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SEADE
SEGURANÇA PÚBLICA:O DESAFIO DA INFORMAÇÃO
no 27 Junho 2015
Autor deste númeroRenato Sérgio de Lima, Assessor Técnico da Diretoria Executiva da Fundação Seade. Bolsista de produtividade 2, do CNPq
Coordenação e ediçãoEdney Cielici Dias
ISSN 2317-9953
Diretora ExecutivaMaria Helena Guimarães de Castro
Diretora Adjunta Administrativa e FinanceiraSilvia Anette Kneip
Diretor Adjunto de Análise e Disseminação de InformaçõesEdney Cielici Dias
Diretora Adjunta de Metodologia e Produção de DadosMargareth Izumi Watanabe
Corpo editorial
Maria Helena Guimarães de Castro;
Silvia Anette Kneip;
Haroldo da Gama Torres;
Margareth Izumi Watanabe;
Edney Cielici Dias e
Osvaldo Guizzardi Filho
Assistente de edição
Cássia Chrispiniano Adduci
SEADEFundação Sistema Estadual de Análise de Dados
Av. Cásper Líbero 464 CEP 01033-000 São Paulo SPFone (11) 3324.7200 Fax (11) 3324.7324
www.seade.gov.br / [email protected] / [email protected]
apresentação
PESQUISAS INSERIDAS NO DEBATE PÚBLICOO Seade é uma instituição que remonta ao século 19, com o surgi-
mento da Repartição da Estatística e do Arquivo do Estado, em 1892. Ao longo de mais de um século, tem contribuído para o conhecimento do Es-tado por meio de estatísticas, com um conjunto amplo de pesquisas sobre diversos aspectos da sociedade e do território de São Paulo. Levar parte importante desse volume de informação e suas interconexões ao público é,
por sua vez, uma tarefa tão relevante quanto desafiadora.O Projeto Primeira Análise visa divulgar parte do universo de conheci-
mento da instituição, ao dialogar com temas de interesse social. Os artigos que compõem o projeto procuram sinalizar de forma concisa tendências e apresentar uma análise preliminar do tema tratado. Trata-se de texto au-toral, de caráter analítico e científico, com aval de qualidade do Seade.
Os textos são destinados a um público formado por gestores públi-cos, ao oferecer informação qualificada e de fácil compreensão; ao meio acadêmico e de pesquisa aplicada, por meio de abordagem analítica pre-liminar de temas de interesse científico; e para a mídia em geral, ao suscitar pautas sobre questões relevantes para a sociedade.
Os artigos do projeto têm periodicidade mensal e estão disponíveis na página do Seade na Internet. Os temas englobam aspectos econômicos, sociais e de interesse geral, abordados em perspectiva de auxiliar na formu-lação de políticas públicas.
Desta forma, o Seade mais uma vez se reafirma como uma instituição ímpar no fornecimento de informações de importância para o conhecimen-to do Estado de São Paulo e para a formulação de suas políticas públicas.
Maria Helena Guimarães de Castro
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RESUMO: O texto apresenta um panorama da segurança pública
no Brasil e busca problematizá-lo à luz dos seus principais dilemas
e desafios, com especial ênfase à discussão sobre as lacunas de
informação e fragilidade dos dados disponíveis, que dificultam a
construção de uma agenda de pesquisas mais robusta e o aumento
de eficiência e efetividade do ciclo das políticas públicas da área.
SUMÁRIO EXECUTIVO
• A segurança pública é um dos mais persistentes entraves ao de-senvolvimento do país e um dos mais desconhecidos problemas sociais, na medida em que as estatísticas públicas são frágeis, exi-gindo investimentos na construção de uma agenda de pesquisa e produção de dados mais robusta.
• A área da segurança hoje no país não carece propriamente de recursos financeiros, mas sim de expertise capaz de transformá-los em indutores de maior eficiência institucional.
• Há um déficit elevado de qualidade do serviço provido e ele não é responsabilidade exclusiva de um Poder da República ou de uma esfera de governo.
• As iniciativas de sucesso no enfrentamento do crime e da violência estão estruturadas no tripé aproximação com a população; uso in-tensivo de informações e aperfeiçoamento da inteligência e da in-vestigação; e integração operacional das instituições policiais com vistas a otimizar o ciclo completo de policiamento.
• O Brasil necessita de uma política mais eficiente de produção, co-ordenação e articulação de seus dados criminais. Painéis de moni-toramento e avaliação baseados em dados e indicadores podem agregar e aperfeiçoar as capacidades institucionais e permitir maior transparência e prestação de contas.
SEGURANÇA PÚBLICA: O DESAFIO DA INFORMAÇÃO1
1. O autor agradece a Ana Lídia Santana, que contribuiu com a coleta e atualização de dados, e também a Samira Bueno pela leitura prévia e revisão.
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INTRODUÇÃO
Levantamento recente produzido pelo Latinobarômetro (2013) demonstra
que a delinquência foi a principal preocupação para 24% da população da
América Latina em 2013, contra 16% que citaram o desemprego. E esta
preocupação encontra respaldo nos dados: os países de baixa e média renda
da região acumulam taxas de homicídio quatro vezes superiores à média
mundial e duas vezes maiores do que as de países em desenvolvimento da
África (UNODC, 2014).
Já no que diz respeito ao cenário brasileiro, o país foi responsável, em
2012, por 11,4% de todos os homicídios do mundo – 56 mil vidas perdi-
das –, não obstante sua população representar apenas 2,8% da mundial
(UNODC, 2014). Considerando-se as subnotificações nos registros de mor-
tes violentas apontadas por Cerqueira (2013), estima-se um total de 60 mil
mortes violentas anuais.
Diante dessa situação, falar hoje de segurança é falar, paradoxalmen-
te, de um dos mais persistentes entraves ao desenvolvimento da região e de
um dos mais desconhecidos problemas sociais, uma vez que as estatísticas
públicas da área são poucas e frágeis, exigindo investimentos na construção
de uma agenda de pesquisa e produção de dados mais robusta.
Boa parte do debate sobre o tema ganha matizes marcadamente ideo-
lógicos e pouco se avança no desenvolvimento de um programa de trabalho
em torno da qualificação de sistemas de informação. Ao mesmo tempo,
em termos macro, o Brasil vive um momento de mudanças estruturais em
sua economia e em sua composição demográfica, que causam impactos
significativos nos serviços de segurança pública: o país, entre outras trans-
formações, vem experimentando uma fase de redução da pobreza, tendo
realizado importantes esforços para o cumprimento dos Objetivos de De-
senvolvimento do Milênio das Nações Unidas, estabelecidos em 2000.
Derivado destas mudanças, o reconhecimento internacional do
seu novo potencial geopolítico e econômico eleva o Brasil à condição de
protagonista regional com crescente visibilidade global, envolvido pela
primeira vez em questões estratégicas para a segurança internacional,
inclusive fomentando o fortalecimento do G20. Esse também é o caso da
participação brasileira na Minustah, missão da ONU no Haiti que visa contri-
buir para a reconstrução daquele país.
Porém, a condição de protagonista também traz maior responsabi-
lidade e pressão interna e externa para avançar em áreas em que o país
ainda apresenta indicadores incompatíveis com seus anseios geopolíticos
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e seu potencial econômico. Entre os principais entraves identificados pelo
próprio governo federal para que o Brasil assuma de fato uma posição mais
central na região e no cenário mundial encontram-se o baixo desempenho
da segurança pública e do sistema de justiça criminal e os altos índices de
violência e criminalidade.
Os desafios e ameaças ganharam caráter mais dinâmico e transnacio-
nal nos últimos anos, exigindo de todos os poderes do Estado brasileiro a in-
tensificação de respostas políticas, legislativas, programáticas e de inteligên-
cia para aprimorar e garantir o Estado de Direito e a democracia. No plano
institucional, políticas de segurança pública dependem de mecanismos de
gestão e de financiamento mais ágeis, bem como da convergência de agen-
das de modernização incremental da área com medidas de reformas legis-
lativas no campo do direito administrativo e mudanças mais substantivas no
arcabouço jurídico que organiza o sistema de justiça e segurança brasileiro.
A área da segurança hoje no país não carece propriamente de recursos
financeiros, mas sim de expertise capaz de transformá-los em indutores de
maior eficiência institucional. Como exemplo, os sistemas de informações
hoje existentes sobre crimes, prisões, apreensão de drogas e armas ainda
são deficientes, fragmentados e estão muito focados na discussão tecno-
lógica, o que abre espaço para parcerias de fortalecimento institucional e
assessoramento técnico. Há, no entanto, um percurso metodológico e con-
ceitual a ser feito na construção de sistemas de informação mais aderentes
à nova posição do país e às suas opções constitucionais.
Isso se torna necessário para enfrentar outro paradoxo, que faz com
que o Brasil seja um dos países que têm despendido mais recursos financei-
ros com segurança pública, sem, no entanto, garantir redução dos indicado-
res de criminalidade. Há um déficit elevado de qualidade do serviço provido
e ele não é responsabilidade exclusiva de um Poder da República ou de uma
esfera de governo.
Política e operacionalmente, as ações direcionadas à prevenção da vio-
lência e redução do crime urbano começam a reconhecer a complexidade
deste cenário. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), no Rio de Janeiro,
conseguiram, num primeiro momento, inverter a tendência da população
brasileira de achar que não há soluções no campo da segurança pública.
Sem desconsiderar fricções e tensões do pacto federativo e dos arranjos po-
líticos, a conquista de território e o inédito esforço integrado entre polícias
estaduais, federais, forças armadas e entre os poderes Executivo e Judiciário
são os principais diferenciais das UPPs. Outro exemplo é São Paulo, Estado
que mais obteve sucesso em reduzir mortes violentas ao longo dos últimos
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15 anos (69% entre 2000 e 2013), apostando no investimento em inteli-
gência, no controle de armas, na participação social e na estruturação de
sistemas de informação. É válido lembrar que, nesse processo, iniciativas
menos midiáticas, mas de igual impacto no controle da violência, também
foram ou estão sendo desenvolvidas em Pernambuco (Pacto pela Vida), Mi-
nas Gerais (Fica Vivo) e Espírito Santo (Estado Presente). O que todas estas
experiências têm em comum é o investimento maciço em novos padrões de
policiamento, intitulados como de proximidade/comunitária, uma ferramen-
ta poderosa à disposição do Estado.
As iniciativas de sucesso no enfrentamento do crime e da violência
estão estruturadas no tripé aproximação com a população; uso intensivo
de informações e aperfeiçoamento da inteligência e da investigação; e in-
tegração operacional das instituições policiais com vistas a otimizar o ciclo
completo de policiamento. São lições aprendidas que estão servindo, por
exemplo, para que o país alcance avanços na pactuação dos novos Objetivos
para o Desenvolvimento Sustentável – ODS, que substituirão os objetivos
das metas do milênio. O Brasil tem avaliado a adoção do objetivo 16 desta
iniciativa, que trata de compromissos para uma sociedade justa, pacífica e
sustentável e envolve a aceitação de uma meta de redução de homicídios.
E, o mais relevante, assumir esta meta é possível já com os arranjos institu-
cionais disponíveis.
Além desse tripé, com a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamen-
to, no final de 2003, o Brasil passou a ter melhores instrumentos de controle
e informação sobre armas. O Estatuto tipificou os crimes de tráfico, posse e
porte ilegal de armas, dando ferramentas para as polícias implantarem, com
prioridade, a apreensão de armas. De 2004 a 2010 mais de meio milhão de
armas de fogo foram entregues pela população às autoridades, auxiliando
na prevenção da violência e na reconquista do Estado como o espaço mais
adequado para a administração de conflitos de qualquer natureza.
De igual modo, em termos de ações focalizadas, o Brasil tem feito
esforços na prevenção e enfrentamento de várias outras manifestações de
violência. A atuação no campo do combate ao crime organizado transna-
cional implica a coordenação de esforços de diferentes instâncias e poderes.
Afinal, o Brasil configura-se como um país com um complexo cenário, no
qual há um quadro simultâneo e crescente de consumo e de rota de trânsito
para outros países.
Enfim, o tema segurança pública envolve uma série de ações e polí-
ticas mais específicas: presença territorial; garantia da ordem pública de-
mocrática e de direitos; policiamento preventivo, de trânsito, ambiental e
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florestal; bombeiros e defesa civil; investigação criminal e persecução penal;
controle de desordens, grandes eventos, distúrbios e do sistema prisional ou
de medidas socioeducativas; ações especiais; aproximação com a comunida-
de, com a juventude, entre outras.
É em torno dessa extensa e multifacetada agenda que, para os ob-
jetivos desta edição do 1a Análise, uma questão derivada ganha forma e
intensidade: o Brasil carece de uma política mais eficiente de produção, co-
ordenação e articulação de seus dados criminais, sendo que painéis de mo-
nitoramento e avaliação baseados em dados e indicadores podem agregar
e aperfeiçoar as capacidades institucionais vigentes e permitir maior trans-
parência e prestação de contas por parte das instituições que compõem o
chamado sistema de justiça criminal brasileiro. A informação tem, por esta
perspectiva, papel estratégico na viabilização de um novo projeto de país e
de desenvolvimento.
O drama é que, enquanto essa política de informação não ganha for-
ma, convicções e falsas verdades vão sendo assumidas e disseminadas, exi-
gindo dos responsáveis pela produção e sistematização de dados da área
uma atenção redobrada. Ao longo dos últimos anos, tem sido comum ouvir
especialistas e a mídia comentando a indicação de um número mínimo de
policiais por grupo de habitantes, o cálculo de quanto do total de homi-
cídios é cometido por adolescentes, a propagação de que a Organização
Mundial da Saúde considera que taxas superiores a 10 homicídios por 100
mil habitantes configurariam um quadro epidêmico de violência. O proble-
ma é que essas referências simplesmente não existem e são reproduzidas
sem nenhuma consistência ou critério técnico ou científico que as emba-
sem. Elas são insumo do debate marcadamente ideológico e político que
é travado no campo das políticas de justiça e segurança, já que há uma
enorme disputa pelo significado do que venha a ser segurança, ordem e
garantia de direitos no país.
PANORAMA COM BASE NOS DADOS EXISTENTES
A ausência de uma política de produção e coordenação de dados e informa-
ções sobre justiça criminal e segurança pública não impede, mesmo diante
da carência de sistemas integrados de informação, o exercício de compila-
ção e análise dos dados disponíveis. Por certo há um esforço complementar
de contextualização, mas a indicação da necessidade de se estruturarem sis-
temas articulados de monitoramento e avaliação não inviabiliza um primeiro
panorama da criminalidade no país. Afinal, esse panorama colabora para
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GRÁFICO
1
Evolução das taxas de mortalidade por agressãoBrasil – 1999-2013
Fonte: IBGE; Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS/Departamento de Análise da Situação de Saúde – Dasis. Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
deslocar o debate do seu centro ideológico e visa explicitar as características
e o contexto pelo qual as disputas anteriormente mencionadas são travadas.
Por essa perspectiva, a violência urbana continua sendo um dos mais
graves problemas sociais no Brasil, totalizando quase 1 milhão de vítimas
fatais nos últimos 30 anos. Segundo dados existentes, a taxa de mortes por
agressão saltou de 22,2 para 26,9 óbitos por 100 mil habitantes, entre 1990
e 2013, com variações importantes entre diferentes estados. Ou seja, se o
Brasil foi capaz de melhorar seus indicadores socioeconômicos, o quadro
de violência do país indica que ainda convivemos com taxas de crimes letais
em muito superiores a outros países, o que nos coloca no triste ranking das
sociedades mais violentas do mundo. E, diante deste quadro, se o Estado
brasileiro quiser avançar na construção de um novo e mais justo modelo de
desenvolvimento, terá que enfrentar a questão da segurança pública como
um eixo prioritário da ação governamental nos próximos anos.
No que diz respeito à evolução regional, contudo, há uma série de
disparidades que precisam ser mais bem avaliadas. O Estado de São Paulo,
por exemplo, que chegou a registrar mais de 12 mil vítimas de homicídio
em 1999, logrou redução de 69% na taxa desse crime entre 2000 e 2013.
Já Alagoas e Ceará mostraram crescimento abrupto dos índices de crimes
violentos letais, alcançando taxas de homicídio de, respectivamente, 65,3 e
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Por 100 mil hab.
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50,5 mortes por 100 mil habitantes em 2013 (Tabela 1). Como agravante,
pesquisas (IGARAPE, 2013) demonstram que aproximadamente 70% dos
homicídios no Brasil ocorrem por meio da utilização de armas de fogo. Ar-
mas essas que também impõem enormes desafios às políticas públicas da
área e reforçam a agenda de supervisão, transparência e controle do Estado.
Afinal, de um lado, de acordo com a CPI do Tráfico de Armas, 85%
das armas apreendidas pelas polícias são brasileiras. Por outro lado, um con-
tingente de armas com alto poder de impacto e destruição é provido pelo
tráfico internacional e passa por portos e fronteiras mal monitoradas. Essas
armas acabam nas mãos dos “soldados” do crime organizado e mudam o
cenário das principais metrópoles brasileiras.
Por falar em crime organizado, esse é um problema que não pode ser
desconsiderado na construção de um novo modelo de segurança pública para
o Brasil. São vários os relatos de situações de violência extrema cometida por
grupos e facções criminosas no país, mas, ao mesmo tempo, muitos estudos
têm demonstrado que o crime também tem parcela de responsabilidade
por “pacificar” as periferias das cidades, em especial quando tais grupos
buscam mitigar o impacto da ação das polícias.2
Associado ao debate sobre controle territorial por parte de facções
criminosas, um dado recente do Núcleo de Estudos da Violência indica que,
no plano local, mesmo na cidade de São Paulo, que teve sua taxa global re-
duzida para cerca de 10 homicídios por 100 mil habitantes, existem bairros
e distritos em que estas taxas são superiores a 40 homicídios por 100 mil
habitantes.
Relacionada a esse quadro, a corrupção policial, por sua vez, é um
tema que também chama a atenção pela falta de estudos e pesquisas mais
recentes. Pouco se tem analisado sobre novas formas de atuação ilegal de
agentes públicos. Do estudo clássico de Mingardi (1992) sobre a polícia
civil, produzido nos anos 1980, pouco se aprofundou acerca do papel das
instituições públicas encarregadas em enfrentar e prevenir a corrupção. Em
especial, há uma agenda em aberto hoje no país sobre corregedorias e me-
canismos de controle.
Isso porque, segundo a Pesquisa Nacional de Vitimização – PNV, de
2012, a população confia pouco nas polícias brasileiras. E os números da
2. Não à toa, com apoio da CAF (Banco da América Latina, antiga Corporação Andina de Fo-mento), a Fundação Getúlio Vargas (Eaesp), o Insper e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública estão conduzindo um estudo longitudinal para avaliar a contribuição do Primeiro Comando da Capital (PCC) na redução dos homicídios em São Paulo entre 2000 e 2012 (BIDERMAN et al., mimeografado).
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1a Análise Seade, no 27, junho 2015 12
PNV são corroborados pelos dados do Índice de Confiança na Justiça – ICJ,
do Centro de Pesquisas Jurídicas Aplicadas da FGV Direito SP, que indicam
que polícias e Judiciário gozam no máximo da confiança de 1/3 da popula-
ção, e mesmo o Ministério Público só conta com a confiança de um pouco
menos da metade da população. Dito de outra forma, mais da metade
da população não confia nas instituições do sistema de justiça criminal e
segurança pública.
Somado a esta realidade, outro dado revelador do quadro vivido no
país na área refere-se às altas taxas de letalidade da ação policial. As polícias
brasileiras atuam a partir de um padrão de policiamento que comporta um
número de mortes em confrontos muito superior aos observados em vários
países desenvolvidos. Entre 2009 e 2013, as polícias brasileiras vitimaram ao
menos 11 mil pessoas, o equivalente ao número de mortes provocadas pe-
las polícias dos Estados Unidos em 30 anos (Tabelas 2 e 3). De igual modo,
o risco de um policial morrer é três vezes superior à média da população em
geral (FBSP, vários anos).
No caso paulista, esse quadro é ainda mais grave, pois, se considerada
apenas a capital, as mortes de autoria de policiais significaram, em 2014, cer-
ca de 20% do total de mortes violentas da cidade. O mesmo ocorre para as
polícias cariocas. Entretanto, aqui cabe uma ressalva importante: se os dados
disponíveis dão conta de que ao menos seis pessoas são mortas diariamente
pelas polícias brasileiras e que a maior parte deste número se concentra nos
Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e na Bahia, isso não significa que a polí-
cia é mais violenta e produz mais mortes nestes territórios, já que, nas demais
Unidades da Federação, os dados são muito frágeis e, portanto, o número
real de mortes causadas por intervenção policial tende a ser muito maior.
TABELA
2
Pessoas mortas por policiais civis e militaresBrasil – 2009-2013
Anos Nos abs.
Total 11.197
2009 2.177
2010 2.434
2011 2.042
2012 2.332
2013 2.212 Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp. Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas – Sinesp; IBGE; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 13
Para além das diferenças regionais e locais, a violência letal tem se
mostrado um fenômeno altamente correlacionado com gênero, cor/raça e
a faixa etária das vítimas. O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e
Desigualdade Racial, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
a pedido da Secretaria Nacional de Juventude, no final de 2014, indica, por
exemplo, que os jovens negros de 12 a 29 anos possuíam, em média, 2,6
TABELA
3
Pessoas mortas pelas polícias norte-americanasEUA – 1983-2012
Anos Nos abs.
Total 11.090
1983 406
1984 332
1985 321
1986 298
1987 296
1988 339
1989 362
1990 379
1991 359
1992 414
1993 453
1994 459
1995 382
1996 357
1997 366
1998 369
1999 308
2000 297
2001 378
2002 341
2003 373
2004 367
2005 347
2006 386
2007 398
2008 378
2009 414
2010 397
2011 404
2012 410Fonte: FBI; Statistical Abstract of the United States: 2002, The National Data Book; Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp. Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas – Sinesp; Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 14
vezes mais chances de serem assassinados em relação aos jovens brancos,
em 2012, sendo que em alguns estados do Nordeste, como Paraíba e Per-
nambuco, esse risco chegava a ser 13 vezes maior (Tabelas 4, 5 e 6) (FBSP,
2015).
Conforme afirmam Lima e Sinhoretto (2015), a violência letal é uma
experiência de classe pela qual os pobres, jovens e moradores das áreas
urbanas mais precárias são as vítimas preferenciais. Mas a classe não é sufi-
ciente para expressar a desigualdade da experiência com a morte violenta.
As relações raciais se articulam com a classe. No que tange à morte vio-
lenta, os negros estão ainda mais vulneráveis, na medida em que são mais
assassinados, e mais cedo, o que nos leva a ter que pensar igualmente a
articulação entre classe, raça, geração e território. Os negros morrem, pro-
porcionalmente, 30,5% mais do que os brancos no país, segundo a última
edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2014).
Como resultado deste panorama com base nos dados existentes, em
termos econômicos, o país gastou mais de R$ 258 bilhões em 2013 com
custos sociais da violência – que incluem estimativas com perdas de vidas
e gastos do sistema de saúde e com segurança privada – e despesas com
segurança pública e prisões. Ao mesmo tempo, os gastos públicos no Bra-
sil são equivalentes, em relação ao PIB, ao que vários países desenvolvidos
gastam com a área, demonstrando que o dinheiro disponível pode não ser
suficiente, mas estamos longe de resumir essa prioridade apenas em termos
de mais recursos financeiros, em mais armas e viaturas.
Desses R$ 258 bilhões, segundo os balanços contábeis da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios brasileiros, sistematizados pela
Secretaria do Tesouro Nacional, o Brasil gastou em 2013 mais de R$ 61
bilhões com segurança pública, aproximadamente 1,26% do PIB nacio-
nal (Gráfico 2). Ou seja, do total do custo social da violência apenas ¼ foi
destinado a políticas públicas de segurança e prisional, indicando que o país
pode e deve melhorar em muito a qualidade do seu gasto na área.
Em termos comparativos, no que se refere às despesas na área de
segurança, o Brasil está no mesmo patamar de países como Alemanha e
Espanha, que contabilizam taxas de homicídio inferior a 1 por 100 mil ha-
bitantes. Os gastos públicos nessa área parecem não guardar relação com
a realidade, mas tão somente com as prioridades políticas assumidas pelas
três esferas do Poder Executivo.
A Tabela 7 apresenta o crescimento dos gastos na função segurança
pública entre 2003 e 2013. Na análise das despesas da União, estados, Dis-
trito Federal e municípios, chamam a atenção: a insuficiência do aumento
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 15
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1a Análise Seade, no 27, junho 2015 16
TABELA
5
Índice de Vunerabilidade Juvenil – IVJ: Violência e Desigualdade Racial, Homicídios, Taxas e Risco RelativoBrasil, Regiões e Unidades da Federação – 2012
Regiões e Unidades da Federação
Homicídios Taxas (1) Risco relativoBrancos Negros Brancos Negros
BRASIL 7.032 22.884 27,7 71,0 2,60
Região Norte 283 3.013 23,1 72,5 3,14
Rondônia (2) 52 184 30,6 54,5 1,78
Acre (2) 7 86 11,9 45,4 3,82
Amazonas (2) 53 680 20,4 74,8 3,67
Roraima (2) 5 59 16,3 53,6 3,29
Pará 122 1.713 22,5 81,7 3,64
Amapá (2) 17 139 29,0 76,2 2,63
Tocantins (2) 27 152 26,3 46,1 1,75
Região Nordeste 833 10.526 17,4 87,0 4,99
Maranhão 86 874 17,9 50,2 2,80
Piauí (2) 30 236 11,9 32,8 2,76
Ceará 124 1.134 14,5 58,3 4,01
Rio Grande do Norte (2) 111 545 27,3 92,7 3,40
Paraíba (2) 38 785 8,6 115,4 13,40
Pernambuco 80 1.707 8,4 96,9 11,57
Alagoas (2) 58 1.170 19,0 166,5 8,75
Sergipe (2) 38 439 21,1 89,4 4,24
Bahia 268 3.636 29,7 104,9 3,54
Região Sudeste 2.767 6.103 23,5 53,2 2,27
Minas Gerais 605 1.930 26,1 57,3 2,20
Espírito Santo 84 827 21,3 126,1 5,91
Rio de Janeiro 600 1.841 30,9 71,3 2,31
São Paulo 1.478 1.505 20,7 30,9 1,49
Região Sul 2.611 895 44,3 47,7 1,08
Paraná 1.456 456 71,2 47,1 0,66
Santa Catarina 311 102 20,7 29,3 1,42
Rio Grande do Sul 844 337 36,0 60,3 1,67
Região Centro-Oeste 538 2.347 31,5 88,6 2,82
Mato Grosso do Sul 73 209 22,0 52,7 2,39
Mato Grosso 120 431 35,8 70,6 1,97
Goiás 298 1.222 41,5 108,3 2,61
Distrito Federal (2) 47 485 14,4 94,2 6,53Fonte: IVJ – Violência e Desigualdade Racial 2014; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(1) Por grupo de 100 mil habitantes, por raça/cor.(2) Estados com menos de 50 homicídios em algum dos grupos de cor em algum dos anos: Resultados mais instáveis e que devem ser interpretado com cautela.
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 17
TABELA
6
Índice de Vunerabilidade Juvenil – IVJ: Violência e Desigualdade RacialMunicípios brasileiros (1) – 2012
Municípios brasileiros (1) IVJ – Violência
Cabo de Santo Agostinho (PE) 0,651
Itaguaí (RJ) 0,592
Altamira (PA) 0,587
Marabá (PA) 0,582
Luziânia (GO) 0,573
Parauapebas (PA) 0,570
Simões Filho (BA) 0,567
Eunápolis (BA) 0,564
Teixeira de Freitas (BA) 0,564
Marituba (PA) 0,561
Presidente Prudente (SP) 0,246
Birigui (SP) 0,246
Poços de Caldas (MG) 0,246
Varginha (MG) 0,244
Indaiatuba (SP) 0,244
Valinhos (SP) 0,241
Americana (SP) 0,232
Jaú (SP) 0,223
São José do Rio Preto (SP) 0,220São Caetano do Sul (SP) 0,174
Fonte: IVJ – Violência e Desigualdade Racial 2014; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(1) Com mais de 100 mil habitantes.
GRÁFICO
2
Porcentual do PIB gasto com custo social da violência, despesas públicas com segurança, prisões e unidades de medidas socioeducativasBrasil – 2013
Fonte: Ipea/Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia – Diest; Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro Nacional – STN; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
3,97%
1,26%
0,1%
Custo Social da Violência
Segurança Pública
Prisões e unidades demedidas socioeducativas
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 18
TABELA
7
Despesas declaradas na função segurança públicaBrasil, Unidades da Federação e Municípios – 2003-2013
Em reais
Anos UniãoUnidades da Federação
Municípios Total
2003 3.871.614.209,57 31.398.910.941,48 1.205.224.009,80 36.475.749.160,85
2004 4.179.770.884,04 30.183.164.269,26 1.379.992.353,20 35.742.927.506,50
2005 4.264.633.303,56 32.211.811.166,61 1.418.919.621,99 37.895.364.092,16
2006 4.678.723.652,12 37.127.994.543,72 1.655.721.140,81 43.462.439.336,65
2007 5.356.552.222,40 39.413.093.048,75 1.875.518.889,38 46.645.164.160,53
2008 6.100.452.284,92 41.547.404.492,68 2.191.082.787,63 49.838.939.565,23
2009 6.918.375.843,95 45.267.019.733,57 2.381.523.191,36 54.566.918.768,88
2010 8.199.806.838,70 42.602.316.733,20 2.651.717.522,11 53.453.841.094,01
2011 6.054.512.470,27 48.278.342.046,79 3.088.907.831,58 57.421.762.348,64
2012 7.878.515.352,99 53.225.775.347,06 3.481.845.028,88 64.586.135.728,93
2013 8.270.903.209,92 49.266.559.130,29 3.595.887.568,90 61.133.349.909,11Fonte: Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro Nacional – STN; IBGE; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
nominal de recursos destinados à segurança pública realizados pelas Unida-
des da Federação – UFs (estados e Distrito Federal) ano a ano para manter
sua participação no total de recursos gastos pelas três esferas do Poder
Executivo; e a redução de 21% das despesas da União na área entre 2010
e 2011, desencadeada pela mudança de gestão do governo federal e, em
certa medida, pela interrupção de parte significativa dos recursos previstos
no Programa Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci.
Já os municípios saltaram de um patamar de despesas com segurança
pública equivalente a 3,0% dos gastos públicos na área, em 2006, para
5,9%, em 2013, último ano com dados disponíveis (Gráfico 3). Os mu-
nicípios assumiram um papel mais ativo (antes eles já financiavam gastos
operacionais das polícias, como aluguéis, contas de consumo e manutenção
e combustíveis das viaturas), porém, esbarram numa séria crise de financia-
mento de suas ações na área. Não há fontes de receitas específicas e existe
uma forte competição pelos repasses voluntários da União, que a partir de
2001, com o Fundo Nacional de Segurança Pública, incluíram os municípios
no rol de habilitados a receber recursos para essa área.
A União, por sua vez, aumentou sensivelmente seus gastos até 2010,
com pequena redução em 2011, voltando a incrementá-los em 2012 e
2013 (Tabela 7). Já as UFs permanecem como as responsáveis por cerca
de 85% dos gastos públicos com segurança pública, em muito justificados
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 19
pelas folhas de pagamento dos aproximadamente 600 mil policiais civis e
militares do país.
Seja como for, o Brasil gasta o equivalente a países desenvolvidos e,
nem por isso, consegue reverter o quadro de medo e insegurança, muito em
razão de um modelo disfuncional de organização policial e de administração
de conflitos, que sobrecarrega os efetivos das polícias de modo bastante
forte. Pesquisa de opinião realizada pelo Datafolha e o FBSP, em julho de
2015, fornece um retrato deste quadro: mais de 81% dos residentes nas ci-
dades brasileiras com mais de 100 mil habitantes declararam que têm medo
de serem assassinados (Gráfico 4). Já 91% dos residentes afirmaram ter
medo de serem vítimas da violência de criminosos (Gráfico 5).
Porém, um dado preocupa e chama a atenção: entre os residentes
nas cidades com mais de 100 mil habitantes, 62% declararam ter medo de
serem vítimas de violência praticada pela Polícia Militar e 53% pela Polícia
Civil (Gráficos 6 e 7), num indicativo de que há a necessidade de se investir
na construção da legitimidade e da imagem destas corporações. Quando
comparados tais dados com os da Pesquisa Nacional de Vitimização, de
2012, apesar de esta última ter universo mais amplo e ser representativa
GRÁFICO
3
Participação dos entes federativos no financiamento das ações de segurança públicaBrasil – 2002-2012
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional/Sistema Integrado de Administração Financeira – Siafi/CCONT/Geinc; Finanças do Brasil – Finbra; IBGE; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
10,1 10,6 11,7 11,3 10,8 11,5 12,2 12,7 15,3 10,5 6,9
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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
União Unidades da Federação Municípios
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 20
GRÁFICO
4
Porcentual de Respostas à pergunta “Você tem medo de morrer assassinado?” (Resposta estimulada e única)Municípios do Brasil (1) – 2012-2015
Fonte: Pesquisa Nacional de Vitimização/Instituto Datafolha/Centro de Pesquisas sobre Criminalidade e Segurança – Crisp; Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp; Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios/Instituto Datafolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(1) A Pesquisa Nacional de Vitimização é uma amostra representativa de todos os municípios brasileiros com 15 mil habitantes ou mais. Já a Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios é representativa dos municípios brasileiros com 100 mil habitantes ou mais. A comparação deve ser tomada apenas com referência, já que os dois levan-tamentos diferem em abrangência e metodologia.
Pesquisa Nacional de Vitimização / Ano base 2012Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios / Ano base 2015
Em %
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GRÁFICO
5
Porcentual de Respostas à pergunta “Você tem medo de ser vítima de violência por parte de criminosos?” (Resposta estimulada e única)Municípios brasileiros (1) – Julho 2015
Fonte: Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios/Instituto Datafolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(1) Com mais de 100 mil habitantes.
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 21
para os municípios com mais de 15 mil habitantes, observa-se que as polí-
cias vivenciam situações que exigem uma reflexão sobre suas relações com
a comunidade e com a sociedade em geral.
Em termos de efetivo policial, as fontes existentes computam que o
Brasil possuía, em 2012, 410.636 policiais militares, 52.657 bombeiros e
116.556 policiais civis e 96.147 guardas municipais (Tabela 8), totalizando
quase 675.996 profissionais (FBSP, vários anos). São homens e mulheres
que estão trabalhando no limite de suas capacidades e, muitas vezes, sub-
metidos a ambientes de trabalho hostis e perigosos. Para se ter uma ideia,
pesquisa sobre relações de gênero no interior das polícias, realizada com
cerca de 13 mil entrevistados, indica que mais de 40% dos policiais ouvidos
declararam que já foram vítimas de assédio moral ou sexual (FBSP, 2015b).
Já no que se refere ao sistema prisional brasileiro, convivemos ainda
com um sistema de justiça que não é capaz de julgar os 215.639 encarce-
rados em situação provisória nas prisões do país, mesmo em relação a um
GRÁFICO
6
Porcentual de Respostas à pergunta “Você tem medo de ser vítima de violência por parte da Polícia Militar?” (Resposta estimulada e única)Municípios do Brasil (1) – 2012-2015
Fonte: Pesquisa Nacional de Vitimização/Instituto Datafolha/Centro de Pesquisas sobre Criminalidade e Segurança – Crisp; Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp; Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios/Instituto Datafolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(1) A Pesquisa Nacional de Vitimização é uma amostra representativa de todos os municípios brasileiros com 15 mil habitantes ou mais. Já a Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios é representativa dos municípios brasileiros com 100 mil habitantes ou mais. A comparação deve ser tomada apenas com referência, já que os dois levan-tamentos diferem em abrangência e metodologia.
Pesquisa Nacional de Vitimização / Ano base 2012Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios / Ano base 2015
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Sim Muito medo Pouco medo Não têm medo
Em %
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 22
déficit de 220.057 vagas, segundo dados do Anuário Brasileiro de Seguran-
ça Pública para 2013. A realidade de oito estados é ainda mais grave, já que
mais de 50% da população prisional não foi julgada (Tabela 9): Piauí conta
com 66,7% de sua população carcerária em situação provisória, seguido
por Amazonas (66,2%), Pernambuco (62,3%), Minas Gerais (59,8%), Ser-
gipe (58,4%), Maranhão (57,7%), Bahia (52,9%) e Mato Grosso (51,3%).
Além da evidente incapacidade do sistema de justiça criminal brasileiro
de processar e julgar a população carcerária que se amontoa nos presídios
de todo o país, chama a atenção a evolução do número de presos com rela-
ção às vagas existentes no sistema prisional: só o Estado de São Paulo con-
tabilizava um déficit de 97.363 vagas em 2013 (Tabela 10). Para se ter uma
ideia, cada penitenciária do Estado possui cerca de 800 vagas, ou seja, seria
necessária a criação de 120 penitenciárias para dar conta deste passivo.
GRÁFICO
7
Porcentual de Respostas à pergunta “Medo de ser vítima de violência por parte da Polícia Civil?” (Resposta estimulada e única)Municípios do Brasil (1) – 2012-2015
Fonte: Pesquisa Nacional de Vitimização/Instituto Datafolha/Centro de Pesquisas sobre Criminalidade e Segurança – Crisp; Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp; Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios/Instituto Datafolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(1) A Pesquisa Nacional de Vitimização é uma amostra representativa de todos os municípios brasileiros com 15 mil habitantes ou mais. Já a Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios é representativa dos municípios brasileiros com 100 mil habitantes ou mais. A comparação deve ser tomada apenas com referência, já que os dois levan-tamentos diferem em abrangência e metodologia.
Pesquisa Nacional de Vitimização / Ano base 2012Pesquisa sobre o Pacto Nacional de Redução de Homicídios / Ano base 2015
49,0
33,0
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Sim Muito medo Pouco medo Não têm medo
Em %
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 23
TABELA
8
Efetivo policial – Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e Guarda MunicipalBrasil e Unidades da Federação – 2012
Unidades da FederaçãoPolícia Militar
Corpo de Bombeiros
Polícia Civil
Guarda Municipal
Brasil 410.636 52.657 116.556 96.147
Acre 2.599 319 1.017 -
Alagoas 7.294 1.307 1.926 2.895
Amapá 3.762 1.037 1.035 723
Amazonas 9.196 529 2.294 1.961
Bahia 31.444 2.242 5.716 9.269
Ceará 14.181 1.537 1.911 3.839
Distrito Federal 14.923 5.907 4.668 -
Espírito Santo 7.781 1.222 2.561 1.059
Goiás 12.012 2.683 3.238 2.694
Maranhão 7.329 1.150 2.124 2.684
Mato Grosso 6.823 963 2.618 246
Mato Grosso do Sul 5.321 1.391 1.581 1.691
Minas Gerais 43.649 5.355 9.920 5.147
Pará 14.271 3.045 2.802 2.579
Paraíba 9.536 1.216 1.865 1.853
Paraná 15.875 3.324 4.147 4.010
Pernambuco 18.740 2.872 5.645 4.745
Piauí 5.831 362 1.369 161
Rio de Janeiro 43.748 ... 9.408 16.417
Rio Grande do Norte ... 589 1.468 1.279
Rio Grande do Sul 24.117 2.217 5.787 2.777
Rondônia 5.526 644 2.357 50
Roraima 1.412 279 855 324
Santa Catarina 7.633 2.486 3.489 706
São Paulo 88.772 8.925 33.591 26.657
Sergipe 4.860 623 1.336 2.084
Tocantins 4.001 433 1.828 297 Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp; Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.(...) Informação não disponível.
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 24
T A B E L A 9
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1a Análise Seade, no 27, junho 2015 25
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1a Análise Seade, no 27, junho 2015 26
AVANÇOS INCREMENTAIS
A síntese dos dados apresentados indica que o país convive faz anos com a
banalização da morte e da violência, nos anestesiando em relação à nossa
capacidade de inovação e reflexividade. Várias são as razões para este qua-
dro, mas, segundo Lima, Sinhoretto e Bueno (2015), o fato é que o nosso
sistema de justiça e segurança é muito ineficiente em enfrentar tal realidade
e funciona a partir de um paradoxo que mais induz a antagonismos do
que favorece a indução de cooperação e a troca de experiências. Paradoxo
esse que, por um lado, nos faz lidar cotidianamente com elevadas taxas
de impunidade, erodindo a confiança nas leis e nas instituições. Por outro
lado, as instituições de segurança pública e justiça criminal, premidas pelas
cobranças da mídia e da opinião pública, são regidas pela ideia de que algo
precisa ser feito a qualquer custo para conter os “criminosos”, abrindo mar-
gem para medidas de extremo rigor penal e, mesmo, para reforçar políticas
criminais anacrônicas.
Na falta de parâmetros mais modernos sobre como lidar com crime,
violência, manifestações e quaisquer ameaças à ordem social, recorre-se ao
discurso de que o país tem leis lenientes e que é necessário endurecer o tra-
tamento penal. Todavia, ao fazer isso, as instituições atuam mais com base
em percepções e menos lastreadas por evidências empíricas e/ou sistemas
integrados ou estatísticas públicas e de informações.
A boa notícia é que há diversas iniciativas em curso para tentar alterar
este cenário. A recente divulgação do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à
Violência, por parte do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pedido da
Secretaria Nacional de Juventude e integrando metodologias desenvolvidas
pela Fundação Seade e pelo Laboratório de Análise da Violência, da UERJ,
joga luz sobre um dos obstáculos centrais ao desenvolvimento brasileiro e
que muitas vezes é visto equivocadamente como caso exclusivo de polícia. A
informação, como já dito, tem papel estratégico na construção de uma nova
narrativa sobre as políticas públicas.
À semelhança de outros indicadores setoriais, como o Índice Paulista
de Responsabilidade Social – IPRS, o IVJ – Violência é, em certa medida,
fruto desse novo quadro da administração pública brasileira e pode ajudar
na avaliação da efetividade de programas e ações. Ele alia capacidade
técnica e compromisso institucional para fazer da transparência instrumento
de governança e de planejamento. Segundo esse índice, uma conclusão
irrefutável demonstra que, se houve redução nos níveis de vulnerabilidade
juvenil à violência em quase todos os municípios brasileiros com mais de 100
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 27
mil habitantes entre 2007 e 2012, os homicídios e os acidentes de trânsito
impedem que essa retração seja ainda maior.
Como evidência desse fato, é relevante constatar que a maior parte
das dez cidades mais bem colocadas no ranking do Índice estejam no Estado
de São Paulo, que até 2013 havia logrado êxito em reduzir drasticamente
suas taxas de homicídio. De igual forma, a cidade de São Paulo era, em
2010, a capital com menor IVJ – Violência do Brasil. Na mesma direção,
a cidade do Rio de Janeiro, palco da implantação das Unidades de Polícia
Pacificadora – UPP, foi a capital brasileira que mais melhorou sua posição no
ranking do IVJ – Violência no período analisado.
Ou seja, quando a violência é controlada, políticas sociais ganham a
chance de revolucionar um país e melhorar as condições de vida da po-
pulação. Segurança pública é fator constituinte de padrões democráticos
de desenvolvimento e a sua modernização configura-se, portanto, como
um tema da agenda pública muito mais amplo do que a princípio se
pode imaginar. Nesse processo, para além das necessárias reformas legais
que têm sido destacadas por inúmeros atores envolvidos com o tema, a
segurança tem muito a ganhar com a experiência de modernização das
políticas públicas por meio da criação de mecanismos de monitoramento
e avaliação e por meio de medidas voltadas ao incremento da filosofia de
prestação de contas e de transparência.
Se a área da educação soube estruturar seus sistemas de informações,
a segurança pública ainda dá seus primeiros passos nesta direção. No plano
subnacional, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, entre outros
exemplos possíveis, divulga pioneiramente e com regularidade desde 1995
estatísticas sobre ocorrências policiais. Já no plano nacional, desde agosto
de 2012, o Congresso aprovou o Sistema Nacional de Informações de Segu-
rança Pública, Prisionais e sobre Drogas – Sinesp, gerenciado pelo Ministério
da Justiça e composto por bases de dados de todas as Unidades de Fede-
ração. Em paralelo à ação governamental, iniciativas como o Anuário Brasi-
leiro de Segurança Pública, que compila dados sobre diversas dimensões da
segurança pública, ou o Mapa da Violência, que traz dados da saúde sobre
mortes por agressão tendem a ser instrumentos técnicos e políticos funda-
mentais e, sem dúvida, são ferramentas que permitem que não acreditemos
na máxima de que tudo tem que mudar para ficar sempre no mesmo lugar.
A experiência demonstra, portanto, que várias iniciativas voltadas à in-
corporação de sistemas, pesquisas e indicadores de monitoramento e avalia-
ção na área da segurança pública estão sendo adotadas no país e precisam
ganhar cada vez mais espaço e legitimidade. Mas, dignos de nota, os meca-
1a Análise Seade, no 27, junho 2015 28
nismos de coordenação e monitoramento serão tão ou mais importantes do
que a aprovação de leis. Inovações de caráter incremental continuam, assim,
válidas, ainda mais se associadas à tentativa de organizar o financiamento
da área e à implantação de sistemas de informação e avaliação. Entretanto,
elas terão maior impacto se explicitarmos que segurança pública não se
resume às polícias e depende da participação e articulação de diferentes ins-
tituições e poderes. Sem uma reflexão objetiva acerca do modelo de funcio-
namento do sistema de segurança pública, a integração de informações em
si não mudará o cenário de profundas ineficiências do modelo que organiza
nacionalmente as políticas públicas.
Vemos, assim, que a agenda de questões postas ao debate público é
muito mais extensa do que apenas cada uma das dimensões tratadas neste
texto e que o tema da segurança pública carece de um “choque de trans-
parência”, no qual, a exemplo do que ocorre em outras áreas do Estado,
como saúde e educação, o controle e, mesmo, as definições de prioridades
das políticas desenvolvidas são uma constante e são legitimamente vistos
como aliados na melhoria e no aumento da efetividade da política. A fal-
ta de transparência ou, melhor dizendo, a opacidade dos dados existentes
permite a construção de verdades muitas vezes construídas na perspectiva
de respostas políticas às pressões eleitorais e/ou sociais. Seja como for, a
aposta num programa de trabalho focado no desenvolvimento de sistemas
integrados de estatísticas públicas que sejam transparentes e permitam o
fortalecimento da prestação de contas como ferramentas de planejamento
e ação estatal, pode ser importante aliada na construção de novo e mais jus-
to, sustentável e pacífico modelo de desenvolvimento para o país. E, nesse
movimento, há um espaço privilegiado de atuação para as agências públicas
de estatísticas e planejamento.
REFERÊNCIAS
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