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Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Gestão Integrada da Comunicação Digital nas Empresas A evolução estratégica da comunicação de marca: um enfoque ao Branded Content no ambiente digital VINÍCIUS RIQUETO DE OLIVEIRA SÃO PAULO 2014

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Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Gestão Integrada da Comunicação Digital nas Empresas

A evolução estratégica da comunicação de marca: um enfoque ao Branded Content no ambiente digital

VINÍCIUS RIQUETO DE OLIVEIRA

SÃO PAULO

2014

2

VINÍCIUS RIQUETO DE OLIVEIRA

A evolução estratégica da comunicação de marca: um enfoque ao Branded Content no ambiente digital

Monografia apresentada à Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo em cumprimento parcial às exigências para

obtenção do título de especialista em Gestão Integrada da Comunicação

Digital nas Empresas, sob orientação do Professor Silvio Koiti Sato.

SÃO PAULO

2014

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VINÍCIUS RIQUETO DE OLIVEIRA

A evolução estratégica da comunicação de marca: um enfoque ao Branded Content no ambiente digital

Monografia apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em cumprimento parcial às exigências para obtenção do título de especialista em Gestão Integrada da Comunicação Digital nas Empresas.

Orientador: Professor Silvio Koiti Sato

Banca Examinadora

Prof. Dr. ________________________________Instituição: _________________

Julgamento:______________________________Assinatura_________________

Prof. Dr. ________________________________Instituição: _________________

Julgamento:______________________________Assinatura_________________

Prof. Dr. ________________________________Instituição: _________________

Julgamento:______________________________Assinatura_________________

4

Agradecimentos

Uma monografia, de certo modo, nunca é “escrita sozinha”. Pessoas fazem parte

das linhas que contornam a nossa própria história e nos dão forças para seguir em

frente na construção desta e de outras etapas na vida. Comigo não foi diferente.

Quero agradecer aos familiares, em especial à minha mãe, pai e irmã, que

compreenderam as ausências em festas de aniversário, casamentos e outros

encontros casuais.

Aos amigos e colegas de trabalho, que também entenderam o exílio social para

realização deste trabalho.

À Cargill e às gestoras Valéria Militelli e Luciane Reis, pela oportunidade em

continuar a busca pelo conhecimento.

À Amanda Poldi, mestre em Educação nas Profissões de Saúde e gerente de

Assuntos Regulatórios da Cargill, pelos almoços filosóficos que contribuíram para

diretrizes do projeto de pesquisa.

À biblioteca da Faculdade Cásper Líbero, que gentilmente possibilitou acesso ao

acervo acadêmico, fundamental diante da greve na USP e fechamento temporário

da biblioteca da ECA. Sem esquecer das estagiárias e amigas casperianas Amanda

Pires e Thaissa Romagnoli, que gentilmente utilizaram suas cotas de empréstimo

dos livros citados no trabalho.

Ao querido professor e orientador Silvio Sato, que iluminou com conhecimento e

sabedoria os caminhos e decisões a serem tomadas - mesmo em seus momentos

afônicos – um capítulo literalmente à parte deste trabalho.

Ao Cícero, por todo suporte e apoio neste momento e em todos os outros.

E, claro, a esta força maior que acredito orquestrar tudo isso.

5

“Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me

caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se

parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas

se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.

Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos

outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O

teu chamará para fora da toca, como se fosse música [...] A

raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe: - Por

favor... cative-me, disse ela!”

Antoine de Saint-Exupéry (O Pequeno Príncipe)

6

RESUMO

Com o crescimento do cenário digital e suas múltiplas possibilidades de acesso a

conteúdos, as pessoas têm a oportunidade de buscar informações de seu interesse

e trocar opiniões, bem como esquivar-se cada vez mais de abordagens publicitárias

promovidas pelas marcas nos meios de comunicação tradicionais.

Neste cenário, as empresas precisam administrar não somente seu posicionamento

no mercado perante os competidores, como também considerar novas estratégias

de comunicação para conquistar a atenção de seu público-alvo. Uma delas é o

branded content (conteúdo de marca), abordagem em que a marca deixa de falar

apenas de si mesma com o uso de formatos publicitários tradicionais e passa a

produzir conteúdos para fazer-se presente e contextualizada no universo de seu

público-alvo.

Este trabalho tem como objetivo entender como o branded content pode trazer

contribuições à estratégia das marcas, especialmente no ambiente digital. Para isso,

foi realizado um levantamento bibliográfico sobre gestão empresarial, branding e

produção de conteúdo de marca. Os conhecimentos apontados foram ilustrados com

o estudo de caso da marca Dove, particularmente em relação à estratégia de

branded content adotada em sua comunicação com os consumidores na campanha

“Retratos da Real Beleza”.

Pudemos compreender que mais do que nunca, as empresas precisarão unir o

potencial das relações públicas, da publicidade, do marketing, do design, das

ciências humanas e de outras áreas de conhecimento em um pensamento integrado

para realização de suas ações de comunicação com seus públicos estratégicos.

As informações contidas neste trabalho organizam conceitos teóricos e práticos que

podem auxiliar no direcionamento de estudos mais aprofundados sobre as novas

estratégias de diálogo e de narrativas das marcas, bem como a efetividade de novas

ações de comunicação das empresas no complexo contexto da cibercultura.

Palavras-chave: branded content; marca; branding; gestão empresarial; publicidade.

7

ABSTRACT

With the growth of the digital landscape and its multiple possibilities of content

access, people have the opportunity to search information of interest and exchange

opinions, as well as dodging increasingly advertising approaches promoted by the

brands in the traditional media.

In this scenario, companies need to manage not only their market position against

competitors, but also consider new communication strategies to capture the attention

of their stakeholders. One is the branded content, approach in which brands stop

talking only itself, using traditional advertising tools, to start producing content to

become present and contextualized in the universe of their target audience.

This study aims to understand how branded content may bring contributions to the

strategy of brands, especially in the digital environment. For this, it was done a

literature review on business management, brands and content production. The

knowledge pointed out was illustrated with a case study of Dove brand, particularly in

relation to branded content strategy adopted in its communication with consumers in

Dove Real Beauty Sketches campaign.

We could understand that, more than ever, companies need to unite the potential of

public relations, advertising, marketing, design, the humanities and other fields of

knowledge in an integrated system to carry out its communication actions with its

stakeholders thought.

The information on this work offer theoretical and practical concepts that can assist in

directing further research on new dialogue strategies and brands narratives, as well

as the effectiveness of new corporate communication initiatives in the complex

cyberculture context.

Keywords: branded content; brand; branding; business management; advertising.

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Animação History of Branding......................................................... 20

Figura 2 - Pilares do Brand Equity...................................................................

26

Figura 3 - Tarefas de liderança de marcas......................................................

27

Figura 4 - O processo de significado em seu contexto....................................

28

Figura 5 - Geração do significado da marca....................................................

29

Figura 6 - Modelo para construção de marca além da propaganda................ 31

Figura 7 - Diferenças conceituais entre advertainment, branded content e product placement...........................................................................

42

Figura 8 - Repórter Esso é considerado um dos primeiros casos de branded content no Brasil..............................................................................

44

Figura 9 - Primeiro caderno de receitas do açúcar União................................ 44

Figura 10 - Filme “Powder Keg” (Barril de Pólvora) da série The Wire, da BMW................................................................................................

46

Figura 11 - Ações de promoção de conteúdo da marca Red Bull......................

47

Figura 12 - Os últimos desejos da Kombi..........................................................

48

Figura 13 - Primeira campanha de Dove...........................................................

50

Figura 14 - Um dos primeiros anúncios publicitários da Dove........................... 51

Figura 15 - Primeiro anúncio de Dove no Brasil, em 1992.................................

52

Figura 16 - Destaques da pesquisa “A verdade sobre a real beleza” ............... 53

Figura 17 - Missão da marca Dove...................................................................

54

Figura 18 - Campanha Evolution...................................................................... 55

Figura 19 - Apostila especial para professores participantes do Projeto Dove pela Autoestima..............................................................................

57

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 20 - Vídeo da Campanha Dove Retratos da Real Beleza....................... 58

Figura 21 - Aplicação do modelo de diretrizes para construção de marca além

da propaganda, proposto por Aaker, no estudo de caso da

campanha Retratos da Real Beleza, da marca Dove......................

62

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 -

Contexto síntese da marca, da publicidade e do foco estratégico

das organizações nas três fases do marketing propostas por Kotler,

Setiawan e Kartajaya (2010) e organizadas por Pompeu, Santos e

Sato (2011).......……………..……………............................................

24

Tabela 2 - Estratégias para expressão de essência de marca........................... 30

Tabela 3 - Exemplos de ideias impulsionadoras adotadas pelas marcas.......... 32

Tabela 4 - Resultados da pesquisa Nielsen Global Survey of Trust in

Advertising 2013………………………………………….……………... 39

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMA - American Marketing Association

BSC - Balanced Scorecard

BCMA - Branded Content Marketing Association

QR Code - Quick Response Code

12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 13

1. 1. Evolução na gestão de marketing: os desafios para a comunicação

mercadológica................................................................................................. 15

1.1. Do nascimento da marca ao Marketing 1.0.......................................... 16

1.2. Marketing 2.0 e o produto como benefício............................................ 18

1.3. Marketing 3.0 e a voz do consumidor em rede.................................. 21

2. 2. Novos tempos para a comunicação nas empresas: a estratégia de

comunicação por conteúdo............................................................................ 25

2.1. Gestão de marcas - o papel do branding na gestão contemporânea.. 25

2.1.1. Identidade e posicionamento da marca................................................ 27

2.1.2. Programa de construção da marca....................................................... 30

2.2. Crise de atenção e os desafios para a comunicação de marca........... 34

2.3. Branded content e aplicações no ambiente digital................................ 40

3. 3. Case Dove ................................................................................................... 49

3.1. A origem da marca................................................................................ 50

3.2. O nascimento do conceito Real Beleza................................................ 52

3.3. Dove Retratos da Real Beleza.............................................................. 57

Considerações finais......................................................................................

Referências......................................................................................................

65

63

13

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da Internet proporcionou uma nova perspectiva para as

relações de consumo. Em um ambiente com múltiplas possibilidades de acesso a

conteúdos, as pessoas têm a oportunidade de buscar informações de seu interesse

e trocar opiniões, bem como esquivar-se cada vez mais de abordagens publicitárias

promovidas pelas marcas nos meios de comunicação, sejam eles digitais ou não.

Mais do que nunca, o poder está nas mãos dos consumidores.

Neste cenário, as empresas precisam administrar não somente seu

posicionamento no mercado perante os competidores, como também considerar

novas estratégias de comunicação para conquistar a atenção de seu público-alvo.

Uma delas é o branded content (conteúdo de marca), abordagem em que a marca

deixa de falar apenas de si mesma com o uso de formatos publicitários tradicionais

para fazer-se presente e contextualizada no universo de seus consumidores, de

modo a trazer contribuições e soluções para seus desafios na vida. Para isso, ela

passa a se comunicar por meio da produção de conteúdos relevantes, em diferentes

formatos como vídeos, músicas, games, aplicativos entre outros.

Este trabalho tem como objetivo entender como o branded content pode

trazer contribuições à estratégia das marcas. Partimos do pressuposto de que as

narrativas das marcas a partir de estratégias de branded content no ambiente digital

representam uma nova dinâmica de diálogo, atribuindo novos significados e

objetivos nas interações com seus públicos-alvo.

Para tanto, foi realizado um estudo exploratório composto por duas partes:

levantamento bibliográfico sobre gestão empresarial, marcas (branding) e produção

de conteúdo; e estudo de caso da marca Dove, particularmente em relação à

estratégia de branded content adotada em sua comunicação digital com os

consumidores na campanha “Retratos da Real Beleza”.

O capítulo 1 contempla uma revisão sobre a abordagem da comunicação

mercadológica com os consumidores, o que permeia uma análise sobre a evolução

do papel da publicidade, das marcas e da gestão de marketing ao longo dos anos.

14

As mudanças práticas promovidas pelo crescimento do ambiente digital estão

refletidas nos desafios e impactos na comunicação com o consumidor, tanto no

modelo de negócio da publicidade quanto nos novos significados, papéis e gestão

das marcas (branding) no mundo contemporâneo. Este cenário complexo é

abordado de forma mais aprofundada no capítulo 2, que apresenta também as

origens e definições da estratégia de promoção de conteúdo da marca, o branded

content, bem como um modelo teórico de gestão de marca para além da

propaganda, contemplando suas aplicações e oportunidades de ações no ambiente

digital.

Os conceitos apresentados são ilustrados com a aplicação prática de

mercado no capítulo 3, exemplificada pela marca Dove, que desenvolveu em sua

estratégia de marca um diálogo com o consumidor sobre os significados da beleza.

Para uma experiência mais aprofundada da leitura deste trabalho, é recomendada a

utilização de leitores de QR Codes para visualização de vídeos e áudios citados.

15

1. Evolução na gestão de marketing: os desafios para a comunicação

mercadológica

Em meados do século XIX, no contexto da Revolução Industrial e do

desenvolvimento das tecnologias nas linhas produtivas, o mundo vivenciou o auge

da economia orientada para a produção em massa e em grande escala. Para poder

conquistar volume nas vendas, as empresas precisavam distribuir e divulgar seus

produtos para uma grande quantidade de pessoas, de modo a convencê-las a

adquirir tais mercadorias. O processo de comunicação mercadológica das empresas

com o público consumidor torna-se, portanto, indispensável para os objetivos

comerciais das organizações. Para Gaudêncio Torquato do Rego,

a comunicação mercadológica objetiva promover a troca de produtores e/ou

serviços entre produtor e consumidor, [procurando] atender aos objetivos

traçados pelo plano de marketing das organizações, cujo escopo

fundamentalmente se orienta para a venda de mercadorias destinadas aos

consumidores, num determinado espaço de tempo; apoia-se a publicidade

comercial, na promoção de vendas e, também, utilizar-se, indiretamente,

das clássicas atividades da comunicação institucional (TORQUATO apud

KUNSCH, 1986 p. 163).

Ao longo dos anos, diversas transformações sociais, tecnológicas e culturais

têm demandado mudanças no foco estratégico desta comunicação com o

consumidor. O desenvolvimento do papel das marcas e da publicidade no contexto

das atividades organizacionais acontece simultaneamente e constitui um dos

indicadores susceptíveis para discriminação de estágios do marketing empresarial,

bem como um elemento analítico para entender suas diferentes abordagens.

Luz (2007) e Vásquez (2006) apontam de forma minuciosa as diferentes

abordagens e estratégias estéticas, racionais, emocionais e psicológicas pelas quais

a comunicação mercadológica tem se constituído desde sua concepção até os dias

atuais. De acordo com as autoras, o mundo da publicidade passou por um processo

de transformações e adaptações que caracterizaram o uso de diferentes estilos e

técnicas na eficácia da comunicação das marcas. Nascimento e Lauterborn (2007)

também trazem contribuições por meio de um resgate histórico sobre o

desenvolvimento do marketing e do branding, evidenciando que a evolução

16

conceitual e prática de tais temáticas são processos contínuos que merecem

revisões e reflexões de tempos em tempos.

Kotler, Setiawan e Kartajaya (2010) explicam que o marketing tem passado

por um processo de desenvolvimento que pode ser dividido em três fases: Marketing

1.0, 2.0 e 3.0. Em cada uma das três fases a gestão empresarial tinha um foco

estratégico: administração do produto e das vendas, relações com clientes e gestão

dos valores, anseios e desejos dos indivíduos. Ao analisar também esta dimensão

evolutiva, Lencastre (2007) amplia o termo “miopia em marketing”, proposto por

Theodore Levitt na década de 60, e faz um paralelo com a “miopia de marca” para

enfatizar que as marcas também passaram igualmente por um processo de

ampliação de seus usos e significados, no qual o olhar estratégico evoluiu do rótulo,

para o produto e posteriormente para o cliente.

Para explicar este desenvolvimento da comunicação mercadológica de forma

didática, será proposta uma análise que combina e articula o contexto apresentado

pelos diferentes autores citados anteriormente, de modo a compreender a

complexidade na gestão do marketing, bem como a evolução do papel da marca e

sua relação com diferentes públicos.

1.1. Do nascimento da marca ao Marketing 1.0

A origem da marca resgata a necessidade humana de simbolizar,

representar e significar, seja para marcar uma propriedade, fazer referência a uma

divindade ou especificar a origem de algo. A aplicação de signos para identificação

já era usada há mais de cinco mil anos pelas primeiras civilizações. Pinho (1996)

lembra que na Idade Média os mercadores adotaram seu uso como procedimento

de controle de quantidade e de qualidade da produção.

Os consumidores, acostumados a ver produtos in natura e negociados

diretamente por vendedores, precisavam de um “aval”, um carimbo que atribuísse

credibilidade ao produto. Foi nessa época que surgiram as primeiras embalagens e

o início de estratégias embrionárias para atribuir associações de imagens às

mercadorias.

17

Com o desenvolvimento tecnológico e industrial, a produção em massa

deixou de ser exclusividade de algumas empresas. Neste contexto, o mercado

começou a se caracterizar pelo surgimento de produtos e fabricantes concorrentes;

o desafio no modelo de negócio das empresas estava em equacionar os negócios

com as estratégias comerciais e de vendas.

Até meados de 1930, o gerenciamento de marca era limitado à definição de

um nome evocativo e um logotipo, restrito à “criação e gestão de sinais gráficos

apostos no produto tangível para identificar distintivamente dos produtos

semelhantes da concorrência” (LENCASTRE, 2007 p. 102). A marca tinha neste

período um papel somente de identificação, o que o autor chama de miopia do rótulo

(Ibid., p. 14).

Ao longo do tempo e com o surgimento dos meios de comunicação de massa,

as empresas começaram a utilizar a propaganda, divulgando suas mensagens em

folhetins impressos em jornais e, posteriormente, no rádio, cinema e TV

(NASCIMENTO, 2007 p. 38-40). O objetivo era aumentar o conhecimento dos

consumidores a respeito de seus produtos e diferenciá-los. Por isso, a publicidade,

naquele momento, buscava potencializar as características do produto (sabor, cor,

utilidade, textura, som, aroma, forma), destacando tais fatores para uma escolha

racional do consumidor.

Pinho explica que o Comitê de Definições da American Marketing Association

(AMA) apresentava nos anos 60 a definição de marca como

(...) um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes (PINHO, 1996, p. 14).

É neste período que surgem os primeiros autores dedicados a teorizar e

registrar conceitos de administração de empresas e marketing. Kotler (1996) difundiu

e aprimorou no final dos anos 50 o conceito clássico proposto por McCarthy (1976)

sobre o mix de marketing, que era composto pelos 4Ps (Produto, Preço, Praça e

Promoção). Nesta proposta conceitual, a marca era vista somente como parte do

produto.

18

Atribui-se também a este período uma miopia na gestão de marketing em

torno do produto e da transação comercial exclusivamente, em um processo de

investimento, construção e atribuição de significados a um objeto específico.

Este é o período (antes dos anos 1950 até meados dos anos 1960) do

Marketing 1.0, em que o foco estratégico estava voltado à gestão de produtos e

vendas.

1.2. Marketing 2.0 e o produto como benefício

Levitt (1960), em seu clássico artigo “Miopia de Marketing”, revolucionou o

conceito de produto em marketing ao sugerir que o consumidor compra um

benefício, suportado por uma tecnologia. O autor observou que muitas empresas na

década de 60 enfatizavam atributos funcionais de seus produtos, mas não

buscavam estabelecer um diferencial competitivo mediante seus competidores

baseado no ponto de vista do consumidor, que procura por soluções e benefícios

representados por uma marca e seus produtos. Ries (1988), autor da teoria do

Posicionamento na década de 1970, defendia que uma marca não podia significar

muitas coisas, pois deveria ocupar um lugar único na mente dos consumidores de

forma a conquistar o primeiro lugar na lembrança deles, dentro de uma categoria.

Drucker (1975) foi um dos autores pioneiros a contestar o modelo de

marketing centrado no produto e passou a evidenciar a figura do cliente como

verdadeiro centro para o negócio das empresas.

Com o passar dos anos, o consumo reforça sua dimensão simbólica numa

ordem de significação social. Uma máquina de lavar, por exemplo, pode deixar de

ser somente um equipamento doméstico e torna-se elemento de prestígio social e

conforto.

As mercadorias não são mais “objetos”, mas plenamente sujeitos, isto é, possuem uma individualidade própria inscrita em suas formas, em seus empregos, em suas idades. Também as mercadorias nascem, amadurecem, envelhecem, adoecem e morrem. Possuem nome, parentescos, genealogia, evoluções e mutações. Possuem um “corpo” cheio de símbolos e sinais. São fetiches. São Animadas. (CANEVACCI, 2001, p. 20).

Coelho (2006 p.120) explica que ao atribuir um nome e identidade a um

produto, a publicidade o diferencia e o traz para o mundo social, participante da vida

19

humana e, desta forma, se liga também às histórias de vida. O objeto passou a

transcender o uso funcional para trazer significados mais amplos aos consumidores:

“a publicidade passa a ter um papel de promover o consenso social, passando a

ocupar o lugar que antigamente pertencia à religião, à ideologia, à moral e à política”

(BAUDRILLARD apud BACEGGA, 2008 p. 80).

A investigação dos sentimentos dos consumidores, bem como as estratégias

de persuasão, design de embalagem, buscavam estender ao produto um conjunto

de referências a valores intangíveis e qualidades humanas (GOODYEAR apud LUZ,

2007, p.152). Ogilvy (1985) chamava atenção para o surgimento da era da imagem,

em que a reputação seria mais importante para se vender um produto do que as

suas características específicas.

A marca passa a ter um papel mais estratégico na comunicação

mercadológica. Neste período, Murphy definia marca como “a síntese dos elementos

físicos, racionais, emocionais e estéticos nela presentes e desenvolvidos através

dos tempos” (MURPHY, 1987, p. 3). Desta forma, a relação de um consumidor com

uma marca é baseada em experiências e interações. Essas experiências de contato

com a marca constroem um conjunto de significados a ela que influenciam na

percepção de valor ao produto:

Uma marca passa a significar não apenas um produto ou serviço, mas incorpora um conjunto de valores e atributos tangíveis e intangíveis relevantes para o consumidor e que contribuem para diferenciá-la daquelas que lhe são similares. Assim, ao adquirir um produto, o consumidor não compra apenas um bem, mas todo o conjunto de valores e atributos da marca. (PINHO, 1996 p. 43).

A chave do sucesso estava em valorizar um produto ou serviço frente aos

demais concorrentes, trazendo todo e qualquer processo socialmente utilizado para

valorizá-lo. A partir deste momento nenhum objeto seria o mesmo, afinal ele

precisava se destacar em meio à concorrência.

Assim, de forma concorrencial, as empresas utilizavam a publicidade,

principalmente nos meios de comunicação de massa, para pulverizar conceitos

funcionais e emocionais relacionados aos produtos, de modo a estimular nos

consumidores o desejo e a necessidade de compra. A animação History of Branding,

20

(Figura 1), demonstra este processo comunicacional e sua transição para o contexto

atual.

Figura 1- Animação History of Branding. Fonte: RUDGERS MEDIA, 2009.

Estes pensamentos e fatos fizeram com que a AMA conceituasse o

marketing, na década de 80, como um “processo de planejamento e execução de

conceitos, precificação, promoção e distribuição de bens, ideias e serviços para criar

trocas que satisfaçam os objetivos dos indivíduos e das empresas” (NASCIMENTO,

2007 p. 145).

Considerando a importância do cliente na gestão empresarial, Lauterborn

(1993) propunha um novo conceito para o marketing batizado de 4 Cs (Cliente,

Custo, Conveniência e Comunicação), em uma proposição em que o olhar

estratégico estaria de fora para dentro da empresa.

Este era o Marketing 2.0 (entre os anos de 1960 e final dos anos 1990), em

que a gestão empresarial estava centralizada na abordagem com os clientes e em

sua satisfação.

21

1.3. Marketing 3.0 e a voz do consumidor em rede

A terceira fase proposta por Kotler, Setiawan e Kartajaya é denominada

Marketing 3.0 e reflete as mudanças sociais promovidas e contextualizadas pela

cibercultura, principalmente com o crescimento da Internet. Pierre Lèvy caracteriza

cibercultura como “um conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de

atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente

com o crescimento do ciberespaço” (LÈVY, 1999, p. 17).

No contexto da pós-modernidade (HARVEY, 1992), em que os anseios e

desejos dos indivíduos quebram paradigmas sociais e culturais vigentes

anteriormente, o marketing busca envolver-se e participar da vida dos indivíduos,

que são mais que consumidores. Para isso, é preciso voltar-se aos valores mais

amplos da sociedade, expandindo sua atuação nas trocas e na satisfação de

necessidades humanas de uma forma mais amplificada; necessidades que podem

ser muitas vezes simbólicas e emocionais (POMPEU; SANTOS; SATO, 2010, p. 3).

Um dos primeiros conceitos de gestão empresarial contemplando este cenário

foi o Balanced Scorecard (BSC), desenvolvido em 1992 por Kaplan e Norton (1996)

que propunham um modelo de negócios que considerava os aspectos financeiros

(desempenho do negócio em longo prazo), clientes (como os clientes veem a

empresa), processos internos (análise de recursos internos e das capacidades

necessárias para elevar o nível de qualidade) e aprendizado e crescimento (análise

estratégica para crescimento). O que pode ser enfatizado nesta proposta é que a

preocupação na condução dos negócios passou a considerar outros públicos.

Neste sentido, a área de Relações Públicas sempre apontou a importância da

comunicação e do relacionamento das instituições com todos os seus públicos

estratégicos. No entanto, com a disseminação das mídias digitais, qualquer indivíduo

ou entidade tem potencialidades para impactar de forma positiva ou negativa a

imagem pública de uma instituição. Isto, fator que tem despertado mais

oportunidades para disseminar os conhecimentos da disciplina e também uma maior

atenção para a forma como as empresas conduzem os seus negócios e dialogam

com seus públicos.

22

Outro modelo de negócio que tem modificado a atuação das empresas foi

proposto por Elkington, conhecido como criador do conceito triple bottom line, em

que a gestão passa a considerar três vertentes: a prosperidade econômica (profit), a

qualidade ambiental (planet) e a justiça social (people), que são os pilares da gestão

da sustentabilidade (ELKINGTON apud KUNSCH, 2009 p. 68). A preocupação com

a disponibilidade de recursos naturais, a maneira como os produtos são

manufaturados e os impactos em toda a cadeia produtiva são exemplos de fatores

que passaram a demandar das empresas uma gestão e atuação também mais

amplas e as marcas tornam-se o cartão de visitas destas condutas adotadas:

A constatação de que as organizações têm um papel a cumprir diante de toda essa realidade socioeconômica e política em que vivemos hoje na sociedade global está induzindo a novos comportamentos e novas atitudes no mercado empresarial. As organizações começam a ver a sustentabilidade como uma forma de se buscar um desenvolvimento mais integral e equilibrado entre o progresso econômico e o social e procuram implantar novas diretrizes nas suas formas de gestão, de produção e de administração de recursos (KUNSCH, 2009 p. 65).

Este modelo de atuação vai ao encontro dos anseios das pessoas no

contexto contemporâneo. Kotler, Setiawan e Kartajaya (2010) ressaltam que os

consumidores devem ser tratados como seres humanos plenos, com mente, coração

e espírito, em busca de soluções para satisfazer seu anseio de transformar o mundo

globalizado em um mundo melhor.

Potencializadas pelo poder e integração proporcionados pela tecnologia, as

marcas encontram um novo cenário que permite aos consumidores a disseminação

de informações, opiniões e ideias para criação de valor:

Em um mundo confuso, eles [consumidores] buscam empresas que abordem suas mais profundas necessidades de justiça social, econômica e ambiental em sua missão, visão e valores. Buscam não apenas satisfação funcional e emocional, mas também satisfação espiritual, nos produtos e serviços que escolhem (KOTLER; SETIAWAN; KARTAJAYA, 2010 p. 4).

Um acelerador das mudanças do Marketing 3.0 foi o crescimento do ambiente

digital nas últimas décadas. O surgimento e evolução da internet reconfigurou o

modelo anterior de comunicação e promoção de cultura de massa, que era baseado

exclusivamente em transmissão (TV, rádio, jornais impressos). André Lemos (2003)

23

ressalta que a liberação do polo emissor na cibercultura possibilita, nas redes

digitais, a abertura dos indivíduos para a criação de uma história coletiva, aberta e

interativa.

Somado a esse fator, a lógica do modelo hipermidiático é caracterizada por

aspectos colaborativos e descentralizados, com múltiplas conexões voltadas à

cooperação.

Galindo (2003) enfatiza que diante da difusão cada vez maior de conteúdos

pessoais, dispersos por várias mídias e disponibilizados nas nuvens, as plataformas

para acesso e compartilhamento de informação tornam-se cada vez mais

convergentes e personalizadas. O usuário escolhe os canais de mídia ou

dispositivos que deseja para comunicar-se, além de dispor de ferramentas de

compartilhamento das imagens cotidianas nas redes sociais. Além disso,

dispositivos como os DVRs permitem ao consumidor selecionar a programação de

TV, sem interrupções de comerciais ou do conteúdo exibido.

Vivemos em uma sociedade em rede, conceito proposto por Manuel Castells

(2003), que se move para um modelo de organização suportado pela influência e

domínio da tecnologia nas relações econômicas e sociais, com reflexos nas práticas

de consumo entre empresas, marcas e consumidores. Neste ambiente, a

comunicação mercadológica passa por transformações. Perez (2004) acredita que o

objetivo da publicidade atualmente não consiste em anunciar produtos ou serviços,

mas sim em significar marcas em um contexto social para os indivíduos:

O que antes era puro compromisso do fabricante com seu produto se revela agora instrumento de participação individual em um valor coletivo que se tem de proclamar à vista de todos para ser aceito (Ibid., p. 113).

Com base nas informações apresentadas neste capítulo e na reflexão do

artigo de Pompeu, Santos e Sato (2011), foi elaborada a Tabela 1, de modo a

sintetizar o conteúdo abordado e associá-lo às três fases do marketing propostas por

Kotler, Setiawan e Kartajaya (2010), contextualizando o papel das marcas, da

publicidade, do foco estratégico das empresas e de sua interação com os públicos

ao longo dos anos.

24

Tabela 1 - Contexto síntese da marca, da publicidade e do foco estratégico das organizações nas três fases do marketing propostas por Kotler, Setiawan e Kartajaya (2010) e organizadas por Pompeu, Santos e Sato (2011). Adaptado pelo autor.

Como vimos, a atenção do consumidor passa a ser ainda mais disputada

pelas empresas, o que torna mais desafiadora a atividade de comunicação

mercadológica, como discutiremos no próximo capítulo.

25

2. Novos tempos para a comunicação nas empresas: a estratégia de comunicação por conteúdo

As mudanças promovidas pela inserção do ambiente digital nas relações

entre as pessoas e empresas têm demandado um novo olhar para a forma como a

comunicação entre as partes é feita. Para compreensão deste cenário, serão

abordados os desafios para as empresas desenvolverem relacionamentos com seus

consumidores.

Considerando a importância e o maior espaço que a marca passou a ter no

desenvolvimento dos negócios das empresas, abordamos inicialmente o modelo de

gestão da marca contemporânea e seus elementos conceituais.

Em seguida, veremos de forma mais aprofundada de que maneira a crise de

atenção dos consumidores, propulsionada pelo desenvolvimento das redes digitais,

tem se configurado como desafios para a comunicação das marcas. O terceiro

item apresenta um caminho que tem sido encontrado pelas empresas para promover

conteúdos da marca, de modo a desenvolver seu relacionamento com

consumidores. Neste sentido, veremos conceitos, aplicações e perspectivas para o

branded content.

2.1. Gestão de marcas – o papel do branding no mundo contemporâneo

Dentro da trajetória evolutiva do marketing, que pudemos analisar no capítulo

anterior, a marca ocupa hoje um novo espaço dentro da administração empresarial e

passou a ter uma gestão mais estratégica e focada, chamada também de Branding.

Isso porque a marca tornou-se um ativo intangível de destaque das organizações,

que pode trazer vantagem competitiva e lucratividade e, portanto, necessita de um

monitoramento e práticas gerenciais específicas.

Aaker (1998) foi um dos primeiros autores a propor a mensuração do valor

adicional que se atribui a algum produto ou serviço com marca, por meio do Brand

Equity, termo que que se refere a

um conjunto de ativos e passivos ligados a uma marca, seu nome e seu símbolo, que se somam ou se subtraem do valor proporcionado por um

26

produto ou serviço para uma empresa e/ou para os consumidores dela (AAKER, 1998 p. 16).

Os ativos e passivos nos quais o Brand Equity se baseiam, de acordo com o

autor, vão se diferenciar de contexto a contexto, mas podem ser agrupados em

cinco categorias: (1) lealdade à marca, (2) conhecimento do nome, (3) qualidade

percebida, (4) associações à marca em acréscimo à qualidade percebida e (5)

outros ativos do proprietário da marca - patentes, trademarks, relações com canais

de distribuição, etc. Em sua proposta conceitual, o autor evidencia seu entendimento

de que a marca engloba um composto de informações e conceitos para além do

produto, conforme exemplifica a Figura 2.

Figura 2 - Pilares do Brand Equity. Fonte: AAKER, 2010 p. 66. Adaptação do autor.

Para obter bons resultados no Brand Equity e na liderança da marca, Aaker

(2000) propõe quatro fatores: (1) Estrutura e processos organizacionais, (2)

Arquitetura de marca, (3) Programas de construção de marca e (4)

Identidade/posicionamento da marca, conforme demonstrado na Figura 3.

27

Figura 3 - Tarefas de liderança de marcas. Fonte: AAKER, 2010, p. 39. Adaptação do autor.

Em relação ao primeiro fator, os processos organizacionais, Aaker refere-se

à necessidade de um comando gerencial, seja na figura do gestor/gerente de marca

ou de um grupo gerencial, de modo a construir uma cultura nutridora da marca e não

serem adotadas medidas de curto prazo ou desalinhadas. Quanto ao segundo fator,

a arquitetura de marca, o autor refere-se à estrutura hierárquica das marcas e suas

submarcas, esclarecendo seus respectivos papéis na construção de valor à

empresa.

Os dois itens que daremos mais ênfase neste trabalho são os dois últimos

fatores listados pelo autor e abordados nos subcapítulos a seguir, relacionados ao

desafio da identidade e posicionamento da marca e da construção e do

desenvolvimento do programa de construção da marca.

2.1.1. Identidade e posicionamento da marca

Existem diferentes modelos conceituais para definição de identidade de

marca. Para realização deste trabalho, resgatamos as considerações de Semprini

28

(2010), que aborda primariamente três dimensões que fundamentam a noção geral

da marca na pós-modernidade: a natureza semiótica (relativa a todas narrativas,

atos discursivos e seu potencial em construir e veicular significados), relacional

(trocas e interações funcionais e simbólicas com os públicos) e evolutiva da marca

(caráter mutável em reação às mudanças do ambiente em que está presente).

Considerando os fatores que compõem a marca, o autor defende a necessidade de

um projeto de marca, que designa não apenas as estratégias e planos de

desenvolvimento da marca, como também dá diretrizes para “propor um horizonte

de sentido, de identificar uma proposição de tipo semiótica e sociocultural que seja

pertinente, original e atraente para determinado público” (Ibid. p. 146).

O autor explica que cada manifestação do projeto da marca (como o logotipo,

nome, embalagem, design, ponto de venda, cores, eventos, entre outras) contribui

na formação de micro discursos, que vão formando uma organização narrativa para

construção de seus significados, o que o autor chama de modelo semionarrativo.

Este modelo é composto de três níveis: (1) Valores (fonte da marca, que

assegura sua continuidade, legitimidade e memória junto ao público-alvo), (2)

Narração (narrativas utilizadas para explicitar a comunicação da marca) e (3)

Discurso (objetos, formas, estilos, slogans, personagens entre outras). Ao redor

deste processo de criação de significados há o contexto sociocultural, histórico,

político e cultural, os debates de opinião, ações de produtos e marcas concorrentes,

entre outros fatores que influenciam os processos interpretativos e, assim, as

atribuições de sentido às manifestações da marca, conforme ilustra a Figura 4.

Figura 4: O processo de significado em seu contexto. Fonte: SEMPRINI, 2010 p.155

29

O autor considera importante este processo interativo entre o projeto da

marca e de suas manifestações no contexto contemporâneo para determinar a

identidade manifesta da marca, ou seja, a identidade que é expressa e,

consequentemente, passível de ser percebida e interpretada pelos públicos.

Para explicar o complexo processo de significação de marcas, Batey (2010)

esclarece que pensamos nas coisas em termos físicos e práticos e procuramos

benefícios funcionais, mas existe também um processo de significância realizado por

nosso cérebro que realiza um “composto dos significados mais profundos e das

maneiras instintivas de nos definir e formar o mundo à nossa volta” (Ibid., p. 190).

Isso está relacionado às experiências de vida e ao repertório de informações de

cada indivíduo, que faz correlações específicas para cada elemento de

expressão/manifestação da marca. E, no ambiente digital em que o usuário pode

buscar seus próprios caminhos para obter informações, este processo se torna

ainda mais pessoal. A Figura 5 exemplifica de forma didática o caminho pelo qual

são gerados os significados da marca.

Figura 5 - Geração do significado da marca. Fonte: BATEY, 2010 p. 194. Adaptação do autor

Para sintetizar a comunicação e expressão das marcas, Aaker (2010, p.67)

explica que uma estratégia é a orientação para expressar os benefícios funcionais

(relevante a um atributo do produto), emocionais (expressão de sentimentos à

marca) ou autoexpressivos (expressão de uma autoimagem pelo consumidor, como

ser aventureiro). A Tabela 2 explica essas diferentes estratégias de expressões de

marca com exemplos práticos.

30

Tabela 2 - Estratégias para expressão de essência de marca. Fonte: AAKER, 2010, p. 63. Adaptação do autor.

O autor ainda enfatiza que a expressão de marca, apresentada em uma frase,

é a síntese de todos os elementos de associações e representações da marca. A

clareza sobre este primeiro item definirá a convergência e coerência de todas as

ações propostas pela marca, de modo a concretizar as entregas que a marca se

propõe a oferecer.

Quanto mais frequente uma informação, mais definida ela fica. Em outras

palavras, “as associações de marca se fortalecem e se consolidam pelo tempo e por

meio da repetição, mas também se enfraquecem se não forem repetidas” (BATEY,

2010 p. 29). Por esta razão, há a necessidade de um trabalho coerente e de longo

prazo para todos os pontos de contato da marca com seus públicos.

2.1.2. Programa de construção da marca.

Para realização desta tarefa de longo prazo, Aaker (2010) apresenta o quarto

pilar do processo de branding, que consiste nas estratégias e ferramentas de

comunicação para elaboração de um programa de construção de marca, que

envolve um composto de iniciativas como patrocínios, eventos e iniciativas na web.

Entre os programas propostos, o autor apresenta um modelo teórico com dez

31

diretrizes para a construção de marca além da propaganda, uma estratégia que

preconiza ações para além do modelo tradicional de publicidade, conforme

exemplifica a Figura 6.

Figura 6 – Modelo para construção de marca além da propaganda. Fonte: AAKER, 2010, p. 306.

A premissa para uma estratégia centrada na marca é esclarecer a sua

identidade (1), de modo a aproximar o público-alvo e evidenciar a proposta das

ações. O segundo item é relacionado aos pontos de ressonância (2) do cliente,

definido pela compreensão de três dimensões: atividades e interesses

(compreensão do ele gosta de fazer, como viajar, praticar esportes, manter a casa),

bens (entender o que o cliente considera como “posse”, sejam bens materiais ou

sentimento de pertencimento a um local, de uma ideia ou de pessoas, como filhos,

esposa e amigos) e valores e crenças (conjunto de fatores, cultura e pensamentos

que representam o indivíduo). Este item está ligado ao sexto fator indicado por

Aaker que é o alvo (6), fazendo referência à importância de segmentação de

públicos de interesse da marca.

32

Steven J. Heyer, ex-presidente e COO da Coca-Cola, explica que de forma

geral os consumidores se interessam e têm paixão por um conjunto restrito de

temáticas, como música, entretenimento visual e jogos. Cada uma dessas paixões

aponta na direção de um tipo de associação possível com a marca.

A mensagem publicitária inserida no conteúdo e assim valorizada faz, porém, com que a gente saia da simples presença para geração de impacto. A diferença entre uma conexão visual e uma conexão visceral traz como resultado uma diferença de dinheiro em caixa (HEYER apud DONATON, 2007 p. 49).

Ao encontrar estes pontos de ressonância, a marca estabelece caminhos

para construir ligações mais profundas com seu público-alvo.

O terceiro ponto é encontrar uma ideia impulsionadora (3), que é o conceito

central ou programa criativo que promove as ações propostas pela marca. Aaker

explica que em muitos casos a ideia impulsionadora é inspirada nos pontos de

ressonância do consumidor, mas ela também pode surgir do próprio produto (um

produto inovador, por exemplo), da posição adotada pela marca ou da sua

personalidade. A Tabela 3 traz alguns exemplos de ideias adotadas por marcas

como Coca-Cola e Starbucks.

Tabela 3 - Exemplos de ideias impulsionadoras adotadas pelas marcas. Fonte: AAKER, 2010, p.280. Adaptação do autor.

O quarto elemento exige envolver o cliente (4), em um processo de

relacionamento que proporcione um diálogo entre a marca e seus públicos. Como

abordado, vale destacar que o ambiente digital oferece tecnologias que propiciam

uma melhor dinâmica para estas interações. O quinto fator indica cercar o cliente

33

(5), em uma abordagem integrada de contextos, com diferentes mídias, que vão ao

encontro do conceito transmidiático apresentado por Jenkins (2008). Aaker enfatiza

que qualquer um dos veículos se desgastará com o tempo e a experiência

multimeios auxilia o cliente a ter perspectivas diferentes com o conteúdo, de modo a

preencher eventuais lacunas de compreensão.

Outro item é buscar caminhos para sair do congestionamento (7), de modo

a encontrar um contexto alternativo para se destacar entre os concorrentes e

surpreender o consumidor de forma positiva. O oitavo item busca ligar a

construção de marca à marca (8), ou seja, fazer com que a ação proposta seja

complementar à vida da marca, de modo a não construir outra proposta de valor ou

substituir sua essência.

O nono item é relacionado à busca de autenticidade e substância (9), de

modo a trazer um sentimento genuíno à marca, tornando-a dona legítima da

associação desejada. Robert Mckee afirma que existem duas maneiras de

convencer pessoas. A primeira é basear ideias em uma série de fatos, números e

argumentos intelectuais, em um discurso mais racional. A outra maneira é escrever

histórias atrativas em torno de ideias, envolvendo a emoção das pessoas (MCKEE

apud KOTLER, 2010 p. 64). A este item podemos correlacionar as narrativas das

marcas e o storytelling como estratégias interessantes para serem adotadas no

processo:

O storytelling é um dos fenômenos mais significativos da ecologia de mídia contemporânea e a apropriação de suas técnicas pelas empresas de marketing para reconfiguração da narrativa das marcas, [...] se utiliza da complexidade narrativa e se diferencia das narrativas das marcas por ser uma ferramenta para construir universos de histórias coerentes e distintas entre si, dotadas de mitologia própria, estabelecendo elos e conexões que se desdobram por múltiplas plataformas de mídia, de forma interdependente, mas capazes de fazer significar novos sentidos para a experiência de mundo (MASSAROLO, 2014 p. 8-9).

O último item apontado pelo autor é referente à ampliação do programa de

construção de marca (10) de forma a fazer com que o composto de ações da

marca contribua para a saúde da marca. Seja uma ação de distribuição de brindes

ou mensagens via e-mail, é preciso que a marca seja construída de maneira

integrada a todas as áreas envolvidas.

34

2.2. Crise de atenção e os desafios para a comunicação de marca

Como visto até aqui, a comunicação da marca é uma das etapas

fundamentais do processo que envolve a sua gestão. E, considerando o cenário

digital, esta atividade torna-se ainda mais complexa na disputa pela atenção das

pessoas.

A publicidade está inserida no contexto cultural da contemporaneidade, de

modo que as peças de comunicação também exercem um papel de entretenimento

no cotidiano, seja por meio de um vídeo viral, comercial de TV ou de um jingle no

rádio. O entretenimento, enraizado como elemento em nossa cultura, indica um fator

de forte conexão entre os consumidores, as marcas e seus conteúdos midiáticos.

Os estudos sobre a Indústria Cultural, propostos por Adorno, Horkheimer e

demais membros da Escola de Frankfurt, por volta de 1930 envolviam discussões

sobre a economia política da mídia e a produção de conteúdos culturais e artísticos

em massa no contexto de uma sociedade capitalista, o que fomentou críticas à

produção cultural voltada ao consumo de bens simbólicos. Considerando o

pensamento dos autores, Martin-Barbero reitera que a proposição capitalista

reduziria a cultura para sua forma mais impura, a cultura da diversão e do

entretenimento, “tornando suportável a vida inumana, uma exploração intolerável,

inoculando dia-a-dia e semana após semana a capacidade de cada um se encaixar

e se conformar” (MARTÍN-BARBERO, 2003 p. 78).

Esta crítica à banalização cultural intrigou Debord (1997) para que o autor

propusesse em 1967 uma discussão sobre a Sociedade do Espetáculo, termo que

designaria todo e qualquer tipo de imagem que levaria ao homem à passividade e à

aceitação dos valores preestabelecidos pelo capitalismo. As relações sociais seriam

apenas simulações onde o “parecer ser” ou “parecer ter” seriam mais importantes do

que a própria realidade:

Toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação (DEBORD, 1997, p. 13).

Na origem latina e etimológica da palavra entretenimento, temos inter (entre)

e tenere (ter), cujas raízes incorporam a ideia de “ter entre”. Trigo lembra que se a

35

arte nos oferecia o ékstasis, que em grego significa “deixar que saiamos de nós

mesmos”, o que de certo modo nos dá uma visão de perspectiva, o entretenimento

buscaria nos levar cada vez mais para dentro dele e de nós mesmos (TRIGO apud

SOUTO, 2011 p. 4). Seja por meio de conteúdos engraçados, dramáticos ou de

qualquer outra natureza temática, o entretenimento desempenha uma importância

nas relações sociais no mundo contemporâneo e traz, de forma intrínseca, diversos

elementos que representam significados específicos para cada indivíduo.

Pereira (2005) enfatiza que os meios de comunicação, presentes na

mediação das relações de consumo, valorizam as imagens e as representações

visuais e mentais cotidianas dos consumidores. O cinema, as peças publicitárias, os

eventos, os programas de TV como telenovelas, programas de auditório ou reality

shows exemplificam a criação de experiências que antecedem a vivência real na

formação dos fatos, carregando mensagens e cargas simbólicas para os

consumidores. Perez (2004) complementa este contexto e explica que

as novas tecnologias não impactaram em aumento da racionalidade e redução de carga simbólica das mensagens publicitárias, ao contrário, cada vez mais os consumidores deixam de consumir produtos tangíveis para se enveredarem pelo mundo fugidio dos símbolos e a publicidade responde como portadora de mensagens conscientes e inconscientes (PEREZ, 2004 p. 106).

Se por um lado as redes digitais contrapõem um modelo de postura passiva

dos indivíduos, no outro elas abrem uma nova janela de possibilidades para que as

pessoas possam construir seus próprios espetáculos, o que se expressa na

exposição de informações pessoais nas mídias sociais, seja no compartilhamento de

vídeos sobre viagens realizadas, nos comentários sobre a compra de um carro novo

ou até mesmo nas fotos de si mesmo, as selfies. E este mesmo consumidor, que

compartilha informações sobre as marcas, quer saber as origens da matéria-prima

dos produtos que consome, a forma como foram feitos e seus impactos ambientais,

em um modelo de consumo mais responsável, ético e solidário denominado por

alguns autores como consumerismo, conforme comenta Papastawridis (2013).

Neste contexto, observa-se que o entretenimento e a valorização do consumo

consciente andam cada vez mais juntos nas atitudes e nas mentes dos

consumidores.

36

Os reflexos da revolução digital não afetam somente os consumidores, mas

também o modelo de negócio tradicional das agências de publicidade e dos meios

de comunicação. Donaton (2007) critica o atual modelo que por muitos anos

proporcionou a união entre os interesses de divulgação das marcas e a saúde

financeira das mídias. O autor explica que no ambiente atual há muita diferença

entre ter presença e ter impacto nas ações, considerando necessária a mudança

para um modelo de negócio que deixa de ser massivo e invasivo para tornar-se

segmentado e convidativo ao consumidor.

O autor propõe uma sinergia e intersecção entre a produção de conteúdo e a

comunicação mercadológica, utilizando a expressão Madison & Vine, fazendo

referência aos centros de produção de entretenimento, jogos e filmes em San

Fernando Valley - Estados Unidos e ao mundo da propaganda, representado pela

Madison Avenue, em Nova York. De um lado há a proposição de produtos culturais

que ditam o que é interessante, enquanto o outro interpreta os valores da marca e

define as suas conexões com esta cultura.

Isto não significa a extinção da publicidade, mas sua transformação para

adequar-se a uma nova configuração dos meios. Jenkins (2008) propõe um modelo

de convergência cultural que aborda três características das transformações

tecnológicas, mercadológicas e sociais com a evolução e inserção das novas

mídias: a convergência midiática, a cultura participativa e a inteligência coletiva. Esta

convergência contempla o fluxo de conteúdos por meio de múltiplas plataformas

midiáticas, cooperação das indústrias midiáticas e uma mudança comportamental

dos públicos dos meios de comunicação, que vem experimentando esta

reconfiguração através de novas relações entre a cultura popular e o entretenimento

comercial:

Desde que o som gravado se tornou uma possibilidade, continuamos a desenvolver novos e aprimorados meios de gravação e reprodução do som. Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada antigo meio foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital (JENKINS, 2008 p.39).

Em relação à abordagem intrusiva do modelo tradicional de propaganda,

Weiss (2014) acredita que as pessoas não suportam serem interrompidas, muito

37

menos serem abordadas para comprar coisas. A afirmação propõe uma reflexão

sobre os novos caminhos para a comunicação mercadológica. As marcas precisam

considerar que muitos consumidores não procuram mídia; buscam informações que

lhes interessem e conteúdos que lhes despertem atenção. Isto faz com que a

publicidade passe a desempenhar um papel híbrido, em que seu conteúdo comunica

e entretém ao mesmo tempo:

Atualmente, a publicidade em processo de hibridização se mescla ao conteúdo e, por si só, passa a ser compreendida e consumida por parte do público como entretenimento. É uma nova maneira de se trabalhar a comunicação publicitária, baseada na aglutinação de três fatores: informar persuasivamente, interagir e entreter (COVALESKI, 2013, p.23).

Não há mais a centralidade de uma mídia que atenda a todos os objetivos de

comunicação das empresas, mas uma composição de aparelhos e dispositivos

móveis que cumprem funções complementares. Para Massarolo (2014), a criação de

um ambiente de histórias e conteúdos para multiplataformas dissolve as barreiras

convencionais entre arte, comunicação e o entretenimento, pois requer parâmetros

de análise que contemplem obras ramificadas por extensões narrativas e que, por

isso, não podem ser considerados como ‘obras únicas’, tais como: filmes, jogos,

séries de TV e HQs.

Este é um fator desafiador para as empresas, acostumadas a contratar

profissionais e serviços especializados para realização de suas atividades

comunicacionais. Em certa medida, o desenvolvimento do ambiente digital também

tem fomentado a integração multidisciplinar das áreas de conhecimento, com a

necessidade cada vez mais evidente de uma atuação próxima das áreas de

psicologia, design, jornalismo, marketing, publicidade, relações públicas, entre

outras:

não há mais dúvidas de que tudo que puder ser transformado em digital será transformado em digital. [...] não há mais como existir divisões do tipo “comunicação convencional” e “comunicação digital”; “publicidade off-line” e “publicidade online”. Independentemente do meio, do suporte ou se é constituído de átomos ou bits, é tudo comunicação, é tudo publicidade, é tudo uma coisa só, tudo rumo para o mesmo lugar. E no centro de tudo isso, está o mesmo cara, o mesmo usuário (HELENA; PINHEIRO, 2012 p. 37).

Por este motivo, Correa, E. (2005) enfatiza a importância de um planejamento

integrado e alinhado à estratégia global da organização como ponto inicial para

38

análise da estratégia de comunicação digital. Este modelo de Comunicação

Integrada é um processo que envolve, segundo proposições de Kunsch (2002), um

composto comunicacional caracterizado pela comunicação institucional (relativa à

estratégia e cultura da corporação), interna (direcionada aos funcionários),

administrativa (relacionada aos processos comunicacionais) e mercadológica.

Isso faz com que a comunicação das marcas enfrente um momento de

adaptação, sofrendo mudanças radicais em sua concepção e execução. Batey

(2010) reitera que as marcas eram escolhidas antigamente pela capacidade de

atribuírem valores aos consumidores que as usavam, mas agora são os

consumidores que dão valores às marcas que usam. “Cada vez mais a

“propriedade” da marca é passada ao consumidor” (BATEY, 2010 p. 16).

Apesar da fragmentação da divulgação das marcas em diferentes mídias, não

significa que as pessoas não confiem mais na comunicação das empresas, pelo

contrário. O estudo Nielsen Global Survey of Trust in Advertising 20131 traz dados

sobre a credibilidade que consumidores depositam em relação à propaganda das

empresas, apontados na Tabela 4. A pesquisa apresenta um comparativo com os

dados de sua primeira edição, realizada em 2007. Com exceção da propaganda

impressa em jornais, que teve queda de 2%, houve um aumento médio de

aproximadamente 11% no nível de confiança que os consumidores afirmam ter em

relação à propaganda realizada pelas empresas. Além disso, a opinião de outros

consumidores sobre determinado produto foi considerada por 84% dos entrevistados

a fonte mais confiável de informação, fator que justifica os esforços para fazer com

que os consumidores sejam embaixadores da marca.

Assim, o maior desafio não está somente na relação de confiança dos

consumidores com as informações compartilhadas pelas empresas e marcas, mas

também na proposição de estratégias para chamar atenção aos conteúdos

disponibilizados por elas. As marcas precisam reinventar suas formas de conexão e

seu significado para o consumidor, assim como é preciso abandonar o pensamento

orientado à mídia massiva para concentrar-se nas reais entregas da promessa da

marca, contextualizando sua presença com os desafios e realidades do mundo.

1 Estudo realizado de 18 de fevereiro a 8 de março de 2013 com mais de 29 mil consumidores em 58

países. Disponível em: http://www.nielsen.com/us/en/newswire/2013/under-the-influence-consumer-trust-in-advertising.html. Acesso em 25/06/2014.

39

Tabela 4 - Resultados da pesquisa Nielsen Global Survey of Trust in Advertising 2013. Fonte: Nielsen, 2013.

40

2.3. Branded content e aplicações no ambiente digital

Vimos até aqui que as empresas têm buscado alternativas para atrair e reter a

atenção dos seus consumidores. Covaleski (2010) reforça que a comunicação

publicitária precisa estabelecer uma relação entre a marca e o conteúdo de interesse

do consumidor, e não entre a marca e o produto em si.

Galindo (2003) complementa este raciocínio e acredita que este novo modelo

de publicidade dos meios de comunicação envolve a audiência e ao mesmo tempo a

distrai, oferecendo um consumo simultâneo de informações e bens de serviços. Para

tentar explicar este novo modelo de comunicação, foi criado no final dos anos 90 o

termo advertainment, combinação das palavras advertising e entertainment,

designado para descrever toda e qualquer parceria de conteúdo entre a indústria da

publicidade e do entretenimento.

Covaleski (2010, p.40) explica que o advertainment busca “a fusão entre a

mensagem comercial da publicidade e a fruição estética do entretenimento”. Nesta

estratégia é a empresa ou a marca, e não a mídia, quem gera e financia o conteúdo

jornalístico, educativo ou de entretenimento. Por esse motivo, Troiano complementa

que “as divisões entre informação jornalística, publicidade e entretenimento já não

são tão nítidas quanto a poucos anos” (TROIANO, 2014).

Para este modelo estratégico de comunicação, alguns profissionais utilizam

ainda o termo branded content, branded entertainment, marketing de conteúdo,

comunicação por conteúdo ou conteúdo de marca. Algumas agências de publicidade

segmentam as oportunidades de interação propiciadas pelo ambiente e tecnologias

digitais para realizar ações de branded content e, neste sentido, utilizam também o

termo digital branded content. Para alinhamento conceitual do termo no decorrer

deste trabalho, utilizaremos a nomenclatura branded content para contextualizar

seus usos e oportunidades no ambiente digital.

Para Weiss (2014), ainda existe uma forte barreira de compreensão por parte

dos profissionais de comunicação para classificar o termo. A complexidade está

justamente na mistura de formatos e objetivos desta comunicação, intrinsecamente

ligada à produção de conteúdo e ao entretenimento. O mais importante para a

41

consultora é a criação de histórias relevantes que realmente conectem e construam

um diálogo da marca com sua audiência.

De modo didático e para facilitar a compreensão dos termos, Helena e

Pinheiro (2012) reúnem estudos relacionados ao tema e esquematizam suas

sutilezas conceituais, conforme demonstrado na Figura 7. Uma categoria é o product

placement, conhecido também como embeded marketing, in-movie advertising,

brand integration ou tie-in, que se referem à presença de conteúdo de marca em um

conteúdo de entretenimento.

O product placement consiste na presença de determinado conteúdo de marca (input que pode ser a embalagem, a marca em si, um comportamento, uma música, um destino turístico) em algum conteúdo de entretenimento (narrativa-suporte que pode ser um filme, um clipe musical, um game, um livro, um comic book) (HELENA; PINHEIRO, 2012 p.126).

No Brasil uma nomenclatura similar ao product placement é o merchandising,

também referente à presença de produtos ou serviços no conteúdo de

entretenimento. No entanto, a diferença conceitual entre os termos é que o

merchandising segue a lógica da publicidade tradicional, interrompendo o fluxo

natural do conteúdo (Ibid., p. 114). O product placement pode promover visibilidade

para a marca, mas não necessariamente está envolvido no contexto simbólico de

todos os atributos e mensagens que ela deseja comunicar.

42

Figura 7 - Diferenças conceituais entre advertainment, branded content e product placement. Fonte: HELENA; PINHEIRO, 2012 p. 101. Adaptação do autor.

A outra vertente do advertainment é o branded content ou branded

entertainment, que segundo os autores são sinônimos e têm o seguinte significado:

uma ferramenta de marketing que consiste na produção e distribuição de conteúdo de entretenimento por uma iniciativa da própria marca. O objetivo principal é fazer com que as pessoas assimilem a mensagem, os atributos e os conceitos de forma leve e envolvente (Ibid., p. 103).

O branded content não tem foco imediato de venda de um produto ou serviço,

pois seu objetivo “é relacionar diretamente o consumidor com a marca e ligá-lo

emocionalmente a seus valores” (TROIANO, 2014). É neste sentido que a técnica

apresenta-se como estratégia para promover a relação entre os objetivos da marca

e a aproximação do consumidor por meio de conteúdos promovidos pela marca.

Por outro lado, o branded content não funciona sozinho e precisa estar

integrado à estratégia de marketing e de gestão da empresa:

Todos os Ps do marketing [produto, preço, praça e promoção] precisam estar alinhados, pois só branded content não segura a reputação de uma marca. Ele até ajuda a construir o awareness, a fazer com que as pessoas se tornem fãs, mas, quando algo não é autêntico, só o branded content não é suficiente no longo prazo (TERENZZO apud TROIANO, 2014).

43

Donaton (2007) exemplifica alguns tipos de formatos em que a marca busca

outras alianças, seja com a produção de conteúdo ou com a oferta de

entretenimento, de modo a realizar uma relação diferente com seu público-alvo.

Uma delas é a publicidade de formato longo, que são filmes publicitários com

duração maior que 30-60 segundos geralmente veiculados somente na internet

(Ibid., p. 31). Outro exemplo são as custom publishing, publicações que unem

conteúdo editorial e publicitário juntos para divulgação de assuntos que vão ao

encontro de interesse do anunciante e dos leitores. O autor cita como exemplo a

revista Lucky, publicação segmentada da Condé Nast Publications, editora das

revistas Vogue e Vanity Fair, que traz novidades de joias, maquiagens e acessórios,

com pouco conteúdo editorial (Ibid., p. 34).

Se analisarmos referenciais históricos, é possível observar que a técnica de

promoção de conteúdos para além dos atributos dos produtos é utilizada há muito

tempo. Donaton (2007) lembra que os primeiros patrocinadores de rádio e televisão

produziam programas em que ofereciam conteúdo e, ao mesmo tempo, veiculavam

seus próprios comerciais. As primeiras radionovelas na década de 1930 eram

patrocinadas por marcas de higiene nos Estados Unidos, como Procter & Gamble,

Colgate-Palmolive e Lever Brothers (atual Unilever) fato que deu origem às

chamadas “soap operas” (ACHUTTI, 2010 p. 24).

No Brasil, uma das primeiras empresas a utilizar produção de conteúdo foi a

Standard Oil Company of Brazil, que produzia informações jornalísticas por meio do

programa Repórter Esso. Criado em 1941, a atração nasceu no rádio e, devido ao

sucesso com os espectadores, posteriormente foi levada para a televisão. Durante

27 anos, a marca Esso levou conteúdos atuais e notícias para os lares brasileiros. A

ligação do programa com seu público-alvo era muito forte e a iniciativa é

considerada um marco no jornalismo brasileiro. Se desejar, utilize o QR Code da

Figura 8 para ouvir a última (e emocionante) transmissão do locutor Roberto

Figueiredo, que aos prantos apresenta a última edição do Repórter Esso em rádio,

no ano de 1968.

A fórmula de comunicação foi seguida por outras marcas a partir de 1951, na

produção de programas infantis como a Grande Gincana Kibon e o Cirquinho

Bombril (Ibid. p. 24).

44

Figura 8 – Repórter Esso é considerado um dos primeiros casos de branded content no Brasil. Fonte: FIGUEIREDO, Roberto, 1968.

Outro exemplo é da marca de açúcar União que, além de comerciais de TV e

utilização de mídias convencionais, também já promovia, na década de 60, cadernos

de receitas cujo público-alvo eram as donas de casa (TROIANO, 2014). A Figura 9

mostra o primeiro caderno de uma série publicada durante anos pela marca.

Figura 9: Primeiro caderno de receitas do açúcar União. Fonte: TROIANO, 2014

O que difere os esforços no passado em relação às práticas atuais das

marcas na produção de conteúdo são as alternativas, plataformas e meios em que o

usuário pode se envolver, dialogar e compartilhar os conteúdos, principalmente nas

redes sociais digitais.

45

Um marco importante que impulsionou o conceito do branded content para o

ambiente digital ocorreu entre 2001 e 2002, no contexto da estratégia na internet da

BMW nos Estados Unidos, coma série de filmes chamada The Wire. A marca utilizou

seu orçamento publicitário daqueles anos na produção de oito curta metragens,

estrelados pelo ator Clive Owen. Produzidos a partir da ideia da agência publicitária

Fallon, os vídeos foram dirigidos por diretores de cinema renomados, como Ang Lee,

Guy Ritchie e John Woo, e o automóvel da marca fazia parte da narrativa, sem

nenhuma grande aparição para o logo ou nome da patrocinadora. A primeira quebra

de paradigma foi a de garantir que o conteúdo fosse praticamente todo criado sem

interferência da marca pelos diretores e roteiristas, que buscavam a visão e atenção

dos consumidores. Jim McDowell, vice-presidente de marketing da BMW, explica

que “Aprendemos que há coisas que são mais importantes para contar uma história

e que não são necessariamente o que a companhia desejava” (MCDOWELL apud

DONATON, 2007 p. 105).

Na época, uma pesquisa feita pela BMW apontava que 85% de seu público-

alvo utilizava a Internet como meio de pesquisa para a compra de carros. Com base

nesses dados a empresa inovou e disponibilizou os vídeos na internet, convidando

os internautas a baixá-los no site da empresa. Na época, para o modelo de

publicidade tradicional esta estratégia parecia impensável, pois os consumidores

não iriam atrás de comerciais.

Outra inversão lógica em relação às práticas de mercado foi no investimento

para a ação: cerca de 90% do orçamento foi destinado à produção do conteúdo e

apenas 10% em propaganda da ação, com apenas alguns trailers dos filmes em

cinemas e chamadas na TV orientando o público para realizar o download do

conteúdo na Internet. Apesar de ter gastado US$2 milhões para promover o vídeo, a

agência de Relações Públicas da BMW calcula que a repercussão de matérias na

imprensa tenham gerado um valor equivalente de US$20 milhões em mídia.

Os filmes se tornaram um fenômeno na rede e foram compartilhados entre os

internautas no mundo todo. A expectativa inicial da empresa era obter a marca de

dois milhões de downloads do vídeo em 2001; na realidade conseguiram 13 milhões

e, na temporada de 2002, chegaram a 50 milhões de downloads dos vídeos da

série.

46

A BMW informa que vendeu 213.127 veículos em 2011, 12,5% a mais que no

ano anterior; este recorde foi superado em 2002 e em 2003.

De certo modo a série The Wire poderia ser considerada apenas uma

estratégia de product placement, uma vez que os carros da empresa apareciam no

filme. No entanto, Donaton (2007) reitera que o conteúdo foi produzido pela marca e

que os automóveis faziam parte central da narrativa, pois abordavam o desempenho

dos motores e a estabilidade do veículo de uma forma integrada à história. É

importante acrescentar que os filmes continham cenas de vidros estilhaçados por

balas de armas, sangue no estofado e a traseira do carro sendo amassada,

elementos que traziam veracidade à peça e afastavam o conteúdo do que é

esperado da comunicação tradicional de um produto, como pode ser visto em

Powder Keg, um dos filmes da série, utilizando o QR Code da Figura 10.

Figura 10 – Filme “Powder Keg” (Barril de Pólvora) da série The Wire, da BMW.

As peças foram premiadas na categoria Internet no Festival de Publicidade de

Cannes, mas causaram polêmica com relação à classificação e/ou denominação

que deveriam ter, já que a série não se encaixava nas categorias existentes no

festival até então. Os publicitários e profissionais da época ficaram intrigados com o

sucesso da ação e buscaram entender de que forma a marca conseguiu conquistar

a atenção de seus consumidores sem necessariamente falar de si mesma ou utilizar

formatos publicitários tradicionais. A primeira grande “revolução” para o mercado

publicitário foi então a criação em 2003 da premiação Titanium, para consagrar

ideias revolucionárias e estimulantes que apontam para uma nova direção na

comunicação das marcas.

47

Para solucionar este dilema no festival, foi criada em 2012 a categoria

Branded & Entertainment, que busca:

apontar campanhas criativas e que integrem naturalmente o consumidor através do conteúdo original de uma marca. Merecem destaque as campanhas que promovem e divulgam a mensagem de marketing envolvendo os consumidores, através de relevantes plataformas de mídia, ao invés de métodos tradicionais de propaganda. Branded & Entertainment fala sobre a colocação e crescimento de um produto dentro de uma forma pré-existente. Branded Content, por outro lado, é o novo formato criativo através dos olhos de uma marca, significando um novo programa e a criação de um novo formato, com que a marca trabalha. É conectar-se com consumidores e audiências, como parte de novas formas de marketing e integrar as marcas em uma história (CANNES LIONS, 2014).

Outra iniciativa para promover o branded content foi a criação nos Estados

Unidos em 2003 da Branded Content Marketing Association (BCMA), instituição que

busca promover o conceito e as melhores práticas relacionadas. Em 2013 a

associação anunciou o início de suas atividades na América do Sul.

Algumas marcas já transcenderam a utilização do branded content como ação

de comunicação a ponto de tornar a produção de conteúdos como parte do negócio.

A marca Red Bull, por exemplo, foi criada em 1984 para designar uma bebida

energética e, desde 2007, conta com uma unidade de negócio chamada Red Bull

Media House (RBMH). Trata-se de uma agência própria, com mais de cem

funcionários, que produz conteúdos para TV, cinema, mídia impressa e internet,

geram música e desenvolvem aplicativos para smartphones e videogames, além de

vender conteúdos para terceiros (TROIANO, 2014). Eventos como o Red Bull

Stratos (salto de um astronauta em queda livre na estratosfera), desafios radicais e a

Red Bull Air Race (corrida de aviões), ilustrados na Figura 11, exemplificam ações

convergentes com a proposta e identidade da marca.

Figura 11 - Ações de promoção de conteúdo da marca Red Bull. Fonte: TROIANO, 2014

48

Um recente case de sucesso de branded content foi promovido pela

Volkswagen para anunciar o fim da produção do automóvel Kombi. A marca

promoveu uma campanha composta por várias ações que resultaram em um vídeo

de despedida em que a personagem principal era o próprio automóvel contando

histórias sobre como esteve presente na vida das pessoas, conforme pode ser visto

com o QR Code da Figura 12. A campanha recebeu em 2014 dois Leões de Ouro na

categoria Branded Content & Entertainment do Festival de Cannes, além de dois

Leões de Bronze na categoria Direct (comunicação dirigida com o intuito de gerar

respostas ou ações específicas, construindo e prolongando relacionamentos) e

outros três Leões de Bronze em PR (Relações Públicas), Film e Cyber (comunicação

online, digital e tecnológica).

Figura 12 - Os últimos desejos da Kombi. Fonte: LIMA, 2014.

Por fim, um dos cases de branded content mais longevos e premiados

mundialmente é a campanha Retratos da Real Beleza, promovido pela marca Dove,

que será analisado detalhadamente no próximo capítulo.

49

3. Case Dove

Com base no referencial teórico apresentado ao longo deste trabalho,

realizaremos um estudo de caso da marca Dove e sua estratégia de branded

content. Para tanto, será analisada a trajetória da marca, considerando sua

estratégia publicitária e seus posicionamentos de comunicação. Neste trabalho,

analisaremos especificamente a campanha “Retratos da Real Beleza”, escolhida por

ser reconhecida em 2013 como um dos melhores cases de branded content daquele

ano no Festival de Cannes.

Para organização desta análise, utilizaremos o modelo de diretrizes para

construção de marca além da propaganda, proposto por Aaker e abordado no

capítulo anterior, composto por 10 itens:

1- Esclarecer a identidade, proposta de valor e posição da marca;

2- Encontrar pontos de ressonância;

3- Encontrar a ideia impulsionadora;

4- Envolver o cliente;

5- Cercar o cliente;

6- Alvo;

7- Sair do congestionamento;

8- Ligar a construção de marca à marca;

9- Procurar autenticidade e substância;

10- Ampliar o programa de construção de marca

50

3.1. A origem da marca

A marca Dove (“pomba”, em inglês), criada nos Estados Unidos pela empresa

Unilever (na época ainda se chamava Lever Brothers), foi desenvolvida durante a

Segunda Guerra Mundial para nomear um sabonete antisséptico destinado a

soldados feridos (AAKER, 1998 p. 161). Não à toa, trazia também em sua logomarca

a imagem da ave que culturalmente simboliza a paz.

O primeiro trabalho de posicionamento de marca começou em 1957, quando

suavizou e patenteou uma nova formulação, com adição de ¼ de creme hidratante.

A primeira campanha publicitária de Dove, ilustrada na Figura 13, destacava o

formato ergonômico do sabonete, que se encaixava perfeitamente às mãos, bem

como o diferencial da espuma do produto entre os concorrentes da categoria.

Com esta mudança, a marca inovou o conceito do produto, deixando de ser

associado à higiene e perfume pós-banho para posicionar-se como produto de

beleza, destacando-se na categoria como um sabonete hidratante. Foi também a

primeira marca endossada por dermatologistas em países como Estados Unidos,

Canadá e França.

Figura 13 – Primeira campanha de Dove. Fonte: DOVE CHANNEL, 2014

Na década de 60, Dove começou a utilizar na comunicação da marca

depoimentos testemunhais de mulheres que utilizaram o produto e podiam

comprovar sua eficiência e qualidade. A Figura 14 mostra outra peça publicitária,

criada pela Ogilvy & Mather, que destacava os benefícios da formulação do produto

51

em contato com a pele; o anúncio dizia “Dove deixa sua pele cremosa enquanto

você lava. Dove é ¼ hidratante facial!”,

Figura 14 - Um dos primeiros anúncios publicitários da Dove. Fonte: ADVERTISING AGE - MEIO & MENSAGEM

O sabonete começou a ser importado no Brasil, Chile e Argentina em 1992.

Naquele momento, a marca reforçava ao consumidor brasileiro (principalmente

mulheres) os atributos do produto, posicionando-o como uma transformação no

banho em uma etapa de tratamento de beleza. A Figura 15 mostra uma das peças

do primeiro anúncio de Dove no Brasil.

Fica evidente a migração gradativa do posicionamento da marca focada em

associações com seus atributos (design do produto, formulação e ingredientes) para

seus benefícios funcionais (hidratação da pele) e emocionais, em uma evolução que

acompanha e ilustra o contexto do Marketing 1,0 e 2.0, apontado no capítulo 1 deste

trabalho.

52

Figura 15 - Primeiro anúncio de Dove no Brasil, em 1992. Fonte: ANUNCIOS IMPRESSOS DOVE

O site da marca registra as mudanças e o crescimento do portfólio no Brasil.

A partir de 1996, Dove começou a explorar outras categorias de produto no país,

com o lançamento de sabonete infantil (Baby Dove, em 1996), sabonete líquido

(Dove Shower Liquid, em 1997) e desodorantes (Dove Original, em 1999). Entre

2000 e 2001, a marca fez mudanças nas embalagens e realizou o relançamento de

linhas de alguns produtos.

Em 2002, a marca entrou no segmento de produtos voltados para cuidados

capilares e anunciou a construção de uma fábrica no município de Valinhos-SP, pois

até aquele momento os produtos da marca eram importados. A evolução do portfólio

e da marca caminharam ao lado da estratégia de aprofundar o conhecimento a

respeito de seu público-alvo, na busca de informações sobre os desafios,

paradigmas e significados da beleza na contemporaneidade.

3.2. O nascimento do conceito Real Beleza

Para entender o descompasso entre a imagem e a percepção do conceito

entre beleza e bem-estar, Dove encomendou a pesquisa2 “A verdade sobre a real

2 ETCOFF, Nancy; et al. A Real Verdade sobre a beleza: Um Relatório Global - Achados do Estudo

Global sobre Mulheres, Beleza e Bem Estar. Universidade de Harvard. Setembro de 2014. Disponível em: http://www.dove.com.br/pt/docs/pdf/The_Truth_About_Beauty_White_Paper_PT.pdf .

53

beleza” à agência Strategy One, estudo que teve colaboração de pesquisadores da

Universidade de Harvard, do Hospital de Massachussetts e da London School of

Economics. Entre os meses de fevereiro e março de 2004, foram entrevistadas cerca

de 3200 mulheres, entre 18 e 64 anos, em 10 países (Estados Unidos, Canadá,

Argentina, Brasil, Portugal, França, Inglaterra, Itália, Países Baixos e Japão). Além

da pesquisa de campo, foi feita uma revisão na literatura mundial sobre o tema, bem

como a análise de pesquisas, ensaios e textos em 22 idiomas de 118 países.

Em todos os lugares pesquisados foi constatado que as mulheres almejavam

um ideal de beleza mais próximo de suas realidades e, sobretudo, desejavam que o

entendimento mais complexo sobre as nuanças de beleza fosse reforçado com

representações de mulheres na cultura popular. Os resultados de destaque da

pesquisa estão apontados na Figura 16.

Figura 16: Destaques da pesquisa “A verdade sobre a real beleza” Fonte: SITE DOVE. Adaptação do autor.

Lucio (2007), em sua análise sobre o posicionamento estratégico da marca

Dove, reflete sobre o significado da estética corporal e o culto ao corpo como valor

de imponência na sociabilidade. O papel da beleza como exigência imperativa na

realização social feminina faz da existência física um fator condicionante às demais

formas de existência, como a moral, profissional e espiritual. O autor reitera, no

entanto, que a grande discussão é sobre os padrões estéticos impostos:

Um truísmo muito presente hoje é a constatação de que a beleza veiculada pela mídia não é nem natural, nem alcançável. Mulheres sempre magras, silhuetas e rostos tão precisamente simétricos como que traçados pelas

54

hábeis mãos do mais talentoso artista plástico, expressando uma elegância próxima à perfeição platônica (LUCIO, 2007 p.4).

O autor reforça que um dos fatores que afligem a mulher moderna é o conflito

sobre o ideal de imagem, imposto por padrões sociais e reforçados pela mídia.

Com base nessas informações, os gestores da marca entenderam que a

autoestima feminina e a troca de experiências sobre esse tema, intimamente

relacionado à qualidade de vida, seriam o norte para as novas ações da marca. Sem

abandonar sua associação com a ideia de hidratação, Dove ampliou seu

posicionamento como marca completa para a beleza da mulher.

Foi neste contexto que surgiu em 2004 a “Dove Campaign for Real Beauty”,

traduzida em português “Campanha pela Real Beleza”, iniciativa global da marca

que tinha como objetivo combater os estereótipos e valorizar as diferentes formas de

beleza.

Desde então, o conceito “Real Beleza” passou a ser a expressão da

promessa da marca, que declara acreditar em um mundo onde a beleza é fonte de

confiança, e não de ansiedade. A clareza da identidade da marca é o balizador das

ações de comunicação da marca. A Figura 17 apresenta na íntegra a declaração de

missão de Dove.

Figura 17: Missão da marca Dove Fonte: UNILEVER. Adaptação do autor

O conceito passou a ser adotado na estratégia de comunicação da marca em

diferentes situações. Para divulgação de produtos específicos, a marca passou a

levar conceitos mais abrangentes sobre os benefícios intangíveis atrelados, de modo

55

a promover no consumidor uma reflexão e olhar especial sobre a beleza. Um

exemplo do desdobramento do posicionamento global da marca (“Real Beleza) para

um produto específico é ilustrado pelo tema utilizado para o lançamento da linha de

produtos para cabelos cacheados da marca: “A real beleza dos cachos está no

movimento”.

Com o conceito Real Beleza, Dove deu em 2006 seus primeiros passos

estratégicos no ambiente digital, com a criação do website “Campaign for Real

Beauty”. Janet Kestin, diretora de criação da Ogilvy (agência responsável pela conta

de Dove na época), conta que os aprendizados no digital demandaram novas

disciplinas ao time criativo que cuidava da marca e quebraram alguns paradigmas,

como a velha premissa em garantir que em três segundos as pessoas identificassem

a que produto se referia tal conteúdo ou campanha.

A agência também criou naquele mesmo ano um marco de Dove na Internet:

o filme “Evolution”, que pode ser visto na Figura 18. Trata-se de um vídeo produzido

pela marca que mostra, passo-a-passo, um processo de manipulação da imagem de

uma modelo, que sofre inúmeros retoques até que a foto seja exibida em um

anúncio painel publicitário. A mensagem da marca é uma crítica ao ideal de beleza

imposto pela mídia, confirmado com a assinatura3 “Não surpreende que a nossa

percepção de beleza seja distorcida”.

Figura 18 – Campanha Evolution

3 Slogan original em inglês:“No wonder our perception of beauty is distorted”

56

Produzido no Canadá, o filme foi postado no Youtube em 6 de outubro de

2006 e, em sua estratégia inicial, seria feita uma divulgação local naquele país, com

suporte dos veículos de comunicação canadenses, para posteriormente ser

veiculado em outras localidades. Kestin comenta que “Evolution” trouxe o primeiro

aprendizado prático da marca sobre o potencial da internet: o vídeo foi visto por mais

de dois milhões de pessoas4 no mundo inteiro em duas semanas, um resultado

excepcional para a época. A campanha venceu o Festival de Cannes 2007 nas

categorias Filme e Cyber.

A realização de campanhas no digital, na forma de vídeos de grande sucesso,

têm sido desde então uma estratégia adotada pela marca, como nas campanhas

Selfie (2014), que incentiva mães e filhas a fazerem seu auto-retrato e valorizarem

principalmente seu corpos, e Patches (2014), um teste com um grupo de mulheres

que são surpreendidas ao saberem que foram submetidas a um suposto tratamento

para auto-estima, por meio de adesivos placebo.

Em relação a seus canais de comunicação com seu público-alvo no ambiente

digital, a marca Dove tem canais no Youtube, específicos para os países em que

atua. Marca presença no Facebook e, no Brasil, utiliza a página

https://www.facebook.com/DoveBr para publicar cerca de dois posts diários sobre

conteúdos ligados ao universo da marca; tem também uma conta no Twitter

(@DoveBR), além do site www.dove.com.br e conteúdos específicos dentro do site

da Unilever, em http://www.unilever.com.br/brands-in-action/dove.aspx.

Além da comunicação mercadológica envolvendo o produto, Dove expandiu a

promessa da marca na criação em 2004 do Projeto Dove pela Autoestima, conjunto

de iniciativas como palestras, aulas, workshops, pesquisas online com pais e

divulgação de materiais didáticos nas escolas, com objetivo de fortalecer a

autoestima em meninas de 8 a 17 anos. A imagem de uma das apostilas utilizadas

pelas escolas está representada na Figura 19. O projeto já beneficiou 11 milhões de

jovens no mundo e tem como objetivo alcançar 15 milhões de jovens até final de

2015.

No Brasil, o Projeto Dove pela Autoestima foi inaugurado em 2013 na cidade

de São Paulo, onde aproximadamente 450 estudantes dos Sesi Ipiranga e Alto

4 O mesmo vídeo tinha 17.636.857 views em 10/09/2014.

57

Ipiranga participaram de workshops com a psicanalista Joana de Vilhena Novaes,

profissional especialista em doenças da beleza.

Figura 19 - Apostila especial para professores participantes do Projeto Dove pela Autoestima Fonte: SITE DOVE

Em 2013, enquanto a publicidade de produtos Dove tinha por objetivo manter

as vendas, a Unilever decidiu desenvolver uma campanha da marca-mãe para

revigorar a saúde de Dove. Foi neste contexto que nasceu a campanha “Dove

Retratos da Real Beleza”, apresentada a seguir.

3.3. Dove Retratos da Real Beleza

O minidocumentário “Retratos da Real Beleza” foi considerado em 2013 o

vídeo publicitário mais visto na história do Youtube, com mais de 114 milhões de

acessos5. O vídeo, gravado em São Francisco - Estados Unidos, foi criado pela

5 Informação de visualizações divulgada pela Unilever à imprensa em 20/05/2013. A contabilização

deste dado considerou o número de pageviews do mesmo vídeo em vários canais do Youtube nos países em que a empresa está presente, por este motivo não foi atualizado neste trabalho. Considerando apenas o canal doveunitedstates, as visualizações estavam em 64.152.938 em 24/07/2014. Fonte: PRESSE, 2013.

58

agência Ogilvy & Mather Brasil para a Dove global (o que justifica a gravação em

inglês), mas toda a concepção foi feita por brasileiros. A produção local ficou por

conta da Paranoid US.

O desafio da campanha era enaltecer o conceito criado em 2004 sobre a real

beleza da mulher, priorizando os meios digitais para a divulgação. O filme ganhou 16

Leões no Festival de Cannes 2013, incluindo o prêmio na categoria Branded &

Entertainment e o Grand Prix de Titanium, tornando-se o projeto brasileiro mais

premiado na história.

Nesta produção, Dove relata a criação do retrato falado de sete mulheres

voluntárias que deveriam descrever a si próprias ao artista forense americano Gil

Zamora, desenhista treinado pelo FBI e especialista na área. Em seguida, Zamora

fazia um segundo retrato de cada uma dessas mulheres, mas baseando-se em

descrições de terceiros desconhecidos que as tinha visto pela primeira vez. Ao final do

experimento, o artista mostrava os dois retratos, construídos a partir das duas

perspectivas. As diferenças entre os retratos mostravam que as mulheres tinham

uma percepção de beleza muito inferior de si próprias. O filme principal da

campanha pode ser visto utilizando o QR Code da Figura 20.

Além da versão oficial de três minutos, a campanha contemplava uma versão

estendida de seis minutos do filme e quatro entrevistas em profundidade com as

mulheres retratadas.

Figura 20- Vídeo da Campanha Dove Retratos da Real Beleza. Fonte: CANAL DOVE BRASIL.

59

Globalmente, o filme foi ao ar no dia 15/04/2013 no canal de Dove no Youtube

e no site oficial da marca. No mercado brasileiro, a ativação da campanha foi

reforçada em outras mídias a partir do dia 26/04/2013; a versão de três minutos foi

exibida em seis salas de cinemas, com distribuição de mais de 2500 kits

(MARKETING BEST 2013). Foram feitos também anúncios de página dupla em

revistas femininas e comercias exclusivos de três minutos em canais de TV por

assinatura. Os principais objetivos destas ações eram dar notoriedade e promover

engajamento, de modo a aumentar o número de views e compartilhamentos do filme

de 3 minutos.

A estratégia digital para a marca foi estar presente em canais de vídeo e

outras mídias em que fosse possível o compartilhamento da mensagem. Para gerar

awareness (alcance e views), foram feitos anúncios em um trabalho com a CAT-us

(rede de mais de 15 mil blogs), DS One, F hits - (plataforma de blogs de moda e

lifestyle) e Boo-box. Para engajamento (compartilhamento e views), foi trabalhado no

Twitter o formato trend topics com a hashtag #somosbonitas, por meio da promoção

de tweets com link para o vídeo no Youtube.

No Facebook, Dove trabalhou com video social ads e page posts para criar

oportunidades de compartilhamento. Já nas plataformas de vídeo, a marca informa

ter trabalhado com o formato search, true view e vídeos embedados. Contou ainda

com ações com a Harren Media para divulgação do vídeo.

Apesar do investimento inicial de R$ 800mil em mídias digitais e R$ 1,736

milhões em mídias offline, grande parte da repercussão da campanha foi

espontânea. No período da campanha, que durou de 15/04/2013 a 15/6/2013, houve

mais de 700 publicações na imprensa, representando um valor equivalente a mais

de R$4,7 milhões (valor em centimetragem, quando comparados os investimentos

proporcionais em espaço publicitário).

Em matéria para o jornal Meio & Mensagem (2014), Dove informa que, desde

a época em que foi lançada, a marca teve um crescimento de vendas no mundo de

aproximadamente U$ 2,5 bilhões para U$ 4 bilhões. No entanto, por motivos

estratégicos, não revela qual foi o retorno financeiro especificamente da campanha.

Segundo Ricardo Honegger, diretor de contas da agência Ogilvy, o sucesso

do vídeo aconteceu justamente por transcender o mundo da publicidade. "A peça

60

transformou-se numa experiência social, com um conceito ao mesmo tempo simples

e verdadeiro. É fato que as mulheres do mundo inteiro têm em comum a autocrítica

excessiva” (EXAME, 2013).

As diretrizes e ações seguidas pela marca Dove vão ao encontro da

proposição conceitual de Aaker sobre as 10 diretrizes para a construção de marca

além da propaganda. É um indicativo de coerência entre o modelo teórico com a

aplicação prática adotada pelo mercado, que iremos detalhar a seguir.

A clareza da identidade e do posicionamento de Dove (diretriz 1 do modelo de

Aaker) auxiliaram a marca na ação Retratos da Real Beleza, mesmo após dez anos

da criação do conceito inicial da Real Beleza. Ao longo dos anos, várias campanhas

e iniciativas foram realizadas para fortalecer as associações da marca com as

questões relativas à representação da beleza para os diversos públicos com quem

trabalha. Esta premissa foi fundamental para estabelecer a coerência e facilitar o

entendimento do propósito da campanha.

A pesquisa Real Beleza, realizada em 2004, auxiliou a marca para entender

de forma aprofundada os pontos de ressonância (diretriz 2) de seu público-alvo

(diretriz 6). Ao buscar entender a complexidade dos valores e crenças das mulheres,

Dove construiu um banco de dados com insumos para realização de suas ações de

comunicação, que evoluem ao longo do tempo, em sintonia com as mudanças do

seu público em relação ao conceito da marca.

Desta forma, considerando que 75% das entrevistadas da pesquisa não se

sentiam à vontade para se definirem belas, Dove entendeu com sensibilidade a sub-

valorização da auto-imagem das mulheres, transformando esta informação em sua

ideia impulsionadora (diretriz 3), uma causa que que é central para o

posicionamento da marca. Assim, o potencial criativo de Retratos da Real Beleza

nasceu do hibridismo entre um ponto de ressonância do público-alvo e a promessa

da marca, que busca traduzir por meio de diversas ações o significado da beleza

para o público feminino de forma emocional.

Ao utilizar a ação de branded content, Dove buscou representar mulheres

comuns que, por meio dos retratos-falados, eram surpreendidas com a

representação gráfica de sua imagem. A reação emocional das personagens ao

verem as diferenças de suas imagens, bem como a veracidade dos depoimentos,

61

trouxeram autenticidade e substância (diretriz 9) para a ação. As mulheres dos

vídeos eram voluntárias, e não atrizes ou modelos, fator que pode ter contribuído

para a aproximação e afinidade com o público. Além disso, a técnica do retrato-

falado foi utilizada de forma inusitada, saindo do lugar-comum de campanhas

realizadas no mercado ou mesmo pela marca anteriormente (diretriz 7), fatores que

parecem ter contribuído para o sucesso da iniciativa.

Como visto, o objetivo principal da ação era dar notoriedade ao vídeo e

promover o engajamento, estratégia que foi tangibilizada com divulgação da

campanha e em mídias off-line e principalmente no ambiente digital (mídias, sites,

blogs e redes sociais), fator que demonstra a compreensão da marca do ambiente

contemporâneo e do comportamento transmidiático do consumidor na cibercultura.

Desta forma, para viralizar os vídeos, a marca potencializou o acesso aos

conteúdos, cercando os clientes (diretriz 5) em vários pontos de contato para terem

conhecimento da ação e aumentar as possibilidades de se envolverem (diretriz 4)

ativamente na narrativa proposta pela marca.

Além de promover o conceito central da marca (diretriz 8), a campanha

Retratos da Real Beleza também ampliou as ferramentas do programa de

construção da marca ao longo do tempo, inclusive para as plataformas digitais

(diretriz 10), fazendo valer os reconhecimentos que recebeu como um dos melhores

cases de branded content já realizados.

Podemos dizer, portanto, que as três dimensões da marca propostas por

Semprini (2010) foram envolvidas de forma estratégica pela marca: a dimensão

semiótica, com a criação de signos e significados exclusivos para a marca; a

dimensão relacional, ao compreender profundamente os anseios do seu público-

alvo; e finalmente, a dimensão evolutiva, ao utilizar novas ferramentas, formatos e

possibilidades de comunicação no mundo digital.

Uma síntese da análise é apresentada na Figura 21:

62

Figura 21: Aplicação do modelo de diretrizes para construção de marca além da propaganda, proposto por Aaker, no estudo de caso da campanha Retratos da Real Beleza, da marca Dove. Fonte: Autor.

63

Considerações finais

As mudanças promovidas pelo crescimento, desenvolvimento e consumo

cada vez maior das redes digitais têm configurado novos padrões de comportamento

e cultura dos consumidores. Como consequência, as empresas precisaram cada vez

mais adaptar-se às novas regras do mercado para continuarem seu caminho de

prosperidade nos negócios. Para isso, é preciso adequar e/ou abandonar algumas

práticas na gestão de marketing e comunicação, no contexto da cibercultura.

Neste contexto, as marcas têm passado por um processo evolutivo e de

maturidade ao longo dos anos, superando sua miopia de foco ao rótulo, ao produto e

do olhar exclusivo aos clientes para uma atuação cada vez mais abrangente e

interligada com mundo. A disputa pela atenção dos consumidores precisa considerar

a importância do entretenimento no mundo contemporâneo, de modo a contemplar

estratégias que despertem o interesse e que venham ao encontro das expectativas e

anseios do público-alvo.

Esta monografia, que tinha como objetivo entender como o branded content

pode trazer contribuições à estratégia das marcas no ambiente digital, mostrou que

esta ferramenta de comunicação tem se mostrado eficaz na medida em que as

marcas produzem e promovem um conteúdo de interesse de seu público-alvo,

atraindo sua atenção de forma envolvente e emocional. As ações de branded

content, promovidas no ambiente digital, podem auxiliar a aproximação da marca

aos pontos de ressonância de seu público alvo, atribuindo significados alinhados aos

propósitos e essência da marca.

Além disso, é importante um trabalho da marca de longo prazo, de modo a

facilitar as construção de associações sólidas por meio de sua comunicação ao

longo do tempo, evoluindo no uso de novas plataformas tecnológicas.

A utilização do modelo teórico de construção de marca para além da

propaganda, proposto por Aaker, foi demonstrado e aplicado na campanha Retratos

da Real Beleza. Os principais fatores apontados pelo autor foram identificados nesta

ação da marca Dove e fornecem indícios de características importantes a serem

consideradas na construção estratégica de iniciativas de branded content.

64

Envolver o público-alvo em diferentes plataformas digitais, de modo a

promover o conteúdo da ideia impulsionadora, parece ser uma medida essencial

para as ações de branded content.

Ressaltamos que, por ser de natureza exploratória, há limitações técnicas e

científicas na conclusão desta monografia, que não devem ser generalizadas para

explicar o sucesso de todos cases de branded content.

Também é importante enfatizar que o branded content não é a solução para

todos os desafios de comunicação das marcas. As ações de comunicação

mercadológica, focadas no produto e destacando seus benefícios funcionais e

emocionais, continuam tendo seu valor, funcionalidade e objetivo. É preciso

considerar a construção de um caminho integrado de todas as ações de gestão da

marca, seja por meio da publicidade, das relações públicas, do design, do marketing

ou de qualquer outra área de conhecimento.

As empresas precisarão de um olhar cada vez mais estratégico: um modelo

integrado de suas práticas em que o marketing e branding olhem a empresa de

dentro para fora, contemplando naturalmente a gestão e particularidades do

negócio, como também de fora para dentro, considerando os funcionários, os

clientes e outros públicos que constroem a trajetória e a história da marca, seja no

ambiente digital ou não.

Este trabalho abre novas possibilidades para continuar a investigação

científica sobre o tema, seja por meio de múltiplos estudos de caso a respeito dos

impactos da produção de conteúdo na saúde da marca ou ainda com o

desenvolvimento de novas reflexões sobre a integração entre as marcas, os

acontecimentos do mundo e sua interferência na vida das pessoas.

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