17- a lei de deus - pietro ubaldi (volume revisado e formatado em pdf para ipad_tablet_e-reader)

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    PREFCIO ................................................................................................................................ 1I. NOVOS CAMINHOS ............................................................................................................ 6II. SEPARATISMO RELIGIOSO ......................................................................................... 11III. O PROBLEMA DO DESTINO ....................................................................................... 16IV. EM HARMONIA COM A LEI ........................................................................................ 22V. A INFALIBILIDADE DA LEI .......................................................................................... 27VI. A JUSTIA DA LEI ......................................................................................................... 32VII. MUDANA DE PLANOS .............................................................................................. 38VIII. A TRANSITORIEDADE DO MAL E DA DOR ......................................................... 43IX. DAS TREVAS LUZ ...................................................................................................... 49X. APARNCIAS E REALIDADES ..................................................................................... 55XI. O EXTRAORDINRIO PODER DA VONTADE ........................................................ 61XII. O EDIFCIO DA EVOLUO ..................................................................................... 66XIII. O FUNCIONAMENTO DA LEI .................................................................................. 72XIV. ESCOLA DA VIDA ....................................................................................................... 78

    XV. EM BUSCA DA FELICIDADE ..................................................................................... 84XVI. DO SEPARATISMO UNIO ................................................................................... 91XVII. A REALIDADE DOS INSTINTOS ............................................................................ 97XVIII. A MUSICALIDADE DA LEI .................................................................................. 103XIX. O FRACASSO DA ASTCIA .................................................................................... 110XX. A JUSTIA DA LEI ...................................................................................................... 117XXI. O EVANGELHO E O MUNDO ................................................................................. 122XXII. A IMPECVEL JUSTIA DA LEI ......................................................................... 128XXIII. A CONQUISTA DO PODER E A JUSTIA SOCIAL ......................................... 133XXIV. A LEI APLICADA HISTRIA ........................................................................... 138XXV. EVOLUO DA HISTRIA ................................................................................... 144Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse)............................................................................... 164

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    PREFCIO

    Os captulos deste livro constituem uma srie de vinte e quatro palestras,proferidas na Rdio Cultura So Vicente, todos os domingos, no perodo de

    17 de agosto de 1958 a 8 de fevereiro de1959, tendo por isso, algumas vezes,o carter de conversa. Ao mesmo tempo, elas foram publicadas no jornal ODirio, de Santos. Apresentamos agora, aqui reunidas, essas palestras. Elascontinuam desenvolvendo sempre mais os conceitos expostos em nossos doislivros: A Grande Batalha e Evoluo e Evangelho, da segunda trilogia denossa segunda Obra, de 12 volumes como a primeira. Trata-se sempre do es-tudo da lei de Deus, para que saibamos, realmente, como orientar a nossaprpria vida.

    No livro O Sistema(Gnese e Estrutura do Universo), foram apresentadasas teorias bsicas da formao e do funcionamento do universo. Nos dois re-feridos livros, A Grande Batalha e Evoluo e Evangelho,entramos no ter-reno prtico das consequncias e aplicaes dessas teorias, efetuando o con-trole racional e experimental da sua verdade. Tivemos, por isso, de enfrentaro problema da conduta humana no campo da tica, assunto do presente volu-me (A Lei de Deus)e do que se lhe seguir (Queda e Salvao).Mas h umadiferena entre os dois. O primeiro, este que temos em mos, trata o assuntode um modo geral, com uma linguagem fcil, acessvel, adaptada a palestraspelo rdio. O segundo, Queda e Salvao, considera o mesmo assunto daconduta humana e da tica, mas de maneira diferente, penetrando em profun-didade os problemas, atingindo os pormenores, provando as teorias com de-monstraes racionais e colocando-as em contato com a realidade dos fatos.Por isso esse segundo livro voltar a falar de temas que, no primeiro, foramesboados apenas superficialmente e tratados com linguagem diferente, em

    funo de outros ngulos. Podemos afirmar isto porque o plano desse segun-do livro j est se aproximando de nossa mente e, desde agora, vemos os lia-mes que unem os dois volumes no mesmo motivo fundamental de tica. O as-pecto em funo do qual encara-se este problema no presente livro o ho-mem, como cidado do seu mundo terreno. Por outro lado, a perspectiva soba qual ser tratado o mesmo problema no livro Queda e Salvao o pensa-mento de Deus, que, atravs de Sua lei, dirige o ser para a sua salvao final.No primeiro caso, a tica concebida olhando-se para a Terra; no segundo,

    olhando-se para o Cu.

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    At agora, o problema da nossa conduta foi enfrentado empiricamente pe-las religies, que se encarregaram disto. Porm as solues oferecidas porelas se baseiam em princpios tericos axiomticos, no demonstrados, repre-sentando na realidade, muitas vezes, apenas o resultado de iluses psicolgi-

    cas no controladas, ainda no comprovadas, cegamente aceitas, produto dodesabafo de instintos e impulsos do subconsciente. No entanto a forma mentalmoderna tornou-se mais culta e astuta, querendo, por isso, olhar atrs dosbastidores da f, para ver o que h de positivo, tanto mais porque aquela fimplica em uma vida dura de virtude e sacrifcio. O temor genrico de umapenalidade e a esperana de um ganho, sem saber onde e como, nos cus quecomeam a ser explorados e percorridos de verdade pela cincia, no conven-cem mais as conscincias insatisfeitas. Agora que se aproxima o fim da civili-

    zao europeia, encontramo-nos nas mesmas condies do fim do ImprioRomano, quando ningum acreditava mais nos deuses. Como, ento, ficar dep a forma, esvaziada da substncia? No meio de tantas religies, antes detudo preocupadas em combater umas s outras, para conservar e aumentar oseu imprio espiritual, o mundo fica substancialmente materialista, apegadosobretudo aos seus negcios.

    A velha linguagem continua sendo repetida. Mas todos esto acostumadosa ouvi-la e no reparam mais. O mundo progrediu e se tornou diferente. Pa-rece que, nos milnios da sua vida religiosa, em vez de ser transformado pelasreligies ao realizar os princpios delas, ele as transformou para suas como-didades. Em vez de aprender a viver nas regras da Lei, aprendeu a arte deevadir-se delas, a astcia das escapatrias para enganar o prximo e atmesmo, se fosse possvel, Deus. Ento, se os velhos sistemas no adiantammais e se este o resultado deles, por que no usar hoje outra linguagem, queseja mais bem compreendida? Por que no se apoiar sobre outros impulsos e

    movimentar outras alavancas, s quais o homem possa melhor obedecer? Porque no ver a vida no seu sentido utilitrio, oferecendo tambm vantagens,quando se pede virtudes e sacrifcios?

    Foi por isso que nasceram estas palestras. Com os nossos livros:A GrandeSntese,Deus e Universo e O Sistema,tnhamos atingido uma viso bastantecompleta da estrutura orgnica do universo. Tratava-se, ento, apenas dededuzir destes princpios gerais as suas consequncias prticas, colocando-osem contato com a realidade da nossa vida e verificando se eles permanecem

    verdadeiros tambm nos pormenores do caso particular. Deste modo, o pro-

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    blema da conduta humana foi enfrentado de uma forma diversa, isto , emsentido racional e positivo, tornando-se tal como os da cincia logicamen-te demonstrvel e experimentalmente controlvel, apoiado nos fatos que todosvemos, e encontrando assim a sua explicao. Foi possvel deste modo che-

    gar a uma tica universal, que, sendo independente de qualquer religio par-ticular, absolutamente como so a matemtica e a cincia em geral im-parcial e verdadeira para todos, porque faz parte da grande lei que rege tudo,escrita no pensamento de Deus, podendo ser vista realizada nos fatos. Che-gamos assim, nestas palestras, a uma orientao que sai do terreno empricodas religies para entrar no terreno positivo da cincia, e isto justifica a nos-sa concluso de que elas tm de ser ponderadas por toda mente que queira esaiba raciocinar e, por isso, aceita sua demonstrao, como a de um teorema

    de matemtica.A novidade e importncia deste ponto de vista, sustentado nestas palestras,

    baseia-se nos seguintes fatos:1)Trata-se de uma tica universal, que diz respeito vida e permanece ver-

    dadeira em todas as suas formas, ao atingirem um dado nvel de evoluo, emqualquer corpo celeste do universo. Por isso, ficando acima de todos os pon-tos de vista particulares e relativos, esta tica resulta absolutamente imparciala respeito das divises humanas, porque completamente independente delas.

    2)Trata-se de uma tica positiva, baseada em fatos, como a cincia, cons-tituindo nada mais seno um captulo da Lei, que rege tudo e que estudadapela cincia em seus outros aspectos. tica de efeitos calculveis, determins-tica, baseada em princpios absolutos, sem escapatrias, a exemplo da lei dagravitao e das leis do mundo fsico, qumico, biolgico, matemtico etc.

    3)Trata-se de uma tica utilitria e praticvel, concorde com o princpiofundamental da Lei: a justia, que tambm o anseio do ser, e esta justia

    exige que o sacrifcio da obedincia Lei e o esforo para evoluir encontrema sua recompensa. tica correspondente ao instinto fundamental do ser, que fugir do sofrimento e chegar felicidade. Por isso vem a ser uma tica capazde ser entendida e aceita, pois satisfaz forma mental do homem moderno.

    4)Trata-se de uma tica racional, logicamente demonstrada, que se susten-ta no porque se baseia na f cega, no princpio de autoridade ou no terror decastigos arbitrrios e obscuros, mas porque convence quem saiba pensar.Uma tica que no admite enganos, porque nela se pode ver tudo com clareza,

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    na perfeio e na bondade das regras, s quais devemos obedecer at s lti-mas consequncias de cada ato nosso.

    5)Esta tica resulta de um sistema filosfico-cientfico universal, queabrange e explica tudo do princpio ao fim, sistema do qual ela representa um

    aspecto controlvel nas suas consequncias prticas da vida comum. Estasconcluses se baseiam no valioso apoio de teorias positivas gerais, que assustentam, orientando-nos tambm a respeito de tantos outros fenmenos, dosquais estas teorias oferecem uma interpretao lgica.

    6)Esta tica pode ser submetida a um controle experimental no laboratrioda vida, com o mesmo mtodo positivo da experimentao utilizado pela cin-cia para controlar a verdade das outras leis que vai descobrindo. E, juntas,todas estas leis, ao lado desta tica, constituem a grande lei que rege o todo.

    7)De fato, estas concluses foram submetidas por ns, que as estudamosem nossa prpria vida e na alheia por meio sculo, a controle experimental, oqual as confirmou plenamente. E muitas testemunhas viram os fatos que acon-teceram.

    8)Trata-se de uma tica que no diz coisa nova, mas apenas repete com ou-tras palavras o que j foi dito pelo Evangelho e pelas religies mais adianta-das que o mundo possui. Apenas quisemos dar de tudo isto a demonstraolgica e a prova experimental, explicando com outras palavras a necessidadede tomar a srio e viver o que, h milnios, est sendo repetido ao mundo.

    9)Esta tica no somente nos orienta no imenso mundo fenomnico em quevivemos, dirigindo com conhecimento a nossa conduta, mas tambm explica oque est acontecendo, dando a razo dos fatos que nos cercam e justificando-os logicamente, quando no desejamos aceit-los, como no caso do sofrimen-to. Respondendo s nossas perguntas e oferecendo uma soluo razovel aosproblemas da nossa vida, esta tica ilumina o caminho que temos a percorrer,

    para que possamos v-lo e avanar por ele, mas no de olhos fechados, e simcom as vantagens oferecidas pelo conhecimento da Lei e a certeza da sua jus-tia e bondade.

    10)Esta tica responde a uma necessidade do momento histrico atual. Ocu, contemplado, admirado e venerado na Terra, sempre de longe, como so-nho praticamente irrealizvel, no pode ser apenas teoria vivida por poucasexcees, mas deve descer e realizar-se entre ns. Seria absurdo que os gran-des ideais existissem para nada, como o homem preguioso preferiria. Apesar

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    da sua indiferena, ele no pode paralisar as foras da evoluo na realiza-o do seu objetivo fundamental, que o progresso.

    Com o desenvolvimento da inteligncia e o aumento do conhecimento, vaiaparecer tambm no terreno da cincia positiva a verdadeira concepo de

    Deus e da Sua lei. Ento ela sair das formas das religies particulares emluta entre si, da clausura das igrejas, do exclusivismo dos seus representantes,e o homem, mais consciente, perceber a grande realidade que Deus, colo-cando-se finalmente, para o seu bem, na obedincia ordem da Lei.

    So Vicente, Pscoa de 1959.

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    I. NOVOS CAMINHOS

    Plano e mtodo de trabalho.

    Na vspera do meu septuagsimo segundo aniversrio, aqui em Santos, on-de desembarquei, vindo da Itlia, h quase seis anos, em dezembro de 1952,comeo esta primeira srie de rdio-palestras, a fim de poder chegar a um con-tato mais prximo com os meus amigos. At agora, este contato se realizoupor intermdio da palavra escrita, atravs dos meus livros. Hoje ele se realizatambm de viva voz, o que torna mais real e mais atual o contato com o ouvin-te, resultando em uma aproximao maior do que aquela obtida pelos escritosdirigidos ao leitor.

    Entro assim numa fase nova do meu trabalho, na qual me aproximarei dopovo com uma linguagem mais simples, de maneira a ser compreendida. Pro-curarei fazer com que estas conversas se prolonguem o mais possvel, a fim dechegar, se porventura j no tenha sido alcanada, a uma comunho de pensa-mento mais completa, a uma unio de mente e corao, que constitua umaponte atravs da qual eu possa dar tudo de mim mesmo, doando tudo aquiloque consegui compreender e realizar na minha longa experincia, numa vidade tempestades e introspeco profunda. A dor constrangeu-me a aprender asuper-la, para fugir dela ou, pelo menos, domestic-la. Neste nosso mundo,so muitos os que sofrem, e ensin-los como amansar a dor obra de caridade.Procuraremos tambm satisfazer a sede de conhecimento que se encontra ani-nhada no fundo de cada alma. Tudo isto quero comunicar aos amigos, quesero meus herdeiros.

    Dizem que meus livros so difceis demais, mas eles no constituem todo omeu trabalho. Eis que chegado o momento da realizao desta outra parte do

    trabalho, na qual minha tarefa traduzir as teorias difceis em palavras sim-ples, repetindo e esclarecendo tudo numa forma diferente, acessvel a todos,sem as complicaes da cincia, sem as dificuldades da alta cultura, conser-vando-nos apegados substncia, mas simplificando o que mais complexo,aproximando-nos da realidade do nosso mundo, melhor compreendida portodos, porque a vivemos em nossa vida de cada dia. As grandes teorias do uni-verso sero descritas de outra forma. Esta nova exposio daquelas mesmasteorias ter a vantagem de confirm-las, em virtude de estar em contato mais

    direto com os fatos. Desta maneira, elas se tornaro acessveis sem a necessi-

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    dade de esforo mental, que nem todos podem fazer, e de cultura, que nemtodos possuem. Assim, estas verdades podero ser compreendidas e utilizadaspor um nmero cada vez maior de pessoas que desejem ser beneficiadas e pre-cisem de orientao, a fim de melhor se dirigirem na vida.

    Para que no haja qualquer mal-entendido, desejamos afirmar, logo de co-meo, que a nossa finalidade s fazer o bem. Queremos fazer isto, oferecen-do o fruto do nosso pensamento e da nossa experincia, para que os amigospossam deste conhecimento tirar para si prprios a maior utilidade, que autilidade espiritual, a base da material, porque no se pode isolar uma da outra.

    Nossa tentativa no se destina a impor ideia alguma ou a fazer proslitos. apenas uma oferta livre, que no obriga ningum a aceit-la. Quem estiverconvencido de possuir outra verdade melhor e estiver satisfeito com ela, que

    no a abandone. Quem no gostar de pesquisas no terreno dos inmeros mist-rios que nos cercam de todos os lados, quem no quiser incomodar-se com otrabalho de aprofundar o seu conhecimento, enriquecendo-o com novos aspec-tos da verdade, fique tranquilo na sua posio. No desejamos perturbar nin-gum; no andamos em busca de seguidores, a fim de conquistar domnio naTerra; no somos rivais de ningum neste campo. O nosso nico interesse apesquisa para atingir o saber. Este, e s este, o nosso objetivo, que no visaabsolutamente conquistar qualquer poder neste mundo.

    Permanecemos, por isso, com o maior respeito por todas as verdades que ohomem possui e pelos grupos que as representam. Respeitamos os campos jconhecidos, embora sigamos por nossa conta, explorando novos continentes.Respeitamos as verdades j conquistadas, embora procuremos ver mais longe.Respeitamos todas as religies e doutrinas, sem pretender de maneira nenhumadestru-las ou super-las, a fim de substitu-las por outras. Ensinaremos sem-pre o maior respeito pela f e pela filosofia dos outros.

    O nosso lema que o homem civilizado jamais agride o seu prximo, assimcomo um ser evoludo nunca entra em polmicas. Isto significa que, para ns,quem agride o prximo no civilizado e aquele que entra em polmicas, paraimpor fora as suas ideias aos outros, ainda no evoludo. No quer dizerque ele seja mau, mas simplesmente que est atrasado no caminho da evolu-o, fato comprovado pelo uso de mtodos que o aproximam mais da fera. Omtodo utilizado revela a sua prpria natureza e o nvel de vida a que pertence.Mais adiante explicaremos isto melhor. Dize-me como lutas e dir-te-ei quem

    s.

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    Tranquilizem-se, assim, aqueles que supem esteja eu fazendo campanhascontra algum. Isso significaria retroceder milhares de anos no caminho daevoluo. Proceder assim seria sintonizar com foras negativas de destruio.E veremos que, entre tantas leis que dirigem o mundo, existe uma segundo a

    qual quem destri acaba destruindo a si mesmo, quem agride o prximo agridea si mesmo, quem faz o mal o faz antes de tudo a si mesmo. Veremos a mara-vilhosa justia de Deus sempre presente em ao, inclusive neste mundo deinjustia. Veremos que a cincia e a lgica no esto contra a f. Os poderesdo intelecto nos foram dados por Deus para compreender e demonstrar a ver-dade com provas reais, pois que a f pode apenas vislumbr-la.

    Veremos, provenientes de planos de vida mais elevados, muitas coisas boase maravilhosas, que, se quisermos, podemos atrair Terra.

    Maravilhosa descida de sabedoria e de bondade, atravs de que se manifes-ta entre os homens a presena de Deus! Procuraremos aprender a arte de viverem paz e no respeito ao prximo, o que constitui a base de uma feliz convi-vncia social. As longnquas teorias dos nossos livros descero do mundo dasabstraes, at a sua aplicao se tornar prtica, podendo assim conferir frutosreais a quem o desejar. No prometemos poderes mgicos nem felicidade fcil,mas seremos ns mesmos que nos colocaremos, juntamente com tudo o mais,dentro de uma viso da vida clara, singela e positiva, constituda pela lei deDeus, a qual pode ser dura quando o merecemos, mas sempre boa e justa.Devemos compreender, finalmente, como est feita e como funciona estagrande mquina do universo, construda e movimentada por Deus, dentro daqual vivemos e de que somos parte. Ela a nossa casa, onde moramos, sem noentanto a conhecermos.

    Movimentando-nos acertadamente, evitaremos o sofrimento, que a cam-painha de alarme que nos avisa quando cometemos um erro, que deve ser cor-

    rigido para voltarmos harmonia na ordem da Lei. Enquanto no regressarmosquela harmonia, a dor no pode acabar. lgico que o bem-estar possa nas-cer apenas de um estado harmnico e que a desordem no possa gerar senosofrimento. O ser livre, mas o universo um concerto musical, onde qual-quer dissonncia produz sofrimento. Na verdade, o que se deve colher, quandoo homem continuamente se rebela contra a ordem da lei de Deus? Num siste-ma dessa natureza, lgico que a felicidade no possa ser atingida seno pelocaminho da obedincia eque a revolta no possa trazer seno sofrimentos. O

    estado em que se encontra nosso mundo comprova, na realidade dos fatos, a

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    verdade desta afirmao. Dado que seria absurdo atribuir a causa de tanto mala Deus, que no pode ser seno bom e perfeito, no resta outra alternativa se-no atribu-la ao homem Quanto maior for a revolta, tanto maior ser o sofri-mento, at o homem rebelde aprender, sua custa, a obedincia. Se quisermos

    fugir dor e conquistar a felicidade, qualquer que seja a nossa filosofia oureligio, temos de compreender que existem leis, existem leis, existem leis;secontinuarmos violando-as, como costumamos fazer, teremos tanto sofrimento,que acabaremos por compreender que existem leis e, se no quisermos sofrer,no h outro caminho a no ser nos ajustarmos a elas. Se o mundo conseguisseaperceber-se disso, esta seria a maior descoberta dos nossos tempos. Eis o co-nhecimento que consegui atingir em meio sculo de trabalho mental e de con-trole experimental. Este o presente que agora quero oferecer aos meus ami-

    gos.O mundo atual parece que est se tornando cada vez pior. Mas Deus ps

    limites liberdade do homem. Desse modo, este no tem o poder de parar ofuncionamento da Lei, que tudo rege. O mundo pode ser conduzido ao desmo-ronamento e ao fracasso, mas o prejuzo somente para quem lev-lo a seguirtal caminho. A lei de Deus permanece imutvel. Isto quer dizer que, no meiode tantos crimes e injustias, a justia de Deus fica de p, e os que fracassaremsero os piores. Mas, para os justos, para os honestos, que no mereceram areao da Lei, fica em sua defesa a justia de Deus. Perante Ele, cada um ficasozinho com o seu destino, para colher o que semeou e receber o que mereceu.

    Veremos o que significa destino, procurando penetrar o segredo da nossavida atravs do conhecimento das leis que a regem. Muita coisa teremos de verjuntos. Nesta primeira palestra no possvel tocar seno em alguns assuntosgerais. Mas, pouco a pouco, entraremos cada vez mais nos problemas da vida,que temos de resolver, e nas perguntas que surgem em nossa mente, s quais

    necessrio responder. Eis a concluso que podemos antecipar: Deus vem aonosso encontro de braos abertos, com uma lei de bondade e de justia, e po-demos receber felicidade, quando a tivermos merecido, por termos semeadobondade e justia. H um caminho para chegar felicidade, mas se o homemno quer segui-lo, a culpa e as justas consequncias no podem ser seno delemesmo. Devido escassez do tempo, no podemos prosseguir hoje, mas con-tinuaremos depois. Ir, assim, realizar-se um colquio entre as nossas almas,at chegarmos a um abrao de compreenso e alegria para mim, por tornar-me

    til ao prximo, para que os ouvintes possam desfrutar das vantagens de com-

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    preenderem melhor a vida e, consequentemente, semearem para si menos so-frimentos. Procurarei falar de alma para alma, a cada um, como em segredo aoouvido, a fim de esclarecer os vossos problemas, focalizando-os diretamente,para confortar os que sofrem, orientar os que duvidam, pacificar os revoltados,

    encaminhar para Deus os desviados, dar uma f e uma esperana aos descren-tes. Para nos libertarmos da disciplina da Lei, de nada vale dizer que Deus noexiste: Ele permanece existindo; de nada vale negar a Sua lei: ela continuafuncionando; de nada vale escondermo-nos nas trevas: a luz persiste resplan-decendo no Alto. Estamos vivendo dentro desta lei viva, da qual deriva nossaprpria vida. Esta lei representa o pensamento e a vontade de Deus, que acausa primeira da vida universal.

    Continuaremos, assim, falando juntos, de amigo para amigo, unidos por um

    liame de bondade, para o bem de ambos. Sem bondade no se pode dizer averdade. Considerarei cada ouvinte como um amigo meu pessoal, com o qualestou desabafando a minha paixo de beneficiar o prximo. No sou rico paradar dinheiro, no sou poderoso para oferecer vantagens materiais. Dou o quetenho: o pensamento que recebi por inspirao e o amor do meu corao. Co-mo recompensa, espero que este pensamento seja compreendido e que esteamor seja retribudo.

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    II. SEPARATISMO RELIGIOSO

    Respeito por todas as crenas

    Estou novamente convosco, continuando a nossa primeira conversa. Destasconversas faremos muitos elos, e destes elos uma corrente de inteligncia e debondade, para construir um dique contra a ignorncia e a maldade que inun-dam o mundo.

    Estas palestras singelas, estas palavras que saem dos meus lbios, seroteis para afastar tantos mal-entendidos e dvidas que, por incompreenso domeu trabalho, nasceram desde a minha primeira vinda ao Brasil em 1951. Peodesculpas por ter de falar de mim, o que me desagradvel. Mas no h outra

    maneira de esclarecer o caso. Tenho aqui de repetir mais uma vez aquela afir-mao de universalidade e imparcialidade, que foi e sempre ser meu lema.Devo tambm explicar que as minhas palavras tm de ser entendidas literal-mente: elas no contm outros significados ou subterfgios. Ora, imparciali-dade quer dizer inexistncia de partido, compreendendo-os todos; significa noficar fechado na forma mental de faco ou de grupo particular algum, sobre-tudo quando este grupo, seja ele qual for, impe que se combata outros grupos,perseguindo-os com suas condenaes e julgando-os errados e maus, porqueso diferentes do prprio grupo.

    Infelizmente, esse instinto de exclusividade, pelo qual no se pode afirmar averdade prpria a no ser condenando como erradas as verdades dos outros, produto do nosso nvel de vida humana, sendo isso apangio do homem emgeral, qualquer que seja a religio ou grupo doutrinrio ao qual pertena. No a diferena ideolgica dos pontos de vista das religies que deixamos deaceitar. Tudo isso natural e lgico. Em nosso mundo relativo, no pode exis-

    tir coisa alguma seno de forma relativa. Assim, nele, tambm a verdade nopode aparecer seno dividida em seus aspectos diferentes. O que no podemosaceitar a atitude de condenao, de exclusividade da posse da verdade e deagressividade, que muitas vezes se encontra nas religies e nos grupos doutri-nrios. No nos interessa tomar parte nestas rivalidades terrenas, que nada tma ver com a pesquisa da verdade, que buscamos.

    O nosso objetivo no defender um patrimnio j adquirido, mas sim nosenriquecermos com novas conquistas, para do-las a quem as quiser. No es-

    tamos amarrados a quaisquer interesses terrenos, que imediatamente se cons-

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    troem por cima de toda e qualquer verdade. Quem est mergulhado no traba-lho de pesquisa no pode despender as suas energias nessa luta de rivalidades.A nossa tarefa no conservar o passado, defendendo-o, mas sim construir ofuturo. Os nossos interesses no esto na Terra, mas somente nessa construo.

    O respeito que temos pela verdade de cada um e que todos devem ter para comas verdades que o mundo possui, no pode interromper o caminho da vida e aevoluo do pensamento. O passado no pode paralisar o florescimento dofuturo. E no mundo h lugar para todos.

    O primeiro mal-entendido nasceu quando julgaram que ns representva-mos este ou aquele grupo e, por conseguinte, que ramos inimigo dos outrosgrupos, inimizade para ns simplesmente inconcebvel. De maneira algumasaberamos tomar parte nessa luta de rivalidades, que requer uma forma mental

    adaptada para isso, a qual no possumos. Assim, fugimos de qualquer grupoto logo aparea esse esprito de condenao. O mal-entendido consistiu em seter julgado encontrar um inimigo onde no existia inimigo algum, pensandoem guerra, quando tratvamos apenas da maneira como resolver os problemasdo universo. Gostaramos de explicar aqui, de um modo bem claro: no somosguerreiros, mas sim pensadores, que no tem interesses humanos a defender.Nosso inimigo a ignorncia, causa de tantos sofrimentos, e no o homem, aquem queremos ajudar. Neste mundo, podemos ser presas dos fortes e astutos,mas no somos fortes nem astutos para fazer presas.

    Concordamos assim com todos. Os nicos seres com os quais no podemosconcordar so os que no querem concordar de forma alguma e buscam, pelocontrrio, impor-se ao prximo, vencendo-o. Ora, esta uma mentalidade atra-sada, que o homem verdadeiramente espiritualizado no pode aceitar sem re-troceder milnios no caminho da evoluo. Mesmo que seja permitido fazerguerra, isso s ser possvel contra quem quiser fazer guerra. Em vez dos pon-

    tos de contraste, para lutar, esmagando-se uns aos outros, o homem civilizadoprocura e sabe encontrar os pontos de concrdia, para colaborar, ajudando-seuns aos outros. Dizemos civilizado porque s esse tipo de homem pode fazerparte da nova humanidade que est surgindo, a qual no ser constituda porbandos de lobos, mas sim por uma coletividade social unida e colaborandoorganicamente. Esse novo mundo, que amanh ser melhor, o que mais nosinteressa; um mundo de compreenso e de colaborao recprocas; o mundodo ama o teu prximo como a ti mesmo. Assim, podemos concordar com

    tudo, menos com essa vontade de no concordar. Mas no condenamos nin-

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    Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 13

    gum por isso, porque esse mtodo corresponde a uma lei que pertence a umdado plano de vida. No se deve considerar isso maldade, nem se deve chamarde mau o ser que, no sendo bastante evoludo, comete erros porque ainda nocompreendeu e no sabe fazer melhor.

    Uma vez expliquei a algum o meu ponto de vista de imparcialidade e uni-versalidade. Sua face iluminou-se e, de sbito, ele respondeu: compreendo,trata-se de um novo partido: os imparcialistas e universalistas. Este fato mos-trou-me como a forma mental comum no consegue conceber coisa alguma, seno a vir bem fechada dentro dos limites do relativo, isto , na forma de umgrupo particular bem separado dos outros e, logicamente, em luta com eles.Esta forma mental, colocada perante a ideia de universalidade, no consegueconceb-la seno na forma de um imperialismo dominador, cujo poder central

    consegue submeter a todos. E, de fato, assim que o mundo se encontra, issoo que vemos na Terra.

    Quando cheguei ao Brasil, a convite de um desses grupos, outro grupo le-vantou-se contra mim, dizendo ter chegado um enviado de Satans. E, quandosustentei algumas teorias deste outro grupo, fui censurado pelo que me haviaconvidado. Assim acontece sempre, pois se trata do mesmo tipo de homem,que, possuindo uma s forma mental, levado a proceder sempre da mesmamaneira, isto , com condenaes e antemas, seja qual for o grupo a que elepertena.

    assim que nascem os mal-entendidos. O meu trabalho no , como todosdesejariam, oferecer-me para ser um seguidor a mais e engrossar as fileirasdesse ou daquele grupo, mas sim fazer pesquisas, a fim de resolver problemasainda no resolvidos, esclarecer dvidas, compreender mistrios, responderperguntas para as quais as religies, as doutrinas e as filosofias ainda no de-ram respostas. Disso se conclui que a ideia comum de imperialismo religioso,

    em busca de adeptos e seguidores, no me interessa e no faz parte do meutrabalho. Falo bem claro: no quero de nenhum modo chefiar coisa alguma naTerra; no quero conquistar poder algum neste mundo. No h, portanto, qual-quer razo para rivalidades. O que almejo s utilizar esta minha condenaode viver neste baixo nvel de vida para ajudar os outros a se elevarem a umnvel espiritual mais alto. Se me fosse permitido, s uma vez, ser egosta, omeu nico desejo seria ir-me embora, fugindo para bem longe deste mundo, eno voltar mais. Por isso as lutas pelas conquistas humanas, que tanto interes-

    sam aos meus semelhantes, no tm sentido para mim. Considero-as muito

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    cansativas e no cuido delas. As minhas lutas dirigem-se para objetivos total-mente diferentes.

    necessrio explicar tudo isso, para que meu trabalho seja compreendido.Infelizmente, em nosso mundo, estamos acostumados a supor que cada palavra

    seja uma mentira, julgando que somos astutos quando conseguimos descobriressa mentira. Isso o que, suponho, aconteceu tambm a meu respeito. Danasceu o mal-entendido, porque, neste caso, acontecia o inacreditvel, isto ,que as minhas palavras, na realidade, eram verdadeiras, no havendo por trsdelas outra ideia para encobrir. necessrio tomar as minhas palavras literal-mente, pois elas querem dizer simplesmente o que dizem, no contendo se-gundas intenes. Para quem no quer conquistar poderes na Terra, lgicoque o mtodo seja diferente daquele empregado pelo mundo.

    Nosso mtodo, na verdade, oposto ao do homem comum. Ns queremostrazer harmonia ao invs de luta, paz em vez de guerra; queremos levar escla-recimento onde exista dvida, esperana onde haja desespero, f onde esteja adescrena, conhecimento onde se encontre a ignorncia. Eis o que procuramosfazer. Conseguiremos realizar o que Deus quiser. Quando sucede que o ho-mem empregue toda a sua boa vontade, as qualidades que possui e o seu esfor-o para colaborar com a vontade de Deus, o restante fica nas mos d'Ele. Otriunfo depende de elementos que no conhecemos, escapando ao nosso dom-nio e ao nosso controle. Mas se procurarmos compreender e seguir a vontadede Deus, certamente esta vontade vir ao nosso encontro para nos ajudar.

    Estudando juntos esse mtodo, aprenderemos a arte de alcanar sucesso, in-clusive na vida prtica. Os homens prticos no observam que, para obter xitono campo material, necessrio, antes de tudo, uma boa orientao no campoespiritual, do qual tudo depende, no apenas os resultados dos negcios, mastambm a conservao da sade e a sensao de bem-estar em ns mesmos e

    em tudo o que nos rodeia. Em nosso universo, tudo est coligado, e as coisasno podem isolar-se umas das outras. Quem no est orientado nos grandesconceitos da vida, no o pode estar tampouco nas coisas pequenas de cada dia,que so consequncias das grandes. O nosso trabalho nestas palestras ser es-miuar as teorias gerais da grande orientao at s suas consequncias con-cretas, que nos tocam de perto, para aprender a viver conscientemente, conhe-cendo o valor dos nossos atos, desde suas origens at seus ltimos efeitos. Esta a cincia da vida, que nos explica a significao dos movimentos da nossa

    alma, bem como dos acontecimentos que nos rodeiam. Cada vida se desenvol-

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    ve no ao acaso ou guiada pelos nossos caprichos, mas sim conforme um pla-no particular, que se chama destino e consequncia do nosso passado, naforma em que o quisemos viver.

    Temos falado que h uma lei. Aprenderemos, pouco a pouco, a arte sutil de

    viver em harmonia com essa lei, que representa Deus, arte que constitui o se-gredo da felicidade. Iremos verificando, cada vez mais, que a espiritualidade,verdadeiramente entendida e vivida, produz incrveis efeitos teis tambmno plano material. Falamos de utilidade, pois no queremos roubar o tempodos nossos leitores, mas sim fazer um trabalho til a todos. preciso usarcom mais inteligncia a nossa vida, tornando-nos cidados iluminados e cons-cientes deste nosso universo, colaborando com a vontade de Deus, que o diri-ge. Aprenderemos a ver com outros olhos, ento tudo ser diferente. Ao invs

    de rebeldes construtores de sofrimentos, como somos hoje, tornar-nos-emos,para o nosso bem, obedientes construtores da felicidade. Seremos ento ami-gos e colaboradores de Deus, seus obreiros na grande obra da vida, que vaisubindo at Ele, pois, to logo tivermos compreendido que a Sua vontade visasomente ao nosso bem, no desejaremos outra coisa seno realiz-la.

    Diz-se muitas vezes que Deus est presente. E no h dvida: Deus estpresente. Mas no basta dizer isto. preciso aprender a perceber esta presen-a, chegar a compreender o Seu pensamento e seguir o caminho marcado pelaSua vontade. verdade que Deus est entre ns, mas isto tem uma finalidade.Deus est entre ns, dentro de ns, para que respiremos esta Sua presena epossamos fundir-nos em harmonia com a Sua vontade, realizando em nossavida os ditames da Sua Lei. E isso tambm tem uma finalidade, que nos levara no errar mais, como se costuma. No errar quer dizer no sofrer mais osdolorosos choques recebidos em consequncia do erro, que por sua vez vio-lao da Lei. Isso significa evitar sofrimento, proporcionando-nos tranquila

    felicidade, que s possvel num estado de ordem.

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    III. O PROBLEMA DO DESTINO

    A semeadura livre, mas a colheita obrigatria.Como orientar nossa vida no plano geral do universo,

    conhecendo o funcionamento da Lei.No captulo anterior, tocamos rapidamente no assunto de uma cincia da

    vida como mtodo para ser menos infeliz e alcanar xito, atravs da aprendi-zagem da arte de viver sabiamente, em harmonia com a lei de Deus, seguindocom obedincia a Sua Vontade. Vamos agora explicar melhor estes conceitos.

    difcil a arte de saber viver. A vida um vaso que podemos encher com oque quisermos. Mas a verdade que temos desejado ench-lo de erros. O que

    podemos receber ento, seno sofrimentos? Quando era moo, li alguns livrossobre a arte de alcanar sucesso na vida. E hoje ainda se encontram livros so-bre este assunto. Mas trata-se de uma cincia de superfcie, que se baseia nasugesto, na arte exterior de se apresentar, de falar e de convencer o prximo.Ora, isso s pode levar a um xito parcial, momentneo, superficial. O verda-deiro xito na vida consiste no problema da construo de um destino, umproblema complexo e de longo alcance, que s pode ser resolvido conhecendo-se no s o funcionamento das leis profundas que regem a vida, mas tambm aposio de cada um dentro dessas leis, enxergando assim o plano de uma vidaenquadrada no plano geral do universo, em funo de Deus. Mas o homem noconhece nem um nem outro desses dois planos. Como se pode chegar a umaorientao completa do caso particular, quando no se conhece a lei geral? Amaioria no dona dos acontecimentos da sua vida, mas sim serva, sendo diri-gida por eles. A vida deveria ser um trabalho orgnico, consciente, executadoem profundidade, dirigido logicamente para finalidades certas, que a valori-

    zem, dando-lhe um sentido construtivo.A vida um jogo vasto e complexo. Podemos deix-la decorrer leviana-mente, mas, neste caso, ou perdemos o nosso tempo, ou semeamos sofrimen-tos, cometendo erros. E, depois, as consequncias tero de ser suportadas ine-vitavelmente por ns. Fala-se de destino e da sua fatalidade. Mas ns mesmossomos os construtores desse destino e, depois, ficamos sujeitos sua fatalida-de. A nossa vida atual se apresenta como um fenmeno sem causas e sem efei-tos, se considerada isoladamente. Para ser compreendida, preciso conceb-la

    em funo das vidas precedentes, que a prepararam, e das vidas futuras, que a

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    completam. O presente no pode ser explicado seno como fruto do passado,das aes livremente desencadeadas, cujas consequncias so agora o quechamamos o nosso destino. Da mesma forma que o passado representa a se-meadura do presente, o presente representa a semeadura do futuro. A semea-

    dura livre, mas a colheita obrigatria. Verifica-se, assim, este jogo comple-xo de semeadura e colheita, entrelaadas em cada momento da nossa vida.Esta a lei de Deus, e ningum pode modific-la. Mas, dentro desta lei,

    somos livres para nos movimentar vontade. Assim, somos ao mesmo tempolivres e dependentes. Temos, de acordo com nossa vontade, o poder de nosarruinar ou de nos salvar, mas no podemos alterar a Lei, ficando a nossa runaou salvao fatalmente sujeitas s suas normas. A lei de Deus regula os movi-mentos de tudo que existe e, portanto, do homem tambm. Conhec-la quer

    dizer conhecer as regras do jogo da vida, isto , a cincia da prpria conduta, aarte de evitar os movimentos errados e fazer os certos, para fugir do dano pr-prio e atingir o mximo bem-estar possvel. indiscutvel a superioridade dohomem que possui este conhecimento, em comparao com quem, na luta pelavida, no o possui. O primeiro tem muito mais probabilidades de alcanar su-cesso do que o segundo. Para quem conhece a lei geral, possvel colocar-sedentro dela, na devida posio, evitando as dolorosas consequncias de umaposio errada. O homem comum acredita viver no caos, onde procura impor aprpria vontade a tudo e a todos. Mas, de fato, no assim. Esta suposio fruto da sua ignorncia. No h vontade humana que possa dominar o poder daLei. Esta constituda no s como norma, pela inteligncia de Deus, mastambm como poder, pela vontade d'Ele. Isto quer dizer que as normas so aomesmo tempo uma fora que quera realizao delas, uma fora irresistvel,viva e ativa, sempre presente em todos os tempos e lugares, da qual no pos-svel fugir. A Lei boa, sbia, paciente e misericordiosa, mas tambm justa,

    de uma justia inflexvel, de modo que, quando a criatura abusa, ela se desen-cadeia como furaco e derruba tudo, coibindo o abuso.A coisa mais importante na vida, a base de tudo, a orientao. E a maioria

    vive correndo atrs das iluses do momento, desorientada e descontrolada. Squem conhece tudo isto pode orientar-se, inclusive a respeito do seu destino edas finalidades particulares que lhe cabe atingir na vida atual. Pode assim evi-tar os atritos dolorosos contra a Lei, que atormentam os rebeldes, e subir maisfacilmente, levado pela corrente da Lei. Esta ento o ajuda, uma vez que ele

    quis colocar-se em obedincia a ela. Quem, por ter compreendido, sabe obede-

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    cer com inteligncia, conhece o caminho mais rpido e menos doloroso para asalvao.

    Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta uma posio bemestranha para o mundo, que ainda obedece lei animal do mais forte. Seguir a

    vontade de Deus no quer dizer perder a prpria e tornar-se autmato. Essaobedincia um estado de abandono em Deus, em absoluta confiana, como ofilho nos braos da me. Mas esse abandono ativo e dinmico, como o dequem vai atrs de um guia sbio e bom, que o defende e lhe garante o xito,desde que o seguidor queira obedecer com boa vontade, sinceridade e fidelida-de. o abandono do operrio consciente da sabedoria do patro, que quemmanda e a quem, para sua prpria vantagem, convm o operrio obedecer,acompanhando e colaborando. Ningum pode negar as vantagens de trabalhar

    juntamente com Deus, apegado ao Todo-Poderoso. Esta uma posio de van-tagem, pois fornece criatura poderes que no pode atingir quem caminhasozinho, dirigido apenas pela sua prpria vontade e inteligncia.

    Se soubermos aprender esta arte de viver em harmonia com Deus, a nossaexistncia se deslocar do plano da injustia e da fora, no qual vive o homem,ao plano da justia e da bondade, onde tudo funciona com princpios diferen-tes. Trata-se de substituir o instinto de domnio do nosso eu individual, que vaiat revolta contra Deus, pelo desejo de concordar com a Sua vontade, numestado que, em vez de ser de separao, representada pela nossa debilidade,ser, ao contrrio, de unio, que constitui a nossa fortaleza. Ento, a vida setornar outra coisa para ns. Ela no ser mais dirigida pelo princpio da forae do engano, que levam ao esmagamento e desiluso, mas ser, antes, dirigi-da pelo princpio da justia e da sinceridade, que reconhecem o nosso direito atudo de que necessitamos para viver, de acordo com o nosso merecimento. Sodois princpios absolutamente diferentes. Cabe a ns, conforme os nossos pen-

    samentos e conduta, pertencer a um ou outro desses dois planos e, por conse-guinte, sermos regidos por princpios bem diferentes, muito menos duros edolorosos no segundo caso. Este um problema absolutamente individual, deescolha e resultados individuais, independente da maneira boa ou m como osoutros queiram resolv-los. No importa se o mundo no quer transformar-se,preferindo o contrrio. Cada um pode transformar-se e salvar-se por sua conta.Cada um constri o seu prprio destino. lgico que Deus seja justo, e justoque as consequncias advindas do nosso comportamento sejam o efeito de

    causas engendradas por ns mesmos. De acordo com o mundo atual, as quali-

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    dades mais teis para vencer so a fora e a astcia. Isso cria um estado de lutade todos contra todos, sem repouso. Esse contnuo estado de guerra uma du-ra, mas merecida, condenao, devida psicologia de revolta que domina naTerra. Pelo contrrio, naquele mais alto nvel de vida, a qualidade mais til a

    boa vontade de obedecer a Deus e Sua lei, merecendo assim, conforme ajustia, a Sua ajuda. Acontece desse modo um fato incompreensvel para amentalidade do mundo: quando a merecemos, esta ajuda chega por si mesma,no nos pedindo coisa alguma sequer em troca. O resultado maravilhoso einacreditvel para o nosso mundo. A nossa vida passa a ser garantida, e tudo providenciado de maneira a no nos faltar nada. Mas isso pode verificar-sesomente quando o tivermos merecido, cumprindo o nosso dever perante a Lei,vivendo conforme a vontade de Deus.

    Surge ento uma coisa que o mundo no acredita ser possvel. Para chegar apossuir aquilo que precisamos e para alcanar sucesso no necessrio foraou astcia. Basta t-lo merecido, como a justia o exige. Aqui no o prepo-tente ou o astuto quem vence, mas sim o homem justo, que cumpre o seu de-ver. Em um nvel de vida mais evoludo, somos regidos por um princpio maisalto. Trata-se do nvel a que pertencem os indivduos mais amadurecidos.

    O incrvel que, nesse novo mundo, vemos funcionar a Divina Providn-cia. Ela funciona de verdade, mas, logicamente, s para quem o merece. lgico que ela no funcione para quem no o merece. Quando o tivermos me-recido, podemos ter a certeza de que se verificar para ns esse milagre daDivina Providncia, que nada nos deixar faltar do que precisarmos, seja paraa alma, seja para o corpo. Em geral no se acredita que isto possa acontecer deverdade, porque de fato muito raro tal acontecimento, porquanto tambm raro haver merecimento. O mundo est cheio de necessidades porque estcheio de cobia. A causa da necessidade a cobia. Quem semeia insaciabili-

    dade tem de colher fome. Quem furta, tirando dos outros o que no ganhouhonestamente, com o seu trabalho, ter de viver na misria, at que aprenda, sua custa, a lio da honestidade. Para reconstituir o equilbrio da Lei, surge aprivao correspondente ao nosso abuso. Paga-se caro esse abuso, mas o mun-do parece ignorar uma lei to simples. Somos livres, mas responsveis. E oseremos tanto mais responsveis, quanto mais possuirmos em riqueza e pode-res, pelo bom ou mau uso que deles fizermos. Teremos sempre de prestar con-tas Lei, que poder nos tirar tudo, deixando-nos na penria, se, pelo mau uso

    do poder ou da fortuna, tivermos merecido.

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    O prprio Sermo da Montanha, de Cristo, baseia-se nesse princpio. Masquem o toma a srio? por isso que vemos tanta pobreza no mundo. Quemcriou a pobreza no foi Deus, mas sim o homem com a sua desobedincia Lei. Deus no ficou esperando at agora para que o socialismo descobrisse o

    problema da justia social. A justia da Lei, completa e perfeita, sempre funci-onou. Quem tem olhos para ver, fica horrorizado ao considerar a leviandade domundo, que est brincando com foras terrveis, condenando-se a sofrer asconsequncias. assim que vemos tantas humilhaes para os que foram or-gulhosos, tanta necessidade onde houve desperdcio no suprfluo, tanto cons-trangimento obedincia onde houve poder demais e mau uso das posies dedomnio.

    O mundo ainda to ingnuo, que acredita ser suficiente apossar-se de uma

    coisa de qualquer maneira, para que se tenha o direito de possu-la. No sabeque tudo quanto possuirmos sem justia, por no hav-lo ganhado com mere-cimento e por no ter querido fazer dele bom uso, ser gasto, consumido ecorrodo interiormente por esta falta de justia, que, mais cedo ou mais tarde,no pode deixar de conduzir ao fracasso. A riqueza mal construda coisa po-dre e envenenada, que no pode dar seno frutos da mesma natureza paraquem a possui. S pode acabar, assim, em uma traio, como justo que acon-tea. No fundo das coisas no existe o que aparece na sua superfcie. Ali reinade fato a justia de Deus, e no importa que o homem no queira tomar conhe-cimento dela, pois ela continua funcionando da mesma forma. Possuir o mun-do inteiro, quando esta posse estiver fora da justia, no oferece seguranaalguma. Acima de todos os poderes humanos existe esse poder maior, que ajustia da Lei. Lembremo-nos de que a vida uma fora inteligente e s de-fende os que so teis conservao e ao desenvolvimento dela.

    A concluso desta palestra que a Divina Providncia existe de verdade e

    funciona. Mas, para isso, necessrio saber faz-la funcionar, movimentando-a atravs do acionamento das alavancas s quais ela obedece. Veremos depoisquais so estas alavancas. O fato que ela funcionar a nosso favor, se mere-cermos. Observei isso, controlando e experimentando, durante toda a minhavida e sei que verdade. O que tivermos merecido com as nossas obras noso os bens que ficam espalhados pela rua, aonde podem chegar os ladres,mas est regular e ordenadamente guardado no banco do Cu, de onde nada sepode furtar. Este o nico emprego verdadeiramente seguro dos nossos capi-

    tais. Esta a maneira verdadeiramente inteligente de fazer negcios. A Divina

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    Providncia no um milagre, mas sim a lei natural de um plano de vida maisalto, onde vigora uma justia que no atraioa. Ali no existe engano, e no sepode enganar. Esta Providncia um princpio que pode funcionar para todosaqueles que se encontram na posio devida, de maneira a serem por Ela al-

    canados. Deus est presente para proteger a todos, mas natural e justo ques receba o benefcio dessa proteo quem compreendeu a necessidade deobedecer Sua Lei.

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    IV. EM HARMONIA COM A LEI

    O nosso destino e a vontade de Deus.

    Continuemos falando sobre a Divina Providncia. Se soubermos olhar emprofundidade, alm da superfcie das coisas, veremos um mundo regido porleis diferentes daquelas que vigoram em nosso mundo. Trata-se de substituir oesprito de egosmo e de separatismo vigente por um esprito de unio comDeus e de colaborao com o prximo. Trata-se de nos colocarmos num esta-do de aceitao perante a lei de Deus, ao invs de nos colocarmos num estadode imposio para com o prximo. na aplicao desta nova lei, enunciadapelo Evangelho, que consiste o segredo da felicidade e o caminho para fugir

    dos muitos sofrimentos que nos atormentam.Falamos de unio com Deus, de obedincia Lei, de aceitao da vontade

    d'Ele. Surge agora a pergunta: como possvel chegar a compreender estavontade de Deus a que devemos obedecer? Deus no tem boca, mas fala; notem mos, mas opera. Deus est presente, no h dvida, mas no podemosperceb-Lo em forma material, na superfcie das coisas, com os nossos senti-dos. Deus est presente, mas na profundeza de tudo o que existe. H ento doiscaminhos para perceb-Lo: ou com a introspeco, olhando e penetrando den-tro de ns, por intermdio da meditao ou concentrao, ou olhando os efei-tos que, da profundidade onde est Deus, vm at superfcie, revelando as-sim a natureza das coisas que os geram e movimentam. Pode-se assim chegar acompreender o pensamento de Deus, pelo menos no que diz respeito nossavida, quer afinando os sentidos no caminho da espiritualizao, quer, para osque no conseguem olhar para dentro, olhando para fora, ou seja, observandoo que vai acontecendo conosco e ao redor de ns. No podemos negar que a

    primeira origem de tudo est na profundidade e que Deus, embora no tenhamos, opera. A nossa vida e o nosso destino no se desenrolam ao acaso, masso dirigidos por Deus. Ento, se os acontecimentos podem, at certo ponto,ser o efeito da nossa vontade, exprimem em grande parte tambm a vontade deDeus. As duas vontades se misturam, colaborando quando concordam, ou lu-tando uma contra a outra quando so discrepantes. No primeiro caso, elas di-zem a mesma coisa, e ento fcil conhecer a vontade de Deus. No segundocaso, elas dizem duas coisas diferentes. Mas, quando tivermos separado desse

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    Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 23

    conjunto o que efeito da nossa vontade, restar aquilo que nos vai revelarqual a vontade de Deus a nosso respeito.

    Se observarmos a nossa vida, veremos que h fatos sobre os quais podemosexercer a nossa livre-escolha vontade. Mas veremos tambm que existem

    outros fatos acima da nossa vontade, acontecimentos em relao aos quais noh escapatrias. H uma parte da nossa vida que regida como por um desti-no, com caractersticas quase de fatalidade, onde prevalece uma outra vontade,maior do que a nossa, qual, queiramos ou no, temos de obedecer. Muitosacontecimentos parecem possuir uma vontade prpria, contra a qual no adian-ta nos rebelarmos, sendo intil fugir deles, apesar de tentarmos por todos osmeios.

    Na vida h para todos uma parte livre, mas tambm existe uma parte em re-

    lao qual vigora o princpio da aceitao, na qual a vontade de Deus se ma-nifesta e o esprito da nossa desobedincia no tem poder algum. Esta partepode ser triste ou alegre, de satisfao ou de sofrimento, mas sempre justa,obrigatria, imposta pela Lei. Em geral, esta a consequncia fatal do quelivremente semeamos em nosso passado. Isto, porm, no por um princpio defatalismo, que nos tornaria autmatos irresponsveis, mas sim como efeitoexato do que nossa livre-vontade quis realizar no terreno das causas, para queela, conforme a Lei, tivesse de atuar no terreno dos efeitos. Aqui termina odomnio da nossa livre-escolha e vigora, em seu pleno poder, a Lei, que exigesempre obedincia.

    Entramos assim no domnio do destino e vemos a maneira pela qual o cons-trumos para ns mesmos. O que domina tudo e todos sempre a Lei, ou seja,a vontade de Deus. Disso no se pode escapar. Mais cedo ou mais tarde, tere-mos de obedecer. Os inteligentes procuram conhecer a Lei nos seus princpiosgerais e a vontade de Deus no caso particular das suas vidas. Aceitando o que

    eles sabem que justo, evitam atritos, choques e revoltas, que geram a dor.Este o caminho direto, mais proveitoso e menos doloroso. Se cometeramerros, esto prontos a pagar de boa vontade, conforme a lei de Deus. O mtododa aceitao pacfica resolve o conflito entre a criatura e a Lei de maneira maisrpida e tranquila, seja qual for a pena que se deva pagar.

    Os que no possuem esta inteligncia e boa vontade, estando ainda mergu-lhados na ignorncia e na revolta, rebelam-se, ao invs de aceitar, aumentandoassim as suas faltas, piorando a sua posio, amontoando novas dvidas por

    cima das antigas. Esto acostumados a usar o sistema prprio do plano de vida

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    Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 24

    animal do homem na Terra, segundo o qual o mais forte o que vale e vence.Mas no sabem que esse plano de vida inferior encontra-se regido pelas leisdos planos superiores, que a violncia s pode dar fruto na Terra e que unica-mente nesse baixo nvel de vida possvel o domnio da injustia. O que esse

    tipo de homem julga ser a lei de tudo, no seno a lei do seu ambiente terres-tre. Assim o homem, revoltando-se, usa o mtodo errado, pensando que porintermdio da revolta possa vencer, impondo-se, quando, na verdade, estagindo de um modo que serve apenas para fabricar a dor.

    Mas lgico e justo que assim seja, porque a dor a nica voz compreen-dida por ele, e no h outro caminho para guiar um indivduo que, por nature-za, recusa submeter-se, at que ele compreenda a existncia da Lei. Rebelar-se o maior erro que se pode cometer. Se a Lei do universo quer que o caminho

    para a felicidade seja de obedincia, lcito ao homem construir para si quan-tos sofrimentos queira, porque isto o faz abrir os olhos e o obriga, para seubem, a aprender. Mas no lhe possvel destruir a Lei, pois nesse caso, se elepossusse esse poder, lanaria tudo no caos. Se Deus permitisse ao homemtanto poder, a runa e o sofrimento humanos j no seriam apenas moment-neos e suscetveis de reparao por intermdio da dura limpeza feita pela dor,mas seriam um fracasso definitivo, um mal irreparvel, uma derrota de toda aobra de Deus, sem outra possibilidade de salvao.

    De certo, a ignorncia e a rebeldia do homem almejariam chegar at tal fim.Mas a sabedoria e a bondade de Deus o salvam fora, para seu bem, de togrande desastre, constrangendo-o a no se perder, obrigando-o a limpar-se, acorrigir-se e a aprender atravs da dor. Perante um quadro de lgica, bondadee justia assim to perfeitas, ainda h no mundo gente que, sem ter compreen-dido nada, quer julgar Deus como culpado pelos sofrimentos existentes nomundo. Procuram-se assim infelizes escapatrias, lanando-se a culpa em

    Deus ou nos prprios semelhantes. Mas intil. Tudo fica na mesma. Os errostm de ser corrigidos, as dvidas tm de ser pagas, a lio tem de ser aprendi-da. Quando chega a dor, nunca queremos admitir que a culpa seja nossa, e node outros. Perante a Lei, cada um se encontra sozinho e trabalha por sua conta.Cada um fica com o destino que quis construir para si mesmo. Rebelar-se pior. O mximo que se pode fazer resignar-se e corrigir-se, construindo parasi, de agora em diante, um destino melhor, de convicta obedincia a Deus,agradecendo-Lhe pela dura lio que vai conduzi-lo felicidade.

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    Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 25

    Esta a verdade mais importante que cada um precisa compreender: Deus, em tudo e sempre, o dono absoluto, e da Sua Lei no podemos nos evadir.Seja qual for a religio a que o homem pertena, seja at o maior dos ateus, eleobedeceu, obedece e obedecer sempre a Deus, no sentido de que no pode

    escapar da Sua lei. Por exemplo: o fato de pertencermos a uma ou outra crenano nos isenta da dependncia da lei da gravitao. O erro est em acreditarque estas verdades, das quais estamos falando, sejam particulares a este ouquele grupo, religio ou filosofia humana, quando elas, de fato, so verdadesque existem e continuam existindo e funcionando mesmo quando o homemno as conhea ou no as queira admitir. Elas existem de maneira independen-te do conhecimento, da negao e mesmo da existncia do homem. A conclu-so que todos obedecem a Deus: os crentes, sabendo o que fazem; os des-

    crentes, sem o saberem; os bons, de boa vontade, de olhos abertos, por amor,sustentados pela justia de Deus; os maus, de m vontade, nas trevas, revolta-dos, com raiva, esmagados pela mesma justia de Deus.

    bem estranha e primitiva esta maneira de conceber tudo em funo de simesmo, pela qual o homem se faz centro, finalidade nica e tambm, como sepudesse, dono da criao. Mas em quantos erros e iluses psicolgicas ele in-corre nessa primitiva maneira de conceber as coisas! E com quantas dores tero homem de pagar a sua ignorncia! Quantas vezes ter de bater a sua duracabea contra as paredes da Lei, at que compreenda quo intil e dolorosa aloucura da sua rebeldia e quo grande a vantagem de coordenar-se com aLei, conforme a vontade de Deus!

    Esta vontade, saibamos ou no, queiramos ou no, a atmosfera que todosrespiramos, da qual no podemos sair, assim como, inevitavelmente, respira-mos o ar da atmosfera terrestre. Os materialistas julgam que a cincia poderimpor-se lei de Deus, quando na verdade poder apenas demonstr-la. Ao

    mesmo tempo em que eles esto trabalhando para construir um mundo sem aespiritualidade, a Lei, que rege a evoluo da vida, dirige-os, impulsionando-os a construir um mundo baseado nessa espiritualidade. Todos, construtores edestruidores, apesar de agirem de formas opostas, na verdade colaboram den-tro da mesma Lei, para realizar a mesma construo. Assim como a morte necessria para gerar a vida, colaborando com ela para sua constante renova-o, sem o que no seria possvel a sua evoluo, os destruidores tambm sonecessrios para realizar os mais baixos trabalhos de limpeza do terreno, sobre

    o qual, de outra maneira, no seria possvel construir. Trata-se de um trabalho

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    feio, desagradvel, desairoso, mas necessrio, que os construtores, de raamais nobre, nunca fariam, nem poderiam faz-lo, porque, depois de terminado,quem o executou tem de ser afastado para no prejudicar a nova construo. E isto, de fato, o que vemos acontecer nas revolues, nas quais raro consta-

    tar que quem as realizou tenha recolhido para si o fruto das suas lutas.Continuaremos, nestas nossas conversas, observando quo profunda a sa-bedoria da Lei e quo grande a ignorncia do homem a seu respeito. Conclu-mos a nossa conversa de hoje observando que, queiramos ou no, nos fatosconcernentes a ns, a nossa vontade e a vontade de Deus, no final das contas,trabalham juntas. No porque a boa vontade do homem tenha de colaborar,mas porque Deus permite que a nossa vontade tambm trabalhe, estabelecendopara ela limites, efeitos e direo final. Podemos assim calcular quantas foras

    atuam entrelaadas, a todo o momento, em cada ato da nossa vida. Antes detudo, est presente a nossa vontade passada, agora na forma dos seus efeitos,que aparecem como fatais. Acima desses impulsos sobrepe-se e opera a nossavontade atual, que tem o poder de corrigir, nos seus efeitos, aquela nossa von-tade passada, iniciando novos caminhos ou endireitando os antigos. Todo essetrabalho o homem no o cumpre sozinho, abandonado a si mesmo, mas, pelocontrrio, executa-o ao longo dos trilhos de uma estrada j marcada pela lei deDeus, que estabelece o ponto at aonde o ser est livre para errar, o poder e anatureza das reaes da Lei ao erro, a tcnica da elaborao e assimilao dasexperincias e a meta final de todo o grande caminho da evoluo. Estamos nocomeo das nossas explicaes e j podemos vislumbrar quantas coisas con-tm a nossa vida de cada dia, mesmo nos seus impulsos e atos mais simples.

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    V. A INFALIBILIDADE DA LEI

    A funo da dor e a sabedoria da Lei.

    Em nossos dois ltimos captulos, falamos da Divina Providncia e da von-tade de Deus. Dissemos tudo aquilo no para fazer teorias, mas porque se tra-tam de foras que dirigem a nossa vida e que devem ser levadas em considera-o, se no quisermos sofrer as consequncias. Quem quiser viver com sabe-doria, sem se lanar aos mais variados perigos, evitando sofrimentos, tem decompreender que h uma lei sempre presente e ativa, sendo muito arriscadono a respeitar. Se j tivssemos aprendido todas as lies que a Lei contm,no cometeramos mais erros, desaparecendo assim as reaes, necessrias

    para nos reconduzir ao caminho certo da nossa libertao. Ento deveria desa-parecer tambm a dor, dado que a sua presena no mundo seria absurda, por-que, uma vez aprendida a lio, ela no teria mais funo alguma a preencher.Lembremos que a Lei sempre boa e justa. Se s vezes usa o chicote, apenasporque, devido nossa dura insensibilidade, no h outro meio para nos corri-gir e conduzir-nos assim para o nosso bem.

    Todos sabem, atravs da sua prpria experincia, que a dor ponto funda-mental da nossa vida. No entanto, tambm verdade que cada um, no fundode sua alma, alimenta um sonho de felicidade. Mas quando que, tanto para ospoderosos como para os humildes, chega a realizar-se de fato o que mais am-bicionam? Os desejos dos pobres e dos poderosos, na maioria dos casos, ficaminsatisfeitos e acabam fracassando em desiluses. Todos correm atrs de mira-gens que nunca se realizam, e tudo, no final, desaparece num engano. Encon-tra-se, porventura, no mundo algum que esteja satisfeito? O que h de realpara todos o sofrimento.

    Por que tudo isso? Quem deu origem a essa condenao? Estamos cheiosde desejos de felicidade, mas apenas encontramos sofrimentos! Que maldade!E quando procuramos uma causa para tudo isso, pensamos logo em algumpara sobre ele lanar a culpa de tanta crueldade. Ento, ou culpa-se Deus, porter feito uma obra errada, ou o prximo, que deveria comportar-se de outramaneira. Mas isso nada resolve, porque Deus permanece inatingvel e o pr-ximo sabe defender-se. Alm disso, a dor no desaparece, pelo contrrio, tor-na-se mais dura na revolta contra Deus e na contnua luta de todos contra to-

    dos.

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    Continuamos, assim, todos mergulhados no mesmo pntano: ricos e pobres,cultos e ignorantes, poderosos e fracos. Alguns que se julgam mais astutosprocuram emergir do pntano, amontoando riquezas, enganos e crimes, pisan-do os outros para atingir a felicidade. Mas esta instvel, porque falsa, dispu-

    tada contra mil rivais invejosos, roda por dentro pela natural insaciabilidadeda alma humana. E, mais cedo ou mais tarde, na luta de todos contra todos,tambm os poucos que emergem acabam afundando-se e desaparecem, traga-dos pelo pntano comum. Que jogo torpe a vida! Esta seria a concluso.

    Se tivermos nas mos uma maquina maravilhosa, mas, pela nossa ignorn-cia da tcnica do seu funcionamento, somente conseguirmos que ela produzapssimos resultados, dando-nos apenas atribulaes em vez de satisfao,quais providncias seriam aconselhveis para resolver o caso? As mquinas

    humanas, se mal usadas por estarem em mos inbeis e, portanto, destruidoras,estragam-se e deixam de funcionar. Mas existe uma to perfeita, que o homemno conseguiu estragar ou impedir seu funcionamento. Acontece por vezesque, pelo mau uso da mquina, no ela que sofre, mas sim o mau operrio,que no soube faz-la funcionar. Assim que surge a dor, e ento s h umremdio: aprender a tcnica do funcionamento da mquina, a fim de faz-latrabalhar bem, para nossa vantagem, e no mal, para nosso dano.

    Esta mquina representa a lei de Deus. Ela tambm boa educadora. E qualo papel do educador? Seu nico objetivo o bem dos alunos, e ns somos osalunos da lei de Deus. O educador no deseja vinganas, punies ou sofri-mentos, porque ama os seus alunos. Se estes tivessem boa vontade para ouvir efossem bastante inteligentes para compreender, bastaria a explicao das gran-des vantagens da obedincia. Mas os alunos so rebeldes, no querem aceitaroutras regras de vida seno aquelas provindas de suas prprias cabeas, almdo que, se tm inteligncia, querem us-la s para se revoltar contra a Lei.

    Ento o que pode fazer o educador? O fato que os alunos no querem sereducados, mas sim destruir o educador. Eles desejariam estabelecer uma rep-blica independente dentro de um Estado, uma outra mquina funcionando savessas, contra a mquina maior que a hospeda. um caso parecido com o docncer, que representa uma tentativa de construo orgnica em sentido parasi-trio e destruidor da vida, atravs da multiplicao celular em forma antivital.

    Ento, para o educador, no h outra escolha. Das duas uma: para agradar,poderia no reagir, como desejaramos ns, os alunos, e como acontece no

    caso do cncer com os organismos fracos, que no sabem defender-se. Neste

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    caso, porm, depois de ter destrudo tudo, as prprias clulas destruidoras docncer, por sua vez, ho de morrer tambm. Ora, o educador sbio no podepermitir isto. O que lhe resta reagir, impondo disciplina. Isto duro, pormno h outro caminho. Esta tentativa de construir uma mquina s avessas den-

    tro da mquina regular, ou uma repblica inimiga dentro de um Estado organi-zado, ou um cncer dentro de um organismo sadio, ameaa a funo de bemque o educador, custe o que custar, tem de cumprir. E ele pode fazer tudo, me-nos renunciar a esta sua funo, porque dela depende o que para ele maisimportante: o bem dos alunos. Ento, se ele quer verdadeiramente bem a estes,o que pode fazer seno usar de disciplina e ensinar por esse mtodo, j que osoutros, mais benignos, no deram resultado? Tambm as clulas do cncerquereriam viver, mas somos ns, porventura, cruis quando as afastamos, cor-

    tando o tumor? Tambm os criminosos quereriam gozar a vida sua maneira,mas poderemos ns considerar-nos ruins quando, em defesa da sociedade, osisolamos nas prises?

    A rebeldia do homem uma espada que ele usa contra si mesmo. A Lei, noentanto, impede a sua destruio. Ele quereria perder-se, e a Lei quer lev-lo salvao. Mas Deus o perdoa, pois sabe que o homem um menino carente deajuda e, na sua inconscincia, est procurando s o seu dano. Mas Deus nopode permitir que esse dano se realize. Ele quer somente o nosso bem. A liotem de ser aprendida. Disto no h como fugir, porque, de outra maneira, oplano de Deus desmoronaria e ns involuiramos, ao invs de evoluirmos. Ci-entifiquemo-nos destes pontos: o progresso tem de se realizar, por isso a liotem de ser aprendida; o homem o mesmo, no restando para o educador ou-tro mtodo seno a dor. A prova desta verdade encontrada no mundo: para oseducadores e suas leis vemos acontecer o mesmo que acontece com Deus e aSua lei. Assim, Ele tem de salvar fora os rebeldes inconscientes.

    O chicote duro. A dor no foi criada por nossa imaginao. Ela existe. fato positivo que todos conhecemos. Penetra por todas as portas, sem sequerpedir licena. No adianta ser rico, inteligente ou poderoso. Ela sabe tomartodas as formas, adaptando-se a cada situao. H dores feitas sob medida paraos pobres, os ignorantes e os fracos, assim como para os ricos, os homens cul-tos e os poderosos. Os deserdados esto cheios de inveja dos que se encontramacima deles, mas no sabem que acima das suas dores encontram-se, s vezes,dores maiores. Ser que nas mais altas camadas sociais desaparecem os defei-

    tos humanos? E se no desaparecem, como pode no funcionar a salvadora

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    reao da Lei? Ela no pode abandonar ningum, tampouco os que, por teremsubido mais alto na Terra, so os mais invejados, e no pode porque, sendo opoder deles maior, maior a sua responsabilidade e, por conseguinte, maior areao da Lei. Deus pode perdoar muito mais facilmente a um pobrezinho ig-

    norante e fraco do que queles que possuem recursos, conhecimento e posiode domnio. Aos que mais conseguem materialmente subir na vida, esto mui-tas vezes destinadas provas mais difceis e dores maiores. Mas a Lei justa eno pode deixar ningum fora do caminho da redeno. justo e lgico que ariqueza, o poder, a glria e coisas semelhantes pelas quais o homem primitivotanto luta, sejam apenas miragens que acabam na desiluso. A ltima realidadeda vida continua sendo sempre a insaciabilidade do desejo e o sofrimento.

    Em que impasse nos encontramos, meus amigos, pelo fato de possuirmos

    um desejo louco de felicidade e termos de viver numa realidade de insatisfaoe de dor! Estamos presos neste contraste. Almejamos o que nunca poder rea-lizar-se: a satisfao completa. Mas como se pode satisfazer completamente ainsaciabilidade? Como se pode resolver assim para ns este desejo de felicida-de, seno numa iluso? Parece que a felicidade est atrs de um horizonte eque basta atingi-lo para encontr-la. Mas, quando o atingimos com o nossoesforo, descobrimos outro horizonte e verificamos que a felicidade est aindamais adiante. A corrida continua assim, sem fim, atrs de uma miragem que seafasta medida que avanamos. Mas ningum se pergunta o que quer dizereste jogo estranho, de querer encher um vazio que no se pode encher, de pro-curar atingir uma determinada meta que vai fugindo de ns medida que nosaproximamos dela. Queremos sempre mais. Quem no possui, quer possuir.Quem possui, quer possuir mais, seja riqueza, conhecimento, glria, poder etc.De fato, o que vemos acontecer no mundo. O desgosto de quem no possui a carncia. A pena de quem possui no possuir o bastante ou o medo de per-

    der o que j possui. Qualquer que seja a nossa posio, tudo tende a se resolverno sofrimento da insatisfao.Mas como possvel que a Lei, dando prova de tanta sabedoria no funcio-

    namento do universo, possa fazer, sem objetivo algum, um jogo to cruel,condenando-nos a essa corrida que no acaba e que parece sem sentido? E seh um sentido, qual ? No estamos fazendo teorias, mas apenas procurandocompreender o que vemos acontecer em nosso mundo, a toda hora. Pensemosum pouco. Pode o objetivo ltimo da vida ser o de continuarmos satisfeitos

    com as comodidades materiais deste mundo? Ou tem de ser ele a conquista de

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    formas de existncia em planos sempre mais elevados, progredindo e aperfei-oando-nos sempre mais? Se no houvesse a insaciabilidade, tudo ficaria pa-rado na satisfao atingida, estagnado, inerte, num estado em que tudo acaba-ria apodrecendo. Se fosse assim, quem nos impulsionaria para frente? Dessa

    maneira, deixaria de haver o movimento mais importante, que constitui a razoda existncia, isto , o deslocamento no sentido da perfeio, progredindo pormeio de contnuo aperfeioamento. preciso compreender que este o escopoda vida: a busca da prpria evoluo. A evoluo, com essa corrida que parecesem sentido, indispensvel para ascender. A ascenso necessria para che-gar salvao, porque no h outro caminho para nos libertarmos do mal eatingirmos a verdadeira felicidade.

    A mesma coisa se pode dizer a respeito da dor. A nossa vida se baseia nesta

    dura condenao, que parece uma crueldade sem sentido. Por que isso? Omundo ocidental aceita a ideia de que a paixo de Cristo foi um meio de re-deno. O que significa isto? Em todas as religies do mundo existe o conceitode que o sofrimento til, que saber sofrer virtude que constitui mrito. Arazo deste fato sempre a mesma: a dor existe porque um meio para pro-gredir. Nela se baseia a evoluo, que tem exatamente a maravilhosa funo dedestruir a dor. Se a dor, que todos percebem e tantas coisas ensina, meio deevoluo, a evoluo por sua vez meio de salvao. Tudo o que macerao,seja dor, trabalho para criar ou esforo para subir, meio de salvao. gran-de erro querer parar o progresso que nos leva para Deus.

    O quadro aqui apresentado parece duro, mas no contm enganos: justo,lgico e verdadeiro. A concluso no a tristeza nem o pessimismo. A portapara a felicidade no fica fechada, mas bem aberta para todos os honestos,todos os de boa vontade. No estamos aqui para destruir, mas para construir.Se destrumos alguma coisa s no terreno das iluses, para construirmos no

    terreno slido da verdade.

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    VI. A JUSTIA DA LEI

    O homem em busca de felicidade e a disciplina da Lei.

    Temos falado da Divina Providncia, da vontade de Deus, das desiluses edos sofrimentos da vida num quadro nico, em que cada coisa esta conexa aoutra e todos os fatos e problemas esto ligados entre si, revelando-nos cadavez mais, na unidade do pensamento diretor central, a sabedoria e a bondadede Deus. Mas o assunto vasto e aparecem sempre novos aspectos a contem-plar, novos problemas a resolver e novas perguntas a responder. Um problemaleva a outro, cada resposta provoca outra pergunta. Iremos assim avanando demaneira a compreender cada vez melhor o grande plano de Deus, com o qual

    Ele dirige a nossa vida e a existncia do universo. Nesta viagem, teremos de irainda mais longe do que as mais magnificentes e longnquas estrelas, porqueelas esto fechadas nas dimenses do espao e do tempo, enquanto o pensa-mento pertence s dimenses espirituais superiores.

    Mas continuemos a desenvolver o nosso assunto atual. Vimos em que im-passe nos encontramos na vida. E verificamos isto apenas num rpido esboode explicao. Temos de entender melhor como funciona este jogo, que pareceto cruel e sem sentido, e compreender, enfim, as suas causas e finalidades. Oimpasse est no fato de parecer impossvel atingir na Terra a felicidade, apesarde ser isto o que todos mais almejam. A crueldade do jogo est na condio dese ter absoluta necessidade de uma coisa que nunca se chega a possuir. Por quesomos condenados a esta traio?

    Todos procuram a felicidade. Quanto mais primitivo e ignorante o ser,tanto mais acredita na iluso de que seja possvel encontr-la na Terra. Mas, aomesmo tempo, ele tem de compreender que uma felicidade, ao ser atingida,

    no mais felicidade. O homem se acostuma a tudo, e tudo perde o valor como hbito. A satisfao habitual de todos os desejos acaba no enfado. Tudo valee satisfaz enquanto luta de conquista, esforo para realizar. Se, aps atingir-se a primeira meta, no surgisse outro desejo para alcanar resultados maiorese, com isso, um novo esforo, tudo acabaria no tdio. Se ns recebssemostudo de graa, no dando prova do nosso valor para ganh-lo e, portanto, semter um verdadeiro direito posse, tudo acabaria anulado no vazio produzidopela sensao de nossa inutilidade. Na justia da Lei est escrito que desfruta-

    remos de uma satisfao em proporo necessidade que ela vai compensar e

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    ao esforo que fizermos para atingi-la. agradvel comer quando temos fome,beber quando estamos com sede e possuir as coisas de que necessitamos e pe-las quais lutamos. Mas quem tem e sempre teve de tudo, de tudo est farto ecansado. Isto chega at a destruir o desejo de viver, e justo que seja assim,

    porque se trata de uma vida intil. Desse modo, os mais desafortunados so osque nasceram demasiadamente ricos, sem terem conhecido necessidades oufeito esforos para aprender alguma coisa ou procur-la, no tendo nada a de-sejar.

    Assim, ns mesmos somos constitudos de tal maneira, que no nos pos-svel aprender e progredir, sem desejar, lutar e sofrer. Devido ao modo comosomos, queremos permanecer o mais possvel apegados vida, dentro dessadura escola, razo pela qual realizamos, at no ltimo dia, todo o esforo ne-

    cessrio para aprender a lio que nos indispensvel para ascender. Esta amecnica ntima do jogo da nossa vida. Este o mtodo sbio e maravilhosoque a lei de Deus usa para impulsionar no sentido do Alto, sem constrangi-mento, um ser que tem de ser mantido livre porque. se no o fosse, no poderiadepois ser julgado responsvel e levado a aceitar as consequncias dos pr-prios atos. Nesta Lei manifesta-se tambm uma vontade absoluta de que a evo-luo se cumpra, e isto para o bem da criatura, porque a evoluo a senda dafelicidade. Mas a criatura no pode ser escravizada por Deus, que, apesar deTodo-Poderoso, no escravista. Ento como procede a Lei, para que sejapossvel atingir seu objetivo absoluto, sem ter de empregar a coao? A Leicerca a criatura de paredes invisveis, dentro das quais esta fica presa como umpssaro na gaiola e contra as quais ela ir bater com a cabea e machucar-se,at reconhecer a existncia dessas paredes e perceber que loucura ir contraelas, pois isto no pode gerar seno dor.

    Assim, vai-se aprendendo cada vez mais a arte do sbio comportamento,

    em disciplina, ordem e obedincia Lei, at que a criatura no v mais batercontra as duras paredes dessa Lei, livrando-se, dessa forma, do choque da desi-luso e do sofrimento. Isto porque a gaiola uma priso apertada s para o serque no sabe dentro dela andar e movimentar-se com inteligncia, mas pal-cio maravilhoso para quem, j tendo batido muitas vezes contra aquelas pare-des, sabe guiar-se e, assim, no provoca mais, com os seus movimentos erra-dos, a reao que se chama dor. A Lei realmente um palcio maravilhosopara os que aprenderam a conhecer a disposio dos seus apartamentos e insta-

    laes, localizando as portas e as janelas, que permitem toda a liberdade, desde

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    que os movimentos sejam inteligentemente ordenados. A Lei palcio maravi-lhoso, repetimos, para ali morar a nossa alma, com tanto maior satisfaoquanto mais se aprenderam as regras do sbio comportamento, e com tantomaior sofrimento quanto menos se conhecem estas regras. um palcio feito

    de andares sobrepostos, que se apoiam uns por cima dos outros, em perfeitalgica, com passagens e escadas dos inferiores aos superiores. um palcioem que as paredes falam e raciocinam, em que o mobilirio e as demais como-didades crescem em beleza medida que se sobe para os andares superiores.Mais ainda, uma mquina que obedece quando sabemos apertar os botesque a movimentam. A Lei se torna assim um extraordinrio veculo para quemtiver desenvolvido a inteligncia necessria ao seu controle, um veculo desabedoria, de poder e de felicidade. Mas o homem atual ainda no possui essa

    inteligncia, de maneira que, para ele, a mquina funciona muito mal, produ-zindo apenas atritos, choques e sofrimentos.

    Este estudo da estrutura da Lei, que, queiramos ou no, a nossa casa, den-tro da qual temos de morar, leva-nos a uma consequncia importante, pois nosensina o caminho para viver bem, fugindo dor. Como vimos, na lgica daLei, o sofrimento tanto maior quanto mais se desce aos andares inferiores dopalcio, at que, nos seus subterrneos, encontram-se as cadeias torturantes aque se costuma chamar inferno; e tanto menor quanto mais se sobe para osandares superiores, onde finalmente encontramos nas torres altssimas do pal-cio a feliz liberdade a que costumamos chamar paraso.

    Ora, dentro desse palcio, moramos no andar que nos pertence, conforme anossa natureza, a qual precisamente aquela que construmos voluntariamentepara ns com as nossas obras. No entanto a porta que leva aos andares superio-res est sempre aberta a todos. O problema s um: descobrir onde ela est,entrar por ela e, uma vez achada a escada para subir, escalar degrau a degrau

    com o nosso esforo. Este o caminho lgico, justo, sem enganos, para vencera dor e nos aproximarmos da felicidade. Pode parecer uma maneira dura defalar, mas tudo isto claro, sincero e honesto. Acredita-se, porm, mais nasfelicidades que o mundo promete, porque, no exigindo o nosso esforo, sofceis e cmodas. Mas elas se desvanecem como bolha de sabo. Isto lgico.S os ignorantes podem acreditar que seja possvel ganhar o que no foi mere-cido. Mas isto exatamente o que o mundo mais anseia, portanto justo querecolha desengano e tudo parea traio.

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    De tudo isso se pode tirar uma concluso muito importante, mesmo no ter-reno prtico, ou seja, que existe um meio certo para fugir dor. Esse meio evoluir. Isso quer dizer que o sonho de felicidade aninhado no fundo de cadaalma no se encontra ali para nunca chegar a ser satisfeito, no um impulso

    traidor que tenha apenas a funo cruel de nos levar ao engano. Esse instintivoe irresistvel desejo de felicidade tem um sentido sadio e verdadeiro, porque oseu escopo nos empurrar para frente, constrangendo-nos a experimentar mui-tas formas enganadoras de felicidade, at encontrarmos a verdadeira. Assim, ohomem, fechado na sua atual moradia ou apartamento, que o plano de vidaao qual pertence, vai tateando pelas paredes at encontrar a porta e, desse mo-do, a escada que conduz ao andar superior. O homem supe que ela possa estaraqui ou acol, e assim vai experimentando tudo que se encontra no seu plano:

    a riqueza, o poder, a glria, os gozos dos sentidos etc. Ele julga encontrar as-sim o caminho para satisfazer o seu desejo de felicidade. Mas logo repara queno encontrou a porta que almejava, mas apenas uma porta que conduzia auma parede dura, sem sada. Ento ele diz ter sido enganado e comea de novoa experimentar por outro lado, sempre procura da porta que o levar verda-deira felicidade.

    Isso parece uma condenao. No entanto o homem, correndo atrs das suasmiragens, vai trabalhando experimentalmente e, assim, aprendendo o caminhocerto, desenvolvendo a sua inteligncia. Cada desiluso uma lio aprendida,um erro no qual no se cai mais, um degrau subido na escada da evoluo. Setudo isso parece ser traio, no o de fato, nem para a Lei, que atinge assim oseu verdadeiro objetivo, ao fazer o homem evoluir, nem para o ser humano,que, a seu turno, acaba alcanando a real finalidade de sua existncia: evoluir.S quem no compreendeu nada desse sbio jogo pode queixar-se dele. Masagora, que vemos claro e compreendemos o seu significado e objetivo, mis-

    ter concluir que no se poder imagi