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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM INCLUSÃO DE EX PRESIDIÁRIOS NO MERCADO DE TRABALHO Por: Karla Abrantes Luz Villela Orientador Profª. Fabiane Muniz da Silva Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

INCLUSÃO DE EX PRESIDIÁRIOS NO MERCADO DE

TRABALHO

Por: Karla Abrantes Luz Villela

Orientador

Profª. Fabiane Muniz da Silva

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

INCLUSÃO DE EX PRESIDIÁRIOS NO MERCADO DE

TRABALHO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão de

Recursos Humanos.

Por: Karla Abrantes Luz Villela

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, à minha família,

em especial a minha Mãe Márcia e ao

meu Marido Rodrigo.

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DEDICATÓRIA

Dedica-se à minha Mãe Márcia e ao meu

Marido Rodrigo.

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RESUMO

O presente projeto pretende promover uma oxigenação da cultura

organizacional, que representa o universo simbólico da organização e

proporciona um referencial de padrões de desempenho, projetando e

fortalecendo os valores organizacionais de união e respeito das diversidades, e

impulsionando uma mudança de paradigma cultural, gerencial e

comportamental necessária à implementação de uma estratégia de negócio

orientada para a responsabilidade social.

O projeto considera a escassez de postos de trabalho formais e analisa

o problema da reinserção social dos egressos do sistema prisional no mercado

de trabalho.

A inclusão de ex-presidiários, portanto, vai de encontro aos anseios da

sociedade na medida em que combate diretamente a reincidência, ajudando a

reduzir a criminalidade, que, é sabido, é fator de elevado prejuízo patrimonial

às empresas diante da necessidade de forte investimento em segurança,

agrega valor à marca, fortalecendo a imagem da organização junto aos

consumidores e colaboradores, e resgata à condição de potenciais

consumidores, importante fatia de mercado ligada à rede familiar e social dos

egressos, gerando possibilidade efetiva de sustentabilidade empresarial.

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METODOLOGIA

Tal estudo foi despertado através da conversa com colegas a respeito

da Inclusão de Ex-presidiários no Mercado de Trabalho o que ocasionou a

leitura de livros, jornais e sites na internet.

Após a coleta de dados e pesquisa bibliográfica foi verificado que seria

interessante que o presente estudo fosse voltado em promover a inclusão

social de ex-presidiários sendo aberto à comunidade na qual a empresa

(panificação) estaria inserida.

Pretende-se promover a inclusão social de ex-presidiários, através da

capacitação, recrutamento e retenção ao quadro de colaboradores das

organizações, para desempenho das funções de padeiro, confeiteiro e afins,

haja vista a necessidade de mão-de-obra qualificada, em conjunto com ações

de reinserção social.

O projeto surgiu da necessidade de formação e retenção de

profissionais qualificados e integrados à cultura organizacional, aliado à

implementação de ações voltadas ao fortalecimento da política de

Responsabilidade Social Empresarial.

Como alternativa ao referido problema desenvolveu-se um estudo de

caso compreendendo a possibilidade do interesse da iniciativa privada pela

força de trabalho de ex-presidiários com o objetivo da sua inclusão, haja vista a

necessidade de mão-de-obra qualificada nas panificadoras.

A atuação se daria na socialização e desenvolvimento das

potencialidades de ex-presidiários a fim de que tenham uma vida dita “normal”,

visando diminuir as barreiras e dificuldades de sua aceitação no mercado de

trabalho. No intuito de tornar possível sua inserção neste mercado tão

competitivo, o projeto reconhecerá as reais capacidades, competências e

habilidades de produtividade do ex-presidiário, considerando as demandas da

empresa que, mediante as exigências do mercado, precisa de colaboradores

produtivos e incluídos em seu sistema de produção.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Características e Dificuldades de um Ex-Presidiário 11

CAPÍTULO II - Métodos de Inclusão de Ex-Presidiários no Mercado de

Trabalho 18

CAPÍTULO III – Como Incluir Ex-Presidiários no Mercado de Trabalho 26

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

FOLHA DE AVALIAÇÃO 43

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INTRODUÇÃO

A pena privativa de liberdade é colocada pelo discurso jurídico como

necessária para que haja a ressocialização do indivíduo que foge de algumas

das normas existentes para a manutenção ordem na sociedade,

caracterizando a sua conduta como criminosa. Cabe às instituições penais a

aplicação de práticas que promovam o ideal ressocializador proposto. Assim, a

reinserção social de um indivíduo só poderá ocorrer a partir do momento em

que ele passar por este processo de ressocialização e reeducação.

Percebe-se a falência do sistema prisional através de problemas

recorrentemente enfrentados, tais como déficit expressivo de vagas nos

presídios, rebeliões, fugas e altos índices de reincidência criminal. A prisão

perdeu (se é que algum dia o teve) seu papel de instituição ressocializadora e

promotora da reeducação dos indivíduos para tornar-se apenas um local que

favorece a socialização em uma cultura carcerária. Mesmo as iniciativas que

visam à formação educacional e profissional dentro das instituições carcerárias

possuem, sobretudo, o objetivo de preenchimento do ócio dentro da unidade,

não se constituindo efetivamente em instrumento de reeducação dos

indivíduos.

Considerando que o sistema prisional brasileiro não está comprometido

com a questão da ressocialização, como se infere a partir da ausência de

políticas voltadas para tal objetivo, e como se pode tomar a ausência de

política como uma forma de política, é lícito pensar que o modelo vigente de

encarceramento possua, de fato, outros objetivos que não os explicitados no

discurso jurídico. O modelo brasileiro possui, na realidade, um caráter muito

mais presente de uma suposta proteção dos cidadãos e defesa social – do

patrimônio e dos indivíduos – do que propriamente de ressocialização do

transgressor. Ou seja, ele estaria mais voltado para aqueles que estão fora dos

presídios, visando a garantir sua segurança ao privar da liberdade aqueles

indivíduos considerados perigosos para a coletividade.

Ao retornar à liberdade, uma nova etapa começa para o egresso:

ele precisa ser reinserido na sociedade. A questão da não-inserção social é um

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problema que afeta grande parte da população egressa brasileira e é

resultante da convergência de vários aspectos, mas tem como resultado

comum a exacerbação da pobreza. A população carcerária, de modo geral, é

formada por indivíduos em situação de vulnerabilidade social e econômica e

que, portanto, em condições normais já teriam dificuldades de inserir-se.

Soma-se a estas dificuldades o fato de que, ao sair da prisão, passam a

carregar o estigma de ex-presidiários, o que se torna um obstáculo quase

intransponível para a maioria dos egressos. Além disso, a baixa escolaridade,

que é característica da quase totalidade da população carcerária, dificulta a

recolocação do egresso no mercado de trabalho.

O projeto considera a escassez de postos de trabalho formais e analisa

o problema da reinserção social dos egressos do sistema prisional no mercado

de trabalho.

Como alternativa ao referido problema desenvolveu-se um estudo de

caso compreendendo a possibilidade do interesse da iniciativa privada pela

força de trabalho de ex-presidiários com o objetivo da sua inclusão, haja vista a

necessidade de mão-de-obra qualificada em determinado ramo de trabalho, ou

seja, panificação.

A inclusão de ex-presidiários, portanto, vai de encontro aos anseios da

sociedade na medida em que combate diretamente a reincidência, ajudando a

reduzir a criminalidade, que, é sabido, é fator de elevado prejuízo patrimonial

às empresas diante da necessidade de forte investimento em segurança,

agrega valor à marca, fortalecendo a imagem da organização junto aos

consumidores e colaboradores, e resgata à condição de potenciais

consumidores, importante fatia de mercado ligada à rede familiar e social dos

egressos, gerando possibilidade efetiva de sustentabilidade empresarial.

O Projeto Inclusão de Ex-Presidiários estará voltado em promover a

inclusão social de ex-presidiários e será aberto à comunidade na qual a

empresa está inserida. Atuará na socialização e desenvolvimento das

potencialidades de ex-presidiários a fim de que tenham uma vida dita “normal”,

visando diminuir as barreiras e dificuldades de sua aceitação no mercado de

trabalho. No intuito de tornar possível sua inserção neste mercado tão

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competitivo, o projeto reconhecerá as reais capacidades, competências e

habilidades de produtividade do ex-presidiário, considerando as demandas da

empresa que, mediante as exigências do mercado, precisa de colaboradores

produtivos e incluídos em seu sistema de produção.

Considerando, portanto, a falta de mão-de-obra qualificada e a vontade

de realizar inclusão social, o projeto, a partir de uma parceria entre

panificadoras e o Judiciário, apresenta, a priori, a necessidade de um acordo

com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), para recolocação, no mercado de

trabalho, de ex-presidiários, fornecendo-lhes treinamento qualificado, bem

como a possibilidade de uma vida digna e de reabilitação.

É previsto o abatimento dos encargos sociais, na medida em que os

tributos serão recolhidos normalmente, mas a empresa poderá abater esses

valores do seu lucro real ao contratar egressos do sistema prisional, pelo que,

além da reinserção de ex-presidiários na sociedade, contribui também para a

redução da carga tributária.

Acredita-se que o problema em contratar um ex-presidiário é

basicamente igual ao de qualquer outra contratação, ou seja, as empresas

buscam no mercado pessoas que tenham qualificação, antes de qualquer

outro fator, e nem sempre esses profissionais têm a qualificação ideal. É

necessário que o profissional tenha, sobretudo, competência.

Ainda que no início da implantação do projeto haja alguma resistência

por parte dos funcionários, devido à falta de conhecimento prático dessa nova

realidade, acredita-se que a partir da constatação de que o principal objetivo é

melhorar a qualidade de vida das pessoas, será muito bem aceito.

No tocante ao retorno do investimento, percebe-se que as ações

destinadas à melhoria da qualidade de vida não têm resultados apenas na

satisfação dos colaboradores. Isso porque depois que se passou a investir

nesta área, observou-se o aumento da satisfação dos clientes e na qualidade

dos produtos oferecidos.

Dentre os benefícios que ficarão visíveis na organização, após a

instituição do projeto, será o fortalecimento da relação de confiança e a quebra

de paradigmas.

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CAPÍTULO I

CARACTERÍSTICAS E DIFICULDADES DE UM EX-

PRESIDIÁRIO

Haja vista que o estado não propicia muita das vezes a reinserção

social, o resultado tem sido invariavelmente o retorno à criminalidade, ou seja,

a reincidência criminal.

Ao ingressar no sistema prisional, o indivíduo deve perder somente a

liberdade de ir e vir, tendo assegurado todos os outros direitos que a sentença

não atingiu.

Um direito assegurado pela própria Constituição Federal é o direito à

assistência religiosa, respeitando cada indivíduo, sua religião própria e opinião,

em como o estudo, um dos direitos assegurados aos reclusos pela Lei de

Execuções Penais, em uma das ferramentas destinadas à ressocialização do

detento.

1.1. Socialização e Ressocialização

O processo de socialização, constante na vida do indivíduo, nunca se

encerra e está dividido em duas partes: uma primeira chamada socialização

primária, na qual o indivíduo forma a sua estrutura social básica, e uma

segunda conhecida como socialização secundária, que é referente à aquisição

do conhecimento de funções específicas.

Os valores significativos interiorizados pela criança na socialização

primária lhe são impostos e as definições que lhe são dadas através destes

valores compõem a realidade objetiva. A partir daí, a criança passa a participar

do mundo social objetivo e as suas características são percebidas de acordo

com a localização da criança na estrutura social, e também com a disposição

do seu temperamento para sentir, de um modo especial e privativo dela, a

influência de diversos agentes.

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Durante o processo de socialização primária, não há escolha por parte

da criança a respeito das significações as quais irá absorver: um mundo lhe é

imposto e ela é obrigada a aceitá-lo. A criança, além de absorver papéis e

atitudes dos pais (ou responsáveis por sua socialização primária), também

passa a tomar o mundo deles como seu.

A socialização secundária passa a ocorrer a partir do momento em que

o indivíduo possui a personalidade formada e seu mundo interiorizado. De

acordo com Luckmann e Berger, como a realidade já foi interiorizada, o novo

processo precisa possuir conceitos que possam ser sobrepostos aos já

conhecidos pelo indivíduo, caso contrário, podem ocorrer problemas de

coerência entre a socialização primária e a secundária. O processo de

socialização secundária torna-se necessário à medida que a divisão social do

trabalho ocasionou a distribuição social do conhecimento e, portanto, passa a

ser necessária a aquisição de funções específicas com raízes na própria

divisão do trabalho, segundo os autores citados acima.

Ao contrário do que ocorre na socialização primária, na qual os pais

são responsáveis pela interiorização de valores apreendidos pelo indivíduo, na

socialização secundária ele passa a compreender o contexto das instituições,

as quais são responsáveis, através da utilização de funcionários institucionais,

como professores, por exemplo, pela interiorização dos novos conceitos.

A realidade subjetiva, referente àquilo que é apreendido na consciência

individual, também é um ponto abordado pelos autores. Para eles, a

socialização primária pode ser entendida como bem sucedida quando o

indivíduo possui presente nas suas ações, enquanto ser ativo no mundo da

vida cotidiana, um princípio constante de “inevitabilidade”.

Já no processo de socialização secundária, os valores aí internalizados

possuem uma inserção muito menos profunda na consciência do indivíduo. O

elemento mais importante para a conservação desta realidade subjetiva é a

conversa cotidiana entre os indivíduos: ela seria responsável pela reafirmação

de significados sociais que compõem a realidade subjetiva, assim como é

responsável pela sua manutenção. Para que a realidade subjetiva seja

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mantida, é necessário que o exercício da conversa cotidiana seja contínuo e

coerente.

No processo de ressocialização, o passado é reinterpretado para que

seja harmonizado com a realidade presente, há uma tendência no individuo de

retrojetar no passado vários dos elementos que não eram aceitos naquela

época. Para que este processo seja bem sucedido, é necessária uma base

social, com cujos significativos o indivíduo, inserido no processo de

ressocialização, crie uma identificação afetiva (uma vez que essa identificação

será responsável pela interiorização destes novos significativos como ocorre

na infância, quando o indivíduo possuía uma dependência emocional em sua

aprendizagem).

A nova realidade deve ser legitimada e mantida, ao passo que a antiga

e seus valores precisam ser abandonados. Porém, antes que ocorra o

abandono, é necessário que sejam feitas reinterpretações a respeito dos

significados e valores utilizados na realidade anterior à ressocialização.

O conceito de ressocialização é integrante do discurso jurídico e

justifica a pena privativa da liberdade como forma de criar nos indivíduos uma

disciplina que permita a convivência com os demais integrantes da sociedade.

O termo estaria ligado ao fato do indivíduo privado de liberdade, através das

praticas punitivas, passar a respeitar as normas penais, tendo como principal

objetivo que, no futuro, ele não volte a cometer delitos.

O Estado pune o infrator de maneira “idealizada”, uma vez que sustenta

normativamente que ele possa ser reinserido na sociedade sem que seus

crimes sejam considerados fatores excludentes, estigmatizantes. Os resultados

obtidos após o cumprimento da condenação permanecem muito distantes dos

ideais ressocializadores. O modelo punitivo de reclusão do indivíduo adotado

possui a função de proteção e defesa social muito mais presente do que a

ressocializadora, sendo que esse dado pode ser comprovado através dos altos

índices de reincidência criminal.

Segundo Shecaira e Corrêa Junior1, ressocializar não é reeducar o

condenado para que se comporte como deseja a classe detentora do poder e

1 SHECAIRA, 1995, p. 44

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sim a efetiva reinserção social, a criação de mecanismos e condições para que

o indivíduo retorne ao convívio social sem traumas ou sequelas, para que

possa viver uma vida normal. Uma vez que o estado não propicie esta

reinserção social, o resultado tem sido invariavelmente o retorno à

criminalidade, ou seja, a reincidência criminal. A pena tem uma função social

de “criar possibilidades de participação nos sistemas sociais”. Neste sentido

tem evoluído a legislação brasileira, que inaugurou grande avanço no

tratamento penal com o advento da Lei 7210/84, Lei de Execução Penal, que

deu ênfase à finalidade ressocializadora da pena, chamando a sociedade à

participação deste processo.

Infelizmente, embora a legislação pátria “assegure” ao apenado

tratamento humanizado e individualizado, voltado a reinserir o indivíduo na

sociedade através da educação, da profissionalização e tratamento

humanizado, parece que não conseguiu ainda o Estado cumprir sua própria

legislação, haja vista o estado em que se encontram a maioria dos presídios.

Delimitar qual o caminho para a ressocialização do encarcerado, é

tarefa árdua, que depende primeiramente da individualização da pena, uma

vez que as pessoas são diferentes, devendo portanto serem tratadas de

acordo com sua individualidade. Para Romeu Falconi2 “a face do delinqüente é

múltipla”, havendo vários fatores que devem ser considerados. Segundo ele,

não resta dúvida e que a maioria esmagadora dos encarcerados é proveniente

das camadas economicamente menos favorecidas.

Isso ocorre por vários fatores, primeiro porque a condição

desprivilegiada afasta os indivíduos dos meios de defesa, além de ser essa

classe historicamente perseguida pelo aparato policial-jurídico-penitenciário.

Segundo, porque os delitos cometidos por pessoas mais privilegiadas

economicamente são dissimuladas, quase não chegando ao conhecimento das

autoridades e, quando isso ocorre, estas lançam mão de meios de defesa,

legais ou não. Para estes, a reinserção social nada obsta, já que nunca

2 FALCONI, 1998, p. 41, 42

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estiveram fora do contexto social. Para os demais, correto deveria talvez dizer

inserção social, uma vez que nunca estiveram no contexto social.

E é especialmente esta parcela da população carcerária o objeto

principal de nosso estudo, que visa a contribuir para a minimização dos efeitos

do cárcere e seu melhor acolhimento quando do retorno a sociedade e ao

mercado de trabalho.

1.2. O Contato Com a Família

O contato com a família é de suma importância para que o recluso não

perca o vínculo com o mundo exterior. A família pode resgatar o indivíduo da

marginalidade, desde que seja bem estruturada. Por outro lado, famílias

desestruturadas, cujos pais já vivem na marginalidade, fatalmente levam os

filhos à marginalidade.

É também de relevante importância a questão sexual. O problema da

abstinência sexual dentro dos presídios leva à corrupção, à homossexualidade

e à violência.

Tal problema preocupa tanto as autoridades responsáveis pelo setor,

que chegou a ser proposto que os reclusos que não tivessem companheiras,

esposas ou amásias, tivessem acesso a uma forma qualquer de

relacionamento com mulheres encaminhadas aos presídios para esse fim. Tal

proposta foi rechaçada, tendo sido considerada aviltante e ilegal, uma vez que

o próprio estado estaria instituindo e viabilizando a prostituição e o lenocínio.

1.3. O Estudo

Constitui-se o estudo, além de um dos direitos assegurados aos

reclusos pela Lei de Execuções Penais, em uma das ferramentas destinadas à

ressocialização do detento. Além de viabilizar uma formação acadêmica a qual

muitas vezes não teve acesso quando em liberdade, propicia até uma melhor

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formação profissional, além do que poderá obter remição3 de pena pelo

estudo.

1.4. A Religião

Um direito assegurado pela própria Constituição Federal é o direito à

assistência religiosa, respeitando cada indivíduo, sua religião própria e opinião.

A religião, exerce um papel importante dentro das prisões,

especialmente com relação à disciplina, pois a maioria delas preconizam

padrões de comportamento compatíveis com uma boa convivência social,

como o respeito, a dignidade, o amor, rechaçando comportamentos violentos e

de desrespeito com as pessoas.

Muito se assemelham as doutrinas apregoadas pelos religiosos com a

legislação. Mas isso não é mera coincidência. Vale lembrar, nosso

ordenamento jurídico tem origem no direito canônico. Igreja e Estado por muito

tempo andaram juntos no poder e esta dicotomia existente hoje ainda é

recente, em termos de história. Se analisarmos a bíblia, poderemos encontrar

ali a maioria dos princípios que informam o direito penal atual.

A religião pode constituir-se em um mecanismo de educação moral

muito poderoso, considerando que seus mandamentos visam estimular

comportamentos baseados no amor, no respeito e solidariedade, podendo ser

aproveitada como um dos instrumentos de ressocializaçao, ou pelo menos,

como forma do indivíduo suportar com resignação as aflições que o cárcere lhe

imprime, com a perspectiva que um ser superior mudará sua vida e que o

sofrimento pelo que está passando constitui uma provação divina.

O direito à assistência religiosa, proposto pela ONU em seu artigo 41

das Regras Mínimas, foi recepcionado pela Lei de Execução Penal em

seu artigo 41, inciso VII, tendo sido também regulamentado pela Resolução do

Conselho Penitenciário no 14 de 11 de novembro de 1994, Regras Mínimas

para o Tratamento do Preso no Brasil.

3 Remição: prevista no art. 126 da Lei de Execuções Penais, onde para cada 3 dias de trabalho o recluso terá descontado 1 dia da pena. A jurisprudência atual concede a remição também pelo estudo.

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Outro aspecto importante atribuído às entidades religiosas é o de suprir

a ausência da assistência social nos presídios e cadeias públicas. Muitos

reclusos não possuem família, ou esta os abandona e o único elo que

possuem com o mundo extra-muros é através das visitas dos religiosos, que

lhes prestam favores de comprar ou até mesmo de doar-lhes produtos de

higiene pessoal e roupas.

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CAPÍTULO II

MÉTODOS DE INCLUSÃO DE EX-PRESIDIÁRIOS NO

MERCADO DE TRABALHO

Verifica-se uma estreita relação entre a prisão, a pena privativa de

liberdade e o trabalho, desde a origem da prisão como pena, até os dias

atuais.

2.1. O Trabalho nas Prisões

Foi no século XVI que apareceram as primeiras prisões leigas, e eram

destinadas a recolher mendigos, vagabundos e prostitutas, que multiplicavam-

se pelas cidades em razão da crise econômica4, como ocorreu na França em

1656, na Bélgica em 1775, quando implantou-se a Casa de Correção de Gand,

aproveitando a infraestrutura do Hospicio de San Michel e acrescentando

apenas o aprendizado profissional.5

No Brasil, a prisão também funcionava somente como cárcere destinado

à custódia de acusados aguardando a condenação ou a execução da pena,

geralmente a pena de morte, tendo sido esta concepção mudada apenas em

1830 após a instituição do Código do Império. Entretanto, somente em 1850,

17 anos após, é que surgiram as primeiras prisões onde seriam os

regulamentos direcionados para o Sistema Auburniano, com isolamento celular

e trabalho diurno.6

Para Michel Foucault7, em sua concepção primitiva, o trabalho dentro

dos presídios não objetivava profissionalizar o indivíduo, mas sim ensinar a

própria virtude do trabalho. Para ele, a utilidade do trabalho penal não era o

4 COSTA, 1999, p. 14 5 FALCONI, 1998, p. 58, 59 6 id. Ibid. p. 63 7 FOUCAULT, 1985, p. 204

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lucro, nem a profissionalização, mas a constituição de uma relação de poder

de uma forma econômica vazia, de um esquema de submissão individual e de

seu ajustamento a um aparelho de produção. Não se procurava reeducar o

delinqüente, mas sim agrupá-los e rotulá-los, e utilizados como instrumentos

econômicos ou políticos.

Por outro lado, admite a importância do trabalho quando cita:

“a ordem que deve reinar nas cadeias pode contribuir

fortemente para regenerar os condenados, os vícios da

educação, o contagio dos maus exemplos, a ociosidade

... originaram crimes. Pois bem, tentemos fechar todas

essas fontes de corrupção: que sejam praticadas regras

de sã moral nas casas de detenção, que, obrigados a um

trabalho de que terminarão gostando, quando dele

recolherem o fruto, os condenados contraiam o hábito, o

gosto e a necessidade da ocupação, que se dêem

respectivamente o exemplo de uma vida laboriosa; ela

logo se tornara uma vida pura, logo começarão a

lamentar o passado, primeiro sinal avançado de amor

pelo dever”.

Atualmente, foram proibidos praticamente em todo o mundo, os

trabalhos forçados como pena, sendo a laborterapia considerada como uma

eficaz ferramenta para a reinserção social.

Desta forma é o entendimento de Romeu Falconi8, para quem “é uma

das formas mais eficazes de reinserção social, desde que dela não se faca

uma forma vil de escravatura e violenta exploração do homem pelo homem,

principalmente este homem enclausurado.” Para ele, o hábito ao trabalho traz

novas perspectivas e expectativas para o preso, que pode vislumbrar uma

nova forma de relacionamento com a sociedade.

Obviamente, para que isso ocorra são necessários alguns pressupostos:

primeiro que este preso tenha sido profissionalizado, que esta

8 FALCONI, 1998, p. 71

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profissionalização tenha sido direcionada ao mercado de trabalho e, por último,

que esse condenado seja recebido pelo mercado de trabalho.

2.1.1. Trabalho Prisional: Educação, Separação ou Alienação?

Observando o trabalho prisional no Rio Grande do sul, Lemos, Mazzilli

e Klering9 verificam que o verdadeiro envolvimento do apenado com o trabalho

é inviabilizado por ações das organizações carcerárias que primam pela

segurança e disciplina. O sistema penitenciário, ainda que preocupado com a

reintegração dos indivíduos na sociedade, exerce, segundo os autores, uma

relação de total subordinação, tolhendo qualquer iniciativa, logo, massificando

a condição do apenado.

Os apenados percebem o trabalho prisional a partir de duas dimensões

distintas: a da realidade e a formada por suas expectativas. Acreditam ser

possível adquirir “uma nova postura em face ao mundo”, segundo Lemos,

Mazzilli e Klering10, sendo assim mais fácil a reinserção na sociedade. Porém,

por outro lado, percebem que o trabalho prisional não contribuirá para o seu

convívio em sociedade, uma vez que têm a idéia de que ele é utilizado pela

instituição para manter a ordem e a disciplina.

Analisando a função do trabalho prisional, Hassen11 afirma que,

teoricamente, além de ser muito importante como fator ressocializador para o

indivíduo que cumpre pena privativa de liberdade, coincide com a melhora da

relação com a sua família. Ao ingressar em um programa de trabalho prisional,

o preso passa a poder colaborar com o sustento da família, ao contrário de

depender dela. Por menor que seja a remuneração pelo trabalho, há, para a

autora, a possibilidade de dispor dela para a família, uma vez que a

sobrevivência material mínima é garantida ao preso pelo sistema.

Hassen considera que o ambiente de trabalho no sistema prisional

também é considerado positivo por criar laços sociais de convivência entre

9 LEMOS, MAZZILLI, KLERING, 1998, p. 138 10 LEMOS, MAZZILLI, KLERING, 1998, p. 140 11 HASSEN, 1999, p. 35

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presos-trabalhadores e pelo fato de que dentro do ambiente de trabalho “a

relação com o tempo se altera”12. Além disso, deve-se considerar que o

trabalho penal aumenta a chance do apenado na troca do regime fechado para

o semi-aberto, já que é ligado ao bom comportamento dentro da instituição

prisional, ocorrendo também a diminuição de um dia de pena a cada três

trabalhados.

Outra função do trabalho prisional seria a de criar uma “distância

espacial do crime dentro da prisão”13. Os presos que não querem trabalhar

logo são identificados com o mundo do crime pela instituição penal assim

como pelos próprios internos, e através dessa identificação, a população

prisional acaba por ser dividida em dois grupos: o grupo de indivíduos que

estão ligados ao crime e o grupo dos indivíduos que estão ligados ao trabalho.

O trabalho prisional não foge à ética social do trabalho. Ele aparece

nas representações coletivas como um valor universal que diferencia os

homens de bem, sendo sinal de decência, organização e marca de

honestidade.

O trabalho prisional é tido pelos indivíduos encarcerados como uma

maneira de passar o tempo. Não há identificação com a atividade laboral

realizada e não ocorre a pretensa reeducação social colocada pelo discurso

que justifica a pena privativa de liberdade.

Quanto aos esforços para recolocar os egressos do sistema penal no

mercado de trabalho, BAUMAN14 observa que a tentativa só será efetiva se

houver trabalho a se fazer, algo cada vez mais raro em um mundo globalizado

e com as relações de trabalho sofrendo transformações. O autor acredita que,

nas atuais circunstâncias, o confinamento em uma instituição prisional

representa uma “alternativa ao emprego”, uma maneira de neutralizar ou

utilizar uma parcela da população que não é necessária à produção e para a

qual não existem alternativas de trabalho para ser recolocada.

O discurso jurídico justifica a pena privativa de liberdade através do

pressuposto de que ela seria responsável pela criação de uma disciplina que

12 HASSEN, 1999, p.38 13 HASSEN, 1999, p. 38

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permitiria aos apenados conviverem em sociedade, uma vez que estes seriam

reeducados e ressocializados. Porém, o estado brasileiro adota um modelo no

qual a prisão possui primordialmente a função de defesa e proteção social dos

cidadãos, já que a reclusão apenas retira da sociedade os indivíduos que

cometem crimes sem reeducá-los ou ressocializá-los.

No Brasil, a ressocialização depende mais de um esforço individual

para que sejam preservados alguns valores positivos que o apenado possuía

antes de entrar na prisão e as boas relações com familiares do que das

medidas tomadas por parte do aparelho punitivo. Não há um investimento real

por parte do Estado em planos voltados para a problemática da população

encarcerada e egressa do sistema penal, e observa-se que as prisões não

diminuem as taxas de criminalidade, ao contrário, são responsáveis pela

elevação das chances de reincidência.

Como base para a ressocialização, o trabalho prisional introduziria o

indivíduo a uma nova disciplina, dando a ele a forma ideal do trabalhador; o

trabalho penal não visaria ao lucro ou ao aprendizado de uma atividade útil ao

apenado, mas sim o seu ajuste ao sistema de produção. Contudo, observa-se

que no sistema prisional brasileiro, o trabalho penal possui um sentido maior

de separação da população encarcerada em presos trabalhadores e indivíduos

criminosos, além de possuir a função de preencher o ócio dentro das unidades

penais.

Dessa forma, o preso, no momento em que é posto em liberdade,

encontra-se em situação de vulnerabilidade, dado que não ocorre o processo

de ressocialização e preparação para a reinserção social. Ademais, o estigma

que agora carrega amplifica as dificuldades para sua reinserção.

A população egressa, que normalmente já vivia uma situação de

exclusão social antes mesmo de ingressar em uma instituição penal, apresenta

muitas dificuldades para ser socialmente reinserida. O fato de não existirem

políticas públicas que auxiliem os egressos no seu processo de reinserção

torna a atuação da sociedade civil indispensável: somente haverá a conclusão

14 BAUMAN, 1999, p. 127

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do processo se a sociedade aceitá-los novamente como parte integrante de

sua formação.

Observando o sentido e a justificação da pena privativa de liberdade,

ZAFFARONI15 cita que eles possuem uma missão praticamente impossível.

Para o autor, a pena é um fenômeno político e não possui nenhuma finalidade

de caráter racional; foi inventada para que sejam mantidos o poder político

verticalizador e corporativizador da sociedade.

Segundo o autor, o discurso ressocializador e reeducador da pena

privativa de liberdade, percebidos como uma ideologia autoritária, não pode ser

verificado na realidade prática social: ensinar alguém a viver em liberdade

mantendo-o encarcerado, sob o ponto de vista do autor, é um ato irracional e

com resultados desastrosos, como visto nas prisões latinoamericanas16. As

ideologias “re” colocam quem as utiliza em um patamar social superior ao de

em quem elas devem ser utilizadas e pode ser encarado como uma

discriminação social.

2.2. O Trabalho do Patronato Penitenciário

Conforme determinação da Lei de Execuções Penais em 1984, no

Paraná a assistência ao egresso é feita através do Patronato Penitenciário

Curitiba e de Londrina, que por sua vez coordenam os Programas Pró-Egresso

de outros municípios.

É atribuição do Patronato Penitenciário, segundo o artigo 78 da Lei de

Execuções Penais17 prestar assistência aos egressos:

Art. 78. O Patronato público ou particular destina-se

a prestar assistência aos albergados e aos egressos

(artigo 26).

Art. 79. Incumbe também ao Patronato:

15 ZAFARONNI, 1997, p. 36 16 ZAFFARONI, 1997, p. 40 17 KUEHNE, 2000, p. 29

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I - orientar os condenados à pena restritiva de

direitos;

II - fiscalizar o cumprimento das penas de prestação

de serviço a comunidade e de limitação de fim de

semana;

III - colaborar na fiscalização do cumprimento das

condições da suspensão e do livramento

condicional.

Segundo a referida Lei de Execuções Penais, a assistência ao egresso

consiste:

I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em

liberdade;

II - na concessão, se necessário, de alojamento e

alimentação, em

estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois)

meses.

Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II

poderá ser prorrogado uma única vez, comprovado,

por declaração do assistente social, o empenho na

obtenção de emprego.

Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta

Lei:

I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a

contar da saída do estabelecimento;

II - o liberado condicional, durante o período de

prova.

Art. 27. O serviço de assistência social colaborará

com o egresso para a obtenção de trabalho.

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O Patronato Penitenciário de Londrina, composto por uma pequena

equipe interdisciplinar formada por 1 diretor, 2 advogados, 1 pedagoga, 2

assistentes sociais, 1 psicólogo, 1 técnico em processamento de dados, 1

administrador, 1 motorista e 01 recepcionista, atende mensalmente 500

egressos em média.

Ao sair da prisão, o indivíduo é encaminhado ao Patronato onde vai

receber orientação e assistência das áreas técnicas. Poderia se afirmar que a

principal dificuldade do egresso, portanto principal desafio deste órgão seria

auxiliar o ex-presidiário na obtenção de emprego. Uma das medidas tomadas

neste sentido é encaminhá-lo ao SINE, Sistema Nacional de Empregos, onde

de acordo com sua qualificação profissional será encaminhado para seleção

de pessoal nas empresas. Entre as dificuldades encontradas pelo Patronato

em colocar essas pessoas no mercado de trabalho, além do estigma, está a

falta de estudo e de qualificação profissional. Para tentar dirimir esta última,

são oferecidos gratuitamente cursos profissionalizantes, através do SINE, em

convênio com o SESC SENAI e SESI.

Embora a falta de recursos humanos e materiais seja muitas vezes um

entrave ao desenvolvimento do trabalho a que se propõe, procurou-se também

apoio na comunidade, principalmente envolvendo empresas que possuem

déficit de mão de obra qualificada, dentre eles o ramo de panificação.

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CAPÍTULO III

COMO INCLUIR EX-PRESIDIÁRIOS NO MERCADO DE

TRABALHO

Neste contexto, haja vista a mão de obra qualificada necessária para

panificadoras e confeitarias que atuam no setor de panificação e confeitaria,

mais especificamente na panificação artesanal, que produz e comercializa

produtos de panificação e confeitaria com alto padrão de qualidade e

diferenciação, oferecendo serviços adaptados às necessidades e desejos dos

clientes, em paralelo, sem deixar de perceber as empresas como parte da

comunidade em que atuam, tendo, portanto, compromisso com o

desenvolvimento e bem-estar, bem como a responsabilidade Social

Empresarial.

3.1. Responsabilidade Social Empresarial

Pretende-se promover a inclusão social de ex-presidiários, através da

capacitação, recrutamento e retenção ao quadro de colaboradores das

organizações, para desempenho das funções de padeiro, confeiteiro e afins,

discriminadas no código 8483 da CBO, em conjunto com ações de reinserção

social.

Entenda-se por inclusão social um conjunto de meios e ações que

combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade, oferecendo aos

necessitados oportunidades de acesso a bens e serviços.

O projeto surgiu da necessidade de formação e retenção de

profissionais qualificados e integrados à cultura organizacional, aliado à

implementação de ações voltadas ao fortalecimento da política de

Responsabilidade Social Empresarial.

A Responsabilidade Social Empresarial vem a ser o estilo de gestão

caracterizado pela ética e transparência na relação da empresa com todos os

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seus públicos, sincronizando suas metas empresariais ao desenvolvimento

sustentável da sociedade, respeitando as diferenças, esforçando-se pelo

estabelecimento de uma sociedade mais justa e buscando garantir os recursos

naturais e culturais que permitam à sociedade a sua manutenção e evolução

através das próximas gerações.

Através do exercício da chamada “cidadania corporativa” as empresas

socialmente engajadas assumem a co-responsabilidade pelos investimentos

sociais, garantidores do desenvolvimento e sustentabilidade das comunidades

e imprescindíveis à continuidade dos negócios e incorporação de potenciais

consumidores.

Além disso, a Responsabilidade Social Empresarial vem se

transformando cada vez mais em vantagem competitiva, uma vez que os

consumidores mais conscientes buscam fidelizar-se a marcas comprometidas

com a responsabilidade social e ambiental.

Ao adicionar às suas competências básicas um comportamento ético e

socialmente responsável, as empresas adquirem o respeito das pessoas e das

comunidades que são atingidas por suas atividades e são gratificadas com o

reconhecimento e o engajamento de seus colaboradores e a preferência dos

consumidores.

Promover a inclusão social de ex-presidiários constitui uma forma

inovadora e eficaz de atuar em parceria com as comunidades na construção

do bem-estar comum, viabilizando, inclusive, processos de aquisição de

certificações que atestem a boa prática empresarial, tais como a norma

internacional SA8000, que enfoca as relações trabalhistas e visa assegurar

que não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia produtiva, como a

discriminação, e sua correspondente nacional ABNT NBR 16001, publicada em

dezembro de 2004, que estabelece os requisitos mínimos a uma gestão da

responsabilidade social para auxiliar as organizações no alcance de seus

objetivos em Responsabilidade Social Empresarial, tais como promoção da

cidadania, da diversidade e combate à discriminação.

É evidente, outrossim, a intrínseca ligação entre Responsabilidade

Social Empresarial e Qualidade de Vida no Trabalho, ao se considerar QVT

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como o atendimento de necessidades e aspirações humanas calcado na idéia

de humanização e responsabilidade social da empresa, pelo que a

organização preocupada com RSE fatalmente estará preocupada com a

qualidade de vida de seus trabalhadores, dando condições plenas para a sua

realização pessoal e profissional. Ao buscar uma atuação mais integrada na

sociedade, com foco estratégico na responsabilidade social, a empresa acaba

incrementando a qualidade de vida de seus colaboradores, na medida em que

o envolvimento nas ações implementadas gera valor e sentido ao trabalho e à

vida.

Para tanto, o presente projeto pretende promover uma oxigenação da

cultura organizacional, que representa o universo simbólico da organização e

proporciona um referencial de padrões de desempenho, projetando e

fortalecendo os valores organizacionais de união e respeito das diversidades, e

impulsionando uma mudança de paradigma cultural, gerencial e

comportamental necessária à implementação de uma estratégia de negócio

orientada para a responsabilidade social.

A contribuir para a implementação do presente projeto, têm-se ações

conjuntas dos entes públicos federal, estadual e municipal, em apoio ao

programa “Começar de Novo” do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, no

sentido de legitimar e mobilizar o setor público, o setor privado e a

comunidade como um todo, na adoção de medidas que visem a plena

reintegração social dos egressos do sistema penitenciário.

O Programa Começar de Novo compõe-se de um conjunto de ações

voltadas à sensibilização de órgãos públicos e da sociedade civil com o

propósito de coordenar, em âmbito nacional, as propostas de trabalho e de

cursos de capacitação profissional para presos e egressos do sistema

carcerário, de modo a concretizar ações de cidadania e promover redução da

reincidência.

Dentre as iniciativas do programa está a criação de um banco de

oportunidades de trabalho e de educação e capacitação profissional, contando

inclusive com importantes parceiros como o SENAI – Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial, que é um dos mais importantes pólos nacionais de

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geração e difusão de conhecimento aplicado ao desenvolvimento industrial e o

maior complexo de educação profissional da América Latina, facilitando

sobremaneira o processo de recrutamento e seleção da mão-de-obra objeto do

presente projeto.

Aliado a isso, já existem inúmeras leis e decretos estaduais e municipais

que instituem benefícios e condições necessárias à reinserção de ex-

presidiários no mercado de trabalho, a exemplo de parcerias para capacitação

em cursos e atividades de qualificação social e profissional bem como

acompanhamento pedagógico e psicossocial, a exigência de que empresas

vencedoras de licitações promovidas pela Administração Direta e Indireta

reservem um determinado percentual de vagas para os egressos do sistema

prisional, e até mesmo a concessão de subvenção econômica às pessoas

jurídicas que contratarem os egressos, conforme Lei nº 18401/2009 e seu

respectivo Decreto nº 45119/2009 do Estado de Minas Gerais.

Encontra-se também em trâmite no Senado Federal, o Projeto de Lei nº

70 de 2010, de autoria da Senadora Marisa Serrano, que dispõe sobre a

dedução dos encargos sociais, quais sejam, as contribuições pagas à

Previdência Social, ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ao

salário-educação, às entidades privadas de serviço social e de formação

profissional vinculadas ao sistema sindical, ao Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e ao seguro contra os riscos de

acidentes de trabalho, devidos pelas pessoas jurídicas tributadas com base no

lucro real, em caso de contratação de egressos do sistema prisional, que já

conta com a aprovação pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado.

A inclusão de ex-presidiários, portanto, vai de encontro aos anseios da

sociedade na medida em que combate diretamente a reincidência, ajudando a

reduzir a criminalidade, que, é sabido, é fator de elevado prejuízo patrimonial

às empresas diante da necessidade de forte investimento em segurança,

agrega valor à marca, fortalecendo a imagem da organização junto aos

consumidores e colaboradores, e resgata à condição de potenciais

consumidores importante fatia de mercado ligada à rede familiar e social dos

egressos, gerando possibilidade efetiva de sustentabilidade empresarial.

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3.2. Inclusão

O Projeto Inclusão de Ex-Presidiários estará voltado em promover a

inclusão social de ex-presidiários e será aberto à comunidade na qual a

empresa está inserida. Atuará na socialização e desenvolvimento das

potencialidades de ex-presidiários a fim de que tenham uma vida dita “normal”,

visando diminuir as barreiras e dificuldades de sua aceitação no mercado de

trabalho. No intuito de tornar possível sua inserção neste mercado tão

competitivo, o projeto reconhecerá as reais capacidades, competências e

habilidades de produtividade do ex-presidiário, considerando as demandas da

empresa que, mediante as exigências do mercado, precisa de colaboradores

produtivos e incluídos em seu sistema de produção.

A princípio o projeto beneficiará 40 ex-presidiários com limite de idade

até 45 anos, de sexo masculino e/ou feminino, que tenham no mínimo

concluído o Ensino Fundamental (1º grau), e não serão descartados neste os

analfabetos funcionais. A falta de capacitação técnica é um dos entraves para

a inclusão social dos ex-presidiários no mundo do trabalho, além da baixa

escolaridade, associada à falta de experiência no mercado formal. Essas

carências funcionam como impedimentos na obtenção de emprego e por este

motivo é que o Projeto Inclusão de Ex-Presidiários adotará medidas que visem

à plena reintegração dos egressos do sistema penitenciário, mapeando todas

as necessidades para a capacitação e qualificação no âmbito educacional,

profissional e, principalmente, na vida social destes homens e mulheres que

sabem das dificuldades que os aguardam ao saírem da prisão, mas talvez não

imaginem o seu elevado grau e complexidade.

O projeto em questão conta com 02 (duas) variáveis imprescindíveis à

sua adequada implementação e retorno dos benefícios esperados, quais

sejam, a qualificação profissional e inserção social dos ex-presidiários.

A ocupação profissional objeto do projeto enquadra-se na família 8483 –

padeiros, confeiteiros e afins da CBO (Classificação Brasileira de

Ocupações), que requer ensino fundamental concluído e curso básico de

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qualificação profissional de 200 (duzentas) a 400 (quatrocentas) horas/aula, e

elenca como competências pessoais demonstrar responsabilidade, evidenciar

pontualidade, respeitar as regras de higiene e limpeza, manter-se atualizado,

manifestar criatividade e agilidade, vestir uniforme da empresa, executar

tarefas simultâneas, testar novas receitas, usar equipamentos de proteção

individual (EPI), discriminar sabores em degustação, diferenciar odores,

dominar técnicas de congelamento e resfriamento de alimentos.

Para promoção das variáveis apresentadas requer-se uma parceria com

o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, que é um dos mais

importantes pólos nacionais de geração e difusão de conhecimento aplicado

ao desenvolvimento industrial e o maior complexo de educação profissional da

América Latina, além de contar com a questão da Responsabilidade Social

como norteador de suas atividades e ações, no sentido de colaborar para

transformar indivíduos marginalizados da vida econômica em cidadãos através

da educação para o trabalho, gerando a oportunidade de ingressarem ou

reingressarem na vida produtiva.

A organização oferece cursos especialmente desenvolvidos para as

necessidades de cada empresa, os chamados “cursos sob medida”, com

currículos e horários flexíveis, concebidos para atender à demanda específica

de cada cliente, e que representam um forte diferencial para a empresa, assim

como desenvolve o programa “Educação Articulada”, em parceria com o SESI

(Serviço Social da Indústria), para oferecer a jovens e adultos uma

oportunidade de formação integral, que alie a educação básica à educação

profissional, tendo como resultado a ampliação das possibilidades de inserção

destes na vida produtiva e social.

Além disso, no desenvolvimento dos cursos destinados às profissões

industriais, nas quais se enquadra a família ocupacional do presente projeto, o

SENAI adota a estrutura metodológica para o desenvolvimento de

competências na formação profissional, que tem como ponto de partida a

descrição de perfis profissionais de diversas áreas da indústria, elaborados

com a participação de representantes de empresas e de empregados,

sindicatos, do meio acadêmico e de organismos governamentais, e que

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refletem demandas atuais e tendências do mundo do trabalho e possibilitam a

elaboração de desenhos curriculares atualizados.

3.3. Indicadores de Qualidade de Vida (Itens de Controle):

Segue abaixo tabela comparativa dos indicadores de qualidade de vida

identificados na implementação do presente projeto:

Indicadores de Qualidade de vida

(itens de controle)

Critérios Quantitativos Qualitativos Custos Quantidade de

profissionais justa

com a demanda

inicial (30, 60 e 90

dias).

Formação de 40

profissionais (30

aprendizes nos

primeiros 30 dias,

40 aprendizes

entre 31 a 90

dias).

Jornada de

trabalho e demais

direitos e deveres

estabelecidos na

CLT, com

demanda inicial

nos 30 primeiros

dias de 600 pães

diários e entre 31 a

90 dias de 800

pães diários.

Seleção de 40

ex-detentos

para

freqüência do

curso teórico e

prático de

qualificação.

Condições de

Trabalho.

Contratação de 02

instrutores

técnicos em

período integral.

Ambiente físico

seguro e saudável,

partilha justa de

produtividade,

segurança no

emprego, e direitos

de proteção ao

trabalhador.

Espaço

(Aluguel: R$

1.000,00),

maquinário

adequado

(Aluguel: R$

2.500,00) e os

02 instrutores

técnicos

padeiros (06

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horas diárias:

R$ 600,00 p/

mês).

Uso e

desenvolvimento de

capacidade.

Os 10 melhores

profissionais

(destaque no

aperfeiçoamento

técnico e prático

do curso e

aplicação) no

período de 30, 60

e 90 dias.

Possibilidade de

carreira,

crescimento

pessoal,

perspectiva de

avanço salarial, e

informações sobre

o processo total do

trabalho.

Somente

benefícios.

Integração social na

organização.

Todo o grupo (40

aprendizes).

Ausência de pré-

conceito,

igualdade,

mobilidade, senso

comunitário, e

respeito ao

próximo.

Somente

benefícios.

Constitucionalismo Todo o grupo (40

aprendizes).

Privacidade

pessoal, liberdade

de expressão,

superação e

tratamento

imparcial.

Somente

benefícios.

O trabalho e o

espaço total da

vida.

Todo o grupo (40

aprendizes).

Equilíbrio entre

trabalho e

recuperação da

vida sócio-familiar,

estabilidade de

horário sem

mudança

Somente

benefícios.

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geográfica do local

de trabalho,

aprendizado e

exercício dos

deveres de

cidadão.

Relevância social

do trabalho na vida.

Todo o grupo (40

aprendizes).

Responsabilidade

pelos produtos e

serviços, e

responsabilidade

social com a

comunidade e a

empresa.

Somente

benefícios.

Benefícios Gerais (ex-detentos e empregador):

• Integração social;

• Orgulho pelo trabalho realizado;

• Auto-estima;

• Imagem da empresa junto à opinião pública;

• Oportunidade e perspectiva de carreira;

• Possibilidade de uso do potencial;

• Redução da carga tributária.

3.4. Escopo do Projeto

A elaboração do presente projeto se dá introduzindo o que pretendemos

resolver ou transformar. Aqui deve ficar claro que o projeto é uma resposta a

um determinado problema percebido e identificado pela comunidade e pela

entidade proponente.

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O projeto considera a escassez de postos de trabalho formais e analisa

o problema da reinserção social dos egressos do sistema prisional no mercado

de trabalho.

Como alternativa ao referido problema desenvolveu-se um estudo de

caso compreendendo a possibilidade do interesse da iniciativa privada pela

força de trabalho de ex-presidiários com o objetivo da sua inclusão, haja vista a

necessidade de mão-de-obra qualificada em nossa empresa.

Considerando, portanto, a falta de mão-de-obra qualificada e a vontade

de realizar inclusão social, o projeto, a partir de uma parceria entre a

panificadora e o Judiciário, apresenta, a priori, a necessidade de um acordo

com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), por intermédio do Ministro Gilmar

Mendes, para recolocação, no mercado de trabalho, de ex-presidiários,

fornecendo-lhes treinamento qualificado, bem como a possibilidade de uma

vida digna e de reabilitação.

A proposta prevê abatimento dos encargos sociais, na medida em que

os tributos serão recolhidos normalmente, mas a empresa poderá abater esses

valores do seu lucro real ao contratar egressos do sistema prisional, pelo que o

projeto, além da reinserção de ex-presidiários na sociedade, contribui também

para a redução da carga tributária.

Com a aprovação da proposta será realizada uma análise dos

processos criminais pelo corpo jurídico da empresa, no intuito de selecionar os

ex-presidiários com o perfil traçado pela mesma, qual seja, aqueles que não

sejam reincidentes, que apresentem bom comportamento enquanto presos,

bem como uma avaliação positiva dos peritos criminais (psicólogos).

Com relação aos recursos tecnológicos, será alugado espaço ao lado da

panificadora (expansão), bem como o maquinário adequado, com 02 (dois)

instrutores técnicos para treinamento e qualificação.

Em paralelo a esta primeira etapa externa, faz-se necessário

internamente realizar palestras de conscientização dos colaboradores,

considerando o imprescindível processo de ambientação/sensibilização do

projeto, para que não haja rejeição dos colaboradores com os futuros colegas

de trabalho. Tais palestras abordariam alguns pontos principais, tais como

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ausência de pré-conceito, igualdade, respeito ao próximo, liberdade de

expressão e superação, tratamento imparcial, responsabilidade social com a

comunidade e empresa, dentre outros.

Após a análise dos processos, com a seleção dos aprendizes, faz-se

também necessário a ambientação dos ex-presidiários na empresa, cabendo

ao RH efetivar a integração destes, para que possam conhecer a estrutura

física disponibilizada, e para proporcionar um bom relacionamento interpessoal

com os demais colaboradores.

Durante esse processo de ambientação, caberá também informar aos

mesmos a respeito da jornada de trabalho (CLT), salário, benefícios,

treinamento e qualificação, avaliação, partilha na produtividade, segurança no

emprego, direitos de proteção ao trabalhador, possibilidade de carreira,

crescimento pessoal, perspectiva de avanço salarial, bem como

desenvolvimento de competência comportamental, com apoio psicológico.

Através de parceria com o SENAI será ministrado aos ex-presidiários o

curso de qualificação para mão-de-obra especializada (panificação e

confeitaria, mais especificamente panificação artesanal) durante os 03 (três)

primeiros meses, recebendo uma formação profissional direcionada e de

excelente qualidade, todo o suporte para o exercício da profissão, e ações

complementares à plena reintegração social.

Além disso, o projeto contempla a contratação de 02 (dois) instrutores

técnicos pela empresa, para acompanhamento e desenvolvimento dos

profissionais, e para orientar a aplicação da teoria na prática empresarial.

Acredita-se que o problema em contratar um ex-presidiário é

basicamente igual ao de qualquer outra contratação, ou seja, as empresas

buscam no mercado pessoas que tenham qualificação, antes de qualquer

outro fator, e nem sempre esses profissionais têm a qualificação ideal. É

necessário que o profissional tenha, sobretudo, competência.

Durante esses 03 (três) primeiros meses os novos profissionais serão

avaliados, bem como será medido o índice de satisfação tanto dos clientes

quanto dos colaboradores em relação à aplicabilidade do projeto internamente,

a fim de serem detectados aspectos passíveis de aperfeiçoamento.

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O projeto em médio prazo também tem o intuito de realizar parcerias

com outras empresas do setor, visando uma maior aplicabilidade e inserção

social.

3.5. Metodologia/Avaliação do Projeto (Feedback):

Propõe-se como ferramentas de avaliação do projeto as seguintes:

• Avaliação de desempenho: será feito a cada 03 (três) meses um

levantamento de desempenho de cada colaborador contratado na condição de

ex-detento, traçando metas e revendo os pontos de atuação que precisam ser

trabalhados; essa avaliação nos fornecerá indicadores e critérios objetivos que

facilitarão a maximização do desempenho profissional destes colaboradores.

• Pesquisa de clima: semestralmente será elaborado um questionário de

pesquisa de clima para todos os funcionários que conterá questões de

relacionamento interno, avaliando o relacionamento de funcionários ex-

detentos com os demais.

Serão utilizados diversos canais de comunicação para a divulgação

dessas ferramentas, tais como, fóruns, workshops, periódico interno, intranet,

no intuito de dar abertura aos colaboradores para questionar, sugerir ou tirar

dúvidas.

A implementação/acompanhamento das metodologias de avaliação

caberá ao RH da empresa, sendo oferecido apoio de psicólogos, palestras e

atividades de lazer e integração familiar.

Ainda que no início da implantação do projeto haja alguma resistência

por parte dos funcionários, devido à falta de conhecimento prático dessa nova

realidade, acredita-se que a partir da constatação de que o principal objetivo é

melhorar a qualidade de vida das pessoas, será muito bem aceito.

No tocante ao retorno do investimento, percebe-se que as ações

destinadas à melhoria da qualidade de vida não têm resultados apenas na

satisfação dos colaboradores. Isso porque depois que se passou a investir

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nesta área, a empresa observou o aumento da satisfação dos clientes e na

qualidade dos produtos oferecidos.

Dentre os benefícios que ficarão visíveis na organização, após a

instituição do projeto, será o fortalecimento da relação de confiança e a quebra

de paradigmas, visto que os profissionais são estimulados a saírem da

chamada "zona de conforto".

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CONCLUSÃO

O trabalho tem na vida dos indivíduos um papel paradoxal, servindo

aos olhos da sociedade para atestar a idoneidade daquele que dele sobrevive,

bem como instrumento de dominação e de poder das classes dominantes e

dos órgãos governamentais.

O desemprego e o trabalho em condições injustas, tem um estreito

liame com a criminalidade. Não significa isso que a população pobre cometa

mais delitos, mas sim que a tolerância do aparelho policial e judiciário com

essa facção da sociedade seja diferenciada.

Essa característica vem se repetindo ao longo da história, e embora a

legislação tenha evoluído no sentido de banir as penas corporais, essa

legislação é incapaz de suplantar o domínio exercido pela sociedade

dominante e na prática continuam presentes e marcantes as penas aflitivas,

através das torturas dentro dos presídios e delegacias e da estigmatização que

persegue o encarcerado, impossibilitando-o de retornar ao convívio social e ao

mercado de trabalho.

Faz-se necessário entre outras medidas o desenvolvimento de ações

voltadas para a geração de empregos e melhoria nos salários, bem como

efetivas medidas para a absorção pelo mercado de trabalho dos egressos do

Sistema Penitenciário, seja ela através de uma lei de incentivo fiscal, a

exemplo do que foi feito com o menor aprendiz, ou até mesmo a instituição de

um sistema de cotas.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES, PÓS-

GRADUAÇÃO “LATO SENSU”, FACULDADE INTEGRADA AVM.

Título da Monografia: INCLUSÃO DE EX PRESIDIÁRIOS NO MERCADO DE

TRABALHO.

Autor: Karla Abrantes Luz Villela

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: