enfoque 129

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Confira histórias de gente que não ficou bobeando e se realizou com o trabalho na Vila Brás Páginas 4 e 5 enfoque vila brás | são leopoldo | setembro/2011 | edição 129 à obra Mãos Carteira assinada Profissionalização pode abrir novos caminhos no mercado de trabalho Um ensaio fotográfico chama atenção para as diferentes igrejas da vila Quer trocar um brinquedo velho por um novo? Quer fazer uma declaração de amor? Quer mandar um recado para alguém? Página 3 Páginas 8 e 9 Páginas 14 e 15 Bras sificados MARINA CARDOZO MARINA CARDOZO ANGELO DE ZORZI

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Page 1: Enfoque 129

Confira histórias de gente que não ficou bobeando e se realizou com o

trabalho na Vila Brás

Páginas 4 e 5

enfoque

vila brás | são leopoldo | setembro/2011 | edição 129

à obraMãos

Carteira assinada

Profissionalização pode abrir novos caminhos no mercado de trabalho

Um ensaio fotográfico chama atenção para as diferentes igrejas da vila

Quer trocar um brinquedo velho por um novo? Quer fazer uma declaração de amor? Quer mandar um recado para alguém?

Página 3

Páginas 8 e 9

Páginas 14 e 15

Bras

sifica

dos

MARIN

A CARDOZO

MARIN

A CARDOZO

ANGELO

DE ZORZI

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2 Música Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011

enfoque

O Enfoque é um jornal direcionado aos moradores da Vila Brás, em São Leopoldo/RS. A produção é dos alunos das disciplinas de Redação Experimental em Jornal e Fotojornalismo do Curso de Jornalismo da Unisinos.

Fale conosco!

Confira quando circulam as próximas edições!

[REDAÇÃO] Orientação: professor Eduardo Veras. Monitoria: aluna Lílian Stein. Textos: alunos André Fröhlich Seewald, Dieines Fróis,Dierli dos Santos (edição), Eduardo Saueressig, Fernanda Brandt,Jaqueline Fernanda Silva de Loreto, Júlia Klein Caldas, Juliana de Brito, Liliana Egewarth, Lorena de Risse Ferreira, Marcelo Ferreira da Silva,Natália Barbosa Gaion, Natália Vitória de Oliveira Silva, Pablo Luis Furlanetto, Priscila Guimarães Corrêa Gomes, Renata Parisotto, Rita de Cassia Trindade, Thayná Candido de Almeida, Vitor de Arruda Pereira e Viviane Borba Bueno.

[FOTOGRAFIA] Orientação: professor Flávio Dutra. Monitoria: aluno André Ávila. Fotos: alunos Amanda Pereira, Angelo de Zorzi, Bruna Vargas, Bruna Silva, Daniela Sgrillo, Daniela Fanti, Dienifer Martins, Douglas Bonesso, Eduardo Meireles, Fernanda Estrella, Gabriela Nunes, Greice Nichele, Joane dos Santos, João Diego Dias, Lílian Stein, Lisiane Machado, Livia Saggin, Lucas Neto, Marília Dias, Marina Cardozo, Natacha Oliveira, Rafaela Kley, Renata Strapazzon, Roberto Ferrari, Samantha Gonçalves, Stéfanie Telles e Tamires Fonseca.

[ARTE] Projeto gráfico e diagramação realizadas pela equipe de jornalismo da Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Supervisão: professores Eduardo Veras e Thaís Furtado. Projeto gráfico: jornalista Marcelo Garcia. Diagramação: estagiário Marcelo Grisa.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOSAv. Unisinos, 950, Bairro Cristo Rei - São Leopoldo/RSTelefone: (51) 3591 1122. E-mail: [email protected]: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Gustavo Fischer. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.

(51) 3590 8463 / 3590 8466

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17/9 11/1115/10130 131

[email protected]

Av. Unisinos, 950 - Agexcom/Área 3 - São Leopoldo/RS

Carta ao leitor Gente grande também tem ídolos

O que toca no seu rádio?

“Mãos à obra”, uma das frases que ouvimos ao chegar à Brás, também foi o que encontramos, na prática, ao per-correr a Vila. Afinal, o que as histórias do Seu Dailor, as do Deoclides e a da Letícia têm em comum? São exemplos dos muitos moradores que arregaçaram as mangas e foram atrás dos seus sonhos. Seja voltando a estudar, iniciando um novo negócio ou mantendo-o por 18 anos, são pessoas que, acima de tudo, não desistiram do que queriam.

Outro assunto de destaque desta edição do Enfoque é de extrema importância: a formação profissional. Diante da informação do baixo número de moradores da Vila que conseguem continuar os estudos, procuramos quais pro-jetos e cursos de capacitação estão acessíveis atualmente. Há oportunidades que podem fazer a diferença para quem quer mercado de trabalho ou deseja mudar de profissão.

Nesta edição do jornal experimental produzido por alu-nos do curso de Jornalismo da Unisinos, contamos ainda a história de superação de Leandro, que perdeu a visão e Maiara, vítima de craniostenose. Apesar das dificuldades, ambos nos mostram como buscar uma vida feliz.

Infelizmente, temos duas histórias tristes para os ado-radores de animais: Pretinho, o cachorro atropelado, e os casos de envenenamento de cães na Brás. Também vol-tamos à Casa Lilás, que foi matéria de capa da edição em 2010, para descobrir porque o local está à venda. Classi-ficados e Recados complementam essa edição. Será que tem algum recado para você?

JAqUELinE LORETO (Texto)DiEniFER CECOnELLO (Fotos)

Velhas baladinhas e canti-gas românticas ainda es-tão vivas, na memória e

nos pés dos moradores da Vila Brás. Para isso, nem é preciso ser um frequentador dos bailes e festas para ouvir aquela músi-ca que tanto agrada.

Em pesquisa informal realiza-da em um sábado, a maioria das pessoas entrevistadas afirmou que escuta o gênero sertanejo. Nos bares, ele também está pre-sente, só é preciso entrar, ouvir e, quem sabe, ir dançando, já que, devido ao trabalho, o cos-tume de sair à noite ficou para trás, dando lugar as responsabi-lidades de criar uma família.

Alguns até citaram o mais re-cente ídolo da música sertaneja, Luan Santana, mas a predomi-nância foi o arrasta-pé sertanejo e algumas gauchescas. Se es-cuta tomando um chimarrão e conversando com o vizinho, ou arrumando a casa e – por que não? – recordando aqueles mo-mentos que deixaram uma boa lembrança.

Enquete revela o que os adultos escutam no dia a dia da Vila Brás

Cante com Amado BatistaPrincesa

Ao te ver pela primeira vezEu tremi todoUma coisa tomou contaDo meu coraçãoCom esse olhar meigo de meninaMe fez nascer no peito, esta paixãoE agora não durmo direitoPensando em vocêLembrando os seus olhos bonitos

Perdidos nos meusQue vontade louca que eu tenhoDe tê-la comigoCalar sua boca bonitaCom um beijo meuPrincesa, a deusa da minha poesiaTernura da minha alegriaNos meus sonhos quero te verPrincesa, a musa dos meus pensamentosEnfrento a chuva o mau tempoPra poder um pouco te ver.

“Meu ídolo é o Amado Batista!

Desde a infância, eu o escuto, e toda a família também

gosta. Ainda tenho o vinil dele”. Seila Camargo, 38 anos

“Eu gosto mais de música sertaneja, do Amado Batista e de gauchesca também. Com o trabalho, eu escuto mais quando estou em casa”. José

Odair, 48 anos

“Eu gosto de Os Federais, as músicas

são boas de dançar. Os filhos já estão criados e agora a gente tem

que aproveitar a vida”. natália novaes,

49 anos

“Eu escuto hinos evangélicos. É um

compromisso que a gente tem que ter

com Deus. Ninguém vive sem fé”. José Olmiro de Paula,

58 anos

“Bom é o Trio Parada Dura. Nos bailes tem que ir com a mulher, sozinho não dá. As

gurias de hoje já não gostam desse tipo de música”. Setembrino Gonçalves, 66 anos

“Eu sou fã de Roberto

Carlos. Gosto principalmente das músicas românticas

e do jeitão dele de cantar”. Evanir

Farias, 61 anos

“Eu gosto de sertanejo. Escuto mais Sérgio Reis, é o que eu acompanho.

Antes, quando ele lançava os discos, eu

os comprava sempre”. José Ely Bertisolo,

80 anos

“Daniel! Eu gosto de todas as músicas dele e da Paula Fernandes. Quando era nova eu ia aos bailões, hoje em dia escuto em

casa”. Mareni Paula da Silva, 50 anos

Page 3: Enfoque 129

Para trilhar novos caminhosJULiAnA DE BRiTO (Texto)MARinA CARDOZO (Foto)

Um bom emprego pode parecer muito complicado de encontrar nos dias de hoje. Quando não se tem o ensino básico

completo, talvez seja mais difícil ainda. Por isso, o estudo e a profissionalização são tão funda-mentais para os jovens. Conforme estimativa do presidente da Associação de Moradores da Vila Brás, Claudemir Schütze, somente 10% dos habi-tantes da vila dão continuidade aos estudos de-pois de completar o ensino básico. A partir disso, o Enfoque Vila Brás procurou oportunidades que abrem as portas de quem pensa que entrar no mercado de trabalho formal é impossível.

Obter uma boa colocação exige esforço e qualificação. Algumas entidades oferecem cursos e serviços que ajudam na construção do profis-sional e nem é preciso pagar. Senai e Senac têm capacitações em diversas áreas que dão possibi-lidade ao jovem de prosperar com uma carteira de trabalho na mão.

Em uma iniciativa do Sistema FIERGS por meio do Senai e Sesi, a partir de novembro será pos-sível inscrever-se no Programa Novos Horizontes para o projeto que se inicia em fevereiro de 2012. A intenção é oferecer iniciação no exercício de uma profissão, como mecânica e elétrica, e pro-mover novas atitudes de cidadania. Conforme a auxiliar administrativa da unidade São Leopoldo do Sesi Daniela Janaína de Oliveira, a seleção dos candidatos se dá através de avaliações da situa-ção socioeconômica dos jovens. Como requisito, é preciso ter entre 15 e 17 anos e escolaridade mínima de 5ª série do ensino fundamental.

O Senac também estabelece parceria com empresas para o programa Jovem Aprendiz. São cursos de aprendizagem comercial e de educa-ção profissional técnica de nível médio, como habilitações técnicas. O programa é realizado em parceria com diversas empresas. Dentre os re-quisitos, é preciso ter entre 14 e 24 anos e estar matriculado em rede pública de ensino, sendo ele médio ou técnico. A auxiliar administrativa do Senac Juliana Serdeira explica que o progra-ma contrata os jovens com vínculo formal de tra-balho e oferece diversas vantagens para quem estiver associado ao programa, dando todos os benefícios trabalhistas, como carteira assinada, salário e vale-transporte.

Para quem anda cheio de dúvidas sobre a profissão que vai seguir, o Senac também ofere-ce um serviço para quem se questiona sobre os rumos da sua carreira e da sua vida. O Projeto de Vida do Estudante é um método de avaliação que permite ao aluno conhecer suas potenciali-dades e fazer as suas escolhas, na sociedade e mercado de trabalho no cenário atual.

Aos maiores de 18 anos que não concluíram o ensino básico, uma boa dica é o programa Pro-jovem Trabalhador, que atua em parceria com os estados e municípios para promover a profissio-nalização dos jovens de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família. Os cursos têm duração de seis meses, mas o jovem precisa ser frequente e, se tiver bons rendimentos, ainda terá uma bolsa auxílio de R$ 100 por mês como ajuda de custo.

Não faltam cursos e opções para quem quer sair do mercado informal. Buscar especialização e qualificação é planejar o futuro. Fique ligado nas oportunidades e busque saber mais sobre os cursos que lhe interessam.

O estudo poder abrir portas no mercado de trabalho formal. O Enfoque traz dicas de oportunidades de profissionalização

Atualmente, para trabalhar com mecânica não basta habil-idade manual e sensibilidade no momento de diagnosticar e resolver danos. Assim como em todas as áreas a exigência com o profissional cresceu. Além de uma formação básica, o mer-cado de trabalho busca pes-soas que ambicionam sempre mais conhecimento e foquem também em cursos segmen-tados. São alguns requisitos prioritários para tornar-se um mecânico:

• Conhecimento técnico• Noções de informática, física e matemática• Estudo e leitura de manuais e apostilas técnicas

quero ser mecânico

O mesmo aplica-se a área de elétrica. Existem muitas al-ternativas dentro deste setor. Mas existem alguns requisitos gerais para trabalhar com isso:

• Facilidade para visualiza de-senhos de desenhos• Noções básicas de esquemas elétricos• Interpretação de projetos elétricos.

quero ser eletricista

Senacportal.senacrs.com.br

Rua João Correa, 1350Centro - São Leopoldo/RSCEP: [email protected](51) 3590-3060

Senaiwww.senairs.org.br

Rua Theodomiro Porto da Fonseca, 706 - FiãoSão Leopoldo/RSCEP: 93020-080(51) 3592-3811

ProJovemwww.projovemurbano.gov.br

Coordenação Municipal [email protected](51) 3592-2180

3Mãos à obraEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011

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Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011Mãos à obra4

Gente que deu certoMoradores contam como venceram na vida

PABLO FURLAnETTO (Texto)DOUGLAS BOnESSO (Fotos)

Vencer na vida. É esse o pen-samento de alguém que passou por muitas dificul-

dades até chegar a um momento pessoal e profissional em que se considera realizado. Pode ser algo simples como sair do aluguel, comprar seu próprio carro ou ter o próprio negócio. Não importa o tamanho da conquista, e sim, do orgulho.

O pedreiro Dioclides Farias de Mello, 62 anos, pode confir-mar isso. Morador da Vila Brás há 20 anos, Mello precisou cons-truir muitas casas para dar uma vida melhor para a esposa, Cla-risse, e os 13 filhos. Por isso, saiu da cidade natal, Santa Rosa. “Lá era muito pequeno, não tinha

emprego para os filhos. Hoje to-dos trabalham, estão bem colo-cados”, comenta.

As histórias se repetem. O número de pessoas que vieram de outras cidades para morar na Vila Brás é grande. Maria Francis-ca Quadra Pereira, a Xica, deixou Bom Jesus em 1993, junto com a mãe e mais cinco irmãos. Como sempre gostou de estética e tra-balhou no ramo, há seis anos abriu um salão de beleza. “É um sonho de infância”, revela.

Conseguir manter o próprio negócio não é fácil. É preciso tra-balhar muito. Xica abre o salão de segunda à sexta, das 9h às 21h, e diz que, se ficasse mais ou traba-lhasse no domingo, com certeza teria clientes para atender. O se-gredo para o sucesso, segundo ela, é “ter respeito pelo cliente

e fazer o melhor”. Além disso, é preciso se capacitar. A cabelerei-ra já participou de vários cursos, inclusive em São Paulo.

Outro caso no qual o esforço proporcionou uma vida melhor é o de Dalmo Alves de Andrade, proprietário do Mercado e Açou-gue Müller. Natural de Itapejara do Oeste, no Paraná, Andrade veio para o Rio Grande do Sul com 18 anos. Após muito tra-

balho, o açougueiro conseguiu montar seu negócio.

Para ele, batalhar bastante, ter fé em Deus e união em famí-lia é o segredo para as coisas da-rem certo. Junto com a esposa, o filho, a nora e o irmão, Dalmo acorda todos os dias por volta das 6h e só vai descansar quando a lua está bem alta. Foi com essa rotina que conseguiu comprar uma casa para o pai no Paraná.

Se depender da família, o mercado e açougue tende a crescer mais. O filho de Dalmo, Alex Sandro Alves, de 19 anos, quer concluir o Ensino Médio para poder cursar Administra-ção e assumir o negócio. “Quero tocar as coisas por mim mes-mo”, diz Alex.

Esse é o espírito. Para quem trabalha honestamente, um dia o sol nasce.

Alex assumirá o negócio da família

DiERLi SAnTOS (Texto)LÍViA SAGGin (Foto)

“Depois que a gente para de estudar é muito, muito difícil voltar”. Essa foi a constatação de Jaqueline Pietro Batista, 33 anos, que cursa o Ensino Fundamental na Escola João Goulart. Jaqueline, que trabalha como vendedora, resolveu voltar a estudar depois de 18 anos afastada. Largou a es-cola aos 14 anos porque naquela época, para seus pais, isso não parecia importante. “Importante era fazer o serviço de casa”, re-lembra. Sobre quem larga a es-cola hoje, ela teoriza. “A pessoa para de estudar hoje em dia por-que tem compromisso. É muito difícil conciliar filhos, trabalho e o resto das obrigações.”

Mas por que voltar agora? “Hoje meus filhos estão grandes, vão à escola. Eu queria ter volta-do há mais tempo, mas precisava cuidar deles”, explica. Jaqueline acredita que essa é uma das prin-cipais dificuldades nessa hora. Segundo ela, no horário das au-las, há poucas opções para cuidar das crianças. Quem aceita esse horário, cobra muito caro. Hoje quem acompanha seus três filhos no turno em que está em aula é

seu ex-marido, Alexsandro dos Santos, de 35 anos. Alexsandro acredita que a atitude de sua ex-esposa é um grande incentivo para que os filhos não desistam da escola futuramente. Atual-mente, todos estudam em um mesmo colégio.

No final do ano, Jaqueline pre-tende estar formada no Ensino Fundamental. E depois? “Eu que-ria muito fazer o Ensino Médio, mas aqui não tem, só no Centro”. A distância, o preço das passagens e o tempo que perderá longe dos filhos são os fatores principais que a desestimulam a continuar a es-tudar. “Se tivesse aqui na Brás, eu continuaria direto. E sei que mais gente também”, afirma.

Seu ex-marido também pla-neja voltar aos estudos em bre-ve. Apesar de ter organizado os documentos necessários para se matricular esse ano, devido aos horários de seu trabalho, em uma fábrica em São Leopoldo, ele não conseguiria chegar no horário das aulas. Alexsandro, que estudou até a 8ª série, afirma que, após a formatura de Jaqueline, será sua vez de concluir. “Não adianta, sem estudo a gente não é nada. Espero que meus filhos também pensem assim e não desistam”, finaliza.

Jaqueline: luta para terminar todo o Ensino Fundamental e o sonho em cursar o Ensino Médio na Brás

Em 2011, 180 alunos estão matriculados no curso de Educação de Jovens e Adultos da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Goulart. Por ser municipal, a escola não tem autonomia para obter o Ensino Médio. A Es-cola Estadual de Ensino Fundamental Firmino Acauan, localizada próximo à Brás, poderia ser a solução para os moradores que desejam completar seus estudos, mas também não dispõe de turmas além da 8ª série. Segundo a Secretaria Estadual da Educação, o proces-

so de credenciamento e autorização para a implantação do curso completo está na 2ª Coordenadoria Regional de Educação, aguar-dando a conclusão das obras do laboratório de Ciências para realizar a verificação na es-cola. A assessoria informa que, depois disso, poderá instruir o processo de credenciamen-to e autorização junto ao Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (CEED/RS), que dará o aval para o funcionamento do En-sino Médio na escola.

Ensino incompleto

Dioclides e suas ferramentas Xica trabalha 12 horas por dia

Hora de recomeçar

Page 5: Enfoque 129

Barba, cabelo e bigodeA barbearia Dailor é a mais antiga da vila. Há 18 anos, atende de segunda a sábado dezenas de clientes

JúLiA KLEin (Texto)MARinA CARDOZO (Foto)

Seu Dailor mora há 20 anos na Vila Brás. Já teve várias ocu-pações, mas a profissão de

barbeiro, que exerce há 18 anos, foi a que sempre lhe deu mais prazer. Além de conhecer muita gente e ouvir várias histórias, Dai-lor Gomes da Rosa se orgulha em dizer que mantém alguns clientes que atende desde criança. Hoje eles levam seus filhos para cortar o cabelo na barbearia. “Atendo famílias inteiras e os guris vão crescendo, viram homens, têm fi-lhos e os trazem aqui para cortar comigo”, comenta.

O barbeiro, de 53 anos, é ca-sado e tem cinco filhos. Um deles está fazendo curso de cabeleireiro e deve se formar ainda esse ano, mas pretende abrir seu próprio negócio. Aos domingos, quando o comércio está fechado, Dailor gosta de ir à Igreja com a família. Um dos planos do profissional é se aposentar em 2012 e aprovei-tar melhor os finais de semana, já que sábado é o dia de maior movimento no salão e, na maio-ria das vezes, não tem hora para o expediente acabar.

LOREnA RiSSE (Texto)nATACHA OLiVEiRA (Foto)

A Vila Brás conta com mais de 14 mil habitantes. Essa esti-mativa é da Associação de Mo-radores do bairro. Corresponde a algo maior do que muita ci-dade por aí. Em meio a tantas pessoas, uma se destaca por um motivo curioso: não faz parte da comunidade, mas optou por tra-balhar nela. Esse é o caso de Le-tícia. A advogada de 32 anos tem um projeto consciente com mais três colegas de profissão. Trata-se de atendimento jurídico aos moradores da Vila Brás por um preço “amigo” e com garantias de sucesso. “Nós, na verdade, só cobramos se obtivermos êxito no final do processo, caso con-trário a pessoa não nos paga os honorários”, informa Letícia.

O projeto surgiu a partir do mapeamento de dados dos bair-ros que não eram atingidos pelo serviço dos advogados em São Le-opoldo. O escritório original fica no centro da cidade e conta com

mais três profissionais além deles. A partir desse cálculo, feito pelo computador, eles conseguem identificar as comunidades que, por algum motivo, não receberam nenhum serviço jurídico do grupo. A partir daí os advogados são es-calados e passam a atuar duran-te dois dias da semana no bairro mapeado, informando, prestando serviços e ajudando muita gente. “Aqui na Vila nós temos casos de pessoas que não poderiam ir até o centro da cidade e nem pagar por um advogado. No nosso caso estamos aqui dando informação e ajudando nos casos que encon-tramos”, revela Letícia.

Ela já trabalhou com pes-soas carentes antes mesmo da formação. Na Unisinos, quando universitária, participava do Nú-cleo de Práticas Jurídicas, que prestava serviços para a comuni-dade de baixa renda da região. A experiência contribuiu para que ela seguisse no caminho e conti-nuasse a ação de alguma forma. Hoje, o atendimento é às sextas-feiras e aos sábados, das 15h às

19h e das 9h30min às 12h30min, respectivamente, e a satisfação é grande. “Me sinto realizada, primeiro, porque eu gosto do que eu faço, e, segundo, porque a gratidão dessas pessoas, mui-tas vezes, é muito maior do que as que recebemos lá no centro. Os problemas são diferentes e o serviço diferenciado”.

Semanalmente chegam a passar até 30 clientes pelo escri-tório. As causas são, na maioria das vezes, previdenciárias, tra-balhistas, indenizatórias e revi-sões bancárias. Os honorários são cobrados de acordo com a tabela dos advogados, mas com aquela condição de ser só no fi-nal do processo.

Neste espaço modesto, com apenas duas cadeiras e uma mesa, Letícia descobriu outra Vila Brás, com pessoas honestas e que precisam de um pouco mais de atenção: “Não é o que eu pen-sava. Aqui tem pessoas trabalha-doras que, muitas vezes, não tem condições de conseguir ajuda, por isso a gente está aqui”.Apesar do escritório modesto, Letícia acaba ajudando muita gente

Do centro para a periferia

Um causo - Barbeiro que se preze tem história. E assim acontece com seu Dailor. Cer-ta vez um cliente sentou em sua cadeira e pediu que fosse feita a barba completa. Em seguida, o senhor, que já apa-rentava bastante idade, es-tava com o rosto coberto de espuma. Navalhada aqui e ali e em poucos minutos o rosto estava lisinho. De repente, Dailor ouve um grito. O clien-te ficou assustado ao se olhar no espelho. O problema é que ele chegou tão distraído, que esqueceu de pedir para o barbeiro manter o bigode. Foi quando o cliente comentou com seu Dailor: “Esse bigode tinha mais de 60 anos e agora fiquei liso feito um guri”!

Cliente fiel - O estudante Virlei Somavila, 16 anos, vem de Dois Irmãos especialmente para cortar o cabe-lo com Dailor. O jovem aproveita que a namorada mora em São Leopoldo e, antes de visitá-la, passa na barbe-aria para se preparar. “Venho sempre aqui porque seu Dailor é o que melhor corta meu cabelo. Apareço mais ou menos uma vez por mês”, conta.

Serviço Barbearia Dailor (Avenida Leopoldo Wasun, s/nº) Atende de segunda a sexta, das 9h às 11h30min e das 14h às 19h. Aos sábados, das 7h30min às 12h e das 13h30min até o último cliente. O atendimento é feito por ordem de chegada.

Preços: Corte R$7 / Barba R$5 / Criança R$6 / Máquina R$5

Virlei Somavila vem de Dois Irmãos para cortar o cabelo com Dailor na Vila Brás

5Mãos à obraEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011

Page 6: Enfoque 129

Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011Lar, doce lar

Maiara: uma vida de superação PRiSCiLA GOMES (Texto)TAMiRES FOnSECA (Foto)

Brincar de boneca, correr pelo pá-tio de casa com os cachorros e assistir ao desenho da Turma da

Mônica são os passatempos favoritos de Maiara Stabel Timóteo, de 6 anos. A menina, que mora com a família na Vila Brás, contagia os vizinhos com sua energia. Porém, seu largo sorriso es-conde a luta contra uma séria doença. Ela nasceu com cranioestenose, que é o fechamento prematuro de uma ou mais estruturas cranianas. O proble-ma faz com que o crânio se modifique e o cérebro não cresça normalmente.

A mãe, Ivonete Stabel, 32 anos, conta que a filha passa por muitas difi-culdades. “Com 1 ano e 8 meses ela foi submetida a uma cirurgia na cabeça de seis horas de duração e teve, ainda, que levar 48 pontos no local”. Após o proce-dimento, o crânio de Maiara já aumen-tou seis centímetros para o lado esquer-do. A dona de casa conta que a rotina não é fácil. É um corre-corre a hospitais. “Vivemos em função de exames. Saí-mos de madrugada da cama para ir em busca de consultas”, salienta.

Muitas vezes, o mundo de ima-ginação das brincadeiras de Maiara precisa ser interrompido devido a fortes dores de cabeça, que apa-recem constantemente. “Quando isso acontece é preciso logo tomar remédio. Eu não trabalho e acabei

desistindo de estudar no EJA (Educa-ção de Jovens e Adultos) para poder cuidar dela. Sorte que Luciano é um pai exemplar para ela, está sempre ajudando”, relata. A expectativa é que quando Maiara completar 12 anos, ela coloque pino e platinas na cabeça para auxiliar no tratamento.

Falar da filha é motivo de emoção para Ivonete, que não conseguiu con-ter as lágrimas durante a entrevista com a reportagem do Enfoque. “Ela é uma criança admirável. Passa por muitas dificuldades para uma meni-na da idade dela, mas, mesmo assim, está sempre sorrindo e nunca reclama de nada”, ressalta. Maiara ainda não frequentou a escola. Mas, em 2012, ela está ansiosa para pegar a mochi-la e conhecer os colegas do primeiro ano. A irmã Mariana, de 10 anos, já tem planos para os estudos. “Já com-binamos que vamos passar o recreio juntas”, conta.

Maiara é adorada por muitas pes-soas. A vizinha Júlia dos Santos acom-panha a rotina dela e cuida da jovem quando necessário. “Ela é uma meni-na muita querida e comportada. E a fa-mília? Além de serem unidos, eles são guerreiros”, destaca. Com olhares ex-pressivos, a pequena conversa e acha graça em pequenas coisas. Ela contou de suas aventuras no pátio e de como gosta dos cachorros de estimação. “A única coisa que me incomoda é a ca-beça. Fora isso, eu sou feliz.”

Apesar de possuir uma séria doença no crânio e passar os dias lutando contra o problema, a menina não deixa de lado as brincadeiras

MARCELO FERREiRA (Texto)STÉFAniE TELLES (Foto)

Na sala de estar, dona Vera troca bei-jos e abraços com Kevin, que a chama carinhosamente de “vó”. Na rua, Vilson brinca com Raica na casinha de madeira que ele mesmo construiu para a gurizada. E isso só porque é sábado. Se fosse um dia de semana, a casa estaria ainda mais viva, cheia de crianças. Histórias como essa são exemplos da arte de lidar com as dificulda-des que a vida traz.

Com apenas 140 vagas na única cre-che municipal da Vila Brás, muitas famílias encontram em pessoas como Vera Lúcia da Silva de Leite, 42 anos, e Vilson Ribeiro Leite, 47, uma alternativa para deixar seus filhos em segurança durante o horário de trabalho. A creche em casa é um trabalho em família e uma forma de complementar a renda. Os filhos do casal, Mirian, de 20 anos, e os gêmeos Matheus e Maiara, de 13, também ajudam. “Às vezes um deles faz a comida e o outro brinca”, comenta Vilson, que pega junto na creche fora do horário de trabalho, entre o entardecer e o começo da madrugada, numa metalúrgica.

Sempre no meio da criançada, foi tra-balhando na escola bíblica da Assembleia de Deus que, há sete anos, dona Vera as-sumiu a responsabilidade de cuidar da pri-meira criança. Desde então, foram muitas, algumas por pouco tempo, outras por mais. Para ela, os laços afetivos são naturais. “É como se fosse um filho, tenho que cuidar e

não maltratar. Às vezes meus filhos chegam a ter ciúmes, mas tenho que ter responsa-bilidade com as crianças”, diz. Quando um deles deixa a creche, é a saudade que fica.

Regina Toledo Chardosino, de 46 anos, mãe de Raica, conta que sua filha gosta muito de ir para a casa de dona Vera: “Está sempre me perguntando

a que horas vamos ir”. Já há dois anos deixando a filha aos cuidados da famí-lia, Regina vê na responsabilidade um dos principais motivos da confiança. Ao mesmo tempo, confessa que, caso houvesse vaga na creche municipal, te-ria feito esta opção. “Minha filha já está com quatro anos e na creche se trabalha também a alfabetização”, destaca.

Atualmente, a família que mora na Rua P, número 100, cuida de cinco crian-ças. Mas os planos são de expansão. “Quero construir um balanço e aumentar algumas coisas por aqui. Pela lei, pode-mos cuidar de até 10”, conta Vilson. A mãe ou o pai que queira deixar seu filho lá por meio turno, de segunda a sexta, paga R$ 120. Dia inteiro sai por R$ 170, enquanto os sábados têm preços a com-binar, já que a família também carece de um tempo para si. Para eles o valor não é caro: “cuidar de criança dá trabalho, exige responsabilidade. Não é qualquer um que possui as condições psicológicas, e ainda existem os custos com a refeição diária”, avalia Vilson seriamente antes de sorrir, ao lembrar de como fica a casa no horário de almoço: “uma bagunça!”

Maiara divide a rotina entre consultas em hospitais e momentos divertidos pela casa

Dona Vera abraça Kevin na sala de estar que virou creche

Gurizada bem cuidada

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Page 7: Enfoque 129

Vestida para uma emergênciaTHAYnÁ CAnDiDO (Texto)DAniELA SGRiLLO (Fotos)

Que a Vila Brás é cheia de lo-jas de moda todo mundo já sabe, o que os morado-

res talvez não tenham visto é que as tendências de inverno 2011 estão super em alta na maioria das lojas da Avenida Leopoldo Wasun. O Bazar Lolo é daquelas lojas onde a gente encontra de tudo. Sabe uma emergência? Pois bem, é lá que você vai en-contrar o que precisa para resol-ver qualquer problema de última hora. Além disso, tudo que rola de atual no mundo da moda você encontra por lá, desde cadarços super coloridos (seguindo a ten-dência happy-rock), cintos largos trançados que caem bem em qualquer produção, sapatilhas bacanas no melhor estilo “melis-sinha” e, claro, muitos acessórios para compor uma produção per-feita. O melhor de tudo? O Bazar Lolo fecha suas portas somente às 21h, ou seja, quebra-galho até depois do expediente!

Para os rapazes que preci-sam ir a uma festa bacana, uma gravata é a solução para arre-matar o look arrumadinho. Para isso, nada além de R$ 4,99 são necessários na loja Bazar Gaby. Ali você encontra gravatas bási-cas em diversas cores por me-nos de R$ 5 que é para ninguém pagar mico naquela formatura ou casamento.

Se você não aguenta mais o frio e os casacões, na loja Mais e Mais Moda já chegaram os lan-çamentos da moda Verão 2012. Uma tendência? “Com certeza os shortinhos jeans, pois no inverno a peça pode ser usada com meia-calça e no verão com as pernocas de fora”, afirma a vendedora da

loja Shirlei Dreyer. Lá você tam-bém encontra roupas perfeitas para a balada: vestidos de onci-nha, blusas em renda, transpa-rências e saias incríveis.

Você também pode se ins-pirar em grandes grifes na hora de montar uma produção. Na loja Estilo Chick, marcas como Lacoste e Dolce & Gabbana di-videm as araras com lançamen-tos de verão, mas sem aqueles preços caríssimos! Aqui na Vila Brás os preços são bem mais amigáveis do que as lojas de gri-fe em grandes shoppings. A pro-prietária Edicléia Batista aposta nas estampas florais e cores for-tes para a próxima estação. Mas para quem ainda está no clima de inverno, os descontos são tenta-dores! “Temos blusas Lacoste a R$ 10,00 e toda a coleção está com desconto. Se for à vista, o desconto é ainda maior!”, afir-ma Edicléia, que abriu as portas de sua loja há apenas um ano e está muito feliz com o resultado das vendas.

Viu só? Não precisa ir muito longe para aderir ao bom-bonito-barato. A Vila Brás tem lojas para todos os gostos e bolsos, que é para ninguém fazer feio quando o assunto é tendência de moda.

Serviço: O Bazar Lolo está pro-curando atendentes com expe-riência. Se você tiver mais de 17 anos e não estiver estudando, en-tregue seu currículo na loja, que fica na Avenida Principal, 1181.

Confira as novidades do mundo fashion na Vila Brás

RiTA TRinDADE (Texto)

Em uma pequena sala com pouca iluminação, ao lado da Igreja Cristo Rei, na Avenida Le-opoldo Wasum, Maria Vilma Lesbão, Dona Maria, como é co-nhecida, se diverte e encanta aos frequentadores do Brechó, con-tando suas histórias, tomando chimarrão e costurando algumas peças de roupas que chegam até ela em mau estado. Dona Maria

tem 67 anos, mora na Brás des-de o início da vila e se orgulha muito por ter participado de to-das as lutas e conquistas que os moradores do local passaram. Viúva há quase 30 anos e, desde então, dedicada ao trabalho so-cial, ela se divide entre trabalhar no Brechó Comunitário da Igreja Católica Cristo Rei e atuar como ministra da palavra na igreja.

Todo sábado de manhã, das 8h30min às 11h, Dona Maria, res-

ponsável pelo Brechó Comunitário, arrecada e vende as peças por um valor simbólico de R$ 0,50 ou R$ 1. Em situações de emergência, ela também realiza doações. “Todas as peças têm esse valor, sejam rou-pas, sapatos, bolsas, e estão todas em ótimo estado. Normalmente eu vendo, mas em situações especiais, ou quando as pessoas precisam muito e não têm dinheiro, eu dou com muito carinho”, explica ela.

Segundo Dona Maria, exis-

tem muitos brechós na Vila Brás, mas somente o Brechó Comuni-tário da Igreja Cristo Rei realiza doações. “Recebemos doações da própria comunidade da Vila, e também da Secretaria Municipal de Assistência Social de São Leo-poldo”, conta. Além de doar para a comunidade, o Brechó Comu-nitário também realiza doações para duas entidades assistenciais da cidade, a Pastoral da Criança e o Pensionato São José.

Os cadarços mais procurados pelos jovens: modelos coloridos seguindo a moda happy-rock

Arrecada-se, vende-se e doa-seFique por dentro

O Brechó Comunitário da Igreja Cristo Rei está aber-to todos os sábados, das 8h 30min às 11h e arrecada do-ações durante todo o ano. As peças são boas e com va-lor super em conta.Qualquer peça do Brechó sai por ape-nas R$0,50 ou R$ 1.

Calças jeans e bonés de

diversas marcasdividem as

araras nas lojas da Vila Brás

7EstiloEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011

Page 8: Enfoque 129

Ensaio fotográfico8

Toda fé que houver nessa vida

EDUARDO SAUERESSiG (Texto)AnGELO DE ZORZi (Fotos)

A Vila Brás reúne mais de 40 igrejas, o que talvez seja um número bem

elevado, levando-se em con-ta a população local, em tor-no de 14 mil pessoas. Dentre essas igrejas, há de diferentes tipos e conceitos.

É voz corrente que as pes-soas se agarram muito na fé para continuar tocando a vida, e, com isso, cada vez mais igrejas e seitas surgem em tudo quanto é lugar. Na Vila Brás, não é diferente.

Um exemplo é a Igreja Ad-ventista do Sétimo Dia, que venera o sábado e, por isso, faz seus cultos neste dia. Líde-res da comunidade adventista da Vila dizem que as pessoas procuram muito a igreja.

Em torno de 40 pessoas

fazem parte dos adventistas na vila. Outra instituição que possui o mesmo número de participantes é a Congregação Consenista Batista Betel.

Já a Igreja Católica conta com três capelas no bairro. O padre vai uma vez por sema-na em cada uma para fazer as missas e prestar atenção aos fiéis. Segundo a catequista católica Vani Neves Seimetz, hoje em dia a procura pela re-ligião está muito mais forte do que nos últimos anos: “Temos em torno de 20 alunos na tur-ma de catequese. Antes, eram quatro, cinco apenas”.

A Associação de Morado-res da Vila Brás confirma que existem mais de 40 igrejas na vila. Não é um número tão ab-surdo: dá uma média de 300 pessoas por igreja. Claro que a maioria das instituições tem em torno de 40, 50 pessoas,

Vila Brás concentra dezenas de diferentes igrejas e templos religiosos

Igreja Pentecostal Pronto Socorro de Jesus

Congregação Conservadora Batista Betel

Congregação da Igreja Presbiteriana do Brasil

Page 9: Enfoque 129

Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011 9

Toda fé que houver nessa vida

Vila Brás concentra dezenas de diferentes igrejas e templos religiosos

mas, mesmo assim, são muito importantes de acordo com os líderes das mesmas.

A Igreja Católica está agora buscando retomar seu espaço na localidade, através de cate-

queses e trabalhos feitos aos finais de semana para divertir as crianças frequentadoras. Em contrapartida, nem todos os moradores estão em algu-ma dessas igrejas.

As duas igrejas católicas com atividade na Brás (acima e abaixo) recebem a visita do padre apenas uma vez por semana

Assembleia de Deus

Reino Odé e Oxum

Igreja Cristã Pentecostal Missão Mundial

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Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011Onde eu moro10

Uma vida menos lilásnATÁLiA ViTóRiA (Texto)BRUnA VARGAS (Foto)

O Enfoque de outubro/novem-bro de 2010 trouxe em sua capa a foto de Marli Kurtz, 56

anos, e de sua casa lilás, localizada na Rua 12. Naquela edição a colega Da-niela Fanti contou a história da senho-ra que tinha orgulho da casa que ela mesma pintou.

Ao chegarmos à Vila Brás este ano para realizar nova série de reportagens, ficamos surpresos com a notícia de que a casa estava à venda. Imediatamente fomos tentar descobrir qual era o moti-vo. Dona Marli explicou que está viúva e, após a insistência dos filhos, pensou em se mudar para Osório, onde deve morar com uma de suas filhas e os ne-tos. Ao ser questionada sobre sua de-cisão a voz estremeceu e disse: “Estou com dois corações, me sinto bem nes-ta casa, minha vida continua normal, não vai mudar para preto”. Marli alu-gou um quarto no segundo andar da casa para uma senhora e outra peça, localizada nos fundo do imóvel, está locada para um senhor.

Vários interessados já procura-ram pela aposentada, mas nenhuma proposta foi fechada. A dona de casa faz questão de contar que a reforma foi feita com a ajuda do companheiro que viveu quatro anos ao seu lado: “Isto aqui era um salão onde se fa-

ziam festas, era amarelo, reforma-mos tudo juntos”.

Enquanto respondia às nossas perguntas, Marli já estava pensando no que iria fazer de almoço. Apesar das mudanças na casa, e em sua

própria vida, a rotina dela não mu-dou. Canta no coral da igreja, vai à missa e cuida das plantas. Mesmo estando com a casa à venda, Marli segue cuidando com devoção e cari-nho de seu lar.

Após perder o marido, Marli quer vender a casa eir em busca de outras cores

ViTOR PEREiRA (Texto)GREiCE niCHELE (Fotos)

Vila Brás, com seus mais 14 mil habitantes, já é praticamente uma cidade dentro de São Leopol-do. “Antes só tinha algumas casas. Agora eu luto para manter o meu cantinho”, diz Osmar Silva, que cria animais e faz disso sua fonte de renda. Ele se define como “uma pessoa com pouco estudo” e, que só sabe lidar com os bichos.

Osmar é natural de São Leo-poldo e ainda criança passou a morar na Vila Brás, onde conhe-ceu Silvana Machado, sua espo-sa. Hoje, com 55 anos, ele tem uma chácara na Rua 26, Beco 1. No lugar, que chama de cantinho, Osmar cria cavalos, vacas, gali-nhas e porcos. Um lugar simples, mas ao mesmo tempo diferente, passa a sensação de que você está na área rural da Vila Brás.

Atrás da chácara, estão er-guendo um loteamento. A cons-trutora inclusive aproveitou o terreno de Osmar para deposi-tar materiais. Ele fica feliz com o progresso, aliás, uma das casas

será de sua filha, Edimara. Mas ele não nega que está preocu-pado em perder o seu espaço. Teme que as obras alcancem seu terreno ou que algum futu-ro vizinho reclame dos animais. “Tudo que eu quero é continuar nesse lugar. Aqui todos me co-nhecem, daí fica fácil de vender leite, ovos e porcos”, diz.

Silvana conta que o casal já morou na Rua R, da Vila Brás, mas, por causa do asfalto, o nú-mero de moradores aumentou

e eles foram obrigados a mudar de endereço. Na Rua 26, mes-mo tendo vizinhos que também criam animais, se preocupam em manter a limpeza do local. “Lim-pamos as cocheiras todos os dias e colocamos a sujeira nos tonéis que são recolhidos nas segundas, quartas e sextas”, explica Osmar. A única ajuda que o casal recebe para alimentar os bichos é a da Trensurb, que leva até a chácara alimentos que sobram das refei-ções dos funcionários.

Marli, que foi capa da edição 124 do Enfoque, pretende desfazer-se de sua residência colorida

Silvana e Osmar chamam de “cantinho” o imóvel da Rua 26

Osmar tem medo de perder a chácara

Materiais de construção do loteamento estão no terreno de Osmar

> PÁGINA 10

VILABRÁS

edição 124

2010distribuição gratuita

Correspondência

Realidade

Beleza

Unificação de rua embaralha endereços

Sem creches, mães não podem trabalhar

Moda e economia andam juntas

Na casa de Marli Kurtz tudo tem a mesma cor, fruto de uma paixão que já

ultrapassa duas décadas

> PÁGINA 3

> PÁGINA 6

outubro / novembro

lilásA vida em

CARINA MERSONI

http://enfoquevilabras.blogspot.com

> PÁGINA 11

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Fazer o bem sem olhar a quemLiLiAnA EGEWARTH (Texto)SAMAnTHA GOnÇALVES (Foto)

Na primeira vez que quis sair de casa depois de ter perdido totalmente

a visão, Leandro foi chamado de louco por sua mãe. Apesar disso, não desistiu da ideia. A mãe, mesmo muito contrariada, acompanhou o filho até a para-da de ônibus. A partir de então, Leandro Lemos não se intimidou mais em sair de casa apesar de sua deficiência.

Um pedaço de serragem atin-gira o olho do jovem rapaz, que naquela época tinha apenas 17 anos. Com o passar dos anos, os dois olhos foram afetados e ele perdeu completamente a visão. Durante sete anos, o jovem ficou apenas dentro de casa, revoltado com o mundo por ter perdido um dos sentidos mais importantes na vida. O resultado foi a chega-da de uma depressão. Mas, com a ajuda de amigos e familiares, agora, aos 29 anos, diz ter dado a volta por cima e ter conseguido reconstruir a sua vida. É pai de Cauê Isael de apenas 6 meses de vida. Um garoto lindo e saudável. O xodó do pai.

Leandro participa como locu-tor da rádio comunitária Feitoria. Começou a frequentar por incen-tivo do amigo Bruno, mais conhe-cido como Laranjinha, também deficiente visual. Leandro passou a encarar a vida de uma forma diferente quando se abriu para o mundo e ao conviver diariamen-te com pessoas que possuem as mesmas dificuldades encontra-das por ele.

Essa história de grandeza e superação não parou por aí. Hoje, freqüenta a Associação Brasileira dos Deficientes Visuais (Abrade-vs), onde realizou um curso de informática e aprendeu a utilizar diversos programas. Segundo Le-andro, usar o computador é um de seus momentos favoritos en-quanto está em casa.

Além de locutor, Leandro trabalha como autônomo, no centro da cidade de São Leo-poldo, e também é proprietá-rio de um minimercado no pró-prio bairro.

Muitas coisas mudaram. No entanto, Leandro diz que não se considera cego e complementa: “Há muitas pessoas que pos-suem a visão perfeita e que nada veem, ao contrário de mim”.

Doze anos depois de perder a visão, Leandro supera seus desafios com bom humor e com a ajuda dos familiares e amigos da Vila Brás

ViViAnE BUEnO (Texto)SAMAnTHA GOnÇALVES (Foto)

Ele tinha a visão perfeita. Gos-tava de frequentar muitas festas. Mas, aos 21 anos, o dia que tinha tudo para ser lembrado como trá-gico, mudou os rumos de sua vida. Bruno Garcia é o nome verdadeiro dele, mas é mais conhecido pela comunidade como Laranjinha. Aos 21 anos, teve a visão danificada em uma briga com um adolescen-te que durante uma festa mordeu seu olho. “Nós rolamos no chão, e como mecanismo de defesa, ele acabou atacando meu olho direito e o mordeu”, lembra.

As consequências mais graves dessa fatídica noite vieram algum tempo depois. Logo após a mordi-da, cerca de 70% da visão do olho atingido de Laranjinha ficou com-prometida. Dezoito anos depois, uma série de complicações, envol-vendo três tipos diferentes de infec-ções, fez com que Laranjinha per-desse a visão total dos dois olhos. “Tive problemas no nervo ótico, além de dois derrames oculares.

Hoje, só enxergo vultos”, conta.Foram mais de 12 meses en-

tregues à depressão. Ele conside-rava essa etapa de sua vida como um verdadeiro terremoto, no qual precisou contar com a ajuda de familiares e amigos para vencer os

obstáculos que a falta de visão ge-rou. “Tive que reaprender a viver. Cada pedra no meu caminho eu juntei e construí um novo alicerce’, afirma Laranjinha.

Depois de vencer a depressão, uma nova história estava começan-

do a ser escrita em sua vida. O pri-meiro passo foi encarar as ruas. Era preciso dominar o medo e ativar os outros quatro sentidos que estavam intactos. Com a audição aguçada, a autoconfiança voltou aos poucos, e o que antes era visto como empeci-lho passou a ser uma lição de vida. “Tive que sair sozinho na rua, cair, me machucar, pra perder o medo”, revela.

Presidente por três anos da Abradevs (Associação Brasileira dos Deficientes Visuais) viu na solidarie-dade uma forma de ajudar as pes-soas com algum tipo de deficiência física. Além de participar da associa-ção, Laranjinha, criou programas de rádio com a finalidade de angariar recursos, por meio da ajuda de ou-tras pessoas para comprar benga-las, cadeiras de roda e andadores. “Descobri que eu também posso ser solidário, que podia contribuir com minha história”

O mais novo projeto agora é a ONG Uma Nova Visão Social, que vai oferecer cursos para a comunidade, envolvendo os conhecimentos de braile, grupos de convivência, além

de aulas de violão, flauta doce e cozi-nha de solidariedade. “A expectativa é de que a ONG comece a funcionar de fato no início de outubro. Com a instituição, faremos uma corren-te para resolver os problemas das pessoas. Precisamos proporcionar uma vida digna para os deficientes físicos”. – enfatiza Laranjinha.

Hoje, aos 50 anos o pai de fa-mília com um sorriso cativante orgulha-se de relembrar a própria história. Com um bom humor de dar inveja, Laranjinha fala que ado-ra desafios e que se considera uma pessoa realizada. “Eu gosto de ser cego. Há o lado bom e o ruim disso. O ruim é que não vejo as mulhe-res bonitas. O bom é que também não vejo as feias”, brinca. Como um verdadeiro exemplo de superação, Laranjinha atribui as conquistas obtidas ao longo do caminho à sua família, em especial à esposa. “Sou casado há 29 anos. Se hoje venci os obstáculos é porque tive minha mulher para me ajudar. Tenho uma riqueza visual. A cegueira não é o problema, e, sim, a solução. Evolui como ser humano”, finaliza.

O filho Cauê, de seis meses, é mais um incentivo para a luta diária de Leandro, que perdeu a visão aos 17 anos

Com bom humor, Laranjinha supera as dificuldades do dia a dia

Um novo jeito de enxergar a vida

11GenteEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011

Page 12: Enfoque 129

Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011Cachorrada12

À espera por atendimentonATÁLiA GAiOn (Texto)BRUnA VARGAS (Foto)

De noite Pretinho saiu por uma fresta do portão da casa 71 da Rua 4 no Loteamento Brás 3.

Perdido, foi parar na Avenida Leopol-do Wasun, onde acabou atropelado por um ônibus da Sinoscap.

Silvane Cavalheiro, 36 anos, cabe-leireira e manicure, presenciou o atro-pelamento e recolheu o cãozinho. Sua primeira ligação foi para o Canil Muni-cipal de São Leopoldo, que informou não ter plantão e que poderia atender ao chamado apenas no dia seguinte.

Pretinho passou a noite de baixo do toldo de uma loja ao lado da casa de Silvane. Ela não o acolheu com receio de que seus cachorros o agredissem. Mas providenciou remédio, água e comida. “Ele parece ter quebrado três patinhas, porque não consegue andar e nem se mexer”, ressaltou Adriana de Fraga, 40 anos, proprietária do bar em frente ao local do acidente.

O segundo contato com o Canil foi por volta do meio-dia de sexta, quan-do informaram que o motorista es-tava saindo para resolver problemas internos da entidade e que, talvez, à tarde, pudessem mandar alguém

recolher o cão. Outras três ligações foram feitas e até sábado, quando a reportagem esteve na Vila, Pretinho ainda não havia sido recolhido.

“Pretinho é um cão bobão, meigo e está velhinho, tem quase 10 anos. Ele está sofrendo, precisamos dei-xar o pote de comida e água ao lado dele, para que consiga se alimentar”, salientou Mariglei Alves Isbarrola, 42 anos, que é dona do cão.

Preocupada com o bem-estar do cachorro, que ficava em um pátio com muita água, Mariglei autorizou Silvane e Adriana a levar Pretinho para um abrigo melhor. “Não temos muito tempo para cuidar dele. O ideal era que o Canil recolhesse, não temos como cuidar do Pretinho”, relatou.

No sábado pela manhã, o pastor Perci Pereira, 48 anos, fez novamente contato com o Canil, que informou que tentariam recolher o cão no sába-do. Pretinho passou sábado e domin-go aguardando atendimento do Canil. Precisava de cuidados médicos. Ao fi-nal da tarde de domingo, uma vizinha de Adriana conseguiu um veterinário voluntário que o examinou. Não hou-ve alternativa: mais um animal teria que ser sacrificado por falta de aten-dimento imediato.

Atropelado por ônibus, cão sofreu três dias de agonia sem receber socorro oficial e teve que ser sacrificado

Ferido, Pretinho foi transferido de um pátio alagado para um cantinho mais seco e confortável

RiTA TRinDADE (Texto)LiSiAnE MACHADO (Foto)

Dizem que o cão é o melhor amigo do homem, que os animais são leais e carinhosos com seus donos, então por que existem pessoas capazes de maltra-tar esses seres que não podem se defen-der? É com essa pergunta que Denise dos Santos da Silva, 27 anos, moradora dá Vila Brás desde que nasceu, apresen-ta a sua grande paixão: a vira-lata Laika. A cadelinha foi atropelada por uma moto e Denise se sensibilizou com o acidente e resolveu adotá-la. “Hoje ela está bem e saudável, mas há 10 meses quando a encontrei atirada no meio da rua, ela es-tava muito debilitada”, conta Denise que tem outras duas paixões, o cão “Negão”, um dócil Pit Bull, e a sua gata Cacau, que está sempre por perto da família para receber carinho.

Denise tem duas filhas, Yasmin e Isa-dora, e às ensinou a desde pequenas res-peitarem os animais. Hoje elas comparti-lham do mesmo sentimento de proteção e carinho. A preocupação entre mãe e filhas

é grande pois, misteriosamente, vários cães apareceram mortos nos últimos me-ses. Uma “onda” de envenenamentos está assolando a Vila Brás. Só na Rua 13, onde elas moram, em três meses, 12 cães foram mortos por veneno. “Não entendo por-que as pessoas fazem essa maldade, isso é um absurdo”, protesta Denise. “Quando os animais são novos, todo mundo quer, porque acham “bonitinhos”, mas depois que eles crescem, seus donos dão um jeito de se livrarem deles”, relata.

Outra moradora da Rua 13, a dona de casa Arminda de Lurdes Forcos, que mora na vila há 15 anos, também de-nuncia a violência que está ocorrendo no local. “Meu cão também foi envene-nado. Quando o encontrei, estava sain-do uma espuma branca pela sua boca, mas eu consegui salvá-lo fazendo-o vo-mitar o veneno”, conta, aliviada por sal-var seu amigo Spike, que mora com ela há oito anos. Dona Arminda não teve a mesma sorte em outra situação, pois se-gundo ela, seu outro cão, um dálmata, foi morto por envenenamento. “É uma pena que as pessoas não tenham cons-

ciência e façam essas atrocidades com os animais. Fiquei muito triste quando meu cão foi morto, eu o considerava como parte da família”, lamenta.

Para Jonas, proprietário da agropecu-ária Cônsul, localizada na Avenida Leopol-do Wasum na Vila Brás, muitas pessoas envenenam cães e gatos puramente por maldade. “Vários clientes já vieram aqui para comprar veneno, como estricnina, que é conhecido pela sua alta toxicidade, mas eu não vendo esse tipo de produto, pois acho um absurdo envenenar animais de estimação. Vendo apenas venenos de baixo poder tóxico para matar ratos”, explica Jonas. “Tenho a agropecuária há cinco anos e neste período, quase toda a semana vem gente aqui querendo com-prar venenos fortes”.

O veterinário Breno Felipe Sanchote-ne Pinto esclarece que é proibida a co-mercialização de produtos de alto poder tóxico, como por exemplo, a estricnina. “Muitas pessoas não sabem, mas a ven-da desses produtos é proibida no Brasil. A comercialização da estricnina é conside-rada crime inafiançável”, explica Breno. Spike salvo por sua dona

Violência contra animais assusta

O Canil Municipal de São Leopoldo é um órgão gerenciado pela prefeitura do município. Foi criado em 5 de junho de 2009. Tem por finalidade atender animais em situação de abandono e maus tratos e realizar, principalmente, castrações.

Endereço: Estrada do Socorro, 1.440,bairro Arroio da Manteiga.Horário: de segunda a sexta das 8h às 12he das 13h30min às 17h30min.Telefone: (51) 3572-0320 ou 9739-3491E-mail: [email protected]

Como funcionaO funcionário municipal André Marinho rece-

beu o chamado do pastor Perci Pereira na noite de quinta-feira informando sobre o atropelamen-to de Pretinho. O motorista reforçou que gosta-ria muito de atender a todos os pedidos, porém há muitos trotes e chamados para cães que têm dono: “O Canil Municipal funciona para atender cachorros de rua. Acontece muito de chegar ao local e o cachorro ter um dono. Não posso levá-lo”. O funcionário do canil ressalta ainda que o atendimento é feito por ordem de protocolo e confessa que não conseguiu atender ao caso do Pretinho também por falta de tempo.

O que diz o Canil:

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Reclame!13Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011

Nesta seção, o Enfoque abre espaço aos moradores para fazerem reivindicações ou reclamações que são encaminhadas à prefeitura ou aos órgãos competentes. As respostas você confere abaixo:

Bueiros Luz

Asfalto

Valão

Raul Danilo Berlitz, proprietário do mercado D.L.D., na Avenida Leopoldo Wasun, reclama dos bueiros que não dão vazão em dias de chuva e acabam entupindo com frequência. Ele diz ainda que o problema acaba afetando o banheiro, pois a água não desce com a descarga. Segundo ele, o problema já foi relatado à prefeitura.

Residente da Rua 18 há cerca de um ano, César Brizola pede mais atividades de cultura e lazer para a Vila Brás. Segundo ele, os jovens têm apenas a praça como opção e, por isso, acabam muitas vezes caindo nas drogas.

Há seis anos, Gilberto dos Santos vive na Vila Brás, no loteamento da cooperativa Cooperbrás. A rua onde fica sua casa, próxima à Rua J, não tem nome e, em dias de chuva, alaga com facilidade porque não é asfaltada ou calçada. Em função disso, há dias em que fica complicado sair de casa. O problema ainda dificulta a escrituração da residência. Segundo relato do morador, a prefeitura lhe informou que a rua não consta no mapa e, por isso, ainda não foi asfaltada.

Solange Linhares, moradora da rua N, reclama que os postes de luz em frente à sua casa estão frequentemente com defeito, às vezes funcionam normalmente, às vezes simplesmente não acendem. Ela relata que, à noite, não se sente segura para ficar na rua quando não há iluminação.

O casal Lúcia Fátima Santos e José ivo dos Santos pede o asfaltamento da Rua 12, em função do filho que é portador de deficiência física e depende de uma cadeira de rodas para se deslocar. Hoje, os pais o levam até a Escola João Goulart e o calçamento de paralelepípedos dificulta a locomoção.

Márcia Rodrigues Gomes mora há cerca de quatro anos na vila, na Rua 12, e relata dois problemas. Sua casa fica em um trecho onde não há nem calçamento e, para piorar a situação, não há encanamento no valão que corre em frente à residência. Além do mau cheiro e do risco de contaminação, o local também transborda com facilidade em dias de chuva, alagando o local. Segundo a moradora e também alguns vizinhos da rua, a prefeitura já havia prometido resolver a situação.

RESPOSTA: o proprietário deve entrar em contato com a Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae) para solicitar o serviço. O telefone da ouvidoria é 0800-5102910 ou 3579-6000 e o e-mail é [email protected]

RESPOSTA: a moradora deve entrar em contato com a Central de Serviços Urbanos pelo 0800-6443300 e solicitar o serviço de substituição e manutenção de lâmpadas. A Secretaria Municipal de Obras Viárias e Serviços Urbanos (Semov) possui um setor de iluminação pública responsável por este serviço.

RESPOSTA: todas as pavimentações na cidade são solicitadas através da Secretaria Municipal do Orçamento Participativo (OP). É necessário participar das assembleias regionais do OP e mobilizar os moradores para que elejam a pavimentação da rua como prioridade.

RESPOSTA: da mesma forma como a solicitação anterior, todas as pavimentações na cidade são definidas pela Secretaria Municipal do Orçamento Participativo (OP). É necessário participar das assembleias regionais do OP e mobilizar os moradores para que elejam a pavimentação da rua como prioridade.

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Mais cultura

Sem nome

RESPOSTA: está em processo de implantação um Ponto de Leitura na Vila Brás. Funcionará na Associação de Moradores, na Rua Leopoldo Wasum, s/nº, num sistema de parceria com a prefeitura municipal. Será efetuada a compra de livros para todos os públicos e a associação vai administrar o espaço, definindo inclusive os horários de funcionamento. Não há ainda previsão de inauguração para este espaço.

RESPOSTA: o morador deve entrar em contato com a própria cooperativa (Cooperbrás) para legalizar a situação da rua. Feito isto, é necessário participar das assembleias regionais do Orçamento Participativo (OP) e mobilizar os moradores para que elejam a pavimentação da rua como prioridade.

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AnDRÉ SEEWALD (Textos) - EDUARDO MEiRELES (Fotos)

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Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 201114 Oportunidade

RECADOS “Só quero que saiba que estou gostando muito de você.” israel Rech, 16, para a namorada Tainá.

“Se existe alguém que não acredita no amor, basta olhar nos meus

olhos, escutar meu co-ração quando a vejo, para ver que o amor ainda existe. Te amo de-mais.” Mário Luiz Ovie-do, 24, para a esposa Renata.

“Eles são tudo. Amo vocês. Com carinho da mãe.” Luciane da Rosa, 31, para os dois filhos.

“Eu amo muito ela, te-mos quase 40 anos de casados e somos felizes.” João da Cruz, 56, para a esposa Maria.

“Que a juventude acor-de para a vida e deixe as coisas erradas que es-tão fazendo, pois a vida é muito bela!” Maria da Cruz, 53.

“Estimo muito eles e os quero muito bem. De-sejo felicidades, saúde e vida.” Jurandir Alves de

Melo, 75, para os filhos.

“Menos violência e mais paz.” Arlinda Forcos, 39.

“Desejo mais seguran-ça para que as pessoas possam andar com mais tranquilidade.” Celestino Alves, 57.

“Roseli e Lisandra, dese-jo que vocês possam ter uma vida melhor. Que Deus dê força para ven-cerem essa luta!” Afonsi da Silva B., 73.

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FERnAnDA BRAnDT

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nos dias 19 de setembro e 15 de

outubro, quando estaremos na Vila

Brás das 9h às 12h, na Avenida Leo-

poldo Wasun.

“Nosso recado é aos moradores. Pedi-mos que cuidem da nossa Vila e se res-peitem como pessoas, para que tenha-mos um ambiente sempre agradável.” Ana Cláudia Ferreira, 20, e Cláudio Ro-ger Ferreira, 46.

“Eu sou muito feliz pela família que te-nho, pelo respeito e carinho que eles me dão. Sou uma mulher realizada. O mais importante é que nós temos Deus na nossa família.” Lurdes Giovana Mo-raes, 31.

“Nesse um ano que a gente se conhece, ela foi uma pessoa excelente pra mim. Eu amo ela de paixão como uma irmã!” Kelli Estácio, 23, para a amiga Cátia.

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Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Setembro de 2011 15

“Cuidem dos nossos ani-mais, não abandonem cachorrinhos e gatinhos na rua. Infelizmente eu não tenho como cuidar de todos que são larga-dos na porta da minha casa.” Terezinha de Fáti-ma Oliveira, 53.

“Odone, traz o Renato Gaúcho de volta, esta-mos sentindo falta dele. O Grêmio não precisa de treinador, precisa de jo-gador!” nilton Flores, 52.

“Adriano, é muito bom estar com você. Te amo!” Dieici Kelly da Silva, 17.

“Joceli, mamãe, gosta-mos muito de você, te amamos demais!” Mai-con Gabriel Rodrigues Bitello, 11, e Michel Ro-drigues Bitello, 5.

“Mãe Silvane, te amo muito. Tu e o pai são tudo para mim. Adoro a tua comida, principal-mente a batata frita. Muito obrigada por estar sempre comigo.” Lara Cavalheiro, 10.

“Diego, eu te amo mui-to e o que mais quero é ficar ao teu lado. Estou muito feliz pelo começo do nosso namoro. Mil beijos.” Rute Maria da Costa, 15.

“Professora Letícia, gos-to muito de ti. As tuas aulas são muito legais, gosto de aprender con-tigo e não quero te per-der nunca. Obrigada por ser tão querida comigo.” Amanda Cristina Langer Amaral, 11, da Escola João Goulart.

“Mãe, te amo muito. Tudo que tu me ensi-na é muito importante. A tua comida, as tuas histórias e a tua com-panhia são muito boas. Tu és a pessoa mais importante da minha vida.” Gabriele Fagun-des de Souza, 10, para a mãe Luciana.

“Professora Ivonete, gos-to muito da disciplina de Geografia e das tuas au-las. Já são dois anos que sou teu aluno e gosto muito de ti.” Jean Pe-reira, 14, da Escola João Goulart.

“Mãe Nela, adoro quando a gente brinca de escon-de-esconde e pega-pega.

“Fotografo aniversários e festas escolares, entre outros eventos. Também faço vídeos.” Bruno da Costa Porto, 15.

“Troco 90 m² de telha do tipo calhetão por mão de obra de eletri-cista. Preciso também que ele me oriente so-bre os materiais que vou precisar para o serviço.” Maria Regina da Paz, 46 – Contato: 3572.0785 ou na Av. Le-opoldo Wasun, 1322.

TROCA-TROCA“Quero trocar uma bo-neca que não brinco mais por um tênis nú-mero 33/34, porque o meu quase não dá mais para usar.” Andressa Ta-tiana de Oliveira, 12 – Contato pelo telefone 9925.0113.

“Tenho o boneco Naka-shi, do Naruto, e não brinco mais com ele. Gostaria de trocar por

outro brinquedo, pode ser um boneco diferen-te.” Leonardo Pablo de Jesus Marques, nove – Contato na Rua Brás 3, Rua 3, casa 10.

“Tenho vários brinque-dos que não gosto mais e posso trocar por ou-tros. Ou então, gostaria de ganhar um tênis nú-mero 29/30 para poder brincar ainda mais.” An-drei Cleisson de Olivei-ra, seis – Contato pelo telefone 9925.0113.

“Faço tortas, pães, folhados, salgados e docinhos. Podem me contatar direto nos telefones 3596.1872 ou 9367.2813, ou através da minha filha, Graziela, 3554.1775”. - nilva ines Flores, 44.

“Troco um carrinho azul, dois caminhões, três soldadinhos e uma carroça com três cavalinhos por uma bola de futebol.” Feli-phe Silva Costa, 10 – Contato pelo telefone 9339.9479 ou na Rua Brás 3, Rua 3, casa 8.

“Convido os moradores a participar da Se-mana Farroupilha! Isso é muito importante, pois faz parte da nossa cultura. É tão baca-na quando as pessoas se reúnem e fazem aquela festa nos retiros.” Eduino Pich, 70.

“Ofereço-me para fazer faxina no turno da tarde em troca de rancho. Tenho ex-periência e trabalho também aos finais de semana.” Marlei Welter, 31 – Contato pelo telefone 9925.0113.

As nossas brincadeiras são muito legais. Eu te amo muito e gosto de estar sempre contigo.” Eduarda Langer do Ama-ral, sete.

SERViÇOS“Ofereço-me para tra-balhar de faxineira ou em mercado, ambos com experiência.” Li-liane Gomes de Almei-da, 17 – Contato: (51) 9839.4101.

RAFAELA KLEYRAFAELA KLEY

DANEILA FAN

TILÍLIAN

STEIN

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enfoque

Vila Brás - São Leopoldo/RSSetembro de 2011Enfoquinho

Cruzadinha

REnATA PARiSOTTO (Texto)FERnAnDA ESTRELLA (Foto)

“Adoleta Le petit petit poláLe café com chocolatAdoletaPuxa o rabo do tatuQuem cai fora é tu.”

Gabriel Ednílson dos Santos Sobiray, 10 anos, foi o primeiro a sair da roda. O pequeno morador da Rua 18 ou Rua das Petúnias, na Vila Brás, em São Leopoldo, adora jogar videogame e assistir a televisão no final de semana, mas não abre mão das brincadeiras de rua conhecidas por todos nós. Por incrível que pareça, elas não caíram no esquecimento e continuam a servir de passatempo às crianças na localidade.

A mãe de Gabriel, Deise Dinorá dos Santos, conta que, mesmo quando o videogame do garoto estava funcionando, ele não deixava de lado o pega-pega, o esconde-esconde e o jogo com bolas de gude. E foi assim que Gabriel estava quando o avistamos. Parecia tímido e até desconfiado. No entanto, esse semblante desapareceu quando foi questionado sobre as famosas bolinhas de vidro, chamadas de “olho de gato”. Um vidro, que provavelmente ser-viu para armazenar maionese algum dia, guarda os

brinquedos de Gabi. Assim como o recipiente, as formas de distração são simples, e não servem de desculpa para a falta de lazer na Vila.

Quem o acompanha é o amigo e vizinho Mica-el Fagundes de Souza, seis anos. Esperto, ele explica como funciona o jogo de boleta e faz pose para a câ-mera fotográfica. O menino mora na casa de número 101, com os pais e mais uma irmã: Gabriela Fagundes de Souza, 10 anos. A menina de cabelos longos acom-panha todas as perguntas e responde com segurança quando é solicitada. De moletom rosa, a pré-adoles-cente conta que é fã da cantora gospel Aline Barros, acha o Fiuk lindo, não suporta o Luan Santana e diz não brincar de bonecas. No entanto, quando indagada so-bre o que gostaria de ter como prêmio por ganhar a Adoleta, com o pé na infância, não pensa duas vezes para responder que voltaria às bonecas se ganhasse o Kit completo da Barbie.

Também competindo com os brinquedos impor-tados e jogos eletrônicos, está o futebol. Acessível a todos, independente da classe social, ele é o preferido dos garotos, principalmente do morador da Rua 10. Mateus Chaves de Oliveira, 15 anos, sonha em atuar em grandes times. Entre o computador e a bola, ele fica com a segunda opção. A bicicleta também serve como a alternativa depois da escola. Apesar da idade, ele não deixa de participar da brincadeira de roda, sa-bendo todos os detalhes da canção.

Le petit, petit poláCrianças da Vila Brás não abandonam as velhas brincadeiras

Eduarda, Gabriele, Mateus, Gabriel Micael e Tainá

Complete os quadrinhos abaixo com os nomes das brincadeiras que aparecem nas ilustrações. Uma dica: são diversões do tempo de sua avó

RESPOSTAS: 1.Caçador 2.Cinco-marias 3.Passarás 4.Cabra-cega 5.Peteca6.Elefante Colorido 7.Palitinho 8.Esconde-esconde 9.Jogo-da-velha 10.Bola de Gude

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