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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PAOLA CRISTINA AZEVEDO DOS SANTOS CONFLITO ENTRE FILIAÇÃO BIOLÓGICA E SOCIOAFETIVA: A PREVALÊNCIA DO AFETO NAS RELAÇÕES FAMILIARES. CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

PAOLA CRISTINA AZEVEDO DOS SANTOS

CONFLITO ENTRE FILIAÇÃO BIOLÓGICA E SOCIOAFETIVA: A

PREVALÊNCIA DO AFETO NAS RELAÇÕES FAMILIARES.

CURITIBA

2015

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PAOLA CRISTINA AZEVEDO DOS SANTOS

CONFLITO ENTRE FILIAÇÃO BIOLÓGICA E SOCIOAFETIVA: A

PREVALÊNCIA DO AFETO NAS RELAÇÕES FAMILIARES.

Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: ProfªGeorgia Sabbag Malucelli Niederheitmann.

CURITIBA

2015

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TERMO DE APROVAÇÃO

Paola Cristina Azevedo dos santos

CONFLITO ENTRE FILIAÇÃO BIOLÓGICA E SOCIOAFETIVA: A

PREVALÊNCIA DO AFETO NAS RELAÇÕES FAMILIARES.

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel

em Direito no curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, __ de _____de 2015.

__________________________________

Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografia

Orientadora: ______________________________

Profª: Georgia Sabbag Malucelli Niederheitmann.

Examinador 1: _____________________________

Prof(a). Dr(a).

Examinador 2: _____________________________

Prof(a). Dr(a).

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Dedico o presente trabalho a todos aqueles que acreditam

no amor em sua forma mais pura.

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AGRADECIMENTOS

Uma vez estava olhando o instagram quando me deparei com a seguinte frase

de um autor que não me recordo o nome “Não existe algo mais belo que

alguém acreditar em você, no seu potencial, no seu trabalho, nas suas

palavras, nas suas atitudes e na sua vida. Não existe nada mais motivador do

que alguém ser capaz de reconhecer o seu valor e lhe incentivar a ser o melhor

que pode ser” e é pensando exatamente nisso que gostaria de agradecer

algumas pessoas que fazem tudo isso por mim.

Primeiro gostaria de agradecer a Deus por guiar a minha vida por caminhos

que me tem feito extremamente feliz, por ser tão bom e grandioso comigo que

não existirão palavras capaz de expressar o quanto eu sou eternamente grata

e fiel a ele.

Agradeço a Minha Mãe, meu Pai e Meus irmãos que são meus amores mais

verdadeiros, meu alicerce, meu tudo. Nada disso teria sentido se eu não

tivesse a melhor família do mundo ao meu lado.

Ao meu tio Reginaldo que por incontáveis vezes fez com que ciscos caíssem

em meus olhos, que quando eu mais estava chateada, me sentindo péssima

me apoiou e disse que não importava quantas vezes eu tentasse um dia meus

sonhos se realizariam. São essas pequenas coisas com grandes significados

que me fazem querer ser melhor a cada dia.

A Sarah Leite que por diversas vezes foi quem me ajudou a não ter um surto e

largar tudo, que me coloca nos trilhos todos os dias, faz eu vez o que tenho de

melhor, me faz querer ser melhor a cada dia. Deu-me o melhor tema a ser

pesquisado confiou a mim seus segredos, suas tristezas e felicidades. Dividiu

comigo o amor do seu bebe, da sua família. É a irmã que o destino quis que eu

tivesse. Não tenho palavras pra expressar o quanto essa amizade é importante

pra mim e o quanto eu sou eternamente grata. Como eu sempre digo

“Youmake me Brave”.

A minha orientadora, Professora Geórgia por toda ajuda epaciência que teve

comigo.

A todos vocês e todos aqueles que me apoiaram de alguma maneira minha

eterna gratidão e amor.

Muito Obrigada.

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“Assim como a maior parte das nossas feridas tem origem

em nossos relacionamentos, o mesmo acontece com as

curas, e sei que quem olha de fora não percebe essa

bênção.”

William P. Young

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve comparação histórica

sobre o instituto da filiação levando-se em conta como era antes e depois da

Constituição Federal de 1988, falando brevemente sobre as formas de filiação

existentes, as formas de reconhecimento da paternidade, analisando

principalmente o instituto da filiação socioafetiva (aquela decorrente de um

afeto onde o menor mesmo não tendo um vínculo consanguíneo é acolhido no

seio da família) e quando esta irá se sobrepor as relações biológicas. Não

apenas por se tratar de questões de bens sucessórios, mas também pelo fato

de que o menor tem o direito perante aqueles que o tratam ostensivamente

como filho. Analisar-se-á também o fato dos pais biológicos pleitearem seus

direitos de pais sobre esses menores que estão sob o cuidado de terceiros com

quem mantem o vinculo de afeto e qual seria a solução cabível para o presente

pleito tendo em vista as resoluções jurisprudenciais.

Palavras Chave: Filiação, Família, Paternidade, Socioafetividade.

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ABSTRACT

This work aims to make a brief historical comparison on the membership of the

institute taking into account as it was before and after the 1988 Federal

Constitution, talking briefly about existing forms of membership, forms of

recognition of paternity, mainly analyzing the Institute of socio-affective

affiliation (that is the result of an affection when the child even not have a

consanguineous bond and is received within the family) and when this will

override the biological relationships. Not only because it is inheritance property

issues, but also by the fact that the minor has the right before those who treat

ostensibly as a child. Analyze also the fact that the biological parents claim

their rights to such children who are under the third-party careful who keeps the

bond of affection and what would be the appropriate solution to this claim given

the jurisprudential resolutions.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 11

2. CONCEITO DE FILIAÇÃO............................................................... 12

3. HISTÓRICO...................................................................................... 14

4. FORMAS DE FILIAÇÃO................................................................... 16

4.1. JURÍDICO......................................................................................... 16

4.2. BIOLÓGICO...................................................................................... 17

4.3. AFETIVO........................................................................................... 18

5. DA IMPORTÂNCIA DO AFETO....................................................... 19

6. DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA....................................................... 21

6.1. FORMAS DE FILIAÇÃO.................................................................... 23

6.1.1. Filho de criação................................................................................. 23

6.1.2. Adoção.............................................................................................. 24

6.1.3 Adoção a Brasileira........................................................................... 26

7. RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO................................................ 28

7.1. RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO............................................... 29

7.2. RECONHECIMENTO JUDICIAL....................................................... 30

8. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR....................... 32

9. DIREITO A VERDADE BIOLÓGICA................................................ 34

10. PATERNIDADE BIOLÓGICA X AFETIVA....................................... 36

11. CONCLUSÃO................................................................................... 41

REFERÊNCIAS............................................................................................. 42

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9

1. INTRODUÇÃO

Com o avanço da sociedade e as mudanças trazidas pela Constituição

Federal de 1988, os filhos passaram a ter os mesmos direitos sem quaisquer

distinções e as relações advindas do vínculo afetivo passaram a ter enorme

importância vez que esta é constituída pelo convívio e amor entre dois

indivíduos.

O presente trabalho pretende conceituar o instituto da filiação e a

posse de estado de filho, trazendo posteriormente uma breve análise histórica

para que possamos entender a importância da igualdade entre os filhos.,

principalmente em se tratando do instituto da filiação socioafetivaque passa a

ter grande importância com a promulgação da constituição federal de 1988.

Faz-se necessária também uma análise jurisprudencial, levando-se em

conta os conflitos existentes entre os vínculos biológicos e socioafetivos e

quais os critérios utilizados pelos magistrados para chegar a melhor solução

destes conflitos.

Uma vez declarada a filiação socioafetiva, os filhos passam a ter

direitos de filhos sobre os pais afetivos, porém este pode pleitear o direito de

conhecer sua verdade biológica não por questões de bens sucessórios, mas

sim por se tratar de um direito da personalidade garantido pela Constituição

Federal.

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2. CONCEITO DE FILIAÇÃO

Para entendermos o assunto abordado no presente trabalho é

necessário que façamos uma breve análise a respeito do conceito de filiação e

da posse do estado de filho.

As mudanças sociais refletiram muito no que diz respeito ao instituto da

filiação. Anteriormente, considerava-se filho apenas aqueles indivíduos que

possuíam “relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha

reta, que liga uma pessoa com aquelas que a geraram”.1

Segundo o dicionário, “Filiação (Direito) é a ligação jurídica que une

dois indivíduos por um deles ser progenitor do outro.”2

Porém, a Constituição Federal de 1988 veio pautada nas relações de

afeto, trazendo novas formas de filiação, fazendo com que o conceito de

filiação passasse a ser mais complexo e mais difícil de ser definido.

O Doutrinador Paulo Lôbo traz o conceito de filiação como sendo “a

relação de parentesco que se estabelece entre duas pessoas, uma das quais

nascidas da outra, ou adotada, ou vinculada mediante posse de estado de

filiação ou por concepção derivada de inseminação artificial heteróloga.”3 ou

seja, filiação é mais que a simples descendência genética entre dois indivíduos.

Filiação é o vínculo criado entre duas pessoas que consideram-se pai e filho,

independentemente de um vínculo biológico.

Conforme o entendimento de Maria Berenice Dias,

Ante essa nova realidade, a busca da identificação dos vínculos familiares torna imperioso o uso de novos referenciais, como o reconhecimento da filiação socioafetiva, a posse do estado de filho e a chamada adoção “à brasileira”. São esses novos conceitos que necessariamente passarão a indicar o caminho. Pois a verdade genética deixou de ser um ponto fundamental na definição dos elos parentais. Assim a paternidade não pode ser buscada nem na verdade jurídica nem na realidade biológica. O critério que impõe é a filiação social, que tem como elemento estruturante o elo da

1GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 2ed. VI volume. Direito de Família.

Editora Saraiva. São Paulo. 2006. Pag.272. 2www.lexico.pt/filiação/ acesso em: 21 Fev. 2015

3 LÔBO, Paulo. Direito civil. Famílias. 2º Edição. São Paulo. Editora: Saraiva. 2009. Pág. 195

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afetividade: filho não é o que nasce da caverna do ventre, mas tem origem e se legitima no pulsar do coração.4

Com o vínculo biológico não sendo a única forma de se provar a

filiação, devemos analisar também a posse de estado de filho que surge para

ajudar a regulamentar essas filiações não ligadas à consanguinidade. Para

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald:

O vínculo de filiação pode ser determinado através do tratamento dispensado no cotidiano, enfim, da afetividade [...] permitindo que o filho que, embora não registrado pelo seu pai, convive com ele com todos os elementos característicos de um vínculo de filiação, possa obter todas as consequências jurídicas que pretende ter.5

O estado de filiação é um direito do filho, sendo irrenunciável e

imprescritível, em que este pode pleitear o direito a qualquer momento, porém

“a exigência de que se prove que o pai emprestava tratamento de filho e que

este era notório”6, ou seja, para que se comprove o estado de filiação é

necessário mais do que um simples convívio. Tem de se comprovar que havia

um tratamento de filho, na qual as pessoas reconhecem tal indivíduo como filho

de outro, durante um prazo razoável.

O reconhecimento da filiação é irrevogável, conforme disposto no artigo

1.610 do Código Civil de 20027. Uma vez considerado filho, não pode o pai

pleitear anulação deste reconhecimento.

Devido ao fato de que a filiação é um conceito evolutivo, faz-se

necessária uma análise histórica do instituto da filiação para que possamos

compreender a evolução deste em face do Código Civil de 1916 e da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

4 DIAS, Maria Berenice. Entre o ventre e o coração. Disponivel em: http://mariaberenice.com.br/

uploads/4_-_entre_o_ventre_e_o_cora%E7%E3o.pdf. Acesso em : 24 fev.2015. 5 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito das Familias. 2ªedição. Editora

Lumem juris. Rio de Janeiro. 2010. Pag 547. 6_____. Direito das Familias. 2ªedição. Editora Lumem juris. Rio de Janeiro. 2010. Pag548.

7Código Civil 2002. Art. 1.610. O Reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando

feito em testamento.

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12

3. HISTÓRICO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi um

grande marco para o Direito de Família, alterando-o substancialmente.

Principalmente em se tratando de filiação.

O Código Civil Brasileiro de 1916 era pautado nos preceitos religiosos

protegendo-se a união matrimonial e a família, considerando pecaminosas

todas aquelas relações que não derivavam da constância do casamento.

Para que houvesse essa proteção e preservação da união matrimonial

e da família, os filhos eram tratados de forma discriminatória, sendo

classificados em legítimos, ilegítimos e legitimados.

Consideravam-se legítimos aqueles filhos concebidos na constância

do casamento, ainda que anulado, ou mesmo nulo se contraiu de boa fé.8

Os filhos ilegítimos eram aqueles que eram frutos de uma relação onde

os pais não eram casados e esses eram subdivididos em naturais e espúrios.

Os ilegítimos naturais advinham de uma relação onde os genitores não

eram casados, porém, não possuíam nenhum impedimento para constituir

matrimônio se assim quisessem.

Já os ilegítimos espúrios, se existisse um impedimento dos genitores

para casamento, seja por se tratar de uma relação incestuosa onde os

genitores eram parentes com grau de impedimento para o casamento ou uma

relação adulterina onde o homem, a mulher ou ambos já possuíam matrimônio

com outra pessoa.

Havia também a possibilidade de se legitimar um filho, porém essa

legitimação era efeito do casamento dos pais, ficando os legitimados

equiparados aos legítimos, conforme disposto no artigo 352 do Código Civil de

1916.

Segundo Fábio Ulhoa Coelho:

O Privilégio dos legítimos era tamanho que, sob a égide do

Código de Bevilaqua, o pai enquanto estivesse casado, não

podia reconhecer filhos ilegítimos. Mesmo que quisesse,

estava proibido. Como o vinculo do casamento era indissolúvel,

8Art 337. Lei nº3.071 de 01 de janeiro de 1916.

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13

só enviuvando ele podia ver o ato de perfilhação produzir

efeitos.9

Os filhos ilegítimos não possuíam nenhum direito, somente com o

surgimento da “Lei 883, de 21 de outubro de 1949, permitiu-se que qualquer

um dos cônjuges fizesse o reconhecimento voluntário, também concedendo ao

filho ilegítimo o direito de pleitear alimentos do suposto pai, inclusive

requerendo o reconhecimento da paternidade”10, mas estes ainda não

possuíam os mesmos direitos que os legítimos em se tratando de direitos

sucessórios.

Somente com a Constituição Federal de 1988, pautada no avanço

social, que se extinguiu qualquer descriminação existente no instituto familiar.

Os filhos passam a ser apenas filhos, sem qualquer distinção oriunda da

relação em que este foi concebido. Esta igualdade se encontra inserta na regra

do artigo 227, paragrafo 6º que diz, que “os filhos, havidos ou não da relação

do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,

proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas a filiação”11.

Este artigo vem “reproduzido ipisisverbis pelo artigo 1.596”12 do Código

Civil Brasileiro de 2002.

Os filhos que antigamente eram considerados ilegítimos, não

possuindo direitos, passam a ter uma igualdade em relação aos legítimos em

todos os sentidos e “o reconhecimento da filiação “ilegítima” independe do

estado civil e de parentesco entre os genitores” 13

Decorrente disto,surgiram as formas de família e de filiação que

conhecemos atualmente, baseadas no amor e afeto, independentemente da

existência de um vínculo biológico.

9COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006.

Pag 145. 10

http://jus.com.br/artigos/3192/as-inovacoes-constitucionais-no-direito-de-familia/3#ixzz3SKsvz3zE. Acesso em24 fev. 2015 11

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. 12

NADER, Paulo. Curso de Direito Civil. Direito de Família. Volume 5. 3º Edição. Rio de Janeiro. Editora: Forense. 2009. Pagina 266. 13

LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado, vol5 , Direito de Família. São Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 2005. Pag. 202

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14

4. FORMAS DE FILIAÇÃO

Com a igualdade dos filhos e sendo vedada qualquer distinção

discriminatória, passa-se a se classificar a filiação com base em 3 critérios: O

Critério Jurídico, que é aquele decorrente de uma presunção legal denominada

“pater is est” levando em consideração constituído pelos genitores. O Critério

Biológico, pautado pura e simplesmente na verdade biológica aquela que pode

ser estabelecida através de um exame de DNA. E o Critério Afetivo, que anda

sendo considerado pelos juristas e doutrinadores um dos mais importantes, vez

que é estabelecido por livre vontade das partes de constituir uma relação

Paterno-Filial tendo como base o afeto e o amor criado através de um convívio

diário.

4.1 JURÍDICO

O critério jurídico da filiação está relacionado ao fato da legislação

trazer uma presunção de paternidade ligada àqueles filhos concebidos na

constância do casamento, ou seja, pai é o marido da mãe14.

De acordo com o artigo 1.597 do Código Civil de 2002:

Art 1597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I – Nascidos Cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II – Nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III – Havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV – Havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V – Havidos por inseminação artificial Heteróloga, desde que tenha

previa autorização do marido.

Os doutrinadores denominam esta presunção de is pater est quem

nuptiae demonstrant15ou apenas pater is est. No Direito da Filiação procuram

14 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8 edição. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo.2011. Pag. 354. 15

É pai aquele que as núpcias demonstram.

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15

assentar a presunção pater is est na probabilidade de ser o marido o autor da

fecundação, o que favorece, por sua vez, uma atitude legal condescendente a

que respeita a possibilidade de provar o contrário.16

Tal presunção tem o único intuito de prestigiar a família calçada em

uma moral familiar, tirando a idéia da biologia onde pai é unicamente aquele

que contribui com o material genético e passando a idéia de que pai é o marido

da mãe, tenha ela contribuído de uma forma direta com o material genético ou

apenas expressado a vontade de ter um filho como na reprodução heteróloga.

4.2. BIOLÓGICO

O legislador sempre deu grande importância para a verdade genética

e é daí que surge o termo pai biológico, que é aquele que contribuiu

geneticamente para a concepção do filho. Para Fábio Ulhoa Coelho:

Na filiação Biológica, o filho porta herança genética do pai e da mãe identificados em sua certidão de nascimento. Pode ter sido concebido numa relação sexual entre eles ou em decorrência do emprego de técnica de fertilização assistida homóloga.

17

Atualmente, a engenharia genética trouxe grandes avanços no que se

trata de reconhecimento de paternidade, pois com o exame e DNA, que estuda

a tipagem sanguínea do indivíduo, dá para se saber com 99 % de certeza se o

indivíduo é pai ou não da criança.

Porém, o mesmo avanço genético trouxe formas de reprodução onde

aqueles que não conseguiam a fecundação através de uma relação sexual,

pudessem ter a fecundação feita de maneira artificial e, decorrente disso,

surgem as formas de reprodução Homólogas e Heterólogas.

Na reprodução homóloga, tanto o pai quanto a mãe utilizam de seu

próprio material genético para que haja a fecundação, porém, nas heterólogas,

é necessário que haja um doador. Este doador mesmo que tenha contribuído,

se exume de qualquer responsabilidade com a criança, não sendo este

considerado pai.

16

Oliveira,Guilherme de. FACHIN, Luiz Edson. Estabelecimento da filiação e paternidade presumida. Fabris. Porto Alegre. 1992. Pag. 37. 17

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006. Pag 150

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16

4.3. AFETIVO

O avanço social e a igualdade de filiação trazida pela Constituição

Federal de 1988 trouxe um reconhecimento para aquelas relações paterno-

filiais que eram baseadas unicamente no afeto construído ao decorrer do

tempo.

A relação afetiva está ligada unicamente na vontade de ser pai/mãe e

filho, não importando o critério biológico. O amor e afeto construído ao decorrer

do tempo são mais fortes que a mera biologia.

Segundoentendimento de Fabio Ulhoa coelho: “ A filiação sócio-afetiva

constitui-se pela manifestação do afeto e cuidados próprios das demais

espécies entre aquele que sabidamente não é genitor ou genitora e a pessoa

tratada como se fosse seu filho.”18

Os legisladores passam a ver a filiação socioafetiva como uma forma

legítima de filiação, tendo a ideia de que se há um tratamento paterno-filial, há

um cuidado e um reconhecimento de como se filho fosse, não há por que dizer

o contrário, vez que o bem estar das partes importa muito mais que ter um não

um vínculo biológico.

“O verdadeiro sentido nas relações pai-mãe-filho transcende a lei e o sangue, não podendo ser determinadas de forma escrita nem comprovadas cientificamente, pois tais vínculos são mais sólidos e mais profundos, são “invisíveis” aos olhos científicos, mas são visíveis para aqueles que não têm os olhos limitados, que podem enxergar os verdadeiros laços que fazem de alguém um “pai”: os laços afetivos, de tal forma que os verdadeiros pais são os que amam e dedicam sua vida a uma criança, pois o amor depende de tê-lo e de dispor a dá-lo. Pais, onde a criança busca carinho, atenção e conforto, sendo estes para os sentidos dela o seu “porto seguro”. Esse vínculo, por certo, nem a lei nem o sangue garantem”

19

Faremos a seguir uma análise mais aprofundada do instituto da filiação

socioafetiva e a importância do afeto para as relações familiares.

18COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006.

Pag 161 19

NOGUEIRA, Jacqueline Filgueiras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica, 2001. p. 84-85

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17

5. A IMPORTÂNCIA DO AFETO

Afeto, do latim “Effectus”. Segundo o Dicionário, consiste no sentimento

de imenso carinho que se tem por alguém ou por algum animal.Paraa

psicanálise, o afeto é o estado emocional que se relaciona com a formação de

uma pulsão.

O afeto é um conjunto de sentimentos que se manifestam de forma

emocional, sentimentos estes que tem grande importância para o

desenvolvimento de um indivíduo. No direito de família o afeto, o amor

construído entre dois indivíduos se torna um elemento essencial.

A defesa da relevância do afeto, do valor do amor, torna-se muito importante não somente para a vida social. Mas a compreensão desse valor, nas relações do Direito de Família, leva à conclusão de que o envolvimento familiar, não pode ser pautado e observado apenas do ponto de vista patrimonial-individualista. Há necessidade da ruptura dos paradigmas até então existentes, para se poder proclamar, sob a égide jurídica, que o afeto representa elemento de relevo e deve ser considerado para a concretização do princípio da dignidade da pessoa humana.

20

A legislação brasileira passa a dar uma importância maior ao afeto, na

convivência entre um indivíduo e outro, trazendo consigo diversos princípios

para que se tente garantir uma convivência popular de uma forma mais

harmoniosa.

Desde o nascimento, a criança é inserida no seio da família, onde esta

vai receber todos os cuidados necessários para seu desenvolvimento, o que

mostra que o indivíduo não consegue ser um ser individualizado, havendo

necessidade de conviver com outras pessoas.

Tanto a Constituição Federal de 1988, quanto o Estatuto da Criança e

do Adolescente estabelecem que é direito da criança e do adolescente crescer

em um ambiente familiar saudável, pois esse é de suma importância por se

20BellenzierCalderan cita ANGELUCI, Cleber Affonso

http://www.seer.ufu.br/index.php/revistafadir/article/view/22369/15072Thanabi acesso em : 20

maio. 2015

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18

tratar de uma grande referência para a formação da personalidade, preparando

o indivíduo para as relações que este terá ao decorrer da vida.

O afeto não é algo relacionado à biologia do ser humano, não é um

vínculo biológico que determinará o sentimento entre as partes. O sentimento é

criado com o decorrer do tempo e com a forma que as pessoas se relacionam.

A classe restrita de emoções que acompanham algumas relações interpessoais (entre pais e filhos, entre amigos, entre parentes), limitando-se à tonalidade indicada pelo adjetivo “afetuoso” , e que, por isso, exclui o caráter exclusivista e dominante da paixão. Essa palavra designa o conjunto de atos ou de atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura, etc, que, no seu todo, podem ser caracterizados como a situação em que uma pessoa “preocupa-se com” ou “cuida de” outra pessoa ou em que esta responde, positivamente, aos cuidados ou a preocupação de que foi objeto. O que comumente se chama de “necessidade de A.” é a necessidade de ser compreendido, assistido, ajudado nas dificuldades, seguido com olhar benévolo e confiante. Nesse sentido, o A. não é senão uma das formas de amor.

21

São os relacionamentos interpessoais que estruturam todo o direito,

principalmente se tratando de Direito de Família, que é estruturado no amor.

21http://www.fchristus.com.br/downloads/tcc-

cursos/direito/2013/ADOCAO%20A%20BRASILEIRA%20VINCULO%20AFETIVO%20OU%20B

IOLOGICO%20COMO%20CRITERIO.pdf PAG 32 .acesso em 20 mai.2015

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19

6. FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

O ato de criar o filho de outrem sempre foi comum desde os primórdios

da sociedade, porém, este ato não era reconhecido pelo ordenamento jurídico

brasileiro. Somente com o advento da Constituição Federal de 1988 que o

vínculo afetivo passou a ter grande importância.

O instituto da filiação socioafetiva foi implantado na doutrina brasileira

por Edson Fachin que diz que “No fundamento da posse de estado de filho é

possível encontrar a verdadeira paternidade, que reside antes no serviço e no

amor que na procriação.”22 Ou seja, a filiação Socioafetiva consiste no

relacionamento de uma criança ou adolescente com aqueles que este

considera seus pais, mesmo não sendo seus genitores.

Na paternidade socioafetiva, consoante a lição da doutrina, prevalece “a visibilidade das relações, mostrando vínculo psicológico e social entre o filho e o suposto pai, um momento permanente de comportamento afetuoso recíproco, com tal densidade que torna indiscutível a filiação e a paternidade.” É necessário, portanto, que haja tratamento de “pai-e-filho” entre os envolvidos.

23

É a relação que deriva unicamente da vontade de um pai tratar o filho

como tal, emprestando-lhe seu nome, criando uma convivência onde o vínculo

paterno filial se torna reconhecido pelo ambiente social.

A filiação socioafetiva não se encontra expressamente regulamentada

pela legislação brasileira, mas usa-se analogicamente a regulamentação

existente para os filhos biológicos, vez que a legislação é bem clara ao

estabelecer a igualdade entre os filhos.

A doutrina e principalmente a jurisprudência tem reconhecido a filiação

socioafetiva por se tratar de um ato voluntário das partes, pensando

unicamente no vínculo criado entre os indivíduos.

Não obstante a codificação em vigor não reconheça a filiação socioafetiva, inquestionavelmente a jurisprudência dos pretórios brasileiros vem paulatina e reiteradamente prestigiando a prevalência

22

FACHIN, Luiz Edson. Estabelecimento da filiação e paternidade presumida. Porto Alegre: Fabris, 1992. Pág. 163 23

Des.ª LiselenaSchifino Robles Ribeiro cita GIORGIS, José Carlos Teixeira. A paternidade fragmentada: família, sucessões e bioética. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007, p. 77. RECURSO DE APELAÇÂO Nº 70063645790. 7º Câmara cível de Uruguaiana/RS

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20

da chamada posse do estado de filho, representando em essência o substrato fático da verdadeira e única filiação, sustentada no amor e no desejo de ser pai ou de ser mãe, em suma, de estabelecer espontaneamente os vínculos da cristalina relação filial. (...)

24

Alguns doutrinadores determinam alguns fatores para a posse de

estado de filho que caracteriza a filiação socioafetiva “fundada em elementos

espelhados, no nomen, na tractatioe na fama” .25

Nomen é o fato da criança e do adolescente usar e ser reconhecido

através do nome da família afetiva. Tractatiose refere ao modo como o menor é

tratado, de como este é criado, a educação, ou seja, todo tratamento paterno

filial realizado entre as partes. Fama é o reconhecimento pela sociedade, ou

seja, as pessoas a sua volta os reconhecem como pai e filho. Neste sentido

temos o entendimento do Doutrinador Eduardo de Oliveira Leite que diz :

A posse do estado de filho, assim como a posse do estado de casados, ocorre quando há conjunção dos três elementos oriundos da sistemática romana: Tractatus (A criança é tratada ostensivamente como filha), Nomen (a criança utiliza o nome da família dos pais) e Fama (a criança é reconhecida como filha pela opinião pública).

26

No mesmo sentido temos o entendimento de Paulo lobo:

A aparência do estado de filiação revela-se pela convivência familiar, pelo efetivo cumprimento pelos pais dos deveres de guarda, educação e sustento do filho, pelo relacionamento afetivo, enfim, pelo comportamento que adotam outros pais e filhos na comunidade em que vivem. De modo geral, a doutrina identifica o estado de filiação quando há Tractatus (comportamento dos parentes aparentes: a pessoa é tratada pelos pais ostensivamente como filha, e esta trata aqueles como pai), nomen (a pessoa porta o nome de família dos pais) e Fama (imagem social ou reputação: a pessoa é reconhecida como filha pela família e pela comunidade; ou autoridades assim a consideram). Essas características não necessitam de estar presentes, conjuntamente, pois não há exigência legal nesse sentido e o estado de filiação deve ser favorecido, em caso de dúvida

27

24

Des.(a) Alyrio Ramos Cita Rolf Madaleno. APELAÇÂO CIVIL 1.0671.08.004756-4/001, 8 câmara cível TJMG. 25

FACHIN, Luiz Edson. Comentários ao novo código civil. Rio de Janeiro: Forense, 2003. Pág. 91 26

LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado, vol5 , Direito de Família. São Paulo: ed.

Revista dos Tribunais, 2005. Pág. 215

27LÔBO, Paulo. Direito civil. Famílias. 2º Edição. São Paulo. Editora: Saraiva. 2009. Pág. 215

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21

Sendo a filiação socioafetiva um instituto baseado unicamente no afeto

desligado da verdade, há de se analisar as diferentes formas e derivações

deste instituto.

6.1. FORMAS DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

A doutrina brasileira considera filho afetivo todos aqueles que são

excluídos de um vínculo consangüíneo, mas que possuem vínculo com aqueles

que consideram seus pais. Sendo assim, existem diferentes formas de filiação

socioafetiva, são elas:

6.1.1 Filhos de Criação

Sempre foi muito comum na sociedade o ato de criar o filho de outrem,

principalmente em uma sociedade com condições financeiras mais baixas. Era

muito comum os pais falecerem ou não terem condições de criar seus filhos,

quando estes eram dados a outras pessoas, que cuidavam da criação e

educação deste menor.

Atualmente a jurisprudência tem entendido que os filhos de criação

passam a possuir a posse de estado de filho tendo como base o fato de que

são considerados pais aqueles que criaram a criança como filho mesmo que

estes não tenham vínculos biológicos.

Pensão - Mãe de criação – Deferimento. O artigo 147, III, da Lei Complementar 180/78, ao se referir a "pais" não tem apenas um sentido biológico. Restrito, portanto. A expressão contida na lei encerra um sentido finalístico, teleológico. Abarca a palavra "pais", sem dúvida alguma, também aqueles que criaram, como se filho fosse, o servidor falecido. Afinal, mãe não é quem deu alguém à luz. Mas sim quem cria uma criança como se filho seu fosse. É sabença popular. (TJ/SP – Ap. Cív. 133.401-5/4 – Acórdão COAD 108382 – 5ª Câm. de Direito Público – Rel. Des. Alberto Gentil - Julg. em 4/9/2003)

O filho de criação, diferentemente das outras formas de filiação

socioafetiva, não possui nenhuma documentação que registre o fato deste ser

filho daqueles que considera seus pais. O que existe é um tratamento notório,

onde a sociedade os reconhecem como pais e filho devido a toda convivência,

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22

criação, tratamento e comum amor que estes vem desempenhando através do

tempo.

Deve-se buscar o verdadeiro sentimento que existe entre pai e filho para assim se efetivar a verdadeira paternidade, disso decorre a frase popular “pai é quem cria” trazendo, para o mundo real, uma verdade acreditada, solidificada e bastante para a satisfação pessoal entre os envolvidos.

28

Ou seja pai é aquele que desenvolve este papel, garantindo um

desenvolvimento saudável a criança mesmo que não haja um vinculo biológico

e mesmo que não conste em registro o nome deste como pai.

A filiação socioafetiva corresponde à verdade aparente e decorre do direito à filiação. O filho é titular do estado de filiação, que se consolida na afetividade. Não obstante, o art. 1.593 evidencia a possibilidade de diversos tipos de filiação, quando menciona que o parentesco pode derivar do laço de sangue, da adoção ou de outra origem, cabendo assim à hermenêutica a interpretação da amplitude normativa previsto pelo CC de 2002.29

A legislação quando diz que o parentesco pode derivar de outra

origem, possibilita que os filhos de criação tenham direitos sobre a posse de

estado de filho, podendo a vir pleitear este direito posteriormente.

6.1.2. Adoção

Adoção consiste no ato jurídico que cria uma relação de filiação, onde

o adotado se torna filho do adotante como se consanguíneo fosse, adquirindo

todos os direitos de um filho legítimo.

28Adriana Karlla de Lima

http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9280#

_edn18. Acesso em 28 Mai.2015

29Adriana Karlla de Lima cita maria Berenice dias

http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9280#

_edn18 acesso em : 18 Mai.2015

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23

Adoção, segundo o entendimento de Fábio Ulhoa Coelho, “é processo

judicial que importa a substituição da filiação de uma pessoa (adotado),

tornando-a filha de outro homem, mulher ou casal(adotantes)”30.

No mesmo sentido Eduardo de Oliveira leite diz que “Adoção é o ato

jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece

um vinculo de filiação trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa

que lhe é estranha.”31

Surgiu no Código Civil de 1916, visando apenas dar o direito a filiação

daqueles que com mais de 50 anos e ainda não possuíssem filhos legítimos.

Os filhos adotivos não possuíam os mesmos direitos que os legítimos no que

dizrespeito a direitos sucessórios.

Apenas com ao advento da Lei 6697, de 10 de outubro de 1979, os

filhos adotivos passaram a possuir direitos, como se legítimos fossem.

O Estatuto da Criança e do Adolescente32 surgiu em 1990 como uma

forma de proteção integral à criança e ao adolescente, ficando responsável por

regulamentar a adoção, fazendo com que ela perdesse o conceito de apenas

dar o direito de adquirir filiação àqueles que não possuíssem filhos, passando a

visualizar a adoção pelo contexto do adotado, onde este necessita de uma

convivência saudável e tenha seu desenvolvimento assegurado.

A adoção é um ato irrevogável, assim como qualquer outro tipo de

reconhecimento de filiação e o adotado tem o direito de possuir o sobrenome

do adotado em registro de nascimento e passa também a ter os mesmos

direitos que os demais filhos, tendo direito aos alimentos e a direitos

sucessórios.

Segundo o artigo 42, do Estatuto da Criança e do Adolescente, podem

adotar os maiores de 18 anos, porém deve haver uma diferença de 16 anos

entre o adotante e o adotado.

30

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006. Pág. 162 31

LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado, vol5 , Direito de Família. São Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 2005. Pág. 257 32

Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF:

Presidência da República, 1990.

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24

Consiste em um ato personalíssimo, não podendo ser feito por

procuração e só deve ocorrer quando frustrados todos os recursos para

manutenção na família natural.

O adotante passa a possuir o pátrio poder e esse não se desfaz após a

sua morte para reestabelecer o poder dos pais naturais. Esse só se desfaz em

caso de destituição do poder familiar, como ocorre com a família natural, pois a

adoção não pode ser revogada.

6.1.3. Adoção à Brasileira

Adoção à Brasileira é o ato de registrar filho alheio como se seu fosse,

sem respeitar os trâmites legais de adoção.

As mulheres ficavam grávidas, tinham seus filhos, porém não

desejavam criar estes, então entregavam a criança para um casal que ia até o

cartório e registrava como se seu fosse.

A adoção à brasileira é um ato punível pelo ordenamento jurídico atual,

“é crime contra o estado de filiação, com pena de reclusão de 2(dois) a

6(seis)anos, dar parto alheio como próprio; registrar como seu filho de

outrem”33, porém, ainda é comum em cidades pequenas onde as mulheres

ainda têm seus filhos em casa com partos realizados por parteira e tem que

viajar a outra cidade para realizar o registro da criança.

Dá-se com a declaração falsa e consciente de paternidade e maternidade [...] sem observância das exigências legais para adoção. O declarante ou os declarantes são movidos por intuito generoso e elevado de integrar a criança à sua família, como se a tivessem gerado. Contrariamente á lei, a sociedade não repele tal conduta. A “adoção à brasileira”, fundada no “crime nobre” da falsificação do registro de nascimento, é um fato social amplamente aprovado, por suas razões solidárias [...]”

34

Nas grandes cidades, a fiscalização é maior, pois a maioria das

mulheres tem seus filhos nos hospitais onde atualmente existe uma espécie de

33

Art 242. Código Penal. Decreto – lei n. 2.848 de 7 de Dezembro de 1940 34LÔBO, Paulo. Direito civil. Famílias. 2º Edição. São Paulo. Editora: Saraiva. 2009. Pág. 250

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25

cadastro onde são registrados todos os nascimentos ocorridos naquele

estabelecimento.

Acabou sendo comum em épocas passadas, pois os casais tinham

medo de esperar anos na fila para conseguir adotar uma criança e também as

mães biológicas acabavam preferindo entregar a criança diretamente a um

casal que na maioria dos casos já conhecia, do que deixar que a criança fosse

levada para um abrigo.

Por mais que a adoção àbrasileira seja um ato punível, este não faz

com que seja anulada a certidão e a criança seja entregue aos pais biológicos,

pois há de se analisar o que é melhor para criança e o dano que o afastamento

dos pais adotivos poderá causar. Em casos de suspeita de adoção àbrasileira,

o juiz determinará que os pais biológicos e afetivos prestem esclarecimentos e

regulamentem a adoção, sempre priorizando o melhor interesse do menor.

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26

7. RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO

O Código Civil de 1916 não permitia que os filhos ilegítimos, ou seja,

aqueles havidos fora da relação de casamento tivesse a paternidade

reconhecida. Apenas com o Decreto Lei nº 4.737, de 1942 que surgiu uma

oportunidade de reconhecimento de filiação ilegítima, porém, isso só poderia

ocorrer após a dissolução da sociedade conjugal.

Em 1949 a Lei 883 estabeleceu que qualquer um dos cônjuges

poderiam declarar a filiação e permitiu-se também que o filho pudesse entrar

com uma ação para pleitear esse reconhecimento, porém ainda fazia-se

necessária a prévia dissolução da sociedade conjugal, exigência que sofreu

alteração com a Lei 883/49 que estabeleceu que havia a possibilidade de se

reconhecer um filho mesmo quando não dissolvida a relação matrimonial. Isto

se dava através de testamento. Em 1984 a Lei 7.250 trouxe a possibilidade de

se reconhecer um filho após 5 anos da separação de fato.

Em 1988 a Constituição Federal estabeleceu a igualdade entre os

filhos e que esses teriam os mesmos direitos, principalmente em se tratando de

reconhecimento, matéria esta que foi regulamentada pela Lei 8.560/92 e ficou

em vigor até a vigência do Código Civil de 2002.

Mesmo com uma igualdade estabelecida pela Constituição Federal, a

legislação denomina os filhos como havidos na constância do casamento e fora

dela. Os filhos havidos na constância do casamento possuem presunção de

paternidade e segundo Paulo lobo:

O reconhecimento de filho somente é possível se este foi havido fora do casamento. No casamento prevalecem a presunção da certeza da maternidade da mulher e a presunção pater ir est, em relação ao marido. Portando, não tem qualquer cabimento cogitar-se de reconhecimento filho pelo marido da mãe. Se não contestou a paternidade, seu é o filho.

35

Os filhos havidos fora do casamento não possuem uma presunção de

paternidade, necessitando assim que haja este reconhecimento, que se dá de

forma voluntária ou judicial, conforme veremos a seguir.

35LÔBO, Paulo. Direito civil. Famílias. 2º Edição. São Paulo. Editora: Saraiva. 2009. Pág. 232

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27

7.1. RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO

O reconhecimento voluntário é um ato pessoal, não podendo um

terceiro declarar em nome do genitor, independe de prova de origem genética,

não pode estar sujeito a termo36, porém, os filhos maiores não podem ser

reconhecidos sem seu consentimento37.“Só se reconhecem voluntariamente os

filhos havidos fora do casamento. Os nascidos de mulher casada, na

constância do casamento, tem sempre pai o cônjuge dela.38

O reconhecimento será feito conforme disposto no artigo 1609 do

Código Civil Brasileiro:

Art. 1609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I – No registro de nascimento; II – Por escritura publica ou escritório particular, a ser arquivado em cartório; III – Por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV – Por manifestação direta e expressa perante o juiz e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido objeto único e principal do ato que o contém.

“No que tange à época do reconhecimento voluntário do filho, deve-se

considerar que tal vontade pode ser manifestada antes do nascimento, mas

não produzirá todos os efeitos diante da indispensabilidade de se aguardas o

nascimento.“39 Será feito em registro pelos pais, conjunta ou separadamente,

onde é assinado o termo na presença de duas testemunhas e este só pode ser

desfeito caso comprove falsidade no termo.

Pode ser feito por escritura pública ou particular,devendoapenas

constar o ato do reconhecimento mesmo que a escritura não tenha esta

finalidade. Em caso de reconhecimento por testamento, este será válido

mesmo que seja considerado nulo ou anulável, a não ser que o motivo de

anulação seja por um caso de doença mental do testador.

Por fim, o reconhecimento perante o juiz ocorre quando o pai

reconhece nos autos aquela pessoa como sendo seu filho ou seja “cabe ao

36

Artigo 1.613 Código Civil Brasileiro. 37

Artigo 1.614 Código Civil Brasileiro. 38COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006.

Pág 172 39

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro, Editora forense,

2009. Pág 345.

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28

Juiz, em face da declaração do pai em manifestação diretamente a ele dirigida(

inciso IV do artigo 1.609) determinar a averbação da paternidade, desde que

não haja oposição do filho se este for maior.”40

7.2. RECONHECIMENTO JUDICIAL

“A investigação do estado de filiação tem por fito seu reconhecimento

forçado, por decisão judicial, porque não houve reconhecimento

voluntário.”41Quando um filho não foi reconhecido de forma voluntária, este

reconhecimento pode se dar de forma coativa através de uma sentença em

ação de investigação de paternidade ou maternidade, prevista no artigo

1606,do Código Civil de 2002.Esta ação tem caráter personalíssimo, sendo

promovida pelo filho ou por seu representante legal, se este for incapaz.

Enquanto é menor, o filho deverá ser representado ou assistido por seu representante legal. Na maioria das vezes, a mãe biológica, premida pelas necessidades materiais relacionadas à criação e educação do filho, providencia em nome dele a demanda contra o genitor.

42

Tem caráter imprescritível, podendo ser oposta a qualquer tempo e

“será sempre conveniente e oportuno o segredo de justiça”43.

A ação de investigação de paternidade pode ser oposta contra o pai ou

contra a mãe, porém é muito raro os casos em que esta é proposta em face da

mãe, vez que é indiscutível o fato desta estar grávida. Pode ser ajuizada em

face desses ou em face de seus herdeiros, se estes já houverem falecido.

Pode se propor ação para se pleitear a posse de estado de filho onde

deve ser provado o convívio e o tratamento como filho do investigado, o que

normalmente ocorre através de prova testemunhal. Também é possível pleitear

40

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro, Editora forense,

2009. Pág. 259 41LÔBO, Paulo. Direito civil. Famílias. 2º Edição. São Paulo. Editora: Saraiva. 2009. Pág. 243 42COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006.

Pág. 175 43

VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: Direito da Família. 6 Edição. 3 reimpressão.

Editora: Atlas. São Paulo. 2006. Pág. 265

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29

a filiação baseando-se no vínculo biológico entre os indivíduos, sendo

comprovada através da realização de exame de DNA .

O art. 2º-A, da Lei N° 8.560/92, assim como a doutrina e jurisprudência

têm entendido que a recusa do investigado em se submeter ao exame de DNA,

gerará a presunção de paternidade, a ser analisada em conjunto com os

demais elementos de prova.

Segundo Caio Mário

A ação não tem mais a finalidade de atribuir a paternidade ou maternidade ao genitor biológico. Este é apenas um elemento a ser levado em conta, mas deixou de ser determinante. O que se investiga é o estado de filiação que pode ou não decorrer da origem genética.

44

A sentença que julga a investigação de paternidade tem caráter

declaratório e passa o filho a ter os mesmos direitos que os demais, tendo

direito a alimentos e direitos sucessórios desde a data do nascimento.

Após o registro determinado pelo juiz produz-se eficácia jurídica extunc. O reconhecimento, seja ele voluntário ou forçado, é declarativo do estado de filiação, que já existia antes dele. Os efeitos da sentença (e do ato voluntário) retroagem à data do nascimento do reconhecido.

45

Esta é irrevogável e produz os mesmos efeitos que o reconhecimento

voluntário.

44

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro, Editora forense,

2009. Pág. 373 45LÔBO, Paulo. Direito civil. Famílias. 2º Edição. São Paulo. Editora: Saraiva. 2009. Pág. 245.

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30

8. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR

O princípio do melhor interesse do menor do menor visa resguardar

todos os direitos da criança e do adolescente elencados nos artigos 227 da

Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

46

Se antigamente a criança e o adolescente não possuíam direitos,

principalmente em se tratando de filiação, este princípio veio para mudar esta

perspectiva, trazendo a ideia de que independente da relação, o que deve

prevalecer é o interesse do menor vez que ele é uma pessoa em

desenvolvimento, merecendo assim um tratamento especial por se tratar do

futuro da sociedade.

O princípio do melhor interesse do menor ou princípio do melhor

interesse da criança e do adolescente, compara-se a um direito fundamental,

sendo objeto de tratados internacionais.No âmbito do Direito de Família este

princípio é fator determinante para soluções de conflito. Segundo o

desembargador Brandão Teixeira :

O interesse do menor é princípio básico e determinante de todas as

avaliações que refletem as relações de filiação. O interesse do menor

pode-se dizer sem receio, é hoje verdadeira instituição no tratamento

da matéria que ponha em questão esse direito. Tanto na família

legítima como na natural e suas derivações, o interesse do menor é

princípio superior. Em cada situação cumpre ao juiz apreciar o

interesse do menor e tomar medidas que o preservem e a apreciação

do caso deve ser procedida segundo dados de fato que estejam sob

análise. 47

O princípio do melhor interesse do menor surgiu para resguardar

direitos que antigamente não eram vistos, pois os pais determinavam como

teriam de ser as coisas, sendo que nem sempre isso era o melhor para a

criança. E hoje os pais devem criar seus filhos de acordo com o que se 46

Art 227 CF 47

TJ-MG. Relator :Brandão Teixeira , Data de julgamento: 26/11/2008,DJ/MG.

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31

estabelece priorizando o que é melhor para o melhor sem e não para os pais

como chefe de família.

Quando há um conflito entre paternidade deixa-se de analisar

unicamente o que é importante para os pais e passa a se priorizar o que

melhor atenda o interesse do menor.

Sobre o tema, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu em 0055791-

76.2008.8.26.0000, de Dracena, rel. Des. Silvério Ribeiro, Quinta Câmara de

Direito Privado, DJe 19.10.2009:

Conflito do princípio da verdade real com o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente - Confronto entre a paternidade biológica e a que resulta da relação socioafetiva - Prevalência daquela que mais bem atenda ao princípio da dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, como também ao princípio do interesse primordial da criança, ante sua condição especial de criança em desenvolvimento, o qual decorre daquele principio maior [...]

A criança e o adolescente passam a ter uma grande importância dentro

do direito, tirando-se a idéia de que elas apenas deveriam respeitar as regras

que lhe eram conferidas, passando a possuir direitos que lhe garantem um

desenvolvimento e uma convivência familiar mais saudável.

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9. DIREITO A VERDADE BIOLÓGICA

Com os avanços da ciência por volta do século XX, surgiu a

possibilidade de se aferir a verdade biológica através do exame de DNA, que é

feito através de um mapeamento genético onde se tem 99% de certeza se há

ou não vínculo genético entre dois indivíduos.

Surge assim a possibilidade de se pleitear o reconhecimento da

verdade genética como uma forma de se conhecer sua origem, sua

ancestralidade.

Há casos em que a criança já possui um registro, porém possui o

direito de buscar a verdade biológica, posto que um direito personalíssimo de

conhecer sua origem genética.

[...] O estado de filiação, que decorre da estabilidade dos laços

afetivos construídos no cotidiano de pai e filho, constitui fundamento

essencial da atribuição de paternidade ou maternidade. Nada tem a

ver com o direito de cada pessoa ao conhecimento de sua origem

genética. São duas situações distintas, tendo a primeira natureza de

direito de família e a segunda de direito da personalidade. As normas

de regência e os efeitos jurídicos não se confundem nem se

interpenetram. Para garantir a tutela do direito da personalidade não

há necessidade de investigar a paternidade. O objeto da tutela do

direito ao conhecimento da origem genética é assegurar o direito da

personalidade, na espécie direito à vida, pois os dados da ciência

atual apontam para necessidade de cada indivíduo saber a história de

saúde de seus parentes biológicos próximos para prevenção da

própria vida. Não há necessidade de se atribuir a paternidade a

alguém para se ter o direito da personalidade de conhecer, por

exemplo, os ascendentes biológicos paternos do que foi gerado por

doador anônimo de sêmen, ou do que foi adotado, ou do que foi

concebido por inseminação artificial heteróloga. São exemplos como

esses que demonstram o equívoco em que laboram decisões que

confundem investigação da paternidade com direito à origem

genética. 48

Na reprodução assistida Heteróloga há um conflito entre o direito de se

conhecer a origem genética e o direito do anonimato do doador, vez que este

doa com a idéia de que esta ajudando um casal e não terá nenhum contato

48

Ministra Nancy Andrigui, cita Paulo Luiz Netto Lobo, in Direito ao Estado de Filiação e Direito

à Origem Genética

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33

com a criança. Nesses casos ainda se prevalece o direito ao anonimato do

doador.

Porém, quando se trata de filiação socioafetiva, doação, o filho tem o direito de

se averiguar a sua origem genética pois por mais que o vinculo com a família

biológica seja quebrado, mudando-se até o registro de nascimento, o adotado

possui ainda uma verdade genética com a família que o gerou, mas este

reconhecimento não implica em um desconstituição do vinculo adotivo. A

adoção continua sendo irrevogável independente de se conhecer a verdade

biológica ou não.

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34

10. PATERNIDADE BIOLOGICA X AFETIVA

Frente às novas realidades de filiação, passa a surgir conflitos

referentes à paternidade biológica e socioafetiva, vez que tem pais que

dãoseus filhos para a adoção e acabam se arrependendo tempos depois, pais

que se arrependem de ter reconhecido como seu, filho alheio,entre outros

conflitos.

Não há no ordenamento jurídico um regramento estabelecido frente à

resolução destes conflitos, ficando a cargo do Magistrado encontrar a melhor

solução, sempre priorizando o menor e qual dos pais irá trazer para este um

ambiente saudável onde poderá crescer e se desenvolver.

Para Maria Helena Diniz“Entre a verdade biológica e a socioafetiva

dever-se-á privilegiar aquela que melhor der guarida à dignidade humana e ao

direito à convivência familiar“49, ou seja, quando surge um conflito entre vínculo

afetivo e biológico, há de se priorizar aqueles que melhor dispuserem de um

ambiente e convivência familiar, aqueles que vão proporcionar a este menor

uma vida mais equilibrada possível.

A doutrina vê se bastante favorável ao vínculo afetivo, o priorizando em

grande parte dos casos, vez que é de livre e espontânea vontade que a pessoa

estabelece o vínculo paterno-filial e, sendo assim, não há de se questionar este

reconhecimento por ser um ato irrevogável.

Só há a possibilidade de se questionar um reconhecimento de

paternidade se houver algum questionamento em torno de tal ato.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais se manifestou:

Apelação cível - direito de família - reivindicação da paternidade -

exame de DNA comprobatório - paternidade biológica x paternidade

sócio-afetiva - alteração do registro de nascimento - possibilidade -

guarda - princípio do melhor interesse do menor. - O reconhecimento

dos filhos, por meio de registro público, é irrevogável, no entanto, tal

fato não implica na vedação de questionamentos em torno da filiação,

desde que haja elementos suficientes para buscar a desconstituição

do reconhecimento anteriormente formulado. - O exame de DNA, por

ter como resultado um erro essencial sobre o estado da pessoa, é

capaz de desconstituir o registro de nascimento, pois, derruba, por

49

DINIZ. Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Familia. 5 volume . 22ª

Edição. Editora Saraiva. São Paulo. 2007. Pág. 434

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completo, a verdade jurídica nele estabelecida. - Na hipótese de

conflito entre a paternidade biológica e a socioafetiva, no que se

refere à guarda do menor, deve-se priorizar aquela em detrimento

desta, se, pelo conjunto probatório, o julgador não verificar

caracterizada a relação de afeto, em atenção ao Principio do Melhor

Interesse da Criança. 50

Quando o pedido de desconstituição do vínculo de paternidade se

fundamenta em vício de consentimento, ainda assim há de se questionar se

existe vínculo afetivo entre este e o menor, como se vê da decisão abaixo

transcrita:

Civil. Direito de família. Ação de exclusão de paternidade c/c retificação de registro civil. Improcedência na origem. Exame de DNA que exclui a paternidade. Prova sem utilidade ante a impossibilidade de desconstituição da filiação. Paternidade reconhecida de forma voluntária e consciente pelo autor. Impossibilidade de modificação do registro civil. Ausência de vício de consentimento. Exegese do art. 1.604 do Código Civil. Respeito ao princípio constitucional do melhor interesse da criança. Ato jurídico irrevogável e irretratável. Inteligência do art. 1º da Lei 8.560/92. Pleito de realização de novo estudo social. Desnecessidade. Congruência entre os dois estudos sociais realizados, os quais demonstraram inequívoca voluntariedade do ato registral e existência de paternidade sócio-afetiva. Sentença mantida. Recurso desprovido. "O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento, isto é, para que haja possibilidade de anulação do registro de nascimento de menor cuja paternidade foi reconhecida, é necessária prova robusta no sentido de que o"pairegistral"foi de fato, por exemplo, induzido a erro, ou ainda, que tenha sido coagido a tanto" (REsp 1022763/RS, Rel. Ministra Nancy AndrighI, Terceira Turma, julgado em 18/12/2008, DJe 03/02/2009).

51

Há também casos em que o pai, sabendo que o menor não é seu filho

biológico, o registra como filho, cria como se seu fosse e após determinado

tempo pleiteia a desconstituição, alegando que o filho não é biologicamente

seu. Neste sentido a doutrina tem sido bem decisiva, dizendo que se o

indivíduo sabia desde o início que o filho não era biologicamente seu, não há

que se falar em erro, vez que este registrou por vontade própria, mantendo-se

assim o vínculo afetivo.

Ação negatória de paternidade c/c anulatória de registro civil de nascimento - adoção à brasileira - ato jurídico perfeito - prevalência

50

TJ-MG 105250813368650011 MG 1.0525.08.133686-5/001(1), Relator: DÁRCIO LOPARDI

MENDES, Data de Julgamento: 18/03/2010, Data de Publicação: 30/03/2010. 51

TJ-SC - AC: 20140377313 SC 2014.037731-3 (Acórdão), Relator: Marcus Tulio Sartorato,

Data de Julgamento: 21/07/2014, Terceira Câmara de Direito Civil.

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da paternidade socioafetiva. - É improcedente o pedido de desconstituição da paternidade espontaneamente assumida, ausente vício de consentimento, restando incontroversa "a adoção à brasileira" praticada pelo autor e sua esposa, ou seja, o registro de filho alheio em nome próprio. - Deve prevalecer a paternidade socioafetiva, tendo em vista que o autor tinha ciência da ausência de filiação biológica, mas concordou com o registro civil, pretendendo a sua desconstituição trinta e oito anos depois do nascimento da ré.

52

Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça,o pai que

questiona a paternidade de seu filho socioafetivo (não biológico), que ele

próprio registrou conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais

especificamente a regra davenire contra factumproprium (proibição de

comportamento contraditório).

O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento; não há como desfazer um ato levado a efeito com perfeita demonstração da vontade, em que o próprio pai manifestou que sabiaperfeitamente não haver vínculo biológico entre ele e o menor e, mesmo assim, reconheceu-o como seu filho.

53

Segundo entendimento de Fabio ulhoa coelho:

Se o marido ou companheiro da mãe sabe não ser o genitor do filho dela, mas o trata como se fosse pai, do vínculo de afeto surge o da filiação. Igualmente, se a esposa acolhe o filho que o cônjuge teve em relacionamento extraconjugal e o cria e educa como dela, vira mãe do rebento. Muitas vezes, nessas situações e noutras típicas de filiação sócio-afetiva, não há discrepância entre o contido no registro de nascimento do filho e a situação de fato. O marido ou companheiro da mãe declara-se o pai no registro de nascimento. Em outros termos o casal simula a adoção (ou,como se diz, faz a adoção “à brasileira) do filho havido pelo esposo fora do casamento. Quer dizer, o registro normalmente confere com a realidade social, embora não com a genética. [...] No caso de troca de bebês na maternidade , por exemplo, a jurisprudência tem resolvido a questão dando à verdade biológica maior relevo que a sócio-afetiva, as determinar a destroca para que cada filho volte para seus genitores.

54

Em sentido contrario temos decisão da Sétima Câmara Cível do

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que entende que se houver anuência

52

TJ-MG - AC: 10024112904420001 MG , Relator: Alyrio Ramos, Data de Julgamento:

08/08/2013, Câmaras Cíveis / 8ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/08/2013. 53

(REsp 1022763/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe 03/02/2009);

54COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, Volume 5. Editora: Saraiva. São Paulo. 2006. Pág. 160

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do pai registral, há a possibilidade de desconstituição do registro civil para que

passe a constar o nome do pai biológico.

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM PEDIDO DE DESCONSTITUIÇÃO DO REGISTRO CIVIL. FILIAÇÃO BIOLÓGICA COMPROVADA. ANUÊNCIA DO PAI REGISTRAL. 1. Se a questão relativa à decadência já foi objeto de exame em sede de agravo de instrumento, apreciado por este tribunal de justiça, a matéria resta albergada pela preclusão. Inteligência do art. 473 do CPC. 2. Comprovado o liame parental entre o autor e o investigado através de exame de DNA realizados com os filhos, mostra-se correta a sentença que declara a filiação. 3. Mesmo que o autor tenha pai registral e que com ele o autor mantenha bom vínculo pessoal, não havendo oposição daquele, é cabível a desconstituição desse liame jurídico, privilegiando-se a paternidade natural. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70055643449, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 28/08/2013)

55

Entende-se que tanto o vínculo biológico quanto o afetivo são de

extrema importância, não havendo uma ordem de preferência entre um e outro,

vez que o que realmente importa é que prevaleça o melhor interesse para a

criança.

Apelação cível - Ação de investigação de paternidade c/c anulação de registro civil - Paternidade biológica - Comprovação por exame de DNA - Art. 333, I, CPC - Prevalência, no caso concreto, sobre a paternidade afetiva - dignidade da pessoa humana - recurso desprovido. 1) Embora não negue que tanto o vínculo biológico quanto o afetivo possuem notável importância no âmbito do direito de família, é inadequado estabelecer uma ordem de prevalência entre ambos aprioristicamente, devendo o impasse ser solucionado à luz do princípio do melhor interesse da prole, o que somente é aferível a partir do exame do caso concreto e de todas as peculiaridades que o envolvem. 2) No caso, a necessidade psicológica demonstrada pelo autor recomenda que a paternidade biológica, devidamente comprovada por meio de exame de DNA, prevaleça sobre a paternidade socioafetiva, com a consequente anulação do registro civil. 3) Recurso desprovido.

56

Chega-se então àidéia de que toda filiação decorre de um afeto, seja

esta socioafetiva ou biológica, pois a filiação trata de um vínculo estabelecido

entre o pai/mãe e aquele que considera seu filho, vínculo esse pautado no

amor e no convívio entre as partes, razão pela qual há de se entender que em

55TJ-RS - AC: 70055643449 RS , Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Data de

Julgamento: 28/08/2013, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 02/09/2013)

56

TJ-MG, Relator: Teresa Cristina da Cunha Peixoto, Data de Julgamento: 30/01/2014,

Câmaras Cíveis / 8ª CÂMARA CÍVEL.

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todos os casos o que se prevalece é o afeto criado com a criança e o vínculo

familiar que for mais adequado para esta.

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39

11. CONCLUSÃO

Tendo em vista os aspectos observados no presente trabalho

concluímos que o instituto da filiação mesmo existindo desde o inicio dos

tempos, apenas passou a possuir direitos depois de promulgada a constituição

federal de 1988, fazendo com que assim todas as formas de filiação

passassem a ler legitimas.

O afeto passa a ter extrema importância, vez que a criança e o

adolescente passam a ter direito a um ambiente saudável onde esta pode

crescer e se desenvolver. Passando-se assim o vinculo socioafetivo ter tanta

importância quanto o vinculo biológico.

Há de se concluir também que se os dois tem grande importância, diante

de um conflito não há uma regra sobre qual vinculo deve se prevalecer, sendo

necessário o magistrado analisar o caso concreto e solucionar o conflito tendo

como base o melhor interesse da criança e do adolescente.

Se o afeto é construído através de um convívio continuo e duradouro entre

o menor e aquele que este considera seus pais, então frente aos conflitos

existentes não há uma prevalência do vinculo biológico ou socioafetivo e sim a

prevalência do afeto em geral.

Conclui-se então que o afeto seria o gênero da onde deriva-se as formas

de filiação existentes atualmente.

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40

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