universidade tuiuti do paranÁ - tcc...

44
1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ IARA BUFFARA SIMÕES DOENÇAS RELACIONADAS À MÁ NUTRIÇÃO DO COELHO DOMÉSTICO (Oryctolagus cuniculus) CURITIBA 2015

Upload: ngohanh

Post on 09-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

IARA BUFFARA SIMÕES

DOENÇAS RELACIONADAS À MÁ NUTRIÇÃO DO COELHO

DOMÉSTICO (Oryctolagus cuniculus)

CURITIBA

2015

2

IARA BUFFARA SIMÕES

NUTRIÇÃO DE COELHOS DOMÉSTICOS RELACIONADA AOS

PROBLEMAS DE TRATO GASTROINTESTINAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária.

Orientadora: Prof.ª Ana Luisa Palhano Silva

CURITIBA

2015

3

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró Reitora Acadêmica

Prof.ª Carmem Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Prof.ª Roberval Eloy Pereira

Secretário Geral

Prof. João Henrique Ribas de Lima

Diretor da Faculdade de Ciência Biológica e da Saúde

Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof º Welington Hartmann

Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária

Profº Ricardo Maia

CAMPUS BARIGUI

Rua Sidney A. Rangel dos Santos 238 - Santo Inácio

Cep 82010-330- Curitiba- Paraná 3331-7700

4

TERMO DE APROVAÇÃO

IARA BUFFARA SIMÕES

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título

de Médico Veterinário por uma banca examinadora do Curso de Medicina

Veterinária de Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 26 de novembro de 2015.

________________________

Medicina Veterinária

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________

Orientador: Ana Luisa Palhano Silva

Universidade Tuiuti do Paraná

_________________________

Lucyenne G. Popp B.

Universidade Tuiuti do Paraná

_________________________

Ana Laura Angeli

Universidade Tuiuti do Paraná

5

APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao curso de Medicina

Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti

do Paraná, com requisito parcial para obtenção do título de Médica Veterinária, é

composto de Revisão bibliográfica e Relatório de Estágio, no qual estão descritas as

atividades realizadas durante o período de 27 de julho de 2015 a 03 de outubro de

2015, período este em que estagiei Na Clínica Vida Livre – Medicina de Animais

Selvagens, localizado na cidade de Curitiba – PR cumprindo o estágio curricular e o

relato de um caso que versa sobre doença gastrointestinal.

6

AGRADECIMENTOS

Enfim mais um caminho chegou ao fim, dando a oportunidade da abertura de

muitos outros. Foram cinco anos que passaram devagar, onde muitos tropeços,

reviravoltas e boas memórias aconteceram. Posso dizer que tudo isso me fez uma

pessoa melhor e mais sábia.

Agradeço primeiramente a Deus, que me ajudou e me guiou em todos os

momentos, até mesmo naqueles que achava que não teriam uma solução, ajudou a

ver que com fé os sonhos podem ser realizados.

Agradeço aos meus pais Adriana e Benedito, que sempre incentivavam de um

jeito peculiar, com algumas broncas, conselhos e até mesmo algumas discussões

que no fim terminavam bem e com novos conceitos que me ajudaram a seguir em

frente. Sempre dizendo que se era o meu sonho, que deveria seguir em frente não

importava o que acontecesse. Aos meus irmãos Luana e Ubiratan, que mesmo não

morando mais na mesma casa, sempre mostraram seu apoio e sempre me

incentivando a continuar em frente e sempre estendendo a mão quando era preciso.

Um agradecimento especial a Caroline, minha madrinha de crisma, esposa do meu

irmão e praticamente uma irmã, que sempre estava presente me incentivando em

todos os aspectos. Sem esquecer os meus lindos sobrinhos Isabela, Gabriela, Victor

e Rafaela, com seus gestos e carinhos dizendo que sou a tia mais legal do mundo

por cuidar dos bichinhos.

As minhas amigas Carolina e Natália, que são parceiras de anos antes da

faculdade ter inicio, que me aguentavam sofrendo com os trabalhos, escutando os

casos estranhos e divertidos que passava e sempre incentivando a continuar em

frente, por mais que fosse difícil. Aos minhas queridas amigas Flávia, Aline e

Mariana, que sempre estavam ali me dando apoio, força e até mesmo alguns

puxões de orelha quando saia demais do caminho. Não podendo esquecer-se da

Bruna, uma veterinária que se tornou uma amiga importante que me ajudou muito

em tudo, não só com assuntos da graduação, mas também com todos os problemas

pessoais, que me fez aprender a seguir em frente.

Ao pessoal da Clínica Vida Livre Paula, Petra, José Carlos, Adriane, Eduardo,

Thali, Valéria, Paulo e Márcia, que foram praticamente minha segunda família

7

durante o período de estágio, todos os momentos divertidos e os sérios, os

conselhos e todo o aprendizado que me proporcionaram ao longo da graduação,

não existem palavras para agradecer a todos vocês. Não se esquecendo de citar

algumas estagiárias que marcaram a minha vida e tornaram o estágio super

divertido e produtivo, um agradecimento grande a Lívia, Bruna (B2), Bruninha e

Jhennyfer.

Agradeço aos animais, pois são eles a razão de toda essa jornada, ao meu

cachorro Sheik lindo e companheiro, por vezes cobaia para estudo, ao meu

camundongo Lasanha, que me mostrou como roedores podem ser carinhosos e por

muitas vezes bem mal humorados, ao meu canário Belo Antônio, que mostrou como

aves podem ser mal humoradas também, mas queridas quando querem, a minha

linda Duda, uma beagle muito simpática que não está mais entre nós e me mostrou

como o caminho de exercer a profissão seria complicado e ao meu gato Fígaro,

espero que estejam em um lugar melhor.

Agradeço aos meus professores e mestres Milton Morishin, Ana Carolina Aust,

Ana Luisa Palhano, Silvana Krychak, sempre incentivando, inspirando e ajudando

sempre que possível com seus ensinamentos. Agradeço aos demais mestres pelo

aprendizado que proporcionaram.

8

Dedico este trabalho a minha mãe, meu pai,

meus irmãos e amigos, pois foram eles

que contribuíram para a realização deste sonho,

.

9

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Gráfico referente ao atendimento em agosto de 2015 ........................... 16

FIGURA 2 - Gráfico referente ao atendimento em Setembro .................................... 17

FIGURA 3 - Gráfico de relação de mamíferos atendidos .......................................... 17

FIGURA 4 - Seção esquemática transversal do crânio do Coelho mostrando a

dentição. (QUESENBERRY, 2012) ........................................................................... 23

FIGURA 5 - Diagrama esquemático da anatomia do trato digestivo do coelho

(HARCOURT-BROWN, 2002) ................................................................................... 24

FIGURA 6 - Vista lateral de um coelho com exibição de hipomotilidade

gastrointestinal. (HARCOURT-BROWN, 2002) ......................................................... 32

FIGURA 7 - Radiografia lateral de um coelho com estase gastrointestinal secundária

cálculos renais e uretrais. Note-se a distensão do estômago com ingesta (setas

pretas) e grandes quantidades de gás dentro do intestino e ceco (setas brancas),

característica da gastrointestinal estase. (QUESENBERRY, 2012) .......................... 36

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados biológicos e reprodutivos (HARCOURT-BROWN, 2002) ............. 20

Tabela 2 - Valores hematológicos de coelhos. (CARPENTER, 2012) ...................... 21

Tabela 3 - Valores bioquímicos de coelhos. (CARPENTER, 2012) .......................... 21

TABELA 4 - Agentes terapêuticos usados no tratamento de hipomotilidade

gastrointestinal (HARCOURT-BROWN, 2002) .......................................................... 33

11

ABREVIATURAS

VO – Via oral

SC - Subcutâneo

IM - Intramuscular

IV - Intravenoso

NaCl – Cloreto de Sódio

BID – “Bis in die” duas vezes ao dia

SID – “semel in die” uma vez ao dia

AINES – Anti-inflamatórios não esteroidais

mg - Miligramas

Kg - Kilogramas

12

Sumário

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15

2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ........................................................... 15

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ...................................................................... 15

3.1 CLÍNICA MÉDICA ........................................................................................ 15

3.2 CLÍNICA CIRÚRGICA .................................................................................. 18

3.3 EXAMES COMPLEMENTARES .................................................................. 18

3.3.1 Diagnóstico por imagem ........................................................................ 18

3.3.2. Exames laboratoriais ............................................................................. 19

4. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 19

4.1 ASPECTOS GERAIS ................................................................................... 19

4.1.1 Crescimento e desgaste dentário .......................................................... 22

4.1.2 Mecanismos digestivos .......................................................................... 23

4.3. NUTRIÇÃO .................................................................................................. 26

4.4. DOENÇAS GASTROINTESTINAIS ............................................................. 31

4.4.1. Íleo ......................................................................................................... 31

4.4.2. Estase gástrica ...................................................................................... 34

4.4.3. Constipação ........................................................................................... 37

5. RELATO DE CASO ........................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43

13

RESUMO

O presente trabalho visa avaliar a importância da adequada e equilibrada

alimentação nos coelhos domésticos (Oryctolagus cuniculus) a fim de evitar

complicações gastrointestinais. Com o aumento na popularidade desses animais

como pets domésticos, a preocupação com a alimentação tem se tornado maior e

deve ser dada a devida atenção aos pequenos cuidados. Para este estudo foram

acompanhadas consultas a fim de analisar o padrão de alimentação prévia à

ocorrência da doença, visando verificar a possível influência da alimentação. Pode-

se concluir que um dos maiores aspectos limitantes é a falta de instrução sobre

alimentação e hábitos no momento que o proprietário adquire o animal. Além disso,

uma má nutrição pode acarretar problemas graves e irreversíveis caso não se

obtenha ajuda o mais rápido possível.

Palavras-chave: Coelhos; Doenças gastrointestinais; Nutrição; Oryctolagus

cuniculus;

14

Abstract

This study aims to evaluate the importance of proper and balanced diet in domestic

rabbits (Oryctolagus cuniculus) in order to prevent gastrointestinal complications.

With the increase in popularity of these animals as domestic pets, the concern about

food has become increasingly large and should be given due attention to small care.

For this study were followed consultations in order to analyze the pattern of previous

supply to the occurrence of the disease, in order to verify the possible influence of

diet. It can be concluded that one of the most limiting aspects is the lack of education

about food and habits at the time the owner acquires the animal. Moreover, poor

nutrition can have serious and irreversible problems if they do not get help as quickly

as possible.

Key words: Gastrointestinal disorders; Nutrition; Oryctolagus cuniculus; Rabbits;

15

1. INTRODUÇÃO

O estágio curricular teve seu inicio no dia 27/07/2015 e término no dia

03/10/2015 na Clínica Veterinária Vida Livre – Medicina de Animais Selvagens, onde

o horário de atendimento agendado ocorre de segunda à sexta, das 9h até às 18

horas, e sábados das 9 às 16 horas. Há também a possibilidade de atendimento

domiciliar pelos profissionais da clínica.

2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A clínica foi criada em 1998 e atualmente possui sede na Rua Petit Carneiro

número 77, Água Verde, Curitiba, Paraná. Com especialidade em animais silvestres,

o atendimento compreende pets silvestres e animais de vida livre, aceitos como

doação por órgãos públicos como IBAMA, Policia Ambiental ou por pessoas comuns.

Dentre as atividades exercidas na clínica estão o atendimento clínico e

cirúrgico, exames de auxilio diagnóstico, internamento e pet-shop.

As instalações da clínica contam com recepção, dois consultórios, sala de

radiologia com ambiente para revelação, farmácia, centro cirúrgico, banheiro,

cozinha, gaiolário, lavanderia, biblioteca, sala de necropsia, laboratório de analises

clínicas, área para internamento onde consiste em alas separadas para aves,

mamíferos e répteis e uma sala especifica para animais recebidos de vida livre.

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Durante o período de estágio foram acompanhadas: as áreas de clínica

médica, cirúrgica, exames complementares; internamento e necropsia.

3.1 CLÍNICA MÉDICA

Cada consultório conta com equipamentos necessários para exame físico:

mesa de procedimento, medicamentos, luvas ou toalhas para contenção, álcool,

PVPI, água oxigenada, balança e caixas para pesagem, caixa com instrumental e

material para imobilizações e curativos.

Como protocolo da clinica durante o primeiro atendimento do animal são

passadas as recomendações alimentares e ambientas visando instruir um método

16

mais seguro e saudável de cuidar do animal. O paciente só é contido e avaliado

após anamnese.

O exame físico consiste em auscultação cardiorrespiratória, palpação de

membros e região abdominal, exame de cavidade oral, avaliação de coloração e

aspectos de pelos/penas, grau de hidratação, escore corporal e pesagem do animal.

Ao chegar um paciente novo é aberta uma ficha clínica e para cada classe de

animais é utilizada uma cor diferente, sendo vermelha para aves, azul para

mamíferos e verdes para répteis.

Existe uma planilha para o controle diário dos atendimentos e também

arquivos separados para animais em tratamento dos demais pacientes.

Tratando-se de animais silvestres é sabido que são animais com nível de

estresse maior e eventualmente dependendo da enfermidade o animal pode precisar

ser internado para monitoramento e cuidados clínicos. O acondicionamento desse

paciente pode ser em gaiola própria ou na de propriedade clínica, que deve ser

identificada com nome, ficha clínica, espécie, histórico/quadro, pertences e

observações.

As Figura 1, 2 e 3 apresentam a frequência de atendimento durante o período

de estágio, totalizando 384 mamíferos, 659 aves e 20 répteis.

FIGURA 1 - Gráfico referente ao atendimento em agosto de 2015

Agosto

Aves 58%

Mamiferos 39%

Repteis 3%

17

FIGURA 2 - Gráfico referente ao atendimento em Setembro

FIGURA 3 - Gráfico de relação de mamíferos atendidos

Dos mamíferos atendidos, 116 eram coelhos, onde 30 animais tiveram

problemas relacionados à má nutrição.

Setembro

Aves 67%

Mamiferos 32%

Repteis 1%

Agosto e Setembro

Mamiferos

Coelhos 23%

18

3.2 CLÍNICA CIRÚRGICA

As cirurgias eletivas são atualmente realizadas às quartas-feiras, mas às

vezes ocorrem cirurgias emergenciais em outros dias. Em média são realizadas três

a quatro cirurgias por semana.

A clínica é equipada com os equipamentos básicos para um centro cirúrgico

tais como mesa de procedimento, medicamentos necessários, equipamento de

anestesia inalatória, autoclave e (instrumental – 3 caixas, lâmpada de cabeça). Os

procedimentos são sempre realizados por um cirurgião, com auxilio de um

anestesista e um auxiliar quando necessário. Para que se possa acompanhar as

cirurgias é necessária a utilização de máscara e touca, evitando assim possíveis

contaminações.

Há uma rotina grande de desgastes dentários, pois estes animais que tem

uma predisposição a ter problemas dentários onde ocorre o hipercrescimento sendo

assim necessário o desgaste, onde há a necessidade de anestesia geral do animal,

onde foram acompanhados esses procedimentos em porquinhos-da-índia (Cavia

porcellus) e em chinchilas (Chinchila lanigera), assim como castrações tanto de

fêmeas quanto de machos de coelhos (Oryctolagus cuniculus) por opção do

proprietário ou por alguma patologia.

3.3 EXAMES COMPLEMENTARES

3.3.1 Diagnóstico por imagem

Radiologia

A clínica conta com equipamento de radiologia e ultrassonografia. Para o

exame é necessário à utilização de paramentação especifica antes de posicionar o

animal. Cada radiografia deve ser identificada com data e ficha clínica. A revelação

das imagens é feita de forma manual e realizada na hora.

Esse procedimento é utilizado com freqüência nos quelônios, em busca de

corpos estranhos e pneumonia, secundariamente nos roedores e lagomorfos, sendo

relacionado ao crescimento dentário, por ultimo aves devido elevado estresse por

vezes é evitado, mais possibilita visualização de distocia e fraturas.

19

Ultrassonografia

Esse procedimento foi sido utilizado primariamente em pequenos mamíferos

tendo destaque em furões (Mustela putorius furo) para avaliação de baço, adrenal e

rins, coelhos (Oryctolagus cuniculus) para avaliação de TGI e trato reprodutivo,

principalmente.

3.3.2. Exames laboratoriais

São feitos exames coproparasitológicos pesquisando endoparasitos e swab

de cavidade oral buscando possíveis causas para estomatites. Também são

realizados exames de sangue para alguns pacientes de acordo com a necessidade.

Atualmente, a clínica possui uma médica veterinária que atua exclusivamente com

exames laboratoriais.

4. REVISÃO DE LITERATURA

4.1 ASPECTOS GERAIS

Os coelhos são animais sociais que vivem em colônias hierárquicas. No

estado natural, saem da toca para se alimentar com ervas e vegetais durante a noite,

até a madrugada, e permanecem escondidos durante o dia. A expectativa de vida

dos coelhos, em média, é de seis a oito anos. Os recordes de longevidade não

ultrapassam 12 anos. (QUINTON, 2005)

Em geral, são animais dóceis e simpáticos. Sua natureza calma e requisitos

de alojamento e de maneio relativamente simples têm contribuído para sua

crescente popularidade como animais de estimação. (BANKS, 2010)

São criaturas inteligentes que requerem estimulação mental, a fim de evitar

um comportamento estereotipado. A curiosidade natural do coelho e a necessidade

de escavar podem ser satisfeitas com o uso de caixas de papelão para mastigar e

esconder-se embaixo. Seu instinto de forrageamento pode ser desenvolvido

20

espalhando comida e guloseimas em todo o seu ambiente, para que ele possa ter

tempo para procurar comida. (RICHARDSON, 2000)

São animais com um alto grau de predação, o que, consequentemente,

desenvolveu bastante seus órgãos sensoriais. Possuem uma córnea larga,

ocupando 30% do globo ocular, e os olhos estão voltados mais lateralmente do que

as da maioria dos mamíferos. Essas duas características dão aos coelhos um

campo panorâmico de visão para detectar predadores prontamente. No entanto,

seus olhos não podem visualizar a pequena área abaixo da boca (ponto cego), e os

coelhos dependem da sensibilidade dos lábios e vibrissas para a discriminação dos

alimentos. Ossos de coelhos são relativamente delicados em comparação com a

sua massa muscular. (QUESENBERRY, 2012).

A tabela 1 apresenta os dados biológicos e reprodutivos dos coelhos

(HARCOURT-BROWN, 2002)

Tabela 1 – Dados biológicos e reprodutivos (HARCOURT-BROWN, 2002)

Dados biológicos básicos dos coelhos

Tempo de vida: 6–13 anos Volume de urina: 20–250 ml/kg/24 h. Água ingerida: 50–100 ml/kg/24 h Temperatura ambiental ideal: 15–20°C Temperatura retal: 38.5–40°C Frequência cardíaca: 130–325 bpm Frequência respiratória: 32–60 bpm Tempo de vida dos eritrócitos: 50 dias Volume sanguíneo: 55–65 ml/kg Tempo de trato gastrointestinal: 4–5 h Pressão intraocular: 5–23 mmHg Dados reprodutivos

Puberdade 4–5 meses em raças pequenas 5–8 meses em raças grandes Descida dos testículos: 10–12 semanas Intervalo entre castração e

infertilidade: 4 semanas

Gestação: 30–32 dias Composição do leite: 13–15% proteína, 10–12% gordura e 2%

carboidratos. Peso de nascimento: 40–100 g Abertura dos olhos: 7 dias

As amostras de sangue podem ser obtidas a partir de vários locais de fácil

acesso em coelhos: a veia marginal da orelha, artéria central da orelha, da veia

safena lateral, e a veia jugular. (BANKS, 2010) A contagem de leucócitos em

coelhos varia consideravelmente por causa de flutuações diurnas, nutrição, e as

21

diferenças de sexo, idade e raça. (Quesenberry, 2012) A tabela 2 apresenta os

valores hematológicos de coelhos. (CARPENTER, 2012)

Tabela 2 - Valores hematológicos de coelhos. (CARPENTER, 2012)

Parâmetros Valores

Hematócrito (%) 30-50

Hemoglobina (g/dL) 8-17.5

Hemácias (106/μL) 4-8

Volume corpuscular médio (fL) 58-75

Hemoglobina corpuscular média (pg) 17.5-23.5

Concentração de Hemoglobina

corpuscular média (g/dL)

29-37

Reticulocitos (%) 2-4

Plaquetas (10³/μL) 290-650

Glóbulos brancos (10³/μL) 5-12

Neutrófilos (%) 35-55

Linfócitos (%) 25-60

Monócitos (%) 2-10

Eosinófilos (%) 0-5

Basófilos (%) 2-8

A bioquímica sanguínea do coelho difere essencialmente daquela de outras

espécies, ao mostrar a calcemia anormalmente elevada. Nessa espécie, a absorção

intestinal de cálcio não é controlada pela vitamina D e pelo hormônio da paratireoide;

a calcemia é um reflexo do teor de cálcio da dieta. (QUINTON, 2005) (CUBAS, 2007)

Tabela 3 - Valores bioquímicos de coelhos. (CARPENTER, 2012)

Parâmetros Valores

Fosfatase alcalina (U/L) 4-70

ALT (U/L) 14-80

Amilase (U/L) 200-500

AST (U/L) 14-113

Bicarbonato (mEq/L) 16.2-31.8

Ácidos biliares (μmol/L) <40

Bilirrubina, total (mg/dL) 0-0.75

22

Cálcio (mg/dL) 8-14.8

Chloride (mEq/L) 92-112

Colesterol (mg/dL) 12-116

Creatinina (mg/dL) 0.5-2.6

Glicose (mg/dL) 75-150

Lactato Desidrogenase (LDH) (U/L) 34-129

Lipídios, total (mg/dL) 280-350

Fósforo (mg/dL) 2.3-6.9

Potássio (mEq/L) 3.5-7

Proteína, total (g/dL) 5.4-7.5

Albumina (g/dL) 2.5-5

Globulina (g/dL) 1.5-3.5

Sódio (mEq/L) 138-155

Triglicerídeos (mg/dL) 124-156

T3 (ng/dL) 130-430

T4 (μg/dL) 1.7-2.4

Ureia nitrogenada(mg/dL) 15-50

Vitamina A, plasma (μg/mL) 30-80

Vitamina E, plasma (μg/mL). >1

Vitamina D3 (pmol/L) 20-45 (Ao ar livre)

4.1.1 Crescimento e desgaste dentário

Os dentes dos coelhos crescem continuamente ao longo das suas vidas. A

fórmula dental coelho é 2 ( I2 / 1 , C0 / 0 , PM3 / 2 , M3 / 3 ) = 28. É clinicamente útil

dividir a dentição do Coelho em dois grupos, o conjunto de dentes incisivos e o

conjunto de dentes da bochecha (pré-molares e molares). Cada dente da arcada

bochecha pode ser dividido em quadrantes (superior e inferior no lado direito e

esquerdo). A boca do coelho também apresenta um diastema relativamente longo.

(QUESENBERRY, 2012), conforme pode-se observar na Figura 4.

23

FIGURA 4 - Seção esquemática transversal do crânio do Coelho mostrando a dentição. (QUESENBERRY, 2012)

Os movimentos de mastigação são laterais. A dentição do coelho é adaptada

a um desgaste relacionado aos movimentos de mastigação praticamente

permanente, durante todo o dia. A velocidade de crescimento dos dentes é

considerável (os incisivos crescem três a quatro mm por semana; os molares, três a

quatro mm por mês), em função da adaptação ao rápido desgaste decorrente do

regime alimentar do coelho. (QUINTON, 2005)

4.1.2 Mecanismos digestivos

Os coelhos são herbívoros com fermentação no intestino grosso e a

microflora cecal altera a digestão e torna disponível para ser re-ingerido por

cecotrofia (ingestão das fezes moles), uma parte essencial do processo digestivo

normal do coelho. O trato gastrointestinal consiste em um simples e grande intestino,

pâncreas, intestino delgado, um bem desenvolvido e grande cedo e o intestino

grosso dividido em colo proximal e distal. O ceco desempenha um papel importante

na digestão de alimentos e contém a população bem estabelecida de diferentes

tipos de bactérias, tais como as espécies Bacteroides spp, fumigatus spp, Bacillus

spp e Enterococcus spp. (BENATO, 2015)

O trato gastrointestinal do coelho é uma estrutura altamente complexa, que

processa e digere alimentos, em grande parte, com a ajuda de uma enorme

população de bactérias, mas com um sistema tão complexo, qualquer perturbação

24

pode fazer pender a balança em um estado de doença que pode rapidamente

tornar-se fatal. (MEREDITH, 2010)

O trato digestivo do coelho é adaptado para a digestão de grandes

quantidades de alimentos fibrosos. (HARCOURT-BROWN, 2002) (Figura 5)

FIGURA 5 - Diagrama esquemático da anatomia do trato digestivo do coelho (HARCOURT-BROWN, 2002)

O estômago, que se dilata pouco, estoca o alimento ingerido. Funciona como

um reservatório de alimentos e normalmente não fica vazio (QUINTON, 2005), A

cárdia e o piloro são bem desenvolvidos. O esôfago possui um esfíncter muscular

25

maciço e uma roseta serrilhada na mucosa do orifício cardíaco; Estas duas

estruturas formam um perfeito fechamento automático entre estômago e esôfago,

sendo assim os coelhos são incapazes de vomitar. (QUESENBERRY, 2012) Juntos,

o ceco e o estômago contêm mais de 80% da digesta e a quantidade de material em

si é dependente da idade, raça, dieta e hora do dia. Água e grandes quantidades de

ácido são secretadas no estômago. (HARCOURT-BROWN, 2002)

O estômago do coelho é extremamente ácido (pH 2), que efetivamente mata

as bactérias e outros microrganismos, com isso o estômago e o intestino são

essencialmente estéreis. Em coelhos em amamentação, a acidez do estômago é

mais elevada (pH 5-6.5) e, após o desmame, cai para cerca de dois a três. Essa é a

razão pela qual os coelhos em desmame são tão suscetíveis à diarreia, uma vez que

o pH do estômago não é baixo o suficiente para matar as bactérias ingeridas.

(QUESENBERRY, 2012)

Intestino delgado

A microbiota nativa do intestino delgado é muito reduzida. A degradação do

bolo alimentar, que começa no estômago, prossegue sob a ação da bile, do suco

pancreático e do suco intestinal. (QUINTON, 2005)

O intestino delgado é mais curto em coelhos do que em outras espécies,

tornando-se aproximadamente 12 % do volume total do trato gastrointestinal. O

duodeno e jejuno tem um lúmen relativamente pequeno. (QUESENBERRY, 2012)

O final do íleo é expandido em um alargamento de paredes espessas e

esféricas conhecidas como sacculus rotundus que forma a junção entre o íleo, ceco

e cólon proximal. O sacculus rotundus é exclusivo dos coelhos e tem agregações

abundantes de tecido linfoide e macrófagos na lamina própria e submucosa. Uma

válvula ileocólica controla o movimento de digesta do íleo para a sacculus rotundus

e também impede o fluxo inverso para o intestino delgado. (HARCOURT-BROWN,

2002)

Intestino Grosso

Possuem um grande ceco, de paredes finas e em espiral. O fusus coli, uma

seção mais espessa do cólon fortemente fornecido com agregados de células

ganglionares separa o cólon proximal do distal. O fusus coli atua como um marca-

passo que controla as contrações para excretar os dois tipos de fezes distintas que

os coelhos produzem: um sedimento fecal seco, duro, que é descartado e um

26

sedimento fecal macio, que está contido dentro de um envelope mucoso forte

(também conhecido como fezes moles, fezes noturnas ou cecotrofos).

(QUESENBERRY, 2012)

Cecotrofia

As fezes moles aparecem como um agrupamento em vez de simples pelotas,

como típico das fezes duras e são produzidas um ou dois períodos por dia. Aderem-

se aos pelos ao redor do ânus e são ingeridos diretamente e engolidos sem

mastigação. Eles permanecem no interior da membrana de muco para até 6 horas

após a ingestão, onde são mantidos contendo um pH relativamente neutro por conta

de seus altos níveis de tampões de fosfato. (QUESENBERRY, 2012)

Este processo de cecotrofia permite a absorção de nutrientes e produtos

bacterianos de fermentação (aminoácidos, ácidos graxos voláteis e vitaminas do

complexo B e K), e a digestão dos alimentos que não foram digeridos. Um alimento

pode, assim, passar duas vezes através do trato digestivo em 24 horas. (MEREDITH,

2010)

4.3. NUTRIÇÃO

A dieta básica coelho de estimação deve ser composta de volumosos frescos,

verduras e concentrado.

Uma dieta apropriada para um coelho tem como objetivo fornecer fibra

suficiente para suportar a motilidade gastrointestinal normal, enquanto assegurando

quantidades adequadas e tipos apropriados de nutrientes digestíveis são

disponibilizados para a fermentação pela microflora cecal. Além disso, a dieta deve

promover um comportamento normal de forrageamento ao longo do dia. Como para

todos os animais, dieta inadequada é um fator predisponente para muitas doenças

na espécie, incluindo as do trato gastrointestinal. (QUESENBERRY, 2012)

A maior parte da dieta deve consistir de grama e/ou feno de boa qualidade, e

isso deve estar disponível em todos os momentos. Os alimentos verdes também são

importantes e devem ser alimentados diariamente - exemplos são brócolis, couve,

chicória, dente de leão, acelga, salsa, agrião, folhas de aipo, escarola, radite,

manjericão, couve, folhas de cenoura e folhas de beterraba. A fruta deverá ser

considerada como petisco e oferecida apenas em quantidades limitadas. Itens ricos

em gordura ou carboidratos devem ser evitados completamente. Estes incluem a

27

maioria dos 'mimos' comerciais, feijões, ervilhas, milho, pão, cereal, nozes,

sementes e chocolate. (MEREDITH, 2010)

Qualquer mudança na dieta deve ser instituída lentamente para permitir que a

microflora intestinal possa se ajustar. Independentemente do problema apresentado,

aconselhamento dietético deve ser dado a qualquer proprietário de um coelho com

uma história sugestiva de desnutrição. (QUESENBERRY, 2012)

Fibras

Um dos componentes mais importantes da dieta de coelho. O tamanho de

partícula e a digestibilidade da fibra são também importantes. (RICHARDSON, 2000)

A fibra dietética pode ser dividida em fibra não digestível que passa

diretamente através do trato alimentar, sem entrar no ceco e fibra digestiva que é

dirigido para o ceco e proporciona um substrato para a degradação bacteriana e de

fermentação cecal pela microflora. (HARCOURT-BROWN, 2002) Na tabela 4

mostra-se a importância de cada fibra.

Fibra indigesta é importante:

• Estimular a motilidade do intestino que

move digesta e fluido para dentro do ceco para a

fermentação.

• Fornecer material de forragem para

evitar o tédio e problemas comportamentais

como a mastigação de pelo.

• Fornecer exercício dental e desgaste

dental ideal.

• Estimular o apetite e ingestão de

cecotrofos.

Fibra fermentável é importante:

• Fornecer um substrato para a

microflora cecal.

• Fornecer pH cecal ideal e produção de

ácidos graxos voláteis.

• Evitar a proliferação de bactérias

patogênicas no ceco.

• Aumenta o teor de fibras dos

cecotrofos, por isso eles têm consistência firme.

Tabela 4 - A importância da fibra dietética para coelhos. (HARCOURT-BROWN, 2002)

É particularmente importante para a manutenção de um sistema digestivo

saudável que a dieta seja rica em fibras, mantendo o equilíbrio correto da flora

bacteriana no ceco. Coelhos em dietas de alta fibra raramente sofrem de enterite

muco, ou enterotoxemia. Dietas com alta quantidade de fibras também irá proteger

contra enterotoxemia quando os antibióticos são dados. (RICHARDSON, 2000 )

Proteína

28

O nível de proteína na dieta recomendada é de 12-13%%. (RICHARDSON,

2000)

As proteínas são constituídas por aminoácidos essenciais e não essenciais.

Grama é uma fonte de proteínas e aminoácidos para coelhos. É rica em arginina,

glutamina e lisina, mas a metionina e a isoleucina são limitantes. (HARCOURT-

BROWN, 2002)

Coelhos obtêm aminoácidos diretamente dos alimentos que ingerem e de

cecotrofos. Proteína excessiva na dieta pode aumentar os níveis de amônia cecais e

resultar em alterações no pH cecal. Disbiose Cecal e crescimento excessivo de

microrganismos patogénicos podem ocorrer. (QUESENBERRY, 2012)

As dietas ricas em proteínas irão levar a um aumento na produção de

amoníaco e de excreção, e isto pode aumentar a susceptibilidade do coelho para

manifestações respiratórias, e infecções oculares. (RICHARDSON, 2000)

Gordura

A gordura dietética reduz a absorção intestinal de cálcio devido à formação de

sabões de cálcio no intestino. Estimula a motilidade gastrointestinal e melhora a

palatabilidade da dieta. (HARCOURT-BROWN, 2002)

A exigência dietética de gordura é de 1-3%; 1 % de gordura é adequado para

manutenção, e de 3% para a gravidez e crescimento. Óleos vegetais, soja e linhaça

são mais digeríveis do que gorduras animais. (RICHARDSON, 2000)

Coelhos de estimação, no entanto, são propensas à obesidade e lipidose

hepática; portanto, as dietas ricas em gordura devem ser evitadas.

(QUESENBERRY, 2012)

Carboidratos

Os coelhos têm pouca necessidade de carboidratos não fibrosos. No entanto,

muitos coelhos domésticos são alimentados com guloseimas açucaradas

regularmente. (RICHARDSON, 2000) Os açúcares simples e amidos são utilizados

como fonte de energia, mas deve ser tomado cuidado para assegurar que os níveis

excessivos não sejam alimentados. (QUESENBERRY, 2012) Isso causa obesidade

e incentiva enterotoxemia. (RICHARDSON, 2000)

29

Vitaminas e Minerais

Durante o processo de digestão a microflora do ceco sintetiza vitaminas B, C

e K. Estes são então retornados para o coelho nos cecotrofos ingeridos durante

cecotrofia. As vitaminas A, D e E estão incluídos na ração peletizada. As vitaminas B

e K devem ser consideradas em termos de suplementação para os coelhos que são

incapazes de praticar cecotrofia. (RICHARDSON, 2000)

Vitamina A

Coelhos de estimação consumindo grama fresca e vegetais não são

susceptíveis de ter deficiência de vitamina A devido a sua elevada concentração

nesses alimentos. (Quesenberry, 2012) Esta deve ser incorporada na ração a uma

quantidade de 10 000 UI / kg. Deficiência de vitamina A irá resultar em infertilidade,

abortos, a reabsorção e aumento da mortalidade neonatal. Deficiência de vitamina A

ou excesso pode causar hidrocefalia. A alfafa é rica em vitamina A, e se alimentar

com ração rica em vitamina A pode também conduzir ao desenvolvimento de

hidrocefalia. Coccidiose hepática irá diminuir os níveis hepáticos de ambas as

vitaminas A e E. (RICHARDSON, 2000)

Vitamina C

Esta vitamina é também sintetizada durante o processo de digestão. No

entanto, a suplementação de vitamina C pode ser benéfica no tratamento de

doenças respiratórias, e na prevenção da enterotoxemia, uma vez que podem inibir

a produção de toxina. Ele pode ser dado a uma dose de 100 ± 50 mg / kg por dia.

Overdose não ocorre, pois o excesso é excretado através dos rins. (RICHARDSON,

2000)

Vitamina D

A vitamina D é uma vitamina solúvel em gordura que é também um hormônio,

que desempenha um papel importante no metabolismo do cálcio e do fósforo.

(HARCOURT-BROWN, 2002) sintetizado na pele após a exposição à luz do sol e/ou

fornecido pela dieta. (QUESENBERRY, 2012)

30

O excesso de vitamina D pode ser um fator de absorção excessiva de cálcio,

e o desenvolvimento de calcificação distrófica dos vasos sanguíneos renais e da

aorta (em níveis de 2300 UI / kg de ração). (RICHARDSON, 2000)

Vitamina E

É uma vitamina solúvel em gordura que atua sinergicamente com selénio na

maioria dos animais e evita danos de peróxidos no tecido, (HARCOURT-BROWN,

2002) podem ser adicionados à dieta por suplementação com germe de trigo. Este é

incorporado na ração média concentrado a uma taxa de 50 mg/kg. A deficiência de

vitamina E pode levar à redução da fertilidade (RICHARDSON, 2000), e associada

com distrofia muscular, infertilidade, abortos, natimortos e aumento da

susceptibilidade a coccidiose. (QUESENBERRY, 2012)

Vitamina K

É um fator de coagulação. Deficiência causa a coagulação inadequada do

sangue. É produzido por micro-organismos cecais e é um constituinte dos cecotrofos.

Grama, também contém vitamina K. As deficiências não são susceptíveis de ocorrer

em coelhos de estimação. (HARCOURT-BROWN, 2002)

A exigência dietética é desconhecida, mas a suplementação alimentar não

deve ser necessária se o animal é capaz de cecotrofia. (QUESENBERRY, 2012)

Cálcio

O mineral mais abundante no corpo. Em combinação com o fósforo que forma

o material denso e duro, de ossos e dentes. É um cátion importante no fluido

intracelular e extracelular, e é essencial para a coagulação do sangue, as

contrações musculares, a atividade das células nervosas, a regulação hormonal e

para a manutenção e a estabilidade das membranas celulares. (HARCOURT-

BROWN, 2002)

O coelho tem um metabolismo anormal de cálcio. O nível de cálcio no plasma

não é regulado pela vitamina D e paratormônio como em outros mamíferos, mas

varia diretamente com o nível de cálcio na dieta. O excesso de cálcio é excretado

através do sistema urinário, tornando bexiga e pedras nos rins uma ocorrência

comum se as dietas são ricas em cálcio. A calcificação metastática também pode

31

ocorrer com dietas de elevado teor de cálcio. Por outro lado, tanto do cálcio na dieta

é realizada na porção peletizada da ração, os coelhos que são seletivos e deixam de

lado a ração podem ter uma baixa ingestão de cálcio. Isto leva à osteoporose,

particularmente evidente nas vértebras, e ossos da mandíbula. Pobre mineralização

dos dentes e má oclusão adquiridos são consequências de uma dieta muito pobre

em cálcio. A osteoporose das vértebras leva a fraturas vertebrais. A necessidade

diária de cálcio de um coelho de estimação de tamanho médio é de cerca de 510 mg.

(RICHARDSON, 2000)

4.4. DOENÇAS GASTROINTESTINAIS

4.4.1. Íleo

Patogenia

Íleo, ou hipomotilidade intestinal, é a apresentação mais comum em coelhos

de estimação. É causada por vários fatores, tais como dor, stress, mudança de

ambiente, a má alimentação, doença crônica e falta de exercício. (BENATO, 2015)

Gastrintestinal (GI) hipomotilidade é a redução do esvaziamento normal do

estômago e da passagem do alimento através do trato intestinal. Boa digestão dos

alimentos e motilidade trato gastrointestinal são dependentes da ingestão de

grandes quantidades de alimentos grosseiros e feno. Dietas que contêm

quantidades inadequadas de fibra tais como a alimentação com apenas ração

peletizada comercial sem feno ou gramíneas, pode causar hipomotilidade

gastrointestinal. (OGLESBEE, 2011)

Os pelos ingeridos durante as lambeduras se acumulam exageradamente no

estômago dos coelhos. Quase nunca formam bolas de pelos, como nos carnívoros,

mas se misturam ao conteúdo do estômago. A maioria dos casos de tricobezoares

diagnosticados no coelho é consequência do retardo do esvaziamento gástrico, em

função da diminuição da motilidade estomacal. (QUINTON, 2005)

Epidemiologia

Mais comumente visto em coelhos de meia-idade a idosos em dietas

inadequadas, mas pode ocorrer em qualquer idade coelho. Visto em todas as raças

ou sexos. (OGLESBEE, 2011)

32

Sinais Clínicos

Os principais sinais clínicos são anorexia, redução ou ausência de fezes,

letargia, posição encurvada e ranger de dentes. Ao exame físico o coelho mostra

taquipnéia, taquicardia, desidratação e diminuição de sons intestinais. (BENATO,

2015)

Diagnóstico

Baseia-se nos sintomas, no histórico alimentar, na palpação de um estômago

firme e não comprimível e no exame radiográfico. (QUINTON, 2005) O exame

radiográfico pode mostrar aumento de gás gastrointestinal e estômago dilatado.

Massas fecais podem ser observadas no cólon distai se o episódio é agudo,

enquanto no caso de apresentação crônica que não estará presente. (BENATO,

2015)

FIGURA 6 - Vista lateral de um coelho com exibição de hipomotilidade gastrointestinal. (HARCOURT-BROWN, 2002)

Tratamento

Uma vez que o diagnóstico foi feito, o tratamento médico consiste em tratar a

causa e tratamento de suporte consiste de fluido terapia, analgesia, administração

de drogas pró-cinéticos e auxiliar de alimentação. (BENATO, 2015)

33

A hospitalização é muitas vezes necessária para permitir a observação de

alimentação e da produção fecal. Muitos coelhos com distúrbios digestivos requerem

fluido terapia, alimentação forçada e medicação por injeção. (HARCOURT-BROWN,

2002)

Distúrbio entérico

Hipomotilidade

Gastrointestinal

Procinéticos Analgésicos

narcóticos

Sim. Sim.

Anti-inflamatórios

não-esteroidais

Parafina Liquida

Sim. Em casos avançados

para lubrificar o conteúdo do

estômago impactado.

Probióticos Fluido terapia

Pode ser útil junto ao

tratamento.

Fluidos orais para suavizar o conteúdo do estômago e para fornecer água e eletrólitos.

Fluidos intravenosos em fases tardias.

Suporte nutricional

Fornecer fibra indigesta. Fornecer alimentos tentadores. Seringa de alimentação, se necessário: carboidratos

para fornecer energia e evitar lipidose hepática.

Sonda nasogástrica apenas como um último recurso.

TABELA 4 - Agentes terapêuticos usados no tratamento de hipomotilidade gastrointestinal (HARCOURT-BROWN, 2002)

Cristaloides isotônicos podem ser utilizados dependendo do estado de

desidratação, começando com uma taxa de manutenção de 100 ml/kg/dia. Analgesia

é fornecida, a administração de uma combinação de opióides como a buprenorfina

(0,05 mg/kg 6h) ou butorfanol (0.1-0.5mg/kg 2-4h) (BENATO, 2015), analgésicos

narcóticos como Fentanil/fluanisona (0,2-0,3 ml/kg IM (dose única)), fornece

analgesia para tratar a dor abdominal que acompanha distúrbios digestivos e

distensão gasosa das vísceras. (HARCOURT-BROWN, 2002)

Anti-inflamatórios não esteroidais, como meloxicam (0,6 mg/kg SID ou BID)

ou carprofeno (4mg/kg SID). AINES pode ser dado, se a função renal não foi

comprometida e uma vez que o animal tenha sido reidratado. Procinéticos como a

34

metoclopramida (0,5-1 mg/kg BID) e cisaprida (0,5 mg/kg BID) são então

administrados para promover a motilidade intestinal e prevenir a disbiose. A

ranitidina (2-4 mg/kg bid) é também administrada para prevenir úlceras gástricas. Se

a causa do íleo é uma dieta pobre, uma vez que o animal tenha sido liberado, o

proprietário deve corrigir gradualmente a dieta. A dieta de um coelho consiste de

feno ad libitum, com feno fresco adicionado diariamente, uma pequena quantidade

de verduras e um pequeno punhado de ração oferecido uma ou duas vezes por dia.

Mix de cereais deve ser gradualmente descontinuada e cenouras e maçãs devem

ser oferecidas apenas ocasionalmente como um petisco. (BENATO, 2015)

Parafina líquida (1-2 ml/kg BID) pode suaviza a impactação gástrica ou

conteúdo cecal. Os probióticos (conforme indicado) podem ser úteis profilaticamente

ou terapeuticamente para estimular uma flora intestinal saudável. Inativado por

antibioticoterapia oral simultânea. (HARCOURT-BROWN, 2002)

4.4.2. Estase gástrica

Patogenia

Estase gastrintestinal (GI) é de longe um dos distúrbios mais comuns

observados em coelhos de estimação, (QUESENBERRY, 2012) está associada a

uma dieta de baixa fibra e muitos carboidratos de fácil digestão, o estresse,

exercícios reduzidos e a ingestão de pelos. (BANKS, 2010) No entanto, qualquer

doença, condição dolorosa, ou evento estressante pode desencadear um episódio

de estase gastrointestinal. (QUESENBERRY, 2012)

Pode estar associada à absorção de diversos materiais não atacados pelos

sucos gástricos quando os coelhos são deixados em liberdade sem observação:

fibras de tapetes ou de carpetes, espuma, papéis, cartonados (papelão, cartolina),

poliestireno etc. (MORAILLON, 2013).

É um grave retardamento do esvaziamento normal do estômago e passagem

do alimento através dos intestinos, com pouco ou nenhum movimento dos alimentos.

(OGLESBEE, 2011)

Epidemiologia

35

Sem predileção de raça ou gênero, comum em jovens a idosos. (CUBAS,

2007)

Sinais clínicos

Os sinais clínicos incluem letargia, anorexia, depressão aguda, ptialismo,

bruxismo, diarreia, constipação, tenesmo, massas abdominais, ausência de resposta

a estímulos externos, desidratação, arqueamento do corpo e distensão ou

desconforto durante a palpação abdominal. (HARRENSTIEN, 1999)

A queixa mais comum em coelhos com estase gastrointestinal é uma

diminuição gradual do apetite, diminuição da produção e do tamanho das fezes,

eventualmente, parar completamente. (QUESENBERRY, 2012) Foi relatada também

morte súbita. (MEREDITH, 2010)

Diagnóstico

Em muitos casos, o exame físico e o histórico são suficientes para o

diagnóstico. O exame radiográfico pode ou não ser útil para o diagnóstico, pois a

massa de alimentos e os pelos são semelhantes à ingesta normal, mesmo com

contraste radiografia. (QUESENBERRY, 2012) A palpação abdominal de um animal

afetado, muitas vezes, provocar uma resposta de dor. (HUYNH; PIGNON, 2013) A

visualização de um grande estômago cheio de ingesta em um coelho que está sem

alimento há vários dias, é sugestivo. (QUESENBERRY, 2012) Como pode ser visto

na figura 7.

36

FIGURA 7 - Radiografia lateral de um coelho com estase gastrointestinal secundária cálculos renais e uretrais. Note-se a distensão do estômago com ingesta (setas pretas) e grandes quantidades de gás dentro do intestino e ceco (setas brancas), característica da gastrointestinal estase. (QUESENBERRY, 2012)

Tratamento

As opções de tratamento para a estase gastrointestinal em coelhos incluem

tratamento cirúrgico e médico. (HUYNH; PIGNON, 2013) Intervenção e tratamento

rápido são necessário para evitar que estase se tornar fatal. Qualquer coelho que

não tenha comido ou não tenha defecado há mais de 24 horas deve ser levado ao

veterinário para tratamento. O tratamento é médico, e visa apoiar o coelho e

restaurar motilidade intestinal normal. Coelhos devem ser internados em ambiente

tranquilo longe de predadores potenciais para minimizar o estresse. (MEREDITH,

2010)

Fornecendo fluidos sob a forma de administração oral, subcutânea (sob as

injeções cutâneas), ou via IV é um dos aspectos mais importantes do tratamento. A

maioria dos coelhos são tratados com fluidos por via subcutânea, em casos mais

graves, fluidos IV são necessárias. (OGLESBEE, 2011)

Coelhos com estase têm leve a grave dor intestinal, especialmente se os

intestinos estão distendidos com gás. A maioria não vai começar a comer até que

essa dor seja aliviada. Se o coelho parece ter muita dor (relutantes em se mover,

postura arqueada, bruxismo), administrar buprenorfina (0,01-0,05 mg/kg SC, IV q6-

12h e um medicamento anti-inflamatório não esteroidais, como meloxicam (0,3-0,5

37

mg/kg SC q12-24h) ou Carprofeno (1,0-2,2 mg/kg cada 12h PO). (QUESENBERRY,

2012)

Agentes pró-cinéticos gástricos como Metoclopramida (0.2-1.0 mg/kg PO, SC,

IM q6-8h) (QUESENBERRY, 2012) melhora a motilidade e coordena motilidade do

estômago e do aumenta motilidade intestino delgado. (OGLESBEE, 2011) Cisaprida

(0.5 mg/kg PO q8h) (QUESENBERRY, 2012) trabalha diretamente no músculo liso

gastrointestinal, estimulando a motilidade; melhora o esvaziamento gástrico; e

promove o aumento da motilidade de ambos os intestinos delgado e grosso.

(OGLESBEE, 2011)

Antibióticos podem ser utilizados, se há evidência de disbiose presente. Se

houver suspeita de um crescimento excessivo de espécies de Clostridium,

administrar Metronidazol (20 mg/kg PO cada 12h). Os antibióticos geralmente

eficazes contra outras potenciais bactérias patogênicas incluem enrofloxacina (15-20

mg/kg cada 12h PO) e sulfa-trimetroprim (30 mg/kg PO cada 12h). (QUESENBERRY,

2012) Simeticona (65-130mg/1h x 2-3 tratamentos) (MORAILLON, 2013) pode ser

útil no alívio de gases intestinais. (OGLESBEE, 2011)

Casos avançados podem exigir cirurgia para aliviar a impactação, mas só se

o tratamento sintomático e os cuidados de suporte não tiverem feito nenhuma

diferença. Dependendo da condição do coelho pode demorar 2-3 dias para o

tratamento médico estimular a motilidade gastrointestinal, e apenas quando este não

deve ser considerada uma cirurgia. (RICHARDSON, 2000)

Quando o tratamento é bem sucedido, instruir os proprietários para utilizar

uma dieta que contém grandes quantidades de verde ou feno, verduras frescas, e

ração e guloseimas limitadas. (QUESENBERRY, 2012)

4.4.3. Constipação

Patologia

A constipação ocorre quando existem fezes duras que são difíceis para o

coelho de expelir. Existe um risco muito maior de constipação quando o coelho está

em muda de pelos; como eles limpam ingerem o pelo que passa em seu trato

intestinal, ocasionalmente podendo ocorrer. Pode ser devido ao estresse, doença,

obstrução intestinal ou problemas dentários. No entanto, coelhos de estimação

38

muitas vezes podem tornar-se constipados quando alimentados com uma dieta

inadequada. (POLLOCK, 2015)

Epidemiologia

Mais comumente visto em coelhos mais velhos em dietas inadequadas, mas

pode ocorrer em qualquer idade coelho. Nenhuma predileção de raça ou gênero.

(OGLESBEE, 2011)

Sinais clínicos

Notam-se poucas ou nenhumas fezes, (POLLOCK, 2015) quando há fezes

estas se encontram pequenas, duras e secas. (OGLESBEE, 2011) O coelho pode

aparecer apático e pode não comer ou beber. A área do estômago pode estar

inchada e dura ao toque. (POLLOCK, 2015) Inapetência ou anorexia, inicialmente

parar de comer a ração, mas continuar a comer guloseimas, seguido por anorexia

completa. (OGLESBEE, 2011)

Diagnóstico

Analise dos excrementos, palpação abdominal. (MORAILLON, 2013)

Conteúdo gástrico (principalmente alimentos e pelos) são normalmente presentes e

visíveis na radiografia, mesmo que o coelho esteja anoréxico. A presença de ingesta

no estômago é um achado normal. Distensão cecal com ingesta e/ou gás pode ser

visto. (OGLESBEE, 2011)

Tratamento

Permitir que o coelho tenha espaço para se movimentar e, ( Pollock, 2015) ,

se o paciente não está debilitado, incentivar o exercício por pelo menos 10-15

minutos a cada 6-8 horas, pois a atividade promove a motilidade gástrica. Fluido

terapia é um componente essencial do tratamento médico para todos os pacientes,

(OGLESBEE, 2011) 100-120ml/kg/dia de 1/3 glicose, 2/3 ringer lactato por VO, SC,

IP ou IV. A reidratação oral pode ser feita com água, eletrólitos e infusões 100

ml/kg/24h. (MORAILLON, 2013)

39

A dieta é o ponto chave do sucesso do tratamento, é absolutamente

imperativo que o coelho continue a comer durante e após o tratamento. (OGLESBEE,

2011) Não mude totalmente dieta de um coelho de uma vez. Alterações dieta devem

ser feita gradualmente, ao longo de um período de tempo. (POLLOCK, 2015)

Oferecer uma ampla seleção de verdes fresco e lavados, como coentro, salsa,

folhas da cenoura, dente de leão, espinafre, couve, etc. e feno de capim de boa

qualidade. Também oferecemos a habitual, ração peletizada, como o objetivo inicial

é fazer com que o coelho voltar a comer. Suplementos nutricionais de alto

carboidrato e alta gordura são contraindicados. A dieta deve ser permanentemente

modificada para incluir uma quantidade suficiente de fibra indigestível. Oferecer

grama de haste longa ou feno de capim e uma variedade de folhas verdes frescas e

lavadas. Ração peletizada deve ser limitada e alimentos ricos em carboidratos

proibidos. (OGLESBEE, 2011)

Modificadores da motilidade gástrica como Cisaprida (0,5mg/kg/8-12h VO),

Metoclopramida (0,5-1,5mg/kg/8h VO, SC) ou Ranitidina (2-5mg/kg 12-24h VO ou

2mg/kg 24h SC, IV) pode ser útil em coelhos com hipomotilidade gastrointestinal

associada. (OGLESBEE, 2011) (MORAILLON, 2013)

Analgésicos como a Buprenorfina (0,01-0,05 mg/kg/6-12h SC) Meloxicam (0,2

mg/kg SC, IM 24h ou 0,3-1,5 mg/kg 24h x 5 dias VO) ou Carprofeno (1-2,2 mg/kg

12h VO ou 2-4 mg/kg 24h SC ou 4 mg/kg 24h IM) são essenciais para o tratamento

da maioria dos coelhos, dor intestinal, quer seja pós-operatória ou de distensão por

gás e íleo prejudica a mobilidade e diminui apetite, e podem inibir seriamente

recuperação. (CARPENTER, 2012) (OGLESBEE, 2011)

Antibioticoterapia está indicada em pacientes com diarreia, citologia fecal

anormal, e as perturbações da mucosa intestinal quando indicado, sempre usar

antibióticos de amplo espectro como Trimetroprim/sulfamida (30mg/kg 12h VO),

enrofloxacina (5-20mg/kg 12-24h VO, SC, IM), ou Marbofloxacino (5-7 mg/kg 12h VO,

SC, IM, IV), se o crescimento excessivo de Clostridium spp, é evidente, usar

Metronidazol (20 mg/kg 12h VO, IV). Simeticona (65-130mg/1h x 2-3 tratamentos)

podem ser úteis para aliviar os dolorosos gases intestinais. (MORAILLON, 2013)

(OGLESBEE, 2011) (CARPENTER, 2012).

40

Escovação regular pode ajudar a limitar a quantidade de pelo que um coelho

ingere. (POLLOCK, 2015) Pode ser feita duas vezes ao dia com uma escova e um

pente. (MORAILLON, 2013)

5. RELATO DE CASO

Foi atendido no dia 04 de agosto de 2015, um coelho (Oryctolagus cuniculus)

da raça fuzzy, macho, com 7 anos de idade, pesando 2,180 KG. Com histórico de ter

passado por estresse recente, onde foi assustado por um cachorro, proprietário

relatou diminuição de atividade e na produção de fezes e parada completa de

alimentação.

A alimentação do animal consistia em ração peletizada própria para a espécie,

alpiste, banana, caqui, pouco ou nenhuma quantidade de verdes e cenouras.

Durante o exame físico foi possível sentir durante a palpação abdominal

pouco conteúdo em trato gastrointestinal, gás e o animal apresentou dor durante o

exame.

Partindo das informações obtidas durante a anamnese e exame físico, sem o

auxílio de métodos de diagnóstico complementares, pode-se concluir que se tratava

de uma constipação e uma possível gastrite.

Foi aconselhado internamento devido às circunstâncias em que o animal se

encontrava. No internamento foi prescrito para o paciente:

Fluido terapia – Ringer Lactato + Mercepton 20 ml BID SC 4 dias

Metoclopramida 0,2 ml BID SC 4 dias

Ranitidina 0,4 ml BID SC 4 dias

Simeticona 0,2 ml BID VO 4 dias

Tramadol 0,17 ml BID SC 4 dias

A Metoclopramida é um antiémetico, foi utilizada com o intuito de promover o

esvaziamento gástrico.

A Ranitidina é um fármaco muito utilizado para tratamento de ulceras

gástricas, está medicação em especifico, além desta função, aumenta

significantemente a motilidade gastrointestinal.

O Tramadol é um opióides sintético que proporciona alívio temporário da dor.

41

A Simeticona age reduzindo o acúmulo de gás assim evitando a distensão

abdominal auxiliando no alivio da dor.

Após os quatro dias o animal foi para casa com a recomendação de retorno

em 3 dias. Foi optado por manter a ranitidina, metoclopramida, tramadol e

simeticona por mais um período de 10 dias. Foi também recomendado a mudança

da dieta do paciente, para a base correta da alimentação, que consiste em grande

quantidade de folhagens frescas e lavadas, feno de capim, e em quantidade limitada

ração peletizada e aconselhado cortar frutas e grãos, pois ambos quando

fermentados podem gerar mais gás e piorar o quadro do animal.

No dia 10 de agosto de 2015 o animal retornou a clínica, a proprietária relatou

que fez a tentativa de mudar a alimentação, mas o animal não aceitou, acabou

optando por manter a dieta anterior. Comentou também que o animal só estava

comendo maçã e banana.

Durante o exame foi observado que o animal havia perdido peso,

aproximadamente 170 gramas, porém o conteúdo abdominal havia diminuído.

Foi optado por continuar o tratamento por mais sete dias e foi adicionado

fluido por via oral, sendo utilizado o NaCl.

No dia 06 de outubro de 2015 a proprietária entrou em contato comunicando

que o animal estava bem e que algumas semanas depois da consulta anterior o

animal voltou a se alimentar e defecar normalmente.

42

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se pode observar a dieta auxilia e muito no tratamento da doença,

sendo assim a nutrição nesta espécie se torna um ponto chave e que deve ser

sempre observado.

Assim como comportamentos hábitos do animal devem ser seguidos, pois o

estresse deles é gerado diferente, uma vez que são animais primariamente criados

como presas, qualquer situação que possa gerar estresse pode acarretar em

problemas gastrointestinais.

43

REFERÊNCIAS

1. BANKS RE, SHARP JM, DOSS SD, VANDERFORD DA Exotic small mammal care and husbandry. Durham, North Carolina: Wiley-blackwell, 2010. p. 49-59. (BANKS, 2010)

2. BENATO, Livia. Ileus and related gastrointestinal problems in pet rabbits. Veterinary Ireland Journal, Dublin, Irlanda, v. 5, p.136-140, mar. 2015. Mensal. Disponível em: <http://www.veterinaryirelandjournal.com/images/sa_mar_2015.pdf>. Acesso em: 20 set. 2015. (BENATO, 2015)

3. CARPENTER, James W. Exotic Animal Formulary. 4. ed. Manhattan, Kansas: Elsevier, 2012. (CARPENTER, 2012)

4. CUBAS S; SILVA JCR; CATÃO-DIAS JL. Tratado de Animais Selvagens: Medicina Veterinária. São Paulo: Roca; 2007. p. 415-431. (CUBAS, 2007)

5. HARCOURT-BROWN, Frances Margaret. Textbook of Rabbit Medicine. Oxford, Uk: Butterworth Heinemann, 2002. p. 3-291. (HARCOURT-BROWN, 2002)

6. HARRENSTIEN L. Gastrointestinal Diseases of Pet Rabbits. Seminars in Avian and Exotic Pet Medicine; 1999; 8 (2): 83-89. (HARRENSTIEN, 1999)

7. HUYNH, Minh; PIGNON, Charly. Gastrointestinal Disease in Exotic Small Mammals. Journal Of Exotic Pet Medicine, v. 22, p.118-131, abr. 2013. (HUYNH; PIGNON, 2013)

8. MEREDITH, Anna. The Rabbit digestive system: A delicate balance. Rabbiting On, Tauton, Inglaterra, p.7-9, 1 set. 2010. Bimestral. Disponível em: <http://rabbitwelfare.co.uk/pdfs/ROWinter10p7.pdf>. Acesso em: 20 set. 2015. (MEREDITH, 2010)

9. MORAILLON, Robert et al. Manual Elsevier de Veterinária: Diagnóstico e tratamento de CÃES, GATOS e ANIMAIS EXÓTICOS. 7. ed. Rio de Janeiro, Rj: Elsevier Masson, 2013. p. 642-703. (MORAILLON, 2013)

10. OGLESBEE, Barbara L. Blackwell's Five-Minute Veterinary Consult: Small Mammal. 2. ed. Ohio, USA: Wiley-blackwell, 2011. (OGLESBEE, 2011)

44

11. POLLOCK, Angie. Symptoms and Treatments of Constipation in Rabbits. 2015. Disponível em: <http://www.second-opinion-doc.com/symptoms-and-treatments-of-constipation-in-rabbits.html>. Acesso em: 3 nov. 2015. (POLLOCK, 2015)

12. RICHARDSON, Virginia. Rabbits: Health, Husbandry & Diseases. Oxford, Uk: Blackwell Science Ltd, 2000. p. 1-172. (RICHARDSON, 2000)

13. QUESENBERRY KE; Carpenter JW. Ferrets, Rabbits and Rodents: Clinical Medicine and Surgery. 3th ed. St. Louis: Elsevier, 2012. p. 157-204. (QUESENBERRY, 2012)

14. QUINTON, Jean-françois. Novos animais de estimação: pequenos mamíferos. São Paulo: Roca, 2005. p.102-226. (QUINTON, 2005)