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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA IBRATI SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA Vanizia Regina de Pádua Antunes da Silva EUTANÁSIA EM UTI: REFLEXÕES BIOÉTICAS A PARTIR DE UM CASO PARADIGMÁTICO

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATISOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATIMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA

Vanizia Regina de Pádua Antunes da Silva

EUTANÁSIA EM UTI: REFLEXÕES BIOÉTICAS A PARTIR DE UM CASO PARADIGMÁTICO

BRASILIA- DF

2015

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Vanizia Regina de Pádua Antunes da Silva

EUTANÁSIA EM UTI: REFLEXÕES BIOÉTICAS A PARTIR DE UM CASO PARADIGMÁTICO

Trabalho de Conclusão de Curso/

Dissertação, apresentado como requisito

para aprovação final no Mestrado

Profissionalizante da Sociedade Brasileira

de Terapia Intensiva / SOBRATI / Brasilia

– DF.

Orientador: Dr. Douglas Ferrari

Co-Orientador: Dr.º José de Arimatea

Co-Orientadora: Dr.ª Danielle Zago

BRASILIA- DF

2015

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EUTANÁSIA EM UTI: REFLEXÕES BIOÉTICAS A PARTIR DE UM

CASO PARADIGMÁTICO1

EUTHANASIA IN ICU : REFLECTIONS BIOETHICAL A CASE

FROM PARADIGMATIC

EUTANASIA EN UCI : REFLEXIONES BIOÉTICA UN CASO DE

PARADIGMÁTICO

Silva, Vanizia Regina de Padua Antunes da2, Ferrari, Douglas3.

Resumo – Esta pesquisa trata da dignidade humana como base de todo o

ordenamento jurídico e, por isso, devendo ser assegurado em todos os momentos da

vida, inclusive, na morte. Destaca-se, também, o direito à vida como fundamental à

existência dos demais direitos, visto que sem vida não há ser humano e os direitos da

personalidade. Os principais procedimentos de interrupção da vida, como eutanásia,

ortotanásia, distanásia, são apresentados para verificar a possibilidade de uma morte

digna, abordando, os seus aspectos históricos, morais e éticos, além das questões

jurídicas e da legislação pertinente ao tema, inclusive, verificando o Direito Penal

Brasileiro. Trata-se de revisão reflexiva de literatura tendo como base matéria

publicada na imprensa, abordando a visão de um grupo de acadêmicos de medicina a

respeito do tema. A eutanásia é considerada uma prática ilegal segundo o Código

Penal Brasileiro e vai de encontro aos princípios éticos da medicina. A ortotanásia não

deve se confundir com aquela prática, encaixando-se como opção legítima a ser

adotada por pacientes com doença terminal em intenso sofrimento físico e psíquico.

Descritores: Eutanásia, UTI, Bioética,

Abstract - This research deals with human dignity as the basis of the entire legal

system and, therefore, must be ensured at all times of life, including death. The right to

life is also emphasized as fundamental to the existence of other rights, since without

life there is no human being and the rights of the personality. The main life-interrupting

procedures, such as euthanasia, orthanasia, dysthanasia, are presented to verify the

possibility of a dignified death, addressing its historical, moral and ethical aspects, as 1 Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação Strito Sensu, Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva / SOBRATI .22 Enfermeira, Especialista e Mestranda em Terapia Intensiva e-mail:[email protected] 33 Médico Intensivista, Diretor do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, Doutor em Terapia Intensiva, Presidente Fundador da SOBRATI e-mail: [email protected]

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well as legal issues and relevant legislation, verifying the Brazilian Criminal Law. This is

a reflective review of literature based on published material in the press, addressing the

vision of a group of medical students on the subject. Euthanasia is considered an

illegal practice under the Brazilian Penal Code and is in accordance with the ethical

principles of medicine. Orthotanasia should not be confused with this practice, fitting as

a legitimate option to be adopted by patients with terminal illness in intense physical

and psychological suffering.

Descritores : Euthanasia , Intensive Care Units , Bioethics 

Resumen - Esta investigación trata de la dignidad humana como base de todo el

ordenamiento jurídico y, por lo tanto, debe ser asegurado en todos los momentos de la

vida, incluso, en la muerte. Se destaca, también, el derecho a la vida como

fundamental a la existencia de los demás derechos, ya que sin vida no hay ser

humano y los derechos de la personalidad. Los principales procedimientos de

interrupción de la vida, como la eutanasia, la ortotanasia, la distanasia, se presentan

para comprobar la posibilidad de una muerte digna, abordando, sus aspectos

históricos, morales y éticos, además de las cuestiones jurídicas y de la legislación

pertinente al tema, verificando el Derecho Penal Brasileño. Se trata de una revisión

reflexiva de literatura que tiene como base materia publicada en la prensa, abordando

la visión de un grupo de académicos de medicina acerca del tema. La eutanasia es

considerada una práctica ilegal según el Código Penal Brasileño y va en contra de los

principios éticos de la medicina. La ortotanasia no debe confundirse con aquella

práctica, encajando como opción legítima a ser adoptada por pacientes con

enfermedad terminal en intenso sufrimiento físico y psíquico.

Descritores : Eutanasia, Unidades de Cuidados Intensivos , Bioetica

INTRODUÇÃO

O interesse para a realização deste artigo culminou no fato ocorrido

recentemente na Cidade de Curitiba/PR, que gerou grande repercussão

nacional e levantou inúmeras questões acerca da “Eutanásia”, tema bastante

controverso e pouco discutido na população em geral e principalmente entre os

profissionais de saúde, em especial os intensivistas.

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Atualmente a medicina encara a morte como um processo e não

meramente como um evento. A Tanatologia é a ciência que busca

compreender estes processos.

A distanásia é sinônimo de tratamento fútil, sem benefícios para a

pessoa em sua fase terminal. È o processo pelo qual se prolonga meramente o

processo de morrer, e não a vida propriamente dita, tendo como consequência

morte prolongada, lenta e, com frequência, acompanhada de sofrimento, dor e

agonia.

A Ortotanásia é a arte de morrer bem, humana e corretamente, sem ser

vitimado pela mistanásia, por um lado, ou pela distanásia, por outro, e sem

abreviar a vida, ou seja, recorrer à eutanásia.

Eutanásia, atualmente, é conceituada como a ação que tem por

finalidade levar à retirada da vida do ser humano por considerações tidas como

humanísticas, à pessoa ou à sociedade, diz Pessini L, Barchifontaine ; 2005; é

ética e legalmente incorreta no Brasil, diz Carvalho RT, 2008.

A Eutanásia é considerada um procedimento legal em diversos países

do mundo como na Holanda e Suíça. No Brasil é avaliada como homicídio,

segundo o Código Penal, artigo 121 e como antiética, conforme o artigo 41 da

resolução 1931 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que entrou em vigor

em 2010: “ È vedado ao médico abreviar a vida do paciente ainda que a pedido

deste ou de seu representante legal.”

Já para a equipe de enfermagem em especial o Enfermeiro, deve estar

ciente do seu código de ética, o qual traz claramente em seu artigo nº 29,

quanto às proibições: “promover a eutanásia ou participar em prática destinada

a antecipar a morte do cliente, confirma o Conselho Federal de Enfermagem,

Resolução nº 311, de 08 de fevereiro de 2007.

Corroborando a promoção do bem-estar da pessoa em processo de

morrer, os alicerces de sustentação das ações profissionais estão ancorados

nos quatro princípios bioéticos do modelo principialista: a autonomia, a justiça,

a beneficência e a não maleficência, devendo ser norte para as práticas,

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reflexões e atitudes profissionais, refere Freitas GF,Oguisso T, Fernandes MFP

et al, 2005.

A promoção à saúde e a bioética se unem pela defesa da vida e têm

como objetivo comum a melhoria da qualidade de vida e o respeito à dignidade

humana

O que se espera alcançar com este estudo, sua relevância para a

ciência, para toda equipe multiprofisional,para a enfermagem, sua contribuição

para auxiliar na resolução do problema. Zoboli ELCP, Fortes PAC, 2004.

O morrer com dignidade é consequência do viver dignamente e não

apenas o sobreviver sofrido. A vida deve ser vivida com dignidade e o processo

de morrer, o qual faz parte da vida humana, também deve ocorrer de modo

digno, assim se faz necessária a exigência dos direitos a uma morte digna,

incluindo a reflexão a respeito do arsenal terapêutico excessivo.

Se não houver enfrentamento dessas questões, além de implicar em

maior sofrimento aos que sofrem distanásia e têm sua dignidade ferida em seu

processo de morte, haverá contradição nas atitudes profissionais, onde se

investe agudamente em pacientes com chances nulas de recuperação, quando

esses recursos poderiam ser usados para salvar vidas com reais

probabilidades de se recuperarem, trazendo sérios questionamentos acerca

dos critérios quanto à utilização das UTIs, diz Pessini L, Barchifontaine em

2002.

Muitos são os artigos encontrados sobre o paciente em sua fase terminal

de vida na América Latina, entretanto, ainda são escassas as publicações

acerca das condutas tomadas, processos de tomada de decisões,

envolvimento da família e do paciente e modificações nas indicações de

tratamento, através da consciência e responsabilidade determinadas pela

bioética, Kipper DJ diz em 2003.

È relevante ressaltar que este estudo teve como base o conteúdo

divulgado publicamente pela mídia, apesar de termos acesso aos autos éticos

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e legais que tratam do caso na integra, haja vista que o processo corre em

sigilo judicial. Porem um breve roteiro sobre o caso ocorrido.

O tema é polêmico, visto que transcende o conceito jurídico e legal, pois

também acende discussões na esfera religiosa, moral e ética, apenas no

campo do senso comum.

OBJETIVO GERAL

Consiste em realizar uma análise dos aspectos bioéticos envolvidos no

processo de morrer, especificamente a eutanásia, tendo como pano de fundo

uma reflexão crítica sobre o ocorrido em 2013 com uma médica na cidade de

Curitiba e sua equipe.

MATERIAIS E MÉTODOS

A presente pesquisa trata-se de um estudo do tipo bibliográfico,

descritivo e analítico, retrospectivo com análise integrativa, sistematizada e

qualitativa.

A abordagem de uma pesquisa bibliográfica é desenvolvida pela busca

da problematização de um projeto de pesquisa, com base em material já

elaborado, constituído principalmente de livros literários, artigos científicos e

materiais disponíveis na internet. Sendo assim, a revisão bibliográfica subsidia

a busca pela informação, no sentido de mostrar os casos ocorridos sobre

Eutanasia em uma Unidade de Terapia Intensiva

Após a definição do tema foi feita uma busca em bases de dados virtuais

em saúde, especificamente na Biblioteca Virtual de Saúde - Bireme. Foram

utilizados os descritores: Eutanásia, UTI, Bioética. O passo seguinte foi uma

leitura exploratória das publicações apresentadas no Sistema Latino-Americano

e do Caribe de informação em Ciências da Saúde - LILACS, MEDLINE e

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Bancos de Dados em Enfermagem – BDENF, Scientific Electronic Library

online – Scielo, no período de 2005 a 2015.

Realizada a leitura exploratória e seleção do material, principiou a leitura

analítica, por meio da leitura das obras selecionadas, que possibilitou a

organização das idéias por ordem de importância e a sintetização destas que

visou à fixação das idéias essenciais para a solução do problema da pesquisa.

Após a leitura analítica, iniciou-se a leitura interpretativa que tratou do

comentário feito pela ligação dos dados obtidos nas fontes ao problema da

pesquisa e conhecimentos prévios. Na leitura interpretativa houve uma busca

mais ampla de resultados, pois ajustaram o problema da pesquisa a possíveis

soluções. Feita a leitura interpretativa se iniciou a tomada de apontamentos

que se referiram a anotações que consideravam o problema da pesquisa,

ressalvando as idéias principais e dados mais importantes.

A partir das anotações da tomada de apontamentos, foram

confeccionados fichamentos, em fichas estruturadas em um documento do

Microsoft Word, que objetivaram a identificação das obras consultadas, o

registro do conteúdo das obras, o registro dos comentários acerca das obras e

ordenação dos registros. Os fichamentos propiciaram a construção lógica do

trabalho, que consistiram na coordenação das idéias que acataram os objetivos

da pesquisa.

A seguir, os dados apresentados foram submetidos à análise de

conteúdo. Posteriormente, os resultados foram discutidos com o suporte de

outros estudos provenientes de revistas científicas e livros, para a construção

do relatório final.

RESULTADO E DISCUSSÃO

O presente estudo analisou revistas, artigos de várias fontes e uma

investigação processual do caso ocorrido no Hospital Evangelista da cidade de

Curitiba sobre a Eutanásia em UTI.

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Foram selecionados 15 publicações para estudo; juntamente com a

busca de investigação processual. Verificou no levantamento de dados, que 2

publicações não estavam de acordo com os itens estabelecidos com a questão

norteadora ou não atendiam os parâmetros necessários.

Foi me fornecido a partir de minha co-orientadora os dados do processo

criminal movido pelo Ministério Público em face de Virgínia Helena Soares de

Souza.

Processo: 0005217-13.2013.8.16.0013

Número de protocolo: 2013.00134521

Vara Privativa do 2º Tribunal do Júri

Comarca: Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba que

corre em Segredo de Justiça

Como resumo do processo temos que polícia indiciou, em fevereiro de

2013, a médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico

de Curitiba, Dr.ª Virgínia Helena Soares de Souza, acusada de praticar

eutanásia em pacientes internados em estado grave desde 2006, quando ela

começou a chefiar o departamento.

Em março de 2013, o Ministério Público do Paraná denunciou a médica

por homicídio qualificado e formação de quadrilha. A acusada foi presa no dia

19 de fevereiro, prisão requerida em sede de inquérito policial.

Além da Dr.ª Virgínia, acusada de sete homicídios duplamente

qualificados (por motivo torpe e por usar meios que dificultaram a defesa do

paciente) e formação de quadrilha, também foram denunciados o médico Dr.º

Anderson de Freitas (dois homicídios duplamente qualificados e formação de

quadrilha), os médicos Dr.º Edison Anselmo da Silva Junior e Dr.ª Maria

Israela Cortez Boccato (um homicídio duplamente qualificado e formação de

quadrilha), as enfermeiras Laís da Rosa Groff e Patrícia Cristina de Goveia

Ribeiro (um homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha); e o

enfermeiro Claudinei Machado Nunes e a fisioterapeuta Carmencita Emília

Minozzo (formação de quadrilha)

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A médica Krissia Kamile Singer Walbach, que chegou a ser indiciada

pela Polícia Civil por homicídio qualificado e formação de quadrilha, não foi

denunciada pelo Ministerio PÚblico.

A denúncia do Ministério Público tomou como base o inquérito realizado

pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (NUCRISA), que reuniu

testemunhos, interceptações telefônicas e quase 2.000 prontuários médicos.

Segundo a denúncia do MP, entre janeiro de 2006 e 19 de fevereiro de 2013,

os profissionais denunciados teriam "se associado em quadrilha para cometer

homicídios de pacientes." A Dr.ªVirgínia, segundo o MP, teria usado

medicamentos empregados para auxiliar a ventilação mecânica para matar os

pacientes por asfixia. "Não havia nada nos prontuários médicos que justificasse

o uso desses medicamentos", afirmou a promotora Fernanda Garcez.

O MP ainda não conseguiu determinar, no entanto, qual seria a

motivação dos crimes pelos quais os profissionais são acusados. Por

enquanto, a hipótese mais forte vem das escutas telefônicas, nas quais a Dr.ª

Virgínia disse que queria "desentulhar a UTI". "Os prontuários são a prova mais

forte", disse Garcez.

A médica Virgínia Helena foi solta um mês após a sua prisão. O

Ministério Público, inconformado, interpôs Recurso em Sentido Estrito de n.

1046978-0. NPU: 0005217-13.2013.8.16.0013. O Tribunal de Justiça negou o

recurso. Os desembargadores da 1ª Câmara Criminal julgaram o recurso.

A primeira audiência de instrução foi feita em setembro de 2013, na qual

foram ouvidas 14 testemunhas. Foram ouvidos cinco técnicos de enfermagem,

três enfermeiros, três familiares das supostas vítimas, um médico e dois

legistas. A médica é acusada de ter antecipado mortes na UTI do Hospital

Evangélico, em Curitiba. Três testemunhas seriam ouvidas por meio de carta

precatória. Ouviu-se, ainda, oito testemunhas de defesa no processo.

Em março de 2014 o Ministério Público teve seu pedido de prisão

preventiva da médica novamente negado. Todos os acusados no processo

estão em liberdade. O Ministério Público do Paraná denunciou à Justiça quatro

médicos, três enfermeiros e uma fisioterapeuta.

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O processo ainda não teve julgamento. Segundo o Diário de Justiça do

Paraná, o ultimo andamento é de 11 de fevereiro de 2015. No caso foi julgado

um conflito de competência.

1. Trata-se de Conflito Negativo de Competência Crime nº 1.297.190-9,

suscitado pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Privativa do Tribunal do Júri do Foro

Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba por entender

competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Privativa do Tribunal do Júri também

desta Capital para processar e julgar os autos de Inquérito Policial nº

2013.35655-3, instaurado para investigar a notícia de crime contra a vítima

Ivone Alves Teixeira, falecida na UTI Geral do Hospital Evangélico de Curitiba,

em 14.09.2012.

Denota-se dos autos que a Juíza da 1ª Vara Privativa do Tribunal do

Júri, declinou a competência com base no artigo 76, inciso III, do Código de

Processo Penal, em fls. 155/157, considerando haver conexão com a Ação

Penal nº 2013.30490-0, que tramita perante aquele juízo, acolhendo, assim, a

manifestação do Agente Ministerial em exercício de fls. 154. Às fls. 162/164 o

Juízo da 2ª Vara Privativa do Tribunal do Júri determinou o retorno dos autos à

1ª Vara Privativa do Júri para reconsideração, o qual manteve a decisão (fls.

175). Foi suscitado o Conflito Negativo de Competência, fls. 178. É o relatório.

2. Há controvérsia travada no presente incidente discute a competência

relativa ao Inquérito Policial instaurado para apurar o óbito de Ivone Alves

Teixeira, ocorrido na UTI Geral do Hospital Evangélico de Curitiba, que, de

acordo com o Juízo suscitado, guarda conexão probatória com o autos de ação

penal nº. 2012.30490-0, em trâmite junto a 2ª Vara Privativa do Tribunal do

Júri. Pois bem. Denota-se que a questão posta em exame já foi analisada e

julgada pela 1ª Câmara Criminal em Composição Integral, nos autos de

Conflito de Competência Crime nº 1.297.637-7, onde não foi dada razão ao

Juízo Suscitante

O processo segue seu curso normal por enquanto.

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Cronologia inicial do caso:

1. • 19 de Fevereiro – Virgínia Helena Soares de Souza e mais três

médicos, além de uma enfermeira, são detidos suspeitos de acelerar a

morte de pacientes na UTI Geral do Hospital. Até então o inquérito corria

em segredo de justiça.

2. • 26 de Fevereiro – A Vara de Inquéritos Policiais de Curitiba determina

a quebra do segredo de Justiça do inquérito que investiga a antecipação

de óbitos na UTI geral do Hospital Evangélico de Curitiba. No mesmo dia

o Sindicato dos Delegados de Policia do Paraná (Sidepol), defendeu a

atuação da delegada Paula Brisola no comando do inquérito. Na época,

seu trabalho enfrentava diversas críticas, tanto por parte da direção do

Hospital, como da defesa de Virgínia Helena Soares de Souza.

3. • 27 de Fevereiro – Após boatos de que teria utilizado um oficial formado

em enfermagem infiltrado na UTI Geral do Hospital Evangélico, a Polícia

Civil divulga nota esclarecendo que "a execução da medida [infiltração

de um agente na UTI] se tornou inviável do ponto de vista operacional,

optando-se pela interceptação telefônica autorizada judicialmente".

4. • 1 de Março – Polícia Civil divulga nota corrigindo trechos da

investigação após divulgação de uma degravação constante no

inquérito. A palavra "raciocinar" havia sido transcrita como "assassinar"

no documento em questão.

5. • 6 de Março – A Secretaria de Estado de Segurança Pública do Paraná

informa que vai investigar como detalhes do inquérito sobre as mortes

na UTI Geral do Hospital Evangélico vazaram à imprensa antes da

quebra de sigilo determinada pela polícia em 25 de fevereiro, uma

semana depois do caso ganhar repercussão na imprensa.

6. • 11 de Março – O Ministério Público do Paraná denuncia a médica

Virgínia Helena Soares de Souza por homicídio qualificado e formação

de quadrilha. Além de Virgínia, acusada de sete homicídios duplamente

qualificados (por motivo torpe e por usar meios que dificultaram a defesa

do paciente) e formação de quadrilha, também foram denunciados o

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médico Anderson de Freitas (dois homicídios duplamente qualificados e

formação de quadrilha), os médicos Edison Anselmo da Silva Junior e

Maria Israela Cortez Boccato (um homicídio duplamente qualificado e

formação de quadrilha), as enfermeiras Laís da Rosa Groff e Patrícia

Cristina de Goveia Ribeiro (um homicídio duplamente qualificado e

formação de quadrilha); e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes e a

fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo (formação de quadrilha).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Unidades de Terapia Intensiva estão preparadas para um

atendimento satisfatório em relação aos aspectos fisiológicos, mas que

necessitam de uma padronização e implantação de protocolos e treinamento

da equipe multidisciplinar para a prestação dos cuidados paliativos.

No processo de revisão, observa-se que, quando a equipe de

enfermagem presta cuidados paliativos, sem uma capacitação adequada,

reflete num impacto negativo, que envolve de forma emocional, na prestação

destes cuidados e afeta sua vida e a do doente pois não consegue atingir a

qualidade da assistência prestada conforme as necessidade do individuo.

Conclui-se que o descaso na saúde pública está evidentemente

contrariando os direitos e princípios fundamentais contidos na Constituição

Federal de 1988, e de forma cíclica a insatisfação percorre desde o paciente

até aqueles que compõem o sistema e são conjugados a ele, resultando muita

das vezes na morte miserável, Pois existe uma ligação entre a vida e a

dignidade humana, na qual a doutrina menciona que os direitos e os princípios

fundamentais devem estar juntos, para que o ser humano seja valorizado na

sua mais profunda vontade de viver.

É notório que a saúde pública não é prioridade nos investimentos, ao

ponto que programas do governo federal, tentam abarcar pequenos grupos,

não existindo um plano emergencial para investimento em infraestrutura de

qualidade, para servir a população em massa. Entretanto, lamentavelmente

esse sistema de saúde precário muito se assemelha ao pensamento ideológico

da eutanásia social.

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E no que se refere à prática da Eutanásia, existe uma nova ideia de

morte para pacientes em estado terminal ou que estão entrando em estado

vegetativo, que é a morte natural, abordada como ortotanásia, pois não é

considerada degradante, nem mesmo precisa do auxílio de um médico para

desligar aparelhos e fazer com que a humanidade presencie cenas que poderia

ser poupada, pois poderia haver arrependimentos tardios.

Essa modalidade apresenta um ideal na área da bioética, pois é

considerada como uma ponderação entre a morte rápida através de

medicamentos ou desligamento de aparelhos e o excessivo tempo de estado

vegetativo.

Portanto, necessita-se de uma mudança de paradigma sobre a

eutanásia, não apenas buscando um posicionamento baseado em princípios

pessoais e sociais, mas uma nova visão voltada tanto para os pacientes

terminais quanto para seus familiares, buscando resposta no procedimento da

ortotanásia quando solicitado, além do apoio de profissionais da saúde, como

enfermeiros especializados nesses casos, assistentes sociais, psicólogos e,

ainda, a possibilidade de uma revisão legislativa no nosso Código Penal a fim

de tipificar tais procedimentos.

Ante a complexidade do tema, este trabalho não pretende esgotar a

discussão. Ao contrário, visa estimular o aprofundamento da temática,

considerando sua importância social.

Caso se confirmem as notícias divulgadas na imprensa, um aspecto

relevante refere-se ao descumprimento do Código de Ética Médica (CEM) pela

profissional, dado que o artigo 41 veda ao médico abreviar a vida do paciente,

ainda que a seu pedido ou de seu representante legal.

O inciso XXII, do mesmo documento, também terá sido violado, visto

que destaca o dever profissional em propiciar aos pacientes todos os cuidados

paliativos apropriados na vigência de situações clínicas irreversíveis e terminais

32. Assim, a situação analisada se revelaria inaceitável considerando-se,

estritamente, o cumprimento das normas deontológicas da profissão.

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A eutanásia, além de ilícita no Brasil, nega dois princípios éticos de

suma importância para a medicina – a beneficência e a não maleficência –,

visto que os profissionais dessa área, em geral, são capacitados para atuar

visando o bem-estar e a manutenção da vida dos pacientes. E é em nome da

manutenção da vida que eles, muitas vezes, extrapolam suas atribuições,

utilizando desmesuradamente artifícios para a manutenção da vida: a

obstinação terapêutica.

Entretanto, estudos têm apontado que a formação adequada, voltada ao

bem-estar do paciente, promove melhores resultados, conferindo um processo

de morte mais harmonioso. A ortotanásia encaixa-se nessa linha de práticas

como a melhor escolha para pacientes com doenças em estado terminal, com

intenso sofrimento físico e psíquico. No que tange ao caso analisado neste

artigo, é importante informar que a profissional que protagonizou esses eventos

está respondendo tanto a processo judicial como a processo ético-profissional

no Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná.

Segundo o entendimento do Ministério Público, a profissional, que

esteve presa por um mês, deveria ser novamente detida para garantir a ordem

pública e a conveniência da instrução do processo 33. Em março de 2014,

porém, a 1a Câmara do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) negou em

julgamento o recurso do Ministério Público e o pedido de retorno à prisão. Por

fim, é importante ressaltar que a atividade médica deve ser respaldada no

legado hipocrático que ensina a curar quando possível, aliviar quando

necessário, consolar sempre 34. Então, deve partir dos profissionais de saúde

– e estender-se à sociedade como um todo – a compreensão de que a morte é

condição intrínseca à natureza dos seres vivos, a qual todos estão fadados.

Sua inevitabilidade implica considerar que o fenômeno perpassa e

transcende traços culturais, princípios éticos e pressupostos científicos

relacionados a contextos e períodos históricos definidos. Na atualidade,

configura-se tema polêmico em vista do fato de as sociedades negarem

peremptoriamente o fenômeno, o que se reflete na formação das áreas

acadêmicas da saúde e na prática dos serviços que lidam diretamente com ela.

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Assim, urge refletir sobre essa temática para transformar a percepção e

as práticas relativas à morte e ao morrer , sem confundir processos legítimos,

como a ortotanásia, e ilegítimos, como a eutanásia, como se pretendeu nesta

discussão.

Tais estudos apontam para a necessidade de um atendimento mais

humanizado na prestação de cuidados ao doente terminal e levando a

extensão para os familiares que vivenciam a perda de um ente querido.

“Quem não sabe o que é a vida,

como poderá saber o que é a morte?”

Confúcio

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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