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Diretos do investidor consumidor Érico Lopes dos Santos Gerência de Estrutura de Mercado e Sistemas Eletrônicos (GME) Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI) Rio de Janeiro, 3/7/2017

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Diretos do investidor consumidor

Érico Lopes dos Santos Gerência de Estrutura de Mercado e Sistemas

Eletrônicos (GME) Superintendência de Relações com o Mercado e

Intermediários (SMI)

Rio de Janeiro, 3/7/2017

• Do direito consumerista

• A CVM e a proteção do investidor

• Investidor é consumidor?

– Estudo de caso 1

• Direitos do consumidor, o “investidor consumidor” e harmonização entre regras da CVM e do CDC

– Estudo de caso 2

• Boletins CVM/DPDC

• A quem recorrer em casos de problemas?

• Mecanismos de indenização

– MRP, FGC

Base constitucional do direito do consumidor

Art. 5º (direitos individuais e coletivos)

o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Art. 170, (da ordem econômica e financeira)

Inciso V – defesa do consumidor

Art. 48, ADCT

Congresso elaborará código de defesa do consumidor

Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90)

Dispõe sobre a proteção do consumidor

Define “consumidor” e “fornecedor”

Teoria finalista

Estabelece direitos básicos do consumidor

Responsabilidade e conduta do fornecedor

Oferta, publicidade, práticas abusivas

Penalização

Administrativa e criminal

Mecanismos de defesa do consumidor

Proteção ao investidor e CVM

Lei 6.385/76, Art. 4º: finalidades da CVM Inciso I – Estimular a formação de poupanças e a sua

aplicação em valores mobiliários;

Inciso II – Promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações, e estimular as

aplicações permanentes em ações do capital social de companhias abertas sob controle de capitais privados

nacionais

Incisco III - Funcionamento eficiente e regular

Proteção ao investidor e CVM

Lei 6.385/76, Art. 4º Inciso IV - Proteger os titulares de valores mobiliários e os

investidores do mercado contra

Emissões irregulares de valores mobiliários

Atos ilegais de adm. ou controladores das companhias abertas, ou de adm. de carteiras

O uso de informação relevante não divulgada

Proteção ao investidor e CVM

Lei 6.385/76, Art. 4º Inciso V – Coibir fraudes ou manipulação de mercado

Inciso VI – Acesso do público a informações sobre os valores mobiliários

Inciso VII – Práticas comerciais equitativas

Estudo de caso 1

Situação ocorrida no RS envolvendo investimento em ações por meio de corretora

Investidor: Ação de indenização por danos materiais e morais

decorrentes de operações realizadas no mercado de capitais por corretora em seu nome

Corretora: Arguiu não serem incidentes as regras do CDC

Aplicam-se as regras do CDC? Ou a relação é meramente civil ou comercial?

?

Decisão de primeira instância

3ª Vara Cível de Porto Alegre

Entendeu pela aplicação do CDC

Decisão de segunda instância

TJRS

Decidiu, em sede de recurso, não ser aplicável o CDC às operações financeiras no mercado de capitais,

Entendeu não haver vulnerabilidade do autor em face da ré

Valor do investimento

Superior Tribunal de Justiça

Recurso Especial 1.599.535

Decidiu que é aplicável o CDC

O CDC define tipos diferentes de investidores, com diferentes tipos de vulnerabilidade em relação ao fornecedor

Superior Tribunal de Justiça

Tipos de vulnerabilidade

Técnica Ausência de conhecimento específico

Jurídica ou Científica Falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico

Fática ou Socioeconômica Insuficiência econômica, física ou psicológica

Superior Tribunal de Justiça

Corretagem de valores mobiliários

Contrato de intermediação – contrato de adesão

Atividade intensamente regulada Restrições à atuação da corretora

Superior Tribunal de Justiça

Pessoa natural que visa a atender necessidades próprias

x

Instituição que presta de forma habitual e profissional o serviço

Superior Tribunal de Justiça

Caso envolve prestação de serviço a um consumidor final

Súmula 297

Valor da operação não retira a natureza de relação de consumo

Incabível retirar a condição de consumidor de uma determinada pessoa por ser seu nível de discernimento maior que o da média dos demais compradores do serviço

Enquadramento do investidor como consumidor – Economia

Relação de Agência

Investidor (principal) contrata serviço de instituição financeira (agente)

Conflitos de interesse

Assimetria de informações

Custos de agência

Monitoramento, controle, alinhamento de incentivos

Características da relação de agência

Desequilíbrio técnico e econômico

Contratos de adesão

P. ex.: André Alves (2014? doutorando UFPB) Sinceridade informacional, honestidade e lealdade contratual

Justa medida entre direitos e deveres

Quais são os direitos do consumidor?

Direitos do consumidor

Art. 6º, CDC I - a proteção da vida, saúde e segurança...;

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

Direitos do consumidor

Art. 6º, CDC IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

Direitos do consumidor

Art. 6º, CDC VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

Direitos do consumidor

Art. 6º, CDC VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Harmonização entre direitos do consumidor previstos no CDC e direitos do investidor

previstos em regras da CVM

Direito à informação

Instrução CVM nº 505 (Intermediários)

V – suprir seus clientes com informações sobre os produtos oferecidos e seus riscos;

VI – suprir seus clientes com informações referentes aos mecanismos de ressarcimento de prejuízos estabelecidos pelas entidades administradoras de mercado organizado, se for o caso;

VIII – suprir seus clientes com informações e documentos relativos aos negócios realizados na forma e prazos estabelecidos em suas regras internas.

Direito à informação

Instrução CVM nº 555 (Fundos)

Art. 25 - Todo cotista ao ingressar no fundo deve atestar, mediante formalização de termo de adesão e ciência de risco, que:

I – teve acesso ao inteiro teor:

a) do regulamento;

b) da lâmina, se houver; e

c) do formulário de informações complementares;

Direito à informação

Instrução CVM nº 555 (Fundos)

Art. 90, VII – Administrador deve “manter serviço de atendimento ao cotista, responsável pelo esclarecimento de dúvidas e pelo recebimento de reclamações, conforme definido no regulamento do fundo;”

Direito à informação

Instrução CVM nº 529 (Ouvidoria)

O serviço de ouvidoria no âmbito do mercado de valores mobiliários (Ouvidoria) é responsável por receber, registrar, analisar, instruir e responder a consultas, sugestões, reclamações, críticas, elogios e denúncias de clientes sobre as atividades relacionadas ao mercado de valores mobiliários, que não tenham sido satisfatoriamente solucionadas pelos canais de atendimento habituais da instituição.

Direito à informação sobre riscos

Instrução CVM nº 555 (Fundos)

Art. 25 ...

II – tem ciência:

a) dos fatores de risco relativos ao fundo;

b) de que não há qualquer garantia contra eventuais perdas patrimoniais que possam ser incorridas pelo fundo;

Direito à informação sobre riscos

Instrução CVM nº 555 (Fundos)

Art. 25 ...

II – tem ciência:

c) de que a concessão de registro para a venda de cotas do fundo não implica, por parte da CVM, garantia de veracidade das informações prestadas ou de adequação do regulamento do fundo à legislação vigente ou julgamento sobre a qualidade do fundo ou de seu administrador, gestor e demais prestadores de serviços; e

Direito à informação sobre riscos

Instrução CVM nº 555 (Fundos)

Art. 25 ...

II – tem ciência:

d) se for o caso, de que as estratégias de investimento do fundo podem resultar em perdas superiores ao capital aplicado e a consequente obrigação do cotista de aportar recursos adicionais para cobrir o prejuízo do fundo.

Direito ao consumo adequado

Instrução CVM nº 539 (Suitability)

Integrantes do sistema de distribuição devem verificar

Adequação perfil do cliente <-> Risco do produto Objetivos de investimento

Situação financeira

Capacidade de compreender os riscos

Proíbe oferta de produto incompatível com o perfil do cliente

Estudo de caso 2: Jurisprudência do TJRJ

Análise de julgados de 2005 a 2015 com relação a fundos de investimento (Érico Santos, 2015).

Principais conclusões

Aplicação do CDC. Súmula 297

Critério de competência é absoluto – Câmaras especializadas

Estudo de caso 2: Jurisprudência do TJRJ

Direito à informação

Inafastabilidade da jurisdição (Art. 5º, XXXV, CF) Desnecessidade de solicitar informação ao administrador do

fundo previamente ou de procurar a CVM

Cabimento de ação cautelar de exibição de documentos Aplicabilidade do CDC direito à informação

Estudo de caso 2: Jurisprudência do TJRJ

Prescrição: Relação de trato sucessivo

Não cabe falar em prescrição no momento da subscrição das cotas

Ônus do administrador de provar que forneceu regulamento do fundo ao investidor

Dever de cumprir as regras previstas no regulamento P.ex.: prazo de resgate

Dano moral configurado

Casos envolvendo aplicação ou resgate não solicitados

Estudo de caso 2: Jurisprudência do TJRJ

Lealdade

Gestor administrando recursos próprios de maneira oposta ao que fazia para os fundos (que acabaram com prejuízo)

Perícia Gestor tomou decisão de investimento em momento de alta

tensão no mercado

Aplicação da teoria da aparência Administrador x distribuidor

“em virtude da hipossuficiência técnica e jurídica, o consumidor não deve, nem pode, conhecer os limites dos poderes de representação atribuídos entre as partes”

Estudo de caso 2: Jurisprudência do TJRJ

Excludentes da responsabilidade

Investidor não comprovou verossimilhança do direito alegado

Falta de prova da falha da prestação do serviço

Ausência de dano quantificável

Interesse individual do cotista x interesse do condomínio de investidores

Lícito não conceder resgate a um cotista quando a concessão implicaria em prejuízo para a coletividade dos investidores remanescentes

Estudo de caso 2: Jurisprudência do TJRJ

Excludentes da responsabilidade

Outros deveres legais e regulamentares

Exemplo: gestor que deixou de agir com base em informação privilegiada dever de sigilo determinado na Instrução CVM 538

Prejuízo financeiro não caracteriza defeito

Conclusões

Investidor é consumidor

Aplica-se CDC, mas também as regras da CVM

Diálogo das fontes / interpretação sistemática

A avaliar

Limites da responsabilidade dos reguladores frente aos direitos do investidor consumidor

Boletins de proteção do consumidor/ investidor

CVM + Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor)/DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

http://www.cvm.gov.br

http://www.portaldoinvestidor.gov.br/publicacao/ListaBoletim.html

Boletins de proteção do consumidor/ investidor

1 – Riscos, apresentação CVM/DPDC

2 – Investimentos irregulares / golpes

3 – Fundos 157

4 – Ações de planos de expansão de telefonia

5 – O acionista e o direito à informação

6 – Marketing multinível e pirâmides financeiras

7 – A ouvidoria no mercado de capitais

8 – O investimento em condo-hoteis

Reclamações - A quem recorrer?

Dependendo das características do problema enfrentado,

diversas instituições podem ser acionadas

Intermediário (Corretora, Distribuidora)

Administrador de fundo de investimento

Administrador de mercado (B3)

Autorreguladores (BSM, Anbima, DAR-Cetip)

Reguladores (CVM, Banco Central, Susep)

Órgãos de proteção ao consumidor

Polícia

Ministério Público

Poder judiciário

Intermediário

Serviço de atendimento ao cliente

Ouvidoria

Instrução CVM 529

Administrador de mercado organizado

B3

http://www.b3.com.br

(11)3272-7373

Autorreguladores

Anbima (fundos de investimento)

http://www.anbima.com.br

Ancord (corretoras e distribuidoras)

http://www.ancord.org.br

Apimec (analistas de valores mobiliários)

http://www.apimec.com.br/

BSM

Serviço de atendimento ao público (SAP)

www.bsm-autorregulacao.com.br

(11)3272-7373

[email protected] ; [email protected]

Caixa postal 332 CEP 01.031-970, São Paulo, SP

Rua XV de novembro, 275 – 1º subsolo – Centro – São Paulo, SP

CVM

Serviço de atendimento ao cidadão (SAC)

www.cvm.gov.br

sistemas.cvm.gov.br/?SAC

0800-025-9666

Presencial: Rua Sete de Setembro, 111 – 5º andar 08:00-20:00 (Também em SP e Brasília)

Polícia

Crime

CP, art. 171: Estelionato

CP, art. 177: Fraude na fundação de sociedade por ações

Lei 1.521 (crimes contra a economia popular), p.ex. inciso IX

Lei 6.385: Informação privilegiada, exercício irregular de profissão

Ministério Público

MPF-RJ

Atuação na defesa dos direitos do consumidor, da concorrência e da regulação da atividade econômica

Sala de Atendimento ao Cidadão: (21) 3971-9553

Judiciário

Inafastabilidade da jurisdição

Sempre é possível recorrer ao judiciário

Juizado especial cível (Causas até R$28.960,00): não há necessidade de advogado

Universidades costumam ter núcleo de atendimento gratuito

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

O que é?

Fundo mantido pela B3 (entidade administradora do mercado de bolsa)

Por que existe?

Lei 6.385/76 (Lei da CVM)

Instrução CVM 461/11 – Arts. 77 a 86

Regulamento

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

Função

Ressarcir ao investidor prejuízos decorrentes de ação ou omissão de pessoa autorizada a operar (ou seus administradores, empregados ou prepostos) em relação à intermediação de negociações realizadas na bolsa ou aos serviços de custódia

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

Cobertura (principais situações)

Inexecução ou infiel execução de ordens

Intervenção ou decretação de liquidação extrajudicial pelo Banco Central

Uso inadequado de numerário ou ativos

Encerramento das atividades

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

Cobertura (ativos)

Valores mobiliários (art. 2o, Lei 6.385)

Ações, debêntures, cotas de fundos, derivativos

Negociados em bolsa

Não cobre ativos que não sejam valores mobiliários

Títulos públicos, CDB, LCI, LCA

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

Cobertura (valores)

Até R$120.000,00

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

Principais casos de não cobertura

Valores acima do limite coberto

Recursos de origem não bolsa no caso de liquidação extrajudicial

Comprovação de autorização para gestão de carteira mesmo que para profissional não autorizado

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

Metodologia para liquidação extrajudicial

Procura verificar origem do saldo em conta no momento da liquidação

Desconta do valor a ser ressarcido os lançamentos relativos a ativos que não sejam valores mobiliários (LCI, LCA, por exemplo)

Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP)

114 71 144 199

569 86 73 41

52

52

0

200

400

600

800

2012 2013 2014 2015 2016

Reclamações ao MRP por ano

Liquidação Outros

Fundo Garantidor de Crédito (FGC)

Associação Civil criada por autorização do CMN em 1995

Garantia de crédito das instituições associadas em caso de intervenção, liquidação extrajudicial ou insolvência

Operações de liquidez com o objetivo de manter a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional

Fundo Garantidor de Crédito (FGC)

Cobertura (ativos)

Depósito à vista

Poupança

Depósito a prazo (CDB)

Letras de câmbio (LC)

Letras hipotecárias (LH)

Letras de crédito imobiliário (LCI)

Letras de crédito do agronegócio (LCA)

Fundo Garantidor de Crédito (FGC)

Cobertura (valor)

Até R$250.000,00 por CPF/CNPJ e por instituição financeira

Exemplo: Investidor tem R$500.000,00 aplicados sendo (1) R$300 mil em CDB do banco A, (2) R$100 mil em LCI do banco A, (3) R$100 mil em CDB do banco B. Se o banco A “quebrar” ele terá direito a ressarcimento de R$250 mil pelo FGC

Fundo Garantidor de Crédito (FGC)

Cobertura (clientes)

2015: 220 milhões de correntistas (PF, PJ)

Alocação dos recursos cobertos:

Poupança 35%

Depósitos a prazo 29%

Depósitos a vista 9%

LCI 11%

LCA 10%

Fundo Garantidor de Crédito (FGC)

Utilização

4.167.607 clientes pagos

Casos mais recentes: Banco Azteca do Brasil (2016), Banco BRJ (2015), Banco Prosper, Banco BVA, Banco Rural (2013), Banco Cruzeiro do Sul (2012)