tge - teorias do estado - resumo de todos os grupos-1

20
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS CURSO DE DIREITO TEORIA GERAL DO ESTADO OS GRANDES PENSADORES DO ESTADO Relatório de trabalho da disciplina de Teoria Geral do Estado, do Curso de Direito. Aluno: Ricardo Orsini Orientação: Profª Sibelle Fonseca Okano. Goiânia, abril de 2010.

Upload: aleregsilvaa

Post on 20-Oct-2015

9 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS CURSO DE DIREITO

TEORIA GERAL DO ESTADO

OS GRANDES PENSADORES DO ESTADO

Relatório de trabalho da disciplina de Teoria Geral do Estado, do Curso de Direito. Aluno: Ricardo Orsini Orientação: Profª Sibelle Fonseca Okano.

Goiânia, abril de 2010.

Page 2: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 2

Thomas Hobbes Dados Pessoais Nasce em 1588 (Malmesbury, Inglaterra). Morre em 1679 (Hardrick Hall, Inglaterra). Matemático, teórico político e filósofo inglês. Obras mais relevantes Leviatã (1651) Do Cidadão (1651).

Contexto histórico

Século XVII. Início do expansionismo colonialista ingles, com fundação de colônias nas américas já em 1607. Com a Revolução Gloriosa (década de 80 do século XVII, com o poder político saíndo das mãos dos católicos e da monarquia, passando para a mão dos protestantes, concentrado no parlamento, com a declaração da Bill of Rights), são lançadas também as bases para a Revolução Industrial. É durante esse período que a Marinha Inglesa irá se consolidar como a maior e mais bem equipada marinha do mundo, só perdendo a posição para os EUA no pós-2a. Guerra Mundial. A poderosa marinha irá contribuir para o acúmulo de capitais que irá financiar o expansionismo colonial e, mais tarde, industrial inglês.

Entretanto, o século XVII de Hobbes é marcado pelo absolutismo monárquico. Quando Hobbes tinha 30 anos e já havia visitado a Europa continental pela primeira vez, uma revolta na Boêmia daria início à Guerra dos Trinta Anos, fato que irá reforçar para Hobbes a sua própria visão pessimista acerca da natureza humana destrutiva.

Junto a Locke, o embate intelectual e político de Hobbes é sobre a natureza em torno do Estado Absolutista e do seu respectivo opositor, o Estado Liberal.

A obra de Hobbes é uma resposta para o caos político e social vivido pela sua geração. Ele constrói uma teoria contratualista de estado com o objetivo de desenvolver a paz social e estabelecer uma ordem racional (tanto social, quanto política) no seio do Estado. Sua concepção de Estado é individualista, realista e pessimista, ainda que se recuse emitir qualquer juízo de valor moral sobre o assunto. Há também em sua noção uma visão materialista acerca do Estado, ou seja, na exclusão de “forças” subjetivas na construção e manutenção do Estado, tais como os interesses econômicos individuais ou de grupos sociais. Contribuições para a TGE

Hobbes é o teórico do contratualismo. As teorias contratualistas representam a busca da legitimidade do poder O que há de comum entre os filósofos contratualistas é que eles partem da análise do homem em estado de natureza, isto é, antes de qualquer sociabilidade (estado pré-social ou estado pré-civil). Neste estado, por hipótese, o homem desfruta de todas as coisas, realiza os seus desejos e é dono de um poder ilimitado. No estado de natureza, o homem tem direito a tudo (direito de natureza). O conceito de estado de natureza ou de condição natural tem a função de explicara situação pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente. A concepção de Thomas Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos (homo homini lupus). Nesse estado reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar.

Ora, enquanto perdurar esse estado de coisas, não haverá segurança nem paz alguma. A situação dos homens deixados a si próprios é de anarquia, geradora de insegurança, angústia e medo. Na seqüência do raciocínio, Hobbes pondera que o homem reconhece a necessidade de "renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo". A nova ordem é celebrada mediante um contrato, um pacto, através do qual todos abdicam de sua vontade em favor de "um homem ou de uma assembléia de homens, como representantes de suas pessoas". O homem, não

Page 3: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 3

sendo sociável por natureza, o será por artifício. É o medo e o desejo de paz que o levam a fundar um estado social e a autoridade política, abdicando dos Seus direitos em favor do soberano. Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado os humanos decidem passar à civitas ou à sociedade civil, isto é, ao estado civil, criando o poder político e as leis.

A passagem do estado de natureza ao estado civil ou à sociedade civil se dá por meio de um pacto social ou contrato social, pelo qual os indivíduos concordam em renunciar à liberdade natural (ou o poder para fazer tudo o que se quer, desde que nenhum obstáculo impeça a ação) e à posse natural de bens e armas e em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis (determinando o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o permitido e o proibido), usar a força (encarregando-se, em nome de todos, de vingar os crimes), declarará guerra e a paz. O contrato social funda a soberania e institui a autoridade política, isto é, a pólis ou a civitas. É instituído, portanto, o estado civil, que deve pôr um fim às lutas mortais do estado de natureza.

Hobbes usa a figura bíblica do Leviatã, animal monstruoso e cruel, mas que de certa forma defende os peixes menores de serem engolidos pelos mais fortes. É essa figura que representa o Estado, um gigante cuja carne é a mesma de todos os que a ele delegaram o cuidado de defendê-los.

Em resumo, o homem abdica da liberdade dando plenos poderes ao Estado absoluto a fim de proteger a sua própria vida. Além disso, o Estado deve garantir que o que é meu me pertença exclusivamente, garantindo o sistema da propriedade individual. Aliás, para Hobbes, a propriedade privada não existia no estado de natureza, onde todos têm direito a tudo e na verdade ninguém tem direito a nada.

O poder do Estado se exerce pela força, pois só a iminência do castigo pode atemorizar os homens. “Os pactos, sem a espada [sword] não são mais que palavras [words]”.

John Locke

Dados Pessoais Nasce em 1632 (Wrington, Inglaterra). Morre em 1704 (Essex, Inglaterra). Médico, filósofo inglês, foi um dos grandes ideólogos do liberalismo. Tem grande contribuição, também, na teoria do conhecimento, com a sua teoria da tabula rasa. Principais obras Dois tratados sobre o Governo (1689); Cartas sobre a Tolerância (1689); Ensaio sobre o entendimento humano (1690); Pensamentos sobre a Educação (1693).

Contexto Histórico Locke descendia de uma família de burgueses comerciantes. Esteve refugiado na Holanda

por ter se envolvido com pessoas acusadas de conspirar contra o rei Carlos II. Retornou à Inglaterra no mesmo navio em que viajava Guilherme de Orange, símbolo da consolidação da monarquia parlamentar inglesa. Com a obra Dois tratados sobre o governo civil, se tornou o teórico da revolução liberal inglesa, cujas idéias iriam fecundar todo ó século XVIII, dando fundamento filosófico às revoluções ocorridas na Europa e nas Américas.

Embora o capitalismo estivesse em via de consolidação e o poderio econômico da burguesia fosse inconteste, em toda parte o regime político permanecia monárquico e, com isso, o poderio político da realeza e o prestígio social da nobreza também. Para que o poder econômico da burguesia pudesse enfrentar o poder político dos reis e das nobrezas, a burguesia precisava de uma teoria que lhe desse uma legitimidade tão grande ou maior do que o sangue e a hereditariedade davam à realeza e à nobreza. Em outras palavras, assim como sangue e hereditariedade davam à realeza e à nobreza um fundamento natural para o poder e o prestígio, a burguesia precisava de uma teoria que desse ao seu poder econômico um fundamento natural, capaz de rivalizar com o poder político da realeza e o prestígio social da nobreza, e até mesmo suplantá-los. Essa teoria será a da propriedade privada como direito natural e sua primeira formulação coerente será feita por Locke.

Page 4: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 4

Contribuições para a TGE Assim como Hobbes e posteriormente Rousseau, Locke parte da concepção individualista,

pela qual os homens isolados no estado de natureza se uniram mediante contrato social para constituir a sociedade civil. Portanto, apenas o pacto toma legítimo o poder do Estado.

Mas, diferentemente de Hobbes, não vê no estado de natureza uma situação de guerra e egoísmo, o que nos leva a indagar por que os homens abandonariam essa situação delegando o poder a outrem. Para Locke, no estado natural cada um é juiz em causa própria; portanto, os riscos das paixões e da parcialidade são muito grandes e podem desestabilizar as relações entre os homens. Por isso, visando a segurança e a tranqüilidade necessárias ao gozo da propriedade, as pessoas consentem em instituir o corpo político.

O ponto crucial do pensamento de Locke é que os direitos naturais dos homens não desaparecem em conseqüência desse consentimento, mas subsistem para limitar o poder do soberano, justificando, em última instância, o direito à insurreição: o poder é um trust, um depósito confiado aos governantes. Trata-se de uma relação de confiança: se estes não visarem o bem público, é permitido aos governados retirá-lo e confiá-lo a outrem.

A concepção de sociedade civil – ou sociedade política, pois em Locke estes conceitos ainda não estão separados - representa um aspecto progressista do pensamento liberal, enquanto destaca a origem democrática, parlamentar do poder político. Ou seja, o poder está fundamentado nas instituições políticas, e não no arbítrio dos indivíduos.

Enquanto Hobbes destacava a soberania do poder executivo, Locke considera o legislativo o poder supremo, ao qual deve se subordinar tanto o executivo quanto o poder federativo (encarregado das relações exteriores). Note-se que ainda nesse momento não havia sido desenvolvida a teoria da autonomia dos três poderes, o que ocorrerá apenas com Montesquieu.

Para Locke, eram direitos naturais o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a conservação de ambas. Esses bens são conseguidos pelo trabalho. Como fazer do trabalho o legitimador da propriedade privada enquanto direito natural? Deus, assim pensa Locke, é um artífice, um obreiro, arquiteto e engenheiro que fez uma obra: o mundo. Este, como obra do trabalhador divino, a ele pertence. É seu domínio e sua propriedade. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, deu-lhe o mundo para que nele reinasse e, ao expulsá-lo do Paraíso, não lhe retirou o domínio do mundo, mas lhe disse que o teria com o suor de seu rosto. Por todos esses motivos, Deus instituiu, no momento da criação do mundo e do homem, o direito à propriedade privada como fruto legítimo do trabalho. Por isso, de origem divina, ela é um direito natural.

O Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe atribui, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural de propriedade. Dessa maneira, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças ao seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da sociedade ou do trabalho alheio.

O burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos os homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu o direito à propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que não conseguem tornar-se proprietários privados, são culpados por sua condição inferior. São pobres, não são proprietários e têm a obrigação de trabalhar para outros seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de acumulá-lo para adquirir propriedades, seja porque são preguiçosos e não trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade.

Page 5: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 5

Charles de Montesquieu

Dados Pessoais Nasce em 1689 (Bordeaux, França). Morre em 1755 (Paris, França). O Aristocrata Barão de Montesquieu foi político, filósofo e escritor francês. Obras mais relevantes Cartas Persas (1721); Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734); O Espírito das leis (1748).

Contexto Histórico A vida de Montesquieu abrange o período do apogeu do Ancient Regimé na França. A

formulação do Regime Absolutista e, em especial da Monarquia Absolutista, nasceu concomitantemente ao próprio surgimento do Estado Nacional Moderno. Montesquieu viveu as contradições desse período.

O Absolutismo Político se encontra vinculado à implantação de um estado centralizado politicamente com a conseqüente implantação de uma "racionalização" burocrática do aparelho administrativo dos Estados Nacionais europeus surgidos a partir do século XIV. A partir de meados do século XVII, verifica-se uma mudança de orientação dos espíritos. O humanismo cristão estava preocupado com o homem em si e neste via o ser social em suas relações não apenas com o sistema da natureza e com Deus, mas igualmente com o seu meio e suas instituições. Transformara-se de tal maneira que só aceitava o que fosse conhecido pela observação e pela experiência. As instituições religiosas, políticas e sociais deveriam ser submetidas à luz da razão.

O desenvolvimento da economia de troca, a ascensão da burguesia, a crítica das instituições sociais provocam uma mudança de valores sociais. A sociedade de ordens, praticamente desaparecida das cidades holandesas, encontra-se arruinada na Inglaterra, onde só se achava em alguns vestígios. Na França, era posta em discussão e severamente criticada. Montesquieu, apesar de não ser crítico severo da Monarquia, acaba por ser um dos grandes ideólogos da Revolução Francesa. Contribuições para a TGE

Montesquieu elaborou uma teoria política, que apareceu na sua obra mais famosa, O Espírito das Leis, inspirada na obra de John Locke. A obra é um tratado sobre as instituições em geral e sobre as leis. Busca compreender as diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Foi considerada por Raymond Aron como a primeira obra de sociologia. Inadvertidamente, a obra inspirou os redatores da Constituição de 1791 e tornou-se fonte das doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário.

"O Espírito das Leis" analisa de maneira extensa e profunda os fatos humanos com um rigoroso esboço de interpretação do mundo histórico, social e político. Para Montesquieu, as leis escritas ou não, que governam os povos, não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla. Ao contrário, decorrem da realidade social e da História concreta própria ao povo considerado. Não existem leis justas ou injustas. O que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo e a uma determinada circunstância de época ou lugar. Há uma relação necessária entre as leis e a correspondente sociedades, ou com o espírito geral dessas.

Entenda-se por espírito geral de uma sociedade a resultante de causas físicas (o clima), causas morais (costumes, religião etc.) e as máximas de um governo Modernamente, espírito geral é chamado de identidade nacional.

Segundo estas duas características fundamentais de um governo, Montesquieu distingue três formas de governo:

a) Monarquia - soberania nas mãos de uma só pessoa (o monarca), segundo leis positivas, tendo como princípio a honra.

b) Despotismo - soberania nas mãos de uma só pessoa (o déspota), segundo a vontade deste, tendo como princípio o medo.

c) República - a soberania está nas mãos de muitos. Se na mão de todos, é uma democracia. Se na mão de alguns, aristocracia. O seu princípio motor é a virtude.

Page 6: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 6

Apesar de ser muito influenciado pelos clássicos (notadamente Aristóteles), o seu esquema de governos é diferente destes últimos. Na sua teoria dos tipos de governo, a democracia e a aristocracia aparecem como um mesmo tipo (agrupados na república). O despotismo aparece como um tipo em si e não como a corrupção da monarquia (como classicamente considerado). Montesquieu, ao contrário dos clássicos, mostra-se mais preocupado com a forma com que será exercido o poder, ou seja, se ele é exercido seguindo leis ou não.

Ao procurar descobrir as relações que as leis têm com a natureza e o princípio de cada governo, Montesquieu desenvolve uma teoria de governo que alimenta as ideias fecundas do constitucionalismo, pelo qual se busca distribuir a autoridade por meios legais, de modo a evitar a violência e o abuso de poder de alguns. Tais ideias, matrizes da separação dos poderes, ainda hoje são consideradas quando se trata do exercício do poder democrático.

O poder legislativo, convocado pelo executivo, deveria ser separado em duas casas: o corpo dos comuns, composto pelos representantes do povo, e o corpo dos nobres, formado por nobres, hereditário e com a faculdade de impedir (vetar) as decisões do corpo dos comuns. Essa era uma medida protetiva dos nobres. Para Montesquieu, os iguais devem legislar para iguais e não caberia legislação de desiguais. Essas duas casas teriam assembléias e deliberações separadas, assim como interesses e opiniões independentes. Refletindo sobre o abuso do poder real, Montesquieu conclui que “é preciso que o poder limite o poder”. Daí, a necessidade de cada poder manter-se autônomo e constituído por pessoas e grupos diferentes.

Montesquieu admirava a constituição inglesa, mesmo sem compreendê-la completamente, e descreveu cuidadosamente a separação dos poderes em Executivo, Judiciário e Legislativo. Essa separação influenciou profundamente o trabalho dos elaboradores da Constituição dos Estados Unidos.

Montesquieu não era um revolucionário. Sua opção social ainda era por sua classe de origem, a nobreza. Ele sonhava apenas com a limitação do poder absoluto dos reis, pois era um conservador, que queria a restauração das monarquias medievais e o poder do Estado nas mãos da nobreza. Ele critica apenas as formas de despotismo, mas não aprecia a ideia de o povo assumir o poder. A sua crítica, no entanto, serviu para desencadear as revoluções burguesas do século XVIII. Jean-Jacques Rousseau

Dados Pessoais Nasce em 1712 (Genebra, Suíça); Morre em 1778 (Ermenonville, França). Filósofo, escritor, teórico político e compositor genebrino. Obras mais relevantes Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1755); Do Contrato Social (1762); Emílio ou Da Educação (1762).

Contexto Histórico Rousseau fez amizade com Diderot, filósofo do grupo iluminista do qual participavam Voltaire,

D' Alembert, D'Holbach. Tornaram-se conhecidos como os enciclopedistas, por terem elaborado a Enciclopédia ou Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios, que divulgava os novos ideais da tolerância religiosa, confiança na razão livre, oposição à autoridade excessiva, o naturalismo, o entusiasmo pelas técnicas e pelo progresso. Rousseau é convidado a escrever os verbetes sobre música (sua paixão anterior à filosofia), mas sempre foi elemento destoante do grupo, pois divergia em muitos aspectos do pensamento iluminista e teve, inclusive, sérios atritos com Voltaire.

Precursor do romantismo, Rousseau valoriza demasiadamente o sentimento, num ambiente sobremaneira racionalista. Sempre foi um apaixonado e a forma como expõe suas idéias revela a carga emocional derivada de uma sensibilidade exacerbada. Os leitores deixam-se contagiar por esse espírito agitado, e um de seus admiradores foi Robespierre, representante do setor mais radical e democrático da Revolução Francesa e que, contraditoriamente, instaurou o Terror. Espírito contraditório, elaborou as bases da pedagogia moderna com a obra Emílio, mas entregou seus cinco filhos a um orfanato.

Page 7: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 7

Contribuições para a TGE Assim como seus antecessores Hobbes e Locke, Rousseau procura resolver a questão da

legitimidade do poder fundado no contrato social. No entanto, sua posição é, num aspecto, inovadora, na medida em que distingue os conceitos de soberano e governo, atribuindo ao povo a soberania inalienável.

No Discurso sobre a origem da desigualdade, Rousseau cria a hipótese dos homens em estado de natureza, vivendo sadios, bons e felizes, enquanto cuidam de sua própria sobrevivência. Isso até que surge o momento em que é criada a propriedade e uns passam a trabalhar para outros, gerando escravidão e miséria. Rousseau parece demonstrar extrema nostalgia do estado feliz em que vive o bom selvagem, quando é introduzida a desigualdade entre os homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo e a predominância da lei do mais forte. O homem que surge da desigualdade é corrompido pelo poder e esmagado pela violência.

O Contrato Social, para Rousseau, trata-se de um falso contrato, pois coloca os homens sob grilhões. Há que se considerar a possibilidade de outro contrato verdadeiro e legítimo, pelo qual o povo esteja reunido sob uma só vontade. O contrato social, para ser legítimo, deve se originar do consentimento necessariamente unânime. Cada associado se aliena totalmente, ou seja, abdica sem reserva de todos os seus direitos em favor da comunidade. Mas, como todos abdicam igualmente, na verdade cada um nada perde, pois “este ato de e associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo composto de tantos membros quantos são os votos da assembléia e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade”.

Pelo pacto, o homem abdica de sua liberdade, mas sendo ele próprio parte integrante e ativa do todo social, ao obedecer à lei, obedece a si mesmo e, portanto, é livre. Rousseau diz que “(...) a obediência à lei que se estatuiu a si mesma é liberdade”. Isso significa que, para ele, o contrato não faz o povo perder a soberania, pois não é criado um Estado separado dele mesmo.

Mesmo quando cada associado se aliena totalmente em favor da comunidade, nada perde de fato, pois, enquanto povo incorporado, mantém a soberania. Ou seja, soberano é, para Rousseau, o corpo coletivo que expressa, através da lei, a vontade geral. A soberania do povo, manifesta pelo legislativo, é inalienável, ou seja, não pode ser representada. A democracia considera que toda lei não ratificada pelo povo em pessoa é nula.

Por isso, o ato pelo qual o governo é instituído pelo povo não submete este àquele. Ao contrário, não há um "superior", já que os depositários do poder não são senhores do povo, mas seus oficiais, podendo ser eleitos ou destituídos conforme a conveniência. Os magistrados que constituem o governo estão subordinados ao poder de decisão do soberano e apenas executam as leis, devendo haver inclusive boa rotatividade na ocupação dos cargos.

Rousseau preconiza, portanto, a democracia direta ou participativa, mantida por meio de assembléias freqüentes de todos os cidadãos. Enquanto soberano, o povo é ativo e considerado cidadão. Mas há também uma soberania passiva, assumida pelo povo enquanto súdito. Então, o mesmo homem, enquanto faz a lei, é um cidadão e, enquanto. a ela obedece e se submete, é um súdito. Além de inalienável, a soberania é também indivisível, pois não se pode tomar os poderes separadamente.

A concepção política de Rousseau, como todo pensamento liberal, é tramada contra o absolutismo, mas ultrapassa o elitismo de Locke e propõe uma visão mais democrática de poder. Sem dúvida, empolgou políticos como Robespierre e até leitores como o jovem Marx. Os aspectos avançados do pensamento de Rousseau estão no fato de denunciar a violência daqueles que abusam do poder conferido pela propriedade, bem como por ter desenvolvido uma concepção mais democrática de poder, baseada na soberania popular e no conceito-chave de vontade geral.

Com isso, Rousseau representa já no seu tempo a crítica ao modelo elitista do liberalismo e antecipa sob alguns aspectos as propostas de solução para as questões sociais que irão surgir no século XIX. Mesmo assim, Rousseau ainda é filho do seu tempo porque, ao partir da tese contratualista, de certa forma mantém a perspectiva individualista do pensamento burguês; ao de-nunciar a violência como resultado da natureza humana corrompida, mantém ainda a perspectiva de uma análise moral (e portanto pessoal) de um fenômeno que os teóricos socialistas a ele posteriores perceberão como resultante dos antagonismos sociais.

Page 8: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 8

Karl von Gerber

Dados Pessoais Nasce em 1823 (Ebeleben, Turíngia – hoje, Alemanha). Morre em 1821 (Dresden, Alemanha). Carl Friedrich Wilhelm Gerber foi jurista e político alemão, além de Ministro da Religião na Saxônia. Principais obras System des deutschen Privatrechts (Sistema do Direito Privado Alemão, 1848/49); Grundzüge eines Systems des deutschen Staatsrechts (Fundamentos dos Sistemas de Direito Público Alemão, 1865).

Contexto Histórico

Gerber, ligado aos círculos religiosos de sua época, contribuiu para a transformação da Igreja Saxônica, da qual foi Ministro da Religião. Chegou a dedicar-se exclusivamente ao trabalho administrativo da igreja e da educação, e publicado apenas na área de direito empresarial. Contribuições para a TGE

Em 1865 publicou a obra “Fundamentos de um Sistema de Direito Público Alemão”, cujo objetivo era sistematizar juridicamente os fenômenos políticos. Por influencia desta obra Jellinek criou a Teoria Geral do Estado publicada em 1900, como uma disciplina autônoma, tendo objeto o conhecimento do Estado. Johann Kaspar Bluntschli

Dados Pessoais Nasce em 1808 (Zurique, Suíça) Morre em 1881 (Karlsruhe, Alemanha) Foi um jurista e político suíço. Obras mais relevantes Denkwürdiges aus meinem Leben (obra autobiográfica, 1884); Bluntschli und seine Verdienste um die Staatswissenschaften (1882); Brockhaus, Konversations-Lexicon (1901);

Contexto Histórico Um dos autores marcantes do movimento da moderna Teoria Geral do Estado e um

dos principais representantes do organicismo. Contribuições para a TGE

Defende o nacionalismo, quando proclama que cada nação tem a vocação e o direito de constituir um Estado. Para ele, “assim como a humanidade está dividida numa pluralidade de nações, assim deve ser o mundo repartido por igual número de Estados”.

Cada nação é um Estado e cada Estado um ser nacional. Defende a instituição de uma comunidade europeia (europäische Staatengemeinschaft), pela instauração de um Estado federal europeu, de estrutura flexível. Este Estado seria composto de um Conselho Federal, representante dos Estados, e um Senado, representante dos povos.

Não chegou a admitir um organismo supra-nacional (como a ONU) porque isso ofenderia a soberania dos Estados europeus. Pensa antes num direito de cooperação, coordenação e colaboração, do que num direito de subordinação.

Page 9: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 9

Bluntschli pena o Estado como organismo biológico. A concepção organicista, de influência da filosofia positiva de Auguste Comte, era moda intelectual na época. Segundo sua concepção, os Estados nascem, crescem, são adolescentes, envelhecem e morrem, num ciclo comparável ao da própria vida de um organismo vivo. Tal antropomorfismo chegou mesmo a equiparar a fixação dos impostos à nutrição do ser vivo; a organização militar ao instinto de conservação; a justiça ao vigor da saúde; e o poder soberano à cabeça do organismo.

O Estado passa a ser entendido como pessoa viva, com uma cabeça − o governo −, para além do tronco, dos braços e das pernas. Importou-se, inclusive, com o próprio sexo desse organismo, atribuindo-lhe uma masculinidade patente (ativa), ao contrário da sensibilidade feminina (passiva) da Igreja.

Para ele, “a história, ao revelar-nos a natureza orgânica do Estado, dá-nos a conhecer também que este não figura na escala dos organismos inferiores como os animais ou as plantas, mas que é uma de espécie superior”. Atribui ao Estado uma personalidade dotada de corpo e espírito, capaz de possuir e emitir a sua própria vontade. Assim, o fim verdadeiro e direto do Estado é o desenvolvimento da nação, o aperfeiçoamento da sua vida, a sua conformação por uma marcha progressiva, que não está em contradição com os destinos da humanidade. Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Dados Pessoais Nasce em 1770 (Stuttgard, Alemanha) Morre em 1831 (Berlin, Alemanha) Foi filósofo alemão. Obras mais relevantes Fenomenologia do Espírito (1806) Ciência da Lógica (1812-1816) Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817-1830) Elementos de Filosofia do Direito (1817-1830)

Contexto Histórico Último filósofo clássico famoso, Hegel foi Pastor e, como tal, os problemas religiosos do

cristianismo foram uma de suas principais preocupações. Atacou sempre a ortodoxia, mas não a doutrina propriamente. No campo político, Hegel gostou quando em 1806 Napoleão submeteu a Prússia, que ele considerava governada por uma burocracia corrupta.

Último filósofo clássico famoso, Hegel foi Pastor e, como tal, os problemas religiosos do cristianismo foram uma de suas principais preocupações. Atacou sempre a ortodoxia, mas não a doutrina propriamente. No campo político, Hegel gostou quando em 1806 Napoleão submeteu a Prússia, que ele considerava governada por uma burocracia corrupta.

Foi um dos criadores do Idealismo Alemão. Seu historicismo e idealismo revolucionaram toda a filosofia européia, sendo ainda importante precursor da filosofia continental e do Marxismo. Desenvolveu, basicamente, um complexo e profundo sistema filosófico que relacionava mente e natureza, sujeito e objeto do conhecimento, numa ampla gama de campos do conhecimento (psicologia, Estado, História, Artes, Direito etc.). Contribuições para a TGE

A filosofia de Hegel nega a tese contratualista de que haveria um estado de natureza pré-social, formado antes da existência do Estado e que seria condição da formação deste. O Estado é condição para a existência do próprio indivíduo e, por isso, não faz sentido pensar o indivíduo fora deste. O Estado é expressão da história concreta dos homens. Um “estado” fora do Estado é nada mais do que uma ficção. Não é possível imaginar indivíduos isolados (sem determinação) e ao mesmo tempo as condições que tornariam possível que eles se decidissem por um pacto. A idéia de acordo é admitida por Hegel apenas no direito privado, mas este só é constituído mediante a existência do próprio Estado. A conclusão

Page 10: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 10

aqui é direta: Estado de Natureza e o contratualismo (de Hobbes a Rousseau) são uma ficção teórica.

O Estado é aquilo que proporciona as condições através das quais os indivíduos não vivam somente para a realização de seus interesses, negligenciando a dimensão universal e absoluta que só o Estado pode realizar. Vale lembrar que não se trata aqui de uma tese absolutista e totalitária de Estado, que esmaga seu membros por ser uma força descomunal. A totalidade de Hegel é aquela que teria como função o desenvolvimento, e não a aniquilação, de todas as determinações existentes do indivíduo. O todo do Estado vem antes das partes. Este é um princípio que se contrapõe a todo individualismo das posições contratualistas e jusnaturalistas.

Para Hegel, “a vontade geral não pode ser constituída pelas vontades singulares, já que é ela mesma que as constitui”. A vontade geral deve ser racional, e não algo obtido pelo arbítrio de indivíduos num estágio pré-social. Enfim, o que Hegel defende é que a) a racionalidade inerente ao Estado não poderia ser obtida num estágio de desenvolvimento histórico onde o indivíduo sequer foi constituído; e b) o indivíduo não pode ser fundamento de algo que o transcende e, por isso, o constitui. A hipótese do “contrato social” seria, assim, sem sentido teórico e prático. A noção de Espírito, em Hegel, se manifesta objetivamente nas criações humanas, no Direito, na moralidade e na eticidade, dos quais são expressões a família, a sociedade civil e o Estado. Este último seria a síntese suprema das contradições da vida comunitária, chamada por Hegel de “totalidade ética”. A totalidade ética passa a ser o novo fundamento do Estado. O Estado é a própria totalidade ética, que nada mais é do que um povo. É o momento concreto da história universal da humanidade e não uma mera abstração. É a condição de vida, única em que o direito tem sua realidade. Georg Jellinek

Dados Pessoais Nasce em 1851 (Leipzig, Alemanha) Morre em 1911 (Heidelberg, Alemanha) Foi filósofo do direito e juiz alemão. Obras mais relevantes Teoria Geral do Estado (1900)

Contexto Histórico A concepção de Jellinek é influenciada pelas Teorias Racionalistas, posicionando-se entre os Organicistas, tendo em vista que estes consideram o Estado nada menos que um fim em si mesmo. Contribuições para a TGE

Jellinek define Estado como “corporação de um povo, assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando”.

Em Teoria Geral do Estado (1900), ele apresenta um estudo da evolução histórica do Estado, examina o povo, o território e o poder político, que são os elementos caracterizadores do Estado. Nesta obra, ele classifica os tipos de Estado em: a) Estado Oriental; b) Estado Grego; c) Estado Romano; d) Período Medieval; e e) Estado Moderno.

O Estado Oriental era caracterizado pela estratificação social e existência mínima dos direitos e garantias individuas. Seus traços marcantes são a teocracia e a monarquia

Page 11: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 11

absolutista. São exemplos desse tipo de Estado os hebreus, os mesopotâmicos, entre outros.

O Estado Grego tinha como base a igualdade de todos perante a lei, de modo que inexistia funções hereditárias, sendo o acesso a cargos públicos e a atividades comum do governo livre a todos os cidadãos.

No Estado Romano surge a separação entre o poder público e o privado, onde o poder político se sobressai, formado por imperium (autoridade), potestas (poder organizacional) e majestas (enaltecimento do poder). Esse tipo de Estado era marcado pela reverência ao governo.

No Período Medieval, o cristianismo se mostra com grande força, onde o poder possui uma concepção patrimonial e fragmentária, em que a coesão do poder não existia.

O Estado Moderno aparece como uma revolução no conceito de Estado, onde uma única pessoa possuía o poder político. Aqui a autoridade papal perde espaço, a burguesia se eleva e o capitalismo constitui-se. Nessa classificação, podem se enquadrar o Estado Estatal, o Estado Absoluto e o Estado de Direito.

Jellinek considera o território como um fator subjetivo pessoal: “Fora do homem não há território, há frações da superfície terrestre”. Para ele, o território só interessa como sede de um povo, de uma comunidade, onde o Estado possui jurisdição. Assim, entre o Estado e o território não há uma relação de domínio. O Estado tem sobre seu território imperium, jurisdição, não dominium.

Sobre soberania, defende que ela significa apenas o “optimum” político (do poder político), pois, no campo internacional, é preciso que os Estados aceitem restrições sobre sua soberania. Esse "optimum" político, ou seja, a própria soberania, a transforma em um poder supremo e independente – supremo em relação à jurisdição interna e independente em relação à autonomia na jurisdição internacional. Nesse sentido, a soberania apresenta-se como a base da ideia de Estado Moderno.

Na sua “Teoria dos Quatro Status”, desenvolvida no final do século XIX, Jellinek funda-se na ideia de que o indivíduo, na condição de membro do Estado, mantém com este múltiplas relações às quais ele domina status. Simplificando, é uma teoria das situações do indivíduo perante o Estado. O status qualifica a situação jurídica do indivíduo diante do Estado, e classifica-se em: passivo, negativo, positivo e ativo.

� Passivo (subjectiones): o indivíduo encontra-se em posição de absoluta subordinação ao Estado, em razão dos deveres a ele impostos, tendo o Estado competência para fazer cumprir seus mandamentos e proibições.

� Negativo (libertatis): o indivíduo, que é dotado de personalidade, possui sua autodeterminação; é o estado de ampla liberdade individual onde não se permite interferência do Estado.

� Positivo (civitatis): indivíduo encontra-se em situação de exigir do Estado que atue positivamente a seu favor, através da oferta de bens e serviços, principalmente os essenciais à sobrevivência e sadia qualidade de vida da própria comunidade.

� Ativo (activae civitais): o indivíduo desfruta de competências para influir sobre a formação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direitos políticos, manifestados principalmente através do voto.

Page 12: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 12

Hans Kelsen Dados Pessoais Nasce em 1881 (Praga, Tchecoslováquia) Morre em 1973 (Berkeley, EUA) Foi jurista austro-americano. Obras mais relevantes O problema da justiça. Teoria Pura do Direito (1934). Teoria Geral do Direito e do Estado. A Ilusão da Justiça. O que é justiça?

Contexto Histórico

Kelsen foi um dos pensadores mais respeitado do seu tempo e um dos mais influentes juristas do século XX. É considerado o principal representante da chamada Escola Positivista do Direito. Perseguido pelo nazismo, emigrou para os Estados Unidos da América, onde viveu até seus últimos dias e onde exerceu o magistério na Universidade de Berkeley.

Os princípios fundantes de seu raciocínio jurídico-científico prevaleceram e hoje são respeitados e amplamente acatados, servindo de base para muitas das instituições jurídicas que sustentam o Estado Democrático de Direito. Contribuição para a TGE

Para Kelsen, é a ordem jurídica (e não a cultura, ou os fatos sociais) que condiciona a produção das normas jurídicas e desse modo faz com que o Estado possa existir como pessoa jurídica. É pelo fato de seus atos poderem ser imputados juridicamente que o Estado se constitui como personificação das normas jurídicas.

Podemos perceber que o Estado, para Kelsen, é a própria ordem jurídica, ou, quando muito, a própria personificação dessa ordem. Nesta perspectiva, não importa muito se o conteúdo emanado pelas leis é totalitário e contraria a concepção atual de estado democrático. Para ele, o grau de democracia e de segurança jurídica que as leis apresentam demonstra apenas o estágio de desenvolvimento do Estado.

A ideia básica é que se existe uma ordem coercitiva e eficaz, independente da sua natureza política e do viés sociológico apurado, existe um Estado. O fator político também não importa na caracterização do Estado. Esta parece ser a posição clássica do positivismo, que impede quaisquer considerações de caráter extrajurídico na definição da entidade estatal. Neste sentido, a política consiste numa esfera extrajurídica, ligada apenas à faculdade de um ou mais indivíduos exercer a coerção do Estado em seu nome, de maneira mais ou menos autoritária, de forma democrática ou arbitrária, e assim por diante. O Estado, por outro lado, é uma possibilidade de reação, exercício coercitivo frente aos descumprimento dos preceitos legais, independendo de qualquer ingerência do poder político vigente. No início do século XX, Kelsen apresentou a sua "Teoria Pura do Direito", que, segundo ele, teria sido desenvolvida de modo purificado, isento de toda ideologia política e de todos os elementos da ciência natural. A pureza teórica visava atingir uma concepção de ciência jurídica julgada importante no Direito, qual seja, atingir o ideal de toda ciência: objetividade e exatidão.

No capítulo do seu Teoria Pura do Direito (“Direito e Estado”), Kelsen passa a tecer as diferenças que costumam caracterizar a oposição entre autonomia e heteronomia da teoria jurídica, essencialmente no domínio do Direito do Estado. Assim, faz-se necessária a identificação da forma do Estado e como trabalhar a questão relativa ao método de criação do Direito.

Page 13: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 13

Nesse sentido, Kelsen explica: “O Estado deve ser representado como uma pessoa diferente do Direito para que o Direito possa justificar o Estado – que cria este Direito e se lhe submete. E o Direito só pode justificar o Estado quando é pressuposto como uma ordem essencialmente diferente do Estado, oposta à sua originária natureza, o poder, e, por isso mesmo, reta ou justa em qualquer sentido. Assim o Estado é transformado, de um simples fato de poder, em Estado de Direito que se justifica pelo fato de fazer direito”. Jean Bodin

Dados Pessoais Nasce em 1530 (Praga, França) Morre em 1596 (Laon, França) Foi jurista francês e membro do Parlamento de Paris. Obras mais relevantes Os Seis Livros da República (1576)

Contexto Histórico Jean Bodin foi um jurista francês que contribuiu bastante para que o absolutismo

ganhasse suas mais importantes justificativas intelectuais. Além de preocupar-se com questões de ordem política, Bodin também era um famoso perseguidor das manifestações heréticas de sua época. Sua ação contra valores religiosos considerados anticristãos acabou deixando-o conhecido como “procurador do Diabo”.

Convivendo com os intensos conflitos religiosos que tomaram conta da França do século XVI, Bodin vai dedicar boa parte de sua reflexão política à questão da soberania. Nesse sentido, um dos mais marcantes valores pregados pelo seu pensamento consiste em defender a indivisibilidade da soberania. Contribuições para a TGE

Bodin acredita que a idéia de um governo misto gera uma falsa impressão de que não há a ação de um setor politicamente soberano. Para confirmar essa idéia, ele toma como exemplo as práticas políticas instituídas no interior da República romana. De acordo com sua interpretação, o fato da população romana ter o direito de indicar quais pessoas ocupariam os cargos de magistratura não limita os diversos poderes concedidos a esses mesmos representantes políticos.

Em suma, ele não aceita a possibilidade de uma forma de governo pautada na ausência de soberania. Caso não haja um setor politicamente soberano, seja minoritário ou majoritário, qualquer governo acaba se transformando em um verdadeiro regime de natureza anárquica. Para ele, a classificação mais adequada a cada tipo de governo vai depender do estado em que a soberania se apresentar em diferentes contextos políticos.

No momento em que a hegemonia é assumida pela figura do príncipe, temos a instalação de uma monarquia. Em experiências onde a soberania é assumida pela grande maioria da população, acredita o pensador que o estado é popular. Por fim, caso haja um grupo minoritário controlando as instituições políticas, haveria a formação de um regime aristocrático.

Além disso, Bodin também vai admitir que cada tipo de estado assuma diferentes formas de governo. Em uma monarquia, por exemplo, ele pode admitir que o rei tenha uma forma de governo democrática ao permitir que diferentes grupos sociais participem da administração pública. Ao mesmo tempo, quando a monarquia restringe a participação popular ou concentra as decisões nas mãos do rei, o governo passa a ganhar traços claramente despóticos.

Dessa maneira, Bodin oferece meios para analisar de forma diversa os mais diferentes estados.

Page 14: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 14

Por fim, sua obra se sustenta veementemente na idéia de que seria impossível conceber um governo pautado em grupos igualitariamente favorecidos. Ao naturalizar as desigualdades, Bodin começa a levantar argumentos onde indica que a desigualdade e a presença de um indivíduo soberano não se tratam de um costume socialmente constituído, mas uma forma claramente perceptível em diferentes manifestações de ordenação da natureza.

Também utiliza uma argumentação de traço fortemente religioso para defender o regime monárquico. Segundo o próprio autor, “todas as leis da natureza nos guiam para a monarquia; seja observando esse pequeno mundo que é nosso corpo, seja observando esse grande mundo, que tem um soberano Deus; seja observando o céu, que tem um só Sol”. Por isso, esse teórico absolutista será considerado um dos defensores do “direito divino dos reis”. León Duguit

Dados Pessoais Nasce em 1859 (Libourne, França) Morre em 1928 (Bordéus, França) Foi jurista francês. Obras mais relevantes Traité de droit constitutionnel (1911); Les transformations générales du droit privé (1912); Les transformations générales du droit public (1913).

Contexto Histórico Opositor de Jellinek, postulava que a ciência do direito deve ser puramente positiva, rejeitando a idéia de direito natural, juízos axiológicos, e quaisquer outras concepções metafísicas, como os conceitos de soberania do Estado e de pessoa moral. Critica a concepção jurídica de Estado e de lei subjetiva. Rejeita qualquer tipo de construção individualista calcada na metafísica herdada dos juristas romanos ou da escolástica medieval, recepcionada pelos teóricos da Revolução Francesa (inclui-se aí os contratualistas). Contribuição para a TGE

Duguit é responsável por influenciar significativamente a teoria do Direito Público. Seu trabalho jurídico caracteriza-se por uma crítica das teorias então existentes do Direito e pelo estabelecimento da noção de serviço público como fundamento e limite do Estado.

Duguit vê os seres humanos como animais sociais dotados de um senso universal ou instinto de solidariedade e interdependência. Deste senso vem o reconhecimento de respeito a certas regras de conduta essenciais para uma vida em sociedade. Estamos tratando aqui da influência direta das idéias do Positivismo a la Durkheim, de quem foi colega. Desta forma, as regras jurídicas são constituídas por normas que se impõem naturalmente e igualmente a todos. A governantes e governados cabe o dever de se absterem de qualquer ato incompatível com a solidariedade social.

Na visão de Duguit, o Estado não é um poder soberano, mas apenas uma instituição que cresce da necessidade de organização social da humanidade, dentro dos moldes de qualquer instituição positivista. Os conceitos de soberania e direito subjetivo são substituídos pelos de serviço público e função social.

O Direito vai encontrar seu verdadeiro fundamento num substrato social, representado pela solidariedade e interdependência entre pessoas, ou seja, pela consciência inerente a todo indivíduo das relações que o ligam a seus semelhantes. A função social do direito é, destarte, a realização da solidariedade social. Entenda-se

Page 15: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 15

solidariedade como aquilo que dá a liga social. Nas sociedades industriais, a solidariedade social era baseada na divisão do trabalho social.

Também se atribui a Duguit a postulação da teoria da Função Social da Propriedade, que veio a ganhar especial relevância no Brasil, por ter sido elevada a status constitucional com a Constituição Federal de 1988 (CF, Art. 5º, XXIII: “A propriedade atenderá a sua função social”) e como princípio ordenador da economia brasileira (CF, Art. 170, III: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: III - função social da propriedade”). Maurice Hauriou

Dados Pessoais Nasce em 1856 (Ladiville, França) Morre em 1929 (Toulouse, França) Foi jurista francês. Obras mais relevantes Princípios de Direito Público (1916); Princípios de Direito Administrativo (1927); Princípios de Direito Constitucional (1929).

Contribuições para a TGE Sobre a influência do filósofo Henri Bergson, Hauriou diz que as instituições sociais são

produto do poder criativo da humanidade. É, segundo ele, a idéia de um trabalho ou empreendimento que compreende e dá suporte jurídico ao corpo social. Para realizar esta idéia, este poder precisa ser organizado em órgãos. Por outro lado, estes órgãos precisam estar regulados por normas e procedimentos previamente estabelecidos. Esta idéia de instituição social pode ser adota para qualquer fenômeno associativo, inclusive o de Estado.

Com defende a idéia de poder como instituição social organizada como empreendimento da coletividade (organização comunitária), Hauriou rejeita qualquer tipo de instrumentalização do poder que não o realize enquanto seu objetivo institucional. Para tal realização, ele estabelece que uma das bases ou princípios sobre os quais se pauta o poder é a separação de poderes, que tira do poder governamental o caráter de força e o estabelece como um poder capaz de criar a lei.

A separação dos poderes se dá como: a) o poder executivo, que envolve a competência de execução de decisões; b) o poder deliberativo, que envolve a competência discursiva de deliberação; e c) o poder de sufrágio, que envolve a competência de consentimento.

Page 16: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 16

José Bonifácio de Andrada e Silva

Dados Pessoais Nasce em 1763 (Santos, Brasil) Morre em 1838 (Niterói, Brasil) Foi um naturalista, estadista e poeta brasileiro. Obras mais relevantes Sobre as minas de carvão-de-pedra em Portugal (1813); Memória minerográfica da serra que decorre de Santa Justa até Santa Comba e suas vizinhanças na província do Minho (1814-1815); História da Academia Real das Ciências de Lisboa, para o ano de 1818 (1818); Poesias avulsas (1825).

Contexto Histórico

Bonifácio cumpriu relevante papel no processo da independência do Brasil. Os brasileiros queriam liberdade das amarras administrativas e políticas portuguesas e, por consequência, uma constituição. Em 1808, Napoleão invadiu Portugal e a família real retirou-se para o Brasil. José Bonifácio tornou-se um dos líderes de um movimento clandestino de libertação, o “Corpo Voluntário Acadêmico”. José Bonifácio foi escolhido para presidir uma eleição em São Paulo e acabou se tornando líder político, assumindo a vice-presidência da Junta Governativa. Teve ainda importante papel na Constituinte de 1923, que daria forma à primeira constituição brasileira, a de 1824. Mas, envolvido numa série de conspirações políticas, acabou exilado. Voltou mais tarde ao Brasil, e acabou sendo nomeado tutor dos filhos de Dom Pedro II. Contribuições para a TGE

Ele tinha uma concepção de que o estado precisava ser forte, centralizado e reformista, sem ênfase em participação popular. Ele atenuou as divergências políticas e ideológicas entre o imperador e a Assembléia Constituinte, onde representava a corrente mais conservadora. Defendeu um Estado extremamente centralizado que garantisse ao governo central o monopólio da iniciativa política, assim como assegurasse à elite branca letrada as condições de direção administrativa. Para ele, isto era pré-requisito fundamental tanto para efetivar as reformas pretendidas, quanto para forjar a própria identidade nacional.

Propugnou também a limitação do direito de voto, em oposição aos liberais radicais, que exigiam uma constituição liberal, a limitação dos poderes de D. Pedro e a maior autonomia das províncias. O Estado nesta condição seria capaz de produzir suas próprias leis – um Estado autônomo e criador de política.

No Brasil, o sistema de voto indireto, copiado da constituição espanhola de 1812, foi adotado por José Bonifácio, quando de suas instruções normativas para a eleição dos deputados brasileiros às cortes de Lisboa. O sistema indireto prevaleceu, no império, até 1881.

Bonifácio foi árduo defensor da aristocracia rural escravista, a classe social que efetivamente representou ao longo de sua vida.

Page 17: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 17

Rui Barbosa Dados Pessoais Nasce em 1849 (Salvador, Brasil) Morre em 1923 (Petrópolis, Brasil) Ruy Barbosa de Oliveira foi jurista, político, diplomata, lobista, escritor, filólogo, tradutor e orador brasileiro. Obras mais relevantes Castro Alves: Elogio do Poeta pelos Escravos (1881); O Papa e o Concílio (1877); Os Atos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal (1893); Posse dos Direitos Pessoais (1900); O Código Civil Brasileiro (1904); O Brasil e as Nações Latino Americanas na Haia (1908); Oração aos Moços (1920).

Contexto Histórico No início da carreira na Bahia, engajou-se numa campanha em defesa das eleições

diretas e da abolição da escravatura. Foi político relevante na República Velha, ganhando projeção internacional durante a Conferência da Paz em Haia (1907), defendendo com brilho a teoria brasileira de igualdade entre as nações.

Eleito deputado provincial, e adiante geral, atuou na elaboração da reforma eleitoral, na reforma do ensino, emancipação dos escravos, no apoio ao federalismo e na nova Constituição. Por divergências políticas, seu programa de reformas eleitorais que elaborou, mal pode ser iniciado, em 1891.

Com seu enorme prestígio, Rui Barbosa candidatou-se duas vezes ao cargo de Presidente da República - nas eleições de 1910, contra Hermes da Fonseca e 1919, contra Epitácio Pessoa - entretanto, foi derrotado em ambas, sendo o período durante a primeira candidatura o marco inicial e sua Campanha Civilista.

Sócio fundador da Academia Brasileira de Letras, sucedeu a Machado de Assis na presidência da casa. Sua vasta biblioteca, com mais de 50.000 títulos pertence à Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada em sua própria antiga residência no Rio de Janeiro. Rui Barbosa faleceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 1923. Contribuições à TGE

Defensor do Federalismo e do Constitucionalismo, Rui Barbosa foi buscar nos Estados Unidos o mais acabado e perfeito modelo republicano então em vigor no mundo, e que serviu como base para os trabalhos constitucionais que redundaram na Carta Magna de 1891, da qual foi principal revisor.

Entretanto, sua visão não conseguiu superar os conchavos da época que, mesmo denunciados na imprensa, subjugaram as instituições públicas aos seus interesses, cerceando as garantias civis, transformando a República, de bandeira de liberdade em pura ditadura.

Mas Rui Barbosa não foi apenas gigante na defesa da correta observância da Constituição pelas instituições republicanas. Contemporâneo de um período em que o poder era constantemente ferramenta de opressão e arbítrio, lutou arduamente contra o desrespeito aos direitos políticos de personalidades distintas e contra o abuso das liberdades individuais dos mais simples. Combater os tão comuns abusos de autoridade, luta continuada pela extensão conferida pelo Supremo Tribunal Federal deu ao Habeas Corpus em situações de abuso, desenvolvendo ainda a figura do Mandado de Segurança, instituto genuinamente brasileiro. Sua militância no Direito Internacional merece destaque. Sua participação no Congresso de Haia, em 1907, quando foi voz das nações subdesenvolvidas, foi sucesso internacional. Considerando que o interesse pelo Direito Internacional é recente, pelo menos

Page 18: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 18

na maioria das Faculdades de Direito, colidindo com sua importância prática nestes dias de globalização, digno de nota registrar que há um século Rui Barbosa tratava este ramo com a seriedade e o esmero que muitos, até os dias de hoje, ainda recusam em lhe emprestar.

Saindo da seara do Direito Público e ingressando na do Direito Privado, nenhum estudo sobre o Código Civil de 1916 pode deixar de mencionar a persistente crítica do Senador Rui Barbosa sobre o projeto do professor cearense Clóvis Beviláqua, durante sua tramitação no Congresso, por quase duas décadas. Ainda que suas críticas sejam mais de forma do que de conteúdo, não se pode desmerecer sua contribuição: apaixonada defesa da correição de linguagem, o que apenas serviu para consolidar a obra de um dos nossos maiores civilistas.

Na sua longa vida pública, se dedicou à ampla variedade de importantes temas, como o abolicionismo, a democracia, o federalismo e a liberdade. Em síntese geral, poucas foram as grandes questões políticas e jurídicas das décadas que antecederam sua morte que não contaram com sua preciosa participação ou opinião. Clóvis Beviláqua

Dados Pessoais Nasce em 1859 (Viçosa do Ceará, Brasil) Morre em 1944 (Rio de Janeiro, Brasil) Foi jurista, legislador, filósofo e historiador brasileiro. Obras mais relevantes Direito de Família (1896) Direito das Obrigações (1896) Princípios elementares de direito internacional privado (1906) Teoria Geral do Direito Civil (1908) Direito Público Internacional (1911) Estudos jurídicos: historia, philosophia e critica (1916) Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado (6 vols) (1916) Historia da Faculdade de Direito do Recife (1927)

Direito internacional brasileiro: conferência (1930) Direito das Coisas (1942) Contexto Histórico Professor, crítico literário e vasta produção na área jurídica das mais sólidas, Beviláqua é conhecido e respeitado por ter sido convocado para ser sócio fundador da Academia Brasileira de Letras. Essas mesmas condições levaram-no a ser chamado, em 1899, pelo então Ministro da Justiça de Epitácio Pessoa, com o intuito de escrever o projeto do Código Civil Brasileiro. Clóvis redigiu o projeto, de próprio punho, em apenas seis meses, porém o Congresso Nacional precisou de mais de quinze anos para que fossem feitas as devidas análises e emendas. Sendo promulgado em 1916, passando a vigorar a partir de 1917 (apenas recentemente substituído pela lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002). Pode-se afirmar que o Código Civil Brasileiro imortalizou Clóvis Beviláqua no cenário jurídico e intelectual. Contribuições para a TGE

Beviláqua foi fortemente influenciado pelas ideias de Tobias Barreto e pelo empirismo evolucionista alemão, ligado as idéias de Jellinek. Para ele, a nota essencial do poder do Estado é a soberania. A soberania, portanto, é a expressão mais alta do poder jurídico do Estado.

Neste sentido, o Estado é um agrupamento humano estabelecido em determinado território e submetido a um poder soberano que lhe dá unidade orgânica. O conceito parte

Page 19: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 19

da finalidade subjetiva suprema do Estado, que é a de realizar inúmeros fins particulares de forma a alcançar um objetivo geral. Beviláqua aborda a teoria dos fins relativos, baseando-se na idéia da solidariedade (aquela dos positivistas franceses, como Durkheim), que define que o objetivo de Estado é conservar, ordenar e ajudar a igualdade jurídica dos indivíduos nas condições iniciais da vida social.

Além disso, o Estado objetiva também, como sociedade política, o bem comum, definido pelo conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana. Enfim, é o bem comum de um povo, em determinado território, sob um determinado governo, visando o desenvolvimento da personalidade dos integrantes de um povo. Karl Marx

Dados Pessoais Nasce em 1818 (Tréves, Alemanha) Morre em 1883 (Londres, Inglaterra) Foi filósofo, intelectual e revolucionário alemão. Obras mais relevantes Manuscritos econômicos-filosóficos (1844); A Ideologia Alemã (1845); A Sagrada Família (1845) A Miséria da Filosofia (1847) Manifesto Comunista (1848); Trabalho assalariado e capital (1849) Para crítica da economia política (1859)

O Capital (1867) Contexto Histórico

Na primeira metade do século XIX, a Europa vivia os efeitos das Revoluções Francesa e Industrial, na Inglaterra. Os meios de comunicação, transporte e as conquistas da medicina revolucionaram a vida e os negócios, de um modo geral, de todos os países europeus. As cidades cresciam, as fábricas se multiplicavam e o modelo de vida rural de características medievais desaparecia e no seu lugar a vida tomava-se mais urbana e o comércio ganhava força.

Ao mesmo tempo as contradições do sistema econômico capitalista, recém instalado, se fazia sentir. A greve era caso de polícia, a mão de obra infantil era utilizada de forma generalizada e sem nenhuma restrição, trabalhadores que tinham membros amputados eram demitidos sem nenhuma indenização e o salário era tão aviltante que a massa de operários vivia, na sua grande maioria, na miséria.

A reação dos trabalhadores a esta situação, num primeiro momento, se dá de maneira desorganizada e assistemática mediante confrontos com a polícia, barricadas, piquetes nas portas das fábricas e por fim a destruição das máquinas nas fábricas cujo fenômeno foi denominado de Ludismo.

Tal situação chama a.atenção de inúmeros intelectuais europeus que começam a discutir as mais diferentes soluções para o problema social que se agravava a cada dia. Entre eles podemos citar Saint-Simon, Jacques Fourier e Robert Owen, que apesar de apresentarem soluções não apenas diferentes, mas em muitos casos conflitantes, para o equilíbrio nas relações entre capital e trabalho tinham pontos em comum.

Em 1848 Marx e Engels publicam o Manifesto do Partido Comunista, anos antes em 1844, os manuscritos econômicos e filosóficos, além de inúmeros artigos de jornais. As análises de Marx se distanciam daquelas efetuadas pelos socialistas utópicos em função do rigor científico que lhes caracterizava. Daí o fato de Marx ser considerado o pai do socialismo científico, pois partia de estudos de economia, estatística, geografia, história, política para fundamentar seus escritos.

Page 20: TGE - Teorias Do Estado - Resumo de Todos Os Grupos-1

TGE – Os grandes pensadores do Estado – Ricardo Orsini - 20

Contribuições para a TGE A concepção do Estado em Marx está presente de forma esparsa por toda a sua

obra, mas foi Engels que, após a morte do amigo reúne numa só obra a gênese, significado e objetivos do Estado segundo a visão marxista: “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” publicada 1884. A tese principal dessa obra é a relação entre o aparecimento da propriedade privada e o Estado, resultado da institucionalização e oficialização do domínio de uma classe sobre as outras. Nesse caso todo e qualquer ordenamento jurídico, seja ele escrito ou não, representa uma ferramenta ou um instrumento que concede legitimidade e legalidade para a exploração de uma classe sobre as outras.

O Estado não passa de um instrumento de dominação de classes. Ele é um aparelho de dominação de classe, ou seja, é usado pela classe dominante para manter o seu status quo no quadro global da luta de classes. No contexto da vida de Marx, o estado era um aparelho ideológico burguês, que usava o Direito como ideologia para a manutenção do atual estágio de dominação dos meios de produção por parte da burguesia.

Disso decorre que o Direito, segundo Marx, não é e nunca foi uma ciência sim uma ideologia a serviço da manutenção e reprodução do poder político-econômico dos proprietários dos meios de produção sobre os trabalhadores que vendem sua força de trabalho para os primeiros.