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A CONTEMPLAÇÃO DA PAISAGEM COMO POSSIBILIDADE DE LAZER NA CIDADE: um olhar sobre a orla de Vitória (ES)
FREIRE, ANA LUCY OLIVEIRA
Universidade Federal do Espírito Santo-UFES. Departamento de Geografia/DEGEO/CCHN
Rua Guaracy de Oliveira Assis, 100, apto. 401, Vitória – ES, CEP: 29050160 [email protected]
RESUMO
O trabalho tem como objetivo principal discutir e analisar as relações entre a cidade e o lazer, através da possibilidade de contemplação da paisagem. Além disso, pretende localizar e identificar lugares dotados de paisagens naturais e culturais urbanas, tais como praias, morros, baías, enseadas, mangues e patrimônios históricos construídos enquanto parte da identidade cultural local, os quais tendem a desaparecer face aos projetos públicos e privados de urbanização de Vitória (ES). Metodologicamente as bases teóricas que discutem a cidade, a urbanização e os debates teóricos sobre o lazer suscitaram o diálogo da Geografia com outras ciências. O olhar fenomenológico que emerge sobre a paisagem está baseado em debates no âmbito da Geografia Cultural. O levantamento de material qualitativo e quantitativo, os trabalhos empíricos, a descrição analítica dos recortes espaciais e a sistematização de informações, compõem o leque de ferramentas e a operacionalização do trabalho que teve como foco central a orla leste da cidade.
Palavras-chave: Cidade; Lazer; Contemplação; Paisagem.
4º COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
INTRODUÇÃO
Uma das manifestações da presença de relações mercantis nos espaços-tempos da vida na
cidade é o enfraquecimento ou a ausência de relações de sociabilidade, da humanidade do
ser social, das suas necessidades humanas e culturais. Daí a perda de urbanidade. Discutir o
processo que incorre na perda desta urbanidade é fundamental e nos remete a pensar na
perda do valor de uso da cidade dotada de lugares e paisagens-referências, um instrumental à
disposição da pessoa na busca do controle do espaço e do tempo, estes dominados e
submetidos ao processo produtivo.
Segundo Carlos (1992), a ausência de uma convivência, de relações entre pessoas, da
indiferença para com o outro, da impossibilidade de diferentes usos do espaço, sinalizam essa
perda de urbanidade, mas também nos remete a pensar qual a natureza da cidade hoje. Nela
ainda há lugar para o homem criativo ou ele tomou-se um simples produtor e consumidor
mergulhado num cotidiano pobre? Há lugar para um tipo de lazer que adiciona momentos de
reflexão, um tempo de contemplação da paisagem que se volte para o processo criativo do
homem?
É pretensão desse trabalho, o qual é parte de uma pesquisa maior, apontar como é possível
um tipo de lazer feito de momentos de celebração do encontro do ser humano com a natureza,
um tempo para si próprio, vislumbrando que esse sujeito possa sentir-se parte do mundo
enquanto seu habitat, inclusive uma paisagem que tem as marcas de sua identidade cultural.
Vitória (ES) é o nosso recorte espacial, sobretudo a orla leste da cidade.
Metodologicamente as bases teóricas que discutem a cidade, sua paisagem e o lazer
suscitaram o diálogo da Geografia com outras ciências. O olhar fenomenológico que emerge
no texto sobre a paisagem está baseado em revisões bibliográficas sobre o tema. Recorremos
a trabalhos sobre Vitória (ES) já transformados em clássicos acerca da paisagem natural e
cultural enquanto marcas do espaço, em especial acerca da sua orla.
A operacionalização quando ao trabalho empírico se deu através de depoimentos de
moradores, observações e análises descritivas de lugares e imagens que esclarecem os
apontamentos e afirmações sobre o desaparecimento e a invisibilidade de alguns cenários da
cidade. O levantamento de material quantitativo, a descrição analítica dos recortes espaciais e
a sistematização de informações, compõem o leque de ferramentas usadas neste trabalho.
4º COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
A CONTEMPLAÇÃO DA PAISAGEM: OUTRO LAZER A PARTIR DAS
MARCAS NATURAIS E CULTURAIS NA/DA CIDADE
Considerando que paisagem é objeto de estudo de várias áreas do conhecimento, que
compõe o quadro teórico-metodológico de várias ciências, que dentro de algumas ciências há
uma diversidade de visões acerca da mesma e que possibilita amplas e ricas interpretações
no senso comum, faz-se necessário dizer que a perspectiva de entendimento desse termo de
análise que se segue, buscou o uso e o debate da categoria no âmbito do processo de
renovação do pensamento geográfico intitulado de Geografia Humanista ou, para alguns,
Nova Geografia Cultural que se desenvolveu ao longo dos anos de 1970 e 1980 (HOLZER,
1996).
A perspectiva de compreensão da paisagem no seio do pensamento da Geografia Humanista
tem como referências trabalhos clássicos de Claval (1997; 2002), Holzer (1996), Coscroge
(1998), Meinig (2002), Berque (1998), Besse (2014) e outros. Estes geógrafos trouxeram da
psicologia, da antropologia, da sociologia e da filosofia contribuições relevantes aos estudos
dedicados às vivências, experiências e práticas socioespaciais do homem, à cultura, à
paisagem humanizada, ao consciente e o inconsciente, ao objetivo e o subjetivo, à poética do
espaço, à sinergia homem-natureza, ao simbólico nas paisagens e ao existencialismo (ou à
fenomenologia existencialista como método).
Cosgrove (1998, p. 98), dá pistas acerca deste tema tão controverso no que tange a uma idéia
precisa sobre a paisagem, mas que na Geografia se aceita o papel que a mesma
desempenha: dar unidade a esta ciência.
A paisagem sempre esteve intimamente ligada, na geografia humana, com a cultura, com a idéia de formas visíveis sobre a superfície da terra e com a sua composição. A paisagem, de fato, é uma maneira de ver, uma maneira de compor e harmonizar o mundo externo em uma cena, em uma unidade visual.
Em estudos geográficos clássicos sobre a paisagem nota-se a certeza de que a paisagem é
composta de elementos físicos/naturais e culturais/sociais. Ou como diz Sauer (1998, p. 29),
“o conteúdo da paisagem é feita de fatos de base física (os recursos naturais que o homem
tem à sua disposição) e fatos da cultura humana (as marcas da ação do homem)”.
A abordagem pela Geografia sobre a interação entre paisagem e cultura se desenvolve, na
Europa, com os trabalhos clássicos de Vidal de La Blache acerca da noção de gênero de vida
e, nos Estados Unidos, a partir dos trabalhos de Carl Sauer sobre formas físicas e culturais
compondo uma paisagem, o qual escolheu o vasto meio-oeste americano como campo de
estudo empírico (Holzer, 1996).
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Há tempos o interesse e os estudos da paisagem na ciência geográfica têm relação com a
ação da cultura, das dinâmicas humanas sobre o meio natural.
Segundo Corrêa (1998, p. 9):
Como um dado geográfico, a paisagem é reveladora de práticas (sociais, econômicas, culturais e políticas) e traços culturais, de tradições, de símbolos, de elementos da história, da expressão de sentimentos de moradores em relação a um lugar, que pode ser um bairro, um “pedaço” da cidade, uma região, uma área delimitada e outras escalas espaciais, onde o homem é parte fundamental na composição desta paisagem.
Manifestam-se nela o movimento e a dinâmica cotidiana do lugar, envolvendo relações de
uso, relações de apropriação, de inúmeras atividades que compõem um cotidiano feito de
práticas da vivência diária dos indivíduos. Para Tuan (1980, p. 158): “a partir de dois ângulos
diversos de visão: a vertical, objetiva que tem a paisagem como domínio que viabiliza a vida
humana; a lateral, subjetiva que considera a paisagem enquanto espaço de ação ou
contemplação”.
Desde os anos de 1970, superações e transformações relevantes vêm ocorrendo no
pensamento geográfico acerca da noção de paisagem. Símbolos, marcas, signos,
movimentos do cotidiano e identidades passam a fazer parte de novas abordagens culturais,
sobretudo quando se trata de imprimir às paisagens diversas subjetividades humanas. Nas
palavras de Cosgrove (1998, p. 99),
A paisagem está intimamente ligada a uma nova maneira de ver o mundo como uma criação racionalmente ordenada, designada e harmoniosa, cuja estrutura e mecanismo são acessíveis à mente humana, assim como ao olho, e agem como guias para os seres humanos em suas ações de alterar e aperfeiçoar o meio ambiente.
Para Simmel (citado por BESSE, 2014 p. VIII), a contemplação da paisagem provoca
inquietação, uma experiência que chega a ser violenta, “um sentimento de pertencer a um
Todo (o sentimento da grande natureza)”. Em A Filosofia da Paisagem, Simmel (2009, p. 6),
traz a pertinente discussão acerca do par natureza e paisagem, deixando claro que é
contraditório olhar a natureza como uma totalidade (o Todo) do qual faz parte a paisagem
como uma parte; “um pedaço da natureza”. Para ele, “a natureza não tem fracções; é a
unidade de um todo, e no momento em que dela algo se aparta deixará inteiramente de ser
natureza”; uma unidade sem fronteiras. O que demarca é o olhar um horizonte momentâneo
ou duradouro, até porque não é possível a vista abarcar a infinitude. Para Simmel (2009, p.
11):
Quando realmente vemos uma paisagem, e já não uma soma de objetos naturais e outros, temos uma obra de arte in statu nascendi. E se, muitíssimas vezes, perante as
impressões de uma paisagem, ouvimos os leigos dizer que gostariam de ser pintores, isso significa decerto não só o desejo de fixar uma reminiscência, mas também que em nós, já nessa contemplação, está viva e se tornou operante, por imbrionária que seja, a forma artística, a vontade de criar.
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A paisagem é dotada de elementos (naturais e sociais/culturais) capazes de envolver as
pessoas pela experimentação das sensações impressas nas formas, nas cores, na dinâmica
dos seus movimentos, nos cheiros, nos sons e na aura presente na infinitude, na
grandiosidade ou simplesmente na beleza. Kozel (2012, p. 67), citando Simmel, diz que a
paisagem seria o resultado da contemplação, primeiramente no sentido óptico e em seguida
espiritual da natureza, correlacionando os diversos objetos e a imaginação subjetiva dos
mesmos. Ou, como escreve Dardel (2011, p. 31),
A paisagem se unifica em torno de uma tonalidade afetiva dominante e envolvente, perfeitamente válida ainda que refratária a toda redução puramente científica. Ela coloca em questão a totalidade do ser humano, suas ligações existenciais com a Terra, ou, se preferirmos, sua geograficidade original: a Terra como lugar, base e meio de sua realização. Presença atraente ou estranha, e, no entanto, lúcida. Limpidez de uma relação que afeta a carne e o sangue.
A contemplação proporciona a imaginação, a inquietude, a reflexão e a renovação do ser
humano, resgatando a criatividade artística que toda pessoa guarda em si, a ludicidade, a
energia e a consciência do estar no mundo. Nas palavras de Kozel (2012, p. 69), “é por meio
da paisagem que os elementos que integram no espaço saltam aos olhos do ser humano,
gritam aos seus ouvidos, e envolvem-no nas suas dimensões sensíveis”.
A paisagem urbana, em especial aquela da grande cidade, revela comumente uma confusa e
complexa organização espacial da produção do espaço urbano (CARLOS, 1992). Ali se
misturam coisas, pessoas, ruas em movimento, obras em andamento, ruídos de toda ordem,
conflitos, trânsito caótico, etc. Do ponto de vista do que não é visível e percebido através da
paisagem e das imagens e do que está ao alcance dos olhos – a essência das relações –
estas representam outra dimensão do processo de produção do espaço urbano.
A cidade apresenta-se através da paisagem urbana como um espaço complexo e desigual
evidenciado pelos diversos usos e possibilidades de usos conforme os interesses, as
necessidades sociais e econômicas dos indivíduos, a exemplo da demanda, do acesso e da
busca pelo lazer que difere conforme a classe social.
Frequentemente, no mass media, a palavra lazer foi associada (e continua sendo), a atos,
práticas, atividades e experiências opostas ao trabalho e às obrigações, significando
momentos muito específicos do cotidiano, relacionado às demandas da população por
espaços e equipamentos, ligada a uma sociedade de consumo com hábitos supérfluos,
reduzida, enfim, a visões parciais e sem aprofundamentos.
Quais outros lazeres são possíveis? Qual liberdade de escolha do lazer nos dias atuais? Qual
tempo e espaço, de fato, o homem tem para usufruir em prol de uma vida mais humana e
como cidadão? Um olhar sobre a realidade cotidiana urbana possibilita pensar nestas
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questões as quais fundamentam outra pergunta: que tipo de lazer na cidade, sobretudo em
grandes cidades, escapa da mediação do mercado – como mercadoria pronta a ser
consumida -, ou de tudo aquilo que está relacionado a alguma atividade, seja de descanso ou
compensação do trabalho?
Dumazedier (1973, p. 34), assim conceitua o lazer:
O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
Fundamentado em Dumazedier, Marcellino (1996, p. 14) afirma o seguinte: “além do
descanso e do divertimento, outra possibilidade ocorre no lazer, e normalmente, não é tão
perceptível. Trata-se do desenvolvimento pessoal e social que o lazer enseja”.
No rol das novas perspectivas sobre o lazer, Gomes (2004; 2014) joga um papel importante,
desenvolvendo e aprofundando discussões no sentido de repensar clássicas contribuições de
estudiosos acerca do tema, como também no sentido de construir novas abordagens que
levem em conta as atividades lúdicas, as práticas culturais, o tempo, a atitude e o
espaço/lugar.
Mais recentemente, Gomes (2014) reforça a abordagem que concebe o lazer como uma
necessidade humana e dimensão da cultura, alargando a idéia de que é preciso superar o
entendimento do lazer como algo oposto ao trabalho, como um tempo livre das obrigações ou
como ocupação do tempo livre. Tanto quanto as necessidades de subsistência, proteção,
afeto, entendimento, participação, criação, identidade e liberdade, o lazer é uma necessidade
humana fundamental que pode ser satisfeita de várias formas através das práticas culturais.
Refletir sobre tais questões exige pensar a liberdade, ou melhor, a ausência de liberdade de
escolhas dos sujeitos enquanto cidadãos. Em seu clássico livro O Espaço do Cidadão, Santos
(1987, p. 7) ilumina muito o entendimento acerca da cidadania incompleta no caso do Brasil,
assim analisada e caracterizada por ele, especialmente porque tratar-se-ia de um projeto para
formar consumidores e não cidadãos de fato. Cidadania é parte de um verdadeiro projeto de
democracia que não abre mão da desalienação, do resgate da individualidade e da liberdade,
etc., assim como os direitos básicos, como o morar, o lazer, o direito ao entorno do morar que,
para Santos, é tão importante para a existência do cidadão. Em suas palavras (1987, pp.
47-48),
E o direito ao entorno? Ele está nos livros e nos discursos públicos oficiais, mas ainda está longe de uma implementação. Quer dizer, por exemplo, das mudanças brutais que se operam na paisagem e no meio ambiente, sem a menor consideração pelas pessoas? E o direito aos espaços públicos, típicos da vida urbana tradicional? Hoje, os espaços públicos (praias, montanhas, calçadas, etc.) foram impunemente privatizados. Temos de comprar o ar puro, os lagos, os rios, os bosques, os planos de
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água, enquanto se criam espaços privados publicizados, como os playgrounds ou, ainda mais sintomático, os condomínios fechados que a gente rica justifica necessários à sua proteção. O lazer na cidade se torna igualmente o lazer pago, inserindo a população no mundo do consumo. Quem não pode pagar pelo estádio, pela piscina, pela montanha, pela praia e o ar puro, pela água, etc., fica excluído do gozo desses bens, que deveriam ser públicos, livres, porque essenciais.
Sobre a democracia capenga no nosso país, Marcellino (1996, p. 62) enriquece mais ainda o
debate acerca da ausência e da perda de espaços urbanos, os quais poderiam ser
contemplados pelos moradores como lazer, especialmente as áreas que guardam um
patrimônio natural. E diz: “o empobrecimento da paisagem urbana que vem se verificando
como consequência do crescimento desordenado, praticamente anula a gratificação pela
contemplação dos espaços urbanos”.
A contemplação da paisagem de forma espontânea, desinteressada e não mediada pelo
mercado, é pensada aqui como possibilidade de lazer “livre”, que não seja útil – no sentido da
utilidade/atividade - à sociedade, e sim que agregue valores cuja finalidade última é a
realização humana mais ampla e uma vida mais digna. No entanto, quando se trata de
“liberdade de escolha”, isto é, a experiência e a vivência com potenciais de criatividade para
fins de desenvolvimento do próprio ser humano, o estado, os governantes e a sociedade civil
em geral não debatem e não ampliam o tema, dando-lhe maior importância.
Há muito a filosofia tem na contemplação da paisagem natural (da natureza) inspiração para
refletir sobre grandes e profundas questões, especulações e pensamentos sobre a vida, sobre
a pessoa, sobre o mundo, sobre a existência, sobre a razão e a emoção, etc. Para os filósofos
pré-socráticos o exercício habitual da contemplação e meditação (qualidades unicamente
humana) leva o ser humano a refletir sobre a natureza humana com um grau de lucidez maior
para que o sujeito tenha consciência do seu lugar no mundo. No caso de Vitória, nosso objeto
de estudo aqui, após décadas de urbanização, a cidade ainda guarda “pedaços” e lugares
considerados patrimônios naturais e culturais pelos moradores, mas que, no entanto, o
próprio modo de vida urbano imponha um cotidiano que dificulta ou anula a apropriação e
ampliação de usos destes lugares.
PAISAGENS NATURAIS E CULTURAIS COMPROMETIDAS PELA
URBANIZAÇÃO MODERNIZANTE DA ORLA LESTE DE VITÓRIA
Embora o item anterior já tenha apontado uma discussão acerca da paisagem enquanto
categoria de análise no âmbito da Geografia é importante reafirmar de que paisagem estamos
tratando. Ou seja, pensando no lazer, dado que estamos associando a paisagem ao caráter
contemplativo que a mesma possibilita, pretendemos destacar o seu conteúdo natural sem
esquecer a importância do cultural, incorporados em lugares dotados de significados que
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ajudam a dar sentido à existência do homem; que se coloca à disposição para a experiência
do olhar contemplativo – um momento de lazer - como uma via possível do ser humano sentir
que ele faz parte do mundo.
Para Besse (2014, p. 82),
Qual é então esse mundo que a humanidade moderna teria perdido e que a paisagem nos restituiria, esse mundo com o qual, graças a ela, nós poderíamos ficar em contato? A função da paisagem se precisa então: ela permite manter uma relação viva entre o homem e a natureza que o envolve imediatamente. A paisagem desempenha o papel da mediação que permite à natureza subsistir como mundo para o homem.
Em Geografia, a paisagem natural diz respeito a uma forma física, e a paisagem cultural é
resultado de ações e fatos da cultura humana. Contudo, não é tão fácil dissociar uma da outra,
uma vez que os elementos físicos e culturais se unem, isto é, há um emaranhado de relações
recíprocas que ocorrem numa paisagem entre o homem e a natureza. Assim dito,
comumente, formas físicas (montanhas, morros, colinas, praias, etc.) carregadas de
simbolismos e referências de determinado grupo cultural compõem uma paisagem cultural.
Sauer (1998, pp. 29; 59), clássico estudioso da paisagem em Geografia, reforça a afirmação
anterior dizendo:
A Geografia baseia-se, na realidade, na união dos elementos físicos e culturais da paisagem […]. A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um grupo cultural. A cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem cultural é o resultado das ações e dos fatos de ordem natural e cultural.
Klug (2009) realizou um belo trabalho de pesquisa acerca do potencial da paisagem de Vitória
intitulado “Vitória: Sítio Físico e Paisagem”, obra que se tornou uma referência quando se
discute as mudanças paisagísticas naturais da cidade, além de chamar a atenção sobre a
pouca valorização destas paisagens, seja pelos poderes privados ou pelas parcas políticas
públicas em prol do usufruto coletivo das mesmas na vida cotidiana dos citadinos.
Outra referência importante nesse sentido encontra-se em Monteiro (2008). Em “Vitória:
Cidade e Presépio”, o autor busca identificar a cidade pelos seus traços naturais e culturais,
destacando o poder simbólico da natureza da cidade, relacionando-a uma síntese da
paisagem regional e nacional. Busca assimilar o pequeno núcleo urbano espremido entre o
mar e as montanhas ao de um presépio que proporciona aconchego.
Não menos importante enquanto referência, o livro “Cidade Prospectiva: o projeto de
Saturnino de Brito para Vitória” (MENDONÇA et al., 2009), contribui em muito no
entendimento acerca do projeto urbano de cunho positivista realizado para Vitória do final do
século XIX. Neste projeto urbanista embora as preocupações sanitárias ocupassem lugar
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principal, os monumentos naturais, sobretudo os morros, receberam atenção especial e
artística (o “pinturesco”) no desenho geométrico da cidade.
Na instância da cidade, a experiência do pinturesco se dá pela idéia de sucessão de quadros emoldurando a paisagem, acentuada por um percurso que se fragmenta em vistas pinturescas e que seleciona pelo olhar exatamente o que da paisagem se destaca […] O pinturesco integra o indivíduo no ambiente natural, fazendo deste espaço um espaço de vida social (MENDONÇA et al., 2009, p. 66).
Nesse sentido, quando se trata de paisagens e cenários naturais no caso de Vitória (ES), salta
aos olhos uma sequência de áreas entrecortadas por pequenos morros, maciços rochosos
maiores, enseadas, ilhas, canais por entre mangues e pequenas praias. Todas essas
características naturais proporcionam olhares de admiração, criam condições para belas
fotografias e momentos de lazer ao contemplar “pedaços” da cidade que ainda resistem.
PAISAGENS ESCONDIDAS PELA URBANIZAÇÃO INCESSANTE NA
ORLA LESTE DE VITÓRIA (ES)
A citação a seguir nos remete a um panorama ou um cartão postal onde sobressai a beleza
natural de Vitória em outros tempos. Paisagens naturais compostas de baías, braços de mar,
ilhas, morros e mangues, os quais se transformaram em referência cultural para a sociedade
local. A orla da cidade guarda grandes diferenças de ordem natural e tantas outras
disparidades de ordem social, o que a torna interessante para o desenvolvimento de trabalhos
de pesquisa, a exemplo do que nos propomos a realizar.
Um gracioso arquipélago se revela após a curva. Como um pequeno presépio sobre a pequena baía. Num lento e doce movimento. Como os grandes navios. E as pequenas catraias. Em harmonia, as pequenas ilhas protegidas. Pelas águas do canal. Pelos morros junto à baía. A ilha da Fumaça quase tangente. As demais, pequeninos e delicados montículos. Mirando a pedra Penedo, guardiã eterna da Cidade antiga (MONTEIRO, 2008, 178).
No caso de Vitória, a sociedade local é privilegiada, posto que ainda guarda muito do
patrimônio natural que a cidade dispõe, o que se comprova num lace de vista por sobre ela
(ver figura 1). O maciço central, onde hoje se localiza o Parque da Fonte Grande, reserva
natural no meio da cidade, é também a marca que divide socialmente Vitória entre o leste e o
oeste. As duas baías: a Espírito Santo, oferecendo a orla de Camburi, e a baía de Vitória,
dotadas de pequenas enseadas, mangues, praias e ilhas comprovam a sorte dos moradores
em viver próximo de cartões postais da natureza.
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Figura 1: Panorama aéreo da Ilha de Vitória
Fonte: disponível em www.cce.ufes.br, acesso em 30/01/2016.
Nesse sentido, é inspirador o que diz Marcellino (2007, p. 18) acerca de um possível lazer
contemplativo nas cidades, dotadas de patrimônios culturais (materiais e imateriais) e
naturais/ambientais:
Na vida diária, para a maioria da população, a bela cidade constitui o equipamento mais apropriado para que o lazer possa se desenvolver. É aí, onde se localizam os grandes contingentes da população, que a produção cultural pode ser devidamente estimulada e veiculada, atingindo um público significativo […]. O crescimento desordenado, a especulação imobiliária, enfim, uma série de fatores vem contribuindo para que o quadro das nossas cidades não seja dos mais promissores, quer na defesa de espaços, quer em termos da paisagem urbana, quando se fala da contemplação estética. Em nome da economia e da funcionalidade, muito se tem feito “enfeiando” a paisagem urbana.
A partir dos anos de 1980, muitas obras de urbanização e, sobretudo a intensificação da
verticalização desenharam uma outra cidade, obstruindo a geografia natural de Vitória.
Segundo Andrade (2011, p. 70), a cidade tem uma geografia particular, um arquipélago com
vários maciços de pedra que arrancam do território plano.
Um exemplo de patrimônio cultural material que compõe a paisagem cultural do centro da
cidade é a monumental ponte de ferro Florentino Ávidos, cujas estruturas foram importadas da
Europa no início do século XX. Inaugurada em 1928 e composta de 07 (sete) vãos, um ligava
o braço de mar da Vila Rubim à Ilha do Príncipe, dando origem à Ponte Seca, e os outros 06
(seis) vãos ligam Vitória à Vila Velha. Motivo de orgulho e de admiração do seu lugar na
paisagem urbana em outros tempos, a ponte hoje é abstraída pelos que ali passam e não a
veem.
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Figura 2: Ponte Florentino Ávidos
Fonte: acervo da autora da PMV (2014)
A verticalização de Vitória já era uma realidade na área central nos anos de 1960, e se
expande para outros bairros da orla leste a partir da década de 1970. A quantidade de prédios
e, por conseguinte, o adensamento se amplia à medida que os intensos aterramentos de
áreas, em especial mangues e enseadas, se multiplicam criando solo urbano, concomitante
ao desaparecimento de ilhas, istmos e praias incorporados ao espaço da cidade.
Algumas ilhas da cidade foram ocupadas por condomínios residenciais voltados para classes
de alto poder aquisitivo, outras por clubes esportivos e instituições públicas, e apenas
algumas pequenas ilhas permanecem “vazias”, porém abandonadas e não possibilitam
acesso para usos diversos aos citadinos (ver figura 3).
Na Praia do Canto tudo parece no lugar: os prédios altos construídos, as praias e enseadas também construídas. Tudo parece justo, valendo-se do que já havia. Duas pequenas baías, duas praias, algumas pequenas ilhas. O mar delimitado, definido, também emoldurado. Dum lado e do outro, varandas generosas: todos admirando as enseadas e os bairros-ilhas. Os prédios veem as casas das praias. As casas veem os prédios das ilhas. Parecendo haver tudo neste pequeno canto de morar: praças ajardinadas, recantos para jogos, lazer, e namoros, feiras no fim de semana. Mas se todos querem estar ali, quem vai olhar, do morro, o lado outro da cidade? (MONTEIRO, 2008, P. 174).
Figura 3: Ilha do Frade – bairro-ilha com casas de alto padrão
Fonte: acervo da PMV (2013)
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Até os anos de 70 (década de 1970), os passeios pela orla da Praia do Canto para apreciar as belas paisagens da praia e das ilhas era o programa predileto dos moradores daqui do bairro. Ainda era possível ir até as ilhas e aproveitar as pequenas praias atravessando de barco, muitos nadavam, praticavam natação, remavam pelos clubes de remo, porque não havia casas, pontes e a confusão que há hoje (Dona Lourdes Teixeira, antiga moradora do bairro Praia do Canto).
A verticalização ocorrida nos bairros litorâneos Enseada do Suá e Praia do Canto desde os
anos 1980 até os dias atuais, comprometeu o acesso à visão de vários morros, o
desaparecimento de ilhas, pequenas praias, mangues e enseadas. Assim, os edifícios
passaram a ser cada vez mais altos objetivando obter a tão sonhada “vista definitiva para o
mar”, em detrimento de esconder alguns monumentos naturais e culturais da cidade. É o caso
dos inúmeros morros e maciços graníticos.
Logo após a pequena ponte do canal da Passagem, um outro corte no território se dá no percurso, só que agora dentro da ilha. A reta da Penha faz nosso olhar ousar diretamente sobre o morro e o convento do outro lado do canal da baía, em Vila Velha […] Diante da contemplação do outeiro, apresenta-se uma bela visão. O morro, por sua vez, nos faz recordar o sistema de morros que predominavam na cidade: Gameleira, Jaburuna, Itapenambi, do Cruzeiro, Barro Vermelho e outros. Os novos prédios, porém, ajudam a escondê-los (MONTEIRO, 2008, P. 185).
A aglomeração dos grandes prédios já não possibilita mais apreciar os monumentos naturais
da cidade. É o caso de morros na Praia do Canto, na Enseada do Suá e outros bairros da orla
leste. O Morro do Cruzeiro, um dos mais conhecidos, encontra-se cada vez mais escondido
pelos edifícios no seu entorno e o acesso é impedido. “O cruzeiro ali existente, que antes
podia ser contemplado do mar e de diversos pontos da Praia do Canto, passa a ser cada vez
menos visível”, diz Mendonça et al. (2009, p. 106) (ver figura 4).
Figura 4: vista aérea dos bairros Praia do Canto e Enseada do Suá: morros escondidos e ilhas
ocupadas.
Fonte: Jornal A Gazeta, 08/09/2014.
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A baía de Vitória, especialmente o canal principal onde se concentram as instalações
portuárias atraía àqueles que, desde a infância, tinham o hábito de apreciar o vai-e-vem dos
navios, além de pescar a partir do calçadão/alambrado, o que diminuiu muito em razão do
caos urbano no Centro. Ali, o maciço rochoso denominado Morro do Penedo, juntamente com
várias ilhas e pequenos morros ao longo da orla central, fazem parte da fisiografia da cidade e
são “monumentos” naturais e parte da identidade local, mas trata-se de cenários
comprometidos pelos desdobramentos da urbanização e do desenvolvimento econômico do
estado, já que as instalações portuárias intervêm cada vez mais nesta área, dragando a baía
e ampliando os equipamentos do porto.
Eu costumava vir aqui todos os dias no final da tarde para apreciar o movimento das catraias, trazendo e levando passageiros de Vila Velha e de Vitória, atravessando a baía […]. Hoje não tem mais ninguém fazendo esse percurso, acabaram com os catraieiros […]. Quase não há pescadores nem banho de mar, atravessar a avenida é muito perigoso. Então, não podemos mais ter estas distrações, mas mesmo assim ainda é lindo ver o Penedo. (Dona Carmen, moradora do bairro Ilha de Santa Maria desde os anos de 1970).
As intensas intervenções na baía em prol da dinâmica do porto, a poluição, o trânsito intenso,
o assoreamento, junto com a verticalização da área central, tem comprometido um melhor
aproveitamento da orla no Centro pelos moradores. Pescar, navegar, sentar e pintar, além de
passear ao longo e na baía fazia parte do cotidiano, práticas de lazer que vêm diminuindo, o
que se percebe no fluxo de frequentadores, sobretudo nos finais de semana.
Ao longo da orla de Camburi foram construídos três píers (para alguns simplesmente
quebra-mar), no intuito de amenizar problemas sérios de erosão causados após a construção
de instalações portuárias que atendem o complexo de pelotização de minério de ferro e as
exportações da Companhia Siderúrgica de Tubarão-CST e da Vale do Rio Doce. Estes píers
foram apropriados pelos moradores da cidade e se transformaram em espaços para pescar,
mergulhar, passear e, principalmente, pontos de onde se tem vistas privilegiadas do mar, da
praia, dos morros e das montanhas que já não aparecem como antes atrás da cidade.
Segundo um morador de Vitória, entrevistado nesta pesquisa,
Todos os finais de semana é comum um grupo de amigos, junto com os filhos, passarem a manhã pescando no píer de Iemanjá. Trazemos as varas, iscas, lanche e isopor com água e gelo. Das pedras lançamos as varas e esperamos por horas, mas às vezes não tiramos nada da água. O bom mesmo é ficar aqui pegando o vento, observando o movimento, olhando a praia, as pequenas ilhas, os pequenos barcos de pesca que saem do canal de Camburi, os pássaros, vendo as horas passar (Raimundo Elias, 56 anos, morador do bairro Itararé).
Na orla leste, em Camburi, destacamos a subtração parcial da paisagem de diversos morros
próximos e daqueles mais distantes, a exemplo de uma das referências naturais de Vitória: a
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vista do maciço Mestre Álvaro, um dos mais altos em toda a região metropolitana (ver figura
5).
Figura 5: panorama da Praia de Camburi. Atrás dos prédios o maciço Mestre Álvaro
vai sumindo.
Fonte: acervo da autora (2015)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que o lazer em todas as suas dimensões e manifestações é objeto de reflexão
ainda pouco estudado ou de fraco interesse por parte da Geografia. Antes dos anos de 1980,
quando o tema era pesquisado prevalecia a sua relação com o turismo, com a demografia,
com a sociologia e com a economia. Esse quadro mudou. Há pelo menos três décadas que o
interesse cresce, especialmente entre os temas no âmbito da Geografia Urbana e da
Geografia Cultural.
Acreditamos que este texto contribui um pouco para diminuir a negligência em estudar o
fenômeno lazer na cidade contemporânea pela Geografia. Entendemos que este tema é de
fundamental importância para o desvendamento da dinâmica que envolve as transformações
no espaço-tempo do homem, em especial os espaços de sociabilidade e os espaços que
possibilitem o encontro do homem consigo próprio em prol de uma humanidade que não pode
se perder. Daí apontarmos o tema sobre a contemplação da paisagem como uma
possibilidade de lazer, elegendo-o como uma das discussões importantes a ter continuidade.
Nesse sentido, vemos o quanto a Geografia tem a contribuir em termos de pesquisas acerca
dos espaços contemplativos enquanto lazer, seja na cidade, seja no campo, associando esta
temática aos estudos sobre a questão ambiental, à ecologia da paisagem, à geografia cultural,
aos debates sobre a cidade mais democrática, etc., linhas que já apontam a relevância do
tema.
Não menos significante é perceber como os agentes sociais que produzem o espaço urbano,
em especial o poder público/os governantes das cidades não trabalham no sentido de
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melhorar as condições de infraestrutura a favor da ampliação do exercício da cidadania
através, por exemplo, da promoção de paisagens com potencial de contemplação a partir de
muitos lugares na/da cidade.
Por fim, a idéia principal foi chamar a atenção para o fato de que, no caso de Vitória (ES), em
especial a área em análise – a orla leste da cidade -, percebe-se como é cada vez mais difícil
o morador ter acesso às paisagens naturais e culturais, em razão da incessante urbanização,
bem como do abandono do estado em relação aos bens naturais e culturais, dado a ausência
de políticas públicas em prol do uso por todos. É o que prega Marcellino (2007, p. 24), quando
discute a relevância do patrimônio natural e cultural das cidades e o livre e amplo acesso dos
moradores a eles.
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