tge - trabalho final

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................ .................................................0 2 VIDA E OBRA.............................................. .............................................03 TOCQUEVILLE: SOBRE A IGUALDADE......................................... .03 TOCQUEVILLE: SOBRE A LIBERDADE......................................... ..05 REVISÃO BIBLIOGRAFICA..................................... ............................06 ABORDAGEM ATUAL............................................. ..............................08 CONCLUSÃO......................................... .................................................. 11 1

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A obra A Democracia na América de Alexis Tocqueville (1805-1859) reflete a situação política e social vivida na América no século XIX. Grande pensador político, escritor e historiador francês, as suas obras foram revolucionárias para a história política da França. No primeiro volume da obra, chamado de Leis e Costumes, Tocqueville faz uma análise crítica construtiva da relação entre a liberdade e igualdade, relatando suas experiências durante sua viagem “às terras americanas”. Tendo baseado suas observações no sistema político americano, considerado único para a época, o escritor buscou a compreensão do conceito de democracia, que segundo ele se encontrava enraizada na sociedade igualitária e na liberdade ideal.

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SUMRIOINTRODUO.........................................................................................02VIDA E OBRA...........................................................................................03

TOCQUEVILLE: SOBRE A IGUALDADE..........................................03

TOCQUEVILLE: SOBRE A LIBERDADE...........................................05

REVISO BIBLIOGRAFICA.................................................................06

ABORDAGEM ATUAL...........................................................................08

CONCLUSO...........................................................................................11

REFERRENCIAS BIBLIOGRAFICAS...............................................14

INTRODUOA obra A Democracia na Amrica de Alexis Tocqueville (1805-1859) reflete a situao poltica e social vivida na Amrica no sculo XIX. Grande pensador poltico, escritor e historiador francs, as suas obras foram revolucionrias para a histria poltica da Frana. No primeiro volume da obra, chamado de Leis e Costumes, Tocqueville faz uma anlise crtica construtiva da relao entre a liberdade e igualdade, relatando suas experincias durante sua viagem s terras americanas. Tendo baseado suas observaes no sistema poltico americano, considerado nico para a poca, o escritor buscou a compreenso do conceito de democracia, que segundo ele se encontrava enraizada na sociedade igualitria e na liberdade ideal.Portanto, este trabalho ir expor a viso de Tocqueville quanto ao sistema democrtico de governo, considerando a democracia como uma organizao poltica cuja sociedade possui igualdade de condies, no existindo a diviso hereditria de classes sociais, essencialmente aristocrtica. Sendo disponvel a todos, o acesso liberdade (ideal) de obter melhores condies de vida no possibilita a excluso social. Outro fato que se deve tambm dar relevncia na obra aqui apresentada a observao do pensador francs sobre a questo racial, pois mesmo com leis abolicionistas promulgadas na Amrica, a sociedade privava o negro alforriado de obter tal liberdade proposta pela democracia. Esse um tema de grande importncia, devendo ser discutido seriamente em nosso pas, onde o preconceito racial e a excluso social decorrente daquele ainda um problema frequente.VIDA E OBRAAlexis-Charles-Henri Clrel, mais conhecido como Alexis de Tocqueville, foi um pensador poltico, historiador e escritor francs. Nascido em 1805 em Paris e morto em 1859 em Cannes, Tocqueville pertencia a uma famlia aristocrtica anterior Revoluo Francesa. Aps empreender uma viagem aos Estados Unidos, em 1831, com a finalidade de estudar o sistema prisional daquele pas, desenvolveu sua obra mais conhecida, A democracia na Amrica, publicada em 1835. Tal obra, constituda por dois volumes, Leis e costumes e Sentimentos e opinies, publicado posteriormente, descreve o governo democrtico americano, enfocando vrios aspectos daquela sociedade, como o sistema econmico escravista, a relao dos cidados americanos com a poltica, as questes de desigualdade, entre outros. Para o historiador, a democracia, enquanto processo universal, somente alcanada quando o desenvolvimento da igualdade no inibe a liberdade, dessa maneira, o resultado dessa relao no corresponderia a sociedades individualistas baseadas em um Estado autoritrio.

Outras obras de expresso escritas por Tocqueville so O antigo regime e a revoluo, de 1856 e Lembranas de 1848: as jornadas revolucionrias em Paris, publicada em 1893. No primeiro livro, o escritor analisa a sociedade francesa anterior Revoluo, buscando os motivos que levaram ao levante histrico. Na segunda obra, escrita em tom memorialstico, o pensador testemunha a revoluo parisiense em 1848, que forava a abdicao e fuga do rei Lus Filipe, reconstruindo os fatos e personagens desse perodo que levou morte quase cinco mil pessoas.

A partir de seus textos, percebemos a preocupao do historiador francs com os processos democrticos nas diversas naes, destacando que a igualdade de condies s possvel quanto maior for a ao poltica dos povos.

TOCQUEVILLE: SOBRE A IGUALDADEQuando Tocqueville chegou a terras americanas, ficou admirado com a igualdade de condies do seu povo. A maioria dos americanos nos meados de 1830 vivia em uma atmosfera de igualdade social, salvo os escravos.Percebendo que a igualdade social nas terras americanas era um episdio novo pois, como observa o autor, no existia algo assim na Europa aristocrtica. O pensador nota que tanto o poder social como o poltico da aristocracia europeia era fundamentado nas relaes hereditrias e econmicas. E que a nobreza, a influncia poltica e a riqueza podiam ser passadas de gerao a gerao, portanto, a possibilidade de mudana social inexistia para aqueles que no tivessem em sua genealogia elementos de status e benefcios sociais.Para ele a falta da igualdade social, caracterstica da sociedade europeia, impediu que a democracia rondasse os pilares da poltica e sociedade. Contudo, nos Estados Unidos da Amrica no existia aristocracia ou classes sociais totalmente rgidas, j que a sociedade americana se caracterizava pela igualdade nas relaes dos cidados.

Em A Democracia na Amrica, Tocqueville exibe os cidados como um elemento para a igualdade em todos os aspectos da vida, entretanto, levado por interesse particular, o cidado precisaria colaborar e fazer pequenos sacrifcios em nome da sociedade. O autor distinguiu este princpio primordial que fez da sociedade americana algo incomum nas relaes democrticas. Ao invs de cada indivduo percorrer sua felicidade, em funo de sua prpria causa, houveum ajuntamento racional que gerou uma aprecivel relao de participao civil.A igualdade, que toma os homens independentes uns dos outros, os faz contrair o habito e o gosto de, em suas aes particulares, seguir to-somente sua vontade. Essa inteira independncia, de que desfrutam continuamente ante seus iguais e no uso da vida privada, os dispe a considerar com descontentamento toda autoridade e lhes sugere, ao contrario, a ideia e o amor liberdade poltica. Os homens que vivem nesse tempo caminham, pois numa trilha natural que os leva as instituies livres.

Todavia, a cooperao seria imprescindvel para a neutralizao do esprito do individualismo, tendncia que se eleva contra as intenes da igualdade e que , de certa forma, inerente sociedade democrtica. Tocqueville ressalta ser to grande a aptido passional para a igualdade de condies que a busca pela liberdade se encontra em uma dimenso pstuma a procura pela igualdade. O que de certa maneira aferimos da discusso sobre a igualdade de condies frente liberdade a forma como o autor apresenta o problema da igualdade, pois esta se expe como uma necessidade sobre a vida dos cidados, atribuindo-lhes o querer-ser da igualdade, mas no se importando em viverem no gozo pleno da liberdade. A igualdade pode agir de forma real em toda a sociedade civil, e, no entanto, estar ausente na esfera poltica.

O historiador francs se converte igualdade de condies no por se sentir vencido, crendo que de nada ajudaria resistir a ela; pelo contrrio, converte-se pois confia que o estado social igualitrio traz mais benefcios ao gnero humano do que o estado social aristocrtico, na medida em que permite a todos os homens a independncia para cada um pensar, julgar e agir por si mesmo.

Segundo Tocqueville, a inclinao crescente pela igualdade era a tendncia predominante de seu tempo e uma caracterstica distinta dos ventos democrticos. Todavia, a igualdade no implica a companhia da liberdade, uma vez que j houve homens, de vrias pocas, que se habituaram a preferir a igualdade liberdade. Uma das razes seria a diferena entre os ganhos teoricamente aparentes e imediatos da igualdade e, de certa maneira, o termo mais caro e mais duradouro dos benefcios menos tangveis da liberdade. Ocorre ainda que os homens, ao procurar sempre a igualdade, poderiam facilmente perder de vista algo que de forma alguma menor que esta: a liberdade.

TOCQUEVILLE: SOBRE A LIBERDADE

No primeiro livro de A Democracia na Amrica, Tocqueville sinaliza um possvel caminho na compreenso da liberdade. Afirma que,Os povos guardam sempre as marcas da sua origem. As circunstncias que acompanham o seu nascimento e serviram ao seu desenvolvimento influem sobre todo o resto da sua existncia.

Um pouco mais adiante,o escritor irrefutvel em ratificar a chave interpretativa para a compreenso de uma definida questo conectada a uma problemtica especfica. Ainda no livro em questo, diz que depois de ter atentamente analisado a histria da Amrica, observou com rigor o seu estado poltico e social e, de tal modo, ficou profundamente convencido desta verdade:Mas a liberdade no e o objeto principal e continuo de seu desejo: o que eles amam com um amor eterno e a igualdade; eles se projetam para a liberdade por um impulso rpido e por esforos sbitos e, se fracassam, resignam-se;mas nada saberia satisfaz-los sem a igualdade, e eles prefeririam perecer a perd-la.De outro lado, quando os cidados so, todos, mais ou menos iguais, fica difcil para eles defender sua independncia contra as agresses do poder. Como nenhum deles e forte o bastante para lutar sozinho com vantagem, apenas a combinao das forcas de todos e capaz de garantir a liberdade. Ora, semelhante combinao no se encontra sempre.

A liberdade para Tocqueville a resultante de algumas variveis motivadas por fatores dos mais desiguais entre si. No um valor absoluto ou um ideal necessrio por si mesmo, esta concepo beira o paradoxal, pois se assim o fosse, poderia a liberdade migrar por entre as fronteiras dos Estados sem a mnima vinculao com os povos que ali habitam.

Tocqueville empreende uma visualizao por demais cautelosa da compreenso da liberdade. Ao tratar a liberdade na sociedade aristocrtica descreve uma certa rigidez e uma ordem fixa, que faz surgir invariavelmente uma hierarquia com incontveis classificaes e camadas totalmente distintas entre si. Como resultado dessa fixidez, a sucesso nas geraes no se modifica, assim, acontece a sobreposio de uma sociedade outra. Esta relao se d por oposio, pois so sociedades distintas e regidas por totalmente anlogos princpios.

O conceito de liberdade na obra tocquevilleana coadunado e verificado nas aes dos homens. Assim, a liberdade humana consequncia de um conjunto de consignaes histricas, combinadas com aes dos indivduos em busca de tal liberdade. Dessa forma, o que movimenta e coordena a reflexo terica de Tocqueville o interesse pela poltica. Mais especificamente a apreenso com a ao enquanto fundadora das condies de possibilidade da liberdade poltica que permite descrever sua filosofia como uma contnua investigao acerca das (im) possibilidades do agir pblico.

REVISO BIBLIOGRFICA

As ideias de Tocqueville so citadas por alguns autores em suas obras. Selecionamos para este trabalho reflexes de Friedrich A. Hayek, em Os fundamentos da liberdade, e Clia Galvo Quirino, no segundo volume de Os clssicos da poltica. Hayek (1983) menciona que o ponto principal de A democracia na Amrica foi afirmar ser a democracia o nico mtodo eficaz de educao para a maioria, sendo sua mais importante vantagem o fato de que a maior parte da populao pode tomar parte ativa no processo da opinio, deixando em segundo plano a vantagem da seleo de governantes. Por esse motivo, a populao tem a possibilidade de ter mais envolvimento e tambm um maior entendimento dos assuntos pblicos por meio das instituies democrticas.

Quirino (2001), no segundo volume de Os clssicos da poltica, afirma que, para Tocqueville, Sua questo central ser sempre esta: o que fazer para que o desenvolvimento da igualdade irrefrevel no seja inibidor da liberdade, podendo por isso vir a destrui-la? A partir desse questionamento, o pensador francs em destaque formula sua noo de democracia. De acordo com Quirino (2001), a democracia tocquevilleana tem carter universal, no uma particularidade americana. Sendo assim, desenvolvida em diferentes partes do globo com velocidades distintas, pois significa o aumento progressivo de igualdade de condies que a todos atinge.Hayek (1983) menciona que a forma democrtica de governo a nica em que o povo tem compreenso das questes pblicas em qualquer momento. Em contrapartida, o autor afirma tambm que um governo dirigido por uma elite culta seja, por vezes, mais eficiente e talvez at mais justa que a prpria democracia, porm, como j foi dito, a democracia consegue atribuir populao um maior entendimento das relaes pblicas do que qualquer outra forma de governo.

Em Os fundamentos da liberdade, o escritor tambm menciona que a democracia no confere o poder aos mais sbios e informados, comparado ao governo de elite, dizendo que este seria mais benfico. Contudo, isso no quer dizer que no devamos adotar a democracia, pois em seus aspectos dinmicos que ela revela o valor da democracia. Os benefcios da democracia, junto com o da liberdade, s se revelam a longo prazo.

No obstante, devemos levar em considerao as ressalvas feitas por Quirino (2001) quanto ao pensamento de Tocqueville. A autora destaca que a democracia americana causava as desigualdades sociais, raciais e culturais que os Estados Unidos estavam vivenciando. Nesse sentido, para o historiador enfocado, existe a necessidade de no somente se entender a igualdade econmica, pois a sociedade homognea alcanada pela democracia proposta se d por meio das igualdades cultural e poltica. Desse modo, o grau de atuao poltica do povo que determinaria uma democracia liberal ou tirnica.

Em seu livro, Hayek (1983) pontua que Tocqueville, apesar de ser francs, tinha pensamentos ingleses. Em uma das notas de sua obra, destacamos uma frase apresentada pelo autor francs sobre isso: So tantos os pensamentos e sentimentos que compartilho com os ingleses, que a Inglaterra se tornou para mim uma segunda ptria no que se refere estado de esprito.

Tocqueville e Montesquieu eram adeptos da tradio britnica, uma tradio gerada na jurisprudncia do direito consuetudinrio, que so direitos baseados nos costumes de uma sociedade.

Em Os fundamentos da liberdade possvel observar vrias citaes de Tocqueville em incios de captulos. Como, por exemplo: Nada mais frtil em prodgios do que a arte de ser livre; mas no h nada mais rduo do que o aprendizado da liberdade. [..] A liberdade: geralmente, implantada com dificuldade, em meio a tormentas; aperfeioada por meio de dissenses; e seus benefcios s podem ser conhecidos com o passar do tempo.

Considerando esse pensamento de Tocqueville, temos o entendimento de Hayek (1983) sobre a liberdade:

Embora a liberdade no seja um estado natural, mas produto da civilizao, ela no resultou de nenhum projeto. As instituies da liberdade, assim como tudo que dela se originou, no se estabeleceram porque fosse possvel prever os benefcios que trariam. Mas, uma vez reconhecidas suas vantagens, os homens comearam a aperfeioar e a ampliar o reino da liberdade e, com esse objetivo, a investigar o funcionamento de uma sociedade livre.

Percebemos que a obra de Tocqueville nos traz uma interessante noo de democracia, a qual serviu de orientao para pensadores polticos posteriores refletirem sobre os modelos liberais de governo. ABORDAGEM ATUALTocqueville, quando descrevia o sistema escravista americano, observou que o processo de abolio de escravos no Norte dos Estados Unidos no props aos negros a igualdade de condies usufrudas pelos brancos e, assim, afirmou: A abolio da escravido no faz, pois, que o escravo alcance a liberdade; ela o faz apenas mudar de dono: do setentrio, passa para o meio-dia. Notamos que a previso do pensador francs quanto liberdade do negro acabou por se concretizar. Se, durante a escravido, o negro compartilhava com o senhor fatos da vida cotidiana, aps a abolio, o negro liberto foi privado de direitos fundamentais e viveu merc de leis tirnicas e de intolerncia aos costumes dos brancos. Dessa forma, o escravo liberto deixou de ser refm do seu senhor e passou a ser vtima do sistema criado pela sociedade branca, que o marginalizou devido a sua cor. Como pontua o autor, a cor da pele tornou-se fator intransponvel que causa a desigualdade entre o sujeito branco e o negro.

A idia de marginalizao do ex-escravo desenvolvida pelo historiador francs se estende realidade brasileira. Quando da abolio da escravatura neste pas, a liberdade ento proclamada como de direito do negro, no obteve eficcia plena. Os negros, desprovidos de educao escolarizada e, portanto, sem uma profisso desvinculada das atividades desempenhadas quando escravos, viram-se refns da prpria situao de liberdade. Sem condies de prover seu sustento dignamente e sem o amparo estatal necessrio sua insero na sociedade brasileira livre, passaram a ocupar a camada marginalizada da sociedade, desempenhando funes sociais que se equiparam ainda ao papel que tinham quando escravos.

Atualmente, os negros continuam a desempenhar tarefas marginalizadas. So eles os garis, as empregadas domsticas, aqueles com empregos informais, como os vendedores ambulantes. Podemos comprovar a predominncia de negros nessas ocupaes quando vemos, por exemplo, uma foto inserida em certa notcia propagada pelo portal virtual da Globo (G1), de 08 de maro de 2014, com o seguinte ttulo: Aps 8 dias de paralisao, termina greve dos garis no Rio.

Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/03/greve-dos-garis-termina-no-rio.html.Na foto, os garis fazem protesto em um espao pblico. Tais trabalhadores reivindicavam melhores condies de trabalho, como salrios maiores e mais benefcios. A foto em questo, evidenciando a maioria negra que compe os servios de limpeza no Rio de Janeiro, indicia a relao ainda existente entre o negro e profisses menos escolarizadas. Alm de ocuparem cargos que so desprestigiados socialmente, no raro que o imaginrio popular relacione o negro criminalidade. A falta de perspectiva advinda de poucas oportunidades de melhora de vida e da deficincia de polticas pblicas que incentivem a populao carente, em sua maioria negra, busca de melhores condies, so fatores preponderantes na vantagem encontrada pelo marginalizado a recorrer ao comportamento criminoso. Nesse tocante, frequente a veiculao de negros associados ao crime pela mdia. Em uma dessas veiculaes, deparamo-nos com uma notcia publicada na Folha de So Paulo, de 04 de fevereiro de 2014, com o ttulo Adolescente agredido a pauladas e acorrentado nu a poste no Rio. A reportagem e a foto, apresentada a seguir, corroboram a ideia da marginalizao do negro que temos exposto.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/02/1407239-adolescente-e-agredido-a-pauladas-e-acorrentado-nu-a-poste-na-zona-sul-do-rio.shtml.Na imagem, um adolescente negro, amarrado a um poste no Rio de Janeiro, resgata a cena do escravo preso a um tronco, sendo aoitado pelo senhor por meio do chicote. Na ocorrncia registrada pela reportagem, descrito que o jovem, agredido por um grupo que fazia justia com as prprias mos, estava sendo punido pela acusao de roubo dirigida a ele. Ocorre nesse fato, aps a reao de muitos populares, a naturalizao encontrada tanto no aoite do escravo como na agresso ao adolescente, o argumento de que o jovem merecia ter apanhado. Defendemos que a violncia exercida pelo grupo de pessoas contra o jovem amarrado ao poste resgata a noo de liberdade proposta pelo filsofo existencialista Jean Paul Sartre. Em sua obra O ser e o nada, o filsofo prope que a liberdade inerente ao sujeito, ou seja, condio da existncia humana ser livre. A liberdade, segundo Sartre, produz escolhas pelos sujeitos, cujas aes, livres de norteamento religioso ou tico e guiadas por seus desejos, podem causar conflitos entre os homens. Nesse sentido, a invaso da liberdade do Outro provoca a violncia, j que o desejo individual se sobrepe liberdade de cada sujeito. Assim, a violncia impetrada contra o adolescente negro justificada pelas escolhas de sujeitos de ao que, norteados pelos seus desejos e valores individuais, atuaram de modo a interferir na liberdade do violentado em questo. CONCLUSO

O homem a prpria liberdade, ele antes de tudo livre, ou nada, por isso pode definir-se da maneira que melhor lhe interessar. O homem condenado liberdade e a fazer escolhas, contudo, a responsabilidade de suas escolhas to opressiva, que o faz mentir para si mesmo isentando-se da dura responsabilidade de ser livre para escolh-las. Ou seja, delibera suas aes para algo superior a ele. Como esse algo superior no existe, ele se angustia pela eterna liberdade que est obrigado a ter ou se aliena, escondendo-se em ideologias para justific-las.Sob essa tica podemos nos deter acerca do episdio da extino da escravido no Brasil. Muitas so as explicaes para o fim da escravido, contudo, a maior controvrsia foi de uma opo pessoal do imperador, de propor a chamada Lei do Ventre Livre (1871), j que aparentemente no havia revolta de escravos contra o poder estabelecido naquele momento. Porm, logo aps a Guerra do Paraguai, sentia-se que o Brasil no podia contar com a lealdade de uma grande parcela da populao, por estar esta em estado servil.Questionava-se o risco poltico de manter-se uma classe servil ou a subverso da ordem estabelecida caso essa classe fosse libertada com o indulto do Imprio. Questionava-se o melhor para a poltica e para a economia do Imprio, no a prtica em si, a tradio brasileira para com os escravos.Na Constituinte para a formulao da Constituio de 1824, est a disposio: Artigo 254. A Assemblia ter particular cuidado de criar estabelecimentos para a catequese e civilizao dos ndios, emancipao lenta dos negros e sua educao religiosa e industrial. No entanto, o artigo foi retirado da publicao final da Constituio. Observa-se que ndios e negros so tratados de forma paradoxal. Os ndios precisam de imposio religiosa e agregao civilizatria. Os negros, como propriedade, comprados para o trabalho na base da economia brasileira desde a colonizao, j esto agregados a nossa civilizao, basta um processo lento para sua emancipao. A liberdade aqui pensada menos de forma humanitria do que pela questo das conseqncias econmicas e polticas geradasEnquanto o quadro da servido pouco muda, estendem-se as discusses sobre como e quando promover a emancipao sem, contudo, manifestar-se a preocupao com a prpria vida em questo. Quem esse escravo motivo de tantas discusses?A explorao do trabalho servil foi uma obra poltica com negros sendo trazidos de vrias regies do continente africano. A sua presena fez parte da constituio do povo brasileiro. O escravo veio para o trabalho forado, e era amplo, em todas as reas. Na agropecuria, nas atividades extrativas (borracha, algodo, fumo), na agroindstria dos engenhos, nos trabalhos na fazenda de caf, na minerao, como ferreiros, pedreiros, carpinteiros, barbeiros, parteiras, carregadores, domsticos, cozinheiros, cocheiros, vendedores, escravos de ganho, como msicos, prostitutas e mendigos. Podemos observar que ele estava em diversas reas, to intimamente ligado nao.E a abolio? Mais que um ato de pura generosidade da Princesa Isabel, apesar de muitos libertos, inclusive insuflados por Jos do Patrocnio, aderirem ao culto princesa, no chamado isabelismo, no havia modo de se aquietar a liberdade dos cativos. J estava porta de acontecer. As sociedades abolicionistas por todo o Brasil, bem organizadas, repetiam os processos de libertao imediata e de sublevao ocorridos na provncia do Cear (1884). As capitais, as cidades importantes seguiam o exemplo. Os escravos abandonavam seus senhores e encontravam refgio logo frente. As fazendas de caf estavam se esvaziando com a sada dos cativos, quando o Exrcito, convocado para prender os fugidos, recusa-se porque a nao os queria livres (Questo Militar). E o 13 de maio ocorreu com toda a teatralidade possvel das grandes aes polticas.De redentora dos negros a princesa no tinha nada, pensava apenas em uma forma de salvar a monarquia. Faltou, junto com a lei assinada, um conjunto de aes para garantir a integrao dos ex-escravos sociedade. E isso no ocorreu. A princesa assinou e virou as costas para o problema. Assim o Estado o fez durante a Repblica. Preteridos mo de obra europia, os ex-escravos que antes, forosamente, trabalhavam em inmeras reas da economia brasileira, viram-se sem emprego, relegados marginalidade. A liberdade advinda com a abolio teve o papel de excluso.Apesar dos avanos obtidos nos sculos de luta pela liberdade e pela criminalizao da prtica de racismo, o povo negro segue sendo discriminado e principal vtima das desigualdades sociais, que tm no Brasil um forte componente racial. Apesar de o Brasil ser majoritariamente negro, o racismo uma das prticas e comportamentos mais nojentos e dissimulados. O povo negro est em todo tipo de funo de trabalho degradante, vivendo nas piores casas, comendo o po que a misria amassou, sem condio de freqentar a universidade paga, sem plano de sade, sem respeito e sobrevivendo com os programas sociais pfios e assemelhados. Para as populaes afro-descendentes s sobraram s medidas assistencialistas superficiais, cujos recursos somados so inferiores aos gastos destes governos com suas propagandas institucionais. Gastam mais recursos para dizer que, supostamente, no so racistas e esto fazendo alguma coisa, com o que efetivamente deveria ser feito.O retrato do Brasil hoje se arrasta desde a abolio. O negro foi empurrado para fora do foco da histria e esquecido em um lugar onde a oficialidade social no o reconhece. Segundo os dados da Comisso contra a Discriminao (CICDR 2008), depois da Nigria, o Brasil o pas de maior populao negra do planeta. Mesmo assim, vive todo o tipo de excluso, ainda 80% dos negros moram em favelas e em locais insalubres, o acesso educao tambm outro fator de excluso, j que somente 47% dos negros concluram o 2 grau e apenas 1% terminaram a faculdade. Outra constatao da CICDR a de que 87% das crianas fora da escola so negras e que a evaso escolar 65% maior entre os negros.Se somos a prpria liberdade, todos os rumos que a histria toma so responsabilidades das nossas aes e no de algo superior que nos isenta dessas aes. Associada liberdade, est tambm a noo de responsabilidade, j que o ato de ser livre implica assumir o conjunto dos nossos atos e saber responder por eles. Por isso importante lembrar que mesmo no tendo sido ato da nossa gerao, h de se entender que herdamos socialmente, todos envolvidos, sejam includos ou no, a responsabilidade das aes do nosso passado e que nenhum tipo de compensao foi dignamente conferido aos descendentes afro-brasileiros. Alis, nenhuma compensao social foi realizada convincentemente parcela mais pobre do mundo, independente da origem, cor ou sexo.Conclumos que a liberdade, supostamente trazida pela abolio da escravatura, no produziu uma igualdade satisfatria de direitos entre o negro e o branco em nossa sociedade. Tantos anos se passaram desde o processo de abolio, no fim do sculo XIX, e, no entanto, ainda nos deparamos com exemplos de desigualdade como citamos acima, entre os garis ou a violncia sofrida pelo jovem, evidenciando que muito ainda deve ser feito pelo Estado e pela sociedade civil para alcanarmos a liberdade que desejamos.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Adolescente agredido a pauladas e acorrentado nu a poste no Rio. Disponvel em: Acesso em: 23 mar. 2014Biografia de Tocqueville. Disponvel em: Acesso em: 21 mar. 2014DANELON, Mrcio. O conceito sartreano de liberdade: implicaes ticas. Ano I n 04 Maio de 2002 Quadrimestral. Maring PR. Disponvel em: Acesso em: 30 mar. 2014. Greve dos garis termina no Rio. Disponvel em: Acesso em: 23 mar. 2014HAYEK, Friedrich A. Os fundamentos da liberdade. So Paulo: Viso, 1983.

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TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na Amrica: Leis e costumes. 2005, p. 63-64

QUIRINO, Clia G. Tocqueville: sobre a liberdade e igualdade. In: WEFFORT, Francisco C. Os clssicos da poltica. So Paulo: Editora tica, 2001. Vol.2, p. 152.

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TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na Amrica: Leis e costumes. So Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 405.

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