yone - unifieo - home · cap~tulo 1 a hist~ria do trabalho subordinado e seus reflexos na empresa....
TRANSCRIPT
YONE FREDIANI
GREVE NOS SERVIÇOS ESSENCIAIS
A LUZ DA CONSTITUIÇÁO FEDERAL DE 1988
MESTRADO EM DIREITO
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFIEOIOSASCO
2001
YONE FREDIANI
GREVE NOS SERVIÇOS ESSENCIAIS
A LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Dissertação apresentada a Banca Examinadora da UNIFIEO - Centro Universitário FIEO, como exigdncia parcial para obtenção do Titulo de Mestre em Direito, sob orientação do Professor Doutor Gabriel Chalita.
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFIEO/OSASCO
2001
Banca Examinadora:
CAP~TULO 1 A HIST~RIA DO TRABALHO
SUBORDINADO E SEUS REFLEXOS NA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . EMPRESA. 12
CAP~TULO 2: O DIREITO DE GREVE. ORIGEM E
EVOLUÇAO HIST~RICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
CAP~TULO 3: O DIREITO ESTRANGEIRO E A
GREVE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
CAP~TULO 4: A ORGANIZAÇAO INTERNACIONAL
DO TRABALHO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
CAP~TULO 5: DA COMUNIDADE EUROPÉIA AO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . MERCOSUL. 54
CAP~TULO 6: O DIREITO DE GREVE NO BRASIL.
6.1. EVOLUÇÃO E TRATAMENTO NAS DIVERSAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONSTITUIÇ~ES. 72
CAP~TU LO 7: FUNDAMENTAÇAO CONSTITUCIONAL E CONCEITUAÇÃO DA
GREVE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7.1. REQUISITOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
7.2. DAS DIVERSAS FORMAS DE PROTESTO
COLETIVO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
7.3. A NOVA VISÃO DA GREVE DIANTE DA
FLEXIBILIZAÇÃO DAS RELAÇÓES DE
TRABALHO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
CAP~TULO 8: NATUREZA JUR~DICA. . . . . . . . . 109
8.1. TITULARIDADE DO DIREITO DE GREVE. 115
8.2. FINALIDADES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
8.3. QUALIFICAÇÃO DA GREVE . . . . . . . . . . . 118
CAPITULO 9: LIMITAÇÕEs AO DIREITO DE
GREVE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
C A P ~ U L O 10: DA CARACTERIZAÇÃO DOS
SERVIÇOS ESSENCIAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
10.1. A INICIATIVA PRIVADA E OS SERVIÇOS
ESSENCIAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 36
10.2. O SERVIÇO PÚBLICO E O EXERC~CIO DA
GREVE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
10.3. AS EMPRESAS PÚBLICAS E AS
SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA. . . . . . . . 142
C A P ~ U L O 11: A DEFLAGRAÇÁO DE GREVE
NOS SERVIÇOS ESSENCIAIS. . . . . . . . . . . . . 144
11.1. OS SERVIÇOS OU ATIVIDADES
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ESSENCIAIS 150
11.3. O ATENDIMENTO AS NECESSIDADES
M~NIMAS DA POPULAÇÁO. . . . . . . . . . . . . . . . 152
CAP~TULO 12: CONSEQUÊNCIAS DA
INOBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS NA
DEFLAGRAÇÃO DE GREVE NOS SERVIÇOS
ESSENCIAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
Nossa proposta quando da escolha do tema "Greve
nos Serviços Essenciais" não foi outra senão demonstrar que o
exercício de direitos de igual grandeza, no caso a paralisação de
serviços essenciais em contraposição a necessidade da
população, podem conviver harmonicamente sem que possamos
afirmar que as limitações impostas pela legislação
infraconstitucional importem em qualquer restrição aos mesmos.
@ Para chegarmos a análise da questão propriamente
dita, examinaremos de inicio a evolução do trabalho subordinado
e seus reflexos na comunidade laboral e empresarial, passando à
apreciação da origem e evolução histórica da greve no Direito
Estrangeiro, para, logo a seguir, verificarmos eventuais
influências sofridas no direito pátrio diante dos inúmeros textos
constitucionais e infraconstitucionais promulgados até a presente
data.
A abordagem histórica nos pareceu de fundamental
relevância para compreensão da evolução sociológica do
instituto, influências e limitações sofridas em face do tratamento
dispensado pelo ordenamento legal sob apreciação.
Ainda que superficialmente, analisaremos o
tratamento dispensado por alguns países quanto ao exercício do
direito de greve nos denominados serviços essenciais,
respectivas peculiaridades e reflexos, passando a verificação das
normas e diretrizes emanadas da Organização Internacional do
Trabalho acerca do mesmo tema, trazendo a colação alguns
verbetes de relevância provenientes do Comitê de Liberdade
Sindical e que tratam da parede nos serviços essenciais a
população.
Sob a denominação " Da Comunidade Européia ao
Mercosul", discorreremos com um pouco mais de detalhes sobre
as peculiaridades decorrentes do tratamento dispensado a greve
nos serviços essenciais junto ao Direito italiano e português em
face da existência de mecanismos singulares, quais sejam, a
existência de mediador oficial no primeiro deles e da possibilidade
de requisição civil no segundo com vistas a continuidade dos
serviços necessários a comunidade.
Posteriormente verificaremos o tratamento dado ao
direito de greve nos países integrantes do Mercosul com vistas a
constatação de suas divergências e semelhanças, de extrema
importância para o futuro e necessário processo de harmonização
de regras em face da implantação progressiva do mercado
comum entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Passaremos em seguida ao enfoque da
fundamentação constitucional do instituto da greve e sua
conceituação, bem como a perquirição de seus requisitos básicos
para ao final analisarmos as inúmeras formas de protestos
coletivos existentes que não podem ser tidos tecnicamente como
greve.
De primordial importância nos pareceu a pesquisa
da natureza jurídica do instituto da greve, bem como de sua
titularidade, visto não ser pacífico o entendimento quanto ao
exercício individual ou coletivo do mesmo direito. De igual forma,
verificaremos se o exercício da greve constitui direito ou liberdade
e suas respectivas considerações.
Questão de real interesse consistiu no exame das
limitações do direito de greve decorrentes da legislação
infraconstitucional e por conseguinte a constatação de que a
mesma, apesar das restrições impostas, não restringe o exercício
do direito sob apreciação, posto inexistir na atualidade direito cujo
exercício possa dar-se de maneira absoluta e ilimitada.
O objeto central do presente residiu na apreciação
do movimento pared>ta quando este é deflagrado por
trabalhadores vinculados aos serviços essenciais e respectivos
reflexos no âmbito do julgamento da parede.
Genericamente, podemos conceituar serviços
essenciais os que por envolverem a vida, saúde e necessidades
básicas da população não podem ser objeto de paralisação total,
sob pena de causarem em algumas oportunidades danos
irreparáveis, como é o caso do abastecimento de água,
combustíveis e gás liquefeito, transportes coletivos e hospitais,
dentre outros.
Finalmente, estaremos aduzindo nossa conclusão
quanto a necessidade de criação de mecanismos alternativos
para o exercício do direito de greve em se tratando de
funcionários vinculados aos serviços essenciais, por entendermos
que, nessas atividades haverá de prevalecer o interesse coletivo
da comunidade atingida pela paralisação do serviços em
detrimento do interesse de determinado grupo de trabalhadores.
Com efeito, por mais legítimas que possam ser as
reivindicações da categoria profissional em confronto com os
interesses da categoria patronal, o terceiro estranho a relação, ou
seja, a população, é que na verdade sofre com a privação ou
diminuição dos serviços essenciais durante a realização da
parede.
Dessa forma, entendemos que o direito de greve
em tais serviços deva ser exercido moderadamente, uma vez
que a comunidade usuária dos serviços qualificados por
essenciais náo poderá sofrer as consequências da paralisação
dessas atividades, até porque inexistem mecanismos alternativos
que funcionem com eficiência nessas ocasiões.
Assim sendo, nossa proposta em face do
ordenamento legal vigente cinge-se a ampliação do percentual do
contingente de trabalhadores envolvidos na prestação dos
serviços inadiáveis da população durante o movimento paredista
como forma de minorar os graves efeitos que a paralisação em
serviços essenciais acarreta a comunidade usuária dos mesmos
serviços.
CAP~TULO I: A HISTÓRIA DO TRABALHO SUBORDINADO E
SEUS REFLEXOS NA EMPRESA
Considerando que o espírito associativo do homem
deriva de sua própria natureza, claro está que, por este motivo,
nos Estados democráticos, os direitos do livre exercício de
qualquer trabalho e da livre associação foram erigidos a condição
de garantias fundamentais. Em nosso ordenamento tais garantias
encontram-se previstas na Lei Maior no artigo sO, XIII e XVII.'
a Por outro lado, é perfeitamente compreensível e
justificável que o homem queira, com maior razão, associar-se
aos amigos, aqueles com OS quais tenha elos de identidade
ideológica, funcional, religiosa, etc.
Assim sendo, dúvidas não pairam quanto ao fato de
haver sido o interesse comum e a solidariedade entre pessoas
que partilham do mesmo meio, da mesma atividade profissional,
das mesmas dificuldades, resultante do embrião das associações
profissionais e, mais recentemente, dos sindicatos.
1 XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissao, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
No entanto, impossível seria adentrarmos ao tema
em questão sem antes relembrarmos, ainda que resumidamente,
as diversas fases por que passou a evolução do trabalho.
De início, não podemos olvidar que desde a mais
remota Antiguidade, sempre existiram dois grupos: os que
trabalham e os que se utilizam do trabalho desenvolvido.
Durante o regime da escravidão, pouco havia a ser
considerado, visto que o escravo era tido como coisa, e, como tal,
podia ser vendido, trocado, doado; era um objeto do qual seu
proprietário poderia dispor livremente.
$
Seguindo-se a evolução do homem, passamos da
escravidão a servidão, na qual a situação do escravo galgou
pequena melhoria, eis que não se encontrava mais o mesmo
sujeito ao seu proprietário, passando, no entanto, a condição de
prisioneiro da terra.
Com efeito, os latifundiários, necessitando de mão-
de-obra para prestação dos serviços nas grandes glebas,
passaram a ceder aos trabalhadores pequenos lotes para cultivo.
Em troca, os proprietários recebiam a prestação
pessoal de serviços e parte dos produtos obtidos; posteriormente,
iniciaram o pagamento de pequenas importâncias em moeda
corrente aos trabalhadores vinculados as suas glebas.
Por outro lado, estava o trabalhador obrigado a
prestar fidelidade e obediência ao latifundiário, sendo de
ressaltar-se que, em caso de eventual transaçáo da propriedade,
os trabalhadores costumavam permanecer no local, passando a
trabalhar para o novo proprietário, motivo pelo qual tal período
chegou a ser conhecido como de servidão a gleba, que, na
definição de Paulo Sandroni, constitui "vinculação perpétua e
hereditária dos camponeses a terra senhorial, numa modalidade
de relaçáo de produção que predominou nos primeiros séculos do
feudalismo europeu. Os camponeses tinham a obrigação de não
abandonar as terras e o direito de não ser delas despejados.
Podiam cultivar uma pequena porçáo em seu proveito, e em troca
viam-se obrigados a trabalhar gratuitamente a terra do senhor
feudal durante certo número de dias por semanaw.*
Na Idade Média, surgem as corporações, através
das quais começam os trabalhadores a se organizar por
profissões; cada corporação correspondia a uma determinada
atividade profissional. estando seus membros sujeitos a seguinte
hierarquia: mestres, companheiros e aprendizes.
O mestre chefiava a corporação, tendo por
auxiliares os companheiros, os quais, por sua vez, orientavam e
iniciavam os aprendizes no oficio. Já naquela época, procuravam
Paulo Sandroni, Novíssimo Dicionário de Economia, p. 554.
evitar a concorrência com o estabelecimento por conta própria
quando houvesse insatisfação por parte dos companheiros.
Segundo Amauri Mascaro Nascimento, "as
corporações de ofício da idade média precederam o sindicalismo
do qual se distingue porque reuniram as forças produtivas numa
só entidade enquanto que o sindicalismo as bifurcou separando
trabalhadores e empregad~res".~
Mais tarde, surgiram as manufaturas, regime
através do qual, por ato do poder público, a uma organização era
conferido o monopólio de determinada atividade econômica em
determinada região. Sob esse sistema, os trabalhadores
admitidos eram remunerados, porém, não havia se cogitar de
qualquer contrato, visto que não era dado ao trabalhador o direito
de discutir ou reivindicar melhores condições de serviço.
Autores como Russomano costumam definir como
marco inicial do sindicalismo a época das dissidências entre os
companheiros e os mestres, com a fundação de novas
corporações, já que se rebelavam contra a superioridade e
despotismo destes.
Tais entidades passaram a ser conhecidas por
companhias que, lado a lado aquelas dirigidas pelos mestres e
Amauri Mascaro Nascimento, Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa, p. 33.
conhecidas por mestrias, deram origem as categorias patronal e
profissional, uma em oposição a outra.4
Em semelhante linha de pensamento, Alfredo
Ruprecht, assevera que "com o aparecimento das corporações
de ofício, o panorama - sobretudo econômico - vai se alterando.
No principio, todos os seus integrantes - mestres, companheiros
e aprendizes - pertenciam a uma mesma classe social e havia
solidariedade e defesa mútua entre eles, não existia a luta de
classes. Com o desenvolvimento das corporações e a
conseqüente acumulação de capitais, começa a luta interna entre
os mestres - que detêm o poder na corporação - e os
companheiros e aprendizes que se encontram marginalizados e
carentes de suficiente proteção. Esses trabalhadores se unem
então, fazendo-o em agrupamentos separados dos mestres e
começa a luta entre ambos".
Wilson Batalha assevera que " a legitimidade das
coalizões e dos agrupamentos sindicais seria, como foi, uma
decorrência da agiutinação dos indivíduos que, concretamente,
se reconheciam desiguais necessitando compensar essa
desigualdade pela força social dos grupos.
A concentração de esforços de maneira eventual e
esporádica nas coalizões e, posteriormente, de maneira
permanente e institucional nos sindicatos, conduziu a filosofia da
Mozart Victor Russomano, Manual Prático de Direito do Trabalho, Direito Sindical, Volume II, p. 11. Alfredo J. Ruprecht, Relaçóes Coletivas de Trabalho, p. 724.
greve a convertê-la de fenômeno individual em fenômeno sindical
ou gremial".6
Somente no final do século XIX é que os sindicatos
foram finalmente reconhecidos como entidades representativas
das categorias, cabendo sua iniciativa ao governo inglês no ano
de 1824.
Em pouco tempo, o número de associados
cresceu de tal forma, com sensível fortalecimento econômico e
profissional, em virtude do que não restou outra alternativa aos
empregadores senão a fundação de seus próprios sindicatos.
t
Com as revoluçóes que ocorreram na Inglaterra e
na França, o homem passou a exercer suas atividades produtivas
sem qualquer limitação, advindo desse fato o surgimento das
jornadas excessivas.
A história narra a edição da primeira lei destinada a
proibição do trabalho de crianças a noite ou por duração superior
a 12 horas em 1802, tendo como berço a Inglaterra.
Na França, quase 40 anos após, em 1841, surge a
primeira lei proibindo o trabalho dos menores de 8 anos de idade, ,\
/
limitando a jornada em 8 horas diárias para os menores de 12
anos e de 12 horas para os menores de 16 anos.
Wilson de S.C.Batalha, Silvia M.L. Batalha, Sindicatos Sindicalismo, p.211
Com a Revolução Francesa ocorrida em 1848, a
influência dos operários foi preponderante através de sua
arreg imentação para reivindicação de direitos.
Enquanto isso, na Inglaterra, foi firmado o primeiro
contrato coletivo de trabalho em 1862. Na mesma época, nos
Estados Unidos surge a fixação da jornada normal de trabalho em
8 horas diárias.
Em 1891, com a encíclica RERUM NOVARUM, do
Papa Leão XIII, foram traçadas diretrizes quanto a intervenção
estqtal nas relações patrão-empregado, eis que, dizia o Santo
Padre que " o trabalho muito prolongado e pesado e uma
retribuição mesquinha são, não poucas vezes, aos operários
ocasião de greve^".^
" Trabalho excessivamente longo e penoso, e
salário considerado baixo, constituem, muitas vezes, motivo de os
operários apelarem para a greve e para o ócio voluntário. A esse
mal frequente e grave deve ser aplicado remédio público, pois
essa classe de greve prejudica não só os patrões e os próprios
operários, mas também o comércio e os interesses do estado; e,
por não faltarem a violência e os tumultos, frequentemente põe
em risco a tranquilidade pública. Por isso, o meio mais eficaz e
salutar é prevenir com a autoridade das leis e impedir que o mal
Rerum Novarum, item 24, Enciclicas e Documentos Sociais, v. 1, p. 34.
possa surgir, afastando, em tempo, as causas suscetíveis de
gerar conflito entre patrões e operário^".^
A seguir, em 1919, destacamos o Tratado de
Versalhes e a Constituição de Weimar, responsáveis pela
definitiva autonomia do Direito do Trabalho, com o surgimento de
inúmeros institutos, tais como :
- fixação da jornada em 8 horas diárias e 48
semanais;
reconhecimento do repouso semanal de 24
horas, coincidindo, sempre que possível, com o domingo;
- a estabelecimento do princípio da isonomia
salarial sem distinção de sexo para trabalho de igual valor;
- organização de serviços de inspeção do
trabalho, com vistas a proteção do trabalhador.
Decorrência do Tratado de Versalhes, na mesma
época, foi a criação da Organização Internacional do Trabalho,
cuja prioridade inserta em seu preâmbulo reside na justiça social,
encontrando-se vazado nos seguintes termos :
" a paz universal e permanente só pode basear-se
na Justiça Social".
Rerum Novarum, item 24, Encíclicas e Documentos Sociais, v. 1, p. 34.
Como instituição de caráter permanente e
internacional, a OIT prioriza sua atuação junto ao direito coletivo,
posto que incentiva a liberdade sindical, entendendo-a básica na
negociação coletiva em seus diversos níveis.
Por conseguinte, podemos afirmar que a revolução
decorrente do aparecimento da máquina transformou por
completo o cenário até então existente.
Com efeito, a mudança no mundo da produção foi
radical em virtude da substituição da força humana pela força da
máquina como fonte de energia.
B
Por outro lado, a produção industrial acabou por
criar concentraçóes dos trabalhadores ao redor das máquinas, os
quais ativavam-se na prestação de serviços sem qualquer
limitação do horário de trabalho, mediante pagamento de
importâncias ínfimas.
Exatamente nesse ponto é que se constatou o
agravamento da questão social, tornando-se necessária a
intervenção do Estado a fim de assegurar o equilíbrio entre as
classes componentes da sociedade, tendo por objetivo garantir
ao trabalhador um padrão de vida mais consentâneo com o
progresso.
Em estágio mais atual e com o advento do
liberalismo, surgiu a valorização da personalidade do homem,
dando lugar a relação de emprego, nos moldes como é tida na
atualidade.
De ser lembrado ainda que a tendência atual no i
que pertine as relações de trabalho no Direito Estrangeiro curva-
se no sentido de prestigiar o negociado em detrimento do
legislado, o que vale dizer que os problemas desta área do direito
por envolverem questões de real magnitude, deixaram de ser
simplesmente resolvidas através da intervenção do Estado,
dando lugar a necessária e permanente negociação entre as , categorias profissional e patronal.
Tal fenômeno justifica-se pelo fato de que a
sociedade de trabalhadores também sofreu alterações nas
últimas décadas, posto que um sem número de postos de
trabalho nos setores primário e secundário da economia foram e
continuam sendo substituídos pela automação.
Em decorrência desse fato a relação tradicional
entre empregados e empregadores também sofreu mutações,
refletindo diretamente no sistema da negociação e por conseguinte no movimento paredista.
CAP~ULO 2: O DIREITO DE GREVE. ORIGEM E EVOLUÇAO HIST~RICA.
Verifica-se em relatos históricos que o fato da
paralisação coletiva do trabalho é tão antiga quanto a história do
próprio homem; nessa conformidade, as primeiras greves teriam
ocorrido no Egito nos idos do século XII a.C., durante a
construção do túmulo real do faraó Ramsés II em face do
tratamento desumano que recebiam.
Em 2100 aC, em Tebas, as mulheres dos
trabalhadores que atuavam na construção do templo de Mut
teriam convencido seus maridos a exigir dois pães extras por dia.
Como não foram atendidos, teriam paralisado os serviços e sido
enforcado^.^
Outra ocorrência histórica foi registrada durante o
Império romano, com a rebelião de Sparfacus e, posteriormente,
nos serviços públicos e essenciais entre os operários fabricantes
de moedas, tendo sido objeto de sérias repressões legais.
Entretanto, parece haver um consenso no sentido
de que somente de maneira imprópria é que movimentos dessa
natureza poderiam ser rotulados como greve, posto que
consistiam, na verdade, em manifestação violenta de escravos ou
Marco Túlio Viana,Conflitos Coletivos do Trabalho, Revista do Tribunal Superior do Trabalho, vol. 66, janlmar 2000, p. 123.
assemelhados contra a opressão que sofriam, eis que, não tendo
os mesmos direitos pessoais, não passavam de ferramentas de
trabalho na visão de seus senhores.
Assim sendo, jamais poderíamos considerar o
fenômeno greve no ambiente em que não houvesse liberdade de
trabalho, na medida em que a mesma surgiu a partir do trabalho
assalariado.
Martins Catharino assevera que " a evolução da
greve confunde-se com a do sindicalismo, incluída a fase a este l i 10 precedente : a das coalizões .
b
Histórica e classicamente, o termo greve teria
surgido, segundo J. Dayby citado por Ricardo Nacim Saad, "na
praça do Hotel de Ville que se chamava anteriormente 'Place de
Grève'. Era um grande terreno baldio sobre o qual o rio havia
acumulado uma grande quantidade de areia e pedrinhas, daí
vindo o seu nome, antes de serem construidos os cais para
manter o Sena no seu leito. Nessa praça reuniam-se, durante
muito tempo, os operários sem trabalho : era ai que os
contratistas vinham discutir com eles e contratá-los. Quando os operários estavam descontentes com as condições de trabalho
ficavam parados na Grève, literalmente, o que quer dizer na
l0 José Martins Catharino, Tratado elementar de Direito Sindical, p.256.
'Place de Grève', esperando que viessem propor melhores
Por outro lado, não poderíamos falar em greve
como paralisação da prestação de serviços, tal como é entendida
na atualidade, antes da ocorrência da Revolução Francesa em
virtude da total ausência de consciência da classe trabalhadora,
que se viu obrigada à prestação de serviços em troca de salários
e condições ambientais cada vez mais aviltantes em face não só
do restrito mercado de trabalho, como também, em razão da farta
mão-de-obra existente.
e A exploração do trabalho constituía prática reinante
desde a mais tenra idade, em condições insalubres e perigosas,
mediante o cumprimento de jornadas excessivas em troca de
remuneração insuficiente para alimentação e manutenção da
saúde, notadamente no ramo têxtil, eis que, de início, os tecidos
eram confeccionados nas próprias residências em sistemas
rudimentares de fiação.
Posteriormente, deixou o trabalhador de laborar no
próprio domicílio, passando a executar suas atividades nas
fábricas ou tecelagens, onde as condições de trabalho eram
precarissimas.
l1 Ricardo Nacim Saad, Greve nos Serviços Públicos e nas Atividades Essenciais, Dissertação de Mestrado, USP 1988, p. 8.
Em razão de tais circunstâncias, surgiram
movimentos coletivos de paralisação da prestação de serviços
como meio de pressão aos empregadores até que fossem
atendidas algumas das pretensões reivindicadas, pois,
constataram rapidamente os trabalhadores que o protesto isolado
era ineficaz para o fim de alcançar seus objetivos.
Em represália, os empregadores costumavam
fechar seus estabelecimentos, (circunstância que originou o lock-
out), despediam seus empregados e contratavam outros
mediante proteção policial, eis que tais conflitos, na maioria das
vezes, assumiam natureza violenta.
I
De ser ressaltado dada a oportunidade, que a
iniciativa de paralisação das atividades normais ao
desenvolviment~ do trabalho pode ser de responsabilidade dos
empregados ou dos empregadores, cabendo pois a consideração
de que, enquanto a greve experimentou uma evolução positiva no
sentido de ser aceita como direito, o lock out recebeu tratamento
absolutamente hostil nos diversos ordenamentos jur idi~os. '~
No entanto, um fato se revelou verdadeiro, a partir
do momento em que os empregadores se aperceberam da força,
capacidade e poder de luta que os movimentos coletivos de -
trabalhadores poderiam atingir, as coalizões passaram a ser
proibidas.
l2 José Augusto Rodrigues Pinto,Direito Sindical e Coletivo do Trabalho, p.287.
wndo que,
N I Alemanha, arn 1537, a tepre8sb r um greve
grevistas. t j a m WqWW. - , -i,
Referida situam pwd~ u 1828, t m sndo or
7 dando mirpwn -- -.-- 1 a, em 1811, O dimb 6 gmve passrnse a ser mwnhe Ia. Mais tarde, com o advento do
Estatuto de Greves Profirsionsir, o direito de greve passou a ser
vinculado &s agmmieç6esj~miionais. . # C - - . . - . - y .,- . a 7 . ' I .&L-. ' 2 , ,i -+ , -L . .
Na França, durante uma greve que rmu~tou em sbrias oonsequhncias para a indú&iri, fol aprovada o Lej
Chapelier, em 1791, que proibia coalizbs, estrrbekwndo, ainda,
puniph~- para os empregadores que porvantr viwsem a
contra , rticipanter do movimento pirsdirh.
Somente em 1864, por fuga da lai promulgad@ em
25 d aio, sob o irnpbrio de NapoleBo III, ' ;- B foi abolido o
delito de c " :&o. Em virtude desse fato, foram fundados
inomera partido8 e sindicatos aperiirios, e em 1036, instituído o mgirncl de arbitragem obrigatória antes da defiagraça0 de
qualquer greve.
Finalmente, pela Constituição francesa de 1946, o
direito de greve foi assegurado como de fundamental relevância.
Nos Estados Unidos, o Clayton Act reconheceu, em
1914, o direito de associação e coalizão. Já, no México, o direito
de greve foi reconhecido constitucionalmente em 191 7.
Entretanto, somente com o Tratado de Versalhes,
em 1919 e com a criação da Organização Internacional do
Trabalho é que o direito de associação paritária (patronal e
profissional) passou a ser reconhecido.
I
De ressaltar-se, porém, que durante os regimes
políticos instalados na Itália, Alemanha e Espanha, no período
que vai aproximadamente de 1926 a 1941, o direito de greve
passou a ser proibido, voltando a ser restabelecido somente por
volta de1 947.
Anos mais tarde, a Assembléia Geral das Nações
Unidas ao aprovar a Declaração Universal dos Direitos do
Homem em 1948, reconheceu o direito de organização sindical,
na conformidade das regras inserta nos artigos XX, números 1 e
2 e XXIII, número 4, a seguir, respectivamente, transcritos :
" I. Todo homem tem direito a liberdade de reunião
e associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
associação.
4. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e
a neles ingressar para proteção de seus
interesses. " l3
Vinte anos depois, com o advento do Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos adotado pela
Assembléia Geral das Nações Unidas em 1968, estabeleceu-se o
direito dos sindicatos exercerem livremente suas atividades.
e Dessa data em diante, os constantes movimentos
paredistas ocorridos na Europa de maneira geral, deram origem ao reconhecimento do direito de greve inserindo-o como direito
fundamental nas constituiçÕes de diversos países, tais como, em
Portugal em 1976 e na Espanha em 1978.
Não se pode esquecer a marcante atuação do
Vaticano no que respeita as questões sociais, uma vez que o Papa Paulo VI, em 1971, solidário à necessidade de novas
posturas em um mundo sob transformação pronunciou-se através
da Encíclica Octogesima Adveniens
" A pessoa humana é e deve ser o princípio, o
sujeito e o fim de todas as instituições sociais. Todo
l3 Arnaldo Sussekind. Convenções da 011, p. 586 e 587.
homem tem direito ao trabalho, a possibilidade de
desenvolver as próprias qualidades e a sua
personalidade, no exercício da profissão abraçada,
a uma remuneração equitativa que lhe permita, a
ele e a sua família, kultivar uma vida digna no
aspecto material, social, cultural e espiritual', e a
assistência em caso de necessidade, quer esta seja
proveniente de doença ou da idade.
A sua atividade não está, contudo, isenta de
dificuldades : pode sobrevir a tentação, aqui e além,
de aproveitar uma situação de força, para impor,
a principalmente mediante a greve - cujo direito, como
meio último de defesa, permanece, certamente,
reconhecido - condições demasiado graves para o
conjunto da economia ou do corpo social, ou para
fazer vingar reivindicações de ordem nitidamente
política. De modo especial, quando se trata de
serviços públicos a serem executados para
utilidade pública e necessários para a vida cotidiana
de toda a comunidade, dever-se-á saber determinar
os limites, para além dos quais o prejuízo causado
se torna inadmissível". l4
Imperioso, ainda, o destaque da movimentação
ocorrida na Polônia, junto aos estaleiros de Gdansk e Szezzein,
l4 Papa Paulo VI, Octogesima Adveniens, Encíclicas e Documentos Sociais, vol 1, p. 44112.
homem tem direito ao trabalho, a possibilidade de
desenvolver as próprias qualidades e a sua
personalidade, no exercício da profissão abraçada,
a uma remuneração equitativa que lhe permita, a
ele e a sua família, 'cultivar uma vida digna no
aspecto material, social, cultural e espiritual', e a
assistência em caso de necessidade, quer esta seja
proveniente de doença ou da idade.
A sua atividade não está, contudo, isenta de
dificuldades : pode sobrevir a tentação, aqui e além,
de aproveitar uma situação de força, para impor,
h principalmente mediante a greve - cujo direito, como
meio último de defesa, permanece, certamente,
reconhecido - condições demasiado graves para o
conjunto da economia ou do corpo social, ou para
fazer vingar reivindicações de ordem nitidamente
política. De modo especial, quando se trata de
serviços públicos a serem executados para
utilidade pública e necessários para a vida cotidiana
de toda a comunidade, dever-se-á saber determinar
0s limites, para alem dos quais o prejuízo causado
se torna inadmi~sível".~~
Imperioso, ainda, o destaque da movimentação
ocorrida na Polônia, junto aos estaleiros de Gdansk e Szezzein,
l4 Papa Paulo VI, Octogesima Adveniens, Enciclicas e Documentos Sociais, v01 1, p, 44112,
nos idos de 1980, culminando-se com o fechamento do Sindicato
Solidariedade e com a libertação do líder Lech Walesa em 1983.
Parece-nos inegável do quanto exposto (
sucintamente que a liberdade de associação e de trabalho está
intimamente ligada a poder do capitalismo. 7 4' - -
Dessa forma, podemos resumidamente asseverar
que, enquanto proibidas as coalizões de empregados, era a greve
tida como delito e, em vários dos ordenamentos jurídicos citados,
punida como crime através da legislação penal.
, Na evolução dos fatos, as coalizões passaram a ser
reconhecidas, dando origem as associaçóes profissionais que
mais tarde se transformariam em sindicatos, quando então
passou a greve a condição de direito do trabalhador.
Atualmente, inserido, o Direito de Greve, no texto
constitucional de inúmeros países, teria sido guindado a condição
de superdireito pelo fato de ser posto genericamente, tal como se
infere da regra contida no artigo 9' da Lei Maior brasileira,
vazado nos seguintes termos :
"É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por
meio dele defender".
Entretanto, tal posicionamento que concluindo pelo
direito de greve como superdireito, que diante da redação legal
poderia ser considerado ilimitado, não pode prevalecer, pois,
além de inexistirem direitos cujo exercício seja ilimitado, a própria
legislação infraconstitucional cuidou de estabelecer as restrições
e parâmetros para o legítimo exercício da parede.
De considerar-se assim que a greve, inobstante as
fases mencionadas, não poderá ser concebida a p r j o ~ como
delito ou direito, já que esse enquadramento dependerá da
ordem jurídica examinada, uma vez que em última análise
corresponde a mera abstenção ou paralisação do trabalho.
Com efeito, a greve como fato coletivo que
corresponde a paralisação da prestação dos serviços, traz em
seu bojo o animus dos trabalhadores através de mecanismo de
autodefesa, compelir o empregador ao atendimento dos pleitos
formulados.
Dessa forma, se em determinado ordenamento
jurídico tal fato é considerado lícito, como é o caso da Itália,
Argentina e Brasil, dentre outros, poderá ser definida como
direito.
Se, entretanto, for objeto de proibição legal como
outrora previsto nos mesmos ordenamentos legais dos países
supra mencionados durante a vigência de regimes autoritários,
claro está que o mesmo fato coletivo em questão haverá que ser
considerado delito.
Remotamente parecia ser a greve considerada ato
do qual participavam apenas dois personagens : empregado e I
empregador. ,'~osteriormente ipassou a ser considerado um
terceiro participante que não pode ser deixado a margem de seus
j reflexos, a comunidade.;
CAP~TULO 3: O DIREITO ESTRANGEIRO E A GREVE.
De forma geral, no direito estrangeiro, constata-se
que os povos sempre se submeteram a movimentos de toda
ordem laboral, culminando com medidas extremas de
paralisação dos serviços como é o caso da deflagração de greve.
Verifica-se, também, que, de certa maneira, embora
previsto constitucionalmente, o direito de greve encontra-se
usualmente condicionado a alguma limitação e a diferença que
pudemos constatar diz respeito ao grau de maior ou menor
regulamentação do exercício desse mesmo direito.
Para Eduardo Gabriel Saad, " a concepção
mitológica da greve vem sempre associado a idéia de ser ela um
direito absoluto, o que, numa sociedade organizada, ou melhor, 11 15 num Estado de Direito, é de todo inaceitável .
Do estudo que pudemos empreender, apuramos a
ocorrência de uma certa tendência de uniformização no
tratamento jurídico do direito de greve, notadamente no que se
refere B paralisação nos serviços ou atividades essenciais.
l 5 Eduardo Gabriel Saad, Relação Greve e Direito no Brasil, Revista da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, p. 47.
Assevera Arnaldo Sussekind que " visando a
preservar os mais elementares e legítimos interesses da
população, o direito comparado tem admitido restrições a greve, e
até proibição, não apenas na função pública, mas também nos 11 16 serviços privados considerados essenciais .
Em trabalho da lavra de Luiz Carlos Amorim
~oborte l la '~ pudemos verificar as diversidades e convergências
do tratamento dado ao direito de greve nos diversos países, a
saber :
ALEMANHA
b
Omissa a Constituição de Bonn acerca do direito de
greve, cuida, apenas, do direito de associação.
Giancarlo Perone, citando a doutrina alemã
ressalta "com vista a greve, a suspensão do trabalho da parte do
trabalhador não é um ato isolado que, como tal, acabaria sem
sucesso e sem sentido. E, em vez, decisiva a comunhão de ação
solidária conscientemente querida. A greve é um ato coletivo,
tanto em sua deliberação como em sua execução, e obra dos
trabalhadores que suspendem suas prestações. Na greve, em
suma, não é o indivíduo que age, mas os grevistas em grupo.
Segue dessa "teoria coletivista" da greve que as ações dos
16 Arnaldo Sussekind, Responsabilidade pelo Abuso do Direito de Greve, Revista da ?demia Brasileira de Direito do Trabalho. p.39.
Luiz Carlos Amorim Robortella, A Greve no Direito Comparado, Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho, p.79191.
trabalhadores individuais devem ser juridicamente avaliadas no
contexto coletivo em que se qualificam não como fato isolado,
individual, mas como ato coletivo de um membro do grupo ao
qual, precisamente para a participação na greve, pertence o
indivíduo".I8
Inobstante essa omissão, a greve é exercida
moderadamente, com fulcro no princípio da proporcionalidade,
segundo o qual só devem ser declaradas quando objetivamente
necessárias para a consecução de objetivos legais, uma vez que
os sindicatos são responsáveis pelos danos causados a
população.
8
Dos países europeus, a Alemanha tem sido o
menos atingido por movimentos paredistas, citando-se a
existência de normas de autodisciplina fixadas pelos próprios
trabalhadores quando a paralisação ocorrer nas atividades
essenciais.
ARGENTINA
Guindado a condição de direito constitucional,
através do disposto no artigo 14 bis da Constituição argentina, o
direito de greve encontra-se regulamentado pela Lei 14.786, que
estabeleceu como obrigatória a instância conciliatória prévia,
ficando a cargo da autoridade administrativa do Ministério do
I* Giancarlo Perone, Ação Sindical nos Estados-Membros da União Européia, p.149.
Trabalho e não do Poder Judiciário a declaração quanto a
legitimidade ou ilegitimidade do movimento paredista.
Em qualquer caso, caberá ao Judiciário a revisão
da decisão administrativa, sendo facultado ao empregador o não
pagamento dos salários durante o período da parede.
De forma similar a legislação pátria, a titularidade
desse direito compete as entidades sindicais ou grêmios.
No que pertine a greve nos denominados serviços
essenciais, disciplinados pela Lei 25.250, torna-se necessário
além, da notificação prévia da paralisação a comunidade, que se
assegure previamente uma dotação mínima de trabalhadores a
fim de serem evitados danos aos consumidores e usuários dos
serviços públicos.
ESPANHA
A Carta Constitucional espanhola de 1978 admite o
direito de greve como fundamental aos trabalhadores para defesa
de seus interesses, não implicando necessariamente em iniciativa
pela entidade sindical.
Necessária a comunicação prévia e escrita ao
empregador quanto aos motivos da eclosão do movimento de
paralisação dos serviços, sendo prevista legalmente a arbitragem
obrigatória nas greves que por sua duração prolongada possam
afetar gravemente a economia nacional.
O ordenamento espanhol não permite a eclosão de
greve nas seguintes condições : a greve de motivação
essencialmente política OU de qualquer outra finalidade não
voltada ao interesse profissional dos trabalhadores; a de
solidariedade ou de apoio; a que tenha por finalidade alterar,
dentro de seu período de vigência, clausula inserta em
convenção ou contrato coletivo e a que seja deflagrada com
inobservância dos requisitos legais ou do expressamente
pactuado em norma colet i~a. '~
8
NOS serviços essenciais, assim considerados
aqueles que envolvam a vida, saúde e necessidades básicas da
população, torna-se obrigatória a manutenção de atividade
mínima, cabendo a autoridade governamental decidir sobre as
medidas para assegurar o funcionamento dos serviços.
ESTADOS UNIDOS
De forma geral, a Constituição americana é omissa
quanto aos direitos sociais, o mesmo ocorrendo quanto ao direito
de greve, passando a ser exercido com maior liberdade a partir
da Lei Norris-La Guardia, sendo que, através da Lei Talf-Hartley
19 Afredo Montoya Melgar, Derecho de1 Trabajo, p.72516 e 729130.
de 1947, passou a ser definida a responsabilidade da entidade
sindical em se tratando de atividades essenciais.
A deflagraçáo do movimento somente poderá ser
realizada pelo sindicato majoritário, considerado como tal o que
congregue o maior número de trabalhadores e em se tratando de
parede que possa importar em ameaça a saúde pública ou
segurança do Estado, o Procurador-Geral poderá requerer junto
ao Tribunal do Distrito Federal a proibição da greve por noventa
dias.
Poderá ainda o Governo Federal utilizar-se da
"inju~ction", visando a obtenção de mandado judicial que
determine a interrupção da greve por noventa dias, durante os
quais terá lugar o procedimento de negociação e mediação entre
as categorias envolvidas, podendo, ainda, haver a cominação de
multa diária ao sindicato que descumprir a ordem judicial de
suspensão da parede.
Durante o período da parede permite-se ao
empregador a contratação de empregados a fim de que a
produção não seja interrompida, sendo por demais utilizado o
sistema arbitral.
Relata Baltazar Flores que o Presidente Reagan
durante a eclosão de parede por controladores de tráfego aéreo
determinou o retorno dos grevistas ao trabalho e não tendo sido
atendido, foi-lhes imposta a rescisão de seus contratos e
admissão de novos trabalhadores a fim de que o transporte aéreo
não sofresse solução de continuidade.*'
FRANÇA
Previsto constitucionalmente desde 1946 e
considerado direito humano fundamental, o direito de greve
encontra-se regulamentado por lei ordinária como na maioria dos
países da Comunidade Européia.
Na conformidade dos princípios que norteiam o
instituto, a greve para o direito francês não é considerada
suspensão do contrato de trabalho, como ocorre no ordenamento
pátrio que permite a suspensão reciproca das obrigações
decorrentes do pacto laboral.
No setor público, exige-se aviso prévio por parte do
sindicato mais representativo e se necessário, diante das
repercussões da paralisação, faculta-se ao governo a requisição
de trabalhadores durante o movimento paredista, podendo,
inclusive chegar a proibição total de greve nesse segmento.
20 Baltazar Flores, Lecciones de Derecho Laboral, p. 2991301.
De igual forma, a Constituição italiana de 1947
inseriu o direito de greve em seu corpo, sendo na atualidade
disciplinada pela Lei 146190, ressaltando-se que restrições
também são impostas aos trabalhadores que executam seu labor
junto aos denominados serviços essenciais, conceituados como
destinados a garantir o gozo dos direitos constitucionalmente
tutelados da pessoa a vida, saúde, liberdade, segurança,
circulação, assistência e previdência social, instrução e
comunicação.
a Pelo sistema italiano, a greve constitui direito
público coletivo de autotutela, realçando-se a ausência
significativa de legislação nesse sentido e predominância da
jurisprudência na apreciação dos casos concretos.
Em caso de recusa da proposta formulada pela
"Comissão de Guarda da Lei de Greve", o Presidente do
Conselho de Ministros poderá expedir "ordem motivada",
determinando a submissão do conflito a arbitragem, que será
desempenhada por especialistas designados pelos Presidentes
do Senado e da Câmara dos Deputados.
Comportamento absolutamente diverso de qualquer
outro a ensejar a demonstração de insatisfação com as condições
laborais é adotado pelos trabalhadores japoneses com a
utilização de fitas vermelhas em substituição a paralisação dos
serviços.
Segundo relato de Baltazar Flores, os empregados
descontentes ao invés de interromperem a prestação de serviços
costumam iniciar a jornada mais cedo, aumentando a produção
normal de bens e serviços e durante o expediente põe-se a usar
fitas vermelhas e a cantarem manifestando sua insatisfação com
seu empregador.
Diante de tais circunstâncias o empregador procura
estabelecer uma C O ~ ~ O S ~ Ç ~ O Com os grevistas para pôr fim a
greve, eis que movimentos dessa natureza no Japão são
considerados vergonhosos. Narra o mesmo autor a ocorrência de
greve no metrô deflagrada as três horas da manhã de um
domingo e com duração de apenas meia hora a fim de que o
movimento paredista perturbasse o menor número possível de
usuários do serv iç~.~ '
21 Baltazar Cavazos Flores, Lecciones de Derecho Laboral, p. 29819.
Foi o primeiro país a incluir o direito de greve em
sua Lei Maior, fato que ocorrendo em 1917 teria se disseminado
para toda Europa, visto que, dois anos após, o mesmo direito
passou a ser previsto na Constituição de Weimar.
No direito mexicano a deflagração de uma greve
passa por três etapas :
a) gestação - que se inicia no momento em que dois
ou mais trabalhadores se coligam em defesa de interesses
comuns, elaborando pedido escrito ao empregador no qual
manifestam a intenção de paralisação dos serviços. Nesta fase
apenas os trabalhadores participam do movimento, eis que a
titularidade cabe a coalisão dos operários;
b) pré-greve - período que tem por missão
fundamental propiciar a conciliação das partes e, para tanto,
promove-se audiência perante a Junta de Conciliação e
Arbitragem, sendo que durante referido interregno o empregador
fica proibido de proceder a qualquer demissão. Se necessário,
ajustarão as partes a constituição de grupo de emergência que
deverá trabalhar durante o período de greve para evitar prejuízos
na produção, o mesmo ocorrendo quando a paralisação envolver
serviços essenciais. O período em questão terá duração mínima
de seis dias ou dez dias em se tratando de empresas privadas ou
que explorem serviços públicos, respectivamente e máximo de
quinze dias, devendo o empregador apreciar as reivindicações da
categoria em 48 horas. Comparecendo a audiência e aceitando o
empregador as condições propostas o expediente será arquivado;
c) greve - quando efetivamente os trabalhadores
paralisam a prestação dos serviços e oferecem suas provas
tendo por objetivo a celebração, cumprimento ou revisão de
contrato ou exigir a revisão salarial ajustada no mesmo
instrumento. O procedimento arbitral é obrigatório para os
empregadores e facultativo para os empregados. As Juntas de
Conciliação e Arbitragem proferem suas decisões assessoradas
por dois representantes, um da categoria profissional e outro da
patronal. A decisão arbitral não é definitiva e poderá ser revista
sem $uspensão da paralisação dos serviços.
A penalidade prevista para deflagração de greve
sem observância dos requisitos legais será a rescisão dos
contratos de trabalho dos trabalhadores sem quaisquer ônus para
o empregador.
AS paredes deflagradas nos serviços essenciais,
dentre eles as atividades universitárias, ficam sujeitas a requisição de pessoal a fim de se propiciar a população os
serviços que deveriam estar sendo prestados pelos grevistas.22
22 Baltazar Cavazos Flores, Lecciones de Derecho Laboral, p.277189.
PORTUGAL
Também em Portugal, o direito de greve ganhou
destaque constitucional, sendo sua declaração privativa das
organizações sindicais.
É expressamente admitida no serviço público e nas
atividades essenciais exige-se a prestação dos serviços mínimos
indispensáveis para atender à satisfação das necessidade da
população.
Em caso de desrespeito, o Conselho de Ministros
poderá, através de requisição civil, recrutar o pessoal necessário
para promoçáo das atividades necessárias básicas.
CAP~TULO 4: A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO
Assevera Amauri Mascaro Nascimento que " para o
direito do trabalho, o Tratado de Versalhes (1919) assumiu
especial importância, pois dele surgiu o projeto de organização
internacional do trabalho.
A Parte XIII desse tratado é considerada a
constituição jurídica da Organização Internacional do Trabalho - OIT, e foi complementada pela Declaração de Filadélfie (1944) e
pela reforma da Reunião de Paris (1945) da OIT.*~
A OIT é composta de três órgãos : a Conferência
Internacional do Trabalho ou Assembléia Geral, o Conselho de
Administração e a Repartição Internacional do Trabalho.
De forma sintética podemos dizer que Conferência
Internacional do Trabalho OU Assembléia Geral constitui o órgão
máximo de deliberação, ao qual incumbe a elaboração das
regulamentações internacionais do trabalho e problemas a este
afetos, bem como a aprovação e admissão de Estados que não
pertençam à organização, reunindo-se sempre que necessário
em local designado pelo Conselho de Administração, que exerce
função executiva sendo composto por representantes
23 Amauri Mascaro Nascimento, Curso de Direito do Trabalho, p. 86.
governamentais de empregados e empregadores, enquanto que
a Repartição corresponde a secretaria permanente e centro de
documentação, destinada a divulgação de atividades e
publicações da OIT.
Ao Conselho de Administração compete a
administração da OIT de forma colegiada, bem assim a promoção
de cumprimento de suas deliberações sendo integrado por 56
Estados-membros, sendo 28 representantes dos governos, 14
representares dos empregados e 14 dos empregadores.
Importa esclarecer que dentre os 56 Estados-
membros, dez possuem assento em caráter permanente, a saber:
Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, França índia, Itália,
Japão, Reino Unido e Rússia.
Como órgão internacional a OIT possui atividade
normativa constante de Convenções, Recomendações e
Resoluções as quais dependem ou não de ratificação pelos
Estados soberanos.
Até a presente data foram editadas 181
Convenções Internacionais, tendo o Brasil ratificado apenas 75
delas, sendo que não procedeu a ratificação das que foram
consideradas as mais importantes, quais sejam : a Convenção 87
que trata da Liberdade Sindical e Proteçáo ao Direito de
Sindicalização e a 151 que dispõe sobre o Direito de
Sindicalização e Relação de Trabalho na Administração Pública.
Dentre os diversos desmembramentos da OIT, o
Conselho de Administração em 1951, instituiu como uma de suas
comissões permanentes o Comitê de Liberdade Sindical, que nas
palavras de Arnaldo Sussekind " se tornou o mais eficiente 11 24 mecanismo mundial de salvaguarda da liberdade sindical .
Compete ao Comitê de Liberdade Sindical o exame
das queixas e reclamações referentes a violação dos direitos
sindicais de maneira geral, advindo da apreciação dos casos as
resoluções e verbetes acerca da matéria tratada, especialmente
no que diz respeito ao direito de greve.
Segundo Alfredo Ruprecht, para a Organização
Internacional do Trabalho, "as greves são mais frequentes nos
países que têm pouca experiência em matéria de contrataçáo
coletiva. Geralmente são causadas pela resistência patronal, para
que o sindicato intervenha nas empresas, por dispensas injustas,
por represália, por aumento de salários, jornada de trabalho,
razões disciplinares, organização do trabalho, e t ~ . " ~ ~
Na opinião de Carlos M. de Luca, " as
manifestações da OIT em matéria de greve têm-se verificado no
quadro da proteção a liberdade sindical, e tomam posição no
24 Arnaldo Sussekind, Direito Internacional do Trabalho, p. 275.
25 Alfredo J. Ruprecht, Relações Coletivas de Trabalho, p. 718.
sentido da limitação de sua exercibilidade a vista de objetivos
trabalhistas, com prévia notificação as autoridades
administrativas. Contemplam ainda a possibilidade de restrição
de seu exercício por parte de determinadas categorias de
servidores públicos, e em atividades essenciais.
AS posições da OIT refletem, de modo geral, o que
é admitido na maioria dos países que reconhecem a greve como
direito. Representa, o prestígio da greve como direito.
Representa, em síntese, o prestígio da greve como instrumento
do sindicalismo reformista, em O ~ O S ~ Ç ~ O ao revolucionário (hoje
de nenhuma expressão), que via a greve como instrumento da
mobilização da classe operária para a luta política, e na greve 11 26 geral o caminho para a tomada do poder .
Manifestando-se acerca das razões que conduziram
as limitações do exercício do direito de greve pela OIT,
asseveraram Gomes e Gottschalk " a greve é concebida pelo
legislador como arma contratual, excíusivamente econômica, que
as partes têm o direito de utilizar no livre jogo da concorrência
para obter melhores condições de trabalho e de remuneração,
enquanto as condições de trabalho e de serviço dos servidores
públicos estão determinadas, em regra, não por um contrato mas
pela lei : a lei orgânica dos funcionários oferece-lhes garantias
26 Carlos Moreira de Luca, Curso de Direito Coietivo do Trabalho, Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho, p. 452.
excepcionais de estabilidade, duração e outras, pondo-os a salvo II 27 das vicissitudes da livre concorrência .
Algumas decisões proferidas pelo Comitê de
Liberdade Sindical da OIT acerca do exercício do direito de greve
foram destacadas por Georgenor de Sousa Franco Filho em obra
versando sobre o Direito de Greve no Direito Comparado
transcritas a seguir :
Verbete 360, pelo qual o Comitê considerou-se
competente para apreciar denúncias sobre direito de greve desde
que afetem o exercício dos direitos sindicais;
B
Verbete 362, no qual o Comitê entendeu que a
greve é direito legitimo dos trabalhadores e de suas organizações
para a defesa de seus interesses econômicos e sociais;
Verbete 363, entendendo que o direito de greve é
essencial para a promoção e a defesa de interesses profissionais;
Verbete 377, considerando que, para a greve ser
licita, deve ser exercida em condições razoáveis e não limitar a ,
ação das organizações sindicais;
Verbete 378, dispondo que a existência de uma lei
obrigando prévia conciliação e arbitragem para ser deflagrada a
27 Gomes e Gottschalk, Curso de Direito do Trabalho. p. 578.
greve não poderia ser considerada como atentatória a liberdade
sindical.
Verbete 381, segundo o qual,. na greve, é
admissivel pré-aviso ao empregador;
Verbete 382, indicando que são admissiveis
quorum e escrutínio secreto para a deflagração da greve;
Verbete 383, também sobre quorum, opinando que
a proporçáo de 2/3 é difícil se OS sindicatos têm muitos afiliados
ou abrangem vasto território;
8
Verbete 386, cuidando da possibilidade de
conciliação e arbitragem em serviços essenciais e funções
públicas;
Verbete 394, sobre serviços essenciais, os quais,
se interrompidos, podem colocar em perigo a vida, a segurança e
a saúde da população;
Verbete 406, considerando que a metalurgia e
mineração não são serviços essenciais;
Verbete 408, que também considera não ser
atividade essencial o trabalho em transportes metropolitanos;
Verbete 420, entendendo que a arbitragem
obrigatória, pelo Estado, restringe o direito de greve e contraria a
liberdade sindical; (nesse aspecto, consoante o art. 114, § 1°, da
Constituição de 1988, a arbitragem é facultativa no Brasil)
Verbete 425, opinando que atitudes que
prejudiquem o livre exercício da greve são contrárias ao princípio
da liberdade sindical;
Verbete 430, considerando que o uso de forças de
segurança para manter a ordem pública não limita o exercício do
direito de greve, mas que 0 recurso à força policial para acabar
uma greve é violação dos direitos sindicais;
Verbete 439, pelo qual a existência de disposição
penal ou análoga aplicável a qualquer greve que defenda
interesses profissionais dos trabalhadores contraria o direito de
greve;
Verbete 440, dispondo que sanções severas,
especialmente penais, contrariam O direito de greve;
Verbete 444, pelo qual a dispensa de trabalhador
ou a recusa a seu reingresso importa em violação do princípio da
liberdade sindical.28
28 Georgenor de Sousa Franco Filho, Liberdade Sindical e Direito de Greve no Direito Comparado, p. 9314.
Arnaldo ~ussekind*~ ressalta como de real
importância os seguintes :
Verbete 475 - Direito de Greve - O direito de greve
dos trabalhadores e de suas organizações constitui um dos meios
essenciais de que dispõem para promover e defender seus
interesses profissionais;
Verbete 502 - Aviso prévio - A obrigação de dar
pré-aviso ao empregador ou a sua organização antes de declarar
uma greve pode ser considerada admissível;
@ Verbete 533 - Função pública e serviços essenciais
- O direito de greve pode ser objeto de restrições, inclusive de
proibições, quando se tratar de função pública ou de serviços
essenciais, já que nesses casos a greve pode causar graves
prejuízos à coletividade nacional e sob condição de que essas
restrições sejam acompanhadas de certas garantias
compensatórias.
Verbete 540 - Serviços Essenciais - Para
determinar os casos em que pode proibir-se a greve, o critério
determinante é a existência de uma ameaça evidente e iminente
para a vida, a segurança ou a saúde de toda ou parte da
população.
29 Arnaldo Sussekind, Direito Internacional do Trabalho, p 34213.
Verbete 598 - Imposição de funcionamento mínimo
- O Comitê tem insistido na importância de que as disposições
relativas a serviços mínimos para aplicar em casos de greve num
serviço essencial sejam determinadas de forma clara, aplicadas
estritamente e conhecidas no devido tempo pelos interessados.
Novamente citando Georgenor de Sousa Franco
Filho, " o direito de greve, principal arma dos trabalhadores,
deveria, no âmbito internacional, ser objeto de uma convenção
específica da OIT. Seu uso moderado e com a adoçáo de
indispensáveis critérios de razoabilidade pode levar ao encontro 11 30 da paz social .
8
Não se pode negar pois a importância dos
entendimentos emanados pelo Comitê de Liberdade Sindical, os
quais são constantemente divulgados aos países convenentes
como orientação e forma de aplicação dos princípios e normas
relativos aos direitos sindicais.
30 Arnaldo Sussekind, Direito Internacional do Trabalho, p. 121
CAP~TULO 5: DA COMUNIDADE EUROPÉIA AO MERCOSUL
Considerando-se os diversos aspectos abordados
acerca da greve nos serviços essenciais, julgamos oportuna a
verificação quanto ao tratamento dispensado ao mesmo instituto
por alguns países integrantes da União Européia e do Mercosul
com a finalidade de possível estabelecimento de pontos de
semelhança e divergências.
A escolha da Itália e de Portugal dentre os países
integrantes da União Européia deveu-se ao fato das
peculi3ridades existentes nos respectivos ordenamentos jurídicos
a propósito da greve nos serviços essenciais, especialmente no
que se refere a existência de órgão de negociação representando
a administração pública quanto ao modelo italiano e a requisição
civil para prestação de serviços inadiáveis no sistema português
consoante se verificará a seguir.
Relativamente aos critérios estabelecidos pela
Argentina, Paraguai e Uruguai quanto ao tema, acreditamos que
o conhecimento das peculiaridades acerca do tratamento
dispensado à greve nos serviços essenciais poderá ser de grande
interesse e utilidade no presente, eis que estudos já se
encaminham com vistas à possível harmonização de normas
entre os países integrantes do Mercosul, a semelhança do
processo implantado na Comunidade Européia.
Assim sendo e considerando a diretriz adotada
pelos países integrantes do Mercosul, qual seja, o das
assimetrias, busca-se a harmonização de normas com vistas a
redução de diferenças existentes nos respectivos ordenamentos
legais no que for possível, ao contrário do que popularmente se
entende por harmonizaçáo como sinÔnimo de uniformidade de
condições de trabalho, circunstância impossível de ser alcançada
em face da soberania interna de cada país-membro.
De inicio pudemos constatar que falta de
disposições normativas a propósito do exercício do direito de
greve acarretou sensível desenvolvimento da jurisprudência a
propósito do tema.
A recente Lei italiana regulando a greve nos
serviços essenciais estabeleceu limitações ao exercício da
parede, considerando indispensáveis à comunidade os serviços
que digam respeito a vida, saúde, liberdade de circulação,
assistência e previdência social, instruçáo e comunicaçáo,
especificando em cada grupo dessas necessidades as atividades
sujeitas as prestações mínimas durante o movimento de
paralisação.
Apenas a título de exemplificação citamos como
atividades contempladas na condição de essenciais :
a) os serviços de higiene pública;
b) distribuição de energia e gêneros de primeira
necessidade;
c) transportes;
d) educação;
e) telecomunicaçóes;
f) correios;
g) abastecimento de água, com bustiveis, telefonia,
etc.
A deflagração da greve compete à entidade
sindical, devendo haver comunicação prévia e escrita ao
empregador e a Comissão de Garantia no que se refira a data de
início do movimento, período de duração e objetivos a serem
alcançados.
A comunicação aos usuários dos serviços
essenciais se fará pelos meios normais de divulgação, dando-se
ciência do elenco e horários de funcionamento dos serviços
m inimos assegurados durante o movimento paredista, sendo
certo que a inobservância de tal providência sujeitará a entidade
sindical 5 sanção administrativa variável de $ 5.000.000 a
$ 50.000.000 liras,(correspondendo à R$ 4.870,00 e R$
48.700,00, em face da cotação obtida junto ao Banco do Brasil
SIA, dezembro 1999 = 0,000974 ) dependendo da gravidade da
violação legal.
Para garantia do exercício do direito de greve em
harmonia com o exercício dos direitos constitucionalmente
garantidos a pessoa, instituiu-se uma Comissão de Garantia
composta de nove membros escolhidos mediante indicação dos
Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado da
República dentre os especialistas em matéria de direito
constitucional, do trabalho e relações industriais, nomeados pelo
Presidente da República para um mandato de três anos,
permitida apenas uma recondução.
Dentre outras atribuições e visando ao
estabelecimento de composição entre as partes a Comissão de
Garantia terá por missão a compatibilização do exercício do
direito de greve com os demais constitucionalmente garantidos a
pessoa.
AS partes deverão pronunciar-se sobre a proposta
da Comissão dentro de quinze dias e se não o fizerem poderá a
mesma deliberar provisoriamente sobre a prestação dos serviços
indispensáveis (assegurando 0 mínimo de 50% das atividades
normalmente prestadas), bem como sobre as medidas de
resfriamento do conflito e de conciliação.
Competirá ainda a mesma Comissão manifestar o
próprio entendimento acerca da controvérsia e elaborar laudo a
respeito da matéria, recomendando, inclusive fim da greve e
propondo a solução do litígio; aceitas as ponderações
formuladas a parede terminara através de autocomposição das
partes.
PORTUGAL
Algumas peculiaridades foram constatadas quando
do exame do ordenamento legal português no pertinente ao
direito de greve que passaremos a expor resumidamente.
Inicialmente, parece-nos adequado enfatizar que a
greve é tida como "direito autônomo e independente da existência
do direito substantivo ou da pretensão mate ria^".^'
I
Verificamos que, diversamente do que ocorre no
Direito pátrio, no português, as greves não estão
obrigatoriamente vinculadas ao sistema de negociação e solução
dos conflitos coletivos, posto que a deflagração da parede não se
reveste em fase final quando da frustração da negociação
coletiva.
Ademais, em referido ordenamento legal não se
revela imprescindível a definição de seus objetivos, inobstante
seja essa a finalidade da parede, visto que, em sendo acolhidas
as reivindicações formuladas pelos trabalhadores, a paralisação
poderá ser desconvocada.
31 Bernardo da Gama Lobo Xavier, Curso de Direito Coletiv0, Cood. Georgenor Sousa Franco Filho, p. 632.
A semelhança do Direito pátrio, o ordenamento luso
impõe a notificação prévia escrita ao empregador, no entanto,
com antecedência mínima de 5 dias e também ao Ministério para
a Qualificação e Emprego e em se tratando de paralisação em
serviços que importem na satisfação de necessidades sociais
impreteríveis (correspondendo aos serviços essenciais no
ordenamento pátrio), o prazo será elevado a 10 dias.
Segundo Bernardo G.L.Xavier, "a obrigaçáo de pré-
aviso não constitui uma mera formalidade, mas assume um
significado importante no exercício do direito de greve. Não
propriamente porque esteja directamente ligada - como em outros
países - à actuação de um esquema pacífico de resolução de
conflitos, já que nesses países se estabelecem avisos prévios
dilatados que permitem a intervenção de meios mais ou menos
cogentes de composição dos diferendos, o que não é o caso
português. Mas se a greve se não perfila no ordenamento
português como extrema et ultima ratio do sistema conflitual
previsto na lei, nem por isso pode ter passado despercebido ao
legislador que - ao apor-lhe uma dilação - estava a abrir caminho
a uma composição pacéfica. O aviso da greve possui um forte
poder intimidativo. É da experiência quotidiana que a
desconvocação de greves se deve às negociações havidas e a
compromissos tomados precisamente no período de aviso 11 32 prévio .
32 Bernanrdo da Gama Lobo Xavier, Curso de Direito Coletivo do Trabalho, Coord. Georgenor de Sousa Franco Filho$. 625.
Por outro lado, o período de pré-aviso que antecede
a efetiva paralisação dos serviços propicia ao empregador o
tempo tido como necessário a fim de que possa tomar
providências relativas a que OS equipamentos, instalações e
materiais de produção não sofram qualquer dano.
Em se tratando de empresas que explorem serviços
dirigidos à comunidade, o próprio Estado a partir da notificação
da parede tem condições de tomar as medidas necessárias com
referência a composição do litígio, bem como quanto às
consequências sociais e ec0nÔmicas que possam advir do
movimento grevista.
I
Constatamos também que o ordenamento
português permite aos sindicatos a organização de piquetes e
que na prática revelam-se componentes essenciais do exercício
da greve, já que constituem meio de convencimento dos
trabalhadores para aderirem a parede por meios pacíficos.
Entretanto, OS excessos praticados durante os
piquetes que importem em ameaças ou viol8ncias visando
intimidar ou pressionar trabalhadores não grevistas implica em exercício abusivo do direito de greve.
Embora diante do ordenamento português a greve
também constitua modalidade de suspensão do contrato de
trabalho, não se permite ao empregador desde o anúncio da
paralisação dos serviços a contratação de empregados, salvo no
caso de "manutençáo do suporte do emprego" ou seja, a
promoção de atividades relativas a manutenção da segurança,
equipamentos e instalações.
Segundo a norma inserta no item 2 do artigo 8 O da
Lei 65/77, são consideradas empresas ou estabelecimentos que
se destinam a satisfação de necessidades sociais impreteríveis
os que se integram aos setores a seguir relacionados :
a) correios e telecomunicaçÓes;
b) serviços médicos, hospitalares e
mediqamentosos;
c) salubridade pública, incluindo a realização de
funerais;
d) serviços de energia e minas, incluindo o
abastecimento de combustíveis;
e) abastecimento de águas;
f) bombeiros;
g) transportes, incluindo portos, aeroportos,
estações de caminho-de-ferro e de camionagem, relativos a
passageiros, animais e gêneros alimentares deterioráveis e a
bens essenciais a economia nacional, abrangendo as respectivas
cargas e descargas.
Em se tratando de greve em empresas que se
destinam 6 satisfaçáo das "necessidades sociais impreteriveis",
deverão as associações sindicais e trabalhadores providenciar a
promoção dos serviços mínimos indispensáveis, sob pena de ser
a greve tida por ilícita, gerando por conseguinte a consideração
dos dias parados como ausências injustificadas ao trabalho,
sendo de ressaltar-se que três faltas injustificadas seguidas
implicam em graves consequências disciplinares e cinco
importam em despedimento por justa causa.
Na situação em questão, ou seja, a de falta de
promoção dos serviços mínimos necessários a população, além
da ilicitude da parede, poderá haver a requisição civil para que 0s
interesses da comunidade sejam integralmente assegurados.
I
A requisição civil constitui o conjunto de medidas
determinadas pelo Governo necessárias para, em circunstâncias
especialmente graves, assegurar 0 regular funcionamento dos
servi~os essenciais de interesse público OU de setores vitais da
economia.
Referida medida tem caráter excepcional, podendo
ser objeto da prestaçáo de serviços de forma individual ou
coletiva, determinando-se a convocação de trabalhadores através
de Portaria expedida pelo Conselho de Ministros diante de cada
caso em concreto, analisadas as consequências da parede.33
33 Maria do Rosário Palma Ramalho, Lei da Greve, p. 69.
Uma vez solucionado o conflito coletivo seja através
de acordo ou de deliberação de cessação do movimento, o
Conselho de Ministros através de Portaria dá por finda a
requisição civil determinada por ato anterior.
Procedimento de relativa frequência nos casos de
greve em serviços essenciais, constitui a prática de liberação
pelos grevistas em relação aos usuários dos serviços, por
exemplo de transporte público, quanto ao pagamento do
correspondente preço, circunstância essa que pode gerar para o
empresário danos tão VU~~UOSOS OU até maiores que suportaria se
tal atividade não tivesse sido executada.
@
Exemplos típicos de requisição civil em casos de
greves em serviços essenciais ocorrem com aeroviários,
servidores da justiça, trabalhadores em hospitais, transporte
ferroviário de passageiros e mercadorias dentre outros.
Assim sendo dúvidas não pairam sobre a ilicitude
da greve no direito português retirar toda e qualquer proteção ao
trabalhador quando descumpridas as normas legais, podendo
importar ainda em responsabilidade civil da entidade sindical com
fulcro no ordenamento civil, embora a imposição de referida
responsabilidade não encontre entendimento uniforme na
jurisprudência lusa.
ARGENTINA
0 s novos textos legais que disciplinam na
atualidade o exercício do direito de greve nos serviços essenciais,
quais sejam, a Lei 25.250 de 2/6/00 e DT 2000-A, 1284,
trouxeram algumas modificações no sistema até então vigente
com a introdução do que se denominou "período de prova" e a
intervenção do Ministério do Trabalho, Emprego e Formação de
Recursos Humanos na falta de acordo entre as partes em
conflito, estabelecendo como obrigatória a instância conciliatória
previ;\ e deixando a cargo da autoridade administrativa do
Ministério do Trabalho e não do Poder Judiciário a declaração
quanto à legitimidade ou ilegitimidade do movimento paredista.
No entanto, em qualquer caso, caberá ao Judiciário
a revisão da decisão administrativa, sendo facultado ao
empregador o não pagamento dos salários durante o período da
parede.
A diretriz legal prioriza a condução da resolução do
litígio a autoregulamentação, também denominada
regulamentação através de fontes autônomas, ou seja, a situação
em que as próprias partes adotem as medidas necessárias para
garantia das prestações mínimas dos serviços essenciais, eis que
estes não podem ser interrompidos.
Dessa forma, não ajustando as partes a garantia de
funcionamento dos serviços mínimos, ao Ministério do Trabalho,
Emprego e Formação de Recursos Humanos competirá a fixação
dos mesmos sempre com observância das normas e resoluções
emanadas da Organização Internacional do Trabalho através do
Comitê de Liberdade Sindical. Nesse caso, o ordenamento legal
impõe que a cobertura mínima devida à comunidade não poderá
ser maior do que 50% da prestação normal do serviço
usualmente promovido.
Da verificação do texto legal pertinente, constatou-
se terem sido considerados serviços essenciais :
a)serviços sanitários e hospitalares;
b) a produção e distribuição de água potável e
energia elétrica;
c) os serviços telefônicos;
d) o controle do tráfego aéreo.
Além das atividades acima elencadas, poderá 0
Ministério do Trabalho, Emprego e Formação de Recursos
Humanos, mediante resolução fundamentada, qualificar como
essencial outras atividades quando :
a) a extensão e duração da interrupção dos
serviços puder colocar em perigo a vida, a saúde ou a segurança
da comunidade;
b) a atividade afetada constituir serviço de
importância transcendental ou de utilidade pública;
c) a interrupção ou suspensão do serviço puder
provocar situação de crise nacional que exponha a perigo a
população.
A notificação prévia e escrita no que se refere à
paralisação dos serviços à semelhança dos diversos
ordenamentos analisados também é exigida, ressaltando-se que
o não,atendimento pelas partes no que diga respeito a promoção
das prestações mínimas devidas implicará na possibilidade de
rescisão contratuai motivada do trabalhador sem qualquer
indenizaçáo e com relação a entidade sindical a possibilidade de
suspensão ou até mesmo cancelamento de sua personalidade
gremial.
PARAGUAI
O estudo das peculiaridades de tratamento à greve
pelo ordenamento paraguaio revelou que as partes podem
através de contrato coletivo ajustar a abstenção de utilização dos
meios de resistência para S O ~ U Ç ~ O dos conflitos no que se refere à
parede (huelga) e ao lock-out (paro).
Em desconformidade com o estipulado na
Convenção 98 da OIT, o sistema paraguaio não admite a eclosão
de greve de servidores públicos, incluídos os membros das forças
armadas e da polícia.
No que pertine aos trabalhadores em geral, a greve
terá por objeto :
a) exigir do empregador a celebração de contrato
coletivo;
b) obter o cumprimento do contrato coletivo em
curso no que se refira as condições de trabalho ajustadas;
c) exigir a revisão ou modificação do contrato
coletivo ao término de seu período de vigência.
A deliberação do movimento paredista se fará
através da entidade sindical respectiva e ensejará a comunicação
escrita ao empregador com antecedência mínima de 5 dias do
início da paralisação.
Os trabalhadores que prestam serviços em
atividades imprescindíveis a população Como o abastecimento de
água, energia eiétrica e hospitais, deverão assegurar a prestação
mínima necessária dessas atividades à comunidade.
Especificamente nos hospitais, deverão funcionar
os serviços de pronto-atendimento a fim de evitar que as pessoas
possam correr risco de vida.
Nos casos em que a greve possa afetar a prestaçgo
de serviços públicos, o Poder Executivo poderá intervir para
administração dos mesmos durante O período necessário e
indispensável a fim de evitar prejuízos à coletividade, podendo
determinar o auxilio de força policial com a finalidade de permitir
que trabalhadores não grevistas possam exercer os serviços
indispensáveis ao público.
OS atos de violência praticados contra as pessoas I
ou bens durante o movimento paredista acarretarão a ilicitude da
greve, gerando por consequência O término dos contratos de
trabalho dos grevistas sem que haja qualquer responsabilidade
do empregador pelo pagamento da indenização que seria devida
em casos normais de extinção do pacto 1abora1.~~
URUGUAI
O sistema uruguaio ao tratar da greve nos serviços
essenciais considerou que as transformaçóes do mundo
contemporâneo com a crescente urbanização, importância das
comunicações e dos meios de produção acentuaram a
problemática existente no que diz respeito a paralisação de
34 Jorge Dario Cristaldo, Legislacion Laboral Paraguaya, p. 281190.
inúmeras atividades, eis que vivemos em sociedades cada vez
mais numerosas, cujo funcionamento depende em grande parte
da conexão de uma série de serviços cuja interrupção poderá
acarretar consequências de real gravidade.35
Possivelmente por essa razão é que o ordenamento
uruguaio não previu um conceito legal sobre serviços essenciais,
estipulando que caberá ao Ministério do Trabalho a definição de
quais são as atividades consideradas essenciais cuja
manutenção deverá ser assegurada.
Diversamente da regulamentação existente nos
paise9 vizinhos integrantes do Mercosul, o Direito uruguaio não
vinculou 0 exercício do direito de greve a entidade sindical
entendendo que a titularidade do direito pertence ao grupo de
trabalhadores sem quaisquer
A deflagraçáo da parede no ordenamento uruguaio
depende de notificação antecipada e escrita ao empregador
quanto à deflagraçáo do movimento, sendo possível a realização
de consulta aos trabalhadores por determinação do Ministério do
Trabalho a fim de que estes confirmem ou revoguem a eclosão
da parede através de voto secreto.
35 Juan R,Delgue - Lucia p. Percovich, Derecho sindical en ia jurisprudencia uruguaya, p.
102. 36 Instituto de Derecho del Trabajo e de Ia Seguridad Social, El Derecho Laboral de1 Mercosur, p. 31 6/23.
Verificou-se também que a prática adotada pelas
categorias patronal e profissional se dirigiu ao estabelecimento de
regras através de contratos coletivos, inclusive no que respeita a
cláusula de paz, o que vale dizer que a tendência das partes é
marcada pela constante admissão de ampla negociação.
Analisando os diversos aspectos e reflexos da
greve nos serviços essenciais Oscar Uriarte recomenda a adoção
de arbitragem obrigatória além da introdução de mecanismos
compensatórios como medida de proteção aqueles trabalhadores
vinculados as atividades essenciais, de forma que quanto maior a
restrição ou limitação do exercício do direito de greve, maior
nece~sidade de proteção substitutiva, destacando ainda a
importância da constante prevenção desses conflitos de cujas
condições de funcionamento depende fundamentalmente a
comunidade usuária de tais
37 Oscar E. Uriarte, Apuntes sobre Ia huelga, p.17519.
CAP~ULO 6: O DIREITO DE GREVE NO BRASIL
Os acontecimentos passados na Europa, sequer
chegaram a interferir diretamente na evolução do instituto, uma
vez que o crescimento da questão social no Brasil deu-se em
cenário completamente diverso.
Com efeito, após O descobrimento, a única
preocupação residia na extração de riquezas inexistentes na
Europa, como foi o caso da exploração da madeira, metais e
pedras preciosas.
t
Em 9824, enquanto na Europa já se reconhecia o
primeiro sindicato, 0 trabalho aqui desenvolvido era
predominantemente escravo, fundando-se a economia na
exploração das culturas açucareira e cafeeira.
6.1. ~volução e tratamento nas diversas Constituições
A Constituição de 1824"
Embora através da Carta de 1824 tivesse sido
assegurada a liberdade de trabalho, não houve qualquer
referência às associaçóes profis~ionai~, até porque a abolição da
escravatura somente ocorreu em 1888.
-- -
J8 Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, Constituições do Brasil, p. 8321833.
O artigo 179, XXIV, encontrava-se redigido da
seguinte forma :
" A inviolabilidade dos Direitos Civis, Politicos dos
Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade,
a segurança jndividual, e a propriedade, é garantida
pela Constituição do Impeno, pela maneira
seguinte:
Nenhum genero de trabalho, de cultura, industna OU
commercio póde ser prohibido, uma vez que não se
opponha aos costumes publicas, á segurança e t
saude dos Cidadãos".
Com o advento da República, em virtude de norma
inserta no Código Penal de 1890, era a greve proibida e punida
com pena de prisão quando violenta ou praticada por meio de
coação.
A Constituição de 18913'
Com o advento da República, o problema sindical
ganhou espaço concorrendo para tanto a formação da economia
industrial.
José Duarte esclarece que as Constituições de
1891 e a de 1934 teriam sido omissas quanto ao direito de greve,
cujo aparecimento teria ocorrido com a Carta de 1 9 3 7 . ~ ~
Referidas assertivas também foram confirmadas por Pontes de
ir anda.^'
I No entanto, verifica-se que a Carta Magna
republicana não descuidou da livre ~ S S O C ~ ~ Ç ~ O profissional, desde
que para fins pacíficos, na conformidade da regra inserta no
artigo 72, § BO, vazado nos seguintes termos :
l r A Constituição assegura a brazileiros e a
estrangeiros residentes no paíz a inviolabilidade dos
direitos concementes á liberdade, á segurança
individual e á propriedade nos temos seguintes :
A todos é licito associarem-se e reunirem-se
livremente e sem amas; não podendo intervir a
policia, sinão para manter a ordem publica".
39
40 Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, Constituiçóes do Brasil, p. 769, José Duarte, A Constituição Brasileira de 1946, p.216.
41 Pontes de Miranda, Comentários a Constitui@0 de 1967, p.93.
Nesse período constata-se a criação dos primeiros
sindicatos agrícolas com a Lei 97911903, sendo tal prerrogativa
posteriormente reconhecida a todos OS trabalhadores com a
edição da Lei 163711 907.
De realçar-se que nessa época os sindicatos
fundados não tiveram qualquer expressão, visto que somente
com a Revolução de 1930 é que tais entidades passaram a ser
consideradas colaboradoras do poder público e instrumento
indispensável à organização racional do trabalho.
A Constituição de 1 9 3 4 ~ ~
A nova Carta Constitucional além de reconhecer 0
direito de associação em sindicato, proclamou, ainda a autonomia
do grupo sindical, admitindo o sistema de pluralidade.
sob a presidência de Getúlio Vargas, o novo
governo notabilizou-se pelo marcante inteivencionismo do Estado
nas relações de trabalho, segundo se verifica dos comandos
inseitos nos artigos 113, números 12 e 13 e 120,
respectivamente, transcritos.
.É garantida a liberdade de associação para fins
lícitos. Nenhuma associação será
compulsóriamente dissolvida senão por sentença
judiciária".
livre o exercício de qualquer profissão,
obsenladas as condições de capacidade technica e
outros que a lei estabelecer, dictados pelo interesse
público ".
"0s syndicatos e as associações profissionaes
serão reconhecidos de conformidade com a lei".
A lei assegurará a pluralidade syndical e a
# completa autonomia dos syndicatos".
Através da Lei no 38 de 04/04/35, que dispunha
sobre a Segurança Nacional, foi reprimido o direito de greve, eis
que conceituado como delito-
A Constituição de 1 9 3 7 ~ ~
Derrogada a Lei Maior anterior por golpe de Estado
que manteve a chefia de governo e dissolveu o Congresso, foi
promulgada a Carta de 1937, reafirmando a liberdade sindical.
NO entanto, restou restabelecido o princípio da
unidade sindical, através do qual, no mesmo município, só
-- -
42 Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, Constituições do Brasil, p. 71 7 e 71 9, 43 Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, Constituições do Brasil, p. 619 e 624.
poderia haver um sindicato representativo de idêntica categoria
patronal e profissional.
Nessa oportunidade foi instituída a contribuição
sindical e condicionada a existência de tais entidades ao
reconhecimento pelo Estado, segundo se depreende da redação
dos artigos 1 22 número 9 e 1 38, respectivamente transcritos.
A Constituição assegura aos brasileims e
estrangeiros residentes no país o direito à
liberdade, a segurança individual e a propriedade,
nos termos seguintes :
b
A liberdade de associação, desde que os seus fins
não sejam contrários a lei penal e aos bons
costumes".
A Associação profissional ou sindical é livre.
Sòmente, porém, o sindicato regularmente
reconhecido pelo Estado tem o direito de
representação legal dos que parficiparem da
categoria de produção para que foi constituído, de
defender-lhes os direitos perante o Estado e as
outras associações profissionais, estipular contratos
co/efivos de trabalho obrigatórios para todos 0s
seus associados, impor-lhes contribuições e exercer
em relação a êles funções delegadas de poder
público l'.
A mesma lei maior ao instituir a Justiça do Trabalho,
considerou a greve e o lock-out recursos anti-sociais nocivos ao
trabalhador e ao capital e incompatíveis com os superiores
interesses da produçáo nacional, na conformidade do disposto no
artigo 1 39, vazado nos seguintes termos:
l1 Para denmir OS conflitos oHundos das relações
entre empregadores e empregados, reguladas na
legislação social, e instituída a justiça do trabalho,
que será regulada em lei e à qual não se aplicam as I
disposições desta Constituição relativas à
competência, ao recrutamento e as prerrogativas da
justiça comum.
A greve e o "lock out" são declarados recursos anti-
sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e
incompatíveis Com OS supeflores interesses da
produção nacional1'.
A mesma diretriz foi estabelecida pelo Decreto-lei no
431/38 que versava sobre a Segurança Nacional, pelo qual a
greve foi tipificada como crime.
O Decreto-lei no 1237139, que instituiu a Justiça do
Trabalho, estabeleceu que a greve seria passível de punições
que variavam desde a suspensão, despedimento e prisão do
trabalhador.
O Código Penal de 1940, seguindo as diretrizes do
regime vigente, tipificou a participação em greve como crime
contra a organização do trabalho.
A seguir, em 1943, com a promulgação da
Consolidação das Leis do Trabalho, condicionou-se a cessação
de qualquer atividade a prévia autoridade do tribunal competente.
I
Findo o "Estado NOVO" com a eleição do Presidente
Eurico Gaspar Dutra, foi reconhecido 0 direito de greve por força
da declaração de Princípios sociais da América quando da
realização da Conferência Internacional do Trabalho de
Chapultepec, realizada no México em 1945, subscrita pelo Brasil.
A Constituição de 1 9 4 6 ~
A Magna Carta em referência garantiu a liberdade
de associação com corporativismo, inserindo a Justiça do
Trabalho no poder Judiciário e remetendo para a lei ordinária 0s
aspectos relativos a criação e funcionamento dos sindicatos.
" Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, Constituições do Brasil, p.516.
Através dos artigos 158 e 159 foram assegurados,
respectivamente, o direito de greve e a liberdade sindical, na
conformidade da redação constitucional in vecbis:
"É reconhecido o direito de greve, cujo exercício a
lei regulará ". 45
" É livre a associação profissional ou sindical, sendo
reguladas por lei a forma de sua constjtuição, a sua
representação legal nas convenções coletivas de
trabalho e o exercício de funções delegadas pelo
poder público ".
@
Dessa forma, o direito de greve assegurado
constitucionalmente, teve seu exercício regulamentado, de inicio,
pelo Decreto-lei 9070 e posteriormente, pela Lei 4330 de 1964.
Referido diploma legal estabeleceu a greve como
direito sindical o que significou que a mesma só poderia ser
defiagrada através da entidade sindical, permitindo, ainda, a
eclosão da parede em qualquer atividade econômica.
45 Dirceu A. Victor Rodrigueç, Constituição Brasileira de 1946 vista pela Jurisprudência, p.
284.
A Constituição de 1 9 6 7 ~ ~
No período de 1967169, destaca-se a manutenção
das normas de direito coletivo na linha da Carta anterior, sendo
que, com referência ao direito de greve foram impostas proibições
quanto ao seu exercício nos serviços públicos e atividades
essenciais.
Assim sendo, preservados como direitos
assegurados constitucionalmente, 0 direito de greve e a liberdade
sindical foram tratados na conformidade dos comandos insertos
nos artigos 158, XXI e 159, respectivamente transcritos:
I
13 Constituição assegura aos trabalhadoms OS
seguintes direitos, além de outros que, nos termos
da lei, visem a melhotia de sua condição social :
XXI - greve, salvo o disposto no arf. 157, §
livre a associação profissional ou sindical; a sua
constituição, a representação legal nas convenções
co/efivas de trabalho e o exercício de funções
delegadas de poder público serão regulados em
lei1'.
Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, As Constituições do Brasil, p.4341436,
No entanto, segundo se verifica da norma contida
no artigo 157, 5 7O do mesmo diploma legal, o direito de greve foi
obstado aos empregados envolvidos nos serviços públicos e
atividades essenciais, pela seguinte forma :
A ordem econômica tem fim realizar a justiça
social, com base nos seguintes princípios :
6 70 N ~ O será permitida greve nos serviços públicos
e atividades essenciais, definidas em lei",
Na oportunidade, o exercício do direito de greve
estavg disciplinado pela Lei 4330164, promulgada no início do
período militar e possivelmente Com marcante carater
intervencionista, posto que exigia quorum para aprovação do
movimento em assembléia, proibindo a deflagraçáo de parede
política, religiosa, de solidariedade OU fundada em qualquer
motivação náo relacionada às relações de trabalho, além de
reafirmar a proibição de greve de funcionários públicos.
Verifica-se, pois, que na conformidade do texto
acima reproduzido, o direito de greve do servidor público foi
equiparado às atividades essenciais que náo estariam
necessariamente ligadas ao serviço público em geral nos seus
diversos desdobramentos.
As Emendas Constitucionais de no 1 até a de no 24 de
1011 2183~~
A proibição quanto a paralisação nos serviços
públicos e atividades essenciais 6 reafirmada através das
disposições contidas nos artigos 162 e 165, XXI, respectivamente
transcritos :
" ~ ã o será permitida a greve nos setviços públicos
e atividades essenciais, definidas em lei",
A Constituição assegura aos trabalhadores 0s D
seguintes direitos, além de outros que, nos temos
da lei, visem a melhoria de sua condição social :
greve, salvo o disposto no ad. 162. (nos termos da
EC no 18, de 30-6- 1981) ".'*
Em 1978 dois outros diplomas legais passaram a
tratar da paralisação dos serviços, quais sejam, o Decreto-Lei
1632, que dispunha sobre a proibição da greve nos serviços
essenciais e a Lei 6620 que definia OS crimes contra a segurança
nacional, estabelecendo punições ao incitamento as paredes nos
serviços públicos.
" Hilton L. Campanhole, Adriano Campanhole, Constituições do Brasil, p. 3211322. 48 Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Coment~rios Constituição Brasileira, p. 673 e 690,
A Constituição de 1988
A nova Lei Maior estabeleceu como princípios
básicos a unicidade sindical, proibição de interferência estatal
quanto ao registro dos atos constitutivos do sindicato, garantindo
a liberdade de filiação, a organização por categoria, a
participação obrigatória nas negociações coletivas, dentre outros
tantos novos direitos.
Permitimo-nos, ainda que de maneira sucinta,
ressaltar que alguns dos princípios insculpidos na atual Lei Maior
são aptagônicos com o sentido e dimensão dos direitos que se
pretendeu reconhecer.
Com efeito, o princípio da liberdade sindical
encontra-se emchoque com O sistema existente quer no que diga
respeito à contribuição sindical que é compulsória, quer quanto à
limitação da base territorial das entidades sindicais limitadas ao
município e ainda, ao determinar impositivamente a presença do
sindicato nas negociações coletivas, em descompasso com a
tendência atual que norteia a negociação coletiva admitindo-a até
de forma restrita a pequenos grupos de trabalhadores e
respectivo empregador.
Preservado pela nova Carta Constitucional, o direito
de greve passou a ser assegurado de forma ampla, na medida
em que a decisão acerca da paralisação competirá aos trabalhadores, na conformidade da regra inserta no artigo gO,
vazado nos seguintes termos :
"É assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por
meio dele defenderf'.
O mesmo dispositivo legal em seu parágrafo
primeiro estendeu o direito de paralisação coletiva aos serviços e
atividades essenciais, dispondo que :
I
" A lei definirá os serviços e atividades essenciais e
disporá sobre o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidadef'.
Verificamos pois que logo em seguida à
promulgação da Lei Maior, O Congresso Nacional aprovou a Lei
7783/89, aplicável unicamente ao setor privado, ou seja, às
relações de trabalho regidas pelo regime da CLT, implicando,
portanto, na exclusão de trabalhadores regidos pelo regime
jurídico único (terminologia que substituiu a antiga expressão
"trabalhador ou servidor estatutário").
Ademais, não só aos trabalhadores vinculados ao
setor privado foi assegurado o direito de greve, como também
aos servidores públicos em face na norma inserta no artigo 37,
VII, da Lei Maior, vazada nos termos seguintes :
" A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Munic(oios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte :
o direito de greve será exercido nos termos e nos
limites definidos em lei específica; "
t
Analisando referido dispositivo, José Afonso da
Silva assevera que, " na prática, é quase O mesmo que recusar o
direito prometido; primeiro porque, Se a lei não vier, o direito
inexistirá; segundo porque, vindo, não há parâmetro para seu
conteúdo, tanto pode ser mais aberta como mais restritiva.
Depende da correlação de forças. Por isso, é melhor constar o
direito com esses condicionamentos do que não ser li 49 constitucionalmente reconhecido .
A propósito dessa questão pronunciou-se o mais
alto Sodalicio da Nação quando do julgamento de mandado de
injunção,50 concluindo que a norma constitucional inserta no
artigo 37, vil, da Lei Maior reveste-se de eficácia meramente
49 Jos6 Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 678. MI-~O~DF; D J 22/11/96, EMENT VOL 01 851 -01, rei. Min. Celso de Mello.
limitada, desprovida de auto-aplicabilidade, dependendo de lei
complementar exigida pelo próprio texto constitucional.
No mesmo sentido, decisão proferida pelo C. STJ,
nos seguintes termos :
" A greve de servidor público continuará ilegal
enquanto não for editada lei complementar
determinada pela Constituição Federal, art. 37, V//,
Cabe ao servidor justificar perante a administração
a ausência anotada nos dias de greve. Abonar
faltas de servidor público nos dias de greve significa
reconhecer a legalidade da greve. Recurso 8
conhecido e náo provido". 51
Dessa forma, equivale afirmar que o direito de
greve assegurado ao servidor público depende de lei
complementar, revestindo-se esta em requisito de aplicabilidade e
do próprio exercício do direito em referência.
Assim sendo, reafirmamos que as disposições
constantes na Lei 7783189 aplicam-se, ta0 somente, a atividade
privada, uma vez que, diante da regra inscrita no inciso Vil, do
artigo 37 da ~onstituição Federal, 0 exercício do direito de greve
pelo servidor público está condicionado aos termos e limites que
vierem a ser definidos em lei específica, sequer editada até o
-.
Valenfin Carrion, Nova ~urisprudência em Direito do Trabalho, 1' semestre 2000, p. 245.
com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se a defesa da Páttia, a garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
destes, da lei e da ordem.
ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;"
Com efeito, outro não poderia ter sido o comando
constitucional uma vez que, as forças armadas "são instituições
nacionais permanentes e regulares, vale dizer, seus membros
não são convocados nem seus órgãos organizados apenas em li 53 momqntos de comoção interna ou de conflito externo .
Verifica-se, pois, que a destinação primeira das
Forças Armadas constitui a defesa da pátria, seguida da garantia
aos poderes constituíd~s, assegurando e garantindo a lei e a
ordem e só atuando se chamadas a intervir por iniciativa dos
Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário.
Do quanto exposto resulta evidente a
incompatibilidade total entre o exercício do direito de greve e as
obrigações constitucionais estabelecidas para os integrantes das
Forças Armadas.
53 Celso R.Baçtos, ~ves G. Martins, Comentários a Constituição do Brasil, p.163.
CAP~TULO 7: FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL E
CONCEITUAÇÃO DA GREVE.
Muito se tem discutido a respeito da inclusão do
direito de greve como garantia ~ ~ n ~ t i t ~ ~ i ~ n a i visto que alguns
países, tais como Alemanha e Estados Unidos, sequer o
inseriram no texto da Lei Maior.
A idéia da constituciona~ização dos direitos sociais
dentre eles aqueles diretamente dirigidos ao trabalhador, parece
ter nqscido com a Constituição Mexicana de 1917, seguida pela
Carta Alemã de Weimar em 1919, cujos princípios visando a
melhoria das condições de vida do homem acabaram sendo
difundidos e reproduzidos pelos demais países da Europa e
Américas.
Feitas estas breves considerações, podemos
af inar que inúmeros seriam 0s conceitos que poderiam ser
reproduzidos, esclarecendo-se, desde já, que sua variação
consiste quanto à consideração da greve como direito ou
liberdade, na dependência do respectivo ordenamento jurídico
sob análise.
Com efeito, a concepção do movimento paredista
como liberdade surgiu a partir do afastamento pelo Estado dos
mecanismos jurídicos que puniam o movimento como crime.
A partir da visão da greve como liberdade, caberia a
indagação se este fato social consiste em liberdade pública ou
privada.
Considerada a parede como liberdade pública,
haveria que ser exercida a mesma contra 0 Estado e outorgada a
todos sem qualquer distinção.
No entanto, é sabido que o movimento de I
paralisação temporária dos serviços só é oponível contra o
empregador , sofrendo as necessárias limitações legais de tal
forma que o exercício do direito por Seu titular não fira o direito de
seu próximo, circunstância que nos leva à conclusão de que a
greve se caracteriza como liberdade particular.
Merece destaque ainda o posicionamento da greve
vista como um superdireito, cuja fundamentação é metajurídica,
valorizando o justo acima do legal e autorizando o movimento
paredista como meio de resistência contra as injustiças.
Em oposição, parte da doutrina considera a greve
como direito potestativo, colocando 0 empregador em situação de
total submissão a vontade dos empregados quanto a paralisação
dos serviços.
Tratando do ilogismo do direito de greve, assevera
Cesarino Júnior que " A evolução da humanidade se caracteriza,
sobretudo, no aspecto jurídico pela substituição da proteção pela
autoridade pública a defesa privada, de tal maneira que a
ninguém será licito, senão em casos especialissimos, fazer
justiça pelas próprias mãos. Assim a defesa privada se limita a
poucas exceções : a legítima defesa, o direito de retenção, etc. E
o Código Penal brasileiro pune expressamente, no art. 345, 0
exercício arbitrário das próprias razões, nestes termos : ' Fazer
justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora
legitima, salvo quando a lei o permite'. Com efeito, nos países
policiados, onde há tribunais, a estes e não aos indivíduos
compete a tutela dos direitos ameaçados OU violados.
Ora, a greve e o lock-ouf, em última análise, nada
mais são que casos de defesa privada, evidentemente mais r i 54 graves, por se tratar de atitudes não individuais, mas coletivas .
Poderá também ser entendida a greve como
autotutela ou procedimento impositivo visando a soluçáo do
conflito mediante emprego da força ou pressão como fator
decisivo, o que será objeto de apreciação mais acurada quando
estivermos tratando da natureza jurídica deste direito.
54 Antonio Ferreira Cesarino Júnior, Direito Social. p. 567.
No entanto, quer nos parecer que sob qualquer
ângulo que se enfoque a questão, dúvidas parecem inexistir
quanto ao fato de que a greve constitui instrumento de que se
vale a categoria profissional para pressionar a categoria
econômica no atendimento de suas reivindicações, consistindo
mesmo em fator de equilíbrio entre as forças capital - trabalho e
servindo como meio de estímulo e aprimoramento da negociação
coletiva.
Poderá ser ainda conceituada como fato coletivo
consistente na paralisação dos serviços, bem como, omissão
coietiva quanto aos atos de trabalho.
No entanto, para Pontes de Miranda, a parede há
que ser temporária, motivada e cientificada ao empregador, visto
que, inexistentes tais requisitos, náo há se cogitar de greve.55
Octavio Bueno Magano entende que a greve
consiste no "poder do grupo social que Se manifesta através da
atividade tendente a realização de um interesse coletivo,
mediante a suspensão coletiva e temporária do trabalho dos
trabalhadoreç pertencentes ao mesmo grupo".56
'' Pontes de Miranda, Comentários a C 0 n ~ t i t ~ i ~ ã 0 de 1967, p. 225. 56 Octavio Bueno Magano, Manual de Direito do Trabalho, Direito Coletivo do Trabalho, volume 111, p. 172.
Para Amauri Mascaro Nascimento, a greve tem
uma causa material, final e formal.
A causa material consiste na paralisação OU
diminuição do trabalho, enquanto que a causa final representa a
combinação de interesses dos mesmos de se unirem numa ação
conjunta de pressão contra o empregador, visando a satisfação
de uma pretensão. E por fim, a Causa formal refere-se à
observância do procedimento legal desde a deliberação da
parede até seu término.57
Wilson e Silvia Campos Batalha consideram que " 0
direito de greve não é simples consectário da liberdade individual,
do direito de fazer ou não fazer, nem simplesmente emanação da
personalidade do indivíduo.
~ ã o é um direito abstrato, mas um direito coletivo
'funcional e instrumental! O direito de greve desempenha uma
função social e só no sentido dessa função social pode legitimar-
se. Não é um direito em si, que encontre satisfação no seu
próprio exercício - é um direito instrumental, cujo exercício se
destina 3 obten@o de resultados fina~ísticos".~~
Considera Alfredo Ruprecht que "se deve entender
por greve a suspensáo de carater temporário do trabalho,
pactuada e acertada por um grupo organizado de trabalhadores,
57 Arnauri Mascaro Nascimento. Compêndio de Direito Sindical. LTR Editora Ltda. p. 39416, 58 Wilson de s,c.~atalha, Silvia M.L. Batalha, Sindicatos Sindicalismo, p. 229.
com abandono dos locais de trabalho, com o objetivo de fazer
pressão sobre os empregadores, na defesa de seus interesses
profissionais e econômic~s".~~
Assim sendo, reputa o citado autor ser fundamental
o abandono do local de trabalho, a pressão contra o empregador
e a defesa de interesses profissionais e econÔmicos, visto que,
inexistentes tais requisitos, estaríamos diante de outras figuras
contempladas pelo direito que não a greve.
Délio Maranhão afirma que " a greve é uma forma
de autodefesa que, dando margem, inicialmente, à
autocpmposição do dissidio, acaba, se esta não se realiza, por
provocar-lhe a solução processual. 0 direito de greve define-se
pelo seu objeto : é o direito de fa~ê-la".~'
7.1. Requisitos da greve
Regra geral, os requisitos para a deflagraçáo de
movimento paredista estarão invariavelmente ligados ao
ordenamento legal de cada pais. No entanto, parece haver
consenso de que nenhuma greve poderá eclodir se não
resultarem reunidos os seguintes elementos :
a) intenção de não trabalhar - representada pela
unidade de opiniões para efetuar o movimento;
59 Alfredo J. Ruprecht, Relações Coletivas de Trabalho, p. 738.
60 Délio Maranhão, Direito do Trabalho, p.387.
b) abandono do trabalho - consiste no primeiro ato
pelo qual a greve se materializa através da abstenção da
prestação dos serviços;
c) tempo indeterminado - a indeterminação do prazo
de duração da parede e da essência do movimento;
d) paralisação coletiva - visto que os atos isolados
ou de uma minoria descaracteriza O movimento paredista que há
de contar com expressivo número de trabalhadores dentro do
mesmo local de trabalho;
e) finalidade - é da essência da greve o pleito de
natureza profissional, a defesa dos interesses trabalhistas da
categoria, a reivindicação de melhoria salarial, surgindo, daí, 0s
conflitos de natureza econÔmica e/ou jurídica.
Feitas tais considerações a propósito das inúmeras
conceituaçóes do direito de greve, mister analisarmos o conceito
legal do movimento paredista inserto no artigo 2' da Lei 7783190,
que, regulamentando a regra contida no artigo 9' da Lei Maior,
estabeleceu :
Aff. 24 Para os fins desta lei, considera-se
legítimo exercício do direito de greve a suspensão
coletiva, temporána e pacífica, total ou parcial, de
prestação pessoa de s e m a empregador".
Diante do texto legal que definiu a greve como
suspensão do trabalho, claro está que em face do ordenamento
pátrio qualquer outra forma de protesto coletivo sem paralisação
dos serviços não poderá ser considerada greve por lhe faltar
elemento essencial.
Ademais, cumpre-nos enfatizar que a parede há
que ser coletiva por se tratar de ação de grupo de trabalhadores,
afastando-se por conseguinte, movimentos isolados, de pouca ou
nenhuma adesão entre os trabalhadores de determinado
estabelecimento ou categoria.
Dessa forma, para a doutrina pátria a greve
somente será legitimada e por conseguinte deflagrada por
motivos profissionais ou econômicos na defesa de interesse da #
categoria, cujos integrantes devem estar vinculados a prestação
de serviços subordinados, o que vale dizer que, em nosso
ordenamento, impossível será a deflagraçáo de parede por
autônomoç, como se verifica no direito estrangeiro.
Por outro lado, a simples interrupção da prestação
de serviços não deverá ocorrer de maneira desordenada, 0 que
implica asseverar que os integrantes da parede devem prestar o
necessário respeito às pessoas e aos bens de terceiros.
Finalmente, os efeitos decorrentes das limitaçóes
do direito de greve também estão diretamente subordinados à
legislação positiva de cada país, uma vez que tais restrições
visam à preservação da paz social entre as categorias
profissional e econômica que via de regra é alcançada através da
necessária negociação entre as partes.
7.2. Das diversas formas de protesto coletivo.
Apenas a guisa de ilustração, apresentaremos
algumas das diversas formas de protesto, retiradas da obra de
Alfredo J. ~ u ~ r e c h t , ~ ' na medida em que não poderiam ser
consideradas tecnicamente Com0 tIIovimento paredista por lhe
faltarem 0s requisitos essenciais acima já especificados para
tanto :
a) greve de advertência - consistente na súbita
interrupção da prestação dos serviços Por curto período, via de
regra, antes do término da jornada normal de trabalho. A rigor,
não poderia ser considerada greve, eis que lhe falta a
indeterminação do prazo e o abandono do local de trabalho;
b) greve simbólica - a que implica numa brevissima
interrupção do serviços, sem qualquer abandono do local de
trabalho;
c) greve política - visa atingir terceiro que não o
empregador, não se encontrando revestida de qualquer finalidade
61 Alfredo J. Ruprecht, Relações Coletivas de Trabalho, p. 843161
reivindicatória de ordem contratuai ou profissional já que dirigida
contra o Estado;
Para Arnaldo Sussekind, "as greves políticas, ainda
que comandadas por entidade sindical de trabalhadores, não
encontram guarida na Constituição brasileira de 1988, porquanto
objetivam algo que não pode ser atendido pelos respectivos
empregadores".62
A propósito do tema pronunciou-se o C.TST nos
termos seguintes :
" A greve política não 6 um meio de ação direta da I
classe trabalhadora em beneficio de seus
interesses profissionais, e, portanto, não está
compreendida dentro do conceito de greve
trabalhista. Entende-se por greve política, em
sentido amplo, a dingida contra OS poderes públicos
para conseguir determinadas reivindicações não
suscetíveis de negociação coietiva ". (TS T-RO-DC
454 136/98.7, Ac. SDC, Min. Valdir ~ i g h e t o ) ~ ~
d) greve de zelo - importa em verdadeiro atentado
à produ@o em face da meticulosidade empreendida pelo
trabalhador em cada uma das tarefas executadas;
62 Arnaido Sussekind, Responsabilidade pelo abuso do Direito de Greve, Revista da $ademia Nacional de Direito do Trabalho. Ano 1. no 1. 1993, P. 38.
Valentin Carrion. Nova ar ris prudência em Direito do Trabalho. 1' semestre 2000, p, 245,
e) greve de braços caídos - consiste na realização
do trabalho lentamente e sem condições técnicas, com resultado
deficiente;
f) greve por turnos - implica na paralisação dos
serviços por curtos espaços de tempo em várias seções da
empresa ou em diversas empresas, podendo tomar proporções
relevantes quanto se tratar de produçáo em série;
g) greve intermitente - importa na paralisação das
atividadeç de forma reiterada e breve durante a jornada de
trabalho, causando evidente prejuízo;
h) greve selvagem ou espontânea - é a realizada
de forma súbita, sem qualquer ordenamento ou aviso,
assemelhando-se a greve surpresa;
i) paralisação - também conhecida por greve
passiva, consiste na falta de execução de qualquer atividade pelo
empregado durante toda a jornada de trabalho;
j) ocupação do estabelecimento - com a finalidade
de pressionar o empregador, 0s trabalhadores não se retiram do
local de trabalho, pretendendo assim 0 atendimento de suas
reivindicações;
I) greve de estrangulamento e rotativa - implica na
paralisação do serviço em pontos OU seções consideradas
estratégicas;
m) greve geral - assemelhada a greve política,
dirige-se contra a coletividade, não tendo qualquer objetivo
profissional, eis que o empregador não é O alvo do movimento;
n) greve de solidariedade - de igual forma, também
é dirigida a terceiros e não ao real empregador, já que a pressão
é realizada em benefício de outros empregados em apoio ao
grupo em conflito;
b
Para Francisco Antonio de Oliveira, " a greve de
solidariedade poderá ganhar foros de legalidade quando se tratar
de solidariedade interna (na mesma empresa) ou restar provado
que a categoria que titulariza a greve de solidariedade estaria
ligada por uma comunidade de interesses com os grevistas
pr in~ ipa is" .~~
O) sabotagem - consiste na destruição de máquinas,
equipamentos, matérias-primas, &c., Como consequência do
conflito de origem laborai;
p) boicote - importa no acordo entre trabalhadores
vedando-se a de serviços a determinado empresár;~;
64 ~~~~~i~~~ ~~~~~i~ de Oliveira, Manual de Direito Individual e Coletivo do Trabalho, p, 501,
q) náo-cooperação ou colaboração - implica na
recusa coletiva de prestação de tarefas que em circunstâncias
normais seriam rotineiramente cumpridas;
r) ratting - consiste na impossibilidade de execução
de tarefas por falta das ferramentas ou equipamentos
necessários a tanto;
S) piquete - é o impedimento do local da prestação
de serviços por paredista obstando que trabalhadores não-
grevistas alcancem o estabelecimento para laborarem;
I
t) trabalho arbitrário - implica na prática de açõeç
contrárias a vontade do empregador;
u) greve de rendimento - a semelhança da greve de
zelo consiste na demorada OU deficiente produção de bens em
condições anormais.
Constatamos, pois que OS movimentos acima
expostos não podem ser caraterizados como tipicamente greve,
segundo a doutrina clássica, na medida em que em alguns casos
a paralisação de serviços Sequer é interrompida por período
considerável, em outros não há abandono do local da prestação
de serviços, desvirtuando-se, assim, 0s requisitos tidos por
básicos para do movimento paredista.
Examinando as greves de solidariedade, de
protesto e as políticas, manifestaram-se Wilson e Sílvia Batalha
asseverando que tais movimentos " não podem ser considerados
como exercício do direito de greve, porque não têm fundamento
econômico-profissional, nem visam a objetivos de melhoria das
condições de trabalho que o empregador possa atender no todo
ou em parte.
São fatos sociais e p ~ l í t i ~ o ~ , não exercícios de um
direito. Os que deles participam agem exclusivamente por sua
conta e risco, incorrendo nas consequências de atos praticados
~ e m - ~ i r e i t o " . ~ ~
7.3 A Nova Visão da Greve diante da flexibilização das
relações de trabalho.
No entanto, em recentíssima obra a propósito da
análise do movimento paredista frente às transformações que têm
ocorrido quer nos meios de produção, quer nas relações de
trabalho e de subordinação, Oscar Uriarte apresenta
considerações acerca do denominado fenômeno "flexibilização da
greve"66 diante dos processos e sistemas de informatização
utilizados na atualidade, desconsiderando, pois, 0s elementos até
então reputados básicos para a doutrina clássica no que se refere
65
66 Wilson de S.C. Batalha, Silvia M.L. Batalha, Sindicatos Sindicalismo, p.244, Oscar Uriarte, A flexibilizaçáo da Greve. P 16, 29/38 e 42/48.
à caracterização da greve e que resumidamente passaremos a
expor.
De maneira geral, dúvidas não pairam no sentido de
que o conflito entre as categorias profissional e econômica
constitui meio permanente de negociação com a finalidade última
de alcançarem as partes sua composi~ão.
Assim sendo, o próprio conflito representa
elemento permanente e significativo na constante alteração das
relações de trabalho que ao lado das transformações
tecnológicas estaria a contribuir para uma nova visão, senão
dandp origem a um novo sistema legal imposto pelo terceiro
milênio.
É de ser ressaltado que a própria origem da
legislação trabalhista nos países da América Latina diverge
sobremaneira do ordenamento legal aplicável nos países que
integram a Comunidade Européia diante da diversidade de
experiências e desenvoivimento sociais, econÔmi~0s e políticos
dentre outros fatores de relevância.
Com efeito, enquanto na Comunidade Européia a
predominância na atualidade visa à proteção coletiva da massa
de trabalhadores através de políticas conjuntas relativas 6
qualificação, requalificaçá~ de mão-de-obra, absorção da mesma
no mercado produtor e da prestação dos serviços, sem que seja
esquecida a atenção especial de que goza a demissão coletiva,
nos países da América Latina o que se constata é uma tendência
de constitucionalização de direitos sociais com marcante caráter
protetor na esfera individual e excessiva limitação ou restrição no
exercício dos direitos coletivos tomando-se como exemplo a
profusão de normas disciplinando a atividade sindical e
consequentemente a negociaçáo coletiva.
Por conseguinte, sempre que O Estado intervir na
regulamentaçáo das relações entre as categorias profissional e
patronal menor será o espaço disponível para negociação entre
as partes.
I
Tanto esse aspecto é verdadeiro que já se constata
a existência de inúmeros segmentos (bancários, comerciários,
metalúrgicos) pregando a prevalência do "negociado sobre o
legislado" como forma de atendimento aos interesses do grupo
envolvido em determinado conflito, inobstante a legislação
existente a propósito da matéria.
Outro fator de real importância no tema ora
abordado refere-se as alterações que vem sendo implementadas
nas relações de trabalho com a a u t ~ m a ~ á ~ , descentraii~açã~ e
diminuição das empresas, terceirizaçáo de mão-de-obra,
modificaçõeç no conceito de subordinação diante das diversas
formas de prestação de seiviços como é 0 caso do trabalho em
domicílio, teletrabalho, trabalho à distância e tantos outros.
Dessa forma, diante de um novo tempo, deverá
prevalecer a ação coletiva de pequenos grupos em detrimento
dos grandes e expressivos sindicatos de categoria, visto que as
alterações e adaptações por que passam as entidades
empresariais implicarão, inevitavelmente, na fragmentação e
fragilizaçáo da atuação dos sindicatos.
Exemplo típico dessa realidade é a existência de
sindicatos por empresa facultando-se a adoçáo total ou parcial
das cláusulas estabelecidas para a categoria através de norma
própria, o que vale dizer que as regras a serem cumpridas por um
pequeno bazar poderiam diferir das adotadas por uma loja de
departamentos, na conformidade do interesse de cada grupo, tal
como vem ocorrendo em países europeus.
Devemos ainda lembrar que nos dias atuais a
imagem da empresa em relação a0 público consumidor é de vital
importância na medida em que não constitui novidade a
preferência dada por este ao empresário que Se utiliza de
processos de reciclagem, adotando medidas de proteção do meio
ambiente, desenvolvendo atividades comunitárias, sociais e
educativaç como meio de cumprir a função social da empresa.
Em virtude dos diversos fatores expostos e que
causaram a alteração de comportamento empresarial, claro está
que as coletivas de paralisação na prestação dos
serviços também ganharam novas formas de atuação, sendo
exemplo típico os movimentos que até então pela doutrina
clássica eram considerados movimentos atípicos, greves atípicas
ou simplesmente movimentos coletivos.
Nesse contexto é que podemos trazer alguns fatos
ocorridos na Comunidade Européia denominados "cibergreves"
ou "greves virtuais" e que inevitavelmente deverão servir como
reflexão e possível diretriz para novas formas de atuação dos
movimentos coletivos na realidade brasileira.
Citamos como exemplo a manifestação dos
petroguímicoç vinculados à Elf que em determinado momento
interromperam a prestação de serviços por algumas horas com
bloqueio do sistema de gestáo informatizado do empregador,
dando ciência à imprensa desse fato.
Nova alternativa da atuaçáo coletiva constitui a
ocupaqão de espaço na mídia cientificando o consumidor acerca
da pretensão da categoria profissional motivadora do conflito e
que nem por isso acarreta a paralisação total das atividades,
como foi o caso da liberação de catracas nos transportes
coletivoç, bloqueio de alguns serviços bancários nos caixas
automáticos, de correçáo de provas em instituições de
ensino.
Revelaram os trabalhadores com tal procedimento
que as greves deixaram de ser um fenômeno isolado entre as
categorias profissional e econômica, tomando dimensão de
acontecimentos sociais que não podem ser omitidos do público
consumidor dos produtos OU serviços envolvidos nessas
atividades, sejam elas básicas ou não, já que a decomposição da
prestação dos serviços acarreta apenas a paralisação parcial de
algumas tarefas, preservando-se o funcionamento de outras.
Em tal circunstância, poderíamos asseverar que
poucos empregados na atualidade poderão gerar maiores
prejuízos ao empregador em determinados processos de
autor(iaçã0 do que um verdadeiro batalhão de trabalhadores
braçais na mera interrupção de suas atividades.
Sem dúvida, tais consideraç6es haverão de
merecer atenção das entidades sindicais das categorias
profissional e patronal, na medida em que o acolhimento das
formas atípicas de greve tem sido defendido pelo Comitê de
Liberdade Sindical e pela Comissão de Peritos em Aplicação de
Convençõeç e ~ecomendações da Organização Internacional do
Trabalho.
CAP~ULO 8: NATUREZA JUR~DICA .
Discussão que ganhou grande realce refere-se ao
fato de o direito de greve revestir-se em direito de natureza
individual ou coletiva, eis que, dependendo do ordenamento legal
que se considere, poderá ser concebido como direito isolado do
trabalhador, como é o caso da França, ou considerado como fato
coletivo e que tem como sujeito ativo O grupo de trabalhadores e
que na realidade brasileira se encontra representado pela
entidade sindical.
b
Segundo Ruprecht, " a greve deixou de ser um
fenômeno individual, o direito individual de parar, para se
converter numa expressão s o ~ i o l ó g i ~ a ' ~ . ~ ~
Para Amauri Mascaro Nascimento, " a greve é um
direito individual do trabalhador, de exercício coletivo declarado
pelo sindicato. É a concIusáo que permite conciliar a concepção
orgânica da declaraçáo e a liberdade individual de participação no t i 68 exercício, corolário do princípio da liberdade de trabalho .
Na visão de Santiago P6t-e~ de1 Castillo, " o direito
de greve não se extingue Com Seu exercício. Trata-se de um
direito constitucionalmente, de natureza individual,
67
68 Alfredo Ruprecht, Relaçóes Coletivas de Trabalho, p. 765. Amauri Mascaro Nascimento, Comenthrios B Lei de Greve, p. 37
mas com diversas implicações coletivas : a decisão coletiva
prévia; o exercício coletivo do direito e o interesse coletivo, cuja t i 69 defesa se persiga .
No entanto, o direito constitucional de paralisação
dos serviços individualmente considerados só ganha destaque
em face da manifestação coletiva da categoria profissional, uma
vez que o interesse em discussão não só é tratado coletivamente,
mas também exercido em grupo através das entidades sindicais.
Outro aspecto a ser abordado diz respeito as
entidades sindicais, cuja natureza jurídica, na atualidade, não
deixa dúvida quanto ao fato de constituir O sindicato pessoa
jurídica de direito social, contribuindo como produtor do direito
objetivo, segundo Mário de Ia Cueva citado pelo Professor
Cesarino ~únior .~ '
Afastam-se, por conseguinte, as antigas teorias que
enquadravam a entidade sindical ora como pessoa de direito
público, ora como de direito privado.
N ~ O caberia no momento adentrarmos na discussão
relativa 2 unicidade ou pluralidade sindical, mas, tão-somente,
enfatizarmos o fato de que o homem sempre procurou se
associar àqueles com OS quais tivesse identidade, fosse ela
política, religiosa OU profissional.
69
70 Santiago Pérez de1 Castillo, O Direito de Greve, P. 65. Antonio Ferreira Cesarino Junior, Direito Social, p. 567175.
Em nosso ordenamento jurídico, uma das grandes
contradições no meio sindical decorre dos princípios insertos no
artigo 8 O e incisos da Lei Maior: liberdade sindical e definição de
base territorial (somente uma entidade por município);
contribuição sindical compulsória; custeio do sistema
confederativo e assistencial.
Melhor esclarecendo, na primeira hipótese
poderíamos concluir que o sistema adotado não contempla a
liberdade sindical plena ao estabelecer que a entidade sindical de
primeiro grau está limitada a um municí~io.~' Contrariamente,
enteyemos que a liberdade sindical tal como erigida pelo texto
constitucional estaria vinculada à multiplicidade de sindicatos da
mesma categoria no mesmo município.
A segunda hipótese tratada versando sobre a
contribuiçáo sindical compulsória, 72 O custeio do sistema
confederativo e assistencial também colide com o princípio de
liberdade sindical inserto no capuf do artigo 8' da Lei ai^^^^ bem como com aquele constante do incho V do mesmo
dispositivo na medida em que Se o ordenamento
--
71 11 - ~~é vedada a criação de tnais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional OU economica, na mesma base territorial, que ser& definida oeloç trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de i m Município"; 72 A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou Por uma pmfissão liberal. em favor do Sindicato representativo da mesma categoria OU profissao, ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591". 73 "É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte": 74 ,I ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato";
infraconstitucional impõe e obriga ao desconto compulsório da
contribuição, claro está que não vivenciamos o regime de
liberdade sindical tal como apregoado.
Além disso, cumpre-nos ressaltar a transformação
porque passam as entidades sindicais diante do total
desinteresse do trabalhador em geral em pertencer a tais
organismos, em face da influência dos meios de comunicaç~o,
das ambições individuais e das dificuldades que o mercado de
trabalho moderno apresenta.
De conseguinte, assiste-se a uma reformulação da
post~ua sindical abstendo-se da preocupação quase que
exclusiva com o trabalho subordinado para engajar-se aos
movimentos da modernidade integrados por autônomos,
trabalhadores informais e outras modalidades da prestação de
serviços, tais como o teletrabalho e trabalho à distância dentre
outros.
por tais razões, parece-nos que a atuação sindical
da atualidade se volta muito mais para 0 estabelecimento de
programas de preservaçáo dos atuais empregos, requalif ica~ã~
de mão-de-obra, redimensionamento de jornadas, do que
propriamente pela luta por reajustes salariais e outros benefícios
outrora reclamados em dissídios coletivos e notadamente através
de greves.
A elucidar tal afirmativa o testemunho prestado por
dirigente sindical do ABC, relatando a situação de esvaziamento
e descentralização das empresas automobilísticas, com
fechamento de inúmeras unidades produtoras, situação que
conduziu as categorias profissional e patronal ao diálogo
constante buscando ponto de equilíbrio e ajuste diante do
desajuste econômico-financeiro que setor atravessava no período
de 1998199.
Verificou-se que em face da possibilidade concreta
e irreversível de demissão de cerca de 10 mil empregados do
setor, a melhor solução seria a negociação resguardando o
patr i~ônio mais importante sob a ótica de qualquer cidadão que
precise trabalhar, ou seja, o emprego, ao invés de buscar-se
reajuste salarial e possivelmente recorrer a categoria a tradicional
"greve dos metalúrgicos do ABC" que em diversas oportunidades
ocupou parte dos noticiários da imprensa falada e escrita.
Questionado a propósito da atuação sindical,
manifestou-se o então presidente do Sindicato dos Metalúrg ices
do ABC, Luiz Marinho, " creio que O dirigente sindical, hoje, tem
que ter, acima de tudo, maturidade, responsabilidade, 'pé no
chão1 e saber fazer a leitura do que está acontecendo no Brasil e
no mundo. ~ventualmente, pode escolher um caminho mais
difícil mais complexo, um caminho, inclusive, que talvez lhe crie
Para Amauri Mascaro Nascimento a frustração da
negociação pode operar-se de duas maneiras, quais sejam,
através da recusa do empregador e pelo desacordo78.
Na primeira hipótese a simples falta de qualquer
manifestação por parte do empregador a respeito das
postulações apresentadas pelos empregados importará na
caracterização da recusa à negociação, decorrido o prazo
estabelecido para manifestação, visto que, em regra, as
propostas são apresentadas por escrito.
0 desacordo, por sua vez, será materializado quando
o empregador, por razões que não merecem ser discutidas no
momento, não aceitar as reivindicações formuladas, hipótese em
que caberá aos empregados, sempre através da entidade sindical
representativa, a avaliação da oportunidade quanto a paralisação
dos serviços ou náo.
8.2. Finalidades da greve
A doutrina de forma geral costuma apontar dentre as
inúmeras modalidades de greve as que se revestem de
finalidades profissional, social e solidária.
78 Arnauri Mascaro Nascimento, Comentários Lei de Greve, p. 51.
Relativamente a greve profissional parece-nos
inexistir quaisquer dúvidas quanto ao fato de que o movimento
paredista puro reveste-se, antes de mais nada, no legítimo pleito
em ver melhoradas as condições de trabalho de seus
participantes, ora postulando aumento salarial, diferentes
períodos de descanso, condições de segurança e salubridade
laboral, além de benefícios de ordem social dentre tantas
reivindicações que normalmente são apresentadas.
J& a greve social não visa quaisquer dos pleitos
acima apontados, mas, tão somente, a valoração e ampliação
dos instrumentos de luta da categoria profissional em relação à
categoria patronal, constituindo exemplo típico dessa modalidade
as que sáo deflagradas em apoio de questões puramente
sindicais.
Finalmente, a greve de solidariedade, também
conhecida por greve de simpatia, visa a dar suporte a
trabalhadores de outra atividade ou setor, procurando fortalecer a
unidade da classe profissional-
Por conseguinte, como já dissemos anteriormente,
podemos asseverar tratarem-se 0s dois últimos de movimentos
de protesto ou greve atípicas, Uma vez que não reivindicam 0s
trabalhadores denominados solidários, melhorias contratuais ou
profissionais ao próprio empregador, consistindo O movimento em
mera manifestação de apoio aos trabalhadores realmente
envolvidos no conflito.
Assim sendo, tais movimentos, ainda que contem
com a simpatia e adesão de inúmeros participantes, não podem
ser considerados tecnicamente como greve por Ihes faltar
requisito básico para tanto, ou seja, reivindicação profissional
diretamente formulada ao real empregador.
Wilson Batalha não considera a greve de
solidariedade como direito, uma vez que não Se formulam durante
a mesma pretensões que possam ser atendidas pelo
empqgador, por não possuírem fundamento econômico-
profissional e nem visarem melhoria das condições laborais.
"Trata-se de fato social que poderá ensejar
consequências jurídicas, mas que não pode ser erigido em
direito, posto que lhe falta a liceidade do objetivo". T9
8.3. Qualificação da greve.
O reconhecimento da legitimidade ou
ilegitimidade, legalidade OU ilegalidade do movimento paredista
há que estar na estrita dependência do ordenamento jurídico de
cada país, visto náo podermos confundir a greve legal com a
reconhecidamente lícita OU a ilegal com a manifestamente ilícita.
79 milson s , c . ~ ~ t ~ l h a , Silvia M. L. Batalha. Sindicatos Sindicalismo, p.243.
Com efeito, a parede será considerada legal
todas as vezes em que os trâmites iegais prévios para sua
deflagração forem rigorosamente cumpridos pelos trabalhadores,
na medida em que o descumprimento de qualquer dos requisitos
legais implicará na declaração da ilegalidade da paralisação.
NO que pertine ao aspecto da licitude do
movimento, há que ser ressaltado que esse aspecto está
intimamente ligado com seus fins justos e razoáveis, enquanto
que a ilicitude da parede estará marcada pela violação das
disposições convencionais ou pelo excesso nos meios
empcegados.
Assim sendo, ilícita será a parede que não atender
aos pressupostos legais da prévia negociação e pré-aviso ao
empregador; quando não se desenvolver por meios pacíficos;
quando não forem organizados OS serviços de manutenção que
possam provocar prejuízos irreparáveis; na inexecução dos
serviços essenciais a população e finalmente quando envolver a
ocupação do ou violar a liberdade das pessoas.
O pronunciamento dos tribunais a propósito da
qualificação da greve reveste-se através da declaração de
abusividade ou não do movimento paredista, na conformidade da
Orientação ~~~isprudenciai da SDC do C. TST sob número 38 e
dos ~córdáos a seguir transcritos
GREVE. SERVIÇOS ESSENCIAIS. GARANTIA
DAS NECESSIDADES INADIA VEIS DA
POPULAÇAO USUARIA. FATOR DETERMINANTE
DA QUALIFICAÇAO JUR'DICA DO MOVIMENTO.
abusiva a greve que se realiza em sefores que a
lei define como sendo essenciais a comunidade, se
não é assegurado o atendimento básico das
necessidades inadiáveis dos usuários do serviço,
na foma prevista na Lei 7783189.
Considera-se abusiva a greve quando não forem
observados os requisitos da Lei 7783/89 e, via de t
consequência, fica o empregador desobrigado do
pagamento dos dias de paralisação, até porque 0s
confratos ficam suspensos durante a greve,
mantendo-se as relações laborais pelo acordo entre
as partes''. ( TST-RO-AD 414809/99.3, Ac. SDC
Min. Ursulino Santos ~ i lho) .~ '
A greve, como ato jurídico, deve sujeitar-se 2
legal, sendo ~0dant0 abus jvo o
movimento deflagrado sem a observância dos
requjsitos contidos na Lei 7783/8g1'. (TST-RO-DC
368290197.5, Ac. SDC Min. Antonio Fabio
~ ibe i ro) .~ '
Valentin Carrion Nova ~ ~ ~ i ~ p r u d ê n c i a em Direito do Trabalho, 1999, 2' semestre, p 212, 81 Valentin Carnon: Nova ~~r i~prudênc ia em Direito do Trabalho. 1999, 1' Semestre, p 276,
com o exercício de outro direito, por outro cidadão,
caracterizando-se a colisão entre esses direitos".83
Luisa Galantino, citada por Ari P. Beltran, " aborda a
questão sob o ponto de vista de duas teorias : a) a greve como
direito subjetivo potestativo (que diz estar superado pela doutrina
mais recente); e b) a greve como direito absoluto da pessoa, ou
como direito de liberdade OU como direito político. Considera a
segunda configuração a mais idônea, sobretudo porque a greve é
um meio de desenvolvimento dos trabalhadores e de sua
participação na vida política, econômica e social do pais. assim,
direito da penonalidade e direito da liberdade. Como direito
polítiço, tem limitações, já que o direito de greve não deve ter
carater exclusivamente político : seria em tal hipótese lícito sob o
aspecto penal e ilícito sob O aspecto civil, facultando sanções por
parte do empregador".w
por fim, uma Última consideração a propósito da
greve como direito de a~fopr~feção, cujo exercício é tolerado pelo
ordenamento legal, permitindo a atua@o direta dos empregados
independentemente de qualquer apelo à autoridade judiciária.85
Manifestando-se sobre 0 tema, Roberto Barrete
Prado assevera que li a greve considerada como simples direito
de não trabalhar, sem limitação, na0 apresenta qualquer
83 Sandra Lia simón, A prote@o Constitucional da intimidade e da vida Nrivada do
empregado, p. 51. 84
85 Ari Poçsidonio Beltran, Autotutela nas Rela@es do Trabalho,p.224. Carlos Henrique Bezerra Leite, CUBO de Direito do Trabalho. P. 9911 00.
consistência jurídica, podendo entrar em irremediável atrito com
os princípios fundamentais da própria Constituição, que
asseguram imperativa e categoricamente a dignidade da pessoa
humana (art, 1°, item III), os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa (item IV), o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer (item XIII), e o direito de trabalhar (artigo 6O).
Os citados princípios nos fornecem o critério de
apreciação dos dispositivos constitucionais de carater
suplementar. Acha-se O trabalho vinculado essencialmente à
pessoa humana, constituindo, entre outros desmembramentos, a
principal base para o exercício da liberdade.
É a greve um direito subjetivo, de natureza coletiva,
que pertence a um grupo de trabalhadores. Não se diga que
reconhecida a autonomia do grupo, ilegítima Se tornaria qualquer
l im i ta~ão" .~~
Segundo Sergio Pinto Martins, " num primeiro
momento poder-se-ia dizer que 0 interesse a ser defendido por
meio de greve seria ilimitado, porém, não é isso que ocorre. 0 s
limites desse interesse podem Ser encontrados na própria
Constituiçáo, ao analisá-la sistematicamente. se o direito de
greve está inserido no Capitulo 11, dos Direitos Sociais, do Titulo 1,
já é possível dizer que os limites desse interesse são sociais,
86 Roberto Barrete Prado, O Direito de Greve em face da Constitui@o de 5110188, LTR no 52, Novembro 1988.
dizendo respeito as condições de trabalho, a melhoria das
condições sociais, inclusive salariais. Esses interesses,
entretanto, vão dizer respeito aqueles que possam ser atendidos
pelo empregador, pois é em face deste que a greve é
d e f ~ a ~ r a d a " . ~ ~
Acreditamos porém que não seria demais
lembrarmos, ainda que ligeiramente, que duas teorias informam a
doutrina referente às limitações do direito de greve.
A primeira delas, conhecida por teoria da
"equivalência dos danos OU proporcionalidade de sacrifícioslM
enc~ntra-se fundada no fato de que 0 empregador está obrigado
a suportar os prejuízos advindos do movimento de paralisação
sem a possibilidade de postular qualquer ressarcimento
decorrente da parede.
Entretanto, a doutrina p o ~ i ~ i ~ n ~ u - s e no sentido de
que a greve constitui instrumento de pressão coletiva contra o
empregador ou categoria econômica Com a finalidade de
atendimento das reivindicações do grupo ou da categoria
profissional, o que importa afirmar que 0 dano decorrente da
parede há que ter relevância para 0 empregador, sob pena de
constituir meio de luta inócuo e desprovido de qualquer eficácia.
87 Sergio Pinto Martins, Direito do Trabalho, P. 757
Nessa linha de pensamento, Lélia Guimarães
Carvalho Ribeiro assevera que " embora com vários
inconvenientes, não só para OS interlocutores, como também para
toda a coletividade, entendemos que a greve é um mal
necessário, porque só através da pressão exercida pelos obreiros
têm eles conseguido alcançar e ver reconhecidos certos direitos e
vantagens resistidos pela parte antagônica na relação de 11 88 trabalho .
A segunda teoria fundamenta-se no respeito
reciproco dos direitos protegidos pelo ordenamento legal,
implicando na salvaguarda do direito de propriedade do
empregador, circunstância que conduz à conclusão de que, em
ocorrendo dano intencional decorrente do movimento de
paralisação, poderá o empresário postular ressarcimento dos
danos sofridos com fulcro no disposto nos artigos 159 do Código
Civil ~ ~ ~ ~ i l ~ i ~ ~ , ~ ~ 14 e 15 da Lei 7783189 'O, eis que, configurada
restaria a hipótese do abuso de direito.
Assim sendo, sob quaisquer ângulos que se
enfoque o direito de greve, haveremos de Concordar que o
mesmo não pode ser exercido ilimitadamente, visto não se tratar
88 Lélia Guimarães Carvalho Ribeiro, A Greve Com0 legítimo Direito de Prejudicar, Curso de Direito Coletivo do Trabalho, Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho, p. 51 1. 89 Aquele que, por aÇao ou omissão voluntária, neglig6ncia. ou impnid8ncia. violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar 0 dano". 90 " Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a da paralisaçao a ~ b s a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho". " A responsabilidade pelos atos praticados, ilícitos Ou crhles cometidos, no curso da greve, será apurada, confome o caso, segundo a legislaÇa0 trabalhista, civil ou penalu,
de direito absoluto, embora considerado direito fundamental do
indivíduo, mas meio de luta dos trabalhadores que deve ser
utilizado em caráter excepcional Para compelir o empregador não
só à necessária e imprescindível negociação, como ao
atendimento das reivindicações propostas, em respeito ao
pnncípjo da finalidade, tido como fundamental nas ciências
sociais, na medida em que inexistente a finalidade não haverá
liberdade e sem esta inexistirá a responsabilidade pelo ato
praticado.
Dessa maneira, sem que estejamos estabelecendo
qualquer conflito com a análise realizada no que pertine à
natureza jurídica da greve, poderíamos acrescentar que a greve
possui natureza insfrumenfal de que Se valem OS trabalhadores
para compelir o empregador ao atendimento dos pleitos
formulados pela categoria profissional.
A bem ilustrar o entendimento jurisprudencial
acerca da limitaçáo do direito de greve o V. Acórdão a seguir
transcrito :
A greve e direito assegurado em sede
c~n~~itucional (arfs. 9' e 37, VI/, da Carta Magna).
Inobsfante não é direito absoluto, posto que o
Estado de Direito e incompatível com a existência
de direitos absolut~~. E'medida extrema e como ta/
sofre limifaçõs legais, as quais não observadas
dão azo a declaração de abusividade do direito de
greve, mormente em se tratando de serviços
essenciais de transporte coletivo urbano". (TST-RO-
AD 488299198.8, Ac. SDC199, Min. Valdir Righet~)~ '
'1 Valentin Canion, Nova ~~nsprucíência em Direito do Trabalho, 1' semestre I 999, p. 244,
Serviço Público para Paulo Sandroni constitui 0s
"serviços fornecidos a comunidade pelo Estado, aos quais, por
princípio todo cidadão tem direito. Abrangem todos os serviços
prestados pelo aparelho burocrático-administrativo dos governos
e o conjunto de benefícios que o Estado é obrigado por lei a
prestar à população em áreas como educação, saúde,
previdência social, saneamento básico e lazer. De modo geral, 0s
serviços públicos se enquadram no setor terciário da economia e
são financiados com os impostos pagos pelos contribuintes.
Apesar disso, muitos deles são Pagos pela população de forma
direta, extratributária, conforme 0 nível de consumo - caso de luz,
água e telefone. Ocorre ainda que alguns serviços, embora de
responsabilidade do Estado, também sejam fornecidos
parcialmente a populaçáo por empresas Particulares, que
recebem concessões OU licenças especiais. O Caso da
educação, çaúde, transporte urbano e até mesnlo policiamento
particu~ar."~~
Maria Syívia Zaneíla Di Pietr0 define serviço público
"como toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que
a exerça diretamente ou por meio de Seus delegados, com o
objetivo de satisfazer concretamente as necessidades coletiva~,
sob regime jurídico total ou parcialmente
93
94 Paulo Çandroni, Novissimo Dicionário de Economia, p 554. Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Direito Administrativo. P. 84.
Mario Masagáo considera serviço público " toda
atividade que o Estado exerce para cumprir seus fins".95
~ o s é Cretella Júnior define serviço público como "toda
atividade que o Estado exerce, direta ou indiretamente, para a
satisfação das necessidades públicas mediante procedimento
típico do direito
Para Hely Lopes Meirelles, " é todo aquele prestado
pela Administração OU por seus delegados, sob normas e
controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou
secundárias da coletividade OU simples conveniência do i1 97 Estado .
O mesmo autor assevera que na definição do serviço
público o que prevalece é a vontade soberana do Estado ao
qualificar determinada prestaçáo como pública ou de utilidade
pública, cuja promoção poderá ser diretamente executada pelo
Poder Público ou por particulares.
Considerada a essencialidade dos serviços, a
finalidade e seus destinatários, podem Ser classificados em
próprios e impróprios.
95
96 Mario MasagBo, Curso de Direito Administrativo. P- 252. José Cretella Júnior, ~dministraçtio indireta brasileira, p.5540.
97 Heiy ~ o p e ~ Mejrelles, Direito Administrativo Brasileiro, p.294.
OS serviços públicos também denominados próprios
ou pró-comunidade, são aqueles prestados diretamente pela
Administração a comunidade, visto reconhecer o poder público
serem 0s mesmos essenciais e necessários à sobrevivência da
população como é o caso da defesa nacional, policia, higiene e
preservação da saúde pública.
0 s serviços de utilidade pública também chamados
impróprios OU pró-cidadão, são aqueles que podem ser prestados
diretamente pela Administração OU por terceiros, na medida em
que reconhece o poder público apenas sua conveniência,
afastando, por conseguinte, O carater de essencialidade,
con&tituindo exemplos típicos 0s transportes coletivos,
fornecimento de energia elétrica, gás, telefone. dentre outros.
Cremos que numa apreciação superficial possa
parecer que ambas as conceituaçóes estejam em conflito, posto
que os serviços tidos como essenciais como é o caso dos
transportes coletivos, energia elétrica, gás, estejam incluídos
dentre aqueles que apenas importam em conveniência ao
cidadão náo estando portanto revestidos de essencialidade.
p~o entanto, não podemos olvidar que a caracterizaçáo
da necessidade e essencialidade dos serviços públicos próprios
ou impróprios é dada por força de lei, segundo 0 comando inserto
no artigo 175 da Lei Maior vazado nos seguintes termos :
" Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão OU
permissão, sempre através de licitação, a prestação
de serviços públicos".
Verifica-se, pois, que a Lei Maior reservou para si a
tarefa de definir quais são OS serviços públicos e o fez dividindo-
os entre a União, Estados e Municípios, segundo as normas
insertas nos artigos 21, XII, 25, 2' e 30, V , a seguir
respectivamente transcritos:
Compete a União :
b explorar, diretamente OU mediante autofização,
concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e
imagens;
b) os serviços e instalações de energia e/étrica e o
aproveitamento enefJétic0 dos Cursos de água, em
articulação com OS Estados onde se situam 0s
potenciais hidroenerg8ficos;
c) a navegação aérea, aemespacial e a infra-estrutura
aeropoftuária;
d) 0s serviços de transporte ferroviário e aquaviáfio
entre pofios brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado OU Territ íio;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e
internacional de passageiros;
í) os podos marítimos, fluviais e lacustres;
Os Estados organizam-se e regem-se pelas
Consfituiq6es e leis que adotarem, obsen/ados 0s
pinc,@ios desta Cons fituição.
Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante
concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
forma da leis, vedada a edição de medida provis&-is
para a sua regulamentação.
Compete aos Municípios :
I organizar e prestar, diretamente O sob regime de
concessão ou permissão, 0s S ~ W ~ Ç O S público de
interesse local, incluído 0 de transporte coletivo, que
tem caráter essencial".
Em se tratando especificamente de greve nos
serviços essenciais e considerando o comando inserto no
dispositivo supra mencionado, será a vontade soberana do
Estado que qualificará 0 s ~ ~ Ç O Como público OU de utilidade
pública e no caso sob analise, a qualificação da essencialidade
dos serviços encontra-se definida pela Lei 7783189.
Resta ressaltar também que a moderna teoria acerca
dos serviços públicos erigiu como princípios básicos que
conduzem sua prestação :
a) permanência ou continuidade impõe serviço constante, na área
e período de sua prestação;
b) generalidade, ou seja, o serviço é proporcionado a todos
indiscriminamente, sem qualquer distinção;
c) eficiência, quer dizer serviço satisfatório, qualitativa e
quantitativamente a exigir contínua atualizaçáo do serviço;
d) modicidade, significando que 0s preços cobrados pelos
sewiços haverão que ser razoáveis e a0 alcance de seus
destinatários;
e) cortesia, implicando no bom tratamento do público
consumidorQ8.
I ~ ã o podemos deixar de mencionar nessa
oportunidade a importante atuação do Comitê de Liberdade
Sindical da OIT na configuração da idéia de serviços essenciais e
que segundo Santiago Pérez de1 Castillo " existem, de forma
abundante, atividades essenciais a cargo de entidades privadas.
0 problema da greve nos serviços essenciais não é, pois, de
nenhum modo, relacionado com a greve dos funcionários
públicos. AS razões que podem existir Para impedir o exercício do
direito. no primeiro caso. não acontecem em boa parte das
atividades que, hoje em dia, desempenha 0 Estado, através de
seus funcionário^".^^
98 Heiy Lopes Meirelles, Direito ~dministrativo Bras;leiro, P 331 99 Santiago pérez de1 Castillo, O Direito de Greve1 P. 172.
10.1. A iniciativa privada e os serviços essenciais.
No entanto, a utilização de poderoso instrumento
que é a greve pelos trabalhadores vinculados aos serviços
essenciais, há de sofrer as necessárias limitações visto existirem
certas atividades em que não se pode aceitar interrupção ou
solução de continuidade diante do interesse geral da
comunidade, uma vez que a paralisação dos serviços não é um
fim em si mesma, mas meio de pressão contra O empregador de
que se valem os empregados Para verem atendidas suas
reivindicações.
@ Não se trata, pois, de advogar a proibição de greve
nos serviços ou atividades essenciais, 0 que refletiria verdadeiro
retrocesso cultural e jurídico, mas necessidade imprescindível de
atendimento 6s necessidades inadiáveis da comunidade como se
os trabalhadores de determinado seguimento não estivessem
participando em movimento de greve, uma vez que não se trata
de mero desconforto para a comunidade, mas de atividade que,
pela sua importância e utilização, ultrapassa a esfera do interesse
coletivamente considerado de determinada categoria,
Constituindo interesse da própria sociedade, podendo, pois ser
considerado como interesse difuso por constituir desdobramento
do INTERESSE PÚBLICO.
Esse de exercício disciplinado pela
legislação ordinária é de cunho universal, citando-se a propósito a
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 ao
proclamar que o direito de greve deve ser:
"exercido de .conformidade com as leis de cada
país, sendo que elas podem prever limitações no
interesse da segurança nacional ou da ordem
pública, ou para proteção dos direitos e liberdades
de outrem".
Identicamente, o Comitê de Liberdade Sindical da
OIT tem admitido limitações e até proibições ao exercício do
direito de greve nos serviços essenciais através do seguinte
verbete :
Quando o direito de greve haja sido limitado OU
suprimido em empresas ou serviços considerados
essenciais, os trabalhadores devem gozar de uma
proteção adequada, de sorte que se Ihes
compensem as restrições impo~fas a sua liberdade
de ação durante os conflitos ocorridos nesses 1, 100 serviços ou empresas .
De igual maneira, o pronunciamento do Papa João
Paulo 11 na Encíclica "Laborem Exercens" advertiu que
"admitindo que se trata de um meio legítimo, deve
simultaneamente revelar-se que a greve continua a ser, num
'00 Georgenor de Sousa Franco Filho. Liberdade Sindical e Direito de Greve no Direito Comparado, Verbete 396 do Comitd de Liberdade Sindical . p 94
certo sentido, um meio extremo. Não se pode abusar dele; e não
se pode abusar dele especialmente para fazer o jogo da política.
Além disso, náo se pode esquecer nunca que, quando se trata de
serviços essenciais para a vida da sociedade, estes devem ficar
assegurados, inclusive, se isso for necessário, mediante
apropriadas medidas. O abuso da greve pode conduzir a
paralisação da vida socioeconÔmica; ora isto é, contrário às
exigências do bem comum da sociedade, o qual também
corresponde a natureza, entendida retamente, do mesmo
trabalh~."'~'
Segundo Alice Monteiro de Barros, a greve,
"mormente nos serviços essenciais, deverá ser exercida em
harmonia com os interesses da coletividade, para evitar que
direito de grupos determinados se sobreponham ao direito
coletivo difuso, que se refere a toda a comunidade". 'O2
DO quanto exposto. podemos afirmar que, embora
não poçsamos negar o direito ao trabalhador do livre exercício do
direito de greve, certo é que esse direito há que ser limitado
quando envolver atividades essenciais, porem de maneira tal que
não implique na restrição completa ou aniquilamento de referida
prerrogativa.
Io1 joão Paulo 11, O profeta do Ano 2000, Laborem Exercens, item 20.7, p. 140. Io2 Alice Monteir0 de Barros, Fundamento Social da Greve, Curso de Direito Coletjvo do Trabalho, cood. Georgenor de SOUS~ Franco Filho, P. 465.
10.2. O serviço público e o exercício da greve.
Relativamente ao exercício do direito de greve
pelos servidores públicos, ao examinamos o comando inserto na
Lei Maior (art. 37, VII), tivemos oportunidade de constatar que a
estes trabalhadores o exercício de tal direito encontra-se obstado
na atualidade em face da inexistência de promulgação de lei
complementar disciplinando a matéria.
verifica mo^, ainda, que a mesma condicionante foi
repetida no artigo 16 da Lei 7783/89'03 ao estabelecer a
necessidade de lei complementar a definir os limites e termos
para o exercício do direito de greve por servidores públicos.
E o motivo de tratamento diferenciado não constitui
qualquer exagero posto que a paralisação dos serviços públicos
sem qualquer dúvida implicara no envolvimento de um sem
número de pessoas, podendo mesmo causar maior dano à
comunidade que a própria administração pública.
Para Arion Sayáo Romita " os serviços públicos
funcionam em regime de monopólio, de sorte que os usuários, em
caço de greve, não encontram alternativa, sofrendo incômodos 11 104 injustificáveis .
'O3 Para 0s fins previstos no art. 37, inciso Vil, da Constitui@o, lei complementar definira os termos e os limites em que o direito de greve poderá ser exercido. IM Arion Sayão Romita, A Greve dos Servidores Públicos, Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho, p. 31.
Roberto A. O. Santos, entende que " o serviço
público possui, em principio, uma ligação direta com as
necessidades específicas da comunidade, não se espera que
opere em função do lucro individualizado de alguém, mas de um
interesse presumivelmente geral.
Assim, a previsão constitucional sobre a
necessidade de lei complementar para o exercício da greve pelo
11 105 funcionalismo público se afigura razoável e necessária .
Por outro lado, não nos parece correto qualificar
genericamente todos 0s serviços prestados por funcionários
públicos como essenciais, na medida em que inúmeras atividades
produtivas e de prestação de serviços desenvolvidas pela
iniciativa privada estariam a merecer 0 enquadramento de
essencialidade como é 0 caso da atividade bancária,
industrialização de alimentos e medicamentos dentre outros.
Assim sendo, podemos afirmar que as limitações ao
exercicio do direito de greve são encontradas em inúmeras
formas, ora dirigindo a limitação com relação aos sujeitos da
relação de trabalho, ora direcionando a limitação a atividade
executada pelo trabalhador.
NO que se refere aos funcionários públicos e em
decorrência da regra insef'ta no inciso Vil, do artigo 37 da Lei
105 ~~b~~~ A.O. Santos, Uma contribuição soci0lÓgi~ a renovação da teoria jurídica da greve, Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho. Ano I, no 1, 1993, p. 13011.
Maior, entendemos de conveniência para maior esclarecimento
da controvérsia trazermos a C O ~ ~ Ç ~ O as considerações em que se
fundou a decisão proferida em Madado de Injunção ajuizado pela
Confederação dos servidores Públicos do Brasil contra o
Congresso Nacional.
A propósito da questão manifestou-se o mais alto
Sodalicio da nação ao concluir que a norma contida no artigo
37,Vll, da Constituição não se reveste de auto-aplicabilidade por
se tratar de norma de eficácia meramente limitada, eis que
dependente de ediçáo de lei complementar.
Asseverou ainda O C. Tribunal que só a lei
complementar é que definirá OS termos e os limites do exercício
do direito de greve no serviço público, constituindo requisito de
aplicabilidade, segundo a ementa a seguir transcrita :
Mandado de Injunção Colefivo. Direito de Greve
do Senlidor Público Civil. C~n~t i tuciona/ ism~
brasi/eiro. Modelos normativos no direito
comparado. Prerrogativa jurídica assegurada pela
Constituição (art 3 7, VI/). Impossibilidade de seu
exercício antes da edição de lei complementar.
Omissão Legislativa. Hipótese de sua configuração.
~econhecimenfo do estado de mora do Congresso
Nacional. Impetração por entidade de classe.
Admissibilidade. Writ concedido". ' O 6
Tratando da parede no serviço público, Alfredo
Ruprecht assevera que "a incompatibilidade entre o exercício da
função pública e o exercício do direito de greve é manifesta. 0
fenômeno grevístico é próprio das relações entre trabalhadores e 11 107 patrões .
Argumenta nesse sentido aduzindo que tal limitação
está fundada nas prerrogativas de todo organismo soberano e
que 0s serviços prestados são essenciais para a vida da
comunidade, não podendo ser objeto de suspensão ou
interrupção.
Ademais, acrescenta que a greve nessas
circunstâncias resulta em prejuízo da coisa pública em virtude do
que o abandono a normal prestação de serviços haveria que ser
tida como delito, diante da possibilidade de o Estado ser
colocado em risco.
10.3. As empresas públicas e as sociedades de
economia mista-
Acreditamos que para completarmos o quadro geral
de abrangência das disposições relativas a Lei 7783189, também
lC6 MI-~OIDF, DJ 2211 1196, reiator Min. Celso de Mello. 'O7 Alfredo J. Ruprecht, Relações Coletivas de Trabalho. p. 745.
deva merecer apreciação a situação dos trabalhadores
vinculados as empresas públicas e sociedades de economia
mista.
Nessa hipótese específica sob apreciação, os
trabalhadores vinculados às empresas públicas e sociedades de
economia mista serão em tudo igualados aos empregados das
empresas privadas, na conformidade da regra inserta no artigo
173, 5 10 Io8 da Constituição Federal, eis que sujeitos ao regime
jurídico próprio das empresas privadas.
'O8 I' A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade ec0nÔmica de produção ou Comercialização de bens ou de prestação de serviços. dispondo sobre":
CAP~TULO 11: A DEFLAGRAÇÃO DE GREVE NOS
SERVIÇOS ESSENCIAIS.
Em linhas gerais, a efetiva deflagração de
movimento paredista está condicionada ao cumprimento dos
requisitos legais exigidos, quais sejam :
a) convocação de assembléia pela entidade sindical
para definição de pauta de reivindicações e
deliberação sobre a paralisação dos serviços;
b) tentativa prévia de negociação entre as
categorias profissional e patronal visando ao
atendimento das reivindicações dos
trabalhadores ou possibilidade de sujeição dessa
negociação a via arbitral;
c) pré-aviso ao empregador ou entidade patronal
quanto a deliberação sobre a paralisação dos
serviços pelo empregados com antecedência
mínima de 48 horas nas atividades normais e 72
horas nas atividades essenciais, comunicação,
esta, extensiva aos usuários dos mesmos
serviços através dos meios que propiciem ampla
divulgação da parede.
Constatamos, pois, que a negociação constitui
requisito ou condição essencial para o efetivo exercício do direito
de greve, prevista, ainda, na regra inserta no 5 2 O do artigo 114
da Lei Maior 'O9, O que nos permite asseverar que a negociação
coletiva representa na atualidade a base em que se sedimentou o
ordenamento legal, ressaltando-se, ainda que a ausência da
mesma poderá importar a possibilidade de declaração de ilicitude
da parede.
A propósito da questão pronunciou-se o C. TST :
Abusividade. Inobservância das formalidade legais.
sol~ção do conflito por meio extremo. Supressão do
processo negocial. 6 abusiva e, pois, insuscetjvel
de gerar efeitos benéficos a seus participes, a
paralisação que se leva a efeito sem antes esgotar
as possibilidades de solução pacífica e autonoma
do conflito, além de inobservar os requisitos formais
estabelecidos na Lei 7783189". (TST-RO-DC
398258197.8, Ac. SDC, Min. Armando de rito). lo
NO entanto, a frustração da negociação coletiva
poderá operar-se de duas maneiras : seja pela recusa de
qualquer das categorias ou pela impossibilidade material de
109 "Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissidio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condiçóes, respeitadas as disposições COnven~i~nai~ e legais mínimas de roteçáo ao trabalho"
(0 valentin carrion, Nova ~urisprudBncia em Direito do Trabalho, l0 semestre 1999, p, 276,
atendimento as reivindicações postuladas, lembrando-se que a
negociação e a arbitragem constituem vias alternativas, não
cumulativas, como possa parecer a primeira vista.
No que se refere a notificação prévia do
empregador, a Lei 7783189 previu duas modalidades, de acordo
com as atividades desempenhadas pelos trabalhadores, a saber :
a) nas atividades normais, impôs a
notificação prévia do empregador com 48 (quarenta e oito)
horas de antecedência da paralisação dos serviços; (art. 30)fIl
b) nas atividades OU serviços denominados
essenciais, a notificação deverá guardar 72 (setenta e duas)
horas de antecedência, impondo-se, não só a ciência do
empregador, mas da coletividade também através dos meios
usuais de comunicação (art. 13)112
DO quanto exposto verifica-se que visou o legislador
impedir a ocorrência da greve-Surpresa, importando em
incontáveis prejuízos seja para 0 empregador considerado
isoladamente, ou nos serviços ou atividades essenciais, para 0s
usuários dos mesmos, de tal f0ma que 0s direitos dos cidadáoç
conçtitucionalmentê garantidos também sejam respeitados
111 "Frustrada a negocia@^ ou verificada a impossibilidade de recurso via arbitral, é facultada a cessação coietiva do trabalho". 112 '.Na greve em serviços ou atividades essenciais. ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme O caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisaçao".
durante o movimento grevista, na medida em que o interesse
público geral há de prevalecer sobre o interesse coletivo da
classe ou categoria.
Para que possamos adentrar a análise da parede
nos serviços ou atividades essenciais necessária a repetiçao dos
conceitos relativos à distinção entre estes e os serviços
denominados públicos, posto que há uma tendência
preponderante de considerar-se o serviço essencial como aquele
prestado pelo poder público 0 que nem sempre se revela
verdadeiro.
Sobre referida matéria parece não haver dúvidas
entre os cultores do direito administrativo no sentido de que
serviço público genericamente é aquele prestado pelo Poder
Público, cujo destinatário é a comunidade.
Assim sendo, podemos asseverar que serviço
essencial é aquele que além de definido como tal pela legislação
em vigor, se revela indispensavel, necessário mesmo à existência
da coletividade e dos quais a mesma não pode abdicar sob pena
de implicar em inviabilidade completa da vida da população.
Analisando O conceito de serviço público, assevera
Ruprecht que tal serviço poderá Ser desempenhado pelo próprio
Estado, por particulares ou por entidades mistas, sendo difícil
estabelecer de forma segura e taxativa quais as atividades que
devam ser consideradas de natureza pública.
No entanto, parece-nos pacífico o entendimento de
que os serviços públicos constituem as prestações realmente
indispensáveis a população e uma vez suspensos ou
interrompidos acarretam prejuízos vitais diante das necessidades
básicas da sociedade.
Seguindo essa linha de exposição aduz Ruprecht
que " a ampla faculdade de paralisá-los que afeta gravemente um
extenso segmento da população, na0 é compatível com o estado
de direito. Quer Se trate de um serviço público atendido pelo
Estado ou por particulares, sua paralisação afeta serviços
essenciais imprescindíveis à comunidade ou a um grande
segmento dela, cujo cumprimento deve ser bem assegurado. 0
interesse da comunidade é nitidamente superior ao dos grevistas
e se pode dizer Com todo f~ndamento que mais do que uma
questão jurídica é de interdependência social, de viver em 11 113
comunidade e até de bom-senso -
Santiago Pérez de1 Castillo assevera que não se
deve confundir a origem das normas jurídicas que fixam as
condições para limitar 0 exercício do direito de greve com a
autoridade encarregada do estabelecimento do serviço essencial,
Alfredo J. Ruprecht, Relações Coletivas de Trabalho. p. 752.
De modo que, na elaboração das normas sobre
serviços essenciais, podem intervir três fontes heterônomas : a 11 114 Administração, a lei e o Poder Judiciário .
Por conseguinte, resulta a conclusão de que os
serviços essenciais não podem sofrer solução de continuidade
diante do prejuízo da coletividade, O que significa dizer que a
greve deflagrada nessas atividades implicará na subordinação
dos interesses da sociedade aos interesses das categorias
profissional e econômica.
Para Amauri Mascaro Nascimento " a greve nos
serviços essenciais 6 Um direito sob condição. Não é proibida
pela Constituição. É permitida, desde que sejam mantidos 0s
serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade e comunicada ao empregador e aos
usuários dos serviços, com antecedência mínima de 72 horas 11 115 (art.13) .
A titulo de ilustração poderíamos citar os serviços
de abastecimento de água, gás, eletricidade, funerários,
transportes coletivos, etc, dependendo das necessidades
fundamentais de cada grupo social-
'I4 Santiago Pérez de1 Castillo, O Direito de Greve. p. 177. 'I5 Amauri Mascaro ~ascimento,Comentários a Lei de Greve, p. 109.
11 .I. Os serviços ou atividades essenciais
Segundo o elenco inserido no artigo 10 da Lei
7783189, constituem serviços ou atividades essenciais :
a) tratamento e abastecimento de água;
produção e distribuição de energia elétrica, gás e
combustíveis;
b) assistência médica e hospitalar;
c) distribuição e comercialização de
medicamentos e a~imentos;
d) funerários;
e) transporte coletivo
f) captação e tratamento de esgoto e lixo;
g ) telecomunicaçóes;
h) guarda, uso e controle de substâncias
radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
i) controle de tráfego aéreo;
j) compensação bancária.
O exame da questão há de envolver,
primeiramente, a afirmação de que a relação das atividades
contidas no dispositivo legal supra é taxativã, o que significa
asseverar que inobstante Possam existir outros serviços ou
atividades de igual grandeza e importância para a população,
apenas as legalmente enumeradas é que ensejarão a
observância do comando inserto no artigo 11 do mesmo diploma
legal, ou seja, a prestação dos serviços indispensáveis e
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
Segundo Wilson Batalha " o elenco dos serviços ou
atividades essenciais, enu~eração taxativa e não meramente
11 116 exemplificativa, consta do art. 10 da Lei no 7783189 .
Da análise de referido dispositivo legal parece-nos
ainda de primordial importância a fixação de conceito mais
preciso acerca de atividade essencial e necessidades inadiáveis
da comunidade.
Para Amauri Mascaro Nascimento, "atividade
essencial deve ser o serviço cuja interrupção poderá colocar em
perigo a vida, a segurança e a saúde das pessoas, em parte ou
na totalidade da população, e não simplesmente, os serviços cuja 11 117 cessação possa causar mero incômodo ao cidadão .
Já, a conceituaçáo das necessidades inadiáveis da
comunidade dispensa maiores comentários na medida em que
legalmente definidas pela regra inserta no § único do artigo 11 da
Lei 7783/89, consistindo nas atividades que coloquem em perigo
a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.
Assevera ainda Amauri Mascaro Nascimento que
"este é um dos aspectos mais delicados da problemática da
lq6 wilson de s,c.Batalha, Silvia M.L. Batalha, Sindicatos Sindicalismo, p. 267, ' I 7 Amauri Mascaro Nascimento, Comentários Lei de Greve, p. 10611 07.
greve, a compatibilizaçáo entre a garantia do exercício do direito
e a adequada restrição do mesmo, para que a comunidade não
venha a ser penalizada. Seria sumamente injusto afetar a
comunidade em suas necessidades básicas de contar com
determinadas atividades, como se fosse parte do conflito entre os
trabalhadores e os empregadores quando se sabe que não o é.
Por mais que se queira o engajamento da comunidade na defesa
de causa de terceiro, é inviável da mesma esperar uma adesão à
greve a ponto de sacrificar 0s seus interesses ou direitos, dentre
0s quais o de não ver paralisados alguns serviços de que ii 118 realmente venha a precisar .
Acrescenta, também, que " a indispensabilidade dos
serviços exigidos pela comunidade é conceito relacionado com o
bem estar da população concebido de forma restrita ao 11 119 atendimento das necessidades inadiáveis desta .
11.2. O atendimento as necessidades mínimas da
população.
Consideradas tais atividades, bem andou , o
legislador ao impor às partes, empregadores e trabalhadores, a
garantia de prestação de serviços indispensáveis ao atendimento
118 . idem, ibdem, p. 1 14. 'I9 Amauri Mascaro Nascimento, Comentários a Lei de Greve, p. 115.
das necessidades inadiáveis da população durante o movimento
de paralisação. (art. 1 1 da Lei 7783/89)Iz0
Com efeito, considerou o legislador que a falta de
atendimento as necessidades básicas ou inadiáveis poderá
colocar a comunidade em perigo iminente quanto à
sobrevivência, saúde ou segurança, assegurando, ainda, a
garantia de que todas as vezes em que as partes envolvidas no
litígio não propiciarem a continuidade dos serviços, caberá ao
Poder Público sua delimitação (art. 12 da Lei 7783/89).12'
Segundo entendimento de Ronald Olivar Amorim e
Souza, "para que se possa preservar o direito constitucional de
greve, parece-nos que deve tocar ao titular da empresa ou
dirigente do estabelecimento a designação inequívoca de quem
ou quais os empregados que devem garantir o funcionamento em
condições mínimas para, aí sim, caractei'izar a insubordinação e li 122 responsabilizar o empregado e não O sindicato .
Manifestando-se a propósito da controvérsia
asseverou Roberto Barreto Prado " Não vemos, a rigor, nenhuma
razão de ordem doutrinária Para a distinção, no que toca à
faculdade de promover greve, entre o funcionário público e o
cidadão particular. O que Se deve observar é a maior ou menor
1 20 "NOS serviços ou atividades essenciais, OS sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de Comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade",
IINO caso da jnobservância do disposto no artigo anterior, O Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis".
necessidade do serviço para a subsistência da coletividade, e não
a denominação dos cargos que ocupam aqueles que trabalham.
NBo importa que o empregado trabalhe para empresa privada ou
para empresa pública. As atividades dos padeiros, leiteiros,
condutores de bondes etc., têm muito mais relevância social que
os trabalhos executados por legião de escriturários e oficiais
administrativos que latam grande número de repartições t i 123 públicas .
constatamos, pois, que a efetiva promoção das
atividades inadiáveis da população está diretamente vinculada à
capacidade das categorias patronal e profissional na negociação
coletiva, pois será da afinidade alcançada entre os grupos que
resultará o atendimento à todas as disposições relativas à
execução dos serviços cujo único destinatário será a população
usuária dos serviços essenciais.
E é justamente quanto a regra contida no artigo i 2
da Lei 7783189 que ousamos divergir, na medida em que impôs
ao Poder Público assegurar a prestação dos serviços
indispensáveis sem quaisquer diretrizes para efetivação da
medida.
Diante da amplitude da atribuição inserta em
referido dispositivo legal poderíamos até asseverar que o Poder
'22 Ronaldo Olivar Amorim e Souza, 0 papel da Justiça do Trabalho e a Greve, Curso de Direito Coletivo do Trabalho, Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho, p. 533. '23 Robert~ Barrete Prado.Tratado de Direito do Trabalho. V.11, p. 777.
Público poderia proceder a requisição civil a semelhança da
previsão contida no Direito português.
No entanto, a prática adotada pelo judiciário
trabalhista foi a de fixação de percentual de trabalhadores
envolvidos na paralisação para promoção dessas atividades
através de decisão proferida pelos Tribunais Regionais do
Trabalho, através de Medidas Cautelares Inominadas ajuizadas
pela categoria patronal ou especificamente pela empresa a mercê
da parede, inobstante constituir obrigação das categorias
profissional e patronal, de comum acordo, ou seja, através de
negociação coletiva, a prestação dos serviços indispensáveis à
população.
Verificamos, assim, que a negociação coletiva entre
as categorias envolvidas ganha a cada dia maior importância
segundo se verifica da decisão proferida pelo C.TST a seguir
transcrita :
"Greve - Manutenção dos Serviços inadiáveis em
atividades essenciais. Nos termos do artigo 17 da
Lei 7783/89 incumbe aos Sindicatos, empregadores
e trabalhadores, a garantia, durante a greve, da
continuidade de prestação dos serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade. NO entanto, não é crível
que o empregador tivesse ao seu alcance
instrumento de pressão tão eficiente a obter
sucesso onde o judiciário, mediante comando
judicial com cominação de multa pecuniátia, não
conseguiu atingir, demovendo intuito dos
trabalhadores de paralisar os trabalhos no dia
predeterminado. Ora, se o empregador conseguisse
garantir, durante o movimento paredista, a
prestação dos serviços indispensáveis ao
afendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade, e, portanto, a não suspensão total do
trabalho naquela região, não teria postulado a
intervenção judicial. Parece justo interpretar o artigo
7 1 da Lei de Greve como determinação as pades
envolvidas no Dissídio de Greve a cumprirem
obrigação de forma voluntária, e não sendo possível
atribuir indenização aquela que se recusou a
obedecer ao comando legal. Recurso Ordinário
provido" (TST-ROACP 5531 72/99! ac. SDC, Min.
Carlos Alberto Reis de
Dessa forma, entendemos que a fixação de
percentual de trabalhadores através do Poder Judiciário não
observa a garantia infraconstitucional no que se refere ao
entendimento das necessidades inadiáveis da populaçáo, posto
que1 dependendo da atividade envolvida diversa, será a
apreciação do que possa consistir o atendimento das atividades
inadiáveis da comunidade.
Tomemos por exemplo os transportes coletivos
(trens, metro, ônibus) para 0s quais sabidamente em condições
normais o contingente habitual de trabalhadores, equipamentos e
veículos disponíveis é absolutamente insuficiente e insatisfatório
a garantir o atendimento das necessidades normais da
população.
Segundo o comando inserto no artigo 11 da Lei
7783189, as categorias profissional e patronal está0 obrigadas de
comum acordo a garantir, durante a greve, a prestação dos
serviços indispensáveis à população, circunstância, essa, que na
prática não costuma Ser cumprida em face da incompatibilidade
resultante do movimento paredista.
Nessa hipótese, estaria o Poder Judiciário
incumbido da fixação de contingente mínimo de trabalhadores
para promoção dos serviços indispensáveis a comunidade
durante a parede e nesse caso entendemos que apenas aos
empregados ligados a área administrativa é que seria licita a
interrupção da prestação dos serviços, 0 que significa dizer que
operadores de trem, equipes de manutenção, mecânica e
segurança, bilheteiros, cobradores e integrantes dos serviços de
apoio haveriam que laborar normalmente em estrita observância
regra legal sob análise, sob Pena de impor-se os reflexos
decorrentes do dissidio entre as categorias profissional e patronal
ao público usuário do mesmo serviço.
De igual forma, procedimento idêntico haveria de
ser observado quando a greve envolvesse qualquer das
atividades contempladas no artigo 10 da Lei 7783189, visto que
segundo nosso entendimento não poderiam ser revestidas de
licitude e legitimidade as greves deflagradas em serviços de
coleta de lixo, controle do tráfego aéreo, telecomunicaç~es,
hospitais, distribuição de combustíveis, energia elétrica e água
dentre outros, especialmente Porque qualquer que seja o
percentual de trabalhadores fixado pelo Poder Judiciário jamais
atenderia às necessidades inadiáveis da população que estaria
sujeita, sem qualquer dúvida, à situação prevista no parágrafo
único do artigo 11 da Lei 7783189, vazado nos seguintes termos :
lf São necessidades inadiáveis da comunidade
aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo
iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança
da população".
Fazendo uso de interpretação mais restrita do
mesmo dispositivo legal poderíamos chegar a conclusão de que o
movimento paredista seria absolutamente vedado em quaisquer
das atividade~ que envolvessem a sobrevivência, saúde ou
segurança do público em geral, circunstância, essa, que
implicaria na total aniquilação do direito de greve aos
trabalhadores envolvidos nos serviços ou atividades declaradas
legalmente como essenciais.
Assevera-se, portanto, que o direito de greve não
pode ser considerado como absoluto, eis que, como direito,
deverá ser exercido harmonicamente com os denominados
superdireitos fundamentais do h~mem, tais como, o direito à vida,
a liberdade, a preservação da saúde, locomoção, segurança e
integridade física dentre outros.
Dessa forma, o que se verifica nas situações
práticas de ocorrência de greves nos serviços ou atividades
essenciais é que o dano maior pela paralisação das atividades é
sofrido e imposto à coletividade dos usuários de tais serviços,
visto que, na sua generalidade, são desenvolvidos pela iniciativa
privada sob o regime de monopólio, situação que não deixa outra
alternativa a comunidade, senão sofrer os incômodos
injustificáveis e até nocivos da parede.
Como bem ressaltou O Ministro Marcelo Pimentel
ti há limites de comportamento individual e coletivo para a greve
porque ela não pode gerar impunemente a agitação
descontrolada e agressiva capaz de comprometer o exercício de
direitos fundamentais, Como 0 de locomoção, direito a integridade li 125
física, o direito ao pat'imônio .
125 Segadas Vianna, Instituiçdes de Direito do Trabalho. p. 1243.
Segundo Georgenor de Sousa Franco Filho, " a
determinação do que são serviços essenciais importa em garantir
o funcionamento do minim~m necessário ao atendimento da
comunidade. a exemplo do Decreto argentino n. 2174, de
17.1 0.1 990, e da Lei italiana n. 146, de 12.6.1 990. Assim também
encontra-se na norma infraconstitucional brasileira. Entende-se
que não é excessivamente rígida, embora, a rigor, em alguns
pontos, contrarie a posição do Comitê de Liberdade Sindical,
devendo sua aplicação também atender as pretensões dos
grevistas. Nesse particular. é interessante a denominada
"cláusula da comunidade",(integralmente reproduzida em anexo)
proposta por Roberto Santos, e que vem merecendo significativa
acolhida do Judiciário, mormente na 8a Região, de onde
emanou. r1126
Com efeito, da redação de referida cláusuIa, a
preocupação do judiciário da E. 8a Região não foi outra senão,
através da imposição de pena pecuniária a parte inadimplente da
obrigação, possibilitar que a comunidade usuária dos serviços
essenciais não se visse privada da continuidade dos mesmos
durante o movimento paredista.
reconhecem^^, porém, que numa abordagem
preliminar o posicionamento adotado quanto ao exercício da
parede apenas por empregados ligados área não operaciona1
possa parecer exagerado.
126 Georgenor de Sousa Franco Filho. Liberdade Sindical e Direito de Greve no Direito
Comparado, p. 1 1819.
No entanto, se considerarmos que a Itália e a
Argentina, apenas para citar pais vizinho com semelhança dos
problemas atinentes aos grandes centros urbanos, determinam
que na hipótese de serviços essenciais ao menos 50% (cinquenta
por cento) dos empregados do segmento envolvido devem
promover os serviços indispensáveis à comunidade, acreditamos
que o efetivo exercício da parede Por empregados de área não
operacional, além de não importar na restrição do exercício do
direito de greve, diminuiria em muito OS reflexos sofridos pela
população usuária dos mesmos serviços.
Além desse aspecto, tal procedimento, sem
qualquer dúvida estaria a conquistar a simpatia e possível adesão
da população usuária dos serviços essenciais. fortalecendo
movimentos dessa natureza.
CAP~TULO 12: CONSEQUENCIAS DA INOBSERVÂNCIA DOS
REQUISITOS LEGAIS NA DEFLAGRAÇÃO DE GREVE NOS
SERVIÇOS ESSENCIAIS
Uma vez que já tivemos oportunidade de examinar
0s aspectos relativos a legalidade e ilegalidade da parede no que
diz respeito aos aspectos formais e materiais, cabe-nos nesse
momento a verificação das consequências que implicam na
caracterizaçáo do abuso de direito.
De inicio, necessitamos estabelecer o conceito de
abuso de direito, cuja idéia foi formulada pelo Código Civil suiço
diante dos seguintes termos :
Ircada um é compelido a exercer seus direitos e a
executar suas obrigações segundo as regras da
boa-fé. O abuso manifesto de um direito não é r r 127 protegido pela lei .
Por outro lado, inobstante o conceito acima
formulado, não podemos esquecer que a idéia do abuso de
direito nos foi dada pelo Direito romano através da teoria dos atas
ad aemulationem.
127 Wilson S.C. Batalha, Silvia M.L. Batalha, Sindicatos Sindicalismo, p. 247.,
Porém, a moderna teoria evoluiu no sentido de n3o
mais se coibir o ato intencional ou o emulativo, na medida em que
o simples desvio do direito ou seu USO contrariamente a finalidade
do instituto é considerado abuso de direito, gerando, por
conseguinte, responsabilidade.
A primeira hipótese relativa ao abuso de direito vem
prevista no artigo 6' da Lei 7783189 ao permitir a realização de
piquetes pacíficos como forma de persuadir OS trabalhadores a
aderirem ao movimento de paralisação. posto que todas as ações
tendentes a impedir, por coaçáo ou pressão, a adesão a greve
importará, sem dúvida alguma, na caracterização do abuso de
direito, (ou seja, a utilização de um direito em desconformidade
com seu fim último) por constituir prática impeditiva da livre
manifestação da vontade-
porém, mister a análise das outras modalidades de
abuso de direito previstas no artigo 1412' do diploma legal sob
comento, consistente nas hipóteses a seguir elencadaç.
lnobservância das normas contidas na Lei 7783189
ou seja, qualquer prática ou ato em desconformidade com
quaisquer dos preceitos legais importará na caracterização do
128 *lsá0 aos grevistas, dentre outros direitos: I - o emprego de meios pacíficos b-Identes a persuadir Ou aliciar os trabalhadores a aderirem a greve; 1 1 - a arrecada@o de fundos e a livre divulgação do movimento. 129 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho".
abuso de direito, podendo ser citados como exemplos : a falta de
notificação ao empregador; a realização de assembléia irregular;
o não atendimento as necessidades inadiáveis da população; a
falta ou a recusa de discussáo da proposta patronal; pratica de
excessos através de piquetes OU violência contra pessoas e
coisas, etc.
Acreditamos que as ementas a seguir transcritas
elucidam satisfatoriamente as questões acima ventiladas.
" Considera-se abusiva a greve quando não forem
obsentados os requisitos da Lei 7783/89 e, via de
consequência, fica o empregador desobrigado do
pagamento dos dias de paralisação, até porque 0s
contratos ficam suspensos durante a greve,
mantendo-sê as relações laborais pelo acordo entre
as partes''. (TST-RO-AD 41 4809199.3, Ac. SDC Min.
Ursulino Santos ~ i l h o ) ' ~ ~
" Abusividade. Publicidade da assembléia. A
convocação da assembléia para deliberar sobre a
greve deve ser feita mediante a publicação de edita1
na imprensa. Irregular a convocação por meio de
disttjbuiçã0 de panfletos no local de trabalho, deve
ser declarada a abusividade da greve". (TST-RO-
1x1 Valentin Carrion, Noca ~urisprudência em Direito do Trabalho, 1999, Io semestre, p. 212,
autorizando-se a dedução dos dias de paralisação e
determinando-se o imediato retorno ao traba1h0.l~~
Verifica-se, pois, que dentre os efeitos decorrentes
da parede há que ser ressaltada a ocorrência da suspensão do
pacto laboral e, por conseguinte, a isenção da obrigação de
pagamento dos salários correspondentes.
A elucidar essa assertiva, o entendimento adotado
pelo C.TST a propósito da matéria pela forma que se segue :
Greve. Suspensão do contrato de trabalho.
Inexistência de direito ao pagamento dos salários.
Nos termos do art. 7' da Lei 7783189, a participação
em movimento grevista importa na suspensão do
contrato de trabalho, equivalendo dizer que não há
pagamento de saiario, dada a ausência de
prestação de serviçof'.(TST-RR 253548196.0, Ac.
3aT, Min. José Luiz Vascon~ellos). '~~
"Greve. Sen/iços essenciais. Ausência de
manutenção de atividades essenciais. Abusividade
do movimento.
O não atendimento aos requisitos do artigo treze da
lei sete mil setecentos e oitenta e três de oitenta e
nove, bem como 0 descumprimento da ordem
133 LTR Sulemento Trabalhista 38-275191, TST-DC 231 97191.7, Ac. SEDC 0002191. 134 Valentin Carrion, Nova ~urisprudência em Direito do Trabalho. 1999, 1 semestre, p, 275,
judicial do retomo ao trabalho, toma abusivo o movimento grevista. Recurso a que se nega
rr 135 provimento .
No entanto, em se tratando de greve licita com a
consequen te procedência das reivindicações formuladas pelos
trabalhadores, inexistem dúvidas quanto ao fato de que nessa
hipótese os salários serão devidos durante a totalidade dos dias
de paralisação.
Alguns Tribunais Regionais, dentre eles os da 2' e
15' Regiões, ao qualificarem 0 movimento paredista de legitimo,
decretando a procedência das reivindicações, costumam
conceder aos grevistas garantia provisória de emprego a fim de
evitar eventuais retaliações decorrentes do movimento,
condicionando porém tal vantagem a0 imediato retorno ao
trabalho, sob pena de perda de referida concessão.
Entretanto, tal posicionamento não é acolhido pelo
C.TST, na conformidade das decisões que vêm sendo
reiteradamente proferidas, destacando-se a que se segue ;
A concessão de estabilidade por Sentença
Normativa não tem suporte legal. A Constituição
Federal e a Lei já particularizaram os casos
135 TST-RODC 143056194, 1 3a Região.
merecedores do benefício. Os empregadores ficam
desobrigados do pagamento dos dias de
paralisação quando a greve for considerada
abusiva. A jurisprudência do TST é pacífica nestes
tópicos". (TST-RO-DC 430796198.7, Ac. SDC, Min.
Ursulino Santos ~ i l h o ) . ' ~ ~
" A garantia de emprego não se projeta além do
período de paralisação. Não assegura a lei o direito
à reintegração, mas tão somente o pagamento dos
salános e das vantagens do período de duração do
movimento paredista. ocorre que não existe no
ordenamento jurídico lei que assegure a
permanência do trabalhador no emprego em
período posterior a greveff, (TST-E-RR 272663196.3,
AC. SBDI, Min. José Luiz Vascon~ellos). '~~
Nessas circunstâncias parece-nos inexistir
quaisquer dúvidas quanto à possibilidade de responsabilizaçáo
do trabalhador e da entidade sindical nas esferas civel, criminal e
trabalhistas de acordo Com a infraçáo cometida, todas as vezes
que o movimento paredista implicar no mau uso do direito, melhor
dizendo, todas as vezes em que ocorrer abuso de direito sob as
mais diversas hipóteses, segundo se constata das recentes
decisões proferidas acerca da matéria como se segue.
136 valentin Carrion, Nova Jurisprudência em Direito do Trabalho, 2O semestre, 1999, p, 21 1, 137 Valentin Carrian, Nova Jurisprudência em Direito do Trabalho, l0 semestre, 1999, p, 244,
" Greve. Sen/iços Essenciais. Garantia das
necessidades inadiáveis da população usuária.
Fator determinante na qualificação jurídica do
movimento.
É abusiva a greve que se realiza em setores que a
lei define como sendo essenciais a comunidade. se
não é assegurado o atendimento básico das
necessidades inadiáveis dos usuários do serviço, i r 138 na forma prevista na Lei 7783/89 .
"Greve. Serviço Essencial. Abuso de Direito,
A greve é direito assegurado em sede constitucional
(arts. g0 e 37, VII, da Carta Magna). Inobstante não
é direito absoluto, posto que O Estado de Direito é
incompatível com a existência de direitos absolutos.
É medida extrema e como tal sofre limitações
legais, as q ~ a i s mormente em se tratando de
serviços essenciais de transporte coletivo urbano
(Lei 7783/89). Recurso Ordinário a que se nega i i 139 provimento .
Greve. Atividades Essenciais.
A greve, como ato jurídico, deve sujeitar-se à
legal. sendo, portanto, abusivo o
movimento deflagrado sem a observância dos
Orienta@o Jurisprudencial da SDC no 38 -Tribunal Superior do Trabalho, 139 ROAD, SDC 488299, DJ 26/06/99, p.17.
requisitos formais contidos na Lei 7783/89. Por
outro lado, o direito de greve em atividades
consideradas essenciais é condicionado ao
atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidades, acarretando a inobsen/ância de tal
preceito a interferência do Poder Público com a
finalidade de assegurar o efetivo cumprimento da
lei, cabendo, para tanto, a fixação de multa por
descumpnmento da obrigação de fazer
imposta(CPC, art. 461, § 4°)".140
'" RODC, SDC 609069, DJ 0111212000, p. 553.
Do quanto exposto, podemos concluir que as
limitações impostas ao exercício do direito de greve nos serviços
essenciais não importam em qualquer restrição ao mesmo direito.
Com efeito, considerando-se que na atualidade
poderíamos asseverar que nem rmsmo a soberania dos Estados
vem de ser exercida de f ~ m ~ a ilimitada ou absoluta, claro está
que o direito de greve há de Ser exercido na conformidade das
restrições que a ordem jurídica lhe impõe, visto que os graves I
transtornos causados à populaçáo durante O movimento paredista
defiagrado por trabalhadores ligados aos serviços essenciais
requer uma preocupação específica e especial dos tribunais no
que pertine à garantia do atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade.
Relativamente a efetiva atuação dos tribunais no
trato da questão, de ressaltar-se a inédita e original iniciativa do
Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da Ba Região na utilização
da denominada C/&USU/~ da comunidade (integralmente
reproduzida no anexo) quando 0 f'Iloviment0 grevista envolver
çen/içoç essenciais e por conseqüência de notória necessidade
da populaçáo.
Permitimo-nos entretanto discordar da fixação pelo
Poder Judiciário do contingente de trabalhadores necessários à
promoção dos serviços inadiáveis da população por entendermos
que referido contingente não se reveste de adequação à
promoção das necessidade mínimas e essenciais da população.
Na hipótese de parede envolvendo serviços
essenciais, entendemos que somente aos empregados que
executem atividades não operacionais é que seria lícita a eclosáo
de parede, na medida em que 0 comando legal visa a garantia da
promoçáo dos serviços necessários evitando que a comunidade,
diante de provimento paredista, seja colocada em perigo iminente
no que se refere a sua sobrevivência, saúde ou segurança.
Entretanto a garantia de eficácia da denominada
cláusula "Da Comunidade", oriunda do TRT da 6 Região, reside
na imposição de multa Com fulcro nos artigos 722124 da CLT, de
das empresas ou da entidade sindical
profissional, conforme 0 caso, se a determinação contida na
sentença normativa vier a ser descumprida por qualquer das
partes.
A justificação da imposição de multa fundou-se na
prática observada oriunda da lei italiana para as hipóteses de
violação das regras por ele impostas, asseverando-se, ainda que
as sentenças normativas podem Ser muito mais benéficas às
partes envolvidas no litígio do que a própria legislação, diante da
proximidade dos fatos ensejadores da prática da parede.
Para tanto, haverá que ser implementada em
alguns setores e ampliada em outros a prática da constante e
necessária negociação entre as partes, a permitir a perfeita
convivência nas relações de trabalho, uma vez que os interesses
das categorias profissional e patronal, a primeira na reivindicação
de melhores condições de trabalho e salários e a segunda na
eterna discussão e resistência quanto ao atendimento dos pleitos
formulados, não podem prevalecer sobre os interesses da
populaçáo usuária dos serviços essenciais.
Verifica-se, pois, que a deflagração do direito de
greve em se tratando de atividades essenciais se reveste em
direito sob condição, qual seja, a de promoção, durante o decurso
do movimento paredista, das atividades indispensáveis ao
atendimento das necessidades mínimas da população, de forma
tal que restem cumpridas as exigências previstas no artigo 10 da
Lei 7783189 em suas exatas dimensões em perfeita consonância
com o entendimento que deverá ser objeto de incentivo através
das decisões judiciais nesse sentido.
Por outro lado, não se pode ignorar a dificuldade
encontrada na prática pelas categorias patronal e profissional em
face da inexperiência do legislador ao remeter 0 possível ajuste
entre 0s litigantes a matéria relativa ao funcionamento dos
serviços mínimos necessários, visto que, se de um lado as partes
resistem ao atendimento das pretensões recíprocas, difícil e em
algumas hipóteses, impossível exigir-se dos litigantes em
momento de crucial delicadeza a celebração de ajuste para
promoção dos serviços mínimos.
No entanto, somente da prática da negociação
coletiva e do ajustamento das categorias profissional e patronal é
que o comando legal com o objetivo de preservação do interesse
da comunidade poderá ser alcançado.
Ademais, constituindo a greve recurso último de
que se devem utilizar 0s trabalhadores para pressionar o
empregador, cremos que uma das formas p~ssiveis visando
compatibilizar a regra legal que exige a pr~moção dos serviços de
atendimento a população em face dos interesses da população e
o patronal em ver sua atividade sem qualquer paraiisaçáo, seria a
efetiva deflagração da parede em atividades ou serviços
considerados essenciais por empregados envolvidos em área não
operacional, na medida em que a greve para aqueles abrangidos
por essas atividades haveria que ser simbólica, visto a
necessidade de preservação do interesse da sociedade usuária
do mesmo serviço.
Acreditamos ainda que diante das dificuldades
expostas, a deflagração de greve nos serviços essenciais só
poderia ocorrer após a exaustão das neg~~iações entre as
categorias envolvidas, constituindo último recurso a ser utilizado
pelos trabalhadores em caso de frustração das negociações,
ficando restrita aos seguintes parâmetros :
a) a preservação do direito constitucionalmente
assegurado ao trabalhador como decorrência do principio da
igualdade entre 0s membros das diversas categorias
profissionais;
b) a necessária preservação, proteção e
manutenção imperativa da continuidade dos serviços essenciais,
que por sua própria natureza não podem ser suprimidos da
coletividade, sob a justificativa de exercício de direito
constitucionalmente previsto.
Tais assertivas residem na convicção de que a
greve, antes de constituir instrumento incompatível com o Direito,
encontra seu exercício legalmente limitado em situações
definidas, uma vez que na atualidade não há se cogitar da
existência de direito absoluto ou ilimitado.
Ademais, considerando-se que para o alcance da
plena eficácia dos direitos fundamentais não podem ser olvidados
0s princípios da proporcionalidade e O da harmonização de
valores, cremos que a limitação do exercicio dos direitos
previstos reside no principio fundamental do
respeito e da proteçáo da dignidade da pessoa humana a
conduzir toda a ordem con~titucional.
Referida assertiva fundamenta-se no fato de que
todos os indivíduos e grupos possuem direitos, circunstância que
afasta a possibilidade de existência de um direito absoluto entre
OS mesmos.
Por outro lado, há ainda que ser considerado o
principio da prevalência dos interesses da coletividade quando
em confronto com interesses individuais ou de grupos em face da
necessária proporcionalidade e harmonização de valores com o
objetivo de preservação da dignidade humana
Ademais, ainda que considerado como direito da
personalidade, o exercício do direito de greve não poderá colidir
com outros direitos de igual grandeza, dentre eles a segurança, a -- vida e a saúde da população atingida pela paralisação nas a
atividades consideradas essenciais, em estrita observância à Lei
Maior, na medida em que as necessidades da comunidade que
por sua peculiar natureza não admitem adiamento, não podem
ser suçpensas, por mais legítimo que seja o exercício do Direito
de Greve garantido constitucionalmente. sob pena de preferir-se
interesses e direitos individuais em detrimento de direitos
individuais homogêneos.
BIBLIOGRAFIA
AC KE RMAN . Mario. Abolición De1 arbitraje
obligatorio y reg~lamentación de Ia huelga en /os servicios
esenciales para Ia ~ ~ n ~ u n i d a d . Revista de Derecho Laboral.
Buenos Aires : Rubinzal - Culzoni Editores, I 996.
ALES, Edoardo. Tutela dei diritti cittadino e sciopero
nei seGzi pubblici. Gionale di diritto de1 lavoro e di relazioni
industriali no 73, Roma, 1999.
ALVAREZ, Eduardo. Derecho Colectivo De/
Trabajo. Buenos Aires: La Ley, 1991.
BABACE, Hector. La Representacion Sindical.
Montevideo: Fundación de Cultura Universitaria, 1993.
BARROS. Cassio Mesquita. Greve, 1 Ciclo de
~studos de Direito do Trabalho, São Paulo: IBCB,ENM, IASp,
1995.
BASTOS, Celso Ribeiro. MARTINS, Ives Gandra da
Silva. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Editora
Saraiva, 1989, V. 2", 1990, V. 7" 1997, V. 5".
BATALHA, Wilson de Souza Campos. Silvia Marina
Labate. Sindicatos - Sindicalismo. São Paulo: LTR Editora Ltda.,
1994.
BARROS, Alice Monteiro de. Fundamento social da
greve. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em
homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa, Cood.
Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda.,
1998.
BELTRAN, Ari Possidonio. Autotutela nas Relações
de Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1996.
. OS Impactos da Integração Econômica
no Direito do Trabalho - Globalização e Direitos Sociais. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
CAMPANHOLE, Hilton Lobo e Adriano.
Constituições do Brasil. São Paulo: Editora Atlas S/A, 1999.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito
~ ~ ~ ~ t i t u c i o n a l e Teoria da Constitui~ão. Portugal: Aimedina,
1999.
CASTILHO, Santiago Pérez. Direito de Greve. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 1994.
. E1 Derecho dela Huelga. Montevideo:
Fundacion de Cultura Universitaria, 1993.
CARRION, Valentin. Comentários a Consolidação
das Leis do Trabalho. São Paulo: Editora Saraiva, 2000.
. Nova Jurisprudência em Direito do
Trabalho. São Paulo: Editora Saraiva, 1 e 2' semestres, 1999 e
2000.
CATHARI NO, José Martins. Tratado Elementar de
~;re;to Sindical. São Paulo : LTR Editora Ltda., 1982.
CESARINO JÚNIOR, Antonio Ferreira. Direito
Social. são Paulo: LTR Editora Ltda. e Editora da Universidade
de São Paulo, 1980.
CONSTIUIÇAO DA REP~BLICA FEDERATIVA DO
BRASIL. são Paulo: Editora Saraiva, 2000.
cORNET, Teresita Saracho. Conflictos Coletivos
Hue/ga y ~mergência EconÔmica. B U ~ ~ O S Aires : Ed iciones
Depalma, 1992.
CRETELLA JÚNIOR, José. Administração indireta
Brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
CRISTALDO, Jorge Dario. Legislacion Laboral
paraguaya. Asuncion : Armado A & C, 1995.
DELGUE, Juan Raso. Derecho Sindical en Ia
Jurisprudencia Uruguaya. Montevideo : Fundación de Cultura
Universitaria, 1 993.
DIEGO, Julián Arturo de. Manual de Derecho de1
Trabajo y de Ia Seguridad Social. Buenos Aires : Abeledo-Perrot,
1999.
DINIZ, Maria Helena. Norma C~nstífucional e Seus
~fejtos. são Paulo: Editora Saraiva, 1998.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito
Administrativo. São Paulo: Editora Atlas SIA, 1999.
DUARTE, José. A Constit~ição Brasileira de 1946,
Rio de Janeiro: Forense,1947. V. 3.
DUARTE NETO, Bento Herculano. Direito de
Greve: Aspectos Genéricos e Legislaç80 Brasileira. São Paulo:
LTR Editora Ltda., 1993.
DURAND. Enrique Laxague. Nonnativa que Hge Ia
actjvidad laboral privada em e/ Uruguay. Montevideo: 1998.
ECHEVERR~A. Bernardo van der Laat. Conflictos
Colectivos, Huelga y Paro Patronal. Montevideo : Fundación de
Cultura Universitaria, 1995.
ENC~CLICAS E DOCUMENTOS SOCIAIS. São
Paulo: LTR Editora Ltda., VO~. I, 1991.
FAVA, Marcos Neves. Euro Greve : Questões
Trabalhistas no Mercosul. Sã0 Paulo : Revista LTR no 11,
Novembro de 1997.
FERNANDES, Antonio Monteiro. Direito de Greve.
Notas e Comentários à Lei 65/77, de 26 de agosto. Coimbra:
Livraria Almedina, 1982.
FERREIRA FILHO, b i~noel Gonçalves.
Comentários a Constituição Brasileira. São Paulo: Editora
Saraiva, 1989, v. 2.
. Direitos Humanos Fundamentais. são
Paulo: Editora Saraiva, 1995-
FERRE I RA, Pinto. Curso de Direito Constitucional.
Sã0 Paulo: Editora Saraiva, 1998.
FLORES, ~altasar Cavazos.Lecciones de Derecho
Labor,/. México: Editorial Trillas, 1 998.
. E1 Derecho de1 Trabajo Mexicano a
Principias de1 Milenio. Mexico : Editorial Trillas, 2000.
FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. Liberdade
Sindical e Direito de Greve no Direito Comparado. São Paulo:
LTR Editora Ltda., 1992.
. Curso de Direito Coletivo do Trabalho.
são Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
FREDIANI, Yone. (Coord) Tendências do Direito
Material e Processual do Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda.,
2000.
FU N ES, Jorge Oliva. Conflitos Colectivos, Huelga y
Emergência Econômica. Buenos Ai res : Ediciones Depalma,
1 992.
GOMES, Orlando. GOTTSCHALK, Elson. Curso de
Direito do Trabalho. Rio de Janeiro : Forense, 1 971 .
GUERRA, Amadeu. Leis do Trabalho. Lisboa : Vislis
Editores, 1998.
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Dos Direitos
Humanos aos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 1 997.
GRISOLIA, Julio Armando. Derecho De1 Trabajo y
de /a Seguridad Social. Buenos Aires : Ediciones Depalma, 1998.
INSTITUTO de Derecho de1 Trabajo y da Ia
Seguridad Social. E1 Derecho Laboral de1 Mercosur. Montevide0 :
Fundacion de Cultura Universitaria, 1994.
J UCA, Francisco Pedro. A C~nstituicionalizaçã~ dos
Direitos dos Trabalhadores e a Hermenêutica das Nomas
~~f~~constitucionais. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1997.
. Renovação do Direito do Trabalho.
Abordagem alternativa a flexibilização. Sã0 Paul0 : LTR Editora
Ltda., 2000.
LAMARCA, Antonio. Curso Nomativo em Direito do
Trabalho. São Paulo: Editora Saraiva, 1 993.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de ~ j r e j t ~
do Trabalho. Volume 11. Curitiba: Juruá Editora, 2000.
. A Greve como Direito Fundamental.
Curitiba : Juruá Editora, 2000.
LI PPMAN N , Ernesto. Os Direitos Fundamentais da
Constituição de 1998. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1999.
LOBO, Eugenio Roberto Haddock. A Greve no
Brasil e sua relação com o direito no tempo. São Paulo : Revista
da Academia Nacional de Direito do Trabalho. LTR Editora Ltda.,
1993.
LU CAI Ca rlos Morei ra de. Origens, natureza jurídica
e tipos de greve. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos
em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa, Cood.
Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda.,
1998.
MAGANO, Octavio Bueno. Manual de Direito do
Trabalho, Direito Coletiv0 do Trabalho. V.111. são Paulo: LTR
Editora Ltda., 1984.
MALLET, Estevão. Direito e Processo do Trabalho,
~studos em Homenagem ao Prof Octavio Bueno Magano. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
MANCINI, Jorge Rodriguez. Curso de derecho De1
trabajo y de Ia seguridad social. Buenos Aires: Editorial Astrea de
Alfredo y Ricardo Depalma, 1993.
. Derecho Colectivo De1 Trabajo. Buenos
Aires: La Ley, 1997.
MANSUETI, Hugo Roberto, Derecho de1 Trabajo en
e/ Mercosur, Buenos Aires : Ciudad Argentina, 1999.
. Derecho de1 Trabajo en Ia Sociedad
Argentina. La Huega. Palestra proferida no I Encontro Nacional
de Escolas da Magistratura do Trabalho em São Paulo, Agosto
2000.
MARANHÁO, Délio. Direito do Trabalho. Rio de
Janeiro : Fundação Getúlio Vargas, 1974.
. Instituições de Direito do Trabalho. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 1999, v 1 e 2.
MARC/LI~, Maria Luiza. Cultura dos Direitos
Humanos. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
MARINHO, Luiz. Estudos sobre Renúncia e
Transação. Tendências do Direito Material e Processual do
Trabalho. Coord. Yone Frediani. São Paulo: LTR Editora Ltda.,
2000.
MARTINS FILHO, Ives Gandra. Processo Coletivo
do Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1996.
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São
Pau1o:Editora Atlas S/A, 2000.
. Comentários a CLT. São Paulo: Editora
Atlas SIA, 1999.
MASAG AO, Mario. Curso de Direito Administrativo.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1968.
MEI RELLES, Helly Lopres. Direito Administrativo
Brasileiro. São Paulo: Mal heiros Editores, 1 995.
MELGAR, Alfredo Montoya. Derecho De/ Trabajo.
Madrid : Tecnos, 1997.
MI RAN DA, Pontes de. Comentários a Constituição
de 1967. VI, são Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1969, VI.
NASCIMENTO, Amau ri Mascaro. Teoria Gera/ do
Direito do Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
. Curso de Direito do Trabalho. São
Paulo: Editora Saraiva, 1999.
. curso de Direito Processual do
Trabalho. São Paulo: Editora Saraiva, 1999.
. Direito do Trabalho na Constituição de
7988. São Paulo: Editora Saraiva, 1989.
. Compêndio de Direito Sindical. são
Paulo: LTR Editora Ltda., 2000.
. Hisfória do Direito de Greve. São Paulo :
Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho. LTR
Editora Ltda., 1 993.
. Comentários a Lei de Greve. São Paulo:
LTR Editora Ltda., 1989.
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo
Civil na Constituição Federal. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1999.
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Manual da
Monografia Jurídica. São Paulo: Editora Saraiva, 1999.
OLEA, Manuel Alonso. Derecho colectivo de1
trabajo en Espafia. Curso de Direito Coletivo do Trabalho.
Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa,
Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR
Editora Ltda., 1998.
OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Manual de Direito
Indjvidual e Coletivo do Trabalho. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2000.
PAULO 11, João. O Profeta do Ano 2000. São Paulo:
LTR Editora Ltda., 1998.
PEDREIRA, Pinho. A Greve com ocupação de
locais de trabalho. São Paulo : Revista da Academia Nacional de
Direito do Trabalho. LTR Editora Ltda., 1993.
PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen. A greve nos
sewiços essenciais e nos S ~ W ~ Ç O S inadiáveis. Curso de Direito
Coletivo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro
Orlando Teixeira da Costa, Cood. Georgenor de Sousa Franco
Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda., 1998.
PERCOVITH, Lucía Pratt. Derecho Sindical em /a
Jurisprudência Uruguaya. Montevideo : Fundacion de Cultura
Universitária, 1994.
PERON E, Giancarlo. Ação Sindical nos Estados-
Membros da União Européia. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1996.
. Lineamenti di Diritto De1 Lavoro. Torino:
G.Giappichielii Editore, 1999.
. Le tecniche di contemperamento tra
diritto di siciopero e diritti cosfifuzionalmente tutelati della persona.
Palestra proferida em Forum organizado pela Comissão de
Garantia, Palazzo Montecitorio. Roma, 1995.
PIMENTEL, Marcelo. Constitucionalização do
Direito do Trabalho e a Greve dos Avulsos Portuários. São Paulo:
Revista da Academia de Direito do Trabalho. LTR Editora Ltda.,
1993.
PINTO, José Augusto Rodrigues. Direito Sindical e
Co/etivo do Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
PRADO, Roberto Barreto. Tratado de Direito do
Trabalho. Volume II. São Paul0 : Revista dos Tribunais, 1967.
. O Direito de Greve em face da
Constifuição de 5/10/88. São Paulo: Revista LTR, v.52, no 11,
Novembro 1998.
PUSSOLI , Lafaiete. Cultura do Direitos Humanos.
São Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
RECALDE, Mariano y Hector. Derecho de1 Trabajo.
La regulación de Ia huelga en 10s servicios essenciales. Buenos
Aires : La Ley, 2000.
RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Lei de Greve
anotada. Lisboa : Lex Edições Jurídicas, 1994.
RIAL, Noemí. Nueva legislacion de Convenciones
Co/ectivas de Trabajo. Buenos Aires: Ediciones Gizeh SIA, 1 998.
RIBEIRO, Lélia Guimarães Carvalho. A greve como
legítimo direito de prejudicar. Curso de Direito Coletivo do
Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira
da costa, Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo :
LTR Editora Ltda., 1998.
ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. Direito e
Processo do Trabalho, Estudos em homenagem ao Prof Octavio
Bueno Magano. Sáo Paulo: LTR Editora Ltda., 1998.
. A Greve no Direito Comparado. São
Paulo Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho.
LTR Editora Ltda., 1993.
. Novas reflexões sobre a greve no Direito
do Trabalho. Curitiva : Genesis Revista de Direito do Trabalho,
número 94, 0ut12000.
. O Moderno Direito do Trabalho. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 1994.
ROCHA, Marcelo Pereira . Origem, Desenvolvimento
e Evolução Histórica do Direito de Greve. Dissertação de
Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 1990.
RODR~GU EZ, Enrique. Nueva Legislacion de
Convenciones Colectivas de Trabajo. Buenos Aires: Ediciones
Gizeh SIA, 1998.
RODRIGU ES, Dirceu Victor. Constituição Brasileira
de 1946 vista pela Jurisprudência. São Pau 10: Sugestões
Literárias SIA, 1948.
RODRIGUES, Américo PIá. Derecho colectivo de/
trabajo en e1 Uruguay. Curso de Direito Coletivo do Trabalho.
~studos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa,
cood. Georgenor de S O U S ~ Franco Filho. São Paulo : LTR
Editora Ltda., 1998.
. Pfincípios de Direito do Trabalho. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 2000.
ROMITA, Arion Sayão. Greve, I Ciclo de Estudos de
Direito do Trabalho. Sáo Paulo: IBCB, ENM, IASP, 1995.
. A Greve dos Servidores Públicos. São
Paulo : Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho,
LTR Editora Ltda., 7 993.
RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas de
Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., I 995.
. Derecho colectivo de1 trabajo en /a
Argentina. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em
homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa, Cood.
Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda.,
1998.
RUSSOMANO, Mozart Victor. Manual Prático de
Direito do Trabalho. Direito Sindical. V.11. Rio de Janeiro : José
Konfino Editor, 1966.
RUSSOMANO JR. Victor. Efeitos da greve nos
contratos individuais de trabalho. Curso de Direito Coletivo do
Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira
da Costa, Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo :
LTR Editora Ltda., 1998.
SAAD, Eduardo Gabriel. Relação Greve e Direito no
Brasil. São Paulo : Revista da Academia Nacional de Direito do
Trabalho. LTR Editora Ltda., 1993.
SAAD, Ricardo Nacim. Greve nos Serviços Públicos
e nas Atividades Essenciais. Dissertação de Mestrado. São
Paulo: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,
1988.
SAN DRON I, Pau 10. Novíssimo Dicionário de
Economia. São Paulo: Editora Best Seller, 1999.
SANTOS, Roberto A. O. Uma contribuição
sociológica a renovação da teoria jurídica da greve. São Paulo :
Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho. LTR
Editora Ltda., 1993.
. A Greve dita Abusiva e a "Cláusula da
Comunidade". Sáo Paulo: LTR Suplemento Trabalhista, Ano XXVI
no 108190.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos
Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1 998.
SEGURA, Alejandro Aníbal. Elementos De1 Derecho
Coletivo De1 Trabajo. Buenos Aires: David Grinberg Libros
Juridicos, 1991.
SI LVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional
Positivo. São Paulo: Mal heiros Editores, I 999.
SIMÓN, Sandra Lia. A proteção Constitucional da
intimidade e da vida privada do empregado. São Paulo: LTR
Editora Ltda., 2000.
SOARES, Orlando. Comentários a Constituição da
República Federativa do Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 1990.
SOUZA, Ronaldo Amorim e. Direito de Greve :
Legitimidade da ordem judicial. São Paulo : Revista da Academia
Nacional de Direito do Trabalho. LTR Editora Ltda., 1993.
. O papel da Justiça do Trabalho e a
greve. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos em
homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa, Cood.
Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda.,
1998.
SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do
Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1999. v. 1 e 2.
. Responsabilidade pelo abuso do Direito
de Greve. São Paulo : Revista da Academia Nacional de Direito
do Trabalho. LTR Editora Ltda., 1993.
. Direito Internacional do Trabalho. São
Paulo : LTR Editora Ltda., 2000.
. Convenções da OIT. São Paulo: LTR
Editora Ltda., 1 998.
TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de
Direito do Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1999. v 1 e 2.
TRINDADE, Washington Luiz da. A greve na atual
Constituição brasileira. Curso de Direito Coletivo do Trabalho.
Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa,
Cood. Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR
Editora Ltda., 1998.
URIARTE, Oscar Ermida. Apuntes sobre Ia Huelga.
Montevideo: Fundacion de Cultura Universitaria, 1996.
. A Flexibilização da Greve. São Paulo :
LTR Editora Ltda., 2000.
VIANA, Márcio Túlio. Direito de Resistência. São
Paulo: LTR Editora Ltda., 1996.
. Conflitos Coletivos do Trabalho. Revista
do Tribunal Superior do Trabalho, Vol. 66, no 1, Janlmar 2000.
Porto Alegre : Editora Síntese itda.
VIANNA, Segadas. Instituições de Direito do
Trabalho. São Paulo: LTR Editora Ltda., 1999. V. 1 e 2.
VIALARD, Antonio Vazquez. Derecho de1 trabajo y
de Ia seguridad social. Tomo 2. Buenos Aires : Editora Astrea de
Alfredo y Ricardo Depalma, 1996.
VELLOSO, Carlos Mário da Silva. A greve no
serviço público. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. Estudos
em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa, Cood.
Georgenor de Sousa Franco Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda.,
1998.
XAVIER, Bernardo da Gama Lobo. Direito da
Greve. Lisboa : Editorial VERBO, 1983.
. A greve em Portugal. Curso de Direito
Coletivo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro
Orlando Teixeira da Costa, Cood. Georgenor de Sousa Franco
Filho. São Paulo : LTR Editora Ltda., 1998.
ANEXO
CLAÚSULA DA COMUNIDADE (constante da
decisão normativa aprovada pelo Tribunal Regional do Trabalho
da 8a Região, no julgamento do processo DC-TRT-Ba no 61 5/90,
entre aeroviários e empresas de aviação, sessão de 27/08/90).
Reconhecido que é, por bem desta sentença, o
caráter essencial da atividade desenvolvida pela empresa
demandada, ficam as partes obrigadas a observância dos
seguintes preceitos de interesse da comunidade regional, em
caso de greve :
a) comunicação do Sindicato a empresa, por escrito e mediante
comprovante, com antecedência
mínima de 96 (noventa e seis)
horas em relação ao instante inicial
da paralisação coletiva do trabalho;
divulgação, pelo Sindicato e pela
empresa, a clientela e ao público
em geral, da realização iminente da
greve, com antecedência mínima
de 72 (setenta e duas) horas;
nos mesmos atos de comunicação
a que referem as letras "a" e "b"
desta cláusula, deverá o Sindicato
pôr a disposição do empregador o
número de empregados
estritamente indispensáveis ao
atendimento das necessidades da
comunidade, como tal incluídas as
funções mínimas de operação em
escritório, em atendimento de
aeroporto, em manutenção e
assistência a equipamentos de
voo, em acondicionamento e
movimentação de carga de
urgência, bem como em
deslocamento urgente de
passageiros;
a empresa, reciprocamente, fica
adstrita a fazer operarem as
funções mínimas a que alude a
alínea anterior, oferecendo aos
empregados designados pelo
Sindicato as condições
necessárias.
l0 A violação a qualquer das alíneas desta cláusula
por uma ou ambas as partes, caracterizará recusa a
cumprimento de decisão proferida em dissidio coletivo,
para o efeito de aplicação da multa prevista nos artigos
722, letra "a" e 724, letra "a", da Consolidação das Leis
do Trabalho triplicada e convertida em BTN, na forma do
art. 2 O da Lei 7855 de 24-10-89, mais juros de mora por
atraso no pagamento.
2 O Considera-se 'reincidência no descumprimento
desta cláusula a repetição ou continuidade do ato ou
omissão, a cada dia.
3' A execução do disposto nesta cláusula, nos
termos do art.16, item XV, do Regimento Interno do
Tribunal, bem como do art. 682, item VI, da Consolidação
das Leis do Trabalho, incumbirá ao seu Juiz Presidente.