDIA. Sistema Financeiro. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_financeiro Atualizado em: 12 de agosto de

2008. Acesso em 05 de abril de 2009.

Page 59: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

59

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

GESTÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 12

1.1 Sistema Financeiro – Histórico Nacional 13

1.2 Sistema Financeiro – Conceitos 16

1.3 Sistema Financeiro – Função e Composição 18

1.4 Sistema Financeiro – Legislação 22

CAPÍTULO II

DIREITOS DO CONSUMIDOR 25

2.1 Os Direitos do Consumidor e a Constituinte de 1988 25

2.2 Código de Defesa do Consumidor: direitos básicos 28

2.3 Código de Defesa do Consumidor: práticas comerciais 35

CAPÍTULO III

A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS 40

3.1 Cobrança de Dívidas e Bancos de Cadastros 40

3.2 Contratos 44

3.3 Aplicação do Código de Defesa do Consumidor às Relações Financeiras:

posicionamento jurídico 48

Page 60: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

60

CONSIDERAÇÕES FINAIS 52

BIBLIOGRAFIA 55

ÍNDICE 59

FOLHA DE AVALIAÇÃO 61

Page 61: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO CONSUMIDOR E AS ...como consumidor. Direitos estes, consolidados e regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de setembro

61

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DO

CONSUMIDOR E AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Autor: LUIZA GUEDES ALEXANDRE

Data da entrega:

Avaliado por: ANA PAULA ALVES RIBEIRO Conceito: