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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O VÍNCULO AFETIVO EM SALA DE AULA.
CLÁUDIA CAMARA LAIA
ORIENTADORA: PROFª MARY SUE DE CARVALHO PEREIRA
RIO DE JANEIRO JUNHO/2003
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Trabalho monográfico apresentado àUniversidade Candido Mendes comorequisito parcial para obtenção de Graude Especialista em Docência do EnsinoSuperior.
RIO DE JANEIRO JUNHO/2003
O VÍNCULO AFETIVO EM SALA DE AULA.
CLÁUDIA CAMARA LAIA
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Agradeço a conclusão deste trabalho aProfessora Mary Sue, que realiza seuexercício docente de maneira competente ecom alegria.
AGRADECIMENTO
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Dedico este trabalho monográfico a todos oseducadores que buscam respostas parasuas questões e procuram contribuir paraque o quadro educacional em nosso paísmelhore.
DEDICATÓRIA
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RESUMO
A presente monografia tem como objetivo analisar as possíveis
causas das dificuldades emocionais que acontecem no âmbito escolar, que
dificultam a aprendizagem e impedem um possível elo facilitador entre
educando e educador.
Toda pesquisa foi feita por fontes bibliográficas, partindo da análise
do termo afetividade e o vínculo entre professores e alunos, assim como da
aprendizagem, a instituição educacional e sua função; e por fim, a prática
educacional e como se dá o desenvolvimento, em sala de aula, do cognitivo e
do afetivo.
Concluindo, este estudo tenta desvendar os motivos que prejudicam
o pleno desenvolvimento dos alunos, principalmente os de curso universitário;
e fornecer dados para o entendimento do processo ensino-aprendizagem
através de teorias afetivas.
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INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Emoção: Motivadora da Aprendizagem 11
CAPÍTULO II
A Instituição Educacional e sua Função 18
CAPÍTULO III
O Professor e o Aluno: Uma Relação de AFeto 23
CAPÍTULO IV
A Prática Educacional Promovendo o Desenvolvimento Cognitivo e
Afetivo 31
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 40
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
SUMÁRIO
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A cada momento, você se escolhe, mas vocêescolhe o seu ser? O corpo e a alma contêm mil possibilidades, comas quais você pode construir muitos “Eus”. Mas em apenas uma delas há uma congruênciaentre o eleitor e o eleito, só uma que você nuncahá de encontrar até ter excluído todos ossentimentos e possibilidades superficiais de ser eestar com que você brinca, por curiosidade,assombro ou gula e que o impedem de lançarâncora na experiência do mistério da vida e anoção do talento que lhe foi confiado e amaravilha do seu ser que é realmente o seu “Eu”.
(Dag Hammarskjold, apud Leo Buscagliaem Vivendo, Amando e Aprendendo)
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INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, vários estudos vêm dando ênfase aos
aspectos cognitivos nas tentativas de solucionar os inúmeros problemas
educacionais surgidos, porém o homem não é um ser apenas cognitivo, é
também social, afetivo, psicológico, enfim, é um conjunto de aspectos
interligados e conectados para que tudo funcione, como uma engrenagem,
onde uma peça depende da outra, e todas fazem a máquina funcionar.
E desconhece-se muito ainda da relação que existe entre o afetivo,
motor, pessoal e o cognitivo. Esse desconhecimento atrasa o avanço de
pesquisas educacionais e sobre o processo de aprendizagem. Por sua vez, as
teorias vão e vêm, sem manterem-se firmes na prática de sala de aula,
funcionando como experimentos e os alunos como cobaias.
É indiscutível o papel da educação na formação do individuo. Sabe-
se que o que vivemos na escola e, mais tarde, na universidade, possui um
significado insubstituível para o desenvolvimento social e afetivo de uma
pessoa.
O professor, como parte integrante deste processo de formação do
indivíduo, precisa conhecer como acontecem as interações no âmbito do ser
humano.
Os teóricos, Paulo Freire, Vygotsky e Piaget, por exemplo,
evidenciaram a importância da emoção para que o aluno sinta-se motivado a
conhecer e aprender. Wallon, na área da Psicologia, também destacou que
nós, através do emocional, entramos em contato com o meio ambiente e nos
adaptamos à realidade exterior.
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Saltini, em seu livro “Afetividade e Inteligência”, defende a educação
como um compromisso com a formação de uma sociedade mais livre, criativa e
amorosa; com igualdade, justiça e cooperação; e que conhecer é pensar,
inventar, descobrir e conectar as qualidades e atributos de um determinado
objeto a ser estudado ou conhecido.
Por essa pesquisa bibliográfica, a afetividade é analisada como um
fator fundamental para o desenvolvimento da inteligência e da capacidade de
aprendizagem, enfocada de maneira acessível e clara, unindo a cognição, a
criação e a emoção como aspectos inseparáveis da personalidade de uma
pessoa.
Em outros estudos, já foi dada importância ao fator criação, e muitos
autores escreveram sobre o assunto. Por sua vez, atualmente percebe-se a
tendência à analise da cognição isoladamente. Porém, as teorias continuam
apresentando falhas e devido a isso, os estudos voltam-se então, à afetividade.
Livros e pesquisas vêm demonstrando a importância da emoção e suas
conseqüências no comportamento humano: como ela ajuda ou atrapalha nas
atividades e funções cotidianas, e como fica facilitado o trabalho docente quando
a consciência da irrelevância do afeto existe no profissional em sala de aula.
O presente estudo traz para debate questões que poderão melhorar
a formação do profissional docente para o exercício de suas atividades e
alertar para a complexidade dos aspectos que abrangem esta formação. Pois,
o professor que tem conhecimento do que fazer para obter um determinado
resultado ou o que evitar para não atrapalhar o processo de ensino
aprendizagem, é um professor mais seguro e mais competente.
No entanto, não é só o que basta. É necessário que a prática também
seja acompanhada de coerência, além de outras competências próprias. Sobre
essas competências, os capítulos a seguir tecerão algumas considerações.
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Partindo do princípio que somos, todos nós, seres humanos e
sociais, é indissolúvel – para o entendimento do mecanismo de aprender e de
ensinar – o aspecto humano afetivo do cognitivo. Um depende do outro, são
estruturas conjuntas, que abrem os horizontes nos estudos sobre o sucesso
educacional e como chegar até ele. A melhoria de nossos cursos educativos
passa por esse ponto, ainda obscuro, do ser. Ou seja, a partir do instante que
se puder conhecer plenamente a emoção e suas conseqüências, o homem
poderá ser melhor entendido e as teorias melhor adaptadas para darem certo.
Quanto ao desenvolvimento de atitudes e valores, esta pesquisa
vem analisando o ponto da formação acadêmica que valoriza iniciativa,
dinamismo, criatividade, agressividade profissional, enfim, uma gama de
características que traçam um perfil do trabalhador ideal. Porem, as instituições
de ensino, principalmente as universidades, valorizam pouco este aspecto, que
é o da ética, da solidariedade, a criticidade e o trabalho em equipe, que a
maioria das profissões exige.
Vive-se a era da tecnologia, da informática, da globalização, enfim, a
era do conhecimento e da comunicação; mas perde-se muito na promoção do
desenvolvimento humano, social e político, e também econômico, quando
enxerga-se no ser humano apenas o intelecto, deixando para trás tudo o que
diz respeito à emoção e afeto.
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A última década, apesar de inúmeros episódios ruins que nos
ofereceu, assistiu a uma explosão de estudos científicos sobre a emoção. Essa
luz sobre os mecanismos das emoções e suas deficiências põe em foco o
sentimento e sua importância para a vida humana e seus processos. Pois, como
sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas decisões e
ações, a emoção pesa muito, e às vezes muito mais do que a razão.
O estudo das emoções demonstra que a origem delas está na
consciência, operando a passagem do mundo orgânico para o social, do plano
fisiológico para o psíquico. Para Wallon, as teorias sobre as emoções dividem-
se em uma abordagem dominante representada por reações incoerentes e
tumultuadas; destacando o efeito desagregador, perturbador sobre a atividade
motora e intelectual. A outra abordagem destaca o poder ativador das
emoções, considerando-as como reações positivas. Acompanhadas de uma
descarga de adrenalina na circulação e do aumento da quantidade de glicose
no sangue e tecidos, as emoções provocam aumento de energia, o que se
torna bom para uma ação sobre o mundo físico.
No adulto, são pouco freqüentes crises emotivas, como ataques de
choro, birras, surtos de alegria, tão comuns ao cotidiano da criança. As
emoções aparecem reduzidas, pois estão subordinadas do controle das
funções psíquicas superiores. Assim, ao enfocar as emoções na vida adulta, as
teorias tendem a identificá-las com ação sobre o mundo exterior objetivo,
enfatizando seus efeitos sobre os automatismos motores e a ação mental.
As emoções, assim como os desejos e os sentimentos, são
manifestações da vida afetiva. Na linguagem comum é habito substituir emoção
por afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, são diferentes. A
afetividade se insere num conceito muito mais abrangente e que engloba várias
manifestações. Já as emoções, possuem características que as distinguem de
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outras manifestações afetivas. As emoções sempre estão acompanhadas de
modificações visíveis expressivas, como aceleração de batimentos cardíacos,
mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na digestão, secura na boca e
outros. Além disso, provocam alterações na expressão facial, na postura, na
forma como se executam os gestos.
“É grande o destaque que a análise walloniana dá ao componente corporal das emoções. Wallon mostra que todas as emoções podem ser vinculadas à maneira como o tônus se forma, se conserva ou se consome. À cólera, por exemplo, vincula-se a um estado de hipertonia, na qual há excesso de excitação sobre as possibilidades de escoamento. A alegria resulta de um equilíbrio e de uma ação recíproca entre o tônus e o movimento. Na timidez verifica-se hesitação na execução dos movimentos e incerteza na postura a adotar. Com base nesta relação, resulta até mesmo uma classificação das emoções segundo o grau de tensão muscular a que se vinculam”.
(GALVÃO, 1995, p. 63)
Enfim, as emoções podem impulsionar uma pessoa a agir, ou
podem impedi-la, travando seus movimentos. As emoções também podem ser
o ponto de partida da consciência pessoal do sujeito por intermédio de seu
grupo, no qual receberá as fórmulas diferenciadas de ação e os instrumentos
intelectuais, sem os quais lhe seria impossível efetuar as distinções e as
classificações necessárias ao conhecimento das coisas e de si mesmo.
A importância das manifestações emocionais coletivas se dá na
medida em que favorece coesão e adaptação ao meio e ao grupo social. As
emoções aparecem como primeira forma de adaptação que o ser humano tem
para com o ambiente em que vive. A atividade intelectual, que tem a linguagem
como um instrumento indispensável, depende do coletivo. Permitindo acesso à
linguagem, podemos dizer que a emoção está na origem da atividade
intelectual. Pelas interações sociais que propicia, as emoções possibilitam o
acesso ao universo simbólico da cultura.
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Porém, em sala de aula é muito comum haver descaso com relação
às emoções dos educandos. A instituição de ensino deveria ter clareza que ao
cumprir a função de transmitir conhecimentos, está lidando com o ser humano
e com os demais aspectos que o formam, além do intelectual.
Na verdade, os aspectos afetivo e motor na sala de aula são
considerados como processos estanques, sem nenhuma relação com o
processo de conhecimento. Assim, é também desconhecida a reciprocidade
entre a afetividade e a inteligência, conquanto exista entre ambas uma
integração que permita nutrição mútua. Ao mesmo tempo em que a afetividade
se estende no desenvolvimento de um sujeito, assim também o faz a
inteligência. Então, à medida que as conquistas no campo cognitivo vão
acontecendo, são incorporadas ao plano afetivo do ser. A evolução completa
se dá, em grande parte, pela reciprocidade entre ambos.
“Os movimentos, como expressões da natureza afetiva, podem gerar emoções e ser resultado delas. Como salientado anteriormente, a alegria, ao se produzir, desencadeia uma grande excitação motora”.
( Wallon, 1995, p. 63)
Em sala de aula tais movimentos e emoções, muitas vezes, não são
percebidos ou aproveitados para o processo de aprendizagem. Seria muito
mais fácil para a prática docente se as expressões e emoções favoráveis ao
aprendizado contribuíssem positivamente, e que os educadores, por sua vez,
pudessem compreender que a falta de clareza a respeito da ligação que existe
entre movimento e emoção interfere na relação professor e aluno,
conseqüentemente, na aprendizagem.
Aprender a ler as emoções é um pré-requisito para administrá-las.
Se o professor aprender a ler o que seus alunos sentem, tornará sua ação
pedagógica mais eficaz. Utilizando as expressões emocionais dos educandos
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poderá facilitar o processo de construção do conhecimento, fazendo um elo
entre ele e seus alunos e contribuir também para a socialização e integração
destes no grupo, e mais abrangentemente, na vida. Pois ao se incumbir da
função de transmissor do conhecimento, o professor deve atuar como um
arguto observador, no sentido de articular, sempre que possível, os aspectos
afetivo e intelectual, ambos inseparáveis e presentes na atividade pedagógica.
Abordar a emoção como mais um aspecto educacional a ser
considerado para o entendimento do processo ensino-aprendizagem é um
grande passo em direção ao progresso das pesquisas na área do conhecimento,
e de como ele se constrói. Ela está inserida neste processo, porque é inerente
ao homem. Por sua vez, as instituições de ensino devem possibilitar contatos
afetivos para obter conhecimento do outro e do que acontece em seu ambiente.
Aceitando a emoção como companhia a inteligência – uma não existe sem a
outra – é aceitar o aluno como ser humano, utilizando suas experiência para agir
e atender suas reais necessidades.
Quando os teóricos e cientistas da área cognitiva tiverem a plena
consciência de que no processo do conhecimento é indissociável os aspectos
afetivo e cognitivo, talvez haja uma mudança positiva na situação educacional
universal, e como a qualidade de vida depende em grande parte disto, haverá
também a melhoria desta no mundo.
O ser humano para desenvolver-se plenamente, necessita da família
e precisa estar inserido em grupos sociais. A partir daí, terá sua criatividade e
suas potencialidades trabalhadas. Porém, tudo isso se dá num universo mais
complexo quando observado pela ótica da vivência, propriamente dita. Ou seja,
uma ação pedagógica consciente e integradora buscará resultados a partir de
situações que aconteçam entre interações e relações sociais a todo momento,
no ambiente onde a educação se dá. Saber que o afeto faz parte de todos nós
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é o primeiro passo para que essa ação obtenha resultados satisfatórios,
criando possibilidades para expressões individuais, onde aflorem as idéias,
juntamente com toda a bagagem afetiva que isso possa ter.
Quando o aluno consegue sentir-se à vontade e livre para
expressar-se, sente-se também pronto para receber informações que lhe
possam ser úteis no momento e futuramente seus talentos podem ser
incentivados, suas ações poderão estar motivadas, aceitas e acolhidas; e
através da ótica democrática do profissional que conduz a prática, tornar-se
uma realidade positiva para ele. Afinal, educar é fornecer armas para que uma
pessoa possa manter-se, sobrevivendo da melhor maneira possível,
adequando-se à sociedade e suas regras.
Aptidão emocional é um aspecto inerente ao ser humano. O que nos
falta é aprender a lidar com essa dimensão de nosso ser, e saber fazer elo
entre as demais aptidões que possuímos. Se a emoção fosse ensinada nas
instituições como é ensinado o conteúdo instrutivo, provavelmente, seríamos
capazes de nos relacionarmos muito melhor com nossos semelhantes, e
evitaríamos os problemas atuais que assistimos, atônicos, todos os dias,
quando ligamos nossos aparelhos de tevê. Educar deveria estar no lugar de
instruir; e as instituições, por sua vez, estariam desempenhando
verdadeiramente, suas funções.
“É preciso reinsistir em que não se pense que a prática educativa vivida com afetividade e alegria, prescinda da formação científica séria e da clareza política dos educadores ou educadoras. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade cientifica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje”.
(FREIRE, 1996, p. 52)
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Se o professor, em sua prática em sala de aula, conseguir – através
da democracia e do querer bem aos educandos – transformações significativas
que contribuam para o indivíduo e também para a sociedade, estará
desempenhando suas funções pedagógicas no caminho da estimulação e
desenvolvimento, visando a exploração do afetivo com toda a carga que ele
sempre carrega. Apesar de não ser uma tarefa fácil, é gratificante na medida em
que torna um ser cidadão, pronto para concorrer a oportunidades oferecidas a
todos.
As instituições capacitadas, públicas ou privadas, privilegiam o
aspecto cognitivo e o afetivo. Aliando-se uma proposta pedagógica a uma
instituição que promova a ação educativa de maneira eficientes e profissionais
conscientes de que a emoção é o que estabelece o vinculo entre o ser e o
mundo humano, estaremos, todos nós, profissionais docentes, alunos,
funcionários, reitores, diretores, pais, comunidade; caminhando para a tão
buscada solução para uma educação que há muito vem deixando a desejar.
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A escola ou universidade sempre tiveram suas funções voltadas
para provedoras de informações. Entretanto, aos poucos, podem se tornar
cada vez mais estruturas possibilitadoras de atribuição de significados da
informação, ou seja, propiciando aos alunos os meios de buscá-la e analisá-la,
e assim, então, dar significado pessoal a ela.
À instituição de ensino cabe dar condições cognitivas e afetivas para
o aluno poder reordenar e reestruturar sua cultura e seu conhecimento. Junto a
essa função, faz-se necessário que propicie o domínio de linguagens para essa
busca pela informação, e também para a criação da informação.
O desenvolvimento total do ser humano é outra função da instituição
educacional, uma vez que não se consegue separar as áreas inerentes a ela,
como: intelectual, afetiva, física. Enfim, seu desenvolvimento se dá de maneira
uniforme e interligado. E uma área precisa da outra para desenvolver-se, afinal,
ninguém é só afetivamente ou intelectualmente ativo.
Cabe à pedagogia conseguir adequar a escola aos alunos,
atendendo suas expectativas, preenchendo lacunas de cunho cultural e
também social. Não se trata apenas de transmitir conteúdos, é preciso que se
diga para que servem e onde poderão ser utilizados na vida que cada um leva.
A ação pedagógica é, então, o traço de união entre o indivíduo e o social.
“A sociedade está emocionalmente doente – resultado de uma cultura que só apostou no intelecto, relegando ao esquecimento o lado emocional do indivíduo. Num sentido muito verdadeiro, temos duas mentes: a que pensa e a que sente, havendo um forte predomínio das emoções sobre a mente pensante. Nosso desempenho na vida é determinado por essas duas inteligências; na verdade, o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência emocional”.
(GOLEMAN, 1995, p. 22)
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Uma pessoa que cresce num ambiente emocionalmente perturbado terá
dificuldades no seu aprendizado. Se já se sabe que a tranqüilidade se faz
necessária para que a aprendizagem ocorra, como podem as instituições escolares
encher as turmas de alunos, onde o barulho se torna incômodo e o professor
precisa gritar para que o silêncio exista? Esta é a realidade na maioria das escolas e
universidades públicas e particulares. Turmas lotadas, professores cansados e
irritados. E a aprendizagem, onde fica nessa história? Talvez a própria instituição de
ensino precise ser educada, reaprender como fazer, para propiciar tanto o sucesso
na transmissão de conteúdos, como para possibilitar um ambiente saudável, onde
todos se relacionem e troquem experiências de maneira agradável.
A divisão de funções e a hierarquização existente no atual sistema
de educação faz com que nos perdamos e fiquemos confusos quanto a saber a
verdadeira função escolar. Isso só se agrava com o crescente processo de
desqualificação e requalificação do corpo docente. Constantes mudanças nas
metas educacionais, novos conteúdos e teorias exigem cada vez mais do
professor atualização, reciclagem e que esteja aberto à modernidades. Caso
contrário, estará “nadando contra” uma tendência educacional que muito se alia
à globalização, com tecnologias modernas e transformadoras.
Educar é agir politicamente e com ética. Portanto, o êxito se deve e
está ligado a um compromisso consciente e cuidadoso com a comunidade do
qual se está servindo. Sem esse compromisso, provavelmente essa instituição
estará deixando falhas acontecerem ou até mesmo reproduzindo preconceitos,
formas de discriminação e exclusão.
“Agir certo, do ponto de vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação quanto o respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando. Implica o compromisso da educadora com a consciência crítica do educando cuja “promoção” da ingenuidade não se faz automaticamente”.
(FREIRE, 1996, p. 32)
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Então, pensar e agir certo, coloca ao professor e à instituição de ensino, o
dever de não só respeitar os saberes dos educandos, mas também o de possibilitar uma
sala de aula aberta a diálogos, à critica construtiva, onde os alunos possam discutir e
comparar a razão de seus saberes e o ensino de conteúdos.
Há instituições ainda que filtram os conteúdos a serem expostos e ensinados,
pois a elas só interessa o que vier de encontro às suas idéias e regras. Qualquer
informação que difere às suas ideologias é descartada como se não existisse, passando-se
por ela como se fosse insignificante. A causa desse ato de manipulação é contribuição
para exclusão e negação das realidades que fazem parte do mundo que nos rodeia. Se elas
existem, são importantes para a compreensão da vida e seus processos. Esse tipo de
educação doutrinária só interessa à classe dominante, que assim impede o surgimento de
novas realidades transformadoras do caos mundial em que vivemos, tanto na área
educacional, como na social, e principalmente na afetiva.
Um currículo que tenha por objetivo desenvolver cidadania e ética, precisa
optar pela ligação entre os conteúdos, sem fragmentar ou focar somente aspectos de
interesse da classe que detém o poder. O currículo que tem como finalidade a
antidiscriminação é aquele que, antes de tudo, estuda e pesquisa o conhecimento
difundido, propiciando novas linhas de pensamento; valoriza experiências pessoais
novas; é contra preconceitos e pressuposições; trabalha conteúdos pertinentes a classe
menos favorecida, integrando-o aos demais e consegue favorecer uma prática educativa
onde exista dinamismo político, social e nas relações afetivas. A escola e seu currículo
são peças fundamentais na formação dessa consciência cidadã e ética, e por isso,
merecem atenção; e que o trabalho desenvolvido seja sério por parte dos governos e
governantes, e não só dos educadores e profissionais da educação em geral.
Quando fala-se de currículo, muitas vezes produz-se a idéia de que são
conhecimentos definidos, teorias, conceitos, conclusões, enfim, de uma dimensão
intencional, onde não existe flexibilidade e onde se desconsidere aspectos como valores,
atitudes expectativas, talentos, habilidades mais complexas, tomada de decisões e etc.
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Porém, como já foi observado ao longo das pesquisas na área da educação, estas facetas
do desenvolvimento humano, embora não constem nas partes escritas e intencionais dos
planejamentos, são trabalhadas nas instituições, como fica evidente ao analisar-se o
currículo oculto. Se isso acontece, então deveriam constar como conteúdos intencionais
dos currículos, para que possam ser entendidos em seu sentido mais amplo.
Segundo a LDB (1996), a educação é um processo essencialmente
formativo, no sentido reconstrutivo humano, não algo de mero treinamento, ensino,
instrução; e que tal processo de formação tome o aluno como ponto de partida e de
chegada. Enfim, que a educação tenha como ponto de crucial importância a construção
do cidadão.
O professor, por sua vez, a todo momento é bombardeado por novas teorias
educacionais, recursos tecnológicos, necessidades de aperfeiçoamento e reciclagem,
tendo sempre, ao mesmo tempo, que lutar para sobreviver com um salário que não
condiz com seu merecimento; tendo que correr de um emprego a outro para conseguir
levar uma vida dentro dos padrões normais financeiros, sem ostentação. E ainda ter que
se esforçar para, dentro de um sistema educacional irreal, manter o discernimento para
conhecer cada indivíduo em suas particularidades, vivências e questionamentos;
sabendo que ele é o condutor de um processo de aprendizagem e que se falhar, todo o
trabalho fica comprometido e fadado a dar errado. Como então, estabelecer um vínculo
de afeto com seus educandos no meio de um turbilhão de obstáculos que dificultam a
prática docente, desagradando pais, alunos, reitores e criando “buracos” cada vez
maiores no sistema educacional brasileiro?
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No jogo das relações professor-aluno, muitas vezes, o corpo
discente é considerado com uma massa homogênea e indiferenciada. Apenas
alguns tipos de estudantes conseguem escapar do anonimato. São os
universitários que se destacam por serem brilhantes; ou por serem
badaladores; ou então os estudantes rebeldes e críticos. Estes tipos chamam a
atenção do professor por representarem ameaças ou recompensas. Os demais
passam despercebidos numa sala lotada de curso superior, seja qual for a
disciplina ou a universidade.
Porém, se este professor preferir adequar seus métodos didáticos às
diferenças individuais, para enfim conseguir uma aprendizagem mais
satisfatória e um crescimento integral por parte de seus alunos, deverá também
olhar e tratá-los como seres humanos; traçar um trabalho sério, valorizando as
diversidades, estando aberto ao diálogo e à qualificação profissional. É
essencial que, além de todos esses aspectos, conheça também teorias
pedagógicas e de cidadania.
As universidades no Brasil, infelizmente, esqueceram-se da missão
prioritária que as caracterizaram há mais ou menos setenta anos atrás, quando as
primeiras foram criadas em nosso país. Objetivavam produção de conhecimento e
formação de profissionais preocupados com o futuro de nossa nação. Hoje em
dia, voltam-se mais para assuntos burocráticos e políticos, afastando-se cada vez
mais dos laços afetivos entre os que compõem seu espaço físico.
A metodologia utilizada na confecção dos planejamentos deveria
começar tomar medidas para redescobrir as laços que vinculam corpo docente
e discente. Valorizando tanto um quanto outro, estimulando a integração entre
ambos os lados, para que futuramente saiam delas pessoas responsáveis pela
sociedade e por tudo o que acontece à sua volta. Não importa apenas formar.
O que realmente se faz necessário é o aperfeiçoamento do ser humano como
cidadão, levando-se em conta o que isso contribuirá socialmente.
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A inversão desta situação profana onde jovens apenas “usam” a
universidade, sem sentirem-se verdadeiramente a universidade, é algo urgente
no combate à educação bancária. Os jovens não são uma produção em massa
numa linha de montagem de uma fábrica, focada apenas no mercado
financeiro e lucrativo.
As instituições de ensino do futuro, no primeiro mundo, estarão
utilizando como currículos e programas a inteligência, iniciativa e criatividade
humana, ficando a cargo das máquinas tudo que for programável. A tendência
será valorizar as pessoas, suas idéias e realizações, abrindo caminho para a
globalização de experiências e culturas. O que temos, aqui no Brasil, é que
acompanhar tais tendências, criando um ensino modernizado e “antenado” com
teorias revolucionárias e progressistas. Nosso Brasil precisa resgatar os
tempos de progresso e desenvolvimento, e terá que conseguir pelas vias
educacionais. Porém, para que se atinja a competência atual exigida
mundialmente, a metodologia universitária tem que esquecer um pouco o
intelectual, focando mais o emocional a partir da criação de uma pedagogia
afetiva, o canal para troca de experiências se fará existir.
“Crescente conhecimento de si mesmo, dos diferentes recursos que possui, dos limites existentes, das potencialidades a serem otimizadas. Para as Faculdades e Universidades admitir essa dimensão de aprendizagem significa abrir espaços para que sejam expressos e trabalhados a atenção, o respeito, a cooperação, a competitividade, a solidariedade, a segurança pessoal – superando as inseguranças próprias de cada idade e de cada estágio – a valorização da singularidade e das mudanças que venham a ocorrer e um relacionamento cada vez mais adequado com o ambiente externo”.
(MASETTO, 1998, p. 14)
Esta se faz uma das exigências institucionais, ou seja, enxergar o
aluno como um ser completo, que tem funções físicas, cognitivas e intelectuais,
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e também, que agrega e interage num turbilhão de emoções próprias e alheias,
que contribuem e influenciam em seus atos. Essas emoções provocam as
reações, sejam elas negativas ou positivas, alavancando o aprendizado ou
tornando-o difícil.
Ao professor já não basta ser competente em uma determinada área
de conhecimento, se ele não consegue fazer-se entender ou travar em elo
comunicativo entre ele e seus alunos. Essa competência significa, em primeiro
lugar, aplicar conhecimentos aprendidos de uma forma eficaz, clara e
pedagogicamente eficiente, uma vez que, pedagogia é o que falta a maioria
dos profissionais docentes. Muitas vezes, o que vimos, são ótimos profissionais
em diversas áreas, porém que deixam a desejar na execução de uma aula ou
na exposição de um assunto. Os professores universitários, ainda hoje, têm
uma idéia errada de que no curso superior devem comprometer-se à passar
informações e conteúdos científicos, ficando com a função social e de
desenvolvimento de valores e evolução humana, o ensino básico, fundamental.
Ao ensino superior deu-se a missão de propagar conhecimentos, esquecendo-
se que para que sejam absorvidos necessita-se do aspecto emocional e afetivo
do ser humano.
“O currículo abrange também a aprendizagem de habilidades como, por exemplo, trabalhar em equipe e em equipe multidisciplinar, comunicar-se com os colegas e com pessoas de fora de seu ambiente universitário, fazer relatórios, pesquisar em bibliotecas, hemerotecas, videotecas, usar o computador para atividades acadêmicas e profissionais, etc”.
(MASETTO, 1998, p. 21)
Como o autor descreve acima, ser professor e atuar não é tão
simples assim. Não chega estudar ou memorizar um assunto para então entrar
em uma sala de aula, explanar e encerrar o processo ensino-aprendizagem.
Ser docente é muito mais que isso. Necessita devoção, dedicação, emoção; é
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ser completo, com aspectos humanos motores, físicos, sensoriais, mas
também com o amor, gostando de contactar pessoas, criando elos onde a
produção de novas idéias possa fluir e o conteúdo seja ferramenta de
entendimento para as atitudes do homem e da natureza.
Quando um mestre entende que doar-se é receber seus alunos
emocionalmente falando, alia à sua prática um papel que fica esquecido, que é
o da motivação para aprender. Um indivíduo que identifica-se com o professor,
que sente-se próximo a ele, também sente-se seguro para expressar suas
idéias e questionamentos. Valorizando a noção do trabalho em parceria, em
equipe, estará também estimulando condições para a aprendizagem e
compreensão de assuntos acontecer.
É importante possibilitar a participação em sala de aula, como
também a participação no planejamento do curso, das aulas, da avaliação e
técnicas a serem utilizadas. Um ambiente democratizador é o primeiro passo
para a prática educacional ter sucesso e assim o professor alcançar seus
objetivos sem comprometer uma etapa ou outra desse esquema.
A relação professor-aluno, ou não necessariamente nesta ordem,
pode ser também aluno-professor, complementada por aluno-aluno e
professor-professor, ou seja, alunos trocando com alunos suas sugestões,
idéias ou criticas; e professores dialogando com professores para a busca de
soluções ou da melhoria de práticas profissionais docentes.
Se a dimensão social, afetiva e política é imprescindível no exercício
da docência universitária, é imprescindível também que se agreguem aos
currículos um pouco de conhecimento pedagógico e suas técnicas de melhor
ensinar. Que isso aconteça em todos os cursos de formação acadêmica, uma
vez que formado, todo profissional, seja de qual área for, irá lidar com pessoas
e pensamentos, e logicamente, com pessoas e sentimentos.
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Como cidadão conhecedor das necessidades alheias e da
necessidade de transformações a que o mundo é analisado a todo instante,
fica o professor obrigado a estar atento a tudo o que é novo, bom ou ruim,
novos valores emergentes, atualizando-se, abrindo espaço para debates e
discussões sobre novas proposições que afetam a formação e o exercício
profissional.
Conhecendo as teorias e o que as motivou, tentar perceber a que
tempo aconteceram e a que circunstâncias se deram, prever o tempo social e
cultural, como também as emoções que as estimularam, tudo isso, contribui
para fazer o professor mais completo, seguro em suas falas e exposições; e
apto a esclarecer dúvidas que possam surgir em suas salas de aula. Podendo
informar sobre esses aspectos, estará com certeza definindo seu papel como
um formador de profissionais de hoje, e que atendam os próximos anos com
suas exigências.
Os alunos, uma vez à vontade com seus professores, precisam
também expor suas propostas, discutindo o que acham que deveria mudar e
melhorar, abrir os olhos daqueles que acomodaram-se em seu trabalho docente,
deixando claro o que esperam deles e a que objetivam alcançar. Esse intercâmbio
de opiniões é que produz conhecimentos e que favorece o esclarecimento de
pontos obscuros que talvez possam existir no relacionamento professor-aluno.
A harmonia entre professor e aluno pode ser aproveitada não apenas
para amizade, mas também para o desenvolvimento como ser social de cada um
dos envolvidos. O professor aprimora-se em sua prática à medida que aproveita
experiências discentes, e o aluno cresce com informações que lhe forneçam a
possibilidade de uma vida digna, com princípios básicos de sobrevivência e
cidadania, apelando sempre, se possível, para a ética e o senso de bem comum.
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As estratégias empregadas no processo do ensino-aprendizagem
incluem o que se chama de metodologia de sala de aula, técnicas de ensino,
pedagógicas, didáticas, porém sem grandes preocupações em determinar
exatamente o que significam. Na verdade, “estratégias” é tudo o que visa facilitar
a aprendizagem e absorção plena do que é passado nas aulas. Porém, essas
estratégias só são caracterizadas no concreto, ou seja, nos recursos materiais,
no espaço físico e no material humano encarado com uma massa homogênea e
indiferenciada. E as emoções, muitas vezes, responsáveis pelo bom andamento
de todo esse processo, são esquecidas ou ignoradas, para que fique mais fácil
padronizar a educação. Realizando um trabalho desta forma, o professor
esquece também do imprevisto e dos problemas que, porventura, possam
acontecer. E se não pensa nos imprevistos e nos problemas, não estará
preparado para solucionar. Não estará preparado para ser um profissional
abrangente e consciente de seu papel. Quando conhece seu verdadeiro papel
de orientador e dinamizador de um processo de transformação nas pessoas,
estabelece um currículo flexível e aberto às expressões afetivas que,
certamente, irão desbrochando no correr de suas aulas.
“A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios” a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência especializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo”.
(FREIRE, 1983, p. 77)
O professor em sua relação com o aluno, é um parceiro e responsável
pela administração de conflitos. Revelando-se importante como mediador para
delimitação de um espaço, seja ele profissional, social ou simplesmente um
espaço de individuo enquanto componente familiar, estará criando uma
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consciência necessária na trajetória de delimitação do eu. E por mais que as
expressões de afeto sejam ignoradas, estão inseridas num currículo, que oculto,
com certeza, desempenhará sua função de motivador de atitudes e alavanca
para as mudanças que se fazem necessárias na educação de nosso país.
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Embora toda organização curricular do ensino superior no Brasil
estivesse voltada para a transmissão de conhecimentos e experiências
profissionais, a grande preocupação sempre foi encontrar professores
competentes para ensinar, deixando o aluno em segundo plano. No entanto,
novas teorias põem o aluno no centro do processo, e uma vez aceitas, passa-se
para segundo plano então, o professor. O foco voltou-se para o aprendiz.
Conseqüentemente, a prática precisou ser reformulada e professores reciclados.
Porém, ainda hoje, em muitas universidades a consciência que
muitos educadores têm é a de que deva-se privilegiar a transmissão de
conteúdos, num papel ultrapassado de repassadores de informações, em que o
processo ensino-aprendizagem não existe, ignorando séculos de pesquisas
educacionais, como exemplo as de Vygotsky e Piaget.
Quando os professores estiverem bem preparados, entenderão que
formas adultas de afetividade diferem das formas infantis, e que o
desenvolvimento da inteligência implica numa evolução da afetividade. Essa
parceria na evolução é conseqüência da ação recíproca entre ambas no início
da vida. Desse modo, percebe-se que além da inteligência, a afetividade
também evolui. Se evolui, torna-se diferente em diferentes fases humanas. O
que o professor precisa saber para melhorar em sua prática é que afetividade
não quer dizer apenas abraçar, beijar, mas também ouvir, conhecer, conversar
e admirar. Todo um processo de ensino-aprendizagem que inclui também
educação pra os dias de hoje, em que se faz urgente uma consciência de
cidadania e de respeito ao outro.
“O processo de cidadania envolve um processo ideológico de formação de consciência pessoal e social e de reconhecimento desse processo em termos de direitos e deveres. A realização se faz através das lutas contra as discriminações, da abolição de barreiras segregativas entre indivíduos e contra as opressões e tratamentos desiguais, ou
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seja, pela extensão das mesmas condições de acesso às políticas públicas e pela participação de todos na tomada de decisões”.
(VEIGA,: 1998, p. 53)
Cabe à prática educativa levar o educando a entender-se como
indivíduo e como parte da sociedade, porém, se essa prática for falha, o
processo ficará incompleto e as reflexões que poderiam ser propostas não
acontecerão. Com o apoio de informações teóricas sobre as características do
comportamento humano com um todo e usando sua capacidade de análise
reflexiva, o professor deve buscar identificar nos fatores implicados em cada
situação, aqueles que agem como combustíveis para o aprender e os que
impedem esse processo de acontecer.
O educador competente tem que ser exigente. Tem que perguntar-
se insistentemente: o que é educação? Para que serve a educação? Para
quem educar? Por que educar? Estas questões devem estar presentes no
cotidiano dos professores e alunos também. É preciso pensar na relevância da
atuação do profissional que é intermediário entre o aprendiz e a realidade, e a
partir daí, transformar ou ajudar na transformação desta realidade. Cabe ao
professor mediar uma comunicação entre aluno e o mundo à sua volta, e não
com ele, professor. Por meio dele sim, ou seja, pela relação professor-aluno,
entender o mundo.
Admitindo-se que ação pedagógica não se reduz a componentes
técnico-práticos, nem psicológicos e nem sóciopolíticos, e sim uma totalidade
que abrange e integra todos esses componentes e outros, assume-se que o
trabalho docente é um conjunto de condições: sociais, biológicas, psicológicas,
econômicas, que complementam o ato de educar. Então, é importante que as
experiências da prática dos alunos também sejam levadas em consideração,
havendo sua participação na formação dos conteúdos das aulas.
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Se o trabalho docente consiste numa atividade mediadora entre o
individual e o social, entre o aluno e a cultura social, consiste então na mediação
entre o aluno e as matérias a serem estudadas. Mas trata-se também de
desempenhar esse trabalho da melhor maneira, e para que isso ocorra, é
preciso que hajam meios didáticos de estímulo ao aprendizado, como de
metodologia flexível que atenda a situações inesperadas em sala de aula.
“O trabalho docente constitui-se, portanto, de um processo também duplo: continuidade da experiência já trazida pelo aluno (experiência fragmentada, senso comum) e ruptura dessa experiência para elevá-lo a uma visão mais elaborada do conhecimento. A ruptura, empreendida pela mediação do professor, provoca um balanço do saber preexistente, visando atingir um plano mais alto do processo cultural. O trabalho docente assume, assim, uma função retificadora do saber prévio trazido pelo aluno, que é inadequado (anacrônico), face aos graus mais elevados de conhecimentos exigidos pela sociedade. Isso significa que o processo de aprendizagem tem, inicialmente, de ser significativo para o aluno, aproximar-se de suas motivações, mas, em seguida, deve acentuar seu caráter racional, ou seja, centrar-se no exercício intelectual, no esforço de compreensão, no uso de procedimentos lógicos”.
(LIBÂNEO, 1985, p. 144)
Criando condições para que a informação seja entendida e
organizando estratégias para que o aluno se veja inserido no grupo, está
contribuindo, o professor, para uma consciência de responsabilidade social que
lhe permita formular problemas e questões que de algum modo o interessem, o
envolvam ou que lhe digam respeito.
O modo de agir do professor em sala de aula fundamenta-se numa
determinada concepção do papel do professor, que por sua vez, reflete valores
e padrões da sociedade. Já houve tempo em que as expectativas com relação
ao papel do professor eram claras e homogêneas, definindo um padrão
uniformizado de ação. Hoje, a pouca coincidência das expectativas; a
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percepção de que o relacionamento em sala de aula é reprodução, guardadas
certas proporções das relações complexas e ambíguas que existem na
sociedade contemporânea; a compreensão mais aprofundada do
desenvolvimento do aluno; a exigência de que a escola com seus cursos se
insira verdadeiramente na vida, nos problemas, na realidade da sociedade;
estes e outros fatores semelhantes contribuem para que a ação do professor
em sala de aula se torne cada vez mais complexa.
Por outro lado, o processo educativo possui um caráter de controle
social, determinando que as relações professor-aluno sejam de autoridade-
subordinação, não no sentido de uma didática de coerção, mas no sentido de
que cabe, primeiramente ao professor, como agente controlador na educação
sistemática, tomar decisões e saber para que estruturar a situação de ensino
em sala de aula. Além disso, o relacionamento de um professor com seus
alunos pressupõem o modo como o professor se relaciona com a cultura:
alguns de vêem como conservadores de uma cultura, outros como
aperfeiçoadores, e outros como convivendo apenas com ela.
O certo é que todos esses elementos condicionam formas de
relacionamento que, por sua vez, produzem tipos diferentes de ação em sala
de aula.
Ao estabelecer certas etapas de como atuar em sua pratica docente,
o professor pode também favorecer o relacionamento com seus alunos. São
eles:
• Relacionar a unidade aplicada às experiências dos alunos ajuda-
os a descobrirem os inter-relacionamentos da matéria;
• Evitar assuntos fora do conteúdo;
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• Demonstrar que há várias explicações para o mesmo fenômeno
observado;
• Usar aulas expositivas apenas quando esta é um meio eficaz para
alcançar seus objetivos;
• Favorecer situações nas quais o aluno se sinta à vontade para
expressar seus sentimentos;
• Tentar evitar que poucos alunos monopolizem a discussão;
• Compartilhar com a classe a busca de soluções para questões
surgidas em sala;
• Expressar aprovação pelo aluno que ajuda os outros;
• Respeitar e fazer respeitar diferenças de opinião;
• Usar vocabulário facilmente compreendido pela classe;
• Expressar aprovação pelo aluno que tem iniciativa.
Enfim, o professor democrático e que foca sua aula no aluno e em
sua aprendizagem, dentre outros procedimentos somados a esses, enriquece
sua prática e aproxima-se da verdadeira função docente.
Além de possuir conhecimento sobre os aspectos cognitivos-
emocionais e sociais de seus alunos, cabe ao profissional docente se manter
atualizado às novas descobertas tecnológicas, uma vez que, em tempos de
globalização tudo chega-nos mais rápido dos grandes pólos de
desenvolvimento tecnológico.
Na área da informática e da telecomunicação há uma revolução de
novos produtos, mecanismos computadorizados que exploram novos
conhecimentos. Esse desenvolvimento todo exige de todos nós capacitação e
adaptação, se quisermos continuar no mercado de trabalho. Por isso, a idéia
de um profissional cada vez mais dinâmico e aberto ao novo, é reforçada,
empurrando as pessoas para as instituições de ensino, cursos, palestras,
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seminários, etc. Não só a docência se vê num momento de corrida a
reciclagem, mas todas as áreas do mercado de trabalho vão em busca desse
suprimento cultural.
“O mais importante será repensar o papel e a função da educação escolar (dos cursos de graduação do ensino superior): seu foco, sua finalidade, seus valores. A tecnologia será importante, mas principalmente por que nos forçará a fazer coisas novas, e não porque permitirá que façamos melhor as coisas velhas”.
(MASETTO, 1998, p. 17)
A revisão dos currículos universitários é uma medida a ser tomada
no esforço de se conseguir acompanhar a enxurrada de novos conhecimentos
e recursos a que todo dia somos testemunhas. Alterando currículos e
adequando-os aos novos perfis das carreiras, facilitará o melhor atendimento
das instituições por parte dos alunos e também dos professores.
É fundamental que, além de todas essas medidas modernas e
atuais, o profissional de educação seja capaz de perceber que o currículo
completo e eficiente é o que propicia o desenvolvimento cognitivo, porém, sem
afastá-lo de uma visão do homem como um ser complexo, que precisa ser
cidadão, trabalhador, fazendo parte de um povo, tendo cultura, anseios,
vontades e necessidades afetivas para seu pleno crescimento como pessoa.
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CONCLUSÃO
A contribuição da escola para um mundo menos violento é algo
inegável. Sua força é grande, quando favorece o desabrochar de talentos,
quando forma cidadãos, transmitindo informações e valores éticos.
Ignorada pelos estudiosos durante um bom tempo, a teoria afetiva
vem à tona nos dias atuais com força total para alavancar pesquisas e estudos;
e comprovando que aprender é sentir, perceber, tocar, humanizar-se com o
que nos rodeia, e também com quem nos rodeia.
Sabe-se que as relações afetivas são motivo de agregações.
Agregações, por sua vez, são criadoras de atritos e questões, de onde surge a
problematização. Problematizar, por sua vez, é o passo inicial em busca de
respostas. O ser humano, então, desde os primórdios, cria seus conhecimentos
guiados pelo que sente, é o afeto que o faz agir. Ou seja, a emoção é inerente
a nós, e é o que nos mantêm vivos e convivendo.
Este estudo veio mostrar que, se o afeto faz-se presente em todos os
movimentos, pode-se dizer que onde não há afeto e emoção não há ser humano.
“Uma das qualidades mais importantes do homem e da mulher nova é a certeza que têm de que não podem parar de caminhar, e a certeza de que cedo o novo fica velho se não se renovar. A educação das crianças, dos jovens e dos adultos tem uma importância muito grande na formação do homem novo e da mulher nova. Ela tem de ser uma educação nova também, que estamos procurando pôr em prática de acordo com as nossas possibilidades”.
(FREIRE, 1996, p. 59)
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Paulo Freire, quando diz que a educação tem que ser nova, quer
dizer que a educação tem que renovar para funcionar e alcançar os seus
objetivos. Se o homem pretende ser um homem novo, precisa começar pela
educação. Melhorando a educação, melhora o ser humano e melhora o mundo.
E essa forma renovada de educar, é a forma que valoriza o afeto, que enxerga
por dentro das pessoas, que entende suas carências e onde preenchê-las.
A educação para esse novo milênio será a da busca pelo resgate
emocional nas instituições escolares. O professor aprendendo sobre si, sobre
seu aluno e sua prática, numa união que consiga ser guiada pelo amor: amor
ao trabalho; amor ao mundo e às pessoas.
Na verdade, educar é um ato de amor. A quem queremos bem,
oferecemos o melhor, e a partir do momento que as instituições ensinarem
sobre o afeto, teremos pessoas mais felizes, escolas mais democráticas e um
mundo que valorize cada um pelo que é e faz; e não pelo que possui.
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41
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas
Pós-Graduação “Latu Sensu”
Título da Monografia
O VÍNCULO AFETIVO EM SALA DE AULA
Data da Entrega: ________________ Avaliado por: Mary Sue de Carvalho Pereira Grau: ________
Rio de Janeiro, ____ de _____________ de ____
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Coordenação do Curso