24 morfologia e biologia das abelhas melíferas

11
MORFOLOGIA E BIOLOGIA DAS ABELHAS MELÍFERAS 2.1 Morfologia da abelha A abelha adulta apresenta três regiões que formam seu corpo: cabeça, tórax e abdômen. Na cabeça encontram-se o aparelho bucal, os olhos, os ocelos, as antenas, os gânglios nervosos. No tórax são encontrados os apêndices locomotores, as patas e as asas. É formado por três segmentos: protórax, mesotórax e metatórax. O abdômen é a terceira e última parte do corpo da abelha, sendo formado por sete segmentos. 2.1.1 Cabeça Aparelho bucal Na cabeça localiza-se o aparelho bucal onde a peça principal é a língua. Esta varia de comprimento conforme a raça. Abelhas com língua mais longa conseguem retirar o néctar das flores com nectários mais profundos, o que resulta em maior coleta de néctar. Glândulas hipofaringeanas Estão localizadas na cabeça e têm por finalidade transformar o alimento comum em geléia real. Atingem seu desenvolvimento normal no quinto dia de vida adulta, podendo exercer suas funções até o décimo segundo dia. Glândulas salivares Têm a função de auxiliar a transformação do néctar em mel. Glândulas mandibulares Têm a função de dissolver a cera e também produzir geléia real para a rainha. Faringe

Upload: vanessa-viera

Post on 22-Jan-2018

340 views

Category:

Technology


1 download

TRANSCRIPT

MORFOLOGIA E BIOLOGIA DAS ABELHAS MELÍFERAS

2.1 Morfologia da abelha

A abelha adulta apresenta três regiões que formam seu corpo: cabeça, tórax e

abdômen.

Na cabeça encontram-se o aparelho bucal, os olhos, os ocelos, as antenas, os

gânglios nervosos.

No tórax são encontrados os apêndices locomotores, as patas e as asas. É

formado por três segmentos: protórax, mesotórax e metatórax.

O abdômen é a terceira e última parte do corpo da abelha, sendo formado por

sete segmentos.

2.1.1 Cabeça

Aparelho bucal

Na cabeça localiza-se o aparelho bucal onde a peça principal é a língua. Esta

varia de comprimento conforme a raça. Abelhas com língua mais longa

conseguem retirar o néctar das flores com nectários mais profundos, o que

resulta em maior coleta de néctar.

Glândulas hipofaringeanas

Estão localizadas na cabeça e têm por finalidade transformar o alimento

comum em geléia real. Atingem seu desenvolvimento normal no quinto dia de

vida adulta, podendo exercer suas funções até o décimo segundo dia.

Glândulas salivares

Têm a função de auxiliar a transformação do néctar em mel.

Glândulas mandibulares

Têm a função de dissolver a cera e também produzir geléia real para a rainha.

Faringe

O alimento passa pela faringe para chega à vesícula melífera.

2.1.2 Abdômen

Glândulas cerígenas

As glândulas de cera são formadas por massas de células gordurosas e

cenócitos. A cera é expelida pelas glândulas e solidifica-se em contato com o

ar.

Vesícula melífera

É o órgão responsável pela transformação do néctar em mel. O alimento que

passa para o ventrículo é o que será usado para alimentação da abelha. O

néctar que não é aproveitado pela abelha é depositado nos alvéolos na forma

de mel.

Ventrículo

É o estômago da abelha, que recebe o alimento da vesícula e é onde

processa-se a digestão.

Tubos de Malpighi

São filamentos longos ligados ao ventrículo. São órgãos secretores.

Sistema digestivo

Tem por finalidade o processo de nutrição das abelhas, transporte do alimento

e elaboração do mel.

Na abelha, o canal alimentar inicia-se pela faringe, localizada na cabeça,

esôfago no tórax, papo, proventrículo, intestino delgado e ampola retal no

abdômen.

As abelhas preparam, nas glândulas hipofaringeanas a geléia real necessária

para as larvas com menos de três dias e para a rainha.

Larvas com mais de três dias recebem alimento mais pobre em proteínas,

sendo produzido pela abelhas nutrizes.

2.2 Produtos elaborados pelas abelhas

2.2.1 Mel

Além do agradável sabor e do valor nutritivo do mel em estado natural, são

infinitas as suas aplicações na culinária, nas confeitarias, fábricas de balas,

licores e farmácias.

2.2.1.1 Elaboração do mel

As abelhas coletoras recolhem o néctar e voltam à colméia, transferindo-o para

o papo de outra abelha laboratorista, que repete a manobra com outra

companheira mais nova.

A elaboração do mel resulta de duas modificações sofridas pelo néctar: uma

física pela desidratação e outra química pela inversão do açúcar composto de

açúcar simples.

A desidratação do néctar, cujo teor de água varia de 30 a 80% ocorre de duas

maneiras: absorção pela própria abelha e evaporação.

Quando o néctar passa de papo em papo, vai tornando-se cada vez mais

denso porque o organismo da abelha já absorve grande parte da água. O mel é

então regurgitado nos alvéolos.

A modificação química ocorre da seguinte forma: a abelha recebe e engole o

néctar e o sistema enzimático do aparelho digestivo composto de invertase e

que transforma a sacarose em frutose e glicose, e a amilase que transforma o

amido em maltose. A seguir o mel é regurgitado nos alvéolos para amadurecer.

2.2.1.2 Maturação do mel

Mel verde é o mel que apresenta água em excesso e que ainda não recebeu

suficiente inversão dos açúcares por ação das enzimas.

Mel maduro é o mel pronto, denso, assimilado e desidratado. Quando os favos

estiverem lacrados com cera o mel está pronto.

2.2.1.3 Composição do mel

Água 17,7%; glicose 34%; levulose 40,5%; sacarose 1,9%; cinzas 0,18%. O

restante é constituído de ácidos, grãos de pólen e partículas de cera, proteína,

pigmentos, compostos aromáticos, álcoois, enzimas e goma.

Os méis escuros são mais ricos em minerais, ferro, cobre e manganês do que

os claros.

Possuem variáveis porções de algumas vitaminas como B1, B2, C, B6, ácido

pantotênico e ácido nicotínico.

2.2.1.4 Sabor, aroma e coloração

O gosto do mel varia desde o doce até o amargo. O sabor, o aroma e a

coloração dependem da florada em que foi colhido. O mel doce de flor de

macieira tem perfume, cor e gosto característico da planta.

A cor resume-se em duas: mel claro ou escuro.

2.2.1.5 Cristalização do mel

A cristalização do mel consiste na separação da glicose que é menos solúvel

que a frutose e a consequente formação de hidratos de glicose. Normalmente

no mel o teor de frutose é maior que o de glicose. Por esta razão a maioria dos

méis é mais resistente à cristalização.

A temperatura também influencia na cristalização do mel. A temperatura mais

favorável à cristalização está entre 23 e 25 oC.

2.2.1.6 Classificação do mel

Ver polígrafo

2.2.2 Cera

Existem plantas que segregam matérias cerosas de grande valor comercial e

que são muito aproveitadas pela indústria. O mesmo ocorre no reino mineral.

A cera de origem animal é produto das abelhas. A cera tem sua origem no

próprio mel. Aplica-se na apicultura na forma de alvéolos artificiais, em velas,

cremes, etc.

As abelhas cerieiras são aquelas que tem entre 12 e 18 dias. Produzem cera

para fazer os favos que servem para abrigar as larvas e também para colocar o

mel. Estas abelhas engolem e digerem o mel e o transformam em gordura, e

em 24 horas já estão fornecendo cera que é composta de ácidos graxos. Para

que se realize a função orgânica é preciso que as cerieiras tenham enchido o

papo de mel e pólen e que tenham número suficiente de abelhas para ter o

calor necessário (33 a 35 oC).

A secreção é feita por quatro pares de glândulas cerígenas localizadas no

abdômen. A cera é segregada em forma de líquido e se solidifica em contato

com o ar. A abelha então pega com as patas e leva à boca para fazer o

amassamento. Durante a mastigação a cera é amassada e misturada com a

saliva especial e transformada em um material plasticidade adequada para

construção dos favos.

São necessários de 6 a 7 kg de mel para obter-se 1 kg de cera.

Os favos de mel são fechados com cera. Os favos de crias são abertos onde

se pode vê-las. Os favos de pólen ficam abertos onde pode-se observar pólen

de várias cores.

2.2.3 Geléia real

É a dieta das larvas jovens até o terceiro dia e o alimento da rainha durante

todo o ciclo de vida. É uma substância alimentar secretada pelas abelhas

jovens de 4 a 14 dias de idade – as abelhas nutrizes.

A matéria-prima é pólen, água e mel, que quando ingerido pela abelhas sofre

transformação nas glândulas hipofaringeanas.

A geléia real é um complexo alimentar composto de vitamina B, riboflavina,

ácido pantotêncio, piridoxina, tiamina, ´[acido nicotímico, biotina, ácido fólico e

outras.

Aplicações da geléia real para as abelhas:

- Alimentação das larvas de abelhas operárias até seu terceiro dia;

- Alimentação da rainha durante toda a vida;

- Alimentação das larvas de zangões durante toda a vida larvária;

Aplicações da geléia real para o homem:

- Estimulante do apetite e vitalização dos órgãos;

- Tratamento da pele para fins de beleza;

- Aumento da resistência contra resfriados.

A conservação da geléia real deve ocorrer em frasco escuro, em geladeira, ou

misturada com o mel, que é excelente conservador.

Outro método é a sua liofilização.

2.2.4 Própolis

É o produto coletado pelas abelhas e corresponde a uma resina segregada por

certos vegetais (Ex: pinheiro), sendo levada para dentro da colméia pelas

abelhas campeiras, transportada nas patas posteriores. Tem consistência

pegajosa e é coletada pelas abelhas com certa dificuldade.

Finalidades:

- Fechar frestas para evitar a entrada de vento;

- Soldar peças e componentes da colméia;

- Envernizar partes da colméia;

- Lacrar abelhas mortas que não podem ser removidas da colméia.

O própolis tem importantes aplicações como remédio curativo, para cicatrizar

feridas, como analgésico e tratamento de doenças da pele.

Composição química do própolis:

- 50% de resina com bálsamo;

- 30 a 40% de cera;

- 5 a 10% de pólen, além de gordura, ácidos orgânicos e cinzas.

Foram encontrados também ferro, cobre, manganês e zinco, vitaminas do

complexo B, vitamina E, vitamina C e flavonóides.

As abelhas africanas coletam mais própolis do que as italianas.

2.3 Povoamento de apiários

Dois fatores importantes e fundamentais estão ligados: a reprodução das

abelhas (conservação da espécie) e sua expansão (propagação pela natureza).

Toda a colméia é social, unida e coesa. Um fato porém pode causar mudanças

na colméia que resultam na formação de enxames: a rainha produz em suas

glândulas mandibulares, uma substância que as operárias sugam com avidez e

distribuem de boca em boca para toda a população. Esta substância

representa um elo de ligação (união) que conserva magnetizados todos os

indivíduos da colméia. Quando a rainha envelhece, diminui a produção desta

substância, cuja falta imprime uma distonia no ambiente. Inicia então uma

operação de salvamento, semelhante ao que ocorre quando começa a faltar

espaço na colméia. As abelhas aumentam então exageradamente a produção

de geléia real, e providenciam a construção de uma ou mais células reais, onde

a rainha não tardará a depositar alguns ovos. Nasce então uma nova rainha.

Uma parte da população abandona a colméia com a velha rainha, formando um

enxame.

Causas e sinais de enxameação natural

- Falta de ventilação;

- Envelhecimento da rainha;

- Excesso de zangões;

- Falta de alimentos.

Vantagens e desvantagens da enxameação:

Sob o ponto de vista biológico a maior vantagem é a perpetuação da espécie e

propagação pelo mundo, cumprindo sua finalidade de produção de mel, cera,

geléia real, polinização de plantas e mesmo a venda de enxames por criadores.

Controle e contenção dos enxames:

- Substituir as rainhas velhas por novas (2 anos);

- Colocar um segundo ninho sobre o primeiro;

- Abrir uma segunda entrada no segundo ninho;

- Reduzir o número de zangões;

- Ventilar bem a colméia;

- Italianizar o apiário.

2.4 Instalações e equipamentos em apicultura

Os trabalhadores devem conhecer os instrumentos de sua profissão e saber

maneja-los com precisão.

2.4.1 Fumigadores

O fumigador é o aparelho mais importante no trato direto com as abelhas. É

indispensável na manipulação das colméias. Esses aparelhos servem para

ampliar a intensidade da fumaça e mantê-la em jato contínuo, para assim

dominar mais facilmente a agressividade maciça e quase ininterrupta da abelha

africana.

Fumigador manual – compõe-se de duas partes principais: o fole e uma

fornalha provida de grelha.

Fumigador automático – dotado do chamado “bico de pato” por onde a fumaça

sai constantemente e se espraia em sentido horizontal por sobre os caixilhos.

Finalidade da fumaça – serve para iludir as abelhas, provocando impressão de

incêndio, bstando uma fumaça, lenta, fria, limpa e constante. Três ou quatro

baforadas bastam para que as abelhas protejam-se engulindo todo o mel

possível para uma suposta fuga, permitindo ao apicultor trabalhar com

segurança.

2.4.2 Espanadores

É feito de crina animal ou sintética, destinando-se a varrer as abelhas sem feri-

las, quando estiverem aglomeradas aos favos.

Outro método é o uso de um pequeno compressor, instalado à distância,

usando uma extensa mangueira, direciona-se o ar expulsando as abelhas.

2.4.3 Apanhadores de zangões

Armadilha destinada a dar caça aos zangões, para eliminá-los quando em

excesso.

2.4.4 Alimentadores

Há dois processos para alimentar as abelhas: individual, quando se dá alimento

a cada colméia e coletivo, quando se dá alimento a todas as colméias ao

mesmo tempo. No segundo caso o alimento é colocado a uma distância de 50

a 100 metros do apiário, servindo a toda colônia.

2.4.5 Protetores de realeiras

Proteção para separar a rainha da colméia.

2.4.6 Gaiolas de transporte

Usadas para o transporte das abelhas, que podem durar até 10 dias.

Apresentam dois compartimentos: um para a alimentação e outro para a rainha

e suas operárias.

2.4.7 Formão do apicultor

Usado para desgrudar as peças da colméia e para raspar as resinas e própolis.

2.4.8 Facas desoperculadoras

Usadas para desopercular os favos quando maduros.

2.4.9 Centrífugas

Destinadas a fazer a extração do mel sem prejuízo dos favos que depois

podem voltar à colméia.

Apresentam a vantagem de permitir um trabalho rápido, escoamento do mel,

um mel higiênico, límpido e aproveitamento dos favos.

2.4.10 Prensas extratoras de mel e cera

O resultado é líquido e bagaço que depois deverá passar por processos de

purificação.

Existem prensas aquecidas a vapor.

2.4.11 Pasteurizador de mel

Quem produz mel em grande quantidade não deve armazená-lo sem garantir a

sua qualidade. O equipamento consta de uma caldeira para 50 litros, com

medidor de tempo e válvula de segurança.

2.4.12 Outros equipamentos

Mesa desoperculadora, torneiras para mel, coadores de mel, purificadores de

cera, transportador de colméia e tanques decantadores.

2.5 Apiários

Assim como os homens deixaram de viver isolados, as abelhas também

passaram a viver em apiários. Alguns rústicos e primitivos, feios e deficientes.

2.5.1 Apiários fixos

Na sua grande maioria são instalados em local definitivo com suas colméias

reunidas em abrigos coletivos ou individuais, protegidos por cercas vivas ou

aramados. São reservas apícolas auto suficientes com reserva de néctar de

hortos florestais e árvores frutíferas, com rodízio perfeito de florada mensal,

resguardados por quebra ventos naturais.

2.5.2 Apiários migratórios

São ótimos pois desempenham duas funções: coleta de mel e polinização das

flores. São transportados em cada florada, devendo-se cuidar a forma e a

distância de transporte das abelhas.

2.5.3 Localização dos apiários

Ao fixar-se um apiário comercial estável, deve-se observar cinco pontos

fundamentais: as fontes de néctar, a presença de água, corrente de ventos,

facilidade de transporte e segurança dos transeuntes.

O néctar é fundamental, devendo haver muitas flores e pomares ao redor.

A água deve ser limpa e corrente.

O apiário deve ser colocado em local baixo ou em meia encosta, assim as

abelhas sobem leves e descem carregadas. O local deve ser abrigado do

vento, devendo-se atentar para a segurança de pessoas e animais.

2.5.4 Instalação dos apiários

Época apropriada – de setembro a janeiro porque as árvores estão floridas e as

rainhas a plena postura.

Cotejo de distâncias – o apiário deve estar a 500 metros da casa e ter água de

100 a 500 metros. A distância entre os demais apiários deve ser de 1 a 2 km.

Posição e capacidade do local – locais descampados resguardados por cercas

vivas ou quebraventos como também clareiras abertas em matas são os

lugares ideais.

Número de colméias – varia de 20 a 60 caixas.

Disposição das colméias – devem ser protegidas contra o vento e malfeitores,

agrupadas em linhas.

Padronização dos apiários – deverá se padronizado, adotando um só sistema,

um só tipo de colméia e seus pertences.

Nenhum apiário deve ser instalado sem o devido registro que lhe garanta

assistência, orientação e auxílio.