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    PREFCIO............................................................................................................ 1I. DO PASSADO AO FUTURO ........................................................ 3

    II. O EVANGELHO E O MUNDO ................................................. 18

    III. MATERIALIZAO OU ESPIRITUALIZAO ............... 34

    IV. AS RELIGIES E A VERDADE ............................................. 55

    V. A IGREJA ..................................................................................... 69

    VI. DINMICA DA EVOLUO .................................................. 87

    VII. O FUTURO DO HOMEM ..................................................... 103

    VIII. O PROBLEMA DA MORAL I ......................................... 121

    IX. O PROBLEMA DA MORAL II ........................................... 141

    X. REUNIFICAO UNIVERSAL ............................................. 161

    Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse) ........................................ 168

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    Pietro Ubaldi EVOLUO E EVANGELHO 1

    PREFCIO

    O presente livro o 6o da II Obra. Ele segue o 5ovolume,A Grande Bata-lha,do qual uma continuao e ampliao, junto com ele constituindo o 1o

    termo da 2

    a

    Trilogia da II Obra.Como expliquei no prefcio deA Grande Batalha,onde o leitor poder me-lhor conhecer o sentido da minha produo intelectual neste perodo e encon-trar mais pormenorizadas explicaes, estes dois volumes representam a fasede descida do terreno das grandes vises orientadoras dura realidade da vidana prtica, feita de lutas e dificuldades, num mundo que deseja e quer realizarcoisas bem longe de um ideal superior. No desenvolvimento da Obra estamos,ento, numa fase de atuao, porque os princpios gerais so agora levados ao

    contato com os fatos concretos, isto , com o mundo no como deveria ou po-deria ser, mas como ele na realidade.

    Disso nasceu um choque que, em A Grande Batalha,foi analisado sob umponto de vista individual, como consequncia de experincias pessoais, e, nes-te volume,Evoluo e Evangelho, observado sob um ponto de vista coletivo,isto , como um choque entre os superiores princpios ideais do Evangelho e onosso mundo, que, na realidade, vive segundo princpios opostos. assim que,no presente livro, o assunto de A Grande Batalha transferido para alm doslimites do caso particular, situando-se no mais vasto terreno social e religioso,tico e biolgico. Desse modo, a viso desenvolvida neste 2o volume completaa do volume anterior e o fenmeno fica estudado nos seus dois aspectos: oparticular, da luta individual entre o evoludo e o involudo, e o universal, daluta entre os ideais e a realidade da vida humana. Assim, de ambos os pontosde vista, nos dois volumes, analisado o problema da possibilidade da realiza-o do programa evanglico de Cristo em nosso mundo.

    Tudo isto foi pessoalmente vivido e experimentalmente realizado, obser-vando como o fenmeno, nas suas duas dimenses, particular e universal, de-senvolveu-se no meio da luta entre as foras materiais do Anti-Sistema e asespirituais do Sistema, princpios que aqui vemos funcionando nas suas apli-caes prticas. Esta uma histria cuja revelao se iniciou na introduo dolivroProfecias, Gnese da II Obra,continuou no volume seguinte,A GrandeBatalha, universalizou-se neste, Evoluo e Evangelho,e continuar nos de-mais, sempre e cada vez mais em contato com a realidade da vida neste mun-

    do, como concluso prtica e positiva da II Obra e como controle racional e

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    Pietro Ubaldi EVOLUO E EVANGELHO 2

    confirmao experimental, que provam a verdade dos princpios sustentadosem todos os volumes.

    So Vicente, Pscoa de 1958.

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    I. DO PASSADO AO FUTURO

    Arevoluo evanglica. Do involudo ao evoludo, do passado ao futu-ro. Conhece-se o bitipo por sua reao. Sem merecimento no h Provi-

    dncia. Cada um est no lugar que lhe compete. No se condena ningum,mas urge civilizar-se.

    A concluso resultante da experincia narrada no volume precedente, AGrande Batalha,confirma que o Evangelho de fato verdadeiro. E isto noapenas como verdade teoricamente reconhecida e proclamada, mas tambmcomo verdade experimental, comprovada pelos fatos. A prova deu resultado, evimos quais as condies necessrias para que tivesse xito.

    Agora perguntamos: bastar isso? Que desvio causar no caminho humanoo fato de termos narrado, demonstrado e vivido um caso? No permanece tudocomo antes? Jamais nos convencemos com a experincia alheia, s com a pr-pria. Muitos continuaro cticos, porque se acham mergulhados numa verdadebem diferente, tangvel e premente. Indicar-lhes a maneira de se libertaremdela significa pretender que se afastem de seu prprio tipo biolgico, de suaforma mental e personalidade, que constituem suas reais condies de vida. Osfatos em que se baseia sua existncia falam diversamente, mostrando-lhes umarealidade diferente. Dessa forma, so coagidos a acreditar nesta realidade, naqual, portanto, tm de fundamentar-se na vida prtica. Tambm acontece as-sim quando, mesmo a cincia nos ensinando que a matria seja apenas energiae velocidade, a maioria continua, pelos usos do contingente, a consider-lacomo slida, inerte e resistente, pois este o modo como ela se comporta e usada na prtica. Ento a noo cientfica da verdadeira estrutura da matriapermanece um fato terico, do qual no tomamos conhecimento em nossas

    aes.Pode acontecer o mesmo com a verdade do Evangelho. Mesmo que alguns,por inteligncia e raciocnio, possam reconhec-la, o homem comum pelofato de estar essa verdade situada em outro plano de vida, numa posio maisavanada ao longo da escala da evoluopode considerar o Evangelho comouma grande verdade de fato, mas to superior, que no lhe diz respeito, por-que, encontrando-se fora de sua realidade, impraticvel para ele. Ento, paraque serve esta narrao? Os cticos, depois de tantas belas palavras, voltaro

    realidade do mundo, que lhes d razo a cada momento.

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    Continuemos a ser prticos. O homem se encontra diante de outra realidade,to concreta e positiva, que no permite dvidas a seu respeito. A luta pelavida um fato. E, se cada um de ns est vivo na Terra, deve isso ao fato deter realizado e vencido essa batalha. O Evangelho poder, sem dvida, ser a lei

    do futuro da humanidade, mas no certamente a lei do seu passado. E o ho-mem, mesmo tendo de se tornar diferente para o seu futuro, formado poraquele seu passado. A grandeza dos povos e das civilizaes feita atravs delutas ferozes, e, se a humanidade chegou at ao estado atual, deve isso ao fatode ter sabido, com todos os meios, vencer os elementos, as feras e os inmerosinimigos prontos a atac-la. Assim se explica essa psicologia de luta, pois sficou vivo quem soube vencer. Esta foi a lio mais importante que o homemteve de aprender no passado. E, se acaso foi alcanada alguma forma de civili-

    zao, esta teve de ser imposta com a fora a um ambiente hostil, j que todasas outras formas de vida eram inimigas do homem e procuravam apenas esma-g-lo, para substiturem-se a ele na vida. O homem comeou o seu caminhoentre as feras, e no entre os braos do Pai Celestial, que estava ento bemlonge de poder revelar-se, como o fez depois, por meio de Cristo, no Evange-lho e como sempre mais poder fazer medida que subimos com a evoluo.Sem dvida, esse o caminho e nesse sentido temos de nos transformar. Masisto no anula o fato de que esse foi o nosso passado e de que ele explica onosso presente.

    Eis que a uma to longa histria biolgica vem sobrepor-se o Evangelho,com a potncia revolucionria das grandes coisas que descem do Alto, paraobrigar o homem a avanar pelo caminho da evoluo. O passado resiste, forteem sua experincia milenar. O futuro acossa, ansioso por vir luz. Passado efuturo se encontram na luta presente, como dois inimigos irreconciliveis, quedisputam o campo. E o homem atual tem de viver no meio desse terrvel con-

    traste.No volume precedente, A Grande Batalha, entramos, com a narrao da-quele caso vivido, no mago dos maiores problemas da religio, da moral, davida individual e social, bem como da evoluo biolgica. Demo-nos contadas dificuldades enfrentadas e da necessidade de resolv-las. Trata-se de pedirao homem que, seguindo o Evangelho, d um grande salto a frente, ao longoda escala da evoluo. Trata-se de aprender um novo mtodo de vida, que estnos antpodas do usual, substituindo o sistema do involudo pelo do evoludo.

    Ao ensinar isto, inevitvel chocar-se contra a muralha das resistncias biol-

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    gicas, diante das quais at mesmo o Evangelho, to poderoso pela sua prprianatureza, tantas vezes se acha defraudado. Como esperar um comportamentoprprio de evoludos, mesmo depois de haver demonstrado todas as suas van-tagens, num mundo em que predomina outro tipo biolgico?

    Vimos que, no caso narrado, Cristo venceu. Muitos, porm, podero per-guntar: mas Cristo vence sempre? O homem comum precisa calcular para ga-rantir o resultado. Para ele, o jogo da vida est cheio de incgnitas e perigos,no lhe dando oportunidade para fazer experincias evanglicas. Que garantiaspodemos dar-lhe de que, mesmo no caso dele, homem comum, Cristo vencersempre, se, para conseguir essa vitria, necessrio possuir tantos requisitosque ele no tem e satisfazer tantas condies que esto alm de suas possibili-dades? De que serve explicar-lhe uma arte, se ele no sabe pratic-la; ensinar-

    lhe uma msica, se ele no possui o instrumento para execut-la? Como pre-tender que uma criatura, obrigada a lutar pela sua vida, sacrifique-a, pondo emperigo a prpria vantagem material mais tangvel, por amor de um ideal lon-gnquo e hipottico? Se no se pode exigir que o homem seja antiutilitrio,como faz-lo compreender um tipo de utilidade assim complexa e to diferenteda que ele est habituado a realizar em forma imediata e concreta na vida coti-diana? Tanto mais isto verdade, porquanto o passado sobrevive e existe, ga-rantido por longussima experincia, representando mtodos diuturnamentecomprovados, ao passo que o novo cai no inexplorado, numa perigosa aventu-ra cheia de incgnitas. E quantos milnios de novas experincias sero neces-srios para sair das tentativas e poder substituir, com segurana, o velho pelonovo!

    A revoluo grande e atinge at as razes da prpria vida. Trata-se desubstituir a fora, pela justia; a cupidez de possuir, pela honestidade; a lutadesesperada para sobreviver, pelo amor evanglico; o poder da Terra, pelo do

    Cu. Trata-se de defender a vida e chegar vitria unicamente com os recur-sos do impondervel, abandonando todas as armas terrenas. Trata-se de conse-guir compreender e, depois, praticar um mtodo que parece emborcar todos osnossos recursos e defesas, levando-nos morte. Quem no olhar para issocom medo, procurando pr-se a salvo? Como pode algum que, pela prpriardua experincia, conhece a realidade da vida confiar no Evangelho, se este,em primeiro lugar, corta-lhe as garras, sua nica arma disponvel para defesa?Explica-se assim porque to poucos o levem a srio e o vivam. Compreende-se

    tambm porque as religies que o tm por base tenham sido obrigadas a descer

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    a tantas adaptaes. As experincias evanglicas que alcanam xito na glriada santidade esto to condicionadas a tantas circunstncias e requisitos, que ohomem comum prefere no se arriscar a tent-lo. Quem possui no esprito tan-to poder, que lhe permita dispensar qualquer outra defesa, jogando fora as ar-

    mas da fora e das astcias humanas? O Evangelho, sem dvida, uma m-quina perfeita, mas quem possui todas as qualidades aptas a faz-la funcionar?Quando isto se verifica, certo que vem seguramente o milagre da salvao edo xito. O mais difcil, porm, achar no homem essas qualidades, que soindispensveis para que acontea o milagre. como se entregssemos um beloavio a jato para um selvagem. Se este, por no saber us-lo, no quiser sematar, voando, deve utiliz-lo para qualquer outro fim, exceto aquele para oqual foi construdo. Assim tambm, em geral e na prtica, acontece com o

    Evangelho.At agora, nesta nossa narrao, colocamo-nos no papel do homem evang-

    lico. Coloquemo-nos agora na pele do tipo comum, que vive no mundo, e ado-temos sua psicologia e seus mtodos. Com suas afirmaes, o Evangelho esta-belece de imediato a mais ntida posio de inconciliabilidade com o mundo:Ningum pode servir a dois senhores: ou amar um e odiar o outro, ou seafeioar a este e desprezar aquele. No podeis servir a Deus e a Mamon;Procurai acima de tudo o reino de Deus e Sua justia, e todo o resto vos serdado por acrscimo; Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e d aospobres; mais fcil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que umrico entrar no reino dos cus; Se algum quiser seguir-me, negue-se a simesmo, tome sua cruz e me siga. Porque quem quiser salvar a sua vida, perd-la-; e quem perder a sua vida por minha causa e do Evangelho, salv-la-.

    Todos ns sabemos bem quanto esses conceitos esto distantes daquelesque regem a vida comum. Como pode o nosso mundo conseguir viver nessa

    posio evanglica, se ela representa o seu mais completo emborcamento?Explica-se assim por que todas as religies crists que adotaram o Evangelhopossuem grandes riquezas e, embora professem o mandamento mosaico dono matar, no s tomam parte nas guerras como, ainda por cima, benzem asarmas. Assim, a descida do Evangelho Terra se reduz a uma luta entre o ide-al, que quer cortar as garras fera, e esta, que, para no morrer, no quer dei-x-las serem cortadas, considerando-as sua nica defesa. Quem renuncia vida? E como se lhe pode pedir to extremo sacrifcio?

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    Fazemos estas consideraes porque devemos ter a coragem de penetrarcompletamente a realidade, at ao fundo. As nossas concluses devem ser ex-tradas de uma observao imparcial dos fatos, mesmo daqueles que possamdepor contra a tese por ns defendida at aqui. Sem dvida, ela extremamen-

    te ousada, no entanto trata-se apenas da velhssima tese do Evangelho, que, detanto ser repetida, todos j conhecem de cor. O que a torna ousada tomar oEvangelho a srio, pretendendo no preg-lo, mas sim viv-lo no mundo dehoje; apresentar o Evangelho pelo seu lado utilitrio, demonstrando que eled rendimento prtico maior do que o obtido com os mtodos usados pelomundo, julgados melhores; no mais fazer apelo bondade e f como sem-pre se fez apelo intil hoje, porque ningum mais cr mas apoiar-se nacapacidade de raciocinar e calcular das pessoas inteligentes. Procuramos, as-

    sim, fazer compreensvel ao homem moderno, que se vai civilizando, o funci-onamento de to maravilhosa mquina, que h dois milnios o mundo tementre as mos, sem ter ainda compreendido o fruto que ela pode dar, quandosouber faz-la funcionar.

    Apresentemos um caso prtico. Fulano bom, generoso e honesto, o biti-

    po que a luta pela seleo do mais forte e astuto vai cada vez mais fazendodesaparecer da face da Terra. Evangelicamente, ele deps as armas. Procuran-do s o bem e a justia, est sempre pronto a sacrificar-se. Quer ser perfeito,como diz o Evangelho: Toma sua cruz e nega a si mesmo.

    Num regime de reciprocidade, numa sociedade organizada, o prximo lheretribuiria na mesma moeda. Mas, nas condies atuais, o prximo, precisandopensar em primeiro lugar em si mesmo, no retribui nada. As posses e a posi-o social alcanada constituem a base da estima e do valor de um indivduo.O inimigo, ao ver que a vtima no s se deixa espoliar mas tambm o perdoa,

    aproveita-se largamente disso, sugando-a e pisando nela at faz-la morrer. prprio do homem evangelicamente inerme ser o mais procurado pelos lobosvorazes, que o farejam distncia e, uma vez em suas garras, no abandonammais a presa. Para eles, este o banquete da vida, ao qual jamais renunciam.

    Nasce aqui ento um problema. Tem a vtima o direito de se deixar devorar,s para engordar os lobos; de se deixar espoliar, s para enriquecer os ladres?No significa isto ajudar o mal a prosperar custa dos melhores? Com essasconsideraes, o homem comum logo se sente autorizado reao e pe-se a

    lutar. Chama a isto de legtima defesa, direito vida e coisas semelhantes, jus-

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    tificando assim a exploso de seu instinto, que no esperava outra coisa para semanifestar e, com esta ao, revela qual a natureza do seu tipo biolgico.Ora, a reao diversa segundo a natureza de cada um, e a forma dessa rea-o que o revela. Quando o indivduo reage dessa maneira, revela com isso seu

    bitipo normal involudo, sempre pronto a imergir novamente na lei da anima-lidade, que representa o seu ambiente natural, ao qual so proporcionais osseus instintos. Ora, para ele, vestir a roupagem do homem evanglico repre-sentaria apenas um modo de enganar a si mesmo, porque suas reais qualidadese instintos no correspondem posio assumida. Neste caso, teremos apenasum indivduo deslocado, assumindo uma posio falsa, que s pode levar falncia. Para voar e resistir ao voo, tirando proveito dele, mister possuir asqualidades do pssaro. Um rptil no pode fazer o mesmo. Assim, para ser

    evoludo, indispensvel possuir suas qualidades, pertencer quele determina-do tipo biolgico, porque nenhum indivduo pode achar-se em equilbrio est-vel seno no seio da lei de seu plano, que lhe corresponde aos instintos e natureza.

    Ora, ao assalto supracitado s o evoludo pode responder evangelicamente,porque s ele o sabe fazer, correspondendo isto s suas qualidades. S ele sabefazer funcionar a delicada mquina do Evangelho, s ele sabe pr em movi-mento estas foras diferentes, inacessveis aos outros, que no podem contarcom elas e, assim, desprezam-nas, porque so inutilizveis. S esse tipo dehomem pode permitir-se o luxo de viver um Evangelho integral, abandonandoas armas e abraando o inimigo que o estrangula. Para o ser comum, isto nopassa de loucura, mas nessa loucura que se revela a diferena do tipo biol-gico. Cada um o que e, com o prprio comportamento, revela o que seja. intil vestir-se como evoludo, quando no se tal. E cada um, de acordo con-sigo mesmo, vai situar-se no plano que lhe compete, porque, sendo este o seu

    prprio, encontra a o ambiente adequado para viver. O homem comum estproporcionado ao ambiente terrestre, onde encontra os elementos correspon-dentes sua natureza e est apto a poder neles realizar-se. Isto lhe d o direitode viver na Terra, fazendo dela naturalmente sua prpria ptria, onde ele seencontra vontade e o evoludo se acha constrangido. Isto, no entanto, tam-bm torna mais difcil a sua sada da, que para o evoludo fcil e espontnea.O involudo encontra na Terra inimigos a cada passo, mas possui, instintiva-mente, como sua maior sabedoria, a habilidade de fazer guerra contra eles,

    para no se deixar esmagar. Dessa forma, todos passam a vida se agredindo.

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    Para o evoludo, isto estpido e bestial, mas, para eles, torna-se at alegre,porque vencer um inimigo representa a maior vitria da vida. O evoludo en-contra inimigos ainda maiores, mas repugna-lhe guerre-los, porque so o seuprximo. Estes agridem, mas ele perdoa e deixa-se espoliar, sendo tratado co-

    mo louco por haver perdoado e ter-se deixado roubar. Ele mesmo no se adap-ta a viver na Terra, onde tudo lhe sai errado, terminando por ser expulso dela.Ora, isto, que constitui a maior condenao para o involudo, porque significaa expulso do prprio ambiente e, portanto, a privao da nica forma de vidade que capaz, representa um lucro, e no uma perda, para o evoludo, que sev assim expulso daquele ambiente e lanado para o seu prprio, regressandocom isto sua prpria forma de vida.

    Todavia h mais ainda. Se o evoludo se encontra na Terra, ainda que seja

    como exceo, para realizar alguma tarefa, e no por nada. Essa tarefa inte-ressa vida em sua fundamental exigncia, que a evoluo. Ento a vida,sendo vivida por ele, no pode desinteressar-se de sua sorte e, com sua inteli-gncia, movimenta foras dinmicas de tal forma que a existncia biologica-mente preciosa do inerme evanglico no seja desperdiada para apenas en-gordar os lobos vorazes, de que o mundo est cheio. A vida defende-se a simesma em todos os seres que a representam e, sobretudo, naqueles que consti-tuem seus maiores valores. Se ela protege os seres inferiores, fornecendo-lhesarmas naturais, necessrias para resistir na luta, impossvel admitirdada ainteligncia que a vida demonstra a cada passoque no fornea meios defen-sivos para os seres superiores, aos quais, justamente por isso, est confiadauma tarefa mais importante para a obteno de seus fins. Eis a razo biolgicapela qual acontece aquele milagre que observamos no caso examinado no l-timo volume1.

    Se, nos planos mais baixos da vida, o ser submetido dura escola da luta

    pela seleo do mais forte, isto tem sua boa razo de ser. Se no houvera essapremente necessidade de se manter sempre alerta para o ataque e a defesa, oque induziria o ser a realizar experincias para aprender, desenvolver a inteli-gncia e assim evoluir? Devorar-se mutuamente constitui uma das maioresocupaes do animal, tanto quanto fazer a guerra o para o homem. Esta alei de quem vive nesse plano de vida. Mas isto se torna absurdo to logo sesuba a planos mais evoludos, onde, para atingir os seus fins, a vida precisa

    1A Grande Batalha (N. do T.)

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    realizar um trabalho totalmente diferente. Para ela, conhecedora de tudo, notem sentido um evoludo se exercitar no jogo de ataque e da defesa, porque diferente a seleo que se deve fazer nos planos superiores. Ento, para umevoludo, fazer semelhante trabalho perda de tempo, intil dispndio de

    energia, representando uma atividade atrasada e contraproducente. naturalento que a vida, porquanto demonstra ser sbia e econmica, no dirija, como mecanismo de suas foras, o ser para atividades que, neste caso, o fariamretroceder para planos evolutivos inferiores e procure, ao contrrio, impeli-lopara os mais adiantados, como supremo fim da evoluo, a lei fundamental davida.

    Observando bem tudo, no se pode acusar a ningum. Compreende-se quetudo apenas est em seu devido lugar, para realizar o trabalho que compete a

    cada um, de acordo com a sua natureza. O involudo est confortvel na Terra,com as duras condies de luta encontradas aqui, porque estas so proporcio-nais a ele, sendo adequadas s qualidades instintivas que o revestem e o tor-nam apto a esse ambiente. O evoludo a est deslocado, numa posio de exi-lado, da qual dever ser libertado e pela qual ser recompensado logo que tivercumprido sua funo civilizadora entre os mais atrasados. Desenvolve-se as-sim o jogo da vida, que se protege em ambos os casos com recursos prprios,embora diferentssimos. Para o involudo, existem seus instintos belicosos e asarmas da luta terrena. Para o evoludo, vem a interveno das foras do Alto,que realizam o que aparece como prodgio no plano do primeiro. Colocar-se-,ento, a favor do Evangelho quem tem inteligncia para compreend-lo e umgrau de evoluo suficiente para poder pratic-lo. Os outros, totalmente con-vencidos, no segredo de seus coraes, de que se trata de loucura perigosa,evitaro viv-lo seriamente e o deixaro no terreno terico, limitando-se a umagloriosa exaltao verbal, sendo esta a nica forma pela qual pode hoje o

    Evangelho existir na Terra, dado o grau de evoluo humana. Mas til repe-ti-lo, embora sem eco, porque, fazendo isto durante milnios, alguma coisa sefixa na forma mental das massas e a permanece. Assim, mesmo sem jamaispedir uma demonstrao racional, inacessvel maioria, a pregao realizauma funo educadora, utilizando apenas a sugesto.

    Desta maneira, ningum est errado e cada um tem o que lhe compete. Ohomem atual emerge de um recente estado de barbrie e, se pde chegar ataqui, ele deve isto justamente s suas capacidades combativas. Sem a luta fe-

    roz, de que ainda conserva o instinto, como teria podido desenvolver a sua

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    Pietro Ubaldi EVOLUO E EVANGELHO 11

    inteligncia? O passado exigia tal aptido, e assim se justifica a presena atualdos resduos. Por isso o involudo no merece condenao alguma. Est tudobem.

    Todavia, se esta posio atual se explica e se justifica diante do passado, o

    mesmo no acontece em relao ao futuro. Aceit-la para o futuro significaadaptar-se a viver naquele estado de barbrie. O homem atual, em vez de con-denao, merece antes at admirao, por ter sabido emergir at aqui de esta-dos to selvagens. Se, diante destes, ele pode julgar-se civilizado, est bemlonge de s-lo perante o seu futuro. Eis por que pode considerar-se o homematual como um ser ainda semisselvagem, que precisa urgentemente ser civili-zado. Eis a, ento, a funo do bitipo evoludo, para executar esse trabalhonecessrio, ou seja, retirar da barbrie a massa involuda, que ainda se encon-

    tra atrasada, vivendo no plano animal. Trata-se de multiplicar cada vez mais obitipo do evoludo, em substituio ao tipo involudo, mais atrasado; de aju-dar a vida neste seu laborioso processo de maturao dos espritos, exigidopela lei de evoluo; de secundar a histria no grande trabalho deste seu partodoloroso de evoludos, no mais como casos espordicos excepcionais, massim em massa, pois s essa massa poder formar a futura sociedade orgnicada humanidade, na qual o Evangelho ser finalmente vivido.

    Tudo isto, segundo o princpio pelo qual a sociedade dos seres que formama vida constituda por um sistema orgnico hierrquico, em que todos os se-res esto interligados e nenhum deles pode avanar sozinho, mas somente in-clinando-se sobre os irmos menores, para faz-los subir com ele.

    s belas exortaes do Evangelho o tipo corrente, apegado s realidades da

    Terra, responde desconfiado. Ir depois a Divina Providncia me salvar defato? E se o milagre no se realizar? Que tenho de seguro nas mos? Estando

    habituado a viver num mundo de traies, ele deve considerar a desconfianacomo uma de suas principais virtudes. Mas so justamente estas suas qualida-des, com as quais ele se torna apto a viver na Terra, que impedem o funciona-mento daquela Providncia. Esta colocada em movimento por qualidadesopostas, exatamente aquelas que tornam o homem menos apto a viver na Ter-ra. No se pode ganhar de ambos os lados. Para se ganhar na Terra, perde-seno Cu, e vice-versa. Quem possui as qualidades que lhe permitem viver bemna Terra, contente-se com as vantagens alcanveis a e no pea as que des-

    cem do Alto. Mas quem no sabe viver na Terra, porque pertence a planos

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    mais altos da vida, justo que seja salvo pelas foras do Cu. Se o homemastuto e forte sabe defender-se sozinho, que necessidade tem ele dessas inter-venes superiores, para sua vida ser protegida e a justia ser feita? lgico ejusto, ento, as foras da Providncia no se moverem para ele, que dever

    conseguir tudo por si mesmo. Em seu instinto, ele sente isso e, por esse moti-vo, no confia no Evangelho, mas s nas prprias foras, nada esperando doAlto, enquanto o evoludo sente instintivamente o contrrio e, por isso, confiano Evangelho, esperando tudo do Alto.

    Sem dvida, para acender a centelha que faz explodir a reao da justia deDeus, indispensvel que isto seja necessrio e merecido, pois, de outro mo-do, aquela justia seria injustia. lgico e justo no s que as foras do Altono se movam para quem vive de prepotncia e luta, mas tambm que este seja

    obrigado a se defender com tais meios, dos quais est bem armado. Assimtambm lgico e justo que o bom, porque renuncia a se defender na Terra,para praticar o Evangelho e viver uma lei mais elevada, seja defendido poroutras foras, superiores, pois, de outro modo, ele seria rapidamente devoradopelos lobos, o que significaria a vitria do mal sobre o bem e a falncia da leide Deus.

    Dizemos isto para que os simples no se iludam. Sem mrito e justia, nadase recebe do Cu. Sem dvida, seria agradvel ao homem da Terra poderaproveitar tambm destas vantagens e protees de que goza o evoludo. Seuinstinto aferrar tudo o que pode ser til. Mas intil fazer presso com afora. A mquina no obedece a esses impulsos. A violncia e a astcia, quemovem as coisas terrenas, no podem coloc-la em movimento, mas somentea bondade e o merecimento. intil pretender o milagre, quando, inexistindomartrio e bondade, nos aproximamos dos poderes do Alto com a corrente psi-cologia humana do aproveitador. indispensvel possuir verdadeiramente as

    qualidades necessrias, e no apenas julgar que as temos, iludindo-nos. NaTerra, estamos habituados a falsificar tudo para tirar vantagens do engano.Essa psicologia, neste caso, paralisa a mquina, que ento no funciona.

    E no basta sermos bons, se formos inertes e preguiosos. Precisamos pos-suir a f e a atividade de trabalhadores vigorosos e honestos. Quantas vezesgostaramos, ao revs, de usar o Evangelho como um refgio para tolos e pre-guiosos, que pretendem servir-se de Deus para fugir ao cumprimento do seuprprio dever. O Cu no pode funcionar como subterfgio para nos livrarmos

    do cansao de viver, necessrio para evoluir, nem para fugirmos s duras con-

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    dies que nos so impostas pelo ambiente, ao qual no podemos deixar depertencer, porque, dada nossa natureza, o que nos compete. Para quantosdiversos e mais levianos empregos querem as religies e os ideais usar naTerra o Evangelho. natural, ento, que o Cu permanea fechado e o Alto

    continue surdo aos nossos apelos.O evoludo que se acha vivendo na Terra em posio evanglica, exposto atodos os ataques, em condies humanamente antivitais, sem defender-se, temabsoluta necessidade de ajuda, o que no se d com o tipo comum, que sabedefender-se bem por si prprio. Portanto no h razo nenhuma para que sejafranqueado a este ltimo tal auxlio. Alm disso, o involudo no tem nenhumamisso a realizar, nenhuma funo particular evolutiva que interesse vida,exceto evoluir ele mesmo. justo que ele no receba nenhum auxlio especial,

    o que, ao invs, indispensvel para quem precisa realizar um trabalho excep-cional, que os outros no fazem, ou seja, ensin-los a se libertar das mais bai-xas formas de vida e das dores a elas conexas. justo que o auxilio seja dadopelo Alto para quem trabalha sacrificando-se pelos outros, e no para quemtrabalha s para si mesmo. Sustentar gratuitamente o bitipo imerso no planode vida animal, que lhe compete pelo seu nvel de evoluo, seria tir-lo da suanecessria escola, representada pela luta em prol da seleo do mais forte; se-ria convid-lo preguia, poupando-lhe o indispensvel esforo para subir,fazendo que ele, assim, permanecesse estacionrio, ao invs de evoluir. A vidadeve ser trabalho produtivo para todos. Por isso s pode subtrair-se a um tra-balho quem est realizando outro. Aquele todo o resto vos ser dado poracrscimo prometido pelo Evangelho a quem procurar primeiro o reino deDeus e a Sua justia, presume que tenha sido feito primeiro este trabalho, quejustificar o a mais, trabalho sem o qual aquele a mais no chega. E istoque de fato acontece em geral, razo pela qual muitos acreditam que o Evange-

    lho contenha somente belas palavras e evitam aplic-lo. Porm a culpa no do Evangelho, que diz a verdade, mas do fato de no serem satisfeitas as con-dies necessrias para o Evangelho poder manifestar a sua verdade. S da-do de graa o que foi merecido por outros meios, o que necessrio para finsmais alto. Mas no se pode dar nada por nada, tanto mais que poderia ser pre-judicial a quem recebe.

    Se quisermos aproveitar as vantagens que nos oferece o Evangelho, s nosresta viver nas condies que ele estabelece para nossa conduta, ou seja, trans-

    formarmo-nos em evoludos, que um caminho aberto a todos. Seria muito

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    agradvel ao homem comum, segundo os seus clculos, ver chover gratuita-mente do cu todos os auxlios que lhe poupassem as fadigas da vida, pormcusta-lhe muito submeter-se s condies necessrias. O homem sempre pro-cura um atalho para chegar com menor esforo a um lucro maior. E justa-

    mente isto que ele faz quando se aproxima do Evangelho, bem como de todasas outras coisas, com essa psicologia toda humana. Mas, ao ver que no podetirar dele nenhuma vantagem ou que precisa pagar com sacrifcios muito gran-des, ento o rejeita como coisa intil. Acontece que o Evangelho, se vivido defato, pode representar o mais poderoso meio para superar o passado e evoluir,mas o homem, por no aplic-lo, recai no seu baixo plano de vida e permanecea estagnado. Incapaz de compreender quo grande o tesouro que recebeu,ele mesmo recusa a mo que lhe estendida do Alto para elev-lo a melhores

    condies de vida. E assim continua o mal-entendido: o homem evanglicopermanece um enigma e o Evangelho um sonho lindo, que continua no planodos ideais. Desse modo, cada um continuar em seu lugar, em suas condiesde vida, de acordo com sua natureza, realizando o prprio tipo, utilizando osmeios que possui e obtendo aquilo que lhe compete. O ser inferior continuar aagredir o mais evoludo, acreditando que assim est vencendo, quando na ver-dade perde a melhor ocasio para subir; e o mais evoludo continuar a se sa-crificar at que, com a bondade e o amor, tenha conseguido derrubar as portasdo egosmo e da ignorncia e vencer a animalidade, fazendo o homem emergirde seu baixo plano de vida. Assim, lentamente, o Evangelho vai caminhandoatravs dos milnios para a sua realizao. Mas entre os dois tipos, involudo eevoludo, o mais forte o segundo, porque est protegido pelas foras da vida,que quer ascender. A ele caber a vitria final. Se ao outro pertence o passado,a ele pertence o futuro.

    Neste captulo, procuramos definir melhor as duas posies fundamentais e

    antagnicas estabelecidas uma pelo evoludo e outra pelo involudo, que sepoderiam chamar os dois extremos do bitipo humano. Procuramos ver osdireitos e deveres de cada um, bem como as vantagens e desvantagens de estarsituado num ou noutro ponto. Antes de enfrentar outros aspectos do problema,resumamos, para esclarecer cada vez melhor este assunto, alguns de seus pon-tos fundamentais vrios j referidos anteriormente definindo com maisexatido as respectivas posies e condies de vida dos dois tipos:

    1) Neste estudo, quisemos apenas comprovar, com absoluta imparcialidade,

    alguns aspectos das leis da vida, explicando seus princpios e funcionamento,

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    sem condenar ningum. Ao involudo cabe, antes, a compaixo, pois j se en-contra condenado pela prpria involuo, o que lhe d, no entanto, o direito deser ajudado por parte dos mais evoludos.

    2) Em substncia, segundo suas relatividades, todos tm razo, porque cada

    coisa est em seu lugar. E isto lgico. Nem poderia ser diferente, uma vezque tudo depende da sabedoria de Deus e da Sua lei. Assim, na grande ordemdo todo, cada elemento fica em sua verdade relativa, correspondente sua po-sio no seio da verdade universal, que abraa todas as verdades relativas nu-ma unidade orgnica. Assim, evoludo e involudo permanecem cada um coma sua verdade, relativa sua posio, sendo este o lugar que compete a cadaum segundo a sua natureza, da qual no podem deixar de sofrer as consequn-cias estabelecidas pela Lei.

    3) As diferentes condies encontradas no evoludo e no involudo repre-sentam apenas posies avanadas ou atrasadas ao longo do caminho da evo-luo, que percorrido por todos os seres. No significam, portanto, superiori-dade ou inferioridade em sentido absoluto. O mais evoludo tem sempre, aci-ma de si, um ser ainda mais evoludo; e o mais involudo tem sempre, abaixode si, um ser ainda mais involudo. Ao longo da escala da evoluo, todos seencontram em condies semelhantes, ou seja, cada um est sempre situadoentre um tipo superior e um inferior, de maneira que no h, de modo algum,um superior ou inferior em sentido absoluto. Cada evoludo um involudo emrelao ao que lhe superior, e cada involudo um evoludo em relao aoque lhe inferior. Num mundo assim, em que tudo relativo, no existe, raci-onalmente, lugar para orgulho ou acanhamento de ningum. A palavra involu-do no tem qualquer sentido depreciativo, apenas denota o imaturo, que ama-nh amadurecer.

    4) Temos de esclarecer este ltimo ponto porque, muitas vezes, a primeira

    coisa que alguns leitores depreendem de uma teoria, no se ela correspondeou no verdade, mas sim que algum est procurando se colocar em umaposio de superioridade, com a qual consiga humilh-los e ofend-los. Ora, afinalidade deste livro no estabelecer nenhuma superioridade, mas apenasmostrar como funciona a vida, segundo as leis feitas por Deus, diante dasquais nada mais nos resta seno obedecer. Ns as vamos descrevendo paravantagem de quem l, a fim de que possa tirar delas o maior proveito para simesmo. O universo uma imensa mquina perfeita, inclusive nos mtodos

    com os quais vai procurando a perfeio nos pontos em que ainda no a pos-

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    sui. Chegar a conhecer como tudo isto funciona pode representar uma preciosaorientao no s para evitar erros prejudiciais, pelos quais deveremos pagardepois, mas tambm para atingir o nosso bem, ensinando-nos como nos com-portarmos. Difundir esse conhecimento pareceu-nos coisa urgente num mundo

    que, a esse respeito, comporta-se loucamente, mas que dever depois, fatal-mente, sofrer em proporo.5) Em relao meta final, Deus, todos estamos igualmente a caminho. O

    que nos irmana o fato de sermos todos viandantes ao longo do imenso cami-nho da evoluo. Uns caminham mais depressa, outros mais devagar. Masningum pode permanecer imvel. O grande impulso para frente impele a to-dos. Assim, o involudo de hoje tende a tornar-se o evoludo de amanh. Trata-se de uma grande marcha, da qual todos os seres participam.

    6) Na evoluo no h barreiras insuperveis, compartimentos estanques,portas fechadas. A estrada para evoluir est aberta a todos, e qualquer um,desde que o queira, pode, subindo, tornar-se um evoludo, caso ainda no oseja. Cada um, merecendo-o, pode sempre subir posio do ser a ele superi-or, que considera um dever e uma alegria ajud-lo nisto.

    7) Quanto mais avanadas so as posies, tanto menos podem ser elas deegosta vantagem para si e tanto mais se tornam de altrusmo, inclinando-sesobre os inferiores para ajud-los a subir. Evoluindo, no crescem os direitos,mas sim os deveres; no se ganha em comando, mas sim em obedincia. Aevoluo representa uma demolio progressiva do egocentrismo separatista,substituindo o estado de caos pelo estado orgnico unitrio. natural que,progredindo para a ordem, caminhe-se para a obedincia, a confraternizao eo altrusmo, destruindo-se assim o separatismo.

    8) Em relao aos mais evoludos, a correta posio psicolgica dos menosevoludos no deve ser de inveja e cime, mas sim de alegria, pelo fato de pos-

    suir um amigo mais adiantado, que nos ajuda para vantagem nossa. A funodos que mais progrediram trazer para frente, consigo, os que esto maisatrs. Esta a lei. No se pode subir sozinho e s por si mesmo. verdade quequanto mais se sobe, mais direitos e liberdades se conquistam. Mas, se tudo equilibrado, quanto mais se sobe, mais deveres e obedincia Lei nos espe-ram. Se o evoludo no aceita isto, comete um erro to grave, que o faz retro-ceder ao grau de involudo. Tudo isto lgico, dado que a evoluo avanapara a unidade orgnica.

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    9) A consequncia de tudo isto que a ideia de inferioridade e de inveja, deum lado, leva suposio de que, do outro lado, exista orgulho e desprezo. Talconcepo inerente apenas ao plano do involudo e desaparece to logo sesupere este nvel. Ao evoludo, muitas coisas interessam, mas no gabar-se e

    muito menos aproveitar-se da prpria superioridade. No momento em que elepensasse dessa maneira, cairia de seu plano de vida, tornando-se parte de outronvel biolgico. A primeira qualidade espontnea do evoludo ignorar a suasuperioridade; a sua maior paixo tornar evoludos os outros seres. Esta aforma mental do bitipo do evoludo, que, se no a possusse, no mais seriaevoludo.

    Conclumos assim este captulo, onde quisemos tornar cada vez mais com-preensvel o significado biolgico do Evangelho, isto , no s como fenme-

    no religioso, mas como fora da vida, da qual representa um elemento bsicopara a maior finalidade dela, que fazer evoluir.

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    II. O EVANGELHO E O MUNDO

    O Evangelho e os bens materiais. Ignorava Cristo a realidade da vida?Quem tem razo, Cristo ou o mundo? Como entender o Evangelho? Os

    pobres de esprito. Os deveres de quem possui. As acomodaes. O Evan-gelho nos tira a preocupao do trabalho, mas no o trabalho. cio de-sonestidade. Os colaboradores de Deus. A psicologia do dinheiro. O fatorespiritual nas obras e o peso do impondervel. Utilitarismo inteligente.

    no terreno dos bens materiais que se torna mais vivo o contraste irrecon-cilivel entre o Evangelho e o mundo, entre o evoludo e o involudo. Comopodem concordar dois tipos humanos e dois mtodos de vida, se o primeiro

    abandona com indiferena as coisas da Terra, considerando-as secundrias, e osegundo faz seu principal trabalho na vida consistir em aferr-las e mant-lasseguras? Parece que as coisas estejam sendo olhadas de dois pontos diversos,com olhos diferentes. Olhadas do cu, as coisas da terra, porque esto longe,parecem pouco importantes, ao passo que so importantes as do cu, porqueesto mais prximas. Olhadas da terra, as coisas do cu, porque esto longe,parecem de somenos importncia, enquanto as da terra, porque prximas, soimportantes. Procuremos ento compreender.

    O Evangelho torna, logo de incio, ntida e inexorvel a sua posio, quan-do diz as palavras j citadas: Ningum pode servir a dois senhores... No po-deis servir a Deus e a Mamom. E, para atingir a perfeio, aconselha em se-guida a dar tudo aos pobres, afirmando ser bem difcil que um rico entre noreino dos cus. Acrescenta ainda que perder sua vida quem quiser salv-la nosentido humano, e salv-la- quem perd-la neste aspecto para conquistar avida mais alta que Cristo nos mostra.

    E o Evangelho continua explicando: No vos preocupeis pela vossa vidaquanto ao que comereis, nem pelo vosso corpo quanto ao que vestireis. Novale a vida mais que o alimento, e o corpo mais que a roupa? Olhai os pssarosdo cu: eles no semeiam, no ceifam e no armazenam em celeiros, no entan-to vosso Pai celeste os alimenta. E vs, no valeis mais do que os pssaros?Quem dentre vs, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cbitosequer prpria estatura? E por que vos preocupar tanto com a roupa? Consi-derai como crescem os lrios do campo; eles no trabalham nem fiam. No en-

    tanto eu vos digo que nem Salomo, em todo o seu esplendor, jamais se vestiu

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    como um deles. Se Deus veste assim esta erva do campo, que hoje existe eamanh lanada ao forno, com quanto maior razo vos vestir a vs, homensde pouca f? No vos preocupeis dizendo: o que comeremos, o que bebere-mos, ou o que vestiremos? Por tudo isto se preocupam os gentios. Vosso Pai

    celeste sabe que precisais dessas coisas. Vs, portanto, procurai sobretudo oreino de Deus e Sua justia, e todo o resto vos ser dado por acrscimo. Novos preocupeis, portanto, pelo amanh, porque o amanh se preocupar consi-go mesmo. A cada dia basta o seu cuidado (Mateus, VI: 24-34).

    No se poderia imaginar reviravolta maior nos mais fundamentais instintosda vida, que o homem teve de aprender em longa e dura experincia num am-biente hostil, onde s vive quem sabe surrupiar do meio o necessrio e impor-lhe suas prprias exigncias. Depois, o Evangelho ainda acrescenta: No

    acumuleis tesouros na terra, onde a ferrugem e a traa os consomem e os la-dres os desenterram e roubam.... Infelizmente verdade que a ferrugem e atraa consomem e os ladres roubam, mas isto representa apenas o esforoindispensvel para defender o que necessrio vida. fcil dizer para nopensar no amanhpoderia responder o mundomas, se o amanh chegar eno estivermos providos, faltar at o necessrio. belo saber que o Pai celes-te sabe que precisamos de todas essas coisas, contudo um conhecimento queservir para Ele, e no para ns, que certamente no vemos chegar em nossacasa, da parte Dele, aquilo de que precisamos todos os dias. Sabemos, por duraexperincia, que, se no procurarmos com o nosso esforo previdente, nadachegar em nossa casa. Ao contrrio, poderemos contar com alguma coisa seacumularmos um tesouro na terra, ao qual podemos recorrer para suprir nossasnecessidades e, dessa maneira, conseguir uma trgua na luta diria pela vida.

    Assim, aos olhos do mundo, que sabe como as coisas sucedem de fato, oEvangelho se apresenta como uma sublime ignorncia das realidades da vida.

    Como se explica isso? Ser possvel que Cristo no se tenha dado conta dessarealidade, ignorando as verdadeiras condies em que se desenvolve a vida dohomem? Sem dvida, Ele fala de outro tipo de vida, feita para outro tipo dehomem, que no o atual. Este novo homem o evoludo, no qual o atual deve-r transformar-se. Cristo se refere ao luminoso futuro da humanidade, e no aoseu bestial passado. Provam-no suas palavras: Dou-vos um novo mandamen-to: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. No representaisto uma reviravolta completa na fundamental lei biolgica da luta pela seleo

    do mais forte? Isto significa passar a um plano de existncia onde predominam

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    leis diferentes, que tornam possvel a vida se proteger e se desenvolver combase em outros princpios.

    Mas Cristo, mesmo ao preparar o homem de amanh, sabia que estava fa-lando ao homem de hoje. Como poderia pedir-lhe o impossvel? Com efeito, o

    fato inegvel de no ter o mundo lhe dado ouvidos exprime isto, sem dvida.Quando o homem prtico, que luta em sua vida rdua, ouve estas belas mensa-gens que descem do Alto, tem a impresso de que provm de um mundo cujoshabitantes podem permitir-se o luxo de ter belos sonhos, porque suas condi-es de vida sem preocupaes lhes permitem ignorar ou esquecer a nossadura realidade humana. Quem vive para si aquelas belas mximas evanglicas,ao invs de preg-las aos outros? As prprias e vrias religies crists, basean-do-se no Evangelho, acusam-se mutuamente, em nome dele, de possurem

    bens terrenos, enquanto, na prtica, todas elas os possuem. Parece que, nestecaso, a nica forma de se lembrar do Evangelho cada um escandalizar-sedaquilo que pratica somente quando o v praticado pelos outros, ocasio emque se aproveita para acusar o prximo. Mas isto corresponde perfeitamente sleis da vida no plano humano, onde os meios humanos so colocados no piceda escala de valores e mesmo Deus s respeitado por ser considerado pode-roso e temvel. Nesse plano, onde vencer a coisa mais importante, naturalcada um querer tudo para si e ter inveja das riquezas alheias, que exprimem asvitrias dos outros.

    O contraste entre as duas leis que querem dirigir o mundo, a animalidade dopassado e o Evangelho do futuro, apresenta nos fatos estranhas contradiesentre o que se o que se deveria ser, entre o que se diz e o que se faz. Aconte-ce ento que as prprias ordens franciscanas, baseadas na pobreza, tm posses.Como se resolve esse conflito? Diante das claras palavras do Evangelho e dairrefutabilidade dos fatos, temos apenas trs solues. A primeira conclui que

    o Evangelho um belo sonho, porm irrealizvel hoje na Terra, portanto nopode ser tomado em considerao. Neste caso, o mundo tem razo em noaplic-lo. A segunda infere que o Evangelho feito para ser vivido na Terra,tendo Cristo dado ordens para que fossem cumpridas. Neste caso, o mundoest mentindo, porque no pratica o que prega. No primeiro caso, o mundo temrazo e Cristo est errado. No segundo caso, Cristo tem razo e o mundo esterrado. De qualquer forma, um dos dois deve ter errado, e este o fato quepode justificar o conflito, que, sem a culpa de ningum, no se explica. Qual

    dos dois est errado? O Evangelho, porque representa um extremismo espiri-

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    tual que no pode ser aplicado vida prtica material, ou esta, porque repre-senta um extremismo material que a vida espiritual no tolera? possvel,ento, que a obra de Cristo se resolva num antagonismo insanvel?

    Pode haver, no entanto, uma terceira soluo, que poderemos chamar de

    conciliadora. Consiste ela em adaptar os dois extremismos, um ao outro, esco-lhendo um caminho intermedirio, uma posio de compromisso. Isto significaaplicar o Evangelho no integralmente, mas em doses percentuais, que sejamsuportveis pela atual natureza humana, sem lesar as demais necessidades ma-teriais da vida terrena. Tal ideia concebvel, se pensarmos que a realidadeprtica resulta do passado animal da natureza humana e que o Evangelho quersobrepor-se a essa natureza, para transformar essa realidade em novas formasde vida, que entraro em ao no futuro. No alvorecer, por exemplo, a luz e as

    trevas travam entre si um grande conflito, vivendo misturadas numa posiode compromisso, at desaparecer a noite e despontar o dia. Embora se elidindomutuamente, atravessam um processo de transformao que garante, no fim, avitria da luz, neste caso o Evangelho. S assim possvel solucionar o pro-blema sem atribuir a Cristo ou ao mundo um erro que eles no tm. Dessaconcluso resulta a grandeza do Evangelho, to grande, que o homem aindano pode nem mesmo compreend-la e muito menos realiz-la. Entretantoconclui-se tambm que o homem ainda vive numa fase de vida animal, da qualseria urgente sair, civilizando-se.

    Pode-se ento conceber o Evangelho como uma meta a alcanar, como umestado de perfeio que o homem ainda atingiu, mas que dever alcanar fa-talmente. De outra forma, que sentido teria a pregao de Cristo? to grandea sabedoria demonstrada em Suas palavras, que se torna muito difcil admitir ahiptese de que Ele no soubesse o que fazia.

    Descendo agora em maiores particularidades, como deveremos entender

    aquelas palavras acima citadas? Elas nos do a impresso de que o Evangelhovai contra a vida e que esta se retrai espantada com to absolutas renncias.Procurar somente o reino de Deus, ter de dar tudo aos pobres, estar excludodo Cu s pelo fato de ser rico, negar-se a si mesmo e no poder salvar a pr-pria vida seno com a condio de perd-la em relao ao mundo, tudo istoimposto sem possibilidade de adaptaes que tornem possvel uma conciliaoentre os dois extremos opostos, no permitindo salvar nada daquilo que maissatisfaz e mais se julga indispensvel, trunca profundamente a vida humana,

    que, por instinto, reage para no se deixar destruir.

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    Isto levaria a outra concluso, que temos, no entanto, de considerar inad-missvel, porque absurda, segundo a qual o Evangelho, sempre afirmativo econstrutivo, pertenceria, ao invs, s foras negativas da destruio. Seria istopossvel? Vemos, contudo, que existe uma Providncia defendendo a vida.

    Esta possui uma sabedoria sua ntima, muito acima de nossa vontade e conhe-cimento, sabedoria da qual somos grandemente devedores por termos chegadoat aqui e por conseguirmos sobreviver a cada minuto. Seria possvel que Cris-to se tivesse colocado contra essa vontade de viver, que irresistivelmente,por instinto, obedecida pelo ser e constitui um impulso fundamental determi-nado por Deus, indispensvel para que se cumpram os destinos do universo?No, no possvel! Mas que sentido, ento, devemos dar s palavras de Cris-to?

    Diz o Evangelho que procuremos acima de tudo o reino de Deus e Sua

    justia, ou seja, em primeiro lugar, e no por ltimo ou absolutamente nunca,como desejaria o mundo. Aconselha-nos a dar tudo aos pobres, mas como umcaminho de perfeio, que, como tal, s pode ser excepcional. Sem dvida,ser necessrio que algum possua bens na Terra, mas no os deve possuircomo rico, com egosmo e avareza, acumulando-os para si e, nesse intuito,subtraindo-os aos outros, e sim com esprito de pobreza, sem egosmo nemavareza, sem querer insaciavelmente acumular sempre mais, como em geralocorre, antes colocando o suprfluo a servio do bem alheio, agindo como umdono que, centralizando tudo em si mesmo, como administrador, fecunda como seu trabalho a sua propriedade, tornando-a mais produtiva, s a cedendo aosoutros quando estes do prova de serem bastante competentes e trabalhadores,para que os bens no sejam destrudos ou tornados improdutivos. Cristo nopode querer o desperdcio e a destruio, no pode querer o ganho sem mere-

    cimento. Cristo quer levar-nos ao mais modernos conceitos que o mundo estcomeando a compreender, segundo os quais conserva-se o direito de proprie-dade, mas abrindo sempre mais espao aos deveres inerentes obrigao derealizar sua funo social. O Evangelho dirige-se contra os ricos, e no contraos bens em si mesmos, que tambm so obra de Deus, para serem colocados aservio da vida. O mal comea quando essas posies so invertidas e a vida posta a servio deles, isto , quando se sacrifica o bem do prximo por egos-mo. Antes de qualquer coisa, o Evangelho v o lado espiritual do problema,

    onde est situada a raiz de tudo, e dirige-se, portanto, contra o estado de alma

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    comum aos possuidores, contra a psicologia do rico, combatendo-a por causados danos que ela produz.

    O Evangelho nos quer pobres de esprito, homens desprendidos, que apren-dam a possuir com outro esprito, totalmente diverso daquele prprio ao tipo

    biolgico humano comum, esprito que pode permanecer intacto em qualquerregime econmico. S a revoluo de Cristo chegou substncia para renovara fundo o homem, nica maneira de resolver o problema econmico. Comtodas as outras inovaes, exteriores e formais, o homem permanece sempre omesmo, fazendo as mesmas coisas. Pertencer a este ou aquele regime econ-mico, possuir ou no possuir, tem sempre uma importncia relativa diante dantima psicologia de que somos dotados. Por isso no se iludam aqueles quepossuem, pensando achar em nossas palavras uma justificativa ou autorizao

    para possuir com sua prpria maneira. Se no possurem com esse espritonovo, como quer o Evangelho, continuaro sendo condenados por ele, querespeita a propriedade e tambm as riquezas, mas j vimos em quais condi-es. Ele no admite que o indivduo possa ter, em relao coletividade, finsnegativos ou malficos, mas apenas positivos e benficos. O Evangelho, que justo, no pode admitir nenhum direito sem os correlativos deveres.

    Eis o que significa procurar o reino de Deus e Sua justia. natural, en-to, que o resto nos possa ser dado por acrscimo. Quando for eliminada toda adestruio de bens que deriva das guerras e de todos os atritos das rivalidadessociais; quando a vida no for uma corrida desesperada ao dinheiro, mas simuma colaborao honesta de gente de boa-vontade, fcil imaginar como tam-bm o problema das necessidades ser automaticamente resolvido, sendo nosdado, verdadeiramente por acrscimo, todo o resto de que fala o Evangelho.

    O Evangelho no destrutivo e antivital, como pode parecer. Ao contrrio,ele representa um novo modo de conceber a vida, para nos ajudar a enfrentar e

    resolver com sabedoria os nossos problemas. Existem alguns que se revoltamcontra o Evangelho porque acreditam na riqueza, pois ele condena a cupidez.H outros que se apoiam no Evangelho porque presumem que a Providnciaesteja a seu servio, poupando-lhes todo trabalho. H os heris da santidade,que tm a fora de viv-lo cem por cento, e h os que, depois de pensar bem, oadaptam s prprias comodidades, vivendo-o na medida em que ele no per-turbe os prprios interesses. O fato positivo que existe e se antepe a tudo otipo individual, o temperamento de cada um, que transforma todas as coisas

    que encontra leis, usos sociais, moral, religies e tambm o Evangelho

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    para adapt-las a si mesmo. Todas essas normas surgem, querendo vergar oindivduo. Depois, o indivduo que procura vergar essas normas a seu gosto,adaptando-as para viv-las a seu modo. Antes de tudo, cada um diz eu.Mesmo a autoridade, que deveria coordenar esses diferentes tipos para deles

    fazer uma unidade, apenas outro eu maior e mais forte, que procura impor-se a todos os outros, e estes, por sua vez, se lhes convm, concordam com ele,se so fracos, suportam-no, se so astutos, fogem e, se so fortes, rebelam-se.

    O prprio Evangelho no podia escapar desse processo geral de adaptao,necessrio na Terra para poder alcanar sua realizao, processo no qual ele ,na prtica, transformado, entendido e aplicado em funo dos vrios tipos depersonalidade, cada um destes procurando fazer dele o uso que mais lhe con-vm. A verdade que existe antes de tudo e se antepe a todas as outras o pr-

    prio tipo de personalidade, com seus instintos e qualidades, que luta a cadamomento contra as outras verdades coletivas, secundrias em relao a ela,com um objetivo diferente, buscando afirmar-se. Mas, como a natureza tende construo de bitipos em srie, eles podem, em certo nmero, aproximar-sepor semelhana e, assim, formar grupos e correntes nas quais podem concor-dar e permanecer unidos. Desta maneira, podem existir ideias aceitas pela psi-cologia coletiva, desde que correspondam a um nvel mdio e exprimam umfundo comum na forma mental da maioria. Mas o ponto de partida, mesmopara estas verdades mais geraispelo menos como aplicao vivida o bi-tipo individual e seu grau de maturao evolutiva. So estes, antes de tudo, osfatores que estabelecem o que o indivduo pode compreender e realizar dosideais a ele propostos ou ensinados. Sem isto, as ideias mais sublimes perma-necem adequadas apenas para o Cu, de onde descem, e jamais podero tor-nar-se verdades vividas pelo homem na prtica de sua vida, resultando entoem algo estril e intil a sua descida Terra.

    Por isso o Evangelho achou muitos sequazes. Mas que sequazes! Ser que oEvangelho os transformou, ou foram eles que transformaram o Evangelho?No seria possvel, na luta para se transformarem um ao outro, adaptaram-senum compromisso a meio-caminho, que permitisse a ambos sobreviver? Mas,se o tipo humano predominante no sabe fazer mais do que isto, por que seescandalizar com a histria, se este era o nico meio possvel para que ao me-nos a letra do Evangelho chegasse at ns? Alm disso, o que se pode preten-der do homem com um passado selvagem to recente? Por que no nos escan-

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    dalizarmos conosco mesmos, que nos julgamos mais civilizados, no entantoagimos pior?

    o homem que quer trazer tudo ao seu nvel, adaptar tudo aos seus instin-tos, utilizar tudo para vantagem prpria. Destrutivo o homem, e no o Evan-

    gelho. Este, se entendemos por vida aquela do nvel animal, pode parecer anti-vital, mas, se, ao invs, entendemos por vida aquela do nvel espiritual, ex-tremamente vital. Ele s inimigo das formas inferiores de existncia, e istoporque quer realizar, em lugar delas, as superiores. Ele se contrape ao mundos porque quer substitu-lo pelo reino de Deus. Por isso o Evangelho pode pa-recer destrutivo aos olhos mopes do mundo, que, como tal, considera destrui-dores todos os que, para faz-lo progredir, querem sua renovao. Sem dvida,o Evangelho representa a mais enrgica negao dos princpios em que se ba-

    seia a vida do mundo, e contra essa negao rebelam-se aqueles para os quaisessa vida tudo. No entanto, quo suprema afirmao constitui o Evangelho!Afirmao de uma vida muito mais alta e poderosa, que o mundo no leva emconsiderao porque no a v.

    Ento, quando o Evangelho nos diz aquelas estranhas palavras: No vosangustieis pela vossa vida..., no devemos ceticamente voltar as costas quiloque em nosso mundodo qual bem se conhecem as duras necessidades po-de parecer uma zombaria. Ao contrrio, devemos procurar compreender o ver-dadeiro sentido dessas palavras, seu bom-senso, til para ns, que vem ao nos-so encontro para nos ajudar inclusive na vida deste mundo. Essas palavras noforam ditas ao acaso e, no trecho citado nas pginas precedentes, elas so repe-tidas com insistncia: No vos preocupeis, dizendo: O que comeremos, o quebeberemos ou o que vestiremos?... Vosso Pai Celeste sabe que tendes necessi-dade de todas essas coisas... No vos preocupeis com o amanh....

    Parece que Cristo, falando assim, quer primeiramente nos colocar em esta-

    do de calma, de confiante tranquilidade, libertando-nos da ambio, que nosfaz maus, assim como da nsia da preocupao, que paralisa, duas condiesperigosas, das quais est cheio o mundo. Para ajudar a nos libertarmos destadesapiedada psicologia das exigncias do contingente, o Evangelho nos mostrahorizontes bem mais amplos, que nos pertencem sem dvida, mas nossosolhos no veem; recorda-nos que Deus fez tudo e no pode, como Pai, aban-donar suas criaturas. Com estas palavras, parece que Cristo tornou seu o sacri-fcio humano de viver em to duras condies e, para nos aliviar, quis expli-

    car-nos que, no fim das contas, a vida no est toda aqui, sendo intil lutar por

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    ela alm de certa medida, porque depois vir coisa bem diferente. Com isto, oEvangelho quer colocar cada coisa no seu devido lugar, libertando-nos de umaequivocada superestima da vida presente, que, em ltima anlise, o que emerece o que merece. Certamente, se o homem ansioso, no pelo gosto de

    s-lo, mas porque isto constitui a ltima consequncia do longo passado delutas terrveis para sobreviver em ambiente hostil. Porm, agora, preciso su-bir mais e, para isto, corrigir os instintos que ficaram como resduos desse tris-te passado. Neste sentido, o Evangelho vem ao nosso encontro e nos ajuda,sendo altamente afirmativo e construtivo, benfico no bem mais real e dura-douro.

    Agora, precisamos observar que, em muitos casos, justamente neste pontodo no vos preocupeis que costumam nascer mal-entendidos. Entre tantos

    usos que se pode fazer do Evangelho, possvel tambm, quando ele cai nasmos de quem procura no se preocupar, utiliz-lo para descarregar os pr-prios trabalhos e deveres nas costas dos outros. Estas pessoas podem gostarmuito desse trecho do Evangelho, porque lhes parece inacreditvel que tenhamencontrado algum que os tranquilizasse ainda mais na sua inerte indolncia,encarregando-se de substitu-los em seu trabalho. Ento eles bendizem o PaiCeleste e O imaginam transformado em servo deles, encarregado de lhes pro-ver gratuitamente as coisas da vida. Assim, conservam sempre o Evangelhoentre as mos, esperando sentados o man do cu. Contudo iludem-se, porqueo Evangelho nos foi dado para realizarmos todos os nossos deveres com o nos-so esforo pessoal, e no para nos apropriarmos de direitos ou receber servi-os. O Evangelho nos acompanha, ajuda-nos e santifica-nos, mas no nos tirao trabalho, no nos exime do esforo que nos compete. O Evangelho quer ti-rar-nos a nsia do trabalho, mas no o trabalho; quer que o faamos com ni-mo tranquilo, o que significa menos esforo e maior rendimento; quer que o

    realizemos com inteligncia e amor, o que o torna interessante e til, inclusivepara o esprito. Cristo vem ao nosso encontro para nos ajudar na dureza dessetrabalho. Ele no o ignora, tanto que o lembra no fim do trecho supracitado,comentado por ns aqui: No vos preocupeis com o amanh, porque o ama-nh se preocupar consigo mesmo. A cada dia basta o seu cuidado. O Evan-gelho, que sempre afirmativo e construtivo, quer eliminar de nossa atividadea sua parte negativa de preocupao e nsiaqualidades que nada criam, pelocontrrio, so contraproducentes, porque paralisam e substituir essas condi-

    es negativas por nossa confiana em Deus, uma atitude positiva, que torna

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    mais fecundo nosso trabalho e menos pesado nosso esforo. Isto o que po-demos honestamente pretender do Evangelho. Nada mais. intil que se refu-giem em algumas palavras do Evangelho os que no tm vontade de trabalhar.Podero dizer talvez que foram enganados, mas isto no os ajudar. O Evange-

    lho nos quer honestos, e a preguia uma forma de desonestidade. O irreconcilivel contraste que verificamos existir entre o Evangelho e o

    mundo no terreno dos bens materiais, apresenta-se-nos tambm sob outrosaspectos. Sem dvida, o trabalho uma necessidade inderrogvel da vida hu-mana. Mas, nas duas posies opostasEvangelho e mundo, ou seja, evoludoe involudo o trabalho se nos apresenta em duas formas bem diferentes. Otrabalho do primeiro inteligente, fecundo, confiante e satisfatrio, ao passo

    que o do involudo forado, penoso, desconfiado e incompleto. O Evangelhodesejaria transformar este segundo tipo de trabalho naquele do evoludo. Comefeito, o primeiro tipo nos faz colaboradores de Deus, enquanto instrumentosde Sua vontade, numa obra que, tendo finalidade em si mesma, j representapor si uma graa. O outro tipo de trabalho, como se usa na Terra, geralmenteinstrumento de interesses e funo de egosmos, tanto do empregador como doempregado, dois impulsos egocntricos opostos, que lutam como rivais, paracada um deles se apoderar de tudo. Deriva da um atrito desgastante, que geradesperdcio de valores, inclusive econmicos. Da no surge colaborao, massim inimizade, que constitui uma perda comum, resultando um sistema errado,porque se torna contraproducente justamente onde devia ser produtivo; umsistema em que o empregador procura aproveitar-se do operrio e este buscaenganar o patro, substituindo o princpio fecundo da colaborao pelo desa-gregante da luta.

    com estes dois tipos de trabalho que o homem procura construir suas

    mais diversas obras. No entanto existe entre os dois uma diferena de rendi-mento, e seria lgico escolher o que custa menos cansao e produz maior van-tagem. H respectivamente dois mtodos para construir: um com os poderesmateriais do mundo e outro com os poderes espirituais do cu. Veremos, ago-ra, como merece mais confiana o segundo, que, com maior segurana, podegarantir-nos a vitria, enquanto no primeiro acreditam os simples, deixando-seenganar pelas miragens do mundo.

    O que faz este segundo mtodo, quando quer construir qualquer obra? Co-

    mea por recolher os meios materiais, vai procura deles e os acumula na

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    maior quantidade possvel. Mas bastaro apenas eles para construir? Se fizer-mos uma montanha de matria prima e de dinheiro, teremos com isto recolhi-do meios, mas ainda nada teremos criado. Tambm participam do processooutros elementos, especialmente o trabalho do homem e, portanto, os fatores

    psicolgicos e espirituais, justamente aqueles que, em ltima anlise, cons-troem com aqueles meios. Os meios, sozinhos, continuam inertes, se no hou-ver interveno do pensamento, da vontade e da ao do homem, para movi-ment-los e utiliz-los, transformando-os, de materiais de construo, na obraconstruda. Nesta, portanto, entram outros elementos, tornando-se essencial,para consegui-la, levar em conta tambm as foras do impondervel. Portanto,se quisermos construir solidamente, sem arriscar a falncia da obra, teremos deconsiderar tambm as coisas espirituais da alma e do Cu. E se no soubermos

    lev-las na devida conta, nossa ignorncia ou negligncia podero fazer-noscometer erros que, mais tarde, teremos de pagar.

    Sem sombra de dvida, o motor ntimo que d impulso obra, dirige e levaa termo o seu desenvolvimento, dando o seu cunho execuo do trabalho e,portanto, a toda a construo, de natureza espiritual, e no material. Os ho-mens prticos podero rir ceticamente destas afirmaes, deixando de levar emconta esses elementos. No entanto a forma substancial que, em ltima anlise,sustenta uma obra est toda a. Os meios materiais e o dinheiro so a matria-prima e o impulso para movimentar o homem, elementos indispensveis semdvida, que constituem uma poderosa mola. Mas de que forma e em que dire-o essa mola os movimenta? Se ela, sozinha, os movimenta mal, no seriaento igualmente indispensvel ao menos um fator corretivo, que melhore aao, tornando verdadeiramente produtivo um impulso que, sozinho, pode atmesmo ser destrutivo?

    Ora, qual o estado espiritual que est geralmente ligado aos meios materi-

    ais? Qual a psicologia do dinheiro? Com certeza no uma psicologia deamor fraterno, mas sim de rivalidade e luta feroz, de egosmo e de avidez. Tra-ta-se de elementos que podero interessar ao indivduo, mas que so estrita-mente desagregantes em qualquer atividade coletiva, onde necessrio organi-zar-se, colaborando para chegar realizao. Todavia, isolados, esses elemen-tos tendem a transformar um campo de trabalho num campo de batalha. Entoo objetivo principal, que deveria ser construir bem uma obra, transforma-se,tornando-se desejo de enriquecer cada um por si, tirando desse trabalho a mai-

    or vantagem individual possvel. Teremos, ento, apenas uma atividade de

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    explorao da obra, que se torna um pretexto, uma mentira, para encobrir ou-tros fins, bem diferentes. Todo trabalho de construo fica assim minado inte-riormente, corrodo por esta vontade que se encaminha para outras finalidades,muito diferentes de produzir bem e seriamente. O fator espiritual, que os ho-

    mens prticos se acham no direito de no levar em conta, como se este fossede fato desprezvel, sem importncia, pode, ao contrrio, assumir uma togrande importncia, que, quando estiver desgastado, capaz de minar e levar falncia toda a obra. Explica-se, assim, como tal coisa acontea no meio detanto progresso tcnico.

    Isto no quer dizer, absolutamente, que devamos suprimir os meios materi-ais e o dinheiro. Desejamos apenas colocar cada coisa em seu lugar, dando-lheo que lhe compete, segundo sua prpria importncia, sem supervalorizar uma

    nem subestimar a outra. Ora, o mundo de hoje levado a basear-se quase to-talmente nos meios materiais, acreditando que eles sejam tudo. E a reside seuerro. Com isto, no queremos dizer que no precisamos deles. Certamente pre-cisamos, mas no apenas deles. necessrio algo mais, ou seja, saber us-loscom outro esprito, que os complete, coordenando-os para um fim, colocando-os, em relao a este, na posio de instrumentos ou meios, cimentando-osnum estado orgnico que os torne construtivos. Se assim no for, aqueles mei-os ficaro dispostos de modo errado, e sua quantidade se tornar contraprodu-cente para a obra. Trata-se de elementos em si mesmos inertes, que so postosem funcionamento atravs do trabalho. Este, por sua vez, uma atividade dohomem, na qual, portanto, no pode deixar de influir o fator psicolgico, que,assim, assume a sua importncia no xito da obra. Onde quer que aparea amo do homem, no se pode ignorar a presena do esprito. Da a necessidadede lev-lo em conta. verdade que, sem os meios materiais, no se pode cons-truir, mas tambm verdade que, se no soubermos utiliz-los, eles, sozinhos,

    podero levar falncia.Por isso grande o perigo quando a eles se atribui demasiada importncia,fazendo-os assumirem uma funo preponderante, condio em que a obratoda fica dependendo exclusivamente deles e da psicologia que lhes inerente.A ideia de lhes dar valor absoluto ou principal, como se eles fossem onipoten-tes, o caminho mais curto para chegar falncia da obra, pelo menos se elafor nosso verdadeiro objetivo. Se a finalidade, no entanto, for de fato outra como por exemplo produzir dinheiro pode-se at atingi-la, mas entende-se

    ento que a obra seja apenas uma mentira, preparada para outros fins, bem

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    diferentes. E tal atitude no honesta, sendo necessrio pagar por isto maistarde.

    A presena do dinheiro numa obra, mesmo que seja indispensvel, tende,por sua natureza, a levar-nosse no for corrigida e disciplinadapelo cami-

    nho dos enganos, num terreno mal seguro de areias movedias, prontas paraengolir tudo. bom estarmos prevenidos de tudo isto e tratarmos o dinheirocom as devidas cautelas, com certa desconfiana, no lhe dando um valor mai-or do que o merecido por ele e tendo em conta que, em ltima anlise, a causaprimeira do xito no est nos meios materiais, mas nas foras espirituais queos movimentam. No devemos jamais esquecer que a vida obedece muito maiss causas profundas, invisveis para ns, do que s superficiais, com as quaistanto contamos. A histria e a vida nos mostram que obras muito bem armadas

    dos mais poderosos meios faliram miseravelmente, apesar da existncia dessesmeios. Isto quer dizer que eles, sozinhos, no bastam e que, escondido no im-pondervel, existe algo to poderoso quanto eles, um fator que mister levarem grande conta e sem o qual pouco podem aqueles.

    Qual a obra que pode ser realizada sem o elemento f, ou pelo menos con-vico? O que pode levar a cabo tantos interesses separados, aos quais importaapenas o que serve vantagem individual, e no realizao da obra? Quandoo egosmo e o interesse so o estado de alma dominante e a nica finalidade satisfaz-los, o que se pode alcanar, seno a satisfao deles? Que poderoproduzir os maiores meios materiais, quando infectados por essa psicologia?As prprias coisas ficam permeadas pelas sutis vibraes das causas que asgeraram e das foras que as movimentam. Que se pode obter quando, exata-mente na raiz da ao, a obra est corroda por esses impulsos interiores?

    Por isso o dinheiro pode ser perigoso, pelos sentimentos negativos e desa-gregantes que atrai e traz consigo, introduzindo-os na obra. Por isso, quando

    necessrio recorrer a ele, preciso us-lo como so usados os venenos nasfarmcias. Eles so teis e, s vezes, at indispensveis na medicina, mas fi-cam bem fechados em seus recipientes, com uma etiqueta por fora, onde estescrito: veneno, para avisar do perigo. Por que veneno? Em si mesmos, osmeios materiais no so maus. So obra de Deus, teis vida, que, sem dvi-da, deve ser vivida. Mas tornam-se veneno, quando o homem, por causa deles, tomado pela avidez e agride o prximo, explora, esmaga e escraviza os fra-cos. Para conquistar o poder do dinheiro, fazem-se as guerras e enche-se o

    mundo de sofrimentos. No nos rebelamos contra o dinheiro honesto, fruto do

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    trabalho, abenoado por Deus, mas contra o dinheiro ensanguentado, que geratantas dores, amaldioado por Deus. este o dinheiro que foi chamado de es-terco do demnio, enquanto o Evangelho elogia aquele o da esmola da viva.O erro consiste no dinheiro demasiado, no honesto, no fruto do trabalho, no

    meio para coisas boas, mas fim em si mesmo. Em vista disso, preciso utiliz-lo com cuidado nas prprias coisas, porque ele como uma arma, que podedefender, mas tambm matar; como um veneno, que pode curar-nos de umadoena, mas tambm levar-nos morte.

    O perigo no reside no uso do dinheiro, mas em querer basear-se exclusi-vamente nele. Qual a obra que se pode construir sobre o fundamento que nosoferece a psicologia do dinheiro? Logo que seu cheiro se espalha no ar, qual o tipo de homem que imediatamente chega correndo? Certamente no o ho-

    mem trabalhador, honesto, sincero e desinteressado, que o elemento maisadequado para construir, mas sim o indivduo procura de realizar sobretudoos seus negcios, apto a construir para si, mas destruindo para os outros.Quem quiser, portanto, realizar uma obra, principalmente se for espiritual,precisa em primeiro lugar afastar esses elementos e se proteger contra o di-nheiro, que os atrai. Quem procura, em primeiro lugar, acumular dinheiro aca-ba ficando cercado por essas foras negativas, ansiosas por destruir tudo. Des-se modo, o dinheiro pode transformar-se de auxlio em obstculo.

    E assim voltamos sempre causa primeira de tudo, causa que est no esp-rito. As coisas em si mesmas no so nem boas nem ms. Tudo depende dainteno e do objetivo com que so feitas. Elas s entram no mundo moralcom o uso que delas faz o homem. Tudo bom, quando bem usado; tudo setorna ruim, quando mal utilizado. o substrato espiritual que valoriza ou des-valoriza tudo, servindo de apoio e constituindo o fundamento em que tudo sebaseia.

    No se deixando enganar pelas miragens que a avidez lhe oferece nasquais os simples acreditam e caem o homem inteligentemente utilitrio levaem conta tambm, para construir solidamente, o fator psicolgico e espiritual.Quem realmente quer atingir a vitria com verdadeiro xito, deve possuir essaesperteza superior a todas as outras, que alcana a honestidade e o desinteres-se. No entanto o mundo cr cegamente num poder absoluto do dinheiro. Ojogo da vida no assim to simples a ponto de permitir resolver todos os pro-blemas s com esse meio. O que se pode comprar com o dinheiro? Existe al-

    guma loja em que se possa comprar inteligncia, vontade de trabalhar, desinte-

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    resse, honestidade, sinceridade, bondade, esprito de sacrifcio? Pode o dinhei-ro nos dar esses elementos para construir bem? Ou, ao contrrio, ele atrai so-bre ns exatamente o oposto? E como construir sobre as areias movedias doorgulho, da avidez, do egosmo? Faz parte da sabedoria do engenheiro cons-

    trutor de qualquer obraao fazer o projetocolocar cada coisa em seu lugar,prevendo o que se pode aproveitar. Para tanto, necessrio conhecer e calcularo poder de resistncia do dinheiro e o peso que ele pode suportar, apoiando aoutra parte do peso em bases psicolgicas e espirituais, que permitam o supor-te completo. Cada coisa em seu lugar. Tambm o sal, na comida, muito til,mas, se passa da medida exata, estraga-lhe o sabor. O fogo indispensvelpara cozinhar, mas, se for demasiado, queima tudo. Assim o dinheiro umafora que precisa ser contida e dirigida pelos valores substanciais, que estabe-

    lecero os limites e o uso para ele. este o segredo para se alcanar a vitria, sabendo ser inteligentemente uti-

    litrio. tolice desprezar o impondervel, porque, de fato, ele pesa muito. ingenuidade ignorar o poder das foras do esprito. No estamos moralizandoem nome de ideais. Estamos falando de nossa prpria vantagem. E aos queacreditam nos atalhos no-honestos, esperando chegar primeiro, dizemos queas leis da vida esto construdas de uma tal forma, que eles, mesmo se conse-guirem momentaneamente surrupiar essa vantagem justia de Deus, pelaqual tudo regido, pagaro caro mais tarde, o que no lhes convm, pois setrata de um pssimo negcio para eles. Tudo isto vimos no caso narrado novolume anterior.

    Fala-se muito de Deus e de Cristo, utilizando-os como capa para encobriros prprios interesses e, sombra Deles, fazer melhores negcios. O atalhopara chegar parece o mais breve, dando a impresso de um jogo fcil, e omundo facilmente levado a isso, sem imaginar o quanto seja perigoso, igno-

    rando com quo poderosas foras est lidando. Cristo no uma palavra vazia,que possa ser usada levianamente ou explorada e utilizada para outros fins,sem grave dano prprio. Fala-se muito da presena de Deus. Mas o fato queDeus est verdadeiramente presente, o que significa que Sua lei est continu-amente funcionando, com as devidas sanes aos que dela zombam. Ela de-fende os que trabalham em seu mbito, mas golpeia os que a querem violar.Ento quem sinceramente obedece Lei de fato o mais forte, aquele a quemcompete a vitria, e no quem se julga valente porque a desobedece com ast-

    cia. Com os meios e mtodos do mundo podero ser feitos edifcios material-

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    mente grandes, mas nada se constri nas almas. No meio das mais colossaisconstrues, como hoje ocorre, vemos que os homens se tornam cada vez pio-res, e at mesmo suas prprias obras gigantescasfilhas da matria, e no doespritono sustentadas pelo poder deste, desabam e viram p. Torna-se in-

    til escor-las, quando falta a unio espiritual com Deus, sendo a obra, portanto,fruto apenas das foras do mundo.Se quisermos ser os mais fortes para vencer, coloquemo-nos do lado das

    foras espirituais, que so as mais poderosas, e no exclusivamente do ladodas foras materiais, que nos podem trair. Se nos basearmos orgulhosamenteapenas em nossos recursos pessoais, teremos somente estes para nossa defesa.Mas, se humildemente nos coordenarmos no mbito da lei de Deus, podere-mos contar com o poder dela e a teremos como defesa nossa. Voltamos, assim,

    a confirmar as concluses dos captulos precedentes: a vitria do esprito sobrea matria e do Evangelho sobre o mundo. Cristo vence!

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    III. MATERIALIZAO OU ESPIRITUALIZAO

    O materialismo religioso. Espiritualizar a matria, e no materializar oesprito. O Evangelho, em vez de negar, afirma e expande a vida. A rebe-

    lio dos instintos atvicos. O passado revive. Crucificao. A reabsorodo mal e a sua eliminao. A mope psicologia do involudo e suas durasexperincias. Os novos horizontes do Evangelho. O mtodo da no-resistncia. A defesa do justo. A evoluo caminha para Deus, que vida;o egocentrismo a contrai no limite. A fustigao da dor nos impele a subir.As diversas reaes dor.

    Continuemos a realizar, sob outros aspectos, o nosso exame do contraste

    entre evoludo e involudo, entre esprito e matria, entre o Evangelho e omundo. Saindo do caso narrado, que o simboliza, o problema se torna cada vezmais universal. Procuremos compreender cada vez melhor o significado daluta entre esses dois extremos opostos, entre os quais se debate a natureza hu-mana. De um lado o evoludo, que vive, no plano do esprito, a lei do Evange-lho; do outro o involudo, que vive, no plano da matria, a lei do mundo. Ochoque ocorre entre esses dois diferentssimos tipos biolgicos, situados emdois planos opostos da vida, esprito e matria, expressos por duas leis irre-conciliveis: a do Evangelho e a do mundo.

    Cada um dos dois tipos no pode deixar de reduzir tudo ao nvel de seu pla-no de vida, de conceber tudo com a prpria forma mental e de tudo viver se-gundo sua prpria natureza. O evoludo tende a espiritualizar tudo, o involudoa tudo materializar; o primeiro, elevando tudo a seu plano de vida, o segundo,tudo reduzindo ao seu prprio nvel. Este ltimo, sendo feito primordialmentede carne, portanto das necessidades e instintos inerentes a ela um verdadeiro

    filho da Terra levado a conceber tudo materialistamente, pensando e resol-vendo todos os seus problemas com essa psicologia. Em qualquer circunstn-cia, no se pode sair do prprio estado mental, nem se pode agir diversamentedaquilo que se .

    Por isso ocorre que a maioria, mesmo no terreno das coisas religiosas, espi-rituais e ideais, comporta-se materialistamente, porque essa a sua psicologia,com a qual concebe tudo e da qual no pode fugir, dado o seu tipo biolgico.Quando o prprio centro vital est situado no plano biolgico da animalidade,

    qualquer coisa que se pense ou se faa manifesta a tendncia de levar tudo

  • 8/3/2019 16 - Evoluo e Evangelho - Pietro Ubaldi (Volume Revisado e Formatado em PDF para iPad_Tablet_e-Reader)

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    para ele, porque ningum sabe viver fora do prprio plano. No questo deuma ou de outra religio ou filosofia, nem do grupo a que se pertence ou da fque se professa. No se trata do verniz externo das posies formais, que po-dem modificar apenas a aparncia, dificilmente conseguindo, numa s vida,

    transformar a substncia, ou seja, tornar um bitipo em outro. Quando o pontode referncia o corpo e a terra, em funo dos quais se pensa e se vive, tudopermanece nesse plano. Assim como um peixe, ainda que pudesse aprender ateoria e as leis do voo, jamais poderia voar, pois referir-se-ia sempre ao seumundo, permanecendo em seu ambiente aqutico, um involudo tambm pode-r aprender as coisas espirituais, sem contudo tornar-se um evoludo, pois, emvez de viv-las, referir-se-ia sempre ao seu mundo material, vivendo apenasem funo deste.

    Dado o seu tipo biolgico, o ponto de partida e de referncia para o homem,que sempre matria, o corpo, em funo do qual ele pensa e age. Por isso,mesmo quando quer penetrar na estrada da espiritualidade e da santidade, temde comear agredindo a prpria animalidade, para destru-la. Logo de inicio,acha-se engolfado num trabalho negativo, constitudo pela demolio da bar-reira formada pela prpria natureza inferior, que o impede de avanar paraformas superiores de vida. Trabalho indispensvel sem dvida, mas que revelaa verdadeira natureza humana. Explica-se, assim, por que as primeiras virtudesa aparecer so negativas, impondo o no-fazer, ao invs de positivas, bus-cando o fazer. Desse modo, o que o homem deve aprender primeiro no aes