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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE LINGUAGEM ESCRITA. UMA PODEROSA FERRAMENTA PARA O CIDADÃO. SANDRA MENDES MARQUES ORIENTADOR: Profª. Diva Nereida Marques Machado Maranhão Rio de Janeiro, março de 2004.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LINGUAGEM ESCRITA.

UMA PODEROSA FERRAMENTA PARA O CIDADÃO.

SANDRA MENDES MARQUES

ORIENTADOR:

Profª. Diva Nereida Marques Machado Maranhão

Rio de Janeiro, março de 2004.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LINGUAGEM ESCRITA:

UMA PODEROSA FERRAMENTA PARA O CIDADÃO

Por:

Sandra Mendes Marques

Monografia apresentada à Universidade

Candido Mendes como requisito do curso

de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Docência do Ensino Superior.

Rio de Janeiro, Março de 2004

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Agradeço a todos que colaboraram

para realização deste trabalho.

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Dedico este trabalho aos meus

familiares que sempre estiveram ao meu

lado, me apoiando e incentivando.

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“O homem é um ser que se

criou ao criar uma linguagem.”

(Octavio Paz)

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO .......................................................................................... 8

Capítulo I

O PENSAMENTO DE VIGOTSKY ..................................................... 11

1.1 − A evolução da escrita na criança ........................................................... 11

1.2 − Pensamento e Linguagem ...................................................................... 12

1.2.1 − Pressupostos Epistemológicos do Pensamento ............................... 13

1.2.2 − Pressupostos Epistemológicos da Linguagem ................................ 16

Capítulo II

A ARTE DE LER E ESCREVER .................................................................. 23

2.1 − Pioneiros da promoção da leitura ........................................................... 24

2.1.1 − Biblioteca Pública ...................................................................... 24

2.1.2 − A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ .............. 30

2.1.3 − A diversidade dos promotores de leitura ....................................... 35

2.1.4 − Associação de Leitura do Brasil - ALB ......................................... 35

2.1.5 − Os artistas do livro .................................................................... 36

2.2 − Mídia e Leitura ................................................................................... 37

2.2.1 − As televisões ........................................................................... 37

2.2.2 − Os jornais .............................................................................. 38

2.3 − Paixão de ler ....................................................................................... 39

2.4 − A dimensão política da leitura ............................................................. 40

Capítulo III

COMO ESCREVER BEM ........................................................................... 42

CONCLUSÃO ............................................................................................. 49

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 52

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ANEXO ....................................................................................................... 58

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RESUMO

Saber escrever bem é essencial para quem quer ter sucesso, principalmente

na profissão.

De acordo com a professora de Língua Portuguesa Wânia Aragão: “A

Linguagem escrita não foi ressuscitada para a proliferação de gênios da literatura. A

redação renasceu para que as novas gerações se habituassem a pensar”.

Segundo Vygotsky para compreender o desenvolvimento da escrita na criança

é necessário o que ele chama de “a pré-história da linguagem escrita”, isto é, o que se passa

com a criança antes de ser submetida a processos deliberados de alfabetização.

Os grandes escritores afirmam que para uma boa evolução da linguagem

escrita é necessário estimular a leitura na criança.

A professora Lygia Fagundes Telles diz que: “O único caminho é ler, ler e

ler. Ler os clássicos, perceber por que Machado de

Assis é vivo até hoje. Essa é a única salvação para a formação de um jovem. Sabendo

interpretar o que lê, o estudante saberá organizar suas idéias e produzir um bom texto. O

resto é conversa, falsa teoria”.

Luís Fernando Veríssimo declarou em uma reportagem para revista época:

“Ler muito para ver como diversos autores escrevem é um bom começo para aprender a

redigir um texto. O que não se pode desprezar também é a prática constante da escrita,

sempre com a preocupação da clareza. Resumir ajuda muito a praticar a concisão.”

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INTRODUÇÃO

“Toda vez que uma pessoa escreve, revela um pouco de si”.

A linguagem escrita foi um enorme avanço para a civilização pois

através dela é possível compor com segurança a história, permitindo até uma

revelação pessoal.

Chamamos de escrita, todo o sistema gráfico de notações da

linguagem verbal, ou seja, toda representação de palavras ou idéias por meio de

símbolos gráficos.

A evolução que deu origem à escrita foi a evocação de idéias ou

pensamentos de um signo que representasse uma só e determinada palavra.

Dessa relação signo-palavra, passaram a significar idéias associadas.

Segundo Luria (1987:201), a palavra é considerada a 'célula da

linguagem', ou seja, o elemento fundamental da linguagem, em

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Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … MENDES MARQUES.pdf · 1.2 − Pensamento e Linguagem ... 1.2.1 − Pressupostos Epistemológicos do Pensamento ... é necessário

razão da palavra designar as coisas, individualizar suas características,

designar ações, relações e reunir objetos em determinados sistemas.

A palavra é o instrumento mais importante na formação da

consciência. Apoiando-se na tese fundamental de Vygotsky, a palavra é o

'microcosmo' da consciência.

Porém é preciso saber utilizá-la de forma correta e adequada.

Escrever bem é, simultaneamente, arte e ciência. Exige talento mas também a

assimilação de técnicas, regras e, às vezes, truques. Mas o que fazer para

escrever bem ?

Uma redação bem escrita convida à leitura, pois além de concisa,

deve-se apoiar em argumentos consistentes. Quando os quesitos da boa

linguagem escrita são atendidos, a mensagem foi transmitida com eficácia.

O objetivo deste trabalho é o de demonstrar a importância da

linguagem escrita; uma poderosa “ferramenta” que faz com que os

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indivíduos sejam capazes de se comunicarem com eficiência.

O primeiro capítulo abordará sobre a evolução da escrita na criança

e fará uma análise da relação entre o pensamento e linguagem. Para o psicólogo

Vygostky, estas funções estão intimamente ligadas.

O segundo capítulo é sobre a arte de ler e escrever, requisitos

fundamentais para aprender a desenvolver um bom texto, pois apropriar-se

destas artes é garantia de autonomia e cidadania.

No último capítulo, como escrever bem, com dicas de alguns

especialistas, procurando demonstrar a importância de escrever e expressar-se

corretamente, o que permite ao indivíduo tornar-se mais ágil e objetivo. Esses

são atributos fundamentais para o sucesso da vida profissional. A comunicação e

o domínio da língua são os verdadeiros “cartões de visita” do indivíduo.

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Capítulo I

O PENSAMENTO DE VIGOTSKY

1.1 − A EVOLUÇÃO DA ESCRITA NA CRIANÇA

A questão da evolução da escrita na criança é bastante importante

no conjunto das colocações de VIGOTSKY. Coerente com sua concepção sobre

o desenvolvimento psicológico em geral, ele tem um abordagem genérica da

escrita: preocupa-se com o processo de sua aquisição, o qual se inicia antes da

entrada da criança na escola e se estende por muitos anos. Considera, então, que

para compreender o desenvolvimento da escrita na criança é necessário o que ele

chama de “a pré-história da linguagem escrita”, isto é, o que se passa com a

criança antes de ser submetida a processos deliberados de alfabetização.

Como a escrita é uma função culturalmente mediada, a criança que

se desenvolve numa cultura letrada está exposta aos diferentes usos da

linguagem escrita e a seu formato, tendo diferentes concepções a respeito desse

objeto cultural ao longo de seu desenvolvimento. A principal condição

necessária para que uma criança

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seja capaz de compreender adequadamente o funcionamento da língua escrita é

que ela descubra que a língua escrita é um sistema de signos que não têm

significado em si. Os signos representam outra realidade; isto é, o que se escreve

tem uma função instrumental, funciona como um suporte para a memória e a

transmissão de idéias e conceitos.

1.2 − PENSAMENTO E LINGUAGEM

Para o psicólogo bielo-russo Lev Semjonovitsch VYGOTSKY

(1993:15), a análise do pensamento e da linguagem refere-se às relações entre

"...diferentes funções psíquicas, entre diferentes classes de atividades da

consciência". O aspecto central desta questão é a "relação entre o pensamento

e a palavra".

Segundo VYGOTSKY, o pensamento é o reflexo generalizado da

realidade transmitido através da palavra. A palavra é o 'microcosmo' da

consciência, aquilo em que ela se reflete, como o universo se reflete no átomo.

O pensamento e a linguagem têm raízes genéticas distintas

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e se sintetizam dialeticamente no desenvolvimento cognitivo, quando, nesse

processo, a linguagem se converte em pensamento e o pensamento em

linguagem. A linguagem atua sobre a organização do pensamento e sobre a

maneira de pensar do homem, organizando o pensamento e o estruturando

convenientemente.

1.2.1 − Pressupostos Epistemológicos do Pensamento

O pensamento não é formado por unidades separadas como

acontece com a linguagem. A citação abaixo pode oferecer um ponto de partida

para a caracterização do pensamento e a análise desta idéia:

" Quando desejo comunicar o pensamento de que hoje vi um menino

descalço, com uma camisa azul, correndo pela rua, não vejo cada aspecto de

forma separada: o menino, a camisa, a cor azul, a corrida e a falta de sapatos.

Concebo tudo isso em um só pensamento, porém, o expresso em palavras

separadas".

(VYGOTSKY, apud RIVIERE, 1984:85)

O pressuposto implícito nesta afirmação de VYGOTSKY,

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nos leva a inferir que o pensamento é o reflexo generalizado da realidade

e a generalização se efetua por meio da linguagem. O pensamento sobre algo

concreto está unido inseparavelmente ao pensamento sobre algo geral, enquanto

a palavra é uma abstração.

O homem " ... quando separa o geral, o denomina com palavras e o

conecta com os objetos e fenômenos que têm uma característica geral"

(SHEMIAKIN, 1969:233). Para este autor, a palavra é sinal de objetos

diferentes, mas que ao mesmo tempo têm entre si alguns caracteres gerais, como

por exemplo a palavra 'árvore'. Nela estão contidas todas as árvores, seja de que

natureza forem; independentes das particularidades e características, todas elas

têm uns caracteres que são gerais. As palavras 'redondo', 'vermelho', 'ligeiro', se

conectam com distintos objetos que têm caracteres gerais aos que se referem

estas palavras.

Entretanto, ao generalizar os objetos e fenômenos da realidade por

meio da palavra, o homem supera as percepções e as sensações, em razão

de que a extensão daquilo sobre o que pensa ser

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maior que a extensão daquilo que percebe. Pensando por meio da palavra pode-

se alcançar aquilo que em geral é inacessível à percepção e à

representação. Ao generalizar, o homem tem possibilidade de tirar conclusões

sobre aquilo que não percebe imediatamente.

No processo de pensamento, o homem ultrapassa a percepção que

obtém da realidade; passa a conhecê-la com mais exatidão

e profundidade quando atinge o geral que existe nos objetos e fenômenos,

resultado das conexões reais e essenciais entre eles. No entanto, o pensamento

está dialeticamente ligado ao conhecimento sensorial. Este, por sua vez, é a

fonte principal dos conhecimentos que o homem adquire do mundo da natureza

e do mundo da cultura.

Assim, o ponto de partida do ato de pensar é sempre a percepção do

conhecimento particular; quando generaliza o homem descobre o que existe de

geral nos objetos e fenômenos reais isolados. Numa tentativa de dar uma

conceituação ampla do pensamento, LEONTIEV e outros (1969:235), assim se

expressam:

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"... O pensamento pode ser definido como reflexo generalizado da

realidade no cérebro humano, realizado por meio da palavra, assim como os

conhecimentos anteriores estão ligados estreitamente ao conhecimento

sensorial do mundo e com a atividade prática dos homens".

1.2.2 − Pressupostos Epistemológicos da Linguagem

A Linguagem, para LURIA, (1987:25-27), é um complexo sistema

de códigos que designam objetos, características, ações ou relações; códigos que

possuem a função de transmitir informações e que são formados no curso da

história social.

Como resultado da história social diz LURIA, (1987:22):

"a linguagem transformou-se em instrumento decisivo do conhecimento

humano, graças ao qual o homem pode separar o limite da experiência

sensorial, individualizar as categorias dos fenômenos, formular determinadas

generalizações ou categorias. Pode-se dizer que, sem o trabalho e a

linguagem, no homem não se teria formado o pensamento abstrato 'categorial'

".

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Nesse sentido, a linguagem pode ser considerada como o meio mais

importante no desenvolvimento e formação dos processos cognitivos e da

consciência do homem.

A palavra, para LURIA, é considerada a 'célula da linguagem', ou

seja, o elemento fundamental da linguagem, em razão da palavra designar as

coisas, individualizar suas características, designar ações, relações e reunir

objetos em determinados sistemas.

"A palavra pode não somente substituir o objeto e designar a ação, a

qualidade ou a relação, mas também analisar os objetos, generalizá-los,

organizar o material percebido em um determinado sistema".

(LURIA, (1987:201)

Para este autor, a palavra é o instrumento mais importante na

formação da consciência e o elo relevante da passagem do conhecimento

sensorial ao racional. Apoiando-se na tese fundamental de VYGOTSKY,

LURIA (1987:201) complementa sua posição afirmando que "...as origens do

pensamento abstrato e do comportamento categorial, que provocam um salto do

sensorial ao racional, devem ser buscadas nem

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dentro da consciência nem dentro do cérebro, mas sim fora, nas formas sociais

da experiência histórica do homem" .

A função essencial da linguagem é a comunicação. A verdadeira

comunicação humana, diz VYGOTSKY (1987:5):

"... pressupõe uma atitude generalizante, que constitui um estágio

avançado do desenvolvimento da palavra. As formas mais elevadas da

comunicação humana são possíveis porque o pensamento do homem reflete

uma realidade conceitualizada".

A linguagem possui, assim, características que podem ser assim

definidas: Universalidade, ou seja, é uma faculdade humana universal; Função

de comunicação entre os membros de uma comunidade social; Caráter abstrato:

a linguagem é uma abstração, pois consiste numa operação mental através da

qual os homens se comunicam entre si e promovem a análise do real.

Apesar das características da linguagem acima definidas, seus

componentes essenciais não podem ser tomados como uma conexão

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mecânica. Pelo contrário, deve existir uma relação dialética entre os fatores

cognitivos, sociais e afetivos. Existe, pois, um processo relacional profundo

entre a linguagem, o pensamento e a cognição.

Esse processo relacional se dá, portanto, com o desenvolvimento

biológico e histórico-cultural do homem. Dessa forma, existe uma interação

contínua, processual e sucedânea entre a base biológica do comportamento

humano e as condições sociais. Essa interação contínua e processual provoca, no

ser humano em geral, a formação de novas e complexas funções mentais,

mediadas pela natureza das experiências sociais que envolvem a prática social

cotidiana do homem.

Neste ideário educativo a pedagogia da linguagem deve ter o

compromisso de promover o ensino da linguagem, tendo como ponto de

referência o princípio de que "... o processo de transmissão e assimilação dos

conhecimentos sistematizados tenha como ponto de partida as

realidades locais, a experiência de vida dos alunos e suas características sócio-

culturais". (LIBÂNEO, 1991:37).

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O domínio da leitura e da escrita são capacidades educativas

imprescindíveis para que o educando possa expressar suas idéias e sentimentos,

aperfeiçoar progressivamente suas potencialidades cognitivas e alcançar maior

compreensão da realidade social, ou seja, uma forma de "conquistar sua

liberdade intelectual e política". (ibid,1991:43).

O ensino da linguagem, nesta proposta, deve estruturar-se

considerando o retrato sócio-cultural dos alunos e promovido em situações

sociais e de ação. Ação que não ocorre fora das situações sociais, assim, o aluno

deve ser incentivado a falar e a escrever aproveitando essas situações. Ao

mesmo tempo em que conhece e utiliza a língua, o aluno a emprega na análise

da situação social, objeto de aprendizagem da língua.

A pedagogia da linguagem não deve apenas se limitar a ensinar os

conteúdos lingüísticos com um fim em si mesmo. A sua tarefa deve ir além,

deve propiciar a formação de conceitos com os quais os alunos possam pensar e

desenvolver a capacidade de analisar, generalizar e assimilar formas mais

complexas de reflexão sobre os fenômenos da

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realidade; de organizar de uma nova maneira a percepção e a memória; de

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adquirir a capacidade de tirar conclusões das suas próprias observações;

de conquistar todas as potencialidades do pensamento.

Com estas proposições é que a pedagogia da linguagem deverá ser

inserida nos ambientes telemáticos.

Para cumprir sua função otimizadora no ambiente escolar uma

proposta pedagógica, que utilize ambientes telemáticos, tendo em vista a

superação das dificuldades de aprendizagem de crianças no período de

alfabetização, deverá conter em seu planejamento atividades que contemplem os

interesses das crianças, utilizando os recursos e ferramentas existentes em rede

que viabilizem interações síncronas e assíncronas em ambientes texto e gráficos.

Propor a produção de trabalhos cooperativos e colaborativos com os

colegas, amigos de outras escolas e de outras cidades e com seus professores a

fim de criarem textos coletivos como histórias, poesias, desenvolver pesquisas,

etc.

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A escrita e a leitura são organizadas como atividades que têm por

objetivo a comunicação, não sendo apenas um exercício para ser

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avaliado pelo professor.

Em resumo, o ensino da escrita inserido em um contexto

significativo, funcional, desafiador e com objetivos que atendam aos interesses e

expectativas das crianças, tem mostrado mudanças positivas no que diz respeito

às atitudes destas criança em relação à própria escrita e conseqüentemente na

aquisição de conhecimentos das outras áreas, como ciências, matemática,

estudos sociais, música, artes, esportes, bem como a ampliação de seu universo

cultural e social.

Para ser um bom leitor é fundamental conhecer bem as palavras e

saber interpretá-las. A seguir abordaremos sobre a arte de ler e escrever.

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Capítulo II

A ARTE DE LER E ESCREVER

O acesso democrático à leitura e à escrita é a conquista mais

poderosa que os povos de todos os países devem almejar. Apropriar-se da arte

de escrever e ler é garantia de autonomia e cidadania.

"A arte de ler e de escrever foi durante milhares de anos monopólio

sagrado de pequenas elites. Por volta de 1750, no dealbar da revolução

industrial, haviam decorrido quase 5 mil anos sobre o aparecimento dos

primeiros rudimentos da arte da escrita. Contudo, mais de 90% da população

mundial não tinham acesso à arte."

(SERRA, Elisabeth D’Angelo in Ensino da Leitura I,

Ed. Stampa, Portugal, 1973)

A leitura e a escrita ainda não são bens culturais plenamente

desejados e compreendidos pela sociedade brasileira que desconhece suas

abrangências como instrumentos de cidadania e como direito individual.

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A sociedade brasileira, que emerge neste início do novo milênio

como uma nação que vem discutindo e enfrentando variados e sérios problemas

de maneira dinâmica e criadora, deverá, para ampliar e consolidar suas

conquistas, desejar e buscar todos os meios para vir a ser uma sociedade de

cidadãos autônomos, críticos e criadores, como leitores e escritores.

Assim, as condições de acesso crítico ao texto escrito possibilitando

a existência de um leitor ativo que dialogue criadoramente com o texto, a ponto

de essa leitura interferir em sua vida, pressupõem uma rede complexa de inter-

relações que vão da questão macroeconômica, social, educacional e cultural, até

à micropessoal.

2.1 − PIONEIROS DA PROMOÇÃO DA LEITURA

2.1.1 − Biblioteca Pública

A partir da idéia de que o acesso democrático ao material escrito é

condição básica para o incentivo à leitura, a biblioteca pública

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apresenta-se como o espaço de sua realização e deve ser compreendida como

um direito do cidadão. Considerando-a como o símbolo institucional de

promoção da leitura, vale aqui um pequeno flash da história da biblioteca

pública no Brasil.

A primeira biblioteca pública foi a da Bahia, fundada em 1811 que,

salientamos, "não se efetivou através de uma iniciativa governamental. Ela foi

criada por iniciativa dos cidadãos".

A segunda biblioteca pública foi a do Maranhão, fundada 18 anos

mais tarde, em 1829 e aberta oficialmente ao público em 1831. Mais 19 anos se

passaram até surgir a terceira biblioteca pública do país, a de Sergipe. Ainda no

século XlX foram inauguradas mais 12 bibliotecas públicas sendo, uma delas, a

do Rio de Janeiro, em 1873.

No século XX, foram criadas mais 14 bibliotecas públicas estaduais

e, até 1969, outras oito. A Biblioteca Municipal de São Paulo, atual Biblioteca

Municipal Mário de Andrade, foi inaugurada somente em 1926.

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Com cerca de 5.800 Municípios, há atualmente no Brasil,

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aproximadamente 3.900 bibliotecas públicas. Para atender à população brasileira

estima-se que seriam necessárias, 10 mil bibliotecas públicas. O Ministério da

Cultura já iniciou sua ação no sentido de criar as condições necessárias para a

mobilização dos prefeitos e empresários em torno da necessidade de expandir o

número dessas bibliotecas.

Por outro lado, a biblioteca pública é um serviço que deve ser

desejado pela população. Entender a sua necessidade, como entender a

necessidade de leitura, é uma questão cultural, parte de um processo integrado à

educação do qual a maioria dos brasileiros, como já afirmamos, está excluída.

Acreditamos que brevemente a situação possa ser revertida através de algumas

ações desenvolvidas pelos atuais Ministérios da Educação e do Desporto e o da

Cultura, para o enfrentamento do problema.

Tem-se notícia de que muitas bibliotecas públicas desenvolveram, e

algumas ainda desenvolvem, projetos e atividades de promoção da leitura. A

maioria, porém, não conseguiu ter apoio político e

27

financeiro para dar prosseguimento a essas ações pioneiras. Faltam movimentos

pela defesa da instituição que nunca foi uma demanda social. As classes mais

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privilegiadas por sua vez, sempre dispuseram de acervos particulares, não,

investindo assim na biblioteca pública. Por isto, a biblioteconomia brasileira tem

sua excelência nas bibliotecas empresariais ou universitárias. A universidade,

cujo maior tesouro é a sua biblioteca, é omissa na reivindicação de bibliotecas

públicas para a população como um dos serviços básicos para a construção da

cidadania.

A biblioteca pública, nem sempre adequadamente prestigiada pelo

poder público e pelas elites e sem ser desejada pela população, muitas vezes não

teve, historicamente, o reconhecimento necessário que justificasse o

investimento público na formação de quadros especializados

e na ampliação do número de seus profissionais. Com o recente enfoque

governamental dado à biblioteca esperamos que o mercado de trabalho passe a

demandar bibliotecários.

A escola pública, por sua vez, tem um papel importante quanto a

criar uma cultura de valorização das bibliotecas públicas. Como

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uma das formadoras das bases de uma sociedade leitora, seu trabalho não

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é só o de oferecer um contato mais freqüente e sistemático com o texto escrito,

com o livro, mas iniciar o aluno, através da biblioteca escolar, na

prática social de partilhar acervos, ensinando-lhe a importância da biblioteca

para que, quando adulto, passe a desejá-la e exigi-la. Ou seja, é necessário que se

introduza a biblioteca na vida da população desde cedo, por meio de campanhas

educativas e esclarecedoras sobre o papel por ela representado, e que a escola a

incorpore ao seu universo cultural.

A ausência desse material, no dia-a-dia das pessoas, na verdade, é o

empecilho mais concreto para a construção de uma sociedade leitora. Ser leitor

não é uma questão de opção, mas de oportunidade. Hoje, é verdade, essa imensa

maioria tem mais acesso à palavra escrita do que antes, seja através da escola, ou

dos produtos de consumo e dos meios de comunicação. Até na televisão,

essencialmente imagem, ela está presente em anúncios, títulos dos programas,

lista de créditos. Porém, esses contatos com o texto escrito limitam-se a mera

identificação, não levando à leitura crítica e reflexiva, o que pode criar as

condições de transformação da realidade.

29

Os textos que podem levar à reflexão sobre a vida e suas relações

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são, principalmente, os de literatura, que exigem, para serem apreciados e

aproveitados, motivação e um longo caminho de dedicação

do leitor.

Com as carências materiais da sociedade brasileira, comprar livros é

uma das últimas prioridades na escala de importância de aquisição de bens.

Livros de literatura não têm valor, pois a maioria desconhece sua função social.

Portanto, criar condições de acesso à leitura é também criar as

condições de acesso aos vários textos escritos (inclusive à literatura que, por sua

vez, deve ser valorizada desde cedo pela escola e pela família). Sem condições

para constituir a biblioteca pessoal, o lugar desse

acesso é a biblioteca pública.

30

2.1.2 − A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ

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Em 1968, a convite do International Board on Books for Young

People - IBBY, órgão consultivo da UNESCO para a promoção da leitura e

divulgação do livro infantil e juvenil de qualidade, é criada a sua seção

brasileira, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil -

FNLIJ, instituição não-governamental, sem fins lucrativos.

Em um momento difícil da nossa história, educadores, artistas e

editores brasileiros criaram a FNLIJ com o olho no futuro. É a primeira

instituição nacional a ter como objetivo estatutário a promoção da leitura, ao

lado da divulgação do livro infantil e juvenil de qualidade. Os primeiros anos da

FNLIJ foram dedicados a levantar e analisar qualitativamente a produção

cultural brasileira para crianças e jovens, com prioridade para o livro.

O Prêmio FNLIJ foi instituído, a partir de 1974. Com seus

prêmios, a FNLIJ estimulou a qualidade na produção brasileira para crianças e

jovens que hoje representa uma importante fatia do mercado

31

editorial brasileiro, maior que a produção literária para adulto.

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Ainda em 1974, a FNLIJ promoveu, com apoio do MEC, o 14°

Congresso do IBBY, trazendo ao Brasil especialistas internacionais. Esse

Congresso foi um marco na história da promoção da leitura no País,

direcionando para a área muitos professores brasileiros.

Em 1982, foi criado o primeiro projeto nacional de leitura que levou

até as mais carentes escolas públicas, do ensino fundamental, livros de literatura

infantil e juvenil de qualidade. Também, pioneiramente, o projeto veiculou a

leitura pela televisão, em nível nacional. Estamos nos referindo à Ciranda de

Livros, um projeto da FNLIJ financiado pela HOESCHT e divulgado pela

Fundação Roberto Marinho. Pelo projeto a FNLIJ recebeu,

internacionalmente, a Menção

Honrosa de Prêmio de Alfabetização, da UNESCO, em 1984 e, no Brasil, o

projeto recebeu o Prêmio da Câmara Americana de Comércio.

Somente depois da criação da Ciranda é que o governo

federal, através do MEC, criou o programa Sala de Leitura, com objetivos

32

semelhantes. A FNLIJ realizou, ainda, três congressos nacionais, no Rio de

Janeiro. Suas publicações incluem 17 anos de Boletim Informativo, objeto de

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estudo para a tese do pesquisador paulista Edmir Perrotti sobre a história da

promoção da leitura no Brasil que, segundo ele, confunde-se com a história

institucional da FNLIJ. Desenvolveu, ainda, pesquisas pioneiras na área da

leitura: em 1982, Hábitos de Leitura, financiada pela FINEP, em 1988, Por uma

Política de Leitura, também financiada pela FINEP.

Em 1990, foi a FNLIJ que, expressando os anseios de

inúmeros pesquisadores e professores, levou à Fundação Biblioteca Nacional o

anteprojeto para a criação de uma Política Nacional de Leitura, que resultou na

criação do Programa Nacional de Incentivo à Leitura - Proler.

Através de cursos, seminários e congressos que organizou pelo

País, a FNLIJ foi tomando conhecimento de que inúmeros profissionais, por

iniciativa própria, ampliavam ações e práticas leitoras

Brasil afora. A maioria dessas atividades, porém, permanecia anônima,

33

sem reconhecimento e sem valorização, existindo por determinação de alguns

professores e bibliotecários. Para que esses trabalhos não se perdessem, e

considerando-os parte da história brasileira de promoção da leitura, a FNLIJ

sentiu a necessidade de torná-los conhecidos, dando-lhes visibilidade e,

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conseqüentemente, força e reconhecimento dos poderes públicos e dos

empresários, canalizando-os para servirem de base a uma ação nacional.

Assim, em 1994, criou o concurso Os Melhores Programas de

Promoção da Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o Brasil. Nesse

ano, o concurso foi realizado somente no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

Os prêmios oferecidos foram livros que a FNLIJ acumulava em duplicatas.

Quem promove a leitura precisa de livros. O chamariz foi certeiro.

Quando a FNLIJ passou a integrar, a partir de setembro de 1996, a

Comissão Coordenadora do Proler, a convite do presidente da Fundação

Biblioteca Nacional, professor Eduardo Portella, o concurso tornou-se nacional.

Em 1997, passou a ter a parceria da FBN, através do

34

Proler, ganhando, também, o apoio do MEC. O sucesso dessa iniciativa

ampliada pôde ser atestado pelo encaminhamento de 135 projetos concorrentes,

abrangendo experiências de Estados e Municípios ali representados. Quixelô, no

Ceará; São Luís, no Maranhão; Belo Horizonte, em Minas Gerais; Angra dos

Reis, no Rio de Janeiro e Junqueirópolis, em São Paulo arrebataram os primeiros

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lugares e contribuíram para fortalecer uma rede de parcerias promotoras de

projetos de leitura, agora melhor identificada.

O Projeto Centro de Leitura e Escrita criado pelo Programa

de Alfabetização e Leitura - Proale foi o vencedor do 1°. Concurso, em

1994. O projeto surge como um dos caminhos possíveis para viabilizar o

compromisso da Universidade Federal Fluminense - UFF com os Municípios do

Estado do Rio de Janeiro e suas redes de ensino na perspectiva de formular

políticas públicas na área da leitura e da escrita, tanto na esfera escolar quanto na

das políticas sociais mais amplas e na

perspectiva de interferir na formação continuada dos professores. O Proale, com

a sua experiência, foi convidado a fazer parte da Comissão Coordenadora do

Proler, que assumiu em setembro de 1996.

35

2.1.3 − A diversidade dos promotores de leitura

Quando historiamos o incentivo à promoção da leitura, em nosso

País, a contribuição e a participação da sociedade civil são animadoras.

Trabalhos como os da Associação de Leitura do Brasil, Feiras de Livros, Bienais

organizadas pelas editoras e pelo Serviço Social do Comércio - SESC têm, com

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seus perfis próprios e diferentes, importância histórica na luta pelo acesso à

leitura e à escrita no País.

2.1.4 − Associação de Leitura do Brasil - ALB

Em 1980 foi criada, em Campinas, a Associação de Leitura do

Brasil - ALB, ligada ao Instituto de Estudos da Linguagem - IEL, da

Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, e que passou a ter um papel

importantíssimo no País para a reflexão teórica em torno da leitura. A partir de

setembro de 1996, a ALB passou também a fazer parte da Comissão

Coordenadora do Proler, contribuindo para construir uma política da leitura,

no País.

36

A FNLIJ, a ALB e o Proale/UFF colocou os seus conhecimentos e

experiências à disposição do Proler, pois acreditam que será integrando e

articulando as várias ações práticas e teóricas da promoção da leitura que

caminhamos na direção de democratização dos acessos à leitura e à escrita.

2.1.5 − Os artistas do livro

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Outro segmento atuante, na promoção da leitura, são os artistas que

escrevem ou ilustram livros infantis e juvenis. A partir da

necessidade de promover seus livros, as editoras financiam a ida desses artistas

às escolas de todo o País.

Nessas caminhadas muitos artistas fazem, dessa ação profissional,

um ato político em defesa do direito de ler e escrever, levando a professores e

alunos a dimensão crítica e criadora da leitura.

37

2.2 − MÍDIA E LEITURA

2.2.1 − As televisões

Nessa enorme colcha de retalhos que é a promoção de leitura entre

nós, não podemos deixar de citar as televisões educativas e culturais, que num

esforço contra a massificação e a pasteurização da cultura produziu alguns

programas voltados para a promoção da leitura: a TVE, através do programa Um

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salto para o futuro; a MultiRio, empresa produtora de vídeos da Prefeitura

do Rio de Janeiro através da série Literatura infantil e juvenil; a TV Cultura com

o programa Castelo Ratimbum e o Canal Futura com o programa Tirando de

letra de promoção da leitura, dirigido aos jovens.

lnfelizmente, as televisões comerciais investem pouco na qualidade

intelectual de seus programas e, conseqüentemente, desprezam a importância da

promoção da leitura junto à população. As novelas,

quando baseadas em obras literárias, levam a uma venda maior de livros. Mas

como não aprofundam seu potencial papel de formador do leitor, perde-se uma

grande oportunidade.

38

2.2.2 − Os jornais

Jornais e revistas, até por instinto de sobrevivência, deveriam

investir maciçamente na promoção da leitura com projetos inteligentes. No

Brasil são poucos os que investem ou investiram na promoção de leitura, com

ações que chamem atenção para o ato de ler, enquanto no Japão, jornais como o

Asahi Shimbum promovem, anualmente, um concurso internacional para o

melhor programa de promoção de leitura, com um prêmio em dinheiro. As

seções nacionais do IBBY são responsáveis pelas indicações.

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Ressaltamos aqui alguns projetos relevantes: o "Jornal Mural",

encartado no Jornal do Brasil, infelizmente, durou pouco tempo;

o projeto "Quem lê jornal sabe mais", uma iniciativa do jornal O Globo, teve

muito sucesso. O projeto "O dia na sala de aula", uma iniciativa do

jornal O Dia. Dois jornais independentes Lector e Vertente voltados para a

promoção de leitura no Rio de Janeiro, não conseguiram sobreviver por muito

tempo.

39

Os suplementos para crianças e jovens, que deveriam ser portadores

de projetos atrativos de qualidade, são em sua grande maioria pastiches de

imagens e lugares comuns que não convidam para a leitura do texto e as críticas

especializadas em literatura infantil e juvenil, em jornais e revistas, praticamente

inexistem.

2.3 − PAIXÃO DE LER

O primeiro evento de promoção da leitura assumido pelo governo

federal foi a campanha Paixão de Ler. Baseada na iniciativa da França, La

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Fureur de Lire, a Secretária de Cultura do Município do Rio de Janeiro, em

1992, trouxe para a cidade a versão brasileira que, com o apoio da Fundação

Roberto Marinho, ganhou espaço na televisão. A

campanha vitoriosa passou a ter dimensão nacional no momento em que o

Ministério da Cultura a incorporou. O Paixão de Ler foi levado para todas as

capitais brasileiras em 1997, com grande mobilização da imprensa e com

envolvimento das bibliotecas públicas que, assim, chamaram a atenção da

população para os seus serviços, democratizando a oportunidade de ler.

40

2.4 − A DIMENSÃO POLÍTICA DA LEITURA

A dimensão política da leitura, no governo do presidente Fernando

Henrique é nova e mais democrática, apesar das várias lacunas ainda existentes,

decorrentes da omissão histórica de políticos, empresários e intelectuais quanto à

democratização das condições materiais e intelectuais de acesso aos bens de

cultura.

Considerando a importância dada pelo Ministro da Cultura ao

Proler e às novas ações da Secretaria de Política Cultural em relação às

bibliotecas, assim como as ações do Ministério da Educação e do Desporto em

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torno do livro didático e da criação da Biblioteca da Escola, acreditamos que o

acesso a livros de qualidade começa, finalmente, a ser

democratizado. É necessário, porém, investir, urgentemente, na formação leitora,

dos educadores - professores e pais - transformando a leitura e a escrita em tema

de interesse nacional. A FNLIJ, considerou o ano de 1997 como “O Ano da

Leitura”. Essa constatação surge do fato de que nunca tivemos a participação

dos governos em tantas ações novas de promoção do livro e da leitura: a

campanha Quem lê viaja, do MEC; o Farol do Saber, do governo do Paraná e

seu similar no Maranhão, Farol

41

da Educação, bem como os Cantinhos de Leitura, em Minas Gerais, estão entre

os de maior destaque.

Desejamos que em um futuro próximo o país já tenha criado as

condições básicas necessárias para que cada cidadão brasileiro tenha a

oportunidade de se formar leitor, na escola e na família, e que encontre nas

bibliotecas públicas as condições necessárias para “alimentar-se”.

Constatamos que para escrever bem é necessário “alimentar-se” da

leitura. Porém, é preciso também conhecer algumas técnicas. No próximo

capítulo abordaremos sobre essas técnicas.

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Capítulo III

COMO ESCREVER BEM

Segundo o professor Pasquale Cipro NETO:

“Escrever bem é conseqüência de pensar bem. Muitos alunos

são pouco críticos e ficam preocupados em empolar a linguagem. A outros

falta senso de abstração, que também é importante. Ninguém aprende nada da

noite para o dia. Como disse Carlos Drummond de ANDRADE, amar se

aprende amando. Da mesma forma, escrever se aprende escrevendo. A leitura

é necessária, mas não suficiente. Para escrever bem é preciso raciocínio

lógico e contato com a língua-padrão. Deve-se estar atento à estrutura do

texto e à correção gramatical, pois um texto bem amarrado, mas com a língua

descuidada, receberá uma avaliação negativa”.

(Reportagem Revista Época, 1999:83)

Para melhorar a comunicação é preciso simplificar a linguagem e

evitar rodeios que tornem a frase longa e sem objetividade. Além disso, deve-se

dedicar diariamente um período de tempo à leitura de algo que seja de

interesse. A leitura, além de aumentar a cultura

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geral, amplia o vocabulário. Assim, a pessoa vai escrever e expressar-se

cada vez melhor.

A professora Maria Thereza ROCCO, da Faculdade de Educação da

Universidade de São Paulo diz que “escrever bem é, simultaneamente, arte e

ciência. Exige talento mas também a assimilação de técnicas, regras e, às vezes,

truques”.

É importante ressaltar que a familiaridade com o tema é

fundamental para elaborar uma boa composição. Um bom texto resulta do

conhecimento do assunto a ser abordado e do uso perfeito das ferramentas de

linguagem. Quando o estudante está familiarizado com o tema, mas não domina

a língua, as redações ficam difíceis de serem compreendidas. “Para melhorar a

qualidade da redação, é preciso fazer anteprojetos e reescrever várias vezes o

texto”, ensina a professora Maria Thereza Fraga ROCCO.

No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, os alunos têm aulas

teóricas sobre técnicas de redação e, a cada 15 dias, participam de

44

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um laboratório de redação. Para induzi-los a escrever com dedicação e

entusiasmo, os professores usam música, vídeos e discussões em grupo. Os

textos são enviados a uma equipe de corretores incumbidos de apontar falhas e

localizar virtudes. Hoje, os adolescentes já não chegam aos cursos vestibulares

tão pouco familiarizados com a linguagem escrita quanto há dez anos.

O roteiro da boa redação, aconselham os especialistas, começa pela

ousadia. Para a professora de redação Maria das Graças FERREIRA, “o

estudante de hoje está mais disposto a criar, sem medo de ser original e de falar

o que pensa”. Os professores recomendam aos alunos que evitem o uso de

receitas prontas, clichês ou frases feitas. Armadilhas desse gênero viram

“camisas-de-força” e empobrecem o texto.

Abaixo seguem algumas dicas de especialistas na Língua

Portuguesa para escrever melhor:

• Procurar ser direto na construção das sentenças. Pensar no

que se quer dizer e dizer da forma mais simples.

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• Evitar termos estrangeiros ou jargões e preferir as palavras

conhecidas. Não esnobar o português.

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• Evitar "clichês". Use as próprias palavras.

Clichê - O último, mas não menos importante...

Direto - Por último...

• Adjetivos que não informam são dispensáveis. Por exemplo:

luxuosa mansão. Toda mansão é luxuosa.

• Evitar o uso excessivo do "que". Essa armadilha espreita

períodos longos. Preferir frases curtas.

• Escrever com simplicidade. Evitar o uso de expressões banidas

da linguagem oral.

• O verbo "fazer", no sentido de tempo, não é usado no plural.

É errado escrever: "Fazem alguns anos que não leio um livro".

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• Cuidado com redundâncias. É errado escrever, por exemplo:

"Há cinco anos atrás". Corte o "há" ou dispense o "atrás".

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• Só com a leitura intensiva se aprende a usar vírgulas

corretamente. As regras sobre o assunto são insuficientes. Deve-se ler bons

autores e fazer como eles.

• Ler muito, ler sempre, ler o que parecer agradável.

• Escrever diários, cartas, e-mails, crônicas, poesias, redações,

qualquer texto. Só escrevendo se aprende a escrever.

• Saber onde se quer chegar: Antes de redigir, deve-se fazer

umesboço, listando e organizando as idéias e argumentos. Ele ajudará a não se

desviar da questão central. Começar parágrafos importantes com sentenças-

chave, que indiquem o que virá em seguida. Concluir com parágrafo resumido.

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• Tornar a leitura fácil e agradável: Os parágrafos e sentenças

curtos são mais fáceis de ler do que os longos.

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• Ser direto. Sempre que possível, usar a voz ativa.

• Evitar o uso de advérbios vagos, e não esclarecedores, como

"muito", "pouco", "razoavelmente".

Vago - O projeto está um pouco atrasado.

Direto - O projeto está uma semana atrasado.

• Encontrar a palavra certa. Utilizar palavras que se conheça

exatamente o significado. Aprender a consultar o dicionário para evitar

confusões. Palavras mal-empregadas são detectadas por um bom leitor e depõem

contra o autor.

• Não cometer erros de ortografia: Em caso de dúvida,

consultar o dicionário ou pedir a alguém para revisar o trabalho. Uma redação

incorreta pode indicar negligência e impressionar mal o leitor.

48

• Não exagerar na elaboração da mensagem: Escrever somente

o necessário, procurando condensar a informação. Ser sucinto sem excluir

nenhum ponto-chave.

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Escrever e expressar-se corretamente permite ao indivíduo tornar-se

mais ágil e objetivo. Esses são atributos fundamentais para o sucesso da vida

profissional. Primeiro porque aumenta a capacidade de comunicação. Segundo

porque ajuda a orientar reuniões, fazer apresentações, defender uma idéia. Com

essas habilidades, o indivíduo preserva sua credibilidade e, principalmente, sua

imagem.

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CONCLUSÃO

Através deste trabalho pode-se confirmar o quanto é importante

conhecer bem a própria língua para utilizar a linguagem escrita de maneira

eficaz, pois trata-se de um meio de comunicação fundamental.

O uso correto da palavra valoriza o que se diz e o que se escreve.

Escrever bem é saber expressar idéias claras, rápidas e

persuasivamente. Uma boa redação revela capacidade de raciocínio e esforço

pessoal - mesmo para aqueles que têm mais facilidade.

Deve-se procurar fazer composições bem estruturadas, com idéias

claras, coerentes e respeitando as regras gramaticais.

É preciso também conscientizar-se para a importância da leitura,

pois habilita o indivíduo a expressar-se com clareza e correção.

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Ser leitor, porém, não é resultado de um processo natural. É preciso,

além da interferência educacional e cultural, contato permanente com o material

escrito, variado, e de qualidade, desde cedo, fruto de uma ação consciente da sua

importância e função social.

Constatamos que de acordo com o pensamento de VYGOTSKY, o

pensamento e a linguagem estão ligados, pois nesse processo a linguagem atua

sobre a organização do pensamento e sobre a maneira de pensar do homem,

organizando o pensamento e o estruturando convenientemente.

Ler, pensar e escrever são três ações “triviais” que se

complementam, são ações simultâneas ao próprio existir. Quem lê pensa melhor

e escreve com mais espontaneidade. Quem pensa escreve melhor e lê com mais

profundidade. Quem escreve lê melhor e pensa com mais intensidade.

Comunicar eficazmente os interesses, expectativas e idéias,

significa hoje, o grande diferencial entre as pessoas bem sucedidas, pois a

51

maneira de falar e escrever reflete o nível intelectual, a personalidade e

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a criatividade.

Já avançou-se bastante na percepção de que é preciso mudar para

enfrentar os desafios profissionais e pessoais numa sociedade altamente exigente

e competitiva. Só dependerá da atitude e iniciativa de cada indivíduo. Cada

pessoa define seu próprio sucesso.

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56

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ROMEU, José Raimundo. Leitura e formação profissional. In: Leitura, saber e

cidadania/Simpósio nacional de leitura. Rio de Janeiro: PROLER: Centro

Cultural do Banco do Brasil, 1994. p.13-17.

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SCLIAR, Moacyr. A função educativa da leitura literária. In: ABREU, Marcia

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SERRA, Elisabeth D’Angelo. Leitura e Literatura Infantil. In: Ensino da Leitura

I, Portugal: Ed. Stampa, 1973.

SUAIDEN, Emir José. Bibliotecas públicas brasileiras: desempenho e

perspectivas, Editora Lisa/INC, 1980.

VALENTE, José Armando. Informática na Educação: Uma Questão Técnica ou

Pedagógica? in: Pátio - Revista Pedagógica. Porto Alegre: Artes Médicas,

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57

VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida

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VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade

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58

ANEXO

SIGLAS:

• ALB - Associação de Leitura do Brasil

• FBN - Fundação Biblioteca Nacional

• FNLIJ - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil

• IBBY - International Board on Books for Young People

• IEL - Instituto de Estudos da Linguagem

• MEC - Ministério da Educação e Cultura

• PROALE - Programa de Alfabetização e Leitura

• SESC - Serviço Social do Comércio

• UFF - Universidade Federal Fluminense

• UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas