enfoque 146

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enfoque Vila Brás | São Leopoldo | Junho/2014 | Edição 146 Desenho, música e velhas brincadeiras Dengue ainda é um problema grave na Brás Homens viram mulheres em homenagem às mães Páginas 8 e 9 Página 6 Contra-capa Desinteresse da população favorece maus polícos Páginas 11 e 12 Votar: um gesto que decide muito KAROLINE CARDOSO GABRIELA PASSOS PEDRO KOBIELSKI

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Jornal experimental Enfoque Vila Brás (edição 146). A publicação é produzida por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos (campus São Leopoldo/RS). Veicula notícias, reportagens e materiais especiais sobre a Vila Brás, comunidade localizada no bairro Santos Dumont, na cidade de São Leopoldo/RS. Com 16 páginas, é impresso em cores. A tiragem é de 1.000 exemplares, que são distribuídos aos moradores da Vila Brás.

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Page 1: Enfoque 146

enfoque

Vila Brás | São Leopoldo | Junho/2014 | Edição 146

Desenho, música e velhas brincadeiras

Dengue ainda é um problema grave na Brás

Homens viram mulheresem homenagem às mães

Páginas 8 e 9Página 6 Contra-capa

Desinteresse da população favorece maus políticos

Páginas 11 e 12

Votar: um gestoque decide muito

KAROLIN

E CARDOSO

GABRIELA PASSOS

PEDRO

KOBIELSKI

Page 2: Enfoque 146

2 Editorial / Educação Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

enfoque

O Enfoque é um jornal direcionado aos moradores da Vila Brás, em São Leopoldo/RS. A produção é dos alunos das disciplinas de Redação Experimental em Jornal e Fotojornalismo do Curso de Jornalismo da Unisinos.

Fale conosco!

Confira quando circulam as edições deste primeiro semestre:

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOSAv. Unisinos, 950, Bairro Cristo Rei - São Leopoldo/RSTelefone: (51) 3591 1122. E-mail: [email protected]: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Gustavo Fischer. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.

(51) 3590 8463 / 3590 8466

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5 de abril Junho10 de maio145 146

[email protected]

Av. Unisinos, 950 - Agexcom/Área 3 - São Leopoldo/RS

Carta ao leitorO que torna um agrupamento de gente uma comunidade?

Dividir os mesmo problemas. Encontrar soluções conjuntas. As duas respostas poderiam definir o que faz a Vila Brás não parar de crescer, produzir cultura, mostrar-se para o mundo. Um território onde a parcela de responsabilidade de cada um com o que é particular e o que é comum a todos, pode defi-nir as melhores ou as piores condições de vida. A história da ocupação do entorno da Avenida Leopoldo Wasun foi defini-da por esses acordos de convívio, primeiro alheios ao poder público, logo depois organizados para afirmar-se com sujeitos de direitos, como qualquer cidadão deste país. A consciência política pode começar no cuidado com a própria calçada, até a organização coletiva para cobrar do poder público, a solu-ção para problemas que às vezes parecem nunca resolvidos, mesmo que muitas vezes essenciais, como a saúde da popula-ção. Ninguém melhor que todos que ocuparam aquele antigo terreno na fronteira entre São Leopoldo e Novo Hamburgo, cresceram nele, formaram família e levantaram um bairro, para saber que as decisões sobre seu próprio futuro não deve ser simplesmente delegadas a cada quatro anos, quando é oportunidade de eleger representantes. Não foi assim que a Vila Brás foi erguida e muito daquele ímpeto inicial ainda mantém-se vivo em gestos simples, nas antigas brincadeiras infantis que passam de pai para filho, mas também no time de futubol, no empreendedorismo, na vontade de trabalhar, de produzir novidades e melhorar a vida. Mas ninguém vive isolado do mundo. Saber escolher representantes não está li-mitado à eleição, mas em cobrar e observar o resultado dessa escolha. E saber que sempre temos escolha e são elas que nos definem individual e coletivamente!

Adriano Marcello SantosEditor-chefe

[REDAÇÃO] Orientação: Luiz Antônio Nikão Duarte Editor-chefe:Adriano Santos Editores: Carol SantosDaniele Brito Diego AppelEmerson Ribeiro Gabriela Nunes Jéssica Pedroso Juliete Souza Laís de Oliveira Manoeli Rodrigues Marina Cardozo Maytê Ramos Pires Nicolle Frapiccini Suzi ServoRepórteres: Augusto TurcatoAugusto VeberBetina Albé Veppo Bianca HennemannDiogo Rossi

Gisele Agliardi Julian Kober Luana Chinazzo Marcelo GrisaMariana Zimmer Raisa TorterolaSabrina StrackUbirajara Costa

[FOTOGRAFIA] Orientação:Flávio DutraFotógrafos:Alessandro Garcia Ana Paula Zandoná Ariane Laureano Camila HugenthoblerCamila Rodrigues Dankiele TibollaDyessica AbadiFrancisca Pereira Gabriela Passos Gustavo Ev Júlia BondanJuliana Silveira

Karoline Cardoso Luísa Boéssio Luísa Venter Lurdenir MatosNatália Maciel Paula Ferreira Pedro Kobielski Régis ViegasSolange Flores Tales Colman Thiago Greco Victoria Silva Virgínia Machado

[ARTE] Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) Projeto gráfico: Marcelo GarciaDiagramação:Gabriele Menezes

Alunos contam o lado bom de estudarComo as crianças enxergam a escola e o que se vêem fazendo no futuro

SABRINA STRACK (Texto)LUÍSA BOÉSSIO (Fotos)

O que as crianças bus-cam na escola? E o que elas querem fazer com

tudo que aprendem? Foram essas questões que a equipe do Enfoque buscou respostas. O jornal conversou com dez crianças moradoras da Vila Brás, de idades, turmas, es-colas e séries diferentes, para saber da sua realidade e o que as motiva a irem todos os dias à escola. Foram questionadas sobre as disciplinas que mais gostam e também sobre o que buscam para o futuro.

Tiago Pires, nove anos, está na segunda série. Ele gos-ta bastante das aulas de por-tuguês, adora escrever. Mas o que prefere, assim como o amigo Kauan dos Santos, da terceira série é de Artes, aula em que podem desenhar. A preferência na hora de colo-car a ideia no papel: carros. Já a Stefani Maqueli, oito anos, está na terceira série e adora ir à escola. Ela ainda não sabe ler por isso, as aulas de dese-nho também ganham na pre-ferência. Nenhum deles tem ideia do que fazer quando vi-rar “gente grande”.

Tímido, Guilherme da Silva, sete anos, frequenta durante a manhã, a pré-escola. Ele gosta das brincadeiras do recreio, quando pode também conver-sar com os amigos. Durante a aula, envolve-se em todas as atividades propostas pela pro-fessora e não tem do que re-clamar, porque gosta de tudo.

Com preferência pela lín-gua inglesa, Bruna Caroline de Menezes Pires, 11 anos, estudante da sexta série, as-siste essa aula duas vezes na semana. “Ainda não sei falar em inglês, mas gosto muito de aprender”, disse. Ela conta, empolgada, que quando cres-cer quer ser dentista ou vete-rinária. O amor pelos animais nasceu em casa, onde a famí-lia possui quatro cachorros e uma tartaruga. A odontologia

é uma vontade que nasceu sem muita explicação. “Por-que gosto”, explica.

Já a Luciane Piper Alves, oito anos, está na terceira sé-rie, e gosta mesmo é de brin-car com massinha de modelar durante a aula de Educação Ar-tística. Faz bonequinhas e no futuro quer usar o que apren-der para trabalhar com a mãe, que é pintora de artesanato. No recreio, aproveita para brincar de pega-pega. Depois de repetir a quarta série, Clei-ton Severo, 12 anos, agora na quinta, está bem na escola e prefere as aulas de português e de desenho. Quando crescer, quer trabalhar com pintura e desenhos profissionais.

Diferente das outras crian-ças, a matemática é preferida dentre todas as outras aulas, por Pablo da Silveira, 13 anos, da oitava série, que gosta de estudar e de ir à aula. Quan-do terminar o ensino funda-

mental, quer continuar estu-dando, mas ainda não sabe o lado que seguirá profissional-mente. O amigo Alex Santos da Silva, 10 anos, frequenta a quarta série. Ele adora a aula de Educação Física, porque pode jogar futebol. Na pri-meira série, o tímido Nícolas Fagundes, seis anos, vai com gosto para a escola. Ele está na aula, brinca de esconde--esconde. Quando crescer, já tem uma profissão em mente. Quer ser dentista.

No Brasil, o sistema edu-cacional é dividido em pré-es-cola, educação infantil, ensino fundamental e médio. Essa estrutura do ensino no país foi definida em 1996. Em 2006, ela sofreu alterações, quando a duração do ensino funda-mental passou de oito para nove anos, transformando o último ano da educação infan-til no primeiro ano do ensino fundamental.

Tiago, Kauan, Pablo e Stefani falam sobre suas atividades preferidas

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População avalia o Trensurb

AUGUSTO VEBER (Texto)FRANCISCA PEREIRA (Fotos)

Prestes a completar dois anos desde a sua inaugura-ção, que ocorreu em julho

de 2012, a Estação Santo Afonso do Trensurb facilitou a integra-ção dos moradores da Brás com a Capital. Mesmo que a estação esteja localizada no município de Novo Hamburgo, é próxima a Vila Brás, cerca de 15 minutos de caminhada. A obra faz parte do projeto de expansão que previa cinco novas estações: Rio dos Sinos, Santo Afonso, Industrial, Fenac e Novo Hamburgo. Hoje todas elas já se encontram em pleno funcionamento.

Alexsander Rodrigues, 34 anos, utiliza diariamente a Es-tação Santo Afonso para se lo-comover ao trabalho, em Porto Alegre. Quando ele chegou para morar em São Leopoldo, comen-tou que a estação já existia. En-tretanto, se não houvesse essa facilidade, ele não tem ideia de como seria mais difícil sua loco-moção ao serviço.

Outro trabalhador beneficia-

do com a implantação dessas no-vas estações foi o pintor Cláudio dos Anjos, 44 anos. Ele, que já realizou alguns trabalhos na Brás, mora próximo a estação Rio dos Sinos. “Quando tenho que levar material eu vou de carro, mas quando dá para ir de trem fica mais rápido. Sem falar que é mais barato”, comenta.

O preço realmente não é a reclamação de quem utiliza o transporte. Com a passagem única custando R$ 1,70, pode-se ir de Novo Hamburgo até Por-to Alegre. Se comparado com o valor do ônibus, a economia no trem é grande.

AINDA HÁ O QUE MELHORAR

Entretanto, uma das reclama-ções dos usuários é a superlota-ção dos vagões em horários de pico. Mesmo o intervalo entre um trem e outro sendo menor que 10 minutos das 6h às 9h21min e das 16h50 às 20h, esses são os horá-rios mais concorridos no coletivo. “O trem já sai lotado da Estação Mercado”, afirma Rodrigues. Ou-tra melhoria que poderia ser rea-lizada, de acordo com Rodrigues, é a ventilação dos vagões, preju-dicada principalmente nos meses de verão. Hoje os vagões não contemplam ar condicionado, há somente as janelas laterais e os exaustores na parte de cima para o ar circular.

GISELE AGLIARDI (Texto)THIAGO GRECO (Foto)

Nestor Vieira, 35 anos, tem um terreno na Avenida Leopol-do Wasun há 20 anos, e há pou-cas semanas reformou sua cal-çada, mesmo sem a colocação de meio fio pela Prefeitura. Ele conta que fez o pedido por meio de protocolo junto à administra-ção municipal para o conserto da via, mas não foi atendido. Como pretende transferir para o local a sua empresa, que hoje fica em um espaço alugado em Sapiranga, Nestor decidiu co-locar o meio fio por conta para poder fazer os 20 metros de cal-çada na esquina. “Sempre quis vir morar e trabalhar na Brás. Agora estou arrumando o local para receber meus clientes e também desfrutar com a minha família”, afirma.

Onde não tem calçamen-to, também não há problemas para os passantes. Os donos mantêm os locais ornamen-tados com árvores e flores e com a grama cortada. Para Iade Silveira, 63 anos, a calçada é a porta de entrada da casa e tem que estar limpinha. “Ainda não tive condições de colocar piso, mas isso não é desculpa para deixar tudo sujo ou feio”, diz. Ela ainda fala que sempre lim-pa a boca de lobo em frente à casa para não acumular água, e que mesmo não havendo mais capinas mensais da Prefeitura, os moradores não deixam de cuidar das ruas.

Mas não é só na avenida principal que os moradores ca-pricham nas calçadas. Na Rua 24, quase no final da Vila Brás, ainda não há asfalto ou meio fio, mas algumas casas já fizeram o

calçamento. “A frente faz parte da casa e acaba sendo um espa-ço de convivência, para tomar um chimarrão com os vizinhos e as crianças brincarem sem peri-go”, conta Mário Antônio Mora-

es, 43 anos. Mário mora no ter-reno ao lado da sua mãe, a Dona Alzira, de 74 anos, o que justifica a iniciativa de investir num piso regular na frente da casa, garan-tindo assim mais tranquilidade

para a idosa caminhar. “A calça-da é também uma segurança, pois alguém com carrinho de bebê não conseguiria transitar numa rua assim, de brita”, com-plementa.

Moradores cuidam das calçadas

3GeralEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

O baixo custo da passagem e a agilidade do transporte foram itens destacados pelos moradores da Brás

DICAS PARA UMA BOA VIAGEMn Ao transitar com crianças pequenas, conduzi-las pela mão

n Viaje somente em lugar destinado aos passageiros

n Evite agrupamento nas portas, impedindo abertura ou fechamento das mesmas

n Dê preferência de assento a idosos, gestantes, deficientes e pessoas com crianças de colo

n Conserve a limpeza das estações e trens

n Mantenha atenção ao utilizar as escadas rolantes

Superlotação dos vagões em horários de pico é uma das reclamações feita pelos usuários do transporte

Mário Antônio fez a reforma para garantir a segurança dos pedestres na Rua 24

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4 Geral Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Sobra espaço, faltam médicos

SUZI SERVO (Texto)JULIANA SILVEIRA (Foto)

Na Vila Brás quando o as-sunto é saúde pública não é possível encontrar um

consenso entre os moradores, que têm opiniões distintas sobre a qualidade e a frequência do atendimento do posto de saúde. Além da falta de médicos, eles re-clamam da quantidade de fichas, da demora dos agendamentos e da falta de um pediatra.

Os cerca de 15 mil habitantes são atendidos por uma pequena equipe de enfermeiros, médicos e dentistas. Ao todo, quatro médi-cos atendem, além dos pré-agen-damentos, 16 fichas distribuídas nas segundas, quartas e sextas. Para o Vilmar Vieira da Silva, de 67 anos, o maior problema do posto é a falta de médicos. Como per-tence ao grupo que pode agendar as consultas, Vieira não precisa enfrentar a fila que se forma pela manhã. Contudo, diz-se insatisfei-to porque as agendas tem o perío-

do de espera de cerca de 20 dias. “O atendimento tem que melho-rar. Como não tenho condições de sair da Vila, quando falta médico, fico sem consulta”, declara.

Para Maria de Lourdes Scien-za, de 30 anos, mais que o aten-dimento clínico, é imprescindível o atendimento pediátrico. Scien-za reclama do tempo perdido, da falta no trabalho, da demora no transporte público e das vezes que teve que andar longos tre-chos a pé com as crianças porque não tinha ônibus para a Vila. Es-ses são só alguns fatores que can-sam a moradora nos dias que tem que consultar.

Para Miria Schutze, de 40 anos, as dificuldades são menores, em-bora também reconheça que seria muito bom ter mais clínicos e um pediatra. Ela afirma não ter moti-vos para se queixar, uma vez que sempre foi bem atendida. Schutze alega que o atendimento pediátri-co não demora, porque as crianças são encaminhadas para o Posto Rio dos Sinos, que fica perto da Brás. O morador Antonio Carlos Seimetz, de 55 anos, também relata que o posto funciona bem, pois como pertencente ao grupo de hiper-tensos, sempre conseguiu agendar as suas consultas com facilidade

e rapidez. “As pessoas falam mal, porque querem tudo na hora, não gostam de esperar”, conta.

A PROMESSA DE MAIS MÉDICOS

Segundo o Presidente da As-sociação Cleber da Silveira, o se-cretário da Saúde Júlio Copstein Galperim tinha prometido, em uma reunião realizada no início deste ano, que mais um médico

começaria a atender na Vila no final de Abril. Como não há mais espaço no posto, ficou decidido que as consultas poderiam ser realizadas em uma sala que se encontra em bom estado na cede da Associação. Contudo, até ago-ra nenhum atendimento foi reali-zado e a sala não foi nem mesmo vistoriada pela secretaria. Entre-tanto, conforme o Secretário Gal-perim, houve um mal entendido, já que na reunião ficou decidido

que seria a diretoria da associa-ção que promoveria a avaliação junto com membros da própria equipe da UBS Brás. Para resolver o problema, Galperim diz que se compromete a enviar um funcio-nário da secretaria para fazer a avaliação. “Caso haja condições técnicas, certamente no início do mês de junho faremos um crono-grama de atendimento médico no local”, afirmou para a reportagem via e-mail.

DIEGO APPEL (Texto)JÚLIA BONDAN (Fotos)

Os jovens da Vila Brás cla-mam por uma pista de skate para poderem andar durante seus momentos de folga. Atu-almente, a gurizada anda pelas ruas e calçadas do bairro, o que não é muito seguro e nem ade-quado para o esporte.

O skate nunca foi o mais po-pular dos esportes, mas, recen-temente, está invadindo as ruas, os parques e as praças. E, se en-gana quem pensa que é apenas nos pés dos adolescentes que as quatro rodinhas fazem suces-so: adultos, inclusive mulheres, estão adotando a modalidade como atividade física para man-ter a forma e a saúde em dia.

Mais de 40 jovens se reúnem aos finais de semana para andar de skate na Vila Brás. Alison, de 12 anos, ajuda sua mãe na cre-che durante a semana e estuda, mas sempre que tem um tempo de folga sai para andar de skate. Antigamente, ele andava na pista da escola da vila, mas, após um

acidente com um jovem, os pais e os professores proibiram o local.

Por não terem mais onde andar de skate perto de casa, Alison e seus amigos costumam ir até Novo Hamburgo aos do-mingos para andar na pista da cidade. “É muito melhor andar nas pistas do que na rua, as ma-nobras ficam mais fáceis”, disse.

O fiel escudeiro de Alison nos passeios de skate é seu primo Daniel, de 10 anos, que anda de long e semi long, estilo diferente de Alison, que anda de street. O long é o skate maior, semi long o médio e street o menor de todos.

A gurizada anda por horas e ho-ras, só param quando começa a es-curecer ou até a primeira mãe cha-mar. Alison gosta de rap nacional, e quando sai de skate, costuma escu-tar Charlie Brown Jr., banda muito venerada pela galera do skate.

O projeto esta em discussão, mas, para a tristeza doa meni-nos, a pista, que seria construí-da no campo de futebol abando-nado da Vila Brás, ainda não tem previsão de término.

Skate em alta, pista em baixa

Moradores reclamam das condições precárias da saúde pública

Sem local apropriado, meninos da Vila Brás

usam as calçadas

Com o bisneto Gustavo no colo, Vilmar reclama da demora no atendimento

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Lixo atrapalha moradores da Brás

DANIELE BRITO (Texto)ALESSANDRO GARCIA (Foto)

Um dos grandes problemas que incomoda os morado-res da Vila Brás é o depó-

sito de lixo em áreas irregulares. Ao caminhar pela Rua 24, uma das ruas transversais à Avenida Leo-poldo Wasun, é possível encontrar um grande acúmulo de galhos e lixo doméstico próximo ao Arroio Gauchinho. O depósito irregular que surgiu no Loteamento Brás III causa grande preocupação para os moradores do local.

Segundo Paulo Alves, 58 anos, que reside na Rua 5, próxima ao local, o problema está se tornan-do recorrente. “Existem os mora-dores que não têm onde colocar galhos, pois a Prefeitura de São Leopoldo não faz mais o recolhi-mento das podas, mas também tem outras pessoas que acabam colocando lixo domiciliar junto”, afirma. Paulo acredita que as

pessoas deveriam ser mais orga-nizadas, e de certa forma terem mais união para saber cuidar do local. “Não adianta somente uma pessoa cuidar e as outras não fa-zerem nada, todos precisamos colaborar e ajudar a manter o ambiente limpo. Nós não pode-mos ficar colocando o nosso lixo em qualquer lugar”, frisa.

O problema acaba gerando grande preocupação para a popu-lação, pois em decorrência da po-luição, surgem diversos tipos de animais causadores de doenças. Os moradores do local também relataram sobre a falta de reco-lhimento dos galhos que ficam da poda das árvores, que acaba oca-sionando esse tipo de depósito em área irregular.

A dona de casa, Vera de Vargas, 50 anos, que reside na Avenida Le-opoldo Wasun, comentou que os resíduos provocam problemas de saneamento. “O lixo que é jogado acaba indo para as bombas do Ar-roio Gauchinho, e tem dias que a água não consegue passar pelas grades e entope, fazendo com que as bombas não funcionem”, relata.

Conforme a assessoria de im-prensa da Prefeitura de São Le-opoldo, a poda só pode ser feita com autorização prévia da Secre-

taria Municipal de Meio Ambien-te (SEMMAM). O órgão salienta que o morador que fizer por conta estará cometendo uma infração. Até o limite de um metro cúbi-co mensal, o cidadão autorizado pode levar junto ao entreposto da Secretaria de Serviços Públicos, na

Rua Leopoldo Albino Scherer, nº 430, no bairro Scharlau. Porém, se o infrator for encontrado, ele será notificado e tem um prazo para dar a destinação correta. No caso da Rua 24, será enviado um fiscal para verificar a situação e encami-nhar para agendamento.

DIOGO ROSSI (Texto)VIRGÍNIA MACHADO (Foto)

Há um ano e seis meses os moradores da Ocupação Vitó-ria, apoiados pelo Movimento Nacional da Luta Pela Mora-dia (MNLM), as 180 famílias localizadas na ocupação não começaram a tomar posse do local de forma organizada. A princípio, a área era habitada pelo lixo e pelo abandono. Aos poucos, duas ou três famílias montaram seus acampamentos e, a cada dia, novos ocupantes foram se instalando.

Desorganizada e fora dos padrões de uma ocupação, uma das diretoras do MNLM em São Leopoldo, Andreia Camillo, 31 anos, conta que a ocupação não deveria ser feita dessa forma, mas que ruas foram criadas e, de uma forma mais habitável, o projeto foi se consolidando. Sem esgoto, água ou luz, os morado-res tentam adquirir legalmente o direito de posse da área que hoje ocupam de maneira ilegal. A terra dividida entre quatro

donos e registrada entre seis matrículas diferentes era uma área de desapropriação e, por decreto, teria de se transformar em um espaço de lazer.

Os moradores já buscaram uma forma de comprar a área. Foi assim que encontraram dois donos, mas tiveram problemas que persistem até hoje para en-contrar os demais que, segundo

informações não confirmadas, simplesmente abandonaram as terras ou morreram.

Em busca da legalização, os moradores da Ocupação Vitória conseguiram duas audiências com um dos donos da área e, fora do âmbito judiciário, chega-ram a um acordo. Andreia conta que aparentemente esse pri-meiro dono (que não quer ser

nomeado) deve ter se sensibili-zado e aceitou vender o terreno. No segundo caso, o dono acei-tou a proposta sem maiores pro-blemas. No total, as duas terras foram avaliadas em R$ 480 mil pela Caixa Econômica Federal.

Agora, os coordenadores do movimento se mobilizam para aprovar o projeto das duas áreas que irão contemplar 50

famílias com sobrados que irão conter sala, cozinha, quarto e banheiro. Segundo Andreia, os projetos estão prontos e já fo-ram encaminhados, resta agora à aprovação através do projeto federal Minha Casa, Minha Vida. Andreia espera que os morado-res da ocupação possam ter mo-radia e condições de pagar entre R$ 25 e R$ 80, por mês, por uma residência fixa.

Mesmo com os projetos en-caminhados e com a esperança de ajuda para essas famílias, es-tima-se que esse projeto ainda demore pelo menos mais dois anos para a total conclusão.

O fato de não encontrar os donos das terras atrasa muito o processo. Com isso, resta a eles a espera de uma decisão positiva por parte da Prefei-tura ou então que a ocupação complete cinco anos, para que eles possam entrar com a usu-capião coletiva. Este pedido dará a eles a posse das terras em definitivo. Enquanto isso, outros capítulos dessa história seguem sendo escritos.

Uma história de novela

5GeralEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Galhos e demais resíduos são deixados na proximidade do Arroio Gauchinho

A quantidade de entulhos chega a ocupar parte da rua

Famílias buscam um forma de sair da irregularidade

Page 6: Enfoque 146

6 Geral Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Água parada é risco para moradores

NICOLLE FRAPICCINI (Texto)GABRIELA PASSOS (Foto)

Os desníveis das ruas de chão batido formam bu-racos que há muito tem-

po estão cheios de água parada, onde é possível ver muitos mos-quitos. Esta situação pode ser percebida em alguns passeios pú-blicos transversais à Avenida Leo-poldo Wasun, como nas ruas Três Marias, antiga J, e das Melissas, antiga L. Nestes locais, existem cerca de 13 metros de fissuras, ambientes propícios para a pro-liferação do mosquito Aedes ae-gypti, transmissor da dengue.

Conforme a vendedora Maria Paim, 43 anos, há mais de uma década o transtorno persiste na Rua Três Marias. “Sempre tive-mos esse problema, a água pa-rada nunca seca. Quando chove, a situação se agrava, pois entra água em algumas casas e a rua fica parecendo um rio”, afirma Maria, ao ressaltar que os moradores já colocaram brita, mas ela afunda e o transtorno continua. Dentro de casa, a moradora está sempre cuidando para o mosquito não se reproduzir. “Não uso pote de flor e deixo as garrafas para cima, po-

rém, todas as minhas atitudes pa-recem ser em vão, na medida em que próximo da minha casa tem essas poças de água”, disse ao lembrar que, há poucos dias, uma vizinha comentou que sua filha estava com suspeitas de dengue.

A dona de casa Sirlei Montei-ro, 58 anos, mal consegue sair do seu lar, porque os buracos estão na porta de sua residência. “Cui-do tudo dentro da minha casa para que o transmissor da dengue não se prolifere, mas o problema maior está na frente do meu por-tão”, salienta Sirlei, ao observar que a poça está cada vez mais funda. “Estou pensando em fazer

um abaixo-assinado e levar essa questão para a Prefeitura, tenho certeza que todos os cerca de 50 moradores da rua me apoiarão.”

MAIS PROBLEMAS

O maior surto de dengue no Brasil ocorreu em 2013, com aproximadamente dois milhões de casos notificados, de acordo com o Ministério da Saúde. No ano passado, São Leopoldo iden-tificou 27 focos do mosquito até maio. Os bairros Santos Dumont, em especial a Vila Brás, Rio dos Sinos, Rio Branco, Scharlau, Cam-pina e Santa Tereza foram os mais

atingidos.Outro passeio público, em

que a reportagem do Enfoque constatou muitas adversidades, foi a Rua das Melissas, antiga L. “Sempre teve esses buracos com água contaminada aqui na Brás, já estamos acostumados. É só olhar para os nossos pés e ver que es-tão sempre embarrados”, enfatiza a dona de casa Vali Regina Martins da Rosa, 44 anos, que está levan-tando o chão de sua residência, porque tem poças de água parada embaixo de sua moradia. Esta si-tuação, inclusive, é frequente nes-se passeio público: uma casa já foi demolida, pois existe um buraco

de aproximadamente um metro de profundidade no terreno. O pátio de outra residência está to-mado por água parada, pedras foram colocadas para tentar mar-car o caminho até a porta da casa. “Eu nem conheço esse mosquito da dengue, se tem eu nem sei”, conclui Vali ao criticar a pouca in-formação sobre o Aedes aegypti e os casos da doença.

CAROLINE SANTOS (Texto)VICTORIA SILVA (Foto)

A igreja Comunidade Católica Cristo Operário, situada na Ave-nida Leopoldo Wasun, existe há aproximadamente 32 anos. Com o passar do tempo e com o de-senvolvimento do bairro, o espa-ço que abriga confortavelmente 80 pessoas, algumas destas em pé, acabou se tornando pequeno para abrigar todos os fiéis que a frequentam. Além da falta de espaço, a estrutura apresenta degradação. Com esses proble-mas, a solução encontrada pelos que costumam ir até o local foi a construção de um novo templo. Com a ajuda de uma arquiteta que projetou o novo espaço e também é uma das responsáveis

na ajuda de arrecadação de do-ações, o novo espaço, que tem previsão de início da construção para setembro deste ano, abriga-rá cerca de 200 pessoas, sendo destas 132 sentadas.

A equipe que trabalha em prol da igreja não possui con-dições para bancar a obra. “Dinheiro não temos, mas acreditamos que com força de vontade e empenho de todos, conseguiremos realizar essa construção”, destaca Menguer, como é conhecido um dos membros da equipe de traba-lho. Além disso, durante o ano serão realizados eventos para a arrecadação de fundos.

Para a construção, a comu-nidade católica já conta com alguns patrocinadores, mas ain-

da não é o suficiente. “Pedimos a colaboração de todos. Não queremos dinheiro, pedimos a quem quiser ajudar, que nos dê a sua doação em forma de material de construção ou com a mão-de-obra, pois queremos erguer a igreja em um mutirão de trabalho”, salienta Menguer.

PARA AJUDAR

Para quem deseja ajudar, seja com material de construção ou com a mão-de- obra, na cons-trução do novo espaço da igre-ja Comunidade Católica Cristo Operário basta ir até a secretaria da igreja ou ligar nos seguintes telefones: 3568-6151 com Maria Inês, 3592-1292 com Menguer e 3592-1026 com Gilmar.

Novo espaço no mesmo endereço

Esses ambientes são propícios para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue

Com o aumento da população, igreja ficou pequena para tantos fiéis

DICAS n Não deixe água parada nas calçadas, ruas, lajes e pneusn Mantenha fechada a caixa d’águan Guarde garrafas sempre de cabeça para baixon Encha de areia até a borda os pratinhos dos vasos de planta

SINTOMAS DA DOENÇAn Febre alta n Forte dor de cabeçan Dor atrás dos olhos n Perda do paladar e apetiten Manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, prin-cipalmente no tórax e membros superiores.n Náuseas e vômitosn Tonturasn Extremo cansaçon Moleza e dor no corpon Dores nos ossos e articulações

A Vila Brás está entre as localidades de São Leopoldo com maior quantidade de focos do inseto

Page 7: Enfoque 146

7CulturaEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Animação concorre nacionalmente

MARINA CARDOZO (Texto)CAMILA RODRIGUES (Foto)

Os alunos da Escola João Gou-lart estão levando sua pro-dução cinematográfica a um

novo patamar. A Oficina de Cinema, apresentada na reportagem “Luz, câmera, ação! A Brás na tela” (edi-ção anterior do Enfoque), produziu um curta-metragem de animação em stop motion sobre a imigração alemã. O vídeo, que será exibido na São Leopoldo Fest 2014, faz parte do projeto Alan Turing, promovido pela UFRGS em âmbito nacional.

A iniciativa, uma parceria com o Ministério da Educação, consiste numa mostra itinerante, que tem como público-alvo alunos de ensino fundamental e médio de escolas pú-blicas, e oferece oficinas de vídeo e áudio, focadas em animação. A Es-cola João Goulart optou pelo curso de animação em stop motion, tendo

em vista os recursos disponíveis na instituição: “Mas dá pra fazer chover com essa técnica”, afirma a profes-sora Andréa Rodrigues, uma das co-ordenadoras da Oficina de Cinema.

O vídeo foi gravado em cerca de três dias, após pesquisa prévia realizadas pelos alunos e pelas professoras para construir a his-tória, que conta como os alemães vieram para o Brasil: “Quando o país se tornou independente, era um território muito grande com muitas fronteiras desprotegidas, então houve um acordo com o go-verno alemão: eles ganhariam ter-ras no Brasil e, em troca, cuidariam das fronteiras”, conta Andréa.

O vídeo, de aproximadamen-te 30 segundos, utiliza desenhos, maquetes e bonecos de papel para contar a história. Após a en-trega dos curtas, que ocorre no fim de maio, os melhores serão selecionados pelo projeto Alan Turing para fazerem parte da mostra que percorre o Brasil. A professora Andréa também conta que, além da exibição na São Le-opoldo Fest 2014 e das possíveis projeções pelo Brasil, a animação também será mostrada à comuni-dade: “Fará parte da nossa mos-tra de vídeos, que ocorre no fim do ano”, destaca.

RAISA TORTEROLA (Texto)SOLANGE FLORES (Foto)

Muito se fala que a primeira vez a gente nunca esquece, mas pouco se ouve que a segunda pode ser ainda mais revelado-ra. Esse é o caso de Thereza Almeida Lecina, 78 anos, mo-radora da Rua das Calêndulas. Thereza já conhecia o Museu Histórico Visconde de São Leo-poldo, no centro. Mas em maio deste ano, teve a oportunidade de visita-lo com calma pela pri-meira vez e entender a história da cidade onde mora.

Assim que entrou no museu, se deparou com um carro anti-go, abriu imediatamente a bolsa e de lá tirou sua câmera fotográ-fica analógica. “Fica ali para eu fazer uma foto tua do lado do carro!”, pediu. Apaixonada por fotografia e objetos antigos, se disse fascinada pela possibilida-de de reviver a história e visitar o museu, principalmente se pu-desse registrar cada momento para mostrar para a família. “Eu tinha vindo aqui uma vez há

muitos anos com uma amiga, mas estávamos passeando no centro, só passamos aqui, olha-mos tudo muito rápido, nem deu pra ver direito”, lembra.

Durante a visita, Thereza refez a sua própria história. De objeto em objeto, contava um pouco de suas experiências. Ao ver, pela primeira vez, uma pal-matória, sorrindo, contou do medo que tinha quando peque-

na. “Então é isso aí que é a tal palmatória? Toda em madeira! Não usavam na minha escola, mas todo mundo comentava que doía muito, eu tinha medo, claro.”, lembra.

Ao olhar as lousas escolares, chamada por ela de “pedra”, re-velou do cuidado que era preci-so ter com o “caderno do passa-do”. Na época em que estudava, morando na colônia, perto de

Sobradinho, Thereza e os outros nove irmãos precisavam cami-nhar por uma hora até chegar na escola. “Eu tinha medo da chuva. Essa ‘pedra’ era muito frágil, se molhasse podia apagar a lição que a gente tinha feito, imagina!”. Também lembrou dos objetos que gostava na infância. “Olha aqui esse ferro de passar roupa! A minha mãe tinha um igual a esse. Eu adorava! Achava lindo! Sabe, até queria ter pego pra mim, mas depois que ela morreu não sei o que fizeram com ele”, comentou.

Mas não é só de memória que é feita a vida, ou a visita! “Meu sonho era saber tocar al-gum instrumento, acho muito lindo ver uma mulher que sabe tocar.” Com tantos tipos e tama-nhos expostos no museu, surgiu então a dúvida: qual deles es-colheria se pudesse? “A gaita!

Como eu acho lindo o som da gaita”, confessa.

Antes da visita, que durou 2 horas, terminar, Agenor Rodri-gues Coelho, 80 anos, porteiro há 17 do museu, veio conversar e saber se Thereza tinha gostado do que viu. “Adorei! Eu sempre gostei de coisas antigas, acho importante guardar para depois mostrar para nossos filhos como é que era no nosso tempo.” Con-fessou que no galpão dos fundos de casa guarda diversos objetos escondidos do marido. “Ele gos-ta mesmo de colocar tudo fora porque não presta mais, mas eu guardo. Aí escondo”, confes-sa sorrindo. Ao se despedir de Agenor, pede para fazer uma foto. “Quero mostrar para o meu marido”. Thereza gosta das lembranças também.

Assim que entra no carro agradece o convite e o passeio. “Se eu gostei? Nossa! Adorei, vou trazer o Gustavo outro dia”. Quem disser que um museu é feito só para contar a história da cidade, esqueceu que existem muitas outras dentro dela.

Como se fosse a primeira vez

Curta da Oficina de Cinema da Escola João Goulart será exibido na São Leopoldo Fest e pode ganhar projeções em outros estados

O QUE É STOP-MOTION?

“Stop motion”, em tradução literal, significa “movimento parado”. A técnica consiste em várias fotografias montadas sequencial-mente, em que uma imagem é levemente diferente da anterior. Por exemplo, para fazer uma menina acenando por meio de stop motion, a primeira imagem seria da menina parada; a segunda, com o braço um pouco levantado; a seguinte, com o braço mais levantado; e assim, sucessivamente, até completar o “movimento” desejado. Quando essas fotos são montadas em se-

quência, uma completa a outra e vemos o movimento.

FILMES FAMOSOS EM STOP MOTION:

•A Fuga das Galinhas, de Peter Lord e Nick Park•A Noiva-Cadáver, de Mike Johnson e Tim Burton•O Fantástico Senhor Raposo, de Wes An-derson •O Estranho Mundo de Jack, de Heny Selick

A oficina conta com mais de dez alunos que realizaram o curta no contra-turno da escola

Thereza revive momentos em visita ao Museu Histórico Visconde de São Leopoldo

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8 Enfoquinho Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014 9

Dá o Play! Saiba as músicas que fazem sucesso com a criançada

É hora de brincar!

GABRIELA GIRALT (Texto)ANA PAULA ZANDONÁ (Fotos)

Para o famoso filósofo grego Platão, “a música é o instru-mento educacional mais potente do que qualquer outro”. E ele estava certo!

Na infância, a música tem um papel ainda mais importan-te, pois ela estimula áreas do cérebro e desenvolve habilida-des importantes, como a coordenação motora, a concentra-ção e a socialização. Aprender a tocar um instrumento é o ideal para o desenvolvimento de uma criança, mas o simples ato de escutar uma música já faz toda a diferença. Através da melodia, as crianças ficam mais próximas, convivem me-lhor em grupos e se comunicam com harmonia.

Pensando nisso, a nossa reportagem resolveu sair pelas ruas da Vila Brás e descobrir o que a criançada gosta de es-cutar seja no colégio ou em casa. Confira!

“Meu cantor preferido é o Luan Santana e a música que

mais gosto dele é “Amar não é Pecado”. Não escuto música

todos os dias, só quando alguém escuta em casa ou no colégio”

Steffani, 11 anos

“Meu cantor favorito é o Justin Bieber. Não tenho uma música

preferida dele, gosto de todas!”

Larissa, 5 anos

“Meu cantor favorito é o Naldo. A música que mais gosto é “Mão

pra cima”. Escuto música mais em casa, no colégio não pode

muito”

Emanuel, 10 anos

“O cantor que mais gosto é o Luan Santana e minha música

preferida dele é “Nega”. Escuto música em casa no meu rádio”

Alice, 10 anos

“A música que eu mais gosto é “Sabor de Mel”, da cantora Damares. Eu sempre escuto

música com o fone do meu pai!”

Jamile, 7 anos

“Eu gosto do Mc Gui e da música “O Bonde Passou”. Escuto música no colégio, com o celular ou meu

radinho”

Diogo, 10 anos

“A música que eu mais gosto é do Mc Guimê. “País do Futebol”.

Gosto de escutar música com meus amigos no colégio”

Antonio Gabriel, 10 anos

“A músca que mais gosto é aquela do “lek lek lek” (Passinho do Volante, do MC Federado e os Lelek’s) e gosto de escutar música em casa e no colégio”

Kevin, 12 anos

BIANCA HENNEMANN (Texto)KAROLINE CARDOSO (Foto)

G iz de cera, lápis de cor, canetinhas e folha de papel. Basta criar uma cena com estes elementos a uma

criança para ver seus olhinhos brilharem no ato. Com os pequenos da Brás, não foi diferente. Ao serem instigados com um pedaço de ofício e lápis de escrever, rabis-caram o que mais gostam e depois conta-ram suas divertidas peripécias artísticas.

“Aqui está o Homem Aranha, o Homem de Ferro e o sol”, explicou o pequeno Fe-lipe Borges Barroso, de três anos, após ter feito vários rabiscos (desenho 1). Ele expressava, através das “garatujas”, nome dado aos riscos desprovidos de contro-le motor, que são feitos nesta idade, sua adoração pelos super-heróis. Enquanto corria e fazia folia com sua capa preta de herói, a mãe de Felipe, Ana Paula Borges Machado, de 23 anos, contou que incenti-

va seu filho a desenhar sempre. “Ele gosta tanto, que até já desenhou no sofá da casa da vovó”, confessou. Mas não pode né, Fe-lipe? Desenhar no papel é bem mais legal!

Larissa Rafaela Rufino, de cinco anos, também adora fazer desenhos. “Essa aqui é uma casa. O quarto dá pra ver pela ja-nela. A sala e a cozinha também”, explica ela, com seu jeito tímido (desenho 2). A menina revela que prefere fazer casas e pintá-las com giz de cera e lápis de cor. A pequena Juliana Stéfani Porto, de cin-co anos, adora colorir. Enquanto rabisca bem devagarinho, conta que desenha mais quando vai à casa da sua tia. “Olha aqui! Fiz um castelo, uma flor, a água para dar para a flor e o sol”, enfatiza (desenho 3). A mais falante das crianças, Kimberli Ga-briela Silva Costa, de seis anos, fez uma paisagem. “Tem um sol, duas nuvens, um castelo, uma árvore e uma flor. Gosto de desenhar paisagens, mas também gosto de sereias e barbies. Acho mais legal dese-nhar com lápis de escrever”, expõe (dese-nho 4). A pequena também incentiva sua amiguinha, Kauane Iasmin, de cinco anos, a fazer desenhos. Mas Kauane fez diferen-te de todas. Desenhou uma sequência de

letras “A” e “B”, conforme ela mesma (de-senho 5). “É que eu estou ensinando ela a escrever”, justifica Kimberli, fazendo Kaua-ne concordar com um sorriso sincero.

O DESENHO E ODESENVOLVIMENTO INFANTIL

A psicopedagoga Gabriela Ullmann Schons, de 38 anos, explica a importância desta prática feita pelos pequenos. “Através do desenho a criança elabora conhecimen-tos, aprendizagens e experiências”, afirma. Gabriela ainda enfatiza que o desenho da criança evolui com o seu amadurecimento e com os materiais que lhes são oferecidos. “A criança que não tem acesso a folhas, lápis, lápis de cor, terá um desenvolvimento grá-fico mais atrasado em relação àquela que, desde pequena, convive com esse tipo de materiais e pode criar”, destaca.

Gabriela também evidencia a impor-tância dos pais estimularem a prática do desenho com seus filhos. “O ideal é deixar a criança livre e pedir que conte o que de-senhou, e de que forma desenhou. Quan-do a criança vai contar a história, podemos observar o que ela imaginou ao desenhar,

questioná-la sobre outras possibilidades de cores, mas jamais fazer julgamentos a partir do desenho. Em uma época, muitas crian-ças eram “rotuladas” a partir das produções que faziam, com preconceitos muitas vezes sem fundamento”, relata.

A dica da psicopedagoga para os pais é que brinquem muito com seus filhos e ofe-reçam às crianças os mais diferentes tipos

de materiais, para que conheçam a todos e se desenvolvam a partir do seu uso. “Vale misturar tintas e descobrir novas cores, pro-dutos extraídos da natureza como folhas coloridas e pétalas de flores. A mesma coi-sa com as bases para pintar: folhas peque-nas, folhas grandes, pintar em lixas, forrar o chão. É nas brincadeiras, no desenho, que a criança se desenvolve sadiamente”, conclui.

MARIANA ZIMMER (Texto)DANKIELE TIBOLLA (Fotos)

A brincadeira preferida da crian-çada é o esconde-esconde. Enquanto uma pessoa fica com os olhos fecha-dos ou tapados contando até certo nú-mero combinado com os participan-tes do jogo, os demais se escondem. O jogo é fácil e não tem limite de participantes. Vale esconder-se em cima de árvores, atrás de arbustos e outros lugares criativos, o importante é não sair da área delimita-da previamente.

Stéfani Borges Ma-chado, 11 anos, se reúne nos finais de semana com os amigos Larissa Rafaela Rufino, cinco anos, e Felipe Borges Barroso, três anos, para brincar em frente de casa. Entre as brincadeiras da turma as preferidas são: esconde-esconde, pega--pega, skate, patinete e es-colinha. “Eu gosto de brincar na rua, andar de skate e subir em árvore”, afirma. O grupo de Stéfani é composto por

crianças de diferentes idades. Para a pedagoga Adriana Varnieri, é muito importante brincar na rua e ter conta-to com crianças de diferentes idades. “Proporciona vivências diferenciadas e oportunidades diferentes, como senso de responsabilidade e sociabilidade”, explica a educadora.

Nataly Grazo de Barros, seis anos, adora brincar com sua prima mais ve-lha, Camila Barros Camargo, dez anos. As duas são mais caseiras, gostam de mexer em seus tablets e se divertir com os cachorrinhos. “Eu gosto de brincar com minha prima e com a Dorinha e o Nanico, também tenho muitos jogos

no meu tablet”, conta animada. As brincadeiras em casa podem ser limitadas, mas também tem seus aspectos positivos. “Mexer com tecnologia, em horários adequa-dos, também traz vantagens es-senciais, como raciocínio, agilida-de, memória e muitos outros”, esclarece a pedagoga.

Devido à tecnologia, com os tablets e smartphones cheios de opções de jogos, as crianças acabam passan-do muito tempo sentadas em frente às micro telas entretidas com aventuras ficcionais e repletas de efei-tos visuais. Embora muitos dos jogos proporcionem diversas ferramentas de aprendizagem e desenvol-vimento, as crianças ainda precisam da convivência social entre amigos.

1, 2, 3, já!O Enfoque sugere algumas brincadei-ras antigas que não foram citadas pelas crianças da Brás, mas são muito di-vertidas e você pode experimentar com seus amigos!

ADOLETA: Em um círculo, cada jogador bate na palma da mão do outro, em sequência, enquanto cantam a seguinte música: “Adoleta, Lê peti, peti póla, Lê café com chocola, Adoleta, Puxa o rabo do tatu, quem cai fora é tu”. Cada “bati-da” vale uma sílaba, até chegar na palavra “tu”. Quem sobrar nessa parte e não conseguir escapar da “batida” deve sair do jogo e esperar a próxima rodada. O último a deixar o círculo será o campeão.

AMARELINHA: Brincadeira fácil e barata. Basta usar o chão, um giz para desenhar o riscado e um obje-to pequeno para marcar as “casas”. A pedra é lançada na primeira casa e o jogador deve percorrer o traje-to do traçado pulando e evitando o quadrado onde a pedra caiu. A sequência se repete enquanto a pedra avança de casa em casa e o grau de dificuldade aumenta.

Quem rabisca a mente espichaDesenhar é uma forma divertida de desenvolver o raciocínio dos pequenos

Larissa, Kauane e Kimberli exibem suas criações após explicar o significado delas

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10 Cultura Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Lembranças que unem os pequenos

MARCELO GRISA (Texto)TALES COLMAN (Fotos)

Entre os anos de 1991 e 1996, acontecia, todo dia de Na-tal, uma festa em frente ao

Mini Mercado Sul, localizado na Avenida Leopoldo Wasun: Les-si Rodrigues da Silva, uma das proprietárias do local, distribuía diversos doces para as crianças do bairro, entre balas, pirulitos, chocolates e outras guloseimas, além de balões – principalmente para quem não podia pagar por tudo isso. Os pequenos disputa-vam as gostosuras, se divertiam e conversavam na porta do esta-belecimento.

Hoje, dona Lessi, que tem 72 anos, não mora mais em São Leopoldo, e sim em Tramandaí, juntamente com o esposo, José Ely Bertissolo, , depois de mui-tos anos de trabalho, curtindo a aposentadoria. Um dos filhos do casal, Giovane Bertissolo, de 30 anos, cuida do negócio, e se recorda com carinho daquela época. “Tinha muito mais ver-

de, e a gurizada se divertia bas-tante. Só eu e o meu irmão que ficávamos lá dentro enchendo todos os balões que a mãe dava [risos]”, brinca.

Nas fotos, Giovane aponta muitos conhecidos que apare-ciam nessa e em outras oportu-nidades: vários não moram mais na Brás, ou ele não tem conhe-cimento do que aconteceu. Dois deles, porém, eram os mais pró-ximos: Moacir e Jalcir.

Moacir Nunes da Luz, de 33 anos, tem muita saudade des-ses tempos em que a maneira mais comum de se divertir com os amigos na comunidade era

jogando futebol na rua. “A gen-te ia também para o campinho, e a gurizada juntava 4 ou 5 ti-mes. Jogávamos até dois gols: quem levava dois primeiro saía pra dar espaço. E mesmo assim, tinha vezes que tinha gente que ficava de fora!”

Morando há 27 anos na vizi-nhança, Moacir reconhece que, mesmo assim, muitos jovens já tinham destinos desviados pe-las drogas e pela violência: “Tem vários que se perderam; outros estão presos. Meu pai sempre ficava desconfiado, porque eu costumava ficar até tarde na rua, e uma vez uma vizinha descon-

fiou que eu estivesse me drogan-do. Há 15, 20 anos atrás, todo mundo só desconfiava que o fulano usava o que não podia... Hoje é aberto, o cara está ali na esquina usando”, relata.

O morador procura passar o hábito de se reunir com os ami-gos para o filho, Eduardo Nunes da Luz, de 11 anos. Apesar de as crianças de hoje não se reu-nirem tanto na rua, Moacir lem-bra que os videogames as unem da mesma forma. “Até comprei para ele o Xbox ali, mas ele pre-fere ir lá na lan house do Gio-vane, só pra poder jogar com a galera. Eu gosto, porque sei que

a coisa anda perigosa, e eu con-fio muito no Gio ali no espaço dele”, aponta.

Jaucir, amigo dos dois, tem 33 anos e hoje mora em Caxias, trabalhando como metalúrgico. Na adolescência, subiu a Serra para tentar a vida como jogador de futebol, sendo inscrito nas categorias de base do Juventu-de. Entretanto, diversos fatores levaram ele a desistir da carrei-ra de atleta, e aí a cidade já era sua casa. Sempre que possível, ele vem à São Leopoldo visitar parentes e amigos como Moacir e Giovane, ouvir as novidades e lembrar dos velhos tempos.

MAYTÊ RAMOS PIRES (Texto)CAMILA HUGENTHOBLER (Foto)

Na Brás há apenas uma vi-deolocadora, e, em contrapon-to, vários bazares que ofertam filmes piratas. Para alcançar um público segmentado, a indústria cinematográfica trabalha com diversos gêneros: ação, aventu-ra, terror, suspense, romance, animação. Para além da indús-tria, o consumo se divide em seus públicos, diminui o número de videolocadoras e crescem as propostas de filmes piratas.

Jorge Soares, proprietário da única locadora da Brás, aponta que em seis anos, de 100% da renda, o negócio passou a re-presentar apenas 20% dos ren-dimentos. “Eu acho que esse mercado é irrecuperável”, afir-ma. Ele enfatiza que o setor ci-nematográfico está distante da realidade brasileira e sua disso-

nância abre espaço para outros tipos de mídia e, por conseguin-te, para a pirataria.

Devido ao encarecimento dos ingressos das salas de cinema e do desgaste das locadoras devido ao preço abusivo de cada cópia original de um filme, a alternati-va para o público de baixa renda cresce nas novas mídias e no co-mércio ilegal de cópias piratas. As-sim, surgem os sites para assistir filmes e séries online – gratuitos ou não – e aumenta a pirataria.

São muitos os estabeleci-mentos da Brás que ofertam dentre seus itens de bazar cópias piratas de filmes. A vendedora de um deles (que a reportagem optou por não divulgar o nome) destaca que a vendagem é grande: “Esse é um produto que tem que ter”. Segundo outro comerciante in-formal o público é abrangente, desde o infantil com a Galinha

Pintadinha, adolescente com os jogos e adulto com filmes de ação, terror e gospel.

Por outro lado, enquanto aumentam as novas formas de comércio de filmes e as

cópias originais se restringem aos aficionados por cinema e a alternativa tecnológica do Blu-Ray, a única videolocado-ra da Vila Brás vai, a cada dia, diminuindo mais o seu esto-

que. A opção que Jorge Soa-res encontrou à redução dos aluguéis foi começar a vender seus filmes, todos originais. De 5.000 exemplares, hoje restam apenas cerca de 400.

Filmes movimentam mercado paralelo

Nos anos 90, as crianças se divertiam com doces no Natal e jogando futebol pela rua, atividades que os uniram e formaram grandes amizades

Giovane e Moacir moram próximos; Jaucir, que mora em Caxias, aparece quando pode para visitá-los

Comércio informal ganha espaço no circuito local

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Compromisso além da eleição

LUANA CHINAZZO (Texto)LUÍSA VENTER (Fotos)

Em outubro, serão eleitos os representantes dos go-vernos federal e estadu-

al, deputados e senadores. As campanhas eleitorais são per-mitidas somente a partir do dia 6 de julho, entretanto políticos já começam a se mostrar mais presentes na comunidade desde o início do ano. A aposentada Dalva Pereira diz que já notou a diferença nos últimos meses. “Se precisamos de alguma coisa, eles já se mostram mais interes-sados em resolver”, conta ela sem se esquecer de destacar: “Não que realmente resolvam”.

A zona eleitoral da Vila Brás, localizada na Escola Municipal João Goulart, representa 3% dos eleitores municipais e apenas 0,06% dos votantes do estado. Nela estão inscritos quase 5 mil moradores aptos a votar. Des-crente com a política, o comer-ciante Neri Souza de Oliveira não vê como o quadro atual da comu-nidade pode se alterar. “Qualquer

um que entrar não muda”, afirma Neri. Ele baseia sua escolha nas fichas dos candidatos, buscando a “menos pior”. A esposa Car-la conta que nem isso a anima: “Voto nos que ele sugere”.

A reclamação sobre a ausên-cia dos políticos na comunidade é unânime. Todos os entrevista-dos pelo Enfoque Vila Brás des-tacaram que os candidatos só aparecem na época de eleição. Porém, grande parte deles tam-bém confessa que não acompa-

nha o trabalho daqueles em que votaram, há quem, inclusive, nem lembre em quem votou. O perfil do eleitor da Brás é com-posto por apartidários e desin-teressado em política.

Valdemar Bünhrt estudou só até quarta série, mas tem ciência do papel do eleitor no processo político. Para ele, a obrigação dos votantes tem que ir além do dia de eleição: “Tem que procurar o que ele fez antes de votar e ficar em cima”, ex-

plica. Além disso, acredita que o principal motivo de os can-didatos não cumprirem o pro-metido é falta de comprometi-mento dos próprios eleitores. “Tem gente aí que troca o voto por caçamba de aterro, daí não dá mesmo para cobrar algo de-pois”, desabada.

A compra de votos na área mais carente da comunidade é uma realidade comum. A dona de casa Raquel Otero, afirma que os candidatos fazem festa, ofe-

recem aterros e cestas básicas. “Tem muita gente que vende o voto porque de qualquer manei-ra nenhum volta depois”. Neuza Nogueira é dona de uma madei-reira na Avenida Leopoldo Wasun e embora sinta que há abandono dos políticos entre os períodos eleitorais, afirma que nunca pre-senciou qualquer tentativa de compra de voto na sua vizinhan-ça, não sem ressaltar: “Mas não duvido que tirem vantagem da necessidade das pessoas”.

JÉSSICA PEDROSO (Texto)LURDENIR MATOS (Foto)

O ano de 2014 é marcado por eleições a nível nacional: em outubro, serão escolhidos novos governadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores para os estados e um novo presidente para o Brasil. Mesmo que o governo muni-cipal não sofra alterações, os moradores da Vila Brás querem mudanças, e é através do voto consciente que a população luta por uma nova realidade.

Para Angel Gabriel Campos da Silva, 17 anos, o voto é fa-cultativo, e ele prefere não se manifestar este ano. Angel diz que a política não lhe interes-sa muito por enquanto: “ainda não fiz o meu título de eleitor e também não acho que agora

seja importante que eu vote. Nos próximos anos será obri-gatório, aí com certeza serei participativo nesse sentido”. Teresinha Fernandes de Ma-tos, que, aos 70 anos, também tem direito ao voto facultativo, revela que não vai votar, mas que a cidade está precisan-do de melhorias para atender melhor a população: “Aqui em São Leopoldo, o nosso hospital está sucateado. Às vezes tem médicos, mas eles não fazem nada, demoram 30 minutos pra te atender. A fila para con-seguir atendimento, então, nem se fala. Não voto mais porque sempre votei e agora é facultativo, não quero mais me preocupar com isso. Vou deixar para que a juventude decida o rumo das coisas.”

Jesus de Oliveira Cavalhei-

ro, com seus 76 anos de idade, continuará indo às urnas. Mo-rando há 18 anos na Vila Brás, trabalhando em sua oficina de chaves, Jesus acredita que mui-ta coisa precisa ser melhorada no bairro e que, para isso, é im-portante o exercício da cidada-nia: “Ao longo desses 18 anos, percebi que as coisas foram me-lhorando as poucos, mas ainda existe muito a ser feito. Ainda temos poucos médicos, o siste-ma de saúde em si é precário e é preciso condições de vida mais dignas aqui na Brás. Para conse-guir uma consulta médica pre-ciso ir até a Scharlau. A invasão aqui precisa ter saneamento, iluminação, os lotes precisam ser arrumados para que as pes-soas possam viver dignamente. Se eu não fizer minha parte vo-tando, nada disso muda.”

Gerações que (não) votam

11PolíticaEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Em ano eleitoral, o Enfoque conversou com a população para entender a relação entre eleitores e políticos

Neri e Raquel questionam o comprometimento dos políticos com a comunidade

Jesus, aos 76 anos, ainda enxerga o voto como exercício de cidadania

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12 Política Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

O papel do voto para os jovens

JULIAN KOBER(Texto)DYESSICA ABADI (Fotos)

“Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes

eleitos ou diretamente”, é o que diz o artigo 1º da Constituição Federal de 1988. Mais do que uma obri-gação, a participação do povo nas eleições por meio do voto é vista como um importante instrumento de mudança política e social.

No dia 5 de outubro, ocorre o 1º turno das eleições de 2014, que, para muitos jovens da Vila Brás, será a primeira oportunida-de para eleger, a partir do voto, o presidente e vice-presidente da República, deputados federais, senadores, governadores e vice--governadores, deputados esta-duais, entre outros.

Entretanto, a falta de con-fiança na política, motivada pelas notícias de corrupção e de pro-messas que não são cumpridas, faz muitos jovens ignorarem este momento.

ELEIÇÃO SEM SENTIDO O título de eleitor é facultativo

aos 16 (obrigatório aos 18 anos), porém muitos jovens com esta ida-de ainda não obtiveram o seu. As justificativas são as mais diversas. “Não fiz por preguiça”, é a primeira resposta dada por Suelen Fernan-des, de 18 anos. Ao ser questio-nada uma segunda vez, a garota

reflete sobre a resposta e a justifica com a falta de interesse pela políti-ca: “Eu vejo a situação aqui na Vila, onde todo ano de eleição surgem políticos prometendo mudanças, mas depois que são eleitos não fa-zem nada”, afirma.

Este desinteresse é a resposta mais comum entre os jovens en-trevistados pelo Enfoque. É o caso de Camila da Silva Santos, 20 anos. Apesar de ter feito o título há dois anos, a estudante não participou

de nenhuma eleição. “Não faz dife-rença”, relata Camila. E mesmo que seja obrigada a votar, ela já sabe como serão feitas as escolhas no primeiro turno: “Vou escolher na hora. Assim que eu chegar à urna, dou uma olhada rápida nos candi-datos e voto no primeiro que me parecer bom”, explica.

“Se tem uma coisa que eu não gosto, é de política”, afirma An-dressa Daniele Pereira Antunes, de 17 anos. A estudante confessa

ter feito seu título “apenas por obrigação” e sequer considera importante votar. O motivo, se-gundo Andressa, são as campa-nhas eleitorais, que fazem com que a população confie no candi-dato errado ao darem credibilida-de aos seus discursos: “Dá pra ver que é tudo forçado. Eles planejam um discurso pra tentar fingir que vão nos ajudar”.

CONSCIENTIZAÇÃO NAHORA DA ESCOLHA Se para alguns as eleições

irão passar despercebidas, para outros é um momento sério e decisivo. Daniel dos Santos, 21 anos, procura escutar as pro-postas dos candidatos desde o momento em que realizou o seu título de eleitor, há 3 anos. Para ele, é fundamental identificar o caráter do político, tentar ver

se é realmente honesto. Mais do que uma obrigação, Daniel quer que, a partir do seu voto, a situação na Vila Brás melho-re: “Precisamos de mudanças, e nosso voto é uma forma de fazer com que elas ocorram”, destaca o estudante.

“Um voto pode mudar tudo”, afirma Leonardo Fabiano Sche-er, de 18 anos. O jovem tenta se manter atualizado “o quanto pode”, pois a falta de informa-ção é o principal problema nas eleições: “Poucas pessoas pro-curam saber sobre o candidato que escolhem, e muitas sequer lembram em quem votaram”. Ele afirmou ainda estar atento às ações dos candidatos que ele ajudou a eleger: “Eles precisam cumprir o que prometeram.”

Há quem nem completou a idade necessária para realizar o título e já pensa em como será a primeira participação nas elei-ções: “Quero escolher alguém com boas intenções, não que só finge ser amigo do povo, mas alguém que realmente se im-porta com a população”, afirma Rithieli Lima de 15 anos. A garo-ta acredita que o governo ainda tem que melhorar, e espera que, quando for votar, esteja pronta para contribuir: “Conhecendo bem o candidato, vou poder fa-zer com que meu voto tenha va-lido a pena”, acredita.

A conscientização e a falta de interesse nas eleições na visão dos jovens da Vila Brás

Quando assunto é política, o casal possui opiniões opostas: Daniele não acredita na política, enquanto Leonardo procura manter-se informado

As opiniões são divergentes quando se trata de política: Mesmo possuindo o título, Camila não possui interesse na política: “Vou escolher (o candidato) na hora”; Já Daniel vota desde os 18 anos e está pronto para escolher o seu representante

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13EconomiaEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

População sofre efeitos da inflação

MANOELI RODRIGUES (Texto)PAULA CÂMARA (Fotos)

O povo ainda não sentiu di-ferença e muito menos alívio na hora de abrir a

carteira. A alta influencia dire-tamente na decisão de compras e o que mais pesa no bolso é a conta do supermercado. Assim, mudam-se os hábitos alimenta-res de acordo com o preço dos alimentos. Já para as pessoas que dependem de remédios, essa de-cisão não é assim tão simples, é preciso encontrar uma maneira de comprá-los.

A inflação surpreendeu em abril subindo 0,67%, desaceleran-do em relação à março que re-gistrou 0,92%. Segundo cálculos do economista Leonardo Costa, o grupo serviços registrou alta de 8,87% em 12 meses até abril. São considerados inclusos neste grupo os serviços que são intensivos em mão de obra. Maria Francisca De Quadra, 45 anos, faz parte de uma equipe no “Salão da Xica”, há oito anos. Conta que pesquisa preços melhores com fornecedores de produtos para não ter que repas-sar altos valores para os clientes. E que no primeiro trimestre de 2014

teve uma alta de 40%.Coproprietária do salão “Re-

gina Paz Estética”, Grisia da Silva, 31 anos, conta que trabalha com compras de produtos, mantendo um estoque, para não oscilar mui-to o valor dos serviços. E caso os preços dos produtos subam, os reajustes acontecem somente no verão. No inverno, geralmente, são realizadas promoções.

Os alimentos subiram menos em abril e mesmo com a alta me-nor é na alimentação onde mais se sente o peso da inflação. Produtos, que em meses anteriores apresen-taram alta expressiva, registraram queda nos preços, como a man-dioca, açúcar cristal e farinha de trigo. Por outro lado, muitos outros alimentos pesquisados tiveram au-mento de preços. A batata inglesa teve aumento de 22,26%, os remé-dios de 1,84% e a carne 1,83%.

O dono do “Mercado do Bi-chão”, Alfenor Ferreira de Barros, afirma: “É uma vergonha o preço do tomate, fica muito difícil de ven-der com esses preços”. Conta que no primeiro trimestre deste ano o faturamento do seu negócio teve uma queda de 15% em relação ao mesmo período do ano passado.

Morador do bairro há quatro anos, Clair Dutra faz uma piada: “É um perigo sair do mercado carregando uma sacola cheia de tomates, hoje em dia”. Diz que antes, quando a inflação estava alta, mudava a alimentação para verduras e hortaliças, mas, que hoje, são esses itens e a carne,

que estão mais caros. Conta, ain-da, que seu filho precisa tomar alguns remédios. E o que ele não consegue retirar no ginásio (dis-tribuição da prefeitura), precisa recorrer ao cartão de crédito.

Já Silvane Cavalheiro, 39 anos, diz que “a inflação influencia bas-tante no momento de fazer as com-pras no supermercado.” Diz que se a pessoa não tem uma roupa nova, tudo bem, pode usar as que já pos-sui, mas em relação ao alimento não tem como ser assim. Afirma, também, que sentiu a alta na mão de obra de pedreiros. Mas vale lembrar que, ainda, tem os reajus-tes da alta da energia elétrica para entrar em maio, que foi de 1,62%, a serem absorvidos pela inflação.

BETINA ALBÉ VEPPO (Texto)GUSTAVO EV (Foto)

O conjunto de alimentos necessários para abastecer uma família brasileira, de dois adultos e duas crianças, du-rante um mês é o que define a cesta básica nacional. Car-ne, leite, feijão, arroz e fari-nha são alguns dos alimentos sugeridos pelo Departamen-to Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que cujo cálculo visa controlar as diferenças de pre-ços dos produtos alimentícios nas capitais brasileiras.

Na residência de Jussara Fernandes, 68 anos, a cesta básica tem dia para chegar. “Recebo a minha por telentre-ga, e os produtos duram mais

de mês na cozinha”, afirma. A professora de Economia na Unisinos, Cátia da Silva, explica que o Dieese não considera a durabilidade dos alimentos, as-sim os supermercados podem restringir os produtos aos não perecíveis. “A cesta básica que encontramos nos supermerca-dos não contempla, quantitati-va e qualitativamente, os mes-mos produtos indicados pelo órgão, por isso as variações no preço e na qualidade, mas a prática é legítima”.

No mercado Vieira, o clien-te pode optar por montar seu conjunto, desde que o valor não ultrapasse o estipulado. “Quando um produto da ces-ta não é consumido durante o mês, pode ser substituído”, garante o proprietário Aldemir

Vieira. Já o mercado Gonçalves, o dono, Edson Gonçalves, ale-ga haver acréscimo no preço se o cliente buscar o produto na prateleira. “No início, nem pen-sava na possibilidade de venda; hoje, ofereço este serviço para atrair a clientela”, assinala.

O Decreto Lei n. 399 dis-põe que o valor da cesta deve ser inferior ao corresponden-te a gastos com alimentação calculados no salário mínimo. Juliana Brusch, 47 anos, argu-menta que as cestas fechadas têm valores abusivos. “O salá-rio está muito baixo em rela-ção às necessidades básicas. Os preços aumentam assusta-doramente de ano para ano e estão ficando fora do alcance do consumidor”, frisa.

Segundo a economista, por

vezes, temos a impressão de que o valor é alto em relação a anos anteriores, mas, a prin-cípio, o salário mínimo atual possibilita suprir necessidades

básicas, como alimentação e moradia. Isso não quer dizer, acrescenta ela, que os alimen-tos sejam os ideais nem que o valor do salário seja suficiente.

Economizar na hora de pôr à mesa

Mesmo que a alta tenha sido menor que no mês anterior, assusta os consumidores

Alfenor se queixa da alta dos preços e comenta como a inflação prejudica seu negócio

Jussara poupa com a cesta básica que recebe todo mês por telentrega

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14 Economia Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Vida dividida entre barcos e fretes

AUGUSTO TURCATO (Texto)LURDENIR MATOS (Fotos)

Vem das ferramentas rús-ticas, das chapas de me-tal negociadas a um bom

preço, do tempo que sobra en-tre um frete e outro, uma paixão que virou fonte de renda. Age-nor Soares, 74 anos, constrói barcos em meio a um local onde o meio de transporte mais co-mum é terrestre.

Desde o tempo de adoles-cente, quando ajudou na cons-trução da Ponte do Guaíba, nos anos 50, a paixão virou uma ocupação rentável. “Já construí 15 barcos e vendi quase todos. E é tudo aqui, de fundo de quin-tal”, conta Soares, ao mesmo tempo em que aponta para a ga-ragem escura, com ferramentas e restos de materiais por todas as partes. Neste local nascem os barcos, feitos com chapas de metal barato e motor de fusca, seu favorito. “Eles são mais re-sistentes contra a água”, explica a preferência.

Casado há 52 anos com Ma-ria Conceição Pontes Soares e pai de oito filhos, Soares, natu-ral de Nova Prata, nordeste do Estado já foi funcionário públi-co, pedreiro e caminhoneiro

no Paraná, uma “aventura”, como ele mesmo classificou. “Hoje, faço fretes aqui pelo bairro e pela zona. Cobro por km, para eu tirar meu cami-nhão da garagem. Não faço por menos de R$ 50. O transporte nem sempre é barato, né?”, avisa, ao contar que recém ha-via voltado de um trabalho que lhe rendeu o dobro do dinhei-ro, transportando móveis para uma família que se mudou para perto do Rio dos Sinos.

“SE NÃO TEM, FAÇA VOCÊ MESMO”

Para construir os barcos, Soares busca todas as alterna-tivas possíveis para baratear os custos. Consegue chapas de metais nos ferros velhos, onde também negocia motores de carros e, se algum obstáculo o impede de seguir sua constru-ção, ele contorna. “Às vezes, se eu não tenho a ferramenta ideal, eu fabrico. Já fiz chave de fenda, serra, de tudo”, conta, orgulhoso, enquanto mostra o barco que usou para pescarias no Rio Camaquã.

A garagem de Soares é como uma segunda casa para ele, local em que um jipe foi cons-truído nos mesmo moldes das embarcações. Na mesma veloci-dade em que constrói seus bar-cos, Soares espera a inspiração para batizar a embarcação que descansa inacabada sobre um reboque na calçada. “Sabe que ainda não sei? De repente quan-do estiver pronto em penso em um nome bem legal”, encerra.

LAÍS DE OLIVEIRA (Texto)NATÁLIA MACIEL (Foto)

O espírito da Copa do Mundo está cada vez mais presente nos brasileiros. Enquanto a maioria do comércio já co-meça a tirar proveito desse momento, os empreendedores da Vila Brás caminham a passos lentos em direção ao mundial. No início de maio, quase não há artigos que remetam ao futebol ou a Seleção Brasilei-ra nas lojas da Avenida Leopoldo Wasun.

No SP Bazar, a vendedora Milena da Silva Gonçalves conta que o único artigo à venda é a bandeira do Brasil, que cus-ta 15 reais. Até agora, nenhum cliente adquiriu o produto. Já no Bazar Estrela, onde outros produtos relacionados à Copa são comercializados, o grande su-cesso são as figurinhas do álbum oficial

da Copa do Mundo. “A gurizada da escola sempre compra”, comenta a vendedora Carina Tomachesqui Bertissolo, que tra-balha na loja há seis meses.

Não é só a venda de produtos rela-cionados ao Mundial que está gerando interesse na população. A lancheria Tchê Lanches, por exemplo, transmite jogos de futebol, como os da dupla Grenal, que, segundo eles, atrai bastante público para o estabelecimento. Porém, mesmo que o futebol seja capaz de reunir um gran-de número de pessoas em um só lugar, os proprietários do estabelecimento,

Inajara e Augusto Camargo, relata que o movimento não é o mesmo de alguns anos atrás. “Agora, todo mundo tem tele-visão de tela grande e TV por assinatura. Antigamente, o pessoal vinha aqui para assistir aos jogos porque ninguém tinha ‘telão’ em casa”, salienta Inajara. Augusto comenta que, apesar de os jogos da Sele-ção Brasileira estarem programados para o turno da tarde, os clientes irão procurar o Tchê Lanches para assisti-los.

Para a artesã Vani Nunes Seimetz, não é cedo demais para se preparar para o mundial de futebol. Há 10 anos, ela cos-tura panos de prato. “Sempre que tem uma data comemorativa, tento fazer al-gumas peças diferentes”, diz, ao destacar que os produtos artesanais, que reme-tem à Copa do Mundo, já estão prontos e à venda por oito reais.

Copa ainda não chegou ao comércio

Agenor Soares transforma seu passatempo de construir embarcações em uma atividade rentável

Carina, vendedora do Bazar Estrela, conta que o grande sucesso são as figurinhas dos jogadores

Morador pegou gosto por

embarcações quando, jovem,

ajudou a construir a Ponte do Guaíba

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15EsportesEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2014

Esporte gera negócios em família

BIRA COSTA (Texto)ARIANE LAUREANO (Foto)

A família de Débora Lucia-ne Pipper, 37 anos, gos-ta de estar em constante

movimento. A família de Débora é natural de São Leopoldo. Eles sempre residiram na Brás. Por oito anos eles moraram na cidade vizinha de Sapiranga, por força do trabalho do esposo Nestor Vieira Alves, 35 anos, que atua no setor calçadista.

Lá, conta Débora, sempre man-tiveram o costume de frequentar academia, de se exercitar. Ao retor-narem à Vila Brás, há cerca de um ano, abriram uma lojinha de artesa-nato, onde a mãe expõe e comer-cializa suas criações, mais peças decorativas em MDF.

Sem perder o hábito da prática esportiva, num espaço da garagem, um saco de lutas, mais um par de luvas que Débora por R$ 160, onde

costumava dar “uns socos”, cha-mou a atenção de alguns curiosos que cruzavam por aquele espaço.

Nasceu daí, a ideia da família em adquirir outros equipamentos esportivos além dos sacos de lutas como luvas, manópolas e ataduras, para quem tivesse interesse em dar uns socos também.

Como o saco de lutas era de um amigo de Sapiranga, lutador de

MMA, e responsável pela marca Onze Boxe, juntamente com a filha, Chaiane Pipper, 16 anos, passaram a vender os equipamentos na loja.

Deu tão certo que, de lá para cá, os produtos, além de serem exclusivos no bairro, mo-tiva outros moradores a manter o corpo em atividade. “Muitas pessoas passavam por aqui e nos perguntavam sobre os equi-

pamentos e de como seria pos-sível de adquirir”, revela a mãe e desportista.

Desde o período em que come-çaram a vender, a família de Débora não contabilizou a quantidade de peças. O certo é que o gosto pelo esporte facilita os negócios.

Nestor ainda mantém os negó-cios da sua empresa em Sapiranga. Ele vai e volta de bicicleta, pelo

menos duas vezes por semana, percorrendo uma distância de 25 km entre as cidades, somente para manter o corpo em forma, confir-ma a esposa.

“O interesse pelos equipamen-tos esportivos só vem aumentan-do, mas, agora, muitos sob enco-menda”, confirma Chaiane, que diz que as luvas e sacos são os mais procurados, devido às peças se completarem para quem pratica o esporte de luta.

“Quem compra, adquire por-que vê o esporte de contato na tevê”, analisa a menina. A jovem Chaiane aponta a falta de mais es-paço aos esportes na Brás “há uma academia, mas sem este esporte de contato.”

A artesã Débora afirma que praticar um esporte desestressa qualquer pessoa.

“Quem compra não tem conhe-cimento de lutas de contato, mas compram para se exercitar (...) é bem empolgante e faz bem à saú-de”, concorda a mãe. A diversifica-ção de produtos da loja de Débora deve continuar com sucesso. Um dos fatores aponta está no preço diferenciado dos produtos que, sendo adquiridos diretamente da loja, não incidem tarifas de frete, por exemplo.

EMERSON RIBEIRO (Texto)RÉGIS VIEGAS (Foto)

Há 14 anos, numa noite de sábado, seis amigos encontra-ram-se num bar e tomaram a decisão: “Vamos formar um time de futebol amador”. Não demorou muito e foi eleito de-mocraticamente o nome da equipe: Esporte Clube Brazão. E quais seriam as cores do time da Vila? Mais uma eleição... Ga-nhou a preferência entre a maio-ria dos integrantes da equipe recém-formada a combinação das cores azul, preto e branco. Resignado, o colorado Marcos Martins, microempresário, 42 anos, que esteve na fundação do Brazão e atualmente preside do clube, diz que nunca encon-traram problemas associados à rivalidade Gre-Nal por conta do uniforme do Brazão.

Rivalidade forte mesmo é com o vizinho Bom Fim, o clu-be que veste as cores preta e amarela realiza duelos acirra-dos contra o Brazão. No último embate, em 2012, foi equili-

brado e culminou no placar fi-nal de 2 a 2. Antes mesmo do dia 1° de janeiro, os times ama-dores definem o calendário de jogos para o ano. Entretanto, Brazão e Bom Fim nem sequer marcaram um confronto entre si ainda para 2014. “Pela pro-ximidade que temos e todos nos conhecemos, de ambos os lados optamos por evitar con-fusão”, explica Martins.

Mesmo não sendo profis-sional no futebol, “ninguém quer perder”, é o que garante Martins. O presidente do Bra-zão admite que antigamente ocorriam mais confusões, pois os árbitros eram vizinhos con-tratados de última hora para apitar as partidas marcadas pela competitividade. “Mas nesses últimos quatro anos, os juízes dos nossos jogos são profissionais, que passam mais credibilidade e tranquilidade para os jogadores”, argumenta.

Pode até ser amador, mas nem por isso é desorganizado, o Brazão conta com o presiden-te Martins, um tesoureiro, um

técnico e 26 jogadores. Martins, que acumula as funções de pre-sidente e camisa 9, diz que tem fila de espera para entrar no time. Na faixa etária o plantel tricolor se mantém democráti-co, o atleta caçula tem 16 anos e

o veterano tem 46 anos. Apesar de mandar os jo-

gos no campo do Juventus, localizado no bairro Rio dos Sinos, o Brazão quer fechar uma parceria com a Prefei-tura para implementar um

campo e finalmente “jogar em casa”. “Sonhamos com um campo nosso”, diz Marcos enquanto observa ao final da sua rua o terreno baldio que poderia se transformar no gramado do Brazão.

O Brazão da Vila

Venda de equipamentos usados para prática de lutas atraem curiosos e estimula vida saudável

Sacos e luvas de luta uma atração a mais na lojinha dos Pipper

O presidente Marcos sonha com o dia em que o time finalmente irá jogar em casa

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VIla Brás - São Leopoldo/RS Junho de 2014

enfoque

Família, amizade, diversão e um gesto contra o preconceito

ADRIANO SANTOS (Texto)PEDRO KOBIELSKI (Fotos)

Domingo de Dia das Mães. Alisson Batista, 14 anos e a irmã Saman-ta, no terceiro ano do Ensino

Fundamental, miram, com incontida ansiedade, o horizonte onde a Avenida Leopoldo Wasun faz a curva, no final da Brás. A tarde está no ápice, o sol aquece sem exagero. Este ano o desfile não sai-rá da Rua 10, informa o menino, orgu-lhoso com a iniciativa do pai e dos tios. “Ano passado, encheu a praça”, conta.

Tudo começou com uma brincadei-ra, há três anos entre os irmãos Mar-cos, Paulinho, Agnaldo, Maicon Diego e Carlos Antônio Batista, junto com ami-gos mais próximos que decidiram, para homenagear as mães pela passagem do seu dia, realizar uma partida de futebol, fardados com indumentária feminina completa, incluindo peças íntimas. A brincadeira se repetiu no ano seguinte e virou atração na Brás.

Enquanto Alisson e Samanta aguar-dam, em frente ao Bazar Schütz, aberto para atender retardatários em busca de arranjos florais para presentear as mães, já devidamente vestido com uma colan branca e o rosto de barba por fazer es-condido nas mechas loiras de uma peru-ca, surge o juiz da partida. É Luciano Ma-ralo, 38 anos, segurança, que já assumiu a persona de “Julia Roberts”. Ele se junta aos moradores que aguardam a prome-tida passagem dos/as jogadores/as.

O TÃO ESPERADO DESFILE

O povo começa a aglomerar-se nas esquinas. No final da avenida, desponta uma Kombi branca, com o que parece uma versão do filme Priscila, a Rainha do Deserto (comédia musical de 1994, dirigida por Stephan Elliott). À distância o desfile parece lento. Ao aproximar-se, o som do funk “Beijinho No Ombro” da cantora Valesca Popozuda, toma conta da avenida. Já é possível avistar pelo me-nos seis homens entre 20 e 40 anos, em média, em uma performance sensual, todos metidos em vestidos do tipo tubo, blusas decotadas, que deixam à mostra a lingerie, calças leggin coladas ao cor-po, miniblusa, com não exatamente bar-riguinhas de fora, batom, blush, sombra nos olhos e perucas coloridas. Além da indumentária, os/as atletas incorpora-

ram personagens femininas extravagan-tes. Somam-se outros/as quatro jogado-res/as que acompanham a Kombi e um carro com o porta-malas aberto que ga-rante o som do desfile. Atrás deles, uma pequena carreata acompanha o desfile até a praça. Dependurada no pára--choques do veículo, contrastando com as grandes tatuagens tribais nos braços, Marcos Batista lidera a trupe, batom vermelho, peruca castanho-claro, mini--saia e legging. Os moradores da Ave-nida Leopoldo Wassun saem às janelas para saudar o ruidoso e festivo cortejo.

Na praça, outros moradores já aguardam nas imediações do campo, sentados em cadeiras de praia. São fa-mílias inteiras que, sabendo do espetá-culo anual, vieram prestigiar o evento. Os carros entram até a beira do cam-po. Os/as jogadores/as descem sauda-dos como celebridades. Um grupo de meninos entre 10 e 14 anos segue os adultos, também vestidos em roupas

femininas. Mais homens fantasiados de mulher chegam. Antes da partida ini-ciar, Carlos Batista, sobe novamente no alto da Kombi, o batidão do funk cede lugar ao silêncio e ao riso dos presen-tes. Ele agradece a participação de to-dos e explica o motivo da festa. “Há dois anos, nós íamos parar. Nós perdemos um grande amigo tragicamente. Ele fazia parte dessa brincadeira. Por isso, também em homenagem a ele, o Ja-merson, nós decidimos que não vamos mais parar de fazer essa homenagem ao Dia das Mães”. Sob aplausos e com alguma dificuldade por conta da mini--saia, antes de descer da Kombi, Carlos dirige-se às mães: “Uma saudação às nossas mães que sacrificaram sua be-leza e juventude para dar à luz a nós!”

AUTORIZA O ÁRBITRO

Os times entram em campo. Julia Roberts de colan branco apita o início

da partida. Uma das goleiras tem na pequena área, duas enormes poças de água, resultado da última chuva. Os ti-mes arrancam risos da platéia, mas es-tão realmente empenhados em jogar a partida. A primeira contusão é de Car-los. Ele faz a finta, marcada a falta, le-vanta e pede o lançamento na pequena área entre a goleira adversária e as po-ças de água. A bola sai na linha de fun-do. O batidão do funk voltou a castigar os ouvidos da torcida, que acompanha cada lance aos risos. “Venho todos os anos assistir” conta Cheila Pereira, 41 anos, moradora da Vila Santos Dumont, há pouco mais de 1 km da Brás. A músi-ca ajuda a dar ritmo a partida. Mais de 15 carros estão estacionados na Praça.

Lateral. Uma “gordinha” de vestido florido e peruca loira cobra. A torcida gri-ta: “Bicha! Bicha!” O/a jogador/a vira e responde: “Bicha, não! Quase mulher!” A partida segue. O lançamento ameaça se perder na linha de fundo novamen-te, mas a jogada é completada e sai o primeiro gol da partida. O time inteiro corre para cima do/a artilheira/o. Tudo é festa. Para além da indumentária, to-dos fazem performances com gestos femininos exagerados. A torcida incen-tiva. O jogo segue. O empate vem em seguida, dentro das poças de água. O glamour dos paetês e perucas coloridas ganha reforço de lama. Para a platéia já está difícil distinguir quem está em qual time. Tempo. Um novo time entra em campo, menos paramentado, exceto pelas saias, usam camisetas com nume-ração. O jogo vira mais futebol e menos brincadeira. Certo clima de tensão não passa desapercebido pelos irmãos Car-los e Marcos. Um pedido de tempo, parece prenunciar o final da partida. Claudio Ivo Elizalde, 49 anos, técnico em Informática, devidamente paramentado de mini-saia e botas, chegou atrasado, mas em tempo de se juntar ao jogo. Logo é derrubado nas poças de água e o figurino fica arruinado. Ele é pai de duas meninas que estão com a esposa, Cris-tiane Lüders Rothen, 32 anos, na beira do campo acompanhando tudo, sem entender muito bem o que o pai delas faz com as roupas da mãe.

A partida logo chega ao final. O time dos irmãos Batista e amigos volta para o teto da Kombi e como uma cena em retrospecto no cinema, sai da praça da mesma maneira que chegou. Em poucos minutos o local está completamente va-zio e reina o silêncio. Daqui há um ano, eles voltam para a já tradicional partida de Dia das Mães e para a saudável diver-são dos moradores do Brás. Um golaço, inclusive contra o preconceito!

Uma brincadeira entre familiares se transformou na principal atração do dia das mães na Brás

Depois de desfilar pela Avenida Leopoldo Wasun, a “kombi das loucas” chega à Praça da Paz para a quarta edição da partida anual de futebol