saúde informa nº19

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 19- Ano III - Belo Horizonte, maio de 2012 Página 3 M ais do que possibilitar aos pais ver o rosto do bebê antes do nascimento, o ultrassom tridi- mensional pode ajudar os médicos a identificarem doenças graves. É o caso da hipoplasia pulmonar letal, objeto de estudo de tese de doutorado defen- dida na Faculdade de Medicina da UFMG. Ultrassom 3D: além da imagem 6 SAÚDE Doença do coração tem mudanças no diagnóstico 5 CIRURGIA Quando retirar amígdalas e adenoides MATERNIDADE O que é preciso saber antes de ter um filho 4

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Jornal Saúde informa maio

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Page 1: SAúde Informa nº19

Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 19- Ano III - Belo Horizonte, maio de 2012

Página 3

Mais do que possibilitar aos pais ver o rosto do bebê antes do nascimento, o ultrassom tridi-

mensional pode ajudar os médicos a identificarem doenças graves. É o caso da hipoplasia pulmonar letal, objeto de estudo de tese de doutorado defen-dida na Faculdade de Medicina da UFMG.

Ultrassom 3D: além da imagem

6SAÚDEDoença do coração tem mudanças no diagnóstico5

CIRURGIAQuando retirar amígdalas e adenoides

MATERNIDADEO que é preciso saber antes de ter um filho4

Page 2: SAúde Informa nº19

Para toda a família

No mês das mães, o Saúde Informa apresen-ta temas que interessam diretamente a gestantes e mulheres que pretendem engravidar, mas também aos leitores em geral. Na seção de divulgação cien-tífica, pesquisa realizada na Faculdade de Medicina demonstra aplicações do ultrassom obstétrico tridi-mensional, cada vez mais popular nas clínicas, que vão além de revelar a face do bebê para os futuros pais.

Ainda no âmbito da saúde da mulher, aborda-mos a importância de uma gravidez planejada para a saúde materna e da criança.

Confira mais uma reportagem sobre saúde da criança, com indicações e contraindicações para a retirada das adenoides e amígdalas na infância.

Nosso informativo traz também um alerta: uma simples dor de garganta pode desencadear a febre reumática, que está associada a 90% das cirurgias para a troca da válvula do coração.

E uma pesquisa apresenta novidades so-bre a hiperplasia adrenal congênita, doença incluída recentemente no exame de triagem neonatal, mais conhecido como “teste do pezinho”.

Boa leitura!

Editorial Publicações

Maio de 20122

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/MT) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Mariana Pires – Estagiários: Fernanda Campos, Lucas Garabini, Luiza França e Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Lúcia Chagas de Morais- Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 1.500 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

Expediente

Sua participação é muito importante para o Saúde Informa. Envie críticas e

sugestões para

Opinião

[email protected]

Guia de Bolso de Mastologia

O manual, elaborado com base nas mais re-centes pesquisas, enfoca o diagnós-tico e o tratamen-to das doenças de mama, em espe-cial o carcinoma. A autoria é do

professor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Washington Cançado de Amorim, que também coordena a residência médica na área de mastologia do Hospital das Clinicas da UFMG; e de Leandro Cruz Ramires da Silva, mastologista do Instituto de Saúde da Mulher e mestrando em Saúde da Mulher na UFMG. Ed. Atheneu.

Manual de Protocolos em Medicina Fetal

O trabalho apresenta os con-ceitos fundamen-tais para o pro-fissional da área e aborda a necessi-dade de um bom acompanhamento das gestantes e

dos fetos portadores de anomalias e doenças que comprometem o indivíduo antes do seu nascimento. Escrito pelos professores do de-partamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Alamanda Kfoury Pereira, Antônio Carlos Vieira Cabral e Henrique Vitor Leite. Ed. Atheneu.

Page 3: SAúde Informa nº19

3Maio de 2012

Divulgação Científica

Ultrassom 3D ajuda a diagnosticar doençasTecnologia 3D é mais sensível, obtém medidas mais precisas e reduz a interferência do

ultrassonografista, aponta pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da UFMG

Victor Rodrigues

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A medicina encontra aplicações para cada inovação tec-nológica que surge. O ultrassom obstétrico tridimen-

sional, ou 3D, não escapa à regra. A tecnologia, conhecida pelo uso para fins estéticos – ver o rosto do bebê ainda na barriga da mãe – é utilizada também para fins diagnósticos.

A aplicação deste tipo de tecnologia para desco-brir a existência de uma doença grave ainda na gravidez foi objeto de tese de doutorado defendida no programa de pós-graduação em Saúde da Mulher da Faculdade de Medicina da UFMG. O obstetra Guilherme Rezende comparou a eficácia do ultrassom 3D com a do ultrassom tradicional, bidi-mensional, em predizer o diag-nóstico de hipoplasia pulmonar letal no recém-nascido.

A doença está relaciona-da ao desenvolvimento do pul-mão ainda durante a gestação. Caso este não seja adequado, o órgão terá tamanho e volume re-duzidos, e menor quantidade de células funcionais nos alvéolos, dificultando a respiração no perí-odo neonatal. Na maioria dos ca-sos, em torno de 70%, a doença é fatal, logo após o nascimento do bebê.

A tentativa feita pelo pes-quisador foi identificar quais fetos, daqueles que se inseriam no grupo de risco para a doen-ça, poderiam ter esta forma letal. Para isso, ele mediu o volume do pulmão três vezes na mesma ses-são de ultrassonografia e compa-rou a média dessas medidas com a distribuição normal para o volume do pulmão durante a gestação. Quando o valor encontrado estava entre os 2,5% mais baixos na curva, o chamado percentil 2,5, o feto tinha grande possibilidade de ter a forma letal.

ResultadosOs resultados comprovam a adequação do método.

“Usando o ultrassom 3D encontramos uma chance 11 ve-zes maior do feto ter a doença”, afirma o autor. “Com as medidas do ultrassom 2D nós conseguíamos apenas um valor próximo a dois”. De acordo com o médico, para qualquer método diagnóstico ser considerado bom, essa razão, chamada “razão de verossimilhança positiva”, deve ser superior a dez.

Dos 47 fetos examinados, 34 foram corretamente diagnosticados com hipoplasia pulmonar letal. A sensibi-lidade do teste, ou seja, a probabilidade que este tem de estar correto, foi de 88%. O autor destaca, no entanto, que a medição do volume do pulmão ainda não foi perfei-ta. “Provavelmente falta associar algumas outras variáveis. Por enquanto temos uma forte indicação, mas não uma certeza desse diagnóstico”, explica.

Segundo o autor da pesquisa, no caso da hipopla-sia pulmonar grave, mesmo com esse dado preciso em mãos, na maioria das vezes, o médico não tem como salvar a criança. Mas é importante que a família e a equi-pe de assistência perinatal tenham acesso a essa informação, para que possam se preparar melhor para o desfecho da gestação.

VantagensPara Guilherme, a vanta-

gem da ultrassonografia 3D é a possibilidade de obter medidas mais precisas. “Quando trabalha-mos com o ultrassom bidimen-sional temos acesso apenas a me-didas, como altura e largura, que não são as mais indicadas para o diagnóstico”, afirma.

Outro ponto que ele desta-ca é o fato da tecnologia 3D tor-nar a imagem menos dependente do operador. Como a varredura é mecânica, em uma mesma situa-ção será gerada sempre a mes-ma imagem, diferentemente do ultrassom tradicional. “Em cem

tentativas com o ultrassom 2D, teríamos cem imagens di-ferentes”, exemplifica o autor. A leitura também é mais fácil, permitindo o compartilhamento desses blocos de imagem com outros profissionais e outros serviços.

A tecnologia ainda não é muito popular, mas a maioria dos modelos de aparelhos de ultrassom de porte médio comercializados atualmente já tem essa capacida-de. O SUS e os convênios ainda não cobrem esse tipo de exame.Título: Predição da hipoplasia pulmonar letal pela ultrassonografia tridimensional em fetos de risco Autora: Guilherme de Castro Rezende Nível: DoutoradoPrograma: Saúde da Mulher Orientador: Alamanda Kfoury Pereira Defesa: 25/11/2011

Cada pedaço da imagem 3D é formada pela combinação de três imagens diferentes.

Imagem de um pulmão em 3D

Page 4: SAúde Informa nº19

Maio de 2012

Saúde da Mulher

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Maternidade: uma decisão que requer planejamentoMais da metade das gestações não são planejadas. Acompanhamento médico antes mesmo da gravidez pode evitar complicações no parto

Larissa Nunes

Mulheres que, para engravidar, esperam apenas o “mo-mento certo” - aquele depois de aproveitar a vida,

quando se adquire estabilidade financeira e um casamento feliz - podem estar à mercê de riscos que sequer conhecem. Aparte de todos esses preparativos, médicos são categóri-cos ao afirmar que uma gravidez não pode ser reduzida a evento natural, e sim, deve ser cuidadosamente planejada e acompanhada por profissionais competentes.

O ideal, segundo a professora do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Zilma Reis, é que o preparo comece meses an-tes da gestação, com a decisão de se ter um filho. “A falta de planejamento está associada à morte materna acima do desejável. Temos no Brasil, atualmente, 77 óbitos de mães para cada cem mil bebês nascidos vivos”, lamenta a pro-fessora. A meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde é de 15 mortes por cem mil recém-nascidos.

Mulheres que deci-dem ser mães têm o direito de obter um aconselhamento pela rede pública. O primeiro passo é procurar um posto de saúde. “Se a mulher tem alguma doença e a desconhe-ce, a situação pode ficar mais complicada ainda na gravi-

dez”, afirma a professora. Entre as causas mais comuns de complicações no parto está a hipertensão, seguida de hemorragia e infecção.

De acordo com Zilma Reis, mais da metade das ges-tações não são planejadas. “É comum, nessas situações, que a mulher rejeite a gravidez e continue com hábitos nada saudáveis, como fumar e fazer uso de bebidas alcoó-licas e drogas”.

Pré-natalFeito o cuidado pré-concepcional, a grávida passa

para a fase do pré-natal. Aquelas completamente saudáveis podem continuar com o acompanhamento em um posto de saúde próximo de sua residência. Mulheres com algum

problema de saúde são encaminhadas para um centro es-pecializado. “Elas terão atenção multidisciplinar, com mé-dicos, enfermeiros e fisioterapeutas. É uma abordagem di-ferenciada, com maior frequência de exames de avaliação do feto, por exemplo”, explica a professora, que aponta os três primeiros meses da gestação como os mais imprescin-díveis de acompa-nhamento.

Conhecer o local em que será internada também é aconselhável, já que pode trazer tranquilidade e confiança à futura mãe. “Ela vai sa-ber bem a distân-cia que a separa da maternidade, as-sim com a rotina dos profissionais do lugar, como é o atendimento”. Caso a gestante necessite de algum cuidado especial durante o parto, a equipe de médicos e enfermeiros será previamente informada sobre o assunto.

Pós-parto

Mesmo que, com o parto, o pediatra passe a ser o médico mais visitado pela família, o obstetra ou ginecolo-gista não deve ser deixado de lado. “A mulher precisa se recuperar totalmente e ser estimulada a cuidar do bebê”, afirma a professora. Nesse período, ela poderá receber al-gumas instruções, como o tempo que deve esperar para engravidar novamente. “O ideal é que se aguarde dois anos”, instrui. Esse, segundo a médica, é o período su-ficiente para que ela se recupere de uma cesariana, por exemplo, ou de uma anemia comum em grávidas, e assim reduza as chances de aborto.

“A falta de planejamento está associada à morte materna acima do

desejável”

Ações da rede pública voltadas para saúde da gestanteNo Brasil: Rede Cegonha - Estratégia do Mi-nistério da Saúde, por meio do Sistema Úni-co de Saúde (SUS), baseada em uma rede de cuidados que assegure às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo, à atenção hu-manizada à gravidez, ao parto e pós-parto.

Já para as crianças, a proposta é garantir o direito ao nasci-mento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis. Central de Atendimento Telefônico: 136 (Ouvidoria Geral do SUS)

Em Minas Gerais: Mães de Minas - Con-junto de ações de saúde do governo de Minas Gerais, em parceria com o SUS, vol-tadas para a proteção e o cuidado da ges-tante e da criança no primeiro ano de vida. A proposta é estabelecer um con-

tato individual com cada gestante, mobilizando recursos para o acompanhamento do pré-natal e do primeiro ano de vida da criança, para identificar e sanar situações de risco. Central de Atendimento Telefônico: 155

Segundo Zilma Reis, mais da metade das gestações não

são planejadas.

Foto: Bruna Carvalho

Page 5: SAúde Informa nº19

Saúde da Criança

Maio de 2012 5

Amígdalas e adenoides: do que o corpo precisa?

Crianças até cinco anos costumam ser as mais afetadas por infecções dessas duas estruturas, que podem ser retiradas do corpo, mediante rigorosa análise médica

Larissa NunesA função que desempenham é a de proteger o or-

ganismo, mas não é raro encontrar casos em que as amíg-dalas e as adenoides se tornam um problema de saúde e de qualidade de vida. Principalmente em crianças, essas duas estruturas sofrem com os ataques de vírus e bactérias. A solução, em situações mais graves, e sob avaliação médica, pode ser uma cirurgia de remoção.

As amígdalas, localizadas na boca, e as adenoides, no nariz, são os primeiros mecanismos de defesa encon-trados por agentes infecciosos que tentam entrar no cor-po humano. “Em contato com os vírus e bactérias, ambas produzem anticorpos e linfócitos e podem aumentar de tamanho”, aponta o pediatra e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Marcos Carvalho de Vasconcelos. Quando causadas por vírus, as infecções tendem a ser mais brandas, com quadros de gripe. Se o agente é uma bactéria, os sintomas são bem mais severos: febre reumática, forma-ção de placas e calafrios.

Segundo Marcos Vasconcelos, na década de 60, tor-nou-se bastante comum a cirurgia de retirada de amígdalas para o tratamento de quadros infecciosos repetitivos. “A partir da década de 70, esse índice diminuiu com o melhor acesso ao sistema de saúde e melhoria nos antibióticos”, explica. Hoje, a indicação para essa cirurgia, e também aquela de retirada de adenoides, é dada, principalmente, em casos de obstrução das vias aéreas, levando a um quadro de apneia. “É quando o indivíduo para de respirar durante o sono”, explica. Ronco, sono agitado e voz anasalada são algumas das principais consequências desse problema, que pode ser diagnosticado a partir de um exame de monitora-mento em hospitais.

IdadeEm crianças muito pequenas e bebês, é cada vez

mais rara a remoção dessas duas estruturas por causa do risco de deixar o corpo ainda mais vulnerável a vírus e bac-térias. “A defesa da criança entre oito meses até os cinco anos é menor. Ela já perdeu a proteção materna, tanto da placenta quanto aquela do leite materno, e está começando a produzir anticorpos”, aponta Vasconcelos.

Se, depois dos cinco anos, as infecções persistirem, ou em casos de obstrução de vias aéreas, o médico pode avaliar a possibilidade de uma cirurgia de retirada de amíg-dalas e adenoides. “É preciso estudar cada caso. O médico vai analisar se as infecções estão sendo causadas por vírus ou bactérias, observar se esse problema está trazendo al-terações anatômicas na face ou até mesmo na postura”. Com o tempo, essas crianças podem passar a ter mordida alterada, queixo mais fino, maior incidência de cáries, já que ficam com a boca mais aberta e os dentes expostos.

A cirurgiaO pediatra Marcos Carvalho de Vasconcelos explica

que, mesmo sendo procedimentos bastante realizados no mundo, eles devem ser indicados com muita cautela. “A ci-rurgia de amígdala requer anestesia geral. O pós-operatório é de dor”, explica. O paciente em fase de cicatrização deve tomar alimentos gelados e, dentro de oito dias, pode ter uma vida normal. “Quando bem indicada, a cirurgia vai provocar uma grande diferença na respiração. Ficará mais livre, menos ruidosa”, aponta. A retirada das adenoides pode ser feita no mesmo procedimento.

Adenoide

Amígdalas

Respiração

Ilustração: Ana Lúcia Chagas

A obstrução das vias aé-reas devido à inflamação nas amígdalas e adenoi-

des prejudica a respiração e pode causar apneia,

ronco e voz anasalada.

Page 6: SAúde Informa nº19

A cardiopatia reumática crônica, doença sem cura, que acomete cerca de 15 milhões de pessoas em todo o

mundo, tem novas diretrizes internacionais para o diagnós-tico, definidas pela Federação Mundial de Cardiologia. A principal ferramenta defendida é o doppler ecocardiograma, exame que combina a imagem bidimensional do coração com a análise de fluxo sanguíneo do órgão. Segundo a Fe-deração, ele tem maior precisão diagnóstica do que a aus-culta cardíaca, com o uso do estetoscópio.

Vinte e um pesqui-sadores de todo o mundo participaram da elabora-ção do documento com os novos critérios, pu-blicados recentemente na revista Nature Reviews Cardiology. A representan-te da América do Sul foi a cardiologista pediátri-ca Cleonice Mota, pro-fessora da Faculdade de Medicina da UFMG. Ela explica que a doença, ca-racterizada pela lesão das válvulas do coração, tem alguns sinais característi-cos na fase aguda, como o “sopro” cardíaco, lesões na pele, nas articulações e movimentos bruscos in-voluntários apresentados pelos doentes.

O problema é que esses sintomas se con-fundem com outras do-enças, o que pode levar ao chamado “diagnóstico abusivo”. Com a inten-ção de impedir novos surtos, o médico indica a aplicação de injeções de antibióticos a cada três semanas, muitas vezes em pacientes que não precisariam ser subme-tidos ao tratamento.

Por outro lado, existe o subdiagnóstico, já que algu-mas lesões cardíacas são “silenciosas”. “Hoje, para cada pa-ciente que conseguimos identificar a fase aguda da doença, existe um que fica sem identificação. Os novos critérios de diagnóstico são importantes especialmente para os casos não evidentes”, afirma Cleonice Mota.

Prevenção

O diagnóstico precoce e a prevenção podem redu-zir o número de casos graves e de mortes. A cardiopatia reumática, que acomete crianças e indivíduos adultos, é a fase crônica de um problema que se manifesta ainda na infância, a febre reumática aguda. A causa é uma infecção na garganta, provocada pela bactéria estreptococo, que, se não for tratada adequadamente, pode evoluir para a lesão das válvulas do coração, especialmente em indivíduos com

predisposição familiar. A pessoa acometi-

da precisa de cuidados es-peciais ao longo de toda a vida, terá a produtividade afetada e, depois de algu-mas décadas, pode preci-sar ser submetida a uma cirurgia para trocar as vál-vulas cardíacas. Segundo Cleonice Mota, 35% das cirurgias cardíacas reali-zadas no Brasil são decor-rentes de lesões provoca-das pela febre reumática. Entre as cirurgias para a troca da válvula cardíaca, o percentual chega a 90%.

Saúde

Maio de 20126

Cardiopatia reumática tem novos critérios diagnósticosDoença afeta as válvulas do coração e pode ser desencadeada por uma simples infecção na garganta, que não recebeu tratamento adequado

Alessandra Ribeiro

Foto: Bruna Carvalho

Ilustração: Luiz Cláudio Lagares Izídio

Cleonice Mota representa a América do Sul na Federação Mundial de Cardiologia

“Hoje, para cada paciente que conseguimos

identificar a fase aguda da doença, existe um que fica sem identificação”

Prevalência da cardiopatia reumática crônica

Países desenvolvidos

Brasil

Número de casos

para 1.000 crianças em idade

escolar

0,1 a 0,4

1 a 7

No Brasil, um dos poucos estudos foi realizado em 1992 pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, com 536 crianças e adolescentes da Escola Estadual Pedro II. O percentual de alunos com “sopro cardíaco não ino-cente” foi de 2,1%.

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Doença genética pode aumentar risco cardíacoPortadores de hiperplasia adrenal congênita podem desenvolver doenças do coração

Victor Rodrigues e Mariana Pires

A hiperplasia adrenal congênita (HAC) é uma doença genética caracterizada pelo desenvolvimento de ca-

racterísticas sexuais masculinas em meninas ou na preco-cidade dessas características em meninos. Recentemente, fatores de risco para doenças cardiovasculares também co-meçaram a ser associados à HAC.

A suspeita foi confirmada em tese de doutorado de-fendida na Faculdade de Medicina da UFMG pela pediatra Tânia Maria Barreto Rodrigues, especialista em endocri-nologia pediátrica. “Esses pacientes apresentam alterações que indicam aumento do risco cardiovascular, o que impli-ca na necessidade de acompanhamento visando à interven-ção precoce e prevenção de complicações cardiovasculares em jovens com a doença”, afirma.

No estudo, Tânia comparou indicadores de 40 pa-cientes com HAC e de outros 73 indivíduos saudáveis, sem sobrepeso, para avaliar se a prevalência de fatores como obesidade e hipertensão arterial seria mesmo relacionada à HAC. O Índice de Massa Corporal (IMC) por idade dos pacientes com HAC foi mais elevado em relação ao grupo saudável, mesmo quando foram excluídos da avaliação os pacientes com HAC e sobrepeso. Os pacientes com HAC apresentaram ainda maiores níveis de pressão arterial em relação aos pacientes saudáveis.

A pesquisadora também avaliou por meio de ultras-sonografia a espessura mediointimal das artérias carótidas, alteração que precede a formação da placa que caracteriza a aterosclerose - a popular “veia entupida”, que é um im-portante indicador de risco cardiovascular. A comparação dos resultados revelou que essa medida era superior nos 38 pacientes com HAC examinados em relação a 22 jovens saudáveis que foram avaliados.

Além dessas alterações, aqueles com HAC apresen-taram maior consumo de sódio, que em associação à me-dicação e a outros fatores próprios da doença, colaborou para o aumento da pressão arterial. Este dado também é importante por ter relação direta com a forma mais fre-quente da doença, a perdedora de sal, na qual o paciente tem dificuldade de reter sódio, explica a autora. Para ela, tudo isso mostra a necessidade de maior cuidado com es-ses pacientes. “Além do tratamento adequado para a HAC, devemos fazer também um trabalho de prevenção contra esses fatores de risco cardiovascular que inclua, por exem-plo, mudanças nos hábitos alimentares”, recomenda.

A doençaCerca de 90 a 95% dos casos de hiperplasia adre-

nal congênita são causados pela deficiência da enzima 21-hidroxilase, o que resulta em níveis baixos de cortisol e elevados de hormônios andrógenos, responsáveis pelas características sexuais masculinas. Nas meninas, o efeito é o nascimento com genitália ambígua – apesar de ter ová-rios, útero e demais características femininas, elas podem apresentar até mesmo genitálias masculinas, sem os testí-culos, nos casos mais graves. Ambos os sexos também têm estatura final menor, mesmo que o crescimento inicial seja acelerado.

HAC é incluída no ‘‘teste do pezinho’’O Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), responsá-vel pela realização do exame popularmente conhecido como ‘‘teste do pezinho’’, passa por uma reformulação. O teste já detectava quatro doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e fibrose cística. A nova pro-posta incluiu o diagnóstico da hiperplasia adrenal congênita (HAC) e da deficiência de biotinidase.

Para a ampliação do PNTN, o Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nu-pad), referência em triagem neonatal no país, será parceiro do Ministério da Saúde. Todos os protocolos e fluxos de tra-balho desenvolvidos pelo Nupad servirão como base de estu-do para o projeto, assim como a colaboração técnica de sua equipe. O Nupad também será o espaço principal de treina-mento para capacitação dos profissionais do país.

Divulgação Científica

Título: Identificação de fatores de risco cardiovascular e avaliação da espessura mediointimal das artérias carótidas em jovens e crianças com deficiência da enzima 21-hidroxilase Autora: Tânia Maria Barreto Rodrigues Nível: DoutoradoPrograma: Saúde da Criança e do AdolescenteOrientador: Ivani Novato SilvaDefesa: 30/03/2012

Fase IFase IIFase III

Todos os Estados já realizam o teste que detecta a fenilce-tonúria e o hipotireoidismo congênito [Fase I ]. Em 2011, 18 Estados realizaram também o diagnóstico da doença falcifor-me [Fase II], e quatro estados chegaram à Fase III, que inclui o diagnóstico da fibrose cística.

A ampliação prevê a estruturação da fase III em todos os Estados e a Fase IV do PNTN, incluindo a triagem para hi-perplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. Fonte: Ministério da Saúde

Maio de 2012

Ilustração: Luiz Cláudio Lagares Izídio

Page 8: SAúde Informa nº19

Institucionais

RH prepara quinta edição do Encontro InstitucionalAlessandra Ribeiro

Maio de 20128

IMP

RES

SO

Acontece

Pós em Fonoaudiologia

O novo curso de espe-cialização em Fonoau-diologia da Faculdade de Medicina da UFMG recebe inscrições no período de 14 de maio a 18 de julho. São ofe-recidas 30 vagas, dis-tribuídas nas seguintes áreas de concentração: Audiologia, Linguagem, Motricidade Orofacial, Saúde Coletiva e Voz. A duração do curso é de um ano, mais seis meses para conclu-são da monografia. Informações: www.me-dicina.ufmg.br/editais

JatoxDe 30 de maio a 1º de junho a Faculdade de Medicina da UFMG re-cebe a III Jornada Aca-dêmica de Toxicologia. Podem participar es-tudantes de Medicina, Enfermagem, Biologia, Biomedicina, Farmácia ou Psicologia, desde que os cursos sejam credenciados pelo MEC. Informações: www.ja-tox.weebly.com

Simpósio sobre infecção

A Escola de Enferma-gem da UFMG promove o IV Simpósio do Núcleo de Pesquisa em In-fecção Relacionada ao Cuidar em Saúde, nos dias 29 e 30 de junho. O objetivo é prevenir e controlar a infecção na perspectiva da se-gurança do paciente. Inscrições até 20 de ju-nho pelo www.cursose-eventos.ufmg.br.

A Seção de Recursos Hu-manos/Assessoria de

Gestão de Pessoas da Facul-dade de Medicina da UFMG já está envolvida na organiza-ção do 5º Encontro Institu-cional, previsto para ser reali-zado no mês de junho.

No final de março, houve uma reunião com as chefias e os secretários das seções e departamentos, com o objetivo de ouvir sugestões e críticas para aprimorar a próxima edição do evento e motivar os fun-cionários a participarem da iniciativa. Na oca-sião, a chefe da SRH, Cleusa Maria dos Santos, e a psicóloga Aparecida Miranda apresenta-ram um balanço das edições anteriores, desde 2008, quando o encontro foi criado.

De acordo com os dados, em 2011, 128 pessoas, divididas em duas turmas, participa-ram das atividades, realizadas no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG. O número foi superior ao registrado em 2010, quando 119 funcionários marcaram presença. Já na comparação com os dois primeiros en-contros, a participação diminuiu. O número

foi de 142 e 131 participantes em 2008 e 2009, respectiva-mente.

PropostasUma das sugestões le-

vantadas durante a reunião com as chefias e secretários foi a participação voluntária, com o objetivo de garantir maior envolvimento dos ins-

critos com as atividades. A possibilidade de reunir todos os interessados em um só dia e mudanças na programação também foram dis-cutidas. Os funcionários sugeriram ainda redu-zir as dinâmicas, para que as discussões reali-zadas em seguida, com os colegas, possam ser mais aprofundadas. Todas as propostas estão sendo analisadas pela SRH, em conjunto com a consultoria contratada para o evento.

A psicóloga Aparecida Miranda ressal-tou a importância do Encontro Institucional. “O objetivo do encontro é melhorar o am-biente organizacional e promover a mudança de atitudes frente ao trabalho. O mais impor-tante é o pós-encontro, ou seja, colocar em prática o que foi vivenciado”, disse.

“O objetivo do encontro é melhorar

o ambiente organizacional e

promover a mudança de atitudes frente ao

trabalho”

Funcionários participam de dinâmica no Encontro Institucional de 2011