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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA ANA CLÁUDIA DA SILVA FERNANDES TDAH: INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS EM CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH: um estudo sobre as práticas docentes dentro do contexto escolar Rio de Janeiro-RJ 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

ANA CLÁUDIA DA SILVA FERNANDES

TDAH: INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS EM CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH: um estudo sobre as práticas docentes

dentro do contexto escolar

Rio de Janeiro-RJ 2011

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TDAH: INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS EM CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH: um estudo sobre as práticas docentes

dentro do contexto escolar

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Universidade Cândido Mendes, como requisito final de avaliação para a obtenção do título de Psicopedagoga. Orientadora: Professora Caroline Kwee Rio de Janeiro(RJ)

2011

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, que me deu vida, inteligência, força e saúde para trilhar os caminhos

que percorri na vida e ainda vou percorrer.

Ao meu marido, Edson, que viabizou todo o meu processo acadêmico. Me

deu força, me incentivou, esteve sempre ao meu lado em todos os momentos desta

jornada.

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DEDICATÓRIA

Ao meu filho que amo muito.

A todas as professoras deste país, que muito padecem por falta de informação, infraestrutura e apoio dos governantes para atuarem em seu ofício.

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“Posso todas as coisas, naquele que me fortalece.”

(Filipenses, 4:13)

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RESUMO

O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas como "avoadas", "vivendo no mundo da lua" e geralmente "estabanadas" e com "bicho carpinteiro" ou “ligados por um motor” (isto é, não param quietas por muito tempo). Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos. Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites. A criança com Déficit de Atenção muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima. A presente pesquisa procura melhor esclarecer e orientar a todos que de uma certa maneira se encontram envolvidos com a problemática do Transtorno do Desenvolvimento de Atenção com Hiperatividade: pais, educadores, familiares, entre outros. Busca-se também o esclarecerimento de dúvidas a respeito do tratamento do TDAH, o uso de medicamentos, além de relatar as repercussões da hiperatividade no relacionamento familiar, na vida escolar e social e os conflitos que surgem da convivência com um portador de TDAH.

Palavras-Chave: TDAH , Intervenção Psicopedagógica, Contexto Escolar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

REFERENCIAL TEÓRICO

Capítulo 1 – Etiologia

1.1 Conceito

1.2 Tipos

1.3 Sintomas

1.4 Causas

1.5 Diagnósticos

1.6 Complicações

1.7 Tratamentos

Capítulo 2 – A Psicopedagogia e o papel do Psicopedagogo no

desenvolvimento sócio-cognitivo dos portadores de TDAH

2.1 – O diagnóstico e tratamento da Síndrome pela Psicopedagogia

2.2 – Trabalhando o portador de TDAH, na sala de aula

2.2.1 A escolha de material e brincadeira

2.2.2 A relação com o terapeuta

2.2.3 O perfil psicomotor

2.3 História das primeiras aprendizagens

2.3.1 História Clínica

2.3.2 História da Família

2.3.3 História da família ampliada

2.3.4 História Escolar

Capítulo 3 – Ações pedagagógicas em sala de aula

3.1 Análise sobre a relação dos portadores de DTAH e as teorias estudadas

3.2 Estratégias rumo ao ensino mais flexível

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO

A criança com TDAH na escola, na família e na sociedade, está sempre "fora

do contexto", é como se tentássemos encaixar um prego redondo num buraco

quadrado. Esta criança tem que ser envolvida, motivada, para que ela mostre todo o

seu potencial, pois são crianças inteligentes, criativas e intuitivas, na realidade esta

criança não tem déficit de atenção, ela tem sim, uma inconstância na atenção e são

capazes de uma hiperconcentração quando houver motivação.

O hiperativo dispersa a atenção da turma devido ao seu comportamento

irrequieto, exigindo assim do professor uma atenção especial, muitas vezes

dificultada pelo excesso de alunos sob sua responsabilidade. O despreparo do

educador inibe uma aprendizagem mais eficaz por parte do hiperativo, já que o

mesmo necessita de estímulos especiais capazes de prender sua atenção.

(MIRANDA, 2008)

A criança com Déficit de Atenção muitas vezes se sente isolada e segregada

dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas

próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança

na escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse,

tristeza e baixa auto-estima. (CONDEMARÌN, 2006)

O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no

relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas

como "avoadas", "vivendo no mundo da lua" e geralmente "estabanadas" e com

"bicho carpinteiro" ou “ligados por um motor” (isto é, não param quietas por muito

tempo). Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade

que as meninas, mas todos são desatentos. Crianças e adolescentes com TDAH

podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo,

dificuldades com regras e limites. (MIRANDA, 2008)

Em adultos, ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do

trabalho, bem como com a memória (são muito esquecidos). São inquietos (parece

que só relaxam dormindo), vivem mudando de uma coisa para outra e também são

impulsivos ("colocam os carros na frente dos bois"). Eles têm dificuldade em avaliar

seu próprio comportamento e quanto isto afeta os demais à sua volta. São

freqüentemente considerados “egoístas”. Eles têm uma grande freqüência de outros

problemas associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.

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O TDAH não tratado serve de substrato para o desenvolvimento de várias

comorbidades, que segundo Bierderman Et al (2005), ocorrem em 51% das crianças

e 77% dos adultos com TDAH, dentre elas, podemos citar a ansiedade generalizada,

depressão, síndrome de pânico, transtorno do comer compulsivamente, jogar

compulsivamente, hiper-sexualidade (40% das meninas americanas vão para a

gravidez precoce e 15% para as doenças sexualmente transmissíveis), transtorno

obsessivo compulsivo (TOC), transtorno opositor desafiador (TOD), transtorno de

conduta (TC) com pequenos furtos e mentiras, podendo evoluir para personalidade

ante-social e dependência química, tendo ainda como conseqüência a evasão

escolar precoce, delinqüência infanto-juvenil, relacionamentos amorosos

conturbados, acidentes de trânsito onde são os motoristas os culpados, acidentes

em esportes radicais etc.(FERREIRA, 2008)

É preciso conhecer, diagnosticar, intervir nas práticas metodológicas ,

proceder a terapía mais adequada a cada caso para se chegar com maior facilidade

a recuperação da saúde do paciente com TDAH. O sucesso do tratamento está

diretamente ligado ao suporte terapêutico, com diagnóstico técnico e a terapia

cognitiva comportamental, onde a participação da escola, na figura do professor, da

família como um todo e da equipe interdisciplinar que envolve um número de

profissionais específicos para cada caso é que levarão ao sucesso do tratamento. A

importância que a família e a escola exercem ao lidar com esta criança, que

responde muito melhor, ao reforço positivo do que a punição. (PHELAN, 2004)

O motivo que me levou a pesquisar esse assunto foi o crescente número

de crianças hiperativas na sala de aula e a problemática sofrida pelo professor,

acredita-se na possibilidade de minimizar tais dificuldades decorrentes da relação

professor-aluno e deste com os demais colegas. Partindo-se de uma ação

didática-pedagógica mais envolvente na qual seja valorizada a afetividade, percebe-

se ser possível contornar os problemas de aprendizagem e de comportamento social

do hiperativo.

Este estudo se justifica na medida em que há falta de centros de referência

com pessoal treinado, capacitado e habilitado para diagnóstico e tratamento e a

educação no sistema de saúde pública e nas escolas. Outro entrave grave é o

desconhecimento das instituições e das pessoas em relação às conseqüências de

um TDAH não tratado. Não podemos deixar de citar o preconceito, resultado da

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ignorância, como um dos fatores que entravam e dificultam o tratamento do paciente

com TDAH.

A presente pesquisa procura melhor esclarecer e orientar a todos que de uma

certa maneira se encontram envolvidos com a problemática do Transtorno do

Desenvolvimento de Atenção com Hiperatividade: pais, educadores, familiares, entre

outros. Busca-se também o esclarecerimento de dúvidas a respeito do tratamento

do TDAH, o uso de medicamentos, além de relatar as repercussões da

hiperatividade no relacionamento familiar, na vida escolar e social e os conflitos que

surgem da convivência com um portador de TDAH. Apresenta dicas , a partir dos

teóricos pesquisados, para auxiliar a ação do professor que lida com o hiperativo,

ressaltando a importância do papel da escola na vida do portador de TDAH,

estimulando a sua auto-estima e ajudando-o a encontrar o equilíbrio ao longo do seu

tratamento multidisciplinar, ou seja, um tratamento realizado por uma equipe em

comunhão: pais, escola, médicos e terapeutas, tendo em vista que o problema

tratado foi que a criança hiperativa, em sala de aula, exige uma maior atenção por

parte do professor.

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REVISÃO DE LITERATURA

Capítulo1 – ETIOLOGIA

1.1. Conceito

O transtorno se caracteriza por sinais claros e repetitivos de desatenção,

inquietude e impulsividade, mesmo quando o paciente tenta não mostrá-lo. Existem

vários graus de manifestação do TDAH, que recebe às vezes o nome DDA (Distúrbio

do Déficit de Atenção) ou SDA (Síndrome do Déficit de Atenção). Em inglês, também

é chamado de ADD, as iniciais de Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD.)

Na década de 1980, a partir de novas investigações, passou-se a ressaltar

aspectos cognitivos da definição de síndrome, principalmente o déficit de atenção e

a impulsividade ou falta de controle, considerando-se, além disso, que a atividade

motora excessiva é resultado do alcance reduzido da atenção da criança e da

mudança contínua de objetivos e metas a que é submetida. É um transtorno

reconhecido pela OMS (Organização Mudial da Saúde), tendo inclusive em muitos

países, lei de proteção, assistência e ajuda tanto aos que têm este transtorno ou

distúrbios quanto aos seus familiares. Há muita controvérsia sobre o assunto. Há

especialistas que defendem o uso de medicamentos e outros que, por tratar-se de

um Transtorno Social, o indivíduo deve aprender a lidar com ele sem a utilização de

medicamentos.

Segundo Rohde e Benczick o TDAH é um problema de saúde mental que tem

como características básicas a desatenção, a agitação (hiperatividade) e a

impulsividade, podendo levar a dificuldades emocionais, de relacionamento, bem

como a baixo desempenho escolar; podendo ser acompanhado de outros problemas

de saúde mental. Os autores Rohde e Benczich, caracterizam o TDAH em dois

grupos de sintomas. Embora a criança hiperativa tenha muitas vezes uma

inteligência normal ou acima da média, o estado é caracterizado por problemas de

aprendizado e comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem

saber lidar com a falta de atenção, impulsividade, instabilidade emocional e

hiperativa incontrolável da criança.( BENCZIK et al, 2006)

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A criança com Déficit de Atenção muitas vezes se sente isolada e segregada

dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas

próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança

na escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse,

tristeza e baixa auto-estima.

1.2 Tipos

Segundo Condemarìn et al (2007), vamos encontrar 04 tipos de TDAH com

ou sem comorbidades.

a) TDAH do tipo predominante desatento.

Sintomas: falta de atenção sustentada, distrabilidade.

Obs: Geralmente crianças dóceis, fáceis de se lidar, porém com dificuldade de

aprendizagem desde o início de sua vida escolar, pois sua falta de atenção

sustentada não deixa que ela mostre seu potencial.

b) TDAH do tipo Hiperativo/Impulsivo.

Obs: Geralmente não apresentam dificuldade a nível de aprendizagem nos primeiros

anos de vida escolar, podendo aparecer problemas de aprendizagem, com evolução

do grau de dificuldade geralmente por volta da 5ª série ou mesmo, posteriormente.

Desenvolvem um padrão de comportamento disfuncional tumultuando as aulas, são

resistentes à frustração, imediatista e com dificuldade de seguir regras e instruções,

por isso apresentam altas taxas de impopularidade e de rejeição pelos colegas.

c) TDAH do tipo combinado.

Sintomas: Falta de atenção sustentada, hiperatividade e impulsividade.

Obs: Apresenta maior prejuízo no funcionamento global. Quando comparado aos

outros 2 tipos é o que apresenta também maior número de comorbidades.

d) Tipo inespecífico.

Quando não apresentam o número de sintomas suficientes para serem classificados

em nenhum dos tipos acima, porém alguns dos sintomas estão presentes e

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prejudicando seu desempenho escolar, familiar e profissional, o critério passa a ser

então mais dimensional do que quantitativo.

1.3 Sintomas

Segundo Ferreira et al ,(2008), os sintomas podem se manifestar da seguinte

maneira:

Não prestar atenção a detalhes; Ter dificuldade para concentrar-se; Não prestar atenção ao que lhe é dito; Ter dificuldade em seguir regras e instruções; Desvia a atenção com outras atividades; Não terminar o que começa; Ser desorganizado; Evitar atividades que exijam um esforço mental continuado; Perder coisas importantes; Distrair-se facilmente com coisas alheias ao que está fazendo; Esquecer compromissos e tarefas; Problemas financeiros; Tarefas complexas se tornam entediantes e ficam esquecidas; Dificuldade em fazer planejamento de curto ou de longo prazo. (FERREIRA ET AL ,2008)

Segundo os mesmos autores, os sintomas relacionados à

hiperatividade/impulsividade se constituem num aumento da atividade motoda. A

pessoa hiperativa é inquieta e está quase constantemente em movimento. Quando

se trata de criança, os professores descrevem que ela se levante da carteira a todo

instante, mexe com um ou com outro, fala muito. Parece que é elétrica, ou que está

“ligada num motorzinho” o tempo todo. Raramente consegue ficar sentada, mas se é

obrigada a permanecer sentante,s e revira, bate com os pés, mexe com as mãos, ou

então acaba adormecendo. Dificilmente consegue se interessar por uma brincadeira

em que tenha que ficar quieta, mas está sempre correndo, subindo em móveis,

árvores , e frequentemente m locais perigosos.

Uma criança mais hiperativa nem mesmo para comer consegue sentar,

quanto mais para assistir a um programa de televisão, ler um livro ou revista.

(FERREIRA, et al, 2008)

Adolescentes e adultos hiperativos costumam se mostrar de forma um pouco

diferente das crianças, pois é próprio dessas idades mais avançadas uma redução

normal da atividade motora. Então, muitas vezes o que predomina no adolescente e

no adulto é uma sensação interna de inquietação, ou eles se mostram sempre

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ocupados com alguma coisa, dando a impressão de estarem sempre muito

atarefados, quando na verdade o que ocorre é uma dificuldade em diminuir o nível

de atividade. Adultos têm dificuldade em sair de férias, ou comumente se ocupam

com várias atividades ao mesmo tempo, na maior parte das vezes sem coneguir

completar nenhuma delas. (POLANCZYK, 2007)

1.4 Causas

Já existem inúmeros estudos em todo o mundo - inclusive no Brasil -

demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o

que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas de

determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultado

de conflitos psicológicos. (BARKLEY, 2008)

Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na

região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é

uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies

animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir

comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória,

autocontrole, organização e planejamento. (BARKLEY, 2008)

O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um

sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissoras (principalmente

dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas

(neurônios).Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos

neurotransmissores da região frontal e suas conexões. (BARKLEY, 2008)

A) Hereditariedade

Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma

predisposição ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a

partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a presença de

parentes também afetados com TDAH era mais freqüente do que nas famílias que

não tinham crianças com TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das

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crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral (isto

é chamado de recorrência familial).

Porém, como em qualquer transtorno do comportamento, a maior ocorrência

dentro da família pode ser devido a influências ambientais, como se a criança

aprendesse a se comportar de um modo "desatento" ou "hiperativo" simplesmente

por ver seus pais se comportando desta maneira, o que excluiria o papel de genes.

Foi preciso, então, comprovar que a recorrência familial era de fato devida a uma

predisposição genética, e não somente ao ambiente. Outros tipos de estudos

genéticos foram fundamentais para se ter certeza da participação de genes: os

estudos com gêmeos e com adotados. Nos estudos com adotados comparam-se

pais biológicos e pais adotivos de crianças afetadas, verificando se há diferença na

presença do TDAH entre os dois grupos de pais. Eles mostraram que os pais

biológicos têm 3 vezes mais TDAH que os pais adotivos ( BENCZIK et al,2008).

Os estudos com gêmeos comparam gêmeos univitelinos e gêmeos fraternos

(bivitelinos), quanto a diferentes aspectos do TDAH (presença ou não, tipo,

gravidade etc...). Sabendo-se que os gêmeos univitelinos têm 100% de semelhança

genética, ao contrário dos fraternos (50% de semelhança genética), se os

univitelinos se parecem mais nos sintomas de TDAH do que os fraternos, a única

explicação é a participação de componentes genéticos (os pais são iguais, o

ambiente é o mesmo, a dieta, etc.). Quanto mais parecidos, ou seja, quanto mais

concordam em relação àquelas características, maior é a influência genética para a

doença. Realmente, os estudos de gêmeos com TDAH mostraram que os

univitelinos são muito mais parecidos (também se diz "concordantes") do que os

fraternos, chegando a ter 70% de concordância, o que evidencia uma importante

participação de genes na origem do TDAH ( BENCZIK et al,2008).

A partir dos dados destes estudos, o próximo passo na pesquisa genética do

TDAH foi começar a procurar que genes poderiam ser estes. É importante salientar

que no TDAH, como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral

multifatoriais, nunca devemos falar em determinação genética, mas sim em

predisposição ou influência genética. O que acontece nestes transtornos é que a

predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene (como é a regra

para várias de nossas características físicas, também) ( BENCZIK et al,2008).

Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único "gene do

TDAH". Além disto, genes podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem

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estar agindo em alguns pacientes de um modo diferente que em outros; eles

interagem entre si, somando-se ainda as influências ambientais. Também existe

maior incidência de depressão, transtorno bipolar (antigamente denominado Psicose

Maníaco-Depressiva) e abuso de álcool e drogas nos familiares de portadores de

TDAH ( BENCZIK et al,2008).

B) Substâncias ingeridas na gravidez:

Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a

gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê,

incluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm

mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É

importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma

associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.

( BENCZIK et al,2008)

C)Sofrimento fetal:

Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que

acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos com TDAH.

A relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuidadas e

assim possam estar mais predispostas a problemas na gravidez e no parto. Ou seja,

a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria

influenciando a maior presença de problemas no parto. ( BENCZIK et al,2008)

D) Exposição a chumbo:

Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar

sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de

se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com

TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica.

E) Problemas Familiares:

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Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de discórdia

conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento

familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo) poderiam ser a

causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes têm refutado esta idéia. As

dificuldades familiares podem ser mais conseqüência do que causa do TDAH (na

criança e mesmo nos pais). (Idem)

Problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo.

F) Outras Causas

Segundo Benczik et al (2008), outros fatores já foram aventados e

posteriormente abandonados como causa de TDAH: ( BENCZIK et al,2008).

1. corante amarelo 2. aspartame 3. luz artificial 4. deficiência hormonal (principalmente da tireóide) 5. deficiências vitamínicas na dieta. ( BENCZIK et al,2008).

1.5 Diagnósticos

Para se diagnosticar um caso de TDAH é necessário que o indivíduo em

questão apresente pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos

sintomas de hiperatividade; além disso os sintomas devem manifestar-se em pelo

menos dois ambientes diferentes e por um período superior a seis meses. Pessoas

com TDAH tem problemas para fixar sua atenção em coisas por mais tempo do que

outras, interessantemente, crianças com TDAH não tem problemas para filtrar

informações. ( BARKLEY et al, 2002)

Para CONDEMARÌN et al (2006), o diagnóstico do TDAH (DDA) - Déficit de

Atenção começa com uma extensa análise clínica do caso por um especialista em

TDAH e co-morbidades, quando são analisadas as características cognitivas,

comportamentais e emocionais relacionadas à presença ou não da impulsividade,

hiperatividade e impulsividade.

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A partir daí, a depender das características do caso, o especialista pode

solicitar outros testes e exames, desde exames físicos até avaliação cognitiva,

neuropsicológica, comportamental e/ou emocional. Conheça os procedimentos do

IPDA e programas de avalição / testes para Diagnóstico Diferencial.

O diagnóstico do TDAH não deve ser baseado exclusivamente em listas de

sintomas - apenas ter muitos dos sintomas não significa que, necessariamente,

alguém é portador do TDAH. Há várias outras causas que podem mimetizar os

sintomas do TDAH ou até mesmo ocorrerem simultaneamente a ele - o que é

chamado de co-morbidade. Além disso, há mais de um tipo de TDAH.

Um bom diagnóstico é pré-requisito para o sucesso do tratamento. Um

diagnóstico completo só pode ser realizado por um especialista. Se houver suspeita

de TDAH, procure um profissional especializado para uma avaliação completa.

Somente um especialista podera excluir outros problemas que podem mimetizar os

sintomas de TDAH, como falta de atenção, hiperatividade física ou mental,

impulsividade, falta de auto-controle, problemas com memória,organização,

gerenciamento do tempo, etc. (CONDEMARÌN, et al, 2006)

O diagnóstico de TDAH é um dos mais difíceis de serem feitos, pois há muitos

outros problemas que podem mimetizar seus sintomas. Por esta razão é necessário

fazer um bom Diagnóstico Diferencial, que conclui tratar-se de TDAH, após excluir

todas as outras alternativas. (CONDEMARÌN, et al, 2006)

A análise clínica do caso deve ser extensa - ou seja, não é possível fazer

diagnóstico em uma sessão rápida, apenas checando a lista de sintomas. Além da

análise clínica, o especialista poderá solicitar exames complementares, para

identificar problemas simultâneos ao TDAH ou excluir outras possibilidades.

Somente um médico (preferencialmente psiquiatra) psicólogo especializado

ou terapeuta ocupacional podem confirmar a suspeita de outros profissionais de

áreas afins, como fonoaudiólogos, educadores ou psicopedagogos, que devem

encaminhar a criança para o devido diagnóstico.

Hoje já se sabe que a área do cérebro envolvida nesse processo é a região

orbital frontal (parte da frente do cérebro) responsável pela inibição do

comportamento, pela atenção sustentada, pelo autocontrole e pelo planejamento

para o futuro. (CONDEMARÌN, et al, 2006)

Entretanto, é importante frisar que o cérebro deve ser visto como um órgão

cujas partes apresentam grande interligação, fazendo com que outras áreas que

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possuam conexão com a região frontal possam não estar funcionando

adequadamente, levando aos sintomas semelhantes aos de TDAH. Os

neurotransmissores que parecem estar deficitários em quantidade ou

funcionamento, em indivíduos com TDAH, são basicamente a dopamina e a

noradrenalina, que precisam ser estimuladas através de medicações.

(CONDEMARÌN, et al, 2006)

1.6 - Complicações

O TDAH não tratado serve de substrato para o desenvolvimento de várias

comorbidades, que segundo trabalhos do Dr. Bierderman e colaboradores, ocorrem

em 51% das crianças e 77% dos adultos com TDAH, dentre elas, podemos citar a

ansiedade generalizada, depressão, síndrome de pânico, transtorno do comer

compulsivamente, jogar compulsivamente, hiper-sexualidade (40% das meninas

americanas vão para a gravidez precoce e 15% para as doenças sexualmente

transmissíveis), transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno opositor

desafiador (TOD), transtorno de conduta (TC) com pequenos furtos e mentiras,

podendo evoluir para personalidade ante-social e dependência química, tendo ainda

como conseqüência a evasão escolar precoce, delinqüência infanto-juvenil,

relacionamentos amorosos conturbados, acidentes de trânsito onde são os

motoristas os culpados, acidentes em esportes radicais etc. (BARKLEY et al, 2008)

1.7 Tratamentos

A abordagem terapêutica é feita de forma multidisciplinar, envolvendo tanto o

diagnóstico quanto o tratamento onde, profissionais médicos, psicólogos,

fonoaudiólogos, pedagogos, psiquiatras, neurologistas, neuropediatras, pediatras

etc., são envolvidos no processo, com técnicas específicas como a terapia cognitivo

comportamental (TCC) aos cuidados dos Psicólogos e Psiquiatras, e o uso de

medicações neuroestimulantes e medicamentos específicos no tratamento das

comorbidades. As patologias neuropsicológicas com base biológica não respondem

bem a outros tipos de terapias. (BARKLEY et al, 2008)

O tratamento baseia-se em medicação se necessário e acompanhamento

psicológico, fonoaudiológico, terapeuta ocupacional ou psicopedagógico.

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É importante que seja avaliada criteriosamente a utilização de medicamentos

em função dos efeitos colaterais que os mesmos possuem. Mais de 80% dos

portadores de TDAH beneficiam-se com o uso de medicamentos. Como primeira

opção em consensos de especialistas são os estimulantes, comoo metilfenidato e a

lisdexanfetamina. Outros medicamentos são a atomexetina, a clonidina e os

antidepressivos (nem todo antidepressivo é utilizado para o tratamento do TDAH).

(BARKLEY et al, 2008)

Os medicamentos mais usados deve ser sempre decidido pelo médico. Como

qualquer medicamento, os estimulantes também podem causar efeitos colaterais e,

por isso, devem ser prescritos cuidadosamente, com o máximo de segurança para o

paciente. Os vários medicamentos existentes para tratamento e eles devem ser

escolhidos de acordo com as particularidades de cada caso; o medicamento que

serve para um pode não servir para o outro.

Em alguns casos, não apresentam nenhuma melhora significativa, não se

justificando o uso dos mesmos. A duração da administração de um medicamento

também é decorrente das respostas dadas ao uso e de cada caso em si.

O sucesso do tratamento está diretamente ligado ao suporte terapêutico, com

diagnóstico técnico e a terapia cognitiva comportamental, onde a participação da

escola, na figura do professor, da família como um todo e da equipe interdisciplinar

que envolve um número de profissionais específicos para cada caso é que levarão

ao sucesso do tratamento. (CONDEMARÌN, et al, 2006)

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Capítulo 2 – A Psicopedagogia e o papel do Psicopedagogo no desenvolvimento

sócio-cognitivo dos portadores de TDAH

De acordo com Visca (1987) a psicopedagogia foi inicialmente uma ação

subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como

conhecimento independente e complementar, possuindo como objeto de estudo, a

aprendizagem, e de recursos diagnóstico, corretores e preventivos próprios.

Com esta visão de uma formação independente, porém complementar, destas

duas áreas, o Brasil recebeu contribuições, para o desenvolvimento da área

psicopedagógica, de profissionais como Sara Paín, Jacob Ferldmann, Jorge Visca e

Alicia Fernandes, dentre outros. Sendo Jorge Visca como um dos maiores

contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil a partir de 1970.

No que diz respeito as reflexões psicopedagógica sobre crianças com TDAH,

segundo os referenciais teóricos estudados, podemos relatar que a

psicopedagogia ocupa-se do aprendiz em seu processo de aprender e de ensinar

levando em consideração as realidades objetivas e subjetivas que habitam o entorno

da criança e do adolescente. Para muitos teóricos, considera-se também o

conhecimento em sua complexidade e numa dinâmica em que os aspectos afetivos,

cognitivos e sociais se completam. Sendo assim, não apenas o desempenho escolar

interessa, mas todas as relações de aprendizagem que a criança estabelece.

Vale dizer que ao fazermos uma avaliação diagnóstica não é suficiente conhecer em que patologia ele foi enquadrado, mas como ele se comporta e vem desenvolvendo ao longo da vida, qual o significado desses sintomas em sua família, como a escola entende e acolhe as manifestações da criança e, finalmente, se a família e a escola estão mobilizadas para acabar ou amenizar as queixas. (FERNANDEZ, 2001)

Entende-se que o objetivo da psicopedagogia é ajudar na adequação da

realidade da criança à sua possibilidade de aprendizagem, promovendo uma ponte

entre a criança e o conhecimento. Investigar como ela aprende, o que ela não

aprende, investigando também o seu prazer em aprender.

Alícia Fernandes (2001) afirma que:

Entre ensinante e o aprendente abre-se um campo de diferenças onde se situa o prazer de aprender. O ensinante entrega algo, mas para poder

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apropria-se daquilo o aprendente necessita inventa-lo de novo. È uma experiência de alegria, que facilita ou perturba, conforme se posiciona o ensinante. Ensinantes são os pais, os irmãos, os tios, os avós e demais integrantes da família, como também os professores e os companheiros na escola. (FERNANDES, 2001)

É importante analisar, para tanto, do que a família exatamente se queixa

quando procura um psicopedagogo. Ela pode vir ao consultório porque está exausta

e precisa de ajuda, ou porque a escola pediu uma avaliação, ou ainda, porque a

psicóloga quer uma visão psicopedagógica para traçar uma estratégia de

abordagem junto a escola, ou ainda porque o neurologista mandou.

Para cada demanda, lê-se uma necessidade diferente e uma possibilidade de

envolvimento mais ou menos comprometida com a criança e seu desenvolvimento.

É diferente se a queixa se concentra na preocupação dos pais com o futuro dos

seus filhos, ou se queixa tem por interesse o bom andamento das avaliações

escolares.(BOSSA,2000)

Tem sido muito comum nos consultórios de psicopedagogia a queixa de pais

que verdadeiramente desabam, denunciando estarem exaustos com a rotina

estressante que seus filhos lhe impõem, depois de várias tentativas de atendê-los

em sua necessidades e agitação. Os pais ficam perplexos diante do tumulto que

causam em suas famílias. À medida que se estabelece a anamnese, é comum os

pais se referirem ao distúrbio do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH).

O mesmo acontece com professores..quando procurados para saber o motivo

pelo o qual encaminharam ou deram apoio para procura de um diagnóstico

psicopedagógico de determinado aluno, é comum revelarem que ficam na dúvida

entre um distúrbio do TDAH e o perfil de preguiçoso e agitado ou indisciplinado.

Alguns professores reclamam que esses alunos são terríveis, não param, porém

sabem todas as regras do futebol, contudo, falta interesse para os estudos,

afirma Vasconcelos (2002) que a avaliação visa reorganizar a vida escolar e

doméstica da criança portadora do distúrbio TDAH, portanto, devemos ter muito

cuidado ao avaliarmos uma criança, pois a hiperatividade está em moda. Todas as

crianças agitadas são chamadas hiperativas, o que, na maioria das vezes, não é

verdade.

Segundo Polanczyk ( 2007), a falha da atenção pode aparecer de siversas

formas. A pessoa não consegue manter a concentração por muito tempo, se

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começar a ler um livro, na metade da página não consegue lembrar o que acabou de

ler. Até mesmo numa conversa é capaz de perder o fio da meada. A desatenção é

responsável por erros tolos que o estudante comete em matérias que ele

seguramente domina, mas que nomomento da prova sua atenção caiu.

Outras vezes, a mente da pessoa com TDAH parece que não tem um “filtro e

por isso qualquer estímulo é capaz de desviar sua atenção. Assim é que numa

aula,por exemplo, basta passar alguém no corredor ou acontecer um ruído na rua

para deixar a pessoa perdida em relação ao que está sendo falado pelo professor.

Uma outra forma de falha de atenção é quando a pessoa não é capaz de dar

um recado, simplesmente por não se lembrar disso no exato momento em que

encontra a pessoa a quem deve dar o recado.

No entanto, basta alguém perguntar qual o recado que ela ficou de transmitir

que frequentemente irá lembrá-lo. Dito de outra forma, sua memória está

conservada, a questão é que essa pessoa não consegue se membrar de algo no

momento em que deveria fazê-lo.

Bastante comum também é um pessoa sair de uma parte da casa para outra

a fim de pegar aldo, mas ao chegar lá não conseguir recordar o que procurar. Ou

então, pensar em dizer alguma coisa e logo em seguida já não ter a menor ideia do

que ia falar. O que falha nessas pessoas é um tipo de memória denominada

memória de curto prazo ou memória operacional. (POLANCZYK, 2007)

A partir de uma proposta de diagnóstico psicopedagógico, em sua avaliação,

o psicopedagogo deve ter claro o que irá avaliar, portanto, conhecer o objeto do

diagnóstico que irá estabelecer, ou seja, o psicopedagogo avalia, sobretudo, a

aprendizagem. Também deve ter clareza quando é realmente indicado a realizaçãoe

uma avaliação psicopedagógica.

Para Bossa (1996), o estabelecimento do diagnóstico é de fundamental

importância para o profissional que vai trabalhar com transtorno na aprendizagem,

pois norteia os procedimentos de intervenção adequada a cada caso. Assim, o

psicopedagogo poderá através da livre observação, e de conversa informal, de

entrevista, de brincadeiras, desenhos e testes, diagnosticar o problema da

aprendizagem.

De acordo com os estudos feitos por Weiss (1999), para intervenção junto à

criança com TDAH deve ser realizado um diagnóstico clínico, porém, primeiro passo

será entender o conceito de diagnóstico, que etimologicamente em grego significa

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cama. Esta terminologia está associada à doença. No caso da psicopedagogia,

diagnosticar o problema da aprendizagem. No entanto, esta proposta de trabalho

vem dar um significado na maneira de diagnosticar, pois buscará um processo

dinâmico de olhar a aprendizagem e a não aprendizagem, procurando assim ver o

outro como um todo nas suas diversas ações e relações.

Ressaltamos que o processo de diagnóstico já começa com o primeiro

contato com alguém vinculado à criança, podendo ser pessoal ou telefônico, na qual

o profissional deverá conversar a respeito da criança procurando obter informações

relacionados a sua vida pessoal familiar social e escolar, quem solicitou a avaliação

e qual o motivo da solicitação. É importante esclarecer à criança o motivo dela estar

sendo avaliada, também deve-se observar o nível de ansiedade do informante,

como expressa sua fala sobre o sintoma e quais suas expectativas em relação à

cura.

Este contato é de extrema importância no trabalho. Podendo ser colhido

dados históricos e emocionais, dando oportunidade de um breve conhecimento da

estrutura social em que a criança está inserida. É preciso que o terapeuta tenha

sensibilidade e competência para acolher com serenidade a multiplicidade dos

pontos de vista em cada situação, seja na clinica durante o atendimento, seja em

contato com a família.

2.1 – O diagnóstico e tratamento da Síndrome pela Psicopedagogia

As manifestações desse problema sempre têm início na infância. Ninguém

adquire o transtorno na adolescência ou idade adulta.

Muitas vezes os pais contam que desde o berço notavam que aquela criança

era mais agitada e inquieta que os irmãos, que tinha uma dificuldade maior para

adormecer ou então que era muito chorona e não tolerava nenhuma frustração.

De acordo com Weiss (1999), Fernandes (1991), Visca (1995), os quais citam

diferentes formas de diagnóstico, foi criado um modelo que coleta um conjunto de

informações suficientes para se chegar a um resultado seguro, podendo ocorrer

modificações como qualquer planejamento.

A Associação Americana de Psiquiatria, através de uma publicação oficial

chamada Diagnostic and Statistic Manual (DSM, que está na sua quarta edição, a

DSM-IV), propõe que para se diagnosticar TDAH devem estar presentes no mínimo

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6 de uma lista de 9 sintomas de desatenção e/ou, no mínimo, 6 de uma lista de 9

sintomas de hiperatividade e impulsividade, segundo Polanczyk & Rhode (2007):

1° - Deixar de prestar atenção em detalhes e comete erros por descuido em

atividades escolares, no trabalho, ou em outras atividades. (É o caso do estudante

que sai da prova e percebe que errou muita coisa que ele próprio considera fácil);

2° Tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou jogos. Isso fica muito claro

na dificuldade de ler. Certas pessoas com TDAH jamais leram um livro até o final.

3° Parece não escutar quando lhe dirigem a palavra. As mães e esposas acham até

que a pessoa parece surda.

4° Não segue instruções e não termina deveres escolares, tarefas domésticas ou

deveres profissionais. O estudante não l~e o que pede a questão e tante adivinhá-la.

O adulto não é capaz de ler um manual de instrução de um novo aparelho.

5° Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades. A desorganização é quase

muito grande.

6° Evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental

constante, como tarefas escolares ou deveres de casa. O estudante com TDAH

quase nunca consegue fazer os deveres por conta própria e os adia até a útima

hora.

7. Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades, por exemplo, brinquedos,

lápis, livros. Nunca sabem onde guardaram as coisas.

8. Distrair-se com estímulos alheios à tarefa. Basta, às vezes, o menor ruído para

que a pessoa perca o fio do que está fazendo ou ouvindo.

9. Apresenta esquecimento nas atividades diárias. Quando recebem um recado,

dificilmente o transmitem corretamente. Se lhes é pedido para comprar duas ou três

coisas, fatalmente, alguma delas será esquecida.

E acrescentando que por se tratar de uma Síndrome, de difícil diagnóstico,

pois TDAH, Hiperatividade e Desatenção não podem ser considerados sinônimos, é

necessária uma análise mais sistemática, pois nem todas as manifestações

descritas acima constituem um caso clínico. Para os autores, a criança pode é

quieta, calada, introertida, ás vezes tímida, muitas vezes é até obediente, mas vive

desatenta, não se concentra bem no que faz, parece que vive no “mundo da lua”,

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esquece-se frequentemente do que tem a fazer, etc. caracteriza-se pelo TDAH

Predminantemente Desatento. (LEMOS & DAMARIS, 2008)

Muitas crianças com o tipo Predominantemente Desatento são erradamente

consideradas pelos professores e até mesmo pelos pais como pouco inteligente,

sem aptidão para os estudos. Outras vees são vistas como preguiçosas ou apenas

muito tímidas. Como não são hiperativas, não “incomodam” em sala de aula e não

são tão facilmente encaminhadas para uma avaliação como aquelas com sintomas

de hiperatividade. Vale lembrar que a desatenção pode estar presente em vários

outros transtornos que não o TDAH ( como ansiedade e depressão) .

Acrescentamos ainda que, ao avlaiar uma pessoa na intenção de fazer

diagnóstico de TDAH, o profissional tem emmente algumas outras condições que

podem se confundir com esse transtorno:

- Situações familiares desfavoráveis.

Por exemplo, um casal em briga ou em vias de separação ou a existência de

um pai alcoolista, podem causar sitomas parecidos aos do TDAH numa criança.

- Dificuldades sensoriais

Como uma diminuição da audição ou da visão, às vezes ainda não

detectadas, são capazes de deixar uma criança desinteressada e desatenta, e até

mesmo inquieta.

- O uso de medicamentos e algumas doenças clínicas também podem provocar

hiperatividade.

- Alguns transtornos psíquicos

Como o autismo, a depressão, o transtorno bipolar e os quadros de

ansiedade com frequência se confundem bastante com o TDAH.

Quanto a gravidade do problema, segundo Polanczyk & Rhode (2007), até

alguns anos atrás o TDAH era considerado um transtorno benigno, quer dizer, que

não trazia maiores complicações para a vida da criança. Hoje , considera-se que

quando a Síndrome não é muito acentuada, pode passar pela vida sem maiores

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complicações. Todavia, o mais comum é que os sintomas do TDAH (desatenção,

hiperatividade e impulsividade) tragam alguns comprometimentos como :dificuldades

no rendimento escolar, dificuldade de relacionamento, desenvolvimento da baixa

autoestima , propensão ao uso de álcool e drogas ( até porque essas substâncias

podem atenuar passageiramente alguns sintomas do transtorno). Essas pessoas

são mais propensas a vários tipos de acidentes, em particular os acidentes de

trânsito. Esses pacientes apresentam um risco maior de desenvolverem outros

transtornos, como depressão, ansiedade e outras comorbidades como Transtornos

do Aprendizado; Transtorno de Desafio e Oposição e Transtorno de Conduta,

tiques, Transtornos Ansiosos (Pânico, Fobia Social, Transtorno de Ansiedade

generalizada); Transtorno do Humor (Depressão, Distimia, Transtorno Bipolar).

O primeiro passo para o tratamento do TDAH é talvez o mais importante de

todos é o conhecimento. A própria pessoa, os pais, os maridos, as esposas, os

professores, enfim, todos precisam aprender sobre TDAH, saber como ele se

apresenta, como isso compromete o modo da pessoa ser e agir no cotidiano, suas

reações e, pricipalmente, que isso não é culpa de ninguém, nem da pessoa e nem

de seus pais.

De acordo com os autores Polanczyk & Rhode (2007), na proposta de

intervenção elaborada, inicia-se pela visita dos pais da criança à clínica. Este

encontro já teria sido agendado anteriormente, o terapeuta apresentará a clínica,

outros profissionais, e as especialidades e o funcionamento do sistema de

atendimento. Esse procedimento proporciona uma adaptação e diminui o nível de

tensão, ficando todos mais próximos e familiarizados com o ambiente, promovendo,

assim, uma maior confiança. Ao terminar a visita, deve-se dirigir ao consultório onde

se realizará uma entrevista, para coleta de dados cadastrais com informações

pessoais da criança dos pais e da família, em seguida, será feito o contrato de

trabalho e o enquadramento entre a família e a clinica.

São aspectos importantes das constantes do enquadramento que englobam

também o contrato:

• Esclarecimento de papéis: Função do terapeuta, participação dos pais e de outros membros da família, anamnese, sessões familiares, contato com a escola e com outros profissionais que atendam ou já atenderam a criança; •Definição de horário, dias e duração das sessões; • Previsão do número aproximado de sessões e forma de encerramento do trabalho; • Definição dos locais de atendimento: consultório ou sala de testes.

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(WEISS,1999; FERNANDES,1991; VISCA, 1995),

2.2 – Trabalhando o portador de TDAH, na sala de aula:

Esse trabalho conjunto, Weiss (1999) chamou se Sessão Lúdica Centrada na

Aprendizagem. Esse é o momento de observar alterações na criança, objetivando e

oportunizando a criança a expressar-se de forma lúdica através de materiais

escolares, jogos, brinquedos e brincadeiras, podendo a criança desenhar colorir,

recortar, construir, jogar com o terapeuta; durante essa sessão o terapeuta deverá

estar observar e registrar aspectos como:

2.2.1 A escolha de material e brincadeira

Verifica-se se esta se identifica com o material escolar para produzir

desenhos, escrever textos, ou outras produções que possam expressar seus

anseios, verdades e desejos.

O modo como a criança brinca: dado relevante podendo ser observado se as

brincadeiras são estruturadas tendo começo, meio e fim, se manuseia somente

objetos fáceis rejeitando os que exigem mais raciocínio ou atenção, tem flexibilidade

na funcionalidade do brinquedo, faz atividades variadas, criativas ou repetitivas,

deixa atividades incompletas, qual o nível de concentração quando faz algo que lhe

dá prazer, faz mais uso de ações de destruir, dividir, cortar, separar, ou de juntar;

como ela se apresenta no jogo dramático; como resolve desafios; como reage

emocionalmente diantede situações novas.

2.2.2 A relação com o terapeuta

No relacionamento criança e terapeuta está inserida uma atitude de

cooperação, dependência, esse vínculo deve ser feito de forma espontânea, ambos

devem estar sempre refletindo sobre suas ações;

Verificar o nível pedagógico da criança: avaliar tanto na leitura (silabada ou

não, retrocessos, omissões, entonação , compreensão de texto), como na escrita (se

troca, inverte, omite letras, se faz relação diferenciada da fala e da escrita usando os

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níveis de Emilia Ferreiro, proposto no livro Psicogênese da Língua Escrita e como

encontra-se o conceito lógico matemático), o raciocínio, o cálculo mental e escrito, a

estruturação gráfica dos símbolos) observando assim os vínculos positivos e

negativos que a criança tem com a aprendizagem;

2.2.3 O perfil psicomotor

É de grande importância perceber quais suas habilidades motoras,

coordenação motora fina e a ampla e óculo-manual, sua capacidade perceptiva e

noção espaço-temporal.

Na quarta sessão, realiza-se a entrevista de anamnese que visa obter dados

sobre a realidade histórica de vida da criança. As perguntas devem ser claras para

que os pais compreendem e que possa se estabelecer uma boa comunicação entre

terapeuta, família e escola, através desta, devem-se levantar novas hipóteses

diagnósticas, excluir ou confirmar com segurança as já suspeitadas.

(WEISS,1999; FERNANDES,1991; VISCA, 1995),

Lemos e Damaris (2008), sugerem as etapas passo a passo para uma

anamnese e identificou os seguintes fatores a serem examinados:

2.3 História das primeiras aprendizagens

Investigar as importantes aprendizagens não escolares ou informais; a

possibilidade de desenvolvimento cognitivo e o equilíbrio entre assimilação e

acomodação.

Observar a evolução geral no desenvolvimento, controle, aquisição de

hábitos, interiorização de normas, aquisição da fala, a alimentação, o sono, a

sexualidade; evolução psicomotora (aspectos qualitativo: engatinhar,

andar,movimentosfinos, postura); concepção: desejada; Pré–natal, perinatal: má

oxigenação,lesões ...

2.3.1 História Clínica

Pesquisar problemas e soluções em ambiente familiar quando o paciente

tinha doença infantil; cirurgias e internações; tratamento realizados ( fonodiológo,

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psicológico) – laudos; traumatismo e doenças ligadas à atividade nervosa superior,

existencia ou não de seqüelas- parecer neurológico; problemas auditivos e visuais.

2.3.2 História da Família

Levantar fatos marcantes dos pais e irmãos antes, durante e depois da

entrada do paciente na família, as famílias provenientes de novos casamentos, a

perspectiva sócio-econômico, a estimulação do raciocínio, memória, antecipação,

brinquedos, jogos, atividades, as atividades particulares – música, dança, esporte,

as situações negativas (nascimento de irmão, mudanças, mortes, desemprego,

separação,...)

2.3.3 História da família ampliada

Procurar se informar sobre as influências das famílias materna e paterna, no

passado e no presente. Investigar os quadros patológicos existentes.

2.3.4 História Escolar

Verificar como se deu a entrada e os aspectos positivos e negativos de sua

passagem pelas instituições (creches, pré-escola, escolares regulares, curso de

inglês, escolinha de futebol, ...). A entrada na escola precoce ou tardia/ trocas

constantes sem causas evidentes.

Avaliar como se processou a alfabetização, qual a metodologia, a exigência

dos pais nesse momento, qual foi a reação do paciente. (LEMOS & DAMARIS,

2008)

Segundo os autores acima, na quinta sessão se complementaria o processo

de coleta de dados e informações para o início do diagnóstico com provas

operatórias de Piaget, através destas é possível avaliar como estão as estruturas de

pensamento, para que não se exija além da capacidade da criança ou que se

subestime seu potencial.

O material para essa prova é bem variado, com este recurso, o

psicopedagogo observará as noções de conservação, aspectos lógico- matemático,

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observando assim o nível do pensamento cognocente da criança

Weiss (1999), diz que as provas seguem uma ordem na aquisição das noções,

variando as idades e esta variação de idade terá influência do meio sócio-

econômico, pelas condições orgânicas e pelo equilíbrio emocional. O registro dessas

respostas é fundamental , suas falas, suas arrumação do material, e as soluções,

enfim, todas as atitudes da criança diante das provas.

A avaliação está esquematizada em níveis de construção operatória:

•Nível 1: quando a criança tem ausência total da noção em questão, não tem domínio, age muito empiricamente, não faz nenhuma conservação consciente e algumas vezes não compreende a proposta da atividade; •Nível 2: expressa instabilidade, vacilações, são respostas incompletas; •Nível 3: a variação já tem condutas conservativas, as repostas demonstram a aquisição da noção, sem vacilação, ela utiliza de vários argumentos para confirmar suas respostas. (WEISS,1999),

Na sexta sessão procura-se avaliar a área emocional, através do grafismo e

desenhos a fim de se obter dados afetividade da criança e para isso usamos as

provas dos vínculos educativos.

1- Vínculo com a Aprendizagem • Par Educativo: onde se pede que a criança desenhe duas pessoas (uma que ensina e outra que aprende) e que ela dê um título para o desenho e relatar o que esta se passando na cena; • Eu com meus companheiros: vínculos com os companheiros de classe • A planta baixa da sala de aula 2- Vínculo Familiar: • A planta baixa da minha casa: a representação geográfica do lugar em que se habita e a localização real dentro da mesma 3-Vínculo consigo mesmo • Representação que tem de si e do contexto físico e sócio dinâmico de transição de uma idade a outra. (WEISS,1999),

Ao final, quando o psicopedagogo tiver concluído o diagnóstico, deverá

repassar para à criança, a família e a escola a conclusão a que chamamos de

devolutiva. Nela deverá conter como o problema foi instalado, quais os

encaminhamentos, caso seja necessário, e as intervenções necessárias, esses

procedimentos deverão se estender à escola, aos pais e à criança. É valido fazer

também um informe psicopedagógico, tanto para organizar a conduta durante a

devolutiva como arquivar com finalidade para uma posterior consulta. A proposta de

intervenção está em função do resultado avaliado do diagnóstico.

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De posse do material o psicopedagógico coletado, elabora-se um plano de

trabalho para apresentar a família. Se a família estiver de acordo, será efetivado um

novo contrato terapêutico, explicitando-se: o tempo para emergirem as mudanças

atitudinais e comportamentais, as resistências as mudanças, como a família vai

atuar, enfim, todos requisitos para que a intervenção psicopedagógica aconteça.

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Capítulo 3 - Ações pedagagógicas em sala de aula

No contexto escolar, o aluno hiperativo começa a se aventurar no mundo e já

não tem a família para agir como amortecedor. O comportamento, antes aceito como

engraçadinho ou imaturo, já não é tolerado. É tido como algo fora do padrão de

aceitamento , tanto na família quanto no grupo escolar onde está inserido. Ele

precisa agora aprender a lidar com regras, a estrutura e os limites de uma educação

organizada e seu temperamento simplesmente não se ajusta muito bem às

expectativas da escola (GOLDSTEIN & GOLDSTEIN, 1996, p- 106)

Segundo Goldstein & Goldstein (1996), muitas crianças hiperativas também

vivenciam comportamentos e emoções na escola como conseqüência de sua

incapacidade de satisfazer as exigências da sala de aula. Esses problemas muitas

vezes se desenvolvem em resposta a fracassos freqüentes e repetidos. Algumas

crianças tornam-se deprimidas e retraídas, enquanto outras se tornam irritadas e

agressivas. E nos anos iniciais do ensino fundamental as crianças tornam-se cada

vez mais cientes das suas incapacidades, trazendo falhas aos processos

congnitivos, tornando-se , na execução das tarefas, um momento de revolta,

frustração e descaso com as práticas escolares.

Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas e hiperativas deve ser

organizada e estruturada, o professor deve estar preparado para receber uma

criança portadora de TDAH e procurar conhecer melhor o quadro do distúrbio, para

saber como lidar com ela. Depois um programa de reforço baseado em ganhos e

perdas, deve ser parte integrante do trabalho de classe. A avaliação deve ser

freqüente e imediata. Recomenda-se ignorar pequenos incidentes. O material

didático deve ser adequada às habilidades da criança, estratégias que facilitem a

auto-correção, e que melhorem o comportamento nas tarefas, devem ser ensinadas.

As tarefas devem variar, mas continuar sendo interessantes para os alunos,

os horários de transição, bem como os intervalos e reuniões especiais devem ser

supervisionadas. Pais e professores devem manter uma comunicação freqüente, os

professores precisam estar atentos à qualidade do reforço negativo do seu

comportamento.

O professor deve criar facilidades para que a criança com TDAH adquira

novas amizades, pois os amigos são essenciais para o desenvolvimento dessa

criança. A instabilidade comportamental, a ansiedade e a falta de concentração em

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algumas crianças hiperativas fazem com que as outras crianças se afastem delas,

pois por não compreenderem a sua forma de relacionamento, acabam as

considerando inconvenientes. Assim sendo, algumas vezes, as crianças hiperativas

acabam sendo excluídas pelos os amigos, o que poderá provocar alguns transtornos

emocionais, pois a falta de companheirismo poderá trazer para algumas delas

sentimentos de solidão e ansiedade (LOPES, 2000).

Como sugestões para Intervenção do Professor, alguns autores apontam para

uma variedade de ações específicas que visam aumentar a concentração dos

alunos e desenvolver o aprendizado:

Proporcionar estrutura, organização e constância, arrumação das cadeiras, programas diários, regras claramente definidas; Colocar a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do professor, na parte de fora do grupo; Encorajar freqüentemente, elogiar a ser afetuoso, porque essas crianças desanimam facilmente; Dar responsabilidades que elas possam cumprir faz com que se sintam necessárias e valorizadas; Começar com tarefas simples e gradualmente mudar para mais complexas; Proporcionar um ambiente acolhedor, demonstrando calor físico e se possível fazer os colegas terem a mesma atitude; Nunca provocar constrangimento ou menosprezar o aluno; Proporcionar trabalhos de aprendizagem em grupos pequenos; Favorecer oportunidades sociais; Comunicar-se com os pais, geralmente eles sabem o que funciona melhor para seu filho; Favorecer oportunidades para movimentos monitorados, como ida a secretaria, levantar para apontar o lápis, levar um bilhete a outro professor; Recompensar os esforços; Favorecer freqüentemente contato aluno/professor, isto permite um controle extra sobre a criança com TDAH; Colocar limites claros e objetivos.

(CONDEMARIN,2006)

As atividades lúdicas, além de facilitarem a aprendizagem, atendem a

determinados interesses e necessidades sociais, pois favorecem a socialização e a

cooperação entre os alunos. A escola deve promover situações significativas de

aprendizagem, propondo atividades desafiadoras que possibilitem a construção de

conhecimentos, dando oportunidades ao aluno de ser mais criativo, participativo e

ativo, tornando-se um ser com iniciativa pessoal e autonomia, levando-o a adquirir

atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade.

Para isso, faz-se necessário que o professor elabore aulas interessantes e

diversificadas, saindo da rotina e que explorem diferentes habilidades nos

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educandos, o que trará benefícios significativos para suas vidas.

Segundo Barros (2002), no que se refere ao lúdico, sabe-se que o

comportamento da criança hiperativa, em relação às crianças normais, se mostra

muito deficitário devido à grande dificuldade de atenção, concentração e

impulsividade causada pelo o distúrbio, portanto ao utilizar os jogos como

estratégias pedagógicas devem levar em considerações as características da

criança com TDAH, bem como as condições sob as quais deverá realizar as

atividades, objetivando auxiliar o aluno a desenvolver as habilidades necessárias

para um desempenho social, emocional e cognitivo.

Ainda segundo Barros (2002), a hiperatividade dificulta o desenvolvimento de

um comportamento social adequado em uma criança hiperativa e através dos jogos

ela pode aprimorar seu senso de respeito às normas grupais e sociais.

Lopes (2000), psicopedagoga clínica, relata resultados positivos que

vivenciou em sua clínica através de confecção e aplicação de jogos no tratamento

de crianças hiperativas. Essas crianças foram encaminhadas pela instituição escolar

com queixas de hiperatividade e dificuldade em acompanhar o desenvolvimento

geral da classe. Em relação aos aspectos comportamentais, apresentavam um nível

de ansiedade muito alto e dificuldades em concentração, coordenação viso-motora e

aceitação de regras. Após adotar trabalho pedagógico com as crianças

mencionadas, os resultados começaram a parecer a cada sessão. Ao final do

trabalho a autora pôde perceber que, a partir da vivência com jogos, as crianças

criaram novos hábitos e desenvolveram potencialidades e habilidades. O jogo é uma

ferramenta criativa, atraente e interativa que auxiliará o professor a minimizar os

problemas de desatenção e de comportamento social nas crianças hiperativas,

melhorando assim a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, pois é através

desse ato que a criança reproduz experimentações e vivências que percebe do

mundo exterior, e, ainda, que pode relacionar-se com outras crianças. Ele também

destacou que o brincar nem sempre é considerada uma atividade que dá prazer à

criança, mas que outras atividades também poderão ser prazerosas.

De acordo com Vygotsky (2004), a aprendizagem é um processo social. É

possibilitada através das áreas de desenvolvimento proximal, isto é, da distância

entre a zona de desenvolvimento real, que se costuma determinar através das

soluções independentes de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, ou

seja, aquilo que a criança ainda não sabe, mas que pode aprender. A zona de

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desenvolvimento proximal pode ser ilustrada através daquilo que a criança faz hoje

com auxílio de adultos ou mesmo de crianças mais hábeis, mas que amanhã poderá

fazer por si mesma.

Tendo-se por norte a afirmação de Vygotsky (2004) no sentido de que, no

processo de aprendizagem e desenvolvimento, para cada passo que a criança dá

adiante no aprendizado, são dois passos que ela avança no desenvolvimento, é

inegável que cresce em importância a atuação do professor nesse processo. De

fato, cabe a ele estimular constantemente a atenção da criança com TDAH, para

que a mesma não se perca a qualquer novo estímulo do ambiente. Para possibilitar

que a criança fixe atenção em um único brinquedo ou brincadeira por um tempo

suficiente para o máximo aproveitamento daquela experimentação, com uma melhor

interação com aquele objeto e mesmo com os colegas. Assim pode conseguir

também aproximação aos demais. Relacionar-se com os colegas é estar em

ambiente proximal, aproveitar os modelos, orientações e mesmo a afetividade com

os pares.

Vygotsky (1991) destacou a importância do brincar para os processos de

aprendizagem e desenvolvimento da criança, pois é através desse ato que a criança

reproduz experimentações e vivências que percebe do mundo exterior, e, ainda, que

pode relacionar-se com outras crianças. Ele também destacou que outras atividades

dão experiências de prazer muito mais intensas do que o brincar como, por exemplo,

o chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie com a mesma. No entanto, o

ato de brincar é de suma importância no desenvolvimento e aprendizado da criança.

3.1 Análise sobre a relação dos portadores de DTAH e as teorias estudadas

. Quanto as teorias apresentadas, sobre o fracasso escolar e crianças

portadoras de DTAH, ressalto que a educação formal, aquela em que o aluno senta,

ouve e copia tudo o que está sendo relatado pelo Professor, para que, ao final dos

estudos possa adquirir uma boa nota, ou seja, quanto mais passivo é o aluno melhor

o produto alcançado pelo educador,encontra-se neste contexto, muito aquém das

necessidades da sociedade atual. Esta sociedade, com o viés da informação

saltitando entre a mídia (que informa e desinforma) a internet, enfim, a globalização.

Assim como a aula é dada, as tarefas também são dadas, ou seja, não são

construídas em conjunto, na interação participativa com os educandos. Seria

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oportuno dizer que para eles, a tarefa não tem significação, ou seja, não tem

sentido. Assim, emerge os grandes problemas em sala de aula, as grandes

dificuldades de assimilação dos saberes, falta o insigh das “aprendizagens

significativas”.

Como competir com a televisão, com imagens tridimensionais, com a internet,

tão ligada e interligada aos “diversos mundos” ? Só o saber e a oratória não bastam.

Infelizmente, a educação e formação estão hoje atrelados a uma vivência e prática

muito além do conhecimento restrito em livros didáticos e poucas mensagens do

professor.

Numa outra concepção de educação que acredita que cada um, educador e

educando são sujeitos pensantes, que constroem conhecimento e não simplesmente

os reproduzem. Os desafios são muitos. Não basta um trabalho bem intencionado

do Psicopedagogo, de atuar nas esferas educacionais, com jogos e dinâmicas de

última geração, num momento ou noutro. O que mais importa é a questão da

aprendizagem, das significações e de sua releitura dentro da época atual.

O que isto tem haver com a questão do TDAH? Será que nestes tempos modernos as crianças são as mesmas do que de

10,15 e 20 anos atrás? As conexões cerebrais não evoluíram desde então? O

pensamento não está bem mais acelerado para os nossos padrões orieundos do

século passado? Conseguimos compartilhar e interagir com todas essas

parafernálhas eletrônicas, as quais as crianças , parecem que já nascem sabendo?

Será que acompanhamos as mudanças tão rapidamente quanto as nossas

crianças? Não estaríamos defasados na linguagem e no raciocínio delas? Será que

poderíamos afirmar que o fracasso escolar está intimamente ligado ao

aproveitamento do aluno sobre os conteúdos programados por nós educadores? O

currículo vem acompanhando adequadamente à demanda de saberes na formação

de um cidadão pleno?

Enquanto psicopedagogo, antes pedagogo e professor, numa outra

concepção de educação que acredita que cada um, educador e educando são

sujeitos pensantes que constroem conhecimento e não simplesmente os

reproduzem, os desafios são muitos. Para construir conhecimento, cada um

depende do outro, depende da parte do outro. Parte do outro que é seu saber,

expresso e socializado pelas tarefas. O não cumprimento da tarefa por um, ou mais

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elementos, afeta a todos. O corpo fica sem um dos membros. O processo sofre

perdas. Quando uma parte não se oferece, não pode existir o coletivo na sua

plenitude e o conhecimento em construção prejudica-se.

Faz parte do coletivo, exige compromisso de cada parte (mediada pela tarefa)

pela construção da produção coletiva: a aula. Qualquer pessoa, sejam crianças,

jovens ou adultos, aprende sempre , a cada minuto de sua vida. Aprender aqui, em

sala de aula, deveria ser como respirar. Cada suspiro uma nova vivência que

representa sempre novas aprendizagens (sentimos, percebemos, pensamos sobre

nós mesmos, sobre as coisas da vida de outra forma). Então, esse indivíduo,

portador de TDAH, possui sua singularidade no aprender e no desenvolver. É

previsível e humano que novos saberes venham a ser adquiridos por qualquer um

de nós enquanto vivermos, não importa a idade, etnia, classe social, grau de

deficiência física ou mental.

Por um lado, o não aprender está sempre atrelado a parâmetros de

julgamento preestabelecidos (critérios de avaliação lineares e padronizados). A partir

destes é que se diz, por exemplo, que um aluno “não aprendeu” os conteúdos

programados: que não parendeu a ler ou escrever em um ano letivo, que não

aprendeu a se comportar de acordo com as regras escolares, etc. O não aprender

vem sempre atrelado a um padrão de referência, a indicadores em que se baseia a

escola, tal como programações curriclares, tempos definidos, normas disciplinares

etc.

Sendo assim, a resposta diferente do aluno, que foge aos indicadores

predeterminados, é considerada falta, retrocesso, interrupção. A aprendizagem,

contudo, não segue um curso linear (Steban, in Silva, 2003). Estes autores,

caracterizam o erro, ao contrário, como um evento da aprendizagem:

A evolução intelectual não acontece sem o tentar, errar, falhar, fazer/refazer. Avaliar “aprendizagens” exige ultrapassar tais leituras preconcebidas e negativas sobre as manifestações dos alunos, buscando-se leituras positivas e multidimensionais. Por outro lado, é preciso dar-se conta de um observador que descreve a realidade pensando que não interfere na mesma, incapaz de reconhecer que cada observador que age em um sistema faz parte desse sistema com o qual interage, e aquele que aprende e reconhece que, como pessoa ou sistema que observa, enquanto descreve um mundo está descrevendo a si mesmo que descreve o mundo. (STEBAN, IN SILVA, 2003).

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Nesta concepção , reportando-nos ao fracasso escolar, a função do

psicopedagogo na insttuição escolar é o de procurar agregar todos os interesses dos

envolvidos no processo: professor/aluno, disponibilizando ações que facilitem a

adaptação de todos e contribua no cumprimento das tarefas, que por sua vez, exige

um pouco mais de atenção de cada um: alunos (normais ou não) professor e sala de

aula, tem de se confluir numa ação conjunta rumo o desenvolvimento. Isto sim exige

paciência, determinação e humildade, onde para assumirmos o compromisso no

processo de formação é necessário que nos desprimos de toda e qualquer conceito

e juízo de valor.

3.2 Estratégias rumo ao ensino mais flexível

Quando falamos em TDAH, nos referimos a indivíduos com dificuldades de

concentração, atenção e estímulo, por isto, devemos adequar e perceber o estilo de

aprendizado mais estimulante àquela criança.

Realizar tarefas visuo-auditivas, que estimulem a criatividade também é

excelente fonte de assimilação às informações.

Desenvolver métodos para autoinformação e monitoração também ajuda. Os

diálogos periódicos, conversa informal, uma avaliação das aulas também é

importante para os resultados. Ouvir a opinião do aluno sobre suas dificuldades,

seus progressos e conquistas possibilita a criação de laços afetivos, consolida a

confiança e possibilita um viés de informação sobre o andamento dos processos.

Estabelecer uma parceria com os pais também ajuda bastante. Fixar regras e

horários de estudos regulares estimula a responsabilidade e compromisso com as

tarefas de casa.

Usar uma linguagem adequada, clara e objetiva permite um entendimento

mais efetivo do que se quer alcançar.

Utilizar o lúdico como mecanismo de aprendizagem, concentração e interesse

é fundamental. A motivação e interesse pelas aulas serão constantes.

Crianças portadoras de TDAH são sempre muito intuitivas mas, normalmente,

ficam temerosas em oferecer informação voluntariamente. Ficar à sós com a criança

e perguntar como ela pode aprender melhor, traz benefícios e subsídios ao

planejamento e atividades realizadas.

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Esses alunos podem se comportar muito bem em algumas situações e não

apresentar sintomas. O fato de eles não estarem presentes o tempo todo não

significa que a suspeita seja errada ou que não seja necessário procurar tratamento.

Um bom diagnóstico diferencial exige uma análise clínica extensa e, muitas vezes, a

realização de exames ou testes específicos.

O professor, o psicopedagogo e a equipe pedagógica deverão estar atentos a

todos os passos, evoluções e necessidades destas crianças.

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CONCLUSÃO O primeiro passo, e muitas vezes o mais importante, é dar à pessoa

conhecimentos científicos sobre o transtorno, porque só isso já modifica a baixa

autoestima e a certa carga de culpa que o portador provavelmente carrega.

Muitos sintomas de TDAH, e suas consequências são interpretados

erronemanete pelos demais (e às vezes também pelo próprio portador) ao longo de

toda a vida: “só lembra o que interessa”, “não tem persistência em nada”, “não leva

nada a séerio”, “não se dedica” “se realmente se importasse com os outros, teria

lembrado”, “é vagabundo”, etc.

Em seguida, pode ser útil aprender certas estratégias de comprtamento para

administrar os sintomas do TDAH. Por exemplo, quando o portador sofre de

dificuldade crônica de organização e por causa dissoacaba se esquecendo de

comporomissos, torna-se muito útil utilizar o uso de agenda, mural e outros recursos

(especialmente eletrônicos, quando possível).

Para Polanczyk & Rohde (2007), existem algumas estratégias para quando a

pessoa tem dificuldade em manter a atenção em leituras ou em aulas; também

existem estratégias para minimizar a impulsividade. O professor pode seer um

grande aliado no tratamento. Quando ele tem conhecimentos sobre TDAH, ele se

torna capaz de adotar estratégias de ensino capazes de favorecer o aprendizado

dos alunos com TDAH.

Constatamos que o TDAH é um distúrbio e como tal deve ser tratado, sendo

que não tem cura e que o tratamento apenas melhora o sintomas e que deve ser

administrado de acordo com o comprometimento, ministra-se medicamentos para

diminuir a hiperatividade motora e melhorar a atenção. A Psicoterapia pode ser útil,

seja ela familiar, individual ou de casal. Em alguns casos mais leves, o auxilio de

uma terapia comportamental com o portador do distúrbio e com a família já ameniza

os sintomas do TDAH; em casos mais graves, exige-se uma ação multidisciplinar:

pais, professores, médicos, terapeutas, e medicamentos. (BARKLEY,2008)

O papel do professor é fundamental para auxiliar no diagnóstico do TDAH,

visto que a hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é preciso

aumentar o nível de concentração para aprender. Deste modo, é importantíssimo o

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professor estar bem orientado e ter conhecimentos sobre o TDAH para identificar

uma criança sem limites de uma hiperativa.

O portador do TDAH precisa ter na escola um acompanhamento especial, já

que não consegue conter seus instintos, tumultuando a sala de aula, a vida dos

colegas e dos seus professores. É preciso aplicar uma ação didática- pedagógica

direcionada para esta criança, visando estimular sua autoestima, levando em conta

a sua falta de concentração, e criando atividades diversificadas para que não haja

um comprometimento durante sua aprendizagem. (GOLDSTEIN, 1999)

Como profissionais da educação, cuja prática está estritamente voltada ao

desenvolvimento cognitivo do aluno e à construção integral do indivíduo, nosso

objetivo também perpassa pelo combate ao fracasso escolar, fixando e no estudo e

desenvolvimento de novas práticas pedagógicas que promovam o crescimento

global do aluno. Hoje nãoão basta somente termos as respostas objetivas, é preciso

mais. Nos questionarmos por exemplo sobre a eficácia das práticas pedagógicas

adotadas nas escolas no contexto atual.

No sentido oposto das regras e na contramão dos ditames operacionais

vigentes, podemos nos perguntar sobre o princípio fundamental da aprendizagem e

da atividade intelectual dos discentes: O que pode levar o aluno a se mobilizar numa

atividade intelectual? É realmente preciso aprender o que realmente não tem algum

sentido? É possível memorizar até a prova, o que não faz sentido, quando o

resultado da própria prova faz sentido: não entendo nada disso, pensa o aluno, mas

Os educandos, mais do que como parte dos problemas, devem ser vistos

também como parte das soluções. O desafio para nós, psicopedagogos, pedagogos

e professores, nestes tempos pós-modernidade é o de caminharmos na contramão

do processo de entropia1axiológica atendendo pelo nome de relativismo ético.

É diante desta tendência , que nós, educadores estamos sendo chamados a

nos posicionar sem vacilações e sem meios-termos. A função docente , em qualquer

instância , não é somente levar as respostas aos alunos, mas fazer uma

introspecção de sua atividade e prática docente: Como eu posso criar condições

para que o aluno tenha uma real atividade intelectual?

O professor será o elo entre a família e o especialista, durante o tratamento,

pois seu papel não é o de dar diagnóstico, mas sim de esclarecer aos pais que este

1 Entropia – Medida da quantidade de deserdem num sistema. (Novo Dicionário Aurélio,2008, p.355)

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distúrbio se não for tratado, gera inúmeras complicações para seu convívio social,

levando-o à depressão e até mesmo à busca de drogas, à insatisfação e à

infelicidade, a um conflito interno por não atender as atividades dos dia a dia, e à

rejeição gerada pelos demais companheiros da escola.

Concluímos que a hiperatividade não tem cura, mas precisa ser tratada e que

nem todas as crianças que apresentam comportamentos não aceitáveis são

hiperativos e sim precisam de limites para aprenderem a conviver em grupos sociais.

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