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0 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Regiane Sanvesso Lendzion O TRABALHO DA ENFERMAGEM PERMEADO PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA REALIDADE DESAFIADORA CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Regiane Sanvesso Lendzion

O TRABALHO DA ENFERMAGEM PERMEADO PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA REALIDADE DESAFIADORA

CURITIBA

2012

1

O TRABALHO DA ENFERMAGEM PERMEADO PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA REALIDADE DESAFIADORA

CURITIBA

2012

2

Regiane Sanvesso Lendzion

O TRABALHO DA ENFERMAGEM PERMEADO PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA REALIDADE DESAFIADORA

Monografia apresentada ao Curso de Auditoria e Gestão em Saúde da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de pós-graduado. Orientadora: Profª Dra Ana Maria Dyniewicz.

CURITIBA 2012

3

RESUMO

Este estudo teve como objetivos compreender a importância do Código de Defesa do Consumidor na área da saúde e esclarecer a relação entre o trabalho da equipe de enfermagem e o Código de Defesa do Consumidor. Para alcançá-los, utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica, em que buscaram-se na base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) artigos que tratassem sobre o Código de Defesa do Consumidor aplicados à área da saúde, publicados entre 2009 e 2012. Os resultados da pesquisa apontam que existe número reduzido de publicações que tratam da ligação entre a enfermagem e o código de defesa do consumidor. Desta forma, conclui-se que esse tema precisa ser melhor discutido visto ser um tema atual e inerente à relação entre a enfermagem e os pacientes vistos como consumidores dos serviços de saúde, permitindo que a assistência de enfermagem seja prestada de forma condizente aos direitos mencionados no Código de Defesa do Consumidor. Palavras-chave: Código de Defesa do Consumidor, área da saúde, Enfermagem.

4

TERMO DE APROVAÇÃO

Regiane Sanvesso Lendzion

O TRABALHO DA ENFERMAGEM PERMEADO PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA REALIDADE DESAFIADORA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Especialista em Auditoria e Gestão em Saúde no Curso de Pós-graduação de Auditoria e Gestão em Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 28 de abril de 2012

_________________________________

Auditoria e Gestão em Saúde

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Profª Dra Ana Maria Dyniewicz

Universidade Tuiuti do Paraná /Programa de Pós-graduação

Profº

Universidade Tuiuti do Paraná /Programa de Pós-graduação

Profº

Universidade Tuiuti do Paraná /Programa de Pós-graduação

5

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................06

2 OBJETIVOS........................................................................................08

3 METODOLOGIA..................................................................................09

4 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR...................................11

4.1 DEFINIÇÕES....................................................................................12

4.2 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR......................................12

5 LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL........................................................14

5.1 LEGISLAÇÃO NA ENFERMAGEM..................................................15

6 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E A ENFERMAGEM .................................................................................................................17

7 SÍNTESE DE PUBLICAÇÕES DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR E ENFERMAGEM.........................................................21

8 CONCLUSÃO......................................................................................22

REFERÊNCIAS.......................................................................................23

6

1 INTRODUÇÃO

A assistência à saúde, ao longo dos anos, vem evoluindo velozmente devido

ao advento de novas tecnologias, pesquisas científicas e descobertas de novos

medicamentos e/ou tratamentos, implicando em diversos segmentos da área da

saúde e exigindo maior interação e multidisciplinaridade entre os mesmos.

Tais avanços trouxeram para a realidade vivenciada nas instituições

prestadoras de serviços de saúde, principalmente nas privadas e após o advento da

saúde suplementar, um conceito restrito sobre o significado de “saúde”, ou seja,

apenas o fato do indivíduo não apresentar doença, em contraposição ao conceito

mais abrangente, no qual o processo saúde-doença considera os determinantes

sociais e não o individuo, de forma restrita, isolada (CAMELO; CUNHA; SILVA

JÚNIOR, 2006).

Devido esta mudança a população começa a enxergar a saúde privada

como um produto ou bem de consumo. Nesta relação predomina a concepção de

“direitos” em relação ao produto comercializado e/ou utilizado (CAMELO; CUNHA;

SILVA JÚNIOR, 2006).

Para garantir estes direitos aos usuários o Código de Defesa do

Consumidor, em 1998, interveio quanto à regulamentação da assistência privativa

(CAMELO; CUNHA; SILVA JÚNIOR, 2006) e estabelece normas para o

relacionamento entre consumidores e fornecedores ou prestadores de serviços

(OGUISSO; SCHMIDT; FREITAS, 2010). É importante ressaltar que o código citado

7

é uma coletânea de leis ou regulamentos que conduzem as relações humanas,

garantindo às pessoas, seus direitos e deveres (FAKIH; FREITAS; SECOLI, 2009).

Neste sentido, o papel do Enfermeiro, como prestador de serviços em

conjunto com as instituições fornecedoras de serviços de saúde, está cada vez mais

exposto às repercussões legais e de caráter civil, quando há alguma discrepância

em seus atos, os quais prejudiquem ou causem danos ao usuário (SOUZA, 2006). O

enfermeiro e os outros profissionais de enfermagem estabelecem com o

paciente/cliente, de certa forma, uma relação contratual, no qual há um

inadimplemento da mesma, quando o profissional deixa de cumprir suas obrigações

(SOUZA, 2006).

O Código de Ética do Profissional de Enfermagem destaca em seu artigo 12

que é dever deste assegurar assistência livre de danos decorrentes de imperícia,

negligência ou imprudência; à pessoa, família e coletividade (CONSELHO

FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2011).

Em consonância, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 6 diz :

“São direitos básicos do consumidor: I – a proteção da vida, saúde e segurança

contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços

considerados perigosos ou nocivos” (BRASIL, 2011).

O anseio de realizar o trabalho sobre o tema escolhido se deu pela vivência

profissional, na qual constata-se o desconhecimento dos profissionais de

enfermagem, frente à legislação e o que rege o Código de Defesa do Consumidor.

8

2 OBJETIVOS

- Compreender a importância do Código de Defesa do Consumidor na área

da saúde;

- Esclarecer a relação entre o trabalho da equipe de enfermagem e o Código

de Defesa do Consumidor.

9

3 METODOLOGIA

Para a abordagem metodológica, optou-se pela revisão bibliográfica já que a

mesma é descrita por Vieira e Hossne (2011) como apresentação de um

determinado tema por meio de resumo da literatura especializada. Os autores ainda

complementam que este método possibilita achados relevantes, coisa que os

estudos empíricos não fazem.

A revisão bibliográfica tem como objetivos: verificar os textos publicados

referentes ao assunto escolhido, a forma de como estes foram abordados e

analisados; saber as variáveis do problema e as conclusões dos autores com o

intuito de analisar as variáveis sobre o tema e interligar os resultados ao contexto

discutido (GIL, 1999).

Para elaboração de uma revisão bibliográfica, é preciso sistematizar o

estudo através de sete etapas, as quais são: formulação do problema, elaboração

do plano de trabalho, identificação das fontes, localização das fontes e obtenção do

material, leitura do material, confecção de fichas, construção lógica do trabalho e

redação do texto (GIL, 1999).

Para complementar a construção deste estudo, realizou-se uma busca na

base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da

Saúde), sobre artigos que mencionavam o Código de Defesa do Consumidor,

aplicados à área da saúde. Em um primeiro momento, foram abordados os artigos

publicados entre 2009 e 2012. Para tal pesquisa, foram utilizados como descritores:

código de defesa do consumidor, saúde, enfermagem; totalizando 72 artigos, dos

quais apenas um resultou para análise.

10

Em um segundo momento, os descritores foram alterados para enfermagem

e código de defesa do consumidor, o que nos resultou em 1000 artigos encontrados,

no entanto nenhum pode ser incluído na análise.

No terceiro e último momento da pesquisa, os descritores utilizados foram:

código de defesa do consumidor, legislação em enfermagem e eventos adversos.

Contudo, dos 73 artigos localizados, apenas 2 foram adicionados para análise neste

estudo.

Para inclusão dos artigos na análise e construção desta pesquisa, utilizou-se

apenas aqueles que referiam o Código de Defesa do Consumidor interligado à

profissão de enfermagem.

11

4 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Há onze anos, O Código de Defesa do Consumidor estabeleceu um

poderoso instrumento de proteção nas relações de consumo o que impactou

diretamente no exercício da cidadania em nosso país (DIAS, 2006).

Através da Lei de ordem pública nº 8.078 de 11 de setembro de 1990,

composta por 119 artigos, foi estabelecido os direitos e obrigações dos

consumidores e fornecedores, a fim de evitar que os primeiros sofram qualquer tipo

de prejuízo (LEINER, 1999).

A partir da implantação e difusão desta Lei, o Estado em conjunto com a

sociedade civil, estabeleceu um instrumento de proteção aos direitos do consumidor.

Sobretudo implantou-se na sociedade uma forma de organização com o intuito de

garantir a proteção e os direitos destes (DIAS, 2006).

Atualmente, devido uma economia cada vez mais complexa, os melhores

mecanismos para proteger os consumidores de atitudes abusivas e desleais por

parte dos fornecedores, estão na informação e consciência acerca dos direitos

consumistas. Portanto faz-se necessário a canalização de esforços, por meio de

práticas do Estado integrado à sociedade, para que cada indivíduo conheça

plenamente seus direitos e os faça valer nas relações de consumo (DIAS, 2006).

Estas, por sua vez, têm sua origem ligada às relações comerciais, havendo

primeiramente, a necessidade de quais sejam o consumidor e o fornecedor

(INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IBRADEC), 2011).

12

4.1 DEFINIÇÕES

Consumidor: toda pessoa; física, jurídica ou coletividade, que adquire ou

utiliza produtos em benefício próprio, sendo aquele que busca a satisfação de suas

necessidades através de um produto ou serviço, sem ter o interesse de repassar

esse serviço ou produto a terceiros (IBRADEC, 2011).

Fornecedor: toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou

estrangeira, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,

construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização

de produtos ou prestação de serviços. Portanto para que uma pessoa seja

classificada como fornecedora, faz-se necessário que esta detenha a prática habitual

de uma profissão ou comércio (atividade), como também forneça o serviço mediante

remuneração (IBRADEC, 2011).

Produto: qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (IBRADEC,

2011).

Serviço: qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante

remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,

salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (IBRADEC, 2011).

4.2 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor aponta os dez direitos básicos do

consumista. Que são descriminados por Campos (2011) como:

Proteção à vida e a saúde;

Educação para o consumo;

Escolha de produtos e serviços;

Informação;

13

Proteção contra publicidade enganosa e abusiva;

Proteção contratual;

Indenizações;

Acesso à justiça;

Facilitação de defesa de seus direitos;

Qualidade dos serviços públicos.

14

5 LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL

Viver em sociedade implica necessariamente observar e cumprir

determinadas normas de conduta individual. Neste sentido, exercer uma profissão

implica duplamente obediência às normas, pois o profissional, além do dever de

observância as regras gerais aplicadas a todos os cidadãos, deve atuar conforme as

orientações normativas específicas ao exercício da atividade profissional. Portanto

esses mandamentos oriundos das normas gerais ou específicas imposta pelo Estado

ou Órgãos de Fiscalização Profissional, são normas de cumprimento obrigatório. Isto

significa que o seu descumprimento pode acarretar sanções de natureza jurídica e

ético-disciplinar (FIGUEIREDO, 2011).

É desta relação, isto é, da violação de um dever jurídico, da inobservância

das normas descritas nos códigos de ética e das demais normas disciplinadoras, que

nasce a noção de responsabilidade profissional. Quando a ação do agente fere a lei

penal, diz-se responsabilidade criminal, quando transgride a lei civil, diz-se

responsabilidade civil, quando há infração as normas definidas nos Códigos de Ética,

diz-se de responsabilidade ética. Entretanto, essas esferas da responsabilidade se

encontram, pois na violação da norma de direito também está presente falta ética

(FIGUEIREDO, 2011).

Nesta visão, percebe-se a necessidade de submeter o exercício das

profissões liberais, em especial da área da saúde, como por exemplo a enfermagem,

à um ordenamento legal e ético, cujo objetivo é resguardar a disciplina, a

moralização, a boa imagem da profissão perante a sociedade e promover a saúde,

uma vez que a assistência de qualidade é um dever ético e legal (FIGUEIREDO,

2011).

15

Esse conjunto de leis e normas, inovadoras quando relacionadas à prática de

relacionamento pessoal e comercial entre serviços e sociedade, estipula a

responsabilidade civil dos profissionais de saúde: médicos, psicólogos, terapeutas,

enfermeiros, farmacêuticos e demais profissionais e instituições da saúde frente ao

Código de Defesa do Consumidor (LIMA, 2010).

5.1 LEGISLAÇÃO NA ENFERMAGEM

Inúmeras são as profissões liberais que atualmente prestam serviços na área

da saúde. Embora algumas surgiram recentemente, todas estão reguladas por Leis

Federais e seus Órgãos Fiscalizadores (FIGUEIREDO, 2011).

A enfermagem como integrante da categoria da saúde, é regulamentada pela

Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Esta, além de dispor sobre o exercício da

enfermagem, traz os limites da atuação do enfermeiro, técnicos de enfermagem,

auxiliares de enfermagem e parteiras (SILVA, 2011).

Dentre os aspectos importantes na delimitação e conceituação das

atividades das classes de enfermagem, situa-se a observação dos atos privativos,

como por exemplo, com relação ao exercício do enfermeiro mencionado pelo inciso I:

“ a direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de

saúde, pública ou privada, e chefia de serviço de unidade de enfermagem” ( SILVA,

p. 2, 2011). Para Cavalieri Filho (2008), fica claro, sobre as responsabilidades da

classe, que havendo violação de um dever jurídico com consequente dano, surge a

responsabilidade de reparar.

Como parâmetros para identificação dos limites e conseqüências da

responsabilidade civil do enfermeiro, pode-se apontar os artigos 927, 186 e 951 do

Código Civil brasileiro (SILVA, 2011)

16

Art.927. Aquele que, por ato ilícito causar danos a outrem, fica

obrigado a repará-lo.

Art.186. Aquele que, por sua ação ou omissão voluntária, negligência

ou imperícia violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito.

Art.951. O dispostos nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso

de indenização devida por aquele que, no exercício da sua atividade profissional,

causar morte ao paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o

trabalho.

O Código de Ética dos Profissionais da Enfermagem em consonância com o

parágrafo anterior também traz em seu Art. 12 que é dever dos profissionais da

enfermagem assegurar à pessoa, família e a coletividade assistência de enfermagem

livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imperícia (SILVA, 2011).

17

6 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E A ENFERMAGEM

Devido aos avanços tecnológicos e evolução dos recursos humanos na área

da saúde, a probabilidade de cometer um erro no exercício profissional aumenta.

Percebemos que no cenário atual, é crescente a preocupação com as repercussões

destes erros, principalmente com relação aos aspectos éticos e legais que envolvem

as situações geradas a partir de uma falha técnica (WINCK; BRÜGGEMANN, 2010).

A cada ano, percebemos que a multidisciplinaridade torna-se indispensável

no tratamento ao paciente. Nesse atendimento multiprofissional, o Enfermeiro se

destaca (SOUZA, 2006), já que de acordo com estudo realizado por Vianna (2011),

os profissionais de enfermagem somam 1.480.653 membros, demonstrando ser o

maior segmento da força de trabalho de cuidados de saúde do país. Deste

contingente, apenas 18,4% são enfermeiros. Diante deste cenário, percebe-se uma

maior exposição do profissional perante sua atuação frente aos danos causados aos

pacientes (SOUZA, 2006).

Dessa forma, à medida que os enfermeiros conquistam espaço e assumem

suas atribuições com autonomia, interligados aos progressos da área de saúde,

surgem questionamentos a respeito da responsabilidade profissional e seus aspectos

legais (WINCK; BRÜGGEMANN, 2010). Todavia, a compreensão atual sobre a

profissão de enfermagem sofre influência do funcionamento da saúde pública, de

convênios e planos de saúde, e dos meios de comunição, os quais muitas vezes

contribuem para a instituição de eventos adversos relacionados à enfermagem e a

popularização da indústria das indenizações (CARVALHO et al., 2006).

Perante estas notáveis mudanças no cenário da saúde brasileira,

percebemos o nascer de novos conceitos referentes aos envolvidos nos processos

de saúde-doença, nos quais os pacientes são vistos como consumidores/clientes

18

conscientes que lutam pelos direitos que lhe cabem, e os profissionais (autônomos

ou inseridos em instituições), como prestadores ou fornecedores de serviços.

Consequentemente, temos o Código de Defesa do Consumidor, estabelecendo

regras e permeando o relacionamento entre ambas as partes (OGUISSO; SCHMIDT;

FREITAS, 2010). Complementando, Carvalho (2009), afirma que pacientes tratados

por profissionais e instituições de saúde, são consumidores, portanto o Código de

Defesa do Consumidor pode e deve ser aplicado.

Na visão de Valle (2009), a primeira vista, a idéia do desempenho

profissional do enfermeiro incluída dentro do Código de Defesa do Consumidor, é

equivocada. No entanto, diferentemente da premissa de comércio, o código

mencionado anteriormente permeia as relações de prestação de serviços, ou seja,

como o “objeto” originado do trabalho da enfermagem chega ao beneficiado.

Não obstante, há algum tempo ouve-se falar de eventos adversos (eventos

indesejáveis, não intencionais, de natureza danosa ou prejudicial ao paciente,

comprometendo sua segurança, consequente ou não de falha do profissional

envolvido, ou ainda, injúrias não intencionais decorrentes do cuidado prestado aos

pacientes, não relacionadas à evolução natural da doença de base as quais

obrigatoriamente acarretam lesões mensuráveis nos pacientes afetados; óbito ou

prolongamento do tempo de internação), e ações que responsabilizam civil e

penalmente o profissional de enfermagem. Muitas ações também têm sido movidas

contra enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, nesse sentido. Tais

questões não são apenas resolvidas no âmbito dos conselhos profissionais, elas

podem extrapolar para a justiça e, nesse caso, no âmbito civil, com pedido de

ressarcimento por danos morais e/ou materiais (BECACRIA et al., 2009).

19

Em consonância com o descrito anteriormente, o Código de Ética dos

Profissionais de Enfermagem prevê em seu Capítulo I, dos Princípios Fundamentais,

que “a Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e

da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação

das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais”. Continuando o raciocínio, o

Capítulo III, das responsabilidades, ainda nos traz que é dever do profissional

“assegurar ao cliente uma assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de

imperícia, negligência ou imprudência”. Ou ainda, “o profissional deve manter-se

atualizado” e principalmente “responsabilizar-se pela falta cometida em suas

atividades, seja individual ou em equipe” (CONSELHO REGIONAL DE

ENFERMAGEM DO PARANÁ, 2011).

Nesse sentido, entende-se como imperícia; ato incompetente por falta de

habilidade técnica, desconhecimento técnico e/ou falta de conhecimento no exercício

de sua profissão. Negligência é definida como desleixo, preguiça, indolência e

descuido, caracterizando-se por inércia, inação, desatenção, passividade, sendo

sempre de caráter omisso. A imprudência é uma ação sem cuidado necessário

(COIMBRA; CASSIANI, 2001).

Souza (2006) complementa que entre o Enfermeiro e o paciente, se

estabelece uma relação contratual, ou seja, as obrigações entre ambos derivam do

que foi consensualmente estabelecido entre as partes. Neste contexto, são

elencados nesta relação os conteúdos e aspectos legais relacionados à oferta,

execução, entrega e garantia dos produtos e serviços prestados (SILVA et al.,2010).

O enfermeiro também pode ser responsabilizado judicialmente por danos causados

por equipamentos, materiais ou substâncias que venham a utilizar no paciente

(SOUZA, 2006).

20

Ao integrar o quadro funcional de uma instituição de saúde, o enfermeiro e a

instituição respondem pelos danos causados ao paciente, haja vista a

coresponsabilidade das partes, de acordo com o Código Civil Brasileiro (FAKIH,

FREITAS, SECOLI, 2009).

De acordo com Miranda (2008), um dos principais direitos básicos,

estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor é a proteção à vida e à saúde,

ou seja, antes de comprar um produto, ou utilizar um serviço, o consumidor deve ser

avisado pelo fornecedor, dos possíveis riscos que ele possa oferecer à sua saúde ou

segurança. E ainda complementa; o consumidor tem direito à indenização caso haja

algum descumprimento ou falha nos serviços prestados, portanto tem o direito de ter

a reparação de danos patrimoniais, morais, individuais, coletivos e difusos.

Mencionando ainda, o Código de Defesa do Consumidor, este estabelece

que o profissional de saúde não pode “impedir ou dificultar o acesso do consumidor

às informações que sobre ele constem em cadastros, bancos de dados , fichas e

registros” (GAUDERER, 1997).

Observa-se por fim, que embora seja de difícil compreensão a relação entre

prestação de serviços de saúde, como exemplo cito a enfermagem, e o Código de

Defesa do Consumidor, de certa forma, esse está subordinado à este.

21

7 SÍNTESE DE PUBLICAÇÕES DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR E ENFERMAGEM

Após pesquisa no site LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde) o qual é considerado o mais importante e abrangente índice da

literatura científica e técnica da América Latina e Caribe, em artigos no período de

2009 a 2012, como mencionado na descrição metodológica adotada para este

estudo, no primeiro momento da pesquisa, constatou-se que no único artigo

condizente à pesquisa, os autores Malacarne e Silva (2010) mencionam que com o

advento do Código de Defesa do Consumidor na década de 90, as relações entre

enfermeiro e paciente se tornaram mais estreitas, ou seja, nos casos em que o

Código pode ser aplicado, as ações julgadas são classificadas de modo distinto. Os

outros 71 artigos relatavam a ligação do Código com a profissão médica e

odontológica.

No segundo momento do estudo, na busca pelos artigos, não obteve-se

sucesso, já que nenhum fazia alusão ao tema proposto neste trabalho.

No terceiro e último momento da pesquisa, apenas 2 artigos abrangiam o

tema proposto neste estudo, embora os eventos adversos tragam um dano ao

consumidor, o qual por meio de legislação vigente reflete prejuízo à pessoa que

consumiu ou fez uso do produto oferecido.

Oguisso em 2003, escreve que vários autores encontrados na literatura

brasileira lamentam a pouca consistência do conteúdo das anotações de

enfermagem e reflete sob as dimensões legais, civil e penal, e ético – profissionais.

No ano de 2004, Sobrinho e Carvalho afirmam ser necessário pensar sobre

as questões ético-legais da enfermagem e aproximar o profissional das possíveis

implicações legais advindas de sua conduta no trabalho.

22

8 CONCLUSÃO

Este estudo permitiu evidenciar que o tema explanado precisa ainda ser

pesquisado e discutido com mais afinco, pois embora seja um assunto atual e

inerente às relações entre prestadores de serviços (no caso, os serviços de saúde),

e os consumidores, ainda não possuímos muitos subsídios acerca desta relação já

que, como mencionado neste trabalho, a literatura nos traz pouquíssimas pesquisas

que comprovem a importância da relação, que ocorre de forma direta, entre o

Código de Defesa do Consumidor e a profissão do Enfermeiro.

Com a população mais atenta quanto aos seus direitos, fica evidente que o

cumprimento do Código de Ética Profissional da Enfermagem permite que os

cuidados prestados aos pacientes estejam condizentes com os direitos mencionados

pelo Código de Defesa do Consumidor.

Dessa forma, esta monografia alerta para a importância da conduta ética e

do trabalho realizado com coerência e em conformidade com o Código que rege a

profissão do enfermeiro. Tal conduta reduzirá os índices de eventos adversos e

consequentemente não irá infringir os direitos adquiridos pelo consumidor, o qual

nos serviços de saúde, é representado pelo paciente. Indubitavelmente, para que se

alcance tal objetivo, é necessário por parte dos profissionais, maior cautela, tanto

nas atividades individuais quanto nos atos da equipe, maiores discussões acerca do

tema e buscar o conhecimento para que as relações atuais entre enfermeiros

(prestador de serviço) e paciente (consumidor) seja estabelecida em consonância

aos Códigos de Defesa do Consumidor e o Código de Ética Profissional da

Enfermagem.

23

REFERÊNCIAS

-BECACRIA L. M. et al. Eventos Adversos na Assistência de Enfermagem em

uma Unidade de Terapia Intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva p.:276-

282. São Paulo-SP: 2009.

-BRASIL. Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do

consumidor e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil 03 leis/l8078.htm >. Acesso em 17 set. 2011.

-CAMELO, T. V., CUNHA, F. T. S., SILVA JÚNIOR, O. C. Saúde Suplementar:

relação entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço. Aprovado

em 12 ago. 2006. Disponível em:

<www.faculdadedofuturo.edu.br/revista/v1n1a6.pdf>. Acesso em 17 set. 2011.

-CAMPOS, C.L. GUIA PRÁTICO DO CONSUMIDOR. Disponível em: <

http://www.cdlcampos.com.br/2011/pdf/guia_pratico.pdf >. Acesso em: 25 nov. 2011.

-CARVALHO, J. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA ÁREA DA SAÚDE.

Curitiba-PR, abril 2009. Disponível em: <

http://www.pron.com.br/editoria/economia/news >. Acesso em: 25 nov.2011.

-CARVALHO, B. R. et al. Erro Médico: Implicações Éticas, Jurídicas e Perante o

Código de Defesa do Consumidor. Revista Ciência Médica. p. 539-546. Campinas-

SP: 2006.

24

-CAVALIERI FILHO, S. Programa de Responsabilidade Civil. 8ªed. São Paulo:

Atlas, 2008.

-COIMBRA, J. A. H., CASSIANI, S. H. de B. Responsabilidade da Enfermagem na

Administração de Medicamentos: Algumas Reflexões para uma Prática Segura

com Qualidade de Assistência. 2001. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692001000200008&script=sci_arttext

>. Acesso em 20 set. 2011.

-CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN nº 311/2007.

Aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem.

Disponível em: <www.portalcofen.gov.br>. Acesso em 17 set. 2011.

-CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO PARANÁ. Disponível em:

<http://www.corenpr.org.br> . Acesso em 20 set. 2011.

-DIAS, J. C. GUIA DO CONSUMIDOR BRASILEIRO, 2006. Disponível em:

<http://www.guiasfacil.com.br/cartilha>. Acesso em: 25 nov. 2011.

-FAKIH, F. T., FREITAS, G. F. , SECOLI, S. R. Medicação: aspectos ético-legais no

âmbito da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 62(1): 132-5. jan-fev;.

Brasília, 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-

71672009000100020&script=sci_arttext>. Acesso em 15 set. 2011.

25

FIGUEIREDO, A. M. de. Responsabilidade Ética e Legislação na Área da Saúde.

Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/62764284/Responsabilidade-etica-e-

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