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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR DE ACORDO COM AS BASES DE PIAGET
Rodrigo dos Santos Almeida
ORIENTADORA
Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A Didática do Ensino Superior de acordo com as bases de Piaget
Rio de Janeiro
2010
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: Rodrigo dos Santos Almeida
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EPÍGRAFE
“mestre não é quem sempre ensina, mas
quem de repente, aprende”
Guimarães Rosa
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por tudo quanto tem feito, por ter me trazido até aqui, e por tudo o que ainda há de vir.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas que caminham diariamente ao meu lado e que me estimulam a chegar cada vez mais longe, à família e aos amigos, em especial à Gabi pela jornada que traçamos juntos.
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RESUMO
A temática deste estudo gira em torno das questões que envolvem o
papel do professor universitário e da notória falta de didática dos profissionais
que hoje estão nas salas de aula. Através dos estudos de Piaget, na base do
construtivismo, é possível construir um caminho para reverter esse quadro e
dar ao professor universitário uma identidade que vá além da capacidade
técnica e do conhecimento específico, permitindo o desenvolvimento em sala
de aula de uma prática reflexiva capaz de gerar autonomia aos alunos
envolvidos no processo ensino-aprendizagem, dotados de liberdade para a
construção do saber.
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METODOLOGIA
A metodologia adotada nesta monografia pretende dar subsídios a
uma análise sobre o problema da falta de formação didática dos professores
universitários, que dificulta o processo ensino-aprendizagem, por reproduzir um
modelo tecnicista e impedir a construção real de conhecimento, com pesquisa
e desenvolvimento, aproximando professor e aluno numa relação
verdadeiramente construtivista.
A pesquisa bibliográfica se concentra no levantamento de dados a
cerca da teoria de Piaget e seus desdobramentos no ensino superior, com a
elaboração do construtivismo, proporcionando uma análise real de uma
proposta de ensino e caminho a ser trilhado em prol de uma reafirmação do
professor universitário e de seu papel no ensino superior. Além de Piaget, este
estudo possui embasamento de autores atuais, que preocupados com a
educação, discutem e enriquecem as idéias, somando esforços na
consolidação de uma didática de resultados nas salas de aula das
universidades, e faculdades.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO 1 11
ANALISANDO A EDUCAÇÃO
CAPÍTULO 2 17
AS BASES DE PIAGET
CAPÍTULO 3 23
JUSTIFICANDO PIAGET
CAPÍTULO 4 32
A DIDÁTICA E O ENSINO SUPERIOR QUE QUEREMOS
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA 43
ÍNDICE 46
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INTRODUÇÃO
A profissão de professor nunca foi fácil, e cada vez mais a
desvalorização do docente é vista com a crescente exigência desse
profissional e associado ao desafio de ser o agente da mudança dos alunos. A
atual formação de mestres e doutores, não prevê o enquadramento destes
profissionais em salas de aula e laboratórios sem uma prévia capacitação
didática. As mudanças propostas para o ensino fundamental e médio, não se
refletem na mesma forma, para a etapa superior de formação, distanciando os
saberes e colocando a formação de forma ainda muito segmentada e sem a
devida preocupação de trazer o aluno para o contexto universitário.
O presente trabalho pretende refletir sobre essa prática docente no
ensino superior, sobre a falta da capacitação didática e usar as bases teóricas
de Piaget como alternativa à essa questão, buscando pontos relevantes que
podem auxiliar a redefinir essa identidade, fortalecer a necessidade de uma
educação continuada como forma de pleno desenvolvimento da educação,
como também buscar trazer uma maior interrelação professor aluno através do
exercício do ensino e aprendizagem, que deve ser indiscutivelmente uma
prática reflexiva.
A prática docente exigida atualmente para esse nível de educação
está atrelada a uma boa qualificação técnica, prevista em lei, contudo, o
cenário que visualizamos é insuficiente posto que não se observa neste
profissional, e consequentemente neste nível de ensino, uma prática
pedagógica que possa dotar este futuro profissional com uma maior
capacidade reflexiva, que permita o amadurecimento deste jovem e que
estabeleça um vínculo maior com o professor, permitindo que as trocas nesta
relação e os saberes possam ser ainda maiores e produtivos. De acordo com
MOROSINI (2001), a seleção de professores sempre se deu através do
domínio da matéria a qual se pretende lecionar, ao invés de buscar o docente,
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que além do domínio da matéria, integra ao contexto curricular e aos aspectos
histórico-sociais, com diversas formas de ensinar, detendo uma linguagem
corporal/gestual correta e que busque a participação do aluno para que o
mesmo se aproprie dela.
A expansão do ensino e a crescente abertura dos portões das
faculdades à população criaram um mercado docente em crescimento, mas
que em realidade nada parece contribuir para que seja esse um passo para o
fortalecimento das questões didáticas. Em realidade, a busca se faz nas
mudanças aonde o ensino venha destituindo o caráter meramente técnico de
transmissão de conhecimento aos quais já se implantou como hábito em troca
por um sistema que realmente execute aquilo a que se propôs, desde a
pluralidade de idéias, passando pelo respeito e liberdade de saber, objetivando
o crescimento das nações como prevê a declaração das Nações Unidas.
As mudanças propostas aqui, estudadas através de Piaget,
promovem o pensamento do um ensino que não seja de imposição, mas que
realize um compromisso social, ético e político através de uma prática que
valorize a relação educador-educando. Cabe lembrar, que é o ensino superior
aquele que mais se compromete com a sociedade em avanços tecnológicos e
científicos, mas acima de tudo, humanitários, o que justifica a preocupação
deste estudo com o questionamento da prática docente.
Este é verdadeiramente um problema que atinge a educação
universitária brasileira, mas que pode servir de base para muitas outras, no que
diz respeito à formação em uma sociedade que se almeja um progresso. Nas
palavras de Paulo Freire (1996), fica claro que o ofício de ensinar não compete
à simples transferência de conhecimentos, mas da criação que possibilita sua
produção e construção.
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CAPÍTULO 1
ANALISANDO A EDUCAÇÃO
1.1 A educação e as leis:
A Declaração Universal dos Direitos do Homem (UN – UDHR),
votada pelas Nações Unidas, diz entre outras coisas no artigo 26 que toda
pessoa tem direito à educação e que esta deve visar o pleno desenvolvimento
da personalidade humana e ao fortalecimento do respeito pelos direitos do
homem e pelas liberdades fundamentais, favorecendo a compreensão,
tolerância, amizade entre as nações independente de grupos, raça ou credos, o
que denota claramente uma preocupação em dar a educação uma obrigação
social.
Em consonância na Constituição Brasileira (1988), relata a educação
em seu capítulo II como um direito social, ao qual o Estado deve proporcionar
com uma política de implantação em programas estabelecidos e com
responsabilidades divididas e compartilhadas entre estados, municípios e
Estado. Mais especificamente em seu capítulo III, seção I, os artigos destinam-
se exclusivamente a educação. Dos artigos 205 ao 214 fica evidenciado os
princípios de igualdade de condições, liberdade de aprender e ensinar, o
pluralismo de idéias, a valorização do profissional da educação escolar e a
garantia da qualidade do ensino. Em relação ao ensino superior o
comprometimento passa pela autonomia dessas instituições e também sobre a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão visando a promoção
humanística, científica e tecnológica do país.
Criada em 1996, a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB) sanciona a execução da educação tendo em vista a questão social da
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escola e da família na formalização desse processo com objetivos mais
específicos nas fases de execução, planejamento e fiscalização. No que diz
respeito ao ensino superior, o artigo 43 prevê suas finalidades onde se destaca
o estímulo a criação e ao desenvolvimento, o incentivo à investigação, a
promoção para a comunicação dos saberes, dando o entendimento ao homem
sobre ele e ao meio em que vive, o que demonstra a necessidade de uma
observância sobre as práticas pedagógicas atuais, de tal forma que seja viável
atingir estes objetivos.
Do ponto de vista quantitativo, o aumento considerável e crescente
dos efetivos escolares gera conseqüências que vão, desde o prolongamento da
escolaridade, aumentando as possibilidades de instrução oferecidas, e
consequentemente de alunos nas universidades e das próprias universidades,
faculdades, centros universitários e afins, o que é positivo. Em contrapartida,
essa explosão não se fez acompanhar da revalorização social da profissão do
magistério – que já teria sido necessária nos níveis secundário e fundamental –
verificado pela carência de professores e de sua devida formação pelas
insuficientes suplências, sendo então, imprescindível a abordagem desse
problema, discutindo aqui a questão de formação do professor e aluno.
As ações neste campo atentam para tendências interdisciplinares no
que tange as relações entre as ciências humanas e naturais, como alternativa
para as divisões estanques criadas e tão bem sedimentadas que causaram tal
separação no passado, reduzindo assim, essas tais barreiras, abrindo-se
múltiplas portas laterais que possibilitam aos alunos a livre transferência de
uma seção à outra com possibilidade de escolhas, e estas ações vêem a exigir
maior esforço do professor do que dos alunos propriamente (PIAGET, 1973).
Atualmente, o professor universitário aprende a sê-lo mediante
um processo de socialização, em parte intuitiva, autodidata ou,
o que é pior, seguindo a rotina dos “outros”. Isto se deve, sem
dúvida, ã inexistência de uma formação específica do professor
universitário. Neste processo, desempenha um papel mais ou
menos importante sua própria experiência como aluno, o
modelo de ensino que predomina no sistema universitário, e as
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reações de seus alunos, embora não se descarte a capacidade
autodidata do professorado. (BENEDITO, 1995, p. 120. In:
BALDINO, 2001, pp.81-82)
Tais mudanças são valiosas. Se tomadas as ações como
investimento, baseadas no discurso acima, a prática docente reflete
diretamente sobre o corpo discente, que pode vir a ser um docente no futuro, e
mais, um agente de transformação, posto que se em suas primeiras
experiências com o mundo exterior e a sociedade aqui representada nesse
microcosmo escolar, nota-se que a liberdade do saber é exercida e não se
observam barreiras no aprendizado, evidenciando um caminho promissor
aberto a todos.
A temática deste estudo muito está calcada no que diz respeito à
formação desses professores, questão primordial para toda e qualquer reforma
pedagógica, pois enquanto a mesma não ocorrer de forma satisfatória, será
inútil organizar belos programas ou tentar construir grandes teorias a respeito
do que deve ser realizado. Este processo passa por uma revalorização do
corpo docente em todos os níveis, a começar pelo poder público de onde não
recebem o devido valor, e se configura como um ônus perigoso ao progresso e
sobrevivência da nação. Outra etapa importante consiste na formação
intelectual e moral deste corpo docente, vindo a exigir destes profissionais uma
real vocação para o seu exercício. Com estes pontos nevrálgicos a resposta
parece ressoar no mesmo sentido: a formação universitária completa (PIAGET,
1973).
No que tange a real vocação para o exercício da profissão do
magistério, se alcançado tal objetivo, é possível que boa parte dos problemas
de identificação em sala de aula tenham fim, e a educação não seja vista por
muitos como um segundo emprego ou ocupação menor na simples geração de
renda mercantilista, mas que tenha realmente um propósito pessoal e social.
A prática a qual trabalha diretamente na capacidade de raciocinar,
ao que a escola tem por obrigação fornecer tal capacitação através de seu
corpo docente. De acordo com Penteado (1980, p. 38), se a própria capacidade
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de raciocinar é constituída, como diz Piaget, a primeira tarefa da educação
consiste em formar o raciocínio. Nesse ponto, mesmo reconhecendo toda a
dificuldade que consiste em modificar algo que encontra-se acomodado e
sedimentado em práticas pedagógicas ultrapassadas, espera-se no poder
público, a força propulsora para alimentar a transformação e levar a termo os
legados escritos em lei, seja pela Constituição Federal ou mesmo pela LDB.
1.2 Uma história da educação:
O trabalho do professor nos tempos atuais é também reflexo do
exercício secular do ofício de educar (FERRARI, 2008). O pensamento
educacional se desdobra em várias correntes, e suas raízes estão fincadas na
Grécia antiga, quando ainda não existiam escolas, mas que a preocupação
com a educação já ocupava a mente dos pensadores. Portanto, atrás de cada
trabalho de cada professor, falamos também sobre seculares ações sobre esse
ofício que é educar. Mesmo sem os conhecer, cada profissional do ensino
abriga em sua prática, diversas influências de diversos pensadores cujas idéias
foram incorporadas no decorrer da história na prática pedagógica, no conteúdo
dos livros didáticos, currículos docentes e na própria organização do sistema
escolar.
Em seu livro sobre a didática do ensino superior Antônio Carlos Gil
(2008), como também diversos outros autores, ressalta que o pensamento
predominante por muito tempo a imperar no meio acadêmico, era a de que
para ser um professor renomado nesse nível, somente era necessário dominar
as técnicas de comunicação e o conteúdo da matéria lecionada, não cabendo
recursos pedagógicos que o capacitem. Porém, ressalta ainda em sua obra
que o aprendizado mais proveitoso se faz com a ocupação deste docente em
dominar e desenvolver habilidades pedagógicas, além de aprimorar sua visão
de mundo, de cidadão, de cientista e educador, necessidades de sua função.
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Como uma espécie de árvore genealógica, pode-se considerar o
início da história da educação com o grego Sócrates (469-399 a.C.), que
acreditava que os jovens deveriam ser ensinados para conhecer o mundo e a
si mesmos, passando os seus conhecimentos em uma época onde ainda não
existiam escolas. A seguir, com o seu discípulo Platão (427-347 a.C.), o foco
que se introduz traz um novo conceito, pois via o conhecimento como algo a
ser alcançado no plano ideal, e, portanto, não pertencente a todos, dando início
a corrente ideológica. Em contrapartida, diferente de seu mestre Platão,
Aristóteles (384-322 a.C.) antagoniza essas ações e inverte as prioridades ao
admitir e defender o estudo das realidades como forma de adquirir sabedoria e
virtude, sendo então algo acessível a um maior número de pessoas. Surgem
neste ponto, duas vertentes: a idealista de Platão e a realista de Aristóteles que
se expressam em novos movimentos e pensadores no decorrer dos séculos.
A partir de então, diversos pensadores se destacaram em seus
estudos, obtendo avanços em cada uma dessas vertentes e de suas
ramificações, aliados aos acontecimentos históricos de cada época, que vêem
a influenciar o predomínio de determinadas correntes, como por exemplo para
favorecer o interesse das classes dominantes, ou pela garantia dos direitos
civis, ou para atender interesses religiosos. Dentro da corrente do realismo
destaca-se a obra do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), que em seus
estudos desenvolve o construtivismo, apesar de nunca ter trabalhado como
pedagogo sua obra, mas que deixa um legado que serviu de base para muitos
outros estudos na área da educação. Este movimento, que apesar de usar
como base a Escola Nova – que acreditava que na escola era uma fase de
desenvolvimento a ser respeitado e estimulado - do movimento idealista, que
pregava uma maior democracia pedagógica calcada num princípio de auto-
educação motivada, usou com propriedade tais descobertas na elaboração de
uma teoria para elucidar o desenvolvimento cognitivo, em especial a crianças e
adolescentes, marcando profundamente a pedagogia do século 20 de forma
inquestionável, e em especial no Brasil, quando autores influentes passam a
trabalhar com as bases do construtivismo.
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Cabe lembrar que apesar de haver tal classificação e diversificação
entre as correntes, algumas idéias podem e são compartilhadas por seus
antagonistas, não havendo somente discordâncias, mas sim, pontos de
encontros e desencontros com aquilo que cada um destes pensadores vieram
a desenvolver no decorrer da história.
O Construtivismo, apoiado em Piaget, é o próprio desenvolvimento
do indivíduo por ele mesmo em interação com o ambiente, apoiado em suas
potencialidades, uma inteligência criativa capaz de a cada etapa, adquirir novas
capacidades. Segundo Piaget:
O desenvolvimento mental é uma construção contínua, comparável ã edificação de um grande prédio que, à medida que se acrescenta algo, ficará mais sólido, ou a montagem de um mecanismo delicado, cujas fases gradativas de ajustamento, conduziriam a uma flexibilidade e uma mobilidade das peças tanto maiores quanto mais estável se tornasse o equilíbrio. (PIAGET, 1973)
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CAPÍTULO ll
AS BASES DE PIAGET
2.1 Estágios de desenvolvimento:
Piaget não se interessa somente pelo desenvolvimento cognitivo da
criança, mas principalmente, pela natureza do conhecimento em geral e de sua
evolução dentro da sociedade (CUNHA, 1972). E considera que a verdade é
relativa ao nível mental da entidade que assimila, seja esta o indivíduo ou a
sociedade (PIAGET, 1967). Assim, a verdade científica evolui sempre com a
construção de novas teorias. Em adição a esse pensamento, Goedel afirma
que as teorias nunca são definitivas, pois toda estrutura requer outra mais forte
para provar sua não-contradição, portanto, esse processo não tem fim
(PIAGET, 1970). Neste conceito, Piaget estabelece o que chamou de
epistemologia genética – uma teoria do conhecimento centrada no
desenvolvimento natural da criança. Este processo se estabelece em quatro
estágios que vão do nascimento até a adolescência, quando enfim atingem a
maturidade plena de raciocínio.
Para traçar uma linha de raciocínio nas linhas de Piaget é importante
que se faça um recorte sobre pontos fundamentais de seus estudos desde o
comportamento infantil até a elaboração do construtivismo.
Em sua teoria, Piaget estabelecia para as crianças quatro estágios
distintos no desenvolvimento como passos necessários para que na
adolescência seja atingida a capacidade plena de raciocínio. Isto remonta ao
fato de que a educação só pode ser transmitida à medida que o aluno tenha
condições de absorvê-la. Em outras palavras, o aprendizado é construído pelo
aluno e é a teoria de Piaget que inaugura a corrente construtivista, uma vez
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que educar é provocar a atividade, o estímulo à procura do conhecimento. Para
Piaget, o professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode
se tornar (FERRARI, 2008).
Os Estágios de desenvolvimento são (LIMA,1980; PIAGET, 1973;
FERRARI, 2008):
Estágio sensório-motor – ocorre com a administração de reflexos
básicos na geração da sensação de prazer e que antecede a linguagem e dá a
percepção de si e dos objetos a sua volta. É uma inteligência prática porque
envolve as ações em primeiro plano, e neste ponto não há uma representação
mental do que está à volta, ou seja, do objeto, e à medida que interage é que o
tenta entender, mesmo que ainda o indivíduo não se diferencie dele nem do
que o cerca;
Estágio pré-operatório – surge com o domínio da linguagem e do
entendimento dos símbolos, pois já os distingue e fornecem objetivos e eles.
Parece também ser capaz de entrar num campo lúdico de representações, mas
ainda não consegue se colocar no lugar do outro, graças ao egocentrismo;
O egocentrismo pode ser definido aqui como o estágio onde a
criança ainda não se mostra capaz de colocar-se na perspectiva do outro,
estando com um pensamento pré-operacional estático e rígido. A criança capta
estados momentâneos, sem juntá-los em um todo, e introduz o que capta ao
seu próprio mundo interior.
O processo de irreversibilidade é muito típico desta fase também,
pois o excesso de desequilíbrio não permite que haja uma real compreensão
das transformações. Piaget destaca que através destas observações que a
criança não é um adulto pequeno, mas por representar o mundo diferente dele,
tem suas características próprias.
Estágio operatório concreto – passa a agir uma reversibilidade de
ações, com a lógica nos processos mentais e a capacidade de comparar
igualdades e diferenças entre as coisas e pessoas, é capaz de dominar noções
de tempo e número, se capacita com uma organização mental integrada;
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Graças à flexibilidade do pensamento adquirido, a criança consegue
ter uma maior equilibração com as coisas que o cerca e continuamente vai
assimilando. Neste ponto, já é possível suplantar o egocentrismo pela empatia
com os sentimentos e atitude dos outros, denotando maior alteridade do ser.
Estágio operatório formal – é a marca da entrada na fase adulta
em termos cognitivos, estabelece o pensamento lógico e dedutivo, permitindo a
experimentação mental e raciocinar sobre hipóteses.
Esta última fase Piaget classifica como um produto da sociedade,
pois ainda de acordo com o autor, muitos adultos não chegam a essa fase e
mesmo algumas sociedades também, quando em especial não temos escolas
formais e seus membros parecem não raciocinar racionalmente.
Essa sequência demonstra que a transmissão de conhecimentos é,
portanto limitada, posto que a criança (educando) deve estar apta a
receber/absorver tal instrução. Ainda para Piaget, tal processo também
dependerá do interesse deste educando em aceitar tal novidade, que deverá
ser algo que lhe proporcione interesse ou que lhe faça falta, uma vez que o
aprendizado é construído pelo aluno, comprovando Lino de Macedo quando diz
que educar é “provocar a atividade”, estimulando a procura do conhecimento
enquanto que “o professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela
pode se tornar” (FERRARI, 2008).
Essas fases de maturação estão relacionadas a outros fatores
tais como (CUNHA, 1972) (PIAGET e INHELDER, 1968):
a) maturação do sistema nervoso
b) ambiente físico
c) ambiente social
d) equilibração progressiva: física e prática para mental e
simbólica.
Em adição, no livro Biologie et Connaissance, Piaget diz que “a
inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de
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interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas”
(PIAGET, 1973).
Com este estudo, Piaget corrobora ao fato de que existe sim,
importância na interação social no aprendizado, mesmo não atendo tanto
tempo de seus estudos a estas questões, é ressaltado na sua obra de que o
homem é um ser social impossível, portanto, de ser pensado fora do contexto
da sociedade em que nasce e vive (LA TAILLE, 1992). Cabe lembrar então,
que este ponto encerra uma questão importante e por muitas vezes mal
interpretado em sua teoria, dado ao fato que é o aluno o agente ativo do
aprendizado, mas entender que sua autonomia no processo, não o distingue do
meio social onde vive e possui representatividade.
Tal postulado é também do ponto de vista de Wallon partilhado
como sendo o homem geneticamente social que, apesar de demasiadamente
amplo cabe para a teoria de Piaget. O ser social de Piaget é aquele que
consegue se relacionar com seus semelhantes de forma equilibrada, e esta
equilibração vai variar de acordo com a idade do interlocutor, devendo-se
respeitar essas diferenças no desenvolvimento social, pois em termos sociais,
há de se reconhecer que para a inteligência chegar à coerência e objetividade,
este caminho não pode ser alcançado por um individuo isolado, mas sim
necessidades decorrentes de uma vida social. Contudo, Piaget (LA TAILLE,
1992) chama a atenção para duas vertentes nessa relação: coação e
cooperação.
2.2 Coação e Cooperação:
Na coação, Piaget chama de “relação entre indivíduos na qual
intervém um elemento de autoridade ou de prestígio”. Neste caso há pouca
participação racional na produção, conservação e divulgação das idéias, como
um modelo de repetição e conservação, e então como conseqüência, passará
a impor o que lhe foi imposto, levando ao empobrecimento das relações sociais
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e a manutenção do isolamento entre os indivíduos, um freio ao
desenvolvimento da Inteligência. É este um processo mecanicista de repetição
e manutenção de um status sem evolução ou promoção de novas idéias.
Já nas relações de cooperação, esse desenvolvimento ocorre
porque todos os envolvidos operam, discutem, criam pontos de vista, e como o
próprio Piaget diz é um “equilíbrio móvel”, sendo um método capaz de chegar a
verdades. Quando o aluno passa a estabelecer a cooperação como
aprendizado, ele passará a exigir esta mesma ação de reciprocidade em suas
futuras interações entre indivíduos, permitindo à sociedade a reprodução de
relações de respeito mútuo com noções de igualdade – uma perspectiva ética
(LA TAILLE, 1992).
2.3 Processo de Assimilação e Acomodação:
Na prática piagetiana (FERRARI, 2008), as crianças raciocinam
gradualmente, inserindo regras, valores, símbolos através desse processo
próprio, onde num primeiro momento é incorporado o novo, algo que não
existia antes, seguido de um segundo momento quando a assimilação desse
novo promove modificações na estrutura preexistente. Assim, o conhecimento
jamais será uma cópia, uma vez que se trata de uma relação entre o objeto e o
sujeito, por esquemas capacitados a evoluir e se tornar progressivamente mais
complexos. Essa ótica individualizada por Piaget, cada qual irá ao seu tempo
administrar o novo e criar suas próprias correlações na busca por um
entendimento, e o indivíduo que mais for capaz de estabelecer as pontes de
ligação entre tudo aquilo que absorveu, assimilando e acomodando, mais
condições terá de lidar com suas potencialidades.
Para Piaget (PULASKI, 1986), a adaptação é vista como a essência
do funcionamento intelectual e do funcionamento biológico, e que tem como
tendência a organização, que constitui a habilidade de integrar as estruturas
físicas e psicológicas em sistemas coerentes. Esta adaptação acontece através
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da organização, e assim, é possível discriminar entre todo o entorno aquilo que
ele organiza em forma de estrutura, isto é, assimilação e a acomodação.
O próprio Piaget define a assimilação como (PIAGET, 1973, p. 13):
... uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer
invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria
integração, mas sem descontinuidade com o estado
precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente
acomodando-se à nova situação.”
Entrando agora na operação cognitiva da acomodação, a definição
dada:
Chamaremos acomodação (por analogia com os "acomodatos"
biológicos) toda modificação dos esquemas de assimilação sob
a influência de situações exteriores (meio) ao quais se aplicam.
PIAGET (1986, p. 18)
A acomodação acontece quando não se consegue assimilar um
novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova
informação em função das particularidades desse novo estímulo, diante deste
impasse, restam apenas duas saídas:
- criar um novo esquema ou
- modificar um esquema existente.
Ambas as ações resultam em uma mudança na estrutura cognitiva.
Ocorrida essa acomodação, é possível tentar assimilar o estímulo novamente,
e uma vez modificada a estrutura cognitiva, o estímulo é prontamente
assimilado.
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CAPÍTULO lll
JUSTIFICANDO PIAGET
Muitos seriam os exemplos em que se pode buscar para a
elucidação do problema docente na educação do ensino superior, todavia,
mediante as possibilidades de caminhos disponíveis a escolha por Piaget se
passa por acreditar no construtivismo e na elaboração de um diálogo
investigativo na formação acadêmica como um bom caminho a percorrer,
reafirmando a questão do meio promissor ao desenvolvimento do indivíduo.
Uma grande dificuldade muito observada nas salas de aula
encontra-se nos professores, onde a falta de capacitação aliada à dificuldade
gerada pela insegurança, em especial no campo das ciências, quando se faz
necessária manipulações concretas e descobertas espontâneas além do
ensino verbal, criam barreiras impeditivas para se incentivar os alunos a sugerir
hipóteses e a construir experiências para comprovar tais hipóteses (CUNHA,
1972). Tal comportamento se configura como uma prática de coação, já citado
aqui anteriormente, onde a falta de recursos e de uma contínua formação, só
fazem se reproduzir em aula aquilo que já foi visto e revisto por inúmeras
outras vezes, impedindo a elaboração de diálogos onde haja experimentação e
espaço para o novo.
Nas idéias de Piaget e dos autores apoiados em sua teoria (CUNHA,
1972) é afirmado que não se pode formar uma pessoa racional dizendo-lhe o
que deve pensar, repetindo valores quase que por imposição ou repetição, ao
contrário, deve-se buscar enriquecer as situações para ampliar os quadros
mentais com que trabalhará o indivíduo e para estimular as equilibrações
organizacionais. Somente através do exercício reflexivo é que se pode,
verdadeiramente, estabelecer novas formas de pensamento e descobrir novas
idéias.
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3.1 Formação de Professores:
É notório que o sucesso de um ensino superior está fincado sobre
três distintos pilares:
a organização do curso,
alunos e
professores,
sendo este último o objeto de nossa análise, posto que na sua atuação almeja-
se encontrar, competência, segurança, e o agente capaz de propiciar o
ambiente favorável para o aprendizado. Lembrando que o professor não é o
detentor do saber, mas é o sujeito quem vai orientar, motivar, e auxiliar a
descoberta dos alunos e partilhar de suas experiências conduzindo seus
alunos nessa jornada.
No Brasil, as mudanças educacionais tem sido “de papel”,
ocorrem na “lei”. Mas lá na sala de aula, o professor não
recebe treinamento de que necessita para efetivar com
segurança o novo modelo. Muito menos chegam a ele os
suportes necessários de infra-estrutura física, material ou
equipamentos que poderiam ao menos possibilitar alguma
chance de sucesso. (ZAGURI, 2006 p.45)
O problema da aplicação de uma didática eficaz começa na
formação de professores, uma vez que estes devem assumir atitudes
preconizadas distintas de um sistema rígido e autoritário com o qual
provavelmente tiveram em sua formação. Esta nova formação deve conter uma
atmosfera de individualização e liberdade, aumentando a relevância do ensino,
estimulando o desenvolvimento de atitudes de interrogação e investigação no
professor, para que a mesma possa ser transferida ao aluno, de forma
estimulante a motivar a aprendizagem. De igual modo, o professor deve ser
cultivado no seu pensamento a querer aprender com seus alunos, posto que
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não são os professores os conhecedores de tudo, e por isto essa
transformação passa por ele mestre também (CUNHA, 1972).
De acordo com Libâneo, apenas a competência científico-
profissional não é capaz de por si só conduzir um processo de ensino-
aprendizagem:
(...) se o professor não dispõe de habilidades de pensamento,
se não sabe aprender a aprender, se é incapaz de organizar e
regular suas próprias atividades de aprendizagem, será
impossível ajudar os alunos a potencializarem suas
capacidades cognitivas. (LIBÂNEO: 1996, p.38)
Parte deste problema no ensino superior encontra-se de certo modo
amparado pela própria legislação (ROLINDO, 2007), que coloca a competência
técnica como exigência para o exercício docente, sem que seja também
cobrada uma formação didático-pedagógica. Portanto, para este nível de
ensino a associação é exclusivamente dos saberes específicos, e assim a
docência universitária é concebida como um processo de formação e não como
uma preparação para o exercício deste magistério:
(...) a preparação para o exercício do magistério superior far-
se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em
programas de mestrado e doutorado. Parágrafo único: O
notório saber, reconhecido por universidade com curso de
doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título
acadêmico (LDB, art. 66)
Se diferentemente do que ocorreu em sua publicação, houvesse
sido aprovado o projeto integral apresentado pelo senador Darcy Ribeiro, que
previa a importância do caráter pedagógico nesta etapa da formação
profissional o texto passaria a ter a seguinte redação:
Art. 74 – A preparação para o exercício do magistério superior
far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em
programas de mestrado e doutorado, acompanhados da
respectiva formação didático-pedagógica, inclusive de modo a
26
capacitar o uso das modernas tecnologias do ensino”
(SAVIANI, 1998, p. 144)
Desta forma, percebe-se que sem o devido amparo legal, a
formação pedagógica dos professores universitários fica a cargo de cada
instituição, individualmente, em oferecer ou não programas de pós-graduação
nesta área. Isto implica seriamente sobre o futuro da educação. Não conceber,
seja em lei ou na prática, que o exercício deste magistério esteja vinculado a
uma verdadeira capacitação onde seja avaliado o perfil profissional que vá
além do conhecimento técnico-científico e pesquisador, mas que atrelado a
esta engrenagem sejam associados a capacidade de promover o confronto de
idéias e coordenação de um grupo de alunos, não há quebra deste modelo ao
qual tanto se tem criticado.
Por mais que se perceba em um grupo de professores a busca
individual por uma correta capacitação, por um entendimento pessoal na
questão da formação continuada, cabe ao governo a questão de estimular,
promover e inclusive fiscalizar para que esta seja uma ação e não uma
sugestão. É necessário que o corpo docente como um todo progrida para
acompanhar o mundo que o cerca.
Tendo em vista que há uma baixa correlação entre a produção
científica e a avaliação do alunado à eficácia docente, que grande parte dos
doutorados acadêmicos produzidos nas universidades, titulam professores que
irão atuar em outras instituições diferentes das quais se formaram, dedicando-
se basicamente ao ensino, ainda mais quando tomarmos por base a atual
expansão e flexibilização do sistema de ensino superior, com a
heterogeneidade do corpo discente pela crescente democratização do sistema
educacional, e que esta não é mais uma etapa terminal na escolarização, o
novo cenário ao qual se desenvolveu nos últimos anos parece aumentar
enormemente sua complexidade. De acordo com PACHANE (2005), que
ressalta o cenário onde a educação superior está afetada e chama a atenção
para a necessidade de preparação deste professor, que deve estar consciente
de todo este processo que o envolve. Há que se perceber que as mudanças
ocorridas nas últimas décadas com a educação foram grandes, e que paralelas
27
a elas se tem também um arsenal tecnológico com a propagação da
informática em todos os meios e de sua expansiva e crescente evolução que
trazem fortes implicações acelerando e diversificando essas mudanças.
Contudo, muito pouco foi visto em termos de melhoria ou progressos no perfil
deste professor. Ao se considerar toda esta questão da expansão e abertura de
portas das universidades, a perspectiva é ainda mais alarmante, pois em breve
será possível ver o sucateamento destes profissionais tal como já visto nos
níveis fundamental e médio, dado a falta de planejamento e desvalorização da
formação com responsabilidade.
O professor deve se investir de autonomia e liberdade, para ser e
fazer cada vez mais em sua prática para que se entenda como sujeito do
saber, que acredita no homem e estimula as potencialidades suas e de seus
alunos numa troca que construa novos caminhos a partir desse diálogo
enriquecedor. E por esse motivo, chamar a atenção à concepção da
importância do amparo que deve constituir a formação sólida deste profissional,
como agente multiplicador de uma transformação progressiva.
Para CUNHA (1989, p. 56) algumas características são elencadas
como características de um bom professor, a saber:
1 – a forma como o professor vê sua própria formação em termos
quantitativos e qualitativos;
2 – sua atuação em práticas sociais – sindicatos, partidos políticos,
movimentos classistas, religiosos, colegiados, e etc – e de como elas
interferem na sua prática docente;
3 – as ideias pedagógicas que norteiam o trabalho e as concepções
ligadas ao aluno, a educação, ao aprendizado e ao ensino;
4 – a sua prática de ensino, em seu planejamento e execução;
5 – e a identificação dos problemas que interferem o
desenvolvimento de sua prática pedagógica.
28
3.2 A escola piagetiana
Em seu aspecto mais global, o que se pode afirmar é que este
modelo prevê atividades em grupo, em oposição ao projeto tradicional de aula
expositiva, produzindo uma transformação que implica uma revolução
pedagógica (LIMA, 1980). Em última análise, o que se busca é conduzir o
aluno a dar sua contribuição ativamente no processo, onde ele mesmo se insira
no processo e deseje o aprendizado, alimentando-se dele e promovendo as
descobertas, sendo ele mesmo autor da sua motivação.
As bases desta escola estão na inteligência, que é a “forma” de ação
reconstrutora e adaptativa – “estratégias de comportamento”, e a afetividade
que é o “motor” que desperta o interesse, entusiasmo, a ação, sem contudo,
modificar as estruturas de inteligência. Cabe lembrar, que no ser humano, o
embate entre a forma e o motor desencadeia processos dos mais complexos, e
à medida que as atividades motoras vão se transformando em atividades
simbolizadas, reconhecidas por esse ser, tem-se a assimilação prática ao que
ganha então, uma representação mental. O mundo moderno atual é altamente
dependente de reequilibrações (LIMA, 1980), para acompanhar as mudanças
externas o individuo entende que educar é desafiar. Para que haja trocas, as
relações entre todos deve ser cada vez mais precoce e ampla, sendo
necessária uma maior maleabilidade e complexidade para entendimento do
todo.
Em adição ao que já foi dito, PACHANE (2005) também analisa que
este processo se assemelha ao que se deve esperar da formação de
professores, entendida como um processo contínuo, pautados por dois pilares:
pensamento e ação, e que pode ser entendido como uma etapa que se inicia
muito antes, desde a época em que este professor freqüentava os bancos
escolares, quando adquiriu as primeiras experiências com a prática docente,
posto que estas experimentações fazem parte da história deste professor e que
se refletem em sua postura e pensamento, pela forma como vivenciou sua
história discente.
29
No modelo proposto, a estrutura da escola não mais lidará com
alunos, mas sim com indivíduos integrais, com um passado de histórias,
emoções únicas, e nesta sala de aula a troca de experiências passa pelo
ensinamento, onde o educador é aquele disposto a ensinar por meio dessas
mesmas trocas, que será o coadjuvante no processo educacional, repleto
agora por uma multiplicidade de pensamentos que deverão convergir no
aprendizado.
Em outras palavras, na escola piagetiana, o professor é o facilitador
da aprendizagem, aberto às novas experiências que procura compreender,
numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus
alunos e tenta levá-los à auto-realização. Lembrando que a responsabilidade
da aprendizagem fica também ligada ao aluno, àquilo que é mais significativo
para ele. Portanto, no processo de ensino sugerido, dois importantes pontos
devem ser considerados: a capacidade individual de cada professor, de sua
aceitação e compreensão e do relacionamento com seus alunos.
Tomando por base uma abordagem cognitivista, onde é Piaget um
ícone, o professor atua investigando, pesquisando, orientando e criando
ambientes que favoreçam a troca e cooperação. Ele deve criar desequilíbrios e
desafios sem nunca oferecer aos alunos a solução pronta. Em sua convivência
com alunos, o professor deve observar e analisar o comportamento deles e
tratá-los de acordo com suas características peculiares. Nessa atuação,
espera-se observar um deslocamento do papel de passividade do aluno em
relação à informação, tomando posse de uma ação mais impactante. O
professor é quem passa a criar o cenário necessário, pensando no estágio em
que o aluno se encontra, permitindo ao aluno explorar o ambiente de forma
predominantemente ativa.
Para Piaget, o aluno não é um ser que recebe a informação
passivamente, ele deverá experimentar racionalmente atividades de
classificação, seriação e atividades hipotéticas. Assim, o professor sempre
oferecerá ao aluno situações problemas que tragam a eles a necessidade de
investigar, pensar, racionalizar a questão e construir uma resposta satisfatória.
30
3.3 Piaget e Vygotsky
Apesar de diversas críticas as teorias de Piaget, Vygotsky também
tem interfaces interessantes em adição ao pensamento piagetiano, em parte
porque o conhecimento não tem, e não pode ter, o propósito de produzir
representações de uma realidade independente, mas antes tem uma função
adaptativa – o conhecimento tem uma função adaptativa, incorporar o universo
a si próprio, com sucessivas incorporações de percepções e movimentos, para
o equilíbrio psíquico, mais preciso à realidade (DUARTE, 2006, p. 90).
Ressaltando que assimilação, acomodação, equilíbrio, organização,
interação e adaptação são conceitos indissociáveis e etapas importantes na
teoria de Piaget, encontra-se aqui um ponto importante de aproximação entre
Piaget e a Escola Nova, isto é, epistemologia genética e o “aprender a
aprender”: o princípio de que a educação deva preparar o indivíduo para ser
capaz de adaptar-se constantemente a um meio ambiente dinâmico.
A ideia de significados compartilhados por Vygotsky encontra
fundamento em Piaget quando se entende que existe uma recíproca adaptação
de cada indivíduo ao significado de outro indivíduo, e o professor não deve
nessa troca ser um agente de simples transmissão de um saber objetivo aos
alunos, mas também estar pronto para ser transformado por e através deles. A
interação social de Vygotsky está em sintonia com a o diálogo investigativo
proposto por Piaget no entendimento dos significados pessoais de cada um, na
busca pelo entendimento do grupo a cerca do objeto de estudo, como também
das particularidades de cada agente ali envolvido.
Piaget muitas vezes mal interpretado como quem somente privilegia
a maturação biológica concorda com Vygotsky, em parte, da importância do
ambiente social. A diferença aqui é o peso que isto representa, dado que para
este último esta questão tem um caráter predominante. De igual forma é vista a
questão da construção do real pelo indivíduo, e neste ponto a divergência soa
ainda maior, dado que Piaget considera invariavelmente o indivíduo, e ele o
protagonista integral do processo, enquanto que para Vygotsky não se pode
31
esquecer que este indivíduo já nasce em uma sociedade e dela faz parte.
Outro ponto importante refere-se à linguagem e ao pensamento.
Enquanto Vygotsky (DUARTE, 2006) vê pensamento e linguagem como
processos interdependentes, desde o início da vida, dado que a linguagem
modifica as funções mentais superiores auxiliando o pensamento, a
imaginação, a memória e o planejamento da ação. Neste sentido, a linguagem,
conecta diretamente as crianças ao exterior, reorganizando os processos que
nele estão em andamento. Para Piaget que via o pensamento aparecendo
antes da linguagem, uma das formas de expressão, e que o pensamento
independe da linguagem, que só ocorre depois que a criança já alcançou um
determinado nível de habilidades mentais, subordinando-se então, aos
processos de pensamento, ficava claro o fato de que não se pode ensinar,
apenas usando palavras, é necessário entender a cadeia de eventos até que a
linguagem possa expressar com coesão o pensamento.
32
CAPÍTULO IV
A DIDÁTICA E O ENSINO SUPERIOR QUE
QUEREMOS
Conhecendo a sociedade atual, com suas inúmeras mudanças e
transformações sociais, sabendo que os acontecimentos se dão de forma muito
dinâmica, há que se destacar a presença da informática como um grande
exemplo e que afetam diretamente o processo de ensino e aprendizagem. Uma
reflexão que leva a crer que para a escola, há uma forte pressão sendo
exercida nos profissionais para a educação.
O perfil do educador vem se alterando porque a visão de mundo
está mudando e os professores de hoje, encontram-se insatisfeitos pela não
compreensão de todo este novo panorama social e educacional. Ou seja, a
sociedade mudou e a escola precisa a todo custo, mudar. Ser professor hoje
em nada se compara ao perfil que se desenhava para este profissional de vinte
ou trinta anos atrás.
O professor deverá valorizar seu aluno permitindo que o mesmo
avance em sua jornada do aprender, onde ele construa e reconstrua seu
conhecimento de acordo com sua habilidade e seu ritmo e, para isto, o uso de
novas ferramentas como as redes (GARCIA, 1997), poderão ampliar e
implementar uma nova dinâmica capaz de suprir essas dificuldades.
É importante entender que o construtivismo não é a única
ferramenta disponível, mas que se configura como um instrumento válido
quando ao pensar na autonomia do aluno, futuro profissional, ao qual se
pretende formar. Para isto, a relação professor aluno deve estimular o contato
deste aluno com o objeto do conhecimento, para permitir a real assimilação, e
assim, um ambiente construtivista.
33
A construção do conhecimento ocorre através da prática e da
pesquisa. O ensinar e o apreender só ocorrem quando se permite uma postura
investigativa, onde a teoria e a prática se associam em prol do bem comum.
4.1 O Ensino e a Avaliação
Um aspecto valioso está em mudar alguns paradigmas sociais.
Quando numa sociedade que não permite o erro, e o ser humano só é
valorizado pelo sucesso e acertos obtidos, a proposta é causar certa inversão
neste foco. Para o construtivismo o erro é uma importante fonte de
aprendizagem. O aluno aprendiz deve sempre questionar sobre as
conseqüências de suas atitudes e a partir de seus erros, ou mesmo acertos, ir
construindo seus conceitos, ao invés de servir apenas para verificar o quanto
do que foi repassado para o aluno foi realmente assimilado, como é comum
nas avaliações atuais. Neste contexto, a forma e a importância da avaliação
mudam completamente, em relação às práticas convencionais.
Sem entrar no mérito da avaliação propriamente dita, e da forma
como o construtivismo deve interferir nesta etapa do ensino, cabe ressaltar que
a forma como ela acontecerá também se configura como uma grande mudança
que o próprio sistema trabalhará por promover. É inegável a necessidade da
avaliação, seja como elemento do processo de construção do conhecimento,
seja como elemento de um projeto pedagógico, e que vem de encontro às
necessidades tanto do professor, como do aluno. Ao se buscar uma definição
para o tema (RODRIGUES, 1991, p. 79 in CARRETERO, 1997):
avaliar é verificar como o conhecimento está se incorporando
no educando, e como modificar a sua compreensão de mundo
e elevar sua capacidade de participar onde está vivendo." ou
ainda "avaliação é verificar como o aluno é capaz de
movimentar-se num campo de estudos e estimulá-lo, através
de uma reflexão conjunta sobre o que ele realizou, a encontrar
34
os caminhos do seu próprio desenvolvimento. (MELCHIOR,
1994)
Destacamos que no processo avaliativo algumas funções devem
estar presentes. A primeira delas se baseia na verificação, onde se observa o
aproveitamento, em seguida, a qualificação, que irá comparar e estabelecer os
resultados com os objetivos iniciais tratados, e por último o desempenho
propriamente dito, e neste processo, o olhar do professor é como um
observador a cerca dos acontecimentos pontuais e sistêmicos, mantendo o
interesse do grupo e também individual.
Piaget analisa a avaliação através de uma ótica onde a cooperação
e a operação requerem do professor uma série disciplina entre os
interlocutores para que não haja inércia e nem a coação da heteronomia.
A primeira é que os interlocutores estejam de posse de uma
escala comum de valores intelectuais, expressos por meio de
símbolos comuns unívocos...(de tal forma) que ambos possuam
a mesma chave permitindo traduzir noções de um dos
parceiros no sistema do outro...A segunda é a igualdade de
geral dos valores em jogo nas sucessões (entendida aqui como
igualdade de trocas) ..., (ou) dito de outra forma: a) acordo
sobre os valores reais ...”.b) obrigação de conservar as
proposições reconhecidas anteriormente...A terceira ... e a
possibilidade de retornar sem cessar às validades reconhecidas
anteriormente (PIAGET, 1973, p. 109)
Mauro Santayanna escreve em “A aventura da universidade”
(BUARQUE, 1994) que embora companheiras, conhecimento, saber e
informação são categorias independentes, e que além de dotados de
conhecimento e informação, o saber exige mais, posto que necessita associar
os dados recolhidos pela informação e o conhecimento e, formar sua própria
inteligência. Nesses versos, o que se percebe é que a universidade encontra-
se num espaço cômodo ao enclausurar-se num patamar elitizado, como se
estivesse à prova de qualquer abalo externo, cultuando um apego aos seus
35
dogmas internos, que a impedem de sair do lugar comum e aventurar-se por
novos caminhos.
4.2 O Cenário Atual
De certo que as mudanças precisam acontecer frente aos incidentes
fatos sociais marcados pelo avanço tecnológico vividos nesse último século,
que por sua vez não conseguiu eliminar a fome e a violência, muito pelo
contrário, aumentando ainda mais a desigualdade, além disso, a chamada
globalização, promoveu a integração entre os países numa grande miscelânea,
mas que ao fundo não integra a todos numa cultura, mas que também não os
identifica, e continuam estranhos uns aos outros. O crescente consumismo
promovido pelo capitalismo industrial só faz aumentar nas pessoas o
sentimento de vazio e a busca por novas necessidades que venham a suprir
tais lacunas, e assim, por outros meios a ciência não consegue entender essa
dinâmica em que a humanidade vive e está sempre deficiente em acompanhar
tamanha complexidade, como por exemplo, a briga constituída pelas minorias
em busca de seus direitos, tal como a redução da poluição, o feminismo, o
homossexualismo, a diversificação das religiões. Observa-se dessa maneira
que a busca pela diversidade aumenta a cada dia, diversificando os objetivos
sociais a que se destina o aprendizado, e que exige uma real regulação do
poder técnico-científico nesse contexto, dado que o homem por si só é incapaz
de conter toda esta cadeia de eventos. É necessário encontrar caminhos que
permitam a manutenção de um status de igualdade antes que de fato seja
implantada uma sociedade de total exclusão. Por isso, cabe a todos entender
que a universidade precisa e deve mudar.
A universidade deve agir de forma a aventurar-se em busca de uma
revolução de idéias com vistas a uma igualdade essencial com diversidade
para que volte a ser um instrumento de ruptura em prol da humanidade. Para
BUARQUE (1994), a universidade deve se valer da crise para vencer o medo
para lutar e ser uma instituição voltada para fazer avançar o pensamento.
36
Repare que apesar de focar este estudo na questão didática e
fundamentalmente no professor, jamais se poderá visualizar as questões se
isolar o professor daquilo que o cerca e da instituição e sociedade ao qual ele
pertence, e que apesar de tudo o que se tem apresentado não dependa
exclusivamente dele (professor), vale ressaltar que muitas das relações de
poder vividas neste meio passam por ele, seja em tempo, causa ou
conseqüência da realidade escolar. Um exemplo notório, ainda que se
constitua como um paradigma seja a própria desmotivação e desvalorização
deste profissional nos dias atuais, alterando seu empenho e compromisso na
transformação social, a qual ele mesmo atravessa em condição vitimada, dada
a forte ação político-econômica. Paulo Freire, 1975 diz:
A educação que se impõe aos que verdadeiramente se
comprometem com a libertação não pode fundar-se numa
compreensão dos homens como seres vazios, a quem o mundo
encha de conteúdos . . . mas sim da problematização dos
homens em suas relações com o mundo (FREIRE, apud
CUNHA, 1989, p. 30)
4.3 O Professor por si só
Considerando em um plano isolado a discussão a cerca da
valorização do profissional, da falta de apoio político e qualquer outra vertente
que comprometa o bom desempenho deste profissional e voltar a focar a
atenção exclusivamente no elenco de ações que ele pode desenvolver em
resposta à melhoria do ensino, retorna-se ao centro desta discussão. De volta
ao ponto principal, o professor é também o pesquisador, aliás o primeiro
pesquisador em uma sala de aula, pois a partir de sua investigação a cerca de
seus alunos é que se tem início a jornada do conhecimento que será
propagado nesse universo. A pesquisa, passa a ter então um papel menos
elitista e muito mais se incorpora como ferramenta cotidiana nesse ambiente, e
não mais um mito. Guardadas as devidas proporções, a pesquisa e o ensino
37
nesta ótica proposta, caminham juntos e estabelecem uma parceria
compartilhada entre professor e aluno.
O conhecimento do professor é construido no cotidiano, e leva em
consideração a vivência de dentro e fora da sala de aula, como a participação
em movimentos sociais, seja de ordem política, religiosa, sindical ou
comunitária. O uso da linguagem, expressão de tudo, traz à tona a
heterogeneidade dos discursos, que pode e deve ser vista como uma riqueza
que é um bom produto de uma construção histórica, fornecendo e gerando
uma gama de material no campo das pesquisas. Estes atos, servem como
partida para uma auto-reflexão sobre seu trabalho, reexaminando valores,
unindo teoria e fenômeno, isto é, prática. O que se configura em promover e
ser promovido em uma práxis construtivista, de assimilação e acomodação
constantes, como vistos em Piaget.
O que nos faz ser bons professores, ensinar bem ou formar
bons alunos? Estamos novamente diante de uma das
preocupações centrais dos professores. Até onde chega nosso
trabalho? Até onde chega nossa responsabilidade como
docentes e onde começa a responsabilidade dos estudantes?
Como conseguimos equilibrar o eixo disciplinar com o eixo
pessoal? (ZABALZA apud ENRICONE, 2008)
4.4 O Futuro
A universidade não pode ser concebida isolada dos problemas
vividos pela sociedade e a construção da identidade de seus
docentes está vinculada ao cenário mais amplo em que ela se
insere. (ENRICONE, 2008)
Notório que uma gama de problemas se instalaram nessas
instituições, questões de autonomia, de legitimidade, de formação
propriamente dita e que requerem a todo instante o compromisso com a
missão fundamental de educar. A começar pela formação do profissional que
38
deve instaurar uma identificação deste com o ser educador, dotado de amor
pela docência e empenho na educação do outro, estabelecendo vínculos entre
a teoria e a prática aproximando realidades, com práticas pedagógicas
concisas.
Piaget fala sobre a importância da interação entre o sujeito e o
objeto, e de alguma forma também da interação com o outro onde podem se
estabelecer um diálogo de cooperação e colaboração, e o professor se coloca
como mediador na construção do conhecimento. O aluno por sua vez será
envolvido a buscar, pesquisar e até mesmo questionar o professor e o
conteúdo. A postura deste professor deve ser a de não promover um discurso,
mas questionar e ser questionado na geração do conhecimento. Essa é a
atividade que reflete de forma crítica sobre a prática, e promove a
transformação pedagógica com vistas a emancipação de todos.
Neste cenário, o diálogo é imprescindível, e para isto, o ambiente
deve propiciar e reforçar essa ação, num clima democrático de escuta na
percepção do outro, instigando a curiosidade acadêmica numa pedagogia
interativo-dialógica, buscando formas alternativas de expressão do aluno,
como a elaboração de trabalhos com maior criatividade.
Ao centralizar o foco da aprendizagem no estudante caminha-se
para uma lógica de ensino, que redefine o papel do professor e mesmo ao se
considerar a aplicação das novas tecnologias e até do ensino à distância, não
invalida tal pensamento, posto que se pretende manter em algum nível uma
prática educativa e comunicativa que altere a rotina mecanicista do cotidiano
que é vivenciada nos cursos de graduação, dinamizando essa estrutura por
sucessivas reflexões dos papéis que são assumidos, e assim reinventar o fazer
pedagógico.
No mundo globalizado, tão alvo de críticas, é inegável que a massa
está incapaz de ir contra essa revolução, e como conseqüência destaca-se a
desvalorização do professor que é tido como um técnico executante de uma
visão muito instrumental, desprestigiando seu papel e sua autonomia,
acrescido de uma demanda cada vez maior de outras tantas habilidades que
39
reflitam ao fim em uma distorcida incompetência por não acompanhar a
complexidade ao qual está inserido, delineando a crise a qual passa a
educação.
A globalização em parte não contribui para a estruturação deste
profissional, que uma vez valorizado, teria campo para levar a termo a tarefa
de promover melhorias com um sentido realista e objetivo em relação a real
capacidade de seus alunos, interessando-se por eles, sendo compreensivo
ante as suas deficiências e estimulando um processo de auto-realização dele,
enquanto professor numa prática pedagógica, como também dos seus alunos.
Esta idéia fica explícita (ENRICONE, 2008) ao lembrar que no ensino superior
muitos buscam sua auto-realização, como também buscam uma auto-imagem
positiva e de aprovação pessoal e como resultado uma auto-estima fortalecida,
e o professor é um modelo de identificação para os seus alunos.
Essa identidade não é algo imutável, posto que para a profissão de
professor, a própria sociedade requer com freqüência novas demandas a cada
momento, dinamizando seu caráter pelas realidades sociais vividas em
contrapartida com aquilo que foi adquirido e consagrado na pratica
pedagógica, na formação de um novo significado. O momento é de reinventar
os saberes pedagógicos com base na prática social da educação, na prática
social de educar. Mais que nunca, é hora de se falar em contextualização e
multidisciplinaridade pela união dos saberes e da experimentação.
Não cabe neste estudo uma reflexão a fundo em discussões
paralelas e não menos importantes sobre a mudança do perfil universitário, o
qual merece outro estudo isolado dada a imensidão da questão, revelada pelo
novo perfil de alunos e as dificuldades geradas pela abertura de portas da
universidade onde se percebe: uma boa parcela de estudantes individualistas,
dotados de uma passividade em adquirir seus graus; à falta de disciplina e
dedicação com poucas horas de estudo; a falta real de capacitação para
ingressar no ensino superior, trazendo diversas lacunas do ensino básico e
médio; a falta de opinião crítica; além de em alguns casos, associar a vida
40
acadêmica à necessidade de trabalhar para prover o seu sustento ou custear
os estudos.
De acordo com a Conferência Regional de Ministros de Educação
em 1996, o aumento de professores universitários da década de 50 para a
década de 90 foi de quarenta vezes, o que atribui uma maior atenção ao
problema que foi discutido aqui ao longo deste estudo. Percebe-se então que o
problema começa a ter dimensões quantitativas, que geram preocupação ao
olhar com mais cuidado a qualidade da educação e, que vem favorecendo uma
busca mais intensa por cursos e formações que dêem suporte a este legado
papel do educador universitário.
Como medidas, é possível ver o crescente número de ofertas de
cursos de longa e curta duração, de caráter específicos, outros, em formatos
regulares de âmbito mais geral, o estímulo às tutorias, onde ao fim estejam
todos contribuindo a uma formação continuada, ao devido preparo, formação e
desenvolvimento do professor universitário, com aquisição de conhecimentos
sobre a sala de aula, o domínio de estratégias didáticas, o desenvolvimento de
habilidades, da estratégia em comunicação, em pesquisa, estudo de processos
avaliatórios, ética profissional, elaboração de planos e programas, estudo da
interferência cultural entre outras tantas modalidades (PIMENTA e
ANASTASIOU, 2008).
O avanço do ensino superior tem portanto, uma longa estrada a
trilhar no processo de construção contínua da identidade do docente através
da profissionalização, mediante a preparação pedagógica.
41
CONCLUSÃO
Este trabalho provocou o questionamento a cerca da atuação do
professor nas salas do ensino superior. Percebe-se no mundo atual que
quando um profissional autônomo leva para seus locais de trabalho ou
consultórios o título de professor, a identidade deste profissional parece
merecer maior significância, dada a valorização dentro deste contexto, porém
se falarmos exclusivamente da identidade profissional de um professor, essa
identidade parece menor dado que socialmente temos um desgaste desta
imagem. O saber científico é meramente tecnicista, e não tem por objetivo a
promoção profissional desta classe, e possui neste cenário suporte para a
manutenção deste status. Mudar o panorama desta visão requer admitir ao
professor uma postura diferenciada importante.
A necessidade de um embasamento didático nos professores do
ensino superior demanda esforços coletivos e pessoais, passando pela
regulamentação, papel do Estado, como também a colaboração das
instituições e dos docentes. Reconhecendo que muitos são os caminhos que
podem conduzir a este desenvolvimento, escolheu-se aqui a trajetória através
dos ensinamentos de Piaget, porque impõe uma responsabilidade a cada
indivíduo em assumir seu papel como participante ativo das transformações
desejadas no ensino. Mesmo que o foco seja o aluno, dentro da teoria de
Piaget, o professor desencadeia um papel primordial, como mediador, como
construtor do conhecimento, como um aprendiz na própria prática diária, e por
tantas outras características que foram aos poucos delineadas no decorrer
deste estudo.
Um detalhe importante na teoria de Piaget, e que veio a ganhar
apoio e suporte em outros autores, é a de que a educação deve ser vista como
algo que aplicado ao aluno não pelo que ele representa, mas pelo que ele pode
42
vir a ser, prevendo assim, a construção, o desenvolvimento, o envolvimento.
Nessa relação professor, aluno, pesquisa, aprendizagem, ficam muito mais
estreitados, sem barreiras, com permissão livre para que as trocas aconteçam
a todo o momento.
Mais que conhecimento, é esta relação, esta mudança de
paradigma, com maior visibilidade ao aluno neste contexto, que deverá passar
a educação caso se desejem o progresso e o ensino possa servir de forma
impactante na melhora da sociedade, e se aproxime as mudanças ocorridas
nos últimos anos.
O excesso de informação e dos meios disponíveis com o avanço da
informática parece se distanciar do conhecimento, palavras que a princípio
soam como sinônimas, mas que acabam por desencadear processos
diferentes dentro das salas de aula. Permitir a aproximação do aluno com seu
professor através das práticas de Piaget é provocar identificação, com o
facilitador das trocas que ao fim favorecem a autonomia dos alunos e do
profissional.
Independente da linha de pensamento ou das bases de autores pela
qual o professor utiliza embasando sua didática, é de suma importância que
sejam associadas ao conteúdo disciplinar e incorporadas em sua práxis. Desde
que haja tal junção, o conhecimento apreendido pelo aluno pode se transformar
em um objeto de manipulação freqüente, como uma verdadeira ferramenta pela
qual, uma vez capacitado, é possível haver sucessivas construções,
estabelecendo relações com o mundo em que vive, participando ativamente de
sua transformação, pois enfim o aluno reflete e toma posso daquilo que busca
numa universidade, o conhecimento.
43
BIBLIOGRAFIA:
BALDINO, J. M. Educação Superior no Brasil: Considerações a Propósito
da Formação do Professor Universitário. Revista Educação Ativa, vol. 4.
Universidade Católica de Goiânia, 2001.
BENEDITO, A. V. FERRER, V. e FERRERES, V. La Formación Universitária
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BUARQUE, C. A Aventura da universidade. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
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46
ÍNDICE
EPÍGRAFE 03
AGRADECIMENTOS 04
DEDICATÓRIA 05
RESUMO 06
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPITÚLO 1
Analisando a Educação 11
1.1 A educação e as leis 11
1.2 Uma história da educação 14
CAPÍTULO 2
As Bases de Piaget 17
2.1 Estágios de desenvolvimento 17
2.2 Coação e cooperação 20
2.3 Processo de assimilação e acomodação 21
CAPÍTULO 3
Justificando Piaget 23
3.1 Formação de professores 24
3.2 A escola piagetiana 28
3.3 Piaget e Vygotsky 30
CAPÍTULO 4
A Didática e o Ensino Superior que queremos 32
4.1 O ensino e a avaliação 33
4.2 O cenário atual 35
4.3 O professor por si só 36
47
4.4 O futuro 37
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA 43
ÍNDICE 46