07- a nova civilização do terceiro milênio - pietro ubaldi (volume revisado e formatado em pdf...

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    A NOVA CIVILIZAO DO TERCEIRO MILNIOPREFCIO ................................................................................................................................ 1I. A VERDADEIRA CIViLIZAO ...................................................................................... 3

    II. O INVOLUDO E A PROPRIEDADE ............................................................................. 15III. TIPOS BIOLGICOS E MTODOS DE AQUISIO .............................................. 29IV. ERROS E ASCENSES HUMANAS ............................................................................. 37V. AS GRANDES UNIDADES COLETIVAS ...................................................................... 46VI. A LEI DA HONESTIDADE E DO MRITO ................................................................ 61VII. RUMO A NOVO MUNDO ............................................................................................. 75VIII. ENTENDIMENTO, RECONSTRUO, PROGRESSO. ......................................... 86IX. DAS TREVAS LUZ ...................................................................................................... 97

    X. O PROBLEMA DO MAL ................................................................................................ 104XI. A ECONOMIA DO EVOLUDO .................................................................................. 112XII. POBREZA E RIQUEZA .............................................................................................. 122XIII. PROBLEMAS LTIMOS .......................................................................................... 131XIV. CONSEQNCIAS E APLICAES ...................................................................... 138XV. TIPO BIOLGICO DO FUTURO .............................................................................. 149XVI. VISO (1o TEMPO) .................................................................................................... 158XVII. VISO (2o TEMPO) ................................................................................................... 170

    XVIII. COMENTRIOS E PREVISES ........................................................................... 178XIX. O SERMO DA MONTANHA .................................................................................. 187XX. O PENSAMENTO SOCIAL DE CRISTO .................................................................. 204XXI. CRISTO PERANTE ROMA ....................................................................................... 211XXII. TEMPESTADE........................................................................................................... 224XXIII. VINGANA OU PERDO ...................................................................................... 240XXIV. NOSSO LIVRE DESTINO ....................................................................................... 251XXV. O DUALISMO FENOMNICO UNIVERSAL ....................................................... 266XXVI. A MSICA A VIDA DUPLA ................................................................................ 284XXVII. A PERSONALIDADE HUMANA (1a PARTE) .................................................... 305XXVIII. A PERSONALIDADE HUMANA (2a PARTE) ................................................... 325XXIX. SO FRANCISCO NO MONTE ALVERNE (1a PARTE) ................................... 347XXX. SO FRANCISCO NO MONTE ALVERNE (2a PARTE) ..................................... 362CONCLUSO ....................................................................................................................... 375CONCLUSO (Da II Trilogia) ............................................................................................ 382

    Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse)............................................................................... 386

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    PREFCIO

    Embora o presente volume tambm possa ter significado autnomo e ser li-do como tal, vem aqui apresentado como comentrio sobre A Grande Sntese.

    Este no livro cujo texto se possa retocar, corrigir ou ampliar, enxertando-lhedigresses e conceitos novos. Nasceu de um jato, em dado momento histrico,com determinada funo social e espiritual, atravs de particular estado psico-lgico de intuio. Condicionado por esses elementos especiais e irreproduz-veis, conservou-se inaltervel, como se vazado em bronze, inviolvel e firme,qual rochedo que desafia as tempestades dos sculos. A primeira, por ele pre-vista e esperada, desencadeou-se de sbito, quase como resposta da histria aogrito de alerta lanado ao mundo, confirmando a previso de seu renovamento.

    S hoje, ao fim desta guerra mundial, pode-se comear a entender o verdadeirosignificado deA Grande Sntese como sendo o livro da nova ordem do mundo,isto , o cdigo da nova civilizao do Terceiro Milnio. Livro de essnciainspirada, racional apenas quanto forma, no podendo, portanto, ser refeitoou modificado, pois de substncia completa, arquitetura equilibrada e estru-tura definitiva. Isto posto, torna-se impossvel voltar de novo a ele, que puraintuio e sntese, seno com outra psicologia e de outro ponto de vista, pre-ponderantemente analtico e racional, embora muitas vezes a inspirao volte aguiar e iluminar o texto, que assim analisado, desenvolvido, completado eaprofundado naqueles pontos em que, naquela obra, no era possvel nem l-gico demorar-se. (Foi dito no Captulo LXXXVI de A Grande Sntese: A na-tureza deste livro sinttico no me permite descer a particularidades).

    O momento histrico est adequado a este comentrio. Quem escreve devesaber que alguns conceitos s em determinados momentos podem ser compre-endidos pela psicologia coletiva; intil enunci-los antes do tempo, pois no

    podem ser entendidos, ao menos pelos leitores contemporneos. Porm j che-gou grande parte da destruio prevista; a dor atingiu os nimos; a pobreza,consequncia da guerra, privando-nos de tantas coisas humanas, convida-nos eleva-nos a compreender a riqueza das coisas do esprito, tornadas mais neces-srias pela runa do mundo de nossos tesouros terrestres; a tempestade nosconduz razo, atravs do exame dos pontos fracos do sistema e do reconhe-cimento dos erros cometidos. A est!A Grande Sntese, o livro da construo,preparado antes do aniquilamento, quando ningum o acreditava possvel, j

    est pronto. Este o momento de rel-lo e medit-lo, para melhor entendimen-

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    to. Esse livro legado ao atual momento histrico, foi escrito para nele funci-onar como fora viva criadora. Evangelho da renovao espiritual, livro dajuventude, chantado na soleira do futuro milnio, para alm do qual j despon-ta o dia das novas construes, essa obra legada vida e sua ressurreio.

    Universal e imparcial a sua filosofia, divina filosofia que, como expresso dopensamento divino, a vida e os fenmenos nos expem; simples e lgica filo-sofia dos fatos, que nos espera para dar nova direo atividade humana, maisde acordo com o moderno progresso, isto , capaz de dar sentido s conquistasmecnicas e cientficas realizadas. Estas j de tal modo so notveis, que, paraconservarem a importncia, -lhe necessrio conquistar esta nova sabedoria.Este volume o terceiro da segunda trilogia do mesmo autor. A primeira com-pe-se de: 1) Grandes Mensagens e A Grande Sntese; 2) As Nores; 3) Ascese

    Mstica. A segunda, de:1) Histria de Um Homem; 2) Fragmentos de Pensa-mento e de Paixo; 3) A Nova Civilizao do Terceiro Milnio, com o qualcompleta seu terceiro termo. O texto deste escrito (Captulo XVIII) explicarmelhor o sentido das duas trilogias, cronolgica e conceitualmente divididas pelo maior acontecimento de todos os tempos, a guerra mundial de nossosdias; a primeira trilogia, de espera e preparao; a segunda, de atividade e re-construo. Por esta diferente posio do pensamento que A Grande Sntesese distingue deste volume. Enquanto em Histria de um Homem,na luta pelavida terrena, se dramatiza essa verdade e em Fragmentos de Pensamento e dePaixo se exemplifica essa luta, o ciclo da atuao avana ainda mais nestelivro, chegando sua fase de concretizao. Aqui se trata, pois, de iluminar, declarearA Grande Sntese, de demonstr-la melhor, especialmente descendo a pormenores, isto , parte humana, individual, social e moral, que nos estmais prxima, com preferncia parte cientfica e csmica, mais afastada e jamplamente desenvolvida. De fato, o objetivo principal neste trabalho no s

    expor e convencer, mas, acima de tudo, aplicar na prtica.Deste modo fecha-se este segundo ciclo da obra, a que seguir outro, isto ,a terceira trilogia, que comea com o volume j elaborado: Problemas do Fu-turo,seguido por outros ainda em preparo. Tudo isso formar uma s obra, umnico edifcio orgnico, que, atravs da soluo dos problemas do ser, se pro-pe a contribuir para que se construa a nova civilizao do Terceiro Milnio,preparando a nova era do esprito.

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    I. A VERDADEIRA CIVILIZAO

    O conceito fundamental de A Grande Sntese pode resumir-se nestas pala-vras: ordem em Deus. Esse trabalho apareceu, com proftica vidncia, justa-

    mente na vspera do clmax da hora histrica, no limiar da maturidade dostempos, a cavaleiro da maior revoluo social do mundo, no momento em quedevia produzir-se grande choque de dor, a fim de preparar os nimos para re-ceber a boa-nova da concepo regeneradora, estranha a este mundo to dis-tante ainda do evangelho. Hoje, que a destruio material e espiritual de tantosvalores antigos preparou o terreno para a reconstruo, podemos entender mui-to mais esse livro, filho e precursor dos tempos, paralelo aos acontecimentos,expresso viva de seu dinamismo, indissoluvelmente fundido neles e na reno-

    vao social e moral que representam.Os fundamentos desse tratado so profundos, ligam-se com a gnese do

    cosmo. Encontramo-los at mesmo no pensamento criador de Deus. Essa sn-tese, abrangendo e unificando o conhecimento cientfico e filosfico do sculo,enuncia conceito to slido, que possvel p-lo como base de nova civiliza-o, e to dinmico, que pode amparar-lhe o desenvolvimento. Trata-se de umsistema orgnico e compacto, em que todos os fenmenos, do campo cientificoao moral e social, se prendem em lgica de ferro, de modo a impor-se formamental racional do homem moderno. Trata-se de um sistema que d a chavepara a soluo, ao mesmo tempo, de todos os problemas, desde os tericos eabstratos da filosofia at aos prticos e concretos de nossa vida como indiv-duos e como sociedade.

    Esta viso orgnica e completa apareceu pouco antes da hora em que omundo, saindo da gigantesca experincia, deve caminhar para a reconstruo.Pode-se, pois, definir tal viso como o plano regulador da sociedade futura. E,

    alm disso, apareceu em grande curva do caminho evolutivo do homem, noponto crtico de nova maturao biolgica, cujo grande significado se compre-ender mais tarde; maturao elaborada em silenciosa e subterrnea incubaomilenar e que explode justamente agora, em mortificante e necessrio banhode dor, que purifica e renova. Nesse momento apocalptico e de ebulio, talpensamento exposto como orientao e ajuda, porque orientao o que nosfalta e, acima de tudo, se torna necessrio, pois talvez nunca, como hoje emdia, a vontade de Deus esteve, na Terra, to luminosamente presente e to ati-

    vamente criadora.

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    Enquanto, pois, a natural maturao biolgica, presente nas leis da vida,possibilita ao homem, na atual plenitude dos tempos, a capacidade de compre-ender e fazer atuar novos critrios de vida e novas formas de relaes sociais,sucedem-se grandes acontecimentos histricos, com a funo precisa de elabo-

    rar novos conceitos e acompanh-los at a sua aplicao. O mundo agita-se emguerras destruidoras e cruentas para aprender a assimilar esses conceitos, que,se no assumissem corpo tangvel sob a forma de destruio e de dor, no seri-am percebidos pelo homem surdo e indiferente dos nossos dias, vivo s nacarne, mais ainda adormecido no que diz respeito ao esprito. Chegou a horade compreender essa profunda sabedoria da histria, esse sentido criador quepossuem os acontecimentos que elaboramos e seguimos, esse significado divi-no presente em todos os fenmenos. O homem, em milenar ascenso, vai des-

    pertando formas mais sutis de sensibilidade e de conscincia mais perfeita. Jse percebem no horizonte os clares da vida nova do esprito. L, no futuro, hverdadeiro incndio de esplndidas afirmaes e criaes novas; e a divina leide evoluo quer que o homem, embora lhe resista e se atrase, fatalmente alichegue. Chegou a hora de dizer ao homem: Levante-se, filho de Deus, sobforma de conscincia mais esclarecida, em estado social mais orgnico e com-pleto, supere a ferocidade atual e civilize-se finalmente, mas a srio. Chegou ahora de compreender que a nossa assim chamada civilizao atual no civili-zao, mas sim barbrie; de compreender que, no fundo, o homem moderno primitivo e inconsciente, pobre fantoche, completamente ignorante, quasesempre presunoso e prepotente, cego e rebelde, mas, mesmo assim, sem osaber nem querer, obedece Lei, que o guia, tudo sabe, tudo faz por ele e, ma-nobrando-o como autmato, sem que ele o saiba, lhe traa a histria, preparaos acontecimentos, entrosa os choques, apresenta as solues e impe as con-cluses, elevando os lideres, edificando e destruindo, exaltando e abatendo, de

    acordo com uma sabedoria desconhecida pelo homem. Chegou a hora de com- preender o significado das aes que indivduos e povos realizam todos osdias, sem que lhes conheam o verdadeiro significado e as consequncias.Chegou a hora de nos tornarmos conscientes colaboradores de Deus no planoconstrutivo criado por Ele em nosso campo terreno, ao invs de estpidos ser-vidores de Satans, em absurda obra de rebelio. Chegou a hora de compreen-der, sendo mais inteligentes; de confraternizar, sendo mais honestos e justos;de colaborar, sendo mais conscientes.

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    A vida no para, movimento que no se pode fazer parar; deve, pois, ine-xoravelmente, amadurecer alguma coisa. Esse caminhar da histria aproxima-se hoje de uma grande curva, onde, com o nosso sculo, se completa um novociclo de civilizao e se prepara outro. Sintomas sutis advertem desse fato os

    intuitivos, que sabem perceb-los; isto nos vem indicado pela concatenaodos ciclos histricos, pela lei do equilbrio nos desenvolvimentos e pela lei doequilbrio entre ao e reao. Esta nossa fase,tal como est inscrita na lgi-ca da evoluo orgnica do universo; esta nossa posio no tempo, na sriedas maturaes milenares; este o elo que hoje devemos soldar. A esto osgermes, mas os germes foram feitos para desenvolver-se; a esto as causas,que tendem a atingir o efeito. A Grande Sntese alarma estridente, antecipa-o reveladora, chamamento da ateno para profundas realidades ainda no

    vistas, advertncia desesperada, apelo que acontecimentos mundiais logo sub-linharam e justificaram. Aquele brado de alerta j foi lanado, e ningum podeextingui-lo, do mesmo modo que no h incompreenso humana qual Deustenha concedido o poder de parar a histria ou a vida.

    Trata-se de uma concepo que, se nos princpios adere ao evangelho, temagora meios prprios de demonstrao, com o escopo de, pela fora da razo,atuar na vida individual e social, onde praticamente nova. Nova forma men-tal, orgnica e harmnica, substitui aqui a antiga, inorgnica e catica, e assim,neste sentido, no mais o indivduo permanece isolado do conjunto, mas seenquadra harmonicamente no funcionamento orgnico do universo. Enqua-dramento gigantesco, em que a vida se torna imensa. Pode-se objetar que oindivduo o que , indiferente a tudo isto, completamente aprisionado na vi-so estreita de interesse egosta, estando a lguas e lguas afastado de seme-lhante orientao. Mas pode-se tambm responder que essa ignorncia damais profunda realidade da vida, ignorncia de que ele sofre os danos, at

    mesmo nos prprios clculos utilitrios e egostas; danos que deve sofrer, por-que a sua inconscincia no pode impedir o funcionamento das leis da vida eas reaes das suas foras. Pode-se tambm responder que o progresso biol-gico fatal,porque a evoluo constitui tendncia fundamental do ser, e o ho-mem, embora involudo, inerte e rebelde, deve, mais cedo ou mais tarde, serimpelido para o alto e transformar-se, cedendo ao irresistvel e divino impulsocontido na essncia das coisas. EmA Grande Sntese, o desusado atrevimentoda utopia foi valorizado e enfrentado com conhecimento. Isso no loucura,

    mas resulta do confronto da vontade e da fora de que o homem dispe, com a

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    potncia volitiva e dinmica das divinas leis da vida, possuidoras dos meiosnecessrios para atingir seu escopo e que sabem muito bem consegui-lo. H,de certo, luta entre o anjo e a besta, mas da Lei a vitria do anjo.

    Muito embora o homem resista, no se lhe pode interromper a ascenso. A

    vida, atravs de mecanismo de instintos, de reaes e de fatalidade, obedece Lei, e o homem a cumpre de fato, apesar de no compreender ou no querer. Omecanismo que a executa, o sistema de foras motor desse mecanismo, estjustamente dentro do homem, implantado em sua prpria estrutura, pertencen-do ao ser. Mas a este cumprimento da lei se chega atravs de erros e de conse-quentes retificaes expiatrias; , pois, fatigante e doloroso. Em A GrandeSntese, ensina-se, pelo contrrio, a respeitar essa lei inexorvel, para obter omenor dano e a maior vantagem possvel; ensina-se como, nesse complexo

    sistema de foras que o universo, h de algum movimentar-se sem dolorosochoque a cada passo. O que torna atual essa sntese, em correspondncia es-treita com o momento histrico e com a moderna fase de evoluo humana, amaturidade do tempo, o desenvolvimento nervoso e intelectual que, hoje,torna o homem apto a receber e aplicar na vida estes princpios, que, se tives-sem sido enunciados h anos atrs, no teriam sido aprofundados, analisadoscientificamente e racionalmente demonstrados. Por isso aquele escrito apare-ceu em nosso momento histrico como novo ensinamento, paralelo novacapacidade de compreend-lo.

    Hoje, essa compreenso necessria, e no apenas possvel. O homem vivee move-se em campo de foras inteligentes, em que se emaranha; foras que,em face de sua agitao inconsciente e desordenada, reagem e lhe fazem pagarcaro o erro. Ora, se por causa de menor conhecimento e disponibilidade demeios, esse erro era at agora mais limitado e, portanto, de consequncias maissuportveis, hoje, que o progresso tcnico e cientfico dilatou imensamente o

    raio de ao do homem e aumentou o poder humano de incidir no dinamismofenomnico do planeta, no se tolera mais a prpria ignorncia, porque conduza consequncias prticas que, agigantadas pelo aumentado domnio de meios epossibilidades, podem tornar-se catastrficas. Vimo-lo na potncia destrutivada presente guerra. Estamos em perodo de desequilbrio, porque o poder deagir hipertrfico, desproporcionado ao poder de entender e iluminadamentedirigir a ao. O desequilbrio est presente, hoje, em todas as nossas coisas eem toda nossa vida. Mas o prprio desequilbrio criador, luta, esforo genti-

    co. Procura desesperadamente reequilibrar-se, hoje, em plano mais alto, em

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    ordem mais ampla, onde o homem inclua e assimile novos elementos. ne-cessrio, ento, que o pensamento seja dado como orientador desse esforobiolgico; necessrio que o homem, esse menor de idade, aprenda ainda, nodestruindo o preciosssimo progresso cientfico j alcanado, mas completan-

    do-o com paralelo progresso moral, de modo a equilibrar-se a ascenso damatria com proporcionada ascenso do esprito. A vida regida, como j dis-semos, por leis inteligentes, que tm, buscam e sabem atingir fins prprios;querem a perpetuidade, e no a catstrofe; permitem o perigo, mas como ele-mento do esforo concludo com a salvao. , pois, fatal a eliminao da des-proporo entre o desenvolvimento material a o espiritual e o restabelecimentodo equilbrio. A vida quer. Por isso, certamente, o esprito retomar amanh adianteira.

    Aos detentores do poder e aos lideres das finanas e da indstria pode oproblema do mundo parecer simples problema tcnico. No , porm, somenteproblema tcnico. E isso porque, se as grandes agitaes sociais se desenca-deiam para conquista de objetivos concretos, utilitrios, de interesse econmi-co, a verdade que a vida, alm de vasta e complexa, una e unitria. Se esse, pois, seu aspecto, sua fase construtiva de momento, ainda existem sem-pre, embora momentaneamente adormecidos, em estado de latncia, os outrosaspectos da vida, principalmente o moral, hoje estacionrio. justamente esseo lado oposto, mas complementar, do hipertrfico progresso material de nos-sos dias. Ora, uma vez que as leis da vida impem, em todos os pontos, desen-volvimento harmnico e progresso equilibrado, lgico esperar-se, agora,correspondente desenvolvimento espiritual, para compensar o contemporneoexcesso de progresso material. Quem conhece a organicidade funcional douniverso deve admitir que o esforo gentico das formas biolgicas no podecriar o novo e gigantesco indivduo coletivo, filho dos nossos tempos, assim

    desproporcionado,sem equilibradas correspondncias simtricas, s membrose foras, sem paralela sabedoria diretora desses membros e dessa fora. Estasabedoria justamente aquela queA Grande Snteseantecipa e prepara.

    O progresso material de nossos dias representa, assim, desproporcionadodesenvolvimento unilateral. O ponto crtico tangvel, resultante desse desequi-lbrio e revelador dessa desproporo, a moderna guerra de destruio. Trata-se de fase transitria, formadora de excesso, que as leis da vida devem corrigire reequilibrar, reagindo em sentido oposto. Desse modo, demonstra atrofia

    espiritual a crena de que o problema do mundo seja problema tcnico, utilit-

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    rio, de recursos e matrias-primas. Mas, por isso mesmo, surge a complemen-tao do organismo com o desenvolvimento do lado atrofiado. A guerra dedestruio nasceu do fato de que o novo poder da tcnica, sendo mecanica-mente acessvel a todos e, assim, maioria involuda, foi empregado sem dis-

    cernimento. Os resultados prticos do progresso acabaram indo s mos dohomem ainda no moralmente desperto, sem preparo, insuficientemente sbiopara fazer bom uso do novo poder. Foi o mesmo que pr faca em mo de cri-ana. Por isso, antigamente, a sabedoria era mistrio para o povo. O progressomecnico acabou sendo entrega de arma perigosa a mos inconscientes. Ohomem de hoje em dia, moralmente deficiente, foi tomado de surpresa diantedas novas possibilidades que a cincia lhe oferecia. Corpo de gigante com c-rebro de criana de peito. Resultado: entrechocar-se o homem com dolorosa

    experincia, para que aprenda na dor e ela o obrigue a completar-se do lado doesprito. Assim, atravs do sofrimento, as leis da vida ho de reequilibrar ohomem, que, a par do progresso material, conseguir correspondente e propor-cionado progresso espiritual.A Grande Sntese no pensamento isolado, masfora viva que, colaborando com os impulsos biolgicos, busca a reposio doequilbrio e contribui para esse progresso espiritual.

    Aquele livro e estes comentrios, por isso, dirigem-se mais aos homens dofuturo que aos de nossos dias, isto , a homens para quem estas afirmaes nosero anacrnicas. O homem de hoje, ctico, h de sorrir. Mas o certo quetodo o plano dessa construo espiritual obedece lgica, que no a lgicamope do momento que passa; visa a objetivos elevados e longnquos, que nose identificam com o de salvar-se e fruir a vida; corresponde a pressentimento,a viso proftica, a f antecipadora, a sentido de misso, razo por que o autordeste livro no espera ser logo compreendido e sabe que em vida nenhum frutover e colher, mas semeia para que outros, noutros tempos, vejam e colham.

    Estamos agora na fase negativa. Todavia, quem conhece o necessrio equil-brio da vida sabe que, por causa de paralelismo antittico, o no vem antes dosim, do mesmo modo que a noite vem antes do dia. O clculo das probabilida-des nos faz crer que os fatos, porque se repetiram muitas vezes, devam conti-nuar repetindo-se sempre. Mas os equilbrios da vida reclamam exatamente ocontrrio. Exatamente porque determinado fato se repetiu tantas vezes, deveceder o passo posio contrria. Por isso, em lugar de continuao do passa-do, como vulgarmente se pensa, as situaes futuras so, quase sempre, resul-

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    tado de retorno ao passado. Confiamos muito nas aparncias, mas, especial-mente na histria, como vimos, as aparncias enganam.

    A natureza de profunda sabedoria, no entanto vivemos muito na superf-cie. Se perscrutarmos o ntimo e descobrirmos o mistrio das coisas, aparece

    algo bem diferente daquilo que habitualmente se diz, se cr, se faz. H, nofundo, divina lei, inteligente, boa e sbia, que a tudo rege e nos guia, comocrianas, em direo ao bem. Ela exprime o pensamento de Deus. O homemno pode, sem grave dano para si mesmo, substitu-la na direo da vida. Tem,todavia, a presuno de faz-lo e no se orienta seno por sua ignorncia eprepotncia. E, como hoje em dia essa substituio se torna cada vez mais ex-tensa e profunda por causa do aumento da capacidade intelectiva e da disponi- bilidade tcnica, o perigo correspondente vai ficando mais e mais grave e

    ameaador. Por issoA Grande Sntese desesperado brado de alarma solto noexato limiar da catstrofe em que a humanidade poder encontrar a prpriadestruio.

    Se tudo isso estranho moderna forma mental, alheio corrente que amaioria segue, e se, ao contrrio, em geral se concebe a vida limitada e cati-ca, isso no impede que a ordem e a reao obrigatria existentes no mundoastronmico e qumico existam tambm no universo moral, justamente aqueleem que, por ignorncia das leis que o regulam, os homens gostam de agitar-seo mais loucamente possvel. Essa pobre formiguinha, a mexer-se tanto na su-perfcie desse grozinho de poeira csmica chamado Terra, sabe por acaso oque efetivamente faz e quais as consequncias do que faz? A iluso no suaherana? No mesmo absurdo que, por ignorncia do modo como funciona amquina universal, indivduos e povos vivam eternamente dando cabeadas naparede, sem esperana de libertao, oscilando continuamente entre o erro e ador? E, quando algum esforo feito para sair desse aperto, por que deve ser

    tachado de utopia?No. Seja qual for a incompreenso, a resistncia, a dificuldade, a fadiga,no loucura ensinar que se deve superar a iluso e a dor e conquistar valoresmais slidos que os valores do mundo. Se pode parecer utopia, utopia doevangelho, utopia decorrente do sublime paradoxo do Sermo da Montanha,que menospreza a tudo quanto o mundo estima, utopia de aceitao necessria,a menos que se saiba viver como besta ou como inconsciente ou, ento, sevolte as costas para a vida tal como a vida , quer dizer, a menos que se renun-

    cie reproduo e se v em busca da morte. A existncia oferecida por nosso

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    civilizadssimo mundo moderno no aceitvel seno para os inconscientes,os involudos, os desonestos, salvo se, no futuro, complementar-se em melhorestado, estado que lhe justifique as dores e compense a bestialidade. Dissosegue-se que, para o homem consciente, evoludo, honesto, a vida apenas

    misso dolorosa, peregrinao de exilado que, passando por um mundo queno lhe pertence, se dirige sua verdadeira e longnqua ptria. Isso tudo podeparecer utopia; todavia, sem ela, nem ao menos a esperana de futura civiliza-o permanece na palidez mortal do mundo moderno. Animada por essa espe-rana, a caminhada do exilado se transforma na fadiga do construtor. Os cti-cos podero sorrir, desviando para a misria terrena o olhar posto nas nuvens.E haver at mesmo quem goze com essa misria e se sacie. Cada qual julgacomo quer, mas, no modo como julga, revela a prpria personalidade.

    No. O evangelho e as teorias que o seguem so utopias apenas aos olhosdo involudo; o cu s paradoxo se olhado aqui do cho. Para quem no capaz de sentir pela f ou entender racionalmente que a vida continua no im-pondervel, para esses absurda, por natureza, a doutrina evanglica da cadu-cidade dos valores humanos. Para o involudo, a vida no continua, finita,limitada ao breve perodo terreno. Questo de sensibilidade, inteligncia, evo-luo. Mas esta dor dos nossos dias, dor que acabar por atingir o mundo todo, dom de Deus para abrir as mentes e lev-las a compreender a aparente uto-pia. Estamos numa curva de nossa maturao biolgica, e a dor a acelera. Porisso podemos reafirmar estar prximo o reino do esprito. O mundo o repeleporque, involudo, ainda no lhe compreende a beleza e a vantagem. Mas sen-te-lhe a falta, tem fome de algo que lhe falta e no sabe o que . O mundo estinsatisfeito. Procura e no acha. Por isso se agita. S est tranquilo quemachou. A procura da felicidade preocupa o mundo e atormenta-o; mas o mun-do no a encontra porque se agita desorientado, fora do caminho certo. Entre

    iluses e mentiras perde tempo. Ao invs disso, precisa conquistar conheci-mento e, como consequncia, a sabedoria de entrosar-se e colaborar com a Lei.O novo princpio ordem. Ordem em Deus, e no desordem com Satans. EmA Grande Sntese, no se faz ouvir a voz deste ou daquele partido, religio ouescola filosfica, mas a voz imparcial dos fenmenos, que canta as harmoniasno s da matria nfima, mas tambm das regies mais elevadas do esprito.No se trata aqui de questes puramente tericas, de remotos e abstratos pro-blemas filosficos que no nos dizem respeito. Trata-se da superao de nossa

    dor; trata-se da cincia que se prope super-la e venc-la; trata-se de enormes

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    vantagens utilitrias, compensadoras do esforo e do tormento da mortificaoa que o homem est submetido; trata-se de finalmente aprender a viver nomais como crianas loucas, e sim como adultos cheios de sabedoria; trata-sede ver com clareza tudo quanto se relaciona com nosso destino humano, de

    obter resposta que esgote todos os porqus e todos os problemas que nos di-zem respeito e, desse modo, de nos comportarmos com pleno conhecimento daconsequncia das nossas aes. Loucura continuar a atirar assim ao acaso e aembater-se continuamente contra reaes que estupidamente desejamos e nosaoitam at sair sangue. Chegou a hora de compreender o delicado mecanismodos fenmenos e civilizarmo-nos; no de brincadeira como at agora se fez;no mais na superfcie apenas, mas em profundidade tambm; no s na for-ma, mas na substncia; tanto nos meios como no fim; na matria e no esprito.

    Completou-se o ciclo de destruio anunciado porGrandes MensagenseAGrande Sntese. A divina Lei deixou atuarem livremente as foras negativasdo mal, que desempenharam a tarefa. Entramos na fase construtiva, a vidacolhe seus valores positivos, e, nos nimos batidos pela dor, os reconstrutoresencontram o terreno preparado para o trabalho. O esprito, que atravs de tantadestruio se libertou de muitas das incrustaes e escrias da matria, podefinalmente dizer, depois de superado o profundo desmoronamento da ondadescendente do materialismo: Eu sou, esta minha vez, posso criar. E a vida,que parecia prostrada e morta, torna a soltar, mais forte e mais para o alto, seueterno grito de juventude. Isso o que, irresistivelmente, a lei de Deus queragora. As foras do mal tiveram o seu dia. Mas Deus disse: Basta. Em todolugar, ato ou fenmeno do universo, esto presentes Seu pensamento e Suavontade. A histria est pronta; os tempos, maduros. Quer dizer: no ritmo dasinfonia dos acontecimentos humanos, no concatenamento de causas e efeitos,no desenvolvimento da fatal evoluo do mundo, o caminho do tempo est

    prximo dessa maturidade, e a vida no pode recusar-se a percorrer e concluiressa etapa da evoluo.Aqui, como emA Grande Sntese, se afirma para construir, no se polemiza

    nem se ataca para destruir. Afirmando as eternas leis biolgicas, iguais paratodos, aderindo divina verdade no Alto, inviolvel, qual ningum escapa e foroso obedecer, estamos acima das divises humanas. No falamos de filo-sofia pessoal e arbitrria, mas objetiva e impessoal, ditada no por um simpleshomem, mas pela voz dos fenmenos. Essa voz verdadeira para todos, quer

    creiam nela quer no, quer a confessem ou a neguem, quer a sigam ou contra

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    ela se rebelem. Deriva de principio diretor, guia de todas as coisas; exprime o pensamento de Deus. Intil neg-lo. Esse pensamento existe. Se, s vezes,algum nega a Deus, porque Deus existe, e de Sua existncia no existe pro-va maior do que essa negao. No se pode conceber e negar o que no existe.

    A negao se relaciona apenas com a posio de nosso pensamento, que, sejaqual for a verdade, pode oscilar do extremo positivo, a afirmao, at ao ex-tremo oposto, a negao. A Grande Snteseanalisou esse pensamento divino,isto , o plano construtivo do universo; a ela remetemos o leitor desejoso deconhecer essa anlise. Ali se derivam concluses de carter moral e social depremissas to fortes, que se torna impossvel remov-las. Aquele livro , defato, demonstrao que impe essas concluses como obrigatrias para todosos seres racionais. Porm, com respeito ao quadro geral, no nos permitiu

    demorar em particularidades, exemplificando e materializando o conceito narealidade da vida prtica. Vamos agora transportar para o plano humano daao essa massa de conceitos, transformar em impulso concreto construtivo aluminosidade desse impondervel, isto , vamos transformar o princpio emao, mas ao que as premissas csmicas iluminem, sustentem e justifiquem.Trata-se de dar forma bem mais prxima e tangvel, mais particular, pormmais real (porque mais aderente hora histrica), mais humana, atual e prti-ca, aos princpios universais de um tratado universal. Trata-se de, entre as mile uma verdades humanas relativas, em meio s foras que operam nossa as-censo individual e coletiva, aplicar e trazer at aos homens, c na Terra, paraatuar sobre ela, a eterna verdade de Deus. Trata-se de mostrar nos fatos o fun-cionamento ainda ignorado daquelas foras, revelando a ignorncia humana aomov-las e os choques dolorosos resultantes. Trata-se de educar para melhoresformas de conduta individual e de convivncia social, fazendo o homem com- preender as enormes tolices que vem fazendo at agora, com dano para si

    mesmo, e mostrando-lhe como, com um pouco de inteligncia e de boa vonta-de, poderia poupar-se a tantas dores. Trata-se de aplicar injees de bom sensoem nossa sociedade, para que ela compreenda a grande vantagem que advir,para cada um e para todos, de comportamento mais civilizado, independente-mente de todo credo e de todo partido. Civilizar-se o slogan do momento.Isso significa que o homem deve olhar seu prximo com compreenso, superara ferocidade e o egosmo, isto , a maioria dos inteis atritos sociais, to gra-ves para o funcionamento de toda a mquina, que assim move-se com dificul-

    dade, devendo cada indivduo suportar a sua parte. A sociedade humana or-

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    ganismo cheio de infinitas inrcias, debilitado por inteis resistncias, sempreem luta interna entre uma parte e outra. Isto, sem dvida, exprime a fadigaconstrutiva do involudo. No entanto, para que alturas se poderia transferiressa luta, como seria mais belo e excelente, mais prprio de seres evoludos,

    lutar por objetivos mais sublimes! Como seria mais inteligente e convenientecompreender e admitir as necessidades do prximo e, dada a necessidade eutilidade da convivncia, torn-la possvel com maior senso de concrdia! Queinteressam as diferenas entre os vrios planos polticos do mundo, se os im-perialismos so todos iguais e tudo se reduz substncia biolgica de vencerpara dominar? No se pode destruir em ningum o direito vida concedidopor Deus, no se pode destruir as foras biolgicas, que, se golpeadas, ressur-gem amanh em outra parte, retorcidas pelo golpe, prontas para reagir. No se

    pode postergar os equilbrios e destruir as leis do universo.O homem de hoje pode ser ateu, anarquista, delinquente, pode crer-se cida-

    do do caos, rbitro de liberdades impossveis. prprio de cretinos permane-cer assim merc da desordem e da iluso, quando as leis de todos os fenme-nos nos falam de ordem, de divina lei inviolvel e onipresente, de aes e rea-es, de liberdade mas de responsabilidade tambm; falam-nos do enquadra-mento coercitivo das rebeldes desordens do mal nos limites da lei do bem;dizem-nos que a dor castiga o louco que se atreve a violar a lei de Deus. Quomais til e sbio para todos a harmonizao com essas foras, que jamais podero ser dominadas por nossa revolta e nos esmagam se contra elas nosrebelamos! No insensata essa brincadeira de desobedecer e pagar pela de-sobedincia, sem nunca sentir vontade de aprender? A estrutura do universo o que , no pode ser alterada. O homem deve compreender que a dor lhe nas-ce da sua desordenada conduta; que a dor no est na criao, que bem orde-nada, nem est em Deus, que perfeito, mas apenas nele, homem; que o plano

    regulador do grande organismo total tende irresistivelmente para a felicidade,embora pelos caminhos da dor. Isso no iluso, mas a verdadeira meta davida. Mas a buscamos onde no est nem deve estar, natural, portanto, queno a achemos. Assim, por meio da dor, a lgica do universo nos responde absurda pretenso de subvert-la. Quanto nos cansamos tomando o caminhoerrado, no entanto nosso bem j est escrito na lei natural das coisas; paraatingi-lo bastaria cumprir essa lei expressa na assim chamada vontade deDeus! Desse modo, a felicidade continua sendo meta quimrica, inatingvel

    miragem. At mesmo a experincia materialista do sculo passado a procurou,

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    mas procurou mal, onde ela no est, e no a encontrou, naturalmente. Esta-mos, ainda, no comeo da estrada e precisamos recomear tudo. Enganamo-nos. Mas a estrada existe, e aqui o demonstramos.

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    II. O INVOLUDO E A PROPRIEDADE

    Comearemos das bases concretas da vida, de seus alicerces no mundo damatria, de seus aspectos mais realistas, mais acessveis e de maior compreen-

    sibilidade, mas, ao mesmo tempo, menos adiantados. Conseguiremos dessemodo, ascendendo pouco a pouco na escala da evoluo, atingir no topo osaspectos mais refinados e espirituais da vida, aqueles a que s os eleitos con-seguem chegar. Em geral, os planos orgnicos segundo os quais se traam asdiretrizes humanas do funcionamento coletivo so elaborados luz de concep-es filosficas, polticas, sociais, todas relativas e artificiosas. Quando no setrata de castelos no ar, de formas fictcias, de produtos de cerebralismo ou decriaes mentirosas do mundo, que escondem realidade totalmente diferente,

    trata-se ento de erigir em sistema o caso particular e relativo do indivduo queconseguiu sobressair-se a ponto de tornar-se expoente. Explica-se dessa ma-neira como tais sistemas muitas vezes no se realizam e, historicamente, ter-minem em iluso, levando contradio e luta, ao invs de atingir a metaproposta. lcito nos perguntarmos agora o que de fato acontece sob as apa-rncias da histria, que outro plano, diferente daquele visto na superfcie, atuana profundidade e quais as verdadeiras e efetivas diretrizes do fenmeno soci-al. O homem comum, de vistas curtas, pode a seu talante crer em todas as mi-ragens que quiser, pois a vida no se preocupa em desiludi-lo a no ser diantedo fato consumado a que elas conduzem, nunca antes. Esse homem pode ima-ginar que a criao seja caos, a que s a sua vontade sabe e pode levar ordem,ordem a seu modo e a seu servio. As foras da vida deixam-no livre paraacreditar no que quiser, nisto ou naquilo, porm, quando se trata de concluir narealidade dos fatos e somente a, tiram-lhe tudo das mos e fazem as coisas aseu modo. O fato que existe uma diretriz em todos os fenmenos da vida,

    nos sociais tambm, independente do homem, muitas vezes em anttese com asua vontade, muitas vezes para corrigir e dominar sua interveno. Na melhordas hipteses, o homem intrprete, instrumento, cujo trabalho valer tantomais quanto mais fiel executor houver sido dessas diretrizes, quanto mais tiversabido conformar com elas a prpria atividade, isto , quanto mais houver sa-bido agir como funo delas, em concordncia, e no em choque com o funci-onamento universal. A presena de uma lei de inteligncia superior aos meiosde compreenso do homem normal, mais forte, em poder de vontade e de ao,

    do que os meios postos disposio dele, fato que resulta de toda a demons-

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    trao de A Grande Sntese e no se precisa neste livro demonstrar desde ocomeo. Naquele volume, assim como neste, essa lei lembrada, ilustrada etem seu funcionamento explicado em quase todas as pginas. Tudo quanto, atodo momento, se maneja e se aplica deve necessariamente seguir esta lei.

    A verdade que, a cada passo, no muda no espao e no tempo, o plano fir-me, o verdadeiro plano orgnico regulador da histria e dos acontecimentossociais, o real sistema diretor dos fenmenos coletivos humanos, que de fatoage contra as aparncias e atravs delas, nem sempre reside no que o homemdiz, afirma e proclama em voz alta, mas estabelecido por essa lei, que, inde-pendentemente do homem, conhece e tem nas mos as diretrizes da vida. Emoutras palavras, se queremos entrar a fundo no problema e resolv-lo seria-mente, no se entenda ento o fenmeno social como fenmeno histrico dese-

    jado, compreendido e dirigido pelo homem, mas sim como fenmeno biolgi-co dependente de leis sbias e poderosas, diante das quais o melhor que se faz procurar compreend-las e obedec-las, impondo-as a si mesmo. Os fenme-nos sociais e essa srie de acontecimentos que compem a histria, a relata-dos sem conexes, apenas colocados cronologicamente, so na verdade liga-dos por ntima lgica e somente podero ser compreendidos se os reduzirmosao que efetivamente so em sua substncia biolgica, isto , momentos do fun-cionamento orgnico do universo e a ele ligados. Plano orgnico diretor dasociedade humana, se no quisermos andar s cegas na tentativa e cair na ilu-so, s no-lo poder dar o conhecimento dessa lei e nossa adeso a ela; asnormas diretoras da vida coletiva no podem ser artificiosa criao humana,consequncia de premissas abstratas, fora da realidade, mas devem ser as pr-prias normas de toda a vida aplicada ao caso especial da sociedade humana.Quem, no prprio caso, separa-se do todo, concebendo os fenmenos isolados,permanece alheio organicidade do todo, que conjunto conexo e compacto,

    unitrio e impecvel. Era necessria tal premissa, que nos garantisse base deabsoluta solidez, premissa indispensvel para quem quer construir seriamente,construir sem esprito de partido, no para uma classe social apenas, de acordocom interesse particular, para vantagem de um s grupo ou povo, mas constru-ir universalmente, com estabilidade, acima da luta e das divises humanas. Asafirmaes e concluses que derivarem dessas premissas, mais do que opinio,teoria ou produto pessoal, sero o resultado da simples verificao objetiva dofuncionamento das leis da vida, sero a prpria expresso delas, sero procla-

    madas pela prpria voz dos fenmenos. Procuramos com isso alcanar impar-

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    cialidade e solidez. Da verdade partidria e interessada no saberamos o quefazer. Nada se cria com isso. A soluo do problema j existe; trata-se apenasde saber v-la e, com simplicidade, exp-la. Ligamos, portanto, o fenmenosocial, pelo qual ficamos marcados, ao conceito fundamental de A Grande

    Sntese, resumido no princpio: ordem e Deus.Os fenmenos humanos, polticos e sociais, encontram, pois, sua expressomais simples na vida animal e nessa, que os encerra em embrio, tm suasrazes; so os mesmos fenmenos, porm levados a mais alto grau evolutivo.Os problemas sociais, no fundo, so os mesmos fundamentais problemas davida, isto famese libido, conservao do indivduo e multiplicao da esp-cie, comida e sexo. Crescimento demogrfico, imigrao, guerras, expanso,dominao, vitrias e derrotas, capital e trabalho, propriedade, coordenao de

    funes, disciplina das relaes impostas pela convivncia, a esto problemasque a vida conheceu e resolveu antes do homem t-lo feito e, mesmo sem ele,em outros agregados sociais animais, resolveu-os segundo os princpios eter-nos, participantes do sistema orgnico que, em toda parte, rege todos os fen-menos. No poderemos resolver esses problemas, como hoje se nos apresen-tam, na fase evolutiva do nvel humano atual, seno de acordo com os mesmos princpios utilizados pelas leis da vida para resolv-los em graus evolutivosmais elementares, seguindo a lgica ntima segundo a qual foram construdos,penetrando-os em profundidade, reduzindo-os sua essncia. Veremos quantotudo isto os torna mais claros e simples, lgicos e harmnicos. Sob as maisdesvairadas teorias sociais, sob as mais complexas superestruturas ideolgicas,o homem aplica simples leis biolgicas, luta e progride biologicamente, se-gundo os mtodos da vida, para atingir-lhe os objetivos, seguindo as estradasj praticadas na vida animal, pois a vida uma s para todos, guiada por leinica, embora diversamente adaptada aos diversos planos evolutivos. Essa

    unidade de diretrizes a base da fraternidade de todos os seres, que no uto-pia e que os mais adiantados sentem; fraternidade no apenas entre todos osseres, mas entre todos os fenmenos. E o homem est inserido no mbito dadivina lei, que, com apenas um princpio unitrio, rege todos os seres e todosos fenmenos.

    Os especiosos apelativos modernos, os inumerveis ismos com os quaisse definem os vrios sistemas humanos podem ser entendidos apenas se assimreduzidos a seu denominador comum biolgico. Essa substncia os liga, re-

    conduzindo-os nica verdade me de todas as coisas, que permanece cons-

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    tante acima de todas as formas, em todos os climas, tempos e povos, a verdadeaplicada por todos, embora calada, combatida, negada. Assim, os problemassociais se reduzem, na base, luta para obter meios de vida, garantir sua possee proteger a si mesmo, famlia e aos filhos. Desse modo nascem os proble-

    mas do capital e do trabalho, da propriedade, da famlia e dos institutos jurdi-cos fundamentais. Se a substncia do direito no muda atravs dos sculos,isto se deve ao fato de ela exprimir leis biolgicas eternas. O progresso aper-feioa as relaes, completa-as nas particularidades, melhora-as na substncia,fazendo-as progredir, cada vez mais, em direo justia, mas a raiz no mu-da. O direito s pode ser entendido se o referirmos sua substncia biolgica;apenas tem sentido como ato de coordenao que, cada vez mais harmonica-mente, exprime essa substncia. No entanto, em vez disso, muitas vezes colo-

    ca-se na base do direito pblico e privado abstraes metafsicas, axiomas ar-bitrrios, premissas no enquadradas na fenomenologia universal e no justifi-cadas pela realidade dos fatos. As verdadeiras premissas dos fenmenos soci-ais, enquanto fenmeno da vida, so biolgicas, e no filosficas, metafsicas,polticas.

    Isso posto e esclarecido, classifica-se ento os homens no teoricamente,com base em premissas artificiais e sistemas arbitrrios, mas conforme seu realvalor biolgico, isto , o grau de evoluo atingido. Essa classificao diz res-peito ntima e real natureza do indivduo e a nica a levar em consideraoa substncia. No o caso de demonstrar aqui a realidade da evoluo, aindaque no plano das ascenses humanas. A verdade desse fenmeno fica demons-trada em cada pgina de A Grande Sntese. Da observao resulta que, segun-do o prprio grau de evoluo, mudam a estrutura orgnica, nervosa e psqui-ca, bem como o estilo de vida do indivduo. As classificaes sociais, face aessas fundamentais diferenas de peso especfico individual, so simples estru-

    turas de todo fictcias, instrumentos de luta, meios para esconder a realidade,que permanece debaixo, inviolvel, a verdade pronta a revelar-se a qualquermomento. A nossa assim chamada civilizao em grande parte questo deforma, simples verniz. A fase de legalidade jurdica atingida por ns mantoque cobre bem ou mal essa substncia biolgica; o homem, se graas a elepode parecer diferente, permanece substancialmente o que na realidade bio-lgica. Caso se trate de ladro ou delinquente, o ordenamento jurdico poderimpedir que continue a prejudicar, mas ele permanece o que . Isso, e no o

    que aparenta, o que interessa conhecer. Posio social, poder econmico,

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    valor aparente no tm importncia. E at as classificaes sociais, enquantono corresponderem classificao biolgica, carecem de importncia.

    Isso nos permite levantar o vu das aparncias e penetrar na realidade dasubstncia. Tudo fica mais verdadeiro, mais simples, mais compreensvel. As-

    sim, por exemplo, explica-se o materialismo como fenmeno de involuo,fase de descenso evolutiva, antecedente de novo surto evolutivo, e se com-preende a psicologia negadora do materialista e do ateu como a de primitivoincapaz de sentir as foras do esprito. Assim, embora mais inferiores, o delin-quente, o anarquista, o gatuno so apenas tipos biologicamente baixos, aindano civilizados na substncia, no importa se o sejam na forma. Em nossa so-ciedade podem prosperar at mesmo sob as normas da legalidade, porm, nu-ma civilizao verdadeira, que no considerasse apenas a superfcie, mas tam-

    bm a substncia, isso no deveria ser possvel. evidente que no se podelevar a srio seno uma civilizao em que isto no possvel. Todavia quan-tos e quantos indivduos hoje folheiam o cdigo e aprendem a no infringi-lo.Esses aprenderam somente a afiar as armas, a conquistar em astcia o que per-deram em brutalidade, e, ao invs de transformar-se evoluindo, firmam-se naestrada da involuo. Permanecem inadaptados verdadeira vida coletiva or-gnica consciente. Que importa a forma, se na substncia continuam agressi-vos egostas, ignaros da sociedade como o homem das cavernas?

    Face propriedade, primeira disciplina na aquisio dos bens, esse tipo bio-lgico revela-se o involudo que . Est sempre pronto a roubar, apenas a rea-o protetora e defensiva da lei possa ser evitada, de modo a no produzir-lhedano. Tal tipo deve ser muito comum, pois a lei e o costume humano foramconstrangidos a partir da presuno de m-f, at prova em contrrio. No temsenso de propriedade seno da prpria, e s o temor de uma punio o induzao respeito alheio. E a ameaa defensiva pode tornar-se at mesmo educativa,

    enquanto este, pouco a pouco, aprende, atravs dos sculos, mais elevadasformas de vida. E, paralelamente, a defesa da propriedade pode assim tornar-secada vez menos frrea, brutal, material e cada vez mais pacfica, simblica eimaterial. Essa defesa ser cada vez menos feita por muros, por grades, porarmas, por sanes materiais, e cada vez mais reduzida a simples sinal indica-dor, a reaes menos violentas, a sanes puramente morais. Porm, embora adefesa se desmaterialize, isto , tenda prpria anulao no entendimento pa-cfico, sempre o temor da pena que inibe esse tipo biolgico, e isso o revela

    como involudo. Involudo, porm, que talvez j tenha o pressentimento de

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    formas sociais mais elevadas, nas quais j no domina a usurpao e a fora,mas o direito e a justia. Tem o senso da superioridade do sistema bem diversodo evoludo e nesse sistema procura mimetizar-se para melhor esconder-se,justificando-se. Por isso eles gostam tanto de recobrir-se com o manto da justi-

    a e eternizar-se no poder, para fazerem da autoridade, que dever e misso,base de direitos e arma de ataque e defesa. Como o assalta a preocupao dejustificar-se com encenao de legalidade! Com que cuidado procurava o Si-ndrio dar forma legal de juzo supresso de Cristo; com que trabalho procu-ravam os assassinos de Luiz XVI aparecer como juzes, e no como assassinoscomuns! E que satisfao para os homens poder, em todas as revoltas, roubar ematar legalmente, isto , seguramente, sem temor de sanes punitivas, nicoobstculo para eles, e faz-lo como autoridade alta e tranquila, e no mais com

    a incerteza e o perigo de ladres! E, se a coisa d certo, o resultado da fora edo furto assim se estabiliza e se regulariza depois sob o manto de legalidadehumana, que, como se cr, basta para tornar justo o injusto. Pobre autoridade epobre propriedade! Que triste gnese, que posio ao nvel do involudo e quegrande caminho para purgar e resgatar aquele pecado original! Mas, assimque, em qualquer convulso social, o exerccio da sano jurdica diminui deintensidade, vemos o involudo, to logo possa faz-lo sem perigo, tirar a ms-cara e revelar-se o que , dando-se abertamente ao furto, a forma primitiva deaquisio da posse, forma prpria do involudo. Esse caminho mais breve doque o trabalho, forma prpria do evoludo, que o revela e presume estado or-gnico coletivo, ignorado na fase inferior do outro. Todavia, embora seguro daimpunidade, o involudo, em defesa, para justificar-se perante a prpria cons-cincia e a conscincia alheia e dar a si mesmo ao menos a iluso de ter asmos limpas, gosta sempre de assumir posio de justiceiro, como agressor dorico e protetor do pobre, camuflando-se de evoludo para fazer mais bela figu-

    ra e no passar, coisa que mais o desagrada, pelo ladro que ele percebe ser, afim de melhor servir-se, mais cmoda e seguramente, no banquete seu su-premo objetivoassim vestido de juiz. Por mais astuto, porm, que o involu-do possa revelar-se diante de tudo isso, todos compreendem que realidade seesconde debaixo da mentira, reveladora de toda a misria moral do primitivo.Intil camuflar-se. Roubando, no se pratica o bem; no tem valor a esmolaque se faz com as coisas alheias. Embora se disfarce, o ladro bem sabe que,enquanto ladro, no est e no pode estar do lado da justia. Mesmo que o

    rico tenha sido ladro, no lcito roubar, nem mesmo aos ladres. intil

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    que o ladro procure tornar justo seu furto, acusando de furto quem roubouantes dele. v sua desesperada tentativa; belo e bom pretexto para enriquecercomodamente; simples astcia que pretende dar a entender se possa roubarhonestamente. O involudo chega at astcia, mas no pode subir mais, at

    honestidade. O mtodo que ele escolheu, embora camuflado, o revela em fla-grante, tal qual : involudo, primitivo, ignorante. No conhece as consequn-cias e ilude-se. Esses justiceiros fingidos, que pululam to logo a ordem socialenfraquea a reao defensiva, no sabem que, embora tenham conseguido,por meio da astcia, fraudar a lei humana e apaream cobertos pelo belo mantoda justia, devero, todavia, por lei biolgica, mais cedo ou mais tarde, pagarcom os prprios bens.

    Poder-se-ia, porm, virar a medalha e ver a injustia oposta, vinda desta vez

    da parte da classe dominante, que se revela disposta apenas a defender-se a simesma. verdade: quem rouba sempre ladro, mas tambm, muitas vezes, o pobre a quem a lei biolgica grita: voc tem direito vida. Esse direito detodos, at mesmo dos deserdados, uma espcie de justia, seja embora naforma primitiva do involudo. O evoludo no recorre a ela nunca, por nenhu-ma razo, mesmo custa da prpria morte. Mas o involudo, que, falto de ou-tros recursos, deve, todavia, viver, pode ser constrangido a recorrer. O esma-gamento do pobre, sua expulso da ordem dos vencedores, ordem impostapara vantagem exclusiva destes, lhe justificam a revolta. E, ento, a vida socialreduz-se a luta de igual para igual, entre igualmente injustos, entre igualmenteinvoludos.

    A rebelio do oprimido, por sua vez, justifica a posio defensiva e opres-siva dos ricos dirigentes. Decadas as aparentes distines humanas, restam aqualidade comum de involudos, nica distino interessante, e a caractersticade injustia, inerente a seu sistema, que os iguala na mesma culpa e nas mes-

    mas consequncias. A vida social assim, na realidade, corrente de injustias,de afrontas e reaes; todos tm e, ao mesmo tempo, no tm razo; todos socredores e devedores, com a resultante estvel, em que todos se reencontram,de invarivel regime de incerteza e de dio. O tipo biolgico evoludo com-preendeu, ele somente, a utilidade de diferente sistema de agir, de justia or-denada; compreendeu, acima de tudo, que isso no se pode inaugurar com ainjustia do lado exatamente da parte que reclama justia apenas para si mes-ma, mas to-s com a justia praticada, antes de tudo, por si prprio em rela-

    o aos demais, sem nada pedir-lhes injustia. S com tal sistema pode re-

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    solver-se o problema. Mas o involudo compreende apenas o primeiro sistema,e este no basta para resolver o problema. Contudo de lgica elementar acompreenso de que a estabilidade s se obtm com o equilbrio. Ao invs, oinvoludo prefere acreditar que se possa obt-lo com o esmagamento e o enga-

    no. Absurdo. Mas, se compreendesse, no seria involudo; apenas chega acompreender, muda de sistema e se torna evoludo. No entanto, hoje, de invo-ludos se formam as massas humanas, que no imaginam serem assim. O po-der obtido pela violncia e a propriedade obtida pelo furto so apenas iluso etraio e, por isso, ao invs de ajudar, prejudicam a quem lhes adquiriu a pos-se; no se imagina que isso, por inviolvel lei da natureza, verdade igual paratodos, como de justia. O homem comum, crendo-se rbitro de tudo, nemsuspeita mover-se em meio a organismo complexo e perfeito, de foras muito

    mais inteligentes e poderosas que ele; se soubesse mover-se sabiamente, deacordo com elas, obteria a felicidade; movendo-se, ao invs, loucamente, emchoque, obtm apenas perdas e dores.

    Subiremos neste volume, pouco a pouco, at s mais altas formas de vidado evoludo. Mas, na base da humanidade, o involudo, em nmero predomi-nante, se acha presente e a observao do fenmeno social nada nos oferece deimportante seno o espetculo da sua psicologia. Nossa humanidade primiti-va, riqussima de energia, mas pobre de sabedoria; extremamente dinmica eextremamente ignorante. Isto fato conhecido. O homem o que e est bemonde est. As dores que o gravam lhe so proporcionais sensibilidade e ignorncia. As provas que encontra e deve superar so as da sua classe, do seunvel evolutivo, adaptadas s suas capacidades. Para sermos prticos e com-preensveis, devemos permanecer ainda nessa atmosfera, com o objetivo preci-so, porm, de levar-lhe a luz que lhe falta. Insistamos, pois, no fenmeno basi-lar da propriedade, iluminando-lhe, porm, o conceito. O conceito jurdico e

    moral no basta. Nesse campo, estamos cheios de iluses. O lado imponder-vel, que afinal pesa tanto a ponto de revelar-se e impressionar o pondervel,nos foge quase completamente, tambm nesse caso. Os princpios jurdicosfazem crer ao involudo que, para tornar estvel e segura a propriedade, bas-tam as garantias sociais e jurdicas. Eis, contudo, o que de fato acontece muitasvezes. Procura-se adquirir a propriedade atravs de qualquer meio, a compre-endido, se necessrio, o furto. Ser descarado e as claras em perodos de de-sordem; velado, astuto, nos perodos de ordem, legalizado na forma, para po-

    der evitar a relativa sano jurdico-social. Debaixo das aparncias da legali-

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    dade trabalhar, imperturbvel, o instinto de ladro, caracterstico do involu-do. Embora atingida a posse, que o objeto, atravs de furto mais ou menosevidente (no fcil acumular riqueza rapidamente apenas com o trabalhohonesto), o primeiro instinto do ladro consolidar a posio, procurando se-

    gurana na legalidade que o proteja. Ningum, mais do que ele, tem necessi-dade, para esse fim, do instituto da propriedade, porque ningum, mais do queele, est em posio to precria e tem tanta urgncia de garanti-la e estabiliz-la. Justamente o filho da desordem tem maior necessidade da ordem, necess-ria para gozar em paz os frutos da desordem. Assim, ningum mais do que orevolucionrio sente a necessidade de, enquadrando-se na legalidade, justificaressa posio e de, transformando-a em autoridade, garantir a atitude de violn-cia. Atingido o objetivo, o involudo procura tirar vantagem das formas de

    vida mais evoludas, das conquistas superiores feitas no ordenamento social,no por tipos do prprio plano, mas por mais adiantados. O ladro e o violentoapressam-se, ento, a limpar de novo as mos e assumir a atitude de pessoas debem, naturalmente merecedoras do respeito de que necessitam para goz-la empaz. Com que nsia procuram, ento, esconder as origens obscuras e o passadodesonesto, cobrindo-se de ttulos, benemerncia, relaes conspcuas, enverni-zando-se de incorruptibilidade e senhorilidade! a sua evoluo. Sero, dapor diante, os mais encarniados conservadores, os homens da ordem, porques agora dela fazem parte. Mas, enquanto se civilizam e debilitam no bem-estar, esquecem de quem ficou para trs e, na misria, espera a oportunidadede fazer nas suas costas o mesmo jogo por eles feito contra os que chegaramantes deles. O resultado final interminvel subir e descer de indivduos emconstante regime de engano e de furto, todos em luta entre si; todos igualmenteladres e violentos, caa de conquistas efmeras, ladres de miragens. Le-vando-se em considerao a psicologia e ignorncia das leis da vida, natural

    esse modo de agir. Mas, atravs de tantas fadigas e astcias, conseguem eles oobjetivo a que se propuseram? A propriedade significa tentativa de estabiliza-o de fase desse ciclo, mas a tentativa falha. O instituto da propriedade sereduz, desse modo, por parte da sociedade, ao reconhecimento oficial do furtoconsumado, homenagem que a vida presta ao vencedor s porque vence-dor. A Revoluo Francesa, camuflada de justiceira, no acabou em nova aris-tocracia napolenica? Vale a pena fazer esse jogo de riqueza a turno? certoque, com essas alternncias, a vida atinge uma espcie de justia distributiva,

    mas tambm fato reduzir-se a propriedade, entendida como instituto jurdico

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    protetor e coordenador,a tentativa falha, porque, na realidade, no atinge seuobjetivo, no constituindo slida garantia. A construo humana falha, pois.Vistas assim as coisas, alm da aparncia, na substncia, podemos concluirque apenas a lei biolgica no falha e atinge seu objetivo, a justia, seja embo-

    ra apenas a tornada possvel pela ignorncia humana. O escopo da vida no oenriquecimento de ningum, mas a existncia garantida para todos, como meio para atingir fins mais elevados. Ela nos deixa a fadiga da luta, como provapara aprender e evoluir.

    Depois dessas reflexes, nos damos conta de quo falso e incompleto nos-so conceito de propriedade. Na realidade, no apenas instituto jurdico que asconvenes sociais bastem para regular, mas jogo de foras vivas e inteligen-tes em movimento no campo da vida, de acordo com leis prprias. Da segue

    que a estabilidade no pode ser qualidade exterior, com a virtude de modificar-lhe a essncia ntima e corrigir-lhe os erros congnitos, mas qualidade interi-or, posio s resultante de estado de equilbrio. Da, ainda, novo modo deentender as formas de aquisio, modo contrrio ao em voga. Em outras pala-vras, a to procurada estabilidade no , absolutamente, dada pelas exterioresgarantias jurdicas, mas por ntimo e substancial estado de equilbrio dos im-pulsos constitutivos do fenmeno, em que ento, por muito tempo, poder re-ger-se estavelmente no s a propriedade juridicamente protegida, condioque se torna de importncia secundria e fictcia, mas tambm a propriedadeconstituda de foras equilibradas, ou seja, a propriedade adquirida pelo traba-lho, e no pelo furto. Face a essa realidade biolgica mais profunda, desvane-ce-se a importncia da defesa jurdica do Estado, substituda pela defesa dasleis da vida, defesa muito mais segura e profunda. O conceito de proteo pormeio de individual e livre cumprimento da lei de Deus substitui o de proteopor meio de convenes humanas. Qualquer pessoa, ento, adaptando-se a ela,

    pode pr-se em posio de equilbrio e, pois, de segurana; qualquer pessoa,rebelando-se, pode pr-se em posio de desequilbrio e, portanto, de insegu-rana. Essa a substncia, a vida ntima do fenmeno, sua vontade, esse o jogode foras que o animam e o levam concluso. A legalidade forma, roupa-gem qualquer, que nada tira ou acrescenta substancia do fenmeno.

    O ditado popular O crime no compensa j observou que o ganho por malno frutifica, no nos causa gozo, acaba em runa, traz mais dano que vanta-gem. H, pois, alm do elemento jurdico, algum outro, decisivo, invisvel,

    mas de fora capaz de desconjuntar os resultados a que a estrutura jurdica se

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    esfora por chegar. Pode existir, pois, propriedade que, embora jurdica e for-malmente justa, no o seja, de fato, em substncia. Ento, essa diversa estrutu-ra ntima anula a forma, e a imperfeio da primeira anula a perfeio da se-gunda. necessrio, para perdurar, que a propriedade seja s, ntegra, justa e

    inteiramente honesta, da cabea aos ps, em todos os momentos, at mesmonas origens, nas razes. De outra forma, por mais que se cubra de justia for-mal, edifcio construdo na areia. Existe impondervel lei interior, que topouco se leva em conta; lei de funcionamento automtico; lei a que, por serinterior, ningum escapa, sempre presente, inerente s prprias coisas. O tipoinvoludo dominante no compreende esse fato elementar, isto , que o furto,embora nobilitado na forma, no pode, de fato, apoderar-se de nada e, se o faz,no mantm, o que, para ele mesmo, o mais importante. Ora, se quisermos

    subir para formas de vida que, a srio, se possam chamar civilizao, neces-srio que o tipo comum compreenda que a propriedade no somente fen-meno biolgico natural e indestrutvel, comum at mesmo para os animais,que bem o conhecem, mas fenmeno determinado tambm por outros elemen-tos alm dos comumente levados em conta, e que, entre todos eles, tem a pri-mazia o mais insuspeitado e descurado: o mrito. da Lei: se existe mrito, apropriedade perdura e rende; se no existe, dura pouco e no rende. A Lei justa e impe que cada ato nosso nos renda de acordo com o que de salutarnele introduzimos de bem ou de mal, proporcionalmente, isto , tanto gozoquanto a porcentagem de honestidade e de nosso valor intrnseco contido emnosso ato; e tanto veneno quanto de mentira e de traio lhe injetamos. Chegoua hora de o homem compreender: perigoso manipular as foras do mal, por-que, embora dirigidas contra os outros, recaem sobre quem as maneja; a menti-ra perigosa porque gera o erro em quem a diz. A astcia, a fora, considera-das como armas teis, tornam-se prejudiciais, porque automaticamente se vol-

    tam contra quem as emprega.Poder-se-ia, contudo, objetar: no faltam exemplos de ladres que conser-vam e gozam as suas riquezas. Para responder, preciso dar o significado cor-reto da palavra mrito. Sem dvida, o furto a forma original de aquisio debens. Em sociedade ainda no civilizada, o problema tirar do mundo externotudo o que nos serve, seja qual for o meio. No se fazem, pois, distines nosmtodos de aquisio; indiferente atingir o objetivo com o furto ou com otrabalho. Estes, em fase catica de formao, ento, se confundem. Todo meio

    bom desde que atinja o objetivo: viver. Em mundo assim no surgiu ainda a

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    ideia do respeito propriedade alheia, ideia que produto de longa elaboraosocial na convivncia. Se, com o progresso, a coexistncia dos impulsos leva, pouco a pouco, sua coordenao, o homem, todavia, aprende a executar oesforo de aquisio e, aplicando nele mltiplas atividades, forma os instintos

    que a convivncia disciplinar em formas mais evoludas e pacficas, trans-formando-os em atitudes de produo, em qualidades tcnicas, em hbito detrabalho. A fase primitiva de formao , em seu tempo e lugar, necessria,embora, em sociedade civilizada, revele o involudo. De fato, atravs do fur-to que se formam as capacidades, porque estimula a inteligncia e a atividade.Se, em fase primitiva, as leis da vida premiam o ladro com a posse, isso mos-tra que, ao nvel dos selvagens, o sistema pode ser justo e servir a determinadafuno. Comea-se, assim, por este modo, a formar no indivduo essas quali-

    dades que mais tarde constituiro o mrito, isto , o trabalho, a habilidade,primeiros dos elementos constitutivos do direito de posse e, de fato, adaptadosa manter os bens nas mos do possuidor, protegendo-lhe e mantendo-lhe aposse. O processo evolutivo parte do furto e vai em direo ao instinto e ca-pacidade de produzir, representativos do mtodo de aquisio em plano maisevoludo. A propriedade no deriva de momento nico, mas formao cont-nua; economia de caminho. No basta conquist-la, preciso saber mant-la.Pode acontecer, ento, ter o desonesto, que conquista a propriedade atravs dofurto, adquirido aquelas qualidades de operosidade e de habilidade que lheformam a base e lhe permitem a conservao em sociedade civilizada. Sendosadio e equilibrado, isto , correspondente ao mrito, este segundo momentodo processo pode, segundo o seu valor, sanar e equilibrar o primeiro. Assim, produtos da injustia podem transformar-se gradativamente em produtos dejustia, e desse modo se explica por que se mantm eles de p, quer dizer, co-mo alguns ladres possam gozar em paz riquezas roubadas. Nestes casos, o

    pecado original da aquisio ilcita vai pouco a pouco sendo absorvido e neu-tralizado por aquela dose de trabalho e habilidade que o sujeito possui e de-senvolve. Essas qualidades ele as conquistou com suas canseiras; constituem-lhe, pois, o mrito, o direito; representam a porcentagem de justia com quepode compensar a injustia. No podemos parar apenas no momento da aqui-sio da propriedade, pois, nas trocas e na administrao, ela se reconstitui acada momento. Pode at acontecer o caso oposto, em que a honestidade, naaquisio, seja depois corrompida por dose to grande de preguia e de inapti-

    do, isto , de demrito, que fique neutralizada em sentido oposto, e se chegue

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    perda da propriedade honestamente adquirida; isso tambm justo. Assim, aposio do justo pode passar a ser a do injusto; e a do injusto, a do justo. Co-mo, na fase mais baixa, o objetivo era roubar para viver, hoje o objetivo pro-duzir, e a lei do mrito tende a atribuir a propriedade a quem melhor saiba tra-

    balh-la e faz-la dar frutos para o bem de todos. Esta higienizao retificado-ra pode funcionar mais ou menos, mas a propriedade permanece sempre nadependncia da lei do mrito, isto , em estrita relao com a porcentagem demrito contida no fenmeno, porque essa porcentagem que lhe estabelece ograu de justia e de equilbrio. Simples caso de relao. Pode-se assim prolon-gar a vida de posse viciosa at ao caso-limite do resgate, que se verifica quan-do todo o dbito originrio esteja pago com trabalho e rendimento sociais,como tambm se pode, de outro lado, perder posse justamente conquistada,

    usando-a injustamente. Todo caso depende dos elementos constitutivos parti-culares e, por isso, se desenvolve diversamente. Mas o princpio segundo oqual se desenvolve nico e imutvel: o da justia e do mrito.

    Muda assim o conceito da vida, a partir da mais elementar base da socieda-de: a propriedade. Se toda aquisio de bens pode conter dada porcentagem defurto, em proporo a essa porcentagem que a propriedade ser corrompidae, portanto, levada destruio. A propriedade gerada pelo furto nasce enfer-ma de ntimo desequilbrio e no pode tornar-se sadia e resistente seno grada-tivamente livrando-se dessa molstia, isto significa ela tornar-se constitudapor sistema de foras em equilbrio estvel. Assim, o mritofilho da ho-nestidade, da operosidade e do valor individual que vale, pois estabelece ograu de equilbrio do sistema, o grau de pureza do organismo e, portanto, o seugrau de resistncia. Se h mrito, a propriedade, embora roubada, renasce; seno, automaticamente atrai o furto e, por natureza, tende a fugir das mos dopossuidor. Assim a fora protetora dos bens, e quem compreendeu tal meca-

    nismo no busca proteo na tutela jurdica e nas astcias administrativas, masno intrnseco direito representado pelo mrito. Esta a semente criadora daverdadeira riqueza, a nica que a mantm. S nessa fora existe aquela segu-rana que em vo pedimos s defesas legais. Eis tudo quanto encontramos nasrazes da vida social. Todo o nosso mundo falso, baseia-se na iluso e, porisso, naturalmente, colhe o que vimos. Mas isso tudo quanto de fato merece.Infelizmente, o involudo domina, constituindo a iluso sua natural herana.Um dia compreender-se- que vale o que somos, queremos e sabemos fazer e,

    portanto, merecemos, e no o que possumos. O objetivo, hoje, possuir, e o

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    homem o meio, no entanto possuir meio, e o homem, o fim. Pode-se perdero que se possui, mas no o valor e o mrito, que esto naquilo que somos.Quem merece e sabe, tem em si o germe que o far recuperar, multiplicado porcem, tudo quanto perdeu. Quem no merece usurpador em posio de equil-

    brio instvel, continuamente ameaado pela tendncia da Lei justia, isto , aoequilbrio pelo qual as foras biolgicas continuamente o assediam, no seacalmando enquanto no lhe houverem retomado o que foi mal ganho. O efeito dado pela causa; toda forma de vida tem as caractersticas derivadas das de seugerme. Assim, todo fenmeno se plasma e se desenvolve diversamente, segundoa natureza das suas foras determinantes. S quando o homem comear a com-preender esses princpios to elementares, poder comear a chamar-se civiliza-do. Neste captulo desenvolvemos, do ponto de vista prtico e concreto, come-

    ando pelo fundamento da vida em sociedade, os conceitos deA Grande Sntesesobre a propriedade (cfr. Cap. XCIIIA Distribuio da Riqueza).

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    III. TIPOS BIOLGICOS E MTODOS DE AQUISIO

    As consideraes do captulo precedente nos levaram ao interior e subs-tncia do instituto jurdico-social da propriedade, com o qual o homem disci-

    plinou o fenmeno biolgico, comum at aos animais, da aquisio dos bens,fato que interessa sumamente vida, porque representa o meio necessrio sua continuao. Mas vimos que essa disciplina para na superfcie e que, sozi-nha, no suficiente para regular estavelmente as foras do fenmeno. No senega com isso a importncia dos ordenamentos jurdicos, mas observa-se queeles no sabem ordenar seno at certo ponto e devem ser, por isso, completa-dos com princpios mais perfeitos, que nos permitam penetrar mais a fundo nasubstncia do fenmeno. Trata-se de progredir, e sabemos que a evoluo

    processo de progressiva harmonizao. No se trata, por isso, de demolir ne-nhuma das preciosas conquistas j realizadas, frutos de fadigas e obra de g-nio, mas to-somente de continuar o caminho, de ajuntar coisa nova ao que jest feito e aperfeioar-se mais. Chegado ao mais alto grau de maturao espi-ritual, o homem, espontaneamente, se apercebe da insuficincia da disciplinajurdica para atingir a justia, meta instintiva da vida, e conseguir a estabilida-de, condio necessria fruio. Nasce ento a necessidade de completamen-to, o que implica em mudana de posio e renovamento de mtodo. Assimcomo na superfcie das coisas h imperfeio, caducidade, agitao e desor-dem, mas, na profundidade, h perfeio, estabilidade, calma e harmonia, tam-bm h justia no fundo das coisas, embora a injustia aparea no exterior. Aevoluo, levando o centro da vida para o interior, torna atuais e vivos, fazen-do-os emergir do fundo, esses estratos mais internos. Assim, afirmando-se,vem tona a justia, e a ela, tambm nos eventos humanos, reservada a ulti-ma palavra, no importa depois de quo longas vicissitudes. Com a evoluo

    aflorar mais evidente a substncia das coisas, mais facilmente esta se revelar,reduzindo ao mnimo o obstculo da ignorncia humana. Ento, o mtodo atualda fora ou da astcia ser considerado como mtodo de primitivos, ignorantesdas leis da vida; mtodo de natureza falsa, desequilibrado, destinado por isso runa; mtodo intil, pelo menos em face do objetivo que se prefixou. Chegadoao mais alto grau evolutivo, o homem compreender que, de fato, no fundo, narealidade das coisas, existe balana de justia, representada pelo equilbrio que-rido pela Lei, e que nela intil pretender colocar pesos falsos para obter de

    Deus uma falsa medida em vantagem prpria, intil porque essa fora represen-

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    ta invisvel peso verdadeiro, que, cedo ou tarde, faz tudo voltar medida certa,segundo a justia e a verdade. Dar-se- ento o valor merecido a este ntimoimpondervel, que tanta fora possui, mas de que hoje geralmente fugimos;compreender-se- ento como os valores reais, interiores, possuem, comparati-

    vamente, maior poder que os valores fictcios, exteriores.Dado que a posse dos bens necessria vida e desejada e imposta pelaLei como necessidade inderrogvel, ela tambm representa direito. Mas, paraeste poder realizar-se, indispensvel que se verifiquem as condies supramencionadas. Em tal caso, atua espontaneamente; em caso contrrio, embara-ado pelo prprio homem, no pode obter seu cumprimento. Se o homem se-guisse a Lei, esta, naturalmente, proveria todas as suas necessidades. Essa abase do fenmeno da Divina Providncia, sempre pronta a intervir espontane-

    amente, apenas nossa conduta lhe permita, pondo-nos nas condies necess-rias para que ela possa verificar-se. A garantia dos bens no nos pode ser dadapor simples enquadramento exterior, que de modo algum decisivo, mas so-mente pelas ntimas qualidades conferidas por nossa conduta ao prprio fen-meno e pela fora com que o tivermos construdo. verdade que a posse dosbens constitui direito, e o mundo est farto de bens a serem gozados pelo ho-mem. Eles esto prontos espera disso, debaixo das nossas prprias mos,mas posse se antepe o obstculo criado pela ignorncia humana, que nosabe apreend-lo ou o apreende mal, violando a justia substancial jacente nofundo do fenmeno da posse, que se desfaz sem ela, pois esta necessria paraque o direito de posse, inerente vida, possa exercitar-se. Torna-se necessriocompreender o erro e superar a iluso. O que mais vale no possuir na formaexterior, mas na interior; no nos efeitos materiais, mas nas causas espirituais;no nas garantias legais, mas nas nossas capacidades e qualidades. Essa anica riqueza verdadeiramente segura e inalienvel, que no pode ser roubada

    porque inseparvel da personalidade, dada pelas nossas prprias qualidades. segura e duradoura porque a nica verdadeira, honesta, justa, em equilbriocom as foras da vida. Derivada das prprias qualidades, filha do mrito, porque as qualidades que nos tornam capacitados s so conquistadas comnosso prprio trabalho, pois a nossa atividade e fadiga que as gera e fixa. Seas possumos, porque as conquistamos. S ento os bens so verdadeiramen-te nossos, porque temos, fixadas em ns como instintos, as capacidades parasab-los manter e, se os perdermos, para saber reconquist-los. Doutro lado,

    quando no se possu as capacidades, no existe mrito, portanto no h direi-

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    to, assim o dinamismo do fenmeno cheio de desequilbrio e, cedo ou tarde,se esgota. Ento os bens tendem a nos fugir das mos; perdemo-los porque noos sabemos administrar e, perdendo-os, no sabemos reconquist-los. Eis co-mo finalmente, no obstante todas as protetoras barreiras humanas da injustia,

    a interior justia da Lei emerge. Esta, atravs das mais profundas foras davida, tende a estabelecer essa justia, com todos os seus meios. E o homemque procura usurpar esta justa posio, posio que no corresponde ao seumrito, torna-se, com seus mtodos de usurpao, o construtor da injustiasocial. Bastaria seguir a natural lei de Deus para que espontaneamente reinassea justia econmica e houvesse o necessrio para todos, efetuando-se natural-mente o equilbrio entre capacidade, mrito, direito e gozo, equilbrio que aLei quer e o homem, com tanta fadiga, procura violar.

    Tudo quanto dissemos em relao disciplina jurdica da propriedade e posse dos bens no seno um aspecto do dinamismo fenomnico e dos equi-lbrios de que ele se compe e se sustenta. Pode dar-se a tudo isso sentido maisuniversal. Poderemos ento dizer que a cada plano de evoluo correspondeum respectivo grau de realizao da justia e nada mais. Quem age no nveldas leis animais e lhe segue os mtodos poder obter posse, poder, domnio,vitria, como prmio da sua fadiga, mas o prmio ser efmero, porque a esta-bilidade caracterstica somente de planos de vida mais evoludos e harmni-cos. Poder servir-se da fora e da astcia, mas espere tambm iluso e enga-no. O sistema da vida no contm, naquele nvel, maior grau de justia queesse. O homem no pea nem espere mais. No fale mais de justia verdadeiraquem vive no reino da fora, e no a espere tambm. A verdadeira justia, queele procura em vo, pertence a plano de vida mais alto, e dele fica excludoquem venceu custa dos mtodos do mundo animal. Que ele se contente emdominar, vingar-se, esmagar. Isto lhe exaure o direito, pois j recebeu merc.

    To logo se enfraquea, no invoque a bondade e a justia, mas considere-seinexoravelmente vencido. S o evoludo, seguidor do evangelho, ri-se dessealternado jogo de desequilbrios entre vencedor e vencido, rico e pobre, patroe servo. Mas s ele tem o direito de libertar-se, porque s ele desfez a miragemnecessria para induzir o involudo egosta a afrontar fadigas e provas que,doutro modo, jamais seria levado a suportar.

    Os homens so desiguais; no pertencem ao mesmo grau evolutivo. Se osbens para manuteno da vida so-lhe indistintamente necessrios, o modo pelo

    qual os homens os procuram lhes exprimem a evoluo, isto , assume o papel

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    Pietro Ubaldi A NOVA CIVILIZAO DO TERCEIRO MILNIO 32

    de ndice revelador da natureza humana. Aprofundemos a classificao dos tiposhumanos com base no real valor biolgico, de acordo com a real natureza doindivduo, em face da qual, como j dissemos, as distines sociais tm valortodo fictcio. Escalonemos, assim, os vrios tipos humanos conforme os mto-

    dos de aquisio dos bens. Trs podem ser esses mtodos: furto, trabalho, justi-a, prprios de trs tipos biolgicos, que sobem do involudo ao evoludo, isto ,o selvagem, o administrador, o espiritualista. Constituem trs raas de homens,correspondentes s trs leis da vida: fome, amor, evoluo (cf. Histria de umHomemCap. XXIII, eA Grande SnteseCap. LXXVIII).

    O primitivo escolhe como meio de aquisio dos bens o furto, ainda fre-quente neste mundo, que chamam civilizado. O raciocnio este: Por que heide cansar-me, procurando, com o suor do trabalho, ganhar o necessrio, se

    posso facilmente conseguir tudo, roubando meu vizinho?. Nesse nvel, a ig-norncia das reaes das foras da Lei completa e o princpio de coordena-o coletiva inconcebvel; a inconscincia do indivduo e sua falta de prepa-rao para formas de vida superiores animalidade atingem o mximo. Psico-logia desagregadora, catica, anrquica. Manifesta-se desregrado e sem con-trole o instinto de subtrair para si mesmo tudo quanto satisfaa necessidades edesejos. o progresso que, cada vez mais, ordena as coisas, visto que a evolu-o significa subida ao encontro de Deus e aplicao sempre maior de Sua Lei.De fato, to logo a humanidade retrocede em crises de revolues ou guerras ea superestrutura jurdica desaba, a vida involui e esse mtodo do primitivo ento reativado. A disciplina jurdica, representada pelo instituto da proprieda-de, vacila e retorna ao furto, fase precedente mais involuda, da qual a socie-dade conseguiu emergir. No trabalho de construir e manter-se no alto, as cole-tividades humanas passam por esses perodos de cansao, descenso e aniqui-lamento, em que retornam s primitivas formas de aquisio. Ento, prospe-

    ram os involudos, oprimidos pelo enquadramento da ordem social. Estaopresso sentida pelos involudos, porque imaturos, no entanto, para os maisadiantados, essa ordem constitui a forma de vida espontnea e normal. Admi-tem-se os involudos a conviver nessa ordem, com os mais evoludos,