universidade candido mendes prÓ-reitoria de … mendes marques.pdf · 1.2 − pensamento e...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
LINGUAGEM ESCRITA.
UMA PODEROSA FERRAMENTA PARA O CIDADÃO.
SANDRA MENDES MARQUES
ORIENTADOR:
Profª. Diva Nereida Marques Machado Maranhão
Rio de Janeiro, março de 2004.
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
LINGUAGEM ESCRITA:
UMA PODEROSA FERRAMENTA PARA O CIDADÃO
Por:
Sandra Mendes Marques
Monografia apresentada à Universidade
Candido Mendes como requisito do curso
de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Docência do Ensino Superior.
Rio de Janeiro, Março de 2004
Agradeço a todos que colaboraram
para realização deste trabalho.
Dedico este trabalho aos meus
familiares que sempre estiveram ao meu
lado, me apoiando e incentivando.
“O homem é um ser que se
criou ao criar uma linguagem.”
(Octavio Paz)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 8
Capítulo I
O PENSAMENTO DE VIGOTSKY ..................................................... 11
1.1 − A evolução da escrita na criança ........................................................... 11
1.2 − Pensamento e Linguagem ...................................................................... 12
1.2.1 − Pressupostos Epistemológicos do Pensamento ............................... 13
1.2.2 − Pressupostos Epistemológicos da Linguagem ................................ 16
Capítulo II
A ARTE DE LER E ESCREVER .................................................................. 23
2.1 − Pioneiros da promoção da leitura ........................................................... 24
2.1.1 − Biblioteca Pública ...................................................................... 24
2.1.2 − A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ .............. 30
2.1.3 − A diversidade dos promotores de leitura ....................................... 35
2.1.4 − Associação de Leitura do Brasil - ALB ......................................... 35
2.1.5 − Os artistas do livro .................................................................... 36
2.2 − Mídia e Leitura ................................................................................... 37
2.2.1 − As televisões ........................................................................... 37
2.2.2 − Os jornais .............................................................................. 38
2.3 − Paixão de ler ....................................................................................... 39
2.4 − A dimensão política da leitura ............................................................. 40
Capítulo III
COMO ESCREVER BEM ........................................................................... 42
CONCLUSÃO ............................................................................................. 49
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 52
ANEXO ....................................................................................................... 58
RESUMO
Saber escrever bem é essencial para quem quer ter sucesso, principalmente
na profissão.
De acordo com a professora de Língua Portuguesa Wânia Aragão: “A
Linguagem escrita não foi ressuscitada para a proliferação de gênios da literatura. A
redação renasceu para que as novas gerações se habituassem a pensar”.
Segundo Vygotsky para compreender o desenvolvimento da escrita na criança
é necessário o que ele chama de “a pré-história da linguagem escrita”, isto é, o que se passa
com a criança antes de ser submetida a processos deliberados de alfabetização.
Os grandes escritores afirmam que para uma boa evolução da linguagem
escrita é necessário estimular a leitura na criança.
A professora Lygia Fagundes Telles diz que: “O único caminho é ler, ler e
ler. Ler os clássicos, perceber por que Machado de
Assis é vivo até hoje. Essa é a única salvação para a formação de um jovem. Sabendo
interpretar o que lê, o estudante saberá organizar suas idéias e produzir um bom texto. O
resto é conversa, falsa teoria”.
Luís Fernando Veríssimo declarou em uma reportagem para revista época:
“Ler muito para ver como diversos autores escrevem é um bom começo para aprender a
redigir um texto. O que não se pode desprezar também é a prática constante da escrita,
sempre com a preocupação da clareza. Resumir ajuda muito a praticar a concisão.”
8
INTRODUÇÃO
“Toda vez que uma pessoa escreve, revela um pouco de si”.
A linguagem escrita foi um enorme avanço para a civilização pois
através dela é possível compor com segurança a história, permitindo até uma
revelação pessoal.
Chamamos de escrita, todo o sistema gráfico de notações da
linguagem verbal, ou seja, toda representação de palavras ou idéias por meio de
símbolos gráficos.
A evolução que deu origem à escrita foi a evocação de idéias ou
pensamentos de um signo que representasse uma só e determinada palavra.
Dessa relação signo-palavra, passaram a significar idéias associadas.
Segundo Luria (1987:201), a palavra é considerada a 'célula da
linguagem', ou seja, o elemento fundamental da linguagem, em
9
razão da palavra designar as coisas, individualizar suas características,
designar ações, relações e reunir objetos em determinados sistemas.
A palavra é o instrumento mais importante na formação da
consciência. Apoiando-se na tese fundamental de Vygotsky, a palavra é o
'microcosmo' da consciência.
Porém é preciso saber utilizá-la de forma correta e adequada.
Escrever bem é, simultaneamente, arte e ciência. Exige talento mas também a
assimilação de técnicas, regras e, às vezes, truques. Mas o que fazer para
escrever bem ?
Uma redação bem escrita convida à leitura, pois além de concisa,
deve-se apoiar em argumentos consistentes. Quando os quesitos da boa
linguagem escrita são atendidos, a mensagem foi transmitida com eficácia.
O objetivo deste trabalho é o de demonstrar a importância da
linguagem escrita; uma poderosa “ferramenta” que faz com que os
10
indivíduos sejam capazes de se comunicarem com eficiência.
O primeiro capítulo abordará sobre a evolução da escrita na criança
e fará uma análise da relação entre o pensamento e linguagem. Para o psicólogo
Vygostky, estas funções estão intimamente ligadas.
O segundo capítulo é sobre a arte de ler e escrever, requisitos
fundamentais para aprender a desenvolver um bom texto, pois apropriar-se
destas artes é garantia de autonomia e cidadania.
No último capítulo, como escrever bem, com dicas de alguns
especialistas, procurando demonstrar a importância de escrever e expressar-se
corretamente, o que permite ao indivíduo tornar-se mais ágil e objetivo. Esses
são atributos fundamentais para o sucesso da vida profissional. A comunicação e
o domínio da língua são os verdadeiros “cartões de visita” do indivíduo.
11
Capítulo I
O PENSAMENTO DE VIGOTSKY
1.1 − A EVOLUÇÃO DA ESCRITA NA CRIANÇA
A questão da evolução da escrita na criança é bastante importante
no conjunto das colocações de VIGOTSKY. Coerente com sua concepção sobre
o desenvolvimento psicológico em geral, ele tem um abordagem genérica da
escrita: preocupa-se com o processo de sua aquisição, o qual se inicia antes da
entrada da criança na escola e se estende por muitos anos. Considera, então, que
para compreender o desenvolvimento da escrita na criança é necessário o que ele
chama de “a pré-história da linguagem escrita”, isto é, o que se passa com a
criança antes de ser submetida a processos deliberados de alfabetização.
Como a escrita é uma função culturalmente mediada, a criança que
se desenvolve numa cultura letrada está exposta aos diferentes usos da
linguagem escrita e a seu formato, tendo diferentes concepções a respeito desse
objeto cultural ao longo de seu desenvolvimento. A principal condição
necessária para que uma criança
12
seja capaz de compreender adequadamente o funcionamento da língua escrita é
que ela descubra que a língua escrita é um sistema de signos que não têm
significado em si. Os signos representam outra realidade; isto é, o que se escreve
tem uma função instrumental, funciona como um suporte para a memória e a
transmissão de idéias e conceitos.
1.2 − PENSAMENTO E LINGUAGEM
Para o psicólogo bielo-russo Lev Semjonovitsch VYGOTSKY
(1993:15), a análise do pensamento e da linguagem refere-se às relações entre
"...diferentes funções psíquicas, entre diferentes classes de atividades da
consciência". O aspecto central desta questão é a "relação entre o pensamento
e a palavra".
Segundo VYGOTSKY, o pensamento é o reflexo generalizado da
realidade transmitido através da palavra. A palavra é o 'microcosmo' da
consciência, aquilo em que ela se reflete, como o universo se reflete no átomo.
O pensamento e a linguagem têm raízes genéticas distintas
13
e se sintetizam dialeticamente no desenvolvimento cognitivo, quando, nesse
processo, a linguagem se converte em pensamento e o pensamento em
linguagem. A linguagem atua sobre a organização do pensamento e sobre a
maneira de pensar do homem, organizando o pensamento e o estruturando
convenientemente.
1.2.1 − Pressupostos Epistemológicos do Pensamento
O pensamento não é formado por unidades separadas como
acontece com a linguagem. A citação abaixo pode oferecer um ponto de partida
para a caracterização do pensamento e a análise desta idéia:
" Quando desejo comunicar o pensamento de que hoje vi um menino
descalço, com uma camisa azul, correndo pela rua, não vejo cada aspecto de
forma separada: o menino, a camisa, a cor azul, a corrida e a falta de sapatos.
Concebo tudo isso em um só pensamento, porém, o expresso em palavras
separadas".
(VYGOTSKY, apud RIVIERE, 1984:85)
O pressuposto implícito nesta afirmação de VYGOTSKY,
14
nos leva a inferir que o pensamento é o reflexo generalizado da realidade
e a generalização se efetua por meio da linguagem. O pensamento sobre algo
concreto está unido inseparavelmente ao pensamento sobre algo geral, enquanto
a palavra é uma abstração.
O homem " ... quando separa o geral, o denomina com palavras e o
conecta com os objetos e fenômenos que têm uma característica geral"
(SHEMIAKIN, 1969:233). Para este autor, a palavra é sinal de objetos
diferentes, mas que ao mesmo tempo têm entre si alguns caracteres gerais, como
por exemplo a palavra 'árvore'. Nela estão contidas todas as árvores, seja de que
natureza forem; independentes das particularidades e características, todas elas
têm uns caracteres que são gerais. As palavras 'redondo', 'vermelho', 'ligeiro', se
conectam com distintos objetos que têm caracteres gerais aos que se referem
estas palavras.
Entretanto, ao generalizar os objetos e fenômenos da realidade por
meio da palavra, o homem supera as percepções e as sensações, em razão
de que a extensão daquilo sobre o que pensa ser
15
maior que a extensão daquilo que percebe. Pensando por meio da palavra pode-
se alcançar aquilo que em geral é inacessível à percepção e à
representação. Ao generalizar, o homem tem possibilidade de tirar conclusões
sobre aquilo que não percebe imediatamente.
No processo de pensamento, o homem ultrapassa a percepção que
obtém da realidade; passa a conhecê-la com mais exatidão
e profundidade quando atinge o geral que existe nos objetos e fenômenos,
resultado das conexões reais e essenciais entre eles. No entanto, o pensamento
está dialeticamente ligado ao conhecimento sensorial. Este, por sua vez, é a
fonte principal dos conhecimentos que o homem adquire do mundo da natureza
e do mundo da cultura.
Assim, o ponto de partida do ato de pensar é sempre a percepção do
conhecimento particular; quando generaliza o homem descobre o que existe de
geral nos objetos e fenômenos reais isolados. Numa tentativa de dar uma
conceituação ampla do pensamento, LEONTIEV e outros (1969:235), assim se
expressam:
16
"... O pensamento pode ser definido como reflexo generalizado da
realidade no cérebro humano, realizado por meio da palavra, assim como os
conhecimentos anteriores estão ligados estreitamente ao conhecimento
sensorial do mundo e com a atividade prática dos homens".
1.2.2 − Pressupostos Epistemológicos da Linguagem
A Linguagem, para LURIA, (1987:25-27), é um complexo sistema
de códigos que designam objetos, características, ações ou relações; códigos que
possuem a função de transmitir informações e que são formados no curso da
história social.
Como resultado da história social diz LURIA, (1987:22):
"a linguagem transformou-se em instrumento decisivo do conhecimento
humano, graças ao qual o homem pode separar o limite da experiência
sensorial, individualizar as categorias dos fenômenos, formular determinadas
generalizações ou categorias. Pode-se dizer que, sem o trabalho e a
linguagem, no homem não se teria formado o pensamento abstrato 'categorial'
".
17
Nesse sentido, a linguagem pode ser considerada como o meio mais
importante no desenvolvimento e formação dos processos cognitivos e da
consciência do homem.
A palavra, para LURIA, é considerada a 'célula da linguagem', ou
seja, o elemento fundamental da linguagem, em razão da palavra designar as
coisas, individualizar suas características, designar ações, relações e reunir
objetos em determinados sistemas.
"A palavra pode não somente substituir o objeto e designar a ação, a
qualidade ou a relação, mas também analisar os objetos, generalizá-los,
organizar o material percebido em um determinado sistema".
(LURIA, (1987:201)
Para este autor, a palavra é o instrumento mais importante na
formação da consciência e o elo relevante da passagem do conhecimento
sensorial ao racional. Apoiando-se na tese fundamental de VYGOTSKY,
LURIA (1987:201) complementa sua posição afirmando que "...as origens do
pensamento abstrato e do comportamento categorial, que provocam um salto do
sensorial ao racional, devem ser buscadas nem
18
dentro da consciência nem dentro do cérebro, mas sim fora, nas formas sociais
da experiência histórica do homem" .
A função essencial da linguagem é a comunicação. A verdadeira
comunicação humana, diz VYGOTSKY (1987:5):
"... pressupõe uma atitude generalizante, que constitui um estágio
avançado do desenvolvimento da palavra. As formas mais elevadas da
comunicação humana são possíveis porque o pensamento do homem reflete
uma realidade conceitualizada".
A linguagem possui, assim, características que podem ser assim
definidas: Universalidade, ou seja, é uma faculdade humana universal; Função
de comunicação entre os membros de uma comunidade social; Caráter abstrato:
a linguagem é uma abstração, pois consiste numa operação mental através da
qual os homens se comunicam entre si e promovem a análise do real.
Apesar das características da linguagem acima definidas, seus
componentes essenciais não podem ser tomados como uma conexão
19
mecânica. Pelo contrário, deve existir uma relação dialética entre os fatores
cognitivos, sociais e afetivos. Existe, pois, um processo relacional profundo
entre a linguagem, o pensamento e a cognição.
Esse processo relacional se dá, portanto, com o desenvolvimento
biológico e histórico-cultural do homem. Dessa forma, existe uma interação
contínua, processual e sucedânea entre a base biológica do comportamento
humano e as condições sociais. Essa interação contínua e processual provoca, no
ser humano em geral, a formação de novas e complexas funções mentais,
mediadas pela natureza das experiências sociais que envolvem a prática social
cotidiana do homem.
Neste ideário educativo a pedagogia da linguagem deve ter o
compromisso de promover o ensino da linguagem, tendo como ponto de
referência o princípio de que "... o processo de transmissão e assimilação dos
conhecimentos sistematizados tenha como ponto de partida as
realidades locais, a experiência de vida dos alunos e suas características sócio-
culturais". (LIBÂNEO, 1991:37).
20
O domínio da leitura e da escrita são capacidades educativas
imprescindíveis para que o educando possa expressar suas idéias e sentimentos,
aperfeiçoar progressivamente suas potencialidades cognitivas e alcançar maior
compreensão da realidade social, ou seja, uma forma de "conquistar sua
liberdade intelectual e política". (ibid,1991:43).
O ensino da linguagem, nesta proposta, deve estruturar-se
considerando o retrato sócio-cultural dos alunos e promovido em situações
sociais e de ação. Ação que não ocorre fora das situações sociais, assim, o aluno
deve ser incentivado a falar e a escrever aproveitando essas situações. Ao
mesmo tempo em que conhece e utiliza a língua, o aluno a emprega na análise
da situação social, objeto de aprendizagem da língua.
A pedagogia da linguagem não deve apenas se limitar a ensinar os
conteúdos lingüísticos com um fim em si mesmo. A sua tarefa deve ir além,
deve propiciar a formação de conceitos com os quais os alunos possam pensar e
desenvolver a capacidade de analisar, generalizar e assimilar formas mais
complexas de reflexão sobre os fenômenos da
21
realidade; de organizar de uma nova maneira a percepção e a memória; de
adquirir a capacidade de tirar conclusões das suas próprias observações;
de conquistar todas as potencialidades do pensamento.
Com estas proposições é que a pedagogia da linguagem deverá ser
inserida nos ambientes telemáticos.
Para cumprir sua função otimizadora no ambiente escolar uma
proposta pedagógica, que utilize ambientes telemáticos, tendo em vista a
superação das dificuldades de aprendizagem de crianças no período de
alfabetização, deverá conter em seu planejamento atividades que contemplem os
interesses das crianças, utilizando os recursos e ferramentas existentes em rede
que viabilizem interações síncronas e assíncronas em ambientes texto e gráficos.
Propor a produção de trabalhos cooperativos e colaborativos com os
colegas, amigos de outras escolas e de outras cidades e com seus professores a
fim de criarem textos coletivos como histórias, poesias, desenvolver pesquisas,
etc.
22
A escrita e a leitura são organizadas como atividades que têm por
objetivo a comunicação, não sendo apenas um exercício para ser
avaliado pelo professor.
Em resumo, o ensino da escrita inserido em um contexto
significativo, funcional, desafiador e com objetivos que atendam aos interesses e
expectativas das crianças, tem mostrado mudanças positivas no que diz respeito
às atitudes destas criança em relação à própria escrita e conseqüentemente na
aquisição de conhecimentos das outras áreas, como ciências, matemática,
estudos sociais, música, artes, esportes, bem como a ampliação de seu universo
cultural e social.
Para ser um bom leitor é fundamental conhecer bem as palavras e
saber interpretá-las. A seguir abordaremos sobre a arte de ler e escrever.
23
Capítulo II
A ARTE DE LER E ESCREVER
O acesso democrático à leitura e à escrita é a conquista mais
poderosa que os povos de todos os países devem almejar. Apropriar-se da arte
de escrever e ler é garantia de autonomia e cidadania.
"A arte de ler e de escrever foi durante milhares de anos monopólio
sagrado de pequenas elites. Por volta de 1750, no dealbar da revolução
industrial, haviam decorrido quase 5 mil anos sobre o aparecimento dos
primeiros rudimentos da arte da escrita. Contudo, mais de 90% da população
mundial não tinham acesso à arte."
(SERRA, Elisabeth D’Angelo in Ensino da Leitura I,
Ed. Stampa, Portugal, 1973)
A leitura e a escrita ainda não são bens culturais plenamente
desejados e compreendidos pela sociedade brasileira que desconhece suas
abrangências como instrumentos de cidadania e como direito individual.
24
A sociedade brasileira, que emerge neste início do novo milênio
como uma nação que vem discutindo e enfrentando variados e sérios problemas
de maneira dinâmica e criadora, deverá, para ampliar e consolidar suas
conquistas, desejar e buscar todos os meios para vir a ser uma sociedade de
cidadãos autônomos, críticos e criadores, como leitores e escritores.
Assim, as condições de acesso crítico ao texto escrito possibilitando
a existência de um leitor ativo que dialogue criadoramente com o texto, a ponto
de essa leitura interferir em sua vida, pressupõem uma rede complexa de inter-
relações que vão da questão macroeconômica, social, educacional e cultural, até
à micropessoal.
2.1 − PIONEIROS DA PROMOÇÃO DA LEITURA
2.1.1 − Biblioteca Pública
A partir da idéia de que o acesso democrático ao material escrito é
condição básica para o incentivo à leitura, a biblioteca pública
25
apresenta-se como o espaço de sua realização e deve ser compreendida como
um direito do cidadão. Considerando-a como o símbolo institucional de
promoção da leitura, vale aqui um pequeno flash da história da biblioteca
pública no Brasil.
A primeira biblioteca pública foi a da Bahia, fundada em 1811 que,
salientamos, "não se efetivou através de uma iniciativa governamental. Ela foi
criada por iniciativa dos cidadãos".
A segunda biblioteca pública foi a do Maranhão, fundada 18 anos
mais tarde, em 1829 e aberta oficialmente ao público em 1831. Mais 19 anos se
passaram até surgir a terceira biblioteca pública do país, a de Sergipe. Ainda no
século XlX foram inauguradas mais 12 bibliotecas públicas sendo, uma delas, a
do Rio de Janeiro, em 1873.
No século XX, foram criadas mais 14 bibliotecas públicas estaduais
e, até 1969, outras oito. A Biblioteca Municipal de São Paulo, atual Biblioteca
Municipal Mário de Andrade, foi inaugurada somente em 1926.
26
Com cerca de 5.800 Municípios, há atualmente no Brasil,
aproximadamente 3.900 bibliotecas públicas. Para atender à população brasileira
estima-se que seriam necessárias, 10 mil bibliotecas públicas. O Ministério da
Cultura já iniciou sua ação no sentido de criar as condições necessárias para a
mobilização dos prefeitos e empresários em torno da necessidade de expandir o
número dessas bibliotecas.
Por outro lado, a biblioteca pública é um serviço que deve ser
desejado pela população. Entender a sua necessidade, como entender a
necessidade de leitura, é uma questão cultural, parte de um processo integrado à
educação do qual a maioria dos brasileiros, como já afirmamos, está excluída.
Acreditamos que brevemente a situação possa ser revertida através de algumas
ações desenvolvidas pelos atuais Ministérios da Educação e do Desporto e o da
Cultura, para o enfrentamento do problema.
Tem-se notícia de que muitas bibliotecas públicas desenvolveram, e
algumas ainda desenvolvem, projetos e atividades de promoção da leitura. A
maioria, porém, não conseguiu ter apoio político e
27
financeiro para dar prosseguimento a essas ações pioneiras. Faltam movimentos
pela defesa da instituição que nunca foi uma demanda social. As classes mais
privilegiadas por sua vez, sempre dispuseram de acervos particulares, não,
investindo assim na biblioteca pública. Por isto, a biblioteconomia brasileira tem
sua excelência nas bibliotecas empresariais ou universitárias. A universidade,
cujo maior tesouro é a sua biblioteca, é omissa na reivindicação de bibliotecas
públicas para a população como um dos serviços básicos para a construção da
cidadania.
A biblioteca pública, nem sempre adequadamente prestigiada pelo
poder público e pelas elites e sem ser desejada pela população, muitas vezes não
teve, historicamente, o reconhecimento necessário que justificasse o
investimento público na formação de quadros especializados
e na ampliação do número de seus profissionais. Com o recente enfoque
governamental dado à biblioteca esperamos que o mercado de trabalho passe a
demandar bibliotecários.
A escola pública, por sua vez, tem um papel importante quanto a
criar uma cultura de valorização das bibliotecas públicas. Como
28
uma das formadoras das bases de uma sociedade leitora, seu trabalho não
é só o de oferecer um contato mais freqüente e sistemático com o texto escrito,
com o livro, mas iniciar o aluno, através da biblioteca escolar, na
prática social de partilhar acervos, ensinando-lhe a importância da biblioteca
para que, quando adulto, passe a desejá-la e exigi-la. Ou seja, é necessário que se
introduza a biblioteca na vida da população desde cedo, por meio de campanhas
educativas e esclarecedoras sobre o papel por ela representado, e que a escola a
incorpore ao seu universo cultural.
A ausência desse material, no dia-a-dia das pessoas, na verdade, é o
empecilho mais concreto para a construção de uma sociedade leitora. Ser leitor
não é uma questão de opção, mas de oportunidade. Hoje, é verdade, essa imensa
maioria tem mais acesso à palavra escrita do que antes, seja através da escola, ou
dos produtos de consumo e dos meios de comunicação. Até na televisão,
essencialmente imagem, ela está presente em anúncios, títulos dos programas,
lista de créditos. Porém, esses contatos com o texto escrito limitam-se a mera
identificação, não levando à leitura crítica e reflexiva, o que pode criar as
condições de transformação da realidade.
29
Os textos que podem levar à reflexão sobre a vida e suas relações
são, principalmente, os de literatura, que exigem, para serem apreciados e
aproveitados, motivação e um longo caminho de dedicação
do leitor.
Com as carências materiais da sociedade brasileira, comprar livros é
uma das últimas prioridades na escala de importância de aquisição de bens.
Livros de literatura não têm valor, pois a maioria desconhece sua função social.
Portanto, criar condições de acesso à leitura é também criar as
condições de acesso aos vários textos escritos (inclusive à literatura que, por sua
vez, deve ser valorizada desde cedo pela escola e pela família). Sem condições
para constituir a biblioteca pessoal, o lugar desse
acesso é a biblioteca pública.
30
2.1.2 − A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ
Em 1968, a convite do International Board on Books for Young
People - IBBY, órgão consultivo da UNESCO para a promoção da leitura e
divulgação do livro infantil e juvenil de qualidade, é criada a sua seção
brasileira, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil -
FNLIJ, instituição não-governamental, sem fins lucrativos.
Em um momento difícil da nossa história, educadores, artistas e
editores brasileiros criaram a FNLIJ com o olho no futuro. É a primeira
instituição nacional a ter como objetivo estatutário a promoção da leitura, ao
lado da divulgação do livro infantil e juvenil de qualidade. Os primeiros anos da
FNLIJ foram dedicados a levantar e analisar qualitativamente a produção
cultural brasileira para crianças e jovens, com prioridade para o livro.
O Prêmio FNLIJ foi instituído, a partir de 1974. Com seus
prêmios, a FNLIJ estimulou a qualidade na produção brasileira para crianças e
jovens que hoje representa uma importante fatia do mercado
31
editorial brasileiro, maior que a produção literária para adulto.
Ainda em 1974, a FNLIJ promoveu, com apoio do MEC, o 14°
Congresso do IBBY, trazendo ao Brasil especialistas internacionais. Esse
Congresso foi um marco na história da promoção da leitura no País,
direcionando para a área muitos professores brasileiros.
Em 1982, foi criado o primeiro projeto nacional de leitura que levou
até as mais carentes escolas públicas, do ensino fundamental, livros de literatura
infantil e juvenil de qualidade. Também, pioneiramente, o projeto veiculou a
leitura pela televisão, em nível nacional. Estamos nos referindo à Ciranda de
Livros, um projeto da FNLIJ financiado pela HOESCHT e divulgado pela
Fundação Roberto Marinho. Pelo projeto a FNLIJ recebeu,
internacionalmente, a Menção
Honrosa de Prêmio de Alfabetização, da UNESCO, em 1984 e, no Brasil, o
projeto recebeu o Prêmio da Câmara Americana de Comércio.
Somente depois da criação da Ciranda é que o governo
federal, através do MEC, criou o programa Sala de Leitura, com objetivos
32
semelhantes. A FNLIJ realizou, ainda, três congressos nacionais, no Rio de
Janeiro. Suas publicações incluem 17 anos de Boletim Informativo, objeto de
estudo para a tese do pesquisador paulista Edmir Perrotti sobre a história da
promoção da leitura no Brasil que, segundo ele, confunde-se com a história
institucional da FNLIJ. Desenvolveu, ainda, pesquisas pioneiras na área da
leitura: em 1982, Hábitos de Leitura, financiada pela FINEP, em 1988, Por uma
Política de Leitura, também financiada pela FINEP.
Em 1990, foi a FNLIJ que, expressando os anseios de
inúmeros pesquisadores e professores, levou à Fundação Biblioteca Nacional o
anteprojeto para a criação de uma Política Nacional de Leitura, que resultou na
criação do Programa Nacional de Incentivo à Leitura - Proler.
Através de cursos, seminários e congressos que organizou pelo
País, a FNLIJ foi tomando conhecimento de que inúmeros profissionais, por
iniciativa própria, ampliavam ações e práticas leitoras
Brasil afora. A maioria dessas atividades, porém, permanecia anônima,
33
sem reconhecimento e sem valorização, existindo por determinação de alguns
professores e bibliotecários. Para que esses trabalhos não se perdessem, e
considerando-os parte da história brasileira de promoção da leitura, a FNLIJ
sentiu a necessidade de torná-los conhecidos, dando-lhes visibilidade e,
conseqüentemente, força e reconhecimento dos poderes públicos e dos
empresários, canalizando-os para servirem de base a uma ação nacional.
Assim, em 1994, criou o concurso Os Melhores Programas de
Promoção da Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o Brasil. Nesse
ano, o concurso foi realizado somente no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.
Os prêmios oferecidos foram livros que a FNLIJ acumulava em duplicatas.
Quem promove a leitura precisa de livros. O chamariz foi certeiro.
Quando a FNLIJ passou a integrar, a partir de setembro de 1996, a
Comissão Coordenadora do Proler, a convite do presidente da Fundação
Biblioteca Nacional, professor Eduardo Portella, o concurso tornou-se nacional.
Em 1997, passou a ter a parceria da FBN, através do
34
Proler, ganhando, também, o apoio do MEC. O sucesso dessa iniciativa
ampliada pôde ser atestado pelo encaminhamento de 135 projetos concorrentes,
abrangendo experiências de Estados e Municípios ali representados. Quixelô, no
Ceará; São Luís, no Maranhão; Belo Horizonte, em Minas Gerais; Angra dos
Reis, no Rio de Janeiro e Junqueirópolis, em São Paulo arrebataram os primeiros
lugares e contribuíram para fortalecer uma rede de parcerias promotoras de
projetos de leitura, agora melhor identificada.
O Projeto Centro de Leitura e Escrita criado pelo Programa
de Alfabetização e Leitura - Proale foi o vencedor do 1°. Concurso, em
1994. O projeto surge como um dos caminhos possíveis para viabilizar o
compromisso da Universidade Federal Fluminense - UFF com os Municípios do
Estado do Rio de Janeiro e suas redes de ensino na perspectiva de formular
políticas públicas na área da leitura e da escrita, tanto na esfera escolar quanto na
das políticas sociais mais amplas e na
perspectiva de interferir na formação continuada dos professores. O Proale, com
a sua experiência, foi convidado a fazer parte da Comissão Coordenadora do
Proler, que assumiu em setembro de 1996.
35
2.1.3 − A diversidade dos promotores de leitura
Quando historiamos o incentivo à promoção da leitura, em nosso
País, a contribuição e a participação da sociedade civil são animadoras.
Trabalhos como os da Associação de Leitura do Brasil, Feiras de Livros, Bienais
organizadas pelas editoras e pelo Serviço Social do Comércio - SESC têm, com
seus perfis próprios e diferentes, importância histórica na luta pelo acesso à
leitura e à escrita no País.
2.1.4 − Associação de Leitura do Brasil - ALB
Em 1980 foi criada, em Campinas, a Associação de Leitura do
Brasil - ALB, ligada ao Instituto de Estudos da Linguagem - IEL, da
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, e que passou a ter um papel
importantíssimo no País para a reflexão teórica em torno da leitura. A partir de
setembro de 1996, a ALB passou também a fazer parte da Comissão
Coordenadora do Proler, contribuindo para construir uma política da leitura,
no País.
36
A FNLIJ, a ALB e o Proale/UFF colocou os seus conhecimentos e
experiências à disposição do Proler, pois acreditam que será integrando e
articulando as várias ações práticas e teóricas da promoção da leitura que
caminhamos na direção de democratização dos acessos à leitura e à escrita.
2.1.5 − Os artistas do livro
Outro segmento atuante, na promoção da leitura, são os artistas que
escrevem ou ilustram livros infantis e juvenis. A partir da
necessidade de promover seus livros, as editoras financiam a ida desses artistas
às escolas de todo o País.
Nessas caminhadas muitos artistas fazem, dessa ação profissional,
um ato político em defesa do direito de ler e escrever, levando a professores e
alunos a dimensão crítica e criadora da leitura.
37
2.2 − MÍDIA E LEITURA
2.2.1 − As televisões
Nessa enorme colcha de retalhos que é a promoção de leitura entre
nós, não podemos deixar de citar as televisões educativas e culturais, que num
esforço contra a massificação e a pasteurização da cultura produziu alguns
programas voltados para a promoção da leitura: a TVE, através do programa Um
salto para o futuro; a MultiRio, empresa produtora de vídeos da Prefeitura
do Rio de Janeiro através da série Literatura infantil e juvenil; a TV Cultura com
o programa Castelo Ratimbum e o Canal Futura com o programa Tirando de
letra de promoção da leitura, dirigido aos jovens.
lnfelizmente, as televisões comerciais investem pouco na qualidade
intelectual de seus programas e, conseqüentemente, desprezam a importância da
promoção da leitura junto à população. As novelas,
quando baseadas em obras literárias, levam a uma venda maior de livros. Mas
como não aprofundam seu potencial papel de formador do leitor, perde-se uma
grande oportunidade.
38
2.2.2 − Os jornais
Jornais e revistas, até por instinto de sobrevivência, deveriam
investir maciçamente na promoção da leitura com projetos inteligentes. No
Brasil são poucos os que investem ou investiram na promoção de leitura, com
ações que chamem atenção para o ato de ler, enquanto no Japão, jornais como o
Asahi Shimbum promovem, anualmente, um concurso internacional para o
melhor programa de promoção de leitura, com um prêmio em dinheiro. As
seções nacionais do IBBY são responsáveis pelas indicações.
Ressaltamos aqui alguns projetos relevantes: o "Jornal Mural",
encartado no Jornal do Brasil, infelizmente, durou pouco tempo;
o projeto "Quem lê jornal sabe mais", uma iniciativa do jornal O Globo, teve
muito sucesso. O projeto "O dia na sala de aula", uma iniciativa do
jornal O Dia. Dois jornais independentes Lector e Vertente voltados para a
promoção de leitura no Rio de Janeiro, não conseguiram sobreviver por muito
tempo.
39
Os suplementos para crianças e jovens, que deveriam ser portadores
de projetos atrativos de qualidade, são em sua grande maioria pastiches de
imagens e lugares comuns que não convidam para a leitura do texto e as críticas
especializadas em literatura infantil e juvenil, em jornais e revistas, praticamente
inexistem.
2.3 − PAIXÃO DE LER
O primeiro evento de promoção da leitura assumido pelo governo
federal foi a campanha Paixão de Ler. Baseada na iniciativa da França, La
Fureur de Lire, a Secretária de Cultura do Município do Rio de Janeiro, em
1992, trouxe para a cidade a versão brasileira que, com o apoio da Fundação
Roberto Marinho, ganhou espaço na televisão. A
campanha vitoriosa passou a ter dimensão nacional no momento em que o
Ministério da Cultura a incorporou. O Paixão de Ler foi levado para todas as
capitais brasileiras em 1997, com grande mobilização da imprensa e com
envolvimento das bibliotecas públicas que, assim, chamaram a atenção da
população para os seus serviços, democratizando a oportunidade de ler.
40
2.4 − A DIMENSÃO POLÍTICA DA LEITURA
A dimensão política da leitura, no governo do presidente Fernando
Henrique é nova e mais democrática, apesar das várias lacunas ainda existentes,
decorrentes da omissão histórica de políticos, empresários e intelectuais quanto à
democratização das condições materiais e intelectuais de acesso aos bens de
cultura.
Considerando a importância dada pelo Ministro da Cultura ao
Proler e às novas ações da Secretaria de Política Cultural em relação às
bibliotecas, assim como as ações do Ministério da Educação e do Desporto em
torno do livro didático e da criação da Biblioteca da Escola, acreditamos que o
acesso a livros de qualidade começa, finalmente, a ser
democratizado. É necessário, porém, investir, urgentemente, na formação leitora,
dos educadores - professores e pais - transformando a leitura e a escrita em tema
de interesse nacional. A FNLIJ, considerou o ano de 1997 como “O Ano da
Leitura”. Essa constatação surge do fato de que nunca tivemos a participação
dos governos em tantas ações novas de promoção do livro e da leitura: a
campanha Quem lê viaja, do MEC; o Farol do Saber, do governo do Paraná e
seu similar no Maranhão, Farol
41
da Educação, bem como os Cantinhos de Leitura, em Minas Gerais, estão entre
os de maior destaque.
Desejamos que em um futuro próximo o país já tenha criado as
condições básicas necessárias para que cada cidadão brasileiro tenha a
oportunidade de se formar leitor, na escola e na família, e que encontre nas
bibliotecas públicas as condições necessárias para “alimentar-se”.
Constatamos que para escrever bem é necessário “alimentar-se” da
leitura. Porém, é preciso também conhecer algumas técnicas. No próximo
capítulo abordaremos sobre essas técnicas.
42
Capítulo III
COMO ESCREVER BEM
Segundo o professor Pasquale Cipro NETO:
“Escrever bem é conseqüência de pensar bem. Muitos alunos
são pouco críticos e ficam preocupados em empolar a linguagem. A outros
falta senso de abstração, que também é importante. Ninguém aprende nada da
noite para o dia. Como disse Carlos Drummond de ANDRADE, amar se
aprende amando. Da mesma forma, escrever se aprende escrevendo. A leitura
é necessária, mas não suficiente. Para escrever bem é preciso raciocínio
lógico e contato com a língua-padrão. Deve-se estar atento à estrutura do
texto e à correção gramatical, pois um texto bem amarrado, mas com a língua
descuidada, receberá uma avaliação negativa”.
(Reportagem Revista Época, 1999:83)
Para melhorar a comunicação é preciso simplificar a linguagem e
evitar rodeios que tornem a frase longa e sem objetividade. Além disso, deve-se
dedicar diariamente um período de tempo à leitura de algo que seja de
interesse. A leitura, além de aumentar a cultura
43
geral, amplia o vocabulário. Assim, a pessoa vai escrever e expressar-se
cada vez melhor.
A professora Maria Thereza ROCCO, da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo diz que “escrever bem é, simultaneamente, arte e
ciência. Exige talento mas também a assimilação de técnicas, regras e, às vezes,
truques”.
É importante ressaltar que a familiaridade com o tema é
fundamental para elaborar uma boa composição. Um bom texto resulta do
conhecimento do assunto a ser abordado e do uso perfeito das ferramentas de
linguagem. Quando o estudante está familiarizado com o tema, mas não domina
a língua, as redações ficam difíceis de serem compreendidas. “Para melhorar a
qualidade da redação, é preciso fazer anteprojetos e reescrever várias vezes o
texto”, ensina a professora Maria Thereza Fraga ROCCO.
No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, os alunos têm aulas
teóricas sobre técnicas de redação e, a cada 15 dias, participam de
44
um laboratório de redação. Para induzi-los a escrever com dedicação e
entusiasmo, os professores usam música, vídeos e discussões em grupo. Os
textos são enviados a uma equipe de corretores incumbidos de apontar falhas e
localizar virtudes. Hoje, os adolescentes já não chegam aos cursos vestibulares
tão pouco familiarizados com a linguagem escrita quanto há dez anos.
O roteiro da boa redação, aconselham os especialistas, começa pela
ousadia. Para a professora de redação Maria das Graças FERREIRA, “o
estudante de hoje está mais disposto a criar, sem medo de ser original e de falar
o que pensa”. Os professores recomendam aos alunos que evitem o uso de
receitas prontas, clichês ou frases feitas. Armadilhas desse gênero viram
“camisas-de-força” e empobrecem o texto.
Abaixo seguem algumas dicas de especialistas na Língua
Portuguesa para escrever melhor:
• Procurar ser direto na construção das sentenças. Pensar no
que se quer dizer e dizer da forma mais simples.
45
• Evitar termos estrangeiros ou jargões e preferir as palavras
conhecidas. Não esnobar o português.
• Evitar "clichês". Use as próprias palavras.
Clichê - O último, mas não menos importante...
Direto - Por último...
• Adjetivos que não informam são dispensáveis. Por exemplo:
luxuosa mansão. Toda mansão é luxuosa.
• Evitar o uso excessivo do "que". Essa armadilha espreita
períodos longos. Preferir frases curtas.
• Escrever com simplicidade. Evitar o uso de expressões banidas
da linguagem oral.
• O verbo "fazer", no sentido de tempo, não é usado no plural.
É errado escrever: "Fazem alguns anos que não leio um livro".
46
• Cuidado com redundâncias. É errado escrever, por exemplo:
"Há cinco anos atrás". Corte o "há" ou dispense o "atrás".
• Só com a leitura intensiva se aprende a usar vírgulas
corretamente. As regras sobre o assunto são insuficientes. Deve-se ler bons
autores e fazer como eles.
• Ler muito, ler sempre, ler o que parecer agradável.
• Escrever diários, cartas, e-mails, crônicas, poesias, redações,
qualquer texto. Só escrevendo se aprende a escrever.
• Saber onde se quer chegar: Antes de redigir, deve-se fazer
umesboço, listando e organizando as idéias e argumentos. Ele ajudará a não se
desviar da questão central. Começar parágrafos importantes com sentenças-
chave, que indiquem o que virá em seguida. Concluir com parágrafo resumido.
47
• Tornar a leitura fácil e agradável: Os parágrafos e sentenças
curtos são mais fáceis de ler do que os longos.
• Ser direto. Sempre que possível, usar a voz ativa.
• Evitar o uso de advérbios vagos, e não esclarecedores, como
"muito", "pouco", "razoavelmente".
Vago - O projeto está um pouco atrasado.
Direto - O projeto está uma semana atrasado.
• Encontrar a palavra certa. Utilizar palavras que se conheça
exatamente o significado. Aprender a consultar o dicionário para evitar
confusões. Palavras mal-empregadas são detectadas por um bom leitor e depõem
contra o autor.
• Não cometer erros de ortografia: Em caso de dúvida,
consultar o dicionário ou pedir a alguém para revisar o trabalho. Uma redação
incorreta pode indicar negligência e impressionar mal o leitor.
48
• Não exagerar na elaboração da mensagem: Escrever somente
o necessário, procurando condensar a informação. Ser sucinto sem excluir
nenhum ponto-chave.
Escrever e expressar-se corretamente permite ao indivíduo tornar-se
mais ágil e objetivo. Esses são atributos fundamentais para o sucesso da vida
profissional. Primeiro porque aumenta a capacidade de comunicação. Segundo
porque ajuda a orientar reuniões, fazer apresentações, defender uma idéia. Com
essas habilidades, o indivíduo preserva sua credibilidade e, principalmente, sua
imagem.
49
CONCLUSÃO
Através deste trabalho pode-se confirmar o quanto é importante
conhecer bem a própria língua para utilizar a linguagem escrita de maneira
eficaz, pois trata-se de um meio de comunicação fundamental.
O uso correto da palavra valoriza o que se diz e o que se escreve.
Escrever bem é saber expressar idéias claras, rápidas e
persuasivamente. Uma boa redação revela capacidade de raciocínio e esforço
pessoal - mesmo para aqueles que têm mais facilidade.
Deve-se procurar fazer composições bem estruturadas, com idéias
claras, coerentes e respeitando as regras gramaticais.
É preciso também conscientizar-se para a importância da leitura,
pois habilita o indivíduo a expressar-se com clareza e correção.
50
Ser leitor, porém, não é resultado de um processo natural. É preciso,
além da interferência educacional e cultural, contato permanente com o material
escrito, variado, e de qualidade, desde cedo, fruto de uma ação consciente da sua
importância e função social.
Constatamos que de acordo com o pensamento de VYGOTSKY, o
pensamento e a linguagem estão ligados, pois nesse processo a linguagem atua
sobre a organização do pensamento e sobre a maneira de pensar do homem,
organizando o pensamento e o estruturando convenientemente.
Ler, pensar e escrever são três ações “triviais” que se
complementam, são ações simultâneas ao próprio existir. Quem lê pensa melhor
e escreve com mais espontaneidade. Quem pensa escreve melhor e lê com mais
profundidade. Quem escreve lê melhor e pensa com mais intensidade.
Comunicar eficazmente os interesses, expectativas e idéias,
significa hoje, o grande diferencial entre as pessoas bem sucedidas, pois a
51
maneira de falar e escrever reflete o nível intelectual, a personalidade e
a criatividade.
Já avançou-se bastante na percepção de que é preciso mudar para
enfrentar os desafios profissionais e pessoais numa sociedade altamente exigente
e competitiva. Só dependerá da atitude e iniciativa de cada indivíduo. Cada
pessoa define seu próprio sucesso.
52
BIBLIOGRAFIA
AEBLI, H. Prática de ensino. São Paulo: EUP/USP, 1982.
ALONSO, C. M. M. C. Bases Filosóficas e Psicológicas da Pedagogia da
Linguagem: Um Ponto de Vista Sócio-Histórico. Dissertação de Mestrado.
Santa Maria: UFSM, 1991.
CECCHINI, M. in: Luria, Leontiev, Vygotsky et alli. Psicologia e
pedagogia I: Bases psicológicas da aprendizagem. Lisboa: Estampa, 1977.
COLL, C. PALÁCIOS, J. MARCHESI, A. (org.). Desenvolvimento
psicológico e educação. Psicologia da educação. Vol. 2. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1996.
COLOMBINI, Letícia. Pasquale: aulas de português para executivos. Revista
Você S.A. 1ª. ed. São Paulo: Editora Abril, 1998, p.22-23.
DAUSTER, Tania. Nasce um leitor: da leitura escolar à leitura do contexto. In:
VAZ, Paulo Bernardo & OLINTO, Heidrun Krieger & DAUSTER, Tania.
Leitura e leitores. Rio de Janeiro: PROLER, 1994.
DAVIS, C. e OLIVEIRA. Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez,
1990.
53
DEL RIO, P. e ALVARES A. Educação e Desenvolvimento: A teoria de
Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Próximo. in: Coll e outros
(orgs.). Desenvolvimento psicológico e Educação. Vol. 2. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1996.
FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto de. Língua e Literatura.
São Paulo: Ática, 1985.
FILHO, Domício Proença. A Linguagem Literária. São Paulo: Ática, 1986.
FREIRE, Paulo. A Importância do ato de ler: em três artigos que se completam.
32ª.ed. São Paulo: Cortez, 1996.
FREITAS, Maria Teresa A. Vygotsky e Bakhtin. São Paulo: Ática, 1994.
GARDNER, H. A criança pré-escolar: como pensa e como a escola pode
ensiná-la. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
GONOBOLIN, F. N. La Percepcion. in: Smirnov, Leontie y otros.
Psicologia. México: Grijalbo, 1969.
KRAMER, Sonia. Alfabetização, Leitura e Escrita: formação de professores em
curso. Rio de Janeiro: Papéis e cópias de Botafogo e Escola de Professores,
1995.
4
LAJOLO, Marisa e Zilbermann, Regina. A leitura rarefeita- livro e literatura no
Brasil. São Pauto: Edit. Brasiliense, 1991.
LEONTIEV, A.N. O Desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte, 1978.
LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1991.
LURIA, A . R. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade
escolar. In: Luria, Leontiev, Vygotsky et alii. Psicologia e pedagogia I.
Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Lisboa:
Estampa,1977.
_______. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1987.
_______. Desenvolvimento Cognitivo. Seus Fundamentos Culturais e Sociais.
São Paulo: Ícone,1990.
MARIA, Luzia de. Leitura: fonte de experiência e... prazer. Carta ao professor 3:
linguagem. Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
p.17-29.
_______. A constituição do leitor. In: Leitura, saber e cidadania / Simpósio
Nacional de Leitura. Rio de Janeiro: PROLER: Centro Cultural Banco do
Brasil, 1994. p.171-177.
55
MOLL, Luis C. Vygotsky e a Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
OLIVEIRA, Marta K. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento. Um
Processo Sócio-Histórico. São Paulo: Scipione, 1995.
OLIVEIRA, Z. e DAVIS, C. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1993.
PIAGET, Jean. A construção do real na criança. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar;
Brasília: INL/MEC, 1975.
_______. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar,
1970.
_______. Seis estudos de psicologia. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1967.
_______. A linguagem e o pensamento da criança. 4ª. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1986.
QUINTANA, Mário. O leitor ideal. In: INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto:
curso prático de leitura e redação. São Paulo: Scipione, 1991.
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky. Uma Perspectiva Histórico-Cultural da
Educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
56
REVISTA ÉPOCA. A Ciência de escrever. São Paulo: Editora Globo, ed. 56,
jun/99, p.82.
RODRIGUES, N. Por uma nova escola. São Paulo: Cortez, Autores Associados,
1985.
ROMEU, José Raimundo. Leitura e formação profissional. In: Leitura, saber e
cidadania/Simpósio nacional de leitura. Rio de Janeiro: PROLER: Centro
Cultural do Banco do Brasil, 1994. p.13-17.
RUBINSHTEIN, S. L. Objeto, problemas y metodos de la psicologia.. In:
Smirnov y otros. Psicologia. México: Grijalbo, 1969.
SCLIAR, Moacyr. A função educativa da leitura literária. In: ABREU, Marcia
(org.). Leituras no Brasil. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 161-177.
SERRA, Elisabeth D’Angelo. Leitura e Literatura Infantil. In: Ensino da Leitura
I, Portugal: Ed. Stampa, 1973.
SUAIDEN, Emir José. Bibliotecas públicas brasileiras: desempenho e
perspectivas, Editora Lisa/INC, 1980.
VALENTE, José Armando. Informática na Educação: Uma Questão Técnica ou
Pedagógica? in: Pátio - Revista Pedagógica. Porto Alegre: Artes Médicas,
nº9, maio/julho, 1999.
57
VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida
inteira. Rio de Janeiro. Qualitymark, 1997.
VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade
escolar. In: Luria, Leontiev, Vygotsky e outros. Psicologia e pedagogia I.
Bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Lisboa:
Estampa,1977.
_______. La Imaginacion y el Arte en la Infancia. (ensaio psicológico). Madrid:
Akal, 1982.
YASUDA, Ana Maria Bonato Garcez. A leitura na escola (II). In: MARTINS,
M.L. (org.). Questões de linguagem. São Paulo: Contexto, 1996.
58
ANEXO
SIGLAS:
• ALB - Associação de Leitura do Brasil
• FBN - Fundação Biblioteca Nacional
• FNLIJ - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
• IBBY - International Board on Books for Young People
• IEL - Instituto de Estudos da Linguagem
• MEC - Ministério da Educação e Cultura
• PROALE - Programa de Alfabetização e Leitura
• SESC - Serviço Social do Comércio
• UFF - Universidade Federal Fluminense
• UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas