tcc ucdb(v final) sergio-nideck

24
1 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: Uma Avaliação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem 1 Sérgio Luiz Nideck 2 Prof a . Blanca Martin Salvago 3 RESUMO A evolução das Tecnologias de Informação e da Comunicação - TIC’s possibilitou um grande avanço na Educação à Distância - EAD, pois a popularização da internet e o desenvolvimento de softwares destinados a servir de plataforma para os Ambientes Virtuais de Atprendizagem - AVA’s ampliaram as possibilidades de uso e o alcance dessa modalidade de ensino. Um Ambiente Virtual de Aprendizagem é um “site” ou “comunidade” na internet onde professores e estudantes dispõem de ferramentas e recursos que lhes permitem interagir no processo de ensino/aprendizagem. O MOODLE é a plataforma mais difundida em todo o mundo, motivo pela qual foi escolhida como base para nossa avaliação. Para o processo de avaliação seja confiável, deve utilizar uma estrutura e metodologia que forneçam parâmetros coerentes e fundamentados. Assim, decidiu-se por utilizar a estrutura do Modelo Conversacional para a avaliação do ambiente MOODLE, o que possibilitou identificar com clareza as principais características da plataforma e sua conformidade com as necessidades dos professores e estudantes em um ambiente virtual. 1 Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Docência no Ensino Superior na modalidade a distância da Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2015. 2 Graduado em Gestão de T. I. pela Universidade do Sul de Santa Catarina (EAD). Cursando pós-graduação Lato sensu em Docência no Ensino Superior pela UCDB. E-mail: [email protected]. 3 Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso. Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia de Granada (Espanha). Licenciada em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (Campo Grande - MS). Mestre em Ciências Bíblicas pelo Instituto Bíblico de Roma (Itália). Coordenadora Pedagógica da UCDB Virtual. Membro do GETED - Grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologia Educacional e Educação a Distância. E- mail: [email protected]

Upload: sergio-luiz-nideck

Post on 04-Jan-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

1

A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL:

Uma Avaliação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem1

Sérgio Luiz Nideck2

Profa. Blanca Martin Salvago3

RESUMO

A evolução das Tecnologias de Informação e da Comunicação - TIC’s possibilitou um grande avanço na Educação à Distância - EAD, pois a popularização da internet e o desenvolvimento de softwares destinados a servir de plataforma para os Ambientes Virtuais de Atprendizagem - AVA’s ampliaram as possibilidades de uso e o alcance dessa modalidade de ensino. Um Ambiente Virtual de Aprendizagem é um “site” ou “comunidade” na internet onde professores e estudantes dispõem de ferramentas e recursos que lhes permitem interagir no processo de ensino/aprendizagem. O MOODLE é a plataforma mais difundida em todo o mundo, motivo pela qual foi escolhida como base para nossa avaliação. Para o processo de avaliação seja confiável, deve utilizar uma estrutura e metodologia que forneçam parâmetros coerentes e fundamentados. Assim, decidiu-se por utilizar a estrutura do Modelo Conversacional para a avaliação do ambiente MOODLE, o que possibilitou identificar com clareza as principais características da plataforma e sua conformidade com as necessidades dos professores e estudantes em um ambiente virtual.

PALAVRAS-CHAVE: 1 Educação a Distância. 2 Tecnologias de Informação e Comunicação. 3 Aprendizagem.

_______________________

INTRODUÇÃO

A grande oferta de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade EAD

democratizou o acesso à Educação Superior, beneficiando tanto os habitantes dos mais

distantes rincões do nosso país, quanto aos que, mesmo vivendo nas áreas urbanas, não

dispõem de tempo para frequentar um curso presencial. Apesar de sua importância como

instrumento de inclusão social, a Educação a Distância ainda é vista com algum preconceito

1 Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Docência no Ensino Superior na modalidade a distância da Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2015.

2 Graduado em Gestão de T. I. pela Universidade do Sul de Santa Catarina (EAD). Cursando pós-graduação Lato sensu em Docência no Ensino Superior pela UCDB. E-mail: [email protected].

3 Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso. Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia de Granada (Espanha). Licenciada em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (Campo Grande - MS). Mestre em Ciências Bíblicas pelo Instituto Bíblico de Roma (Itália). Coordenadora Pedagógica da UCDB Virtual. Membro do GETED - Grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologia Educacional e Educação a Distância. E-mail: [email protected]

Page 2: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

2

por algumas empresas que subestimam os profissionais oriundos desta modalidade de ensino.

Felizmente esse quadro está mudando e em alguns casos a EAD tem levado vantagem,

despontando como um diferencial positivo nos processos seletivos. O presidente da

Associação Brasileira de Ensino a Distância, Fredric Litto, em entrevista (ESTADÃO, 2014)

afirma que em processos seletivos os egressos de cursos a distância podem até levar vantagem

sobre outros candidatos, pois algumas empresas preferem profissionais com esse perfil mais

independente e questionador.

Além do “preconceito” de algumas empresas, existe a insegurança dos próprios

alunos que muitas vezes deixam de ingressar na EAD por julgarem que não conseguiriam se

adaptar a um sistema no qual são os únicos responsáveis pela sua rotina de estudos, possuindo

total autonomia para gerenciar suas atividades escolares. Essa “autonomia” nem sempre é

benéfica, pois a grande maioria dos candidatos a ingressar no ensino superior é egresso da

educação presencial e estão acostumados a um sistema em que a instituição é responsável por

organizar e controlar toda a sua vida acadêmica, cabendo-lhe apenas cumprir o cronograma

estabelecido. Essa realidade contrasta enormemente com a rotina da EAD, onde os resultados

dependem quase que exclusivamente da capacidade organizacional, do grau de

responsabilidade e do comprometimento do aluno, que tem total liberdade para definir seu

ritmo de estudo, cabendo à instituição de ensino, na figura do professor, atuar como

orientador e supervisor das atividades, e na medida do possível, tentar despertar nos discentes

a motivação para atingir as metas propostas.

Como o objetivo deste trabalho é analisar as principais características de um

ambiente virtual de aprendizagem a fim de identificar seus pontos fortes e fracos e a

conseqüente influência no processo de formação, conclui-se que a metodologia mais

adequada seria a de uma pesquisa bibliográfica descritiva, para que a partir das informações

oriundas de estudos e pesquisas anteriores, possamos realizar uma análise crítica da realidade

estudada.

1 CONCEITO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Podemos conceituar Educação a Distância como sendo uma modalidade de ensino

em que alunos e professores não ocupam o mesmo espaço físico, estando distantes não só no

espaço, mas também no tempo, tornando imprescindível o uso de recursos que permitam

superar as distâncias envolvidas e possibilitem a comunicação assíncrona (fóruns, emails,

secretarias, avaliações, etc.), uma vez que os alunos possuem total autonomia para gerenciar

Page 3: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

3

seus estudos, não existindo diálogos em tempo real com os professores. Esta definição

encontra respaldo em Saviani (2008, p. 104):

Considera-se educação à distância a forma de ensino que se baseia no estudo ativo independente e possibilita ao estudante a escolha dos horários, da duração e do local de estudo, combinando a veiculação de cursos com material didático de auto-instrução e dispensando ou reduzindo a exigência da presença.

Quando falamos de EAD não podemos deixar de mencionar Borje Holmberg, um

dos teóricos mais conceituados nessa área, que a define assim:

O termo educação a distância abrange as várias formas de estudo, a todos os níveis que não estão sob a contínua e imediata supervisão de docentes presentes com os seus alunos nas salas de leitura ou no mesmo local, mas que apesar de tudo, beneficiam do planejamento, direção e instrução de uma organização orientadora. (HOLMBERG, 1977).

O Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005), que regulamenta o

artigo 80 da Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, em seu artigo 1o, define assim Educação à Distância, estabelecendo ainda a

obrigatoriedade dos encontros presenciais:

Art. 1o Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a Educação à Distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

§ 1o A educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares, para as quais deverá estar prevista a obrigatoriedade de momentos presenciais para:I - avaliações de estudantes;II - estágios obrigatórios, quando previstos na legislação pertinente;III - defesa de trabalhos de conclusão de curso, quando previstos na legislação pertinente; eIV - atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso. [...]

O processo de ensino/aprendizagem na educação a distância está apoiado em dois

pilares perfeitamente distintos, mas intimamente interligados: a plataforma4 de ensino e a

metodologia. Cabe à plataforma fornecer, ao professor, meios para orientar, estimular, propor

atividades e acompanhar o processo de aprendizagem do aluno através de um monitoramento

constante e eficaz, permitindo-lhe atuar proativamente através de intervenções oportunas e 4 Software que fornece as ferramentas de interação e apoio para professores, tutores e alunos.

Page 4: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

4

pontuais, evitando assim que o aluno perca o ritmo de estudo e acabe por desistir dos estudos.

As plataformas de ensino a distância são aplicações, isto é, softwares desenvolvidos para apoiar o ensino/aprendizagem. Normalmente, incluem ferramentas que visam ajudar o professor a organizar, construir e gerenciar uma disciplina ou um curso on-line. Em geral incluem também ferramentas de apoio ao aluno durante a sua aprendizagem (ROSINI, 2013, p. 61).

Já a metodologia define como esses recursos serão utilizados a fim de despertar o

interesse do aluno e prender sua atenção, criando um ambiente que o mantenha motivado e

comprometido com os estudos, permitindo assim que ele obtenha o rendimento esperado.

Essa metodologia deve obrigatoriamente contemplar uma nova abordagem de aprendizagem,

desvinculada do aprendizado tradicional no qual o aluno é um mero expectador do processo,

cabendo-lhe apenas receber e assimilar os conhecimentos passivamente. Rosini (2013, p. 57)

defende que “uma nova abordagem requer uma nova visão de mundo, uma nova educação e,

conseqüentemente, novos critérios para a elaboração de currículos e o conseqüente

aprendizado.”

Essa interdependência entre a plataforma de ensino e a metodologia utilizada é um

fator que exerce grande influência na qualidade do produto final do processo, que neste caso é

representado pelo nível dos profissionais formados. Assim, fica evidente que de nada adianta

optar por uma excelente plataforma se a metodologia utilizada não for adequada a essa nova

visão de aprendizagem que se encontra em franca expansão nos dias de hoje. Essa visão

também é compartilhada por D'Ambrósio (2001), que propõe uma nova abordagem de

currículo, elaborado para ser dinâmico e englobando três tipos de atividades: sensibilização

(motivação), suporte (ferramentas) e socialização (ações que resultam em fatos objetos ou

aprendizado).

2 AS TIC's E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As Tecnologias de Informação e da Comunicação - TIC's são uma poderosa

ferramenta de inclusão social, pois através delas abrem-se diversas oportunidades para a

implementação de direitos fundamentais previstos na Declaração Universal dos Direitos

Humanos, tais como: a liberdade de expressão, o direito à educação e o acesso à informação.

Esses direitos são a base para que os cidadãos tenham uma participação efetiva em nossa

sociedade.

As TIC's são fundamentais e indispensáveis à Educação a Distância. A sua

Page 5: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

5

evolução permitiu o aparecimento de plataformas cada vez mais complexas, pelas

funcionalidades oferecidas, mas que ao mesmo tempo são acessíveis a todos sem que haja

necessidade de qualquer tipo de treinamento específico para sua utilização. Entretanto, para

que as TIC's sejam realmente eficazes na disseminação do conhecimento, é necessário que

sejam adotadas políticas públicas que promovam a inclusão digital, ou seja, possibilitem o

acesso indiscriminado a essas tecnologias.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013 (IBGE,

2014) somente 43,1 % dos domicílios pesquisados possuíam microcomputador com acesso à

internet. Isto significa que mais da metade dos lares brasileiros podem ser considerados como

“excluídos digitais”. Analisando por regiões a situação é ainda mais preocupante, pois as que

possuem os menores índices de desenvolvimento também apresentam os piores indicadores.

Apenas 28% dos lares da Região Nordeste e 23,9% da Região Norte possuem computador

com acesso à internet. Este cenário mostra que ainda temos muito a avançar nesta área para

que a EAD torne-se uma realidade não somente para uma parcela da população, mas

principalmente para as regiões que apresentam baixos índices de desenvolvimento.

2.1 AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

Um Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA ou VLE (do inglês “Virtual

Learning Environment”) é uma comunidade virtual na internet onde se desenvolve o processo

de ensino/aprendizagem através de ferramentas disponibilizadas por um software de

gerenciamento que permitem ao professor apresentar os conteúdos, propor atividades

participativas, monitorar o desempenho dos alunos e responder a questionamentos e dúvidas.

Já para o aluno é possibilitado acessar conteúdos e material complementar, enviar as

atividades solicitadas pelo professor, interagir com os outros alunos nos fóruns de discussão e

submeter dúvidas e questionamentos ao professor.

Existem vários softwares destinados a servir de plataforma para um AVA, sendo

que o mais utilizada é o MOODLE, cujo nome é um acrônimo de Modular Object-Oriented

Dynamic Learning Environment. Este software é uma plataforma de aprendizagem a

distância baseada em software livre que por adotar a filosofia GPL (do inglês “General Public

Lilcense”: Licença Pública Geral) está em constante desenvolvimento por centenas de

programadores em todo o mundo.

Tecnicamente o MOODLE é uma aplicação baseada na web formada por dois

componentes básicos: um servidor central em uma rede IP e os clientes.

Page 6: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

6

O MOODLE baseia-se na filosofia educacional do construcionismo, a qual afirma

que o conhecimento é construído na mente do estudante. Assim, os cursos desenvolvidos para

esta plataforma acontecem em um ambiente centrado no estudante, cabendo ao professor a

tarefa de auxiliar o estudante a construir esses conhecimentos.

Por ser um software de código-fonte aberto e disponibilizado gratuitamente, pode

ser facilmente adaptado pelas organizações que o adotam, e por isso tem uma significativa

participação no mercado internacional. De acordo com o Moodle Statistics (2013), a

plataforma é utilizada por 54.491 instituições, espalhadas por 230 países ao redor do mundo e

agregando um total de 69.868.029 usuários. Neste cenário o Brasil ocupa a terceira posição no

ranking com um total de 3858 sites registrados, ficando atrás apenas de Estados Unidos com

8952 sites e Espanha com 4838 registros. Esta estatística é realizada semanalmente por um

programa que automaticamente acessa, avalia e pontua os sites registrados com base em um

conjunto de regras pré-estabelecidas.

3 PREMISSAS PARA A AVALIAÇÃO DO AVA

As mudanças ocorridas nos processos de ensino/aprendizagem ao longo da

história refletem os diferentes enfoques adotados, em função das tendências predominantes

em cada momento histórico. Inicialmente tínhamos o aluno “aprendiz” que se limitava a

ouvir, aceitar e memorizar, sem questionamentos ou ponderações, as informações transmitidas

pelo professor, que era o “mestre” e detentor de todo o conhecimento. Segundo SERRA

(2013, p. 5): “As tendências consideradas mais conservadoras partem do princípio que o

conhecimento é inquestionável, duradouro e eterno. Portanto, devem ser aceitos e acatados, de

modo incontestável e sem críticas.”

Já nos dias atuais as tendências mais avançadas colocam o aluno como figura

central no processo de ensino/aprendizagem, sendo o professor um mediador ou facilitador

cuja função é ensinar o aluno a aprender, ou seja, despertar sua curiosidade e a capacidade de

questionamento do mundo a partir de experiências vivenciadas individualmente e em grupo,

desenvolvendo assim habilidades que o capacitem a construir novos conhecimentos.

[...] neste contexto, o conhecimento é sempre provisório, passível de crítica e constantes modificações de modo a explicar o movimento dialético da vida, da sociedade e do mundo. Neste sentido, à medida que a ciência avança, o conhecimento e a tecnologia avançam também, tornando possíveis novas descobertas, questionando e refinando o conhecimento já construído. (SERRA, 2013, p. 5)

Page 7: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

7

A avaliação de um ambiente virtual de aprendizagem pode ser realizada a partir de

três abordagens possíveis, cada uma focando em um elemento: o software que fornece o

suporte para a realização das atividades (plataforma), os relacionamentos que permeiam todo

processo (interação) e o atingimento dos objetivos propostos (resultados).

Um Ambiente Virtual de Aprendizagem, para atender a essa nova abordagem

educacional, deve primar por um diálogo constante entre professor e aluno. Essa interação

deve permitir que o professor apresente as definições e teorias de maneira clara e objetiva,

analise as concepções do aluno sobre o tema e faça as observações e comentários pertinentes,

mantendo essa “discussão” até que o aluno atinja a meta estabelecida por ambos.

Partindo-se do princípio de que o software MOODLE é a plataforma padrão

utilizada por praticamente 100% das instituições, incluindo-se neste universo os cursos da

UCDB através do Portal da Educação, podemos dispensar sua avaliação, considerando-se que

o mesmo já foi consagrado pela sua usabilidade e filosofia.

Assim, tendo-se em vista que o objetivo desta pesquisa é avaliar a eficiência do

processo ensino/aprendizagem dentro do contexto atual, o foco deste trabalho será verificar os

relacionamentos que permeiam o processo (interação) e seus resultados, ou seja, avaliar se a

metodologia adotada vai ao encontro das necessidades dos alunos, proporcionando-lhes

condições de cumprirem as metas propostas e atingir os objetivos pré-estabelecidos.

3.1 O MODELO CONVERSATIONAL FRAMEWORK

Dentre as metodologias e modelos disponíveis para este tipo de avaliação, optou-

se por utilizar o modelo de estratégia de avaliação “Conversational Framework”5, proposto

por LAURILLARD (1993) e DEARING REPORT (1997), principalmente pelo fato desse

modelo considerar o diálogo como ponto crucial do processo de ensino-aprendizagem,

baseando-se no método Socrático da Investigação Filosófica. Essa centralização no diálogo

vem da necessidade do professor em descobrir a construção mental do estudante sobre

determinado assunto, para então adotar uma estratégia de ação.

A estratégia de avaliação adotada nesse modelo é baseada não somente nas ações

requeridas do estudante, mas principalmente no processo de interação entre professor e aluno.

O modelo defende que a ação do estudante é construída em torno do diálogo e deve ser

5 Estrutura Conversacional, dialogada ou interativa.

Page 8: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

8

suplementada por um “feedback”6 significativo e construtivo por parte do professor, que

ocasionalmente deve proporcionar ao aluno condições para reflexão sobre o processo de

ensino-aprendizagem no qual está inserido.

3.2 CARACTERÍSTICAS DO CONVERSATIONAL FRAMEWORK

Segundo LAURILLARD (1993, p. 94-95), as características chaves do modelo

conversacional aplicáveis ao aprendizado acadêmico são as seguintes:

3.2.1 Discursivo

As concepções do professor e do aluno devem estar mutuamente e constantemente

acessíveis para ambos;

Professor e aluno devem acordar os objetivos de aprendizagem para cada tópico;

O professor deve proporcionar um ambiente de discussão em que os alunos possam gerar

e receber feedbacks pertinentes ao objetivo do tópico.

3.2.2 Adaptativo

O professor é responsável por determinar o foco das atividades no diálogo contínuo a partir

da relação entre sua própria concepção e a do aluno.

O estudante é responsável por estabelecer uma relação entre o feedback de suas atividades

e suas próprias concepções.

3.2.3 Interativo

O professor deve proporcionar um ambiente de atividades em que os alunos possam agir

proativamente, gerar e receber os feedbacks das ações pertinentes as metas.

Os estudantes devem agir para atingir as metas estabelecidas.

O professor deve fornecer um feedback intrínseco das ações relacionadas a natureza das

metas estabelecidas.

3.2.4 Reflexivo

6 Comentário sobre uma ação, resposta ou atitude.

Page 9: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

9

O professor deve guiar o processo em que os estudantes relacionam o feedback das suas

ações aos objetivos do tópico para cada nível de descrição dentro da estrutura do tópico;

O estudante deve analisar as atividades, suas ações e os feedbacks recebidos e associá-los a

sua própria concepção das metas estabelecidas.

O modelo conversacional, representado no diagrama da figura 1, mostra o fluxo

de trabalho entre tutor e aluno durante a aprendizagem. Certas atividades (centro em caixas

azuis) são interativas e acontecem através de algum meio. Outras atividades (direita e

esquerda em caixas amarelas) são inerentes ao aluno ou ao professor. Se supusermos que o

meio envolvido é um AVA, então este modelo fornece um conjunto claro de requisitos para

avaliar a adequação aos processos que formam a base do aprendizado interativo.

Figura 1 - A Estrutura Conversacional

Fonte: Laurillard, 1993

O fluxo das ações primárias que acontecem através do ambiente interativo é:

1. O professor apresenta / redescreve a concepção

2. O estudante apresenta / redescreve a concepção

Concepção do Professor

Concepção do Estudante

1. Teoria / ideias

2. Concepções

3. Redescrição do professor a luz da concepção do aluno

4. Redescrição do aluno a luz da redescrição do professor

5. Adaptação das metas a luz da descrição do

estudante

12. Reflexão das ações dos

aprendizes para modificar as descrições

10. Adaptação das ações a luz da

teoria, objetivo e feedbacks

11. Reflexão sobre as

concepções a luz da experiência

Meio ambiente

construído pelo

professor

Ações dos estudantes

6. Professor estabelece objetivos

7. Ações dos alunos

8. Feedback do professor sobre as ações do aluno

9. Ações dos alunos modificadas a luz do feedback do professor

PROFESSOR MEDIAÇÃO ESTUDANTE

Page 10: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

10

3. O professor estabelece as atividades do micro-mundo

4. O estudante interage com as atividades do micro-mundo

5. O sistema fornece comentários sobre as ações do estudante

6. O estudante modifica as ações a luz desses comentários

3.3 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Para avaliar um AVA usando a estrutura conversacional, precisamos estabelecer

quais ferramentas possibilitam que a ação e o diálogo influenciem-se mutuamente para

permitir que as ações e concepções do estudante sejam modificadas.

O ponto principal, da perspectiva do modelo conversacional é que o professor

deve ser capaz de construir atividades de aprendizagem seguindo um diálogo com o estudante

ao nível de concepções e identificação de objetivos. Dessa maneira, devemos considerar até

que ponto as ferramentas possibilitam a estruturação do diálogo e as ações, bem como a

integração entre diálogo e ações.

3.3.1 Ferramentas Discursivas

Normalmente as ferramentas que possibilitam o diálogo em um AVA são os emails

e grupos de discussão assíncronos. Assim, é importante verificar até que ponto o AVA

aproveita essas ferramentas para permitir que o diálogo seja parte integrante da aprendizagem.

Portanto, devemos checar, como por exemplo, se:

a) o diálogo é acessível dentro da estrutura do curso ou se é externo ao

ambiente;

b) as ferramentas de comunicação assíncrona permitem a inclusão de anexos em

suas mensagens e se esses anexos podem ser extraídos e incorporados às áreas

de trabalho dos alunos;

c) as ferramentas permitem que os objetivos de aprendizagem sejam

especificados e gravados nas bases de diálogo; e

d) o objetivo de aprendizagem fica em local de destaque no tópico estudado.

3.3.2 Adaptabilidade

Page 11: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

11

Facilidade de adaptar as atividades de aprendizagem às necessidades de um

estudante ou grupo de estudantes em particular. Isso levanta a questão se os estudantes em um

mesmo grupo podem ser facilmente diferenciados com o curso ou atividades em andamento.

3.3.3 Interatividade

Um pré-requisito básico para um AVA é que ele deve ser interativo. Não basta

apenas fornecer o material ao estudante e depois avaliá-lo sobre o assunto. Um AVA deve

permitir que os estudantes reestruturem o material apresentado, adicionem recursos próprios,

façam anotações, etc. Em outras palavras, o estudante não deve ser um mero observador

passivo do “micro-mundo” construído pelo professor, mas sim pró-ativo na modelagem desse

mundo.

3.3.4 Reflexão

O AVA deve permitir ao professor auxiliar o aluno a correlacionar os comentários

sobre suas ações com os objetivos estabelecidos. Uma ferramenta de mapeamento de

conceitos pode ser um recurso muito útil. O diálogo contextualizado deve ser possível em

cada nível da estrutura do tópico.

3.4 ESTRUTURA DE AVALIAÇÃO

A estrutura de avaliação adequada ao modelo conversacional pode ser construída

de várias maneiras. Neste caso em particular, optamos por construir um quadro onde são

descritas as ferramentas disponíveis para cada estágio de interação que compõem o modelo

conversacional e como essas ferramentas fornecem suporte para a conversação e as

atividades. A estrutura de avaliação do Quadro 1 utiliza o conjunto de seis interações

presentes no fluxo de ações primárias como critérios para identificação e avaliação das

ferramentas e seu nível de estruturação.

Quadro 1 - Estrutura de Avaliação

Page 12: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

12

INTERAÇÃO RECURSOS ESTRUTURAÇÃO

1. Apresentação da concepção pelo professor

Carregar apresentações em Power Point Inserir links para vídeos-aulas no

YouTube Disponibilizar material para download Criar glossários sobre os tópicos Elaborar atividades individuais e em

grupo Abrir fóruns de debate

O conteúdo propriamente dito é disponibilizado através de apresentações, links e arquivos. Os glossários, atividades e fóruns complementam o processo de aprendizagem, estimulando uma participação mais ativa do estudante de uma maneira fácil e agradável.

2. Apresentação da concepção pelo estudante

Fóruns de discussão Base de Dados criada pelo professor Wikis7

Glossário Realizar as atividades do professor

Além de realizar as atividades, o estudante externa seu entendimento sobre o tema em estudo através da participação nos fóruns e wikis. As contribuições para o glossário e base de dados também são um bom indicador do seu grau de envolvimento com o curso.

3. Criação do micro-mundo pelo professor

As mesmas ferramentas e recursos que possibilitam a apresentação da concepção são utilizadas para a criação do micro-mundo.

Os recursos disponíveis fornecem ao professor uma enorme variedade de combinações de atividades para criação de um ambiente interativo, dinâmico e atraente ao aluno.

4. Interação do estudante com o micro-mundo

O estudante dispõe de blogs8, chats9 e fóruns, além de ser capaz de anexar, carregar e postar comentários.

As características de usabilidade10 do ambiente o tornam bastante intuitivo. Essa particularidade é fundamental, do ponto de vista do estudante, pois lhe permite, mais do que simplesmente visualizar o conteúdo, ser um personagem participativo no processo de aprendizagem.

5. O tutor fornece feedback ao estudante

O professor dispõe de ferramentas administrativas que lhe permitem monitorar todas as atividades do estudante, acompanhar seu desempenho ao longo do curso e manter uma comunicação bilateral constante.

Nessa estrutura os comentários estão sempre incorporados ou interligados ao contexto das ações. Isso possibilita ao professor um acompanhamento mais efetivo do processo de aprendizagem, pois não se limita a avaliar o desempenho a partir da correção das atividades.

6. Modificação das ações pelo estudante

O estudante dispõe de blogs, chats e fóruns, além de ser capaz de anexar, carregar e postar comentários.

A partir dos comentários do professor, o estudante pode fazer correções e/ou atualizar suas ações no decorrer do processo.

A escolha do tema de um trabalho de pesquisa, na maioria das vezes, é

direcionada por experiências pessoais que nos suscitaram dúvidas e questionamentos, o que

nos levou a refletir e formar uma concepção própria, sem a devida fundamentação teórica.

7 Bases de dados que permitem aos usuários editar qualquer item existente com apenas um clique.8 Do inglês “Web log” (Diário da Rede), é uma estrutura que permite a atualização rápida de seus artigos.9 Conversação em tempo real pela internet10 Facilidade no emprego de uma ferramenta ou objeto para a realização de uma tarefa específica.

Page 13: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

13

Essa concepção influencia nossa abordagem inicial do problema, fazendo com que tenhamos

uma idéia pré-concebida do resultado final. Contudo, no decorrer da pesquisa, esta ideia é

subjugada pelo raciocínio científico, que direcionado pelo embasamento teórico traz uma

nova luz ao assunto, levando a um resultado lógico e coerente.

Este trabalho, como não poderia deixar de acontecer, não fugiu a esta regra.

Também foi influenciado por uma concepção não fundamentada. Entretanto, ao realizar a

avaliação com base na estrutura do Modelo Conversacional, uma nova realidade se

apresentou, só que desta vez como resultado de um trabalho bem estruturado, o que permitiu

que a concepção inicial sobre o tema fosse reavaliada e reformulada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise das ferramentas e recursos da plataforma MOODLE, com base

na fundamentação teórica do tema abordado, buscou-se realizar uma avaliação do processo de

ensino/aprendizagem na EAD, identificando as principais dificuldades dos alunos, a

adequação das ferramentas e a eficácia da metodologia utilizada.

Adotar as características inerentes ao modelo conversacional como critérios de

avaliação, possibilitou identificar que os recursos disponíveis, tanto para o professor quanto

para o aluno, atendem perfeitamente ao que preconiza o modelo conversacional, ou seja, vão

ao encontro das tendências mais atuais onde prevalece a ideia do aluno como figura central do

processo, atuando não como mero expectador, mas como protagonista.

Do ponto de vista do estudante, os recursos disponíveis permitem sua participação

ativa no processo de aprendizagem, seja através da realização das atividades propostas, na

realização de projetos individuais e em grupo ou na interação com o grupo. Contudo, essa

“proatividade” não pode depender unicamente da iniciativa do aluno, pois a grande maioria

está acostumada a seguir um planejamento pré-determinado, com dias e horários pré-

estabelecidos, como é comum ao ensino presencial. Logo, o professor tem que exercer um

acompanhamento constante, lançando mão das ferramentas que estão a sua disposição para

monitorar o desempenho do aluno e orientar seu aprendizado, agindo como um verdadeiro

mestre e orientador e não como um mero fornecedor de meios e avaliador. A postura do

professor - nesse caso entendemos postura como o seu relacionamento interpessoal no

processo de aprendizagem - é o elemento fundamental que irá determinar o comportamento

dos estudantes. Isto significa dizer que o desempenho dos estudantes é um reflexo não

Page 14: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

14

somente da metodologia ou dos recursos disponíveis, mas principalmente da capacidade do

professor em captar o interesse dos alunos e despertar-lhes a motivação para o aprendizado.

As novas tendências colocam o aluno como figura central do processo e o diálogo

como principal ferramenta de trabalho. Contudo, isso não significa que o professor tornou-se

um mero figurante, substituído pela tecnologia, mídias e bancos de dados. Apesar das novas

tendências da educação, dos recursos tecnológicos cada vez mais avançados, da complexidade

crescente dos softwares de aprendizagem e da eficiência dos meios de comunicação, o fator

principal para um resultado satisfatório no processo de aprendizagem é a metodologia de

trabalho do professor. As funcionalidades, recursos e ferramentas de um AVA, por melhores

que sejam, não garantem resultados satisfatórios.

Logo, concluímos que o fator determinante para que se obtenha resultados

satisfatórios na EAD é a capacitação dos professores para utilizarem os recursos tecnológicos

em toda a sua plenitude, proporcionando assim a formação de profissionais competentes e

capazes de desempenhar suas funções na sociedade.

Cabe ressaltar, ainda, que essa avaliação trata-se de uma análise subjetiva e

pessoal, baseada em referenciais teóricos pesquisados pelo autor. Sendo assim, seu resultado

não pretende representar uma verdade ou tese definitiva, mas unicamente o ponto de vista do

autor em função de sua visão da realidade e experiências de vida.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Pesquisa Nacional Por Amostras De Domicílios: Síntese de Indicadores 2013. Brasília: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2014.

BRITAIN, Sandy e LIBER, Oleg. A Framework for Pedagogical Evaluation of Virtual Learning Environments. JTAP - JISC (Joint Information Systems Committee) Technology Information Programme, Report 41. University of Wales, Bangor (UK), 1999.

D'AMBRÓSIO, Ubiratan. Tansdisciplinaridade. 3. ed. São Paulo: Palas Athena, 2001.

Educação à distância conquista confiança de alunos e empregadores. Estadão, São Paulo, 25 de março de 2014. Disponível em<http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,educacao- a- distancia-conquista-confianca-de-alunos-e-empregadores,1144568>. Acesso em: 6 de outubro de 2014.

LAURILLARD, Diana. Rethinking University Teaching: A Framework for the Effective Use of Educational Technology. 2. ed. London: Routledge Falmer, 2002.

Page 15: TCC UCDB(v Final) Sergio-Nideck

15

ROSINI, Alessandro M. As Novas Tecnologias da Informação e a Educação a Distância. 2. ed. São Paulo: CENGAGE Learning, 2013.

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetórias, limites e perspectivas. 11. ed. Campinas: Autores Associados. 2008, p. 252.

SERRA, Maria Luiza Arruda de Almeida. Metodologia do Ensino Superior. Campo Grande: UCDB, 2013. (Apostila do Curso de Pós-graduação em Libras)

The Moodle Project: Statistics. MOODLE.ORG, Dezembro de 2014. Disponível em: <http://moodle.net/stats/>. Acesso em 10 dez. 2014.