9. um olhar crítico à construção da escola do professor ... · Área do direito:...

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2017 - 08 - 31 Revista de Direito Recuperacional e Empresa 2017 RDRE VOL.3 (JANEIRO - MARÇO 2017) DOUTRINA NACIONAL 9. UM OLHAR CRÍTICO À CONSTRUÇÃO DA ESCOLA DO PROFESSOR FÁBIO ULHOA COELHO QUANTO À INTERPRETAÇÃO DO TERMO DEVEDOR NO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 9. Um olhar crítico à construção da escola do professor Fábio Ulhoa Coelho quanto à interpretação do termo devedor no instituto da recuperação judicial A critical look of the School of Professor Fábio Ulhoa Coelho regarding the interpretation of the debtor term in the Judicial Recovery Institute (Autor) RENALDO LIMIRO Advogado especialista em recuperação judicial. [email protected] Sumário: Referências Área do Direito: Comercial/Empresarial Resumo: Este artigo tem por objetivo trazer à lume, conforme enxergamos, as corretas interpretações da palavra devedor em alguns dispositivos da Lei 11.101/2005, bem como suas implicações decorrentes. O art. 1º prescreve que “esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor”. Desde a vigência da LFRE, em 09.06.2005, o Prof. Fábio Ulhoa Coelho iniciou a difusão de um entendimento que redundou numa escola, onde o devedor empresário individual é literalmente alijado do contexto da Lei, e o artigo que dele cuida – o 65 –, é interpretado e aplicado no sentido de se nomear gestor judicial quando do afastamento dos administradores da devedora sociedade empresária, desvirtuando, a nosso sentir, os fins da Lei. Abstract:

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2017 - 08 - 31 Revista de Direito Recuperacional e Empresa2017

RDRE VOL3 (JANEIRO - MARCcedilO 2017)DOUTRINA NACIONAL

9 UM OLHAR CRIacuteTICO Agrave CONSTRUCcedilAtildeO DA ESCOLA DO PROFESSOR FAacuteBIO ULHOACOELHO QUANTO Agrave INTERPRETACcedilAtildeO DO TERMO DEVEDOR NO INSTITUTO DARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL

9 Um olhar criacutetico agrave construccedilatildeo da escola doprofessor Faacutebio Ulhoa Coelho quanto agrave interpretaccedilatildeodo termo devedor no instituto da recuperaccedilatildeo judicial

A critical look of the School of Professor FaacutebioUlhoa Coelho regarding the interpretation of the

debtor term in the Judicial Recovery Institute(Autor)

RENALDO LIMIRO

Advogado especialista em recuperaccedilatildeo judicial renaldolimirolimiroadvogadoscombr

Sumaacuterio

Referecircncias

Aacuterea do Direito ComercialEmpresarial

Resumo

Este artigo tem por objetivo trazer agrave lume conforme enxergamos as corretasinterpretaccedilotildees da palavra devedor em alguns dispositivos da Lei 111012005 bem comosuas implicaccedilotildees decorrentes O art 1ordm prescreve que ldquoesta Lei disciplina a recuperaccedilatildeojudicial a recuperaccedilatildeo extrajudicial e a falecircncia do empresaacuterio e da sociedade empresaacuteriadoravante referidos simplesmente como devedorrdquo Desde a vigecircncia da LFRE em09062005 o Prof Faacutebio Ulhoa Coelho iniciou a difusatildeo de um entendimento queredundou numa escola onde o devedor empresaacuterio individual eacute literalmente alijado docontexto da Lei e o artigo que dele cuida ndash o 65 ndash eacute interpretado e aplicado no sentido dese nomear gestor judicial quando do afastamento dos administradores da devedorasociedade empresaacuteria desvirtuando a nosso sentir os fins da Lei

Abstract

This article aims to bring to light as we see the correct interpretations of the word debtorin some provisions of the law 111012005 as well as its implications arising from Article1 prescribes that this law is subject to judicial reorganization Judicial reorganization andbankruptcy of the entrepreneur and the company hereinafter simply to as debtorSincethe LFRE 09062005 the Professor Faacutebio Ulhoa Coelho began a diffusion of anunderstanding that resulted in a School where the individual entrepreneur debtor isliterally lodged in the context of the law and the article that takes care of the 65 isinterpreted and applied in the sense of appointing judicial manager when theadministrator of the debtor company distorting to our feelings the porposes of the law

Palavra Chave Devedor - Afastamento - Destituiccedilatildeo - Gestor judicial e administradorKeywords Debtor - Removal - Dismissal - Judicial manager and administrator

Ao longo desses mais de onze anos de vigecircncia da LFRE ndash 111012005 ndash tantodoutrinadores quanto julgadores em sua grande maioria caminham por rumosdesencontrados quanto agrave exata interpretaccedilatildeo e ateacute mesmo julgamentos de algunsdispositivos onde constam a palavra devedor Em determinados casos alguns poradotarem os pensamentos de doutrinador mais experimentado em outros por faltamesmo da correta interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei

O legislador ao dizer no artigo 1ordm da Lei 111012005 que ldquoesta Lei disciplina a recuperaccedilatildeojudicial a recuperaccedilatildeo extrajudicial e a falecircncia do empresaacuterio e da sociedade empresaacuteriadoravante referidos simplesmente como devedorrdquo o fez no sentido de simplificar poisnecessariamente em todo processo de recuperaccedilatildeo judicial haveraacute a figura do devedorseja ele empresaacuterio ou sociedade empresaacuteria E esta figura independentemente de seraquele ou esta seraacute sempre o devedor seja em que circunstacircncia for Todavia este termodevedor em certas circunstacircncias objetos de nossas anaacutelises receberatildeo dos seusinteacuterpretes e aplicadores especialmente do Professor Faacutebio Ulhoa Coelho e os que oseguiram interpretaccedilotildees e aplicaccedilotildees que a nosso modesto ver natildeo correspondem agravevontade do legislador

A utilizaccedilatildeo da palavra devedor referindo-se indistintamente ao empresaacuterio individualpessoa fiacutesica e agrave sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica por seus administradores exige dointeacuterprete natildeo soacute uma atenccedilatildeo mais que especial para se saber se ali naquele momento emque ele se depara com a citada palavra se ela estaacute se referindo ou ao empresaacuterioindividual ou agrave sociedade empresaacuteria por seus administradores ou a ambos A nossosentir isto natildeo eacute tarefa das mais faacuteceis mas natildeo deve desestimular os pensadores dodireito ao contraacuterio que lhes sirva de incentivo para encontrarem na Lei aquilo que olegislador quis dizer De nosso lado com muita humildade mas tambeacutem com muitacoragem e ousadia o que acreditamos deva ser um apanaacutegio do pesquisador que buscaencontrar na Lei a exata vontade pensada pelo legislador sem medo de errar e sem medodas criacuteticas ndash nos sentimos incentivados para esta tarefa e nos atrevemos a buscar apesquisar e acima de tudo a pensar a pensar muito para encontrar ou descobrir emdeterminadas disposiccedilotildees da Lei 111012005 quando se refere ao devedor o que quisdizer o que pensou o legislador O que nos motivou a isso eacute sem duacutevida a escola criadapelo ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho que deste a criaccedilatildeo e vigecircncia da Lei em 2005difundiu ou melhor criou um rito para a aplicabilidade da Lei 111012005 ndash esperamosque natildeo de propoacutesito ndash o que aliaacutes lhe debitamos como equiacutevoco ou equiacutevocos Mas oilustre doutrinador ao omitir a literalidade da Lei e em seu local implantar uma redaccedilatildeoproacutepria alijou dela a figura do devedor empresaacuterio individual e passou a defender e aadvogar (os seus escritos o dizem) que somente a devedora sociedade empresaacuteria eacute queseria a legitimada para a recuperaccedilatildeo judicial e a nosso ver num conjunto deinterpretaccedilotildees distorcidas e confusas quanto aos termos devedor afastamento destituiccedilatildeo

gestor judicial administradores fez escola e conquistou muitos seguidores Vamostodavia com muita humildade tentar mostrar os equiacutevocos do Mestre

No fundo da questatildeo este grande pensador do direito a quem rendemos todas as vecircnias aquem sempre citamos respeitosamente em nossas obras e artigos com quem sempreestamos aprendendo sempre por estes predicados nos faz crer que foi profundamentetraiacutedo em um momento por suas sempre maravilhosas interpretaccedilotildeesNatildeo queremos deoutro lado acreditar que ele o fez propositadamente pois a sua grandeza natildeo opermitiria Mas foi tatildeo grave o equiacutevoco cometido pelo ilustre jurista que ao transcreverum dispositivo da Lei cometeu ao mesmo tempo trecircs erros (i) citou a aliacutenea incorreta (ii)natildeo transcreveu com as letras da Lei o inteiro teor do dispositivo e (iii) inseriu em seulugar uma redaccedilatildeo inexistente em toda a Lei 111012005 Eacute grave porquedecorrentemente da redaccedilatildeo criada por Faacutebio Ulhoa Coelho ao mencionado dispositivofez-se escola Da mesma forma e com o mesmo sentido que ele imprimiu sua redaccedilatildeo nasua obra lanccedilada em 2005 tambeacutem o fez na sua uacuteltima obra lanccedilada neste ano de 2016Diferentemente tambeacutem natildeo o fez em suas obras de 2011 e 2014

A grande verdade eacute que o termo devedor em determinadas circunstacircncias da Lei111012005 refere-se exclusivamente ao devedor empresaacuterio individual em outrasexclusivamente agraves sociedades empresaacuterias e ainda em outras a ambos residindo aqui anosso modesto ver os equiacutevocos do grande Professor Ulhoa

Para uma melhor compreensatildeo vamos utilizar de uma sequecircncia nas nossas exposiccedilotildeessobre o tema em foco (i) comeccedilando pelo nosso modesto entendimento dos citadosdispositivos da Lei 111012005 que a seguir transcreveremos (ii) seguido pelosentendimentos do doutrinador e Prof Faacutebio Ulhoa sobre os mesmos e suas consequecircnciasque fizeram escola (iii) transcrevendo julgados de alguns Tribunais regionais que seguema escola do Mestre e (iv) finalmente transcrevendo os ensinamentos da LeiComplementar 951998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo a redaccedilatildeo a alteraccedilatildeo e aconsolidaccedilatildeo das Leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituiccedilatildeoFederal e estabelece normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativos que mencionacorroborados por comentaacuterios de expert no assunto

Passamos a examinar portanto alguns dispositivos da Lei 111012005 os maisimportantes a nosso ver onde a palavra devedor fez e faz com que muitos pensadorescom origem nos ensinamentos do Professor Faacutebio Ulhoa Coelho a interpretam a nossosentir contrariando o que quis dizer o legislador Satildeo os seguintes

1) ldquoArt 27 O Comitecirc de Credores teraacute as seguintes atribuiccedilotildees aleacutem de outras previstasnesta Lei I ndash () II ndash na recuperaccedilatildeo judicial a) ()

c) submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipoacutetesesprevistas nesta Lei a alienaccedilatildeo de bens do ativo permanente a constituiccedilatildeo de ocircnus reaise outras garantias bem como atos de endividamento necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo daatividade empresarial durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano derecuperaccedilatildeo judicialrdquo

2) ldquoArt 35 A assembleacuteia-geral de credores teraacute por atribuiccedilotildees deliberar sobre

I ndash na recuperaccedilatildeo judicial ()

e) o nome do gestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo

3) ldquoArt 64 Durante o procedimento de recuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seusadministradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividade empresarial sob fiscalizaccedilatildeo do

Comitecirc se houver e do administrador judicial salvo se qualquer deles

I ndash houver sido condenado em sentenccedila penal transitada em julgado por crime cometidoem recuperaccedilatildeo judicial ou falecircncia anteriores ou por crime contra o patrimocircnio aeconomia popular ou a ordem econocircmica previstos na legislaccedilatildeo vigente

II ndash houver indiacutecios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei

III ndash houver agido com dolo simulaccedilatildeo ou fraude contra os interesses de seus credores

IV ndash houver praticado qualquer das seguintes condutas

a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relaccedilatildeo a sua situaccedilatildeopatrimonial

b) efetuar despesas injustificaacuteveis por sua natureza ou vulto em relaccedilatildeo ao capital ougecircnero do negoacutecio ao movimento das operaccedilotildees e a outras circunstacircncias anaacutelogas

c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operaccedilotildees prejudiciais ao seufuncionamento regular

d) simular ou omitir creacuteditos ao apresentar a relaccedilatildeo de que trata o inciso III do caput doart 51 desta Lei sem relevante razatildeo de direito ou amparo de decisatildeo judicial

V ndash negar-se a prestar informaccedilotildees solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demaismembros do Comitecirc

VI ndash tiver seu afastamento previsto no plano de recuperaccedilatildeo judicial

Paraacutegrafo uacutenico Verificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juiz destituiraacute oadministrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor oudo plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo

4) ldquoArt 65 Quando do afastamento do devedor nas hipoacuteteses previstas no art 64 desta Leio juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestorjudicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor aplicando-se-lhe no quecouber todas as normas sobre deveres impedimentos e remuneraccedilatildeo do administradorjudicial

sect 1 ordm O administrador judicial exerceraacute as funccedilotildees de gestor enquanto a assembleacuteia-geralnatildeo deliberar sobre a escolha deste

sect 2 ordm Na hipoacutetese de o gestor indicado pela assembleacuteia-geral de credores recusar ou estarimpedido de aceitar o encargo para gerir os negoacutecios do devedor o juiz convocaraacute noprazo de 72 (setenta e duas) horas contado da recusa ou da declaraccedilatildeo do impedimentonos autos nova assembleacuteia-geral aplicado o disposto no sect 1 ordm deste artigordquo

(i) A nossa visatildeo sobre os dispositivos seguintes acima transcritos da Lei 111012005

Na nossa modesta visatildeo os acima citados e transcritos artigos 27 II c 35 I e e 65 eparaacutegrafos tratam do afastamento do devedor empresaacuterio individual enquanto que o art64 e seu paraacutegrafo uacutenico cuidam da destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores E que tanto as causas para o afastamento do devedor empresaacuterioindividual quanto as causas para a destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores satildeo as mesmas previstas no caput do artigo 64

Soacute o devedor empresaacuterio individual eacute que pode ser afastado e teraacute sua atividadeempresarial assumida pelo gestor judicial (art 65) enquanto o devedor sociedadeempresaacuteria por seu turno tem seus administradores destituiacutedos e substituiacutedos na formaprevista nos constitutivos ou do plano de recuperaccedilatildeo judicial

De outro lado complementa o caput deste artigo 64 que tanto o devedor empresaacuterioindividual quanto o devedor sociedade empresaacuteria esta por seus administradores duranteo procedimento de recuperaccedilatildeo judicial seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividadeempresarial sob fiscalizaccedilatildeo do Comitecirc se houver e do administrador judicial a natildeo serque cometam qualquer das irregularidades acima mencionadas (nordm 3)

Dipotildee o art 27 II c que ao Comitecirc de Credores cabe a responsabilidade de durante operiacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo judicial e jaacute afastado odevedor empresaacuterio individual e em havendo necessidade submeteraacute agrave autorizaccedilatildeo dojuiz do feito as reais condiccedilotildees econocircmico financeira da atividade do devedor para que eleautorize quanto agrave disposiccedilatildeo de bens constituiccedilatildeo de ocircnus dentre outros desde quenecessaacuterio para a continuidade da atividade

Isto porque ao ser afastado este devedor empresaacuterio individual ningueacutem o sucederaacuteningueacutem o substituiraacute Ele eacute soacute natildeo tem administrador e eacute o titular de suas atividadesDaiacute a necessidade instituiacuteda pelo legislador de em ocorrendo o afastamento do devedorempresaacuterio individual naquele curto espaccedilo de tempo que medeia o poacutes-deferimento doprocessamento da recuperaccedilatildeo judicial ateacute a efetiva aprovaccedilatildeo do plano ter algueacutem quezele pela continuidade da atividade Ora pois afastado o devedor empresaacuterio individualdas suas atividades natildeo haacute quem legalmente o substitua

E por que essa necessidade de somente ldquo durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo doplano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Primeiramente porque o devedor empresaacuterio individualndash e se cometer a (as) irregularidadesinfraccedilotildees previstas no artigo 64 ndash seraacute afastado daconduccedilatildeo das suas atividades empresarias somente durante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial (art 64) significando a realizaccedilatildeo deste ato pelo juiz do feito apoacutes orespectivo deferimento do processamento e antes da aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicial Na ocorrecircncia de tal hipoacutetese diz a Lei ldquoo juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral decredores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo dasatividades do devedor aplicando-se-lhe no que couber todas as normas sobre deveresimpedimentos e remuneraccedilatildeo do administrador judicialrdquo (art 65) Conforme se observanas disposiccedilotildees ora transcritas eacute aqui e somente aqui nesta hipoacutetese ndash a do afastamentodo devedor empresaacuterio individual ndash que haacute a necessidade de um ser individualizado detodos os oacutergatildeos da recuperaccedilatildeo judicial qual seja a figura do gestor judicial cujaincumbecircncia que lhe determina a Lei eacute a de assumir a administraccedilatildeo das atividades dodevedor empresaacuterio individual que natildeo foi destituiacutedo e tampouco substituiacutedo Estedevedor foi afastado da conduccedilatildeo das suas atividades

A nosso ver e ao contraacuterio de alguns entendimentos como o do eminente jurista LOBOJorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FC Salles de Toledoe Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4Ed Satildeo Paulo Ed Saraiva 2010 p 247 esteafastamento do devedor empresaacuterio individual eacute temporaacuterio mesmo que tenha violado oartigo 64 I a V e natildeo definitivo conforme pensa o grande jurista Isto porque este devedorempresaacuterio individual ateacute mesmo se condenado foi mais cedo ou mais tarde vai cumprira penalidade que lhe foi imposta e seraacute reabilitado nada o impedindo por consequecircnciade voltar agrave conduccedilatildeo da sua atividade de algo que eacute dele pessoa fiacutesica

Ocorrida a hipoacutetese ndash a do afastamento do devedor empresaacuterio individual ndash ficaraacute sob aresponsabilidade da assembleia geral de credores por convocaccedilatildeo do juiz condutor dofeito as deliberaccedilotildees sobre a escolha do nome do gestor judicial o qual repetimos

assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor empresaacuterio individual De outro ladoprevendo o legislador a possiacutevel inexistecircncia do Comitecirc de Credores (eacute oacutergatildeo facultativoda recuperaccedilatildeo judicial) e as dificuldades naturais para se encontrar um nome que queiraassumir como gestor judicial as atividades do devedor empresaacuterio individual previu que oadminstrador judicial (este sempre funcionaraacute em qualquer processo de recuperaccedilatildeojudicial) exerceraacute as funccedilotildees daquele ateacute que a AGC encontre quem queira e estejadisponiacutevel agrave assunccedilatildeo de tais funccedilotildees (sectsect 1ordm e 2ordm do artigo 65) Daiacute justificar-se a exigecircnciada Lei quanto a ldquodurante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicialrdquo (art 27 II c)

As disposiccedilotildees do art 35 I e da Lei 111012005

Cuida este dispositivo de uma das atribuiccedilotildees da Assembleia Geral de Credores narecuperaccedilatildeo judicial qual seja a de deliberar sobre o nome do gestor judicial quando doafastamento do devedor E esse devedor eacute tambeacutem o empresaacuterio individual como o eacute o dasdisposiccedilotildees do acima comentado Artigo 27 II c Em ambos os casos soacute diferem os oacutergatildeosda recuperaccedilatildeo judicial sendo este o Comitecirc de Credores e aquele a Assembleia Geral deCredores cada qual com sua atribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo de recuperaccedilatildeojudicial ou seja respectivamente submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz e se necessaacuterio para acontinuidade da atividade medidas para que o mesmo as aprove e deliberar sobre onome do gestor judicial mas tudo decorrente do mesmo evento afastamento do devedor ndasho empresaacuterio individual a nosso ver

As disposiccedilotildees do art 65 e sectsect 1ordm e 2ordm da Lei 111012005

Analisamos primeiramente (antes que o art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico) as disposiccedilotildees desteartigo 65 e seus paraacutegrafos que tambeacutem tratam do afastamento do devedor E este devedoreacute tambeacutem o empresaacuterio individual E aqui o caput deste art 65 realccedila que as hipoacutetesespara tal satildeo todas as previstas no artigo 64 Por cometimento de qualquer uma delas diz aLei seraacute o devedor (empresaacuterio individual) afastado oportunidade em que o juizconvocaraacute a assembleia geral de credores (art 35 I e) para as deliberaccedilotildees sobre o nomedo gestor judicial que assumiraacute as atividades desse devedor Esse gestor judicial natildeo viraacutesubstituir o devedor pois este natildeo foi e natildeo pode ser destituiacutedo o gestor judicialsimplesmente assumiraacute a continuidade das suas atividades E diante da natural demorada realizaccedilatildeo dessa AGC e ateacute a efetiva escolha do gestor judicial diz a Lei que oadministrador judicial exerceraacute as funccedilotildees do gestor judicial (sectsect 1ordm e 2ordm)

O art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico da Lei 111012005

Por uacuteltimo as disposiccedilotildees da Lei 111012005 que tratam segundo nossa visatildeo do devedorsociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica e que cuidam da destituiccedilatildeo e substituiccedilatildeo dos seusadministradores quando cometerem as mesmas infraccedilotildeesirregularidades previstas nocaput deste artigo 64 que satildeo tambeacutem as mesmas que causam o afastamento do devedorempresaacuterio individual Nada obstante isso a devedora sociedade empresaacuteria submete-se aoutro procedimento para a destituiccedilatildeo de seus administradores previsto no paraacutegrafouacutenico do art 64 que diz que ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juizdestituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos dodevedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Ateacute mesmo se o devedor sociedadeempresaacuteria tiver o afastamento de seu administrador previsto no plano de recuperaccedilatildeojudicial (art 64 VI) ainda assim diz a Lei o juiz o destituiraacute mas natildeo o afastaraacute E osubstituiraacute ou conforme a previsatildeo dos atos constitutivos (entendidos aqui o contratosocial para as demais sociedades empresaacuterias e o Estatuto Social atas de assembleias deeleiccedilatildeo e posse para as Companhias) ou conforme a previsatildeo no plano de recuperaccedilatildeojudicial

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

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FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

This article aims to bring to light as we see the correct interpretations of the word debtorin some provisions of the law 111012005 as well as its implications arising from Article1 prescribes that this law is subject to judicial reorganization Judicial reorganization andbankruptcy of the entrepreneur and the company hereinafter simply to as debtorSincethe LFRE 09062005 the Professor Faacutebio Ulhoa Coelho began a diffusion of anunderstanding that resulted in a School where the individual entrepreneur debtor isliterally lodged in the context of the law and the article that takes care of the 65 isinterpreted and applied in the sense of appointing judicial manager when theadministrator of the debtor company distorting to our feelings the porposes of the law

Palavra Chave Devedor - Afastamento - Destituiccedilatildeo - Gestor judicial e administradorKeywords Debtor - Removal - Dismissal - Judicial manager and administrator

Ao longo desses mais de onze anos de vigecircncia da LFRE ndash 111012005 ndash tantodoutrinadores quanto julgadores em sua grande maioria caminham por rumosdesencontrados quanto agrave exata interpretaccedilatildeo e ateacute mesmo julgamentos de algunsdispositivos onde constam a palavra devedor Em determinados casos alguns poradotarem os pensamentos de doutrinador mais experimentado em outros por faltamesmo da correta interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei

O legislador ao dizer no artigo 1ordm da Lei 111012005 que ldquoesta Lei disciplina a recuperaccedilatildeojudicial a recuperaccedilatildeo extrajudicial e a falecircncia do empresaacuterio e da sociedade empresaacuteriadoravante referidos simplesmente como devedorrdquo o fez no sentido de simplificar poisnecessariamente em todo processo de recuperaccedilatildeo judicial haveraacute a figura do devedorseja ele empresaacuterio ou sociedade empresaacuteria E esta figura independentemente de seraquele ou esta seraacute sempre o devedor seja em que circunstacircncia for Todavia este termodevedor em certas circunstacircncias objetos de nossas anaacutelises receberatildeo dos seusinteacuterpretes e aplicadores especialmente do Professor Faacutebio Ulhoa Coelho e os que oseguiram interpretaccedilotildees e aplicaccedilotildees que a nosso modesto ver natildeo correspondem agravevontade do legislador

A utilizaccedilatildeo da palavra devedor referindo-se indistintamente ao empresaacuterio individualpessoa fiacutesica e agrave sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica por seus administradores exige dointeacuterprete natildeo soacute uma atenccedilatildeo mais que especial para se saber se ali naquele momento emque ele se depara com a citada palavra se ela estaacute se referindo ou ao empresaacuterioindividual ou agrave sociedade empresaacuteria por seus administradores ou a ambos A nossosentir isto natildeo eacute tarefa das mais faacuteceis mas natildeo deve desestimular os pensadores dodireito ao contraacuterio que lhes sirva de incentivo para encontrarem na Lei aquilo que olegislador quis dizer De nosso lado com muita humildade mas tambeacutem com muitacoragem e ousadia o que acreditamos deva ser um apanaacutegio do pesquisador que buscaencontrar na Lei a exata vontade pensada pelo legislador sem medo de errar e sem medodas criacuteticas ndash nos sentimos incentivados para esta tarefa e nos atrevemos a buscar apesquisar e acima de tudo a pensar a pensar muito para encontrar ou descobrir emdeterminadas disposiccedilotildees da Lei 111012005 quando se refere ao devedor o que quisdizer o que pensou o legislador O que nos motivou a isso eacute sem duacutevida a escola criadapelo ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho que deste a criaccedilatildeo e vigecircncia da Lei em 2005difundiu ou melhor criou um rito para a aplicabilidade da Lei 111012005 ndash esperamosque natildeo de propoacutesito ndash o que aliaacutes lhe debitamos como equiacutevoco ou equiacutevocos Mas oilustre doutrinador ao omitir a literalidade da Lei e em seu local implantar uma redaccedilatildeoproacutepria alijou dela a figura do devedor empresaacuterio individual e passou a defender e aadvogar (os seus escritos o dizem) que somente a devedora sociedade empresaacuteria eacute queseria a legitimada para a recuperaccedilatildeo judicial e a nosso ver num conjunto deinterpretaccedilotildees distorcidas e confusas quanto aos termos devedor afastamento destituiccedilatildeo

gestor judicial administradores fez escola e conquistou muitos seguidores Vamostodavia com muita humildade tentar mostrar os equiacutevocos do Mestre

No fundo da questatildeo este grande pensador do direito a quem rendemos todas as vecircnias aquem sempre citamos respeitosamente em nossas obras e artigos com quem sempreestamos aprendendo sempre por estes predicados nos faz crer que foi profundamentetraiacutedo em um momento por suas sempre maravilhosas interpretaccedilotildeesNatildeo queremos deoutro lado acreditar que ele o fez propositadamente pois a sua grandeza natildeo opermitiria Mas foi tatildeo grave o equiacutevoco cometido pelo ilustre jurista que ao transcreverum dispositivo da Lei cometeu ao mesmo tempo trecircs erros (i) citou a aliacutenea incorreta (ii)natildeo transcreveu com as letras da Lei o inteiro teor do dispositivo e (iii) inseriu em seulugar uma redaccedilatildeo inexistente em toda a Lei 111012005 Eacute grave porquedecorrentemente da redaccedilatildeo criada por Faacutebio Ulhoa Coelho ao mencionado dispositivofez-se escola Da mesma forma e com o mesmo sentido que ele imprimiu sua redaccedilatildeo nasua obra lanccedilada em 2005 tambeacutem o fez na sua uacuteltima obra lanccedilada neste ano de 2016Diferentemente tambeacutem natildeo o fez em suas obras de 2011 e 2014

A grande verdade eacute que o termo devedor em determinadas circunstacircncias da Lei111012005 refere-se exclusivamente ao devedor empresaacuterio individual em outrasexclusivamente agraves sociedades empresaacuterias e ainda em outras a ambos residindo aqui anosso modesto ver os equiacutevocos do grande Professor Ulhoa

Para uma melhor compreensatildeo vamos utilizar de uma sequecircncia nas nossas exposiccedilotildeessobre o tema em foco (i) comeccedilando pelo nosso modesto entendimento dos citadosdispositivos da Lei 111012005 que a seguir transcreveremos (ii) seguido pelosentendimentos do doutrinador e Prof Faacutebio Ulhoa sobre os mesmos e suas consequecircnciasque fizeram escola (iii) transcrevendo julgados de alguns Tribunais regionais que seguema escola do Mestre e (iv) finalmente transcrevendo os ensinamentos da LeiComplementar 951998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo a redaccedilatildeo a alteraccedilatildeo e aconsolidaccedilatildeo das Leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituiccedilatildeoFederal e estabelece normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativos que mencionacorroborados por comentaacuterios de expert no assunto

Passamos a examinar portanto alguns dispositivos da Lei 111012005 os maisimportantes a nosso ver onde a palavra devedor fez e faz com que muitos pensadorescom origem nos ensinamentos do Professor Faacutebio Ulhoa Coelho a interpretam a nossosentir contrariando o que quis dizer o legislador Satildeo os seguintes

1) ldquoArt 27 O Comitecirc de Credores teraacute as seguintes atribuiccedilotildees aleacutem de outras previstasnesta Lei I ndash () II ndash na recuperaccedilatildeo judicial a) ()

c) submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipoacutetesesprevistas nesta Lei a alienaccedilatildeo de bens do ativo permanente a constituiccedilatildeo de ocircnus reaise outras garantias bem como atos de endividamento necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo daatividade empresarial durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano derecuperaccedilatildeo judicialrdquo

2) ldquoArt 35 A assembleacuteia-geral de credores teraacute por atribuiccedilotildees deliberar sobre

I ndash na recuperaccedilatildeo judicial ()

e) o nome do gestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo

3) ldquoArt 64 Durante o procedimento de recuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seusadministradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividade empresarial sob fiscalizaccedilatildeo do

Comitecirc se houver e do administrador judicial salvo se qualquer deles

I ndash houver sido condenado em sentenccedila penal transitada em julgado por crime cometidoem recuperaccedilatildeo judicial ou falecircncia anteriores ou por crime contra o patrimocircnio aeconomia popular ou a ordem econocircmica previstos na legislaccedilatildeo vigente

II ndash houver indiacutecios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei

III ndash houver agido com dolo simulaccedilatildeo ou fraude contra os interesses de seus credores

IV ndash houver praticado qualquer das seguintes condutas

a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relaccedilatildeo a sua situaccedilatildeopatrimonial

b) efetuar despesas injustificaacuteveis por sua natureza ou vulto em relaccedilatildeo ao capital ougecircnero do negoacutecio ao movimento das operaccedilotildees e a outras circunstacircncias anaacutelogas

c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operaccedilotildees prejudiciais ao seufuncionamento regular

d) simular ou omitir creacuteditos ao apresentar a relaccedilatildeo de que trata o inciso III do caput doart 51 desta Lei sem relevante razatildeo de direito ou amparo de decisatildeo judicial

V ndash negar-se a prestar informaccedilotildees solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demaismembros do Comitecirc

VI ndash tiver seu afastamento previsto no plano de recuperaccedilatildeo judicial

Paraacutegrafo uacutenico Verificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juiz destituiraacute oadministrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor oudo plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo

4) ldquoArt 65 Quando do afastamento do devedor nas hipoacuteteses previstas no art 64 desta Leio juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestorjudicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor aplicando-se-lhe no quecouber todas as normas sobre deveres impedimentos e remuneraccedilatildeo do administradorjudicial

sect 1 ordm O administrador judicial exerceraacute as funccedilotildees de gestor enquanto a assembleacuteia-geralnatildeo deliberar sobre a escolha deste

sect 2 ordm Na hipoacutetese de o gestor indicado pela assembleacuteia-geral de credores recusar ou estarimpedido de aceitar o encargo para gerir os negoacutecios do devedor o juiz convocaraacute noprazo de 72 (setenta e duas) horas contado da recusa ou da declaraccedilatildeo do impedimentonos autos nova assembleacuteia-geral aplicado o disposto no sect 1 ordm deste artigordquo

(i) A nossa visatildeo sobre os dispositivos seguintes acima transcritos da Lei 111012005

Na nossa modesta visatildeo os acima citados e transcritos artigos 27 II c 35 I e e 65 eparaacutegrafos tratam do afastamento do devedor empresaacuterio individual enquanto que o art64 e seu paraacutegrafo uacutenico cuidam da destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores E que tanto as causas para o afastamento do devedor empresaacuterioindividual quanto as causas para a destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores satildeo as mesmas previstas no caput do artigo 64

Soacute o devedor empresaacuterio individual eacute que pode ser afastado e teraacute sua atividadeempresarial assumida pelo gestor judicial (art 65) enquanto o devedor sociedadeempresaacuteria por seu turno tem seus administradores destituiacutedos e substituiacutedos na formaprevista nos constitutivos ou do plano de recuperaccedilatildeo judicial

De outro lado complementa o caput deste artigo 64 que tanto o devedor empresaacuterioindividual quanto o devedor sociedade empresaacuteria esta por seus administradores duranteo procedimento de recuperaccedilatildeo judicial seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividadeempresarial sob fiscalizaccedilatildeo do Comitecirc se houver e do administrador judicial a natildeo serque cometam qualquer das irregularidades acima mencionadas (nordm 3)

Dipotildee o art 27 II c que ao Comitecirc de Credores cabe a responsabilidade de durante operiacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo judicial e jaacute afastado odevedor empresaacuterio individual e em havendo necessidade submeteraacute agrave autorizaccedilatildeo dojuiz do feito as reais condiccedilotildees econocircmico financeira da atividade do devedor para que eleautorize quanto agrave disposiccedilatildeo de bens constituiccedilatildeo de ocircnus dentre outros desde quenecessaacuterio para a continuidade da atividade

Isto porque ao ser afastado este devedor empresaacuterio individual ningueacutem o sucederaacuteningueacutem o substituiraacute Ele eacute soacute natildeo tem administrador e eacute o titular de suas atividadesDaiacute a necessidade instituiacuteda pelo legislador de em ocorrendo o afastamento do devedorempresaacuterio individual naquele curto espaccedilo de tempo que medeia o poacutes-deferimento doprocessamento da recuperaccedilatildeo judicial ateacute a efetiva aprovaccedilatildeo do plano ter algueacutem quezele pela continuidade da atividade Ora pois afastado o devedor empresaacuterio individualdas suas atividades natildeo haacute quem legalmente o substitua

E por que essa necessidade de somente ldquo durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo doplano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Primeiramente porque o devedor empresaacuterio individualndash e se cometer a (as) irregularidadesinfraccedilotildees previstas no artigo 64 ndash seraacute afastado daconduccedilatildeo das suas atividades empresarias somente durante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial (art 64) significando a realizaccedilatildeo deste ato pelo juiz do feito apoacutes orespectivo deferimento do processamento e antes da aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicial Na ocorrecircncia de tal hipoacutetese diz a Lei ldquoo juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral decredores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo dasatividades do devedor aplicando-se-lhe no que couber todas as normas sobre deveresimpedimentos e remuneraccedilatildeo do administrador judicialrdquo (art 65) Conforme se observanas disposiccedilotildees ora transcritas eacute aqui e somente aqui nesta hipoacutetese ndash a do afastamentodo devedor empresaacuterio individual ndash que haacute a necessidade de um ser individualizado detodos os oacutergatildeos da recuperaccedilatildeo judicial qual seja a figura do gestor judicial cujaincumbecircncia que lhe determina a Lei eacute a de assumir a administraccedilatildeo das atividades dodevedor empresaacuterio individual que natildeo foi destituiacutedo e tampouco substituiacutedo Estedevedor foi afastado da conduccedilatildeo das suas atividades

A nosso ver e ao contraacuterio de alguns entendimentos como o do eminente jurista LOBOJorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FC Salles de Toledoe Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4Ed Satildeo Paulo Ed Saraiva 2010 p 247 esteafastamento do devedor empresaacuterio individual eacute temporaacuterio mesmo que tenha violado oartigo 64 I a V e natildeo definitivo conforme pensa o grande jurista Isto porque este devedorempresaacuterio individual ateacute mesmo se condenado foi mais cedo ou mais tarde vai cumprira penalidade que lhe foi imposta e seraacute reabilitado nada o impedindo por consequecircnciade voltar agrave conduccedilatildeo da sua atividade de algo que eacute dele pessoa fiacutesica

Ocorrida a hipoacutetese ndash a do afastamento do devedor empresaacuterio individual ndash ficaraacute sob aresponsabilidade da assembleia geral de credores por convocaccedilatildeo do juiz condutor dofeito as deliberaccedilotildees sobre a escolha do nome do gestor judicial o qual repetimos

assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor empresaacuterio individual De outro ladoprevendo o legislador a possiacutevel inexistecircncia do Comitecirc de Credores (eacute oacutergatildeo facultativoda recuperaccedilatildeo judicial) e as dificuldades naturais para se encontrar um nome que queiraassumir como gestor judicial as atividades do devedor empresaacuterio individual previu que oadminstrador judicial (este sempre funcionaraacute em qualquer processo de recuperaccedilatildeojudicial) exerceraacute as funccedilotildees daquele ateacute que a AGC encontre quem queira e estejadisponiacutevel agrave assunccedilatildeo de tais funccedilotildees (sectsect 1ordm e 2ordm do artigo 65) Daiacute justificar-se a exigecircnciada Lei quanto a ldquodurante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicialrdquo (art 27 II c)

As disposiccedilotildees do art 35 I e da Lei 111012005

Cuida este dispositivo de uma das atribuiccedilotildees da Assembleia Geral de Credores narecuperaccedilatildeo judicial qual seja a de deliberar sobre o nome do gestor judicial quando doafastamento do devedor E esse devedor eacute tambeacutem o empresaacuterio individual como o eacute o dasdisposiccedilotildees do acima comentado Artigo 27 II c Em ambos os casos soacute diferem os oacutergatildeosda recuperaccedilatildeo judicial sendo este o Comitecirc de Credores e aquele a Assembleia Geral deCredores cada qual com sua atribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo de recuperaccedilatildeojudicial ou seja respectivamente submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz e se necessaacuterio para acontinuidade da atividade medidas para que o mesmo as aprove e deliberar sobre onome do gestor judicial mas tudo decorrente do mesmo evento afastamento do devedor ndasho empresaacuterio individual a nosso ver

As disposiccedilotildees do art 65 e sectsect 1ordm e 2ordm da Lei 111012005

Analisamos primeiramente (antes que o art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico) as disposiccedilotildees desteartigo 65 e seus paraacutegrafos que tambeacutem tratam do afastamento do devedor E este devedoreacute tambeacutem o empresaacuterio individual E aqui o caput deste art 65 realccedila que as hipoacutetesespara tal satildeo todas as previstas no artigo 64 Por cometimento de qualquer uma delas diz aLei seraacute o devedor (empresaacuterio individual) afastado oportunidade em que o juizconvocaraacute a assembleia geral de credores (art 35 I e) para as deliberaccedilotildees sobre o nomedo gestor judicial que assumiraacute as atividades desse devedor Esse gestor judicial natildeo viraacutesubstituir o devedor pois este natildeo foi e natildeo pode ser destituiacutedo o gestor judicialsimplesmente assumiraacute a continuidade das suas atividades E diante da natural demorada realizaccedilatildeo dessa AGC e ateacute a efetiva escolha do gestor judicial diz a Lei que oadministrador judicial exerceraacute as funccedilotildees do gestor judicial (sectsect 1ordm e 2ordm)

O art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico da Lei 111012005

Por uacuteltimo as disposiccedilotildees da Lei 111012005 que tratam segundo nossa visatildeo do devedorsociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica e que cuidam da destituiccedilatildeo e substituiccedilatildeo dos seusadministradores quando cometerem as mesmas infraccedilotildeesirregularidades previstas nocaput deste artigo 64 que satildeo tambeacutem as mesmas que causam o afastamento do devedorempresaacuterio individual Nada obstante isso a devedora sociedade empresaacuteria submete-se aoutro procedimento para a destituiccedilatildeo de seus administradores previsto no paraacutegrafouacutenico do art 64 que diz que ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juizdestituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos dodevedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Ateacute mesmo se o devedor sociedadeempresaacuteria tiver o afastamento de seu administrador previsto no plano de recuperaccedilatildeojudicial (art 64 VI) ainda assim diz a Lei o juiz o destituiraacute mas natildeo o afastaraacute E osubstituiraacute ou conforme a previsatildeo dos atos constitutivos (entendidos aqui o contratosocial para as demais sociedades empresaacuterias e o Estatuto Social atas de assembleias deeleiccedilatildeo e posse para as Companhias) ou conforme a previsatildeo no plano de recuperaccedilatildeojudicial

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

gestor judicial administradores fez escola e conquistou muitos seguidores Vamostodavia com muita humildade tentar mostrar os equiacutevocos do Mestre

No fundo da questatildeo este grande pensador do direito a quem rendemos todas as vecircnias aquem sempre citamos respeitosamente em nossas obras e artigos com quem sempreestamos aprendendo sempre por estes predicados nos faz crer que foi profundamentetraiacutedo em um momento por suas sempre maravilhosas interpretaccedilotildeesNatildeo queremos deoutro lado acreditar que ele o fez propositadamente pois a sua grandeza natildeo opermitiria Mas foi tatildeo grave o equiacutevoco cometido pelo ilustre jurista que ao transcreverum dispositivo da Lei cometeu ao mesmo tempo trecircs erros (i) citou a aliacutenea incorreta (ii)natildeo transcreveu com as letras da Lei o inteiro teor do dispositivo e (iii) inseriu em seulugar uma redaccedilatildeo inexistente em toda a Lei 111012005 Eacute grave porquedecorrentemente da redaccedilatildeo criada por Faacutebio Ulhoa Coelho ao mencionado dispositivofez-se escola Da mesma forma e com o mesmo sentido que ele imprimiu sua redaccedilatildeo nasua obra lanccedilada em 2005 tambeacutem o fez na sua uacuteltima obra lanccedilada neste ano de 2016Diferentemente tambeacutem natildeo o fez em suas obras de 2011 e 2014

A grande verdade eacute que o termo devedor em determinadas circunstacircncias da Lei111012005 refere-se exclusivamente ao devedor empresaacuterio individual em outrasexclusivamente agraves sociedades empresaacuterias e ainda em outras a ambos residindo aqui anosso modesto ver os equiacutevocos do grande Professor Ulhoa

Para uma melhor compreensatildeo vamos utilizar de uma sequecircncia nas nossas exposiccedilotildeessobre o tema em foco (i) comeccedilando pelo nosso modesto entendimento dos citadosdispositivos da Lei 111012005 que a seguir transcreveremos (ii) seguido pelosentendimentos do doutrinador e Prof Faacutebio Ulhoa sobre os mesmos e suas consequecircnciasque fizeram escola (iii) transcrevendo julgados de alguns Tribunais regionais que seguema escola do Mestre e (iv) finalmente transcrevendo os ensinamentos da LeiComplementar 951998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo a redaccedilatildeo a alteraccedilatildeo e aconsolidaccedilatildeo das Leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituiccedilatildeoFederal e estabelece normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativos que mencionacorroborados por comentaacuterios de expert no assunto

Passamos a examinar portanto alguns dispositivos da Lei 111012005 os maisimportantes a nosso ver onde a palavra devedor fez e faz com que muitos pensadorescom origem nos ensinamentos do Professor Faacutebio Ulhoa Coelho a interpretam a nossosentir contrariando o que quis dizer o legislador Satildeo os seguintes

1) ldquoArt 27 O Comitecirc de Credores teraacute as seguintes atribuiccedilotildees aleacutem de outras previstasnesta Lei I ndash () II ndash na recuperaccedilatildeo judicial a) ()

c) submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipoacutetesesprevistas nesta Lei a alienaccedilatildeo de bens do ativo permanente a constituiccedilatildeo de ocircnus reaise outras garantias bem como atos de endividamento necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo daatividade empresarial durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano derecuperaccedilatildeo judicialrdquo

2) ldquoArt 35 A assembleacuteia-geral de credores teraacute por atribuiccedilotildees deliberar sobre

I ndash na recuperaccedilatildeo judicial ()

e) o nome do gestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo

3) ldquoArt 64 Durante o procedimento de recuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seusadministradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividade empresarial sob fiscalizaccedilatildeo do

Comitecirc se houver e do administrador judicial salvo se qualquer deles

I ndash houver sido condenado em sentenccedila penal transitada em julgado por crime cometidoem recuperaccedilatildeo judicial ou falecircncia anteriores ou por crime contra o patrimocircnio aeconomia popular ou a ordem econocircmica previstos na legislaccedilatildeo vigente

II ndash houver indiacutecios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei

III ndash houver agido com dolo simulaccedilatildeo ou fraude contra os interesses de seus credores

IV ndash houver praticado qualquer das seguintes condutas

a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relaccedilatildeo a sua situaccedilatildeopatrimonial

b) efetuar despesas injustificaacuteveis por sua natureza ou vulto em relaccedilatildeo ao capital ougecircnero do negoacutecio ao movimento das operaccedilotildees e a outras circunstacircncias anaacutelogas

c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operaccedilotildees prejudiciais ao seufuncionamento regular

d) simular ou omitir creacuteditos ao apresentar a relaccedilatildeo de que trata o inciso III do caput doart 51 desta Lei sem relevante razatildeo de direito ou amparo de decisatildeo judicial

V ndash negar-se a prestar informaccedilotildees solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demaismembros do Comitecirc

VI ndash tiver seu afastamento previsto no plano de recuperaccedilatildeo judicial

Paraacutegrafo uacutenico Verificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juiz destituiraacute oadministrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor oudo plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo

4) ldquoArt 65 Quando do afastamento do devedor nas hipoacuteteses previstas no art 64 desta Leio juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestorjudicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor aplicando-se-lhe no quecouber todas as normas sobre deveres impedimentos e remuneraccedilatildeo do administradorjudicial

sect 1 ordm O administrador judicial exerceraacute as funccedilotildees de gestor enquanto a assembleacuteia-geralnatildeo deliberar sobre a escolha deste

sect 2 ordm Na hipoacutetese de o gestor indicado pela assembleacuteia-geral de credores recusar ou estarimpedido de aceitar o encargo para gerir os negoacutecios do devedor o juiz convocaraacute noprazo de 72 (setenta e duas) horas contado da recusa ou da declaraccedilatildeo do impedimentonos autos nova assembleacuteia-geral aplicado o disposto no sect 1 ordm deste artigordquo

(i) A nossa visatildeo sobre os dispositivos seguintes acima transcritos da Lei 111012005

Na nossa modesta visatildeo os acima citados e transcritos artigos 27 II c 35 I e e 65 eparaacutegrafos tratam do afastamento do devedor empresaacuterio individual enquanto que o art64 e seu paraacutegrafo uacutenico cuidam da destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores E que tanto as causas para o afastamento do devedor empresaacuterioindividual quanto as causas para a destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores satildeo as mesmas previstas no caput do artigo 64

Soacute o devedor empresaacuterio individual eacute que pode ser afastado e teraacute sua atividadeempresarial assumida pelo gestor judicial (art 65) enquanto o devedor sociedadeempresaacuteria por seu turno tem seus administradores destituiacutedos e substituiacutedos na formaprevista nos constitutivos ou do plano de recuperaccedilatildeo judicial

De outro lado complementa o caput deste artigo 64 que tanto o devedor empresaacuterioindividual quanto o devedor sociedade empresaacuteria esta por seus administradores duranteo procedimento de recuperaccedilatildeo judicial seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividadeempresarial sob fiscalizaccedilatildeo do Comitecirc se houver e do administrador judicial a natildeo serque cometam qualquer das irregularidades acima mencionadas (nordm 3)

Dipotildee o art 27 II c que ao Comitecirc de Credores cabe a responsabilidade de durante operiacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo judicial e jaacute afastado odevedor empresaacuterio individual e em havendo necessidade submeteraacute agrave autorizaccedilatildeo dojuiz do feito as reais condiccedilotildees econocircmico financeira da atividade do devedor para que eleautorize quanto agrave disposiccedilatildeo de bens constituiccedilatildeo de ocircnus dentre outros desde quenecessaacuterio para a continuidade da atividade

Isto porque ao ser afastado este devedor empresaacuterio individual ningueacutem o sucederaacuteningueacutem o substituiraacute Ele eacute soacute natildeo tem administrador e eacute o titular de suas atividadesDaiacute a necessidade instituiacuteda pelo legislador de em ocorrendo o afastamento do devedorempresaacuterio individual naquele curto espaccedilo de tempo que medeia o poacutes-deferimento doprocessamento da recuperaccedilatildeo judicial ateacute a efetiva aprovaccedilatildeo do plano ter algueacutem quezele pela continuidade da atividade Ora pois afastado o devedor empresaacuterio individualdas suas atividades natildeo haacute quem legalmente o substitua

E por que essa necessidade de somente ldquo durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo doplano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Primeiramente porque o devedor empresaacuterio individualndash e se cometer a (as) irregularidadesinfraccedilotildees previstas no artigo 64 ndash seraacute afastado daconduccedilatildeo das suas atividades empresarias somente durante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial (art 64) significando a realizaccedilatildeo deste ato pelo juiz do feito apoacutes orespectivo deferimento do processamento e antes da aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicial Na ocorrecircncia de tal hipoacutetese diz a Lei ldquoo juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral decredores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo dasatividades do devedor aplicando-se-lhe no que couber todas as normas sobre deveresimpedimentos e remuneraccedilatildeo do administrador judicialrdquo (art 65) Conforme se observanas disposiccedilotildees ora transcritas eacute aqui e somente aqui nesta hipoacutetese ndash a do afastamentodo devedor empresaacuterio individual ndash que haacute a necessidade de um ser individualizado detodos os oacutergatildeos da recuperaccedilatildeo judicial qual seja a figura do gestor judicial cujaincumbecircncia que lhe determina a Lei eacute a de assumir a administraccedilatildeo das atividades dodevedor empresaacuterio individual que natildeo foi destituiacutedo e tampouco substituiacutedo Estedevedor foi afastado da conduccedilatildeo das suas atividades

A nosso ver e ao contraacuterio de alguns entendimentos como o do eminente jurista LOBOJorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FC Salles de Toledoe Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4Ed Satildeo Paulo Ed Saraiva 2010 p 247 esteafastamento do devedor empresaacuterio individual eacute temporaacuterio mesmo que tenha violado oartigo 64 I a V e natildeo definitivo conforme pensa o grande jurista Isto porque este devedorempresaacuterio individual ateacute mesmo se condenado foi mais cedo ou mais tarde vai cumprira penalidade que lhe foi imposta e seraacute reabilitado nada o impedindo por consequecircnciade voltar agrave conduccedilatildeo da sua atividade de algo que eacute dele pessoa fiacutesica

Ocorrida a hipoacutetese ndash a do afastamento do devedor empresaacuterio individual ndash ficaraacute sob aresponsabilidade da assembleia geral de credores por convocaccedilatildeo do juiz condutor dofeito as deliberaccedilotildees sobre a escolha do nome do gestor judicial o qual repetimos

assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor empresaacuterio individual De outro ladoprevendo o legislador a possiacutevel inexistecircncia do Comitecirc de Credores (eacute oacutergatildeo facultativoda recuperaccedilatildeo judicial) e as dificuldades naturais para se encontrar um nome que queiraassumir como gestor judicial as atividades do devedor empresaacuterio individual previu que oadminstrador judicial (este sempre funcionaraacute em qualquer processo de recuperaccedilatildeojudicial) exerceraacute as funccedilotildees daquele ateacute que a AGC encontre quem queira e estejadisponiacutevel agrave assunccedilatildeo de tais funccedilotildees (sectsect 1ordm e 2ordm do artigo 65) Daiacute justificar-se a exigecircnciada Lei quanto a ldquodurante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicialrdquo (art 27 II c)

As disposiccedilotildees do art 35 I e da Lei 111012005

Cuida este dispositivo de uma das atribuiccedilotildees da Assembleia Geral de Credores narecuperaccedilatildeo judicial qual seja a de deliberar sobre o nome do gestor judicial quando doafastamento do devedor E esse devedor eacute tambeacutem o empresaacuterio individual como o eacute o dasdisposiccedilotildees do acima comentado Artigo 27 II c Em ambos os casos soacute diferem os oacutergatildeosda recuperaccedilatildeo judicial sendo este o Comitecirc de Credores e aquele a Assembleia Geral deCredores cada qual com sua atribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo de recuperaccedilatildeojudicial ou seja respectivamente submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz e se necessaacuterio para acontinuidade da atividade medidas para que o mesmo as aprove e deliberar sobre onome do gestor judicial mas tudo decorrente do mesmo evento afastamento do devedor ndasho empresaacuterio individual a nosso ver

As disposiccedilotildees do art 65 e sectsect 1ordm e 2ordm da Lei 111012005

Analisamos primeiramente (antes que o art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico) as disposiccedilotildees desteartigo 65 e seus paraacutegrafos que tambeacutem tratam do afastamento do devedor E este devedoreacute tambeacutem o empresaacuterio individual E aqui o caput deste art 65 realccedila que as hipoacutetesespara tal satildeo todas as previstas no artigo 64 Por cometimento de qualquer uma delas diz aLei seraacute o devedor (empresaacuterio individual) afastado oportunidade em que o juizconvocaraacute a assembleia geral de credores (art 35 I e) para as deliberaccedilotildees sobre o nomedo gestor judicial que assumiraacute as atividades desse devedor Esse gestor judicial natildeo viraacutesubstituir o devedor pois este natildeo foi e natildeo pode ser destituiacutedo o gestor judicialsimplesmente assumiraacute a continuidade das suas atividades E diante da natural demorada realizaccedilatildeo dessa AGC e ateacute a efetiva escolha do gestor judicial diz a Lei que oadministrador judicial exerceraacute as funccedilotildees do gestor judicial (sectsect 1ordm e 2ordm)

O art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico da Lei 111012005

Por uacuteltimo as disposiccedilotildees da Lei 111012005 que tratam segundo nossa visatildeo do devedorsociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica e que cuidam da destituiccedilatildeo e substituiccedilatildeo dos seusadministradores quando cometerem as mesmas infraccedilotildeesirregularidades previstas nocaput deste artigo 64 que satildeo tambeacutem as mesmas que causam o afastamento do devedorempresaacuterio individual Nada obstante isso a devedora sociedade empresaacuteria submete-se aoutro procedimento para a destituiccedilatildeo de seus administradores previsto no paraacutegrafouacutenico do art 64 que diz que ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juizdestituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos dodevedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Ateacute mesmo se o devedor sociedadeempresaacuteria tiver o afastamento de seu administrador previsto no plano de recuperaccedilatildeojudicial (art 64 VI) ainda assim diz a Lei o juiz o destituiraacute mas natildeo o afastaraacute E osubstituiraacute ou conforme a previsatildeo dos atos constitutivos (entendidos aqui o contratosocial para as demais sociedades empresaacuterias e o Estatuto Social atas de assembleias deeleiccedilatildeo e posse para as Companhias) ou conforme a previsatildeo no plano de recuperaccedilatildeojudicial

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

Comitecirc se houver e do administrador judicial salvo se qualquer deles

I ndash houver sido condenado em sentenccedila penal transitada em julgado por crime cometidoem recuperaccedilatildeo judicial ou falecircncia anteriores ou por crime contra o patrimocircnio aeconomia popular ou a ordem econocircmica previstos na legislaccedilatildeo vigente

II ndash houver indiacutecios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei

III ndash houver agido com dolo simulaccedilatildeo ou fraude contra os interesses de seus credores

IV ndash houver praticado qualquer das seguintes condutas

a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relaccedilatildeo a sua situaccedilatildeopatrimonial

b) efetuar despesas injustificaacuteveis por sua natureza ou vulto em relaccedilatildeo ao capital ougecircnero do negoacutecio ao movimento das operaccedilotildees e a outras circunstacircncias anaacutelogas

c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operaccedilotildees prejudiciais ao seufuncionamento regular

d) simular ou omitir creacuteditos ao apresentar a relaccedilatildeo de que trata o inciso III do caput doart 51 desta Lei sem relevante razatildeo de direito ou amparo de decisatildeo judicial

V ndash negar-se a prestar informaccedilotildees solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demaismembros do Comitecirc

VI ndash tiver seu afastamento previsto no plano de recuperaccedilatildeo judicial

Paraacutegrafo uacutenico Verificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juiz destituiraacute oadministrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor oudo plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo

4) ldquoArt 65 Quando do afastamento do devedor nas hipoacuteteses previstas no art 64 desta Leio juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestorjudicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor aplicando-se-lhe no quecouber todas as normas sobre deveres impedimentos e remuneraccedilatildeo do administradorjudicial

sect 1 ordm O administrador judicial exerceraacute as funccedilotildees de gestor enquanto a assembleacuteia-geralnatildeo deliberar sobre a escolha deste

sect 2 ordm Na hipoacutetese de o gestor indicado pela assembleacuteia-geral de credores recusar ou estarimpedido de aceitar o encargo para gerir os negoacutecios do devedor o juiz convocaraacute noprazo de 72 (setenta e duas) horas contado da recusa ou da declaraccedilatildeo do impedimentonos autos nova assembleacuteia-geral aplicado o disposto no sect 1 ordm deste artigordquo

(i) A nossa visatildeo sobre os dispositivos seguintes acima transcritos da Lei 111012005

Na nossa modesta visatildeo os acima citados e transcritos artigos 27 II c 35 I e e 65 eparaacutegrafos tratam do afastamento do devedor empresaacuterio individual enquanto que o art64 e seu paraacutegrafo uacutenico cuidam da destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores E que tanto as causas para o afastamento do devedor empresaacuterioindividual quanto as causas para a destituiccedilatildeo do devedor sociedade empresaacuteria por seusadministradores satildeo as mesmas previstas no caput do artigo 64

Soacute o devedor empresaacuterio individual eacute que pode ser afastado e teraacute sua atividadeempresarial assumida pelo gestor judicial (art 65) enquanto o devedor sociedadeempresaacuteria por seu turno tem seus administradores destituiacutedos e substituiacutedos na formaprevista nos constitutivos ou do plano de recuperaccedilatildeo judicial

De outro lado complementa o caput deste artigo 64 que tanto o devedor empresaacuterioindividual quanto o devedor sociedade empresaacuteria esta por seus administradores duranteo procedimento de recuperaccedilatildeo judicial seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividadeempresarial sob fiscalizaccedilatildeo do Comitecirc se houver e do administrador judicial a natildeo serque cometam qualquer das irregularidades acima mencionadas (nordm 3)

Dipotildee o art 27 II c que ao Comitecirc de Credores cabe a responsabilidade de durante operiacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo judicial e jaacute afastado odevedor empresaacuterio individual e em havendo necessidade submeteraacute agrave autorizaccedilatildeo dojuiz do feito as reais condiccedilotildees econocircmico financeira da atividade do devedor para que eleautorize quanto agrave disposiccedilatildeo de bens constituiccedilatildeo de ocircnus dentre outros desde quenecessaacuterio para a continuidade da atividade

Isto porque ao ser afastado este devedor empresaacuterio individual ningueacutem o sucederaacuteningueacutem o substituiraacute Ele eacute soacute natildeo tem administrador e eacute o titular de suas atividadesDaiacute a necessidade instituiacuteda pelo legislador de em ocorrendo o afastamento do devedorempresaacuterio individual naquele curto espaccedilo de tempo que medeia o poacutes-deferimento doprocessamento da recuperaccedilatildeo judicial ateacute a efetiva aprovaccedilatildeo do plano ter algueacutem quezele pela continuidade da atividade Ora pois afastado o devedor empresaacuterio individualdas suas atividades natildeo haacute quem legalmente o substitua

E por que essa necessidade de somente ldquo durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo doplano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Primeiramente porque o devedor empresaacuterio individualndash e se cometer a (as) irregularidadesinfraccedilotildees previstas no artigo 64 ndash seraacute afastado daconduccedilatildeo das suas atividades empresarias somente durante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial (art 64) significando a realizaccedilatildeo deste ato pelo juiz do feito apoacutes orespectivo deferimento do processamento e antes da aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicial Na ocorrecircncia de tal hipoacutetese diz a Lei ldquoo juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral decredores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo dasatividades do devedor aplicando-se-lhe no que couber todas as normas sobre deveresimpedimentos e remuneraccedilatildeo do administrador judicialrdquo (art 65) Conforme se observanas disposiccedilotildees ora transcritas eacute aqui e somente aqui nesta hipoacutetese ndash a do afastamentodo devedor empresaacuterio individual ndash que haacute a necessidade de um ser individualizado detodos os oacutergatildeos da recuperaccedilatildeo judicial qual seja a figura do gestor judicial cujaincumbecircncia que lhe determina a Lei eacute a de assumir a administraccedilatildeo das atividades dodevedor empresaacuterio individual que natildeo foi destituiacutedo e tampouco substituiacutedo Estedevedor foi afastado da conduccedilatildeo das suas atividades

A nosso ver e ao contraacuterio de alguns entendimentos como o do eminente jurista LOBOJorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FC Salles de Toledoe Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4Ed Satildeo Paulo Ed Saraiva 2010 p 247 esteafastamento do devedor empresaacuterio individual eacute temporaacuterio mesmo que tenha violado oartigo 64 I a V e natildeo definitivo conforme pensa o grande jurista Isto porque este devedorempresaacuterio individual ateacute mesmo se condenado foi mais cedo ou mais tarde vai cumprira penalidade que lhe foi imposta e seraacute reabilitado nada o impedindo por consequecircnciade voltar agrave conduccedilatildeo da sua atividade de algo que eacute dele pessoa fiacutesica

Ocorrida a hipoacutetese ndash a do afastamento do devedor empresaacuterio individual ndash ficaraacute sob aresponsabilidade da assembleia geral de credores por convocaccedilatildeo do juiz condutor dofeito as deliberaccedilotildees sobre a escolha do nome do gestor judicial o qual repetimos

assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor empresaacuterio individual De outro ladoprevendo o legislador a possiacutevel inexistecircncia do Comitecirc de Credores (eacute oacutergatildeo facultativoda recuperaccedilatildeo judicial) e as dificuldades naturais para se encontrar um nome que queiraassumir como gestor judicial as atividades do devedor empresaacuterio individual previu que oadminstrador judicial (este sempre funcionaraacute em qualquer processo de recuperaccedilatildeojudicial) exerceraacute as funccedilotildees daquele ateacute que a AGC encontre quem queira e estejadisponiacutevel agrave assunccedilatildeo de tais funccedilotildees (sectsect 1ordm e 2ordm do artigo 65) Daiacute justificar-se a exigecircnciada Lei quanto a ldquodurante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicialrdquo (art 27 II c)

As disposiccedilotildees do art 35 I e da Lei 111012005

Cuida este dispositivo de uma das atribuiccedilotildees da Assembleia Geral de Credores narecuperaccedilatildeo judicial qual seja a de deliberar sobre o nome do gestor judicial quando doafastamento do devedor E esse devedor eacute tambeacutem o empresaacuterio individual como o eacute o dasdisposiccedilotildees do acima comentado Artigo 27 II c Em ambos os casos soacute diferem os oacutergatildeosda recuperaccedilatildeo judicial sendo este o Comitecirc de Credores e aquele a Assembleia Geral deCredores cada qual com sua atribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo de recuperaccedilatildeojudicial ou seja respectivamente submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz e se necessaacuterio para acontinuidade da atividade medidas para que o mesmo as aprove e deliberar sobre onome do gestor judicial mas tudo decorrente do mesmo evento afastamento do devedor ndasho empresaacuterio individual a nosso ver

As disposiccedilotildees do art 65 e sectsect 1ordm e 2ordm da Lei 111012005

Analisamos primeiramente (antes que o art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico) as disposiccedilotildees desteartigo 65 e seus paraacutegrafos que tambeacutem tratam do afastamento do devedor E este devedoreacute tambeacutem o empresaacuterio individual E aqui o caput deste art 65 realccedila que as hipoacutetesespara tal satildeo todas as previstas no artigo 64 Por cometimento de qualquer uma delas diz aLei seraacute o devedor (empresaacuterio individual) afastado oportunidade em que o juizconvocaraacute a assembleia geral de credores (art 35 I e) para as deliberaccedilotildees sobre o nomedo gestor judicial que assumiraacute as atividades desse devedor Esse gestor judicial natildeo viraacutesubstituir o devedor pois este natildeo foi e natildeo pode ser destituiacutedo o gestor judicialsimplesmente assumiraacute a continuidade das suas atividades E diante da natural demorada realizaccedilatildeo dessa AGC e ateacute a efetiva escolha do gestor judicial diz a Lei que oadministrador judicial exerceraacute as funccedilotildees do gestor judicial (sectsect 1ordm e 2ordm)

O art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico da Lei 111012005

Por uacuteltimo as disposiccedilotildees da Lei 111012005 que tratam segundo nossa visatildeo do devedorsociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica e que cuidam da destituiccedilatildeo e substituiccedilatildeo dos seusadministradores quando cometerem as mesmas infraccedilotildeesirregularidades previstas nocaput deste artigo 64 que satildeo tambeacutem as mesmas que causam o afastamento do devedorempresaacuterio individual Nada obstante isso a devedora sociedade empresaacuteria submete-se aoutro procedimento para a destituiccedilatildeo de seus administradores previsto no paraacutegrafouacutenico do art 64 que diz que ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juizdestituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos dodevedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Ateacute mesmo se o devedor sociedadeempresaacuteria tiver o afastamento de seu administrador previsto no plano de recuperaccedilatildeojudicial (art 64 VI) ainda assim diz a Lei o juiz o destituiraacute mas natildeo o afastaraacute E osubstituiraacute ou conforme a previsatildeo dos atos constitutivos (entendidos aqui o contratosocial para as demais sociedades empresaacuterias e o Estatuto Social atas de assembleias deeleiccedilatildeo e posse para as Companhias) ou conforme a previsatildeo no plano de recuperaccedilatildeojudicial

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

Soacute o devedor empresaacuterio individual eacute que pode ser afastado e teraacute sua atividadeempresarial assumida pelo gestor judicial (art 65) enquanto o devedor sociedadeempresaacuteria por seu turno tem seus administradores destituiacutedos e substituiacutedos na formaprevista nos constitutivos ou do plano de recuperaccedilatildeo judicial

De outro lado complementa o caput deste artigo 64 que tanto o devedor empresaacuterioindividual quanto o devedor sociedade empresaacuteria esta por seus administradores duranteo procedimento de recuperaccedilatildeo judicial seratildeo mantidos na conduccedilatildeo da atividadeempresarial sob fiscalizaccedilatildeo do Comitecirc se houver e do administrador judicial a natildeo serque cometam qualquer das irregularidades acima mencionadas (nordm 3)

Dipotildee o art 27 II c que ao Comitecirc de Credores cabe a responsabilidade de durante operiacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo judicial e jaacute afastado odevedor empresaacuterio individual e em havendo necessidade submeteraacute agrave autorizaccedilatildeo dojuiz do feito as reais condiccedilotildees econocircmico financeira da atividade do devedor para que eleautorize quanto agrave disposiccedilatildeo de bens constituiccedilatildeo de ocircnus dentre outros desde quenecessaacuterio para a continuidade da atividade

Isto porque ao ser afastado este devedor empresaacuterio individual ningueacutem o sucederaacuteningueacutem o substituiraacute Ele eacute soacute natildeo tem administrador e eacute o titular de suas atividadesDaiacute a necessidade instituiacuteda pelo legislador de em ocorrendo o afastamento do devedorempresaacuterio individual naquele curto espaccedilo de tempo que medeia o poacutes-deferimento doprocessamento da recuperaccedilatildeo judicial ateacute a efetiva aprovaccedilatildeo do plano ter algueacutem quezele pela continuidade da atividade Ora pois afastado o devedor empresaacuterio individualdas suas atividades natildeo haacute quem legalmente o substitua

E por que essa necessidade de somente ldquo durante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo doplano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Primeiramente porque o devedor empresaacuterio individualndash e se cometer a (as) irregularidadesinfraccedilotildees previstas no artigo 64 ndash seraacute afastado daconduccedilatildeo das suas atividades empresarias somente durante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial (art 64) significando a realizaccedilatildeo deste ato pelo juiz do feito apoacutes orespectivo deferimento do processamento e antes da aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicial Na ocorrecircncia de tal hipoacutetese diz a Lei ldquoo juiz convocaraacute a assembleacuteia-geral decredores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo dasatividades do devedor aplicando-se-lhe no que couber todas as normas sobre deveresimpedimentos e remuneraccedilatildeo do administrador judicialrdquo (art 65) Conforme se observanas disposiccedilotildees ora transcritas eacute aqui e somente aqui nesta hipoacutetese ndash a do afastamentodo devedor empresaacuterio individual ndash que haacute a necessidade de um ser individualizado detodos os oacutergatildeos da recuperaccedilatildeo judicial qual seja a figura do gestor judicial cujaincumbecircncia que lhe determina a Lei eacute a de assumir a administraccedilatildeo das atividades dodevedor empresaacuterio individual que natildeo foi destituiacutedo e tampouco substituiacutedo Estedevedor foi afastado da conduccedilatildeo das suas atividades

A nosso ver e ao contraacuterio de alguns entendimentos como o do eminente jurista LOBOJorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FC Salles de Toledoe Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4Ed Satildeo Paulo Ed Saraiva 2010 p 247 esteafastamento do devedor empresaacuterio individual eacute temporaacuterio mesmo que tenha violado oartigo 64 I a V e natildeo definitivo conforme pensa o grande jurista Isto porque este devedorempresaacuterio individual ateacute mesmo se condenado foi mais cedo ou mais tarde vai cumprira penalidade que lhe foi imposta e seraacute reabilitado nada o impedindo por consequecircnciade voltar agrave conduccedilatildeo da sua atividade de algo que eacute dele pessoa fiacutesica

Ocorrida a hipoacutetese ndash a do afastamento do devedor empresaacuterio individual ndash ficaraacute sob aresponsabilidade da assembleia geral de credores por convocaccedilatildeo do juiz condutor dofeito as deliberaccedilotildees sobre a escolha do nome do gestor judicial o qual repetimos

assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor empresaacuterio individual De outro ladoprevendo o legislador a possiacutevel inexistecircncia do Comitecirc de Credores (eacute oacutergatildeo facultativoda recuperaccedilatildeo judicial) e as dificuldades naturais para se encontrar um nome que queiraassumir como gestor judicial as atividades do devedor empresaacuterio individual previu que oadminstrador judicial (este sempre funcionaraacute em qualquer processo de recuperaccedilatildeojudicial) exerceraacute as funccedilotildees daquele ateacute que a AGC encontre quem queira e estejadisponiacutevel agrave assunccedilatildeo de tais funccedilotildees (sectsect 1ordm e 2ordm do artigo 65) Daiacute justificar-se a exigecircnciada Lei quanto a ldquodurante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicialrdquo (art 27 II c)

As disposiccedilotildees do art 35 I e da Lei 111012005

Cuida este dispositivo de uma das atribuiccedilotildees da Assembleia Geral de Credores narecuperaccedilatildeo judicial qual seja a de deliberar sobre o nome do gestor judicial quando doafastamento do devedor E esse devedor eacute tambeacutem o empresaacuterio individual como o eacute o dasdisposiccedilotildees do acima comentado Artigo 27 II c Em ambos os casos soacute diferem os oacutergatildeosda recuperaccedilatildeo judicial sendo este o Comitecirc de Credores e aquele a Assembleia Geral deCredores cada qual com sua atribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo de recuperaccedilatildeojudicial ou seja respectivamente submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz e se necessaacuterio para acontinuidade da atividade medidas para que o mesmo as aprove e deliberar sobre onome do gestor judicial mas tudo decorrente do mesmo evento afastamento do devedor ndasho empresaacuterio individual a nosso ver

As disposiccedilotildees do art 65 e sectsect 1ordm e 2ordm da Lei 111012005

Analisamos primeiramente (antes que o art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico) as disposiccedilotildees desteartigo 65 e seus paraacutegrafos que tambeacutem tratam do afastamento do devedor E este devedoreacute tambeacutem o empresaacuterio individual E aqui o caput deste art 65 realccedila que as hipoacutetesespara tal satildeo todas as previstas no artigo 64 Por cometimento de qualquer uma delas diz aLei seraacute o devedor (empresaacuterio individual) afastado oportunidade em que o juizconvocaraacute a assembleia geral de credores (art 35 I e) para as deliberaccedilotildees sobre o nomedo gestor judicial que assumiraacute as atividades desse devedor Esse gestor judicial natildeo viraacutesubstituir o devedor pois este natildeo foi e natildeo pode ser destituiacutedo o gestor judicialsimplesmente assumiraacute a continuidade das suas atividades E diante da natural demorada realizaccedilatildeo dessa AGC e ateacute a efetiva escolha do gestor judicial diz a Lei que oadministrador judicial exerceraacute as funccedilotildees do gestor judicial (sectsect 1ordm e 2ordm)

O art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico da Lei 111012005

Por uacuteltimo as disposiccedilotildees da Lei 111012005 que tratam segundo nossa visatildeo do devedorsociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica e que cuidam da destituiccedilatildeo e substituiccedilatildeo dos seusadministradores quando cometerem as mesmas infraccedilotildeesirregularidades previstas nocaput deste artigo 64 que satildeo tambeacutem as mesmas que causam o afastamento do devedorempresaacuterio individual Nada obstante isso a devedora sociedade empresaacuteria submete-se aoutro procedimento para a destituiccedilatildeo de seus administradores previsto no paraacutegrafouacutenico do art 64 que diz que ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juizdestituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos dodevedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Ateacute mesmo se o devedor sociedadeempresaacuteria tiver o afastamento de seu administrador previsto no plano de recuperaccedilatildeojudicial (art 64 VI) ainda assim diz a Lei o juiz o destituiraacute mas natildeo o afastaraacute E osubstituiraacute ou conforme a previsatildeo dos atos constitutivos (entendidos aqui o contratosocial para as demais sociedades empresaacuterias e o Estatuto Social atas de assembleias deeleiccedilatildeo e posse para as Companhias) ou conforme a previsatildeo no plano de recuperaccedilatildeojudicial

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do devedor empresaacuterio individual De outro ladoprevendo o legislador a possiacutevel inexistecircncia do Comitecirc de Credores (eacute oacutergatildeo facultativoda recuperaccedilatildeo judicial) e as dificuldades naturais para se encontrar um nome que queiraassumir como gestor judicial as atividades do devedor empresaacuterio individual previu que oadminstrador judicial (este sempre funcionaraacute em qualquer processo de recuperaccedilatildeojudicial) exerceraacute as funccedilotildees daquele ateacute que a AGC encontre quem queira e estejadisponiacutevel agrave assunccedilatildeo de tais funccedilotildees (sectsect 1ordm e 2ordm do artigo 65) Daiacute justificar-se a exigecircnciada Lei quanto a ldquodurante o periacuteodo que antecede a aprovaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeojudicialrdquo (art 27 II c)

As disposiccedilotildees do art 35 I e da Lei 111012005

Cuida este dispositivo de uma das atribuiccedilotildees da Assembleia Geral de Credores narecuperaccedilatildeo judicial qual seja a de deliberar sobre o nome do gestor judicial quando doafastamento do devedor E esse devedor eacute tambeacutem o empresaacuterio individual como o eacute o dasdisposiccedilotildees do acima comentado Artigo 27 II c Em ambos os casos soacute diferem os oacutergatildeosda recuperaccedilatildeo judicial sendo este o Comitecirc de Credores e aquele a Assembleia Geral deCredores cada qual com sua atribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo de recuperaccedilatildeojudicial ou seja respectivamente submeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz e se necessaacuterio para acontinuidade da atividade medidas para que o mesmo as aprove e deliberar sobre onome do gestor judicial mas tudo decorrente do mesmo evento afastamento do devedor ndasho empresaacuterio individual a nosso ver

As disposiccedilotildees do art 65 e sectsect 1ordm e 2ordm da Lei 111012005

Analisamos primeiramente (antes que o art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico) as disposiccedilotildees desteartigo 65 e seus paraacutegrafos que tambeacutem tratam do afastamento do devedor E este devedoreacute tambeacutem o empresaacuterio individual E aqui o caput deste art 65 realccedila que as hipoacutetesespara tal satildeo todas as previstas no artigo 64 Por cometimento de qualquer uma delas diz aLei seraacute o devedor (empresaacuterio individual) afastado oportunidade em que o juizconvocaraacute a assembleia geral de credores (art 35 I e) para as deliberaccedilotildees sobre o nomedo gestor judicial que assumiraacute as atividades desse devedor Esse gestor judicial natildeo viraacutesubstituir o devedor pois este natildeo foi e natildeo pode ser destituiacutedo o gestor judicialsimplesmente assumiraacute a continuidade das suas atividades E diante da natural demorada realizaccedilatildeo dessa AGC e ateacute a efetiva escolha do gestor judicial diz a Lei que oadministrador judicial exerceraacute as funccedilotildees do gestor judicial (sectsect 1ordm e 2ordm)

O art 64 e seu paraacutegrafo uacutenico da Lei 111012005

Por uacuteltimo as disposiccedilotildees da Lei 111012005 que tratam segundo nossa visatildeo do devedorsociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica e que cuidam da destituiccedilatildeo e substituiccedilatildeo dos seusadministradores quando cometerem as mesmas infraccedilotildeesirregularidades previstas nocaput deste artigo 64 que satildeo tambeacutem as mesmas que causam o afastamento do devedorempresaacuterio individual Nada obstante isso a devedora sociedade empresaacuteria submete-se aoutro procedimento para a destituiccedilatildeo de seus administradores previsto no paraacutegrafouacutenico do art 64 que diz que ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caput deste artigo o juizdestituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos dodevedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo Ateacute mesmo se o devedor sociedadeempresaacuteria tiver o afastamento de seu administrador previsto no plano de recuperaccedilatildeojudicial (art 64 VI) ainda assim diz a Lei o juiz o destituiraacute mas natildeo o afastaraacute E osubstituiraacute ou conforme a previsatildeo dos atos constitutivos (entendidos aqui o contratosocial para as demais sociedades empresaacuterias e o Estatuto Social atas de assembleias deeleiccedilatildeo e posse para as Companhias) ou conforme a previsatildeo no plano de recuperaccedilatildeojudicial

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

(ii) Uma siacutentese do pensamento do eminente jurista e ilustre Professor Faacutebio Ulhoa Coelhosobre sua forma de interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da palavra devedor sobre os dispositivos oraanalisados

Eis pois pensamento do eminente Professor Mestre Doutor e brilhante advogado aleacutemde respeitadiacutessimo jurista por certo o mais citado em obras de recuperaccedilatildeo judicial efalecircncia bem como em decisotildees de todos os Egreacutegios Tribunais do paiacutes inclusive osSuperiores aleacutem de ser tambeacutem um dos pioneiros a interpretar artigo por artigo da Lei111012005 aleacutem de ter contribuiacutedo com sua experiecircncia e sabedoria especiacuteficas da aacutereapara a conversatildeo do projeto que se tornou na lei ora sob anaacutelise sobre os dispostivos emfoco ndash a palavra devedor

Comentando em sua mais recente obra Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo deEmpresas 11ordf Ediccedilatildeo 2ordf tiragem Revista dos Tribunais 2016 sobre a competecircncia doComite na recuperaccedilatildeo judicial (art 27 II c da Lei 1110105) agraves paacuteginas 122 diz o Mestre

ldquo A segunda competecircncia do Comitecirc estranha agrave funccedilatildeo de fiscalizaccedilatildeo tem naturezaadministrativa Quando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo da sociedade emrecuperaccedilatildeo judicial cabe ao Comitecirc cuidar das alienaccedilotildees de bens do ativo permanente edos endividamentos necessaacuterios agrave continuaccedilatildeo da atividade empresarial submetendo agraveautorizaccedilatildeo do juiz as medidas administrativas a ele relacionadas () (grifamos)

Aqui nesses seus comentaacuterios ao inveacutes do eminente Professor transcrever o que diz aliteralidade da Lei ou seja ldquosubmeter agrave autorizaccedilatildeo do juiz quando ocorrer o afastamentodo devedorrdquo escreve ele ldquoquando o juiz determina o afastamento da administraccedilatildeo dasociedade em recuperaccedilatildeo judicialrdquo (art 27 II c)

Ora em nenhuma letra da Lei 111012005 existe a disposiccedilatildeo que o digno doutrinadorescreveu E isto ele o faz desde a primeira ediccedilatildeo da sua obra entatildeo denominadaComentaacuterios agrave Nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial (Lei n 11101 de 9-2-2005)Editora Saraiva 2005 conforme se pode ver agraves paacuteginas 77-78 Faacutebio Ulhoa omite a palavradevedor e insere em seu lugar as palavras administraccedilatildeo da sociedade em recuperaccedilatildeojudicial Nos fica claro salvo melhor entendimento e com toda vecircnia que o nobreProfessor entende que quem submete-se ao afastamento nesta hipoacutetese natildeo eacute o devedorempresaacuterio individual mas sim a sociedade empresaacuteria Aqui entendemos que foi o iniacutecioda escola criada pelo eminente causiacutedico

No mesmo sentido ao comentar sobre o art 35 I e ndash competecircncia da assembleia geral decredores ndash na mesma obra de 2016 agraves paacuteginas 133 o Professor continua na sua mesmalinha de raciociacutenio e a nosso ver talvez tenha cometido aqui o maior equiacutevoco de suavida de doutrinador Repetimos natildeo queremos acreditar que o Mestre o tenha feitopropositadamente Eacute que a Lei 111012005 lista em seu artigo 35 no Inciso I todas asatribuiccedilotildees da AGC na recuperaccedilatildeo judicial fazendo-o nas aliacuteneas a ateacute a aliacutenea f sendovetadas as disposiccedilotildees entatildeo contidas na aliacutenea c Eis a exata transcriccedilatildeo dos comentaacuteriosdo Prof Ulhoa sobre a questatildeo ldquoJaacute na recuperaccedilatildeo judicial a competecircncia da Assembleiados credores compreende a) aprovar rejeitar e revisar o plano de recuperaccedilatildeo judicial b)aprovar a instalaccedilatildeo do Comitecirc e eleger seus membros c) manifestar-se sobre o pedido dedesistecircncia da recuperaccedilatildeo judicial d) eleger o gestor judicial quando afastados osdiretores da sociedade empresaacuteria requerente e) deliberar sobre qualquer outra mateacuteria deinteresse dos credores (grifamos) Este equiacutevoco do Professor foi triplo pois (i) aotranscrever a literalidade da Lei omitiu a aliacutenea c (Vetado) (ii) atropelou a ordem dasdemais aliacuteneas aproveitando a c para transcrever o que diz a d e transcrevendo na e oque diz a f e por fim (iii) ao inveacutes de transcrever o que diz a Lei na aliacutenea e ldquoo nome dogestor judicial quando do afastamento do devedorrdquo escreve na aliacutenea d ldquoeleger o gestorjudicial quando afastados os diretores da sociedade empresaacuteria requerenterdquo (grifamos)

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

Mais uma vez nos daacute a entender o Professor ao voltar a omitir o termo grafado pela Lei ndashdevedor ndash que quem se submete ao afastamento satildeo os diretores da devedora sociedadeempresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial Ou seja para o Professor nas hipoacutetesesora sob anaacutelise o devedor seraacute sempre a sociedade empresaacuteria Ficando ao final dessasobservaccedilotildees sobre este dispositivo ora analisado (art 27 II e da Lei 111012005) que estepensamento e a forma de se expressar do nobre Professor Faacutebio Ulhoa Coelho eacute o mesmodesde 2005 quando da ediccedilatildeo primeira da obra acima mencionada encontraacutevel agravespaacuteginas 88

Seguindo passamos a analisar o pensamento de Ulhoa sobre o art 64 e seu paraacutegrafouacutenico da Lei 111012005 Segundo o que ele pensa a palavra devedor tantas vezesrepetidas na Lei eacute sempre substituiacuteda pelas palavras sociedade empresaacuteria Da mesmaforma agraves paacuteginas 263-264 da sua mais recente obra de 2016 acima citada diz o Professorquanto ao que dispotildee o art 64

ldquo186 Substituiccedilatildeo da administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo

Quanto agrave administraccedilatildeo da sociedade beneficiada pela recuperaccedilatildeo judicial haacute duashipoacuteteses a considerar Se os administradores eleitos pelos soacutecios ou acionista controladorestatildeo se comportanto liacutecita e utilmente natildeo haacute razotildees para removecirc-los da administraccedilatildeoCaso contraacuterio o juiz determinaraacute o afastamento ()

O afastamento do soacutecio ou acionista controlador dar-se-aacute pela suspensatildeo do seu direito devoto na assembleacuteia geral da sociedade anocircnima em recuperaccedilatildeo jaacute a do administradormediante a destituiccedilatildeo do cargordquo Ao dizer o Professor ldquojaacute a do administradorrdquoentendemos que ele estaacute se referindo agrave suspensatildeo deste das suas funccedilotildeessemelhantemente ao que disse sobre o soacutecio acionista ou controlador Ou seja que adestituiccedilatildeo do cargo de administrador dar-se-aacute pela suspensatildeo

Segue o Professor ldquoVariam as consequecircncias conforme seja determinado o afastamento dosoacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade em recuperaccedilatildeo Se oafastado eacute o soacutecio ou acionista controlador a consequecircncia estaacute disciplinada no art 65(nomeaccedilatildeo de gestor judicial) se o afastado eacute administrador a disciplina se encontra noparaacutegrafo uacutenico do art 64 (substituiccedilatildeo na forma do estatuto ou contrato social)rdquo (Esteuacuteltimo paraacutegrafo foi acrescentado pelo Professor na uacuteltima ediccedilatildeo de sua obra a de 2016)A nosso ver talvez fosse melhor deixar como se encontrava na redaccedilatildeo original

A palavra devedor continua desaparecida do dicionaacuterio do Professor Ulhoa cedendo seulugar para as palavras administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo ou administraccedilatildeo dasociedade ou administradores ou soacutecio ou acionista controlador A visatildeo dele a cadaanaacutelise dos dispositivos ora sob estudos se nos torna mais clara de que o devedor seraacutesempre a sociedade empresaacuteria Observamos que o Professor faz incursotildees em seuscomentaacuterios em temas completamente estranhos ao que diz Lei quando afirma que asconsequecircncias variam para os destinataacuterios em conformidade com o afastamento sendoeste ou do soacutecio ou acionista controlador ou do administrador da sociedade emrecuperaccedilatildeo Nos deixa claro o Mestre que ao referir-se ao afastamento do soacutecio ouacionista controlador estaacute tratando o mesmo da administraccedilatildeo das Companhias e que asoluccedilatildeo para o afastamento nesta hipoacutetese encontra-se nas disposiccedilotildees do Art 65 desta Leiou seja a nomeaccedilatildeo de gestor judicial jaacute quanto ao afastamento do administrador e aquinos parece estar o Professor cuidando das demais sociedades empresaacuterias a disciplina eacute aprevista no paraacutegrafo uacutenico do art 64 Ora muito longe de existir em qualquer termo daLei 111012005 essa doutrinaccedilatildeo do Mestre Faacutebio Ulhoa Tanto as consequecircncias quanto agravedisciplina para a destituiccedilatildeo e natildeo afastamento do soacutecio ou acionista controlador quantopara os administradores das demais sociedades empresaacuterias encontram-se disciplinadasno paraacutegrafo uacutenico do artigo 64 ou seja a destituiccedilatildeo com a consequente substituiccedilatildeo na

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

forma prevista nos atos constitutivos do devedor (compreendidos aqui o contrato socialestatutos atas de assembleias gerais de eleiccedilatildeo de posse) ou do plano de recuperaccedilatildeojudicial De outro lado a consequecircncia por ele encontrada no art 65 ndash nomeaccedilatildeo de gestorjudicial ndash absolutamente nada tem a ver com o afastamento de soacutecio ou acionistacontrolador (estes satildeo destituiacutedos e substituiacutedos mas nunca afastados) pois osdestinataacuterios das disposiccedilotildees do artigo 65 satildeo somente os devedores (empresaacuteriosindividuais) (grifamos)

O artigo 65 e seus paraacutegrafos 1ordm e 2ordm como uacuteltimos dispositivos sob anaacutelise cujo foco eacute apalavra devedor merecem a exemplo dos demais tambeacutem analisados as observaccedilotildees asconsideraccedilotildees e os pensamentos do ilustre jurista Faacutebio Ulhoa Coelho como seguem

Sob o tiacutetulo ldquo147 O gestor judicialrdquo assim doutrina ldquoDeterminando a destituiccedilatildeo daadministraccedilatildeo da sociedade empresaacuteria requerente do benefiacutecio o juiz deve convocar aAssembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeo (Esta redaccedilatildeo consta das ediccedilotildeesdas obras do Professor Faacutebio Ulhoa desde 2005 a 2014) Poreacutem na sua 11ordf Ediccedilatildeo Revistados Tribunais 2016 eis que surge no dicionaacuterio de Faacutebio Ulhoa a palavra devedor pois omesmo modificou sua redaccedilatildeo de dez anos ficando assim a redaccedilatildeo do paraacutegrafo acimacitado

ldquo187 O gestor judicial Determinando a destituiccedilatildeo do devedor o juiz deve convocar aassembleia de credores para a eleiccedilatildeo do gestor judicial Trata-se da pessoa a quem seraacuteatribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (grifamos)

Nada obstante essa luz permear o pensamento do digno Mestre logo logo se apagou poisao continuar expressando os seus pensamentos afirmou que o gestor judicial eacute ldquoa pessoaa quem seraacute atribuiacuteda a administraccedilatildeo da empresa em recuperaccedilatildeordquo (Grifamos) Ora odevedor empresaacuterio individual natildeo tem administrador Eacute ele que eacute segundo afirma a Lei otitular do seu empreendimento que eacute levado agrave inscriccedilatildeo na Junta Comercial de seurespectivo Estado cuja inscriccedilatildeo far-se-aacute mediante simples requerimento que contenha oseu nome nacionalidade domiciacutelio estado civil a firma com a respectiva assinatura o

capital o objeto e a sede da empresa (artigo 967 e 968) do Coacutedigo Civil

Continuando escreve o jurista ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeo Ele passa a ser o representantelegal da sociedade devedora nos atos relativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura decheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra de insumos praacutetica de atos societaacuterios etc)

O gestor natildeo se torna poreacutem o representante da sociedade em recuperaccedilatildeo para todos osfins Nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedadedevedora continuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivos

Este dispositivo tambeacutem se aplica no caso de afastamento de acionista ou soacuteciocontroladorrdquo (Este paraacutegrafo foi acrescentado na uacuteltima ediccedilatildeo da obra do Mestre de2016)

Assim destituiacutedos por exemplo todos os diretores caberaacute aos soacutecios da limitada ou aooacutergatildeo competente da anocircnima (Assembleia geral dos acionistas ou Conselho deAdministraccedilatildeo) a eleiccedilatildeo dos substitutos A esses competiraacute por exemplo apresentar oplano de recuperaccedilatildeo (se ainda natildeo havia sido apresentado) prestar informaccedilotildees aoadministrador judicial ou ao juiz apresentar os relatoacuterios etc

Essa duplicidade de representaccedilatildeo prevista na lei eacute desastrosa Seraacute certamente fonte de

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

inuacutemeras disputas e indenifiniccedilotildees capazes ateacute mesmo de paralisar a empresa ecomprometer o esforccedilo despendido em busca de sua recuperaccedilatildeo O representante legaleleito nos termos dos atos constitutivos por exemplo natildeo teraacute responsabilidade nenhumapelos atos de gestatildeo e portanto natildeo seraacute equiparado agrave sociedade falida para fins penaiscaso ocorra a convolaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo em falecircncia O gestor por sua vez teraacute semprelimitados os seus poderes de gestatildeo jaacute que natildeo fala pela sociedade devedora nos atosprocessuaisrdquo (Todos os grifos satildeo nossos) (Estes dois uacuteltimos paraacutegrafos constam dasobras do Professor desde a Ediccedilatildeo de 2005 ateacute a 10ordf ed de 2014) Foram excluiacutedos dauacuteltima Ediccedilatildeo a 11ordf de 2016 agora com a Editora Revista dos Tribunais Nossas loas aoProfessor por este ato ndash a mencionada exclusatildeo ndash pois ao pensarmos sobre os mesmosficamos a imaginar o que teria levado uma mente tatildeo brilhante a assim pensar e escreverdurante exatos dez anos cujo conteuacutedo a noacutes nos falta sequecircncia loacutegica

Como poder-se-ia compreender a expressatildeo do pensamento do digno Mestre quando numdeterminado momento afirma que ldquoAo gestor compete dirigir a atividade econocircmica eimplementar o plano de recuperaccedilatildeo apoacutes sua aprovaccedilatildeordquo isto eacute a este gestor satildeooutorgadas competecircncias somente apoacutes a apresentaccedilatildeo do plano de recuperaccedilatildeo as quaissatildeo limitadas pois ldquoEle passa a ser o representante legal da sociedade devedora nos atosrelativos agrave gestatildeo da empresa (assinatura de cheques contrataccedilatildeo de serviccedilos compra deinsumos praacutetica de atos societaacuterios etc)rdquo E que dentro dessas limitaccedilotildees a este gestor (ojudicial) impostas ele compartilha o exerciacutecio das atividades da empresa com outros poisldquoNos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo do processo de recuperaccedilatildeo judicial a sociedade devedoracontinuaraacute sendo representada nos termos de seus atos constitutivosrdquo Como Seria possiacutevelao gestor judicial dirigir a atividade econocircmica e implementar o plano de recuperaccedilatildeojudicial ao mesmo tempo em que nos atos relativos agrave tramitaccedilatildeo desse processo derecuperaccedilatildeo judicial a sociedade recuperanda estaria sendo representada nos termos dosseus atos constitutivos Ou seja essa atividade econocircmica em recuperaccedilatildeo judicial teriapelas expressotildees de Fabio Ulhoa Coelho a administraccedilatildeo compartilhada entre o gestorjudicial eleito pela assembleia geral de credores e os respectivos administradoresconforme o ato constitutivo Natildeo Isto natildeo estaacute na Lei O Professor Ulhoa natildeo obedeceuaqui os mandamentos da LC 951998 que diz que se deve restringir o conteuacutedo de cadaartigo da Lei a um uacutenico assunto ou princiacutepio e que deve se expressar por meio dosparaacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciada no caput do artigo e asexceccedilotildees agrave regra por este estabelecida (art 11 III b e c) O que fez o Mestre Ao tentarexplicar o inexplicaacutevel utiliza-se das disposiccedilotildees do artigo 64 em seu paraacutegrafo uacutenico quetem como destinataacuteria a devedora sociedade empresaacuteria (eacute um assunto ou um princiacutepio)pois os administradores desta cometendo as infraccedilotildees do caput deste artigo 64 estatildeosujeitos agrave destituiccedilatildeo e subsequente substituiccedilatildeo ldquona forma prevista nos atos constitutivosdo devedor ou do plano de recuperaccedilatildeo judicialrdquo e ao mesmo tempo utiliza-se tambeacutemdas disposiccedilotildees do artigo 65 cujo destinataacuterio eacute o devedor empresaacuterio individual (eacutetambeacutem um outro assunto ou outro princiacutepio) que estaacute sujeito ao afastamento e que ogestor judicial simplesmente assumiraacute o exerciacutecio de suas atividades Assimincompreensiacutevel e iloacutegico o raciociacutenio do ilustre Mestre

Mas ele teve seguidores ele formou essa escola

Exemplos de seguidores da escola do Prof Faacutebio Ulhoa Coelho aqui citados comoexemplos dentre os inuacutemeros existentes por este Brasil afora

Tribunal de Justiccedila de Santa Catarina ldquoAgravos de Instrumento n 2012073350-82012071659-5 2012072402-8 2012071660-5 da comarca de Joinville (5ordf Vara Ciacutevel) emque satildeo agravantes Amarildo Chaves Flores e outros e agravadas Busscar Ocircnibus SA eoutras A Quarta Cacircmara de Direito Comercial decidiu por votaccedilatildeo unacircnime conhecer dosrecursos e dar-lhes provimento para o fim de reconhecer a nulidade da Assembleacuteia-Geral

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

[]

Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

()

Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

de Credores e desconstituir a decisatildeo que decretou a falecircncia das recuperandasDetermina-se o afastamento dos soacuteciosdevedores da administraccedilatildeo da empresa cabendo aoadministrador judicial cumprir o artigo 65 sect 1ordm da LFR grifamossos) Fseu voto o dignoRelator faz a seguinte refer nto a nossa vistes tivamente estres retrocitadosenquanto natildeodeliberada a escolha do gestor judicial (art 65 caput LRF) Custas legais (grifamos)

O julgamento realizado no dia 26 de novembro de 2013 foi presidido pelo Exmo Sr DesLeacutedio Rosa de Andrade com voto e dele participou o Exmo Sr Des Saul Steil A certaaltura de seu voto o digno Relator faz a seguinte referecircncia ao Professor Faacutebio UlhoaldquoSobre tal perfil eis as palavras esclarecedoras do Prof Faacutebio Ulhoa Coelhordquo lsquoEm todarecuperaccedilatildeo judicial como auxiliar do juiz e sob sua direta supervisatildeo atua umprofissional na funccedilatildeo de administrador judicial Ele em geral eacute pessoa da confianccedila dojuiz por este nomeado no despacho que manda processar o pedido de recuperaccedilatildeojudicial Se poreacutem o nomeado pelo juiz for substituiacutedo pela Assembleia dos Credores acompetecircncia para a escolha do substituto eacute desse oacutergatildeo colegiado

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Na recuperaccedilatildeo judicial as funccedilotildees do administrador judicial variam de acordo com doisvetores caso o Comitecirc que eacute oacutergatildeo facultativo exista ou natildeo e caso tenha sido ou natildeodecretado o afastamento dos administradores da empresa em recuperaccedilatildeordquo () (grifamos)

ldquoPelo segundo vetor o administrador judicial eacute investido no poder de administrar aempresa e representar a sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial quando ojuiz determinar o afastamento dos seus diretores enquanto natildeo for eleito o gestor judicialpela Assembleia Geral Somente nesse caso particular tem ele a prerrogativa de seimiscuir por completo na intimidade da empresa e tomar as decisotildees administrativasatinentes agrave exploraccedilatildeo do negoacutecio Natildeo tendo o juiz afastado os diretores ouadministradores da sociedade empresaacuteria requerente da recuperaccedilatildeo judicial oadministrador judicial seraacute mero fiscal dessa o responsaacutevel pela verificaccedilatildeo dos creacuteditos eo presidente da Assembleia dos Credores (COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Nova Leide Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas (Lei nordm 111012005) 7 ed Satildeo Paulo Saraiva2010 p 71-72)rdquo (grifamos)

Acoacuterdatildeos recentes do Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Satildeo Paulo onde consta a existecircncia dafigura do gestor judicial em recuperaccedilatildeo judicial de sociedade empresaacuteria

1) ldquoAgravo de Instrumento ndash Recuperaccedilatildeo Judicial ndash Afastamento dos administradores darecuperanda e conselheiros administrativos nomeaccedilatildeo de gestora judicial eindisponibilidade de todos os bens de propriedade direta e indireta da pessoa juriacutedica dosadministradores e conselheiros dos soacutecios e ex-soacutecios ndash Recurso neste ponto Prejudicadoem razatildeo da superveniente declaraccedilatildeo de falecircnciardquo (grifamos)

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Agravo de Instrumento ndash conheceram em parte do recurso e na parte conhecida deramprovimento (Relator(a) Ramon Mateo Juacutenior Comarca Bauru Oacutergatildeo julgador 2ordf CacircmaraReservada de Direito Empresarial Data do julgamento 11112015 Data de registro16112015)rdquo (grifamos)

2) ldquoRecuperaccedilatildeo Judicial Destituiccedilatildeo dos soacutecios da gestatildeo da empresa recuperandaNegativa de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees requeridas pelo administrador judicial Assembleiade credores natildeo agendada um ano e meio apoacutes a decretaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo judicialEmpresa que suspendeu suas atividades Nomeaccedilatildeo de outro gestor judicial necessaacuteriaArtigo 64 IV c e V da Lei nordm 1110105 Cerceamento de defesa natildeo caracterizado

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

Necessidade de convocaccedilatildeo imediata de assembleia geral de credores para deliberar sobre onovo gestor judicial Artigo 65 da Lei nordm 1110105 Recurso natildeo provido comdeterminaccedilatildeo (Relator(a) Tasso Duarte de Melo Comarca Jundiaiacute Oacutergatildeo julgador 2ordfCacircmara Reservada de Direito Empresarial Data do julgamento 16102012 Data deregistro 16102012rdquo (grifamos)

Tribunal de Justiccedila da Bahia

Processo AI 00020417120138050000 BA 0002041-7120138050000 cuja Relatora eacute aeminente Desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago julgado em 18022014pela 3ordf Cacircmara Ciacutevel e publicado no dia 19022014rdquo

ldquoAgravo de instrumento Recuperaccedilatildeo judicial Perda superveniente de objeto Abertura deedital de convocaccedilatildeo de administrador judicial

O inconformismo que tem como real escopo a pretensatildeo de reformar o decisum natildeo haacutecomo prosperar porquanto o presente recurso encontra-se prejudicado pela perdasuperveniente do seu objeto tendo em vista que o Juiacutezo a quo atraveacutes da abertura de Editalde convocaccedilatildeo para realizaccedilatildeo de Assembleia Geral cuja primeira convocaccedilatildeo se deu em02052013 determinou a deliberar sobre nomeaccedilatildeo temporaacuteria de um gestor judicial para aRecuperanda ateacute a soluccedilatildeo da demanda em torno da mateacuteria ()rdquo (grifos nossos)

Ingerecircncia do Judiciaacuterio Consequecircncias

No nosso modo de ver essas decisotildees do Judiciaacuterio determinando o afastamento (narealidade o termo teacutecnico correto eacute destituiccedilatildeo) dos administradores de devedorasociedade empresaacuteria e ldquonomeando gestor judiciaisrdquo constitui-se em ingerecircncia nas

administraccedilotildees das sociedades recuperandas que sofrem tais atos pois tanto o CoacutedigoCivil quanto a Lei 64041976 (das Companhias) regulam de maneira muito clara ndash e isto eacutelei a forma pela qual os administradores societaacuterios satildeo substituiacutedos quando destituiacutedosEssas ldquonomeaccedilotildees de gestores judiciaisrdquo efetuadas ao arrepio da Lei e com base na escolado Professor Faacutebio Ulhoa podem proporcionar a quem sofreu tal ingerecircncia e se houverprejuiacutezos ao recuperando por maacute gestatildeo do ldquonomeadordquo pedido de indenizaccedilatildeo contra orespectivo Estado

A Lei Complementar 95 de 26021998 que dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo redaccedilatildeo a alteraccedilatildeoe a consolidaccedilatildeo das leis conforme determina o paraacutegrafo uacutenico do art 59 da ConstituccedilatildeoFederal e estabelece normas para normas para a consolidaccedilatildeo dos atos administrativosque menciona

O legislador por oacutebvio ao confeccionar a Lei 111012005 seguiu os mandamentos daacima citada Lei Complementar 951998 regulamentada pelo Decreto 4176 de 28 demarccedilo de 2002 de cujos princiacutepios e teacutecnicas nos utilizaremos agora para a nosso verter-se uma perfeita compreensatildeo das corretas interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da LFRE

O conteuacutedo de cada artigo da lei deve se restringir a um uacutenico assunto ou princiacutepio

Esta Lei nos ensina na aliacutenea b do Inciso III do art 11 ldquoque se deve restringir o conteuacutedode cada artigo da lei a um uacutenico assunto ou princiacutepiordquo e na aliacutenea seguinte a ldquocrdquo que sedeve ldquoexpressar por meio dos paraacutegrafos os aspectos complementares agrave norma enunciadano caput do artigo e as exceccedilotildees agrave regra por este estabelecidardquo (grifamos)

Acreditamos que pode estar nestes ensinamentos a resposta para tantos desencontrossobre a interpretaccedilatildeo e o julgamento dos dispositivos ora questionados pelo insignedoutrinador e julgadores que o seguiram

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

SILVA Renaldo Limiro da A Recuperaccedilatildeo Judicial Comentada Artigo por Artigo (Lei1110105) Belo Horizonte Del Rey Editora 2015

Pesquisas do Editorial

copy ediccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA

LIMITES DA RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR JUDICIAL NARECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL CONVOLADA EM FALEcircNCIA de Ricardo HassonSayeg - RDB 672015291

BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

A liccedilatildeo de quem eacute Professor na interpretaccedilatildeo das leis

O Dr Sylvio Motta Professor da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj) e diretordo curso Companhia dos Moacutedulos em seu extraordinaacuterio artigo publicado no Boletim deNotiacutecias Conjur de 12 de junho de 2009 sob o tiacutetulo ldquoPara entender a lei eacute preciso sabercomo ela foi escritardquo nos ensina como se interpretar uma Lei Apoacutes estabelecer algunsparacircmetros sobre teacutecnicas de redaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo legislativas e demonstrar queformalmente os textos legais seratildeo articulados com observacircncia de diversos princiacutepios oProfessor Sylvio Motta diz

ldquoEstabelecidos estes conceitos conveacutem entender como se deve estudar um artigo de uma leiO artigo eacute a menor porccedilatildeo de uma lei que ainda guarda as suas caracteriacutesticas Sendo assima forma correta de interpretar um artigo eacute concecircntrica e natildeo linear ou seja deve-seentender que o centro orbital de um artigo eacute o seu caput tudo o circunstancia osparaacutegrafos incisos aliacuteneas e itens que porventura o integram Assim a interpretaccedilatildeo exigecerto grau de abstraccedilatildeo do inteacuterprete para que em uma visatildeo espacial mais acuradacompreenda que os paraacutegrafos por exemplo satildeo subdivisotildees do assunto do caput enquantoos incisos satildeo exemplificaccedilotildees do assunto do paraacutegrafo ou do proacuteprio caput jaacute as aliacuteneassatildeo enumeraccedilotildees (quase sempre taxativas) do conteuacutedo dos paraacutegrafos e finalmente ositens satildeo enumeraccedilotildees do assunto que estaacute na aliacutenea Dessa forma a compreensatildeo do artigose torna mais faacutecil uma vez que o estudante jaacute consegue entender quais foram os paracircmetrosformais que nortearam a sua redaccedilatildeordquo (grifamos)

Com base nos mandamentos da LC 951998 e nos ensinamentos do Professor Sylvio Mottaacima transcritos vamos procurar a compreensatildeo deste paraacutegrafo uacutenico do art 64 poisque os paraacutegrafos ldquosatildeo subdivisotildees do assunto do lsquocaputrsquo rdquo e que por meio deles ldquosatildeoexpressos os aspectos complementares agrave norma enunciada no lsquocaputrsquo do artigo e as exceccedilotildeesagrave regra por este estabelecidasrdquo (os grifos satildeo nossos)

Ora a norma enunciada no caput do art 64 eacute a de que ldquodurante o procedimento derecuperaccedilatildeo judicial o devedor ou seus administradores seratildeo mantidos na conduccedilatildeo daatividade empresarial salvo se qualquer deles I () II ()rdquo E prescreve regras nos seisincisos as quais se infringidas (as cinco primeiras) ou exercitada (a uacuteltima) diz oparaacutegrafo uacutenico que ldquoo juiz destituiraacute o administrador que seraacute substituiacutedo na formaprevista nos atos constitutivos do devedorrdquo (primeira parte incisos I ao V) ldquoou do planode recuperaccedilatildeo judicialrdquo (segunda parte inciso VI) cumprindo assim plenamente ospressupostos acima explicitados ou seja expressando os aspectos complementares agravenorma estabelecida no caput qual seja a destituiccedilatildeo do administrador com a consequentesubstituiccedilatildeo se ldquoverificada qualquer das hipoacuteteses do caputrdquo (grifamos)

O significado da palavra destituiccedilatildeo segundo De Plaacutecido e Silva

Em seu tradicional e respeitadiacutessimo ldquoVocabulaacuterio Juriacutedicordquo Vol II Ed Forense p 519 DePlaacutecido e Silva descreve o significado e a origem da palavra

ldquoDestituiccedilatildeo Derivado do latim destitutio de destituere (privar) designa o fato de seralgueacutem privado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investido Difere acentuadamente darenuacutencia ou exoneraccedilatildeo em que esta pode ser voluntaacuteria enquanto a destituiccedilatildeo significauma demissatildeo do cargo ou funccedilatildeo indendentemente da vontade do ocupante Emreferecircncia aos poderes conferidos tambeacutem ocorre a destituiccedilatildeo que se entende umarevogaccedilatildeo deles () Mas natildeo se pense que a destituiccedilatildeo significa aboliccedilatildeo ou supressatildeo docargo ou funccedilatildeo

Pela destituiccedilatildeo somente a pessoa se remove pela privaccedilatildeo ou revogaccedilatildeo dos poderes quelhe eram atribuiacutedos ou das funccedilotildees que lhe eram conferidas Mas o cargo e a funccedilatildeo

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

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BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

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SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

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BUSINESS JUDGMENT RULE NO DIREITO SOCIETAacuteRIO BRASILEIRO de LuisAntocircnio Soares Hentz - RDB 732016145

O EXERCIacuteCIO DA AUTONOMIA PRIVADA NA RECUPERACcedilAtildeO JUDICIAL deMauricio Moreira Menezes - RDRE 22016

persistem Na aboliccedilatildeo haacute a extinccedilatildeo do cargo e da funccedilatildeordquo (os grifos satildeo nossos)

Destituido das funccedilotildees de administrador da sociedade empresaacuteria independentemente desua vontade haveraacute a substituiccedilatildeo do mesmo nessa primeira forma conforme previsatildeodos atos constitutivos da devedora sociedade empresaacuteria (paraacutegrafo uacutenico do art 64correspondendo aos cinco primeiros incisos) do caput

O administrador do devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedica portanto eacute destituiacutedode sua funccedilatildeo por forccedila de um ato judicial de natureza imperativa Ao praticar ouinfringir qualquer das regras previstas nos cinco primeiros incisos do art 64 oadministrador da sociedade empresaacuteria descumpriu a norma enunciada no caputpossibilitando com isto que as disposiccedilotildees do seu paraacutegrafo uacutenico que eacute uma subdivisatildeodeste mesmo caput lhe sejam aplicadas querendo ele ou natildeo Pode e a nosso ver deveexistir o contraditoacuterio e o amplo direito de defesa Todavia quando o juiz ao verificar ainfringecircncia de qualquer das cinco primeiras hipoacuteteses do caput e observados osprinciacutepios citados em cumprimento agrave imperatividade da norma o destitui Destituir comojaacute aprendemos com De Plaacutecido e Silva eacute demitir destituir ldquodesigna o fato de ser algueacutemprivado da funccedilatildeo ou autoridade de que era investidordquo (grifamos) E destituiccedilatildeoconformeveremos natildeo significa afastamento sequer uma palavra eacute sinocircnima da outra(grifos nossos)

Natildeo bastasse a imperatividade da lei por si soacute quanto agrave destituiccedilatildeo agrave demissatildeo ao fato daprivaccedilatildeo da continuidade do exerciacutecio das funccedilotildees de administrador determina ainda alei a sua substituiccedilatildeo ndash nessa primeira forma incisos I ao V ndash em conformidade com aprevisatildeo dos atos constitutivos deste mesmo devedor sociedade empresaacuteria (primeiraparte do paraacutegrafo uacutenico do art 64)

Ao prescrever o paraacutegrafo uacutenico deste art 64 que o administrador seraacute destituiacutedo (e natildeoafastado) e que seraacute substituiacutedo na forma prevista nos atos constitutivos do devedor(primeira parte) nenhuma duacutevida paira para se ter a certeza absoluta que na realidade olegislador estaacute tratando especificamente do administrador da devedora sociedadeempresaacuteria pessoa juriacutedica pois soacute esta eacute que eacute constituiacuteda ou vem agrave existecircncia atraveacutesdos atos constitutivos compreendendo-se (i) o Estatuto para as Companhias e (ii) oContrato Social para os demais tipos de sociedades empresaacuterias sujeitas agrave recuperaccedilatildeojudicial e nos quais obrigatoriamente conteacutem claacuteusulas tratando da administraccedilatildeo(eleiccedilatildeo nomeaccedilatildeo duraccedilatildeo da gestatildeo destituiccedilotildees substituiccedilotildees etc)

A contrario sensu para o devedor empresaacuterio individual pessoa fiacutesica determina a lei quea sua constituiccedilatildeo seraacute feita atraveacutes de requerimento o qual antes do iniacutecio dasrespectivas atividades deveraacute ser inscrito na Junta Comercial do seu Estado contendo os

dados previstos no art 968 do Coacutedigo Civil Por oacutebvio sendo ele conforme diz aproacutepria nomenclatura individual natildeo existiraacute neste seu requerimento de empresaacuterioqualquer hipoacutetese para a sua substituiccedilatildeo e muito menos para a sua destituiccedilatildeo Daiacute aabsoluta certeza da inaplicabilidade a ele das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo uacutenico doart 64 que repetimos visam somente o devedor sociedade empresaacuteria pessoa juriacutedicapor seu administrador

A tiacutetulo de complementaccedilatildeo do raciociacutenio e para os doutrinadores e julgadores pensaremem conformidade com os ensinamentos da LC 951998 o seguinte dispositivo da Lei111012005 ldquoart 52 Estando em termos a documentaccedilatildeo exigida no art 51 desta Lei ojuiz deferiraacute o processamento da recuperaccedilatildeo judicial e no mesmo ato I ()

IV ndash determinaraacute ao devedor a apresentaccedilatildeo de contas demonstrativas mensais enquantoperdurar a recuperaccedilatildeo judicial sob pena de destituiccedilatildeo de seus administradoresrdquo

(grifamos)

A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

Referecircncias

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 11 edrev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 2016

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 10 ed SatildeoPaulo Ed Saraiva 2014

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo Judicial 8 ed 2tir Satildeo Paulo Ed Saraiva 2011

COELHO Faacutebio Ulhoa Comentaacuterios agrave nova Lei de Falecircncias e de Recuperaccedilatildeo de Empresas(Lei n 11101 de 9-2-2005) Satildeo Paulo Ed Saraiva 2005

NEGRAtildeO Ricardo Manual de Direito Comercial e Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia 7edSatildeo Paulo Ed Saraiva 2012

LOBO Jorge Comentaacuterios agrave Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Paulo FCSalles deToledo e Carlos Henrique Abratildeo (coords) 4 ed Saraiva 2010

BEZERRA FILHO Manoel Justino Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas e Falecircncia Lei 1110105Comentada artigo por artigo 9 ed ver atual e ampl Satildeo Paulo Ed Revista dosTribunais 2013

MAMEDE Gladston Direito empresarial brasileiro falecircncia e recuperaccedilatildeo de empresas 8Ed rev e atual Satildeo Paulo Ed Atlas v1

FAZZIO JUNIOR Waldo Lei de Recuperaccedilatildeo de Empresas 7 ed rev amplSatildeo Paulo EdAtlas 2015

TOMAZETTE Marlon Curso de Direito Empresarial Falecircncia e Recuperaccedilatildeo de Empresas 4ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Ed Atlas 2016

SILVA Renaldo Limiro da Recuperaccedilatildeo Judicial de Empresas ndash Nova Lei de Falecircncias (Lei n1110105) Goiacircnia AB Editora 2005

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A qual devedor este inciso IV do artigo 52 eacute direcionado Ao empresaacuterio individual ou agravesociedade empresaacuteria Quem pode ser destituiacutedo o devedor empresaacuterio individual ou osadministradores da devedora sociedade empresaacuteria Aqui natildeo se fala em afastamentonem em gestor judicial Por oacutebvio trata-se da devedora sociedade empresaacuteria pois soacute osrespectivos administradores eacute que podem ser destituiacutedos (paraacutegrafo uacutenico do artigo 64)Fica a observaccedilatildeo de que esta mesma responsabilidade ndash prestar informaccedilotildees solicitadaspelo administrador judicial ndash tambeacutem eacute atribuiacuteda ao devedor empresaacuterio individual (estae todas as do caput do artigo 64) mas a penalidade para este eacute o seu afastamentoconforme dispotildee o artigo 65 com convocaccedilatildeo da AGC por determinaccedilatildeo do juiz para aescolha do gestor judicial que assumiraacute a administraccedilatildeo das atividades do mesmo

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