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1 A ÁGUA COMO DIREITOS HUMANOS COM REFLEXOS NAS RELAÇÕES DE CONSUMO WATER AS HUMAN RIGHTS WITH REFLECTIONS ON CONSUMER AFFAIRS José Maria Oliveira Mendes Aluno do Curso de Direito da Faculdade Icesp Promove, Brasil. Resumo: Este artigo busca analisar a relação da água como um direito humano, universal, inalienável e inerente à vida humana. O Brasil é signatário do tratado do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC-1966) que traz no seu bojo uma série de normas para a efetiva consagração da dignidade humana e dentre estas, ressalta a qualidade de vida para todo o grupo humano, cita-se alimentação, vestimenta, moradia adequada, saúde física e mental a busca pela redução da mortalidade infantil e o pleno desenvolvimento sadio das crianças, a proteção ao trabalho e ao trabalhador, a erradicação das doenças epidêmicas, endêmicas, o gratuito acesso a assistência social e outros direitos, o acesso à água precede a tudo isso, está como a exigência precípua para a existência da vida, e vida em plenitude, em tempo as nações despertam para a causa primária das causas, que irmana os homens na busca de uma solução que atenda a todos de maneira igualitária e justa. Sem água não há vida, tampouco sociedade. No Brasil temos louváveis iniciativas como o Plano Nacional de Recursos Hídricos, algumas políticas de isenção de tarifação dos mais pobres, via governos estaduais, porém falta ao governo do Brasil à positivação no ordenamento jurídico maior, ou seja, a Constituição Federal do acesso à água como direito humano fundamental, seguindo a isto ocorre um embate jurídico entre a relação de consumo (fornecedor X consumidor) e o princípio da dignidade humana, ambos protegidos pelo manto constitucional. Palavras-chave: Direitos humanos; água; dignidade humana; relação de consumo. Abstract: This paper analyzes the relationship of water as a human right, universal, inalienable and inherent to human life. Brazil is a signatory of the treaty of the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights (PIDESC-1966) that brings in its wake a series of standards for effective consecration of human dignity and among these, highlights the quality of life for the whole group human, food is quoted, clothing, adequate housing, physical and mental health to efforts to reduce child mortality and the full healthy development of children, the protection of labor and the worker, the eradication of epidemic, endemic, free access social assistance and other rights, access to water above it all, is as precípua requirement for the existence of life, and life in abundance, in time the nations awaken to the primary cause of causes, which unites men in search a solution that meets everyone equally and fairly. Without water there is no life, nor society. In Brazil we have laudable initiatives such as the National Water Resources Plan, some charging exemption policies of the poorest, through state governments, but lack the government of Brazil to positivation in most legal systems, ie the Constitution of access to water a fundamental human right, according to this occurs a legal battle between the consumption ratio (consumer provider X) and the principle of human dignity, both protected by the constitutional cloak. Keywords: Human Rights; water; human dignity; consumer relationship.

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A ÁGUA COMO DIREITOS HUMANOS COM REFLEXOS NAS

RELAÇÕES DE CONSUMO

WATER AS HUMAN RIGHTS WITH REFLECTIONS ON CONSUMER AFFAIRS

José Maria Oliveira Mendes

Aluno do Curso de Direito da Faculdade Icesp Promove, Brasil.

Resumo: Este artigo busca analisar a relação da água como um direito humano, universal,

inalienável e inerente à vida humana. O Brasil é signatário do tratado do Pacto Internacional

dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC-1966) que traz no seu bojo uma série

de normas para a efetiva consagração da dignidade humana e dentre estas, ressalta a qualidade

de vida para todo o grupo humano, cita-se alimentação, vestimenta, moradia adequada, saúde

física e mental a busca pela redução da mortalidade infantil e o pleno desenvolvimento sadio

das crianças, a proteção ao trabalho e ao trabalhador, a erradicação das doenças epidêmicas,

endêmicas, o gratuito acesso a assistência social e outros direitos, o acesso à água precede a

tudo isso, está como a exigência precípua para a existência da vida, e vida em plenitude, em

tempo as nações despertam para a causa primária das causas, que irmana os homens na busca

de uma solução que atenda a todos de maneira igualitária e justa. Sem água não há vida,

tampouco sociedade. No Brasil temos louváveis iniciativas como o Plano Nacional de

Recursos Hídricos, algumas políticas de isenção de tarifação dos mais pobres, via governos

estaduais, porém falta ao governo do Brasil à positivação no ordenamento jurídico maior, ou

seja, a Constituição Federal do acesso à água como direito humano fundamental, seguindo a

isto ocorre um embate jurídico entre a relação de consumo (fornecedor X consumidor) e o

princípio da dignidade humana, ambos protegidos pelo manto constitucional.

Palavras-chave: Direitos humanos; água; dignidade humana; relação de consumo.

Abstract: This paper analyzes the relationship of water as a human right, universal,

inalienable and inherent to human life. Brazil is a signatory of the treaty of the International

Covenant on Economic, Social and Cultural Rights (PIDESC-1966) that brings in its wake a

series of standards for effective consecration of human dignity and among these, highlights

the quality of life for the whole group human, food is quoted, clothing, adequate housing,

physical and mental health to efforts to reduce child mortality and the full healthy

development of children, the protection of labor and the worker, the eradication of epidemic,

endemic, free access social assistance and other rights, access to water above it all, is as

precípua requirement for the existence of life, and life in abundance, in time the nations

awaken to the primary cause of causes, which unites men in search a solution that meets

everyone equally and fairly. Without water there is no life, nor society. In Brazil we have

laudable initiatives such as the National Water Resources Plan, some charging exemption

policies of the poorest, through state governments, but lack the government of Brazil to

positivation in most legal systems, ie the Constitution of access to water a fundamental human

right, according to this occurs a legal battle between the consumption ratio (consumer

provider X) and the principle of human dignity, both protected by the constitutional cloak.

Keywords: Human Rights; water; human dignity; consumer relationship.

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Sumário: Introdução. 1. Histórico dos direitos humanos. 1.1 A divulgação dos direitos

humanos. 1.2 Conceito de direitos humanos. 2. As relações do direito e suas relações com a

água. 3. O fornecimento de água como serviço público e a incidência no Código de Defesa

Do Consumidor. 4. O inadimplemento do usuário e a interrupção do serviço público. 5. A

defesa do consumidor como garantia da cidadania. 6. O Brasil hídrico e a Lei Das Águas

9.433/97 e a política de recursos hídricos. 7.A água como bem de domínio público conforme

estabelecido pela lei das águas Lei Das Políticas Nacionais De Recursos Hídricos nº 9.433/97.

8. Diretrizes nacionais para o saneamento básico e a lei 11445/2007. 9. PIDESC - Programa

da década da água. 10. A água e a relação de consumo. 11. Abaixo assinado União Europeia,

visando que a água seja considerada um direito humano. 12. Conclusões finais. . Referências

bibliográficas.

Introdução

Este artigo tem como escopo, mormente analisar a água como um direito humano

fundamental em face aos princípios de manutenção da vida. O Brasil está entre as dez maiores

economias do mundo e é inaceitável o não fornecimento de água aos consumidores

hipossuficientes em que pese o país ser o maior detentor de recursos hídricos na esfera

mundial. Essa situação tem como agravante a relação demográfica do país com relação aos

outros países, já que possuímos os maiores depósitos hídricos reconhecidos

internacionalmente.

O Brasil ratificou o tratado que considera água como um direito humano, o que

permitiria as concessionárias de água fornecer de forma gratuita o quinhão mínimo aos

consumidores hipossuficientes para manutenção do direito á vida consagrado como um direito

de primeira geração corroborado ao direito ao meio ambiente sadio consagrado como terceira

geração.

1. Histórico dos direitos humanos

Em 539 antes de Cristo, os exércitos de Ciro, O Grande, o primeiro rei da antiga

Pérsia, conquistaram a cidade da Babilónia. Mas foram as suas ações posteriores que

marcaram um avanço muito importante para o Homem. Ele libertou os escravos, declarou que

todas as pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião, e estabeleceu a igualdade

racial. Estes e outros decretos foram registados num cilindro de argila na língua Acadiana

com a escritura cuneiforme.

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Conhecido hoje como o Cilindro de Ciro, este registo antigo foi agora reconhecido

como a primeira carta dos direitos humanos do mundo. Está traduzido nas seis línguas oficiais

das Nações Unidas e as suas estipulações são análogas aos quatro primeiros artigos da

Declaração Universal dos Direitos Humanos.

1.1 A Divulgação dos Direitos Humanos

Com início na Babilónia, a ideia de direitos humanos espalhou–se rapidamente para a

Índia, Grécia e por fim chegou a Roma. Ali surgiu o conceito de “lei natural”, na observação

do facto de que as pessoas tendiam a seguir certas leis não escritas no curso da vida, e o

direito romano estava baseado em ideias racionais tiradas da natureza das coisas.

Os documentos que afirmam os direitos individuais, como a Carta Magna (1215), a

Petição de Direito (1628), a Constituição dos Estados Unidos (1787), a Declaração Francesa

dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), e a Declaração dos Direitos dos Estados Unidos

(1791) são os precursores escritos para muitos dos documentos de direitos humanos atuais.1

1.2 Conceito de Direitos humanos

Conforme a Organização das Nações Unidas os direito humanos são definidos como:

“garantias jurídicas universais que protegem indivíduos e grupos

contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a

dignidade humana” (ONU carta – 1945).

André de Carvalho Ramos conceitua os direitos humanos como’’ (...)

conjunto de direitos considerados indispensáveis para vida humana

pautada na liberdade igualdade e dignidade.” 2

1<http׃dhnet.org.br ̸ direitos ̸ anthist ̸ marcos ̸ cilindro ̸index.htm>acesso em 10 ̸12̸2015.

2RAMOS, André de Carvalho, Curso de Direitos Humanos ̸ 2

a Ed. ver; atual e ampl – São Paulo – Ano 2015,

pág 27.

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O conceito de direitos humanos possui uma doutrina vasta sobre o tema, também se

define como sendo um conjunto de direitos considerado indispensável para uma vida humana

pautada na liberdade, igualdade e dignidade.

Cumpre-nos fazer uma distinção para melhor compreensão entre os direitos:

“Os direitos fundamentais são aqueles direitos objetivamente

reconhecidos e positivados na ordem jurídica de determinado

Estado.” (PAULO, 2015, p. 103)

São, por isso, delimitados espacial e temporalmente, isto é, variam segundo a

ideologia, modalidade de Estado, as espécies de valores e princípios que a Constituição

consagra. Cada Estado consagra os seus direitos fundamentais.

Os direitos humanos são aqueles reconhecidos nos documentos internacionais,

independentemente de qualquer vinculação do indivíduo com determinada ordem

constitucional. São posições jurídicas reconhecidas ao ser humano enquanto tal,

independentemente de seu vínculo jurídico com determinado Estado. 3

2. As relações do direito e suas relações com a água

De ampla conceituação e definição os direitos humanos ao longo da história

evoluíram em diversas linhas teóricas e doutrinárias, afirmando-se como uma conquista

universal e inalienável da pessoa humana. Na concepção de Karel Vasak os direitos humanos

assim ficam classificados em três gerações, cada uma com suas peculiaridades.4

Carvalho reza:

“Cada geração foi associada, na conferencia proferida por Vasak a

um dos componentes do dístico da revolução francesa: “Liberté,

egalité et fraternité” (CARVALHO, 2015, p. 55)

3VICENTE,Paulo, Aulas de Direito Constitucional – Editora Impetus - 9

a Ed. – Rio de Janeiro – Ano 2007,

pág 103.

4RAMOS, André de Carvalho - Curso de Direitos Humanos - 2

a Ed. ver. atual. e ampl. – São Paulo – Ano

2015, pág 55.

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Nesta linha a primeira geração refere-se aos direitos a liberdade, a igualdade perante a

lei, propriedade, intimidade e segurança dentre outros. Buscando claramente minimizar a

influência negativa do Estado na vida do ser humano.

Carvalho define os chamados de direito de liberdade:

“A primeira geração engloba os chamados direito de liberdade, que

são direitos às prestações negativas, nas quais o Estado deve

proteger a esfera de autonomia do indivíduo. São denominados

também “direitos de defesa”, pois protege o indivíduo contra

intervenções indevidas do Estado, possuindo caráter de distribuição

de competência (limitação) entre Estado e o ser Humano”

(CARVALHO, 2015, p. 55)

Temos, já na segunda geração, uma efetiva participação do Estado como garantidor

das políticas que representam essa geração de direitos os quais estão associados aos direitos

sociais, como: saúde, educação, previdência habitação e outros.

Contudo, segunda geração de direitos representa a modificação do papel do Estado,

exigindo-lhe um rigoroso papel ativo, além do mero fiscal de regras jurídicas. Os direitos

humanos de segunda geração são frutos das chamadas lutas sociais na Europa e Américas, seu

marco a constituição Mexicana de 1917 (que regulou o direito ao trabalho e a previdência

social), a constituição alemã de Weimar de 1919 (que, em sua parte II estabeleceu os deveres

do Estado na proteção dos direitos sociais). E no direito internacional, o tratado de Versalhes

que criou a Organização Internacional do Trabalho. (CARVALHO, 2015, p. 56)

A terceira geração fica caracterizada como direitos difusos, ou seja, o surge o

sentimento de solidariedade pensando a proteção da humanidade como um todo, sendo

propostos direitos mais amplos. 5

O Ilustríssimo autor, Manoel Gonçalves aponta:

“direito a paz, o direito ao desenvolvimento, o direito ao meio

ambiente sadio, o direito ao patrimônio comum da humanidade. A

eles alguns acrescentam o direito dos povos a dispor dele próprios

(direito a autodeterminação dos povos) e o direito a comunicação.”

(GONÇALVEZ, 2005, p. 58).

5 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves – Direitos Humanos Fundamentais – 7ª Ed. rev. Atual.- São Paulo

– Ed. Saraiva, Ano 2005 – pág 58.

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Percebe-se implicitamente nesta terceira geração de direitos a inclusão da água como

fator de direitos humanos, uma vez que se busca proteger e possuir um meio ambiente sadio e

equilibrado para todos os povos.

3. O fornecimento de água como serviço público e a incidência no

Código de Defesa Do Consumidor

Para melhor adentrarmos o tópico supracitado, faz-se necessária a conceituação

doutrinária de serviço público, sendo este por Celso Antônio Bandeira de Mello, “atividade

consistente na oferta de” utilidade ou comodidade material fruível singularmente pelos

administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres em face da coletividade e

cujo desempenho entende que deva se efetuar sobre o regime de direito público, isto é,

outorgador de prerrogativas capazes de assegurar a preponderância do interesse no serviço e

de imposições necessárias para protegê-lo contra condutas comissivas ou omissivas de

terceiros ou omissivas de terceiros ou dele próprio gravoso a direitos ou interesses dos

administrados em geral e dos usuários do serviço em particular. 6

“Toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a

exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de

satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sobre o regime

jurídico total ou parcialmente público” (DI PIETRO, 1999. p. 67)

A Constituição Federal em seu artigo 175 aponta o que incube o Poder Público:

“Artigo 175: Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente

ou sobre o regime de concessão ou permissão, sempre através de

licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei

disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e

permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu

contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de

caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II -

os direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de

manter serviço adequado.” (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL,

1.988)

6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella – Direito Administrativo– 20 Ed. 2ª rev. Atual.- São Paulo – Ed. Atlas,

Ano 2007 – pág 87. Cit. Celso Antônio Bandeira de Mello.

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Depreende-se, facilmente, do exposto acima que o fornecimento de água submete-se a

prestação do serviço público por parte do Estado, e inclui-se ai a relação consumerista, tendo

como um dos estatutos orientadores o Código de Defesa do Consumidor, que regulamenta o

vínculo consumidor fornecedor.

4. O inadimplemento do usuário e a interrupção do serviço público

Depreende-se do artigo 22 do código de defesa do consumidor, que o princípio da

continuidade do serviço é basilar no mesmo, assegurando um fornecimento ininterrupto, de

qualidade e seguro.

“Artigo 22: Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,

concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de

empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,

eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo

único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações

referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a

cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste

código” (BRASIL, LEI Nº 8.078/90)

A Constituição Federal em seu artigo 5º, XXXII aponta a igualdade entre todos, e a

defesa ao consumidor.

“Artigo 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes

no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado

promoverá, na forma da lei, a defesa do consumido.” (BRASIL,

CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88)

O artigo 170, do Código de Defesa do Consumidor ressalta a valorização e dignidade

do trabalhador:

“Artigo 170º: A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos

existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os

seguintes princípios: V- defesa do consumidor.” (BRASIL, LEI Nº

8.078/90)

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“Artigo 6º: Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de

serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme

estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo

contrato. § 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a

sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso,

quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança

das instalações; e II - por inadimplemento do usuário, considerado o

interesse da coletividade.” (BRASIL, LEI Nº 8.987/95)

A Lei 11.445/97 Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, e aponta

em seu artigo 40 as hipóteses de interrupção do serviço:

“Artigo 40: Os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador nas

seguintes hipóteses: I - situações de emergência que atinjam a

segurança de pessoas e bens; II - necessidade de efetuar reparos,

modificações ou melhorias de qualquer natureza nos sistemas; III -

negativa do usuário em permitir a instalação de dispositivo de leitura

de água consumida, após ter sido previamente notificado a respeito;

IV - manipulação indevida de qualquer tubulação, medidor ou outra

instalação do prestador, por parte do usuário; e V - inadimplemento

do usuário do serviço de abastecimento de água, do pagamento das

tarifas, após ter sido formalmente notificado. § 1º: As interrupções

programadas serão previamente comunicadas ao regulador e aos

usuários. § 2o A suspensão dos serviços prevista nos incisos III e V

do caput deste artigo será precedida de prévio aviso ao usuário, não

inferior a 30 (trinta) dias da data prevista para a suspensão. § 3o A

interrupção ou a restrição do fornecimento de água por

inadimplência a estabelecimentos de saúde, a instituições

educacionais e de internação coletiva de pessoas e a usuário

residencial de baixa renda beneficiário de tarifa social deverá

obedecer a prazos e critérios que preservem condições mínimas de

manutenção da saúde das pessoas atingidas.” (BRASIL, LEI Nº

11.445/2007)

5. A defesa do consumidor como garantia da cidadania

O assunto é controverso, e chegou à corte superior de justiça do país, havendo

julgados favoráveis e contra a suspensão de serviço de água, questão longe de ser pacificada.

Julgado - STJ suspende liminar favorável a consumidores inadimplentes. 7

7 RESP 662204 ̸RS – Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI -1ª Turma – J. 20.11.2007 – Dj 03.12.2007 – p.

559.

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A Companhia de Água e Esgoto do Ceará obteve no Superior Tribunal de Justiça a

suspensão da liminar que a impedia, desde 1999, de cortar o fornecimento de água dos

consumidores de baixa renda, em Fortaleza que se encontram inadimplentes.

O presidente do STJ, ministro Barros Monteiro, considerou que é lícito à

concessionária eximir-se do fornecimento de água se, após aviso prévio, o consumidor deixar

de pagar a conta de água.

Contudo o ministro Barros Monteiro observou que é essencial que a Companhia

informe o consumidor a respeito das contas em atraso, antes da interrupção da água. 8

Destarte no recurso, a empresa alegou que a liminar concedida obrigaria o

fornecimento de água, sem pagamento de tarifa, e por prazo indeterminado, o que seria um

estímulo à inadimplência. Além de acarretar aumento do valor das tarifas dos demais

consumidores.

A liminar ficará suspensa até o julgamento final da ação principal pela justiça do

Ceará.

6. O Brasil hídrico e a Lei Das Águas 9.433/97 e a política de recursos

hídricos

Segundo Agência Nacional de Águas – ANA divulgou em pesquisa que o Brasil

detém 13% do potencial hídrico mundial, ou seja, água doce, própria para consumo.9

Em que pese termos estes enormes potenciais muitos, brasileiros padecem pela falta de

água e saneamento básico, em especial os hipossuficientes.

Estabelecendo uma relação direta de população e capacidade hídrica do Brasil, é

injustificável que setores da sociedade brasileira, em especial os menos favorecidos

socialmente, padeçam da falta de água por uma política efetiva de priorização do

fornecimento de água pelo Estado.

No que pese o Censo 2010 compreendeu um levantamento minucioso de todos os

domicílios do país. Nos meses de coleta de dados e supervisão, 191 mil recenseadores

8 PROCESSO SLC 757-CE (2007 ̸ 0229500-8) Min. RAPHAEL DE BARROS MONTEIRO

9 <http׃ ̸ ̸ www2.ana.gov.br ̸ paginas ̸ defaut.aspx> Acesso em 10.12.2015.

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visitaram 67,6 milhões de domicílios nos 5.565 municípios brasileiros para colher

informações sobre quem somos, quanto somos, onde estamos e como vivemos.

Os primeiros resultados definitivos, divulgados em dezembro de 2015, apontaram uma

população formada por 205.247.960 habitantes.10

7. A água como bem de domínio público conforme estabelecido pela Lei

Das Políticas Nacionais De Recursos Hídricos nº 9.433/97

Não pode ser objeto de diferenciação de padrão de vida entre brasileiros, nem ser fator

de classificação social entre pobres e ricos, uma vez que é um bem universal, e de grande

valor essencial à vida e suas diversas manifestações. Assim preconiza o art. 1º da política

nacional de recursos hídricos.

“Artigo 1º: A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos

seguintes fundamentos: I - a água é um bem de domínio público; II - a

água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III -

em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o

consumo humano e a dessedentação de animais; IV - a gestão dos

recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das

águas; V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para

implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação

do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; VI - a

gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a

participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.”

(BRASIL, LEI Nº 9.433/97)

Nessa mesma esteira o capitulo II, dentre os objetivos da política hídrica brasileira,

procura resguardar as futuras gerações a disponibilidade de água, a utilização racional dos

recursos hídricos e a prevenção contra futura escassez, em virtude de fenômenos hidrológicos.

“Artigo 2º: São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária

disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos

respectivos usos; II - a utilização racional e integrada dos recursos

hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao

desenvolvimento sustentável; III - a prevenção e a defesa contra

10

<http׃ ̸ ̸ www.ibge.gov.br ̸ apps ̸ população ̸ projeção ̸ > Acesso em 11.12.2015.

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eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso

inadequado dos recursos naturais.” (BRASIL, LEI Nº 9.433/97)

Em que pese às boas intenções das diretrizes gerais da Lei 9.433/97 não foram e não

são suficientes para garantir a todos os brasileiros indistintamente de classes sociais a

disponibilização ao acesso a água, em qualidade e quantidade adequada ao consumo básico

necessário para assegurar e efetivar a dignidade da pessoa humana. O que confirma esta

constatação são as inúmeras aparições na mídia cotidiana nacional das cenas desoladora da

falta de água e suas consequências de impacto direto na qualidade de vida das comunidades

em especiais as mais carentes.

“Artigo 3º: Constituem diretrizes gerais de ação para implementação

da Politica Nacional de Recursos Hídricos: I - a gestão sistemática

dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e

qualidade; II - a adequação de gestão de recursos hídricos ás

diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sócias e

culturais das diversas regiões do país; III – a interação de gestão de

recursos hídricos com a gestão ambiental; IV - a articulação do

planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com

os planejamentos regional, estadual e nacional; V - a articulação da

gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; VI - a integração

da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e

zonas costeiras.” (BRASIL, LEI Nº 9.433/97)

8. Diretrizes nacionais para o saneamento básico e a lei 11.445/2007

Em que pese a Lei 11.445 ̸ 2007 referir-se a doze princípios, para sua efetiva

aplicação, devemos nos ater somente ao primeiro, qual seja, o princípio da universalização

do acesso a agua que vem corroborar com o nosso estudo, pois este encabeça os demais,

dando a água um amplo significado, ou seja, torna-se objeto da lei como uma das formas de

saneamento básico, sendo um direito universal o seu acesso sem nenhum tipo de restrição.

Artigo 2ª: Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados

com base nos seguintes princípios fundamentais: I - universalização

do acesso; II - integralidade, compreendida como o conjunto de todas

as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de

saneamento básico, propiciando à população o acesso na

conformidade de suas necessidades e maximizando a eficácia das

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ações e resultados; III - abastecimento de água, esgotamento

sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de

formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente; IV

- disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de

drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública

e à segurança da vida e do patrimônio público e privado; V - adoção

de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades

locais e regionais; VI - articulação com as políticas de

desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à

pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção

da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a

melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico

seja fator determinante; VII - eficiência e sustentabilidade econômica;

VIII - utilização de tecnologias apropriadas, considerando a

capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções

graduais e progressivas; IX - transparência das ações, baseada em

sistemas de informações e processos decisórios institucionalizados; X

- controle social; XI - segurança, qualidade e regularidade; XII -

integração das infraestruturas e serviços com a gestão eficiente dos

recursos hídricos. XIII - adoção de medidas de fomento à moderação

do consumo de água” (BRASIL, LEI Nº 11.445/07)

9. PIDESC- Programa da década da água

PIDESC, formulado e adotado pela ONU no ano de 1966, o qual o Brasil fez parte de

sua formulação e o instrumento norteador das politicas socioeconômicas , culturais no

âmbito dos Direitos Humanos, possui 146 signatários incluindo o Brasil que o ratificou no

ano de 1992 garantindo assim diversos outros direitos a nível social, trabalhista ,

previdenciário, ambiental e tecnocientifico.

Tendo como órgão fiscalizador o DESC, responsável por analisar o relatório e suas

observações, apesar de não possuir força legal no âmbito de aplicar sanções pode emitir

pareceres recomendando-os como forma de pressionar os signatários, visando o cumprimento

do pacto firmado.

A Sociedade Civil Brasileira através de ONG’s de Direitos Humanos criada no ano de

2003, como e o caso do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH) e da

Plataforma Brasileira de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (DHESC BRASIL)

apresentam-se como órgãos alternativos fiscalizadores do PINDESC e de suas diretrizes,

emitindo boletins contrabalanceando as informações prestadas pelo Governo Brasileiro às

instituições internacionais.

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13

“Artigo 11º: 1. Os Estados Partes no presente pacto reconhecem o

direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e

sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia

adequadas, assim como a uma melhoria contínua de suas condições

de vida. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para

assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a

importância essencial da cooperação internacional fundada no livre

consentimento. 2. Os Estados Partes no presente Pacto, reconhecendo

o direito fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a

fome, adotarão, individualmente e mediante cooperação

internacional, as medidas, inclusive programas concretos, que se

façam necessárias para: a) Melhorar os métodos de produção,

conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena

utilização dos conhecimentos técnicos e científico, pela difusão de

princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou

reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a

exploração e a utilização mais eficazes dos recursos naturais; b)

Assegurar uma repartição equitativa dos recursos alimentícios

mundiais em relação ás necessidades, levando-se em conta os

problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de

gêneros alimentícios.” (BRASIL, DECRETO Nº 591/92)

“Artigo 12: 1. Os Estados Partes no presente pacto reconhecem o

direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de

saúde física e mental. 2. As medidas que os Estados Partes no

presente Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o pleno

exercício desse direito incluirão as medidas que se façam necessária

para assegurar: a) A diminuição da mortalidade e da mortalidade

infantil, bem como o desenvolvimento são das crianças; b) A melhoria

de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente; c) A

prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas,

profissionais e outras, bem como a luta contra essas doenças; d) A

criação de condições que assegurem a todos assistência médica e

serviços médicos em caso de enfermidade.” (BRASIL, DECRETO Nº

591/92)

No esteio do PIDESC, a ONU lançou a década da água ( 2005 a 2015) como mais

uma tentativa das nações voltarem-se para o problema que afligi milhões de seres humanos e

seus rebanhos, que e causa direta de grandes movimentos migratórios de populações inteiras

de sedentos, que geram conflitos de todas as ordens e preocupações para as autoridades

mundiais.11

11

<http׃ ̸ ̸ .prr4.mpf.gov.br ̸ pesquisaPauloLeivas ̸ in>Acesso em 12.12.2015

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10. O Brasil hídrico

O Brasil, um dos raros países do mundo com um vasto complexo hidrográfico ao

longo de sua extensão territorial de forma bastante diversificada tendo como fontes de

fornecimento de água, os rios, lagos, lagoas, arquipélagos, golfos, 12 bacias hidrográficas de

dimensões superiores a diversas nações no mundo, cataratas, barragens, açudes, canais,

ribeirões, córregos etc... não explorados em sua totalidade tanto de forma econômica , social

, turística, ecológico , viária, caracterizando-o como país promissor no ramo hídrico não

somente visando seu potencial elétrico , mas como forma de vincular sua população a outros

mecanismos de desenvolvimento sustentável, social e econômico.

Fatores que torna injustificável que boa parte de sua população não tenha acesso a água em

quantidade e qualidade necessária para sua sobrevivência.

A título de informação são Bacias hidrográficas brasileiras as seguintes׃

1 Amazonas ; 2 Atlântico Leste ; 3 Atlântico Nordeste Ocidental ; 4 Atlântico Nordeste

Oriental ; 5 Atlântico Sudeste ; 6 Atlântico Sul ; 7 Paraguai ; 8 Paraíba ; 9 Paraná ; 10 São

Francisco ; 11 Tocantins - Araguaia ; 12 Uruguai.12

11. A água e a relação de consumo

O serviço de água é indubitavelmente relação de consumo, na forma do art. 2º,

parágrafo único e 3º do CDC, sendo os seus usuários os consumidores.

Os órgãos públicos, por ou suas empresas, concessionárias, permissionária ou sob

qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,

eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou:

"Seu fornecimento é serviço público subordinado ao princípio da

continuidade, sendo impossível a sua interrupção e muito menos por

atraso em seu pagamento" (Decisão STJ Processo resp 201112).

12

<https׃ ̸ ̸ .pt.wikipedia.org ̸ wiki ̸ Hidrografia_do_Brasil>Acesso em 12.12.2015

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Tal decisão baseou-se na fundamentação de que o fornecimento de água, trata de

serviço público fundamental, essencial e vital ao ser humano, razão pela qual não pode ser

suspenso em decorrência do atraso no pagamento das respectivas tarifas . Entendeu também

que o poder público dispõe dos meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuários.

Apesar deste entendimento, percebemos que o corte de água continua sendo realizado

pelas concessionárias. 13

12. Abaixo assinado União Europeia – Visando que a água seja

considerada um direito humano

A partir da resolução 64 ̸ 292 da Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 ̸ 07 ̸

2010 a qual reconheceu como um direito humano universal a água e o saneamento básico os

membros da União Europeia através da Federação Europeia dos Serviços Públicos ( FSESP)

tomaram a iniciativa de colher um milhão de assinaturas para que seja reconhecida no âmbito

da Europa a resolução supracitada. Segue na integra o texto desta iniciativa׃

Historial

A Federação Sindical Europeia dos Serviços Públicos (FSESP) decidiu encetar, no seu

Congresso de 2009, uma iniciativa para a obtenção de um milhão de assinaturas para que a

água seja considerada um direito humano. Tal incluiu: a mobilização dos trabalhadores e

cidadãos para o apoio a este direito e contra os efeitos negativos das políticas de liberalização

e pró-concorrência que são predominantes no âmbito da Comissão Europeia e entre os

governos europeus. A Comissão Europeia definiu finalmente as regras para uma Iniciativa de

Cidadania Europeia deste cariz em Março de 2011. Para mais pormenores sobre a

regulamentação, consulte:

As Nações Unidas reconheceram o direito humano universal à água e ao saneamento.

Em 28 de Julho de 2010, através da Resolução 64/292, a Assembleia Geral das Nações

Unidas declarou explicitamente o direito humano à água e ao saneamento e reconheceu que a

água potável limpa e o saneamento são fatores fulcrais para a concretização de todos os

direitos humanos. A Resolução apela aos Estados e às organizações internacionais que

providenciem recursos financeiros, ajuda no reforço de capacidades e transferência de

tecnologia com o objetivo de proporcionar água potável e saneamento seguros, limpos,

acessíveis e económicos para todos.

Todos os cidadãos precisam de água potável e de um sistema seguro de saneamento.

13

STJ – Resp 201112 SC 1999 ̸ 0004398-7 - Relator Ministro GARCIA VIEIRA

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As Nações Unidas declararam o direito humano universal à água e ao saneamento, mas ainda

há muitas pessoas que não desfrutam desse direito. Este direito tem de ser implementado no

âmbito da União Europeia.

O que queremos:

1. Serviços de água e saneamento garantidos para toda a União Europeia.

Acreditamos que a União Europeia tem de implementar o direito humano à água sob a

forma de sujeição dos serviços de água e saneamento a legislação europeia (como serviços de

interesse geral). A União Europeia deve promover a implementação nacional deste direito

humano definindo metas vinculativas para que todos os Estados-Membros atinjam a cobertura

universal

2. Direitos humanos acima dos interesses de mercado: não à liberalização dos serviços

de abastecimento de água.

Queremos que a UE altere a sua predisposição atualmente centrada na concorrência e

numa abordagem completamente baseada no mercado para uma atitude de serviço público e

uma abordagem baseada nos direitos. A água é um recuso natural limitado e um bem público

fundamental para a vida e a saúde. É um monopólio “natural” e deve ser mantida à parte das

regras do mercado interno.

3. Acesso global/universal a água e saneamento para todos.

Acreditamos que a UE deve fazer um esforço maior para que a água e o saneamento

sejam desfrutados universalmente. A UE deve definir metas e fazer da concretização do

acesso universal (global) a água e saneamento uma parte da sua política de desenvolvimento.

Ao fazê-lo, a UE promoverá ativamente a ideia de que o direito a água e a saneamento deve

ser desfrutado globalmente.

As nossas propostas à Comissão Europeia para a implementação do direito humano à

água e ao saneamento:

1. Usar o Direito Humano à Água e ao Saneamento em todas as comunicações sobre Água

e/ou Saneamento.

2. Garantir serviços de água (segura, limpa e economicamente acessível) e saneamento a todas

as populações dos Estados-Membros da UE.

3. Abster-se de converter os serviços de abastecimento de água em serviços comerciais ao

excluir a água das regras do mercado interno. Tal pode ser alcançado através de um

compromisso da Comissão Europeia de:

- Não liberalizar os serviços de água e saneamento.

- Não incluir os serviços de água e saneamento em acordos comerciais como o CETA.

- Promover as parcerias público-público.

- Consagrar o princípio de que “a água não é uma mercadoria” da Diretiva-Quadro da Água

em todas as políticas da água e relacionadas com a água da UE.

- Definir que a proteção do nosso ambiente hídrico prevalecerá sobre as políticas comerciais.

- Iniciar programas de apoio para pessoas que não podem pagar a sua conta, com o objetivo

de evitar o corte do acesso dos utentes.

- Assegurar que as empresas de água privadas que prestam serviços de água providenciem

transparência e abertura completas no que se refere aos seus contratos (não há lugar para

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confidencialidade comercial neste serviço público).

- Promover a participação dos cidadãos em conformidade com a Diretiva-Quadro da Água.

4. Aumentar o acesso à água e a saneamento em todo o mundo, tornando a

concretização do acesso universal a água e a saneamento uma parte da política de

desenvolvimento da UE e atribuindo uma maior parcela da Ajuda Pública ao

Desenvolvimento (APD) ao melhoramento dos serviços de água e saneamento.

5. Promover parcerias público-público (parcerias com operadores de água) baseadas

em princípios de serviço sem fins lucrativos e na solidariedade entre os operadores da água e

os trabalhadores nos diferentes países.

6. Consagrar na lei o princípio de que o controlo sobre a água e os recursos hídricos

deve permanecer no domínio público.

7. Apoiar as empresas públicas de água, na UE e noutros países, que careçam do

capital para alargar os serviços de abastecimento de água e saneamento aos pobres com os

seus próprios fundos.

8. Apoiar e promover as empresas de água que invistam uma determinada parte do seu

volume de negócios anual em parcerias com operadores de água em países em vias de

desenvolvimento (seguindo os exemplos dos Países Baixos e de França).

9. Apoiar o estabelecimento de um sistema europeu de padrões de referência

voluntário para que as empresas públicas promovam serviços de água de alta qualidade.

10. Conceber um código administrativo para as companhias de água na UE-27.

Processo

O Comité de Cidadãos que é o representante oficial desta Iniciativa de Cidadania

Europeia já foi estabelecido. O requisito mínimo é de 7 pessoas de 7 países europeus

diferentes. Temos 34 representantes de 27 países da UE nos quais faremos campanha. Em

todos estes países, estabelecemos grupos de campanha nacionais. Além disso, faremos

campanha noutros países, como a Turquia, a Croácia, a Rússia e a Noruega, para demonstrar

que este problema não é só da UE, mas sim de âmbito global

Faremos campanha online e nas ruas. As assinaturas podem ser colocadas no sítio web

da campanha, www.right2water.eu, e em papel. A recolha de assinaturas começará logo que a

Comissão Europeia aceite a nossa Iniciativa de Cidadania Europeia. Enviaremos a nossa

proposta no dia 1 de Abril de 2012, primeiro dia em que será possível enviar uma Iniciativa

de Cidadania Europeia.

Organizações apoiantes

A campanha será efetuada online e nas ruas. Procuramos um amplo leque de apoiantes

em ONG, por exemplo, organizações ambientais, sociais e do desenvolvimento, mas também

em organizações femininas, igrejas e empresas públicas (do sector da água). Também

procuraremos o apoio de todo o espectro político e pessoas que sejam “figuras públicas” para

que se tornem embaixadores da nossa campanha mostrando publicamente o seu apoio.

Breve panorama do processo que os organizadores têm de seguir para apresentar uma

ICE.

a) O objetivo da iniciativa tem de estar no âmbito dos poderes da Comissão Europeia

para propor legislação ao abrigo dos Tratados e não pode ser manifestamente frívolo ou

contrário aos valores da União.

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b) Os organizadores têm de formar um comité de cidadãos com, pelo menos, sete

membros e designar um representante e um substituto como pessoas de contacto. Devem ser,

tal como os futuros signatários, cidadãos da União com direito de voto nas eleições europeias.

c) Antes da recolha de assinaturas, os organizadores devem requerer o registo da

iniciativa junto da Comissão usando o formulário normalizado para esse fim, anexando outros

documentos justificativos e um texto legal, se assim o desejarem.

d) No prazo de dois meses, a Comissão registará a iniciativa ou rejeitá-la-á e informará

os organizadores acerca dos motivos e de quaisquer possíveis recursos judiciais e

extrajudiciais que estejam ao seu dispor.

e) Deve ser recolhido um número significativo de assinaturas em, pelo menos, 7

Estados-Membros. Para cada país, esse número é igual ao número de lugares que ocupa no

Parlamento Europeu multiplicado por 750.

f) No cato de registo e ao longo de todo o processo, os organizadores devem declarar e

garantir total transparência acerca das suas fontes de financiamento.

g) Será possível a recolha de assinaturas online ou em papel. Os organizadores

encontrarão diferentes procedimentos nacionais para o registo e a verificação de assinaturas.

Dos 27 Estados-Membros, 18 requerem um número de documento de identificação ou

passaporte juntamente com a assinatura e 9 não o fazem.

h) O período para recolha de certificados de assinaturas e para cumprir as condições

está limitado a 12 meses antes do seu envio à Comissão.

i) O comité de cidadãos pode apresentar pessoalmente a iniciativa à Comissão “a um

nível apropriado” e haverá uma audição no Parlamento Europeu. No prazo de três meses, a

Comissão publicará uma comunicação a descrever as suas conclusões políticas e legais e as

razões para agir ou para não o fazer.

j) Os organizadores de iniciativas de cidadania e as autoridades estão sujeitos às

normas sobre proteção de dados para garantir que os dados pessoais sejam recolhidos somente

para o fim da iniciativa e para nenhum outro e sejam subsequentemente destruídos. Os

organizadores são também responsáveis por qualquer outra infracção da regulamentação,

como assinaturas fraudulentas.

A legislação não dá um direito de iniciativa legislativa autêntico aos cidadãos, uma

vez que não é vinculativa para a Comissão. Ainda que uma ICE consiga o número necessário

de assinaturas e cumpra todas as normas, a Comissão pode decidir rejeitá-la.

A ICE deve ser vista como aquilo que é: uma ferramenta para definir a agenda política

que permite que os cidadãos atraiam as atenções, não só da Comissão, mas também da

comunicação social e do público em geral, para um determinado tópico e iniciem um debate

de amplitude europeia sobre o mesmo.

Tal iniciativa se copiada pela população brasileira, teria o amparo legal constitucional

através da Lei 9.709 de 1998 conhecida como Lei de Iniciativa Popular também prevista na

Constituição Nacional em seu artigo 61, § 2º que diz que “atendidos os requisitos de no

mínimo 1‰ do eleitorado nacional , distribuído pelo menos por cinco Estados, com não

menos de 3 décimos por cento de eleitores de cada um deles”, poderia ter sua aprovação

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através de um projeto de lei devidamente aprovado e obter a aplicação imediata de seus

termos.

Conclusão

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Em linhas gerais, observamos que o direito á água é um direito humano e deve ser

reconhecido por todas as nações. O Brasil não poder ficar alheio ao problema da na

perspectiva social e político violando o princípio da dignidade da pessoa humana. A

legislação aquífera deve proteger o hipossuficiente quanto ao fornecimento mínimo de água ,

sem o direito de corte, para atendimento às necessidades básicas e humanas. A interrupção do

fornecimento de água , sobre o prisma da inadimplência fere o entendimento das

Organizações das Nações Unidas , a qual já se posicional quanto o reconhecimento do direito

a água como sendo um direito universal.

Depreende-se a água como um direito humano que deve ser protegido e garantido aos

cidadãos, principalmente os hipossuficientes para concretização e efetivação da vida plena e

da dignidade humana.

Ao término do presente artigo concluo que, é urgente a positivação pelo

Brasil em seu ordenamento jurídico maior, ou seja, a Constituição Federal de se incluir a água

como Direito Humano essencial a vida, em que pese, como fora relatado, posteriormente, o

Brasil ser signatário do PIDESC, e mesmo diante deste fato encontra-se em falta com este

tratado, detemos segunda a ANA(Agência Nacional da Água) 13% da água doce do planeta,

temos um dos maiores complexo de bacias hídricas do mundo, diante de tudo isso é

inaceitável e indesculpável nosso povo padecer as auguras da falta de água. Roguemos a

DEUS e aos homens público do Brasil para que impere o interesse público em tão relevante

questão. MARATANA!

Referencias Bibliográficas

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella – Direito Administrativo– 20 Ed. 2ª rev. Atual.- São

Paulo – Ed. Atlas, Ano 2007 – pág 87. Cit. Celso Antônio Bandeira de Mello.

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FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves – Direitos Humanos Fundamentais – 7ª Ed. rev.

Atual.- São Paulo – Ed. Saraiva, Ano 2005 – pág 58.

Lei Das Águas 9.433/97

Lei Das Políticas Nacionais De Recursos Hídricos nº 9.433/97

PIDESC - Programa da década da água (ONU).

PROCESSO SLC 757-CE (2007 ̸ 0229500-8) Min. RAPHAEL DE BARROS MONTEIRO

RAMOS, André de Carvalho, Curso de Direitos Humanos ̸ 2a

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Paulo – Ano 2015, páginas 27-55.

RESP 662204 ̸ RS – Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI -1ª Turma – J. 20.11.2007 – Dj

03.12.2007 – p. 559.

STJ – Resp 201112 SC 1999 ̸ 0004398-7 - Relator Ministro GARCIA VIEIRA

VICENTE,Paulo, Aulas de Direito Constitucional – Editora Impetus - 9a

Ed. – Rio de

Janeiro – Ano 2007, pág 103.

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<www.right2water.eu> Abaixo assinado União Europeia, visando que a água seja considerada

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