11 reações de alcenos - aedmoodle.ufpa.br
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11 Reações de alcenos 11.1 Reatividade dos alcenos.
Os alcenos são compostos orgânicos, que apresentam em suas estruturas
carbonos sp2 responsáveis pela formação da ligação pi. Uma das características da ligação pi é o fenômeno da ressonância. (deslocamento de elétrons em orbital p). A ressonância que acontece na ligação pi de alcenos favorece a reação de adição, desta forma um reagente será adicionado integralmente ao substrato. Neste mecanismo de reação teremos no primeiro momento a adição de um eletrófilo (E+), e no segundo momento a entrada de um nucleófilo.
CH2 = CH2 CH2 - CH2
+
Entrada do eletrófilo, E+
Entrada do nucleófilo, Nu
H2C - CH2 CH2 - CH2+
Orbital p vazioCentro catiônico
Orbital p preenchido com dois elétronsCentro aniônico
No processo de ressonância temos um carbono sp2 com um orbital p vazio, apresentando deficiência de elétrons, portanto catiônico, que será o ponto de conexão de nucleófilo. O outro carbono sp2 por apresentar dois elétrons no orbital p se torna aniônico e permite a conexão do eletrófilo.
CH2 CH2
: -+
Na reação de adição a ligação pi do alceno é uma fonte de elétrons, que em
constante movimento nos orbitais p, captura o eletrófilo em um movimento eletrônico típico de uma base de Lewis. Assim o substrato, molécula orgânica que passará pelo
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processo de transformação, receberá integralmente o reagente que participa do mecanismo como o agente transformador do substrato. 11.2 Adição de Hidrácido
Nesta reação, um haleto de hidrogênio (H – X) se adiciona a um alceno levando a formação de um haleto de alquila ou haloalcano.
Formação de haloalcano primário
A adição de H – Cl no eteno forma um haloalcano primário denominado de
cloroetano ou cloreto de etila.
H - Clδ δ
Participa do mecanismo como nucleófilo
Participa do mecanismo como eletrófilo
CH2 = CH2 + H - Cl
δ δOs elétrons pi do substrato capturam o eletrófilo do reagente
E L CH3 - CH2 + ClIntermediário carbocátion
Nucleófilo liberado do reagente faz conexão no intermediário formando o produto desejado
E RCH3 - CH2Cl
E L = Etapa lenta do mecanismo de reaçãoE R = Etapa rápida do mecanismo de reação O mecanismo acontece em três movimentos eletrônicos. No primeiro
movimento eletrônico os elétrons pi do substrato capturam a parte eletrofílica do reagente. Neste instante teremos a formação do carbocátion intermediário da reação.No segundo movimento eletrônico é liberado o nucleófilo ânion cloreto do reagente. Finalmente no terceiro movimento eletrônico, à parte nuleofílica do reagente faz conexão no intermediário carbocátion levando a formação do produto.
A primeira fase da reação se processa com quebra de ligação por este motivo é denominada de etapa endotérmica e é a etapa lenta do mecanismo de reação. Quando o nucleófilo faz a conexão com o centro catiônico do intermediário, ocorre a formação de ligação, por este motivo o processo é exotérmico e a etapa do mecanismo é denominada de etapa rápida. Observe que a hibridação do carbono mudou ao longo do mecanismo, passou de hibridação sp2 (substrato) para sp3 (produto).
Perceba que na etapa lenta, também chamada de etapa determinante da velocidade da reação, ocorreu o envolvimento de duas espécies químicas, o substrato e o reagente, quando isto acontece dizemos que a molecularidade da reação é dois e a reação é de segunda ordem. Com base neste sentimento químico, podemos escrever a equação da lei de velocidade.
V=K[Substrato] [Reagente]
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As reações orgânicas que envolvem adição integral do reagente no substrato olefínico são denominadas de adição eletrofílica, pelo fato do primeiro movimento eletrônico do mecanismo envolver a conexão do eletrófilo. Obtenção de haloalcano secundário
CH3
H
H
H
H Cl
HHH
H
E L
1a etapa: deslocalização do par de elétrons da olefina(base de Lewis) na captura do hidrogênio ionizável do ácido..
Carbocátion isopropila
CH3
Cl-
Cl
2a etapa: Carbocátion (ácido de Lewis) recebe o par de elétronsdo ânion cloreto (base de Lewis).
H
HH
H
H
ClH
H
H
Haloalcano secundário. 2-cloropropano
CH3
CH3
E R
Obtenção de haloalcano cíclico
C l
+ H C l
Primeira etapa forma-se o intermediário.
+ C l H- C l E L
Segunda etapa forma-se o halocicloalcano
+ C l
C lE R
Colocação do produto em conformação cadeira.
Cl
Cl
H
H Conformação mais estável
Interação 1,3-diaxial do cloro com os hidrogênios 3 e 5
177
Obtenção de haloalcano terciário
CH3
H
HH Cl
HH
H
E L
1a etapa: deslocalização do par de elétrons da olefina(base de Lewis) na captura do hidrogênio ionizável do ácido..
Carbocátion t-butila
CH3CH3
CH3
Cl-
Cl
2a etapa: Carbocátion (ácido de Lewis) recebe o par de elétrons do ânion cloreto (base de Lewis).
H
HH
ClH
H
H
Haloalcano terciário. 2-cloro-2-metilpropano
CH3H3C
CH3
CH3
E R
11.3 Adição de água
A adição de água a alceno ocorre em presença de ácido, que tem a função de fornecer eletrófilo ao meio reacional. Os ácidos mais utilizados são os ácidos sulfúrico e clorídrico.
+ H2OH3C
H2C
CH
CH2 H3C
H2C
CHCH3
OH
H+
Desenvolvimento do mecanismo.
H2O + H2SO4H3O + HSO4
+
H3C
H2C
CH
CH2 + H - OH2+
H3C
H2C
CH
CH3+ + H2O
lenta
rápidaH3C
H2C
CH
CH3
+ O
HH
OH2 H3C
H2C
CHCH3
rápida
+ H3O+
HO O mecanismo de reação de adição eletrofílica segue a regra de Markovnikov que
diz: a reação de adição eletrofílica em alcenos permite a entrada de eletrófilo no carbono mais hidrogenado e do nucleófilo no carbono menos hidrogenado
11.4 Adição Kharasch
Em 1930 Kharasch descobriu que a reação de adição de ácido bromídrico em presença de peróxido permite a formação de um produto anti-Markovnikov, que direciona o mecanismo para a entrada do bromo no carbono mais hidrogenado. Os
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radicais livres formados pelo peróxido, ROR, são responsáveis pelo processo de adição anti-Markovnikov.
CH3 - CH = CH2 + H - Br adição polarausência de luz
CH3 - CH - CH3
Br
Produto Markovnikov
CH3 - CH = CH2 + H - Br luz ou peróxido CH3 - CH2 - CH2
Br
Produto anti-Markovnikov
O mecanismo se processa através de cisões homolíticas, que mostra na primeira etapa, denominada de etapa de iniciação, a formação do radical livre iniciador do mecanismo, radical alcóxi, este radical executa a cisão homolítica na estrutura do H – Br, gerando um álcool e o bromo radical. O radical livre formado no átomo de bromo ataca a olefina (alceno) e forma um radical livre no carbono, que finalmente em contato com a estrutura do H – Br leva a formação do haloalcano em uma adição anti-Markovnikov. O cloreto de hidrogênio, H – Cl, e o iodeto de hidrogênio, H – I, não promovem a formação de produto ant-Markovnikov, pois ocorre uma extrema lentidão no processo impedindo a formação do produto.
O mecanismo é desenvolvido através das etapas denominadas de iniciação e propagação.
R - O - O - R ∆ 2 R - O ∆ H = + 39 kcal / mol
R - O + H - Br R - O - H + Br
Peróxido orgânico Radical livre alcóxi ou alcoxil
Etapas de iniciação
Radical alcóxi promove cisão homolítica na estrutura do H- Br
1)
2)
∆ H = - 17 kcal / mol
+ H - Br
Etapas de propagação
CH3 - CH = CH2 + Br CH3 - CH - CH2 - BrRadical em carbono secundário
∆ H = - 5 kcal / mol
4) CH3 - CH - CH2 - Br CH3 - CH2 - CH2 - Br
∆ H = - 11,5 kcal / mol+ Br
3)
R - O
Etapas de finalização- formação de produtos secundários
CH3 - CHCH3 - CH +
CH2 - Br CH2 - Br
CH3 - CH - CH - CH2 - Br
CH2 - Br
CH3
CH3 - CH +
CH2 - Br
CH3 - CH - O - R
CH2 - Br
5)
6)
Qualquer combinação de radical forma produto secundário Seguem algumas reações de adição Kharasch.
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CH2 + H- SH
peróxidoCH2 - SH
R - O - O - R ∆ 2 R - O
R - O + H - SH R - O - H + SH
Peróxido orgânico Radical livre alcóxi ou alcoxil
Etapas de iniciação
Radical alcóxi promove cisão homolítica na estrutura do H- SH
1)
2)
CH2CH2 - SH
+ H - SH
Etapas de propagação
+ SHRadical em carbono terciário
4) + SH
3)
CH2 - SH CH2 - SH
A etapa de terminação envolve a combinação de qualquer radical livre presente no meio reacional. A combinação destes radicais livres fornece a formação de produtos secundários.
A reação a seguir mostra a adição Kharasch de tetracloreto de carbono, CCl4, a um alceno.
+ Cl- CCl3peróxido
H3C
H2C
CH
CH2 H3C
H2C
CH
H2C
CCl3Cl
R - O - O - R ∆ 2 R - O
R - O + Cl - CCl3 R - O - Cl + CCl3
Peróxido orgânico Radical livre alcóxi ou alcoxil
Etapas de iniciação
Radical alcóxi promove cisão homolítica na estrutura do Cl- CCl3
1)
2)
Etapas de propagação
+ CCl3
4)
3)
H3C
H2C
CH
CH2
H3C
H2C
CH
H2C
CCl3Cl
H3C
H2C
CH
H2C
CCl3
+ Cl - CCl3
H3C
H2C
CH
H2C
CCl3
+ CCl3
A etapa de finalização forma produtos secundários oriundos da combinação de
radicais livres formados ao longo do processo reacional.
180
11.5 Adição de Oxiácidos
É uma reação similar a reação de adição de hidrácido, em que os elétrons pi da dupla ligação se deslocam em busca do eletrófilo, que neste caso é o hidrogênio ionizável do ácido. A estrutura do ácido sulfúrico mostra a parte eletrofílica, que pode ser um dos hidrogênios ionizáveis e a parte nucleofílica que será o anion hidrogenosulfato.
SO
O H
O
O
H2SO4 H
SO
O H
O
O
Ânion hidrogenosulfatoÁcido sulfúrico
OSO3H
H - OSO3Hδ δ
Participa do mecanismo como nucleófilo. Faz conexão com o intermediário na segunda etapa do mecanismo.
Participa do mecanismo como eletrófilo. Na primeira etapa do mecanismo é capturado pelos elétrons pi do alceno.
CH2 = CH2 + H - OSO3H
δ δOs elétrons pi do substrato capturam o eletrófilo do reagente
E L CH3 - CH2 + OSO3HIntermediário carbocátion
Nucleófilo liberado do reagente
CH3 - CH2 + OSO3HE R CH3 - CH2OSO3H
Primeira etapa.
Segunda etapa.
Nucleófilo faz conexão no intermediário formando o produto desejado
Produto
11.6 Regra de Markovnikov
O que acontecerá com a reação de adição, quando os ligantes do carbono sp2 do alceno forem grupos alquila. Para estes casos a ressonância vai direcionar o melhor carbono sp2 portador do par de elétrons para a conexão do eletrófilo, como é mostrado a seguir no 2-metil-2-buteno. A ressonância indica que à parte eletrofílica do reagente pode ter duas possibilidades para a conexão no substrato: no carbono mais hidrogenado obtido pelo movimento eletrônico “a” ou no carbono menos hidrogenado obtido pelo movimento eletrônico “b”. O eletrofilo efetua a conexão no carbono mais hidrogenado por ser a forma de ressonância mais estável.
181
C C
CH3
CH3
CH3
H
a
b
C C
CH3
CH3
CH3
H
C C
CH3
CH3
CH3
H
a
b
Forma de ressonância mais estável
+
+
A forma de ressonância mais estável será utilizada na reação e esta em acordo
com a regra de Markovnikov que relata a entrada do eletrófilo no carbono mais hidrogenado e a do nucleófilo no carbono menos hidrogenado.
C C
CH3
CH3
CH3
HC C
CH3
CH3
CH3
HC
CH3
CH3CH3 CH
+ H - ClH+
+ Cl
E L E R
Intermediário
Par de elétrons pi capturaelétrofilo e libera do reagente o nucleófilo Cl
Cl
H
2-Cloro-2-metilbutano
O próximo mecanismo trata da adição de ácido clorídrico ao propeno. Ao longo do mecanismo será mostrado o movimento eletrônico nos orbitais p do propeno neste processo de transformação.
CH3CHCH 2 + HCl → CH3CHClCH 3
Na primeira etapa (etapa lenta e endotérmica) o par de elétrons pi se desloca para capturar o eletrófilo do reagente que em seguida libera o nucleófilo cloreto para o meio reacional. Na segunda etapa (etapa rápida e exotérmica), o nucleófilo cloreto faz a conexão com o carbocátion.
CH3 - CH CH2 + H - Cl CH3 - CH - CH3 + Cl+EL ER
CH3 - CH - CH3
Cl
A etapa lenta do mecanismo é a etapa mais endotérmica e é também chamada de etapa determinante da velocidade da reação. É desta etapa que se escreve a equação da lei de velocidade, que neste caso, depende da concentração do substrato e da concentração do reagente, como mostra a equação matemática a seguir.
V = K [Substrato] [Reagente],
onde S é o substrato e R é o reagente. Essa equação mostra que a reação é de segunda ordem. 11.7 Estabilidade do intermediário
∆H > 0 ∆H < 0
182
A estabilidade do intermediário carbocátion é adquirida através da dispersão de
carga positiva. Lembre-se que a carga positiva no carbono significa um orbital p vazio, favorecendo a passagem dos elétrons sigma da ligação C-H do ligante metila para o referido orbital através da sobreposição dos orbitais. Desta forma, a movimentação de elétrons de um orbital ligante sigma para o orbital p vazio do carbono catiônico aumenta a área de dispersão da carga positiva aumentando a estabilidade.
CC
H
sp3
carbono sp2
CH3H
Nesta região acontece a sobreposição parcial dos orbitais
H
H
Assim, é possível perceber que quanto mais ligantes alquilas estiverem conectados ao carbono catiônico, maior será a dispersão de carga positiva e maior será a estabilidade. Sendo assim, o carbocátion terciário será mais estável que o carbocátion secundário que por sua vez, será mais estável que o carbocátion primário.
C C C+ ++
CH3CH3
CH3 CH3 CH3
H3C
H
HHH
C+
HH
> >>
I - Carbocátion terciário, carbocátion t-butilaII - Carbocátion secundário, carbocátion isopropilaIII - Carbocátion primário, carbocátion etila
IV - Carbocátion metila, que apresenta menor estabilidade
I II III IV
11.8 Adição de Halogênio Este mecanismo tem como objetivo formar de Dialetos vicinais. A primeira
etapa do mecanismo é a etapa lenta, leva a formação de um intermediário cíclico. A segunda etapa é rápida e ocorre com a abertura do anel gerando um dialeto vicinal trans.Esta reação é denominada de adição Anti ou Adição trans. O mecanismo a ser desenvolvido será bromaçaõ do Cis-2-buteno em presença de tetracloreto de carbono.
C
C
H
H
CH3
H3CBr Br C
C
Br
H
H
CH3
CH3
Br -a
Br - b
a
Br
Br
CH3
CH3
H
H
Forma estrelada A
O produto A será colocado em projeção de Fischer. Para isto ocorrer, é necessário passar a projeção em cela da forma estrelada para eclipsada.
183
Br
Br
CH3
CH3
H
H
Br
BrCH3
CH3H
H
Br
Br
H
H CH3R
R
(2R,3S)-2,3-DibromobutanoForma estrelada A
Torção
Forma clipsada A
H3C
Projeção de Fischer
Produto obtido através do caminho b.
C
C
Br
H
H
CH3
CH3
Brb
Br
BrCH3H
CH3 H
b Forma estrelada B+
O produto B obtido será colocado em projeção de Fischer. Neste procedimento a projeção estrelada do composto B é passada para a forma eclipsada também denominada de cela coincidência, pois esta forma espacial retrata as posições espaciais dos ligantes na projeção de Fischer.
Br
BrCH3H
CH3 H
Br
Br
CH3
CH3H
Br
Br
H3C
CH3
H
H
H
S
S
(2S,3S)-2,3-Dibromobutano
Torção
Forma estrelada B
Forma eclipsada B
Projeção de Fischer
O produto A e B são enantiômeros, se forem formados em quantidades iguais formarão uma mistura racêmica. Bromação do trans-2-buteno na presença de tetracloreto de carbono.
C
C
H
H
CH3
H3CBr Br
C
C
Br
H
H
CH3
CH3
Bra
Br b
a
Br
Br
CH3
CH3 H
H
Trans-2-buteno Produto A
+
Caminho de obtenção do produto B.
184
C
C
Br
H
H
CH3
CH3
Br b
Br
Br
CH3H
CH3H
b
Produto B Produto A sendo colocado em projeção de Fischer.
Br
Br
CH3
H3C H
H
Br
Br
H
H
Br
Br
H
HH3CS
RH3C
Produto A emcela estrelada
Projeção de Fischer
H3C
H3C
Produto A emcela eclipsada
Produto B sendo colocado em projeção de Fischer. Neste procedimento se obtém
uma substância oticamente inativa devido à ocorrência de um plano de simetria na estrutura. Este tipo de estrutura recebe a denominação de estrutura meso.
Br
Br
CH3
H CH3
H Br
Br
CH3
CH3H
Br
Br
CH3
CH3
H
H
H
R
S
Disposição espacial Eritro (R,S) compostos A e B são idênticos.
Substância meso, oticamente inativa. Presença do plano de simetria.
Produto B
Torção
Agora veja como ocorre a bromação no cicloexeno.
+ Br2 + Br-Br+
+ Br-Br+ H
H
Br
Br
CCL4
CCL4
O produto obtido será colocado na conformação cadeira. A análise da estrutura indica a conformação trans-diequatorial como sendo a mais estável, pelo fato de não ocorrer interações 1,3-diaxial, que quando presentes, aumentam a energia da molécula ocasionando baixa estabilidade.
185
Br
Br
H
H H
H
H
HTrans diequatorial
BrBr
H
H Br
Br
H
H
H H
H
H
Trans diaxial
Br
Br
HH
11.9 Formação de haloidrinas Quando a reação de halogenação de alcenos ocorre na presença de água, forma-
se um halo álcool vicinal denominado de haloidrina. A haloidrina pode também ser obtida reagindo o alceno com ácido hipobromoso ou hipocloroso. O mecanismo a seguir será desenvolvido com o ácido hipocloroso.
C
C
H
H
CH3
CH3
HO
Cl
δ δ C
C
H
H
CH3
Cl
OH
E L
CH3
OH
a
b
bOH
CH3 H Cl
H CH3
Substância B
Obtenção do produto A na forma estrelada. A torção de 1800 permite a colocação da estrutura em forma eclipsada seguida de projeção de Fischer.
C
C
H
H
CH3CH3
Cl
OHOH
HCH3
ClCH3
H
Cl
CH3H
HCH3
OH
Cl
OH
CH3 HCH3
HR
S
a
ERa
Torção
Projeção de FischerSubstância A em projeçãocela estrelada
Cela eclipsada
OH
CH3 H Cl
H CH3
ClH
HCH3
OH
CH3
CH3
Cl
OH
CH3H
H
R
S
Substância B em cela estrelada
Torção
Projeção de Fischer
Substância B em cela eclipsada As substâncias A e B são idênticas. Formação de haloidrina no substrato trans-2-buteno com Cl2 / H2O.
186
C
C
H
H
CH3
CH3Cl
C
C
H
H
CH3
CH3Cl
OH2
E L HCH3
Cl
CH3 H
ClE R
OH2
H3O +
+
+
H
O H
Torção
Cl
CH3H
HCH3
OH
Cl
OH
CH3 H
CH3 HR
S
Projeção em cela
Projeção de Fischer
CH3
OH
HCH3
Cl
H
11.10 Substratos que permitem rearranjo
CH3C
H
CH3
CH CH2
Carbono sp2 vicinal a carbono sp3 terciário.
Carbono terciário, favorece migração de hidreto, H
Neste carbono se formará o carbocátion
CH3C
CH3
CH CH2
Carbono sp2 vicinal a carbono sp3 quaternário.
Carbono quaternário, favorece migração de carbânion metila, CH3
Neste carbono se formará o carbocátion
CH3
H
Carbono terciário, permite migração de hidreto,H
Carbono sp2 vicinal a carbono sp3 terciárioNeste carbono forma-se o carbocátionque sofrerá rearranjo.
187
Esta estrutura favorece o rearranjo de anel, através da migração de elétrons.
H
Carbocátion recebe o par de elétrons, formando um anel de seis mais estável
O mecanismo a seguir mostra o rearranjo molecular com migração de hidreto.
CH3C
CH3
H
CH CH2 H Clδ δ
CH3C
CH3
H
CH CH3
C
CH3
CH3 CH2 CH3
Cl
Carbocátion secundário
Carbocátion terciário
rearranjo com migraçãode hidretoPar de elétrons é deslocado para
a captura da parte eletrófilica do reagente
Na próxima etapa o nucleófilo ânion cloreto faz conexão nos carbocátions.
CH3C
CH3
CH CH3
Cl
CH3C
CH3
CH CH3
H H Cl
CH3C
CH3
CH2 CH3 CH3C
CH3
CH2 CH3
ClCl
Neste mecanismo ocorre rearranjo molecular com migração de metila na forma de carbânion.
CH3C
CH3
CH CH4 H Clδ δ
CH3C
CH3
CH CH3
C
CH3
CH3 CH CH3
Cl
Carbocátion secundário
Carbocátion terciário
CH3 CH3
CH3
+ +
Rearranjo com migração de carbânio metila
188
CH3C
CH3
CH CH3
Cl
CH3C
CH3
CH CH3
CH3 CH3Cl
CH3C
CH3
CH CH3
Cl
CH3C
CH3
CH CH3
Cl
CH3 CH3
Conexão do nucleófilo no carbono secundário
Conexão do nucleófilo no carbono terciário
Reação com rearranjo de aumento de anel.
H
H
CH3
ClHδ δ
H
CH3
Cl+ +
CH3
+H
+ +
Carbocátion secundário Carbocátion secundário
H
CH3H
a
b
Carbocátion secundário por meio de rearranjo se transforma em carbocátion terciário
+ H
CH3
+a
Carbocátion terciáriob
H
CH3
+
H
CH3
+
ou
H
CH3+
Hrearranjo
H
CH3+
Cada carbocátion formado reage com o nucleófilo cloreto produzindo os seguintes produtos.
H
CH3
Cl+
H
CH3
Cl
CH3
+H
Cl
CH3
H
Cl
189
H
CH3
+
Cl
H
CH3
Cl
H
CH3
+
ClCl H
CH3
H
CH3+
ClCl
H
CH3 11.11 Reação de Adição de Diborano
A reação de adição de diborano em um composto olefínico fornece um
trialquilbo. A reação ocorre na presença de éter, geralmente o tetraidrofurano (THF). A reação de hidroboração foi descoberta por Herbert C. Brown (da Purdue University). O diborano é formado pela reação entre o boridreto de sódio e o trifluoreto de boro.
3NaBH4 + 4BF3 → 2B2H6 + 3NaBF4
Para transformar o B2H6 em BH3 é feita à reação entre o diborano e o éter
tetraidrofurano. O rompimento acontece quando o par de elétrons do oxigênio presente na estrutura do THF se desloca para o orbital p vazio do boro e forma a ligação do boro com o oxigênio do éter, neste momento, é quebrada a estrutura do diborano. O processo ocorre através de uma reação ácido-base.
B
H
H
H
H
B
H
H
O22 O BH3
Diborano
Tetrahidrofurano THFComplexo borano-tetrahidrofurano
O complexo borano-tetraidrofurano é o responsável pelo inicio do processo reacional com a olefina. Depois de formado o complexo borano-tetraidrofurano, este reage com a olefina através do seguinte movimento eletrônico: o par de elétrons que forma a ligação entre o oxigênio do éter e o Boro do BH3 é deslocado para o oxigênio do éter, que abandona a estrutura. Simultaneamente ocorre um segundo movimento eletrônico dos elétrons pi da olefina para o orbital p vazio do boro, esse movimento gera uma ligação química entre o carbono mais hidrogenado da olefina e o boro. A formação desta ligação provoca a quebra da ligação boro-hidrogênio, o hidrogênio então se desloca na forma de hidreto para o carbono menos hidrogenado da olefina. Através desses movimentos simultâneos de elétrons forma-se o monoalquiboro.
190
No estado de transição o boro electrofílico “retira” elétrons da ligação pi, enquanto que o outro carbono da dupla ligação adquire a carga positiva. Esta carga parcial é mais estável no átomo de carbono menos hidrogenado. O produto mostra o boro ligado ao carbono mais hidrogenado da dupla ligação e o hidrogénio ligado ao menos hidrogenado. Igualmente, efeitos estéreos favorecem a adição do boro ao carbono menos impedido. 1ª etapa: obtenção do monoalquilborano.
O B
H
HH
CH2 = CH2
O B
HH
CH2 - CH3
+
2ª etapa: Uma segunda molécula de olefina interage com o monoalquilboro.
BH
C2H5
H
CH2 CH2
B
C2H5C2H5
H
CH2 CH2
BHC2H5
HEstado de transição de quatro centros
#
3ª etapa: Obtenção do trietilboro.
BH
C2H5
C2H5
CH2 CH2
B
C2H5C2H5
C2H5
CH2 CH2
BHC2H5
C2H5
Estado de transiçãode quatro centros
Trialquilboro
O trialquilboro (trietilboro) interage com o peróxido de hidrogênio alcalino.
-O-O-H + H2OH-O-O H + OH-
B
C2H5 C2H5
+
-O-O-HB
C2H5 C2H5
B
C2H5 C2H5
+
O O-HOH
C2H5
OC2H5 C2H5
O boro recebe em seu orbital vazio o par de elétrons do nucleófilo e forma uma nova ligação química. A saída da hidroxila e a deslocalização do ânion etila para o oxigênio inicia a formação do barato de etila. O mecanismo acima ocorre mais duas vezes formando o barato de etila B(OC2H5)3. O barato de etila em meio básico leva a formação do álcool etílico + ânion borato.
191
B(OC2H5)3 + 3 OH- → 3 C2H5OH + BO33-
B
OC2H5 C2H5
+
C2H5
O
O
OH-
B O-H
C2H5OC2H5O
C2H5
O
B
OC2H5 C2H5
+
O
OH
-OC2H5
B
OC2H5 C2H5O
O
-OC2H5
H
C2H5OH + B
OC2H5 C2H5O
O-
+
B
OC2H5C2H5
O
O-
OH-C2H5OHB
OC2H5
O-
O-
+B
OC2H5
O-
O-H
+ -OC2H5
B+
O-
-OC2H5
B
O-
O-
+
O
C2H5
OH-
O-H - OC2H5OHB
O-
O-
+
O-
⇒ Repete-se mais 2vezes o procedimento e se obtém este produto (3 C2H5OH + BO33-).
11.12 Formação de Diol Vicinal cis O hidroxilação com permanganto é um processo mais econômico, o reagente
não é tóxico e forma o produto desejado (syn 1,2-diol). Os rendimentos, contudo são mais baixos.O mecanismo é semelhante ao do tetróxido de ósmio. A solução básica hidrolisa o éster de manganato formado, formando-se o glicol e produzindo um precipitado MnO2, castanho.O substrato é a olefina e o reagente oxidante é KMnO4
.
Mn
OO
O OMn
OO
O O
H - OH
Mn
OHO
O O
H - OHMn
OHO
O OH
+
+ MnO2
OHOH
192
O produto formado, um diol vicinal cis, quando colocado em conformação cadeira mostra a interação 1,3-diaxial entre a hidroxila e os hidrogênios três e cinco.
OH
OH OH
OH
OH
OHOH
OH
O permanganato de potássio diluído e neutro proporciona a formação de
hidroxilação cis e MnO3.
CH3 CH3
HH
KMnO4, dil, neutro
H2O
CH3 CH3
HHOH OH
+ MnO3
Proposta de mecanismo para a reação.
H3C CH3
H HO
Mn
O
O O
H3C CH3
H HO O
Mn
O O
OH2
H3C CH3
H HO O
Mn
O O
O
H
H
H3C CH3
H HO OH
Mn
OO
H
O
H3C CH3
H HOH OH
MnO
OO
+
11.13 Formação de Diol Vicinal trans
A epoxidação é uma reação de transferência de oxigênio, para a qual o peróxido de hidrogênio ou perácidos orgânico são muito adequados. Os epóxidos são intermediários comerciais valiosos e versáteis devido à grande gama de reações que sofrem. A reação de um alceno com um perácido orgânico envolve a quebra da ligação pi e formação de um éter cíclico de três membros, chamado de epóxido. Os perácidos usados são normalmente os ácidos perbenzóico (C6H5CO3H) e peracético. Os perácidos orgânicos interagem com os alcenos como espécies eletrofílicas.
CO3H
CH3CO3H
Perácido benzóico Perácido acético
193
A epoxidação do alceno por um perácido é uma reação estereoespecífica, que se processa através de uma adição à dupla ligação. 1ª etapa: obtenção do epóxido.
C
C
HH
H H
O
H
O
O
C CH3
C
C
HH
H H
O C
O
OHH
+
2ª etapa: Reação do epóxido com ácido orgânico.
C
C
O
H
HH
H
H O
C
O
CH3
C
C
O
H
HH
H
O
C
O
CH3H
Dependendo do perácido utilizado e das condições de reação, o epóxido sofre abertura de anel, dando um 1,2-hidróxi-éster. 3ª etapa: Abertura do epóxido.
CC
O
HH
HH
OC
O
CH3
H
C C
OH
HH
H
H
OCOCH3
A hidrólise deste produto em meio básico leva a formação do diol vicinal. Este
método leva a formação de uma hidroxilação trans. 4a etapa: Reação do hidroxiéster com base / água.
C
OH
C
H
H
H H O
C O
CH3
OH
C
OH
C
H
H
HH O
C O
CH3
HO
HO
H
C
OH
C
HH
HH OH
H3C
C
OH
O
+
Para o trans-2-buteno, o desenvolvimento do mecanismo de epoxidação seguido de hidroxilação leva a formação de uma substância meso.
194
H3C CH3
H
H
H2O2 30%, HCO2H
seguido por OH
OH
OH
H3CCH3
H
H
Formação do epóxido.
H3C
CH3
H
H
O
H
O H
H3C
CH3
H
H
O+ H2O
Protonação do epóxido com ácido orgânico.
H3C
CH3
H
H
O H - O - C - H
O
H3C
CH3
H
H
O H+ + O - C - H
O
Abertura do epóxido.
H3C
CH3
H
H
O H+ + O - C - H
O
O - C - H
O
OH
HCH3
H3CH
Hidrólise do grupamento éster.
O - C - H
O
OH
HCH3
H3CH
H
O
H
OHO - C - H
O
OH
HCH3
H3CH
OH
OH
HCH3
H3CH
OH
+ OH + HCO2H
Produto
H
OH
HCH3H3C
H
OH
OH
OH
H3C H
H3C
Torção
OH
OH
H3C
H3C
H
H
Cela estrelada
Cela eclipsadaProjeção de Fischer
Substância meso
195
11.14 Reação de Ozonólise
Um método usado mais amplamente pra localizar a ligação dupla de alcenos envolve o uso de ozônio (O3). O ozônio reage vigorosamente com os alcenos por meio de uma adição eletrofílica, para gerar compostos instáveis denominados molozonídeo. Esta reação envolve o movimento concertado de elétrons que reagem espontaneamente para formar um estado de transição cíclico instável chamado molozonídeo. Este estado de transição se rompe em um fragmento carbonilado e um óxido de carbonila. A recombinação dos fragmentos leva ao ozonídeo que é reduzido na etapa subseqüente por zinco em ácido acético ou ainda pela reação com dimetilsulfeto.
C C
R1 R2
R3R4
+ O3 CO
C
OOR1
R4
R2
R3
CH3 - S - CH3C
R2
R3
OC
R1
R4
O + + CH3SCH3
O
A dição eletrofílica do ozônio.
C
C
O
OO
+
O
O
OC
C
R1
R4R3
R2
MolozonídeoEstado de transição
O
O
OC
R1
R4
R3
R2+
+
Formação do ozonídeo.
OC
R1
R4O
O
R3R2
+O O
OC
R1
R4
R2
R3
Ozonídeo
Redução do ozonídeo – formação de compostos carbonilados
O O
OC
R1
R4
R2
R3
Ozonídeo
SCH3H3C
O O
OC
R1
R4
R2
R3
SCH3H3C
+
C
R1
R4
R2
R3O O+ S
CH3H3C
O
+
Dimetilsulfeto
Segue algumas reações de ozonólise.
C C
CH2CH3 H
HH
+ O3 CO
C
OO
H
H
H CH3 - S - CH3C
H
H
OC
H
O +CH3CH2
CH3CH2
H3CS
CH3
O+
196
C C
H
+ O3 CO
C
OOH
CH3 - S - CH3C
H
OC O +
+ CH3 - S - CH3
OCH3CH2 CH3CH2
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3 CH3CH2
C C
H
+ O3 CO
C
OOH
CH3 - S - CH3C
H
OC O +
+ CH3 - S - CH3
O
CH3CH2 CH3CH2
CH3CH3
CH3
CH3CH2
11.15 Reação de Diels-Alder
A reação térmica entre alcenos e dienos foi descoberta em 1928 por Diels-Alder. Wasserman, 1935 propõe mecanismo concertado e sincronizado.Woodward Woodward & Katz, 1959: propõe mecanismo concertado mas não sincronizado. Cálculos semi-empíricos e empíricos e ab initio favorecem mecanismo concertado e não sincronizado. A reação de Diels-Alder é uma das reações mais estudadas em química orgânica sintética, devido à facilidade com que ligações C-C e anéis de seis membros podem ser formados. A natureza concertada da transformação pode ser indicada pelo uso de um circulo tracejado que representa os seis elétrons pi deslocalizados ou pelo uso de setas.
#
Dieno DienófiloEstado de transição Produto
As ligações sigmas que se formam na reação Diels-Alder resultam da
transferência de densidade eletrônica entre dieno e dienófilo. A teoria do orbital molecular permite uma melhor explicação para o processo. Quando dois elétrons são transferidos entre moléculas, utilizamos os orbitais moleculares HOMO (orbital molecular ocupado de maior energia) e LUMO (orbital molecular desocupado de menor energia). Assim podemos utilizar o HOMO do dieno e o LUMO do dienófilo ou então o LUMO do dieno e o HOMO do dienófilo.
DienoHOMO
DienófiloLUMO
DienoLUMO
DienófiloHOMO
+
+Possibilidades:
Como conseqüência do mecanismo concertado, a reação de Diels- Alder é estereoespecífica. A reação do 1,3-butadieno com o cis-2-butenodioato de dimetila ou maleato de dimetila (um alqueno cis) gera o cis-4-cicloexeno-1,2-dicarboxilato de dimetila.
197
A estereoquímica da ligação dupla inicial do dienófilo se conserva no produto. O trans-2-butenodioato de dimetila ou fumarato de dimetila, um alqueno trans, forma o aduto cíclico trans.
CO2CH3
CO2CH3H
H CO2CH3
CO2CH3H
H
+
CO2CH3
CO2CH3
H
H
Estado de transição Produto forma cisForma cis
CO2CH3
CO2CH3
H
H CO2CH3
CO2CH3H
H
+
CO2CH3
CO2CH3
H
H
Estado de transição Produto forma transForma trans Segue alguns exemplos de reações Diels – Alder.
#
H
H
CH3
CH3
H
H
CH3
CH3
+
H
H
CH3
CH3
ou
CH3
CH3
H
H
Forma cis Forma cis
H
H
CH3
CH3
H
H
CH3
CH3
+
H
H
CH3
CH3
ouCH3
CH3
H
H
Forma transForma trans