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EXPOSIÇÃO: MAURO SCHIAVI Do impulso oficial do magistrado trabalhista Art. 878. A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado. Parágrafo único. (Revogado). (NR) Art. 139, IV, do CPC, in verbis: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) IV determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária.” Dispunha o art. 878 da CLT: “A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio, pelo próprio juiz ou presidente 1 ou tribunal competente, nos termos do artigo anterior. Parágrafo Único. Quando se tratar de decisão dos Tribunais Regionais, a execução poderá ser promovida pela Procuradoria da Justiça do Trabalho.” De outro lado, o fato do Juiz do Trabalho não ter mais o impulso oficial vai impulsionar uma série de situações em que haverá o início do curso da prescrição intercorrente, caso o exequente não pratique o ato processual cabível ao impulso da execução. 1 O dispositivo foi idealizado para a composição colegiada do Judiciário Trabalhista em primeiro grau, antes da EC n. 45/04, onde, além do Juiz Presidente, havia os Juízes Classistas temporários. Não obstante, na execução, sempre atuou, unicamente, o Juiz Presidente, ou Juiz Togado.

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EXPOSIÇÃO: MAURO SCHIAVI

Do impulso oficial do magistrado trabalhista

Art. 878. A execução será promovida pelas partes,

permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo

Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as

partes não estiverem representadas por advogado.

Parágrafo único. (Revogado). (NR)

Art. 139, IV, do CPC, in verbis:

“O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,

incumbindo-lhe: (...) IV – determinar todas as medidas indutivas,

coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para

assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações

que tenham por objeto prestação pecuniária.”

Dispunha o art. 878 da CLT:

“A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex

officio, pelo próprio juiz ou presidente1 ou tribunal competente, nos

termos do artigo anterior. Parágrafo Único. Quando se tratar de decisão

dos Tribunais Regionais, a execução poderá ser promovida pela

Procuradoria da Justiça do Trabalho.”

De outro lado, o fato do Juiz do Trabalho não ter mais o impulso oficial

vai impulsionar uma série de situações em que haverá o início do curso da

prescrição intercorrente, caso o exequente não pratique o ato processual

cabível ao impulso da execução.

1 O dispositivo foi idealizado para a composição colegiada do Judiciário Trabalhista em primeiro grau, antes da EC n.

45/04, onde, além do Juiz Presidente, havia os Juízes Classistas temporários. Não obstante, na execução, sempre

atuou, unicamente, o Juiz Presidente, ou Juiz Togado.

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Argumentam os defensores da alteração que cabe ao advogado da parte

impulsionar a execução, pois o fato do Judiciário Trabalhista promover os atos

executivos de ofício configura comodismo que não deve ser mais aplicável ao

exequente. Além disso, argumentam que há um excesso de atos que a

Secretaria da Vara acaba praticando na execução, havendo certa quebra do

princípio da imparcialidade do Judiciário.

De nossa parte, o fim do impulso oficial do juiz na execução enfraquece

a eficácia da execução trabalhista, mitiga, sem justifica plausível o princípio

do protecionismo processual na execução, e favorece, em muito, situações

para que a prescrição intercorrente seja reconhecida. Além disso, está na

contramão da efetividade processual da tutela executiva.

Nos termos do artigo 13, da IN 41/18, a partir da vigência da Lei nº

13.467/2017, a iniciativa do juiz na execução de que trata o art. 878 da CLT e

no incidente de desconsideração da personalidade jurídica a que alude o art.

855-A da CLT ficará limitada aos casos em que as partes não estiverem

representadas por advogado.

Para alguns autores, somente o ato de início da execução deve ser

praticado pelo exequente. Após, os demais atos serão praticados por

impulso oficial (arts. 2o do CPC e 765, da CLT). Para outros, a alteração,

simplesmente não terá efeitos, pois a Constituição Federal determina a

execução de ofício da parcela previdenciária que decorre da execução da

parcela trabalhista (arts. 114, VIII, da CF e 876, da CLT).

A II Jornada de Direito Material e Processual da ANAMATRA editou os

seguintes Enunciados sobre o impulso oficial do magistrado na execução,

procurando minorar seus efeitos. São eles:

“Enunciado n. 113: EXECUÇÃO DE OFÍCIO E ART. 878 DA CLT. EM

RAZÃO DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DA EFETIVIDADE (CF,

ART. 5o, XXXV), DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO (CF, ART.

5o, LXXVIII) E EM FACE DA DETERMINAÇÃO CONSTITUCIONAL DA

EXECUÇÃO DE OFÍCIO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS,

PARCELAS ESTAS ACESSÓRIAS DAS OBRIGAÇÕES

TRABALHISTAS (CF, ART. 114, VIII), O ART. 878 DA CLT DEVE SER

INTERPRETADO CONFORME A CONSTITUIÇÃO, DE MODO A

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PERMITIR A EXECUÇÃO DE OFÍCIO DOS CRÉDITOS

TRABALHISTAS, AINDA QUE A PARTE ESTEJA ASSISTIDA POR

ADVOGADO.

Enunciado n. 114: EXECUÇÃO. IMPULSO OFICIAL. PESQUISA E

CONSTRIÇÃO DE BENS. POSSIBILIDADE. O IMPULSO OFICIAL DA

EXECUÇÃO ESTÁ AUTORIZADO PELO ART. 765 DA CLT E PERMITE

AO JUIZ A UTILIZAÇÃO DOS MECANISMOS DE PESQUISA E DE

CONSTRIÇÃO DE BENS, INCLUSIVE POR MEIO DO SISTEMA

BACENJUD, SENDO ESSE MERO PROCEDIMENTO PARA

FORMALIZAÇÃO DA PENHORA EM DINHEIRO.

Enunciado n. 115: EXECUÇÃO DE OFÍCIO. INEXISTÊNCIA DE

NULIDADE. A TEOR DO ART. 794 DA CLT, NÃO HÁ NULIDADE

PROCESSUAL QUANDO O JUÍZO REALIZA A EXECUÇÃO DE OFÍCIO,

PORQUE INEXISTENTE MANIFESTO PREJUÍZO PROCESSUAL.”

Da prescrição intercorrente

Art. 11-A. Ocorre a prescrição intercorrente no

processo do trabalho no prazo de dois anos.

§ 1o A fluência do prazo prescricional intercorrente

inicia-se quando o exequente deixa de cumprir

determinação judicial no curso da execução.

§ 2o A declaração da prescrição intercorrente pode

ser requerida ou declarada de ofício em qualquer

grau de jurisdição.

Recomendação n. 03 do CGJT:

Art. 5º. Não correrá o prazo de prescrição intercorrente nas hipóteses em que

não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a

penhora, devendo o juiz, nesses casos, suspender o processo (artigo 40 da Lei

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n.º 6.830/80). § 1º Na hipótese do caput deste artigo, os autos poderão ser

remetidos ao arquivo provisório (artigo 85 da Consolidação dos Provimentos da

Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho), assegurando-se ao credor o

desarquivamento oportuno com vistas a dar seguimento à execução (§ 3º do

artigo 40 da Lei n.º 6.830/80). § 2º Decidindo o juízo da execução pelo

arquivamento definitivo do feito, expedirá Certidão de Crédito Trabalhista, sem

extinção da execução (artigos 86 e 87 da Consolidação dos Provimentos da

CGJT). § 3º Não se determinará o arquivamento dos autos, provisório ou

definitivo, antes da realização dos atos de Pesquisa Patrimonial, com uso dos

sistemas eletrônicos, como o BACENJUD, o INFOJUD, o RENAJUD e o SIMBA,

dentre outros disponíveis aos órgãos do Poder Judiciário; e da desconsideração

da personalidade jurídica da sociedade reclamada, quando pertinente. § 4º

Antes do arquivamento, provisório ou definitivo, o juízo da execução

determinará a inclusão do nome do(s) executado(s) no Banco Nacional dos

Devedores Trabalhistas – BNDT e nos cadastros de inadimplentes, e promoverá

o protesto extrajudicial da decisão judicial, observado o disposto no artigo 883-

A da CLT e o artigo 15 da IN-TST n.º 41/2018. § 5º Uma vez incluído(s) o(s)

nome(s) do(s) executado(s) no BNDT e nos cadastros de inadimplentes, sua

exclusão só ocorrerá em caso de extinção da execução, conforme as hipóteses

do artigo 86 da Consolidação dos Provimentos da CGJT. Art. 6º. Reconhecida a

prescrição intercorrente, nos termos desta Recomendação, será promovida a

extinção da execução, consoante dispõe o artigo 924, V, do CPC (artigo 21, da

IN-TST n.º 41/2018). Art. 7º. Esta Recomendação entra em vigor na data de sua

publicação. Publique-se. Dê-se ciência aos Desembargadores Presidentes dos

Tribunais Regionais do Trabalho e aos Corregedores Regionais, do inteiro teor

desta Recomendação, por meio eletrônico.

Da desconsideração da personalidade jurídica

A pessoa jurídica não se confunde com a do sócio (art. 20 do Código

Civil de 1916), tampouco a sociedade comercial se confunde com a de seus

administradores ou acionistas. Não obstante, a lei atribui ao sócio a

chamada responsabilidade patrimonial (arts. 789 e 790, II, do CPC). Desse

modo, os bens do sócio podem vir a ser chamados a responder pela

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execução, nos termos da lei, caso a sociedade não apresente bens que

satisfaçam a execução.

Independentemente de ter figurado no polo passivo da reclamação

trabalhista, os bens do sócio podem responder pela execução, pois a

responsabilidade do sócio é patrimonial (econômica e de caráter processual).

Não se trata de despersonalização da pessoa jurídica, ou seja, de

extinção da personalidade jurídica da empresa, mas de desconsideração

temporária da personalidade jurídica, no caso concreto, e nos limites do

processo, para atingir o patrimônio pessoal do sócio.

O primeiro diploma legal a disciplinar a possibilidade de desconsideração

da personalidade jurídica a ser utilizado pela Justiça do Trabalho foi o art. 10

do Decreto n. 3.708/19, que assim dispõe:

“Os sócios gerentes ou que derem nome à firma não respondem

pessoalmente pelas obrigações contraídas em nome da sociedade, mas

respondem com esta e para com terceiros solidária e ilimitadamente pelo

excesso de mandato e pelos atos praticados com violação do contrato ou

da lei.”

Posteriormente, veio a lume o Código Tributário Nacional, que disciplinou

a questão no art. 135 do CTN, in verbis:

“São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a

obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de

poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I – as pessoas

referidas no artigo anterior; II – os mandatários, prepostos e empregados;

III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de

direito privado.”

Atualmente, a matéria está regulamentada pelo art. 28 da Lei n. 8.078/90

(Código de Defesa do Consumidor) e art. 50 do Código Civil, que

encamparam a teoria da “desconsideração da personalidade jurídica”,

também conhecida com disregard doctrine, disregard of legal entity, lifting the

corporate veil, oriunda do direito anglo-saxão e introduzida ao direito

brasileiro por Rubens Requião.

Dispõe o art. 28 da Lei n. 8.078/90:

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O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade

quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso

de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou

contrato social. A desconsideração também será efetivada quando

houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da

pessoa jurídica provocados por má administração.

O Código Civil de 2002 encampou a teoria da desconsideração da

personalidade jurídica no art. 50, que assim dispõe:

Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio

de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a

requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber

intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de

obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores

ou sócios da pessoa jurídica.

Pela teoria subjetiva da desconsideração da personalidade jurídica, os

bens do sócio podem ser atingidos quando:

a) a pessoa jurídica não apresentar bens para pagamento das dívidas;

b) de atos praticados pelo sócio com abuso de poder, desvio de

finalidade, confusão patrimonial, ou má-fé.

Atualmente, a moderna doutrina e a jurisprudência trabalhista

encamparam a chamada teoria objetiva da desconsideração da

personalidade jurídica que disciplina a possibilidade de execução dos bens

do sócio, independentemente de os atos deste violarem ou não o contrato,

ou haver abuso de poder. Basta a pessoa jurídica não possuir bens para ter

início a execução aos bens do sócio.

No processo do trabalho, o presente entendimento se justifica em razão

da hipossuficiência do trabalhador, da dificuldade que apresenta o

reclamante em demonstrar a má-fé do administrador e do caráter alimentar

do crédito trabalhista.

“Execução. Nulidade processual. Ausência de intimação na fase de

conhecimento. Teoria da desconsideração da personalidade jurídica do

empregador. Responsabilidade de ex-sócio. 1. Consoante leciona o

ilustre jurista Mauro Schiavi, não obstante a pessoa jurídica não se

confundir com a do sócio, a lei atribui a este a chamada responsabilidade

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patrimonial, de modo que seus bens podem vir a ser chamados a

responder pela execução, nos casos em que a sociedade não apresente

bens que satisfaçam a execução. Nesse passo, a sujeição do sócio —

responsável econômico — não depende de sua participação no processo

na fase de conhecimento. 2. Correta a constrição dos bens do ora

agravante, considerando sua condição de ex-sócio da executada durante

a relação de emprego do autor, bem como a inexistência de patrimônio

da empresa executada capaz de garantir a execução, conforme

salientado na decisão proferida pelo Tribunal Regional. 3. Agravo de

instrumento não provido.” (TST Processo: AIRR – 102640-

11.2005.5.02.0201 Data de Julgamento: 20.3.2013, rel. Ministro Lelio

Bentes Corrêa, 1a Turma, Data de Publicação: DEJT 26.3.2013)

A desconsideração da personalidade jurídica no processo do trabalho

pode ser levada a efeito em qualquer fase do processo. Não obstante, o

sócio, uma vez tendo seus bens constritados para garantia da execução, tem

o direito de invocar o chamado “benefício de ordem” e requerer que primeiro

sejam excutidos os bens da sociedade; mas para que tal seja possível, é

necessário que indique onde estão os bens, livres e desembargados para

penhora, que sejam de fácil liquidez, e obedeçam à ordem de preferência

mencionada no art. 835 do CPC.

Nesse sentido é o que preconiza o art. 795 e os §§ 1o e 2o, do Código de

Processo Civil:

Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da

sociedade, senão nos casos previstos em lei.

§ 1o O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da

sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens

da sociedade.

§ 2o Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1o nomear quantos

bens da sociedade situados na mesma comarca, livres e

desembargados, bastem para pagar o débito.

A responsabilidade do sócio retirante

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Art. 10-A. O sócio retirante responde

subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da

sociedade relativas ao período em que figurou como

sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos

depois de averbada a modificação do contrato,

observada a seguinte ordem de preferência:

I – a empresa devedora;

II – os sócios atuais; e

III – os sócios retirantes.

Parágrafo único. O sócio retirante responderá

solidariamente com os demais quando ficar

comprovada fraude na alteração societária

decorrente da modificação do contrato.

Assevera o art. 1.003 do Código Civil:

“A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação

do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá

eficácia quanto a estes e à sociedade. Parágrafo único. Até dois anos

depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente

solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas

obrigações que tinha como sócio.”

No mesmo sentido, dispõe o art. 1.032 do Código Civil, in verbis:

“A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus

herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até

dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois

primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se

requerer a averbação.”

Parte da jurisprudência se mostrava refratária à aplicação do art. 1.003

do CC ao Processo do Trabalho, argumentando que a responsabilidade do

sócio retirante persiste para fins trabalhistas, mesmo depois de dois anos,

pois se o sócio retirante estava na sociedade à época da prestação de

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serviço e usufruiu da mão de obra do trabalhador é justo que seu patrimônio

responda pelos débitos trabalhistas. Além disso, argumentam

incompatibilidade com os princípios protetor, da natureza alimentar e da

irrenunciabilidade do crédito trabalhista.

Outros argumentam que o art. 1.003 do CC se aplicava integralmente ao

processo do trabalho, em razão de omissão da CLT e compatibilidade com

os princípios que regem a execução trabalhista, máxime os da dignidade da

pessoa humana do executado e meios menos gravosos da execução (arts.

769 e 889 da CLT).

O art. 10-A, da CLT é melhor que os arts. 1.003 e 1.032 do CC, pois fixa

a responsabilidade subsidiária do sócio retirante pelo período em que figurou

na sociedade, mas limitado às ações trabalhistas ajuizadas até dois anos da

data da retirada, estabelecendo, também, a responsabilidade solidária em

caso de fraude.

Pela redação do novo art. 10-A da CLT, ficaram disciplinadas as

seguintes regras:

a) primeiramente responde a pessoa jurídica devedora;

b) posteriormente respondem os sócios atuais pela integralidade da

dívida;

c) posteriormente respondem os sócios retirantes;

d) o sócio retirante responderá subsidiariamente pelas obrigações

trabalhistas da sociedade relativas ao período em que figurou como

sócio;

e) a responsabilidade do sócio retirante se restringe às ações ajuizadas

até dois anos depois de averbada a modificação do contrato;

f) o sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando

ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente da

modificação do contrato.

Por outro lado, a experiência nos tem demonstrado que muitos sócios

deixam a sociedade quando ela tem dívidas trabalhistas ou está prestes a

sofrer execuções trabalhistas que possam levá-la à insolvência. De outro

lado, a responsabilidade do ex-sócio deve ser interpretada em compasso

com os arts. 10 e 448 da CLT que consagram o princípio da intangibilidade

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objetiva dos contratos de trabalho e manutenção de garantias trabalhistas nas

alterações estruturais da empresa. Em razão disso, pensamos que o sócio

retirante, pelo princípio da boa-fé objetiva que deve nortear os negócios

jurídicos, ao sair da sociedade, deve retirar certidões que comprovem a

inexistência de dívidas trabalhistas à época da saída, ou que, mesmo elas

existentes, a sociedade tem patrimônio suficiente para quitá-las. Caso

contrário, a responsabilidade do sócio retirante persistirá mesmo após o

prazo fixado no art. 10-A, da CLT2.

No aspecto, concordamos com a visão de Jorge Luiz Souto Maior e

Valdete Severo3:

“Pois bem, a norma do art. 10-A terá necessariamente de ser aplicada

considerando o artigo que a precede. Para que o “sócio retirante”

efetivamente se exima de responsabilidade, terá que produzir prova

de que: não permanece como sócio oculto; não atua como gestor do

negócio; não se beneficiou diretamente da exploração da força do

trabalho (auferindo com ela aumento do seu patrimônio). E mais: será

preciso que a empresa e os sócios remanescentes tenham patrimônio

suficiente para suportar o débito, pois do contrário “liberá-lo” de

responsabilidade afrontaria diretamente o que estabelece os arts. 10

e 448 da CLT, também este último preservado da destruição operada

pela Lei 13.467”.

Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica no

processo do trabalho

Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o

incidente de desconsideração da personalidade

jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei n. 13.105,

de 16 de março de 2015 — Código de Processo Civil.

2 Como bem advertem Antonio Umberto de Souza Júnior, Fabiano Coelho de Souza, Ney Maranhão e Platon Teixeira

de Azevedo Neto, “pela maior facilidade na obtenção das provas, o ônus de demonstrar a regularidade e lisura da

alteração societária suspeita deve ser atribuído pelo juiz, dinamicamente, antes de iniciada a instrução processual, ao

sócio retirante (CLT, art. 818, § 1º ).” In: Reforma Trabalhista. 2. ed. São Paulo: Editora Rideel, 2018, p. 28. 3 O acesso à justiça sob a mira da reforma trabalhista — ou como garantir o acesso à justiça diante da reforma trabalhista.

Disponível em: <http://www.jorgesoutomaior.com/blog>. Acesso em: 28 jul. 2017.

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§ 1o Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar

o incidente:

I – na fase de cognição, não cabe recurso de

imediato, na forma do § 1o do art. 893 desta

Consolidação;

II – na fase de execução, cabe agravo de petição,

independentemente de garantia do juízo;

III – cabe agravo interno se proferida pelo relator em

incidente instaurado originariamente no tribunal.

§ 2o A instauração do incidente suspenderá o

processo, sem prejuízo de concessão da tutela de

urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301

da Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de

Processo Civil).

O Código de Processo Civil de 2015 disciplinou um sofisticado

procedimento prévio para a desconsideração da personalidade jurídica da

empresa, a fim de atingir o patrimônio dos sócios, nos arts. 133 a 137 do

CPC, denonominado incidente de desconsideração da personalidade

jurídica, aplicável em todas as fases do processo civil, inclusive na execução.

Com efeito, dispõem os referidos dispositivos legais:

“Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será

instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber

intervir no processo. § 1o O pedido de desconsideração da personalidade

jurídica observará os pressupostos previstos em lei. § 2o Aplica-se o

disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da

personalidade jurídica.”

“Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases

do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na

execução fundada em título executivo extrajudicial. § 1o A instauração do

incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as

anotações devidas. § 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a

desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição

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inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. § 3o A

instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do §

2o. § 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos

pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade

jurídica.”

“Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado

para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze)

dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido

por decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida

pelo relator, cabe agravo interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a

oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em

relação ao requerente.”

Em favor da aplicação deste incidente ao processo do trabalho,

destacam-se:

a) a omissão da legislação processual trabalhista quanto à questão;

b) a Justiça do Trabalho utiliza as regras de direito material previstas no

Código de Defesa do Consumidor e no Código Civil para fundamentar a

desconsideração da personsalidade jurídica, tanto direta quanto inversa;

c) a observância do devido processo legal, oportunizando o contraditório

prévio antes de invadir a esfera patrimonial do sócio, ou da pessoa

jurídica (teoria inversa);

d) a justiça e o equilíbrio do procedimento.

De nossa parte, o referido incidente não é adequado ao Processo do

Trabalho, na fase de execução, pois o Juiz do Trabalho promove a execução

de ofício (art. 878 da CLT) e o referido incidente de descon­sideração é

incompatível com a simplicidade e a celeridade da execução trabalhista. De

outro lado, a hipossuficiência do credor trabalhista e a natureza alimentar do

crédito autorizam o Juiz do Trabalho a postergar o contraditório na

desconsideração após a garantia do juízo pela penhora. Além disso, o

presente incidente provoca complicadores desnecessários à simplicidade do

procedimento da execução trabalhista, atrasa o procedimento (uma vez que

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o art. 134, § 3o, do CPC, determina a suspensão do processo quando

instaurado o incidente) e, potencialmente, em muitos casos, pode inviabilizar

a efetividade da execução. Pela teoria consolidada tanto pelo CPC/73 (arts.

592, II e 596) quanto pelo Código de Processo Civil de 2015 (arts. 790, II e

795), o sócio não é parte, nem terceiro no processo, apenas responsável

patrimonial. Desse modo, seus bens podem vir a ser chamados a responder,

mesmo que ele não figure no processo como parte ou terceiro no processo.

Além disso, faz parte da sistemática processual trabalhista postergar o

contraditório quanto as decisões interlocutórias (art. 893, da CLT). Sob outro

enfoque, o processo do trabalho instrumentaliza o Direito Material do

Trabalho, e isso é sua razão de existência. Não se pode isolar as normas

processuais do direito que instrumentaliza. Os princípios da natureza

alimentar do crédito, da hipossuficiência do empregado, da

despersonalização do empregador (arts. 2o, 10 e 448, da CLT), e da real

impossibilidade do trabalhador demonstrar ato culposo do sócio a justificar a

desconsideração, autorizam o Juiz do Trabalho a realizar a desconsideração

da pessoa jurídica, tanto de forma direta como inversa, por meio de decisão

interlocutória fundamentada (art. 93, IX, da CF), propiciando o contraditório

“a posteriori”, por meio dos embargos à execução ou embargos de terceiro.

Pensamos não ser correto afirmar que o sócio não tem oportunizado o

direito ao contraditório, pois ele apenas fica postergado, para a fase posterior

à garantia do juízo. São oportunizados ao sócio os embargos à execução, e

os embargos de terceiro. Também são admitidos o Mandado de Segurança e

a Execeção de Pré-Executividade para se questionar uma desconsideração

abusiva da personalidade jurídica.

No aspecto, vale mencionar o Enunciado n. 109, da II Jornada de Direito

Material e Processual do Trabalho da ANAMATRA, in verbis:

“PROCESSO DO TRABALHO. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO

DA PERSONALIDADE JURÍDICA: APLICAÇÃO LIMITADA. I – NO

PROCESSO DO TRABALHO, O REDIRECIONAMENTO DA

EXECUÇÃO PARA O SÓCIO NÃO EXIGE O INCIDENTE DE

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (ARTS. 133 A

137 DO CPC). II – A DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA PESSOA

JURÍDICA INCLUI AS HIPÓTESES DE IMPOSSIBILIDADE DE

SATISFAÇÃO DA DÍVIDA PELO DEVEDOR, O QUE AUTORIZA O

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REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO PARA OS SÓCIOS,

INDEPENDENTEMENTE DE INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE DE

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (ART. 135 DO

CTN). III – ADMITE-SE O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE NAS HIPÓTESES DE SÓCIO OCULTO, SÓCIO

INTERPOSTO (DE FACHADA OU “LARANJA”), ASSOCIAÇÃO ILÍCITA

DE PESSOAS JURÍDICAS OU FÍSICAS OU INJURIDICIDADES

SEMELHANTES, COMO CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE

EMPRESÁRIA POR FRAUDE, ABUSO DE DIREITO OU SEU

EXERCÍCIO IRREGULAR, COM O FIM DE AFASTAR O DIREITO DE

CREDORES. IV – ADOTADO O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO

DA PERSONALIDADE JURÍDICA, O JUIZ, NO EXERCÍCIO DO PODER

GERAL DE CAUTELA, DETERMINARÁ ÀS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS

A INDISPONIBILIDADE DE ATIVOS FINANCEIROS E DECRETARÁ A

INDISPONIBILIDADE DE OUTROS BENS PERTENCENTES AOS

SÓCIOS, PESSOAS JURÍDICAS OU TERCEIROS RESPONSÁVEIS,

SENDO DESNECESSÁRIA A CIÊNCIA PRÉVIA DO ATO.”

O Tribunal Superior do Trabalho, recentemente, por meio da IN n. 39/16

admitiu a aplicabilidade do incidente de desconsideração da personalidade

jurídica no processo do trabalho, com algumas adaptações. Com efeito,

dispõe o art. 6o, da referia instução:

“Aplica-se ao Processo do Trabalho o incidente de desconsideração da

personalidade jurídica regulado no Código de Processo Civil (arts. 133 a

137), assegurada a iniciativa também do juiz do trabalho na fase de

execução (CLT, art. 878). § 1o Da decisão interlocutória que acolher ou

rejeitar o incidente: I – na fase de cognição, não cabe recurso de

imediato, na forma do art. 893, § 1o da CLT; II – na fase de execução,

cabe agravo de petição, independentemente de garantia do juízo; III –

cabe agravo interno se proferida pelo Relator, em incidente instaurado

originariamente no tribunal (CPC, art. 932, inciso VI). § 2o A instauração

do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da

tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 do CPC.”

A referida instrução teve os méritos de assegurar ao magistrado

trabalhista a iniciativa de instaurar de ofício o incidente, bem como a

possibilidade do juiz manejar as tutelas de urgência para garantir a efetividade

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da execução. De outro lado, a doutrina, com razão, tem criticado o referido

posicionamento do TST, uma vez que fora admitido o efeito suspensivo ao

incidente, bem como seu processamento sem a garantia do juízo, o que

conflita com o sistema da execução trabalhista que exige a garantia ao juízo

para utilização dos meios de impugnação, principalmente quanto ao Agravo

de Petição.

O art. 855-A, da CLT, determina a aplicação do incidente de

desconsideração ao processo do trabalho, previsto no CPC, com as

seguintes adaptações:

a) da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente;

b) na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do § 1o

do art. 893 desta Consolidação;

c) na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de

garantia do juízo;

d) cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado

originariamente no tribunal;

e) a instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de

concessão da tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art.

301 da Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo

Civil).

O referido dispositivo, praticamente repete a IN n. 39/16, mas não

consagra a possibilidade do Juiz do Trabalho tomar a iniciativa de instaurar o

incidente. Não obstante, poderá o Juiz do Trabalho, em razão do princípio da

cooperação previsto no art. 6o do CPC, consultar o reclamante se pretende a

instauração do referido incidente, a fim de evitar o início do prazo para a

prescrição intercorrente.

Nos termos do art. 13, da IN 41/18 do TST, a partir da vigência da Lei nº

13.467/2017, a iniciativa do juiz na execução de que trata o art. 878 da CLT e

no incidente de desconsideração da personalidade jurídica a que alude o art.

855-A da CLT ficará limitada aos casos em que as partes não estiverem

representadas por advogado.

Nos termos do art. 17, da IN 41/18, o incidente de desconsideração da

personalidade jurídica, regulado pelo CPC (artigos 133 a 137), aplica-se ao

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processo do trabalho, com as inovações trazidas pela Lei nº 13.467/2017.

Pela sistemática do processo trabalhista da própria redação dada ao art. 855-

A, § 2o, da CLT, uma vez instaurado o incidente, o Juiz do Trabalho poderá,

de ofício, em razão do poder geral de cautela, determinar a tutela cautelar

necessária a garantir o resultado útil do processo.

No aspecto sustenta Reginaldo Melhado4:

“Se o juiz do trabalho entender de adotar o procedimento de incidente

de desconsideração da personalidade jurídica, na forma do CPC, ele

deve desde logo verificar se a prova dos autos indica a ocorrência da

responsabilidade da pessoa física ou jurídica no incidente. Havendo

essa prova, ou indícios consistentes, o magistrado, sem dar ciêcnia

prévia do ato ao executado ou ao citando no incidente, deve buscar

garantir a eficácia da execução. A requerimento da parte ou de ofício,

pode ordenar às instituições bancárias a indisponibilidade de ativos

financeiros pertencentes aos sócios, pessoas jurídicas ou terceiros

citados na forma do art. 135 do CPC, até o limite da garantai da

execução (art. 855-A, p. 2º, da CLT, inserido pela Lei 13.467/17, art.

301 do CPC).”

Nesse sentido o Enunciado n. 116 da II Jornada de Direito Material e

Processual da ANAMATRA:

“TUTELAS DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR NO

INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURÍDICA. A ADOÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA NO PROCESSO DO TRABALHO NÃO

EXCLUI A POSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO DE TUTELAS DE

URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR ANTES DA CITAÇÃO DO NOVO

EXECUTADO, INCLUSIVE DE OFÍCIO, DENTRO DO PODER GERAL

DE CAUTELA DO MAGISTRADO.”

4 Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica e Redirecionamento da execução: A “reforma” trabalhista na

Esquina de uma outra racionalidade. In: MAIOR, Jorge Luiz Souto; SEVERO, Valde Souto (coords). Resistência:

Aportes Teóricos contra o Retrocesso Trabalhista. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2017, p. 604-605.

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No processo do trabalho, o incidente pode ser instaurado nos próprios

autos em que tramita a execução, devendo o exequente fundamentar o

requerimento de desconsideração da personalidade jurídica, podendo juntar

prova documental. O sócio ou a empresa (caso se trate da teoria inversa da

desconsideração) será citado para apresentar contestação em 15 dias,

podendo juntar prova documental. Após haverá a instrução do incidente.

Caso haja necessidade de prova oral, o Juiz designará audiência. Concluída

a instrução, o Juiz proferirá decisão.

Da responsabilidade da empresa do grupo econômico na execução

Art. 2o (...)

(...)

§ 2o Sempre que uma ou mais empresas, tendo,

embora, cada uma delas, personalidade jurídica

própria, estiverem sob a direção, controle ou

administração de outra, ou ainda quando, mesmo

guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo

econômico, serão responsáveis solidariamente pelas

obrigações decorrentes da relação de emprego.

§ 3o Não caracteriza grupo econômico a mera

identidade de sócios, sendo necessárias, para a

configuração do grupo, a demonstração do interesse

integrado, a efetiva comunhão de interesses e a

atuação conjunta das empresas dele integrantes. (NR)

Segundo a CLT, empregador típico é a empresa, que

assumindo os riscos da atividade econômica, contrata, assalaria e dirige a

prestação pessoal de serviços.

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De nossa parte, empregador é a entidade, individual,

ou coletiva, que assumindo os riscos da atividade econômica, contrata,

remunera e dirige a prestação pessoal de serviços. O empregador pode ser

empresa devidamente constituída, ou não, que tenha ou não personalidade

jurídica, que se dedique, ao lucro ou não, ou a pessoas físicas.

Empresa é unidade econômica de produção destinada

ao lucro. Trata-se de entidade abstrata, cuja existência é reconhecida pelo

Direito. Na verdade, empresa é atividade destinada à produção ou circulação

de bens e serviços.

Nesse sentido dispõe o artigo 966 do Código Civil:

Considera-se empresário quem exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a

circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera

empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária

ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o

exercício da profissão constituir elemento de empresa.

Estabelecimento é o conjunto de bens materiais e

imateriais destinados a atividade econômica empresarial. Trata-se de

unidade corpórea, contento os bens necessários para o exercício da

atividade empresarial.

O Código Civil, no artigo 1142, nos define, por meio

de interpretação autêntica o conceito de estabelecimento. Dispõe o referido

dispositivo legal: Considera-se estabelecimento todo complexo de bens

organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade

empresária

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Ensina Mauricio Godinho Delgado5:

“O grupo econômico aventado pelo Direito do Trabalho define-se

como a figura resultante da vinculação justrabalhista que se forma

entre dois ou mais entes favorecidos direta ou indiretamente pelo

mesmo contrato de trabalho, em decorrência de existir entre esses

entes laços de direção ou coordenação em face de atividades

industriais, comerciais, ou financeiras, agroindustriais ou de qualquer

outra natureza econômica.”

Embora alguns autores, como Magano e parte da jurisprudência exijam

uma relação de hierarquia entre as empresas para que se caracterize o grupo,

a moderna doutrina, à qual nos filiamos, numa interpretação mais benéfica do

§ 2o do art. 2o, da CLT, à luz dos princípios da função do contrato de trabalho

e da proteção efetiva do crédito trabalhista, tem admitido a formação do grupo

econômico por coordenação, onde não há a supremacia de uma empresa

sobre as outras, o chamado grupo por coordenação.

Antes da alteração dos parágrafos 2º e 3º do artigo 2º, da CLT, dadas pela Lei

13.467/17, parte da doutrina exigia uma relação de hierarquia (Holding) entre as

empresas componentes do grupo para a configuração do grupo econômico para fins

trabalhistas. No entanto, a moderna doutrina, à qual nos filiamos, numa interpretação

mais benéfica do parágrafo segundo do artigo 2º, da CLT, à luz dos princípios da

função do contrato de trabalho e da proteção efetiva do crédito trabalhista, já vinha

admitido a formação do grupo econômico por coordenação, onde não há a

supremacia de uma empresa sobre as outras, o chamado grupo por coordenação. O

novo parágrafo 3º do artigo 2º da CLT ao se referir ao interesse integrado, a efetiva

comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes, consagra

a teoria do reconhecimento do grupo econômico horizontal.

Nesse sentido sustenta com propriedade Edilton Meirelles6 em exaustiva

monografia sobre o assunto:

“É evidente que o referido dispositivo buscou a maior proteção dos

trabalhadores e deve ser interpretado e aplicado de acordo com os

5 Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 399.

6 Grupo Econômico Trabalhista. São Paulo: LTr, 2002, p. 152.

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fins sociais a que se dirige. Logo, não se pode afastar a possibilidade

de configuração do grupo econômico trabalhista quando as empresas

se agrupam de forma horizontal, sem relação de controle ou domínio

entre elas. ‘Seria uma injustiça negar-se a existência do grupo, para

fins de fixação de responsabilidade pecuniária de todas as empresas

em face dos direitos dos empregados e uma ou algumas delas’.”

No mesmo sentido Mozart Victor Russomano7:

“Não nos parece que, sempre se deve pressupor uma organização

piramidal de empresas, no vértice delas atuando, na plenitude do seu

controle, a empresa líder. É preciso pensar-se em outras

possibilidades, que a prática pode criar e que, resultando das

variadas formas de aglutinação de empresas, nem por isso

desfiguram a existência do grupo e, portanto, a corresponsabilidade

econômica de todas as empresas que o integrarem, em face dos

direitos do trabalhador. É o caso de um grupo de empresas

constituído horizontalmente, isto é, sem a existência de uma empresa

líder ou controladora, mas todas elas sujeita a um controle de fato

exercido através da detenção, por determinadas pessoas, do capital

investido.”

Há discussões na doutrina e jurisprudência sobre

ser a solidariedade que decorre do grupo econômico, além de passiva,

conforme previsto textualmente no citado dispositivo legal, também ativa.

Pensamos, com suporte em sólida doutrina (Magano

Süssekind, Martins Chatarino, dentre outros), que o grupo econômico

constitui empregador único, sendo a solidariedade, que dele decorre, ativa e

passiva, vez que o trabalho do empregado de qualquer uma das empresas

beneficia todo o grupo.

Nesse sentido ensina Octavio Bueno Magano8:

7 Comentários à CLT. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. p. 8.

8 Os grupos de empresas no Direito Brasileiro. São Paulo, RT, 1979, P. 253.

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“A apontada idéia de empregador único corresponde à

concepção do empregador real, contraposto ao empregador aparente,

consoante a qual a existência daquele fica geralmente encoberta pelo véu da

personalidade jurídica atribuída a cada uma das empresas do grupo,

ressurgindo, porém, toda vez que se levante o mesmo véu, lifting the

corporate veil, para satisfazer tal ou qual interesse, como o da representação

de trabalhadores no âmbito do grupo (...)”.

Nesse sentido é a Súmula n. 129 do C. TST, in verbis:

“CONTRATO DE TRABALHO. GRUPO ECONÔMICO

— A prestação de serviços a mais de uma empresa do mesmo grupo

econômico, durante a mesma jornada de trabalho, não caracteriza a

coexistência de mais de um contrato de trabalho, salvo ajuste em contrário”.

Esse entendimento, foi firmado na redação anterior do

parágrafo 2º do artigo 2º, da CLT, fixa a solidariedade das empresas “para

efeitos da relação de emprego”, sendo certo que esta relação envolve

obrigações e prestações recíprocas tanto do empregado como do

empregador, o que também justifica o entendimento no sentido da

solidariedade ativa.

Cumpre destacar que vários autores de renome (Arion

Romita, Amauri Mascaro Nascimento, dentre outros) defendem a teoria da

solidariedade apenas no aspecto passivo, argumentando que a CLT somente

fixa a responsabilidade solidária das empresas do grupo. Além disso, há o

argumento de que cada empresa componente do grupo que contrata um

empregado tem personalidade jurídica própria e autonomia em face do

grupo. Portanto, seria a única empregadora e não o grupo como um todo.

Entendendo-se a solidariedade como ativa, o

empregado tem direito à equiparação salarial com empregados de outras

empresas do grupo, direito ao mesmo salário de outros empregados de

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empresas que compõem o grupo, direito à aplicação das mesmas normas

coletivas de outras empresas do grupo, etc.

A alteração da redação do parágrafo 2º do artigo 2º,

da CLT ao fixar a expressão: “pelas obrigações decorrentes da relação de

emprego”, trouxe novamente a discussão sobre a natureza da

solidariedade. Para muitos ela deixou de ser ativa, sendo apenas passiva,

inclusive, fora revogada a teoria do grupo como empregador único.

Nos termos do § 3º do artigo 2º, da CLT, “não

caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo

necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração do interesse

integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das

empresas dele integrantes.”

Diante do referido dispositivo legal, para a

caracterização do grupo econômico: a) duas ou mais empresas tendo,

cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a

direção, controle ou administração de outra; b) a demonstração do

interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação

conjunta das empresas dele integrantes.

Como nos ensina Márcio Mendes Granconato9 : “por

‘interesse integrado’ deve-se compreender que as empresas mantêm

uma relação de reciprocidade na forma como atuam. Ou seja, elas

operam de maneira complementar ou subsidiária em seus negócios.

Como exemplo, pode-se citar o caso de duas empresas, uma atuando

na terceirização de serviços de limpeza e a outra de serviços de

vigilância. As negociações de seus contratos com clientes certamente são

favorecidas com a oferta de um maior número de serviços, advindo daí o

interesse integrado. O requisito da ‘comunhão de interesses’ pode ser

9 Reforma Trabalhista: de acordo com a Lei 13.467/17. São Paulo: Foco, 2017, p. 5

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entendido como a necessidade de que exista entre as empresas

reciprocidade de vantagens, perdas e ganhos, benefícios e prejuízos.

Elas compartilham o sucesso e a ruína de seus empreendimentos, de

sorte que o negócio de uma influência no da outra, surgindo dai o

interesse comum. Mantendo o exemplo acima, fica claro que as duas

empresas sofreriam, caso o trabalho de uma delas fosse mal prestado e

ocasionasse a perda do cliente. O último requisito legal reside na

‘atuação conjunta das empresas’. Isso quer dizer que elas devem

necessariamente ter uma vida em comum. Nâo podem atuar de forma

totalmente independente uma da outra, porque se completam e interagem no

exercício de suas atividades empresariais. No exemplo das empresas de

limpeza e vigilância isso se evidencia com a existência de vendas ‘casadas’

de serviços, clientes comuns em número expressivo e até pela migração de

trabalhadores de uma pessoa jurídica para outras. Mesmo a identeidade de

sócios entre as empresas pode levar à presunção de atuação conjunta,

configurando o grupo econômico horizontal.”

O grupo econômico pode ser demonstrado por

qualquer meio de prova admitido em direito. Não obstante, já estava

sedimentado na doutrina e jurisprudência que a existência do grupo, por

parte do empregado, pode ser demonstrada por indícios e presunções.

Tradicionalmente, são indícios da existência do grupo econômico:

a)identidade de sócios; b)interesse comum; c)utilização de empregados

comuns; mesmo estabelecimento; interesse integrado; preponderância

acionária de uma empresa sobre outros, etc.

A Lei 13.467/17 fixou orientação no sentido de que a

mera identidade de sócios não é suficiente para configuração do grupo

econômico, exigindo, além disso: a demonstração do interesse integrado, a

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efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele

integrantes.

De nossa parte, ainda que se considere a mera identidade

de sócios não ser suficiente para a configuração do grupo econômico, tal elemento é

um indício bastante relevante de sua existência, assim como apenas a

demonstração do interesse integrado, ou efetiva comunhão de interesses, ou

atuação conjunta das empresas dele integrantes (prova prima facie), podendo o Juiz

do Trabalho, no caso concreto, aplicar a teoria dinâmica do ônus da prova e atribuir

o encargo probatório à empresa que nega a existência do grupo econômico (nova

redação do artigo 818, da CLT).

Na hipótese do grupo econômico, o Juiz do Trabalho poderá

aplicar a teoria do ônus dinâmico da prova, atribuindo-o às empresas executadas,

quando houver a demonstração de uma das seguintes hipóteses

a)identidade de sócios;

b) interesse integrado;

c) efetiva comunhão de interesses;

d)atuação conjunta.

Nesse sentido advertem Jorge Luiz Souto Maior e Vaudete Severo10:

“A alteração proposta para o art. 2o, § 3o, da CLT, no sentido de que

não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo

necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração do

interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação

conjunta das empresas dele integrantes” não nos deve impressionar.

A realidade das lides trabalhistas revela que duas empresas, com

mesmos sócios, explorando uma mesma atividade geralmente

possuem essa comunhão de interesses, algo aliás, que pode ser

10 O acesso à justiça sob a mira da reforma trabalhista — ou como garantir o acesso à justiça diante da reforma trabalhista.

Disponível em: <http://www.jorgesoutomaior.com/blog>. Acesso em: 28 jul. 2017.

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inclusive presumido pelo Juiz, na medida em que não houve

alteração do conteúdo do art. 765 da CLT, que a ele dá ampla

liberdade para a condução do processo.”

Num primeiro momento, a jurisprudência consagrou o

entendimento no sentido de que a empresa do grupo econômico que não participou

da fase de conhecimento não poderia ser responsabilizada na fase de execução,

conforme a Súmula n. 205 do C. TST, hoje cancelada, que assim dispunha: GRUPO

ECONÔMICO. EXECUÇÃO. SOLIDARIEDADE — CANCELADA — Res. n. 121/2003, DJ

21.11.2003 — O responsável solidário, integrante do grupo econômico, que não

participou da relação processual como reclamado e que, portanto, não consta no

título executivo judicial como devedor, não pode ser sujeito passivo na execução.

Mesmo na vigência da referida Súmula, entendíamos

em sentido contrário, pois o grupo econômico constitui empregador único e a

solidariedade é instituto de natureza econômica, e não processual. Além

disso, não havia prejuízo à empresa do grupo que não tivesse participado da

fase de conhecimento, pois o direito de defesa havia sido exercido por outra

empresa do grupo que participou. Felizmente, a Súmula foi cancelada,

atendendo à moderna doutrina e à jurisprudência mais recente.

No mesmos sentido:

Execução. Grupo econômico. A responsabilidade com

fundamento no art. 2ª, parágrafo segundo, da CLT é solidária e, por isso,

possibilita ao credor cobrar de qualquer um dos devedores solidários o seu

crédito, inclusive no curso da execução da demanda em que se reconheceu

a dívida (art. 275 do Código Civil). Agravo de Petição a que se nega

provimento. (TRT/SP - 00022155620155020061 - AP - Ac. 17ªT

20170612486 - Rel. Flávio Villani Macedo - DOE 06/10/2017)

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Acompanhando o mesmo entendimento, é o

Enunciado n. 3 da 1a Jornada Nacional de Execução Trabalhista da

ANAMATRA realizada em novembro de 2011, in verbis:

EXECUÇÃO. GRUPO ECONÔMICO. Os integrantes

do grupo econômico assumem a execução na fase em que se encontra.

9. A questão do reconhecimento da sucessão na execução

Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou

de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta

Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive

as contraídas à época em que os empregados

trabalhavam para a empresa sucedida, são de

responsabilidade do sucessor.

Parágrafo único. A empresa sucedida responderá

solidariamente com a sucessora quando ficar

comprovada fraude na transferência.

Nos ensina Mauricio Godinho Delgado11:

“Sucessão de empregadores é figura regulada pelos arts. 10 e 448

da CLT. Consiste no instituto justrabalhista em virtude do qual se

opera no contexto da transferência de titularidade de empresa ou

estabelecimento, uma completa transmissão de crédito e assunção

de dívidas trabalhistas entre alienante e adquirente envolvidos”.

Alguns doutrinadores preferem utilizar a expressão sucessão de

empregadores12, pois a alteração se dá em face do empregador e não da

11 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 408.

12 Nesse sentido defende Délio Maranhão: “sucessão é substituição de sujeitos, ‘empresa’ é atividade e ‘estabelecimento’ é

objeto de direito. De la Cueva, a quem não se pode imputar a ‘pecha’ de civilista, salienta que as consequências jurídico-

trabalhistas da substituição de empregadores ‘não autorizam a concluir que a relação de trabalho se estabeleça entre os

empregados e a empresa, pois não é possível ignorar o direito de propriedade do empregador e menos ainda afirmar-se

um direito de propriedade dos empregados sobre os bens que integram a empresa (Instituições de Direito do Trabalho.

22. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 306). No mesmo sentido Evaristo de Moraes Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes:

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empresa que continua. Outros, sustentam a possibilidade de haver sucessão

de empresas13.

Segundo a melhor doutrina a sucessão trabalhista, disciplinada nos arts. 10

e 448, da CLT tem fundamento nos princípios da continuidade do contrato de

trabalho, despersonalização do empregador, e na inalterabilidade do contrato

de trabalho. Por isso, quem responde pelo crédito trabalhista é a empresa e

não quem esteja no seu comando.

Dispõe o art. 10, da CLT:

“Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os

direi­tos adquiridos por seus empregados.”

No mesmo sentido é o art. 448, da CLT: A mudança na propriedade ou

na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos

respectivos empregados.

Como bem adverte Wagner D. Giglio14, responsável pelo pagamento da

condenação é, portanto, a empresa, ou seja, o conjunto de bens materiais

(prédios, máquinas, produtos, instalações etc.) e imateriais (crédito, renome

etc.) que compõe o empreendimento. São esses bens que, em última

análise, serão arrecadados através da penhora, para satisfazer a

condenação, pouco importando quais são as pessoas físicas detentoras ou

proprietárias deles.

São hipóteses típicas de sucessão para fins trabalhistas: a transferência

de titularidade da empresa, fusão, incorporação e cisão de empresas,

contratos de concessão e arrendamento e também as privatizações de

antigas estatais.

“A indevidamente chamada sucessão de empresa nada mais é do que a sucessão de empregadores – isto sim – dentro

da mesma empresa” (Introdução ao Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 261).

13 Nesse sentido é a visão de Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena: “A sucessão pode se dar na empresa, o que torna

abrangente a vinculação trabalhista, ou de estabelecimento ou no estabelecimento ou na atividade hipótese em que a

vinculação trabalhista seria parcial e se referiria somente aos empregados do estabelecimento ou da atividade objeto da

sucessão” (Relação de Emprego: Estrutura Legal e Supostos. 3. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 330). Na visão de Amauri

Mascaro Nascimento: “sucessão de empresas significa mudança na propriedade da empresa e efeitos sobre o contrato

de trabalho que é protegido” (Curso de Direito do Trabalho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 680).

14 GIGLIO, Wagner D. Direito Processual do Trabalho. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 537.

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Para a doutrina clássica, são requisitos da sucessão para fins

trabalhistas: a) transferência de uma unidade empresarial econômica de

produção de um titular para outro; b) inexistência de solução de continuidade

do contrato de trabalho, vale dizer: o empregado da empresa sucedida deve

trabalhar para a empresa sucessora15. Para a moderna doutrina, à qual me

filio, com apoio da atual jurisprudência dos Tribunais, não há necessidade de

que o empregado ou o reclamante em processo trabalhista ter prestado

serviços para a empresa sucessora, basta apenas que tenha havido a

transferência total ou parcial de uma unidade de produção de uma empresa

para outra para que ocorra a sucessão para fins trabalhistas.

Nesse sentido a seguinte ementa:

“Sucessão. A sucessão é a transferência total ou parcial, provisória ou

definitiva da titularidade de empresa, pública ou privada, desde que haja

continuidade, pelo sucessor, da atividade-fim, explorada pelo sucedido.

Apoiam-se nos princípios da continuidade da relação de emprego, da

despersonalização da pessoa jurídica e da intangibilidade salarial, tendo

como escopo a regra dos arts. 10 e 448 da Consolidação das Leis do

Trabalho.” (TRT – 1a R. – 5a T. – RO n. 6605/2000 – Rel. João Mário de

Medeiros – DJRJ 28.6.2001 – p. 223) (RDT 07/2001, p. 65).

Pensamos estar correta a moderna doutrina ao exigir apenas o requisito

da transferência da unidade econômica de produção de um titular para outro

para que se configure a sucessão, pois os arts. 10 e 448, da CLT não exigem

que o empregado tenha trabalhado para a empresa sucedida. Além disso, tal

interpretação está em consonância com o princípio protetor e propicia maior

garantia de solvabilidade do crédito trabalhista.

Nesse mesmo diapasão adverte Jorge Luiz Souto Maior16:

“A circunstância de não ter o empregado prestado serviços para a

nova pessoa jurídica constituída é totalmente irrelevante, apesar de se

15 Nesse sentido é a doutrina clássica de Délio Maranhão (Instituições de Direito do Trabalho. vol. I. 22. ed. São Paulo: LTr,

2005. p. 309). No mesmo sentido destaca-se a seguinte ementa: Sucessão de empregadores. Configura-se a sucessão

de empregadores quando ocorre a transferência do estabelecimento de um titular para outro sem que seja interrompida

a prestação de serviços. (TRT – 12a R – 2a T. – Ac. n. 3.286/2001 – Rel. Moreira Cacciari – DJSC 16.4.2001 – p. 84)

(RDT 5/2001, p.. 67).

16 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de Direito do Trabalho: a relação de emprego. vol. II. São Paulo: LTr, 2008. p. 141.

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ter firmado na doutrina trabalhista o entendimento de que a sucessão

trabalhista somente tem lugar quando se dá o fenômeno da

continuidade da prestação de serviço por parte do trabalhador para a

nova pessoa jurídica. Uma leitura atenta dos arts. 10 e 448, da CLT,

entretanto, desautoriza tal entendimento.”

No mesmo sentido Mauricio Godinho Delgado17:

“(...) a sucessão pode se verificar sem que haja, necessariamente, a

continuidade na prestação de serviços. Tal singularidade é que foi

percebida nos últimos anos pela jurisprudência, ao examinar inúmeras

situações novas criadas pelo mercado empresarial; nessas situações

ocorriam mudanças significativas no âmbito da empresa, afetando

significativamente (ainda que de modo indireto) os contratos de

trabalho, sem que tivesse se mantido a prestação laborativa e a

própria existência de tais contratos.”

A moderna doutrina defende a existência da sucessão, mesmo na

transferência parcial de uma unidade econômica de produção empresarial,

desde que afete de forma significativa os contratos de trabalho. Por exemplo,

a transferência de propriedade da produção de um determinado produto de

uma empresa para outra.

Nesse sentido, Mauricio Godinho Delgado18:

“(...) também configura a situação própria à sucessão de

empregadores a alienação ou transferência de parte significativa

do(s) estabelecimento(s) ou da empresa de modo a afetar

significativamente os contrato de trabalho. Ou seja, a mudança na

empresa que afete a garantia original dos contratos empregatícios

provoca a incidência do tipo legal dos arts. 10 e 448 da CLT. Isso

significa que a separação de bens, obrigações e relações jurídicas de

um complexo empresarial, com o fito de se transferir parte relevante

dos ativos saudáveis para outro titular (direitos, obrigações e

relações jurídicas), preservando-se o restante de bens, obrigações e

17 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 411.

18 Ibidem, p. 412.

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relações jurídicas no antigo complexo — agora significativamente

empobrecido —, afeta, sim, de modo significativo, os contratos de

trabalho, produzindo a sucessão trabalhista com respeito ao novo

titular (arts. 10 e 448, da CLT).”

Nesse sentido, destaca-se a seguinte ementa:

“Sucessão parcial. Responsabilidade do sucessor pelas obrigações

trabalhistas a ela relativas. A alteração na estrutura jurídica da empresa,

ainda que parcial, não afeta o direito dos empregados e dos

trabalhadores já desligados da parte do empreendimento por ela

abrangida. A sucessão pode ser parcial, como ocorre na cisão, caso em

que o sucessor responde pelas obrigações trabalhistas que a ela dizem

respeito, nos termos do art. 10 da CLT.” (TRT 12a R – 2a T. – AG-PET n.

238.2003.009.12.00-8 – Rela. Martha M. V. Fabre – DJSC 23.4.2004 – p.

189) ( RDT n. 5 – Maio de 2004)

A sucessão não exige prova formal, pode ser demonstrada por indícios

e presunções, tais como: a transferência do fundo de comércio,

transferência do principal bem imaterial da atividade, dentre outros

elementos. De outro lado, a simples transferência de maquinários ou

compra do imóvel empresarial não configuram a sucessão.

Nesse sentido destaca-se a seguinte ementa:

“Sucessão de empresas. A sucessão se consubstancia quando a nova

pessoa jurídica ocupa o mesmo lugar, explora o mesmo ramo e se utiliza

dos mesmos utensílios. Portanto, é caracterizada pelos elementos fáticos

que conduziram a alteração na propriedade sucedida,

independentemente da forma legal adotada, sendo que o patrimônio que

guarnece o estabelecimento se constitui na garantia para os créditos

trabalhistas.” (TRT – 12a R –

1a T. – Ac. n. 2550/2000 – Rel. Juiz Idemar Antônio Martini – DJSC

21.03.2000 – p. 137)

A sucessão de empresas pode ser reconhecida pelo Juiz do Trabalho em

qualquer fase do processo, inclusive na execução, uma vez que o sucessor

tem a chamada responsabilidade patrimonial, independentemente de ter

figurado na fase de conhecimento, seus bens podem ser atingidos. Nesse

sentido:

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“Sucessão de empregadores. Responsabilidade patrimonial. A

legitimidade do sucessor para figurar no polo passivo da execução em

nada é afetada pelo fato de não ter participado da fase de conhecimento.

O direito constitucional de resposta foi devidamente resguardado, sendo

concedido ao sucedido a oportunidade de defender-se amplamente,

passando o novo titular a responder imediatamente pelos contratos de

trabalho que lhe forem transferidos, de acordo com o que dispõe os arts.

10 e 448 da CLT.” (TRT – 1a R – 3a T. – Ap. n. 3.542/2001 – Rela. Ma.

das Graças C. V. Paranhos – DJRJ 7.2.2002 – p. 144).

A empresa sucessora poderá cobrar a empresa sucedida dos débitos

trabalhista que teve que quitar do período laborado para a empresa

sucedida. Desse modo, a empresa sucedida pode integrar a lide como

terceira juridicamente interessada. Nesse sentido, destacamos a seguinte

ementa:

“Sucessão trabalhista. Direitos do sucedido. O sucedido, no âmbito do

processo trabalhista, é parte legítima para interpor recursos na fase

executória do feito, em respeito ao princípio da ampla defesa, mormente

quando, na fase de conhecimento, era o legítimo e único devedor, e, na

execução, foi quem efetivou o depósito garantidor do juízo.” (TRT – 15a R.

– 1a T. – Ac. n. 7235/2001 – Rel. Luiz Antônio Lazarim – DJSP 5.3.2001

– p. 33) (RDT N. 04 – p. 68).

Como regra geral, o sucessor responderá pela integralidade da dívida,

salvo em caso de fraude, em que a empresa sucedida responderá

solidariamente, nos termos dos arts. 9o, da CLT e 942 do Código Civil.

Autores há que defendem a responsabilidade da empresa sucedida

mesmo não havendo fraude. Nesse sentido a opinião de Ísis de Almeida19:

“Mesmo sem fraude, o sucedido responde, solidária ou

subsidiariamente, com o sucessor, pelas reparações de direitos

sonegados ao empregado, não só com referência ao período anterior

como ao posterior à sucessão. Isto ocorre quando o sucessor não

tem possibilidade de cumprir as obrigações contratuais ou legais.”

19 ALMEIDA, Ísis. Curso de Legislação do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Sugestões Literárias, 1981. p. 83.

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Eventual cláusula no contrato de sucessão de irresponsabilidade da

empresa sucessora pelos débitos trabalhistas da empresa sucedida não tem

validade perante a legislação trabalhista, pois as normas dos arts. 10 e 448,

da CLT são de ordem pública.

A jurisprudência dominante fixou entendimento no sentido de que a

responsabilidade do crédito trabalhista é apenas da empresa sucessora, pois

é esta que possui o fundo de comércio e o patrimônio.

Nesse sentido, destaca-se a seguinte ementa:

“Sucessão trabalhista. Responsabilidade. A Flumitrens é sucessora da

CBTU, pois, havendo contrato de cisão, operou-se a sucessão

trabalhista, cabendo ao novo empregador responder por todos os débitos

trabalhistas dos empregados e ex-empregados da empresa sucedida,

independentemente do contrato civil firmado entre ela e sua antecessora.

Ademais, o Instrumento de Protocolo que regulou a referida cisão,

caracterizou a sucessão trabalhista, sendo certo que, no Direito do

Trabalho, o sucessor responde por todos os débitos trabalhistas,

desobrigando a sucedida de tal responsabilidade. Recurso de revista não

conhecido. Honorários advocatícios. Os honorários advocatícios, na

Justiça do Trabalho, não decorrem da sucumbência, mas do

preenchimento dos requisitos previstos nos termos da Lei n. 5.584/70.

Aplicação dos Enunciados de ns. 219 e 329 do TST. Revista conhecida e

provida.” (TST – 1a T – RR n. 588.912/1999-0 – Rel. Lélio B. Corrêa – DJ

6.8.2004 – p. 615)(RDT n. 9 Setembro de 2004).

De nossa parte, subsiste a responsabilidade solidária da sucessora em

caso de fraude (arts. 9o e 942 do CC) e também subsidiária, mesmo não

havendo fraude, nas hipóteses em que a empresa sucessora não apresenta

patrimônio suficiente para solver o crédito trabalhista, ou para maior

efetividade do recebimento deste. A responsabilidade subsidiária da empresa

sucedida se justifica como medida inibidora de fraudes e encontra suporte

nos princípios constitucionais da livre-iniciativa, valores sociais do trabalho,

dignidade da pessoa humana do trabalhador (arts. 1o e 170, da CF) e também

da função social da empresa e da propriedade (art. 5o, da CF).

O art. 448-A, da CLT consagra o entendimento preponderante de que o

sucessor responderá pela integralidade da dívida, salvo em caso de fraude,

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em que a empresa sucedida responderá solidariamente, nos termos do

parágrafo único do art. 448-A, da CLT.

De nossa parte, pensamos que subsiste a responsabilidade subsidiária,

mesmo não havendo fraude, nas hipóteses em que a empresa sucessora

não apresenta patrimônio suficiente para solver o crédito trabalhista, ou para

maior efetividade do recebimento deste. A responsabilidade subsidiária da

empresa sucedida se justifica como medida inibidora de fraudes e encontra

suporte nos princípios constitucionais da livre-iniciativa, valores sociais do

trabalho, dignidade da pessoa humana do trabalhador (arts. 1o e 170, da CF)

e também da função social da empresa e da propriedade (art. 5o da CF).

No aspecto, pensam Jorge Luiz Souto Maior e Valdete Souto Severo20:

“Há a introdução de um art. 448-A para estabelecer a responsabilidade

do sucessor em caso de caracterização da sucessão empresarial ou

de empregadores prevista nos arts. 10 e 448. O parágrafo único

desse novo artigo refere que “a empresa sucedida responderá

solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na

transferência”. Certamente responderá. E nada na nova legislação

impedirá o juiz do trabalho de reconhecer a mesma responsabilidade

em outras hipóteses, desde que devidamente fundamentadas, nas

quais evidencie que o patrimônio auferido com a força de trabalho

passou às mãos da sucedida. Ao referir uma hipótese de

responsabilidade solidária, o texto de lei, que não deve ser

interpretado/aplicado isoladamente, certamente não descarta outras

que também determinarão a persecução do patrimônio da sucedida,

para a satisfação dos créditos alimentares do trabalhador. Quem

adquire um empreendimento torna-se solidariamente responsável,

com o sucedido, pelas dívidas trabalhistas, exatamente porque está

adquirindo o capital, que se beneficiou diretamente do trabalho

humano. O sucedido, que contraiu a dívida trabalhista, segue sendo

responsável. A relação de trabalho se estabelece entre trabalho e

capital, e é exatamente isso que a CLT reconhece ao fixar tanto o

20

O acesso à justiça sob a mira da reforma trabalhista — ou como garantir o acesso à justiça diante da reforma trabalhista. Disponível

em: <http://www.jorgesoutomaior.com/blog>. Acesso em: 28 jul. 2017.

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conceito quanto a extensão da responsabilidade de quem toma

trabalho. A mudança na estrutura jurídica da empresa, que identifica

o fenômeno da sucessão, ocorre toda vez que houver modificação na

titularidade da empresa, no poder que comanda, dirige e assalaria o

trabalhador. A sucessão de empregadores promove uma espécie

de quebra da garantia e da confiança que se presume existentes no

momento da contratação. Daí porque ambos, sucedido e sucessor,

são responsáveis pelos créditos alimentares trabalhistas, como aliás

seguem afirmando os arts. 10 e 448 da CLT, não alterados. A noção

de continuidade da empresa, que decorre diretamente da proteção, e

que está prevista nesses dois dispositivos, consagra a ideia de

solidariedade, de resto reafirmada no art. 2o, § 2o, ou no art. 455, da

CLT, cujas redações também são mantidas.”

Nesse sentido, vale transcrever o Enunciado n. 4 da 1a Jornada Nacional

de Execução Trabalhista, realizada em novembro de 2010, in verbis:

“Sucessão trabalhista. Aplicação subsidiária do Direito Comum ao Direito

do Trabalho (Consolidação das Leis do Trabalho — CLT, art. 8o, parágrafo

único). Responsabilidade solidária do sucedido e do sucessor pelos

créditos trabalhistas constituídos antes do trespasse do estabelecimento

(CLT, arts. 10 e 448, c/c Código Civil, art. 1.146).”