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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS FACULDADE DE EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO O PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO EM PETRÓPOLIS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DO PROMURJ CARLOS ALFREDO PEREIRA BAUMANN PETRÓPOLIS 2008

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

O PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO EM PETRÓPOLIS A PARTIR

DA IMPLANTAÇÃO DO PROMURJ

CARLOS ALFREDO PEREIRA BAUMANN

PETRÓPOLIS

2008

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CARLOS ALFREDO PEREIRA BAUMANN

O PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO EM PETRÓPOLIS A PARTIR

DA IMPLANTAÇÃO DO PROMURJ

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em

Educação da Universidade Católica de Petrópolis,

como requisito parcial da obtenção do título de

Mestre.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Celi Chaves

Vasconcelos.

PETRÓPOLIS

2008

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Bibliotecária Responsável : Antonieta Chinelli Souto.

B347p Baumann, Carlos Alfredo Pereira.

O processo de municipalização do ensino à partir da implantação do

PROMURJ. / Carlos Alfredo Pereira Baumann.

Petrópolis : Universidade Católica de Petrópolis, Faculdade de Educação, 2008. 165p. Orientador : Maria Celi Chaves Vasconcelos. Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Católica de Petrópolis. Mestrado em Educação, 2008.

1. Educação - descentralização. 2. Delegação de competências. 3.

Municipalização do ensino. 4. Eficiência. I. Vasconcelos, Maria Celi Chaves. II.

O processo de municipalização do ensino à partir da implantação do

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Aluno: Carlos Alfredo Pereira Baumann

O processo de municipalização do ensino em Petrópolis a partir da implantação do

PROMURJ.

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Educação da Universidade Católica

de Petrópolis, como requisito parcial da obtenção do título de Mestre.

AVALIAÇÃO

1. CONTEÚDO

Grau: _______

2. FORMA

Grau: _______

3. GRAU FINAL: ____________

AVALIADO POR

Prof. Dr. Antônio Maurício Castanheira das Neves _________________

Prof.a Dr.a Lia Ciomar Macedo de Faria _________________

Prof.a Dr.a Maria Celi Chaves Vasconcelos _________________

Petrópolis, 07 de abril de 2008.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a meus pais, Carlos Henrique e Dalva, e a minha irmã Glória pelo incentivo e participação que tiveram ao longo de toda a minha vida, fazendo com que acreditasse no trabalho e valorizasse o saber, como forma de crescimento pessoal e na contribuição para um mundo melhor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente a minha orientadora Maria Celi Chaves Vasconcelos, pela

dedicação e paciência que demonstrou durante todo o período de elaboração deste estudo,

sempre me incentivando e me fazendo acreditar que eu poderia superar os obstáculos que

surgiam, não permitindo jamais que eu esmorecesse.

Agradeço, também, aos amigos Ricardo Fernandes e Márcia Alvarenga pela

colaboração e pelo crédito que depositaram em mim, antes e depois do ingresso nesta etapa

importante de minha vida que foi o Curso de Mestrado.

Quero ainda expressar minha gratidão aos colegas de trabalho, da Secretaria Municipal

de Educação de Petrópolis, da Secretaria de Estado de Educação do Estado do Rio de Janeiro

e dos órgãos a ela ligados, que contribuíram com material e informação, sem os quais não

seria possível a realização da pesquisa.

Um agradecimento em particular à Professora Madalena Pessoa, da Coordenadoria

Especial de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, pela sua incansável presteza nos

encontros e entrevistas que concedeu.

Agradeço a Deus por todas as graças e oportunidades que me concedeu, como esta de

cursar e concluir mais uma etapa de minha vida profissional.

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RESUMO

O estudo aqui apresentado tem como temática principal a descentralização da

educação pública, colocada em prática no Brasil, nas últimas décadas. Na gestão das redes

públicas de educação básica do país, este processo foi denominado de “municipalização da

educação”. O objeto central deste estudo é analisar a implantação deste modelo

descentralizador, por meio do Programa de Municipalização do Ensino de 1º Grau do Estado

do Rio de Janeiro – PROMURJ, no Município de Petrópolis. A pesquisa faz uma abordagem

inicial sobre a descentralização da educação no Brasil, suas possíveis concepções e

influências. De forma breve, são relacionados os dispositivos legais que determinaram a

municipalização da educação, através da repartição de competências entre os entes da

federação: União, Estados, Distrito Federal e Municípios, localizando-se em cada instância

administrativa as incumbências na gestão dos diferentes níveis da educação. Ao longo do

estudo são apresentadas as discussões que envolvem a municipalização, nas quais são

descritos os problemas de ordem técnica e política para a sua implantação. Tomou-se como

fontes para as análises realizadas, estatísticas oficiais sobre o ensino fundamental, bem como

documentos que tratam da trajetória das políticas de municipalização. As considerações entre

o que foi feito e o que está por fazer, estão baseadas nas propostas contidas no PROMURJ,

que é ainda o programa oficial que norteia este processo. São abordados ainda os obstáculos

que interferem no processo de municipalização e as transformações verificadas na legislação

voltada para o tema.Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa, que utiliza dados

quantitativos analisando-os como reveladores das questões que envolvem os processos de

municipalização no Estado do Rio de Janeiro.

Palavras-chaves: descentralização, municipalização, regime de colaboração, sistema de

ensino em Petrópolis.

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ABSTRACT

The main subject of the presented work is the proposal of the public administration

decentralization, established in Brazil in the last decades. In the administration of the public

basic education in this country, this process was called “municipalization of education” . The

core of this study is the implementation of this decentralization model, through the

PROMURJ – Ist Grade Education Municipalization Program of Rio de Janeiro State in

Petropolis City. The research also approaches the origin of the decentralization proposals in

Brazil and its possible conception and origin, as well as the influence from abroad. Is short it

was intended to relate the proposals and their changes into legal provisions, which

estabilished that the authorities proceed the municipalization of the education, through the

partition of jurisdiction among the federation entities, the Union, States, Federal District and

Municipalities, where each one of the administrative branches is responsible for the

management of the different levels of education. During the essay are presented the

arguments pros and cons of the of the municipalization, where the technical problem and the

politics for its accomplishment are described. The considerations made in the presented work

are based in basic education statistics date along with the municipalization politics course.

The considerations related to what was done and what is needed to be done, are based on

proposals within the Municipazations Program of Rio de Janeiro State, which is the official

document that guides this process. Besides in an analysis issue the political practices which

interfere in the municipalization process and the changes occurred in the legislation related to

this subject.

Key words: descentralization – The county responsabilization, The education in Petrópolis.

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 – Evolução das unidades escolares municipalizadas no Estado do Rio de Janeiro no período compreendido entre os anos de 1988 e 2007..................................... 53

GRÁFICO 02 – Divisão do total de matrículas da educação básica no Estado Rio

de Janeiro ............................................................................................................................. 67

GRÁFICO 03 – Distribuição das matrículas na educação básica de Petrópolis por

setores público e privado. ................................................................................................... 80

GRÁFICO 04 – Distribuição das matrículas na educação infantil de Petrópolis

por setores público e privado............................................................................................... 81

GRÁFICO 05 – Distribuição das matrículas no ensino fundamental de Petrópolis

por setores público e privado............................................................................................... 82

GRÁFICO 06 – Distribuição das matrículas no ensino médio de Petrópolis

por setores público e privado. ............................................................................................. 83

GRÁFICO 07 – Evolução do número de matrículas na rede municipal de

Petrópolis no período 1996 – 2007...................................................................................... 99

GRÁFICO 08 – Distribuição das matrículas na rede pública municipal de

Petrópolis. ........................................................................................................................... 100

GRÁFICO 09 – A evolução da municipalização do ensino fundamental regular

no Estado do Rio de Janeiro. ............................................................................................ 108

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ÍNDICE DE QUADROS QUADRO 01 – Organização do ensino de acordo com as leis de diretrizes e bases da educação nacional: 4024/61, 5692/71 e 9394/96. .......................................................... 54 QUADRO 02 – Distribuição dos docentes na educação básica no Estado do Rio de Janeiro, por esfera administrativa, em número de profissionais e seus respectivos percentuais por esfera administrativa e por nível de ensino. ............................................... 64 QUADRO 03 – Distribuição das matrículas na educação básica no Estado do Rio de Janeiro, por esfera administrativa, em número de matrículas e seus respectivos percentuais por esfera administrativa e por nível de ensino ................................................ 65 QUADRO 04 – Distribuição das matrículas entre os níveis de ensino e por unidades escolares administradas pela SEEDUC-E em Petrópolis. ................................................... 85 QUADRO 05 – Distribuição das matrículas na UEs estaduais de Petrópolis: etapa/modalidade.................................................................................................................. 86 QUADRO 06 – Distribuição das matrículas do ensino fundamental por modalidade de ensino nas escolas estaduais da SEEDUC-E no município de Petrópolis. ...................... 91 QUADRO 07 – Distribuição das matrículas do ensino médio por modalidade e administração nas escolas estaduais no município de Petrópolis. ........................................ 94 QUADRO 08 – Participação dos convênios na rede pública municipal de Petrópolis....... 97 QUADRO 09 – Total de matrículas por nível segmento/modalidade na rede municipal de Petrópolis, ano -2007......................................................................................................... 99 QUADRO 10 – Unidades Escolares Municipalizadas em Petrópolis................................. 103 QUADRO 11 – Evolução comparativa das matrículas do ensino fundamental regular presencial, entre as redes estadual e municipais para todo o Estado do Rio de Janeiro no período 1999 a 2006. ............................................................................................................ 106 QUADRO 12 – Evolução comparativa do ensino fundamental não regular (EJA/ supletivo/ presencial/ não presencial) entre as redes municipais e estadual, no Estado do Rio de Janeiro no período 1999 – 2006.............................................................. 109 QUADRO 13 – Distribuição percentual das unidades escolares no ensino fundamental entre as redes públicas e a rede privada em alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro....... 116 QUADRO 14 – Distribuição percentual das matrículas no ensino fundamental entre as redes públicas e a rede privada em alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro ................... 116 QUADRO 15 – Dados comparativos entre o total de UEs municipalizadas por coordenadoria regional com a renda per capita e a população dos municípios.................. 119

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ÍNDICE DE SIGLAS

ABE – Associação Brasileira de Educação

ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento CAP-UERJ – Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica CES - Centro de Estudos Supletivos CR11RSIII – Coordenadoria Regional 11 da Região Serrana III CIEP - Centro Integrado de Educação Pública E. E. – Escola Estadual EJA – Educação de Jovens e Adultos FAETEC - Fundação de Apoio à Escola Técnica FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos

Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério GP - Ginásios Públicos GSN - Governo Subnacional IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEP - Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Anísio Teixeira LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação PROMUNICÍPIO Programa de Coordenação e Assistência Técnica do Ensino Municipal PMP – Prefeitura Municipal de Petrópolis PROMURJ – Programa de Municipalização do Ensino de 1º Grau do Estado do Rio de

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Janeiro SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica SEEDUC-E Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro SEE-RJ Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro SESI – Serviço Social da Indústria SUS - Sistema Único de Saúde UE – Unidade Escolar UNDIME – União Nacinal dos Dirigentes Municipais de Educação URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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ÍNDICE DE ANEXOS

ANEXO A – Resolução nº 1411, de 03 de dezembro de 1988, que deu origem ao Programa

de Municipalização do Ensino de 1º Grau do Estado do Rio de Janeiro.

ANEXO B – Tabela com as Unidades Escolares – UEs municipalizadas no período

compreendido entre 1988 e 2007.

ANEXO C – Unidades Escolares – UEs da Coordenadoria Regional 11 da Região Serrana

III - CR11 RSIII – Modalidades e nº de alunos em 2007.

ANEXO D – UEs municipalizadas em Petrópolis.

ANEXO E – Total de matrículas na FAETEC, em Petrópolis, em julho de 2007, nas

modalidades de cursos técnicos.

ANEXO F – Cópia do demonstrativo do número de alunos na rede municipal de Petrópolis

por etapas e modalidades.

ANEXO G – Projeto de Lei 483/2007

ANEXO H – Cópia dos artigos 61 e 62, da Lei nº 4528, de março de 2005, que foram vetados

pela governadora e cujo veto foi derrubado pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro - ALERJ.

ANEXO I – Dados do IBGE referentes a Petrópolis.

ANEXO J – Declaração da Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15

1.1. METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO .......................................... 20

2 – A DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E A MUNICIPALIZAÇÃO

COMO ALTERNATIVAS DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO

BRASIL ........................................................................................................................... 31

2.1 REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE A MUNICIPALIZAÇÃO ................................. 39

3 – AS POLÍTICAS DE MUNICIPALIZAÇÃO NO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO ......................................................................................................................... 47

4 – A MUNICIPALIZAÇÃO EM PETRÓPOLIS: AS NEGOCIAÇÕES

POLÍTICAS E A TRAJETÓRIA DO PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO.. 75

4.1. DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS ENTRE AS REDES DE ENSINO

PÚBLICO E PRIVADO EM PETRÓPOLIS .......................................................79

4.1.1 - Estrutura da rede estadual de ensino no município de Petrópolis ..... 85

4.1.2 - Estrutura da rede municipal de ensino no município de Petrópolis ..... 95

5 – AVANÇOS E RECUOS NO PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO ................... 105

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 122

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 128

ANEXOS ............................................................................................................................. 133

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1 - INTRODUÇÃO

A municipalização do ensino é proposta antiga e controversa, seja dentro da área

educacional, seja nas esferas políticas que defendem uma maior descentralização da

administração pública e, conseqüentemente, uma maior autonomia para os municípios, não

apenas na área educacional, mas também em outras instâncias administrativas. Já, no

Império, a Lei de 1º de outubro de 18281 atribuía competências educacionais às câmaras

municipais, demonstrando preocupação com a centralização excessiva na administração

pública. Durante todo o período republicano, a municipalização foi aventada e discutida,

dividindo as opiniões entre os municipalistas e os centralistas. Tais divergências encontradas,

tinham diferentes embasamentos de ordem político-filósofica. A descentralização defendida

pelos municipalistas como proposta política remonta suas raízes ao ideário liberal e aos

discursos positivistas2. Já os centralistas traziam seus fundamentos de ordem absolutista que

imperou na formação dos antigos estados nacionais e cuja perspectiva dava-se em torno das

idéias dos filósofos que prescreviam a existência de uma administração única que tornasse os

poderes do soberano hegemônicos e absolutos.

Atualmente, persiste a idéia de uma educação centralizada e contrária à delegação de

maiores poderes e competências aos municípios, a partir do argumento que nas regiões

dotadas de poucos recursos, em áreas remotas do território nacional, o processo de

descentralização acarretaria perda na qualidade da educação.

O que se verifica nas legislações para a educação, especialmente, nas Leis de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4024/61 e, posteriormente, a Lei nº

9394/96, baseada na Constituição Federal de 1988, são diversas lacunas e imprecisões a

1 Para o artigo na integra ver SUCUPIRA, Newton. In Fávero. A Educação nas Constituintes Brasileiras. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2005. 2 Sobre esse tema ver CURY, Carlos Roberto Jamil. In Fávero. A Educação nas Constituintes Brasileiras. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2005.

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respeito da descentralização da educação, sendo consideradas por alguns estudiosos da área

como normas vacilantes e indefinidas. Para Savianni (1997), um quadro impreciso e cheio de

lacunas é encontrado no texto legal, tanto no que tange à origem dos recursos que irão

financiar a educação básica, quanto à competência de cada um dos entes federados, União,

Estados, Distrito Federal e Municípios, nas diferentes etapas da educação.

O aspecto a ser destacados nas propostas do processo de descentralização do ensino

como um todo, e, de interesse particular deste estudo, no município de Petrópolis, são os

aspectos político-administrativos, observados nas relações entre as diferentes instâncias do

poder público e nas relações dentro do município entre o poder público e a comunidade

escolar.

Como professor de geografia de turmas de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental da rede

estadual de educação do Rio de Janeiro e da rede municipal de educação de Petrópolis, tive a

oportunidade de testemunhar, nas escolas em que atuei, as diferenças existentes entre os

modelos de gestão administrativa destas duas redes públicas, bem como as dificuldades e os

obstáculos para a implantação do processo de municipalização do ensino.

Nesse sentido, a escolha do tema de pesquisa na área de políticas educacionais, com

ênfase nos aspectos de centralização/descentralização da educação, resultou também da

proximidade com a realidade investigada e do interesse em contribuir com um estudo

científico para a tomada de decisões, que se fazem urgentes, em relação à continuidade do

processo de municipalização no Estado do Rio de Janeiro e, especialmente, em Petrópolis.

Dessa forma, o presente estudo tem como objeto de pesquisa o processo de

municipalização ocorrido no município de Petrópolis, desde a implantação de programas

oficiais de descentralização da gestão da educação pública no Estado do Rio de Janeiro,

iniciados na década de 70, até as recentes transferências de Unidades Escolares do Estado

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para o Município, ratificadas com a vigência da Lei do Sistema de Ensino do Estado do Rio

de Janeiro, Lei Estadual nº 4.528/2005

Nessa perspectiva, o recorte temporal utilizado abrange os primeiros movimentos

oficiais de municipalização que perpassaram as décadas de 70 e 80 e tem como foco a década

de 90 e o início dos anos 2000.

A investigação a que se propõe este estudo parte da análise do processo de

municipalização da educação que ocorreu no Brasil nas últimas décadas do século XX, para

desvelar esse movimento em Petrópolis, procurando apontar os avanços e recuos dos aspectos

políticos, administrativos e pedagógicos presentes nas medidas de descentralização que foram

adotadas entre as redes públicas de ensino do Estado do Rio de Janeiro e o Município de

Petrópolis, mais especificamente.

O processo de descentralização não se restringe apenas aos aspectos administrativos e

seus conseqüentes desdobramentos nas finanças públicas. Trata-se de um importante passo de

autogestão, na qual os municípios passam a formular as suas próprias propostas político-

pedagógicas e têm, em teoria, a oportunidade de realizar dentro da comunidade escolar o

exercício da autonomia.

O fim da tutela exercida pelas esferas administrativas superiores, no caso os Estados e

a União, traz para o cenário político uma experiência inédita não apenas na história político-

administrativa brasileira, mas também na gestão e formulação de políticas educacionais. A

descentralização da educação, via municipalização do ensino, parte do pressuposto de que os

municípios já são capazes de determinar seus próprios caminhos, a despeito de fórmulas e

regras vindas de instâncias superiores. Portanto a descentralização é um testemunho e um

reconhecimento da maturidade política adquirida pela sociedade brasileira nas últimas

décadas.

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Para tratar de políticas públicas que envolvem democracia, autonomia ou maturidade

política, é necessário enfocar uma de suas condições prioritárias, a educação. Há inúmeros

trabalhos como os de Azevedo (2001), Cury (2005), Rosar (1997), Souza (2004) entre outros,

relacionando ambos os conceitos. A educação é cada vez mais considerada um instrumento

legitimador da ordem social e econômica vigente e fundamental para o funcionamento das

instituições democráticas. Contudo a defesa de uma educação de qualidade e que promova

socialmente o indivíduo, transformando-se em um instrumento de inclusão social, ultrapassa

em muito os argumentos apenas de ordem política e/ou social para se tornar pré-requisito de

desenvolvimento econômico. Nesse sentido, as políticas voltadas para a educação básica e,

em particular, para o ensino fundamental, revestem-se de grande relevância, pois a análise do

histórico da gestão da educação no país revela os princípios e finalidades que os governantes

têm postulado para com esse setor.

A expansão das redes municipais de educação básica, atendendo a pequenas

comunidades em locais remotos e à ampliação da escolaridade, é apontada, hoje, como

instrumento de diminuição das desigualdades sociais, promovendo uma maior oferta de

oportunidades.

Segundo Oliveira (2004), a municipalização é uma das modalidades de aprimoramento

da descentralização que tem como objetivo a transferência dos estados para os municípios da

responsabilidade pela oferta da educação infantil e do ensino fundamental. Posição

semelhante a respeito do conceito e do objetivo da municipalização tem Souza (2004), ao

afirmar que a municipalização é uma forma de descentralização que se pode denominar de

divisão técnica e política da gestão da educação, que rompe com a figura solidária da

colaboração existente entre os entes da federação. A municipalização é vista como uma

estratégia de se descentralizar o aparato burocrático e de elevar o grau de autodeterminação

administrativa dos municípios.

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O fato de a administração municipal estar mais próxima da comunidade a ser

atendida, quando comparada às esferas administrativas estadual e federal, é encarado por

seus defensores como um dos mais fortes argumentos a favor da descentralização. Esta

“proximidade”, entre o centro de decisões e a comunidade escolar, é apontada como um

fator de otimização tanto dos recursos financeiros quanto humanos, o que resulta em uma

administração mais eficiente, maximizando recursos de toda ordem. Em tese, presume-se que

as decisões sejam tomadas por pessoas oriundas da comunidade atendida, e que esta tenha

sido consultada ou que, no mínimo, tenha sido facultada a sua participação no processo de

tomada de decisões. Outro ponto a ser considerado dentro do processo de municipalização da

educação é a possibilidade de a comunidade escolar poder elaborar as suas próprias propostas

político-pedagógicas e colocar em prática a sua implantação nas UEs do município. Isto

descaracteriza o regime de subordinação às políticas estaduais, que chegavam prontas para os

municípios, na forma de determinação a ser cumprida.

Porém como as políticas de municipalização, mesmo depois de décadas de seu início,

ainda são vistas a partir de posições ora antagônicas, ora cautelosas, esta temática constitui

um importante objeto de estudo na área das políticas educacionais, bem como de pesquisas

que se referem à administração pública brasileira.

Além disso, é comum na grande maioria dos municípios brasileiros, se não em todos,

as secretarias de educação constituírem-se, no setor do Poder Executivo, com o maior

contingente de funcionários. Portanto, não há como desconsiderar a importância política,

social e administrativa das propostas descentralizadoras e municipalizantes colocadas em

prática e a necessidade de um estudo aprofundado sobre esse tema.

A inclusão social e a inserção dos indivíduos em uma condição de vida digna,

capacitando-os para as demandas decorrentes da modernidade que se impõem de maneira

veloz, são pré-requisitos para uma disputa cada vez mais difícil no mercado de trabalho.

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Dessa forma, torna-se imperioso que as políticas de educação estejam em sintonia com as

aspirações e os valores da sociedade para a qual são formuladas, respeitando as características

locais, mas sem esquecer que é imprescindível estar conectado às exigências de uma

economia global, cada vez mais dominada pelas inovações tecnológicas que requerem

necessário domínio sobre os novos códigos advindos da modernidade.

Nesse sentido, inserido no âmbito da pesquisa de políticas educacionais, o presente

estudo tem como objetivo, apresentar um panorama acerca do que foi realizado dentro do

programa de municipalização implantado no Estado do Rio de Janeiro, a partir da década de

70, denominado de Programa de Municipalização do Ensino de 1º grau do Estado do Rio de

Janeiro – PROMURJ, (Anexo A) que permanece em vigor até a atualidade, tomando-se como

foco o processo de municipalização e as circunstâncias em que ele ocorreu no município de

Petrópolis. São apresentadas ainda reflexões teóricas sobre a municipalização, nas quais

foram confrontadas as posições de alguns autores, relativas à gestão da educação básica nas

redes públicas estaduais e municipais.

1.1. METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

A realização de uma pesquisa científica, tem como objetivo elucidar questões tanto

que desafiam o que está posto nas ações do cotidiano, quanto aquelas que buscam novos

paradigmas. “É o conhecimento vivo, que conduz a grande aventura da descoberta do

universo, da vida, do homem” (MORIN, 1999, p. 15). Por algumas vezes foi apenas a

curiosidade humana que levou o ser humano a novas descobertas, e a avanços significativos

na ciência, transformando o modo de viver, de se relacionar e produzir, de satisfazer as

necessidades sociais (MORIN, 1999).

As descobertas ou trabalhos de investigação diferem nos métodos utilizados para se

chegar aos objetivos pretendidos ou aos resultados alcançados. Consoante com o objetivo de

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se conseguir êxito nos trabalhos científicos, Quivy ( 1988) destaca para as ciências humanas

o seguinte:

Importa, acima de tudo, que o investigador seja capaz de conceber e de por em prática um dispositivo para a elucidação do real, isto é, no seu sentido mais lato, um método de trabalho. Este nunca se apresentará como uma simples soma de técnicas que se trataria de aplicar tal e qual se apresentam, mas sim como um percurso global do espírito que exige ser reinventado para cada trabalho. (p 13)

Ao fazer tal colocação, o autor enfatiza a capacidade individual e a subjetividade de

cada pesquisador, numa alusão de que um mesmo tema investigado por diferentes pessoas

poderá chegar a diferentes conclusões. Conforme Costa (2002), podemos dizer que “a

originalidade da pesquisa está na originalidade do olhar”( p .152).

O trabalho de investigação a que me propus é um tema de caráter político, a

descentralização administrativa do setor público, posta em execução no Brasil, nas últimas

décadas, mais especificamente, na forma de municipalização da educação. Trata-se de um

trabalho no campo das ciências humanas, cujo recorte refere-se à descentralização através da

municipalização em Petrópolis.

Inicialmente, pareceu-me estar apenas diante de uma pesquisa qualitativa, mas no

decorrer do trabalho de investigação e levantamento documental, tornou-se necessário buscar

dados quantitativos que funcionaram ao mesmo tempo como fatores instigadores e

verificadores do objeto de pesquisa.

A dificuldade de se definir com precisão as características do que é uma pesquisa

qualitativa é demonstrada através da fala de André (1995), ao fazer a seguinte colocação:

Muito embora a leitura disponível seja razoavelmente extensa e esteja aumentando cada vez mais, parece que o próprio conceito de pesquisa qualitativa não tem sido suficientemente discutido, o que tem resultado em críticas ou defesas, às vezes pouco fundamentadas, de posições, sem que se explicite de que tipo de pesquisa qualitativa cada um está falando. (p 22)

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Numa linha semelhante de raciocínio, Gaston Bachelard (1965) resumiu o processo

científico dizendo: “O fato científico é conquistado, construído e verificado: Conquistado

sobre os preconceitos; construído pela razão; verificado nos fatos”(QUIVY, 1988, p. 23).

Os números entram neste estudo como a demonstração de alguns fatos, ou seja, o que

realmente se concretizou em termos práticos na transferência entre as partes envolvidas no

processo de municipalização. Porém os dados numéricos não se restringem a meros

verificadores, podendo ser usados como indicadores de outros fatores que, numa análise

superficial, apresentam-se encobertos ou manipulados. Os dados quantitativos podem ajudar a

traduzir com mais clareza a evolução do processo de descentralização em curso na

administração pública brasileira. Ou seja, conforme afirma Bachelar (1965), pode se verificar

nos fatos, o processo científico.

Dessa forma, para se obter os dados numéricos e macrossociais é necessário recorrer

aos acervos que armazenam essas informações, especialmente aqueles tidos como oficiais,

isto é, que são considerados válidos para fins de estatísticas e planejamentos. Além dos

acervos citados, Quivy (1988, p.202) ressalta que

não se deve desprezar as bibliotecas, os arquivos e os bancos de dados sob todas as suas formas, que são ricos em dados e apenas esperam pela atenção dos investigadores. É portanto inútil consagrar grandes recursos para se recolher aquilo que já existe, ainda que a apresentação dos dados possa não ser totalmente adequada e deva sofrer algumas adaptações.

No caso deste estudo, os dados foram recolhidos em institutos nacionais de estatísticas

como o IBGE ou INEP, bem como nas instituições públicas, objeto da pesquisa: a Secretaria

de Estado de Educação e a Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis.

Tais dados permitem verificar o grau das reformas já implementadas na estrutura da

educação pública estadual e municipal, porém, sempre tendo o cuidado de não esquecer os

fatores sociais e políticos que levaram às ações implantadas.

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Assim sendo, para a realização desta pesquisa o primeiro procedimento metodológico

constituiu-se no levantamento do material bibliográfico que forneceu as bases teóricas do

conceito e das práticas de descentralização. Um breve histórico mostrou que a dicotomia

centralização/descentralização não é polêmica recente na história da administração brasileira,

estando presente desde o período Imperial.

Para ilustrar essa trajetória das propostas de descentralização administrativa na política

brasileira, em especial, na área educacional, recorreu-se a um levantamento documental que

informou a respeito das transformações ocorridas na legislação e nos respectivos argumentos

que embasavam estas mudanças.

Quanto à origem das fontes, utilizaram-se diversos tipos de documentos, como dados

retirados de órgãos governamentais, tabelas fornecidas pelas Secretarias de Educação do

Estado e do município de Petrópolis; entrevistas com funcionários destas secretarias; Portarias

publicadas no Diário Oficial do Rio de Janeiro; dados do Censo Escolar INEP e do Censo

Demográfico do IBGE; dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o mesmo tema;

bem como artigos publicados em periódicos.

Para se realizar o confronto entre os autores que vêem a descentralização sob óticas

diversas – uns como uma alternativa benéfica e outros com argumentos diametralmente

opostos – recorreu-se também a pesquisas acadêmicas já realizadas que serviram de

referencial teórico para as considerações aqui apresentadas.

Após o levantamento dos acervos documentais relativos ao tema, procedeu-se a uma

ampla análise do material documental encontrado, que se constitui de Portarias, Decretos,

Leis e dados estatísticos/quantitativos, com a finalidade de compreender a evolução do

processo municipalização em seus aspectos de negociação e transferência de encargos entre as

partes envolvidas, no caso, as administrações estadual do Rio de Janeiro e municipal de

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Petrópolis. O trabalho de levantamento documental e de dados estatísticos foi realizado nos

centros de documentação e dados estatísticos dos seguintes órgãos:

• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

• Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)

• Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-E)

• Coordenadoria Regional 11 da Região Serrana III (CR11S III)

• Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis (SME)

• Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC)

Na leitura e interpretação do material encontrado relativo ao tema da pesquisa, foi

necessária uma análise criteriosa para que, partindo de dados estátisticos, fosse possível retirar

a maior quantidade de informações. Para isso, foi fundamental o uso de critérios pré-

estabelecidos acerca do que se queria averiguar, levando em conta o que afirma Morin,

(1999, p. 21) no sentido de que “não se deve desprezar a enorme massa do saber

quantificável”, mas a mesma “deve ser utilizada com liberdade e reflexão”.

Com base na análise dos dados quantitativos e dos números que deles emergiram,

procedeu-se a um paralelo entre eles e as propostas contidas na legislação e nos objetivos do

PROMURJ. Este procedimento foi concretizado com a construção de um conjunto de gráficos

e quadros que demonstram com maior precisão as várias categorias adotadas para se

detalharem os números, o que possibilita maior clareza na leitura de dados. O detalhamento

quantitativo de informações sobre os sistemas de educação estudados foi tratado ao longo do

estudo a partir de categorias de análise relativas às esferas administrativas: municipal,

estadual, federal e privada; além de se abordar de forma estatística e quantitativa também as

várias etapas e/ou modalidades da educação básica.

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A partir desta etapa do trabalho de pesquisa, procedeu-se à complementação das

lacunas deixadas pelo levantamento dos dados quantitativos, por meio de entrevistas, que

deram sentido aos números, na medida em que as partes envolvidas neste processo

manifestaram as suas considerações sobre a descentralização, como proposta política para a

administração pública e seus efeitos na prática cotidiana.

Procurou-se adotar entrevistas exploratórias não muito formais ou estruturadas,

realizadas após o preenchimento de um breve questionário padronizado. As entrevistas menos

formais, de acordo com Quivy (1988, p.68) “servem para encontrar pistas de reflexão, idéias e

hipóteses de trabalho, e não para verificar hipóteses pré-estabelecidas”. Posição muito

semelhante é verificada nas colocações de Thiollent (1982, p. 80) ao criticar as entrevistas

padronizadas, afirmando que estas foram consideradas pelos positivistas como um

instrumento de “comparabilidade e confiabilidade” e portanto necessárias apenas à base de

quantificação. Thiollent (1982, p. 80), ainda em uma linha de raciocínio semelhante a de

Quivy (1988, p. 68), pondera que uma maior liberdade em entrevistas não diretivas pode

superar os inconvenientes e limitações das entrevistas e dos questionários tradicionais.

As partes ouvidas por meio de entrevistas são classificadas por Quivy (1988, p. 69)

como “testemunhas privilegiadas”. Foram, portanto, tomadas como tal neste estudo, as

seguintes personagens entrevistadas: a Coordenadora de Integração e Municipalização da

Secretaria de Estado de Educação – SEEDUC-E, a representante da Secretaria Municipal de

Educação de Petrópolis, a representante da Coordenadoria Regional Serrana III – CR11RSIII3

e a Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME/RJ.

A escolha dos entrevistados foi feita pela importância dos órgãos em que cada um

deles atuava e atua ao longo do processo de municipalização. Nesse caso, a entrevista com a

representante da Coordenadoria de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, tornou-se

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fundamental por se tratar do órgão criado especificamente para acompanhar os processos de

municipalização e servir como canal de negociação com as secretarias municipais de

educação de todo o Estado do Rio de Janeiro, constituindo-se, assim, na principal fonte de

reconstrução do cenário da municipalização no território fluminense. Além disso, ao ouvir a

Coordenadora deste órgão, pode-se acompanhar o processo de municipalização, a partir da

implantação do PROMURJ, pela continuidade do trabalho que vem sendo realizado,

vinculado a este mesmo setor da administração pública, desde a década de 80. Ao longo de

vários encontros, a Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E foi

dissipando dúvidas e preenchendo as lacunas que surgiram na elaboração deste estudo.

Apenas no primeiro encontro, a entrevista teve caráter mais formal usando-se um questionário

pré-estabelecido. A partir do segundo encontro, foi procurado dar a entrevistada liberdade

para fazer colocações que pudessem aumentar a quantidade de informações, mesmo

acrescentando novos rumos ao trabalho. Nos demais encontros, ainda que dúvidas e questões

surgissem, colocadas pelo entrevistador, uma grande quantidade de informações inéditas foi

apresentada de forma espontânea pela Coordenadora de Integração e Municipalização da

SEEDUC-E, possibilitando a divulgação de fatos que não estariam disponíveis em outras

fontes. Foi também por meio da Coordenadora de Integração e Municipalização da

SEEDUC-E, que parte significativa do material impresso com informações pertinentes às UEs

municipalizadas foi obtido.

A primeira entrevista com a Coordenadora de Integração e Municipalização da

SEEDUC-E foi realizada no dia 10 de abril de 2007, com algumas perguntas previamente

preparadas (Anexo J). A partir desta entrevista, uma série de novos questionamentos e

hipóteses foi incorporada ao estudo, por conta de intervenções e acréscimos feitos pela

entrevistada. Depois desta primeira entrevista, outros três encontros ocorreram nos dias 23 de

3 Órgão Regional da Secretaria de Estado de Educação, localizado em Petrópolis, e cuja jurisdição administrativa abrange Petrópolis e alguns municípios limítrofes.

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abril, 14 de junho e 7 de agosto de 2007. Após cada encontro, a entrevista era transcrita,

procedendo-se as análises e a escrituração do texto referente, assim como as dúvidas que

surgiam eram anotadas para serem esclarecidas no encontro seguinte.

Paralelamente aos encontros com a representante da Coordenadoria de Integração e

Municipalização da SEEDUC-E, foi realizada uma entrevista com a representante da

Coordenadoria Regional 11 da Região Serrana III – CR11RSIII, em 12 de junho de 2007, na

qual foram obtidos os dados estatísticos e as informações mais específicas sobre a rede

estadual localizada no município de Petrópolis (Anexo C).

A representante da Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis foi entrevistada

em dois momentos ocorridos nos dias 7 e 21 de maio de 2007, após vários contatos informais.

Nestes encontros, foi sugerida a realização de visitas a outros órgãos municipais, a fim de se

obter material estatístico com dados contendo os números de UEs e de matrículas da rede

municipal de educação (Anexo F).

Em 18 de novembro de 2007, foi realizada entrevista com a Presidente da União

Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, com a finalidade de identificar

e analisar a posição e a argumentação dos secretários municipais de educação em relação ao

processo de municipalização no Estado do Rio de Janeiro.

Em um trabalho desta natureza, eminentemente político, não se pode desprezar o que é

apontado por Quivy (1988 p. 75) como “o discurso como fonte de informação”, uma vez que

este está impregnado de conteúdo ideológico, por mais que o entrevistado se esforce para

demonstrar uma posição de neutralidade em relação ao tema central da entrevista. Coube,

desta forma, ao entrevistador levar em conta “quem falava” e “de onde” estava falando.

O resultado da pesquisa realizada apresenta-se organizado neste estudo em cinco

capítulos estruturados da seguinte forma: no capítulo I encontram-se a introdução e a

descrição da metodologia utilizada; o capítulo II aborda a questão da descentralização da

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administração pública como a estratégia considerada mais adequada pelos governantes, no

intuito de tornar mais eficiente a máquina administrativa. Neste capítulo, procurou-se relatar

as influências externas nas diretrizes da política nacional e os princípios que inspiraram tais

decisões. São relatos construídos a partir de “leituras exploratórias” (QUIVY, 1988) que

contribuíram para a constituição da temática da investigação, relativa ao problema de partida.

Ainda, no mesmo capítulo, com base nas leituras exploratórias, foram priorizadas as

abordagens e conceitos que versavam sobre as políticas adotadas para a descentralização da

máquina administrativa e as políticas específicas para descentralização da educação,

particularmente, as denominadas de municipalização, relacionando-as às decisões adotadas

para toda a administração pública. Trata-se, portanto, de um capítulo que procurou esclarecer

as origens das diretrizes governamentais descentralizantes e seus efeitos na área educacional.

Todavia não se pretendeu mostrar a educação como algo que esteja “a salvo” das influências

da política internacional e das determinações que emanam de acordos nestas esferas. O

inevitável confronto surge e é demonstrado através de autores de diferentes posicionamentos,

por vezes, denunciando interesses advindos das esferas da macro-política.

No item intitulado Reflexões teóricas sobre a municipalização, são enfatizadas, ainda,

as condições e estratégias necessárias para a implementação das determinações contidas na

legislação vigente, tornando-se necessário fazer considerações de ordem política, palavra esta

que aqui adquire forma mais específica, sendo entendida como a negociação entre

governantes e entre estes e a sociedade. Portanto este item não se limita a um recorte das

determinações legais que versam sobre a educação pública, ainda que sejam freqüentes as

citações de artigos ou parágrafos dos textos contidos na CF de 1988 e na LDBEN nº 9394/96.

No capítulo III, são analisadas as políticas de municipalização no Estado do Rio de

Janeiro, tomando-se como base as determinações contidas no PROMURJ, na legislação

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pertinente ao tema, bem como no discurso político que dá sustentação à proposta

municipalizante.

Para proceder tal demonstração com maior clareza, são apresentados quadros com

dados estatísticos que permitem retratar a estrutura das redes públicas e privada do Estado,

detalhando a participação por esfera administrativa e por etapas da educação básica (Anexo

X). Partindo-se da proposta contida no PROMURJ e nos dispositivos legais que estabelecem a

delegação de competências, procedeu-se a análise dos números que resultou em estatísticas

que possibilitaram avaliar a evolução do processo de municipalização e o que está por ser

feito. São números como o total de matrículas e de docentes e suas respectivas participações

percentuais em cada uma das esferas administrativas e em cada etapa da educação básica.

Com base nestes dados, verificou-se o que ainda é passível de transferência entre as esferas

administrativas, e o que já foi concretizado, remetendo-se sempre aos princípios da proposta

de descentralização.

Ao se trabalhar com um significativo volume de dados numéricos, é preciso cuidado

para não se associar quantificação a positivismo, e, portanto, ultrapassar a dicotomia

qualitativa/quantitativa (André, 1995). Assim sendo, neste capítulo, a análise do processo de

municipalização não está focada apenas nos dados quantitativos, mas procurou-se

correlacionar estes dados com os argumentos de ordem técnica e empírica que dão

sustentação política aos programas de descentralização implementados não apenas na

educação, mas também em outros setores da administração pública brasileira.

O capítulo IV, em que pese a subjetividade das questões políticas envolvidas, procurou

abordar aspectos que possam ter influenciado as negociações entre as partes, nos processos de

transferência administrativa e delegação de competências, no município de Petrópolis. Porém

para se mensurar a evolução destes processos, recorreu-se mais uma vez aos dados

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quantitativos, procurando fazer uma leitura analítica dos aspectos implícitos e explícitos

nestes números.

Procedimento semelhante ao detalhamento numérico e estatístico adotado no capítulo

III se repete no capítulo IV, mas agora em relação à estrutura das redes de educação públicas

existentes apenas no município de Petrópolis. Os dados quantitativos demonstram qual a

participação de cada uma das esferas administrativas, em determinada etapa da educação

básica e apontam a evolução destas no período de tempo determinado.

Dessa forma, os procedimentos metodológicos adotados e descritos anteriormente,

bem como a estrutura e organização do estudo, revelaram-se suficientes para apresentar um

panorama da municipalização no Estado do Rio de Janeiro, e, mais especificamente, em

Petrópolis. Todavia como na investigação de qualquer tema, outras pesquisas certamente

deverão complementar o estudo e lançar novos olhares sobre o mesmo assunto.

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2 - A DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E A MUNICIPALIZAÇÃO

COMO ALTERNATIVAS DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL

A descentralização da administração pública não surge no cenário político como uma

proposta inovadora e inusitada, ao contrário, pois se trata de tema bastante conhecido dos

foros políticos brasileiros, nos quais sempre suscitou considerações díspares e argumentos

distintos, defendidos pelas partes envolvidas na questão. As concepções sobre

descentralização são, há muito, objeto de estudo de vários pesquisadores, brasileiros, ou não,

estando portanto sujeitas às influências de teorias de autores estrangeiros e aos fatores da

conjuntura internacional que têm reflexos na política brasileira (ROSAR,1997). Um dos

exemplos, a ser apontado como reflexo da política internacional nas diretrizes da política

interna, foi a crise do socialismo ao longo da década de 80. Com o fim do regime socialista,

na extinta União Soviética – URSS, ganhou maior credibilidade e divulgação a ideologia

neoliberal, em evidência na Grã-Bretanha e nos EUA, no período anteriormente citado.

Segundo Rosar (1997), não há como deixar de ressalvar a grande importância que estes dois

países têm nos organismos internacionais e nas relações exteriores do Brasil.

Concomitante ao processo de derrocada do socialismo na URSS e no Leste Europeu,

vários países da América Latina se encontravam em processo de redemocratização, entre eles,

o Brasil. Naquele momento, a grande maioria dos países do continente latino-americano se

via com graves problemas no seu balanço de pagamentos decorrentes do alto grau de

endividamento externo e, portanto, mais suscetível às determinações dos agentes financeiros

internacionais. Como toda instituição bancária, estes organismos internacionais de

financiamento determinam condições que devem ser seguidas como forma de garantir o

sucesso da operação de empréstimo.

Entre os vários postulados que as teorias neoliberais determinam estão: a redução do

estado, dos gastos públicos, a descentralização administrativa, a desregulamentação de vários

setores da economia, entre outros. Azevedo (2002, p. 3) afirma que a adoção destas e outras

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diretrizes na política caracterizavam-se como pré-requisitos para novos empréstimos e

facilidades na administração de dívidas já existentes.

Esse momento foi de tensão política no Brasil, pois o governo tinha que conciliar as

exigências dos agentes internacionais de financiamento com as demandas sociais reprimidas

por décadas e que vinham à tona por conta da abertura política e da redemocratização do

país. Entre os organismos internacionais de crédito, merecem destaque o Banco Internacional

de Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD, também chamado de Banco Mundial, e o

Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, que sofrem grande interferência dos países

centrais, entre eles os EUA e a Grã-Bretanha. Estas e outras instituições bancárias atrelavam

a concessão de novos financiamentos e da rolagem da dívida dos países periféricos às

políticas adotadas pelos governos destes países. Para Rosar (1997), a descentralização estaria

articulada ao processo de globalização e à adoção de políticas neoliberais, nas quais a

contenção dos gastos públicos e o enxugamento da máquina administrativa se encontravam

entre as principais exigências contidas para as políticas econômicas dos países que captavam

recursos nestas instituições.

Porém, não era apenas do exterior que vinham pressões e argumentos no sentido de se

reformar o Estado. O forte endividamento interno e o crescente déficit fiscal também

demandavam reformas na gestão pública, defendidas por forças internas. Desta forma, as

pressões por mudanças na administração pública se davam tanto por exigências de

organismos externos como internos, provenientes das demandas da sociedade brasileira que

pleiteava maior participação nas decisões políticas e econômicas a serem adotadas.

As eleições para a Assembléia Nacional Constituinte juntamente com as eleições

diretas para a Presidência da República, em 1987, refletiram as duas tendências anteriormente

citadas: a da conjuntura internacional que acenava com o fim do sistema centralizador vigente

em vários países, com a conseqüente ascensão do modelo neoliberal em importantes países do

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mundo capitalista, e as pressões internas facilmente detectadas no discurso dos políticos

brasileiros. No plano interno, havia uma grande demanda por políticas sociais mais

abrangentes e inclusivas que compensassem os pleitos reprimidos, em conseqüência do

retrocesso político vivido entre os anos de 1964 e 1985, período em que o país foi governado

por uma ditadura militar.

A educação apareceu com destaque e relevância na retórica política, como fator de

inclusão e de justiça social. Entende-se por esses discursos que não há outro instrumento tão

eficaz que leve à democratização e à promoção da cidadania. Entretanto, segundo Azevedo

(2002), o Brasil apresenta péssimos indicadores no que se refere à educação nacional,

mesmo se comparados com os de outros países latino-americanos de menor expressão

econômica.

Estratégias diversas para melhorar o desempenho das escolas e dos estudantes

brasileiros são apontadas, há muito tempo, por diferentes correntes ideológicas da política e

da elite intelectual brasileira. Contudo, como gerenciar os recursos para a educação, de modo

a financiar os sistemas públicos de ensino, fazendo-os chegar a todos os municípios de um

país com desigualdades regionais tão grandes como o nosso?

Com base nas políticas adotadas nas últimas décadas no Brasil, podemos deduzir que

o governo brasileiro considerou que a descentralização administrativa, através da delegação

de competência da educação infantil e do ensino fundamental para os municípios, seria o

melhor caminho. Para ilustrar a evolução dos números referentes ao ensino fundamental,

Azevedo (2002) contrapõem dados de 1970, início dos programas de municipalização, aos de

2000, ou seja, dois momentos distintos do processo de descentralização da educação no

Brasil. No primeiro momento, verifica-se uma taxa de escolarização do ensino fundamental

de 67 % passando para 95% no ano 2000 (MEC/INEP, 2000). O que se constata é que, em

1970, apenas dois terços dos brasileiros freqüentavam a escola e um terço encontrava-se

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excluído do ensino formal; já 30 anos mais tarde, no fim do século XX, praticamente todos os

brasileiros em idade escolar tinham acesso à educação formal. Tais dados referem-se à faixa

etária entre 7 e 14 anos de idade, quando o ensino fundamental é obrigatório e gratuito por

força do dispositivo constitucional. Contudo a mesma autora (AZEVEDO, 2002) ressalva que

a taxa de escolarização mais abrangente não se traduziu automaticamente em qualidade da

educação e, para tal afirmação, faz referência aos resultados do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Básica - SAEB, os quais demonstram que os alunos não chegam a

dominar 50% das competências esperadas. O que a autora pretende ao comparar o avanço

quantitativo do percentual de matrículas aos resultados do SAEB, é evidenciar que, embora a

educação tenha se universalizado, este avanço quantitativo não se traduziu em avanço

qualitativo.

Portanto a escola pública e gratuita de qualidade ainda é uma realidade distante das

camadas populares no Brasil. Como afirma Azevedo (2002), o grande aparato estatístico

sobre a educação é manipulado de acordo com as conveniências políticas, pois são objeto de

análise dos agentes financeiros internacionais para a concessão de novos empréstimos, e

ponto de divergência entre governo e oposição.

Em uma análise estatística, podem-se retirar conclusões de acordo com as

conveniências e, portanto, é fato que o acesso à educação no Brasil é, atualmente, mais

abrangente em termos percentuais. Mas será que esta abrangência se traduz em inclusão

social ou se trata apenas de avanço quantitativo, mas não qualitativo?

Um dos principais argumentos que embasam a justificativa de descentralização é a

qualidade. Nas discussões sobre a municipalização da educação, constantemente, aparece o

discurso da produtividade e da melhor adequação das propostas pedagógicas formuladas

pelos próprios municípios, como caminho para uma educação de melhor qualidade.

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As imposições vindas dos agentes financeiros internacionais, entretanto, não parecem

ter como preocupação a qualidade. Tais determinações são pela adoção de políticas de

descentralização da administração pública, não só para a educação, mas também para outras

áreas, como o Sistema Único de Saúde – SUS, sendo que o instrumento para se viabilizar

essas propostas seria um conjunto de medidas que transferem encargos da União e dos

Estados para os Municípios, visando a reduzir o déficit fiscal, através do equilíbrio entre os

gastos e as receitas do Estado. Para que tal equilíbrio ocorra nas contas públicas, uma série de

medidas é preconizada: a reforma fiscal, a privatização de várias empresas públicas e o

“enxugamento” dos setores públicos. Dando prosseguimento ao “figurino” neoliberal, retira-

se o Estado de inúmeros setores da economia, mudando a regulamentação destes setores, nos

quais a administração pública não é vista como eficiente e, portanto, cedendo espaço à

iniciativa privada. Por conseguinte estimula-se a participação de empresas estrangeiras no

mercado interno. A abertura de mercado aparece como uma forma de incentivar a

concorrência, sendo esperado como resultado uma maior eficiência. Para que tal fato ocorra, é

necessária a abertura do mercado nacional para o capital estrangeiro.

Com a posse de Collor de Mello na Presidência da República, em 15 de março de

1990, a maior parte destes postulados constantes do modelo neoliberal foi atendida e, segundo

Azevedo (2001), dá-se início ao desmantelamento do Estado e a abertura da economia

brasileira ao capital internacional. Uma vez vendo seus interesses contrariados pela perda de

espaço dentro do mercado nacional, a elite empresarial brasileira comandou um intenso

movimento de repúdio ao governo Collor de Mello. Este movimento ganhou forte adesão

popular uma vez que escândalos de corrupção do governo tiveram grande destaque na

imprensa da época e culminaram com o impedimento de Collor de Mello, decretado pelo

Congresso Nacional, “atendendo” ao clamor de manifestações populares. Collor de Mello

deu início às propostas neoliberais para a economia e para a política administrativa brasileira.

Contudo a derrubada do governo não pôs fim à implementação de políticas neoliberais que

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pregavam a redução e o re-ordenamento das funções do Estado, assim como uma nova

distribuição de competências entre os entes da federação: União, Estados e Municípios. Os

governos seguintes de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, e o atual adotaram uma

série de medidas que deram continuidade às políticas de descentralização, através do repasse

de recursos e do re-ordenamento jurídico.

Os mesmos argumentos relativos à descentralização muitas vezes são usados por

defensores e opositores, mas com interpretações diferentes, demonstrando uma posição

contraditória entre causa e efeito para as mesmas medidas. Silva (1998) descreve

interpretações antagônicas sobre o papel do Estado na educação e, por conseguinte, sobre a

descentralização: “ou se torna público o Estado e se fortalece a sociedade civil, ou o Estado se

desobriga da Educação.” Fávero (2005) faz referência a um argumento semelhante na época

do Império, quando o Ato Adicional de 1824 instituía a delegação de competências para as

Províncias, responsabilizando-as pelas escolas de primeiras letras. De acordo com Sucupira

(2005), este fato demonstrava qual era a importância dada pelo governo central, no Império, à

educação fundamental.

Atualmente, os defensores da descentralização argumentam que esta modalidade

administrativa vai assegurar o equilíbrio das contas fiscais, sendo um atributo do federalismo

moderno e, portanto, mais democrático, tirando do governo central o poder de decisão,

resguardando o respeito aos governos sub-nacionais, ou seja, Estados e Municípios (Prado

apud Oliveira, 2003, p. 41). A otimização dos recursos, por conta da esperada agilidade

burocrática da gestão municipal, é defendida por estar próxima do objeto a ser administrado,

argumento também usado pelos defensores da descentralização administrativa via

municipalização. Para os adeptos desta modalidade de gestão, são usados ainda argumentos

de natureza política, afirmando que ela fortalece a sociedade civil, ampliando a participação

da sociedade local que passa a ter o poder de decisão, não ficando este restrito apenas às

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esferas mais elitizadas da sociedade, que tem voz nos escalões mais altos do governo central.

Já em 1935, Anísio Teixeira criticava o centralismo, afirmando em palestra realizada na V

Conferência Nacional de Educação da Associação Brasileira de Educação – ABE - que “a

uniformidade da educação significava a morte e a petrificação”. Para justificar a sua posição

contrária ao centralismo imposto pelo Governo Vargas, Anísio Teixeira argumentava que só

uma estrutura descentralizada poderia garantir respeito à diversidade cultural brasileira e à

construção de um Estado democrático.

Portanto não só argumentos em defesa da eficiência e da otimização de recursos são

levantados em prol da descentralização, fatores de ordem político-social também sustentam

as políticas descentralizantes, ao se afirmar que, por meio destas, é dada voz e vez aos

moradores de municípios pequenos e sem expressão, para formularem suas próprias políticas

de educação com adequação pedagógica à realidade local, além de autonomia financeira e

administrativa.

O centralismo administrativo ficou associado aos regimes ditatoriais e às políticas

implantadas por esses governos, seja na era Vargas ou nos governos militares que vigoraram

após o golpe de 64, até a década de 80. Durante muito tempo, os partidos de oposição, no

Brasil, levantaram a bandeira da descentralização como forma de democratizar a

administração pública.

Conforme vimos ao longo deste capítulo, a descentralização foi bandeira de diferentes

correntes políticas e ideológicas, em diferentes momentos históricos. A proposta

descentralizadora atravessou os períodos da história brasileira, sendo sempre objeto de

indagações por ideologias diversas. Autores distintos, de épocas diferentes, se posicionaram

de maneira diversa, com argumentos favoráveis ou contrários a esta ou àquela modalidade

de administração pública no Brasil.

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Além disso, as influências externas na política brasileira sempre estiveram presentes,

seja por meio da filosofia contida em novas propostas que circulam nos ambientes

acadêmicos, seja por força da imposição contratual dos financiamentos obtidos em

organismos internacionais. Tais fatos são observados em vários momentos da nossa história,

tanto no passado mais distante, quando os autores iluministas influenciaram os movimentos

pró-independência, como no princípio do século XX, quanto a Escola Nova do americano

Jonh Dewey influenciou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932. As

ideologias políticas estrangeiras também exerceram forte influência na política nacional ao

longo do século XX, sendo que as mais sentidas foram a ascensão e a queda do comunismo.

Atualmente, fatores externos, advindos da conjuntura política internacional e de um

mundo cada vez mais globalizado, têm tido significativa influência tanto na política, como

nos autores brasileiros, refletindo-se nas propostas para a educação nacional e nas propostas

pedagógicas em geral.

Portanto, a política educacional brasileira é, em parte, resultado de influências externas

e de peculiaridades internas tanto de ordem cultural, como de ordem política. Nesse sentido,

nas políticas governamentais para a educação básica no Brasil, a face mais evidente da

descentralização adotada é a municipalização da educação, que ganha determinação legal na

Lei 5692/71 e se consolida em instrumentos jurídicos posteriores como a CF de 1988 e a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96. Como decorrência mais

evidente destes ordenamentos jurídicos são implementados os programas de municipalização

da educação no Brasil, que, pouco a pouco, se concretizam, deixando de ser mera retórica

como em momentos passados.

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2.1 – REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE A MUNICIPALIZAÇÃO

A Constituição de 1988 é a principal fonte jurídica de um novo ordenamento

federativo que distribui competências administrativas e tributárias entre os entes da federação:

União, Estados, Distrito Federal e Municípios. As modificações tributárias e administrativas

refletem as pressões da sociedade brasileira sobre o Congresso Nacional, naquele momento,

quando houve um intenso embate entre as forças políticas que se intitulavam progressistas,

em oposição ao avanço das forças que estes chamavam de conservadoras. Os progressistas

acusavam os conservadores de defensores dos interesses do grande capital, fosse ele nacional

ou internacional. O embate entre os defensores das diferentes correntes da educação

continuou, mais tarde, na elaboração da LDBEN nº 9394/96. As forças intituladas de

progressistas defendiam a escola pública gratuita e de qualidade e temiam o avanço da

privatização do ensino como defendiam conservadores.

Além disso, também se fizeram presentes no texto da LDBEN nº 9394/96, interesses

tanto dos defensores de políticas descentralizantes e, neste caso, municipalizantes, para

educação, como as idéias daqueles que preferiam a indefinição de papéis para que as decisões

e regulamentações acabassem a cargo dos governos centrais.

Apesar da LDBEN nº 9394/96 procurar estabelecer incumbências, baseadas em uma

lógica que já vinha da Lei de Ensino anterior (Lei nº 5692/71), de iniciar o processo de

repasse aos municípios de prioridades no âmbito da educação, o Estado permaneceu com a

responsabilidade de assegurar o ensino fundamental e priorizar o ensino médio.

Note-se o que diz o artigo 10 da LDBEN nº 9394/96:

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:

I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino;

II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;

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III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios;

IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;

V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio.

Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos Municípios.

O artigo 10 da LDBEN nº 9394/96 faz menção às competências do Estado, e as formas

de cooperação entre os Estados e os Municípios, no que diz respeito ao ensino fundamental,

de maneira que exista uma convergência de interesses e de espaços de atuação, para que não

haja a superposição da oferta de um mesmo nível de ensino, em detrimento de outro.

Entretanto é importante ressaltar que os Estados têm o ensino médio como prioridade,

enquanto o ensino fundamental deve ser objeto de colaboração entre Estados e Municípios,

sendo prioridade para os municípios, e estes ainda podem oferecer outros níveis de ensino,

desde que a oferta de vagas no ensino fundamental esteja atendendo plenamente à demanda.

O artigo 11 da LDBEN nº 9394/96 define as áreas de competência da educação para os

municípios:

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:

V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.

Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica.

No texto da Lei, vale destacar o fato de ainda ser facultativo ao município ter o seu

próprio sistema de ensino, uma vez que, no artigo 11, parágrafo único, é dada ao município a

opção de integrar-se ao sistema estadual de educação básica.

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Uma vez observada a forma como a legislação vigente trata as incumbências de

Estados e Municípios, pode-se iniciar a reflexão sobre a municipalização, as origens de sua

discussão e a progressiva implantação nos sistemas de ensino do país. Para isso, torna-se

necessário voltar ao contexto macro-educacional, a fim de entender as influências que se

fizeram presentes não só na elaboração da Lei, mas nos discursos que embasaram a defesa das

políticas educacionais descentralizadas.

Os postulados neoliberais presentes nas políticas brasileiras, nas últimas décadas do

século XX, misturaram-se às idéias nacionalistas e estatizantes, numa disputa ideológica que

vem atravessando os últimos governos. Esta disputa tem reflexos no que diz respeito à

descentralização da administração pública e à distribuição de encargos e subsídios para as

diferentes esferas administrativas do Estado, inclusive a educação.

Para Rosar (1997), as décadas de 70 e 80, durante os governos militares, marcaram o

início das políticas de descentralização no Brasil, que se materializaram por meio da

municipalização. Na Lei nº 5692/71, já estavam previstos projetos federais nesse sentido,

porém sem o devido repasse de recursos para os municípios, sendo, então, necessário que

estes arcassem com as suas novas atribuições, estabelecidas em projetos como o

Promunicípio4, Edurural,5 Pólonordeste6, Pronasec7, Projeto Nordeste, entre outros.

O Banco Mundial foi o principal agente financiador destes projetos. Rosar (1995)

ressalta que, naquele momento, décadas de 70 e 80, o governo federal induzia à

municipalização do ensino, mas centralizava a administração de recursos captados em agentes

financeiros internacionais.

4 Programa de Coordenação e Assistência Técnica do Ensino Municipal, criado em 1974 pelo MEC como forma de viabilizar a transferência do 1º grau para os municípios. 5 Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural do Nordeste, criado pelo MEC para atuar no período de 1975/79 na capacitação de recursos humanos. Acordo MEC/BIRD. 6 Projeto de Educação Básica para o Nordeste, criado em 1982, como alternativa a projetos anteriores tinha recursos do Banco Mundial e foi relançado em 1992, para a região que carecia de atenção especial. 7 Programa Nacional de Ações Sócio-Educativas para o Meio Rural, vinculado à Secretaria Geral do MEC.

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Com a chamada redemocratização do país, veio a CF de 1988, que não se preocupou

apenas com um novo ordenamento jurídico, disposto no artigo 211, o qual discorre sobre a

distribuição de competências que visassem a um melhor gerenciamento dos recursos públicos

para a educação, mas procurou desenvolver instrumentos que aperfeiçoassem a democracia

brasileira. Para que tal ocorresse, não houve apenas uma partilha de poder entre os entes da

federação, mas também a preocupação com uma maior participação da sociedade civil

organizada nas decisões de diferentes setores. A nova CF de 1988 contemplou, em seu texto,

a determinação de que se constituíssem conselhos e agências reguladoras nas diferentes

esferas da sociedade civil.

Contudo há um paradoxo nos discursos relativos à descentralização. Silva (1998),

evidencia os argumentos usados em suas duas faces: uma que acredita que a proximidade do

centro de decisões torna mais forte a sociedade civil através da participação, e outra que

afirma a possibilidade de ocorrer uma liberação da União quanto à problemática educacional.

Críticos ferrenhos do modelo centralizador usado durante os governos militares, também

alegavam na ocasião que esta modalidade administrativa afastava a sociedade do poder e que

as decisões políticas eram tomadas por uma cúpula a despeito da soberania popular.

Ratificando esses discursos, Bomeny (1998), aponta para a falta de participação popular e a

centralização burocrática nas políticas para a educação no Brasil, até os dias atuais. Já Borghi

(2000), acredita que se houvesse uma participação mais efetiva da comunidade, cobrando,

fiscalizando e demandando a descentralização, a mesma conseguiria ter sucesso. Na fala

dessas autoras, percebe-se o descrédito em relação a uma participação popular efetiva nas

decisões sobre a educação nos pequenos núcleos urbanos do interior do Brasil. Silva (1998)

ao dizer que “ou se torna público o Estado e se fortalece a sociedade civil, ou o Estado se

desobriga da Educação”, ressalta as duas faces dessa política de descentralização da educação,

que pode dar margens a diferentes interpretações e hipóteses, estimulando o paradoxo

anteriormente citado. Mas as controvérsias não param por aí.

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Para Borguetti (2000), a tomada de decisões em nível local foi positiva, pois agilizou a

administração das escolas e melhorou a qualidade do ensino, ainda que se constate que houve

uma concentração de poder local, dificultando a participação dos indivíduos e, mais ainda, a

implantação de um modelo de gestão participativa.

Observa-se ainda que tanto Vasconcelos (2003) como Rosar (1995), falam do processo

de descentralização, mas a partir de direções opostas. Rosar (1995) se reporta aos agentes

externos indo do universo da macro-política, ao se referir à conjuntura internacional, para os

seus efeitos no universo da micro-política, no caso, os municípios. Esta trajetória fica evidente

em sua argumentação, quando recorre à hipótese de que a descentralização está articulada ao

processo de globalização que ocorre tanto no plano econômico, como no plano ideológico,

com a difusão das idéias neoliberais, cujas implicações têm sido, em última instância,

contribuir para a desconstrução dos Estados Nacionais e dos seus sistemas educacionais.

Vasconcelos (2003) investiga, na célula menor do processo de descentralização, o município,

os possíveis obstáculos que resultam nos fracassos, ressaltando que, contudo, muitos avanços

são verificados e, portanto, justificam a continuidade deste processo.

Em outro artigo, Prado (2003) define os municípios como Governos Subnacionais –

GSN - e ressalta o processo de descentralização fiscal e a autonomia orçamentária que a CF

de 1988 propõe para os GSNs, ou municípios. Numa exposição técnica, o autor afirma que a

descentralização é uma tendência em vários países do mundo, embora ressalve que a

dependência dos municípios brasileiros do repasse de recursos do governo federal, coloca a

autonomia administrativa e os defensores da descentralização, em cheque, pois não basta ter

autonomia administrativa, uma vez que permanece a dependência financeira.

A criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do

Magistério – FUNDEF, através da Lei nº 9424, de 24 de dezembro de 1996, e a sua

implantação em 1997, com o intuito de financiar o ensino fundamental, procurou suprir a

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carência de recursos financeiros dos municípios, ao estabelecer critérios para a redistribuição

dos recursos deste fundo. O FUNDEF contribuiu para o êxito das políticas de

descentralização na área da educação, pois atenuou as dificuldades relativas às imensas

desigualdades regionais encontradas em nosso país. Nesse sentido, fortalecendo a idéia de

descentralização e a distribuição de recursos via FUNDEF, a aprovação da Emenda

Constitucional nº 29/2000, determinou a vinculação dos recursos orçamentários para a

educação às três esferas de governo: federal, estaduais e municipais, independente das

vinculações político-partidárias, de cada uma. A distribuição dos recursos do FUNDEF,

obedecia a critérios técnicos, baseados no número de alunos matriculados nas redes públicas

dos municípios, sendo observados os níveis e modalidades de ensino. No entanto não eram

contemplados pelo FUNDEF: a educação infantil, a educação de jovens e adultos e o ensino

médio. O FUNDEF foi apontado por Santos (2000) como um marco no "processo de

democratização das oportunidades educacionais", em contraposição a Arelaro (1999) que

atacava este mesmo fundo, por causar dependência dos municípios em relação a um repasse

de verbas da União. Esta autora reivindicava uma melhor definição da distribuição de

recursos em uma proposta de reforma tributária nacional. Posição semelhante a respeito da

dependência dos recursos originários do FUNDEF repassados às prefeituras para o

financiamento da educação do ensino fundamental é defendida por Lo Bello (1996) que

propõe a efetivação de uma verdadeira descentralização fiscal, com a distribuição de recursos

que permita aos municípios uma maior participação na carga tributária e, conseqüentemente,

uma maior autonomia financeira, independente das articulações políticas. Ainda, Pascoalino

(2001) também aborda a necessidade de se dotar os municípios de autonomia política, no

lugar de uma dependência constante de verbas federais repassadas via FUNDEF.

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O financiamento da educação é a questão mais complexa de todo o processo de

descentralização da educação, por meio da municipalização. A alegação de falta de recursos é

o principal argumento e, ainda que possa encobrir outras questões, pode ser colocado como

um fator que levaria à impossibilidade do cumprimento do que determina a Lei. Para rebater

este argumento é que foram criados os fundos de financiamento da educação, como o

FUNDEF, que foi recentemente extinto e que deu origem a um novo fundo, o Fundo de

Manutenção da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB.

O FUNDEB foi criado por meio da aprovação da Emenda Constitucional de nº 53, de

19 de dezembro de 20068, na qual se encontra fixada a origem dos recursos e o método de

cálculo de distribuição de suas verbas em função do número de alunos, além de outras

variáveis. O FUNDEB difere do FUNDEF, ao contemplar toda a educação básica e não

apenas o ensino fundamental e, também, ao abranger, na redistribuição dos recursos, outras

modalidades de ensino e não apenas o ensino regular, conforme estava prescrito no FUNDEF.

Um dos argumentos constantemente usado, quando se fala de municipalização é o de

que pequenos municípios do interior não teriam condições de custear sozinhos todo o ensino

fundamental, além da educação infantil. Com os fundos específicos para o financiamento da

educação este problema começa a ser encaminhado, embora a gigantesca disparidade

existente entre as regiões e os municípios brasileiros permaneça como um obstáculo, já que,

ao se utilizar uma única fórmula de cálculo para custeio da educação em todo país, essa tarefa

torna-se difícil, senão impossível.

O grau de municipalização no Brasil difere entre os Estados, estando mais avançado

na região Nordeste, justamente, onde os municípios têm menor arrecadação e, em teoria,

deveriam ter mais dificuldade de arcar com uma parcela maior de estudantes do ensino

fundamental nas escolas públicas sob sua administração. Entretanto, é importante lembrar

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que, por força da Lei nº 5692/71, vários projetos, anteriormente mencionados, já haviam sido

postos em execução nas áreas mais pobres do país, principalmente, no Nordeste, o que

explica, em parte, os altos índices de municipalização.

No capítulo a seguir, apresentam-se as políticas de municipalização específicas para o

Estado do Rio de Janeiro, onde esse processo se encontra em implantação desde a década de

80, embora ocorra lentamente, uma vez que municípios situados na região metropolitana, com

grande população e alguns com grande arrecadação de impostos, não têm demonstrado

interesse em municipalizar UEs da rede estadual ou absorver estudantes do 1º segmento do

ensino fundamental, entre outras razões, pelos inúmeros encargos que tal processo acarreta às

prefeituras.

Portanto, a falta de uma determinação específica contida na legislação sobre as

competências das instâncias administrativas para as etapas da educação básica, ou de como se

dará o previsto “regime de colaboração”, tornam-se fatores limitantes a municipalização.

Além disso, a baixa adesão de municípios com grande contingente populacional, localizados

na região metropolitana do Rio de Janeiro, ao programa de municipalização do Estado, o

PROMURJ, contribuem para que o número de alunos matriculados no ensino fundamental em

UEs da rede estadual permaneça alto e continue bastante expressivo em relação ao total do

Estado.

8 Publicada no Diário Oficial de 20-12-2006. As alterações determinadas por esta Emenda Constitucional já foram processadas no texto da Constituição.

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3 - AS POLÍTICAS DE MUNICIPALIZAÇÃO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

De acordo com a pesquisa realizada nos arquivos da SEEDUC-E, o primeiro passo para

a descentralização da educação no Estado do Rio de Janeiro se iniciou como resultado da

determinação expressa na Lei Federal 5692/71, artigo 58, § único:

Art. 58 A legislação estadual supletiva, observado o disposto no artigo 15 da Constituição Federal, estabelecerá as responsabilidades do próprio Estado e dos seus Municípios no desenvolvimento dos diferentes graus de ensino e disporá sobre medidas que visem a tornar mais eficiente a aplicação dos recursos públicos destinados à educação. Parágrafo único. As providências de que trata este artigo visarão à progressiva passagem para a responsabilidade municipal de encargo e serviços de educação, especialmente. de 1º grau, que, pela sua natureza, possam ser realizados mais satisfatoriamente pelas administrações locais.

O artigo 58 da Lei nº 5692/71, acima destacado, buscou no texto da Constituição de

1967, no artigo 15, a determinação para que a legislação estabelecesse competências

distribuídas entre Estados e municípios. Observa-se que, já naquele momento, está presente no

texto o discurso de que os municípios por sua condição de “administração local” podem tornar

mais eficiente a gestão dos recursos públicos. Tal recomendação baseava-se no artigo

constitucional nº 15, no qual nota-se a determinação de uma “progressiva passagem” de

encargos dos Estados para os Municípios.

Em 1969, foi realizada uma retificação da Constituição de 1967, outorgada pelo

governo militar, na qual a preocupação com a segurança nacional aparecia com grande

destaque. De acordo com Carneiro (1998, p. 21), este texto constitucional apresentava algumas

contradições no que dizia respeito à educação. O texto de 1967 ampliava a obrigatoriedade do

ensino fundamental dos 7 aos 14 anos de idade, o que é considerado pelo autor um avanço, mas

permitia o trabalho infantil de crianças de 12 anos, o que conflitava com a disponibilidade de

tempo para freqüentar uma escola.

Entre as várias prescrições legais estabelecidas na Constituição Federal de 1988, na

legislação federal, na legislação estadual supletiva para a educação, até se chegar ao primeiro

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ato formal e legal de descentralização administrativa da educação pública, via municipalização

no Estado do Rio de Janeiro, o lapso de tempo ultrapassou uma década. Num primeiro

momento, após a Lei 5692/71, o que se fez no Estado do Rio de Janeiro foram convênios de

repasses técnicos, para, só mais tarde, se dar início ao programa efetivo de municipalização.

Somente em 1987, no governo Moreira Franco, foi assinada pelo Secretário de

Estado de Educação, Carlos Alberto Direito, a Resolução SEE nº 1.411 de dezembro de 1987,

( Anexo A) que criava o primeiro programa de descentralização da educação pública, também

denominado de municipalização, no Estado do Rio de Janeiro.

Contudo a preocupação já expressa na Lei 5692/71, de tornar a gestão da educação

pública mais ágil e eficiente não foi completamente desconsiderada pela administração

estadual, e algumas medidas anteriores foram adotadas.

Em 1978, no Governo Faria Lima9, iniciou-se um trabalho de parceria entre o governo

do Estado do Rio de Janeiro e os Municípios, denominado Pró-Município10, portanto, bem

antes de 1987, e da Resolução anteriormente citada que deu origem ao Programa de

Municipalização do Ensino de 1º Grau do Estado do Rio de Janeiro – PROMURJ.

Esse convênio de cooperação técnica junto às prefeituras, o Pró-Município, teve início

em 1978 e era classificado apenas como um regime de colaboração entre as diferentes esferas

da administração pública: estadual e municipal.

Naquele momento, no final da década de 70, a precariedade da maior parte das

administrações municipais no Estado do Rio de Janeiro era flagrante. Muitas prefeituras não

tinham sequer secretaria de educação, contando apenas com um departamento de educação

que, na maioria dos casos, funcionava em uma sala da prefeitura com deficiência de recursos

9 Faria Lima foi governador do Estado do Rio de Janeiro, entre 15/03/1975 e 15/03/1979, sendo indicado pelo governo central para eleição indireta na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. 10 Não se trata do programa de mesmo nome citado anteriormente e que foi criado em 1974, de caráter federal, mas este a que nos referimos imediatamente, era um convênio de repasse técnico entre o governo do Estado do Rio de Janeiro e os municípios.

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materiais e humanos, tanto nos aspectos quantitativos quanto qualitativos. A carência de

recursos humanos se verificava não apenas nos quadros administrativos, mas também e,

principalmente no corpo docente, que, em grande parte, era constituído por leigos, sem a

formação profissional adequada. O magistério público possuía parte de seus professores sem

habilitação, o que era facilitado pelo fato de não haver concurso público nem regime

empregatício.

Os problemas enfrentados pela educação municipal não paravam por aí: as aulas eram

ministradas em turmas multisseriadas, em escolas com instalações muito precárias, por vezes,

sem energia elétrica e com outras deficiências de estrutura física. Somavam-se a essas

adversidades o acesso difícil, principalmente, na zona rural. Nestas condições, era comum nas

escolas rurais, situadas dentro de fazendas, a filha e/ou a esposa de um fazendeiro dar aula,

ainda que não habilitada.

A falta de capacitação dos gestores das redes de educação municipal também era vista

pela administração estadual como um entrave a um melhor desempenho das atividades da

educação, bem como de outros setores da administração pública. A profissionalização dos

servidores e o repasse de técnicos administrativos eram considerados como medidas

fundamentais ao desenvolvimento sócio-econômico do interior do Estado do Rio de Janeiro.

O Governo do Estado, na ocasião, julgou então necessário repassar conhecimentos técnicos

aos municípios, com intuito de agilizar o desempenho administrativo destes no que concerne

à educação. Para tal, foi criado o Pró-Município, que se caracterizava como um convênio de

assessoria técnica entre a Secretaria de Estado de Educação e as prefeituras, antecipando-se

aos programas de descentralização da educação, via municipalização, que iriam ocorrer mais

tarde. Por meio desse convênio, a SEE-RJ foi a todos os municípios do Estado do Rio de

Janeiro, “treinar” as prefeituras através de sua assessoria administrativa, técnica, financeira,

pedagógica, objetivando uma melhoria na qualidade dos serviços prestados pelas

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administrações municipais na área da educação, incluindo nessas capacitações servidores e

professores.

O Pró-município foi, portanto, uma alternativa anterior ao PROMURJ, tendo em vista

a necessidade de melhorar a qualidade da educação no Estado e cumprir a determinação

contida na Lei nº. 5692/71, que já contemplava a descentralização da educação como

alternativa para a escola pública no Brasil. Entretanto é somente com o PROMURJ,

estabelecido no governo Moreira Franco, pela Resolução nº. 1411 de 1987, que, oficialmente,

instala-se um programa de municipalização no Estado do Rio de Janeiro. Apesar de esta idéia

estar mais ou menos em pauta desde o Governo Faria Lima, em 1978, a “inauguração” do

PROMURJ revestiu-se de novas perspectivas e era apresentada como o cumprimento, ainda

que, com atraso, do disposto na Lei 5692/71, porém, nem todos os autores são unânimes em

relação à idéia de que apenas se cumpriu a determinação legal.

A assinatura da Resolução nº. 1411 de 1987, no Governo Moreira Franco, é apontada

por Pimenta, (2000) como uma alternativa ao elevado custo do programa de educação em

tempo integral em UEs conhecidas como Centro Integrado de Educação Pública – CIEP. O

programa dos CIEPs foi instituído pelo primeiro governo de Leonel Brizola11, imediatamente

anterior ao governo Moreira Franco, e as escolas construídas com uma arquitetura singular

tiveram seu nome associado ao do então governador Leonel Brizola, e passaram a ser chamadas

de “Brizolão”, o que pode ter sido, segundo Pimenta, (idem), um dos motivos da aceleração do

programa de municipalização proposto por Moreira Franco no Plano dos 100 dias12. Por este

plano, segundo Pimenta (Ibidem), o governo recém empossado transferia algumas UEs de

tempo integral – CIEPs, para a administração municipal. Contestando esta versão, a

Coordenadora de Integração e Municipalização, afirma que as primeiras municipalizações de

11 Leonel Brizola teve dois mandatos como governador do Estado do Rio de Janeiro, sendo o primeiro no período de 15/03/1983 até 15/03/1987; e o segundo no período de 15/03/1991 até 15/03/1994. 12 Programa de Governo com metas estabelecidas para os primeiros 100 dias de governo.

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CIEPs só ocorreram no governo Marcelo Alencar13, e acrescenta afirmando que o primeiro

CIEP a ser municipalizado, foi o Vicente Cicarino no município de Itaguaí.

Dentro do que estabelecia o PROMURJ, o primeiro convênio de municipalização

assinado entre o governo do Estado e 17 prefeituras municipais do Estado do Rio de Janeiro,

ocorreu em 25 de fevereiro de 1988, portanto ainda no governo de Moreira Franco, e

contemplava a transferência de 317 UEs para a administração municipal, sendo que entre elas

não constava nenhuma UE funcionando em CIEP.

Um fato que ajuda a elucidar essa diferença de posições e que parece procedente é o

de que alguns CIEPs já surgiram municipais, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Em

1983, quando Leonel Brizola assumiu o governo do Estado do Rio de Janeiro pela primeira

vez, não havia eleição para as prefeituras das capitais, sendo o prefeito destas indicado pelo

governador. Marcelo Alencar foi nomeado pelo então governador Leonel Brizola para ser

prefeito do município do Rio de Janeiro. O primeiro CIEP, inaugurado pela gestão conjunta

entre Leonel Brizola e Marcelo Alencar, foi o CIEP Tancredo Neves, localizado no bairro da

Glória, e que pertencia à administração municipal do Rio de Janeiro, atendendo apenas à

educação infantil e ao primeiro segmento do 1º grau, ou seja, até a 4ª série. Durante a primeira

gestão de Leonel Brizola no governo do Estado, e Marcelo Alencar na prefeitura do Rio de

Janeiro, vários CIEPs foram construídos pela prefeitura e vale lembrar que sempre foram

municipais e, portanto, não foram incluídos no processo de municipalização. O que de fato

ocorreu foi que, durante o período de Moreira Franco à frente do governo estadual, o então

prefeito do Rio de Janeiro, Saturnino Braga, já não mais nomeado e sim eleito pelo voto direto,

extinguiu o regime de turno único dos CIEPs sob administração municipal, passando os

mesmos a funcionar como qualquer outra escola da rede municipal de educação.

13 Marcelo Alencar foi governador do Estado do Rio de Janeiro no período de 01/01/1995 até 01/01/1999.

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Pela Resolução nº 1411, que instituiu o PROMURJ, o objetivo do Estado era de se

retirar do antigo 1º grau, atual ensino fundamental, atendendo a determinação contida na Lei

Federal nº 5692/71. Esta Lei também contemplava o discurso da produtividade, da agilidade e

da eficiência administrativa que servia como suporte filosófico para esta transferência de

encargos entre os entes públicos. A proximidade existente entre as UEs e as secretarias

municipais de educação, sempre foi o argumento técnico mais usado, como o de maximização

da produtividade e de otimização dos recursos públicos, além de tornar mais democrática a

gestão das escolas públicas.

De acordo com os dados contidos na tabela fornecida pela SEEDUC-E, podemos

verificar que os primeiros 7 anos, após o início do PROMURJ, foi o período no qual houve

uma maior transferência de UEs do Estado para os municípios, num total de 836 UEs,

havendo um declínio acentuado para os períodos seguintes, não obstante a tabela citada

fornecer dados para períodos de tempo de abrangência variável (Anexo B).

Dessa forma, no período compreendido entre os anos de 1988 e 1995, portanto, em um

intervalo de 7 anos, foi bastante significativo o número de UEs transferidas para as

administrações municipais, respondendo por mais da metade de todas as UEs

municipalizadas no Estado. Porém, entre 2004 e 2005, ainda houve um número considerável

de UEs municipalizadas, num total de 156, sendo que, a partir deste ano, uma queda brusca é

verificada no total de UEs municipalizadas, conforme demonstra o gráfico 01 a seguir. Em

2006, foram transferidas para os municípios 32 UEs e, em 2007, foram registradas apenas 7

municipalizações de UEs no Estado. De 1988 até maio de 2007, o número total de UEs

municipalizadas era de 1407, sendo que, destas, 464 foram desativadas pelas administrações

municipais e 943 se mantiveram ativas.

O gráfico 01, a seguir, mostra a evolução do processo de municipalização no Estado,

evidenciando que, no primeiro momento, que se segue a assinatura do PROMURJ, de 1988 a

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1995, uma grande quantidade de UEs foi municipalizada, havendo um declínio que se

mantém até os dias atuais:

GRÁFICO 01 - EVOLUÇÃO DAS UEs MUNICIPALIZADAS NO RIO DE JANEIRO ENTRE 1988 E 2007

836

376

156

32 70

100200300400500600700800900

1988/1995

1995/2003

2004/2005

2005/2006

2006/2007

Nº de UEs

Fonte: Coordenadoria de Integração e Municipalização / SEEDUC-E - 2007.

Os dados do gráfico 01 acima e da tabela fornecida pela SEEDUC-E (ANEXO B)

mostram a trajetória de declínio no número de UEs municipalizadas no período compreendido

entre 1988 e 2007, o que poderia levar à conclusão de que o processo de municipalização já

estaria em vias de conclusão. Ao questionar a Coordenadora de Integração e Municipalização

se o processo de municipalização, PROMURJ, já teria sido concluído e, portanto, passível de

extinção, a resposta foi “não”. Para justificar tal resposta, foi alegado o baixo número de UEs

transferidas aos municípios nos dois últimos anos, pois os municípios que aderiram de

imediato ao PROMURJ são do interior e com menor população. Já os municípios com grande

contingente populacional, em particular os localizados na região metropolitana, ainda estão

em processo de organização de seus sistemas de ensino e, concluído esse processo, poderiam

estabelecer novos convênios de municipalização.

O objetivo do governo Moreira Franco em 1987, quando criou o PROMURJ, era

transferir inicialmente os encargos da educação pré-escolar e das turmas de 1ª a 4ª série do

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ensino de 1º grau, para os municípios e deixar o Estado livre para atuar nas turmas de 5ª a 8ª

série do 1º grau e no 2º grau, conforme era organizada a educação nacional de acordo com a

Lei nº 5698/71. Convém lembrar que somente após a LDBEN nº 9394/96, foi que a SEE-RJ

começou a municipalizar as séries de 5ª a 8ª, do agora denominado 2º segmento do ensino

fundamental, antigo 1º Grau .

No quadro 01 a seguir observam-se as mudanças ocorridas no ensino, em dados comparativos

entre as três leis que dispuseram normas para a educação nacional:

QUADRO 1 - ORGANIZAÇÃO DO ENSINO DE ACORDO COM AS LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL: 4024/61; 5692/71 E 9394/96. LEI 4024/61 DURAÇÃO LEI 5692/71 DURAÇÃO LEI 9394/96 DURAÇÃO Ensino Primário 4 anos Ensino de Primeiro

Grau 8 anos Educação Básica:

- Educação Infantil variável

Ciclo Ginasial do Ensino Médio

4 anos Ensino de Primeiro Grau

3 a 4 anos - Ensino Fundamental 8 anos14

Ciclo Colegial do Ensino Médio

3 anos Ensino de Segundo Grau

3 a 4 anos - Ensino Médio 3 anos

Ensino Superior

variável

Ensino superior variável Educação Superior variável

Fonte: Carneiro (1998 p. 28).

O que se verifica na história da organização educacional no Brasil, com base nos atos

legais, é que a municipalização não é proposta recente, seja no campo de idéias, seja em

determinações expressas em lei. Porém a implementação das determinações legais é lenta e

extremamente complexa, em virtude do grande número de variáveis de diferentes naturezas

implícitas neste processo: legal, política, técnica, financeira, tributária, administrativa etc.

Envolve, portanto, uma ampla negociação política que demanda tempo e disponibilidade de

recursos de origens distintas. Tal assertiva pode ser observada através dos constantes avanços e

recuos ao longo do período aqui retratado, entre a determinação contida na Lei nº 5692/71,

passando pela criação do Pró-município em 1978, até chegar ao PROMURJ, que é de fato um

programa de descentralização da educação via municipalização, que continua em fase de

execução, como veremos a seguir.

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Após o Governo Moreira Franco, houve um segundo Governo Leonel Brizola15, quando

foi criada uma secretaria especial só para administrar e gerenciar os CIEPs e Ginásios Públicos

– GPs. A partir deste momento, o Estado do Rio de Janeiro passou então a ter duas secretarias

encarregadas da gestão da educação pública: a primeira chamada de Secretaria Extraordinária

de Programas Especiais que administrava os CIEPs e os GPs, e uma outra que era a Secretaria

de Estado de Educação, responsável pela gestão das escolas estaduais que trabalhavam em

regime de turnos e que permanecia com a estrutura dos governos anteriores.

Com a existência de duas secretarias, encarregadas da educação no Estado do Rio de

Janeiro, e com diferentes quadros profissionais, os funcionários da Secretaria Estadual de

Educação passaram a classificar oficiosamente esta secretaria de “Secretaria Ordinária de

Educação” em função da menor quantidade de recursos nela investidos e pela menor atenção

dada pelo então governo estadual, quando comparada à Secretaria Extraordinária de Programas

Especiais.

Na Secretaria Extraordinária de Programas Especiais ocorria uma política de gestão

paralela à política praticada nas escolas da rede pública da Secretaria de Estado de Educação

do Estado do Rio de Janeiro – SEE-RJ. A rede subordinada à Secretaria Extraordinária de

Programas Especiais recebeu, neste segundo Governo Leonel Brizola, uma injeção de recursos

muito grande. Por conta destas administrações paralelas, até mesmo os concursos públicos

eram realizados para as diferentes secretarias, a de Educação e a Extraordinária de Programas

Especiais e atendiam às respectivas particularidades e às propostas pedagógicas de cada uma

delas. Nesse sentido, procurando atender às necessidades do projeto de turno único dos CIEPs,

os concursos públicos da época contrataram docentes com carga horária de 40 horas semanais

e com dedicação exclusiva.

14 Atualmente a duração do ensino fundamental é de 9 anos, tendo sido alterada por força da Lei nº 11.274 de 06/02/2006, artigo 3º, que modificou o artigo 32 da LDBEN nº 9394/96. 15 De 1991 a 1994.

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Por se tratar de duas redes de educação com propostas díspares, ao término do Governo

Leonel Brizola e início do Governo Marcelo Alencar, o programa de municipalização

PROMURJ se viu diante de duas realidades distintas a serem enfocadas no repasse das UEs

entre Estado e Municípios. De acordo com a Coordenadora de Integração e Municipalização da

SEEDUC-E foi somente neste governo que os primeiros CIEPs foram municipalizados ou

transformados em escola de turno único.

Com a gestão Marcelo Alencar no Governo do Estado, a partir de 1º de janeiro de 1995,

iniciou-se o repasse das UEs instaladas em CIEPs para as prefeituras e a conseqüente absorção

das mesmas pelas redes municipais de educação. Ainda neste governo, houve a extinção da

Secretaria Extraordinária de Programas Especiais, responsável pela administração dos CIEPs,

sendo realizada a sua fusão com a Secretaria de Estado de Educação. A partir deste momento,

foi criada uma nova proposta dentro do programa de municipalização, PROMURJ, denominada

como projeto “Integrar para Municipalizar”. Este projeto pretendia uma gestão compartilhada

sob a forma de convênios, ou seja, uma nova etapa dentro do PROMURJ e não um novo

programa.

Dentro do “Integrar para Municipalizar” foi idealizado um outro projeto específico

para se municipalizar os CIEPs, uma vez que estas UEs atendiam às séries determinadas na

legislação como passíveis de serem municipalizadas no ensino fundamental, conforme o

previsto na CF de 1988 e na LDBEN nº 9394/96 como, prioritariamente, de competência

municipal. A se valer do disposto na LDBEN nº 9394/96, não havia qualquer determinação

legal ou ressalva que excluísse os CIEPs apenas pelo fato de funcionarem em horário integral.

O projeto “Integrar para Municipalizar” foi uma etapa de levantamento de diversas

variáveis: das condições materiais, estruturais, do número de alunos, de professores e

funcionários para uma posterior redistribuição racional destes recursos, fato que precedia a

descentralização pretendida. Dessa forma, antes das municipalizações ocorrerem, neste

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período, a partir de 1995, era feito um inventário das UEs da rede de educação do Estado,

levando-se em conta vários aspectos que seriam usados como critérios técnicos norteadores da

transferência de encargos entre Estado e Municípios. Entre esses critérios eram considerados: a

etapa de ensino oferecida, a localização geográfica das UEs, o número de alunos em cada UE,

a estrutura física das escolas, o quantitativo e o qualitativo do pessoal envolvido nestas UEs,

entre outros.

Nesse sentido, foi estabelecida uma redistribuição de UEs de acordo com critérios

operacionais, para que, num mesmo bairro ou em locais muito próximos, não houvesse várias

escolas oferecendo o mesmo nível de ensino e podendo haver a ausência em outro, acarretando

o sub-aproveitamento da capacidade das escolas e a má gerência dos recursos humanos. Após

ser realizada esta reorganização das UEs e do ensino oferecido por elas, sempre obedecendo

aos critérios anteriormente citados, procedia-se à municipalização. Assim sendo, a educação

infantil e o ensino fundamental eram transferidos para a administração municipal, enquanto a

administração estadual se encarregava de oferecer o ensino médio e, em alguns casos, o ensino

fundamental de 5ª a 8ª série, atualmente do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Um exemplo dessa nova modalidade de parceria administrativa contemplada pelo

projeto “Integrar para Municipalizar” está no modelo de empréstimo de prédios, ou de apenas

parte deles, entre os dois entes públicos, ou seja, Estado e municípios. Neste caso, a

administração estadual empresta o prédio à prefeitura que usa as instalações, arcando com as

despesas de pessoal e de material de consumo. Pode também ocorrer o contrário, pois há casos

em que é o município que empresta a estrutura física para o Estado oferecer a sua modalidade

ou nível de ensino, conforme determina a lei.

Esta segunda situação é comum no município do Rio de Janeiro, que é um caso

“excepcional” no cenário da municipalização no Brasil. Tal excepcionalidade se deve ao fato

de esta cidade ter sido o Distrito Federal até 1960, quando a capital do Brasil foi transferida

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para Brasília e, por conseguinte, a cidade do Rio de Janeiro passou à condição de Estado da

Guanabara, com o status de cidade-estado, pois não era dividido em municípios, só existindo a

administração estadual, legado da sua condição de Distrito Federal.

Em 1975, com a Lei Complementar de nº 20, houve a fusão do Estado da Guanabara

com o Estado do Rio de Janeiro, e a cidade do Rio de Janeiro passou à condição de município

integrante do Estado do Rio de Janeiro. Neste momento, já em obediência à determinação da

Lei nº 5692/71, o recém criado município do Rio de Janeiro ficou com a quase totalidade das

escolas de ensino fundamental e a administração estadual com as de ensino médio. Portanto, o

município do Rio de Janeiro, ao ser criado, já obedeceu à determinação legal de o ensino

fundamental pertencer à administração municipal e de o ensino médio estar subordinado à

Secretaria Estadual de Educação. Este fato é um episódio isolado no processo de

municipalização no Estado do Rio de Janeiro, mas ilustra a aplicação da determinação contida

na Lei nº. 5692/71, bastante anterior à atual CF de 1988 e a LDBEN nº. 9394/96.

Em alguns casos, há também uma gestão compartilhada entre Estado e município de um

mesmo prédio, no qual as redes municipal e estadual se revezam em turnos diferentes,

oferecendo as suas respectivas modalidades e as etapas de ensino, de acordo com o previsto na

lei.

A proposta do projeto “Integrar para Municipalizar” não se limitou a um mero

empréstimo de prédios e mobiliário. O PROMURJ pretendia alargar os horizontes da

municipalização e procurava ir além da visão estreita, na qual o Estado trocava alunos do

ensino fundamental por alunos do ensino médio de escolas dos Municípios. No entanto, o fato

de as propostas serem adequadas e planejadas não garante a sua execução, especialmente,

quando se trata do poder público, no qual as ações estão atreladas à vontade política dos

governantes.

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Cabe ressaltar que o PROMURJ continua em vigência e que o “Integrar para

Municipalizar” foi uma etapa, havendo ainda, segundo a Coordenadora de Integração e

Municipalização da SEEDUC-E, vários aspectos a serem trabalhados dentro do programa, que,

portanto, não se limita apenas ao repasse de prédios e, por vezes, à cessão de pessoal. Nos

casos de cessão de professores, é comum que ocorra o repasse de Docentes II16 que atendem à

educação infantil e aos 5 primeiros anos do ensino fundamental. Quando a UE municipalizada

atende a turmas do 6º ao 9º ano de escolaridade, o município é que deve providenciar os

professores, o Docente I17, pois, neste segmento do ensino fundamental, o Estado ainda tem

grande carência e necessita desses profissionais para atender as turmas do ensino médio,

conforme determina a Lei nº 9394/96.

Para a Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, o processo de

municipalização ainda não está concluído e prossegue, embora num ritmo mais lento, o que

pode ser observado na tabela fornecida pela SEEDUC-E (ANEXO B), com o número de UEs

municipalizadas, a partir do PROMURJ até os dias atuais. O baixo número de UEs

municipalizadas no ano de 2007, deve-se ao fato de se tratar de um ano em que houve troca do

governo estadual, sendo dado andamento apenas aos processos que já haviam começado

anteriormente. Todavia, em algumas regiões do Estado, notadamente na Baixada Fluminense,

São Gonçalo e Niterói, ainda há um percentual significativo de escolas passíveis de serem

municipalizadas, ou de se estabelecer um regime de colaboração. Vale ressaltar que se trata de

regiões de grande contingente populacional e que, por conseguinte, representam um expressivo

percentual no total de alunos ainda matriculados no ensino fundamental da rede estadual,

mesmo que a Lei indique que este é um encargo prioritariamente exercido pelas prefeituras.

Entretanto a CF de 1988 no artigo 211, §3º delega aos Estados e ao Distrito Federal também

16 Docente II é o profissional habilitado para dar aulas no 1º segmento do ensino fundamental, cuja formação exigida era o curso normal em nível médio. 17 Docente I é o profissional habilitado para dar aulas no 2º segmento do ensino fundamental e no ensino médio, cuja formação exigida é a licenciatura plena na área em que for atuar.

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em caráter prioritário a atuação no ensino fundamental e médio, o que não exime os Estados de

sua obrigação com esta etapa da educação básica.

Na teoria, o processo de municipalização só estará concluído quando todo o ensino

fundamental estiver sob gestão dos municípios, como recomendava a Lei 5692/71 e a LDBEN

nº 9394/96. A administração estadual, no que diz respeito à contratação de professores, já

obedece à lógica da divisão de competências, estabelecida pela municipalização, pois não

realiza mais concursos para Docente II, que é o professor habilitado para dar aulas até a 4ª série

(atual 5º ano do ensino fundamental). Tal fato deve-se à administração estadual ter como meta

se retirar da educação infantil e do ensino fundamental para poder expandir a rede dedicada ao

ensino médio, não cabendo mais, então, a realização de concursos para o provimento de vagas

em um cargo dedicado a atender apenas as turmas até o 5º ano do ensino fundamental.

Porém, a questão de onde e como lotar alguns profissionais que já pertenciam ao quadro

do magistério estadual antes do PROMURJ persiste. Trata-se de uma questão bastante

complexa, pois há professores contratados em regimes diferentes, com habilitações distintas,

muitas das quais a legislação em vigor não mais permitiria a contratação. No tocante aos

salários e à carga horária de tais profissionais a situação também não é diferente, o que torna

cada caso de municipalização objeto de intensa negociação com inúmeros fatores a serem

levados em consideração.

De acordo com a Coordenadora de Integração e Municipalização, cada caso de

municipalização é uma situação específica, não podendo se generalizar o processo como um

todo. É possível ser feita só a cessão de prédios e/ou mobiliários, ou o repasse de pessoal, ou

abranger todos esses fatores. Nos contratos de municipalização, o Estado está cedendo o

prédio e não doando-o aos municípios. A cessão é por um tempo determinado que consta nos

contratos assinados entre os entes, sendo normalmente estabelecido o prazo de dez anos, que

poderá ser renovado, ou não. A renovação fica a critério de ambas as partes, mas sempre

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procurando respeitar o ano letivo, pois qualquer interrupção ou ato que prejudique os alunos,

tenta ser evitado.

Ainda na gestão Marcelo Alencar, foi criada a Fundação de Apoio à Escola Técnica –

FAETEC, que não estaria subordinada à Secretaria de Estado de Educação e sim à Secretaria

de Ciência e Tecnologia. Um fato curioso que é relevante ressaltar é que logo no início de seu

governo, Marcelo Alencar funde as duas secretarias que foram criadas por seu antecessor

imediato, Leonel Brizola, reunindo em uma só as duas redes de ensino com propostas

diferentes, uma com os CIEPs de tempo integral e outra com as escolas por turnos. Contudo,

um pouco mais adiante, o governo de Marcelo Alencar cria uma rede de escolas técnicas que

será administrada pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, e não pela Secretaria de

Estado de Educação. Ou seja, se por um lado Marcelo Alencar tentou uniformizar novamente a

rede de escolas públicas do Estado, fundindo as duas Secretarias de educação existentes, por

outro lado, ele retorna à gestão de duas redes paralelas com a criação das escolas da FAETEC,

subordinadas à outra secretaria, que não à de Estado de Educação.

Originalmente, a proposta da FAETEC era de gerir apenas as escolas técnicas;

entretanto, com o passar do tempo a FAETEC se desviou de sua função original de oferecer o

ensino técnico profissionalizante em nível médio e passou a atuar em outros níveis e

modalidades da educação que não eram os da sua proposta original, nem o que se encontra

determinado em lei.

Atualmente, além do ensino médio profissionalizante, a FAETEC oferece outras

modalidades como o ensino fundamental e até mesmo a educação infantil, incluindo creches.

Este fato relativo à FAETEC - merece destaque por caminhar na direção contrária da proposta

de municipalização, onde caberia ao Estado oferecer apenas o ensino médio e, neste caso, em

particular, o técnico-profissional.

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Dessa forma, verifica-se que, no governo de Leonel Brizola, foram criadas duas redes

para o mesmo nível de ensino, subordinadas a diferentes Secretarias de Estado e com planos

de cargos e salários bastante diferenciados. O governo de Marcelo Alencar repetiu o mesmo

feito, só que agora com a extinção de uma secretaria, e a criação de uma outra modalidade de

ensino subordinada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia.

Nos processos de municipalização não são apenas a estrutura física, prédios e

mobiliário, que causam impactos de difícil negociação política, mas também a gestão de

profissionais da educação e, em particular, a de professores tem sido uma questão muito

delicada. Atualmente, há, na rede estadual, um significativo número de professores “Docente

II”, que atuam da educação infantil até a 4ª série do ensino fundamental (atual 5º ano do ensino

fundamental) e carência de professores “Docente I”, que atuam no 2º segmento do ensino

fundamental (6º ao 9º ano) e/ou no ensino médio. Em algumas UEs municipalizadas, o Estado

empresta professores “Docentes II” aos municípios e já não realiza mais concursos para este

tipo de profissional. O motivo alegado para não haver mais concursos para os docentes da

educação infantil e do 1º segmento do ensino fundamental é o de cumprir o objetivo do

PROMURJ, ou seja, do Estado se retirar gradualmente destes segmentos de ensino.

Ao se observar as tabelas com o quantitativo de docentes ou as do número de

matrículas no Estado do Rio de Janeiro, percebe-se que já é reduzida a participação do Estado,

quer no número de matrículas, quer no número de professores da rede estadual que atuam na

educação infantil. No ano de 2005, apenas 872 docentes da rede estadual atuavam na educação

infantil, o que representa 1,2 % do quadro total de professores do Estado. A se cumprir os

objetivos do PROMURJ deve-se reduzir ainda mais o quantitativo de alunos em séries da

educação infantil em escolas estaduais, por se tratar de uma modalidade de ensino de

competência municipal. O total de alunos matriculados na educação infantil em UEs estaduais

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em 2005 18 já respondia por apenas 3,61% de todos os alunos matriculados em escolas de

educação infantil existentes no Estado do Rio de Janeiro, incluindo as do setor privado e as de

qualquer esfera administrativa do setor público.

De acordo com as determinações da SEEDUC-E, as diretoras de UEs, nas quais ainda

existem turmas de educação infantil, não devem abrir mais vagas ou iniciar novas turmas

para esta modalidade, apenas manter os alunos nas turmas para o ano seguinte, de forma que,

ao longo de poucos anos, os alunos da educação infantil estejam cursando o ensino

fundamental dando por extinta a oferta de educação infantil nessas UEs. Essa é uma das

estratégias da SEEDUC-E para ir “forçando” a municipalização; a outra estratégia considerada

“oficial” é a de se assinar os convênios de municipalização, remanejamento e cooperação entre

Estado e municípios, realizando o que está previsto no PROMURJ.

Segundo a Coordenadora de Integração e Municipalização, a SEEDUC-E precisa suprir a

grande carência de professores Docentes I na rede de ensino médio, nível de ensino este que

precisa ser expandido com urgência para atender à grande demanda conseqüente do acesso

universal ao ensino fundamental. Atualmente, a maioria dos alunos conclui o ensino

fundamental e ingressa no ensino médio, somando-se a outros alunos que, por motivos

diversos, pararam de estudar ao concluir o ensino fundamental e que agora retornam

procurando vagas nas escolas estaduais que oferecem o ensino médio.

Os dados retirados do INEP não fazem distinção em que turmas estão atuando os

professores do ensino fundamental, ou seja de 1º ao 5º ano, ou do 6º ao 9º ano de

escolaridade, denominados respectivamente de 1º e 2º segmentos do ensino fundamental. Os

dados estatísticos também não esclarecem o grau de formação destes professores, em

cuja legislação atual estão previstas exigências legais referentes à habilitação. Concomitante às

exigências advindas da legislação são oferecidos diferentes projetos para a capacitação de

18 Censo Escolar/ INEP 2005

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professores realizados ou subsidiados pelas secretarias, em distintas esferas da administração

pública: federal, estadual e municipal e que contribuem para compor um quadro um tanto

complexo no que diz respeito aos profissionais da educação.

É importante observar ainda que a participação da rede privada é expressiva em todas as

modalidades de ensino, chegando a ter 48,53 % dos docentes da educação infantil em exercício

dentre todas as escolas existentes no Estado do Rio de Janeiro para esta modalidade de ensino.

O quadro 02, na página a seguir, demonstra o número total de profissionais atuando no

Estado do Rio de Janeiro, e a sua distribuição entre as várias etapas da educação básica e pelos

setores privado e público federal, estadual e municipal.

QUADRO 02 - DISTRIBUIÇÃO DOS DOCENTES NA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, POR ESFERA ADMINISTRATIVA, EM NÚMERO DE PROFISSIONAIS E SEUS RESPECTIVOS PERCENTUAIS POR ESFERA ADMINISTRATIVA E POR NÍVEL DE ENSINO:

SETOR PÚBLICO ESFERA ADMINISTRATIVA

SETOR PRIVADO MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL

TOTAL DE DOCENTES

Nº de docentes da Ed. Infantil

11694 11499 872 31 2.496

% de docentes na Ed. Infantil

48,53 % 47,73 % 3,61 % 0,13 % 100%

Nº de docentes no Ensino Fundamental

36.840 69126 32.170 943 139.079

% de docentes no Ensino Fundamental

26,5 % 49,7 % 23,13 % 0,67 % 100 %

Nº de docentes no Ensino Médio

15.258 752 39.828 1.314 57.152

% de Docentes no Ensino Médio

26,7 % 1,31 % 69,69 % 2,3 % 100 %

Total de docentes da Educação Básica

63.792 81.377 72.870 2.288 220.327

% de docentes na Educação Básica

28,65 % 36,93 % 33,07 % 1,03 % 100 %

Fonte: Tabela construída com base nos dados no Censo Escolar 2005 INEP.

O quadro 02, ao ilustrar a participação das escolas federais na educação básica no

Estado do Rio de Janeiro, demonstra que a mesma é modesta, pois esse nível de ensino não é

da competência da União, de acordo com o texto constitucional e com a LDBEN nº. 9394/96.

A educação infantil nas escolas federais é oferecida pelos colégios de aplicação das

universidades federais além do Colégio Pedro II, que é uma das poucas instituições federais no

país, que oferecem esta etapa da educação básica.

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No tocante ao ensino médio, o setor federal é um pouco mais expressivo do que na

educação infantil e no ensino fundamental, em virtude de os Centros Federais de Educação

Tecnológica – CEFETs, que oferecem o ensino médio tecnológico profissionalizante, o que

pode ser demonstrado pelo quadro 02, por meio do número e distribuição dos docentes, e no

quadro 03, a seguir apresentado, pelo número de matrículas, ambas para o Estado do Rio de

Janeiro, por nível de ensino e por esferas administrativas.

O quadro 03, a seguir, apresenta a distribuição do total de matrículas da educação básica

no Estado do Rio de Janeiro e a sua respectiva participação percentual sobre o número total de

matrículas, entre as várias etapas da educação básica e a esfera administrativa a que estão

subordinadas, seja do setor privado, seja do público federal, estadual ou municipal.

QUADRO 03 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, POR ESFERA ADMINISTRATIVA, EM NÚMERO DE MATRÍCULAS E SEUS RESPECTIVOS PERCENTUAIS POR ESFERA ADMINISTRATIVA E POR NÍVEL DE ENSINO:

Esfera administrativa

SETOR PÚBLICO

Nível de Ensino

SETOR PRIVADO

MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL

Nº TOTAL DE MATRÍCULAS e total de %

Nº matrículas na Educação Infantil

168.888 219 .248 16.265 228 404.629

% sobre total na Educação Infantil

41,75 % 54,18 % 4,02 % 0,05 % 100 %

Nº de matrícula no Ensino Fundamental

475.946 1.450.973 542.380 9.806 2.479.105

% sobre o total no Ensino Fundamental

19,20 % 58,52 % 21,88 % O,4 % 100 %

Nº de matrículas no Ensino Médio

130.478 10.796 606.073 12.478 759.825

% sobre o total no Ensino Médio

17,17 % 1,42 % 79,77 % 1,64 % 100 %

Total de matrículas na Educação Básica

775.312 1.681.017 1.164.718 22.512 3.643.559

% sobre o total na Educação Básica

21,27 % 46,13 % 32,0 % 0,6% 100 %

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Fonte: Censo Escolar 2005 INEP.

A cidade do Rio de Janeiro tem uma situação extremamente peculiar no tocante às

políticas de municipalização, pois apesar de possuir uma rede escolar bastante extensa com

977 19 UEs na rede pública municipal, todas trabalham apenas com o ensino fundamental, não

havendo, portanto, nenhuma UE municipal oferecendo o ensino médio.

Paralelo a esta exclusividade, ou seja, a de o município do Rio de Janeiro atender

apenas o que a legislação determina como prioritário: a educação infantil e o ensino

fundamental, a rede estadual trabalha com um número bastante reduzido de vagas no ensino

fundamental na capital, com apenas 31.669 alunos 20. O número anteriormente citado pode

parecer expressivo, mas para um município com população superior a seis milhões de

habitantes21, como é o caso do Rio de Janeiro, este número corresponde a 3,7 % de todo o

contingente de alunos matriculados no ensino fundamental nas escolas localizadas na cidade

do Rio de Janeiro.

De acordo com a SEEDUC-E, estas UEs estaduais existentes na cidade do Rio de

Janeiro, voltadas para o ensino fundamental, funcionam na sua maior parte como colégios de

aplicação dos Institutos de Educação (formação de professores em nível médio) da rede

estadual subordinada à SEEDUC-E. Também estão incluídas as matrículas da rede estadual,

subordinadas à Secretaria de Ciência e Tecnologia, no caso, os alunos das várias unidades da

FAETEC e do Colégio de Aplicação do Instituto Superior de Educação e, ainda, as matrículas

do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da Universidade do Estado do Rio

de Janeiro - CAP-UERJ. O questionamento que se faz é por que apenas as UEs da SEEDUC-E,

dentro da rede estadual, são passíveis de serem municipalizadas, sendo permitido à rede

administrada pela FAETEC continuar com o atendimento na educação infantil?

19 Fontes: Ministério da Educação, INEP - Censo 2005. 20 Fontes: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas -INEP Censo 2005. 21 Fonte: IBGE – 2005.

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O número de alunos matriculados em cada UE, e a sua totalização por municípios,

ganhou importância com a implementação do FUNDEF e, atualmente, do FUNDEB, pois o

cálculo do repasse de verbas oriundas deste fundo é feito em cima do total de matrículas de

cada rede seja ela municipal seja estadual.

Ao se observar os dados do quadro 03 e do gráfico 02, a seguir, são muitas as

considerações a serem feitas sobre a distribuição das matrículas ou alunos nos diferentes níveis

e nas diferentes redes, seja do setor privado, seja do setor público, para a educação básica no

Estado do Rio de Janeiro.

O gráfico 02, a seguir, demonstra a distribuição percentual do total de matrículas existentes na

educação básica no Estado do Rio de Janeiro, entre as redes privada e públicas: federal,

estadual e municipal.

GRÁFICO 02 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO POR ESFERA

ADMINISTRATIVA

0%

5%10%

15%

20%25%

30%

35%

40%45%

50%

MunicipalEstadualPrivado Federal

Fonte: Gráfico construído com base nos dados do Censo Escolar 2005 INEP.

Vale ressaltar a participação da iniciativa privada no total das matrículas da educação

básica no Estado do Rio de Janeiro, que em 2005, era de 21,27 %, o que é muito significativo,

respondendo por mais de 1/5 do total de matrículas para a educação básica. Ao se calcular o

percentual da iniciativa privada nas matrículas da educação infantil em todo o Estado, pode-se

constatar que 41,75 % (ver quadro 03) das matrículas estão em UEs da rede privada,

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constituindo um percentual extremamente elevado, que não se verifica em nenhum outro

segmento da educação básica, por esfera administrativa.

Para se interpretar melhor os dados quantitativos de matrículas nas redes públicas

federal, estadual e municipal, cabe observar os dispositivos legais que versam sobre a

distribuição de competências que emanam do texto da CF de 1988, sobre o dever do Estado

com a educação, no artigo 208, e sobre a distribuição de competências prioritárias entre os

entes da federação, no artigo 211, ambos a seguir:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, a sua oferta gratuita para todos o que a ele não tiveram acesso na idade própria;

II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; III – atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até

5(cinco) anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da

criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do

educando; VII – atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de

programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar junto aos pais e responsáveis, pela freqüência à escola.

As competências dispostas na Lei, que determinam a responsabilidade dos municípios

com a educação infantil, estão sendo apenas parcialmente atendidas, uma vez que a

participação da iniciativa privada é muito grande neste setor. Uma ação judicial por parte da

sociedade civil, através do Ministério Público, com base no artigo 211, do texto

constitucional, pleiteando vagas na educação infantil e/ou no ensino fundamental de

instituições públicas poderia levar as administrações municipais a uma crise, uma vez que

mais de 20 % das matrículas nestas etapas da educação básica se encontram em instituições

privadas.

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A participação da União e dos Estados na educação infantil é muito reduzida,

conforme já relatado anteriormente. A União não chega sequer a ter 1% das matrículas da

educação infantil no Estado do Rio de Janeiro, e a rede estadual responde por 4, 02 % deste

total, mas está diminuindo de ano para ano, com tendência a manter apenas nas UEs de

aplicação dos institutos de educação e das universidades sob administração estadual,

independente da secretaria a que elas estejam subordinadas.

Em relação ao artigo 211 da Constituição Federal de 1988, sobre a competência de

cada um dos entes da federação, está estabelecido:

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir a equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.

§ 2º Os Municípios atuaram prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio.

§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.

§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.

No ensino fundamental, a participação da União, mais uma vez, é insignificante, não

respondendo sequer por 1 % das matrículas por motivos que já foram objeto de consideração

anterior. Nesta etapa do ensino, é que se encontra o grande potencial para se prosseguir com a

municipalização, pois a administração estadual ainda responde por 21,88 % do total de

matrículas no ensino fundamental do Estado do Rio de Janeiro, o que significava de acordo

com o Censo Escolar 2005 do INEP, 542.380 estudantes.

No entanto, é importante lembrar que, de acordo com o caput artigo 211 da CF de

1988, não é competência exclusiva dos municípios oferecer o ensino fundamental. O texto

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constitucional fala em “regime de colaboração” entre a União, os Estados, o Distrito Federal

e os municípios. O PROMURJ é um programa de municipalização que atende ao regime de

colaboração prescrito no texto constitucional, mas não é obrigação apenas dos municípios

oferecer e garantir o acesso ao ensino fundamental, os Estados, por força da lei, também não

estão liberados desta competência. Porém a demanda crescente pelo ensino médio e a

determinação constitucional de se universalizar este nível do ensino, acarreta para os Estados

uma sobrecarga em sua rede pública de educação, com conseqüências para as finanças

públicas.

A implantação do FUNDEB pode melhorar essa situação, uma vez que a

redistribuição contempla além do ensino fundamental, o ensino médio, a educação infantil e a

educação de jovens e adultos, com recursos oriundos do mesmo fundo. A ressalva prevista no

FUNDEB para o ensino fundamental e médio está no que diz respeito à modalidade, pois só

serão consideradas para efeito de distribuição de recursos do FUNDEB, as matrículas

realizadas em cursos presenciais. Portanto, os Centro de Estudos Supletivos – CES, não

presenciais, seja no ensino fundamental, seja no ensino médio, não receberão recursos do

FUNDEB.

Se, no ensino fundamental, o texto da CF de 1988 divide as competências entre

Estados e municípios, na educação infantil e no ensino médio isto não ocorre. Fica claro que o

ensino médio é de competência prioritária dos Estados, e a educação infantil dos municípios.

Os municípios podem oferecer o ensino médio desde que o acesso ao ensino fundamental

esteja integralmente garantido.

No Estado do Rio de Janeiro, as redes públicas pertencentes à administração estadual,

quer subordinadas à Secretaria de Estado de Educação, quer à Secretaria de Estado de Ciência

e Tecnologia, como os Colégios de Aplicação das Universidades Estaduais, somavam, no

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ensino médio, um total de 606.073 matrículas22, que respondiam por 79,77 % do total de

matrículas para o ensino médio no ano de 2005, no Estado. A rede privada tem, também,

participação expressiva neste nível de ensino, com 130.478 matrículas que representavam

17,17 % do total de matrículas no Estado em 2005.

As matrículas da rede federal e das redes municipais no ensino médio no Estado do

Rio de Janeiro para o ano de 2005 representavam respectivamente: 1,64 % e 1,42 % do total

de matrículas. Convém relembrar que nenhum deste dois entes, União e municípios, estão

obrigados por lei a oferecer o ensino médio, mas a legislação também não veta a presença de

qualquer um dos entes da federação, em qualquer nível de ensino, desde que atendidos os

níveis de sua prioridade legal. As matrículas verificadas na rede federal para o ensino médio

existente no Estado do Rio de Janeiro são compostas em sua maioria por alunos dos CEFETs.

No que diz respeito às matrículas do ensino médio municipal, pode-se verificar que

são em número ainda menor do que as do setor federal. São poucos os municípios que

oferecem este nível de ensino e os que dispõem de escolas de ensino médio tinham que

mantê-las com recursos próprios, não podendo usar os recursos do FUNDEF, e somente após

ter sido atendida a universalização do ensino fundamental prevista na LDBEN nº 9394/96.

A municipalização foi a forma de descentralização da administração pública,

encontrada para a educação, em particular para o ensino fundamental. Pelo texto legal, seja

da CF de 1988, seja da LDBEN nº 9394/96, os municípios não estão obrigados a assumir, por

completo, a responsabilidade para com o ensino fundamental, mas esse é o nível da educação

básica prioritário para a sua atuação. Em relação aos Estados, a lei determina que atuem com

prioridade no ensino médio, e supletivamente no ensino fundamental.

Ao se confrontar o que está disposto na CF de 1988 e na LDBEN nº 9394/96, vários

autores têm uma posição crítica em relação à definição mais precisa sobre as competências e

a autonomia dos entes da federação: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Carneiro

22 Fonte: Censo Escolar 2005 INEP

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(1998) é enfático ao criticar o que está disposto nos artigos 8º, 9º, 10 e 11, da LDBEN nº

9394/96, quando diz que o texto legal propõe um regime de colaboração entre os entes da

federação, mas a mesma Lei confere à União a função de coordenar a política nacional e de

ter funções normativas, redistributivas e supletivas, através do Ministério da Educação. Ainda

em crítica ao disposto na LDBEN nº 9394/96, Carneiro (1988) prossegue afirmando que:

a organização dos sistemas de ensino nos termos desta Lei fica restrito, praticamente, à sua organização burocrática, sem qualquer possibilidade do exercício da autonomia plena no tocante à concepção, gestão, configuração e avaliação do respectivo sistema. (p60 –61)

Não é apenas esse autor que faz críticas à LDBEN nº 9394/96 e as imprecisões

prescritas em seu texto Savianni (1998) Stropparo (1998) entre outros, também mencionam as

lacunas e dualidades encontradas na legislação no que concerne à responsabilidade e à

autonomia de cada uma das esferas administrativas públicas, no que diz respeito à educação.

De acordo com a Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E não

é obrigatório que os municípios assumam toda a responsabilidade pelo ensino fundamental e,

conseqüentemente, venham a aderir ao PROMURJ. O que ocorre é que a distribuição de

verbas com base no número de matrículas, serve de estímulo às prefeituras para expandir a

rede de escolas sob a sua administração e para tal recorrem à municipalização, absorvendo

UEs, antes, sob administração estadual. Partindo-se do princípio de que um maior número de

cargos e verbas conferem ao administrador público maior poder de influência e de barganha

política, pode-se deduzir que é bastante conveniente aos prefeitos ter uma rede de escolas

mais numerosa e com maior quantidade de matrículas, independente de ser a educação

pública a prioridade deste administrador municipal.

Pode-se afirmar que a educação é uma das políticas públicas mais abrangentes. Em

termos percentuais, as matrículas na educação básica, só nas escolas públicas, superam os

10% da população total dos municípios. Este fato é observado em todo o Estado do Rio de

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Janeiro, seja na capital, seja nos municípios do interior, conforme ocorre também em

Petrópolis, recorte principal de investigação deste trabalho.

Além do alto valor numérico e percentual dos usuários diretos da educação pública,

que são os alunos matriculados nas respectivas redes, deve ser lembrado que a CF de 1988

estabelece a obrigatoriedade do ensino fundamental, e a LDBEN nº 9394/96 determina 200

dias letivos, o que torna estreita a relação entre o cidadão e este segmento do poder público.

A adesão à municipalização, entretanto, não fica apenas restrita a possíveis interesses

de políticos clientelistas que desejam a administração das UEs como material de barganha

eleitoral, mas também é reconhecido o papel equalisador e de promoção social atribuído à

educação. Todavia ao longo dos processos de negociação de UEs que podem ser objeto de

municipalização, observa-se que as administrações municipais estão mais interessadas em

UEs com grande número de alunos e prestígio junto à população do que em seguir as normas

técnicas contidas no PROMURJ.

Neste contexto político, o processo de municipalização não está imune a interesses

pontuais e localizados. Vale lembrar que ambas as partes, tanto a administração estadual

como a municipal, levam seus interesses de ordem político-eleitoral para o momento das

negociações interferindo ou, por vezes, prevalecendo sobre os pareceres técnicos. Num

processo eleitoral, os candidatos a cargos de esferas estaduais ou federais precisam de apoio

local, ou seja, alguns líderes municipais aproveitam este momento para ações que resultem em

dividendos políticos nas eleições municipais. Ainda que estes fatos interfiram no bom

andamento do processo de municipalização, não podem ser vistos como obstáculos

intransponíveis ou como uma prerrogativa exclusiva da educação pública, uma vez que a

prática clientelista permeia todo o cenário político nacional.

No capítulo a seguir, será relatado o processo de municipalização da educação em

Petrópolis, a partir da criação do PROMURJ até 2007, sendo considerados aspectos como a

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atual estrutura do ensino fundamental, e o que ainda hoje é possível de ser melhor distribuído

entre as administrações estadual e municipal.

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4 – A MUNICIPALIZAÇÃO EM PETRÓPOLIS: AS NEGOCIAÇÕES POLÍTICAS E

A TRAJETÓRIA DO PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO

O processo de descentralização da administração pública via municipalização é um

ato político, no qual, inevitavelmente, há um grande número de fatores que são levados em

consideração. Como em toda negociação política, na transferência da gestão da rede de

escolas públicas, há conflitos de interesses. A educação é de todos os serviços públicos o que

mais demanda pessoal e por meio do qual todo cidadão é atendido ou deveria ser atendido,

durante uma boa parcela de sua vida. Se somados todos os anos que um estudante leva para

concluir a educação básica, chega-se aproximadamente a 17 anos. Durante este longo

período, há um contato cotidiano entre o cidadão e o serviço público que se reveste de uma

importância, cada vez maior, no planejamento em todas as esferas administrativas.

Para poder contextualizar o município de Petrópolis no processo de descentralização

da educação fluminense, serão feitas, a seguir, algumas considerações sobre a realidade local.

Apesar de Petrópolis ser muito próximo à capital do Estado, não está mais inserido na

região metropolitana. Hoje, o município é o segundo maior do interior do Estado do Rio de

Janeiro em contingente populacional,23 apenas superado por Campos dos Goytacases no norte

do Estado. Cabe ressaltar que estão sendo considerandos como do interior do Estado todos os

municípios, excetuando-se os localizados na região metropolitana do Rio de Janeiro, inclusive

a capital do Estado.

O processo de municipalização em Petrópolis começou tardiamente em relação ao

PROMURJ e ainda não pode ser considerado como concluído, pois, de acordo com a

Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, ainda há espaço para

transferência de encargos entre as partes, Estado e Município.

23 Petrópolis tem população de 306.645 habitantes. (Contagem da população 2007 –IBGE), e se situa a 60 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.

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Fazendo-se uma breve retrospectiva sobre os trâmites da municipalização em

Petrópolis, vê-se que a Prefeitura fez os seus primeiros contatos com a Secretaria de Estado de

Educação para efeito da municipalização no ano de 1994, ou seja, quase dez anos após o início

do PROMURJ. Naquela ocasião, quatro UEs estaduais foram municipalizadas: Avelino de

Carvalho, Calembe, Pedro Amado e Sebastião Lacerda. Entretanto, este convênio foi anulado

no ano seguinte, em virtude de problemas de repasse de recursos do Estado para o Município e

as UEs retornaram para a administração estadual. Convênios de curto prazo, de um ano,

sucederam à devolução das UEs anteriormente citadas e, só em 1998, foi publicado, no Diário

Oficial do Estado do Rio de Janeiro, o primeiro convênio de municipalização entre Petrópolis

e a administração estadual. Nesta data, apenas duas UEs passaram para a administração

municipal: a Escola Estadual Avelino de Carvalho e a Escola Estadual Carmem Nunes

Martins, que mantiveram o mesmo nome, mas sem a condição de “Escola Estadual” e sim de

“Escola Municipalizada”.

Naquele momento, toda a Região Serrana pertencia à jurisdição de uma única

Coordenadoria Regional de Educação, que tinha sede em Nova Friburgo. Foi, por meio desta

Coordenadoria, que se deram os contatos iniciais entre os secretários municipais de educação e

o representante da então SEE-RJ. Cabia à Secretaria de Estado de Educação o encargo de fazer

os estudos preliminares de viabilidade técnica das UEs, passíveis de municipalização. Não

havia ainda a prática da gestão compartilhada de UEs entre Estado e municípios, que mais

tarde entrou em vigor, com o projeto “Integrar para Municipalizar”. Portanto, até este

momento, a UE era totalmente administrada pelo Estado ou pelo Município e não se adotava a

divisão de uma escola de acordo com o turno, nível ou modalidade de ensino oferecida, entre

diferentes administrações públicas.

Ao deixar o Governo do Estado, em março de 1994, para se candidatar à Presidência da

República, Leonel Brizola passa o comando do Estado para o Vice-Governador Nilo Batista.

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Neste final de mandato, houve a tentativa de municipalização de várias UEs em Petrópolis,

entre elas, o tradicional Colégio Estadual D. Pedro II, situado na principal avenida do centro da

cidade. Além desta UE, outros colégios estaduais foram requeridos pela Prefeitura de

Petrópolis para serem objeto da política de municipalização. Contudo o critério adotado pelos

dirigentes municipais fugia totalmente do que era estabelecido pela lei ou pelos critérios

técnicos, uma vez que se tratava de escolas que ofereciam o antigo 2º grau, atual ensino médio,

que não era o objeto das políticas de municipalização.

A Prefeitura de Petrópolis manifestou interesse por UEs com grande número de

alunos, prédios com boa estrutura física, localização privilegiada e que pudessem render

dividendos políticos à administração municipal. Este episódio, ocorrido no primeiro momento

da municipalização, em Petrópolis, caracterizou, de acordo com a Coordenadora de Integração

e Municipalização da SEEDUC-E, um caso em que fatores de ordem político-partidária

preponderaram sobre os de ordem administrativa. Ao mesmo tempo, a Prefeitura não

demonstrou interesse por pequenas escolas, algumas rurais, que se enquadravam nas

determinações de ordem técnica ou legal.

O Colégio Estadual D. Pedro II, a maior e mais bem localizada escola pública

presencial de Petrópolis, chegou a ser municipalizada no final do governo Marcelo Alencar,

quando foi implantada uma gestão compartilhada. Neste convênio, firmado entre o Estado e o

Município para o Colégio Estadual D. Pedro II, toda a educação infantil e o ensino fundamental

passaram a ser de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis. Esta

UE chegou a ter a sua municipalização publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de

Janeiro, porém o SEE-RJ agiu com veemência, para que fossem respeitados os termos de

municipalização, estabelecidos pelo PROMURJ. Logo, nos primeiros dias de seu governo,

Anthony Garotinho anulou o Decreto que deu origem à municipalização desta UE.

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A partir deste momento, a Prefeitura de Petrópolis passou a adotar uma postura mais

cautelosa nas suas pretensões e entrou em acordo com a SEE-RJ, para dar prosseguimento ao

processo de municipalização. Porém, diante disso, o processo de municipalização foi

desacelerado.

Contudo, ao se levar em conta a importância do município de Petrópolis dentro do

contexto estadual, considerando aspectos de número de UEs, número de matrículas, e

também a posição da Coordenadora de Integração e Municipalização do Estado da SEEDUC-

E, constata-se que ainda há UEs, ou segmentos do ensino passíveis de municipalização.

No presente capítulo, por meio de gráficos e quadros estatísticos, procurou-se

demonstrar o perfil das redes públicas e privadas em Petrópolis e a sua evolução nos últimos

anos após a criação do PROMURJ. Os gráficos demonstram os quantitativos por esferas

administrativas: federal, estadual, municipal e privada, ou sob a forma de convênios entre o

poder público e a iniciativa privada. O levantamento e as considerações realizadas abordam a

esfera administrativa e os respectivos níveis e etapas do ensino oferecidas no município de

Petrópolis. Através dos dados quantitativos, observa-se que, apesar dos repasses de UEs do

Estado para o Município, o número de matrículas na rede estadual localizada em Petrópolis

continua a crescer nos últimos 3 anos, enquanto a rede municipal teve uma pequena redução

no número total de matrículas em suas UEs.

Para demonstrar o processo de municipalização ocorrido em Petrópolis, no item a

seguir, a distribuição das matrículas entre as redes de ensino será objeto de observação e

análise.

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4.1 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS ENTRE AS REDES DE ENSINO

PÚBLICO E PRIVADO EM PETRÓPOLIS.

O município de Petrópolis tem uma população de 306.645 habitantes24 e um total de

77. 561 matrículas na educação básica25, o que lhe confere a posição de uma das maiores

redes públicas municipais do Estado do Rio de Janeiro, com 183 unidades escolares, sob

administração municipal ou sob a forma de convênios26 com a Prefeitura. Estes números

demonstram que pouco mais de 1/4 da população total do município se encontra matriculada

na rede de educação básica, em UEs dos setores públicos e do privado. O perfil econômico

do município faz com que a demanda pelo ensino médio seja cada vez maior, o que deve ter

influenciado na retomada recente do processo de municipalização. Para que o Estado possa

atender esta demanda, é necessário repassar ao município algumas UEs que ainda oferecem a

educação infantil e o ensino fundamental.

Para ilustrar a distribuição do atendimento nos diferentes níveis da educação básica

em Petrópolis, de acordo com a esfera administrativa: estadual, municipal e privada,

recorremos a um conjunto de gráficos.

No gráfico 03, a seguir, apresenta-se o total de matrículas da educação básica que é de

77.561 alunos, somando-se todas as UEs de Petrópolis, públicas e privadas:

24 Fonte: IBGE Contagem da população 2007. 25 Fonte: IBGE estatística 2005. 26 A Prefeitura de Petrópolis tem convênios com várias entidades da sociedade civil, o que será detalhado no item 4.1.2. deste estudo.

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GRÁFICO 03 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE PETRÓPOLIS POR SETORES PÚBLICO E

PRIVADO

17,4%

18,0%

64,6%

Privada

Pública Estadual

Pública Municipal

Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais – INEP – Censo Educacional 2005. *27

Com base no gráfico 03, constata-se que a participação estadual nas matrículas da

educação básica no município era de 18% sobre o total de matrículas para este nível de ensino,

com 13.968 estudantes28 atendidos na sua maior parte em UEs, que oferecem o ensino médio.

Outra observação importante é a participação da iniciativa privada, com 13.491 estudantes, o

que representa 17,4% do total29, ou seja, bastante próximo em termos quantitativos aos

números da rede estadual.

A participação municipal na educação básica é a mais expressiva, com quase 2/3 de

todas as matrículas das redes pública e privada no Município de Petrópolis. Cabe ressaltar que

o ensino fundamental responde por 72,32 % dessas matrículas da educação básica, o que

significa que o município concentra a grande maioria das matrículas nesta etapa de ensino.

Prosseguindo com a análise, o gráfico 04 a seguir, demonstra a distribuição das matrículas na

educação infantil em Petrópolis nas redes públicas estadual e municipal e na rede privada.

27 Não há qualquer instituição de ensino federal em Petrópolis. 28 Fonte: IBGE – INEP –2005. 29 Fonte: IBGE – INEP –2005.

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GRÁFICO 04 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL DE PETRÓPOLIS POR SETORES PÚBLICO E PRIVADO

37%

1%

62%

Privada

Pública Estadual

Pública Municipal

Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais – INEP – Censo Educacional 2005.

Observa-se que a presença da rede estadual na educação infantil já é muito

reduzida, em torno de 1% do total de matrículas. Ao se indagar o porquê de a

SEEDUC-E manter o atendimento nesta modalidade, com apenas 87 matrículas em

2005, foi esclarecido que esta UE é usada como Colégio de Aplicação para os Cursos

Normais em nível médio da rede estadual, que existem no Município de Petrópolis.

Dessa forma, percebe-se que esta etapa da educação básica é passível de se extinguir

na rede estadual de Petrópolis, após ser feito um convênio com o município para as

estagiárias do Curso Normal.

Ressalta-se, novamente, que a participação da iniciativa privada é significativa: mais

de 1/3 do total na educação infantil, com 3.249 matrículas para o ano de 2005.

Os números e o percentual alto para esta etapa do ensino, a educação infantil, na rede

municipal, justifica-se uma vez que, observadas as competências para as redes públicas

estabelecidas na LDBEN nº 9394/96, apenas os municípios aparecem como responsáveis pela

educação infantil.

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O gráfico 05, a seguir, demonstra a distribuição do número total de matrículas no

ensino fundamental em Petrópolis; somando-se o quantitativo das redes públicas estadual e

municipal e da rede privada.

GRÁFICO 05 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS NO ENSINO FUNDAMENTAL DE PETRÓPOLIS POR SETORES PÚBLICO E

PRIVADO

12,12%

9,97%

77,91%

Privada

Pública Estadual

Pública Municipal

Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais – INEP – Censo Educacional 2005.

Há grande participação do município nesta etapa da educação básica, na qual 77,91 %

das matrículas estão em escolas municipais. O ensino fundamental concentra o maior número

de alunos matriculados na educação básica, com 56.088 matrículas, que, em 2005,

representavam 72,32 % do total de alunos que cursavam as séries deste nível de ensino. O

alto percentual de matrículas na rede municipal se deve, em parte, a ser o ensino fundamental

um segmento longo, composto até o ano de 2006 por 8 anos e, atualmente, por 9 anos30.

Essa maior abrangência do ensino fundamental na rede municipal se reflete, de

maneira significativa, quando calculado o percentual sobre o total da educação básica, uma

vez que os municípios devem atender preferencialmente ao ensino fundamental e, com a

municipalização do ensino, a participação das prefeituras nesta etapa deve ser cada vez maior.

Infelizmente, os dados do IBGE – INEP 2005 não detalham o número de matrículas para cada

um dos segmentos do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano e do 6º ao 9º ano. Esta divisão

entre os dois segmentos do ensino fundamental será objeto de análise, posteriormente, em

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cima de dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis e apenas para

as escolas municipais.

O gráfico 06, a seguir, mostra a divisão do total de matrículas no ensino médio em

Petrópolis para o ano de 200531, quando somadas todas as redes: municipal, estadual e

privada. Conforme se observa, no gráfico 06, a participação do município no ensino médio,

embora pequena, com 1020 matrículas, que representam 8% do total, pode ser considerada

significativa por vários aspectos, dentre os quais estarem os municípios impedidos de atender

a esta etapa da educação básica, no caso de ainda não ter atendido toda a demanda do ensino

fundamental. Deve-se, portanto, concluir que, ao oferecer também o ensino médio, não deve

haver carência de vagas no ensino fundamental público no município de Petrópolis.

Cabe observar, no gráfico 06, que a participação da iniciativa privada é significativa,

com 3.444 alunos que respondem por 27 % do total de matrículas do ensino médio. Neste

caso, a situação dos poderes públicos, seja municipal seja estadual, é bem mais confortável,

uma vez que não há na lei, ainda, a obrigatoriedade de se oferecer o ensino médio

gratuitamente.

GRÁFICO 06 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO DE PETRÓPOLIS POR SETORES PÚBLICO E PRIVADO

27%

65%

8%

Privada

Pública Estadual

Pública Municipal

Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais – INEP – Censo Educacional 2005.

30 Fonte: Lei nº 11.274 de 06/02/2006, artigo 3º, que modifica o artigo 32º da Lei 9394/96. 31 Fonte. IBGE – INEP -2005

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O Estado, apesar de ter como prioridade o ensino médio, não está obrigado a suprir

toda a carência de vagas para esta etapa da educação básica, deixando para a iniciativa

privada uma fatia do mercado conseqüente, também, da impossibilidade de atendimento pelo

poder público.

Em um primeiro momento, é provável imaginar que, com o processo de

municipalização, a participação do Município no ensino fundamental aumente, bem como a

participação do Estado no ensino médio, em função das UEs municipalizadas e/ou da

transferência de alunos por meio de acordos e convênios realizados entre o Estado e os

municípios.

Entretanto são muitas as variáveis a serem consideradas para uma melhor

compreensão da evolução das redes públicas de educação e da transferência de encargos e

competências entre Estado e município, bem como da participação da iniciativa privada. Não

são apenas questões de ordem legal ou política que interferem neste processo de

gerenciamento das redes públicas da educação básica, em particular no ensino médio.

O mercado de trabalho, cada vez mais, estabelece como prerrogativa ao acesso, a

conclusão do ensino médio, aumentando a demanda por vagas nesta etapa da educação básica.

Fatores demográficos, culturais e econômicos, de caráter local e nacional, também têm

influência na evolução do número de matrículas por nível e/ou modalidade de ensino,

conforme demonstraremos mais adiante. A queda na taxa de crescimento demográfico

brasileiro tem provocado um envelhecimento da população, o que, na prática, significa um

percentual maior de jovens que, num primeiro momento, irão freqüentar as turmas do 2º

segmento do ensino fundamental e, posteriormente, do ensino médio. Portanto, a tendência é

de que estes dois segmentos do ensino aumentem a sua demanda dentro da educação básica.

As considerações feitas até aqui fundamentaram-se em gráficos e quadros com dados

sobre a rede educacional no Estado do Rio de Janeiro e no município de Petrópolis, nas

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diferentes esferas administrativas: federal, estadual, municipal e privada, para o ano de 2005,

com dados do IBGE32, apontando as tendências para os diferentes níveis da educação no

município de Petrópolis.

4.1.1. - Estrutura da rede estadual de ensino no município de Petrópolis

A estrutura de rede estadual de educação, localizada no município de Petrópolis, é o

objeto central do processo de municipalização e, portanto, não poderia deixar de ser

pesquisada em termos quantitativos e qualitativos, para se verificar o que ainda é possível de

ser transferido à administração municipal e o que já foi realizado neste sentido.

No quadro 04, a seguir, tem-se a totalização das matrículas da rede estadual no

município de Petrópolis, para o ano de 2005, dividida por etapas da educação básica:

QUADRO 04 – DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS ENTRE OS NÍVEIS DE ENSINO E POR UNIDADES ESCOLARES ADMINISTRADAS PELA SEEDUC-E EM PETRÓPOLIS:

NÍVEL

EDUCAÇÃO INFANTIL

ENSINO FUNDAMENTAL

ENSINO MÉDIO

Nº DE MATRÍCULAS EM 2005

87

5590

8291

TOTAL DE MATRÍCULAS EM TODOS OS NÍVEIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: 13.968 ALUNOS Fonte:Tabela construída com base nos dados IBGE –INEP 2005.

O quadro 04 mostra dados da mesma rede para os anos de 2005 que, se confrontados

com 2007, no quadro 0533, demonstram que houve um acréscimo de 6.428 alunos,

significando uma expansão de 46 % sobre o total verificado no ano de 2005, de acordo com

os dados repassados para o INEP.34

32 IBGE –INEP – Censo Escolar 2005 33 Dados levantados na Coordenadoria Regional 11 da Região Serrana III para o 1º semestre de 2007. 34 IBGE –INEP – Censo Escolar 2005.

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QUADRO 05 – DISTRIBUIÇÃO DAS MATRICULAS NA UES ESTADUAIS DE PETRÓPOLIS: ETAPA/MODALIDADE

Etapa Educação infantil Ensino fundamental Ensino Médio Total

Modalidade regular supletivo EJA regular supletivo normal técnico Educação Especial

21 4.460 4.198 263 7.703 3.494 61 174

Total 85 21 8.921 11.369

20.396

Fonte: Coordenadoria Regional Serrana III SEEDUC-E - julho de 2007.

Verifica-se, portanto, uma expansão considerável para um período menor do que 2

anos, o que, com certeza, resulta da pressão sobre a Secretaria Estadual de Educação no

sentido de expandir sua rede de ensino médio para atender ao crescimento acelerado da

demanda. Mesmo tendo municipalizado 10 UEs, a rede estadual experimentou uma expansão

elevada no número de matrículas, acima de 20 %, em média, ao ano, nos últimos dois anos.

Em contrapartida, na rede municipal, houve um decréscimo de 1.225, matrículas

representando uma redução de 2,31% verificado sob o total de matrículas desta rede, de

acordo com números de meados de 200735, ou seja, o mesmo período em que se levantou os

dados da rede estadual.

Os dados comparativos, entre as evoluções das redes municipal e estadual em

Petrópolis, demonstram que a proposta de descentralização da educação, via municipalização,

prossegue atual, no sentido de deixar a esfera estadual atuar no nível que a lei determina

como prioritário para os Estados, que é o ensino médio.

Através da observação dos dados comparativos, ainda que, por um período tão curto,

inferior a dois anos, percebe-se que a proposta municipalizante prossegue. Um exemplo disso

é a determinação às diretoras das UEs estaduais que ainda trabalham com a educação infantil,

que não mais ofereçam vagas para esta etapa em 2008.

Em 2005, havia 87 matrículas na educação infantil estadual no município de

Petrópolis, já, em 2007, eram apenas 21. De acordo com a Coordenadoria de

35 Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de Petropolis para julho de 2007.

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Municipalização, para o ano de 2008, há a determinação da SEEDUC-E de que não mais se

efetivem matrículas para esta etapa da educação básica nas escolas estaduais localizadas no

município de Petrópolis. A mesma tendência se repete no ensino fundamental, porém, com

maior ênfase, para o 1º segmento, que abrange as turmas do 1º até o 5º ano de escolaridade.

De acordo com os critérios administrativos, a característica principal a diferenciar os dois

segmentos do ensino fundamental é a exigência legal sobre a formação do professor que vai

atuar em cada um desses segmentos. Para atuar no primeiro segmento, o profissional é

classificado como Docente II, pelo plano de cargos da SEEDUC-E, e deve ser formado em

pedagogia ou normal superior. Contudo não há determinação expressa na lei que proíba os

professores com formação em nível médio para o magistério, o Curso Normal, de atuarem

nas turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Entretanto os últimos concursos realizados,

para ingressar no quadro de docentes efetivos da Secretaria Estadual de Educação do Estado

do Rio de Janeiro e, também, do município de Petrópolis, tinham em seus editais a exigência

de docentes formados em nível superior. Um fato curioso é que só é exigido do profissional a

habilitação em nível superior, quando este é contratado sob regime estatutário por meio de

concurso público, sendo, posteriormente, efetivado. Nos casos, em que o Docente II é

contratado por tempo determinado, sem estabilidade e vínculo empregatício, é aceita a

formação em nível médio, o Curso Normal.

Vale lembrar que a SEEDUC-E ainda mantém mais de 70 Cursos Normais na sua rede

de escolas em diversos municípios do Estado, inclusive na capital e no município de

Petrópolis, onde há 61 matrículas para as turmas do Curso Normal. Os últimos concursos

para ingresso no magistério estadual do Rio de Janeiro só contemplaram vagas para o

professor Docente I, com licenciatura plena, específica em um dos componentes curriculares

do 2º segmento do ensino fundamental e do ensino médio.

Seguindo as diretrizes do PROMURJ, a SEEDUC-E não mais realiza concursos para o

cargo de Docente II, estando, portanto, coerente com a proposta de descentralização que

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preconiza a transferência do ensino fundamental para as redes municipais, com o objetivo de

atender a crescente demanda pelo ensino médio. A falta de Docentes I e o excesso de

Docentes II na rede estadual criam embaraços administrativos para a SEEDUC-E, que, em

alguns casos de municipalização, acaba por ceder Docentes II para atuarem nas turmas do 1º

segmento da UE municipalizada.

A municipalização de todo o 1º segmento do ensino fundamental significa, na prática,

que as UEs pertencentes a SEEDUC-E não mais irão oferecer vagas neste segmento. Em

função deste fato, ocorrerá que um grande número de professores classificados como

Docentes II, permanecerão na condição de funcionários públicos estaduais. Este profissionais

não poderão ser demitidos, pois são efetivos e têm estabilidade, mas estarão impedidos por

determinação legal de atuarem no 2º segmento do ensino fundamental por não estarem

habilitados para tal, caso não sejam graduados em alguma das licenciaturas. Já no caso do

Docente I, mesmo que o Estado se retire do 2ºsegmento do ensino fundamental, do 6º ao 9º

ano de escolaridade, este profissional será aproveitado para lecionar no ensino médio, uma

vez que a habilitação determinada pela lei é a mesma para as duas etapas da educação básica.

Nas escolas estaduais localizadas no município de Petrópolis, ainda há 935 alunos

cursando turmas do 1º segmento do ensino fundamental regular, na sua maior parte nos turnos

da manhã e da tarde, o que, em princípio, configura um quadro favorável à municipalização.

Os dados da tabela da Coordenadoria Regional Serrana III, infelizmente, não especificam em

que turmas estão estes alunos; mas, de qualquer forma, são proporcionalmente números pouco

expressivos, respondendo por 4,51 % das matrículas da rede estadual, em todo o município

de Petrópolis. Se a estratégia de não abrir vagas paras as turmas iniciais do ensino

fundamental for mantida, é possível que, em 5 anos, o Estado tenha se retirado do 1º

segmento do ensino fundamental em Petrópolis. Caso haja interesse de ambas as partes,

através de uma negociação, poderá haver mais UEs municipalizadas e com isso o Estado

retirar-se-á mais rapidamente do ensino fundamental.

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Ao se indagar à Coordenadora de Integração Municipalização da SEEDUC-E se ainda

há UE a ser municipalizada em Petrópolis, a colocação foi a seguinte:

Do ponto de vista técnico, sim, pois ainda há unidades escolares trabalhando com turmas do ensino fundamental nos dois segmentos; mas não há interesse da SEEDUC-E em ceder os prédios maiores e com melhor estrutura, uma vez que o Estado necessita deles para atender a crescente demanda pelo ensino médio.

A Coordenadora de Integração e Municipalização ressalta ainda que a atual situação

caracteriza uma sub-utilização dos CIEPs que foram projetados para atender confortavelmente

algo em torno de 600 alunos, trabalhando em horário integral, pois se trata de um prédio com

18 salas de aulas. No caso de se trabalhar em três turnos, esta capacidade fica triplicada,

lembrando que, para efeito de cálculo, consideram-se turmas com cerca de 30 alunos, o que

nem sempre ocorre nas redes públicas.

De acordo com dados contidos na tabela da CR11RSIII, ( Anexo C), pode-se

observar que os CIEPs Santos Dumont, Cecília Meireles e Maestro Guerra Peixe têm,

respectivamente, 456, 314 e 275 alunos matriculados no ensino fundamental. Este quadro

exemplifica a afirmação da Coordenadora de Integração e Municipalização, de que ainda há

uma viabilidade técnica para a municipalização quando se trata de UEs que trabalham

exclusivamente com o ensino fundamental. Porém este tipo de prédio, por possuir uma

excelente estrutura física, não são no atual momento, visualizados como objeto de negociação

entre o governo do Estado do Rio de Janeiro e qualquer prefeitura.

Quando observados os números para o 2º segmento do ensino fundamental regular,

percebe-se que o total de matrículas é bem mais significativo, com 3.525 alunos que

respondem por 17,24 % do total de matrículas da escolas da SEEDUC-E em Petrópolis. Esta

não é a etapa de maior número de matrículas na rede estadual localizada em Petrópolis, mas é

onde está o ensino com maior número de UEs ao longo de todo o município, sendo oferecido

em 14 das 16 UEs, sob administração da SEEDUC-E.

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Considerando o ensino fundamental em todas as suas modalidades: regular, educação

de jovens e adultos - EJA, supletivo presencial e supletivo não presencial – CES36; todas as

UEs estaduais localizadas em Petrópolis ainda oferecem o ensino fundamental. Este fato

parece ser um complicador para se prosseguir com a municipalização, uma vez que não há

intenção da SEEDUC-E em ceder qualquer dos prédios em uso por escolas estaduais em

Petrópolis.

A rede estadual, em Petrópolis, conta com 4.942 alunos matriculados no ensino

fundamental presencial e, em outras diversas modalidades, não calculados os alunos

matriculados no supletivo fundamental não presencial, o CES. O quantitativo referente ao

ensino não presencial será excluído desta consideração por demandar infra-estrutura bem

menor e menos complexa que as UEs de modalidade presencial. Porém, para se proceder a

transferência de todo o contingente que, atualmente, cursa o ensino fundamental presencial,

nas escolas estaduais localizadas no município de Petrópolis, sem que a SEEDUC-E ceda

qualquer uma das suas UEs localizadas neste município, seria necessário construir algo em

torno de 10 UEs com capacidade para 500 alunos cada uma. Outra alternativa seria a de se

realizar um remanejamento de alunos das UEs estaduais para UEs municipais, o que é tarefa

extremamente complexa, devendo-se considerar, inclusive, o desgaste político.

A localização das UEs, os vínculos existentes entre os alunos e destes com os

professores, o turno em que seriam oferecidas as aulas, entre outros aspectos, são muitas das

variáveis a interferirem em uma negociação desta magnitude. Além disso, o impacto dos

custos na rede municipal, com a construção de escolas, o pagamento de pessoal e a burocracia

administrativa, também é um impedimento para medidas desta natureza.

Por outro lado, o ensino fundamental, sob administração da SEEDUC-E em

Petrópolis, em todas as suas modalidades, apresentou um crescimento de 54,8 % entre os anos

de 2005 e 2007, passando de um total de 5.590 alunos no ano de 2005 para 8.658 alunos em

36 CES – Centro de Ensino Supletivo (semi-presencial).

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julho de 2007. Numa primeira análise, poderíamos considerar que estes números retratam

uma situação que vai no sentido oposto ao da proposta de descentralização. Porém deve-se

observar que a rede estadual teve considerável crescimento de suas matrículas no ensino

fundamental na modalidade do ensino supletivo não presencial que responde por cerca de

42% do total de todas as matrículas do ensino fundamental das UEs estaduais em Petrópolis.

Para traduzir, com maior confiabilidade estes números no que diz respeito à política estadual

para a municipalização da educação em Petrópolis, seria conveniente dados sobre o perfil dos

alunos do CES, sua origem, faixa etária etc, o que poderia explicar o porquê de tão alta taxa

de crescimento no ensino fundamental das escolas estaduais; enquanto o total de matrículas da

rede municipal, que atende quase que exclusivamente ao ensino fundamental presencial teve

uma redução, ainda que pequena neste mesmo período.

O quadro 06, a seguir, permite-nos compreender melhor a estrutura da rede estadual,

localizada no município de Petrópolis, uma vez que retrata a distribuição das matrículas e os

seus respectivos percentuais no ensino fundamental de acordo com as modalidades:

QUADRO 06 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS DO ENSINO FUNDAMENTAL POR MODALIDADE DE ENSINO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DA SEEDUC-E NO MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS:

Modalidade Nº de matrículas Participação % no total de matrículas no Ensino Fundamental

1º segmento regular 935 10,48 % 2º segmento regular 3525 39,51 % Supletivo presencial 482 5,40 %

Supletivo não presencial (CES)

3716 41, 65 %

Educação de Jovens e Adultos (EJA)

263 2,96 %

Total 8921 100,00 % Fonte: Tabela construída com dados fornecidos pela Coordenadoria Regional Serrana III, em junho de 2007.

O crescimento do número de matrículas no ensino fundamental, nas escolas estaduais,

localizadas no município de Petrópolis, deve ser, portanto, objeto de investigação detalhada e

atenta, para não dar margem a interpretações errôneas, levando a crer numa primeira análise

que as administrações estaduais e municipais estão em descompasso com o objetivo do

PROMURJ. O que se percebe é que o número de matrículas cresce nas duas esferas

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administrativas: estadual e municipal, mas grande parte das novas turmas trabalha com

modalidades não regulares de ensino.

Uma vez excluídas do cálculo de crescimento as matrículas no ensino fundamental na

modalidade supletivo não presencial e contabilizadas somente as matrículas do ensino

fundamental regular, teríamos, desta forma, uma redução 11,6 % na rede de ensino

fundamental, sob administração da SEEDUC-E para o município de Petrópolis. Esta

observação ganha relevância, pois demonstra que as metas de descentralização não foram

desconsideradas. As modalidades regulares de ensino parecem perder espaço não apenas no

ensino fundamental, mas nas etapas iniciais da educação básica na rede de escolas estaduais.

Um fato importante que não pode ser desconsiderado são os incentivos contidos na

legislação como forma de se financiar os municípios e apoiar os programas de

descentralização, postos em prática no Brasil, ao longo dos últimos anos, entre eles a criação

do FUNDEF e a sua substituição, recentemente, pelo FUNDEB. Estes dois fundos de

redistribuição de verbas do governo federal dos Estados e Municípios, e fazem uma divisão

dos recursos proporcionais ao número de alunos matriculados nas redes públicas. Com a

substituição do FUNDEF pelo FUNDEB novas etapas e modalidades de ensino passaram a

ser contempladas.

Todavia é preciso considerar também que as matrículas no ensino médio nas escolas

estaduais administradas pela SEEDUC-E em Petrópolis, subiram de um patamar de 8.921

matrículas no ano de 2005 para 11.432 no ano de 2007, significando um aumento de 37,8 %

para o período citado, principalmente nos cursos não presenciais que não são contemplados

pelo FUNDEB.

Em um primeiro momento, pode-se ter a impressão de que ao poder público estadual

caberia apenas e tão-somente atender aos alunos do ensino médio oriundos do ensino

fundamental regular, normalmente oferecido pelo poder público municipal, seguindo a

distribuição de incumbências prescrita na LDBEN nº 9394/96 e na CF de 1988. Entretanto,

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conforme demonstramos nas considerações anteriores sobre a rede estadual de ensino

fundamental em Petrópolis, pode-se constatar que o ensino regular responde apenas por uma

parte desta rede e que as modalidades de ensino supletivo presencial, supletivo não presencial

e a EJA37 - educação de jovens e adultos vêm apresentando uma taxa de crescimento bem

superior à verificada no ensino regular. Isto ocorre em virtude do grande número de pessoas

que não concluíram seus estudos dentro da faixa etária esperada e, hoje, por motivos diversos

retornam às escolas. No ensino médio, as modalidades não regulares de ensino também têm

apresentado um crescimento bastante acelerado, pressionando a administração estadual no

sentido de agilizar novas turmas e/ou novas UEs. Para Souza (2007) o atraso escolar de

grande parte da população é um fator importante a ser considerado ao analisar as altas taxas

de crescimento das modalidades não regulares de ensino médio oferecidas pela rede

estadual.

Um fato importante observado quando se levantam dados relativos à rede estadual de

educação, é que ainda o poder público estadual não trabalha apenas com a SEEDUC-E para

oferecer o ensino de nível médio, pois conta também com a Fundação de Apoio à Escola

Técnica – FAETEC, subordinada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e que tem

uma unidade em Petrópolis, oferecendo curso técnico nas áreas de Informática, Inglês e

Esportes com um total de 2.621 alunos38. Entretanto os dados do INEP não fazem distinção da

Secretaria de Estado a que está vinculada a matrícula, apenas apresentam dados para toda a

rede estadual, sem fazer qualquer espécie de categorização dentro desta esfera administrativa.

O ensino médio regular, oferecido pela SEEDUC-E em Petrópolis, é realizado em 10

UEs, totalizando 7.703 alunos, o que representa 67,37 % do total de alunos nesta etapa e

modalidade de ensino. O ensino supletivo, oferecido na modalidade não presencial é somente

37 As informações prestadas pela SEEDUC-E não fazem distinção entre a EJA e o ensino supletivo. 38 Fonte: FAETEC – Unidade Petrópolis dados para 2º semestre de 2007.

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em uma única UE, o CES39 em Petrópolis, mas conta com um elevado número de matrículas,

7. 210, sendo 3.716 no ensino fundamental e 3.494 no ensino médio.

No quadro 07, a seguir, observa-se a distribuição das matrículas nas UEs das redes

estaduais localizadas em Petrópolis, quer subordinadas à SEEDUC-E, quer subordinadas à

Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia.

QUADRO 07 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRICULAS DO ENSINO MÉDIO POR MODALIDADE E ADMINISTRAÇÃO NAS ESCOLAS ESTADUAIS NO MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS: *

MODALIDADE/ADMINISTRAÇÃO Nº DE MATRÍCULAS % SOBRE O TOTAL DE MATRÍCULAS

REGULAR 7.703 67,37 % SUPLETIVO NÃO PRESENCIAL40 3.494 30,58 % CURSO NORMAL 61 0,53 % TÉCNICO-SEEDUC-E 174 1,52 % TOTAL DE MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO: 11.432 100 % *Fonte: Tabela montada com dados da SEEDUC-E e da FAETEC em junho de 2007, (Anexo E).

É necessário detalhar informações quantitativas para não se proceder a interpretações

equivocadas. A descentralização da educação tem como fundamento a otimização de recursos,

por meio de uma repartição de competências em que se julga que uma determinada esfera do

poder público poderá prestar um serviço de melhor qualidade à população. O aumento

crescente e em ritmo acelerado por vagas nas redes públicas, nas diferentes modalidades e

etapas da educação básica, é outro fator que deve ser considerado, na análise dos dados

obtidos. Para corresponder a esta demanda, as secretarias de educação, quer estadual quer

municipal, bem como a iniciativa privada, procuram oferecer modalidades de ensino que

venham ao encontro do que é demandado.

Percebe-se, pelo quadro 03, que o poder público municipal já responde por 64,6 % de

todas as matrículas da educação básica no município de Petrópolis. Este número evidencia

que a proposta contida no texto da CF de 1988 e na LDBEN nº 9394/96 que instituiu o ensino

fundamental como gratuito e obrigatório, causou grande pressão política sobre as

39 CES Centro de Estudos Supletivos – modalidade de ensino não presencial para os níveis médio e fundamental, com orientação de professores para entrega de material e retirada de dúvidas. 40 Observação: não é oferecido ensino supletivo presencial em nível médio.

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administrações municipais, fazendo com que houvesse rápida expansão do ensino

fundamental e das redes municipais de educação em todo o país.

A expressiva queda das taxas de crescimento demográfico, verificada no Brasil nas

últimas décadas, aponta para um envelhecimento da população. Isto significa que, num

primeiro momento, há um aumento do percentual de adolescentes e jovens e uma

conseqüente redução no percentual de crianças para o total da população. Porém não é só o

fator demográfico que colabora com um maior crescimento das matrículas no ensino médio

em relação ao ensino fundamental, outros fatores de ordem social e cultural contribuíram para

que um grande número de pessoas retomasse os estudos, fato que explica a grande procura

por cursos noturnos em diferentes modalidades: regular, EJA e supletivo, presencial ou não.

Este somatório de fatores leva a concluir que é preciso agilidade no processo de

municipalização e, especialmente, de colaboração entre as redes públicas de educação, de

forma que os poderes públicos consigam acompanhar a demanda por vagas, de acordo com o

nível e a modalidade de ensino.

Para entendermos melhor o processo de municipalização em Petrópolis, é necessário

ainda, a seguir, fazer um levantamento detalhado da rede pública de educação municipal, que

é o objeto deste estudo.

4.1.2 Estrutura da rede municipal de ensino no município de Petrópolis

O município de Petrópolis tem na sua rede de escolas uma particularidade que merece

ser analisada logo no primeiro momento: são os convênios entre o poder público municipal e

instituições privadas de ensino. A maior parte destes convênios é feita com instituições

privadas confessionais, ligadas a alguma instituição religiosa, católica ou protestante, ainda

que existam uns poucos convênios com instituições laicas. Quando somadas todas as

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matrículas em UEs conveniadas totalizam 9.709 alunos que respondem por 18,69 % de todas

as matrículas da rede municipal.

Os convênios variam bastante de uma UE para outra e estão em todas as etapas da

educação básica: na educação infantil e nos dois segmentos do ensino fundamental. No ensino

médio, há apenas um convênio firmado com a Organização Não Governamental - ONG -

Viva Rio, na modalidade Educação de Jovens e Adultos - EJA. Os convênios podem ainda

ser parciais em uma mesma UE quando apenas uma determinada etapa do ensino ou segmento

desta está conveniada, e a etapa seguinte funciona como uma instituição privada. Na etapa da

educação que é conveniada, o mais comum é a administração municipal arcar com o

pagamento de professores, enquanto a estrutura física fica por conta da instituição

conveniada. Há alguns casos de UEs conveniadas nas quais o poder público municipal entra

com a verba e não com os professores, havendo um acompanhamento e fiscalização dos

gastos das verbas públicas municipais repassadas para a UE.

Ao se indagar à representante da Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis o

porquê da origem destes convênios, o que foi informado é que, foram realizados quando a

educação pública não atendia a toda a demanda, como forma de contemplar a população em

idade escolar nas instituições educacionais já existentes. Outro argumento dado foi o fato de

haver uma “tradição” na educação petropolitana de parceria com instituições religiosas, em

todos os níveis.

As informações sobre o futuro dos convênios são evasivas, pois trata-se também de

uma questão política, já que há um grande número de escolas conveniadas. Cada caso de UE

conveniada é um caso específico, ficando a critério da UE, da instituição conveniada e do

poder municipal renovar, ou não, o convênio. O rompimento de um convênio envolve um

custo político alto, havendo pressão de diversas formas sobre a administração pública.

Contudo é de grande importância lembrar que, caso um número grande de convênios venha a

ser cancelado, em um curto período, as demais UEs da rede municipal não teriam como

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atender a procura por vagas de imediato, havendo uma superlotação de turmas em algumas

UEs. O quadro 08, a seguir, demonstra o tamanho e a participação da UEs conveniadas

na rede de Petrópolis, evidenciando a sua importância quantitativa e a sua participação por

etapas, modalidades e segmentos da educação básica

QUADRO 08 - PARTICIPAÇÃO DOS CONVÊNIOS NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS Administração Nível de ensino Instituição conveniada Nº de U.Es Nº de alunos

Educação Infantil 18 1.006 Igreja Católica 29

Igrejas Evangélicas 06

SME convênios

Ensino Fundamental

Instituições Laicas 07

42

8.703

Total para os convênios 60 9.709

Educação Infantil Sem convênios 29 4.906 Ensino Fundamental Sem convênios 94 35.116

Ensino Médio Sem convênios 01 862 Educação Especial S/d 09 346

Educação Jovens e Adultos S/d 08 193

SME Sem convênios

VIVA RIO S/d 14 832 Total exclusivo SME sem convênios S/d* 42.255

Total da rede municipal inclusive convênios. 183 51.964

Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis - 2007 * Sem dados, pois há uma superposição de modalidades para uma mesma UE.

Uma questão fundamental, e que deve ser considerada em qualquer planejamento de

educação pública, é o da localização das UEs. Há casos de escolas com excesso de alunos nas

turmas e outras trabalhando abaixo da capacidade de atendimento, causando um sub-

aproveitamento operacional no atendimento, o que caracteriza uma má administração de

recursos de toda ordem.

A localização da UE próxima ao local onde residem os alunos é fator de grande

importância para os pais da educação infantil e do 1º segmento do ensino fundamental, uma

vez que estes alunos dependem dos pais ou de um responsável para levá-los até a escola. O

fator localização pode ter sua importância reduzida para alunos jovens e adultos, mas não

pode ser desconsiderado. Esta observação também é válida para a lotação dos professores.

Nestes dois casos, a proximidade com o local de trabalho e a facilidade de transporte ganham

relevância.

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O problema da alocação de alunos e professores em uma determinada UE é complexo

para as redes de ensino, não apenas as públicas, mas também para as escolas privadas. A

Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis informa que algumas UEs têm turmas

superlotadas e outras, por causa de sua localização, trabalham com capacidade ociosa. A

alocação de alunos em uma determinada UE pode se transformar em um episódio de

influência política.

Convém lembrar que um dos sustentáculos filosóficos da descentralização da

educação através da municipalização é, justamente, a otimização dos recursos e a eficiência.

O que ocorre com os convênios, quando em vias de término de contrato, é semelhante

ao processo de transferência de matrículas verificado entre as redes estadual e municipal. A

retirada da oferta de vagas tem de ser gradual, sempre respeitando as datas dos anos letivos

de forma a não prejudicar o aluno. A modalidade de ensino e o turno oferecido também

ganham importância na distribuição das matrículas, nas quais as turmas noturnas têm, em

média, um número maior de alunos do que as diurnas. Lamentavelmente, os dados da

Secretaria Municipal de Educação não detalham a distribuição das matrículas por turno, com

dados médios por turma e o perfil etário desses alunos.

Além disso, verifica-se que as turmas do turno da tarde para o 2º segmento do ensino

fundamental são poucas e com poucos alunos por turma. A explicação fornecida pela

Secretaria Municipal de Educação se baseia no fato de que os adolescentes já realizam

trabalhos remunerados, normalmente, no turno da tarde.

O gráfico 07, a seguir, retrata a evolução do número total de matrículas na rede

pública municipal de Petrópolis, incluindo a educação infantil, o ensino fundamental e o

ensino médio, em diferentes modalidades e já somadas as instituições privadas conveniadas.

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GRÁFICO 07 - EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE MATRÍCULAS NA REDE MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS NO PERÍODO DE 1996 -

2007

34.240

36.926

37.094

38.280

40.679

44.765

44.765

48.156

49.834

53.189

52.595

51.964

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

Ano

Nº de m

atrículas

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis - 2007

O quadro 08, a seguir, demonstra de que forma se encontram distribuídas as

matrículas na rede pública municipal de Petrópolis nas etapas da educação básica e seus

respectivos percentuais:

QUADRO 09 - TOTAL DE MATRÍCULAS POR NÍVEL SEGMENTO/MODALIDADE NA REDE MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS ANO 2007: ETAPA/MODALIDADE Nº DE MATRÍCULAS % S/ TOTAL MATRÍCULAS EDUCAÇÃO ESPECIAL *1 346 0,67% EDUCAÇÃO INFANTIL 5.912 11,38% ED. FUNDAMENTAL 1º SEG 26.032 50,10% ED. FUNDAMENTAL 2º SEG 17.787 34,23% ENSINO MÉDIO 862 *2 1,66% *2 OUTROS 1.025 1,97% TOTAL 51.964 100% *1 A educação especial só atende no nível fundamental. *2 Estão excluídas deste total as matrículas no ensino médio, através de convênios, que estão incluídas em outros. Fonte: Quadro construído com dados da Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis – 2007.

O gráfico 08,a seguir, retrata os números do quadro 09 imediatamente acima, de

forma que se torne mais nítida a participação das matrículas por etapas da educação básica na

rede municipal de Petrópolis:

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GRÁFICO 08 - DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS POR NÍVEL/MODALIDADE DE ENSINO NA REDE MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS

11,38%

0,67%

50,10%

34,23% 1,66%

1,97%Educação Infantil

Educação Especial

Ed. Fund. 1º seg

Ed. Fund. 2º seg

Ensino Médio regular

Outros*

Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis – 2007.

Outros: BB educar e educação de jovens e adultos e atuam nos níveis fundamental e médio - (parceria do Banco do Brasil com a PMP); Bralf Brasil alfabetizado – (*parceria SESI PMP).

Com base nos dados do gráfico 08, acima, percebe-se que, em 2007, o ensino

fundamental é responsável por 87,22 % do total de matrículas da rede municipal de educação

de Petrópolis, sendo que o 1º segmento representa um pouco mais da metade, com 50,10 %

dos alunos. Contudo é importante observar que, de acordo com dados da Secretaria Municipal

de Educação de Petrópolis, o crescimento do 2º segmento foi muito significativo no período

pesquisado, passando de 13.074 matrículas no ano de 2001 para 17.787 no ano de 2007,

representando um crescimento de 36 %, o que, vale lembrar que, é muito acima da taxa de

crescimento populacional verificada no município para este mesmo período, que é de cerca

2 % ao ano.

Para reforçar o argumento de que a expansão verificada no 2º segmento do ensino

fundamental não está atrelada somente ao crescimento populacional, ressalta-se que, neste

mesmo período, a taxa de crescimento do número de matrículas do ensino fundamental no 1º

segmento teve decréscimo, reduzindo de 26.932 matrículas no ano de 2001 para 26.032

alunos em 2007. Em termos absolutos são 900 alunos a menos; porém, em termos percentuais

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houve uma redução de 3,4%. Cabe ressaltar que, neste mesmo período, a população de

Petrópolis aumentou, enquanto que a rede estadual vem reduzindo gradativamente a sua

oferta de vagas para o 1º segmento do ensino fundamental diurno e regular, em consonância

com as diretrizes estabelecidas pelo PROMURJ. Para explicar este fenômeno, um conjunto de

variáveis devem ser consideradas: expansão da rede privada; migração de alunos fora da faixa

etária para os cursos noturnos presenciais ou não presenciais; registro equivocado de turmas

noturnas que trabalham com a EJA41 como turmas de ensino fundamental regular, de forma a

serem contempladas pelo extinto FUNDEF; além da redução da taxa de natalidade

impactando o ritmo do crescimento demográfico,42 que indica um número menor de

nascimentos.

Ainda no sentido de evidenciar a importância de um planejamento competente nas

políticas públicas para a educação e a sua relação com o andamento do processo de

municipalização, vale demonstrar que, no mesmo período, entre os anos de 2001 e 2007,

houve um grande crescimento das matrículas efetuadas no 2º segmento do ensino

fundamental nas modalidades não presenciais, na educação de jovens e adultos e no ensino

médio. No ano de 2001, o 1º segmento representava 60,16 % das matrículas na rede municipal

e hoje representa 50,10 % , com tendência a reduzir a sua participação, pelo menos em

termos percentuais, sobre o total de matrículas da rede municipal.

Portanto a agilidade no processo de municipalização aparece como fator de grande

importância no sentido de se atender uma demanda que muda de perfil com uma velocidade

considerável, conforme nos mostram os gráficos, os quadros e as considerações feitas em

cima das informações obtidas através deles.

Não se deve partir de uma observação simplista, em que o município atenderia a

demanda pelo ensino fundamental, e o Estado, pelo ensino médio, sem se levar em

41 Educação de Jovens e Adultos – modalidade de ensino não contemplada pelas verbas do FUNDEF.

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consideração uma série de fatores como o aumento significativo de modalidades não regulares

de ensino, presenciais ou não, oferecidas em turnos noturnos e freqüentados por jovens e

adultos que, agora, por motivos diversos, reivindicam o seu direito à educação.

O acesso à educação é direito público subjetivo, garantido pela CF de 1988, no seu

artigo 208, inciso VI, parágrafo 3 e importa em crime de responsabilidade à autoridade

competente que não o cumprir. De acordo com o dispositivo constitucional citado, a

importância política da educação extrapola aspectos considerados como de promoção social,

de cunho ideológico ou humanista, e passa a condição de instrumento legal de pressão sobre o

poder público. Os governantes precisam estar atentos às penalidades previstas na legislação,

uma vez que o não cumprimento do estabelecido na Lei pode levar a desdobramentos que

ultrapassam a esfera político-eleitoral, chegando a instâncias judiciais.

No município de Petrópolis, 10 escolas foram municipalizadas desde 1998 até 2007,

o que não tem grande expressão numérica e quantitativa, se comparado com o total de

matrículas e de UEs verificadas na rede municipal para o ano de 2007. Ao se observar os

dados contidos no quadro 08, verifica-se que foram municipalizadas 10 UEs que

representam 5,46 % do número total de UEs da rede municipal, incluindo as UEs

conveniadas. Em um levantamento da participação das UEs municipalizadas sobre o total de

matrículas verificadas em julho de 2007, a importância quantitativa é ainda menor, uma vez

que responde por 3,96 % do total de alunos matriculados na rede municipal.

Porém, coerente com o ideal de eficiência administrativa, que serve de argumento

para o processo de descentralização, a municipalização destas UEs é justificada como uma

forma de dar à máquina administrativa do Estado maiores possibilidades para atuar em UEs

voltadas para as etapas do ensino que mais crescem e que lhes são atribuídas como

prioritárias pela legislação.

42 Índice do IBGE que mede a proporção de crianças até 15 anos de idade em relação ao total da população caracterizando envelhecimento populacional e estreitamento da base da pirâmide etária. (CENSO DEMOGRÁFICO – IBGE 2000 – P36).

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O quadro 10, a seguir, apresenta as UEs municipalizadas em Petrópolis, seus

respectivos nomes ainda com a sigla E.E que representa Escola Estadual. Também, no quadro

10, estão as datas de publicação no Diário Oficial das transferências destas UEs para o

município de Petrópolis, assim como o número de alunos no momento da transferência para a

administração municipal e o número de alunos no início do ano letivo de 2007.

QUADRO 10 – UNIDADES ESCOLARES MUNICIPALIZADAS EM PETRÓPOLIS

Nº Unidade Escolar Data Nº de alunos no ano da municipalização

Nº de alunos em 2007

1 E E Almirante Tamandaré 16/01/01

145 82

2 E E Avelino de Carvalho 14/12/98 86 182

3 E E Carmem Nunes Martins 14/12/98 70 439

4 E E Paulo Motta 16/01/01 130 87

5 E E Frei Aniceto 16/01/01 154 154

6 E E Pedro Amado 16/01/01 200 175

7 E E Professora Maria da Glória Queiroz Vasconcellos 16/01/01 S/d 202

8 E E Santa Teresinha 16/03/05 S/d 405

9 E E Sebastião Lacerda 16/01/01 S/d 90

10 E E Sérgio Ribeiro da Rocha 16/01/01 150 244

Total de matriculas: ___ 935 2.060

% e total sob o nº de matrículas em junho de 2007

2060 matrículas que respondem por apenas 3,96% do total de matrículas da rede municipal em 2007

Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis.

Desde a criação do PROMURJ, com a publicação da Resolução de nº 1.411 de 1987,

já foram municipalizadas 1.407 UEs em todo o Estado do Rio de Janeiro (Anexo B), sendo

que, deste total, 464 foram desativadas posteriormente e 943 ainda estão ativas. O grande

número de UEs desativadas, 464, representa 32, 9 % sobre o total de UEs que foram

transferidas para os governos municipais, o que demonstra que, mesmo para as

administrações municipais mais próximas às UEs, não foi interessante manter estas unidades

em funcionamento.

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De acordo com a Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, as

escolas desativadas tinham estrutura muito precária e/ou número reduzido de alunos, sendo

“mais racional” oferecer transporte gratuito para os alunos até uma unidade próxima. Este

tipo de prática administrativa é compatível com a filosofia implantada de racionalização dos

recursos, “em nome da eficiência e da democratização da administração pública”43.

O grande número de UEs que deixaram de estar subordinadas à Secretaria de Estado

de Educação e passaram para as administrações municipais, é um dos fatores principais na

justificativa de otimização dos recursos, por meio da descentralização administrativa que é

proposta pelas políticas de municipalização. Esta transferência de UEs é também justificada

como uma das etapas da reestruturação das redes públicas, de forma a permitir que os poderes

públicos possam atender com mais qualidade, as suas atribuições legais no que diz respeito à

educação básica.

Muito provavelmente, outros programas para a educação básica, envolvendo diferentes

entes da federação, em regime de colaboração, devem surgir para dar continuidade ou não, ao

atual modelo de gestão da educação pública. As constantes e aceleradas transformações

ocorridas na sociedade se refletem na educação e não apenas nela, mas em toda a burocracia

administrativa estatal.

Nesse sentido, o planejamento das políticas públicas para a educação deve considerar

que o modelo de administração precisa estar sempre sendo questionado e revisto, para atender

as novas demandas da sociedade.

A importância da educação vai muito além do modelo de gestão administrativa e do

ente público a que a Lei delega competências e deveres, mas eles são peças fundamentais para

a definição da educação que a sociedade quer, e os objetivos que se esperam dela.

43 Entrevista com a Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, realizada em 10 de abril de 2007.

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105

5 - AVANÇOS E RECUOS NO PROCESSO DE MUNICIPALIZAÇÃO

O período, objeto de análise, neste estudo, está delimitado entre os anos de dezembro de 1987

até maio de 2007, abrangendo quase duas décadas. Tomou-se como ponto de partida a data de

criação do Programa de Municipalização do Ensino de 1º Grau do Estado do Rio de Janeiro –

PROMURJ, estabelecido em dezembro de 1987.

Ao ser criado, o PROMURJ tinha como embasamento legal a Lei nº 5692/71, que,

em seu artigo 58, parágrafo único, estabelecia competências para cada um dos entes da

federação considerados sistemas de ensino: União, Estados e Distrito Federal e, ainda, referia-

se à possibilidade de delegação de incumbências aos Municípios. A referida Lei, por sua vez,

atendia aos princípios estabelecidos pelo artigo 15 da Constituição de 1967.

No início de 1988, ano seguinte ao da criação do PROMURJ, foi assinado o primeiro

convênio de municipalização no Estado do Rio de Janeiro, pelo qual o governo estadual

transferia para as administrações de várias prefeituras um grande número de UEs.

Passadas quase duas décadas da data de publicação da Resolução nº 1.411 da SEE/RJ,

que deu início oficial às políticas de municipalização no Estado do Rio de Janeiro, são

muitas as considerações a serem feitas, bem como os avanços e recuos apontados, quer de

ordem administrativa, quer de ordem política.

Ao longo dos capítulos anteriores, diferentes argumentos foram expostos no que se

refere às políticas públicas descentralizadoras que deram origem à municipalização. Nesse

sentido, para ilustrar melhor a evolução da municipalização no Estado do Rio de Janeiro e no

Município de Petrópolis, recorreu-se aos dados quantitativos do Censo Escolar realizado

anualmente pelo INEP, dados do IBGE e das próprias Secretarias de Educação, além das

determinações contidas nas leis que direcionaram o processo de municipalização verificado

durante o período que sucedeu à criação do PROMURJ.

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Com base nestes dados contata-se que os municípios aumentaram a sua participação

na educação básica, notadamente no ensino fundamental, quer em termos percentuais, quer

em termos nominais. Especificamente, os dados demonstram o aumento sobre o total de

matrículas verificadas no ensino fundamental, seja para todo o Estado do Rio de Janeiro, seja

para o município de Petrópolis.

No quadro 11, a seguir, visualiza-se o crescimento do total de matrículas existentes

no ensino fundamental regular, nas redes municipais do Estado do Rio de Janeiro entre os

anos de 1999 e 2006.

QUADRO – 11 – EVOLUÇÃO COMPARATIVA DAS MATRÍCULAS DO ENSINO FUNDAMENTAL REGULAR PRESENCIAL, ENTRE AS REDES ESTADUAL E MUNICIPAIS PARA TODO O ESTADO DO RIO DE JANEIRO NO PERÍODO ENTRE 1999 E 2006.

Ano

Nº matrículas E.F. regular municipal

% de crescimento

ao ano

Nº matrículas E.F. regular estadual

% de crescimento

ao ano

Total do nº de matrículas estado + municípios

% de crescimento

ao ano

1999 1.303.228 -------- 676.980 -------- 1.980.208 ------ 2000 1.334.163 2,37 % 666.327 - 1,58 % 2.000.490 1,02% 2001 1.358.549 1,82 % 641.871 -3,68 % 2.000.420 - 0,01% 2002 1.368.209 0,71 % 633.773 -1,27 % 2.001.982 0,7% 2003 1.386.301 1,32 % 599.002 -5,49 % 1.985.303 -0,9% 2004 1.415.810 2,12, % 576.083 -3,83 % 1.991.893 0,3% 2005 1.450.973 2,48 % 542.380 -5,86 % 1.993.353 0,7% 2006 1.448.184 - 0,2 % 515.661 -4,93 % 1.963.845 -1.5% Totais + 144.956 11,12 % - 161.319 -23,83 % -16.363 - 0,83 % Fonte: INEP – Censo Escolar 2006. Observação: Os dados são referentes apenas ao ensino fundamental regular presencial, não sendo computadas outras modalidades.

Os percentuais de crescimento do total de matrículas para o ensino fundamental

regular no Estado do Rio de Janeiro, apresentam uma oscilação anual, ora com acréscimos e

ora com redução do número de matrículas, não havendo um crescimento linear e constante

ano após ano. Para a Presidente da UNDIME/RJ, as oscilações na oferta de emprego têm

reflexos no número de alunos matriculados, principalmente em cursos noturnos, uma vez que,

ao ingressarem no mercado de trabalho, é comum que alunos jovens ou adultos acabem por

abandonar a escola, ainda que temporariamente. Contrariamente às expectativas de

crescimento constante do número de matrículas, o que se verifica pelo quadro 11, é que o

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número total de matrículas estaduais e municipais entre 1999 e 2006, apresenta um pequeno

decréscimo de 0,83% o que representa uma redução de 16.363 matrículas no ensino

fundamental regular para este período de oito anos. Cabe ressaltar que a redução demonstrada

no quadro 11 se refere apenas ao ensino fundamental regular44.

De acordo com os números do quadro 11, pode-se verificar que os municípios

aumentaram a sua participação sobre o total de matrículas do ensino fundamental regular,

tanto em valores nominais quanto em valores percentuais. Observa-se ainda que a rede

estadual para esta etapa e modalidade de ensino teve redução de 161.319 matrículas no

período analisado, o que representa uma diminuição de 23,83%, Em contrapartida, há um

acréscimo verificado nas matrículas sob administração municipal, com um aumento numérico

de 144.956 alunos, o que representa um crescimento de 11,12% para o mesmo período.

Todavia trata-se de um desempenho modesto que reflete a lentidão com que o Estado se retira

do ensino fundamental regular e passa aos municípios a responsabilidade pela oferta desta

etapa da educação básica. Por outro lado, também denota as dificuldades encontradas pelos

sistemas de ensino estadual e municipais para estabelecerem um regime de colaboração que

possa acelerar o processo.

Ainda assim, a leitura do quadro 11, mostra que ao longo do período compreendido

entre os anos de 1999 e 2006, as matrículas nas redes municipais avançaram de 65,82% para

72,75% em oposição ao recuo das matrículas estaduais que, neste mesmo intervalo de tempo,

decresceram de 34,18% em 1999 para 27,25% no ano de 2006.

O gráfico 09, a seguir, demonstra a evolução da municipalização do ensino

fundamental regular no Estado do Rio de Janeiro, através da distribuição das matrículas

estaduais e municipais, e a participação de cada instância administrativa em termos

percentuais para o período compreendido entre 1999 e 2006, analisado no quadro 11.

44 A redução de 16.363 matrículas no ensino fundamental regular, nas redes públicas estadual e municipais deve-se um conjunto de variáveis: queda nas taxas do crescimento demográfico; a migração de alunos para o ensino não regular e o registro equivocado das matrículas por parte destas redes públicas.

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GRÁFICO 09 - EVOLUÇÃO DA MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

34,18

33,3

32,08

31,65

30,17

28,92

27,2

27,25

66,7

67,92

68,35

69,83

71,08

72,8

72,75

65,82

0

20

40

60

80

100

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Ano

%

municipio

estado

Fonte: Censo Escolar INEP- 2006

Com base na interpretação dos números do quadro 11 e do gráfico 09 percebe-se que

houve um avanço do poder municipal, ou da municipalização do ensino fundamental, mas de

forma lenta e gradual, e verificado somente para a modalidade regular desta etapa da

educação básica.

Os números também indicam que a municipalização ultrapassa o mero repasse de UEs

de ensino fundamental entre o poder estadual e o poder municipal. Ambas as esferas

administrativas têm criado novas modalidades de ensino, convertendo-se em estratégia para

atender a demanda. A dinâmica demográfica e outros fatores de ordens diversas, que já foram

objeto de considerações, pressionam por um redimensionamento das redes de educação

básica, no que diz respeito às modalidades e turnos oferecidos quer pelo Estado, quer pelos

municípios.

Na comparação entre os dados do quadro 11 e do quadro 12, exposto, a seguir,

verifica-se que, de fato, a municipalização avançou no ensino fundamental regular, embora

em um ritmo muito lento cuja taxa média foi de cerca de 1,5% ao ano para o período 1999-

2006. Entretanto, no ensino fundamental não regular, o avanço das redes municipais foi

muito mais significativo em termos percentuais, 328,18 % para o período analisado, o que

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significa uma taxa média anual de crescimento de cerca de 47% ao ano, e, portanto, muito

superior à taxa de expansão verificada para ensino fundamental regular no mesmo período.

No quadro 12, a seguir, constata-se o crescimento acelerado das modalidades não

regulares do ensino fundamental:

QUADRO – 12 EVOLUÇÃO COMPARATIVA DO ENSINO FUNDAMENTAL NÃO REGULAR (EJA/ SUPLETIVO/ PRESENCIAL/ NÃO PRESENCIAL) ENTRE AS REDES MUNICIPAIS E ESTADUAL, NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NO PERÍODO 1999 – 2006.

Ano

Nº matrículas E.F. não regular municipal

% de crescimento ao

ano

Nº matrículas E.F. não regular estadual

% de crescimento ao

ano

Total do nº de matrículas do

E.F. não regular estado + municípios

(RJ) 1999 30.123 -------- 179.395 ------- 209.518

2000 43.012 42,7% 144.218 -19,61%

2001 51.995 20,88% 112.681 - 21,87%

2002 67.528 29,87% 185.147 64,3%

2003 78.800 16,6% 204.259 10,32%

2004 95.183 20,7% 138.472 -31,86%

2005 97.716 2,66% 203.233 46,76%

2006 98.859 1,16% 198.688 - 2,24% 297.547

Total +68.736 328,18% +19.293 10,75% +88.029

Fonte: INEP –Censo Escolar anos de 1999 – 2006.

Com base nos dados dos quadros 11 e 12, conclui-se que os municípios avançam

anualmente de forma gradual, quer em termos nominais quer em percentuais, sobre o total de

matrículas do ensino fundamental nas modalidades regular e não regular, no Estado do Rio de

Janeiro. O que ocorre é que o número de matrículas efetuadas no ensino fundamental das

escolas estaduais também vem apresentando crescimento numérico, porém em taxas inferiores

às verificadas nas redes municipais. Esta diferença entre as taxas de crescimento da rede

estadual e das redes municipais contribui para que a participação dos municípios aumente em

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termos percentuais sobre o total de matrículas do ensino fundamental, para todas as

modalidades.

Com relação ao ensino fundamental não regular exposto no quadro 12, fica

demonstrado que as matrículas das redes municipais cresceram 328,18% e as da rede estadual

apenas 10,75% para o mesmo período. Apesar disso, deve-se considerar o fato de que o

ensino fundamental não regular sob administração do Estado, ainda é o dobro em termos

numéricos, que a soma de todas as redes municipais.

Quando se faz a análise dos números cabe lembrar, ainda, que, na cidade do Rio de

Janeiro, capital do Estado, todo o ensino fundamental já se encontra municipalizado há muito

tempo, e este município responde sozinho por mais de 40% da população total do Estado.

Caso fosse feita a análise do percentual de municipalização do ensino fundamental no Estado

do Rio de Janeiro, excluindo a extensa rede municipal da capital, chegaria-se-ia a números

muito mais modestos em relação aos objetivos do PROMURJ.

Ao enfocar os avanços e recuos no processo de municipalização, cabe rever as

determinações contidas na Lei nº 5692/71, na LDBEN nº 9394/96 e na CF de 1988. A

legislação brasileira, segundo os autores já citados, não é objetiva ao delegar competências,

especialmente, no que se refere ao ensino fundamental. A CF de 1988 afirma a atuação

“prioritária” no ensino fundamental para os municípios, mas não exclusiva, e deixa para os

estados o ensino fundamental “supletivamente” e o ensino médio “prioritariamente”. Na

LDBEN nº 9394/96, o artigo 11 diz que o ensino fundamental será “prioritariamente”

oferecido pelos municípios, sendo permitido aos mesmos atuar nos outros níveis de ensino,

quando já estiverem plenamente atendidas as necessidades de sua área de competência, com

os percentuais de recursos acima dos vinculados na Constituição Federal. Para os estados a

LDBEN nº 9394/96, no artigo 10, determina um “regime de colaboração com os municípios”

e fala em “distribuição proporcional das responsabilidades”, mas deixa lacunas para

interpretações relativas à forma como seriam realizadas essas recomendações legais.

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Além disso, para se cumprir as determinações oriundas da legislação é necessário um

grande esforço político e administrativo, de todas as esferas do poder público federal,

estadual e municipal. De acordo com Rezende (1998), não se pode falar em descentralização e

transferência de encargos sem se realizar uma reforma tributária que torne os municípios

capazes de arcar com os custos decorrentes de um acréscimo considerável no número de

matrículas nas redes municipais de ensino fundamental. Para esse autor, as tentativas mais

ousadas de reforma tributária, ao longo da história, esbarraram em intrincados interesses

políticos e impediram o avanço na modernização do federalismo brasileiro, que contemplaria

com maior autonomia cada um dos entes da federação.

A alternativa à reforma tributária eficaz – que não foi realizada – fez-se através da

criação de fundos de participação e capacidade redistributiva. Para tornar viável o custeio da

educação municipal, foi criado o FUNDEF, posteriormente substituído pelo FUNDEB, que é

mais abrangente em relação às modalidades e etapas da educação básica. Porém para a

Presidente da UNDIME/RJ, as mudanças introduzidas com o FUNDEB não representaram

nenhum avanço. Ao fazer tal afirmação, a entrevistada45 argumentou que este novo fundo só

fez o rateio de uma verba que já existia, prevista no artigo 211, da Constituição de 1988 e

concluiu, afirmando que a modificação se deu apenas na abrangência das etapas e

modalidades da educação básica. Todavia ambos são fundos de redistribuição de verbas com

a participação dos governos federal, estadual e dos municípios, no intuito de financiar os

sistemas de ensino. A Presidente da UNDIME/RJ acrescentou que o critério de distribuição

dessas verbas, continua sendo calculado sobre o número de alunos matriculados nas

respectivas redes, obedecendo aos requisitos que a lei determina, sobre etapas e modalidades

de ensino a serem contempladas com os recursos de cada um desses fundos, tornando as

referidas verbas objeto de disputas políticas entre os estados e os municípios. Reiterando a

afirmação feita pela presidente da UNDIME/RJ, Ribeiro que cita a competição por matrículas

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entre os poderes estadual e municipais no Estado de Mato Grosso (2004) como forma de ser

contemplados com verbas do FUNDEF. De acordo com Davies (2007) houve registro

equivocado de matrículas, em turmas noturnas onde a maioria dos alunos é de adultos, mas

que foram registrados como ensino fundamental regular de forma que tivessem direito as

verbas do FUNDEF. Ainda sob a ótica de Davies, é preciso ter “cautela” ao se analisar os

números relativos ao ensino fundamental regular e não regular, pois só as turmas regulares

entravam na partilha das verbas do FUNDEF.

Numa tentativa de ordenar o processo de municipalização, regulamentar e disciplinar

a subjetividade da legislação existente, um novo dispositivo legal entrou em vigor em 28 de

março de 2005, no Estado do Rio de Janeiro, quando a Assembléia Legislativa aprovou a Lei

Estadual nº 4528/2005. Essa lei estabeleceu as diretrizes para a organização do Sistema de

Ensino do Estado do Rio de Janeiro e, em seus artigos 61 e 62, determinou regras para o

processo de municipalização das UEs estaduais.

De acordo com o artigo 61 da Lei nº 4528/2005, o Estado deverá no prazo de três

anos a contar da data de publicação, cessar a oferta de educação infantil. Atualmente, há

vários municípios no Estado do Rio de Janeiro, nos quais o poder público estadual através

das UEs subordinadas à SEEDUC-E, já não mais oferece a educação infantil. De acordo com

as informações obtidas em órgãos da SEEDUC-E, a determinação legal foi acatada, conforme

se verifica em Petrópolis, onde as UEs estaduais encerraram em 2007 as matrículas para a

educação infantil.

Ao se cumprir o que determina o artigo 61 da Lei Estadual nº 4528/2005, pode-se

deduzir que para o ano letivo de 2008, a educação infantil pública no Estado do Rio de

Janeiro só será oferecida gratuitamente pelo poder público municipal, salvo as exceções a que

já foram feitas referências nos capítulos anteriores sobre instituições federal, estadual e

municipais.

45 Entrevista realizada com a Presidente da UNDIME/RJ, realizada em 08 de novembro de 2007.

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Já o artigo 62 da Lei nº 4528/2005 determinou um prazo de dez anos, a contar da data

de publicação, para que o Estado suspenda a oferta do ensino fundamental nas séries iniciais,

ou seja até o 5º ano de escolaridade, desta etapa da educação básica.

Quando o Projeto de Lei foi enviado para a sanção da então Governadora Rosinha

Matheus, a mesma vetou os dois artigos anteriormente citados, numa demonstração de não

concordar com os prazos estabelecidos, e/ou com a determinação de exclusividade de apenas

os municípios oferecerem a educação infantil. Entretanto o veto da governadora foi derrubado

pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e, conseqüentemente, os artigos

entraram em vigor.

Os artigos 61 e 62 da Lei Estadual nº 4528/2005, ao determinarem a retirada do Estado

da oferta da educação infantil e do ensino fundamental até o 5º ano de escolaridade, deixam

este encargo para os municípios, restando ao regime de colaboração previsto na lei, entre o

governo estadual e as prefeituras, a oferta do ensino fundamental do 6º ao 9º ano de

escolaridade. Portanto, a Lei Estadual nº 4528/2005 procurou definir no âmbito do Estado, as

indefinições de competências contidas na CF de 1988 e na LDBEN nº 9394/96.

O que parecia ser o resultado decorrente de um longo caminho em busca da

descentralização e da municipalização do ensino fundamental, encontrou diversos obstáculos

para a sua realização com desdobramentos políticos, especialmente, no âmbito estadual.

A se cumprir o que determina a Lei Estadual nº 4528/2005, a SEEDUC-E não deverá

mais realizar concursos públicos para contratar professores Docente II, uma vez que os

mesmos estão habilitados somente para trabalhar em turmas de educação infantil e das séries

iniciais do ensino fundamental.

Contudo, em 29 de maio de 2007, o deputado estadual Alessandro Molon, deu entrada

na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no Projeto de Lei de nº 483/2007, em

que pede a revogação dos artigos 61 e 62 da Lei Estadual nº 4528/2005.

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Para justificar o seu Projeto de Lei, o referido deputado faz algumas considerações: a

primeira é a grande desigualdade econômica existente entre os municípios do Estado do Rio

de Janeiro. Para o deputado este fato impede que alguns municípios possam arcar sozinhos

com os custos de toda a educação infantil e do 1º segmento do ensino fundamental. Em uma

segunda consideração, o deputado Alessandro Molon coloca que, ao atender o que

determinam os artigos 61 e 62 da referida lei e, portanto, ao se retirar da educação infantil e

do 1º segmento do ensino fundamental, a SEEDUC-E não tem realizado concurso público

para preencher as vagas de Docente II, o profissional habilitado para esta etapa da educação

básica. Ainda de acordo com a justificativa do deputado Alessandro Molon, tal prática tem

contribuído para que um grande número de UEs sob administração da SEEDUC-E esteja

com falta de professores habilitados para as turmas referidas.

As justificativas apresentadas pelo deputado Alessandro Molon são veementemente

contestadas pela representante da SEEDUC-E, a Coordenadora de Integração e

Municipalização, que, por sua vez, contra-argumenta dizendo que as vagas de Docente II

estão sendo preenchidas por contratos temporários, tendo em vista que não haveria sentido em

contratar um profissional sob regime estatutário, para um cargo que deve ser extinto por força

dos prazos da Lei Estadual nº 4528/2005. Além disso, segundo os argumentos da SEEDUC-E,

não há turmas sem aulas por falta de professores Docentes II, muito pelo contrário, de acordo

com a Coordenadora de Integração e Municipalização, logo haverá um excesso destes

profissionais, caso sejam cumpridos os prazos e determinações da Lei Estadual nº 4528/2005.

O terceiro argumento usado pelo deputado Alessandro Molon a favor de seu Projeto

de Lei, é de ordem constitucional, citando o artigo 211 da Constituição Federal de 1988 que

estabelece que os Estados e o Distrito Federal atuarão “prioritariamente” no ensino

fundamental e médio. Ainda na defesa de seu Projeto de Lei, o deputado propõe que o Estado

continue supletivamente a oferecer a educação infantil, e também o 1º segmento do ensino

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fundamental nos municípios que não possam custear na íntegra estas etapas da educação

básica.

O Projeto de Lei nº 483/2007 pode significar um recuo no longo caminho percorrido

pela municipalização no Estado do Rio de Janeiro, desde a criação do PROMURJ até aos dias

atuais. Todavia, por outro lado, demonstra que os parlamentares estão acompanhando as

políticas educacionais implementadas pelo poder executivo, apresentando projetos de lei

consonantes com os limites e possibilidades da educação no Estado do Rio de Janeiro.

Caso o Projeto de Lei nº 483/2007 não seja aprovado, pode-se esperar que, por força

da Lei 4528/2005, os entes envolvidos na questão, Estado e municípios se esforcem para

chegar a uma solução que atenda aos interesses tanto dos governos, quanto da população

fluminense. Numa situação contrária, ou seja, se aprovada a revogação dos artigos 61 e 62

da Lei Estadual nº 4528/2005, o texto legal continuará a servir de instrumento jurídico para

que administradores públicos, quer o governador, quer os prefeitos, possam se valer da

indefinição das atribuições para imputar a outras instâncias o atendimento das etapas da

educação básica.

Voltando a um dos principais argumentos usados pelo deputado Alessandro Molon,

para justificar o seu Projeto de Lei nº 483/2007, sobre a incapacidade financeira de alguns

municípios de custear toda a educação infantil e o 1º segmento do ensino fundamental e,

confrontando-o com as municipalizações já realizadas, verifica-se que não há uma lógica que

siga critérios estritamente econômicos para justificar esta situação.

Os dados fornecidos pela SEEDUC-E sobre as UEs municipalizadas, quando

comparados com dados sobre população, situação econômica46 e arrecadação tributária dos

municípios 47 mostram que a municipalização ocorre independente da condição econômica do

município. Para fazer tal afirmação procedeu-se o confronto entre o número de UEs

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municipalizadas e a receita per capita e o pib per capita de alguns municípios, chegando-se à

conclusão que não há necessariamente uma relação direta entre ambas.

O quadro 13, a seguir, mostra o percentual de UEs municipais, estaduais e privadas de

municípios de diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro, que confrontado com os dados

dos quadros 14 e 15, demonstra que não há uma relação direta entre a situação econômica e a

participação das prefeituras no ensino fundamental.

Quadro 13 – Distribuição percentual das unidades escolares no ensino fundamental entre as redes públicas e a rede privada em alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro.

Redes Públicas Rede privada Município Estadual % Municipal %

Receita Per Capita anual dos

municípios em R$ * Petrópolis 7,4 65,9 26,7 1100,00 Porciúncula 20,0 70,0 10,0 1571,00 Natividade 17,64 70,6 11,76 1547,00 Bom Jesus do Itabapoama 28,57 52,39 19,04 929,00 Niterói 27,32 17,56 55,12 1473,00 São Gonçalo 30,2 21,38 48,42 326,00 Nova Iguaçu 29,41 33,92 36,67 550,00 *Fonte IBAM - MF/STN Fonte: IBGE – INEP 2006

Quadro 14 – Distribuição percentual das matrículas no ensino fundamental entre as redes públicas e a rede privada em alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro.

Redes Públicas Município Estadual % Municipal %

Rede privada %

Petrópolis 9,97 77,91 12,12 Porciúncula 44,67 46,09 9,24 Natividade 34,19 57,21 8,60 Bom Jesus do Itabapoama 49,50 36,59 13,91 Niterói 42,32 24,66 33,02 São Gonçalo 41,85 33,54 24,61 Nova Iguaçu 40,51 41,85 17,64 Fonte: IBGE – INEP 2006

Nos quadros 13 e 14, observa-se que alguns municípios apresentam receita per capita

alta, não obstante o grau de municipalização do ensino fundamental ser reduzido, como é o

caso do município de Niterói, com elevada arrecadação per capita, mas que apresenta um

índice de participação no número de UEs e nas matrículas sob administração municipal de

17,56% e 24,66% respectivamente.

46 Censo Econômico – IBGE

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Algumas outras considerações devem ser feitas para explicitar o que se pretende

demonstrar com os dados contidos nos quadros 13, 14 e 15. Apenas o número de UEs não

traduz por si só o grau de participação dos municípios na oferta do ensino fundamental. Para

tal demonstração é mais eficaz o número de matrículas, pois uma UE pode ter um número

bastante variável de alunos.

Como forma de tornar mais evidente uma possível distorção no coeficiente de

municipalização do ensino fundamental, nos quadros 13 e 14, procede-se o confronto entre

estas duas metodologias: a do percentual de UEs versus o percentual de matrículas, tendo

como base a esfera administrativa de cada uma delas: estado, município ou iniciativa privada.

Ao se observar apenas os dados contidos na tabela de UEs municipalizadas,

fornecida pela Coordenadoria de Municipalização e Integração da SEEDUC-E48, conclui-se

que são os municípios menores, no interior do Estado, os que tiveram maior participação no

processo de municipalização entre 1988 e maio de 2007.

Na Coordenadoria Regional do Noroeste Fluminense I, que engloba quatro pequenos

municípios: Bom Jesus do Itabapoama, Natividade, Porciúncula e Varre-Sai, o número de

UEs municipalizadas chega a 158, o maior entre todas as Coordenadorias Regionais do

Estado do Rio de Janeiro. Se somadas as populações desses quatro municípios não totalizam

100.000 habitantes (ver quadro 15). Fato semelhante também ocorreu na Coordenadoria

Regional do Noroeste Fluminense II, na qual houve um número elevado de UEs

municipalizadas, 156. Portanto, apenas nessas duas Coordenadorias citadas, foram

municipalizadas mais de 300 UEs.

Contudo apenas o número de UEs municipalizadas não significa, obrigatoriamente,

um grande número de matrículas transferidas para as administrações municipais, uma vez

que, na maioria dos casos, tratam-se de UEs localizadas em áreas rurais e com reduzido

número de alunos.

47 Ministério da Fazenda – Secretaria do Tesouro Nacional – 2006.

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De acordo com a fala da Presidente da UNDIME/RJ, o elevado número de UEs

municipalizadas nestas coordenadorias, localizadas no Noroeste Fluminense, resulta do

entendimento político entre o governo estadual e as prefeituras destas regiões. Ainda na

intenção de esclarecer o motivo de tão elevado número de UEs municipalizadas, a Presidente

da UNDIME/RJ alegou o fato de ser esta região, a base eleitoral do governo estadual que

estava no poder no período da municipalização das referidas UEs.

Os números apresentados pelos quadros 13, 14 e 15 também se contrapõem ao

argumento usado pelo deputado Alessandro Molon, na justificativa de seu Projeto de Lei nº

483/2007, quando relaciona a capacidade financeira dos municípios com a possibilidade de

oferecerem com exclusividade a educação infantil e o 1º segmento do ensino fundamental.

Partindo da premissa de que a fragilidade financeira dos municípios é o principal

empecilho para estas prefeituras custearem integralmente as despesas resultantes da oferta da

educação infantil e do 1º segmento do ensino fundamental, é contraditório o fato de que o

grande número de UEs municipalizadas localiza-se nos menores municípios do interior do

Estado. Ainda contrariando o argumento de incapacidade tributária dos pequenos municípios,

o que se constata nas várias Coordenadorias Metropolitanas, responsáveis pela administração

do ensino estadual nos municípios de maior contingente populacional e com um PIB per

capita, quase sempre, superior aos municípios citados do Noroeste Fluminense, é que o

número de UEs municipalizadas é extremamente reduzido.

No entanto os custos da educação apresentam uma significativa variação de um

município para outro, uma vez que há uma grande diferença entre os itens que incidem neste

cálculo: salários de professores, do pessoal de apoio e administrativo, transporte escolar,

estrutura e manutenção das escolas, entre outros.

O quadro 15, a seguir, demonstra a disparidade existente entre o quantitativo de UEs

municipalizadas nas coordenadorias do interior e nas da região metropolitana, da mesma

48 Ver Anexo B e quadro 15 da página 119.

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forma, que é bastante díspare o quantitativo populacional e, em alguns casos, também, o

econômico.

QUADRO 15 - DADOS COMPARATIVOS ENTRE O TOTAL DE UEs MUNICIPALIZADAS POR COORDENADORIA REGIONAL COM A RENDA PER CAPITA E A POPULAÇÃO DOS MUNICÍPIOS.

Coordenadoria Municípios População (nºde habitantes)

Pib per capita Em r$ anuais

Total de UES municipalizadas

Varre-Sai 8.322 5.453

Natividade 14.925 5.275

Bom Jesus do Itabapoama

33.834 5.857

Noroeste Fluminense I

Porciúncula

17.191 8.093

158

Nova Iguaçu 830.672 5.695

Nilópolis 152.223 5.070

Mesquita 182.495 3.988

Metropolitana I

Queimados 130.275 6.805

13

Metropolitana II São Gonçalo 960.631 5.481 10

Metropolitana V Duque de Caxias 842.686 21.615 21

Metropolitana VII Belford Roxo 480.555 6.083 5

Metropolitana VIII Niterói 474.002 12.369 6

Fonte: Coordenadoria de Municipalização e Integração – SEEDUC-E - maio de 2007 e IBGE estatística 2007. * OBS - As coordenadorias metropolitanas acima citadas são as do entorno do Município do Rio de Janeiro, área mais populosa. As coordenadorias metropolitanas não citadas se localizam dentro do próprio município do Rio de Janeiro.

Pelos dados do quadro 15, verifica-se que municípios maiores apresentam um baixo

número de UEs municipalizadas, mesmo aqueles com bons indicadores econômicos. Em

contrapartida, municípios pequenos apresentam um grande número de UEs municipalizadas.

Os municípios da região metropolitana, citados no quadro 13, representam, se

somados, um contingente populacional maior do que todo o interior do Estado do Rio de

Janeiro. Entretanto o número de UEs municipalizadas é insignificante se levarmos em

consideração que alguns desses municípios tem população próxima a um milhão de

habitantes, como é o caso de São Gonçalo e Duque de Caxias.

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Utilizando-se apenas a questão econômica e desconsiderando-se o número de

habitantes como critério de viabilidade técnica para se proceder à municipalização, constata-

se, no município de Niterói, um exemplo que contraria este argumento.

Ao se observar os dados do quadro 15, vê-se que, em municípios do Noroeste

Fluminense, cuja renda per capita está abaixo da média de R$ 6.000 anuais, este fator não se

tornou um impedimento para assumirem um grande número de UEs repassadas da

administração estadual. Neste caso, há um total 158 UEs municipalizadas na Coordenadoria

Regional Noroeste Fluminense I. Ressalvando-se que os dados informados pela SEEDUC-E

não fornecem o total isolado por municípios a não ser nos casos em que só exista um único

município por coordenadoria.

A Coordenadoria Regional Metropolitana V abrange somente o Município de Duque

de Caxias com grande população, e uma renda per capita quase quatro vezes maior que os

referidos municípios do Noroeste Fluminense. No entanto, nesta Coordenadoria, somente 21

UEs foram municipalizadas. O município de Niterói cuja renda é o dobro dos municípios do

interior referidos, apenas 6 UEs foram municipalizadas. Portanto não se pode atribuir apenas

ao aspecto econômico o principal impedimento para que os municípios possam assumir

integralmente as despesas com a educação infantil e com o 1º segmento do ensino

fundamental.

Sabe-se que dados quantitativos e estatísticos não são suficientes para se chegar a

conclusões absolutas, e que apenas os números de UEs municipalizadas não traduzem toda a

realidade do processo de municipalização. O tamanho das UEs, o número de alunos

matriculados em cada UE, a estrutura física destas, as séries que oferecem, as etapas, as

modalidades, o número de professores, entre muitas outras observações, precisam ser levadas

em consideração para se entender a municipalização e suas peculiaridades.

Entretanto a partir das verificações e análises realizadas neste estudo, é possível

afirmar que a adesão ao PROMURJ é muito mais um fato de natureza política do que um

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mero aspecto de viabilidade técnica e econômica. Os entraves de natureza técnica podem ser

superados desde que exista vontade e entendimento político. Ajustes na legislação dependem

de acordos políticos, mas deveriam considerar os pareceres técnicos de quem está diretamente

envolvido neste tema. Cabe aos órgãos responsáveis pela articulação entre Estado e

Municípios tornar mais ágil o processo de municipalização da educação infantil e do ensino

fundamental, fazendo com que a universalização do ensino médio venha a se tornar uma

realidade mais rapidamente.

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6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

No município de Petrópolis, a adesão ao PROMURJ foi até agora pouco significativa,

em número de UEs municipalizadas, apenas 10 ao longo do período compreendido entre 1998

– quando houve a primeira UE transferida para a administração municipal – até o ano de

2005, quando ocorreu a última municipalização. Se somadas todas as UEs municipalizadas,

em Petrópolis, elas respondem, no ano letivo de 2007 por somente 3,96 % do total de

matrículas, sob a administração municipal, com 2.060 alunos. Porém a administração

municipal é responsável por 77,91% da oferta do ensino fundamental, índice considerado

bastante elevado se comparado com os demais municípios pesquisados no estado.

A atual rede estadual de ensino fundamental sob a administração da SEEDUC-E

localizada em Petrópolis tem 8.92149 alunos, em 20 UEs, o que representa cerca de 10 % de

todos os estudantes desta etapa da educação básica no município. De acordo com a

Coordenadora de Integração e Municipalização da SEEDUC-E, apesar da viabilidade, não há,

no momento, a intenção de se municipalizar mais nenhuma UE em Petrópolis, uma vez que,

os prédios escolares da rede estadual existentes no município são necessários para a

ampliação do ensino médio.

Ao analisar a rede municipal de educação de Petrópolis, chama atenção o grande

número de UEs privadas conveniadas com a prefeitura. São 42 instituições conveniadas, que

totalizam 9.709 alunos, respondendo por 18,68 % das matrículas na rede municipal em 2007.

Dessa forma, observa-se que os convênios com as instituições privadas têm um quantitativo

maior de alunos matriculados no ensino fundamental do que a rede sob a administração da

SEEDUC-E, neste município.

Com estes dados, conclui-se que a adesão ao PROMURJ em Petrópolis tenha sido

modesta, quer pelo número de UEs municipalizadas, quer pelo número total de matrículas

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resultantes deste processo. Contudo a situação do município em relação à participação da

administração municipal no ensino fundamental está mais adequada ao que prevê a LDBEN

nº 9394/96, quando comparada a municípios maiores ou de maior expressão econômica no

Estado do Rio de Janeiro. Enquanto, no município de Petrópolis, somente cerca de 10 % das

matrículas do ensino fundamental estão em UEs sob administração da SEEDUC-E, no Estado

do Rio de Janeiro este percentual é de cerca de 27 %.

A municipalização do ensino fundamental em Petrópolis não deve ser considerada

como um objetivo distante de ser atingido, nos prazos estabelecidos pela Lei Estadual nº

4528/2005, ou de acordo com o que está proposto pelo PROMURJ. Contudo este objetivo

demanda esforços da administração municipal no sentido de construir novas UEs e/ou ampliar

as que já existem.

Traçando um panorama geral do processo de municipalização do ensino fundamental

em Petrópolis, objeto deste estudo, alguns aspectos devem ser destacados. A proposta de

descentralização da educação básica das redes públicas, tem origem distante, e segundo

estudiosos, sofreu influência de vários fatores externos, bem como estava presente já nos

acordos firmados entre o governo da União e órgãos internacionais de financiamento nas

décadas de 70 e 80.

Posições distintas em relação aos programas de descentralização postos em andamento

no país, dão origem a intensos debates, nos quais um mesmo fato é visto com repercussões

antagônicas. Para alguns teóricos, a municipalização aumenta o grau de autonomia dos

pequenos municípios, enquanto, para outros, com base neste mesmo argumento, ela apenas

transfere o poder de tomada de decisões das oligarquias federal ou estadual para as

municipais.

Assim, como não existe um consenso sobre a eficácia desta transferência de poder por

conta da municipalização, o mesmo ocorre ao se afirmar que há vantagens para o município e

49 Fonte: Coordenadoria Regional Serrana III Junho de 2007.

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para a comunidade atendida pela rede de educação municipalizada. Na linha de defesa da

autodeterminação, proporcionada via municipalização da educação, caberia às prefeituras

gerir recursos e formular suas próprias propostas pedagógicas. Todavia, outras controvérsias

são flagrantes: como obter autonomia financeira, capacitar pessoal para gestão administrativa

e pedagógica e ainda produzir um projeto pedagógico consoante com as peculiaridades locais.

A dependência de verbas repassadas pelo governo central ou pelos governos estaduais é um,

entre os muitos argumentos, usados tanto para criticar a falta de autonomia reivindicada pelos

municipalistas, como pelos defensores de que o Estado deve ser responsável pela oferta

supletiva do ensino fundamental.

A grande dependência dos pequenos municípios em relação ao repasse de recursos

oriundos de outras instâncias governamentais, torna-se um obstáculo à autonomia defendida

nas propostas de municipalização. Esta dependência interfere, igualmente, quando se propõe

uma solução para a distribuição de competências via regime de colaboração entre os entes,

que, por sua vez, está previsto na legislação. Os fundos de redistribuição de verbas para a

educação e outros mecanismos de financiamento têm procurado minorar estas dependências,

mas os entraves burocráticos, políticos e até partidários continuam prevalecendo em muitos

casos.

Os discursos teóricos para as políticas públicas de municipalização da educação têm

usado palavras de ordem semelhantes: falam de modernização gerencial, eficiência, atribuição

de competências, autodeterminação, entre outros. Tais termos são constantemente evocados

como pressupostos prioritários para a construção de uma sociedade moderna, livre e

democrática. Não obstante a vulgarização que acaba por ocorrer na utilização dos mesmos

termos repetidamente sem que sejam acompanhados de ações concretas, o discurso reiterado é

necessário, para que, a partir do debate possa se vislumbrar alternativas e possibilidades

concretas, para se alcançar o objetivo comum: a melhoria das condições de ensino oferecidas

à população.

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O discurso favorável à descentralização vem, desde muito, carregado de teorias

econômico-instrumentais, mas nem por isso é desprovido de teor político e, tampouco, a sua

prática. Mesmo a alternativa comumente aventada do estabelecimento de um regime de

colaboração entre os entes da federação somente pode ser concretizada a partir de acordos

políticos, que deverão ser viabilizados de forma semelhante aos processos de municipalização

de UEs. Portanto a política é condição indispensável em qualquer projeto de distribuição de

competências para a educação entre os entes federados.

Em síntese, o estudo revela com relação aos processos de municipalização, que as

determinações contidas em acordos internacionais, tiveram seus reflexos na legislação, como

foi o caso do artigo 58 da Lei 5692/71, que determinava uma maior participação dos

municípios no ensino fundamental. A idéia de se descentralizar a educação, inicialmente

presente nas políticas da União, chegou aos estados e serviu de inspiração aos programas

governamentais de colaboração entre estado e municípios. Programas de municipalização,

entre eles o Pró- Município e o PROMURJ foram e são exemplos das políticas de

descentralização postas em prática no Estado do Rio de Janeiro. No decorrer de um novo

processo político, posto em curso com a redemocratização da sociedade brasileira, as

propostas deixaram de ser oriundas apenas do Poder Executivo, na forma de uma imposição e

passaram a ser discutidas e incorporadas pelo Poder Legislativo, tomando a forma de projetos

de leis que modificam o ordenamento jurídico vigente. Ainda por conta da retomada do

processo democrático, as decisões deixaram de estar centralizadas no âmbito do governo

federal, e os estados passaram a legislar em termos de diretrizes para a educação, dentro do

que lhe é permitido pela CF de 1988.

Nesse sentido, a Lei Estadual nº 4528/2005, que institui o sistema de ensino do

Estado do Rio de Janeiro, pode ser vista como um marco na definição das competências entre

Estado e municípios fluminenses. No entanto, não basta a determinação da Lei, é preciso que

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a municipalização ou o regime de colaboração entre os entes seja uma determinação de todos

os envolvidos, especialmente, os governantes e a comunidade educacional.

As competências oriundas da CF de 1988 e da LDBEN nº 9394/96, ao atribuírem aos

estados e municípios a responsabilidade pela oferta do ensino fundamental, ainda que com

ressalvas de “prioritariamente” ou “supletivamente”, são motivo de interpretações díspares,

deixando lacunas que podem ser preenchidas de acordo com a conveniência ou o momento

político. Além disso, a questão semântica das palavras utilizadas no texto da legislação como

assegurar, oferecer, priorizar, entre outras, refletem as dissonâncias políticas existentes já na

elaboração da Lei no que se refere à municipalização e a possibilidade de estabelecimento de

regimes de colaboração.

A mudança na legislação do Estado – Lei Estadual nº 4528/2005 –, ainda que ocorra,

não garantirá, por si só, que o Estado se faça mais presente nas primeiras etapas da educação

básica, sem prejuízo do atendimento ao ensino médio e que os municípios possam atender a

toda a demanda da educação infantil e do ensino fundamental, mesmo auxiliados pelo Estado.

O que se percebe é a necessidade, cada vez maior, do regime de colaboração, mesmo para

encaminhar os processos de municipalização.

Os dados quantitativos, trazidos ao longo deste estudo, reforçam a idéia de que não há

um único critério ou argumento, para se afirmar onde cabe a municipalização e para quem ela

é mais ou menos vantajosa: estados ou municípios, pois a singularidade de cada caso de

municipalização demonstra as inúmeras variáveis que interferem neste processo.

No presente estudo, coube abordar o levantamento acerca dos aspectos qualitativos e

quantitativos, bem como os aspectos políticos que surgem como variáveis para a

municipalização. A continuidade deste estudo e de outras pesquisas sobre o mesmo tema,

devem necessariamente, enfocar as implicações do financiamento da educação nestes

processos de municipalização da educação. Portanto outras pesquisas podem partir dos dados

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já levantados para complementar a investigação realizada, trazendo mais dados para elucidar

o cenário das políticas públicas para a educação no Estado do Rio de Janeiro.

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ANEXOS

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